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ISSN IMPRESSO 2316-3321

E - ISSN 2316-381X
DOI - 10.17564/2316-381X.2017v6n1p23-34

A MEDIAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL E ACESSO À JUSTIÇA


Mediation as a fundamental right and access to justice

La mediación como derecho fundamental y acceso a la justicia

Natália Pereira Dalto1

RESUMO
O presente trabalho visa refletir sobre uma prática social, orientando as partes a alcançarem a resolução
ainda pouco utilizada no Brasil como meio de resolu- de seus conflitos. Precisa-se destacar, entretanto,
ção de conflitos e que pode auxiliar na construção de que o acesso à justiça, garantido pela Carta Magna,
uma sociedade mais consciente de seus direitos hu- é um direito e, não, um dever do cidadão de provocar
manos, onde os cidadãos possam vivenciar a justiça e o Poder Judiciário para debelar todos os conflitos de
a democracia. A mediação como direito humano fun- interesses surgidos das interações entre os indivíduos
damental e acesso à justiça onde o cidadão através na sociedade. Estabelecida essa premissa, impõe-se
do próprio empoderamento tem a oportunidade de uma mudança de cultura dos sujeitos de direito ob-
resolver seus conflitos através de técnicas desenvol- jetivando prestigiar os métodos auto compositivos,
vidas por um terceiro imparcial e escolhida pelas par- como a mediação e a conciliação, como meios ade-
tes. O acesso à justiça é direito humano e essencial ao quados para se dirimir os conflitos de interesses no
completo exercício da cidadania. Mais que acesso ao Estado Democrático de Direito. Este artigo tem ob-
judiciário, alcança também o acesso a aconselhamen- jetivo de contribuir para a formação de estudantes e
to, mediação, conciliação, consultoria, enfim, justiça pesquisadores pela justiça e equidade social.

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Palavras chave
Mediação; Direitos Humanos e Justiça Social

ABSTRACT
This paper aims to reflect on a practice still little used a duty of the citizen to provoke the Judiciary to dispel
in Brazil as a means of resolving conflicts and that can all conflicts of interest arising from the interactions
help in the construction of a society more aware of its between individuals in society. Once this premise has
human rights, where citizens can experience justice been established, it is necessary to change the cul-
and democracy. Mediation as a fundamental human ture of the subjects of law, with a view to emphasizing
right and access to justice where citizens through self-compositional methods, such as mediation and
their own empowerment have the opportunity to re- conciliation, as adequate means to resolve conflicts
solve their conflicts through techniques developed of interest in the Democratic State of Law. This article
by an impartial third party and chosen by the parties. aims to contribute to the training of students and re-
Access to justice is a human right and essential to the searchers for justice and social equity.
full exercise of citizenship. More than access to the
judiciary, it also reaches access to counseling, me-
diation, conciliation, counseling, and finally, social Keywords
justice, guiding the parties to resolve their conflicts.
It should be emphasized, however, that access to jus-
tice, guaranteed by the Constitution, is a right and not Mediation. Human Right. Social Justice

RESUMEN
El presente trabajo pretende reflexionar sobre una social, orientando a las partes a alcanzar la resolu-
práctica aún poco utilizada en Brasil como medio ción de sus conflictos. Se debe destacar, sin embargo,
de resolución de conflictos y que puede auxiliar en que el acceso a la justicia, garantizado por la Carta
la construcción de una sociedad más consciente de Magna, es un derecho y no un deber del ciudadano
sus derechos humanos, donde los ciudadanos puedan de provocar el Poder Judicial para resolver todos los
vivir la justicia y la democracia. La mediación como conflictos de intereses surgidos de las interaccio-
derecho humano fundamental y acceso a la justicia nes entre los individuos en la sociedad. Establecida
donde el ciudadano a través del propio empodera- esta premisa, se impone un cambio de cultura de los
miento tiene la oportunidad de resolver sus conflictos sujetos de derecho con el objetivo de prestigiar los
a través de técnicas desarrolladas por un tercer im- métodos autocompositivos, como la mediación y la
parcial y escogida por las partes. El acceso a la jus- conciliación, como medios adecuados para dirimir los
ticia es un derecho humano y esencial para el pleno conflictos de intereses en el Estado Democrático de
ejercicio de la ciudadanía. Más que acceso al poder Derecho. Este artículo tiene el objetivo de contribuir
judicial, alcanza también el acceso a asesoramiento, a la formación de estudiantes e investigadores por la
mediación, conciliación, consultoría, en fin, justicia justicia y la equidad social.

