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O documento descreve o caso de Adam Henry, um jovem de 17 anos com leucemia que precisa de uma transfusão de sangue, mas seus pais testemunhas de Jeová se recusam a dar consentimento devido à sua fé. A juíza Fiona Maye conversa com Adam no hospital e o questiona sobre sua decisão, estabelecendo uma conexão com o garoto através da poesia.
O documento descreve o caso de Adam Henry, um jovem de 17 anos com leucemia que precisa de uma transfusão de sangue, mas seus pais testemunhas de Jeová se recusam a dar consentimento devido à sua fé. A juíza Fiona Maye conversa com Adam no hospital e o questiona sobre sua decisão, estabelecendo uma conexão com o garoto através da poesia.
O documento descreve o caso de Adam Henry, um jovem de 17 anos com leucemia que precisa de uma transfusão de sangue, mas seus pais testemunhas de Jeová se recusam a dar consentimento devido à sua fé. A juíza Fiona Maye conversa com Adam no hospital e o questiona sobre sua decisão, estabelecendo uma conexão com o garoto através da poesia.
Ian McEwan inicia sua obra "A Balada de Adam Henry" com a imagem da juíza
da Vara de Família, Fiona Maye, em sua sala de estar, em meio a rascunhos de
sentenças do caso em que está trabalhando e visivelmente abalada pela discussão que vinha tendo com seu marido em que abordavam sua vida sexual e um possivel caso de adultério de seu marido Jack. Na sequência, o autor se aprofunda sobre a exaustiva vida e função de Fiona no tribunal, citando casos de disputas entre pais muitas vezes sobre os direitos dos filhos em questões que envolviam a educação, a criação e a moral dessas crianças. Na sequência, em meio à discussão sobre seu próprio casamento, Fiona acaba por questionar a relação entre as atitudes tomadas por ela em sua vida profissional e privada. Enquanto o próprio marido se afastava, Fiona começa a refletir sobre o caso no qual está trabalhando, o qual se trata de um casal separado de judeus ultraortodoxos em disputa sobre a educação das filhas, em que a mãe lutava por uma educação mais liberal em uma escola mista e aberta enquanto o pai defendia a criação das meninas no mundo fechado e rigoroso da religião. Assim, Fiona perpassa em sua sentença questões sobre o bem estar e a condição humana, imersos em diversos doutrinadores, pensadores e grandes personalidades da história escolhidos com exatidão. Em meio a isso, Ian McEwan ressalta as qualidades admiráveis de Fiona como juíza, destacando a "imparcialidade divina, inteligência diabólica" e uma "exatidão de uma definição inquestionável". No entanto, em meio à confusão emocional que estava passando, Fiona volta a se ver imersa na crise em seu casamento, refletindo sobre seu passado com Jack e sobre sua amante "presente ou futura". Enquanto perpassava por mais pensamentos e falas sobre seu passado com Jack, a situação de sua vida sexual e o amor que os dois ainda sentiam, Fiona cai em seus pensamentos dentro de outro caso com o qual teve de lidar tempos atrás o qual se tratava sobre dois irmãos siameses, em que um deles teria chance de sobrevivência caso fosse realizada a cirurgia, enquanto ambos morreriam, devido à suas condições físicas, sem a tal cirurgia. No entanto, os pais da criança, católicos devotos, recusavam-se a autorizar a cirurgia devido à crença religiosa na obra de Deus, defendendo que não cabia a eles determinar quem viveria ou morreria. Em meio ao caos do espetáculo midiático e da pressão sobre o caso, Fiona acaba por decidir pela realização da cirurgia, se utilizando da "doutrina da necessidade", que decidia como permissível violar a lei criminal – no caso, a morte de um dos irmãos - a fim de evitar um mal maior. Apesar de todo o sucesso no caso e o esquecimento pela mídia, os irmãos continuaram presentes nos pensamentos de Fiona, quem acabara por ficar "acordada à noite durante horas, repassando os detalhes, reescrevendo certas passagens da sentença, tomando novos rumos". Assim, Fiona tornara-se atormentada pelo caso durante algum tempo, inclusive com repulsa em relação aos corpos, mas não via como se abrir sobre isso para o marido a essa altura. Sua discussão com Jack toma níveis muito altos, onde o próprio marido se encontra prestes a partir, quando Fiona recebe uma ligação de seu assistente sobre o caso de um jovem de 17 anos com câncer que necessita de uma transfusão de sangue, com o contratempo de que ele e os pais, testemunhas de Jeová, se recusam a dar o consentimento ao procedimento. Em meio ao turbilhão de pensamentos entre os casos passados e este novo, Fiona viu seu marido ir embora e foi dormir, pensando no que lhe aguardava nos tribunais. No dia seguinte, Fiona