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CAMPINAS
2015
I
II
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
_______________________
CAMPINAS
2015
III
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Artes
Eliane do Nascimento Chagas Mateus - CRB 8/1350
Título em outro idioma: The photograpy in the artist book in three actions:
produce, edit and distribute
Palavras-chave em inglês:
Artists’ books
Photography
Publishers and publishing
Área de concentração: Artes Visuais
Titulação: Mestra em Artes Visuais
Banca examinadora:
Fernando Cury de Tacca [Orientador]
Paulo Antonio de Menezes Pereira da Silveira
Lúcia Eustáchio Fonseca Ribeiro
Data de defesa: 21-01-2015
Programa de Pós-Graduação: Artes Visuais
IV
V
VI
RESUMO
ABSTRACT
Keywords: art, visual poetics, artist book, photography, book editing, recôncavo
[deep cavity]
VII
VIII
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1
1) O PRODUZIR........................................................................................................ 9
2) O EDITAR............................................................................................................ 25
3) O CIRCULAR...................................................................................................... 49
5) RECÔNCAVO................................................................................................... 113
IX
5.2) Narratividade experimental.................................................................... 120
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 161
X
Dedico ao meu avô querido, Luiz Grigolin (o Luta), em memória
XI
XII
AGRADECIMENTOS
À banca de defesa, composta por Paulo Silveira e Lúcia Fonseca, que toparam
estar comigo em plenas férias;
À banca de qualificação, que contou com Maria de Fátima Morethy e Lucia Fonseca,
e foi essencial para a finalização do mestrado;
À Karina Francis Urban, que contribuiu com o projeto gráfico de recôncavo desde
o início;
A Eustáquio Neves, que me recebeu em Diamantina, e à Lilian Neves, que me
apresentou a cidade;
XIII
Aos queridos Laura del Rey, Marcelo Santos, Lila Botter, Brígida Campbell, Luis
Felipe Cunha, José Luiz Solsona, Thales Lira, Gustavo de Souza Gotto, Tiago
Spina, a quem recorri em momentos de dúvida no projeto gráfico;
Às revisoras porretas:
Ieda Lebensztayn e Natalia Cesana;
À minha família que amo tanto, em especial minha mãe, Edna, e minhas tias, Lu,
Vanda e Marilena.
XIV
Introdução
1
Ponto de partida
2
a própria relação dela com o livro de artista e suas práticas.
3
reflexão e criação de espaços de interlocução.
1
Contudo, a relação que se traça entre os países da região não advém de uma vontade de falar de
uma arte latino-americana, e sim de uma tentativa de deslocar o centro e realizar um pensamento à
margem (Ver: Santos, 1995).
4
Muitas pesquisas contemporâneas em livros tomei conhecimento nos
espaços por onde circulei, ao longo dos anos de 2012 e 20142. Sem os espaços
das feiras de publicação, a pesquisa não existiria, pois o processo de aproximação
e aprofundamento com os livros ocorreu a partir delas. Foi nas feiras que os meus
livros existiram. Aprendi a editar livros no compartilhar. E nos processos de encontro
conheci os livros sobre os quais comento.
2
Fui a eventos e encontros específicos de livros, como a Feria de Libro de Foto de Autor na Argentina
(em 2012 e 2013), Feira de Arte Impressa Tijuana (2012, 2013, 2014) e o Seminário Internacional
de Livro de Artista da UFMG (em 2013), além do Fórum Latino-americano de Fotografia (2013), do
Paraty em Foco (2014) e do Encontro Pensamento e Reflexão (2014). Há um fervilhar do tema, e o
que eu incorporo são as conexões de caminhos que percebi e li nesses momentos.
5
6
[ Produzir ] → [ Gerar ] → [ Compor ] → [ Conceber ] → [ Projetar ]
7
8
1) O produzir
A vida
é livro
e o livro
não é livre
Adília Lopes
1
Benjamin utiliza-se muito da palavra autor, contudo no mesmo texto ele diz que na imprensa (falando
especificamente da imprensa russa) há o desaparecimento entre autor e público. (Benjamin, 1994,
p. 125). Foucault (2000) e Barthes (2004) também discorrem sobre as relações históricas e sociais
que constroem sentidos para o que vem a ser denominado autor.
2
Benjamin fala do escritor, mas substituirei o termo por artista já que é possível fazê-lo sem perder o
sentido do texto. Ele cita exemplos da fotomontagem.