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Palabras clave
Mediación; Derechos Humanos y Justicia Social

1 INTRODUÇÃO
O acesso à justiça está previsto no artigo 5º, XXXV constitui crime inafiançável, sujeito a pena de reclu-
da Constituição Federal que diz: “a lei não excluirá da são nos termos da lei”.
apreciação do Poder Judiciária lesão ou ameaça de di- Segundo Marmelstein (2014), há ainda dentro do
reito”. Pode ser chamado também de princípio da ina- art.5º, uma proteção implícita à autonomia da vonta-
fastabilidade do controle jurisdicional ou princípio do de, aqui entendida como a faculdade que o indivíduo
direito de ação. Tratamos aqui de um direito humano possui para tomar decisões na sua esfera particular
e essencial ao completo exercício da cidadania. Mais de acordo com seus próprios interesses e preferên-
que acesso ao judiciário, alcança também o acesso a cias. Isso significa basicamente o reconhecimento
aconselhamento, mediação, conciliação, consultoria, do direito individual de fazer tudo aquilo que se tem
enfim, justiça social, orientando as partes a alcança- vontade, desde que não prejudique os interesses de
rem a resolução de seus conflitos. outras pessoas. Cada um deve ser senhor de si, agindo
O disposto no artigo 5º, XXXV, da Constituição Fe- como um ser responsável por suas próprias escolhas
deral é muito mais abrangente que o acesso ao Poder pessoais, especialmente por aquelas que não interfe-
Judiciário e suas instituições por lesão a direito. Vai rem na liberdade alheia.
além, enquadrando-se aí também a ameaça de direi- Portanto, pretende-se com este trabalho discu-
to, e segue-se com uma enorme gama de valores e di- tir e refletir sobre uma prática ainda pouco utilizada
reitos fundamentais do ser humano. no Brasil como meio de resolução de conflitos e que
Segundo Marmelstein (2014), a expressão: todos pode auxiliar na construção de uma sociedade mais
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer consciente de seus direitos humanos, onde os cida-
natureza enuncia um dever ético-jurídico de respei- dãos possam vivenciar a justiça e a democracia. A me-
to ao outro. Esse dever base da dignidade da pessoa diação como direito humano fundamental e acesso à
humana se materializa juridicamente por meio dos justiça onde o cidadão por seu empoderamento tem a
mandamentos constitucionais de não discriminação, oportunidade de resolver seus conflitos por meio de
de tolerância, de respeito às diferenças e de combate técnicas desenvolvidas por um terceiro imparcial e es-
ao preconceito e ao racismo. colhida pelas partes.
O preâmbulo da constituição faz menção à socie-
dade fraterna, pluralista e sem preconceito. O art. 3º,
inc.IV, inclui como objetivo da República Federativa 2 DIREITOS HUMANOS
do Brasil “a promoção do bem de todos, sem precon-
ceito de origem, raça, cor, sexo, idade e quaisquer
outras formas de discriminação”. O art. 5ª determina É comum identificar várias dimensões dos direitos
que “homens e mulheres são iguais em direitos e obri- humanos, para alguns até gerando certa classificação
gações, nos termos desta constituição” (inc.1). E mais dos direitos. A doutrina costuma classificar os direitos
à frente (inc. XLII) estabelece que a prática do racismo fundamentais em gerações ou dimensões, sendo que

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a primeira dimensão abrange o direito à liberdade, à tituição Brasileira de 1988 recorre a expressões se-
expressão, à locomoção e à vida, que surgiu entre os manticamente diversificadas para fazer alusão a tais
séculos XII e XIX. direitos: direitos humanos (art.4º, II);direitos e ga-
O primeiro documento que traz a instituição des- rantias fundamentais (Titulo II e art. 5º,§1º); direitos
tes direitos é a Magna Carta de 1215, da Inglaterra, e liberdades constitucionais (art.5º, LXXI); direitos e
assinada pelo rei João Sem Terra. A segunda dimen- garantias individuais (art. 60,§4º,IV).
são é formada pelos direitos sociais, culturais, eco- De acordo com Nogueira (apud GUERRA, 2013, p.11):
nômicos, ramificações do direito à igualdade, im-
[...] o emprego dessas expressões como sinônimas é
pulsionados pela Revolução Industrial europeia. Os incorreto e elas possuem unicamente um núcleo co-
principais documentos que representam esta geração mum, que é a Liberdade: As expressões Direitos dos
são a Constituição de Weimar, da Alemanha e o Trata- Homens, Direitos Fundamentais e Liberdades Públicas
do de Versales, ambos de 1919. tem sido, equivocadamente, usada indistintamente
como sinônimos. Em verdade guardam entre si, de ri-
A terceira dimensão dos direitos fundamentaissur- gor, apenas um núcleo comum, a liberdade.
geenglobando os direitos à paz, a uma qualidade de
vida saudável, à proteção ao consumidor e à preser- Referido autor aponta várias conexões ou ângulos
vação do meio-ambiente. Introduzidos pela globaliza- de abordagem relacionados ao estudo desse tema,
ção política, a quarta dimensão é formada pelos di- citando vários autores que demonstram a questão.
reitos à democracia, à informação, ao pluralismo e de Verifica-se, por exemplo, o posicionamento de Blanca
normatização do patrimônio genético. Não é unânime Martínez, que reserva a formula “direitos humanos”
a aceitação desta geração de direitos fundamentais. para aqueles positivados em nível internacional (exi-
O direito constitucional brasileiro tem avança- gência básica relacionada à igualdade, liberdade da
do muito nos últimos anos. Em 1988 com o advento pessoa, que não havia alcançado um estudo jurídico
da Constituição Cidadã nossa então chamada Carta positivo) e “direitos fundamentais” para os direitos
Magna, não tínhamos noção do avanço que podería- humanos positivados internamente, isto é, garantidos
mos ter, nem tão pouco das transformações dogmáti- pelos ordenamentos jurídico-positivos estatais.
cas constitucionais que estamos vivendo. Os direitos humanos fundamentais, em sua con-
Indubitavelmente, a expressão “direitos humanos
cepção atualmente conhecida, surgiram como produ-
“chega ao século XXI com grande força e vitalidade, to da fusão de várias fontes, desde tradições arriga-
sendo largamente utilizada em manifestações da so- das nas diversas civilizações, até a conjugação dos
ciedade civil, na política, para pleitear direitos, enfim, pensamentos filosófico-jurídicos, das ideias surgi-
nas mais distintas reivindicações. Por outro lado, em
razão do uso excessivo e por vezes indiscriminado des-
das com o cristianismo e com o direito natural (MO-
sa expressão, ela acaba por incorrer em certa vagueza RAES, 2013, p. 3).
e imprecisão. Como assevera Rey Pérez, “el término A problemática do direito de acesso à justiça se
derechos humanos resulta problemático al menos por fez perceber mais intensamente nos Estados liberais
dois motivos: porque tiene diversas significaciones y
porque además existen distintas palabras que quiere-
burgueses dos séculos XVIII e XIX. O embrião do di-
nexpresarsu concepto. (GUERRA, 2013, p. 31). reito ao acesso à justiça, porém, pode ser apreendido
no período antigo, pois se visualizam no Código de
Guerra (2013) chama atenção para a ausência Hamurabi as primeiras garantias que podem ser en-
do consenso quanto à terminologia mais adequado tendidas como inibidoras de opressão entre os indi-
para refletir-se aos direitos humanos fundamentais, víduos, bem como o incentivo a estes a procurarem a
revelando ponto de vista favorável e contraditório ao instância judicial, no caso, o próprio soberano (MO-
emprego desses ou daqueles ramos. A própria Cons- RAES, 2013, p. 3).

