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AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Gestão em Segurança Pública

Fernando Beuren Araujo

Sobrevivência Policial: na folga e no trabalho


- Uma questão de segurança pública -

Rondonópolis
2017
Fernando Beuren Araujo

Sobrevivência Policial: na folga e no trabalho


- Uma questão de segurança pública -

Monografia apresentada à AVM Faculdade Integrada


como exigência parcial à obtenção do título de
Especialista em Gestão em Segurança Pública.

Nome do Orientador: Jacinto Rodrigues Franco

Rondonópolis
2017
Dedico esta obra a todos os policiais,
heróis anônimos, que tombaram,
vítimas da violência, em serviço ou
fora dele, no cumprimento de seus
deveres e na certeza de que ajudaram a
construir um mundo melhor.
AGRADECIMENTO

À minha esposa (Juliana), aos meus pais (Herval e Elaine) e à minha irmã (Cristina)
pelo amor e carinho.

A todos os policiais, em especial os amigos e colegas do Departamento de Polícia


Rodoviária Federal, que trabalham com honra e dedicação no cumprimento de suas
missões.
EPÍGRAFE

“Nossas atitudes escrevem nosso destino. Nós somos


responsáveis pela vida que temos. Culpar os outros
pelo que nos acontece é cultivar a ilusão. A
aprendizagem é nossa e ninguém poderá fazê-la por
nós”.

Autor desconhecido
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Resumo

No presente trabalho, apresenta-se, no primeiro momento, um estudo com dados estatísticos


sobre a grande quantidade de morte de policiais no Brasil. Observa-se que policiais são
assassinados cerca de três vezes mais fora do serviço do que no trabalho. Os Cursos de
Formação Policial (CFP) e os Cursos de Capacitação Continuada (CCC) não preparam,
devidamente, os servidores para os períodos em que estiverem de folga. O objetivo do
trabalho é estudar a importância da inclusão da disciplina de Sobrevivência Policial nos
Cursos de Formação Policial e nos Cursos de Capacitação Continuada no âmbito das
Instituições de Segurança Pública a fim de reduzir, significativamente, o número de mortes de
policiais. Esta pesquisa utiliza o método bibliográfico e se baseia no livro Autodefesa: Contra
o crime e a violência – Um guia para Civis e Policiais do Agente de Polícia Federal Humberto
Wendling Simões de Oliveira. Na segunda etapa, apontam-se algumas deficiências nos CFPs
e nos CCCs e é feita uma abordagem sobre aspectos pedagógicos do ensino nas corporações
de segurança pública. Posteriormente, apresenta-se o que seria ensinado na disciplina de
“Sobrevivência Policial” tanto na parte teórica quanto no treinamento prático operacional e
cita a importância da prevenção para a preservação da vida dos policiais. Por último, indicam-
se vantagens e desvantagens de portar arma de fogo fora de serviço, bem como os principais
locais utilizados para portá-la de forma dissimulada. Conclui-se que precisam ser tomadas
medidas urgentes e eficientes para reduzir, drasticamente, o número de policiais assassinados,
tanto em serviço quanto fora dele. Uma delas pode ser a ensino da disciplina de Sobrevivência
Policial nos Cursos de Formação Policial e nos Cursos de Capacitação Continuada. A
responsabilidade da preservação da vida do policial é solidária entre ele e o Estado.

Palavras-chave: Sobrevivência Policial. Violência. Prevenção. Folga. Trabalho.


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Abstract

In the present work, it is handled first a study with statistical data on the large number of
deaths of policemen in Brazil. It is observed that cops are murdered about three times more
out of service than at work. The police training courses (CFP) and the Continued training
courses (CCC) do not prepare properly, the servers for the periods when they are off. The
purpose of this work is to study the importance of inclusion of “Policeman Survival” training
courses Police Officer and Continuing training courses within the framework of the
institutions of Public Security in order to reduce significantly the number of police deaths.
This research uses the bibliographical method and is based on the book “Self-defense: Against
crime and violence – a guide for civilians and Officers”, of the Federal police officer
Humberto Wendling Simões de Oliveira. In the second step, it is pointed out some
shortcomings in CFPs and CCCs and also made an approach about pedagogical aspects of
teaching in public security corporations. After that, it is reported what would be taught in the
discipline of "Policeman Survival" both in theory and in practical operational training and
cites the importance of prevention for the preservation of the lives of police officers. Finally,
it´s parsed whether advantages and disadvantages to carry a firearm off duty, as well as the
main spots used to dissimulate its use. The final conclusion is that efficient measures are
urgently needed to reduce drastically the number of policemen killed, both in service and out
of it. One of them may be the teaching of the discipline of Policeman Survival courses in
police training and in Continuing training courses. The responsibility of preserving the life of
officer is solidarity between himself and the State.

Keywords: Policeman Survival. Violence. Prevention. Day off. At work.


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LISTA DE TABELAS

Tabelas

Tabela 1 – Número de policiais mortos do ano de 2009 a 2015 .............................................. 16

Tabela 2 – Quantitativo de policiais mortos em confronto, em serviço ou fora dele ............... 17


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LISTA DE SIGLAS

SIGLAS

AMT – Armamento e Tiro

CCC – Curso de Capacitação Continuada

CFP – Curso de Formação Policial

DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional

DPF – Departamento de Polícia Federal

DPRF – Departamento de Polícia Rodoviária Federal

SAT – Serviço de Armamento e Tiro

SP – Sobrevivência Policial
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12
2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 16
2.1 Violência contra policiais ..................................................................................... 16
2.2 Deficiências dos Cursos de Formação Policial ................................................... 20
2.3 Deficiências dos Cursos de Capacitação Continuada ....................................... 22
2.4 Aspectos Pedagógicos ........................................................................................... 24
2.5 Apresentação da Disciplina de Sobrevivência Policial...................................... 27
2.5.1 Diferenciação entre as disciplinas de SP e AMT .......................................... 27
2.5.2 Elementos da SP ............................................................................................ 28
2.5.2.1 Estado de alerta ................................................................................. 28
2.5.2.2 O preparo mental e físico .................................................................. 30
2.5.2.3 O perigo da rotina.............................................................................. 30
2.5.2.4 Comportamento policial e tiro .......................................................... 31
2.5.2.5 Conhecimento ................................................................................... 33
2.5.3 Componentes da autodefesa .......................................................................... 34
2.5.3.1 Psicologia de sobrevivência .............................................................. 34
2.5.3.2 Inteligência de sobrevivência ............................................................ 35
2.5.3.3 Entendendo a seleção da vítima ........................................................ 35
2.5.3.4 Reconhecendo o comportamento predatório ..................................... 35
2.5.3.5 Táticas preventivas ............................................................................ 36
2.5.3.6 Teoria da opção de resposta .............................................................. 36
2.5.3.7 Método de treino ............................................................................... 36
2.5.4 Prevenção....................................................................................................... 36
2.5.5 Janela de Oportunidade ................................................................................. 37
2.5.6 Negar conhecimento pode ser a salvação ...................................................... 38
2.5.7 Reagir ou não reagir? ..................................................................................... 39
2.5.8 Comportamentos e atitudes positivas ............................................................ 41
2.5.9 Treinamento de tiro em seco ......................................................................... 44
2.5.10 Manutenção periódica da arma de fogo ....................................................... 45
2.5.11 Vantagens de portar a arma de fogo fora de serviço ................................... 45
2.5.12 Desvantagens de portar a arma de fogo fora de serviço .............................. 46
2.5.13 Locais onde portar a arma de fogo .............................................................. 46
11

2.5.13.1 Porte velado na região frontal da cintura ........................................ 47


2.5.13.2 Porte velado na região das 4hs ........................................................ 47
2.5.13.3 Porte velado na região do tornozelo ................................................ 48
3. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 49
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 51
12

1. INTRODUÇÃO

A grande quantidade de morte de policiais – tanto em serviço quanto nas folgas, apresenta-se
como um dos principais problemas enfrentados pela segurança pública no Brasil.
Notadamente, os Cursos de Formação Policial (CFPs), em sua maioria, são ineficientes em
alguns aspectos, porquanto não têm uma disciplina que verse especificamente sobre o tema
Sobrevivência Policial (SP), que consistiria em treinamentos de práticas operacionais, teorias,
atitudes e comportamentos voltados para a segurança do policial, inclusive, para os períodos
em que ele estiver de folga.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2016, p.08), “393 policiais foram
vítimas de homicídios em 2015, sendo que 103 estavam em serviço e 290 estavam fora de
serviço, ou seja, policiais morrem cerca de três vezes mais fora do serviço do que no
trabalho”.

Muitas das escalas de serviço das instituições policiais brasileiras são do tipo 24x72 horas,
isto é, um dia de trabalho para três dias de folga. Nota-se, portanto, que apenas 1/4 do tempo
do policial se dá em serviço, enquanto que os outros 3/4, o agente está usufruindo do
descanso. Acontece que os CFPs, em sua maioria, apenas preparam os futuros servidores para
os momentos de efetivo trabalho e não os treinam, adequadamente, para os períodos fora do
trabalho. Um exemplo simples disso ocorre na disciplina de Armamento e Tiro da maior parte
das corporações policiais, nas quais os treinamentos de saque rápido são todos realizados a
partir de coldres ostensivos (geralmente colocados e ajustados sobre a coxa ou na região da
cintura), que são os utilizados durante os serviços rotineiros. Nas folgas, os policiais que
optam por portarem suas armas, colocam-nas ou em coldres velados (na região da cintura ou
próximas aos tornozelos). Alguns preferem, ainda, portar a arma, dissimuladamente, sem
coldre algum. Entretanto, independentemente da opção, não há treinamento específico
apropriado para o saque velado rápido e eficiente.

Nesse contexto é fundamental que seja inserida a disciplina de Sobrevivência Policial na


grade curricular dos Cursos de Formação Policial e que faça parte, também, nos Cursos de
Capacitação Continuada para os agentes pertencentes aos quadros de ativos das instituições de
segurança pública.
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Na disciplina de SP, além de treinamentos táticos operacionais (que simulem situações que
possam vir a ocorrer tanto com os servidores em serviço quanto com os que estiverem em
suas folgas), também poderiam ser ministrados estudos de casos, comportamentos, teorias,
atitudes e dicas salutares que contribuiriam na formação de um arcabouço de ferramentas
importantes que ajudaria na preservação da vida dos agentes de segurança.

