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DECISÃO
Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelo advogado Dr.
AUGUSTO POLONIO, tendo como paciente P S G, contra v. acórdão proferido pela eg. 9ª
Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou a ordem
de habeas corpus impetrada sob o n. 2121875-39.2019.8.26.0000.
Narram os autos que, em ação de alimentos ajuizada por R V G e F V G, filhos do
paciente, foram fixados alimentos a serem suportadas por este último no valor mensal equivalente
a quatro salários mínimos.
Diante de alegada inadimplência parcial do devedor, os alimentados propuseram a
respectiva execução de alimentos, sob o rito da coerção pessoal, a qual culminou, após a rejeição
das justificativas apresentadas pelo não pagamento, na decretação da prisão civil do ora paciente,
pelo prazo de 30 (trinta) dias, nos termos da decisão de fl. 113.
Contra o referido decreto prisional, o ora impetrante ajuizou, em favor do paciente,
Habeas Corpus perante o eg. Tribunal de Justiça de São Paulo, o qual, após o indeferimento
inicial da liminar pretendida, restou denegado, ensejando a impetração do remédio heróico sob
análise.
Sustenta o impetrante, em resumo, que o paciente encontra-se desempregado desde
2009 e "não tem nenhuma fonte de renda, saldo bancário negativo, não tem qualquer crédito
comercial, financeiro ou bancário conforme Extrato do Serasa espelhando dívidas no importe
aproximado de R$ 1.5 mm (um milhão e meio), além de diversos boletos de pagamentos de
ordem pessoal e de moradia com muito tempo de atraso", os alimentados "já ultrapassaram a
barreira dos 18 (dezoito) anos", "ambos trabalham e já se sustentam há muito tempo" e, portanto
"não restam dúvidas de que a presente execução de cumprimento de alimentos visa apenas e tão
somente agredir moralmente o PAI, ou pior, com intuito apenas de colocá-lo na PRISÃO".
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Documento eletrônico VDA22715342 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MINISTRO Raul Araújo Assinado em: 16/08/2019 18:28:38
Publicação no DJe/STJ nº 2735 de 20/08/2019. Código de Controle do Documento: 11002880-EF4F-4EEB-B394-6B147C05F85F
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Com base em tais afirmações, conclui o impetrante que "configurar-se-à, portanto,
constrangimento ilegal a imposição de prisão civil ao Executado. Isso porque, configura uma
reprimenda sem utilidade, na medida em que alcança um devedor com impossibilidade de solver
seu débito. Como no caso em exame, a PRISÃO, nessas condições, perdeu seu sentido efetivo,
porque não busca socorrer filho que necessite com urgência de auxílio" (fls. 3-22)
É o relatório.
A concessão de medida liminar requer a presença concomitante de fumus boni iuris
e de periculum in mora.
Na espécie, o exame dos elementos que constam dos autos permite constatar, primo
oculi, a existência dos requisitos necessários à concessão da medida urgente.
Com efeito, embora incontroversa a inadimplência, forçoso reconhecer que, no
caso, pelas provas constituídas nos autos, resta demonstrada a prescindibilidade dos alimentos à
subsistência dos alimentandos pois, consoante consignado no parecer do il. Ministério Público do
Estado de São Paulo, "ambos os exequentes já completaram a maioridade, contando, atualmente,
um, com dezenove e outro, vinte e um anos de idade, além de possuírem fonte de renda" (fl. 137),
afastando, assim, a urgente necessidade que justificaria a adoção da medida coercitiva extrema de
prisão civil do devedor de alimentos.
Por outro lado, o valor elevado da dívida, R$ 64.004,83 em maio de 2019 - mais o
valor das prestações que vencerem até a data do efetivo pagamento - (fls. 115-116), aliado à
aparente atual situação de insolvência do devedor, aponta para a ineficácia da medida como forma
de compelir o devedor ao pagamento integral do débito, o qual, se for o caso, poderá ser buscado
por outros meios.
A jurisprudência desta Corte tem se orientado no sentido de que, em casos tais, o
encarceramento do devedor revela-se extremo e indevido, refugindo aos objetivos da lei. Nesse
sentido:
"HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.
DÍVIDA RELATIVA ÀS TRÊS ÚLTIMAS PRESTAÇÕES ANTERIORES À
EXECUÇÃO E VENCIDAS NO CURSO DO PROCESSO. MAIORIDADE
CIVIL E RENDA PERCEBIDA PELO EXEQUENTE. INEXISTÊNCIA DE
URGÊNCIA NA PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS. DESNECESSIDADE
DA MEDIDA COERCITIVA. AFASTAMENTO DO DECRETO
PRISIONAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça tem-se orientado no sentido de reconhecer que "A
constrição da liberdade somente se justifica se: "i) for indispensável à
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consecução dos alimentos inadimplidos; ii) atingir o objetivo teleológico
perseguido pela prisão civil - garantir, pela coação extrema da prisão do
devedor, a sobrevida do alimentado - e; iii) for a fórmula que espelhe a
máxima efetividade com a mínima restrição aos direitos do devedor" (HC n.
392.521/SP, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de
1º/8/2017)" (HC 447.620/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, DJe de 13/8/2018).
2. No caso, a prisão civil do devedor mostra-se ilegal e indevida, uma vez
verificada a maioridade civil e a independência econômica do exequente.
Embora incontroversa a inadimplência, tem-se configurada a
prescindibilidade dos alimentos à subsistência do exequente, que é oficial
da Marinha do Brasil e percebe remuneração considerável, afastando,
assim, a urgente necessidade que justificaria a adoção da medida
coercitiva extrema de prisão civil do devedor.
3. Hipótese em que, ademais, o valor elevado da dívida aponta para a
ineficácia da medida como forma de compelir o devedor ao pagamento
integral do débito, o que pode ser obtido por outros meios, menos gravosos
ao executado.
4. Diante de tais circunstâncias, o encarceramento do devedor revela-se
extremo e indevido, refugindo aos objetivos da medida excepcional da prisão
civil.
5. Ordem concedida." (HC 494.214/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 18/06/2019, DJe 28/06/2019, g.n.)
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3- A existência de dúvida sobre o período em que os alimentos foram
prestados pela avó, quais valores foram destinados ao credor e a natureza
substitutiva ou complementar dos alimentos que foram prestados também
desautoriza o uso da prisão civil como técnica coercitiva.
4- Ordem concedida, confirmando-se a liminar anteriormente deferida."
(HC 415.215/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, DJe de 8/2/2018, g.n.)
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