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Nesse primeiro momento, o acesso à justiça es- passou a ser a única instituição organizada e com a
tava umbilicalmente ligado ao acesso à religião, pois capacidade de produzir uma síntese do legado [...] da
a justiça do soberano – representante da divindade estrutura política [...]” do Império Romano, caracte-
na Terra ou, então, considerada a própria divindade – rizando-se como herdeira natural desse império. Na
emana da justiça divina e é realizada, por conseguin- modernidade, sobretudo nos Estados liberais burgue-
te, por meio de inspiração divina. Frise-se, ainda, que ses dos séculos XVIII e XIX, os procedimentos adota-
o estrangeiro e o escravo – que nesse período histó- dos para o tratamento de controvérsias refletiam a
rico em muitos momentos se confundiam – não são filosofia essencialmente individualizada dos direitos
considerados indivíduos capazes de ter acesso à justi- (CASTILHO, 2011).
ça (MORAES, 2013, p. 3). Dessa forma, o acesso à justiça restringia-se ao di-
reito formal do cidadão perante o Poder Judiciário de
A expressão direitos humanos representa o conjunto
das atividades realizadas de maneira consciente, com
propor ou contestar uma ação. Enquanto o direito de
o objetivo de assegurar ao homem a dignidade e evitar acesso à justiça era consolidado na Europa (mesmo
que passe por sofrimentos. Esta é a opinião de Carlos no período do sistema laissez-faire dos séculos XVIII
Santiago Niño, no livro Ethics of Human Rights. Para e XIX), no Brasil andava a passos lentos. Do ponto de
chegar a esta concepção contemporânea, no entan-
to, o homem precisou percorrer um longo caminho
vista legislativo, havia pouquíssimas referências a um
de lutas, até entre irmãos, quase sempre causadas direito próprio e exigível de acesso à justiça.
pelo desejo do lucro ou do poder. Por isso mesmo As Ordenações Filipinas, do século XVII, restrin-
é que se tornou uma convenção moderna conside- giam-se a afirmar que às pessoas miseráveis era as-
rar que somente em nações democráticas é possível
existirem os direitos humanos, porque um gover-
segurado o patrocínio de advogado. Saliente-se que
no autoritário transforma-se muito facilmente em após a proclamação da Independência do Brasil em
opressor. (CASTILHO, 2011, p.11). 1822, portanto já no século XIX, o direito ao acesso
à justiça pouco havia sido modificado. A Constituição
No direito romano, por sua vez, havia primeira- de 1824, embora estabelecesse a partir do artigo 151
mente a justiça privada. Posteriormente, criou-se a as diretrizes do “Poder Judicial”, prévia uma matriz
figura do árbitro, o qual era escolhido pelas próprias fortemente centralizadora que concedia ao Imperador
partes litigantes para dirimir a controvérsia. A função a cumulação do exercício do cargo de “Chefe do Poder
de árbitro era geralmente atribuída a algum sacerdo- Executivo” (arts. 102 a 104) e do “Poder Moderador”
te, pois se tratava de pessoa imparcial e, além disso, (arts. 10 e 98 a 101), o que impedia o pleno exercício
traduzia a vontade divina. Ainda em Roma, inaugurou- do direito ao acesso à justiça.
-se a figura do pretor, que elaborava a regra a ser apli- Relativamente à legislação infraconstitucional
cada no caso concreto e indicava um árbitro que iria desse período, ressalte-se que o Código de Processo
decidir a controvérsia, função que em seguida passou Criminal de 1832 estabelecia disposições provisórias
a exercer cumulativamente (CASTILHO, 2011). sobre a administração da justiça, inclusive no aspecto
Na Idade Antiga, portanto, a figura do julgador de processo civil, que posteriormente foram utilizadas
passou do soberano, por todos os cidadãos, pelo sa- como bases para o futuro Código de Processo Civil. Des-
cerdote e chegou ao pretor, sendo neste último o iní- se modo, em decorrência do processo histórico e políti-
cio da justiça pública, isto é, da jurisdição. No período co da época, é possível afirmar (MORAES, 2013, p. 3).
medieval havia forte influência da concepção religio- De acordo com a declaração Universal dos direi-
sa em toda a sociedade, inclusive sobre o direito e a tos humanos, os direitos humanos são para além de
justiça. O indivíduo, nesse cenário, era julgado pela todos aqueles direitos considerados universais e ina-
sua fé. Isso se deve ao predomínio da Igreja Católica lienáveis, ou seja, é um conjunto mínimo de direitos
após a queda do Império Romano, porquanto “[...] necessários para assegurar uma vida ao ser humano