Embora haja alguns estudiosos brasileiros sobre esse assunto, como o Agente de Polícia
Federal Humberto Wendling Simões de Oliveira, (principalmente, em sua obra literária
Autodefesa: Contra o Crime e a Violência – Um guia para Civis e Policiais), os Professores
de Armamento e Tiro do SAT/DPF (Serviço de Armamento e Tiro do Departamento de
Polícia Federal), do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), do Departamento de
Polícia Rodoviária Federal (DPRF) e de algumas outras instituições policiais, ainda falta uma
bibliografia consistente que possa auxiliar, efetivamente, na preservação da vida dos agentes
de segurança pública. Não se tem, por exemplo, um livro didático preparado especialmente
para servir de manual técnico e de fonte de consulta das corporações policiais para os cursos
de formação.

Outras deficiências encontradas na bibliografia dizem respeito à falta de informação sobre


tiroteios envolvendo policiais, estudos de casos elaborados por especialistas acerca das
ocorrências críticas experimentadas pelos agentes de segurança e à falta de um treinamento
fundamentado em dados de tiroteios reais.

O objetivo geral do trabalho é estudar a importância da inclusão da disciplina de


Sobrevivência Policial nos Cursos de Formação Policial e nos Cursos de Capacitação
Continuada no âmbito das Instituições de Segurança Pública a fim de reduzir,
significativamente, o número de mortes de policiais.

Os objetivos específicos do presente estudo são:

a) Verificar o número de mortes de policiais (em serviço e fora dele) nos últimos anos;
b) Demonstrar que morrem mais policiais nos momentos de folga do que em serviço;
c) Relatar que os Cursos de Formação Policial não têm uma disciplina que verse,
exclusivamente, com teorias, práticas e treinamentos voltados à Sobrevivência
Policial;
d) Enfatizar que a maioria das corporações policiais não preparam seus agentes,
adequadamente, para momentos em que estiverem fora de serviço;
14

e) Diferenciar as disciplinas de Sobrevivência Policial e de Armamento e Tiro;


f) Conhecer os elementos da Sobrevivência Policial;
g) Compreender os componentes da autodefesa;
h) Conceituar a estratégia preventiva;
i) Citar a importância da prevenção na preservação da vida do operador de segurança
pública;
j) Definir “Janela de Oportunidade” para Sobrevivência Policial;
k) Avaliar situações em que reagir pode não ser a melhor opção;
l) Entender ocasiões em que reagir pode ser a salvação;
m) Enumerar comportamentos e atitudes salutares para preservação da vida do policial;
n) Explicar a importância do treinamento de tiro em seco;
o) Citar a importância da manutenção periódica na arma de fogo;
p) Indicar as vantagens e as desvantagens de portar a arma de fogo fora de serviço;
q) Identificar os principais locais onde portar, veladamente, a arma de fogo;
r) Apontar as vantagens e as desvantagens dos principais locais de porte de arma de
fogo.

A relevância do tema escolhido deve-se a tentativa de reduzir a alarmante e assustadora


quantidade de policiais que morrem, anualmente, em nosso país. A maioria deles, vitimados
fora de serviço, em ocasiões nas quais não receberam treinamento adequado do Estado para
garantir a preservação de suas vidas.

Particularmente, trabalho na área da segurança pública há cerca de sete anos, dos quais exerci
o cargo de Agente Penitenciário Federal por quatro anos e meio na Penitenciária Federal em
Porto Velho/RO. Nessa época, formei-me Professor de Armamento e Tiro pela Academia
Nacional de Polícia (ANP/DPF). Há dois anos e meio sou Agente da Polícia Rodoviária
Federal, atualmente lotado em Rondonópolis/MT. Infelizmente, ao longo desse período, perdi
alguns colegas vítimas da violência. Uns em decorrência de homicídios, latrocínios e outros
assassinados como forma de retaliação por serem servidores da segurança pública.

Em ambos os cursos de formação dos quais participei não houve uma disciplina que tratasse,
exclusivamente, de Sobrevivência Policial. Na verdade, essa deficiência é percebida na
maioria das corporações. Diante do cenário caótico em que se encontra a segurança pública,
acredito que a inclusão da disciplina em comento nos Cursos de Formação Policial e nos
15

Cursos de Capacitação Continuada acarretará mudanças favoráveis de comportamentos e


atitudes que auxiliarão na redução substancial de mortes.

Hoje, os cursos de formação trazem uma grande carga horária de matérias como Ética,
Direitos Humanos e Relações Pessoais que, claro, são muito importantes. Contudo,
negligenciam a formação técnica de combate e de enfrentamento do policial frente à violência
exacerbada.

Este trabalho apresenta caráter inovador no aspecto de trazer à tona a discussão de se dar mais
valor à preparação e ao treinamento do policial para garantir sua sobrevivência, tanto em
serviço quanto fora dele. Se o tema for tratado com uma carga horária adequada e ministrado
por professores especialistas no assunto, certamente será possível vislumbrar a curto e médio
prazo a redução significativa do número de morte de policiais.

O presente estudo poderá servir de consulta aos operadores de segurança pública, das mais
variadas corporações policiais brasileiras, para auxiliá-los em mudanças de comportamentos e
de atitudes a fim de contribuírem para que sejam diminuídas as chances de se tornarem
vítimas da violência.

Por fim, espera-se que esta monografia sirva, também, de embasamento técnico e científico
para que os gestores responsáveis pelas coordenadorias dos Cursos de Formação Policial –
das mais variadas Instituições de Segurança Pública, insiram a disciplina de Sobrevivência
Policial na capacitação de seus alunos, bem como propiciem treinamentos mais adequados às
realidades encontradas no cotidiano.

Para realização do trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica. As fontes usadas foram
livros, documentos, relatórios, revistas, jornais, sítios da internet e reportagens eletrônicas.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – Violência Contra Policiais

O grande número de morte de policiais apresenta-se como um dos principais problemas


enfrentados pela segurança pública no Brasil. A atividade policial é perigosa por natureza. Ao
proteger os cidadãos, os agentes expõem-se aos riscos inerentes à profissão.

A atividade policial traz consigo grande carga de perigo aos seus responsáveis. Incumbidos de proteger a
população, os agentes que ganham as ruas todos os dias para defender o povo se expõem a uma série de
perigos no exercício de sua função. Ainda que protegidos por equipamentos específicos, muitos policiais
perdem a vida durante o cumprimento de seu dever perante a sociedade. (BITTAR, 2015, p.19).

Pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública têm realizado um extraordinário


estudo estatístico acerca da violência no país, com a elaboração do Anuário Brasileiro de
Segurança Pública. Ele apresenta algumas inconsistências na colheita de dados como nos
estados do Acre, Amapá, Roraima, Sergipe e Tocantins, os quais suas Secretarias Estaduais de
Segurança Pública não forneceram todas as informações solicitadas. Apesar disso, o estudo
revela-se uma importante ferramenta de investigação e indica um norte para possíveis
tomadas de decisão de modo a reduzir a criminalidade em nosso país.

Abaixo, mostra-se uma tabela, retirada do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2016,
p.26), com a quantidade absoluta de policiais que perderam a vida vítimas da violência.
Infelizmente, nos últimos quatro anos houve um acréscimo, substancial, no quantitativo de
policiais que morreram (em serviço ou fora dele).

Tabela 1: Número de policiais mortos do ano de 2009 a 2015.


Ano Total de Policiais Mortos no Brasil
2009 264
2010 287
2011 282
2012 447
2013 490
2014 409
2015 393
Total 2572
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2016, p.26).
17

No ano de 2012, ocorreu um aumento de 58% de morte de policiais em relação ao ano de


2011, passando de 282 mortes para 447.

Do período analisado, o ano de 2013 foi o que apresentou o maior número de mortes violentas
de policiais: 490.

No interstício compreendido entre os anos de 2009 e 2015, morreram, vítimas da violência, no


Brasil, 2572 policiais, em serviço ou fora dele (nas folgas ou aposentados).

Entre 2009 e 2015 são 2.572 policiais mortos, número que não encontra similar em nenhum outro país do
mundo. Para efeito de comparação, o número de policiais mortos no Brasil em um ano é o mesmo que as
mortes de policiais na Inglaterra em 98 anos. Nos EUA, morreram 41 policiais em serviço no ano de
2015, contra 103 no Brasil, ou seja, mais que o dobro. (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2016, p.
28).

Segundo Bittar (p.20) “Os dados são bastante significativos e mostram, entre outras coisas,
que o país ainda tem uma polícia muito mais combativa do que preventiva e que essa
necessidade de combate deixa vulnerável o efetivo policial”.

Na décima edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (p.22), divulgado em 2016, é


apresentada uma tabela com a quantidade de policiais – militares e civis – mortos, vítimas da
violência. Os dados referem-se a estes profissionais assassinados, tanto em serviço, quanto
fora dele, nos anos de 2014 e de 2015.

Tabela 2. Quantitativo de policiais mortos em confronto, em serviço ou fora dele.


Policiais mortos Policiais mortos TOTAL de policiais
EM SERVIÇO FORA DE SERVIÇO mortos
Ano 2014 2015 2014 2015 2014 2015

Brasil 79 103 330 290 409 393


Unidade da Federação
Acre ... ... ... ... ... ...
Alagoas - 2 4 6 4 8
Amapá ... ... ... ... ... ...
Amazonas - - 11 7 11 7
Bahia 3 3 27 16 30 19
Ceará 1 - 6 10 7 10
Distrito Federal 3 4 9 5 12 9
Espírito Santo 1 - 2 4 3 4
Goiás - - 8 3 8 3
Maranhão 2 14 11 30 13 44
18

Mato Grosso 6 3 16 4 22 7
Mato Grosso do Sul 8 3 18 6 26 9
Minas Gerais 6 2 9 9 15 11
Pará 6 8 16 18 22 26
Paraíba - 2 2 6 2 8
Paraná 4 4 5 5 9 9
Pernambuco 4 5 13 22 17 27
Piauí - 3 3 1 3 4
Rio de Janeiro 18 26 82 72 100 98
Rio Grande do Norte 4 6 2 1 6 7
Rio Grande do Sul 1 5 5 9 6 14
Rondônia 1 2 2 2 3 4
Roraima ... ... 1 1 1 1
Santa Catarina - - 4 1 4 1
São Paulo 10 10 74 50 84 60
Sergipe ... 1 ... - ... 1
(-) Fenômeno Inexistente.
Tocantins 1 - ... 2 1 2 (...) Informação não disponível.

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2016, p.22).

Analisando a tabela 2, percebe-se que 393 policiais foram vítimas de homicídio em 2015,
sendo 103 em serviço e 290 fora de serviço, isto é, praticamente 3/4 dos agentes foram
assassinados em confrontos ocorridos durante suas folgas.

Em 2014, dos 409 policiais mortos, cerca de 80% (ou 330 policiais) estavam fora de serviço
enquanto que os outros 20% foram vitimados em confrontos que aconteceram em serviço.

