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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CARINA BANNWART

A FORMAÇÃO POLÍTICA DO EDUCADOR

CAMPINAS
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CARINA BANNWART

A FORMAÇÃO POLÍTICA DO EDUCADOR

"Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia -


Programa Especial de Formação de Professores
em Exercício nos Municípios da Região
Metropolitana de Campinas, da Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas,
como um dos pré-requisitos para conclusão da
Licenciatura em Pedagogia”.

CAMPINAS
2006
© by Carina Bannwart, 2006.

Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca


da Faculdade de Educação/UNICAMP

Bannwart, Carina
B228f A formação politica do educador : memorial de formação / Carina
Bannwart. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Estadual


de Campinas, Faculdade de Educação, Programa Especial de Formação de
Professores em Exercício da Região Metropolitana de Campinas (PROESF).

1.Trabalho de conclusão de curso. 2. Memorial. 3. Experiência de vida.


4. Prática docente. 5. Formação de professores. I. Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

06-348-BFE
“Aos educadores que não se deixam alienar, não
são apolíticos, apáticos e que, conseqüentemente,
educam para a cidadania”.
AGRADECIMENTOS

“À meus pais Edilza e Paulo, por todos os anos de esforço e de luta que passaram para
que eu chegasse até aqui; pelo apoio; pelo incentivo; e por todas as noites em que se
arriscaram para me encontrar na rodovia, chegando da faculdade,

À minha irmã amiga Bruna, por tantas leituras que ouviu e por ser minha crítica
particular que muito me auxiliou com sua sabedoria,

Ao meu esposo e companheiro Reginaldo, tão atencioso e presente, que sempre me


apoiou, e também soube me entender quando precisei deixá-lo “sozinho” nos finais de
semana para fazer meus trabalhos,

Às minhas colegas da Turma A, que trouxeram contribuições e amizades,

À professora Marta e à professora Alexandra pela colaboração,

Àqueles professores do município de Indaiatuba que conseguiram “desvelar seu olhar” ,


e não mais se omitem,

E a todos que comigo convivem e me entendem quando digo que “as pessoas têm
‘pobrema’!”
“A memória, onde cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para
servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória
coletiva sirva para a libertação e não para a
servidão dos homens”
Jacques Le Goff
SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO 07

2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU... 09

3. POLÍTICAS EDUCACIONAIS 12

4. GESTÃO ESCOLAR 15

5. ALIENAÇÃO 17
5.1. Alienação do Professor. 17
5.2. A influência da Formação. 19
5.3. A Greve. 23
5.4. E agora? Alienação? 26

6. CONTINUIDADES E RUPTURAS. 29
6.1. Comissão de Estudos para Reestruturação do Estatuto e Plano
de Carreira do Magistério Municipal de Indaiatuba. 30

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35
1. APRESENTAÇÃO.
“O segredo de ir em frente é começar”.
Sally Berger.

Memorial de Formação...
Aparentemente algo de fácil elaboração, por tratar de minha vivência... No
entanto, tão complexo, por referir-se a tantos erros e acertos da minha vida profissional,
que nem sempre são fáceis de reconhecer e de aceitar...
Durante esses seis semestres em que tive a oportunidade de cursar o PROESF1,
grande foi meu amadurecimento intelectual.
Um desvelar de olhos me foi propiciado e hoje afirmo com segurança: sou por
vezes mais feliz e por vezes mais receosa em relação à profissão professor.
Mais feliz ao perceber quão importante é nossa missão, e quão significativos
podemos ser na formação do indivíduo...
Mas, por vezes sou mais receosa, quando percebo alienação por grande parte de
meus colegas, que usam o belo discurso do “educar para a formação do cidadão...” ou
“possibilitar a formação crítica dos alunos...”, quando na verdade, eles (professores) não
o são cidadãos conscientes ou críticos! E seu “comportamento verbal difere do não-
verbal” parecendo tratar-se de pessoas diferentes (SKINNER, 1995, p.87). Falta
discernimento, consciência e amadurecimento para muitos...
Para outros, porém, que, não coincidentemente, tiveram ou estão tendo uma
formação continuada, os pensamentos são diferentes, mais centrados e condizentes.
Então, diante de tal realidade e com tantas indagações, exclamações e
afirmações que me cercam, sem dúvida alguma, meu Memorial de Formação tinha de
tratar a respeito da “Formação Política do Educador”.
É um tema do qual sinto prazer em tratar e que tem tudo a ver com minha
formação.
Iniciarei, então, meu Memorial com um breve histórico de minha vida até o
momento em que comecei a lecionar e, depois, quando já professora, quais as mudanças
que tenho vivenciado, seja na minha prática educativa, seja na minha formação;

1
Programa Especial para Formação de Professores em Exercício na Rede de Educação Infantil e
Primeiras Séries do Ensino Fundamental da Rede Municipal dos Municípios da Região Metropolitana de
Campinas.

7
Em seguida, reportar-me-ei à questão das Políticas Educacionais e de suas
influências em minha prática e na prática do professorado em geral;
Como seqüência, tratarei da Gestão Escolar, que, infelizmente, como verão, não
é participativa;
Não poderia deixar de explanar também a respeito da Alienação do indivíduo;
do conceito de Alienação; da Alienação do Professor; e de um aparente princípio de
mudança de atitude por parte do professorado após acontecimentos relevantes na
história local;
Por fim, dissertarei a respeito de Continuidades e Rupturas existentes no
município de Indaiatuba: o “progresso” nas atitudes por parte da administração e o
projeto até agora sem produto final da Reestruturação do Estatuto e Plano de Carreira do
Magistério Municipal.

8
2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU...

“O importante e bonito do mundo é isso:


que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas, mas que elas
vão sempre mudando.
Afinam e desafinam”.
(Guimarães Rosa)

Ser professora nunca foi o “meu sonho de criança”. Pelo contrário, essa era a
profissão da qual não desejava seguir!
Lembro-me de quando meu tio falava sobre me achar com jeito pra ser
professora e eu ficando muito brava com ele... Imaginava-me “aeromoça”, atriz,
repórter... Menos: professora.
Nem mesmo ao chegar na 8ª série (em 1994) tinha isso em mente. Porém, ao
final daquele ano, uma dúvida surgiu-me: fazer o então colegial, ou tentar o
magistério??? Eis que, então, acabei por iniciar minha carreira sem a menor intenção de
que isso ocorresse.
Na verdade, tive como formação inicial o magistério, que fiz não por crer ter
habilidades pra isso, ter o dom, mas sim por acreditar ser o magistério uma opção
melhor que um simples ensino médio. Afinal, como ainda não tinha tido nenhuma
experiência profissional, uma possibilidade a mais no mercado de trabalho faria muita
diferença.
E assim, ao longo dos quatro anos do curso, busquei uma participação ativa no
mesmo, a fim de ter uma boa formação.
Então, formei-me em 1998 com excelentes notas. E, em 1999 iniciei minha vida
profissional trabalhando como monitora num sítio de Indaiatuba. Sítio que recebia
visitas escolares.
Lá, explicava aos alunos sobre as plantas e frutas, ensinava os alunos a
semearem hortaliças, explicava sobre o minhocário, e, além disso, eles passeavam de
trator e a cavalo. Porém, era um trabalho esporádico, que não me dava condições nem
mesmo de arcar com o curso de informática que tanto tinha interesse em fazer. Por isso,
ainda em 1999, quando da publicação do concurso público de Indaiatuba, arrisquei
prestá-lo. Não que ansiasse por lecionar, mas precisava, definitivamente de um trabalho
regular! E, enquanto isso, distribuía meus currículos para outras áreas de interesse.

