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O Que é a Composição Orgânica do Capital

Diferentemente de Hegel, a dialética de Marx é uma dialética materialista e histórica que


leva em consideração a matéria social e o processo de luta de classes. O movimento do capital é
um movimento concreto que implica em si, a unidade na diversidade, isto é, a unidade da produção
do capital em geral e a diversidade dos momentos de produção, circulação e produção global do
capital. Por um lado, o movimento do capital em geral e o fluxo do valor. Por outro lado, os múltiplos
capitais e o movimento da concorrencia. No movimento do capital, a dialética de Marx apreende
processualidades contraditórias; tendencia e contratendencias; movimentos da quantidade e saltos
qualitativamente novos do devir do real. Na medida em que leva em consideração a matéria
histórica e social da luta de classes, a dialética de Marx incorpora ao movimento da necessidade e
da liberdade, as determinações do acaso e da contingencia histórica.
O valor é uma abstração real que só existe em movimento. É a forma de ser do capital que,
embora seja uma abstração, existe efetivamente tal como qualquer coisa que exerça uma força
coercitiva, exterior e geral sobre o movimento do ser social. O valor (como capital) é processo em
movimento que só existe enquanto movimento. O capital como processo de valorização só existe
como devir ou vir-a-ser. Tal movimento do valor organiza (e desorganiza) o continuum espaço-
tempo do modo de produção capitalista, operando mudanças quantitativas (e qualitativas) na
composição do capital. Na medida em que evolui, o capital como organismo complexo com suas
determinações (capital constante e capital variável) se altera e, por conseguinte, altera o indicador
fundamental ( e fundante) do próprio modo de produção capitalista: a Taxa de Lucro. Iremos tratar
aqui da Composição Orgânica do Capital.
Como o processo de valorização produz alterações na Composição Orgânica do Capital,
determinando, em última instancia, a Taxa de Lucro, o “coração” do sistema de produção do
capital?1.

1
Na Nota Técnica de Esclarecimento 2 expusemos o que é o valor como substância. A forma-valor diz respeito a uma
determinada relação social de produção (a relação social de produção capitalista) no interior da qual opera o trabalho
abstrato, fonte do valor. A relação-valor visa à extração de mais-valor (exploração) por meio do processo de trabalho
como processo de valorização. Deste modo, os momentos categoriais do valor-em-processo são (1) o valor como
substância (trabalho abstrato), (2) o valor como relação ou relação-valor (exploração); e (3) o valor como processo
(valorização do valor). A relação-valor constitui a essencia do modo de produção capitalista como modo de produção de
mercadorias e produção de mais-valor (acumulação de capital).

1
A análise da composição do capital deve ser vista a partir do valor em movimento, pois é
o movimento do valor que expõe (ou explicita) suas contradições nos diversos niveis de movimento
do capital.
Exposição de “O Capital”
Movimentos doValor
Livro 1 Livro 2 Livro 3
PROCESSO DE PRODUÇÃO DO PROCESSO DE CIRCULAÇÃO DO PROCESSO GLOBAL DA PRODUÇÃO