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baseado na liberdade e na dignidade. Um dos grandes Essa nova cidadania pode ser definida como cida-
desafios na sociedade contemporânea e a efetivação dania mundial ou cosmopolita, diferenciando-se da
da dignidade da pessoa humana. cidadania do Estado-Nação. A cidadania cosmopolita
A dignidade da pessoa humana está fundada no é um dos principais limites para a atuação do poder
conjunto de direitos inerentes à personalidade da soberano, pois dá garantia da proteção internacional
pessoa (liberdade e igualdade) e também no conjunto na falta da proteção do Estado Nacional.
de direitos estabelecidos para a coletividade (sociais, Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor
econômicos e culturais). Por isso, a dignidade da pes- como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua
soa não admite discriminação, seja de nascimento, localização no território. Seu valor vai mudando, in-
sexo, idade, opinião ou crença, classe social e outras cessantemente, para melhor ou para pior, em função
(CASTILHO, 2011). das diferenças de acessibilidade (tempo, frequência,
No caso dos EUA, o movimento de independên- preço), independentes de sua própria condição. Pes-
cia das treze colônias britânicas teve como motivos soas, com essas virtudes, formação e salários idênti-
principais a conduta adotada pela Inglaterra nos anos cos salários têm valores diferentes segundo o lugar
antecedentes a luta pela separação política. A adoção em que vivem: as oportunidades não são as mesmas.
de leis mercantilistas, favoráveis unicamente aos inte- Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cida-
resses da metrópole, as incessantes guerras em que a dão depende, em larga proporção, do ponto do terri-
Inglaterra esteve envolvida com outras nações nas dé- tório onde se está. Enquanto um lugar vem a ser con-
cadas passadas, além dos custos de manutenção das dição de sua pobreza, outro lugar poderia, no mesmo
tropas britânicas instaladas nas colônias, sobre os quais momento histórico, facilitar o acesso àqueles bem e
estas estavam responsáveis, favoreceram o surgimento serviços que lhe são teoricamente devidos, mas que,
de um sentimento de independência entre os colonos. de fato, lhe faltam (SANTOS, 1987, p. 81)
Foi dentro desse contexto que foi escrita a Decla- Dessa forma, na dimensão global, a dignidade da
ração de Virgínia. Expondo de forma resumida os di- pessoa humana demanda muitas vezes a ação de uma
reitos naturais dos homens, essa declaração escrita organização internacional para ser eficazmente pro-
pelos congressistas do estado de Virgínia estabeleceu tegida. No âmbito local, a demanda é outra, pois a in-
a proteção à vida, liberdade, propriedade e a procura teração ocorre no cotidiano, face a face. É necessário
pela felicidade dos indivíduos como essenciais a um o efetivo respeito à dignidade de cada pessoa humana
governo que visa o bem comum. De certa forma essas nas suas mais diversas singularidades. O reconheci-
declarações anteciparam em um mês o conteúdo da mento do outro, do diferente, é o fundamento de uma
declaração de independência nacional. Aliás, é níti- relação de hospitalidade e também um fator essencial
do o quanto essa declaração de direitos teve por base para criação da identidade que, para ser construída,
teórica as obras dos filósofos ingleses John Locke e necessita do diálogo com um outro diferente de mim
Thomas Paine, este último tendo atuado diretamente mesmo e que, antes de tudo, reconheça-me enquanto
no processo de independência. interlocutor (TAYLOR, 1992).
Sobre a proteção dos direitos humanos, podemos O exercício de respeito aos direitos humanos no
destacar que o advento do Direito Internacional dos plano local não se dá no reconhecimento daquele que
Direitos Humanos, em 1945, possibilitou o surgimen- nos é próximo, semelhante, conhecido e, portanto, a
to de uma nova forma de cidadania. Desde então, a priori respeitado, mas sim diante do outro, do diferen-
proteção jurídica do sistema internacional ao ser hu- te de nós, do diverso, uma vez que:
mano passou a independer do seu vínculo de naciona-
[...] aceitar a diversidade cultural não é um ato de tole-
lidade com um Estado específico, tendo como requisi- rância para com o outro, distinto de mim ou da minha
to único e fundamental o fato do nascimento. comunidade, mas o reconhecimento desse outro (pes-