9
Fui aprovada...
Conseqüentemente, no início do ano de 2000, veio-me a oportunidade de
lecionar, e eu aceitei. Não que tivesse mudado de idéia e me interessado repentinamente
pela área, mas porque, dentre as oportunidades profissionais que surgiram, essa foi a
que garantiu estabilidade.
Porém, sempre pensando em seguir futuramente uma outra carreira, prestei um
vestibular para Comércio Exterior e passei!
Mas não tive condições de sozinha, arcar com as despesas. Era uma faculdade
particular e meus pais não poderiam me ajudar: minha mãe cuidava da casa e da família,
e meu pai, sendo agricultor, sempre teve uma renda baixa.
Então, não me matriculei.
Fiquei muito triste com isso, mas tinha a intenção de tentar novamente numa
próxima oportunidade...
E assim as semanas e os meses foram passando...
E eu, lecionando e me atualizando na área da educação, através de vários cursos
oferecidos pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba, tais como: Programa de Formação
de Professores Alfabetizadores (PROFA); Piaget para Professores (ministrado pelo
pessoal do laboratório de Psicologia Genética, da Unicamp); PCN2 em Ação, módulos:
Matemática na Educação Infantil; Artes na Educação Infantil; Matemática na Educação
de Jovens e Adultos; Português na Educação de Jovens e Adultos; História no Ensino
Fundamental, entre outros.
Sei que, quanto mais experiência e formação fui adquirindo, mais me interessei e
me dediquei nessa área (ainda não percebia nesta época as políticas educacionais aí
inseridas).
E quando em 2003 surgiu a possibilidade de graduar-me em Pedagogia pela
UNICAMP, toda e qualquer dúvida que por ventura ainda sustentava, dissipou-se, e,
para substituí-la, veio o desejo de estudar mais e mais.
Muito aprendi ao longo de minha Graduação: amadureci e apurei meu olhar
sobre as coisas que antes me faziam parecer serem certas e indiscutíveis, imutáveis.
Muitas leituras e discussões me fizeram perceber isso.
Hoje procuro um embasamento maior, uma explicação mais eloqüente em tudo
que me é passado, e também no que transmito a meus alunos, já que a educação nos é

2
Parâmetros Curriculares Nacionais.

10
fundamental: “nascemos fracos, precisamos de força; nascemos carentes de tudo,
precisamos de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não
temos ao nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela educação” e não
posso, de modo algum, torná-la infundada (ROUSSEAU, 1999, p. 8).
E assim, durante seis anos lecionei no ensino fundamental da rede municipal de
Indaiatuba, de 1ª a 4ª série (tendo experiência nas quatro séries) como Professora
Substituta com muitos questionamentos, planos e aspirações.
Porém, como não estava contente com a situação enfrentada enquanto Professora
Substituta (a desvalorização profissional, o desrespeito, a humilhação,...), no decorrer
desse período, além de minhas reivindicações (que pouco foram consideradas!), busquei
melhores oportunidades de trabalho, mas desta vez, como professora!
Então prestei vários concursos na região: Vinhedo, Paulínia, Campinas, Monte
Mor, porém, alguns foram cancelados, em outros minha classificação foi ruim. Até
mesmo o concurso de Indaiatuba ocorrido no final do ano passado (2005) eu prestei, na
esperança de ter minha própria sala de aula e deixar de ser substituta.
Nesse, tive uma boa classificação, mas como não tenho graduação, não poderia
assumir o cargo. Aliás, fui chamada no dia 18/05/2006 e como estava a dois meses de
concluir meu curso, perdi meu direito à vaga... o que, infelizmente eu já esperava.
Porém, agora não tem o menor problema, já que, também em 2005, em meio à correria
da construção de minha casa e de meu casamento (me casei no ano passado!), pude
prestar o concurso público para Professora do Estado de São Paulo, e graças a meus
aprendizados na graduação, passei!
Passei, e em fevereiro de 2006 fui nomeada como professora PEB I3, tendo hoje
uma turma de 1ª série, no Jardim Nova América, cidade de Campinas.
Estou muito feliz em finalmente ter a minha própria sala de aula e me empenho
para ser uma excelente professora.
Ou seja, há seis anos sou educadora. E agora, não por acomodação,
conformismo, mas sim, por opção!

3
Professora de Educação Básica

11
3. POLÍTICAS EDUCACIONAIS.

No mundo capitalista em que vivemos, as políticas educacionais são voltadas à


preparação do indivíduo para o mercado de trabalho, onde

É absolutamente necessário considerar o processo de reprodução em sua


forma fundamental, livre de todas as interferências perturbadoras, a fim de
desprender-nos de todos os ilusórios subterfúgios que assumem a aparência
de explicação “científica” quando tomamos diretamente, como objeto de
análise, o processo social de reprodução em sua forma concreta
embaraçante4 (MARX, 1983, p.487).

Ao analisarmos a LDB5, os PCNs, o PNE6, percebemos que as tendências


predominantes são reforçadas e, os valores, as políticas educacionais e as concepções de
conhecimento, ditadas pelo Banco Mundial.
Vemos refletidas as desigualdades, e podemos perceber que, para a elite,
interessa numa certa medida, a ignorância da população, como meio de manutenção do
“sistema”. Aliás, “os pensamentos da classe dominante são também, em todas as
épocas, os pensamentos dominantes” (MARX; ENGELS, 1998, p.48).
O governo impõe reformas para tentar acompanhar a nova ordem mundial. Daí a
criação de programas e parâmetros a serem instituídos na educação a fim de melhorar as
estatísticas educacionais, cumprindo assim as exigências do Banco Mundial e
garantindo financiamentos.
Mas é necessário preocupar-se com o professor, que pode tornar-se um
obstáculo desse processo.
Daí a idéia de que para a obtenção de sucesso “Seria desejável que a admissão à
profissão (docente) se fizesse a partir de testes sobre o conhecimento das matérias, para
logo depois fornecer uma formação inicial curta e capacitação em serviço”, a fim de
moldar o educador conforme a conveniência. (BM, 1998 apud TOMMASI; WARDE;
HADDAD, 1996, p.165).
Diante de tal fato, recordo-me dos cursos de PCNs que fiz pela Prefeitura
Municipal de Indaiatuba logo no início de minha carreira.

4
Grifos meus.
5
Lei nº 9.394 / 96 - Diretrizes e Bases da educação Nacional.
6
Lei nº 10.172 / 01 – Plano Nacional de Educação.