CAPITAL CAPITAL CAPITALISTA

Karl Marx dedicou o Capítulo 1 do Livro 1 de “O Capital” para expor a estrutura do valor
como sendo a ossatura e musculatura compositiva do organismo vivo do modo de produção
capitalista (o sangue que corre nas veios do corpo capitalista é o valor em processo). Deste modo,
no Primeiro Livro, Marx partiu da esfera da circulação simples de mercadorias para a esfera da
produção. Deu os primeiros passos tratando da mercadoria e dinheiro e depois, a transformação do
dinheiro em capital, para chegar à esfera da produção, a partir do qual vai desvelar o processo de
trabalho como processo de valorização, descobrindo a mais-valia e suas formas: mais-valia
absoluta e mais-valia relativa. Marx identificou as formas de produção da mais-valia absoluta e as
formas de produção da mais-valia relativa, tendo em vista as mudanças tecnológicas na
organização da produção do capital que alteram a composição orgânica do capital. Pela primeira
vez, vislumbramos o valor como contradição em processo. O capital criou as bases materiais para
a sua reprodução ampliada em termos de valor. Um pouco adiante, logo após tratar da categoria
salário, Marx expõe a lei geral da acumulação capitalista, onde, pela primeira vez, utilizou o conceito
de Composição Orgânica do Capital (COC) na perspectiva do movimento lógico-dialética do valor.
A COC é a categoria adequada ao nivel da exposição do Livro 1 onde Marx discutiu o processo de
produção do capital.
Ao submergir no processo de produção do capital, Marx reconheceu e descobriu a produção
do mais-valor, o segredo da riqueza capitalista, a exploração da força de trabalho e as bases
materiais da produção do capital. Marx expõe no Livro 1 os fundamentos do sistema, embora
nenhum sistema se reduza a seus fundamentos. Entretanto, como principio essencial, Marx
constatou que a produção do valor (e mais-valor) ocorre na esfera da produção, embora – e isto é
parte do movimento dialético do valor – ele (o valor) só se realize na esfera da circulação (Marx
tratou no Livro 2 do processo de circulação do capital).
Produção e circulação são determinações reflexivas. Mas a fundamentalidade do valor
reside na esfera da produção e não na esfera da circulação. Existe, deste modo, o movimento
dialético do valor que se desdobra nas categorias que dizem respeito à sua composição: na
perspectiva do movimento da produção no Livro 1, temos a Composição Técnica do Capital (CTC)
e a Composição Orgânica do Capital (COC) em termos de valor; e na perspectiva do movimento da