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soal e comunitário) como realidade plena, contraditó- não cooperação entre as partes, além de serem sus-
ria, como portador de saber, de conhecimentos e prá-
ceptíveis de deixar mágoa. Confúcio sugeriu que as
ticas por meio das quais ele é e tenta ser plenamente.
(COLL, 2006, p. 98). partes em conflito deveriam se reunir com uma tercei-
ra pessoa neutra – mediador – para ajudá-los a chegar
O direito a mediação possibilita que as pessoas num acordo (PARKINSON, 2016).
envolvidas nas situações conflituosas resolvam seus O termo mediação deriva do latim “medius” que
problemas, negociando as suas diferenças para che- significa “no meio”, atualmente a mediação é conheci-
gar a um ponto. Ajudar as partes a terem uma capa- da como um processo de resolução de conflito,assim,
cidade decisória viável para conseguir uma solução vale ressaltar que, muitos ainda usam como sinônimo
onde ambos possam aceitar as diferenças de percep- de conciliação.Para entender melhor o papel dessas
ção. A ideia não é o mediador impor uma mudança soluções alternativas de resolução de conflitos, va-
de comportamento e sim gerar uma reflexão onde as mos ver adiante a diferença de cada uma.
partes busquem os caminhos, onde o outro possa se Na mediação, visa-se recuperar o diálogo entre as
colocar no lugar do outro e a parti de aí se percebe- partes, ou seja, restabelecer a comunicação entre as
rem como pessoas e portadoras de direitos iguais, partes, pois são elas que decidem as técnicas de abor-
mas acima de tudo se perceberem como pessoas que dagem do mediador, primeiramente se tenta restau-
possuem diferenças e essas diferenças tem que ser rar o diálogo para que posteriormente o conflito em
respeitadas e valorizadas. si possa ser mediado, é preciso que haja a voluntarie-
A conquista de direitos, ao longo da história, só dade, onde podemos observar na Lei de Mediação (Lei
acontece com a participação e a luta das pessoas. Em 13.140/2015) no inciso V do art. 2º, onde o legislador
vários momentos foram conquistados direitos, como positivou o princípio da autonomia da vontade das
civis, políticos, sociais, culturais, ambientais, econô- partes. Só depois pode se chegar à solução.
micos e outros. Todos esses direitos são universais e De acordo com o Conselho Nacional de Justiça
para todos, são indivisíveis e não se separam, estão (CNJ),a conciliação é um método utilizado em confli-
todos relacionados entre si. A utilização da mediação tos mais simples, ou restritos, no qual o terceiro fa-
como resolução de conflito é um direito humano. A cilitador pode adotar uma posição mais ativa, porém
mediação possibilita estar no meio e ajudar as pes- neutra com relação ao conflito e imparcial. É um pro-
soas resolverem suas situações problemáticas a che- cesso consensual breve, que busca uma efetiva har-
garem numa solução favoráveis para todas as partes monização social e a restauração, dentro dos limites
envolvidas, por isso, podemos considerar a mediação possíveis, da relação social das partes.
um direito humano. As duas técnicas são norteadas por princípios
como informalidade, simplicidade, economia proces-
sual, celeridade e flexibilidade processual. Os me-
3 MEDIAÇÃO diadores e conciliadores atuam de acordo com prin-
cípios fundamentais, estabelecidos na Resolução
125/2010: confidencialidade, decisão informada,
A mediação para muitos ainda é vista como algo competência, imparcialidade, independência e auto-
novo, embora sua prática seja bastante antiga e pre- nomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes,
sente em diferentes tipos de civilizações e culturas. empoderamento e validação.
A medição já era amplamente utilizada no século V A mediação é sem dúvida um dos melhores cami-
a.C. Confúcio, pensador e filósofo chinês, dizia que re- nhos normais para resolver os conflitos, em alguns
correr à medição seria uma excelente alternativa aos países essa prática já vem se desenvolvendo há tem-
tribunais, pois litígios jurídicos tendem a aumentar a pos e o com resultados positivos. Parkinson (2016)

