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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

SEMINÁRIO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA VII


YURI RAPHAEL PIO DE ALMEIDA

Necessariamente, Deus é sumamente bom.

Num dia ensolarado, Wittgenstein toma um café em uma praça. Um velho chega
perto dele e lhe entrega um “santinho” em que estão escritas palavras de fé. Em seguida
diz: “não temas, meu filho. Necessariamente, Deus é sumamente bom”, se vira e vai
embora. Wittgenstein então passa a refletir no que o velho senhor disse. “Como poderia
sabê-lo? ”, pensa Wittgenstein. Afinal, está claro para ele que necessidade só existe na
lógica, só as tautologias e as contradições que são necessárias. “São necessárias pois não
dizem nada sobre o mundo”, pensa Wittgenstein, “mas o velhinho não estava falando da
lógica, pude ver nos seus olhos que a suma bondade divina é a solução para as
enfermidades deste mundo; ele queria me tranquilizar, dizer que tudo terminará bem...”
O velhinho, na verdade, falava de uma entidade sobrenatural que age no mundo natural,
falava de algo que existe, que compõe o mundo. Continua Wittgenstein a pensar: “Mas
ele nunca viu esse Deus, ele nunca foi provado por nenhuma ciência natural. Como pode
acreditar que Ele vai melhorar a minha vida? E se o viu, foi por uma experiência
sobrenatural, do mesmo âmbito que a própria divindade que acredita”. Wittgenstein
acreditava que a certeza que o homem tinha não poderia provir da ciência, mas apenas da
religião. A religião dá a certeza de que necessariamente, Deus é sumamente bom. Nem a
ciência nem a filosofia o podem. Na verdade, pensava o jovem filósofo, grande parte dos
problemas e temas filosóficos que toda a tradição tinha levado a cabo não eram nem
problemas nem temas filosóficos de fato. A questão de saber se deus é ou não sumamente
bom necessariamente, não é nem uma questão verdadeira, afinal, como posso sabê-lo?
Para Wittgenstein, compreender uma proposição é saber qual é o caso em que ela é
verdadeira e qual o caso em que é falsa, mas como saber isso em relação a Deus? “Eu não
o vejo, ouço, experimento ou toco, Deus é uma grande incógnita para mim” dizia
Wittgenstein. E embora ele soubesse traçar uma diferença entre as condições para que a
proposição fosse verdadeira, e as condições em que ele poderia verificar se a proposição
era verdadeira, não importava, a questão continuava turva, embaçada. “Bem, apenas pela
religião acreditamos em um Deus desse jeito, e o âmbito da religião é o da fé, o acreditar
verdadeiramente em algo que não se demonstra”, para Wittgenstein a filosofia não
poderia se pautar em coisas nas quais não se pode ter certeza, havia aprendido com Kant
sobre estabelecer limites. Ainda pensando sobre a frase “necessariamente, Deus é
sumamente bom”, Wittgenstein não concebia como isso poderia ser uma figuração do
mundo, pois frases afirmativas como esta “necessariamente” teriam de figurar um
possível estado de coisas no mundo para que tenham sentido. Teriam de articular
elementos tal qual o mundo poderia estar articulado. Nesse sentido, em nenhuma hipótese
seria necessário que algo no mundo fosse de determinado jeito. “O mundo é contingente,
tal como uma mancha de óleo numa praia nordestina, que pode ter diversos formatos, o
mundo pode se arranjar de diferentes formas dentro do espaço lógico...” pensava
Wittgenstein. Lembrou-se do apeiron de Anaximandro, o infinito, o indeterminado, ao
qual todas as coisas tinham seu início e seu fim, e que no movimento de geração e
corrupção, no sair e voltar ao apeiron, o cosmos de reorganizava de diferentes formas,
com diferentes arranjos, de forma contingente. “Acho bonita a crença dele... mas só
enquanto crença” findava Wittgenstein, enquanto bebia o ultimo gole de café.

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