2
circulação do Livro 2, desdobra-se a co-irmã da COC, a Composição de Valor do Capital (CVC)
(também em termos de valor).
No Capítulo 1 do Livro 1, “Mercadoria e Dinheiro”, Marx está no plano dos fundamentos do
ser “capital” como modo de produção. Apesar de partir da imediaticidade da mercadoria, Marx está
operando num alto nivel de abstração, onde distingue ali, valor de uso e valor de troca (e depois
valor); trabalho concreto e trabalho abstrato (o que produz o valor); e o quantum do valor dado pelo
tempo de trabalho socialmente necessário. Depois, numa inflexão dialética, Marx discute as formas
do valor para chegar à forma equivalente geral do valor, o dinheiro, categoria fundamental para
operar o movimento da circulação das mercadorias, pois, como vimos quando discutimos a relação-
valor, as mercadorias só circulam por meio do dinheiro (o preço das mercadorias é a manifestação
do valor de troca, suporte material do valor). Entretanto, Marx quer ir além da esfera mercantil. Na
esfera da circulação, o capital apenas organiza – por meio da compra de mercadorias – a produção
de mais-valor. Mas não é pela circulação de mercadorias que se produz o mais-valor, a riqueza
capitalista (embora produção e circulação se complementem na sua essencialidade para o capital).
É no mercado de trabalho que o capital - na pessoa do capitalista - compra força de trabalho,
posto como capital variável; e é no mercado de máquinas e insumos que o capitalista compra os
meios de produção, posto como capital constante. Entretanto, Marx se desloca da esfera do
mercado, onde circulam as mercadorias, para a esfera oculta da produção, onde as mercadorias
adquiridas pelo capitalista vão operar a produção do mais-valor por meio do processo de trabalho
como processo de valorização. A quantia inicial de capital-dinheiro (D) utilizada para a compra das
mercadorias força de trabalho (FT) e meios de produção (MP) deve transformar-se numa quantia
acréscida de lucro (D´), razão de ser do empreendimento capitalista. Enfim, a transformação de
dinheiro em capital é o movimento reflexivo que Marx faz na Seção II do Livro 1 de “O Capital”, onde
ele discute a fórmula geral do capital (D-M-D´), e a compra-e-venda da força de trabalho no mercado
de trabalho, para de imediato discutir a produção do mais-valor (absoluto e relativo). O sangue
começa a correr nas veias do organismo capitalista, irrigando músculos que sustentam a ossatura
do modo de produção.
O movimento lógico do valor como movimento de produção do mais-valor adquire com a
produção da mais-valia relativa (a mais-valia extraída por meio do aumento da produtividade do
trabalho) seu patamar superior (as seções IV e V do Livro 1, intituladas “A Produção da Mais-valia
Relativa” e a “A Produção da Mais-valia Absoluta e Relativa”, são o ápice do processo de
vislumbramento da forma-valor em movimento).
O desenvolvimento tecnológico do capital por meio da mecanização (ou da automação e da
robotização) permite o aumento da produtividade do trabalho, isto é, a produção de uma quantidade
maior de mercadorias por trabalhador num mesmo período de tempo determinado (o que significa
que o valor de cada unidade de mercadoria diminuiu). A produção de mais unidades de mercadorias
(produtos finais) só pode ocorrer se houver aumento da quantidade relativa de meios de produção
(máquinas, insumos, etc ou trabalho morto) que um trabalhador, num determinado tempo de
3
trabalho, transforma num certo volume de produtos; o que significa, por sua vez, a redução de uma
certa quantidade de força de trabalho, ou certo número de trabalhadores necessários por certa
massa definida de meios de produção para levar a termo uma determinada produção. Temos assim
alterações na Composição Técnica do Capital (CTC), que se refletem na Composição Orgânica do
Capital (COC) (em termos de valor).
No capitalismo, o aumento da produtividade do trabalho implica sempre uma redução do
número de trabalhadores (trabalho vivo) em relação aos meios de produção (trabalho morto) com
os quais trabalham. A razão entre a massa dos meios de produção e o trabalho necessário para
pô-los em ação é chamada Composição Técnica do Capital (ou CTC), sendo a composição do
capital aqui entendida em termos fisicos ou de valor de uso (a CTC é uma razão puramente teórica,
pois não há uma maneira pela qual meios de produção heterogeneos e o trabalho concreto possam
ser medidos). O aumento da CTC é sinonimo de aumento da produtividade do trabalho que se
manifesta, em termos de valor, na COC.2
É a concorrencia3 entre os múltiplos capitais que impulsiona o aumento da produtividade
do trabalho, alterando assim, a composição fisica (ou técnica) do capital e, por conseguinte - em
termos de valor, a Composição Orgânica do Capital, com implicações na Taxa de Lucro (o
“organismo” do capital é constituido pelo valor)4.
Como salientamos acima, no Livro 1, Marx está ainda no processo de produção. É no Livro
2 que ele vai tratar da esfera da circulação (o que explica o relativo “obscurecimento” da COC –
pois pouco se fala neste momento, da COC). Mas é a CVC (Composição do Valor do Capital) que
irá se expor, mas noutra perspectiva: o movimento do valor na esfera da circulação altera a

2
Existe uma densa controversia teórica sobre os conceitos de CTC, COC e CVC em Marx. No livro “O valor de Marx”, de
Alfredo Saad Filho (Ed. Unicamp, 2011) temos uma breve exposição das diversas posições. Não iremos tratar disso aqui.
Partimos de um pressuposto metodológico fundamental para afirmar nossa explicação da composição do valor: o primado
da esfera da produção em Marx (o que não significa desprezar a esfera da circulação). É por colocar como fundamento a
produção que Marx expõe como categoria fundamental, a COC (derivada da CTC) ao invés da CVC. Embora a CVC seja
exposta também em termos de valor, ela é, como bservou Saad Filho, uma categoria da circulação. No seu livro “Os
Limites do Capital” (Boitempo, 2013), David Harvey parece “desprezar” a COC e leva mais em consideração a CVC. O
que é explicável, tendo em vista o marxismo de Harvey, que não admite que Marx tenha uma teoria da crise, desprezando
a explicação dada no livro 3 de “O Capital”, onde Marx parte da COC para chegar à lei da queda tendencial da taxa de
lucro.
3 A categoria concorrencia é um importante elemento da manifestação necessária da crise capitalista. É o “motor” da

