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Resumo
Analisa como o site de rede social Facebook têm contribuído para criar ecossistemas de
aprendizagens relacionados aos temas de pesquisa no campo dos Estudos Culturais em
Educação (ECE), tomando como parâmetro as inovações tecnológicas e interacionais
oportunizadas pelo ciberespaço. Os dados foram coletados a partir de seis páginas do
Facebook e analisados por meio das técnicas de análise de redes sociais e de análise de
conteúdo, com auxílio de diferentes softwares. Os resultados encontrados apontaram que os
sites de redes sociais, ao oferecer aos usuários diferentes possibilidades de interação, de
diálogo e de produção de conteúdo, criam ecossistemas de aprendizagem relacionados aos
temas dos ECE, que vão sendo ampliados à medida que outras pessoas participam e se
conectam à rede.
Resumen
1
Professora Titular da Universidade Federal da Paraíba-UFPB/Brasil (ednabrennand@gmail.com)
2
Professora da Rede Pública de Ensino do Estado da Paraíba – PB/Brasil
(geovannacristinaf@yahoo.com.br)
Introdução
Metodologia utilizada
O procedimento de coleta de dados contemplou três etapas subsequentes, são elas: (i)
identificação e descrição das páginas do Facebook; (ii) seleção das postagens nas páginas
investigadas e (iii) mapeamento das redes de interação. A técnica de análise dos dados
envolveu (i) Análise de Redes Sociais (ARS) e (ii) análise do conteúdo referente aos
comentários dos usuários às postagens. Como recurso metodológico utilizou-se os software:
NetVizz, NodeXL Pro e Iramuteq. Os resultados foram interpretados pelos fundamentos
teóricos encontrados na literatura dos ECE e em áreas afins, o que garantiu a sistematicidade
do método aplicado e a subsequente confiabilidade dos resultados alcançados.
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Até abril de 2018, a busca por páginas através de palavra-chave era feita no Facebook, por meio do
aplicativo Netvizz, em seu módulo pesquisa (search module), com acesso à API (Application
utilizando como palavra-chave o nome dos temas dos ECE: ‘Cultura Digital’, ‘Gênero’ e
‘Inclusão’. Para cada busca por páginas, a ferramenta apresentou como resultado,
aproximadamente, 100 páginas por tema, entre elas, as com o maior número de seguidores.
Desses resultados, selecionou-se duas páginas, com base nos seguintes critérios: maior
número de seguidores e ter conteúdo atualizado com postagens de 2018.
Nesse direcionamento, foi contabilizado um total de seis páginas, duas por tema,
sendo elas: Mundo Nativo Digital; Casa da Cultura Digital Porto Alegre; É pra falar de
gênero, SIM; Grupo de estudos de gênero e sexualidade; A inclusão é direito de todos e
Projeto conviver inclusão. A partir das páginas selecionadas dirigiu-se à segunda etapa de
coleta de dados que envolveu a ‘Seleção das postagens nas páginas do Facebook’. Para
viabilizar a análise do conteúdo no que tange à investigação sobre os comentários dos
usuários nas postagens, decidiu-se sortear aleatoriamente uma postagem por página, o que
resultou em um total de seis postagens sendo duas por tema. A partir das seis páginas e das
seis postagens foi realizada a análise estatística a partir dos dados encontrados. A terceira
etapa da coleta de dados foi o ‘mapeamento das redes e métricas de interação no Facebook’ a
partir das páginas e postagens investigadas. Devido à complexidade de informações que se
entrecruzam para formar as redes, os estudiosos preferem utilizar software para facilitar a
coleta dos dados. No caso do Facebook, utilizou-se os software NetVizz e NodeXL Pro que,
mesmo com limitações impostas pela rede social a partir de 2017, coletam informações
diretamente do Graph API4. A ferramenta NetVizz foi desenvolvida em 2009 pelo
pesquisador Bernhard Rieder e mantida de forma pública por doações. Ela “extrai dados de
diferentes seções da plataforma do Facebook – em determinados grupos e páginas - para fins
de pesquisa. As saídas dos arquivos podem ser facilmente analisadas no software padrão”
(Netvizz, 2018). Para este trabalho utilizou-se as versões 1.45 e 1.6. Já o software NodeXL
Pro é uma ferramenta desenvolvida pelo grupo do pesquisador Marc Smith de fácil acesso
para a descoberta de redes que funciona por meio de um plugin para o Programa Microsoft
Excel. Utilizou-se o NodeXL Pro em sua versão 1.0.1.407, adquirido por meio de licença de
usuário estudantil.