se dirige ao trabalho em meio a mais uma manhã chuvosa de Londres enquanto tenta afastar os pensamentos sobre Jack, perpassando pelo passado dos dois e pela sua vontade de ter filhos, a qual acabara por ser suprimida por seu ritmo de vida veloz e repleto de sucessos profissionais que acabaram por postergar a maternidade até depois do fim de seus dias férteis. Chegando no Tribunal Superior, Fiona lida com mais casos da Vara de Familia como o da filha levada para fora do país pelo pai e, em meio a reflexões sobre sua briga com o marido e sua atitude tomada a pouco de trocar as fechaduras de casa, encontra-se com seu colega o qual lhe traz más lembranças quanto a um caso passado em que uma mulher inocente fora condenada, caso o qual prejudicara a imagem do Judiciário e os próprios pensamentos de Fiona. Em meio a vários outros casos, algumas xícaras de café e de chá e um almoço sozinha, Fiona no final do dia é informada sobre o caso da testemunha de Jeová - a se tratar do jovem Adam Henry – que vinha ganhando interesse da mídia. Logo após, a juíza se dirige para casa, seguindo caminhos longos a fim de postergar a solidão na casa vazia, e ao chegar lá, enfrenta mais severas dúvidas quanto a sua situação até ir dormir e se preparar para o próximo dia. No dia seguinte, enquanto dava continuidade a sua nova vida, Fiona se encontra com as três partes do caso de Adam Henry – o advogado representando o hospital, o representando os pais do garoto e o representante de Adam e seu guardião. Após aviso sobre a urgência do caso, tendo em vista que a situação do garoto estaria piorando a cada momento, Berner, o advogado do hospital, da iníco à sessão descrevendo a situação do paciente, o qual sofre de leucemia e precisaria de transfusões de sangue para realizar o tratamento de forma completa e suficiente. Assim, chama como testemunha o hematologista do hospital, o qual ressalta a necessidade de um tratamento completo para o garoto, o qual, do caso contrário, correria risco de morte com sintomas como cegueira, derrame cerebral e consequências neurológicas. Quando Grieve, o advogado dos pais de Adam Henry, interroga o hematologista falando sobre o direito de escolha do garoto, o qual já é quase maior de idade, e sobre os riscos da transfusão se sangue, na medida em que o médico responde falando sobre a influência dos pais nas decisões de Adam e da segurança do procedimento de transfusão em casos anteriores. Após ser interrogado muito brevemente pelo advogado de Adam, o médico afirma para a juíza que a transfusão deve ser realizada até o outro dia de manhã. Em seguida, o advogado dos pais chama o pai do garoto, Kevin Henry, para depor, o qual conta brevemente sobre sua vida e o nascimento de Adam, ressaltando a importância da religião, demonstrando o porquê do filho se mostrar tão decidido a recusar o procedimento, frente às instruções de Deus de não se misturar o sangue, que é sagrado. Além disso, o pai ressaltou a maturidade do filho e o desejo dele e da esposa de seguir os planos de Deus, mesmo que significando a morte do próprio filho. O advogado do hospital, por sua vez, interroga Kevin quanto à interpretação da Bíblia e a possibilidade do filho não conhecer outras realidades além da religião, estando destinado a recusar o procedimento por medo do estracionismo da única vida que conhecia. O advogado de Adam, no entanto, não interrogou o pai, chamando somente a assistente social da Vara de Família, a qual afirmou que apesar de muito inteligente, Adam era "jovem demais para se matar por razões religiosas". Após o recesso, sem receber nenhuma outra notícia de Jack, Fiona se atenta aos argumentos finais – os quais divagam sobre a "competência de Gillick", o conhecimento do paciente quanto a sua real situação, e o direito humano do paciente de tomar suas próprias decisões. Em meio a todos os argumentos jurídicos, chama a atenção de Fiona o fato de Adam escrever poesia, o que ela também costumava fazer com a mesma idade. Ao final dessa exposição de argumentos, a juíza conclui que deve ouvir o próprio Adam Henry, demonstrando não se tratar de uma "burocracia impessoal" e que ela levaria em conta seus melhores interesses em sua decisão. Assim, suspende a sessão e se dirige imediatamente ao hospital. Fiona então, chegando ao moderno hospital, troca breves palavras com as enfermeiras, as quais ressaltam o carinho e o talento do jovem Adam, até que a juíza entre para conversar com o mesmo, sendo recebida por uma "bagunça típica de adolescente" e um turbilhão de pensamentos do jovem, que falava sobre o tempo para a religião, a poesia e a ciência. Ela dá então início a conversa, após reparar no estado extremamente