concorrencia que ex-põe a lógica contraditória do movimento do valor e da produção do mais-valor. É a ânsia do lucro
que, por meio da concorrencia, se interverte na queda da lucratividade do capital. É a mudança da composição orgânica
do capital, provocada pela concorrencia entre os capitalistas, que leva à queda da taxa média de lucro. Portanto, a
concorrencia entre capitalistas, no plano da aparência do sistema (o capitalismo é a sociedade da concorencia entre
múltiplos capitais) que opera a contradição inscrita no âmago da lei do valor e da lei da acumulação do capital (a produção
de mais-valor).
4 Como salientamos acima, uma das partes mais controvertidas do debate marxista é sobre a composição do capital com

vários autores interpretando, aquém de Marx e além de Marx, o significado da COC e CVC. Mas o que se percebe é que
a maioria dos economistas marxistas desconsideram a estrutura da lógica dialética de Marx. As controvérsias sobre a
contribuição de Marx prosseguem sobre outros temas tais como a teoria do valor, a transformação de valor em preço e
depois sobre a natureza da crise do capitalismo. Enfim, a importância de Marx para a crítica da economia política só
consegue ser superada pela confusão dos economistas marxistas que em sua maioria, são incapazes de apreender o
sentido radical do velho Marx a partir de seu projeto lógico-ontológica de crítica da economia política. “O Capital” não é
um livro de economia política e muito menos, de economics, mas sim, de crítica (dialética) da economia política. Muitas
vezes, a tradição do empirismo dos economistas marxistas tende a considerar a lógica dialética exposta por Marx como
“metafísica dúbia” pouco fundamentada (é o que diz Simon Mohun autor do verbete “composição orgânica do capital”, no
“Dicionário do Pensamento Marxista” ( Zahar, 1983).
4
composição do capital na medida em que ocorrem mudanças no valor de insumos (capital
circulante) e no valor do capital fixo. Mais adiante, o conceito de COC retorna no Livro 3, quando
Marx trata da produção global do capital para explicar a lei da queda tendencial da taxa de lucro.
A Composição Orgânica do Capital é importante porque Marx a utiliza para esclarecer o
movimento de lucratividade do capital. A COC é a categoria que expõe – na perspectiva da produção
do valor - a alteração da Taxa de Lucro do sistema capitalista. Tal como a COC, a CVC é medido
em termos de valor. Mas a CVC diz respeito à esfera da circulação e nos dá uma outra perpspectiva
do movimento da composição do valor. Alguns autores como David Harvey consideram a CVC mais
adequada para nos dar uma perspectiva da realização do valor para além da empresa individual.
Entretanto, a centralidade da COC é a manifestação de um primado metodológico: a COC diz
respeito à esfera da produção, fundamento do sistema do capital a partir da qual deve-se refletir o
movimento contraditório do valor (Harvey não admite que exista em Marx uma teoria da crise
capitalista).
Quadro 1
Formas do Valor
[DINÂMICA]
Valor e sua substancia Relação-valor Valor como processo
(trabalho abstrato) (EXPLORAÇÃO) (valorização do valor)
[mais-valor] [produção do mais-valor]

Composição Orgânica do Capital > QUEDA DA TAXA DE LUCRO

Embora a COC contenha o principio esencial do movimento do valor (e da sua “negação”),


não podemos desprezar o movimento contingencial da esfera da circulação, onde o valor se realiza
(a dialética de Marx não prescinde da contingencia como a de Hegel)5. No Livro 3 de “O Capital”,
Marx tratou do processo global do capital, onde essencia e contingencia, tendencia e
contratendencias se manifestam num movimento dialético que conduz à necessidade da queda da
taxa de lucro indicando o eixo essencial da crise do capitalismo como modo de produção global.
Portanto, temos, num primeiro momento, a exposição da lei do valor como fundamento do
movimento das mercadorias que constituem o mundo capitalista, inclusive mercadorias (força de
trabalho e meios de produção) adquiridas pelo capital e incorporadas no processo de trabalho como
processo de valorização ou produção de mais-valor (Marx opera com fluxos). O capital-dinheiro