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afirma que na China, com sua população de mais de e, à luz da Constituição Federal de 1988, o Conselho
um bilhão de pessoas, existem cerca de um milhão Nacional de Justiça, com a atribuição que lhe foi ou-
de mediadores, há mediadores em praticamente todo torgada pela Constituição no artigo 103-B, estabele-
território chinês e as disputas, sejam elas presentes ceu uma Política Nacional de Tratamento Adequado
no seio das famílias, nas comunidades ou nos locais dos Conflitos.
de trabalho, saem resolvidas por meio de mediação. Inicialmente, cria-se uma série de políticas judici-
Os centros Judiciários de Solução de Conflitos e árias baseadas em metas de produtividade e resulta-
Cidadania (CEJUSCS) é um caminho para se alcançar dos a serem alcançados pelos tribunais de todo país,
a pacificação social. Nota-se um processo transfor- tendo o espírito da conciliação como um vetor a ser
mativo que o Poder Judiciário vem enfentando para seguido.O Movimento pela Conciliação foi deflagrado
fazer frente à crescente demanda, surgida com o ad- pelo CNJ, em 23 de agosto de 2006.No mesmo ano, no
vento da Constituição Federal da República Federati- dia 8 de dezembro de 2006, foi dedicado à mobiliza-
va do Brasil de 1988, onde no inciso XXXV, do artigo ção do Dia Nacional pela conciliação, instituindo-se,
5º, buscou garantir o acesso dos cidadãos à justiça. também, no ano subsequente, a Semana Nacional de
Desde então, o Ordenamento Jurídico pátrio vem, gra- Conciliação de 3 a 8 de dezembro.
dualmente, criando novos mecanismos para a solução Foi editado pelo CNJ, ainda, a Recomendação nº
da conflituosidade na sociedade, vislubrando alcan- 8, de 27/02/2007, sugerindo aos Tribunais de Justiça,
çar a tão propalada pacificação social. Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do
Precisa-se destacar, entretanto, que o acesso à Trabalho planejamento e viabilização de atividades
justiça garantido pela Carta Magna, é um direito e, conciliatórias, dentre outras recomendações, como
não, um dever do cidadão de provocar o Poder Judiciário por exemplo, continuidade ao Movimento pela Conci-
para debelar todos os conflitos de interesses surgidos liação, planejamento anual, realização de pesquisas
das interações entre os indivíduos na sociedade. Estabe- na área e definição de metas a serem alcançadas.
lecida essa premissa, impõe-se uma mudança de cultura Advoga o Conselho Nacional de Justiça a tese de
dos sujeitos de direito, objetivando prestigiar os méto- que o direito do cidadão de acesso à Justiça tem de
dos autocompositivos, como a mediação e a conciliação, ser de forma justa e adequada:
como meios adequados para se dirimir os conflitos de
O direito de acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV,
interesses no Estado Democrático de Direito. da Constituição Federal, além da vertente formal peran-
Desse modo, a Resolução 125, do Conselho Na- te os órgãos judiciários, implica acesso à ordem jurídi-
cional de Justiça de 29 de novembro de 2010, a Lei ca justa. Por isso, cabe ao Poder Judiciário estabelecer
de mediação (nº 13.140, de 26 de junho de 2015) e o política pública de tratamento adequado dos problemas
jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em
Novo Código de Processo Civil (nº 13.105, de 16 de mar- larga e crescente escala na sociedade, de forma a or-
ço de 2015) determinaram que os Tribunais de Justiça ganizar, em âmbito nacional, não somente os serviços
criassem Centros Judiciários de Solução de Conflitos e prestados nos processos judiciais, como também os que
Cidadania, unidades do Poder Judiciário responsáveis possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução
de conflitos, em especial dos consensuais, como a me-
pela realização das sessões e audiências de concilia- diação e a conciliação. (CNJ, on-line). .
ção e mediação que estejam a cargo de conciliadores e
mediadores, bem como pelo atendimento e orientação Nesse intento, o CNJ editou a Resolução nº 125, de
ao cidadão, estimulando a autocomposição. 29 de novembro de 2010, com as alterações trazidas
Em face do processo transformativo que vem en- pela sua primeira emenda publicada em 31 de janeiro de
frentando o Poder Judiciário para garantir o acesso 2013, instituiu a Política Nacional de tratamento adequa-
à justiça conjugado com o tratamento adequado aos do dos conflitos de interesses no âmbito do Judiciário,
conflitos de interesses postos na sociedade brasileira como forma de garantir a implementação da conciliação

