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Gonçalves
André Gonçalves pintor ingénuo ulissiponens
N U N O L E Ã O
0 3 0 7 8 7 0 3 0
F L U P
História da Arte
Arte séc. XVII.XVIII(II)
André
Gonçalves
André Gonçalves pintor ingénuo ulissiponens
N U N O L E Ã O
0 3 0 7 8 7 0 3 0
F L U P
História da Arte
Arte séc. XVII.XVIII(II)
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Panorama da pintura portuguesa em finais do século XVII
É já em finais do século XVII que começam a surgir os primeiros sinais de que a pintura
Arte Séculos XVII.XVIII (II)
André Gonçalves foi o pintor mais prolixo da geração dita joanina apesar de
paradoxalmente não ter beneficiado de um dos elementos mais marcantes da sua geração: A
Academia de Portugal em Roma.
André Gonçalves
a importância da sua figura no contexto do barroco português
A figura de André Gonçalves é uma figura relativamente mal amada pela historiografia
portuguesa, começando desde logo pelas fontes mais suas contemporâneas, como no caso
de Cyrillo Volkmar Machado, que no seu Conversações sobre a Pintura, Escultura e
Architectura, escriptas e dedicadas aos professores e amadores das Bellas Artes,
desconsidera fortemente a imagem de André Gonçalves em favor de Vieira Lusitano. Chega a
considerar o trabalho de Gonçalves “medíocre mas baratinho”, e critica que em virtude disso
André Gonçalves esteja cheio de trabalho enquanto Vieira Lusitano não achava o que fazer.
Esta análise de Cyrillio é tanto mais importante, porque os seus estudos servirão de
Arte Séculos XVII.XVIII (II)
base documental para todos os historiadores vindouros. Assim até ao estudo mais completo
acerca da figura de André Gonçalves, por José Alberto Gomes Machado, a imagem de André
Gonçalves que passará irá ser a de um mestre competente, mas sem rasgos de genialidade,
que se ocupava de muito trabalho mas a quem faltava a originalidade, já que este se limitava
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ou a copiar ou a adaptar modelos e esquemas de outros autores, que circulavam em gravuras
André Gonçalves surge no final da sua vida empenhado em dignificar o seu oficio e o
reconhecimento da pintura como arte liberal, que mais que um processo mecânico era uma
cosa mentale.
A seu pedido José Gomes da Cruz vai publicar Carta Apologética e Analytica. Neste
livro as preocupações de Gonçalves em relação à Pintura e ao estado da Pintura em Portugal
estão bem presentes, e as ideias neles escritas devem ter sido alvo de conversas entre
Gomes da Cruz e Gonçalves.
Não é porém de agora que André Gonçalves tenta passar esta ideia. O título de pintor
ingénuo ulissiponens que tanto gostava de utilizar, mostra que desde cedo se assumia como
um artista liberal e descomprometido.
Mas apesar desta consciência de si do seu colectivo o facto é que André Gonçalves
estaria longe do ideal de artista liberal. A sua formação foi feita pelo modo tradicional, como se
fazia desde tempos medievais, entrando como aprendiz para a casa de um Mestre e subindo
a Oficial e a Mestre progressivamente, submetendo-se à Irmandade que congregava todos os
seu pares. Aliás André Gonçalves pertenceu até à hora da sua morte à Irmandade de S.
Lucas, sendo um membro plenamente activo e empenhado. Esta é de facto a sua faceta mais
tradicional, mais medievalista e que corresponde ao estado de coisas de Portugal e da
Península Ibérica, ao contrário do que já se passava em Itália, Flandres, ou França, onde o
prestigio social dos pintores era maior, apesra de ainda não se equipararem a outras artes,
mas aonde já era reconhecida a especificidade da pintura e a sua autonomia em relação aos
ofícios manuais.