5
Em “O Capital”, obra inacabada, Marx tratou de densas contradições do movimento do capital. Está claro que, às vezes,
pode-se perceber dificuldades no tratamento teórico (e lógico) dos conceitos de COC e CVC. Mas, percebemos o
tremendo esforço feito por Marx (e Engels) em articular as determinações do valor que nascem na produção, com as
formas contingenciais do valor que se manifestam na esfera da circulação do capital. Pode-se dizer que existem lacunas
no tratamento marxiano do desenvolvimento da materialidade do valor em processo, que são aproveitadas pelos críticos
de Marx, para demonstrar suas inconsistecias teóricas (por exemplo, a crítica de Böhm-Bawerk e Bortkiewicz ao problema
da transformação do valor em preços de produção, etc). Entretanto, o entendimento do método dialético de Marx pode
suprir tais lacunas e propiciar o desenvolvimento teórico de certas questões, sem renegar os fundamentos lógico-
ontológico da reflexão marxiana (a teoria do valor).
5
investido em força de trabalho denomina-se capital variável; o investimento de capital-dinheiro em
meios de produção denomina-se capital constante. Capital variável e capital constante são os
elementos da Composição Orgânica do Capital, elementos-mercadorias (que tem um preço ou valor
de troca e que como toda mercadoria, contém valor) a partir dos quais o capital vai organizar a
produção do mais-valor (que vai aparecer como o lucro capitalista). Depois da lei do valor, cujo
verdadeiro segredo vai se revelar quando for desvendada o mais-valor extraído na esfera da
produção, Marx expõe, logo a seguir, a lei da acumulação do capital subordinada à lei da
lucratividade: o capital é movido pela ânsia do lucro (ou a forma fenomênica do mais-valor). O
movimento do capital exposto acima é um fluxo permeado de contradições objetivas, compondo o
movimento da produção, circulação e produção global do capital. Ele se inicia com a contradição
contida na forma-mercadoria (valor de uso e valor de troca) e chega até as contradições do processo
global de produção do capital, atingindo por fim, seu ápice na contradição superior impulsionada
pelo movimento da concorrencia: a contradição inscrita na própria relação-valor que conduz à teoria
da crise capitalista (a lei tendencial de queda da taxa de lucro por conta do aumento da Composição
Orgânica do Capital). Como salientamos acima, é a concorrencia capitalista que faz com que os
múltiplos capitais elevem a produtividade do trabalho por meio do investimento em capital constante
em detrimento do investimento em capital variável, a fonte da produção do mais-valor). Portanto, o
movimento da lei da acumulação do capital contém a possibilidade da crise capitalista como
manifestação necessária das suas contradições, sendo a contradição essencial aquela que diz
respeito à lei tendencial de queda da lucratividade6.
Quadro 2
As Leis do Capital

Lei do Valor Lei da Acumulação do Capita Lei da Lucratividade


(trabalho abstrato) (produção do mais-valor)

A composição orgânica do capital, como vimos acima, é um elemento de determinação


da lucratividade do capital. É preciso esclarecer como isto ocorre para que possamos entender
como Marx explica, a partir do núcleo essencial do movimento de produção do mais-valor nas