9
É a imprensa a instância decisiva, pois é nela que surge a comparação do
artista com o intelectual3. E torná-la como um espaço de produção válida para o artista
é uma necessidade, já que ela está vinculada ao capital (BENJAMIN, 1994, p. 125).
Se levarmos este espaço de produção válida para o livro (já que ele se
relaciona por completo com a imprensa), a discussão torna-se bem interessante.
Júlio Plaza já problematizou esta questão, trazendo a relação do livro de artista com
a produção industrial.
Colocar o problema do livro de artista é colocar
automaticamente dois outros aspectos que lhes são inerentes
e que delimitam a produção do livro como trabalho artístico:
primeiro, as relações entre o livro e seu sistema de produção
industrial e segundo, as relações das artes entre si, sobretudo
entre a literatura e as demais linguagens tais como: o jornal, a
fotografia, o telégrafo, o cinema, a propaganda e ainda tipos de
reprodução tradicional como técnicas reprodutoras das linguagens
artístico‑visuais (PLAZA, p. 2, 1982).
10
A tipografia permite ao livro ser uma forma de produção em massa,
mas foi possível realizar, com a litografia, criações sempre novas e reprodutíveis.
Walter Benjamin afirma que, desde sempre, a obra de arte foi reprodutível, porque
o ato de fazê-la sempre foi imitável4. Contudo, a reprodutibilidade técnica é algo
da Modernidade e, por meio de técnicas reprodutíveis, as artes gráficas passaram
a ilustrar o cotidiano. É com a litografia que tais técnicas atingem uma etapa
essencialmente nova.
4
“Por princípio, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens tinham feito sempre pôde
ser imitado por homens. Tal imitação foi também exercitada por alunos para praticarem a arte, por
mestres para divulgação das obras e, finalmente, por terceiros ávidos de lucro. Em contraposição a
isto, a reprodução técnica da obra de arte é algo de novo que se vai impondo, intermitentemente na
história, em fases muito distanciadas umas das outras, mas com crescente intensidade” (BENJAMIN,
2000, p. 167).
11
da composição fotográfica, por exemplo. Porém, na história das artes gráficas, a
fotografia não é apenas tecnologia de produção de imagem. Ela também tem sido
metatecnologia que facilita a reprodução. A fotografia, vinculada às artes gráficas,
passa a mediar a relação entre as pessoas e as formas como elas estabelecem o
seu cotidiano, tanto público quanto privado (DRUCKER; MCVARISH, 2013, p. 135).
12
Com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa,
pela primeira vez na história, de sua existência parasitária,
destacando-se do ritual: a obra de arte reproduzida é cada vez mais
a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida. A
chapa fotográfica, por exemplo, permite uma grande variedade de
cópias; a questão da autenticidade das cópias não tem nenhum
sentido. Mas, no momento em que o critério da autenticidade deixa
de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se
transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em
outra práxis: a política (BENJAMIN, 2000, p. 126).
Inventar novas formas e abrir o campo de ações sociais para a arte podem
ser ações situadas sob a visão teórica de Rouillé, que afirma ser a secularização da arte
13
um fato contemporâneo. Há um deslocamento dos limiares e barreiras, deslocamento
temático de procedimentos que questionam a própria circulação da arte.
6
Rouillé enfatiza a produção exponencial a partir dos anos 1980. Contudo, a afir-
mação do autor é controversa já que houve a fotomontagem no início do sécu-
lo e também a participação essencial da fotografia na arte conceitual nos anos 1960.
7
Segundo Lauro Junkes (1994), a alegoria fixa o movimento da história. Nela, a historicidade aparece
como forma. Em consequência, a alegoria apenas conhece a história como história do declínio,
como movimento direcionado ao passado, não ao futuro.
14
Do documento à arte contemporânea, a fotografia oscila
entre o rastro da impressão (do parecido, do mesmo, da repetição
mecânica, do unívoco, do verdadeiro), para a figura da alegoria
que, ao contrário, é duplicidade, ambiguidade, diferença e ficção
(ROUILLÉ, 2009, p. 383).
15
libertar a arte de seu isolamento tradicional: constitui meio de transmitir informação,
de modo diferente da arte, por seu baixo custo e acessibilidade. Ele é forma histórica
direta, informal, rica de associações na consciência pública. Assim, há a retirada da
mediação da arte, antes realizada por espaços institucionalizados, e a criação de
outros espaços, outros territórios, onde quem produz, edita e faz circular o livro
pode ser o próprio artista.