Iniciou-se a análise dos dados através do método de ‘Análise de Redes Sociais’ (ARS)
que, segundo Recuero (Recuero, Bastos & Zago 2015, p. 39), é “uma abordagem de cunho
estruturalista das relações entre os atores e sua função na constituição da sociedade”. A ARS
preocupa-se com um tipo especial de dado, que é o dado relacional (Recuero, Bastos & Zago,
2015). Para essa pesquisa utilizou-se as ferramentas de visualização de grafos e as seguintes
métricas de análise de redes sociais: componentes conectados, densidade da rede;
modularidade e diâmetro do grafo (distância geodésica) obtidas através do software NodeXL
Programming Interface) da rede social, gerando como resultado as páginas mais seguidas/curtidas a
partir de uma palavra-chave. Atualmente, essa busca só pode ser realizada pelo item “pesquisa”,
utilizando-se o perfil do próprio usuário.
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A Interface de Programação de Aplicativos (API) é um conjunto de funções disponibilizadas pelo
programa principal, ou seja, “é a principal forma de inserir e extrair dados da plataforma do
Facebook” (Faceboook, 2018).
Pro. Outra análise utilizada nesta pesquisa foi a aplicação da estratégia de ‘análise do
conteúdo’ referente aos comentários e as respostas dos usuários às postagens. A análise de
conteúdo “é um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que tem como objetivo
ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados” (Mozzato & Grzybovski,
2011, p. 734). Por se tratar de um significativo banco de dados utilizou-se o Software
Iramuteq, na versão v 0.7 Alpha 2 e R versão 3.4.0, para classificar e categorizar os dados.
Segundo Bardin (1977) a técnica de análise dos dados envolve três fases: pré-análise,
exploração do material e tratamento dos resultados. Nesta pesquisa, a fase 1 (pré-análise)
envolveu a transformação do material coletado em Corpus, um conjunto de textos organizado
em arquivo único (Salviati, 2017) com 25 páginas. A fase 2 (exploração do material) que
consistiu na codificação dos dados em unidades de registro (significação) e realização de
estatísticas textuais, Classificação pelo método de Reinert e demais métricas. E por último a
fase 3 (tratamento dos resultados) direcionado a interpretação desses resultados que teve
como ponto-base os processos de aprendizagem à luz das categorias de análise dos Estudos
Culturais em Educação.
Resultados e discussão
Para facilitar a compreensão os resultados, encontrados nesta pesquisa, foram
divididos em três partes: a)Dados estatísticos sobre as páginas e postagens no Facebook; b)
Mapas e métricas das interações e c) Análise dos comentários dos usuários, os quais foram
interpretados a partir da fundamentação teórica proposta.
Considerações finais
A proposta deste trabalho foi a de analisar como os sites de redes sociais ampliam
esses ecossistemas de aprendizagens. O termo ‘ecossistemas de aprendizagens’ contempla a
ideia de um conjunto de aprendizagens que interagem entre si e formam redes de dinâmica
conexão. Essas redes, interligadas, ficam ainda mais complexas, quando conectadas às (nas)
redes digitais, pois a cada click, a cada acesso a links, compartilhamentos, comentários,
reações e visualizações, as pessoas entram em contato com novas informações e interagem
com outras pessoas, objetos, ideias e software, o que amplia os processos de aprendizagens
que resultam em novos conhecimentos (esquemas mentais) e sensibilizações (padrões
mentais) e provoca mudanças que levam a novos processos de aprendizagem, e assim
sucessivamente.
Os resultados analisados indicam que o processo de aprendizagem nos sites de redes
sociais é intensificado, entre outras coisas, pelas interações, pelos diálogos e pelas produções
de conteúdo que os sujeitos empreendem por meio dos vínculos mantidos na própria rede
social. O diálogo e o contato com amigos, desconhecidos, a aquisição de novas amizades, a
troca de conhecimentos, a possibilidade de produção de conteúdo pelo envio de texto,
imagens ou vídeos e o compartilhamento de informações de seu interesse são exemplos de
possibilidades interacionais que vinculam os sujeitos a usarem as redes sociais digitais e
através delas iniciarem processos de aprendizagens.