6 As leis históricas são leis de tendencia que implicam movimentos contratendenciais. A exposição do movimento do
capital por Marx, como salientamos acima, é uma exposição dialética. Entretanto, a lógica de Marx não é a lógica de
Hegel, pois a dialética marxiana implica o movimento da matéria histórico-social, não apenas a necessidade, mas a
liberdade com seu elemento da contingencia (por exemplo, a crise capitalista é uma necessidade do movimento do capital,
mas não significa que ela deva – como necessidade em si – manifestar-se historicamente da mesma forma). Marx releva
os movimentos contratendencias, deslocamentos de contradição e inclusive dados contingencias como elementos de
disparo da crise. Embora a crise capitalista tenha como elemento “de fundo”, a crise de lucratividade, ela pode se
manifestar no plano histórico, a partir de contradições derivadas do movimento da forma-valor (crise de desprocionalidade
entre os setores de produção ou crise de subsumo/superprodução do capital, etc). Além disso, a importante presença do
Estado e do sistema de crédito e moeda no século XX, com o desdobramento da forma “capital ficiticio” adicionam novas
determinações na manifestação da crise capitalista em sua etapa de crise estrutural.
6
condições da concorrencia capitalista, a possibilidade concreta da crise capitalista a partir da lei
tendencial de queda da Taxa de Lucro (o que ele faria no Livro 3 de “O Capital”).
No Quadro 3 abaixo demonstramos como a Taxa de Lucro é uma função da COC
(Composição Orgânica do Capital). A COC representa a relação essencial a partir do qual Marx vai
fundar o pilar da sua explicação essencial da crise capitalista, embora o processo da crise seja
deveras complexo pois se trata do movimento de tendencia que implica movimentos
contratendencias de várias ordens. Como salientamos acima, a CVC (Composição de Valor do
Capital), tal como a COC, é também em termos de valor, só que a CVC expressa o movimento da
composição (em valor) na perspectiva da circulação, nos fazendo lembrar que elementos da
circulação (espaço-temporal) podem modificar a composição do capital tal como expresso na COC
(podemos dizer que a função heuristica da CVC é apenas oferecer uma visão complexa do
movimento do valor para além da perspectiva da COC).
Quadro 3
Taxa de Lucro e Composição Orgânica do Capital

Entretanto, o cálculo da Taxa de Lucro está em relação à COC e não à CVC, pois a
perspectiva fundamental (e fundante) do movimento do valor é a perspectiva da produção e não a
da circulação (embora seja nela que o valor se realize).
A Taxa de Lucro é uma relação entre a massa de mais-valia e a soma de c e v (capital
constante, c; e capital variável, v)7. Entretanto, como podemos verificar em termos matemáticos, a
relação entre a COC (c/v) e a Taxa de Lucro? Basta dividir numerador e denominador da equação
da Taxa de Lucro por v (o capital variável). Ao fazermos isso, iremos chegar ao seguinte resultado:
a Taxa de Lucro é a relação entre a Taxa de Mais-Valia (numerador) e (c/v) + 1 (denominador),