12
Foram fornecidos vários módulos (História, Geografia, Matemática,...). E
aqueles professores que se interessavam, deviam cursá-los aos sábados, fora do horário
de trabalho e sem receber nada a mais por isso, além de míseros pontos, ou melhor,
décimos de pontos, úteis nas atribuições de aula.
Porém, esses pontos tinham a validade de dois anos. Terminado o prazo,
perdiam-se os mesmos...
Eu fiz quase todos os cursos, uma vez que, sendo recém-nomeada, não tinha
nenhuma pontuação, e não tinha também conhecimento da proposta educacional da rede
de ensino. Ainda não percebia nessa época o esquema de manipulação existente,
tampouco sabia das exigências do Banco Mundial...
Bem, muitos professores não puderam participar desses cursos, uma vez que
poucos podiam disponibilizar suas manhãs inteiras de sábados para os mesmos, depois
de uma semana inteira dobrando períodos, em troca de décimos de pontos com
validade! E, aqueles que o faziam, muitas vezes sentiam-se desestimulados em
continuá-los, após alguns encontros de repetição, ministrados por coordenadores de
unidade escolar a quem fora imposto serem os “multiplicadores”, e que nem sempre
tinham tais habilidades ou preparo.
Por isso, durante nossas reuniões na escola e durante os HTPC7s, a direção
escolar tinha a postura de tentar convencer a todos sobre a necessidade de realizarem
tais cursos. Havia também certa discriminação com aqueles professores que não
participavam dos mesmos. Mas essa discriminação não vinha apenas da parte da direção
escolar: muitos professores os julgavam também.
Ainda assim, muitos não participavam dos cursos. Então, desde dezembro de
2003, a Secretaria Municipal da Educação, instituiu o “misterioso” GPAP8 no fim do
ano, destinados àqueles professores que não atingissem certo número de faltas/aula e
faltas/HTPCs, além de terem cumprido “n” carga horária de cursos que tivessem sido
oferecidos pela administração naquele ano. A partir disso, era calculado o percentual
que cada um teria para receber (100%, 50% ou 25% do salário base), sendo que a
grande maioria dos professores nem mesmo tinham direito aos 25%. No ano de sua
instituição, por exemplo, muitos não o receberam por não terem feito o PROFA daquele
ano, e, mesmo já o tendo feito em ano anterior, não se pôde contar com o mesmo na
contagem de pontos para alcançar o direito a tal benefício.

7
Hora Trabalhada Pedagógico Coletiva.
8
Gratificação de Produção e Aperfeiçoamento Profissional.

13
O fato de muitos não obterem o direito a gratificação foi divulgado pela
Secretaria da Educação nos meios de comunicação local, a fim de desmoralizar o grupo
de professores que começava a incomodar a mesma com seus descontentamentos e suas
queixas...
Vale ressaltar que além da Licença-Saúde, a Licença Gala9 e a Licença Nojo10
também impediam o direito à gratificação. O que também prejudicou a muitos...
Utilizei anteriormente do termo “misterioso” bônus, devido ao fato de não
sabermos se a verba para o mesmo é proveniente do FUNDEF (o que daria direito a
todos os professores!), ou se a verba é proveniente de outros recursos da Prefeitura (o
que daria o direito à reivindicação a todos os demais funcionários!).
Além disso, no decorrer desses 3 anos, nunca se soube logo no início do ano se
haveria o mesmo ou não. O GPAP sempre foi uma “surpresa”. Com exceção deste ano
(2006) em que se leu as regras do ano anterior na suposição de que continuarão as
mesmas - com a contagem de pontos a serem atingidos pelo professor e sua conseqüente
porcentagem no mesmo (que pode ser 0%, não havendo um mínimo a ser recebido por
todos, mas um mínimo a ser pago de 25%).
Enfim, essa gratificação de produção e aperfeiçoamento “incentivou” muitos
educadores, mas indignou uma outra parte, devido ao seu “mistério”, suas regras
excludentes e a incerteza a cada ano.
Mas o que vale é que, de certa forma, a imagem da Prefeitura através da
Secretaria da Educação, é a de quem incentiva seus professores a se aperfeiçoarem e a
não faltarem no trabalho, oferecendo assim uma educação de qualidade aos filhos da
população...

9
Licença para Matrimônio.
10
Licença por Falecimento de parentes.

14
4. GESTÃO ESCOLAR.

A gestão baseada na escola é

Uma estrutura e processo que permite maior poder de tomada de decisão com
relação às áreas de ensino, orçamento, políticas, normas e regulamentos,
corpo docente e todo assunto de governo, é um processo que envolve uma
variedade de agentes nas decisões relacionadas a uma escola concreta e
individual (HERMAM, 1990 apud SANTOS FILHO, 1998, p. 2).

Por isso, a importância de revermos certas situações ocorridas no âmbito escolar.


O professor deve ter maior participação nas decisões escolares, ter maior
responsabilidade pelo processo escolar, e autonomia respeitada, e, como conseqüência,
maior interesse e responsabilidade pelos acontecimentos escolares.
Porém, das muitas leituras e das muitas discussões que participei em sala durante
o PROESF, pude perceber e lamentar não vivenciar uma gestão realmente participativa.
No município em que trabalhei, recebemos muitas “coisas prontas” e apesar de
sermos consultados em HTPCs geralmente as decisões já foram tomadas, restando-nos
apenas decidir sobre o dia a entregar o planejamento de aula, as sondagens dos alunos...
A Gestão é autoritária e qualquer descontentamento por parte do professor não é
levado em consideração e, às vezes, sua reivindicação nem sai da Unidade Escolar.
Isso possivelmente deve-se ao fato de o município adotar a indicação para os
cargos de Coordenador de Unidade Escolar e para Diretor de Unidade Escolar.
Assim, o professor que após o período de estágio probatório (3 anos) demonstrar
comprometimento com a rede de ensino (e em alguns casos, certas amizades lucrativas)
é indicado ao cargo. Mas, até algum tempo atrás, ao assumir esse novo cargo por
indicação o profissional devia assinar sua exoneração do cargo de professor (o que
legalmente é prejudicial, uma vez que um cargo público deve ser decorrente de um
concurso público - salvo os cargos de comissão - e se o professor exonerar-se, fica sem
a estabilidade, sem a garantia de acesso ao cargo público pelo concurso) para poder
assumir a função de Coordenador ou Diretor.
Aqueles que não correspondessem ao esperado teriam de voltar à sala de aula.
Mas, e quanto à exoneração que tiveram de assinar? Qual a função da mesma?
Pressionar o profissional? Mantê-lo “moldado” conforme a conveniência?

15
Bem, por essas e outras a gestão escolar não é em nada democrática: a direção
escolar faz cumprir às exigências e modismos da Secretaria da Educação, uma vez que
se assim não o fizerem serão advertidos e pressionados.
Já os professores que parecem ter uma postura mais crítica11, dificilmente têm
seus questionamentos esclarecidos.
Outros, que temem pela pressão exercida “de cima pra baixo” com tantas
advertências e relatórios, preferem não questionar.
Havia ainda até o ano de 2005 um terceiro grupo, que alimentava a esperança de
uma indicação e que adotava a postura do “bom exemplo”. Esse grupo perdeu sua força
devido a Reestruturação do Estatuto, que teoricamente extinguirá as indicações...12
Sabemos que

Na medida em que se conseguir a participação de todos os setores da escola –


educadores, alunos, funcionários e pais – nas decisões sobre seus objetivos e
seu funcionamento, haverá melhores condições para pressionar os escalões
superiores a dotar a escola de autonomia e recursos. (PARO, 2001, p.12).

Por isso, é lamentável verificar que uma Gestão Escolar participativa não existe
no Município de Indaiatuba. E eu tenho bem claro que a Secretaria Municipal de
Educação teme que isto ocorra.
Não é indicado para a manutenção das tendências que haja tanta autonomia na
escola... Então, melhor manter como está: as normas são ditadas e cabe à direção escolar
repassar aos professores, que devem seguí-las, preferencialmente sem muito questionar.

11
Ver “A Influência da Formação”, p.13.
12
Ver “Continuidades e Rupturas”, p.23.

16
5. ALIENAÇÃO.