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e a mediação em todo o país, para também contribuir a ações voltadas à capacitação em métodos consensuais
de solução de conflitos, para magistrados da Justiça
dirimir os conflitos de interesse na sociedade.
Estadual e da Justiça Federal, servidores, mediadores,
A referida Resolução aponta que cabe ao Poder conciliadores e demais facilitadores da solução con-
Judiciário estabelecer políticas públicas voltadas ao sensual de controvérsias, ressalvada a competência
tratamento adequado dos conflitos de interesses, que da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
de Magistrados - ENFAM;  
ocorrem na sociedade, de forma que organize, a nível
III – providenciar que as atividades relacionadas à
nacional, não somente os serviços prestados nos pro- conciliação, mediação e outros métodos consensuais
cessos judiciais, mas também os que possam ser re- de solução de conflitos sejam consideradas nas pro-
solvidos mediante outros mecanismos de solução de moções e remoções de magistrados pelo critério do
merecimento;  
conflitos, notadamente os consensuais, como a me-
IV – regulamentar, em código de ética, a atuação dos
diação e a conciliação. Vale ressaltar que o CNJ, com conciliadores, mediadores e demais facilitadores da
a publicação da Resolução nº 125, visou incentivar à solução consensual de controvérsias; 
autocomposição de litígios, não só no âmbito do Po- V – buscar a cooperação dos órgãos públicos compe-
tentes e das instituições públicas e privadas da área
der Judiciário, mas em entidades públicas e privadas
de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem
parceiras, universidade e instituições de ensino. o surgimento da cultura da solução pacífica dos confli-
Na Resolução nº 125/2010, do Conselho Nacional tos, bem como que, nas Escolas de Magistratura, haja
de Justiça, foram criados os Núcleos Permanentes de módulo voltado aos métodos consensuais de solução
de conflitos, no curso de iniciação funcional e no curso
Métodos Consensuais de Solução de Conflitos e a ins-
de aperfeiçoamento;
talação de Centros Judiciários de Solução de Confli- VI – estabelecer interlocução com a Ordem dos Advo-
tos e Cidadania para atender aos Juízos, Juizados ou gados do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e
Varas com competência nas áreas cível, fazendária, Ministério Público, estimulando sua participação nos
Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidada-
previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais
nia e valorizando a atuação na prevenção dos litígios;
Cíveis e Fazendários. Estabeleceram-se prazos de 30 VII – realizar gestão junto às empresas, públicas e
dias da publicação da Resolução para a criação dos privadas, bem como junto às agências reguladoras de
Núcleos Permanentes e de quatro a doze meses para serviços públicos, a fim de implementar práticas au-
tocompositivas e desenvolver acompanhamento esta-
os Centros Judiciários, o que não foi cumprido inte-
tístico, com a instituição de banco de dados para visu-
gralmente por alguns tribunais do país. alização de resultados, conferindo selo de qualidade;
Ademais, institucionalizou estratégias de implemen- VIII – atuar junto aos entes públicos e grandes litigan-
tação de métodos consensuais de composição de confli- tes de modo a estimular a autocomposição.
tos, bem como estabeleceu objetivos a serem alcançados
no âmbito do Poder Judiciário, promovidos pelo Conse- Nota-se, assim, uma preocupação, o engajamen-
lho Nacional de Justiça por meio da Resolução nº 125: to e a criação de uma política pública que determi-
na uma responsabilidade social na atuação do Poder
Art. 4º Compete ao Conselho Nacional de Justiça orga- Judiciário, com o objetivo de preservar e restaurar os
nizar programa com o objetivo de promover ações de vínculos existentes entre as pessoas, melhorando e
incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação
social por meio da conciliação e da mediação. 
tratando os cidadãos como seres humanos imperfei-
Art. 5º O programa será implementado com a partici- tos, mas que têm interesses e sentimentos que pre-
pação de rede constituída por todos os órgãos do Poder cisam ser preservados no desempenho do seu papel
Judiciário e por entidades públicas e privadas parcei- social. A pacificação social decorrente desta política
ras, inclusive universidades e instituições de ensino. 
Art. 6º Para desenvolvimento dessa rede, caberá ao CNJ: 
pública certamente está sendo semeada e, na medida
I – estabelecer diretrizes para implementação da po- em que, são conciliadas, as partes começam a acredi-
lítica pública de tratamento adequado de conflitos a tar no sistema de justiça e a se responsabilizar pelas
serem observadas pelos Tribunais;   escolhas feitas.
II – desenvolver conteúdo programático mínimo e

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Além da Resolução 125/2010, o Conselho Na- que respeitados os princípios básicos e processos res-
cional de Justiça também publicou a resolução nº taurativos previstos na resolução 2.002/12, do Conse-
50/2014 para estimular e apoiar os tribunais na adoção lho Econômico e Social da Organização das Nações
das técnicas consensuais de resolução de conflitos.  Unidas e a participação do titular da ação penal em
Outrossim, foram aprovadas no Congresso Na- todos os atos (PAUMARTTEN, 2015, p.178-179).
cional e Sancionadas pela Presidente da República Os CEJUSC são unidades do Poder Judiciário,
Federativa do Brasil a tão esperada Lei de mediação, criados pelos Tribunais, seguindo a recomendação
nº 13.140, de 26 de junho de 2015, que entrou em vi- da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de
gor em 26 de dezembro de 2015 e o Novo Código de Justiça e a determinação contida na Lei de mediação,
Processo Civil, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, nº 13.140, de 26 de junho de 2015e o Novo Código de
que entrou em vigor no dia 17 março de 2016, im- Processo Civil, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
pondo aos Tribunais de Justiça a criação de Centros Os CEJUSCS podem ser criados para atender aos
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CE- Juízos, Juizados ou Varas com competência nas áreas
JUSCS), unidades do Poder Judiciário responsáveis cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos jui-
pela realização das sessões e audiências de concilia- zados especiais cíveis e fazendários, sendo responsá-
ção e mediação que estejam a cargo de conciliadores veis pela realização de sessões e audiências de conci-
e mediadores, bem como pelo atendimento e orienta- liação e mediação, para o tratamento de conflitos em
ção ao cidadão, estimulando a autocomposição. processos já ajuizados, incidentalmente (processos
Com base na Resolução nº 125, do Conselho Na- em que o cidadão por meio de advogado constituído
cional de Justiça, os Núcleos Permanentes terão a já deu entrada na demanda no Poder Judiciário), ou
atribuição de instalar os Centros Judiciários de So- em fase pré-processual (nos casos em que não existe
lução de Conflitos e Cidadania, promovendo o de- ainda processo na justiça), ademais, são responsáveis
senvolvimento da política judiciária de tratamento pelo atendimento e orientação ao cidadão.
adequado dos conflitos de interesses, cuidando do Vale destacar que o setor do CEJUSC, tem o objeti-
planejamento, implementação, manutenção e aper- vo de orientar o cidadão sobre o melhor método para
feiçoamento das atividades voltadas ao cumprimento resolução do seu conflito, nesta toada revela-se que o
da política nacional acima referida e suas metas, atu- Poder Judiciário passa a ser dotado de diversas formas
ando na interlocução com os tribunais do país, órgãos possíveis de resolução do conflito de interesses do juris-
e instituições integrantes da rede de cooperação ins- dicionado, como por exemplo, a conciliação, a mediação
tituída pelo CNJ. e a jurisdição, tornando-se um verdadeiro Tribunal com
Ademais, os Núcleos Permanentes dos Tribunais múltiplas portas, onde o cidadão poderá acionar o meio
do país deverão incentivar ou promover a capacitação, mais adequado para tentar solucionar o seu conflito.
treinamento e atualização permanente de magistra- Os Centros Judiciários de Solução de Conflito
dos, servidores, conciliadores e mediadores quanto e Cidadania poderão ser organizados por áreas de
aos métodos autocompositivos de solução de confli- atuação, como: centros de conciliação de juizados
tos de interesse, cadastramento de conciliadores e especiais, família, empresarial, consumo, tributário,
mediadores, firmar convênios e parcerias com entes juntamente como os setores de cidadania, serão fa-
públicos ou privados para capacitação e promoção cultativamente instalados nos locais onde exista mais
de cursos, promover, ainda, programas de mediação de um Juízo, Juizado ou Vara judicial com pelo menos
comunitária, podendo também centralizar e estimu- uma das competências atribuídas pela supracitada
lar programas de mediação penal ou qualquer outro Resolução do CNJ, e será obrigatória a instalação dos
processo restaurativo nos termos do art. 73, da Lei CEJUSCS nos locais com mais de cinco unidades judi-
9.099/95 e, dos artigos 112 e 116 da Lei 8.069, desde ciais (PAUMARTTEN, 2015, p. 182-183).