doente do rapaz, falando sobre um caso passado do tribunal e então dirigindo a conversa para a religião e os planos de Satã e de Deus. Ao longo da conversa, Fiona vai questionando Adam sobre suas decisões ao mesmo tempo em que tenta se conectar com ele, que demonstra ser um jovem brincalhão e afetuoso. Após alguns questionamentos sobre o conhecimento de Adam quanto ao seu estado de saúde, Fiona é interrompida pela enfermeira e então decide mudar o assunto perguntando ao jovem quanto a sua poesia, que prontamente se oferece para mostrar seu trabalho mais recente à juíza, a se tratar de um poema curto sobre seu sofrimento e o papel de Deus em sua vida, sendo elogiado por Fiona, quem diz ao garoto que ele possui uma "ponta de um verdadeiro talento poético". O garoto, ao perceber a preocupação de Fiona com o tempo, pede à juíza para ficar, que então volta a lhe questionar sobre os motivos da recusa ao procedimento, o qual a explica com verdadeira convicção, como o "formulador da doutrina, e não seu destinatário". Fiona então conclui para o garoto que ele realmente sabe o que quer, sabendo inclusive que ela é quem decidiria seu futuro, e ele novamente pede à juíza que fique mais um pouco, que então sugere que ele lhe mostre seu violino. Adam, que vinha estudando o instrumento hà um mês, performa uma música para Fiona, que pede depois para acompanhar a música cantando. Após o momento de conexão, Fiona se retira de volta para o tribunal, sem responder a pergunta do jovem sobre se ela voltaria a vê-lo. De volta ao tribunal, em meio a uma sala lotada pela imprensa e pelos advogados, Fiona inicia sua sentença fazendo um breve resumo do caso e dos argumentos dos advogados, afirmando também sobre a inegável inteligência de Adam, no entanto não se guiando pelo fato do mesmo ter ou não a compreensão absoluta de sua situação, mas sim pelo bem-estar do jovem. Assim, Fiona fala sobre a visão de mundo fechada do jovem, que é limitada ao que é dito pela religião dos pais – semelhante ao caso dos judeus ortodoxos julgado anteriormente – e afirma que "não promoverá seu bem-estar sofrer uma morte desnecessária e agonizante, para assim se transformar num mártir de sua fé", mas sim pelo amor pela poesia e pelo violino, o aproveitamento de sua inteligência e a "manifestação de uma natureza brincalhona e afetuosa por toda a vida e o amor que se abrem à sua frente". A juíza, assim, autoriza a realização do procedimento de transfusão contra a vontade de Adam e seus pais. Ao retornar para casa, com a cabeça ainda amortecida pelo caso do dia, Fiona se encontra com Jack a esperando, com sua mala, para entrar em casa. A fim de evitar possíveis discussões e os pedidos de desculpa e auto justificação do marido, Fiona apenas pediu para que o mesmo dormisse no quarto de hóspedes aquela noite, atormentada pelo "desapontamento por ele não ter continuado longe, só por mais algum tempo". Algum tempo depois, em meio a inúmeros casos da Vara de Família, Fiona tentava seguir sua vida junto com Jack, apesar de não haver de fato um esforço dela a fim de reconciliação e perdão. Além de sua crise conjugal, Fiona também se via imersa em pensamentos quanto a maternidade não realizada. Um dia em seu trabalho se depara com uma carta escrita por Adam Henry, em que o garoto agradece pela decisão da juíza e diz ter ficado furioso no início, mas, depois de ver os pais chorando de alegria por ter o filho vivo sem desrespeitar os princípios da religião, começou a questionar e abandonar a própria fé, resultando em brigas muito graves com a família. No final, o garoto diz que precisa falar com a juíza e pensa muito nela, inclusive na fantasia dos dois viajando o mundo juntos, e pede para ela respondê-lo. Com medo de decepcioná-lo, no entanto, Fiona não respondeu o garoto. Enquanto se preparava para a viagem do circuito itinerante para julgar casos do interior da Inglaterra, Fiona recebe outra carta de Adam, dessa vez em seu apartamento, em que o garoto diz estar tendo progresso na escola e mais brigas com seus pais e também pede novamente para se encontrar com a juíza. Novamente fica sem responder o jovem, e, momentos antes de embarcar em sua viagem, começa a relembrar sobre suas aventuras na adolescência no interior da Inglaterra. Chegando em sua hospedagem, um casarão antigo e luxuoso, Fiona então se arruma e parte para um jantar com seus colegas juristas, onde passam tempo debatendo sobre os mais diversos casos e assuntos da atualidade, até que Fiona recebe um pedido de seu assistente para acompanhá-lo, dizendo haver um "assunto que requer sua atenção imediata". Chegando na cozinha, Fiona descobre se tratar de Adam Henry, quem conta que a seguiu