Ao analisar o comportamento do professorado, tão distante do discurso dos


mesmos, e da sua capacidade de discernimento, cheguei a única explicação possível
para tal destoamento: a Alienação.
Mas afinal, o que é Alienação?
“O verbo alienar vem do latim alienare, ‘afastar, distanciar, separar’. Alienus
significa ‘que pertence a outro, alheio, estranho’. Alienar, portanto, é tornar alheio, é
transferir para outrem o que é seu13” (ARANHA, 1996, p.22).
Ainda sobre seu conceito: “Alienação: 1. Ato ou efeito de alienar (-se). 2.
Cessão de bens. 3. Enlevo, arrebatamento. 4. Falta de consciência dos problemas
políticos e sociais14 [...]” (FERREIRA, 2000, p.32).

5.1. Alienação do Professor.

Chego, então, ao ponto que muito me aflige no professorado: sua alienação.


Por diversas vezes testemunhei colegas descontentes questionarem modismos da
Secretaria da Educação, que nada mais são que reflexos das recomendações do Banco
Mundial para preservação de financiamento ao país, inclusive na área da educação.
Pois bem, os mesmos que, fervorosamente, debatiam em intervalos de suas aulas
a respeito de certas atitudes da Secretaria, raríssimas vezes expunham tal
descontentamento à direção escolar, ou a escalões maiores.
É como se fossem outras pessoas participando das reuniões, onde “de repente”
tudo está correto, sem muitos questionamentos.
Eu, enquanto cidadã consciente, (não tanto como o sou hoje após o PROESF)
sempre questionei certas atitudes. Sempre fui “das que mais falavam”, a ponto de meus
colegas confiarem a mim suas inquietações na intenção que eu os representasse em
minha fala...
Sempre conversei com os mesmos a respeito da importância de reivindicarmos
sobre nossos direitos, reivindicarmos sobre nossas condições de trabalho e condições
salariais. Mas, até então, pouco havia mudado no comportamento do professor.

13
Grifos meus.
14
Grifos meus.

17
Os riscos de alienação que ameaçam os profissionais em geral do mundo
contemporâneo atingem também os professores, profissionais que
desenvolvem um tipo de trabalho intelectual, ou trabalho não-material, muito
peculiar, [...] já que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de se
produzir (ARANHA, 1996, p. 25).

Seja lá qual a profissão, já se lamenta quando há alienação, porém, quando se


trata do professor isso tem uma agravância ainda maior por serem estes, intelectuais que
lidam com a transmissão de conhecimentos e de valores.

Além disso, ao se compreender os professores como intelectuais, é possível a


elaboração de uma severa crítica àquelas ideologias que legitimam as práticas
sociais que separam, de um lado, conceitualização, projeto e planejamento e,
de outro, os processos de implementação e execução. É importante enfatizar
que os professores devem responsabilizar-se ativamente por levantar questões
sérias sobre o que ensinam, como devem ensinar e quais os objetivos mais
amplos por que lutam. Isto significa que devem desempenhar papel
importante na definição dos propósitos e das condições da escolarização
(GIROUX, 1987 apud ARANHA, 1996, p. 27).

Então, diante de tal situação, fica muito claro a desconformidade discurso x


atitude e, também, a discordância entre a função formadora do educador e sua alienação,
além da urgente necessidade de mudança de atitude.

18
5.2. A Influência da Formação.

Em 2002, inicia-se o programa de formação continuada do professor. E como já


mencionado anteriormente, as políticas educacionais sofrem sérias influências do Banco
Mundial, daí a possível explicação para a implantação desse programa:

O BM chegou a um ponto crítico em que se vê forçado a revisar posições:


não é possível continuar sustentando que a capacitação em serviço é mais
efetiva quando, ao mesmo tempo, se reconhece que essa é apenas uma
estratégia paliativa com relação a um mau sistema escolar e uma má (ou
inexistente) formação inicial, sendo ela quem garante o domínio de
conteúdos, variável fundamental no desempenho docente; não é possível
continuar defendendo a formação docente em termos da oposição entre
formação inicial e capacitação em serviço, quando se reconhece que é o
próprio sistema escolar (e a sua melhoria) a fonte mais segura de uma
educação geral sólida dos professores; não é possível propor novos
parâmetros de recrutamento docente – os melhores, os mais competentes –
esquivando-se das questões salariais e profissionais associadas a esse perfil
docente. Não é possível continuar afirmando, em definitivo, que se pode
melhorar a qualidade da educação sem melhorar substancialmente a
qualidade dos docentes, o que por sua vez leva a reconhecer o quanto é
inseparável a qualidade profissional da qualidade de vida (TOMMASI;
WARDE; HADDAD, 1996, p.166).

E apesar dessa influência externa, essa foi uma excelente oportunidade para que
pudéssemos aprimorar nossa formação. Afinal, “nem sempre se cuidou adequadamente
da importante questão da formação do professor. Há uma idéia corrente de que vocação
e desprendimento generoso bastam para que a pessoa se encaminhe para esta profissão”
o que significa a visão de muitos que ainda ignoram a importância da formação do
professor (ARANHA, 1996, p.152).
Por isso, todos nós, professores da Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba,
ficamos ansiosos em relação a tal projeto.
Então, um grupo de professores concorreu ao curso Pedagogia Cidadã,
ministrado pela UNESP, apostilado e realizado em Indaiatuba mesmo, utilizando o
recurso de videoconferências. Para essa turma 50 vagas foram oferecidas...
Outro grupo de professores concorreu ao curso de Pedagogia (PROESF) da
UNICAMP, a ser realizado em Valinhos. Nesse, 20 vagas foram oferecidas...
E eu, juntamente com outros colegas, não pude concorrer a nenhuma dessas
vagas, por estar ainda em estágio probatório, sendo essa uma das condições exigidas
pela Secretaria da Educação para concorrer às vagas: ter terminado o estágio probatório,
que tem a duração de 3 anos.

19
Fiquei desapontada em saber que por faltar 3 meses para a finalização do meu
estágio probatório, não fiz jus à concorrência das mesmas. Então, durante um ano,
acompanhei meus colegas que cursavam a UNICAMP ou a UNESP trazendo suas
contribuições no âmbito escolar. Alertando-nos quanto a certas posturas adotadas pela
Secretaria da Educação...
E assim, fomos tendo uma visão mais crítica sobre nosso trabalho.
Felizmente, um ano depois, tive a oportunidade de concorrer a uma vaga na
UNICAMP e, melhor ainda, cursar na própria UNICAMP. Que alegria!
Pedi a minha amiga Marta (da primeira turma da UNICAMP) que me
emprestasse alguns livros e textos, para que pudesse estudar para a prova. Li tudo o que
constava na bibliografia e, muito orgulhosa, entrei para a 2ª turma do PROESF.
Eu e outras 19 colegas!
Para tanto, vale registrar que, além de haver cumprido o estágio probatório,
assinei (assim como os demais dessa turma e da primeira turma também!) um termo de
compromisso, do qual me comprometia a permanecer no cargo da Secretaria Municipal
de Educação durante todo o curso e por outro período igual à duração do mesmo,
totalizando 6 anos.
Caso contrário, teria de arcar com todo o gasto do município com o curso – se o
curso fosse o Pedagogia Cidadã, teria de arcar com todo o material apostilado, porém,
como se referia ao PROESF... Arcar com que gastos??? Mais um “mistério”.
Ah! E se não assinasse o termo, não receberia a Declaração de ser Professora em
Exercício do Município (exigida pela UNICAMP). Por isso, ninguém pôde se negar a
tal compromisso. Feito isso, então, pude me matricular no curso.
E a partir deste momento, muita coisa mudou.
Não só para mim, mas para a grande maioria que estava tendo alguma formação
através do PROESF ou a Pedagogia Cidadã, pelo menos na questão da conscientização.
Na verdade desde que as primeiras turmas haviam iniciado seus cursos, fui
observando uma mudança gradativa no comportamento do professorado em relação a
assuntos antes não questionados, talvez por serem considerados indiscutíveis.
A partir da formação, podíamos argumentar e criticar com embasamentos muitas
situações e aspectos que considerávamos infundados, inconsistentes.
Além disso, muitos colegas que tinham dúvidas em relação a algum assunto
voltado a nossa prática ou ao sistema instituído, procuravam-nos para esclarecimentos.