Nos sites de redes sociais, os ecossistemas de aprendizagem, como teias de interações,
podem ser caracterizados pela infinita possibilidade de se aprender mais, pois esses
ambientes carregam em potencial a possibilidade de uma grande quantidade de pessoas se
conectarem entre si, trocando informações e apresentando suas opiniões, ao mesmo tempo em
que se conectam com as máquinas por meio das tecnologias digitais. O estudo mostrou que,
quanto mais informações os usuários divulgam na rede por meio de suas interações, mais
aumentam as possibilidades de haver aprendizagens que ocorrem pelo contado com as
informações que circulam. As inovações e as interações são resultados de processos de
aprendizagem que transformam os próprios indivíduos e seu meio. As pessoas aprendem a
utilizar as ferramentas de maneira livre, experimentando e navegando pela ferramenta, razão
por que a população deve ter interfaces acessíveis, sem linguagens computacionais que
dificultem a interação, e que haja alfabetização na inteligência coletiva, como aponta Lévy
(2017). É preciso, ainda, que haja interação entre humanos e não humanos, pois a tecnologia
digital e a computacional é que medeiam essas conexões e fazem parte desse ecossistema
cognitivo.
Os sites de redes sociais, como espaços de aprendizagem, diferenciam-se dos demais
espaços, por ocorrem livremente, no sentido de não ter havido um planejamento didático-
pedagógico, como acontece nas escolas. Diferentemente do processo de aprendizagem nas
instituições formais, que têm objetivos específicos a partir de um currículo pré-estabelecido,
as aprendizagens que tratou-se neste trabalho são as que ocorrem livremente no ciberespaço5,
por meio das interações que os sujeitos realizam nos sites de redes sociais.
É possível assinalar algumas limitações desta análise como, por exemplo, não foi
possível ainda responder ‘como a escola pode utilizar os sites de redes sociais para o trabalho
educacional, já que é um lugar de diferentes possibilidades de aprendizagem?’ ou ‘como
aproveitar as aprendizagens que ocorrem nesses locais de liberdade e de interação, que são as
redes sociais?’ Porém, não há um manual que mostre como se devem utilizar os sites de redes
sociais. Outros trabalhos poderão acrescentar novas nuances ao tema.
Além disso, é importante ressaltar que a prática educacional não consiste somente em
lidar com os processos de aprendizagem que ocorrem na sala de aula, mas também em
considerar os fatores que influenciam positiva ou negativamente a construção de
conhecimentos, tanto de ordem afetiva quanto vivencial e cognitiva, inclusive das influências
provenientes do contexto e da cultura. Não se teve a pretensão de mostrar um caminho a ser
seguido, até porque não há caminhos seguros, mas direcionamentos que precisam ter como
base um objetivo a ser alcançado e que é fruto de reflexões e de análises apresentadas por
dados de pesquisa. O que se quis apontar é que os ecossistemas de aprendizagens estão
presentes nos sites de redes sociais, e quando os sites oportunizam novas possibilidades de
interação, de diálogo e produção de conteúdo, novas conexões são formadas e ampliam-se,
consolidam-se ou instigam-se novos processos de aprendizagens.
Referências
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Considerou-se que, nos sites de redes sociais, também se podem criar perfis, páginas, grupos ou
canais, com a finalidade de estender o ambiente escolar para o meio digital, seja para veicular
conteúdos curriculares específicos de disciplinas, seja para proporcionar debates e formas de avaliar
os alunos. Esses casos são considerados como exceção, pois há um trabalho anterior em sala de aula
(presencial ou virtual) direcionado pelo professor à disciplina ou curso que ministra, e o ambiente das
redes sociais é utilizado como meio complementar de atuação, razão por que tem uma intenção e um
objetivo a ser atingido. Aqui tratou-se de aprendizagens que ocorrem nas interações que acontecem no
uso das Redes em nosso dia a dia, sem a orientação de uma instituição formal de ensino.
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