O Rio de Janeiro é o estado onde mais matam policiais, em termos absolutos. Foram 100 no
ano de 2014 e 98, em 2015. Em segundo lugar, encontra-se o estado de São Paulo: 84 agentes
assassinados em 2014 e 60, no ano de 2015.

O Estado do Maranhão foi o que apresentou o maior acréscimo percentual de policiais


assassinados de um ano para o outro. Em 2014 foram 13 agentes mortos em confronto,
enquanto que em 2015 foram 44, ou seja, um acréscimo de 238%. O Rio Grande do Sul
também teve um grande aumento, passando de 6 servidores mortos em 2014 para 14 em 2015.

Já Santa Catarina foi a unidade da federação que obteve o menor número de policiais mortos
em 2015. No estado catarinense, um agente foi assassinado no período de folga e não foi
registrada nenhuma morte em serviço.
19

Um elemento determinante responsável pelo grande número de policiais mortos, fora de


serviço, deve-se às tentativas de reações, mal sucedidas, a assaltos. Agentes, à paisana, que se
encontram em locais que estão sendo assaltados, sentem-se na obrigação, devido ao dever
funcional, de reagirem. Muitos não têm treinamento técnico e específico para isso e, ao se
confrontarem com os criminosos, acabam sendo alvejados e mortos.

Às vezes, os policiais nem reagem aos assaltos. Entretanto, são identificados como agentes da
segurança pública ou são reconhecidos pelos marginais e são, brutalmente, assassinados.

Um fator apontado como um dos principais responsáveis pelo grande número de mortes de
policiais, fora de serviço, diz respeito aos chamados “bicos”, que são empregos secundários e
informais, nos quais os policiais fazem a segurança de pessoas e de estabelecimentos
comerciais, de modo a incrementar suas rendas mensais. Acontece que nessas ocasiões, os
agentes não estão fardados, não estão usando coletes balísticos e não tem o apoio operacional
dos demais colegas. Tornam-se, portanto, vítimas fáceis da criminalidade.

Além do expressivo quantitativo de policiais que perderam a vida, a violência gera, também,
uma enorme gama de agentes sobreviventes, porém, com danos e sequelas irreparáveis à
saúde. Muitos adquirem deficiências permanentes e são obrigados a se aposentarem ou são
realocados em setores administrativos.

Para Alcadipani (2014, p.38) “Um Estado onde é natural que um policial perca a sua vida em
razão de sua profissão, é um Estado que está sob a lógica da barbárie”.
20

2.2 – Deficiências dos Cursos de Formação Policial

O Curso de Formação Policial (CFP) corresponde a uma das últimas etapas para ingressar nas
mais variadas carreiras da segurança pública. Geralmente, é eliminatório e classificatório. A
formação dos alunos ocorre em um período que varia de três a seis meses. Há, contudo,
algumas Polícias Militares que têm o CFP mais extenso. O corpo docente, responsável por
ministrar as aulas e as instruções, é formado, na maioria das vezes, por policiais (que recebem
capacitação e treinamento específicos) das próprias instituições.

A matriz curricular é formada por disciplinas teóricas e práticas, que tem o escopo de
desenvolver as habilidades e aprimorar as competências necessárias para cada perfil
profissional.

Nota-se, atualmente, uma preocupação muito grande dos coordenadores e responsáveis pela
confecção das grades curriculares em direcionar o aprendizado dos alunos para disciplinas
mais teóricas, voltadas para área das humanas como Relações Humanas, Ética, Direitos
Humanos e Cidadania. Aqui não cabem críticas a esse modelo. Muito pelo contrário, ele vai
ao encontro dos anseios de grande parte da sociedade, que é de ter agentes de segurança mais
bem capacitados e menos violentos.

A polícia brasileira é considerada uma das mais violentas do mundo devido à grande
quantidade de morte de civis decorrentes de sua atuação. Muitas vezes, há excesso,
truculência e despreparo do servidor em seu exercício profissional. Segundo o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública (2016, p.6), “em 2015 foram 3.345 mortes decorrentes de
intervenção policial e 17.688 entre 2009 e 2015”. Analisando-se os dados de 2015, percebe-se
que, a cada dia, nove pessoas morreram em consequência da atuação dos agentes das
instituições policiais.

Os Cursos de Formação Policial, apesar de atenderem grande parte das demandas e das
expectativas em relação à formação dos agentes, precisam passar por alguns ajustes,
principalmente, no que diz respeito ao treinamento e a preparação dos alunos frente à
violência que, provavelmente, encontrarão no exercício de suas futuras profissões ou mesmo,
durantes as folgas.

Nesse sentido, torna-se muito importante a inclusão da disciplina de Sobrevivência Policial.


Ela versaria, exclusivamente, de aulas teóricas e práticas que ajudariam os alunos a formarem
um conjunto de mecanismos que poderia contribuir na preservação de suas vidas, tanto no
21

trabalho quanto fora dele. A disciplina teria uma carga horária extensa e seria ministrada por
professores especialistas no assunto.

Não há hoje, por exemplo, uma cadeira que verse, exclusivamente, de análise de vídeos de
violência contra policiais. Nem uma elaboração mais científica de dicas e atitudes úteis que
ajudem na preservação da vida dos agentes de segurança, tanto no serviço, quanto fora dele.
Nesse contexto, na disciplina de Sobrevivência Policial seriam lecionadas aulas teóricas com
as estatísticas de enfrentamentos reais, estudo de casos concretos e ensinados comportamentos
e hábitos favoráveis à proteção dos policiais.

Outro item bastante criticado nos CFPs é o uso de recursos obsoletos e ultrapassados, que não
condizem com a realidade encontrada na atividade policial. Um exemplo disso ocorre nos
treinamentos de Armamento e Tiro da maioria das corporações, em que os alunos não são
submetidos a exercícios com estresse elevado. Em grande parte das dinâmicas, são utilizados
alvos fixos de papel, com um largo tempo para o aluno realizar os disparos de arma de fogo.
Infelizmente, esses métodos pouco se assemelham a situações reais, isto é, têm pouco
resultado prático. Na disciplina de SP poderiam ser utilizadas técnicas e dispositivos bastantes
usados nos treinamentos de policiais norte-americanos como utilização de alvos em
movimento, uso de simuladores e aparatos com recursos audiovisuais que induzissem o aluno
ao estado de estresse mais elevado e mais condizente com os cenários verdadeiros. Além
disso, poderiam ser empregados treinamentos com armas de airsoft e de paintball.

Um treinamento bastante útil que poderia fazer parte do escopo da disciplina de SP seriam
exercícios que imitassem situações em que os agentes estivessem fora de serviço. Poderiam
ser realizados saques rápidos de arma de fogo a partir de coldres velados e ensinadas técnicas
de combate e enfrentamento a situações de assaltos dentro de automóveis.
22

2.3 – Deficiências dos Cursos de Capacitação Continuada

Cursos de Capacitação Continuada são treinamentos que ocorrem (ou deveriam ocorrer),
periodicamente, com os policiais pertencentes aos quadros de ativos das instituições de
segurança pública. Neles, os servidores recebem instruções das mais variadas disciplinas de
modo a aprimorar o aprendizado anteriormente adquirido e aprender técnicas de novas
doutrinas adotadas pelas corporações.

Infelizmente, devido a uma série de fatores como a falta de verbas, a escassez de materiais, o
desinteresse de grande parte do efetivo e, principalmente, pelas más gestões, a maioria os
cursos de capacitação continuada são ineficazes e ineficientes.

Segundo a Portaria Interministerial nº4.226/2010 que estabelece diretrizes sobre o uso da


força pelos agentes de segurança pública, em seu anexo 1, nº18, “a renovação da habilitação
para uso de armas de fogo em serviço deve ser feita com periodicidade mínima de 1 (um)
ano”, isto é, anualmente, deveria haver curso de armamento e tiro, com todas as armas
utilizadas pelo departamento. Não é o que se percebe na maioria das corporações policias. E
quando há estas habilitações, muitas vezes, são mal dadas, uma vez que são efetuados poucos
disparos de armas de fogo, devido à economicidade em relação às munições.

Alguns treinamentos pouco têm a ver com a realidade encontrada pelo policial (no serviço ou
fora dele). Como nos CFP, aqui falta, também, que os núcleos de capacitação das instituições,
juntamente com seus instrutores, elaborem treinamentos mais adequados, que preparem,
realmente, o servidor para enfrentar a violência e a criminalidade das ruas.

Nesse contexto, a inserção da disciplina de Sobrevivência Policial nos Cursos de Capacitação


Continuada torna-se muito importante. Nela, os instrutores poderão passar dicas de
comportamentos e hábitos salutares para preservação da vida do agente de segurança. Além
disso, poderiam ser feitas análises de casos reais, discutindo-se qual a melhor maneira para o
policial sair da situação com o menor dano possível para si, para sua família e para as pessoas
inocentes envolvidas.

Nos Cursos de Capacitação Continuada, na disciplina de Sobrevivência Policial, poderiam ser


realizados, também, exercícios que simulassem mais fidedignamente situações reais, que
conduzisse o estresse do agente a patamares mais elevados. Também poderiam ser aplicadas
técnicas e tecnologias utilizadas pelas policias mais modernas do mundo como uso de
23

aparatos que simulassem dinâmicas mais facilmente encontradas no cotidiano do policial,


tanto em serviço, quanto fora dele.

Nas aulas da disciplina de Sobrevivência Policial, haveria, inclusive, treinamentos para


momentos em que o servidor estivesse fora do trabalho, ou seja, desuniformizado. Assim, os
saques rápidos de arma de fogo seriam realizados a partir de coldres velados. Poderia haver,
também, treinamentos feitos no interior de veículos, simulando assaltos à mão armada.

Frisa-se que a técnica de saque rápido de arma de fogo em coldres velados é completamente
diferente da realizada em saque a partir de coldres ostensivos (geralmente colocados e
ajustados sobre a coxa ou na cintura), daí a importância de existir treinamentos específicos
para cada caso.
24

2.4 - Aspectos Pedagógicos

A globalização torna o acesso à informação cada vez mais democrático. A educação e o


ensino das diferentes disciplinas, nos Cursos de Formação Policial, estão sofrendo mudanças
quanto às técnicas e às formas de aumentar e facilitar o aprendizado. Hoje, fala-se muito da
interdisciplinaridade, que procura transmitir o conhecimento de forma a haver conectividade
entre os assuntos das mais variadas disciplinas.