20
Havia também aqueles que preferiam ignorar nossas conversas por nos considerarem
insurgentes.
Lembro-me de que estando ainda no 1º semestre do PROESF nos foi proposto
um trabalho a respeito das políticas educacionais, e nosso grupo teve de explanar à sala
a respeito do FUNDEF15.
Nessa ocasião, eu pouco sabia do mesmo. Então, após pesquisas, informei-me
sobre o repasse do Fundo, do qual 60% devem ser aplicados em salários e capacitação
do professor que atue nesse nível de ensino.

Art. 7º Os recursos do Fundo, incluída a complementação da União,


quando for o caso, serão utilizados pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios, assegurados, pelo menos 60% (sessenta por cento) para a
remuneração dos profissionais do magistério, em efetivo exercício de suas
atividades no ensino fundamental público.

Parágrafo Único - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicação


desta Lei, será permitida a aplicação de parte dos recursos da parcela de 60%
(sessenta por cento), prevista neste artigo, na capacitação de professores
leigos, na forma prevista no art. 9º, § 1º (LEI nº 9.424, 1996).

Ao comentar sobre isso na escola em que trabalhava, muitos professores


demonstraram surpresa em relação a essa informação. Eles (assim como eu) não tinham
idéia sobre.
Daí, que, sendo o FUNDEF calculado por aluno, e tendo um valor único fixado
no Estado, começamos a comparar nossos salários em relação à Região Metropolitana
de Campinas (RMC), da qual Indaiatuba faz parte.
Percebemos que em nosso município paga-se um dos menores salários da região.
Começamos a questionar se estaríamos recebendo ou não o repasse dos 60% do
FUNDEF, já que os salários eram tão discrepantes e não recebíamos reajuste há anos,
com a justificativa de falta de verbas...
Os questionamentos começaram a incomodar a Secretaria, pois estavam
tornando-se uma constante. Tentaram nos convencer de que não havia nada de errado
com os cálculos de repasse do Fundo, e que, se houvesse algum problema, o Conselho
que fiscaliza a distribuição desse recurso com toda a certeza impediria ações
desonestas...

15
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério, Lei nº
9.424, de 24 de Dezembro de 1996.

21
Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição,
a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos,
junto aos respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, por Conselhos a serem instituídos em
cada esfera no prazo de cento e oitenta dias a contar da vigência desta
Lei.

§ 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de


cada esfera editada para esse fim:
[...]
IV - nos Municípios, por no mínimo quatro membros
representando respectivamente:
a) a Secretaria Municipal de Educação ou órgão equivalente;
b) os professores e os diretores das escolas públicas do ensino
fundamental;
c) os pais de alunos;
d) os servidores das escolas públicas do ensino fundamental;
(LEI nº 9.424, 1996).

Porém, quanto mais informações obtíamos, e quanto mais discutíamos em nosso


curso, maior nosso desapontamento.
Verificamos, por exemplo, via on-line, o valor do FUNDEF a ser repassado ao
Município, e percebemos que o valor do nosso salário era muito menor do que o
previsto dentro dos seus 60%; Além disso, como as contas do Município foram por 3
anos seguidos rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União fomos ficando cada vez mais
descréditos com a Secretaria da Educação.
E o que deu início a um clima ainda maior de descontentamento foram as
pressões hierárquicas ditatoriais e injustas. E, não coincidentemente, os professores que
estavam na Graduação foram os mais questionadores e provocadores de uma certa
“desordem” na então “ordem” existente. Desordem essa referente às reclamações antes
não existentes.
Também não coincidentemente, somente a partir dessa formação dos
professores, surgiram as queixas com embasamento, as críticas sobre a até então a
aparente administração perfeita - que conseguiu por durante 8 anos não reajustar os
salários dos funcionários públicos e ainda manter-se vista como uma das melhores
administrações da cidade (conseguindo inclusive, eleger um sucessor aliado).
Porém, a conscientização e tomada de atitude por parte do funcionalismo
municipal de Indaiatuba, não foram iniciadas pelos professores, que apesar de
apresentarem uma mudança de pensamentos, com relação às atitudes demonstraram
poucas mudanças. E o progresso com relação aos atos começou a surgir após a junção
entre a formação que estão vivenciando e o movimento de greve do qual poucos
participaram.

22
5.3. A Greve.

O ano de 2004 foi um ano de considerável ganho político na cidade de


Indaiatuba. Final do 2º mandato do então prefeito, a ser, conforme pesquisas, sucedido
por seu candidato.
Funcionários públicos em geral descontentes com o salário (que durante os 8
anos de mandato da mesma administração, não teve nenhum reajuste), resolveram unir-
se para debaterem suas reivindicações.
Atitude então iniciada por monitoras de creche, (profissionais com menor
formação que os professores, mas com maior consciência política) que em parceria com
o Sindicato dos Metalúrgicos - que cedeu espaço para reuniões e uma advogada para
esclarecimentos legais - elaboraram boletins informativos a todos os funcionários
públicos municipais, cujo tema central era a defasagem salarial, além das divergentes
condições de trabalho que tínhamos quando comparadas à Região Metropolitana de
Campinas; o autoritarismo; o desrespeito com o funcionário,... Enfim, muitos aspectos
negativos e a necessidade de um posicionamento crítico de nossa parte.
Nesses boletins os funcionários eram convocados a participar de reuniões para
estudar as leis, analisar e definir as reivindicações a serem encaminhadas ao prefeito,
em nome de todo o funcionalismo.
Porém, durante as muitas e muitas reuniões, sempre houve um número irrisório
de participantes, sendo o professorado o menos interessado aparentemente, por ser o
menos participativo (mesmo aqueles que modificaram seu discurso nas escolas e
estavam em meio à formação demonstraram medo em participar das reuniões!).
Ainda assim, apesar da pouca participação do funcionalismo, formou-se uma
Comissão para representar os funcionários e encaminhar à prefeitura nossas
reivindicações que foram construídas nas reuniões.
Infelizmente, não houve nenhum retorno por parte da administração que fingia
ignorar o modesto, porém inédito comportamento.
Enquanto isso, na escola, os professores sabendo que eu participava das
reuniões, perguntavam-me sobre o andamento das mesmas; e alegavam não terem ido
por “n” motivos que os impossibilitavam.
Ainda na expectativa da participação dos mesmos, esclarecia suas dúvidas e
insistia para que fossem às próximas reuniões... E os professores apoiavam nossa atitude
e davam sugestões.