7 O que é lógico tendo em vista que a Taxa de Lucro expressa a relação entre o quantum do excedente apropriado pelo
capitalista (a massa de mais-valia, m) e o quantum de capital-dinheiro que ele investiu na compra de meios de produção
(c) e força de trabalho vivo (v) (o c é um estoque de capital fixo e capital circulante amortizado no decorrer do tempo; e v,
é o valor pago na folha de salário da força de trabalho viva)
7
sendo que a equação c/v é a euqação da COC. Assim, chegamos a duas conclusões: a Taxa de
Lucro é uma função inversamente proporcional à COC, pois na medida em que a COC aumenta, a
Taxa de Lucro diminui. Entretanto, a taxa de mais-valia (m/v) nesta equação, nos faz lembrar que,
para contrarestar a queda da Taxa de Lucro por conta do aumento da COC, pode-se aumentar a
Taxa de Mais-Valia (é o que Marx denomina de Taxa de Exploração).
Vejamos os seguintes cenários do movimento da composição do capital, utilizando os
seguintes dados de referencia, onde m é a massa de mais-valia; v, o capital variavel; c, o capital
constante e COC, a Composição Orgânica do Capital: 100m, 20v, 100c, sendo a COC = 5, sendo
a Taxa de Lucro = 0,83 e a Taxa de Exploração, 5 (utiliza-se para os devidos cálculos, as fórmulas
expostas no Quadro 3):
Cenário 1: A Taxa de Exploração cresce (x2), mas a COC permanece constante. Nesse
caso, a Taxa de Lucro cresce (1,666).
Cenário 2: A Taxa de Exploração cresce (x2) e a COC aumenta (x2). Nesse caso, a Taxa
de Lucro cresce, mas muito pouco (0,909).
Cenário 3: A Taxa de Exploração cai abaixo da metade e, ao mesmo tempo, aumenta (em
2x) a COC. Nesse caso, a Taxa de Lucro tem uma queda elevada (0,227).
Cenário 4: A Taxa de Exploração cai (2x) e a COC também cai (2x). Nesse caso, a Taxa de
Lucro tem uma leve queda (0,714).
Perguntemos:
Qual o cenário acima que mais se aproxima do cenário histórico do capitalismo global?
Podemos indicar o cenário 2, pois o que se verifica com o capitalismo global, é que o capital
aumentou bastante a Taxa de Mais-Valia ou Taxa de Exploração (o que explica a precarização
estrutural do trabalho); e, ao mesmo tempo, por conta do aumento da CTC (Composição Técnica
do Capital), evidencia-se o notável desenvolvimento tecnologico do sistema produtor de
mercadorias. Deste modo, podemos inferir que a COC tem aumentado bastante, o que explica, as
dificuldades da lucratividade do capital nas últimas décadas do capitalismo global.
Façamos algumas variações no cálculo da Taxa de Lucro utilizando o cenário 2, com as
variações tendo o aumento da Taxa de Exploração em pelo menos, 3x. :
1. Caso aumente em 3x a Taxa de Exploração e a COC aumente apenas em 2x, a Taxa de
Lucro deve aumentar quase o dobro (de 0,830 para 1,500).
2. Caso aumente em 3x a Taxa de Exploração e a COC também aumente em 3x, a Taxa de
Lucro deve crescer muito pouco (de 0,830 para 0,937).
3. Caso aumente em 3x a Taxa de Exploração e a COC aumente em 4x, a Taxa de Lucro
deve cair (de 0,830 para 0,714).
Portanto, verificamos que, caso a Taxa de Exploração aumente em 3x, atingindo, a título de
hipótese, seu limite histórico; e a COC continue subindo (por exemplo, utilizemos em 5x), a Taxa
de Lucro deve cair (de 0,830 para 0,714).