As transformações que ocorrem no sistema de ensino nas Academias de Polícia são muito
importantes para a formação dos alunos (aspirantes ao cargo de policial). Rotineiramente, os
Cursos de Formação têm que se adaptar e mudar as disciplinas e as técnicas de ensino de
forma a atender as necessidades internas das corporações e as demandas que a sociedade
exige da segurança pública. Para Hamada (2013, p.129),

Ao analisar o desenvolvimento das mudanças em termos educacionais da Polícia Militar ao longo dos
anos, foi possível verificar como a demanda pela formação do policial militar teve a influência das
dimensões social, política e econômica em cada fase de transformação do Brasil. Nesse contexto,
observa-se que as transformações vividas pela sociedade trazem significados nas práticas docentes à
medida que novas demandas são apresentadas no momento político, social ou econômico vivido em cada
passagem histórica.

Observa-se que uma das maiores preocupações dos responsáveis pela formação dos policiais,
no que diz respeito à organização curricular e à descrição das relações pedagógicas caminha,
gradativamente, para a construção de uma polícia cidadã voltada para a proteção da sociedade
com respeito à lei e aos direitos humanos.

É normal haver mudanças pontuais em alguns aspectos pedagógicos, seja na base curricular,
seja no próprio método de ensino a fim de atender alguma nova situação que requeira maior
atenção na preparação dos alunos. Para Hamada (2013, p.141), “a ocorrência de mudanças
vincula-se usualmente à necessidade de dar respostas imediatas às demandas por mais
segurança, diante de episódios de repercussão ocorridos na sociedade”.

Do mesmo modo, frequentemente, são quebrados paradigmas e novas teorias científicas e


educacionais surgem de maneira a redirecionar o novo conhecimento científico. Nesse
contexto, Morin (2011, p.20) destaca muito bem em sua obra.

O desenvolvimento do conhecimento científico é poderoso meio de detecção dos erros e de luta contra as
ilusões. Mesmo assim, os paradigmas que controlam a ciência podem desenvolver ilusões, e nenhuma
teoria científica está imune ao erro para sempre. Além disso, o conhecimento científico não pode tratar
sozinho dos problemas epistemológicos, filosóficos e éticos.
A educação deve dedicar-se, por conseguinte, à identificação da origem dos erros, ilusões e cegueiras.
25

Nesse sentido, diante do atual cenário caótico do grande número de mortes de policiais, tanto
em serviço quanto fora dele, torna-se, imprescindível, mudanças em alguns aspectos na
preparação dos alunos nas Academias de Polícia a fim de melhor prepará-los para enfrentar a
criminalidade de modo a preservar suas integridades físicas. A inclusão do ensino da
disciplina de Sobrevivência Policial nos Cursos de Formação Policial e nos Cursos de
Capacitação Continuada no âmbito das instituições de segurança vai ao encontro dessas
mudanças favoráveis e pode ser uma ótima solução na tentativa de diminuir o número de
mortes de policiais.

Assim, a preocupação com a formação do agente de segurança não deve ir de encontro com as
teorias de produção de conhecimento e de aprendizagem. Por isso, ela deve se pautar,
também, em mudanças efetivas em relação a novas técnicas e teorias que auxiliem na
preservação da vida do policial.

Não seria escopo da disciplina de Sobrevivência Policial ensinar o certo e o errado, nem dizer
o que fazer ou não fazer diante das inúmeras situações de violência que podem vir a acontecer
perante os policiais, em serviço ou fora dele. O objetivo da matéria seria dar embasamento
teórico e prático aos alunos para que eles próprios tenham discernimento de qual a melhor
atitude adotar conforme cada caso. Nesse sentido, Freire (2015, p.47) relata que “ensinar não
é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção”.

O objetivo da disciplina de Sobrevivência Policial no âmbito das Instituições de Segurança


Pública não se resumiria, exclusivamente, que os ensinamentos recebidos pelos alunos
ficassem restritos aos ambientes dos cursos. Mas sim, criaria neles o hábito de atitudes
salutares, preventivas e protetoras que seriam aplicadas no cotidiano pelos agentes.

A responsabilidade e a função do instrutor da disciplina de SP seriam de fundamental


magnitude, uma vez que, mais importante que ensinar a matéria e ministrar as técnicas
operacionais, seria aguçar o lado crítico do aluno de analisar as situações impostas pela
atividade policial e sanar os problemas da melhor maneira possível de modo a garantir sua
integridade física, em situações de violência, inclusive negando a ação e assumindo a
passividade.

A proposta seria que os professores de SP não fossem meros repetidores de conteúdo e


leitores de slides de retroprojetores, mas tivessem, também, a função de ensinar e de desafiar
o aluno a pensar certo. Para Freire (2015, p.28),
26

Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz
parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. Daí a
impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um
repetidor cadenciado de frases e de ideias inerte do que um desafiador.

Hoje, na maioria dos cursos de formação policial é dada uma ou duas aulas, de forma bastante
superficial, de Sobrevivência Policial, dentro das disciplinas de Armamento e Tiro ou de
Técnicas de Abordagem Policial. A carga horária é muito reduzida e, sequer, permite o
aprofundamento e o treinamento adequado, tanto da teoria quanto da prática.

A disciplina de Sobrevivência Policial, para um melhor aproveitamento, poderia ser dividida


em duas partes. Na primeira delas – teórica, ministrar-se-iam diversos conteúdos didáticos
importantes como dados estatísticos de tiroteios envolvendo policiais e criminosos, principais
dinâmicas de confrontos armados, estudo de casos, teorias da autodefesa, dicas,
comportamentos, atitudes e hábitos importantes que propiciariam a preservação da vida dos
operadores de segurança pública. Na segunda parte da disciplina, haveria a prática de
treinamentos operacionais adequados à realidade como saque velado rápido de arma de fogo
com disparos reais e treinamentos em interiores de automóveis simulando assaltos à mão
armada. Para tornar a disciplina mais próxima da realidade, seriam utilizados equipamentos
conhecidos como airsoft, dinâmicas de paintball e seriam realizados exercícios com uso de
simuladores e aparatos com recursos audiovisuais imitando casos e cenas reais.
27

2.5 - Apresentação da Disciplina de Sobrevivência Policial

2.5.1 Diferenciação entre as disciplinas de SP e de AMT

As disciplinas de “Sobrevivência Policial” (SP) e de “Armamento e Tiro” (AMT) não se


confundem. Para a realização das aulas práticas de SP seria necessário ter conhecimentos de
AMT.

Embora ambas tenham treinamentos com disparos de armas de fogo, a primeira versaria de
aulas teóricas e práticas que auxiliariam o operador de segurança pública a formar um
arcabouço de ferramentas com atitudes, comportamentos, hábitos e técnicas favoráveis à
preservação da vida do policial, tanto em serviço quanto fora dele, enquanto que a segunda
trata de teorias, práticas e técnicas relacionadas à munição e ao manuseio de armas de fogo,
propriamente dito.

Em regra geral, a disciplina teórica de Armamento e Tiro da maioria das instituições de


segurança pública é dividida da seguinte forma:

a) Regras de Segurança e Condutas no Estande;

b) Conceito de Arma de Fogo;

c) Classificação de Arma de Fogo;

d) Calibres de Projéteis;

e) Munições;

f) Desmontagem e montagem das armas de fogo adotadas pelos Departamentos;

g) Nomenclatura de peças das armas de fogo adotadas pelos Departamentos;

h) Procedimentos de municiar, carregar e alimentar;

i) Fundamentos do Tiro;

j) Posições de Tiro;

k) Troca rápida e troca tática de carregadores;

l) Manutenção no equipamento;

m) Balísticas;

n) Poder de Parada;
28

o) Baixa Luminosidade;

p) Incidentes de Tiro, Acidentes de Tiro e Tiro Acidental;

q) Classificação e características das armas – curtas e longas - adotadas pelos


Departamentos.

Já na parte prática da disciplina de AMT ocorrem exercícios com disparos de arma de fogo
utilizando as técnicas aprendidas nas aulas teóricas, dentre outras.

2.5.2 Elementos da SP

A Sobrevivência Policial é formada por cinco elementos (estado de alerta, treino mental e
físico, evitar a rotina e o excesso de confiança, conhecimento e comportamento policial e tiro)
que devem convergir e atuar, necessariamente, em conjunto.

1. Fazer um esforço para permanecer em alerta. O estado de alerta reduz a possibilidade de o policial
ser surpreendido;
2. Treinar mentalmente com base nos acontecimentos vivenciados por outras pessoas. Como a mente
aproxima a fantasia da realidade, esse tipo de treino é uma ferramenta eficaz, e com a qual o policial
pode “vivenciar” situações perigosas sem se expor aos riscos de um confronto real;
3. Evitar a rotina e o excesso de confiança, que são fatores presentes na quase totalidade das ocorrências
envolvendo policiais;
4. Saber o que fazer quando a violência chegar;
5. Aplicar as técnicas de tiro e de comportamento policial para garantir o sucesso no momento decisivo.
(Caderno Didático, I Curso de Instrutor de Tiro, p.3).

2.5.2.1 Estado de Alerta

O estado de alerta é muito importante para a preservação da vida do policial. Ocorre quando
ele está prestando atenção nas pessoas e nos acontecimentos à sua volta. É a capacidade de
observar as pessoas e as situações visando à antecipação ao perigo que está à espreita.

A comunicação (intencional ou não) das pessoas é feita de três formas: escrita, vocal e não
verbal.

Segundo Albert Mehrabian, professor e psicólogo americano, 7% da habilidade para comunicar essa
intenção se baseiam em palavras escritas, 38% ocorrem por meio vocal (incluindo tom de voz, inflexões e
outros sons) e 55% por meio não verbal (gestos e movimentos). A maioria dos pesquisadores concorda
que o meio verbal é usado para transmitir informações e o não verbal para negociar atitudes e sentimentos
entre as pessoas e como substituto da mensagem verbal. (OLIVEIRA, 2013, p.41 apud HOLTZ).

Essas informações tornam-se importante, pois uma vez que o policial compreende esses
mecanismos, ele pode identificar possíveis suspeitos (através da comunicação não verbal, por
29

exemplo) de cometerem violência e adotar medidas preventivas para evitar que ela se
concretize.

Sabe-se que é impossível a pessoa permanecer 100% alerta 100% do tempo, por isso é
necessário que ela avalie quais momentos da vida requerem um nível de atenção maior.

Para Oliveira (2013, p.46) “estratégias de alerta se concentram primariamente na fase inicial
do encontro, nas dicas e nos sinais que você detecta e reconhece e que lhe permitem se
antecipar ao evento”.

O estado de alerta, segundo o Caderno Didático do I Curso de Instrutor de Tiro Espen/Depen


(2013, p.05) pode ser escalonado e dividido em segmentos representados por cores para que o
agente de segurança pública possa reconhecer, objetivamente, o nível de alerta em que deve
estar.

a) Condição Verde: o agente está totalmente desatento em relação às pessoas e aos


acontecimentos a sua volta. O policial fica completamente vulnerável e a reação bem
sucedida resta prejudicada. A condição verde deve ser evitada pelos operadores da
segurança pública.

b) Condição Amarela: compreende um pequeno estado de alerta. São situações


corriqueiras que requerem certa atenção, entretanto, não indicam grande perigo.