23
O mesmo ocorria nas outras escolas em que haviam professores envolvidos no
movimento.
Mas a participação de professores nas reuniões em pouco crescia... “Para ser
alguma coisa, para ser si mesmo e sempre uno, é preciso agir como se fala; é preciso
estar sempre decidido a respeito do partido a se tomar, tomá-lo abertamente e continuar
sempre com ele” (ROUSSEAU, 1999, p.12).
Quanto ao andamento de nossas reivindicações, divulgamos em jornal e rádio
local nosso descontentamento, a perda salarial do período daquela administração que
chegou a 50% comparado à inflação. Mas também não tivemos nenhum retorno.
Diante disso, a Comissão elaborou uma “Carta Aberta À População” onde
expunha nossa realidade, com as reivindicações e informando a todos que se a
administração continuasse a ignorar nossa fala, faríamos uma paralisação como forma
de protesto.
Novamente não houve retorno. Por isso, combinamos que iríamos realizar a
paralisação.
E o dia 21 de junho de 2004 foi o primeiro dos 4 dias que entraram na história
do Município por acontecer uma paralisação dos funcionários.
Naquela manhã, acreditando em todo o “apoio” e “conscientização” dos
professores, fomos às escolas buscar adesões para a paralisação, que tínhamos certeza,
se tivesse considerável representatividade, seria eficaz.
Enquanto isso, outras categorias do funcionalismo faziam o mesmo: pessoais da
saúde, das obras, das creches, também foram aos seus locais de trabalho em busca de
adesões.
Contudo, “segundo o argumento da apatia das massas, muitas pessoas são
politicamente apáticas e ficam felizes que uma minoria que ambiciona a liderança tome
decisões em nome delas” (SANTOS FILHO, 1998, p.10).
Por isso, ao conversar com meus colegas no portão da escola, os mesmos
disseram concordar e estarem dispostos a paralisar naquele dia! Porém, quando a
diretora chegou, uma professora preferiu entrar sem nem sequer me olhar, outra se
aproveitou da situação e entrou também,... Logo, todos haviam entrado sob a
justificativa que se não parassem todos de nada adiantaria.
E eu fiquei sozinha com as monitoras que me acompanhavam do lado de fora da
escola, enquanto a diretora e os coordenadores olhavam-nos com ar de satisfação do
lado de dentro...

24
E não foi muito diferente em outras escolas...
E eu não conseguia entender aquela atitude que não condizia com nossas
conversas. Afinal, “assumir posições significa estar comprometido com o mundo e
disposto a participar, lutando contra o trabalho degradante, a submissão política, a
alienação da consciência, as exclusões injustas e as diversas formas de preconceito” e
não vi isso acontecer. (ARANHA, 1996, p.153).
Frustrada, fui com o pessoal até a Prefeitura, onde, com carro de som fizemos
barulho e cobrávamos uma posição do prefeito. Era véspera de eleição e esperávamos
que ele se preocupasse com isso.
E assim ocorreu por quatro dias: íamos às escolas, creches e postos de saúde
para conscientizar o pessoal sobre o movimento e chamá-los a juntar-se a nós. Em
todas as áreas, os funcionários sofreram muitas ameaças por parte dos superiores, e era
preciso coragem para não se deixar abater.
Felizmente o movimento ganhou alguma representatividade junto às monitoras e
ao pessoal da saúde.
Porém, apesar da boa iniciativa a Comissão não teve preparo suficiente para
liderar o movimento, o que impediu que o mesmo adquirisse mais força.
Isso porque, após os profissionais deixarem seus locais de trabalho e se reunirem
em frente à prefeitura, depois de alguns protestos e gritos, nada mais acontecia.
Ficávamos sem saber o que fazer e no período da tarde o movimento acabava se
dissolvendo. Somente nos 3º e 4º dias, depois de sermos expulsos da frente do Paço
Municipal sob a alegação de invasão (Paço financiado pelo Serviço de Previdência e
Assistência Social dos Funcionários Municipais de Indaiatuba!), fomos às ruas protestar
e mostrar à população nosso descontentamento. Esses dias sim foram proveitosos; mas
novamente no período da tarde as manifestações cessavam. Daí eu analisar como
despreparados os líderes do movimento.
E essa foi uma das principais razões para um resultado não tão eficiente.
Outro ponto que talvez tenha prejudicado foi a tentativa de mobilizar todo o
funcionalismo para o movimento. Pois, salvo a reclamação geral dos salários defasados,
as queixas tinham as suas especificidades por área.
Diante disso, como as adesões haviam cessado, e para que não terminássemos
com menos pessoas do que quando começamos, decidimos em reunião terminar com o
movimento, mas esclarecendo à população as razões de nosso protesto e a postura do
então prefeito que nos ignorou e nos expulsou da prefeitura que financiamos...

25
A população ficou dividida: alguns nos criticaram por considerarem uma ótima
administração que tantas praças construiu, outros porque sofreram sem o atendimento
integral das creches; Mas muitos nos apoiaram. E por ser essa a primeira manifestação
da história do município e apesar de ter havido pouca adesão do professorado, foi um
acontecimento notável e marcante.
E sendo eu uma das pouquíssimas representantes do professorado descontente,
muito me orgulho de ter participado dos quatro dias de paralisação ocorridos.
E esses quatro dias significaram pra mim experiência e aprendizado de uma
vida!

5.4. E agora? Alienação?


“O passado torna-se passado quando o
presente estabelece com ele relações de
mudanças inaugurando um novo tempo”
Lana Mara de Castro Siman

Como registrado anteriormente, encerramos a paralisação por desunião dos


funcionários. Então, ao retornar ao trabalho (vale ressaltar que trabalhei muito mais na
greve do que em sala de aula!) fui recebida como “a corajosa”, recebendo o
cumprimento de todos... E com um belo relatório da diretora a respeito e quase
perdendo a licença prêmio, uma vez que nossa justificativa de falta foi indeferida, por
ter sido “uma greve ilegal”, conforme versão oficial.
Porém, a partir deste movimento, muita coisa mudou: os professores passaram a
reivindicar mais seus direitos, expondo à direção e supervisão seus descontentamentos.
E ainda hoje alguns se declaram arrependidos por não terem participado do movimento,
afirmando não mais se omitirem caso haja uma outra paralisação...
Isso, aliado ao fato de um grupo de professores da rede municipal de Indaiatuba
estar cursando sua graduação, têm resultado num vagaroso progresso em relação à
participação dos mesmos em algumas decisões. Porém, como dito, é realmente vagaroso
progresso...

26
Vale ressaltar que

[...] o professor desenvolve um trabalho intelectual transformador: ele não só


quer mudar o comportamento do aluno, como também educa para um mundo
melhor que está para ser construído. A educação está inserida num contexto
maior – social, econômico e político. Por isso o professor não pode estar
alienado dos acontecimentos de seu tempo, devendo ser capaz de realizar
juízos de valor a respeito dos comportamentos coletivos e individuais,
sempre atento aos valores políticos e morais (ARANHA, 1996, p.152).

Razão pela qual me alegro em saber que hoje os professores estão estudando
leis, reunindo-se, debatendo, discutindo e tendo embasamento para isso.
Mas as
modificações não dependem dos indivíduos isolados e só serão possíveis caso
os professores tomem consciência política da sua situação e estejam dispostos
a se mobilizar sempre que necessário. Para tanto, é preciso que eles estejam
engajados em associações representativas de classe que defendam seus
interesses (ARANHA, 1996, p.153).