Por outro lado, André Gonçalves tinha o conhecimento do estatuto da pintura e dos
pintores nos outros países, provavelmente até através do seu contacto com outros pintores e
mesmo com o seu antigo mestre, o genovês Teminé. Convêm não esquecer que só muito
tarde Teminé anuiu a entrar para a irmandade de S. Lucas, provavelmente por reconhecer
nesta estruturas medievalista e por considerar um retrocesso no seu estatuto.
André Gonçalves irá então ao longo da sua vida, com especial incidência no seu final,
proceder a esforços para a dignificação da pintura.
Tentará mesmo instituir, juntamente com o seu amigo Vieira Lusitano, uma Academia,
a Academia do Nu, que formasse pintores à maneira italiana. O seu fracasso mostrará no
entanto que o elemento realista não era desejado e tão pouco se manifestava na arte
portuguesa.
Arte Séculos XVII.XVIII (II)
sem grandes rupturas. Podia com outras condições e outra personalidade talvez ser uma
figura maior. Talvez uma figura maior da cena artística europeia. Técnica não lhe faltava. Os
escasso desenhos que sobreviveram até aos dias de hoje demonstram uma genialidade
muitas vezes amordaçada nas obras de caridade. Não tendo uma única obra de temática não
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religiosa, é curioso constatar que num número tão limitado de desenhos, encontramos logo
André Gonçalves, pintor ingénuo ulissiponens, talvez não seja sido tão livre quanto
isso. Ou talvez até tenha sido. Talvez tenha sido tão livre quanto o quis. Foi um artista genial e
dotado. Quando teve tempo demonstrou toda a sua genialidade em quadros como a
Adoração dos Magos ou na Assunção da sacristia da capela de Nª Sr.ª do Livramento. Foi um
artista esclarecido e pragmático e compreendeu o seu tempo. Foi o artista da Irmandade mas
também o foi o da Academia. Foi o homem que com um pé no passado guiou a pintura
portuguesa em direcção à modernidade.
Assuncão Assuncão
Guido Reni Maratta
José dá-se a conhecer aos seus irmãos 13
S. Miguel
Lisboa, Igreja do Menino Deus
Tema tradicional da iconografia cristã, especialmente
acarinhado pelos franciscanos, segue aqui o modelo
Decada de 1730
iconográfico estabelecido por Rafael e adaptado
Pintura a óleo posteriormente com variantes por Guido Reni e Sebastiano
3100 x 1750 Conca.
A fonte original é o quadro de Rafael, amplamente
difundido por estampas e do qual o próprio Vieira Lusitano
tem uma versão.
A versão de André Gonçalves limita-se a acrescentar
uns anjinhos, barroquizando assim a cena, sem lhe retirar
impacto.
Anunciação
Lisboa, Igreja do Convento de N. Sr.ª
Directamnete inspirada sobretudo a figura do anjo,
da Conceição dos Cardais
mas também da virgem no quadro de Frederico Barocci de
1720 (?)
que André Gonçalves teve conhecimento através da gravura
Pintura a óleo a água forte, aberta pelo próprio autor.
Esta Anunciação de modelo bolonhês, constitui caso
isolado na obra de André Gonçalves. É a única em que é
adoptado o formato horizontal, que permite conferir ás duas
figuras centrais, através da acentuação da envolvência.
Anunciação 17
Anunciação
Coimbra, Seminário Maior, Capela da
Primeira de três Anunciações, todas em Coimbra e
Anunciação
pintadas na década de 1750.
Década de 1750
Diverge, na dimensão e no formato, da Anunciação
Pintura a óleo executada para os Cardais mais de vinte anos antes.
1780 x 1100 Grandemente impressionado pela tela com o mesmo
tema de Agostino Masucci, que serviu de base a um dos
mosaicos da capela de S. João Baptista em S. Roque,
Lisboa, André Gonçalves executou três versões sendo esta
uma cópia literal do mesmo.
Anunciação 18
Anjo da Guarda 15
Anuciação 16
Pinturas da Capela-Mor de Arouca 19
Bibliografia 20