Trata-se somente de estar atento ao que se passa ao seu redor para ser capaz de identificar
algum comportamento que possa ser traduzido como um sinal de perigo. Se este for detectado,
então o policial deve escalar sua condição defensiva aumentando o nível de alerta em relação à
pessoa observada e considerar uma mudança de comportamento para não se tornar vítima,
sequer em potencial. (Caderno Didático, I Curso de Instrutor de Tiro, p.3)

c) Condição Laranja: há uma ameaça potencial imediata e é preciso estar preparado para
tomar uma decisão e reagir. O policial percebe que algo não está certo, porém não
sabe exatamente o que está errado.

d) Condição Vermelha: existe uma ameaça definida. Segundo o Caderno Didático, I


Curso de Instrutor de Tiro Espen/Depen (2013, p. 7), “Não significa que a pessoa que
representa esta ameaça irá atacar, mas indica que se a situação crítica realmente se
confirmar e o policial não tiver tomado uma decisão, ele poderá ser vitimado”.

e) Condição Preta: é a situação crítica e que deve ser evitada. A abordagem do criminoso
teve início e o conflito é iminente. Pode representar o confronto em si.

Tais situações de confronto impõem aos envolvidos alterações corporais e mentais que incluem:
perda da visão periférica (visão em túnel), perda da visão em profundidade (dificulta para saber
30

se o agressor está perto ou longe), perda de foco (incapacidade de enxergar o aparelho de


pontaria da própria arma), diminuição da capacidade auditiva, distorções na percepção do tempo
(sensação de câmera lenta) e do espaço, dificuldade de memória, perda das habilidades motoras
fina e complexa (fundamentais para o saneamento de problemas da arma) e dificuldade de
raciocínio lógico (dificultando o comportamento tático policial). (CADERNO DIDÁTICO, I
CURSO DE INSTRUTOR DE TIRO. 2013, p.8)

Caso o policial esteja na condição preta, certamente ele falhou na prevenção e terá que buscar
recursos para sua autodefesa, seja negando conhecimentos e assumindo a passividade, seja
voltando suas ações para agressão real.

2.5.2.2 O preparo mental e físico

Preparo mental é o condicionamento prévio baseado na imaginação. O policial imagina uma


situação na qual está sendo vítima da violência, analisa a ocorrência e executa procedimentos
de forma a sobreviver ao confronto. Segundo o Caderno Didático de Instrutor de Tiro (2013,
p.11), “Como a mente não consegue facilmente diferenciar a fantasia da realidade, o
treinamento mental é uma ferramenta eficaz, sempre disponível e com a qual é possível
“vivenciar” situações perigosas sem se expor aos riscos de um confronto real”.

O preparo físico corresponde na prática de atividade física que possa manter e melhorar o
condicionamento e a saúde. Além disso, pode desenvolver a autoestima e ajudar nas situações
em que a forma física prolonga a capacidade de resistir às adversidades e continuar em
condições de lutar por mais tempo.

2.5.2.3 O perigo da rotina

Devido às atribuições de risco inerentes à profissão, o policial tem a tendência de, com o
passar do tempo, acostumar-se com o perigo das atividades corriqueiras como as barreiras
policiais, as buscas e apreensões, as prisões, as entregas de intimações, os interrogatórios e as
conduções de presos. Muitas vezes, nada de anormal acontece e o agente de segurança acaba
por diminuir os mecanismos de autodefesa e, consequentemente, o estado de alerta.
31

2.5.2.4 Comportamento Policial e Tiro

O policial deve buscar comportamentos salutares, que auxiliam na preservação de sua vida. A
seguir, listam-se alguns desses hábitos e comportamentos importantes:

a) Manter-se atualizados nas técnicas policiais. Evitar perder cursos de atualização e


capacitação ministrados no âmbito das instituições de segurança. Caso as corporações
não ofereçam determinados cursos que o agente considere importante para sua
segurança é importante que busque capacitações privadas. Cada um é responsável pela
própria sobrevivência;

b) Procurar se aprimorar com leituras de artigos, livros e sites de internet que tratem de
assuntos policiais;

c) Conversar com policiais que já tenham participado de confrontos armados. Saber e


entender como foi a dinâmica do tiroteio é importante para o treinamento mental;

d) Avaliar os treinamentos realizados por contra própria, se estão coerentes e convergem


para a realidade;

e) Entender o medo. Ele não é um tipo de neurose que precisa ser eliminado. O medo é
uma emoção utilizada pela natureza para informar que a vida está em perigo e que é
momento de tomar uma atitude. Ele produz uma mudança química e compele,
instintivamente, o policial a lutar, fugir ou obedecer aos criminosos a fim de salvar sua
vida;

f) Rever situações de riscos, analisando as ações corretas e as erradas de modo a tornar-


se um aprendizado importante para possíveis ocorrências futuras;

g) Conhecer as dinâmicas, estatísticas e tendências do crime e dos criminosos. Quanto


mais sintonizado o policial estiver com a realidade, menores as chances de o policial
ser pego de surpresa;

h) Desenvolver o desejo e a vontade de sobreviver em qualquer tipo de situação


desfavorável. Há inúmeros relatos de policiais que foram gravemente feridos,
entretanto, não desistiram e lograram-se vencedores em confrontos com trocas de tiro;

i) É importante ter em mente que nem todos os tiros recebidos pelos policiais serão
incapacitantes ou letais. É preciso ter noção de que muitos tiros são pegos “de raspão”
32

e quase não interferem na saúde do policial. Portanto, os agentes têm que seguir em
frente e continuar com o confronto;

j) A prática de atividade física para sobrevivência policial, como acima mencionado, é


imprescindível. Agentes bem preparados têm maiores chances de saírem vencedores
em confrontos que exijam força, velocidade ou resistência, por exemplo;

k) É importante o policial conhecer, pelo menos, as técnicas básicas e simples de defesa


pessoal;

l) É fundamental o policial realizar treinos (em seco e com disparos reais), periódicos,
com arma de fogo;

m) O policial tem que saber que o perigo vem das mãos dos criminosos. Portanto,
observar, constantemente, as mãos. O bandido deve ser algemado com as mãos para
trás. As algemas devem ser sempre travadas;

n) O policial, ao entrevistar uma pessoa, não deve colocar as mãos no bolso ou


permanecer de braços cruzados. Isso pode dar a impressão de que o agente está
relaxado e negligente. Por isso, as mãos devem estar disponíveis o mais rápido
possível para se defender;

o) Os procedimentos de revista e de busca pessoal devem ser feitos nos mínimos


detalhes;

p) É importante o policial ter o hábito de sempre levar consigo, no trabalho ou fora dele,
carregadores sobressalentes de pistola;

q) Não é aconselhável o policial estacionar o veículo e permanecer dentro dele, pois se


torna alvo fácil. Recomenda-se, esperar fora e longe do carro, apesar de ser
desconfortável;

r) A postura e o comportamento do policial podem alterar a percepção do criminoso em


relação à decisão de atacar ou não o agente. Por isso, é importante o operador da
segurança pública adotar sempre postura firme e nunca ser negligente em suas
atitudes.
33

2.5.2.5 Conhecimento

É importante o policial saber o que fazer quando a violência aparecer. Por esse motivo é
importante que ele tenha um conhecimento vasto sobre as dinâmicas dos confrontos. A
disciplina proposta, nesse quesito, poderia subsidiar os alunos com dados estatísticos sobre
confrontos reais, fazendo-se, por exemplo, estudos de casos.

Infelizmente, não há, no Brasil, muitos estudos sobre tiroteios envolvendo policiais e
criminosos. Conquanto haja algumas pesquisas científicas sobre dados estatísticos de
dinâmicas de confrontos, ainda faltam maiores investimentos, por parte do governo, nesse
sentido, a fim de fornecer informações mais contundentes para que os policiais possam usar
como referência de estudo e de conhecimento.

Um importante estudo foi feito pelo FBI (Federal Bureau of Investigation – Departamento
Federal de Investigação Norte-Americano) entre os anos de 1993 e 2002 sobre confrontos
armados, em que participaram policiais norte-americanos, em serviço, de diversos
departamentos de Polícia, inclusive do próprio FBI. Esse projeto possibilitou a elaboração de
Táticas de Sobrevivência Policial para confrontos armados, com o principal objetivo de
modificação de alguns conceitos e técnicas de treinamento policial, buscando diminuir o
número de agentes mortos todos os anos no desempenho de suas atividades, ou mesmo
durante a folga. Apesar de esta pesquisa ser antiga e ter sido subsidiada com informações
obtidas em tiroteios em outro país (cuja realidade da segurança pública é bem diferente da
encontrada no Brasil), ela serve de importante fonte de consulta e de confirmação de dados
estatísticos que também ocorrem nos confrontos envolvendo policiais brasileiros.

A seguir são listadas as informações mais importantes obtidas por esse valioso estudo,
retiradas do Caderno Didático do I Curso de Instrutor de Tiro Espen/Depen (2013, p.22):

a) Dos 591 policiais mortos por armas de fogo, 19% (111 casos) tiveram suas armas
tomadas, e destes, 41% (46 policiais) foram mortos por elas;

b) Dos 636 policiais mortos intencionalmente, 32 % estavam realizando prisões, 17%


investigando pessoas ou situações suspeitas, 16% estavam atendendo chamadas de
distúrbios (brigas em família, brigas em bares, pessoas armadas), 15% estavam
realizando barreiras ou buscas em veículos, 15% foram atacados em emboscadas, 3%
estavam transportando presos ou lidando com eles e 2% estavam lidando com pessoas
mentalmente perturbadas;
34

c) Dos 591 policiais mortos por arma de fogo, 50% estavam entre zero e 1,5m de
distância dos agressores, 21% estavam entre 1,8m e 3m, 11% entre 3,35m e 6m, 8%
entre 6,4m e 15m e 8% estavam a mais de 15m dos agressores. Nota-se que 71% dos
casos a distância entre o agressor e o policial era de até três metros.

d) Destas 591 mortes de policiais por arma de fogo, 39% foram causadas por ferimentos
de tórax, 36% por ferimentos na parte frontal da cabeça, 14% na parte detrás da
cabeça, 7% nas costas, 3% abaixo da cintura e 1% na região lombar. Diante destes
dados, percebe-se a importância do uso do colete balístico.

e) Aproximadamente 2/3 dos confrontos armados, ou seja, 66%, ocorreram em ambientes


de baixa luminosidade. Por isso, faz-se necessário treinamento com técnicas de uso de
lanternas táticas.

f) O tempo médio dos confrontos analisados foi de 3segundos (do primeiro ao último
tiro);

g) Foram efetuados, em média, três disparos por confronto (contando tiros dos policiais e
dos criminosos);

h) Em quase todos os casos, quem deu os disparos iniciais foi o vencedor do confronto.