Por isso, até mesmo o fato de os professores estarem se reunindo na APEOESP16


já demonstra uma mudança de atitude, um progresso, uma vez que, antes, havia temor
em participar e agora até um representante foi eleito para trabalhar no Sindicato.
Em função dessas atitudes, a administração tem demonstrado um certo
desconforto, uma vez que
Os professores costumam ser vistos principalmente como um sindicato, e
sindicato magisterial lembra automaticamente reivindicação salarial,
intransigência, greve, quando não simples corrupção e manobra política. Os
professores (e seus sindicatos) são vistos como problemas antes que recurso,
“insumo” educativo necessário porém caro, complexo e difícil de lidar. Os
mesmos professores, e não somente a sua formação, costumam de fato ser
vistos como um “beco sem saída”. (TOMMASI, WARDE,
HADDAD, 1996, p.160).

Talvez agora sim os professores estejam iniciando seu processo de desalienação!


Confesso que ainda conservo certa decepção em relação aos meus colegas que,
em tantos momentos, expunham suas angústias, seus anseios, suas indignações, estando,
ao que parecia, prontos para assumir tais sentimentos, dado o discurso que aclamavam e
que no momento da paralisação, deixaram-me só, do lado de fora da escola... Isso
comprova o fato de que “há infinitos tempos todos protestam contra a prática
estabelecida, sem que ninguém se preocupe em propor outra melhor”, ou mesmo
participar de uma outra prática melhor (ROUSSEAU, 1999, p.3). Mas sei que o que fiz

16
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.

27
não foi em vão. Aliás, as “iniciativas coletivas são fundamentais para desencadear
rupturas no quadro de individualismo, isolamento e corporativismo de todos os
segmentos que se envolvem na formação de professores” (LAROCA, 1999, p.31).
E a iniciativa já foi tomada!
Só não podemos nos esquecer de que a mais longa caminhada só é possível
passo a passo...

6. CONTINUIDADES E RUPTURAS.

Os acontecimentos últimos com o funcionalismo municipal, inclusive com os


profissionais da área de educação do município de Indaiatuba (greve / formação do
professor / início da desalienação) provocaram uma certa mudança de atitude por parte
da administração.
Logo no primeiro semestre de mandato (2005), o atual prefeito deu ao
funcionalismo um reajuste salarial que variou entre 5% a 20%, dependendo do salário.
Acontecimento raro de se observar logo no início de uma administração onde é comum
o governante alegar precisar estudar o orçamento para planejar as alterações no ano
seguinte...
Também surpreendeu a atitude da Secretaria Municipal de Educação, que
parecendo ter uma postura mais acessível, talvez fazendo valer o discurso de sua
proposta onde “Como todos os Educadores são também aprendizes, é de fundamental
importância que possam, sempre, estudar, debater e compartilhar as diferentes ações e
conhecimentos pedagógicos” criou uma Comissão (tendo os professores seus
representantes!) para reestruturar o Estatuto e instituir um Plano de Carreira
(INDAIATUBA, 2004, p.36).
Sem dúvida, um ganho para a categoria. Porém isso ainda não basta, afinal

reforma é uma palavra cujo significado varia conforme a posição que ela
ocupa, se dentro das transformações que têm ocorrido no ensino, na formação
de professores, nas ciências da educação ou na teoria do currículo a partir do
final do século XIX. Não possui um significado ou definição essencial. Nem
tampouco significa progresso, em qualquer sentido absoluto, mas implica,
sim, uma consideração das relações sociais e de poder (POPKEWITZ,
1997 apud CANDAU, 1999, p.30).

E ainda não se tem o produto final, ou seja, o Novo Estatuto. O que muito
preocupa e incomoda.

28
6.1. Comissão de Estudos para Reestruturação do Estatuto e Plano de Carreira do
Magistério Municipal de Indaiatuba.

Eis que em agosto de 2005 chega às escolas a informação de que seria criada
uma Comissão para reestruturar o então ultrapassado estatuto do Magistério vigente,
datado de 1990, e instituir o Plano de Carreira, dado às queixas cada vez mais
constantes do professorado.
Para tanto, aqueles que tivessem interesse em representar sua categoria deveriam
manifestar-se e a direção escolar enviaria o nome à Secretaria.
Cada escola podia indicar um professor por categoria. Havendo mais de um
interessado, seria feita uma votação entre o corpo docente da UE17. Seriam indicados:
um professor do ensino fundamental; um professor substituto do ensino fundamental;
um professor especialista18; um professor de educação infantil; um professor substituto
da educação infantil; e um suplente para cada um.
Então, após todas as UEs terem enviado os nomes dos indicados, marcou-se uma
reunião com os mesmos. Eu fui como indicada da escola em que trabalhava para
representar os professores substitutos do ensino fundamental. Na reunião nós votamos
em quem seriam os membros da Comissão, pois somente um professor de cada
categoria poderia participar (juntamente com seu suplente).
Então se formou a Comissão composta pelos representantes dos professores, e
toda a hierarquia da Secretaria de Educação (Secretária da Educação, Secretária
Adjunta, Coordenadora do Ensino Fundamental, Coordenadora da Educação Infantil,
Supervisora do Ensino Fundamental, Supervisora da Educação Infantil, Orientadora
Pedagógica, Diretora de Escola Fundamental, Diretora de Escola de Educação Infantil,
Coordenadora de escola do Ensino Fundamental e Coordenadora de Escola de Educação
Infantil). Não foi uma Comissão paritária, mas ao menos houve alguma
representatividade. E eu fui eleita por meus pares, professores substitutos, para
representá-los.
Essa Comissão está sendo assessorada por uma empresa que, de acordo com o
Departamento Jurídico da prefeitura foi contratada através de carta convite, pelo valor
de R$207.000,00 pagos com recursos da Educação... E conforme acordo firmado, o
prazo para encaminhamento do documento à Câmara para votação era de 90 dias a

17
Unidade Escolar.
18
Professor de Educação Especial; Filosofia; Educação Física; Artes.

29
contar da assinatura do contrato e 150 dias para estar tudo finalizado (elaborado, votado
e aprovado)...
Então iniciamos nossas reuniões - a princípio quinzenais com 4 horas de duração
- para num primeiro momento estudarmos as leis Federais, Estaduais e Municipais
voltadas ao funcionalismo e magistério e, esclarecidas as dúvidas sobre esses pontos,
elaborarmos as sugestões de modificações permitidas por lei.
Tudo o que discutíamos nas reuniões, transmitíamos aos professores nos HTPCs,
além das leituras das atas das reuniões, que eram enviadas a todas as escolas!
Logo de início o que mais preocupava eram os cargos por indicação de
Coordenador de UE e de Diretor de UE. A maioria dos professores prefere a instituição
de concursos para todos os cargos. Já os profissionais envolvidos e a Secretaria da
Educação preferem e sugerem que continuem as indicações, ou pelo menos que não se
mude quem já está, e alterações sejam feitas a partir de novas vagas.
E ficou imposto na reunião que vamos modificar “daqui pra frente” e o que já foi
feito está sacramentado e não iremos fazer um documento retroativo...
Quanto à instituição ou não de Concurso Público, foi acertado de que será
decidido em Assembléia Geral com os professores essa e outras modificações. Mas
antes da Assembléia, fez-se necessário um levantamento em todas as escolas sobre
quais reivindicações tinham os professores. E os mesmos tinham de nos encaminhá-las
por escrito dentro do prazo estipulado pela Comissão.
Recebemos centenas de reivindicações: umas muito pertinentes; outras
totalmente distantes das atribuições do Estatuto.
Então, durante 4 reuniões socializamos e tabulamos todas as reivindicações,
inclusive as não pertinentes, para que, apoiados pela lei, pudéssemos avaliar a
viabilidade e legalidade das mesmas e, assim que terminássemos a organização das
possíveis modificações, a empresa de assessoria elaboraria uma prévia do documento e
numa Assembléia os professores iriam decidir sobre alguns pontos principais como os
cargos de Diretores e Coordenadores serem por Concurso Público ou continuarem as
indicações.
Mas, a essa altura do processo, tanto o advogado da empresa de assessoria como
a Secretária de Educação, quiseram inviabilizar a Assembléia. Protestamos e, como já
havia sido acordado a respeito disso no início de nossas reuniões, manteve-se o
compromisso.