desde Londres até o casarão. Fiona, depois de reparar na nítida recuperação física que Adam havia passado, tenta entender o porquê do garoto tê-la seguido até lá, preocupada com o garoto – que estava encharcado devido à chuva – e os pais do mesmo, esperando-o se secar e comunicar seus pais de seu paradeiro. Adam então conta a Fiona que vem tendo brigas muito feias com os pais e que havia fugido de casa, falando também sobre as mudanças em seus pensamentos que a atitude da juíza havia proporcionado e sobre o que ele pensava na época de sua quase morte. Em meio a questionamentos sobre a fé do garoto, Adam então fala que deseja morar junto com Fiona. Sem conseguir lhe dar uma resposta definitiva, Fiona pede para seu ajudante chamar um taxi para Adam e levá-lo para comprar uma passagem para a casa de sua tia e se hospedar num hotel até o outro dia. Na hora de se despedir, Fiona dá o dinheiro para seu assistente e então dá um beijo no rosto do garoto, que por acidente acaba sendo um beijo nos lábios. O garoto então vai embora no taxi junto com o assistente, enquanto Fiona retorna para o casarão. Retornando para casa, Fiona começa a vivenciar uma gradual reconciliação com o marido, retornando aos poucos ao estilo de vida antigo deles com saídas com colegas e refeições feitas fora, uma delas em que conversam cautelosa e delicadamente até esgotarem o assunto e Fiona pedir para irem embora. Algum tempo depois, Fiona recebe mais uma carta de Adam Henry, dessa vez contendo nada além de um poema, escrito pelo rapaz, chamado "A Balada de Adam Henry", em que fala sobre o peso da religião, seu abandono e a traição da voz que havia lhe dito para abandonar esse peso. No final falava sobre morte a alguém, o que não era possível de entender devido às diversas rasuras na folha. Fiona então voltara a pensar sobre as consequências do beijo que havia dado no garoto, além de sua influência na crença do mesmo. Enquanto ensaiava junto com o colega Mark Berner para o concerto amador de natal do Great Hall, Fiona o escuta falar sobre o motivo de sua aposentadoria: um caso de quatro homens acusados de agressão em ação conjunta, em que um dos acusados vinha de uma infância e juventude problemática e que não teria tido participação na briga tão grande quanto a de seus companheiros, e que depois havia conseguido uma pena menor para todos. No dia do concerto, Fiona e Jack têm um momento juntos antes de sair de casa em que ela é surpreendida por um cenário romântico, onde os dois bebem um pouco de vinho juntos e se beijam. Já no concerto, Fiona se separa do marido e então parte junto com o companheiro de piano para realizar as músicas, performando todas com maestria. No entando, no final do concerto, ao performar a música que havia cantado junto com Adam Henry meses antes, Fiona se sente muito abalada e logo após acabar vai direto para casa, onde liga para a assistente do garoto para descobrir que o mesmo havia falecido algumas semanas atrás. Após Jack perceber o quão abalada a mulher se encontrava, Fiona o conta sobre o caso, o envolvimento com o garoto e o beijo dos dois, explicando que a leucemia havia retornado e Adam, então com dezoito anos, havia se recusado de fato a receber a transfusão se sangue novamente, vindo então a falecer. Devido ao seu estado, Fiona vai dormir, acordando mais tarde com Jack ao seu lado, reafirmando seu amor e prestes a recomeçar seu casamento. Nessa obra, Ian McEwan trata com maestria a questão da relação entre a autonomia privada e pública, com imersão também na caótica vida do judiciário e as dificuldades de separação entre o público - os casos que Fiona se deparava como juíza da corte de família - e o privado – sua relação com o marido e a ausência de filhos, ambos determinados pela rotina intensa e de sucesso promovida pelo judiciário na vida de Fiona. Além disso, também levanta questões sobre os limites entre a fé e a vida, fazendo se questionar sobre até que ponto a crença em uma religião deve ser tomada como o pilar mais forte da vida de alguém. Quanto ao julgamento do caso de Adam, Fiona faz jus à fama que lhe é dada ao apresentar uma sentença precisa, apurada e verdadeira, em que o bem estar – exemplificado por ela mesma como o futuro promissor do garoto, suas paixões e sua personalidade – deve se sobrepor ao direito de crença. Apesar de ser de extrema importância a manutenção deste direito à liberdade de crença, é necessário compreender que muitas vezes essa crença pode limitar a visão de mundo das pessoas quanto a determinados aspectos, cabendo intervenção de terceiros quando essa limitação puder causar danos realmente grandes – como, no caso do livro de Ian McEwan, o direito à vida.