2.5.3 Componentes da autodefesa

O Agente de Polícia Federal, Humberto Wendling Simões de Oliveira, é um dos poucos


especialistas do assunto de Sobrevivência Policial no Brasil. Em sua obra (Autodefesa: Contra
o Crime e a Violência – Um guia para Civis e Policiais) ele relata e explica muito bem os sete
componentes da autodefesa.

2.5.3.1 - Psicologia de sobrevivência

Para Oliveira (2013), o policial tem que ter a noção exata e assumir de forma incondicionada
de que ele é o responsável pela sua própria segurança e ela tem que ser feita por meio de
treinamento mental e físico. O agente de segurança deve desenvolver a habilidade de
permanecer em constante estado de alerta para observar as pessoas e as situações que lhe
podem causar perigo. Além disso, um dos itens da psicologia de sobrevivência é o
35

gerenciamento do medo, ou seja, ele é intrínseco ao ser humano e tem que ser usado como
elemento positivo para garantir a preservação da vida. O policial deve estar de prontidão para
reagir rápido e de modo eficaz quando for vítima de situações críticas. Um dos componentes
mais importantes é o entendimento de que a autoestima tem papel fundamental na
sobrevivência do agente, tanto nas ações durante períodos críticos como na seleção da vítima
pelo criminoso.

2.5.3.2 - Inteligência de sobrevivência

Segundo Oliveira (2013), Inteligência de Sobrevivência é o conhecimento e o entendimento


dos confrontos ocorridos e, a partir destes, criar habilidades de reconhecer, evitar ou
responder efetivamente à violência. Para isso, o policial deve obter informações sobre
estatísticas e tendências do crime e da violência, por meio de livros, revistas, jornais, sites e
outros.

2.5.3.3 - Entendendo a seleção da vítima

A seleção da vítima é uma das etapas para que haja a violência. Oliveira (2013) explica que o
delinquente escolhe sua vítima dentre tantas possíveis a que ele se sente mais confiante em
não ver frustrado seu plano. Desse modo, o policial deve possuir alguns itens importantes que
ajudam a evitar que ele se torne vítima fácil como postura adequada, autoestima elevada e
movimentos firmes.

2.5.3.4 - Reconhecendo o Comportamento Predatório

Oliveira (2013) ensina que apesar de os delinquentes não se diferenciarem fisicamente das
pessoas de bem, o agente pode reconhecê-los por meio da intenção e do comportamento. A
maior parte da comunicação é não verbal. O autor explica, ainda, que existem,
essencialmente, dois tipos de criminosos de que se deve ter conhecimento: o predador e o
oportunista. O primeiro é metódico em sua abordagem, pois escolhe o local, seleciona e ataca
36

a vítima adequada. Já o segundo, ao contrário do primeiro, é emocionalmente instável e


inclinado a explosões de violência. É importante o policial reconhecer as seleções predatórias
e dicas comportamentais que identificam criminosos em potencial.

2.5.3.5 - Táticas Preventivas

São os passos que o agente de segurança pode dar para reduzir a probabilidade de se tornar
vítima de um crime, em serviço ou fora dele. Consoante Oliveira (2013) as pessoas podem
incrementar suas próprias táticas de autodefesa, de acordo com o estilo de vida de cada uma.

2.5.3.6 - Teoria da Opção de Resposta

Diante de situações de confrontos iminentes, Oliveira (2013) estabelece que existem cinco
opções de respostas relevantes: obediência, desescalada, intimidação, fuga e enfrentamento. A
escolha depende das circunstâncias e da natureza do confronto. O policial deve ter habilidades
em cada uma das opções e deve saber, também, quando cada uma é aplicável.

2.5.3.7 - Método de treino

Oliveira (2013) orienta o policial a revisar e praticar os conceitos de autodefesa nas atividades
diárias, pois isso cria hábitos seguros que podem reduzir as chances de ser abordado e atacado
por um criminoso.

2.5.4 Prevenção

Segundo especialistas, para os policiais, em serviço ou fora dele, garantirem a preservação de


suas vidas, 90% se dá com a prevenção, 5% com a reação e 5% com a sorte. Dessa forma as
37

ações devem ser voltadas para a prevenção. O sucesso para sobrevivência é aprender e aplicar
comportamentos e técnicas para evitar o perigo.

Táticas preventivas são passos que se dão para reduzir a probabilidade de se tornar vítima de um crime.
Elas envolvem a redução das circunstâncias que favorecem o criminoso e aumentam aquelas que
protegem você. Contudo, essa lista de “o que fazer e o que não fazer” pode estar na casa das centenas.
Portanto, é improvável que você lembre ou consiga aplicar todas elas. E não é preciso. Apenas pelo
entendimento dos princípios por detrás das táticas preventivas se pode melhorar sua segurança. Você
ainda pode incrementar suas próprias táticas de autodefesa. Armado com esse conhecimento e com o
próprio bom senso, é possível incorporar as táticas com as quais se sente confortável e que possuem
relação com o seu estilo de vida. (OLIVEIRA, 2013, p.19)

A prevenção bem sucedida começa pela detecção do suspeito, que é feita pela análise de uma
série de indícios que o delinquente costuma expor (de forma não intencional) como, por
exemplo, a linguagem corporal. O próximo passo é evitar que o criminoso se aproxime, pois,
na maioria das vezes, as situações de violência ocorrem a curta distância.

Procurar o não isolamento pode ser um aliado importante para ajudar nas táticas preventivas.
Os criminosos tendem a escolher suas vítimas de forma que eles não sejam percebidos ou
testemunhados por outras pessoas. Dessa forma, o policial deve evitar andar em locais
isolados.

Os assaltantes escolhem suas vítimas dentre as que lhes causarão menos problemas e as que
eles terão mais chances de saírem vitoriosos. Os delinquentes procuram pessoas complacentes
e obedientes, normalmente, com aspectos de perdedores, cabisbaixos e medrosos. Por isso, a
postura do policial deve ser firme e enérgica, com cabeça erguida e olhar atento a todos os
lados.

2.5.5 Janela de Oportunidade

De modo geral, “Janela de Oportunidade” para Sobrevivência Policial pode ser definida como
o espaço de tempo que o policial dispõe, perante uma situação de violência, para a sacar sua
arma e efetuar disparo(s) no(s) oponente(s) a fim de fazer cessar a injusta agressão.
Geralmente, a Janela de Oportunidade dura frações de segundos.

O momento em que o policial resolve sacar a sua arma e confrontar-se com o(s)
delinquente(s), normalmente, é o momento mais crítico e sensível de toda a dinâmica do
38

tiroteio, uma vez que a desvantagem para o agente de segurança é muito grande, pois o
criminoso já está com sua arma em punho e qualquer vacilo do policial pode ser fatal.

Geralmente, a Janela de Oportunidade ocorre em situações nas quais o policial encontra


brechas no comportamento e nas atitudes do criminoso. Pode acontecer em várias ocasiões:
enquanto o bandido se distrai com alguma coisa, quando o delinquente conversa com seu
comparsa, quando o transgressor se abaixa para pegar algo que caiu no chão ou quando fala
no telefone celular com alguém, por exemplo.

Se o policial resolver reagir e partir para o confronto armado, é importante ele esperar surgir o
momento exato da Janela de Oportunidade para sacar a sua arma e efetuar os disparos. Muitas
vezes, acontece de os agentes não esperarem o momento ideal, sacam suas armas no tempo
errado e tornam-se vítimas fatais da violência praticada pelos criminosos.

2.5.6 Negar conhecimento pode ser a salvação

Negar conhecimento e assumir o estado de passividade pode ser a salvação em vários casos.
Diante de confrontos nos quais não se sentem preparados em combatê-los, a melhor saída para
os agentes pode ser a não reação. Percebe-se que muito policiais estão sendo assassinados,
fora do trabalho, por reagirem a assaltos os quais presenciam.

Inúmeras vezes, o policial analisa erroneamente o cenário do assalto por achar que há apenas
um bandido e quando dá voz de prisão a este, vem outro (que se passava por uma das
vítimas), por trás do agente e o mata, covardemente. Outras vezes, ainda, os policiais não têm
a capacitação técnica necessária para reagir de forma eficaz, isto é, não têm o treinamento
adequado. Nesses casos, a melhor opção é negar conhecimento e assumir o estado de
passividade.

Não é vergonha para nenhum operador optar por não reagir àquela situação de violência a
qual presencia e não se sente seguro em combater de forma exitosa. O importante é o policial
sair vivo e voltar com saúde para sua família.

Vários policiais têm morrido, fora de serviço, devido a reações mal sucedidas, principalmente,
a assaltos. Por isso, é importante o agente analisar todo o cenário e somente reagir caso se
sinta preparado e extremamente confiante em ser o vencedor do provável confronto com os
bandidos.
39

Muitas vezes, a melhor saída para o policial, na folga, é não reagir – de imediato - à situação
de violência pela qual ele se defronta.

Muitos policiais têm vocação para o trabalho e um sentimento de que seu dever é proteger os inocentes
sob quaisquer circunstâncias. Esses policiais têm dificuldades em imaginar um crime em andamento, e
simplesmente não fazer nada para impedir. Outras vezes, são os moradores que percebem algo estranho e
chamam o vizinho policial, e na impossibilidade de recusar o pedido de ajuda ele acaba agindo sozinho e
desprotegido. Nesses casos, é possível ajudar, mesmo nos momentos de folga, para tanto basta fazer como
nas operações de inteligência: obter dados sobre os suspeitos, seus veículos, onde estão, para onde vão,
mas de forma velada. Ligar para a polícia e pedir apoio, enquanto acompanha os suspeitos e coleta outras
informações. (Caderno Didático, I Curso de Instrutor de Tiro Espen/Depen, p.25).

2.5.7 Reagir ou não reagir?

Infelizmente, não é escopo deste trabalho responder (de forma objetiva) essa pergunta que
tantas vezes é feita e não se encontra resposta em lugar algum. E não seria, também, objetivo
da disciplina de Sobrevivência Policial responder esse questionamento.

A disciplina de SP se atentaria a fornecer subsídios importantes aos agentes de segurança


pública com informações de estatísticas de tiroteios, teorias, doutrinas, estudos de casos,
comportamentos, hábitos, dicas, atitudes e treinamentos operacionais que contribuiriam na
formação de um arcabouço de ferramentas úteis à preservação da vida do agente. E a partir
daí, cada policial, no seu âmago, poderia analisar a situação de violência do caso concreto e
optaria por reagir ou não.