8
O cenário 2 nos ensina que, para o capital, a redução de valor da COC torna-se importante
para impedir a queda da Taxa de Lucro num cenário em que a Taxa de Exploração chegou ao seu
limite histórico.
A questão é: Qual o limite da Taxa de Exploração?
Vejamos o seguinte: a Taxa de Exploração é uma relação entre a massa de mais-valia (m)
e o capital variável (v). Para aumentar a Taxa de Exploração temos que diminuir o valor do capital
variável (desvalorização da força de trabalho) e aumentar a massa de mais-valia, isto é, reduzir o
valor dos salários e aumentar o trabalho não-pago. Isto é o que o capital tem feito nas últimas
décadas.
Entretanto, a desvalorização de v (capital variável) tem implicações também no denominador
da COC (c/v), tendo em vista que, é a força de trabalho (v) que produz mais-valor. Na medida em
que se reduz em demasia o trabalho vivo e aumenta o trabalho morto (c), aumenta-se a COC,
pressionado para baixo a Taxa de Lucro.
Vejamos:
Caso v tenha uma queda acentuada de valor (2x); o capital constante (c) da equação da
COC, precisa cair mais ainda, sob pena da COC aumentar, pressionando para baixo a Taxa de
Lucro; ou então, o aumento da Taxa de Exploração – que é m/v - tem que ocorrer não apenas pela
desvalorização do capital variável (v) (por exemplo, em 2x), mas pelo aumento acentuado (por
exemplo, em 2x) da massa de mais-valia (m), elevando, deste modo, a Taxa de Exploração em 4x
(de 5 para 20) e COC, em 2x (o capital constante inalterado e o v reduzido em 2x). Nessas
condições do cenário 2, teriamos a elevação significativa da Taxa de Lucro (de 0, 83 para 1, 818).
Entretanto, caso o capital constante da COC aumente em 2x (de 100 para 200), mesmo com
o aumento da Taxa de Exploração em 4x, a Taxa de Lucro cai bastante (de 0,83 para 0,487).
Portanto, a partir das alterações nas variavéis do cenário 2, que é o mais provável no
capitalismo global, onde supomos a Taxa de Lucro quase estagnada, mesmo com o aumento
signficativo da Taxa de Exploração, torna-se necessário para a recuperação da Taxa de Lucro, não
apenas o aumento da Taxa de Exploração, principalmente por meio do aumento da massa de mais-
valia (pelo menos em 2x); e por meio da desvalorização do capital variável (pelo menos em 4x);
mas que ocorra também a desvalorização do capital constante.
Ainda utilizando o cenário acima, caso o valor do capital constante permaneça inalterado
(c=100) e Taxa de Exploração cresça em 4x (com a massa de mais-valia duplicando e o v – capital
variável – se reduzindo pela metade), a Taxa de Lucro cresce bastante (de 0,83 para 1,818). A
Taxa de Exploração é o valor mais importante na determinação da Taxa de Lucro caso o capital
constante permaneça inalterado. Caso o capital constante se reduza em 2x, mantida a Taxa de
Exploração em 4x, a Taxa de Lucro dispara para cima (de 0,83 para 3,3333). Entretanto, caso o
capital constante aumente em 2x, mantida a Taxa de Exploração em 4x, a Taxa de Lucro cresce
muito pouco (de 0,83 para 0,95). E caso, o capital constante aumente em 3x, a Taxa de Lucro cai
(de 0,83 para 0,64).
9
Na medida em que a Taxa de Exploração chega a seu limite histórico, a Taxa de Lucro vai
ficar cada mais sensível ao valor do capital constante. Para finalizar, caso projetemos o aumento
do capital constante em 5x, e a Taxa de Exploração em 4x, conforme os termos acima, a Taxa de
Lucro cai bastante (de 0,83 para 0,392). Portanto, não basta aumentar a Taxa de Exploração de
forma significativa (m/v), mas o capital constante (c) precisa ser desvalorizado ou pelo menos, não
aumentar.
Como o capital constante pode ser desvalorizado ?
O capital constante (capital fixo e capital circulante) pode ser desvalorizado, por exemplo,
pela destruição do capital fixo ou pelo aumento da produtividade do trabalho na produção do capital
constante (mudanças tecnológicas aceleradas que depreciem o valor do capital fixo e do capital
circulante, com impactos no preço de produção). No capitalismo global, além do aumento da taxa
de exploração da força de trabalho, temos a aceleração da mudança tecnológica, que, como
desvalorização do capital constante, representa movimentos do valor para contrarestar a queda da
Taxa de Lucro por meio da redução da Composição Orgânica do Capital. Pode salientar também o
movimento da espoliação de regiões e países que fornecem insumos importantes para a produção
capitalista visando reduzir seu custo de produção ou simplesmente espoliá-los (reforço da troca
desigual e o surgimento de um novo imperialismo). É preciso investigar com mais cuidado, não
apenas as formas de aumento da Taxa de Exploração, mas também a natureza das formas de
desvalorização do capital constante que contribuem para a perpetuação da dinâmica da
acumulação capitalista.
Em que medida tais movimentos contratendenciais – aumento da Taxa de Exploração e
desvalorização do capital constante – não encontram obstaculos e mesmo limites históricos dados
por outros elementos da dinâmica capitalista (luta de classes, Anti-valor, concorrencia e moeda e
sistema de crédito, etc) ? – eis a questão. A recuperação da lucratividade é um objetivo crucial da
economia capitalista na medida em que só o aumento da lucratividade representa aumento de
investimento produtivos capazes de fazer as economias capitalistas crescerem (o que tem se
mostrado cada vez mais dificil no capitalismo global).

Giovanni Alves
novembro/2019

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