30
Fato que surpreendeu a todos os professores que estavam acostumados a ver as
imposições de até então, e sabendo que

não se fará uma reforma educativa autêntica se não se colocar no centro de


suas preocupações as questões relativas à identidade, às condições de
trabalho, ao status econômico e social e à profissionalização dos professores.
O centro de toda ação educativa tem no docente seu principal ator. Unindo
forças nessa perspectiva, construiremos “a outra reforma” (CANDAU,
1999, p.41).

Mas, infelizmente, em dezembro de 2005 aconteceu nossa última reunião. E


desde então, não houve progressos. Nem após minha saída da prefeitura, não aconteceu
mais nenhuma reunião, tenho me informado sobre e até pedi à Secretaria Adjunta, antes
de exonerar, que permitisse que eu continuasse participando da Comissão, uma vez que
gostaria de terminar o trabalho que comecei, sendo a indicada por meus pares para
representá-los. Porém, como passei no concurso para PEB I do Estado e assumi uma 1ª.
série no período da manhã, tive de exonerar do cargo de professora substituta no
município - que também era de manhã - e não permitiram que trocasse meu horário.
Então, por não mais fazer parte do corpo docente, não posso mais participar, ficando
minha suplente no lugar. Esse foi a única coisa que lamento “ter perdido” ao sair da
prefeitura: deixar um trabalho inacabado.
Fico triste em ouvir os comentários de que não haverá mais Assembléia, de que
o Estatuto já está pronto...
Não quero acreditar em boatos, mas é interessante registrar que, 250 dias após a
assinatura do contrato (lembram-se do prazo estipulado?), o documento ainda não foi
finalizado, nem foi marcada a Assembléia Geral com os professores, muito menos
encaminhado à Câmara para votação.

31
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A graduação em minha vida significou um amadurecimento intelectual sem


igual.
Não há alienação em minha visão e tive a oportunidade de participar de
momentos marcantes para toda a história da educação do município de Indaiatuba.
Bem, já fui considerada pela Secretária da Educação de Indaiatuba, como
pertencente à “esquerda festiva”, mas hoje, acredito terem uma visão mais coerente a
respeito.
Também, graças ao curso, tive a oportunidade e a preparação para prestar o
Concurso do Estado, passar e assumir minha sala, depois de 6 anos de substituição.
Enfim, muito aprendi e me surpreendi.
Também me entristeci ao ver que pensamentos, atitudes e palavras que
(re)produzimos são tantas vezes o reflexo do sistema capitalista que nos corrompe e
manipula, tornando-nos fantoches e reprodutores de seus ideais...
A partir dessa reflexão, reforço a afirmação de que

Se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escola


que temos aí. E a transformação dessa escola passa necessariamente por sua
apropriação por parte das camadas trabalhadoras. É nesse sentido que
precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do
próprio trabalho no interior da escola (PARO, 2001, p.10).

E essa transformação depende única e exclusivamente de nós, participantes do


processo.
É triste também observar que características que deveriam ser hoje a muito
ultrapassadas, na verdade permanecem presentes em muitos lugares... Como a atitude
autoritária e ditadora que vivenciei no município de Indaiatuba: exonerei sob a ameaça
de ter de pagar uma multa para arcar com todos os gastos que a prefeitura teve comigo
durante meu curso do PROESF (!) correndo o risco, segundo a Secretaria da Educação,
de perder minha vaga no curso, uma vez tendo assinado o termo de compromisso no
início do mesmo para poder receber a declaração de professora em exercício e efetuar
minha matrícula.
Disseram-me também que seria possível que, ao invés de pagar multa, já que a
UNICAMP é pública, teria de prestar serviços voluntários à cidade...

32
Obviamente que nada disso ocorreu, por tratar-se de alegações infundadas. Mas,
na entrevista de desligamento, fui informada que tenho uma “dívida moral” com o
município dado o acordo quebrado... (Deixo os comentários para os Senhores, caros
leitores...).
Bem, a escola continua repressora mesmo quando se diz libertadora, porque não
adianta mudar somente as técnicas de aprendizagem se o educador não mudar sua
postura.
Acredito que esteja finalmente se iniciando essa mudança no município. E se
assim o for, não será apenas um belo discurso a idéia de formação para a cidadania,
mas, será sim, o reflexo do que o educador vivencia.
Espero que a “Formação Política do Educador” são seja utópica. E espero, de
alguma forma ou de outra, ter contribuído um resquício que seja, na mudança do
comportamento do professorado em questão.
E quanto ao Memorial

Não é sobre as idéias de outrem que escrevo, mas sobre as minhas. Não vejo
as coisas como os outros homens; faz muito tempo que me chamaram a
atenção para isto. Mas dependerá de mim dar-me outros olhos e exibir outras
idéias? Não. Depende de mim não confiar excessivamente em mim mesmo,
não acreditar ser sozinho mais sábio do que todo o mundo; depende de mim
não mudar de sentimento, mas desconfiar do meu; isto é tudo o que posso
fazer, e é o que faço. Se às vezes assumo o tom afirmativo, não é para impô-
lo ao leitor, mas para fazer tal como penso. Por que proporia em forma de
dúvida aquilo sobre que, no que me diz respeito, não tenho dúvidas? Digo
exatamente o que se passa em meu espírito (ROUSSEAU, 1999, p.4).

Faço minhas essas palavras que traduzem todo o meu sentimento.

33
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna,


1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do


Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Lei nº 9.424). Brasília, 1996.

CANDAU, Vera Maria. Reformas Educacionais Hoje na América Latina. In:


MOREIRA, Antônio Flávio (Org.) Currículo: Políticas e Práticas. Campinas:
Papirus, 1999.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O


minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

INDAIATUBA. Prefeitura Municipal de Indaiatuba. Secretaria Municipal de


Educação. Proposta Pedagógica Global da Rede Municipal de Ensino. Indaiatuba:
Gráfica Caravela: 2004.

LAROCCA, Priscila. Psicologia e Formação Docente: Desafios e Conversas.


Campinas: São Paulo: Faculdade de Educação: UNICAMP. Dissertação de
Mestrado, 1999.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994.

MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. São Paulo: Difel, 1983.

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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da Educação. São Paulo: Martins Fontes,


1999.

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teórica. Ver. De Administração Educacional, vol. 1, nº 2. Jan/Jun/98, Universidade
Federal de Pernambuco. Recife, 1998.

SKINNER, Burrhus Frederic. Questões recentes na análise comportamental.


Campinas: Papirus, 1995.

TOMMASI, Lívia de; WARDE, Mirian Jorge; HADDAD, Sérgio. O Banco


Mundial e as Políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1996.

34

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