Se o agente da segurança pública está na dúvida se reage ou não a uma situação real de
violência, inevitavelmente, ele falhou na etapa da prevenção e foi surpreendido.

O policial, antes de reagir, deve analisar e levar em consideração uma série de fatores. Dentre
eles:

a) Quantidade de criminosos presentes no cenário;

b) Possibilidade de haver criminosos se passando por vítimas;

c) Calibre das armas de fogo dos bandidos;

d) Possibilidade de haver mais policiais que auxiliariam na reação;

e) Intenção de violência dos delinquentes;

f) Estado emocional (nervosismo) dos bandidos;

g) Objetivo dos criminosos (roubar, matar, estuprar, etc.);


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h) Bens jurídicos violados.

Diante dos itens acima, conclui-se que a resposta de reagir ou não tem que ser analisada,
cuidadosamente, pelo policial. Caso, este perceba, por exemplo, que o objetivo do assaltante
seja levar o seu veículo particular e que não demonstre nenhuma atitude mais agressiva, talvez
a melhor solução, nesse caso, seja entregar a chave do automóvel. Seguros de veículos são
feitos exatamente para essas ocasiões. É um risco muito grande tentar reagir e ser assassinado
por causa de um bem material.

Da mesma forma ocorre quando outra pessoa está tendo seu telefone celular roubado, por
exemplo. Será que vale a pena o policial (à paisana) reagir a esse assalto e assumir o risco de
ser assassinado ou de expor o dono do telefone a uma violência maior? Acredita-se que não
compensa reagir nessa situação, pois o valor do aparelho celular é irrisório perto da vida do
policial ou da vítima.

Por outro lado, apresenta-se uma situação crítica e sensível nos casos em que o criminoso
percebe que a vítima é um policial (que está de folga). Dados estatísticos comprovam que
muitos bandidos matam a vítima somente pelo fato de ela ser agente da lei. Nesses casos, o
policial deverá avaliar se o estado de passividade é a melhor opção. Talvez a reação possa ser
a salvação.

Há alguns cenários clássicos em que a única opção do policial, vítima da violência, é reagir.
Não há outra opção. Se ele não reagir, inevitavelmente, será morto. Um exemplo extremo é a
ocasião na qual os criminosos já identificaram a vítima como sendo policial, já o colocaram
no porta-malas do veículo, levaram-no para um matagal, é noite e o agente ouve a conversa
entre os bandidos de que será assassinado. Aqui, não há alternativa: reagir é a única opção.

Suponha a situação hipotética de um assalto a um estabelecimento comercial. Nele há dez


vítimas e dois assaltantes. Dentre as vítimas há um policial fora de serviço (sem uniforme) e
armado (arma colocada veladamente na região da cintura). Caso este agente perceba que os
bandidos estejam passando a mão na região da cintura das outras vítimas atrás de uma
possível pessoa armada entre elas, é bem provável que a melhor saída, para o policial, seja
esperar pela janela de oportunidade e reagir, pois se os delinquentes o identificarem,
provavelmente, será morto.

Uma regra muito clara é a seguinte: caso o policial tenha convicção de que o mais seguro para
sua sobrevivência é não reagir nos momentos de folga, torna-se desaconselhável que ele saia
armado de casa ou que leve consigo objetos que possam identificar sua profissão, como a
41

carteira funcional, por exemplo. A opção de reagir ou não a um assalto começa a ser decidida
a partir de reflexões ocorridas ao longo do tempo por meio de análises de dados estatísticos de
tiroteios envolvendo policiais nas folgas e/ou também de quanto o policial se considera
realmente apto e bem capacitado para sair vencedor de um confronto armado.

2.5.8 Comportamentos e atitudes positivas

A seguir apresentam-se alguns comportamentos, dicas, hábitos e atitudes salutares que podem
contribuir na preservação da vida dos policiais. Por ser uma lista exemplificativa, há, ainda,
inúmeros outros itens que auxiliam na segurança do agente de segurança pública.

1 – Escolher bem o local onde vai morar. Sabe-se que o salário do policial está aquém do
apropriado. Entretanto, é importante que se invista em uma boa moradia, de preferência em
bairros bem localizados e frequentados, com pouca incidência de violência na região. Se
possível que haja serviço de portaria ininterrupta ou vigilância privada.

2 – Selecionar bem as pessoas com quem conviver e locais onde frequentar.

Se você vive de certo modo ou associado a certos tipos de pessoas (como garotas de programa das
periferias), seu grau de risco aumenta. Por exemplo, se você frequenta boates noturnas, botecos, áreas de
prostituição, chega bêbado em casa, namora dentro do carro ou faz parte de torcidas organizadas, então
sua chance de ser vitimado um dia é grande. Crime, violência e suas infelizes consequências são o
resultado natural de modos particulares de pensamento e comportamento. (OLIVEIRA, 2013, p.12)

3 – Antes de entrar com o veículo na garagem da residência, observar se há alguém suspeito.


São inúmeros os casos de bandidos que se aproveitam do tempo em que o portão eletrônico
está abrindo ou fechando para anunciar o assalto.

4 – Caso tenha a possibilidade de manobrar o veículo dentro da residência ou do condomínio,


prefira sair com o veículo de frente a sair de marcha ré.

5 – Evitar sair uniformizado de casa. Muitos vizinhos podem ser maus elementos e esperam
uma oportunidade para cometerem alguma violência contra o agente ou sua família. Do
mesmo modo, o guardador de carro da rua não precisa saber que há policial morando naquele
endereço.

6 – Ao contratar serviços terceirizados para serem feitos nas residências, é importante o


policial evitar revelar sua profissão. Alguns desses funcionários (eletricista, pintor, encanador,
pedreiro, etc.) podem estar imersos na criminalidade e, por exemplo, tentar furtar a arma do
policial ou cometer algum ato de violência contra ele ou contra sua família.
42

7 – Preferir segurar objetos primeiro com a mão de “apoio” e deixar a mão “forte” disponível
caso tenha que efetuar um saque rápido de arma de fogo. É importante, caso o policial seja
canhoto, por exemplo, atender ao telefone com a mão direita ou segurar as sacolas do
supermercado com a mão direita, deixando assim, a mão esquerda desocupada para realizar o
saque rápido. Quando estiver em serviço, o agente deve ter o hábito de pegar os documentos
dos usuários e a lanterna com a mão de apoio. O policial não deve titubear de soltar,
imediatamente, os objetos que esteja segurando com a mão de apoio, caso tenha que efetuar
um saque rápido.

8 – Se optar por não sair armado, o policial deve deixar também a carteira funcional em casa.
Aumentam as chances de os agentes serem vitimados, caso sejam identificados.

9 – Deve-se ter cautela em optar por usar armas de fogo com canos demasiadamente curtos.
Embora seja mais fácil de dissimulá-las, armas com canos curtos, geralmente, apresentam
menor precisão no tiro, além da recuperação da visada restar prejudicada, com calibres mais
pesados.

10 – Armas muito pequenas, na maioria das vezes, tem pouca capacidade de munição nos
carregadores, o que pode ser uma grande desvantagem em combate.

11 – O agente tem que ser bastante criterioso no momento de adquirir uma arma de fogo para
usar durantes as folgas ou como back up no trabalho. Calibres menores tem a vantagem de
apresentar resultados de tiros mais precisos, em contrapartida, apresentam, em regra, menor
poder de parada.

12 – A escolha de uma boa munição é fundamental para o agente da lei lograr êxito em
combate. Por isso, exceto para ocasiões de treinamentos, deve-se usar munições originais e
com boa qualidade.

13 – O policial deve ter zelo para com sua arma. Devem ser realizadas manutenções
periódicas e minuciosas no armamento.

14 – Sabe-se que os treinamentos de armamento e tiro da maioria das corporações são


deficitários. Desse modo, torna-se fundamental que o policial seja responsável pela sua
própria capacitação e atualização.

15 – Treinamentos em seco são fundamentais para a memória muscular do operador.


43

16 – Em confronto armado, deve-se preferir atingir o tórax do oponente, pois, além de ser a
região com maior probabilidade de acertar, as chances de se atingir um órgão vital é muito
grande.

17 – O policial deve estar preparado fisicamente.

18 – A preparação mental é fundamental para o agente sair vencedor de uma situação de


violência.

19 – O policial deve ter atenção redobrada quando avistar motocicletas ocupadas por dois
elementos. Dados estatísticos apontam que devido à facilidade de fuga, bandidos preferem o
uso de motocicleta a veículos de passeio para cometerem seus delitos.

20 – Enquanto estiver dentro de estabelecimentos comerciais, por exemplo, o agente deve se


atentar para pedestres que adentram o recinto fazendo uso de capacetes. Inúmeros casos
mostram que criminosos utilizam capacetes durante assaltos para tentar manter o anonimato e
dificultar o reconhecimento pelas vítimas.

21 – Durantes as folgas, locomovendo-se com seu veículo de passeio, o policial deve ter
atenção redobrada nos cruzamentos, principalmente, à noite. Estudos indicam que os
delinquentes, muitas vezes, optam por cometerem seus assaltos nestes lugares.

22 – É fundamental o operador de segurança pública treinar saques rápidos, tanto a partir e


coldres ostensivos como de coldres velados. A vantagem é que esse tipo de treino pode ser
feito em casa.

23 – É primordial que o policial faça uso de equipamentos de boa qualidade (coldres,


lanternas, algemas, etc.). Infelizmente, muitas corporações têm dificuldades em adquirir os
melhores materiais para seu efetivo, principalmente, devido à economicidade e às barreiras
burocráticas do processo licitatório. Nesses casos, o agente terá que custear com seus próprios
recursos financeiros.

24 – No mesmo sentido do item anterior, faz-se necessário que o policial participe de cursos
de atualização e de capacitação. As instituições de segurança pública não estão treinando seus
efetivos de forma eficaz e eficiente (devido a inúmeros fatores). Contudo, é importante que o
policial busque se aprimorar. Existem inúmeros cursos privados de alta qualidade oferecidos
no mercado.

25 – Caso o policial seja atingido por disparos de arma de fogo em confronto com bandidos, é
imprescindível que ele não entre em pânico. Infelizmente, ser ferido em combate faz parte da
44

dinâmica dos tiroteios. Pode ser que o tiro tenha sido “de raspão” ou que nem tenha atingido
órgão vital. Primeiro passo para o policial é se abrigar, continuar e concluir o enfrentamento.
Somente após isso é que o agente deve cuidar do ferimento.

26 – A prevenção é o fator preponderante para o sucesso na preservação da vida. Manter-se


em constante estado de alerta facilita muito a sobrevivência do agente.

