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A informação vem, em primeiro lugar, daquilo que vemos. Geralmente, ainda antes de lhe tocarmos,
podemos cheirá-lo, depois vem o som, e por fim o sabor e o cheiro retronasal, que acontece quando
engolimos”
!
Nascemos a gostar apenas do doce
a não gostar do amargo e do ácido.
adquirido a partir da experiência,
pela memória de episódios anterior
A ideia é ver o que acontece se manipularmos um dos sentidos. Tirando um, tira-se parte
informação.
ILUSTRAÇÃO MIGUEL FERASO CABRAL
"
Pratos com narrativas lá dentro
O foco dos estudos de Spence é o momento da experiência, é esse
que ele analisa, mas o que se passa no nosso cérebro mal olhamos
para um prato de comida é também profundamente marcado pela
memória que temos dos sabores. “Nascemos a gostar apenas do
doce e do umami”, explica. “E a não gostar do amargo e do ácido.
Tudo o resto é adquirido a partir da experiência, cimentada pela
memória de episódios anteriores. Há experiências que queremos
voltar a ter. É por isso que vemos agora vários chefs a tentar
desencadear memórias específicas, sensações, nostalgias,
tentando fazer com que a comida nos saiba melhor.”
Mais uma vez, tudo isto prova a ideia de Spence de que os factores
externos influenciam muito a nossa experiência e são,
frequentemente, mais importantes do que a própria comida por
muito que o chef tenha investido nela. “Há algumas coisas que
podemos fazer para gravar melhor essa experiência na memória e
aí entramos na área do experience design.” Os menus muito
longos beneficiam, em muitos casos, se houver uma história, uma
linha narrativa que ajude a estabelecer uma continuidade entre os
pratos.
Regresso ao futuro
Não é a primeira vez que se fazem este tipo de experiências. No
início do século XX, os futuristas de Marinetti criaram até um
manifesto da cozinha futurista e organizaram jantares em que
muito se passava para além da comida. “É fantástico voltar a ler o
que Marinetti escreveu e ver como muitas coisas continuam
actuais, desde a utilização de sprays com cheiros até às paisagens
sonoras para acompanhar um prato”, diz Spence, cujas pesquisas
estão na origem de um prato de Heston Blumenthal que é
acompanhado por auscultadores através dos quais se ouve o ruído
das ondas na praia e os gritos das gaivotas.
Chefs com duas estrelas Michelin fazem alguma da melhor comida do mundo e sabem que para que ela
perdure na memória de quem a prova é preciso combiná-la com técnicas de estimulação sensorial”
apc@publico.pt
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