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No CEJUSC haverá um juiz coordenador e, se ne- Contudo, a Constituição Federativa do Brasil de


cessário, um adjunto, aos quais caberão a sua admi- 1988, acredita no poder judiciário como instância
nistração, bem como a supervisão dos serviços dos última de proteção aos direitos fundamentais. Garan-
conciliadores e mediadores, assim como serão res- tindo-o aos cidadãos acesso à justiça visando garantir
ponsáveis pela homologação dos acordos firmados proteção e amparo aos seus direitos.
pelas partes.
Registre-se, ainda, que os servidores públicos que
atuarem nos Centros Judiciários deverão dedicar-se REFERÊNCIAS
exclusivamente aos serviços do Centro, devendo ser
capacitados em métodos consensuais de solução de
conflitos, consoante estabelecido pelo Conselho Na- CALMON, Perônio. Fundamentos da mediação e da
cional de Justiça. conciliação. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007.
No Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (TJSE)
foi criado por meio da Resolução nº 35, de 12 de de- CAPPELLETTI, Mauro. Acesso à justiça. Tradução de
zembro de 2012, os CEJUSC, disciplinando que são Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre, Fabies, 1988.
unidades destinadas precipuamente à realização de
sessões e audiências de mediação e conciliação, es- CASTILHO, Ricardo. Direitos humanos. São Paulo:
tabelecendo que as atividades do CEJUSC compreen- Saraiva, 2011.
dem a autocomposição processual, pré-processual e o
setor de cidadania. CNJ – CONSELHO NACIONAL DE JUESTIÇA.
Conciliação e mediação. Disponível em: <http://
www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS mediacao/movimento-conciliacao-mediacao>.
Acesso em: 18 maio 2016.

Com as exposições feitas, pode-se concluir a im- GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & judiciário
portância da resolução de conflito por meio da me- no Brasil e nos EUA. Brasília: Gazeta Juridica, 2013.
diação como direito humano e acesso à justiça. A
mediação é um breve processo que tem como objetivo GONÇALVES, Luciana A. Machado da Silva.
melhorar a comunicação e ajudar as partes decidirem Mediação de conflitos. São Paulo. Atlas, 2013.
suas conclusões respeitando os direitos fundamen-
tais de ambos. GUERRA, Sidney. Direitos humanos: curso
Desse modo, os CEJUSC, foram pensados e cria- elementar. São Paulo. Saraiva, 2013.
dos para efetivar a Política Nacional de pacificação
social por meio dos métodos adequados de resolução MOORE, Christopher W. O processo de mediação.
de conflito, objetivando uma mudança de cultura na Tradução de Magda França Lopes. Porto Alegre:
sociedade, possibilitando a transição do paradigma Artmed, 1998.
litigioso, da competição, do perde-ganha para uma
cultura de cooperação, de pacificação social e, con- MORAES, Alexandre de. Direitos humanos
sensual, onde os cidadãos sejam os protagonistas das fundamentais: teoria geral. 10.ed. São Paulo: Atlas, 2013.
suas decisões e responsáveis pelas escolhas feitas,
tudo isso sendo chancelado pelo Poder Judiciário, a PARKINSON, Lisa. Mediação familiar. Belo
fim de se alcançar a tão sonhada pacificação social. Horizonte: Del Rei, 2016.

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PAUMGARTTEN, Michele Pedrosa. Novo processo REVISTA Brasileira de Segurança Pública, Ano 1,
civil brasileiro. Curitiba: Juruá Editora, 2015. 2.ed., 2007

Data da submissão: 25 de Junho de 2017


1. Assistente Social; Bacharel em Direito; Mestranda em Segurança Pública
Avaliado em: 27 de Julho de 2017 (Avaliador A)
Justiça e Cidadania pela Universidade Federal da Bahia –UFBA; Bolsista
Avaliado em: 22 de Agosto de 2017 (Avaliador B) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB. E-mail:
Aceito em: 23 de Agosto de 2017 natydalto.social@gmail.com

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