27 – Uma preocupação primordial ao iniciar um confronto, além de atingir o oponente é


procurar abrigo para se proteger.

28 – Aproximar-se do veículo estacionado é uma situação extremamente vulnerável e com


altos índices de assaltos. Por isso, o policial deve se precaver analisando todo o cenário em
busca de suspeitos que possam vir a cometer algum ato de violência. Estacionamentos em
ruas escuras, em Shopping Center e em supermercados apresentam-se como os ambientes
mais buscados pelos delinquentes.

2.5.9 Treinamento de tiro em seco

Treinamento de armamento e tiro em seco, no meio policial, pode ser definido como
exercícios realizados com armas de fogo - sem uso de munição real nos carregadores e na
câmera - a fim de aprimorar e aperfeiçoar as técnicas de fundamentos de tiro. Esse
treinamento é altamente recomendado para que os agentes melhorem suas habilidades
psicomotoras nas suas técnicas de base, empunhadura, visada, acionamento do gatilho,
respiração e saque rápido de arma de fogo (a partir de coldres ostensivos ou velados).

Antes de iniciar o treinamento de tiro em seco é fundamental o agente realizar os


procedimentos de segurança e de inspeção de arma.

Um ponto positivo desses exercícios é que podem ser realizados em casa, por exemplo, e,
portanto, não requerem a necessidade de deslocamento até estande de tiro. Outra vantagem
substancial é a economicidade, porquanto não se faz uso de munição real.

O treino em seco é a oportunidade para perceber o que está fazendo de certo ou errado e se
familiarizar com o equipamento. Como o subconsciente não sabe a diferença entre uma
simulação e algo real, a visualização mental e a repetição são colocadas em prática no treino em
seco de maneira que a mente e o corpo interajam para melhorar as habilidades psicomotoras que
estão em desenvolvimento. Para evitar exaustivos treinos em seco, devem-se realizar breves
sessões com muita concentração e com a arma em total segurança. Treinos extensos irão
sobrecarregar sua capacidade e provavelmente terão pouco resultado positivo. Então, o
treinamento deve ser frequente e não muito longo. (CADERNO DIDÁTICO, I CURSO DE
INSTRUTOR DE TIRO ESPEN/DEPEN. 2013, p.17).
45

2.5.10 Manutenção periódica da arma de fogo

Infelizmente, as armas de fogo usadas pela maioria das corporações policiais no Brasil não
são confiáveis. Há inúmeros casos de as armas dos agentes falharem justamente no momento
em que eles se confrontavam com criminosos. Em muitos casos, a falha da arma foi
determinante para a morte do policial. Na tentativa de reduzir as chances de a arma apresentar
panes, é imprescindível que os agentes façam manutenção, periódica, em seus armamentos.
Conforme ensina Machado (2010, p.60) “de nada adiantaria conhecermos a teoria e a prática
de todas as armas e suas munições, se essa arma não funcionar quando mais precisarmos dela,
por conta de não termos observado os danos que o manejo, as intempéries, o transporte, o
porte e a ação do tempo lhe causaram”.

É indispensável que o policial faça, também, a manutenção de seu armamento logo após
realização dos disparos, pois restarão resíduos de pólvora nos compartimentos internos e
externos do armamento e estes elementos poderão iniciar o processo corrosivo do
equipamento.

2.5.11 Vantagens de portar a arma de fogo fora de serviço

O porte da arma de fogo pode ser muito importante para salvaguardar a vida do policial fora
de serviço. Pelo fato de o Estatuto do Desarmamento restringir o acesso à arma para grande
parte da população, os criminosos sentem-se mais tranquilos para cometerem seus ilícitos,
pois sabem que a tendência é que suas vítimas estejam desarmadas. O policial, durante sua
folga, estando armado, pode esperar pela “Janela de Oportunidade”, reagir e evitar o assalto,
por exemplo.

A atividade policial é perigosa por natureza. Dentre muitas atribuições está a de restringir a
liberdade de pessoas que cometem crimes (efetuando prisões) ou de realizar investigações que
podem culminar na detenção de outras. Esses fatos geram insatisfação e revolta por parte das
pessoas presas, de seus familiares e de seus comparsas. Para evitar que sejam surpreendidos
nas folgas, por esses indivíduos, muitos policiais optam por portarem suas armas de modo
velado a fim de se protegerem diante de alguma injusta agressão.
46

Muitos agentes de segurança pública são reconhecidos ou identificados pelos criminosos


durante assaltos e são assassinados. Caso estejam portando suas armas, os policiais podem
reagir e fazer cessar a situação de violência.

2.5.12 Desvantagens de portar a arma de fogo fora de serviço

A principal desvantagem surge nos casos de ser identificado ou reconhecido pelos bandidos
antes que consiga, efetivamente, sacar sua arma e reagir de modo eficaz.

Vídeos recentes mostram que há uma tendência dos bandidos, por medo de estarem
assaltando policiais, de revistarem a região da cintura de suas vítimas com objetivo de
encontrarem arma de fogo. Nesses casos, se o policial estiver portando sua arma na cintura e
for localizada pelos delinquentes, antes que ele consiga reagir, provavelmente será morto.

Muitos policiais que presenciam situações de violência durante suas folgas (e que estejam
armados) apresentam predisposição, por intuição ou vocação, a reagirem para preservarem
suas vidas ou de terceiros inocentes. Acontece que, inúmeras vezes, por não estarem treinados
o suficiente, acabam falhando e são assassinados pelos criminosos.

2.5.13 Locais onde portar a arma de fogo

O principal local onde os policiais preferem portar a arma de fogo, de modo dissimulado, é na
região da cintura (na parte frontal ou na lateral traseira – 4hs). Alguns ainda optam por portá-
la próxima ao tornozelo. Cada um desses lugares apresentam vantagens e desvantagens e vai
depender da preferência de cada agente. Independentemente, da opção é fundamental que o
operador treine, inúmeras vezes, o saque rápido velado.

Existem policiais que preferem usar coldres internos e outros optam por portarem suas armas,
dissimuladamente, sem uso de coldre algum. Caso escolham por usar, é imprescindível que
utilizem coldres de boa qualidade.

A seguir citam-se as vantagens e as desvantagens de cada local.


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2.5.13.1 - Porte velado na região frontal da cintura.

A grande vantagem deste local é o acesso extremamente ágil à arma, facilitando seu saque
rápido. Aqui a arma fica bem escondida e quase não é percebida pelas outras pessoas. Nesse
tipo de porte, o policial fica com maior domínio de sua arma, pois está de frente para ela.

A desvantagem desse porte ocorre nas situações de violência em que os criminosos revistam
(passam as mãos nas cinturas das vítimas em busca de armas). Caso o policial seja flagrado
portando sua arma e não haja tempo de ele reagir, provavelmente será assassinado.

Outra desvantagem, em alguns casos, é em relação ao ajustamento da empunhadura (pode ser


que a arma não saia bem empunhada, sendo necessário haver algum ajuste em relação a isso).

2.5.13.2 - Porte velado na região das 4hs.

Comparando-se com um relógio de ponteiros, a arma fica próxima da região da 4horas (para
os destros) e 8hs para os canhotos. Esse local é bastante usado pelos policiais.

A vantagem dele é justamente a desvantagem do porte de arma na região frontal. Nas


situações em que os criminosos revistam suas vítimas, tendem a passar a mão somente na
região frontal da cintura e, provavelmente, a arma não será localizada neste caso.

Outra vantagem desse local é em relação à empunhadura. A tendência é que ela saia mais bem
ajustada à arma, quando comparada com o método de porte na região frontal. Aqui o saque,
geralmente, também é feito de forma bem veloz.

A desvantagem principal se dá na dissimulação. Esse local, muitas vezes, é percebido


facilmente pelas pessoas (que estão atrás ou do lado do policial), no momento em que ele se
abaixa ou se curva.

Outra desvantagem é que o agente não tem total domínio da sua arma, uma vez que ela não
está no seu campo de visão.
48

2.5.13.3 Porte velado na região do tornozelo.

As principais vantagens são que dificilmente os bandidos imaginam que haja uma arma
próxima ao tornozelo de uma de suas vítimas e a arma de fogo, geralmente, fica bem
escondida.

A grande desvantagem desse local é justamente a demora em realizar o saque quando


comparado com os outros métodos.
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3. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Conforme exposto no decorrer do presente trabalho, o elevado número de mortes de policiais


é um dos graves problemas da segurança pública no Brasil. Sabe-se que a solução para o
cenário atual é bastante complexa e requer a adoção de medidas multissetoriais, assim como o
avanço do desenvolvimento econômico, melhorias em educação, reforma da legislação penal
e do próprio sistema prisional, dentre outras.

A proposta ora lançada apesar de não se apresentar suficiente, certamente será eficaz na
redução dos alarmantes índices de mortalidade mencionados, principalmente quando os
agentes estão usufruindo dos períodos de folga.

É preciso, pois, que haja investimento do Estado em assumir a sua parcela de


responsabilidade nos riscos a que os policiais estão expostos, devendo, por exemplo, incluir a
disciplina de Sobrevivência Policial nas grades curriculares dos Cursos de Formação e de
Capacitação Continuada.

Nela seriam ministradas doutrinas, estatísticas de tiroteios, análises de casos, comportamentos


e dicas importantes que poderiam subsidiar os policiais com informações de modo a prevenir
e a evitar que se tornem vítimas da violência.

Além disso, na disciplina de SP poderia haver treinamentos táticos operacionais mais voltados
à realidade da profissão como exercícios de saque velado rápido de arma de fogo, disparos de
arma de fogo com alvo em movimento, uso de simuladores que tornem a dinâmica mais
parecida com a realidade, exercícios com utilização de armas airsoft e paintball e uso de
aparatos audiovisuais com projeção em tela que simulem situações cotidianas de
criminalidade.

Não seria escopo da disciplina, de forma alguma, orientar os policiais a reagirem às situações
de violência que, porventura, venham a se deparar fora de serviço (até porque negar
conhecimentos e assumir a passividade pode ser a salvação para a preservação de suas vidas),
mas sim, subsidiá-los com informações e técnicas e, a partir daí, cada um analisaria a situação
de violência no caso concreto e optaria por reagir ou não.

A prevenção é a melhor maneira para evitar que os agentes sejam surpreendidos e se tornem
mais uma vítima. Para isso, há uma série de comportamentos, hábitos e atitudes salutares que
precisam ser observados.
50

A responsabilidade da preservação da vida do policial é solidária entre ele e o governo. De


nada adianta apenas o Estado fornecer treinamento adequado se o agente de segurança pública
não se comprometer com sua preparação plena ao enfrentamento da criminalidade.
51

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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