Essa aproximação entre arte e vida também foi ressaltada por Leszek
Brogowski, professor polonês da Universidade de Renné, na França. Brogowski
observa8 que o livro de artista é parte integrante da vida e suas práticas vão muito
além de ser um objeto de luxo. Há uma nova aliança em torno da arte e do livro e
da vida.
16
custo de reprodução nos Estados Unidos e na Europa. Esse fato, combinado com
as grandes mudanças no mundo da arte em 1950 e no início de 1960, fornece
base crucial para o livro do artista como múltiplo democrático. Vários movimentos
coletivos foram fundados, como é o caso do Fluxus (DRUCKER, 2004).
17
Uma relação muito importante no livro de artista é a existente entre a
palavra e a imagem. Porém, diferente da literatura, em que a imagem é suplemento
do texto, no livro de artista há outra forma de articular elementos verbais e visuais,
conforme ressalta Amir Brito Cadôr, artista, pesquisador e professor da UFMG:
Gertrude Stein
18
Twentysix Gasoline Stations é um livro de 48 páginas, de 18 x 14 cm.
Miolo com fotografias em preto e branco de 26 postos de gasolina situados na
antiga Rota 66, entre Los Angeles e Oklahoma, impressas em papel offset. Capa e
lombada com títulos em vermelho. Impressão industrial.
Um livro simples, com três edições, tendo sido a primeira a edição do autor
(de quatrocentos exemplares), pela fictícia editora National Excelsior Publication.
Há, no livro, aparente conexão óbvia entre título e conteúdo, pois o primeiro diz
sobre o segundo. Ruscha o definiu, entre muitas coisas, como simples coleção
de fatos, e as fotografias como sendo meros instantâneos. As imagens possuem
movimento e ruído excessivos, além de a sombra de Ruscha aparecer em uma das
fotografias. O que faz parecer que o autor desconhecia o dispositivo fotográfico,
contudo, é apenas uma pista falsa, pois Ruscha compreendia, estudava e revelava
suas próprias imagens.
19
de livros em formato consistente. Para Drucker, cada novo trabalho se referenciava
aos antecessores, sempre em capas brancas e com o mesmo estilo de letra. Nos
livros de Ruscha não há nada que se assemelhe a livros raros ou frutos de edição
limitada. Eles são ações comerciais, realizadas em impressões comerciais da
época. Essa aparência dá aos livros identidade distinta, de uma publicação neutra,
quase incidental, embora sejam cuidadosamente projetados. Outro fator destacado
por Drucker é que o trabalho de Ruscha é feito para ser barato e para circular
amplamente, para estar disponível ao público que não podia pagar pelo objeto
de arte. Uma forma de prática já iniciada com o Fluxus no final dos anos 1950
(DRUCKER, 2004, p. 75).
20
ready-made foi ao encontro do que é mais elementar na arte. “Com um gesto
de economia exemplar, Duchamp foi direto para a prática mais primária, a mais
elementar (notar que eu não disse essencial) de toda a prática artística modernista,
ou seja, que as obras de arte são mostradas, a fim de serem julgadas como tal”
(DE DUVE, 1996, p. 96).
Ruscha fez tanto uma obra-chave de seu próprio tempo como uma pedra
de toque para o sucesso de sua geração de artistas, o que inclui fotógrafos como os
participantes da famosa exposição Nova Topografia10, de 1975, cuja curadoria foi
de William Jenkins. No catálogo o curador menciona Ruscha e sua influência nos
fotógrafos ali participantes, todos produtores de imagens banais11 que não tinham
relação com o canônico da fotografia de paisagem: as imagens de Ansel Adams,
por exemplo.
21
Os pesquisadores destacam que o livro de Ruscha ainda pode ter esse
efeito desconcertante. Kotz (2007), ao tratar de arte conceitual, cita Edward Ruscha.
Para ela, em Twentysix Gasoline Stations, Ruscha nega qualquer relação com
os fotógrafos daquela época ao dizer que suas imagens não são nada além de
instantâneos. Assim como outros artistas – a exemplo de Victor Burgi, também citado
por Kotz –, Ruscha realizou modelos ainda não vistos na tradição do fotojornalismo
ou da fotografia dita artística daquela época, pois utilizou a câmera como ferramenta
simples para acúmulo de imagens ou documentação de ações.
22
[ Editar ] → [ Produzir ] → [ Editorar ] → [ Publicar ]
23
24
2) O editar
25
Em Cuba, a Revista de Avance, também de poesia, trazia o mais
experimental que era produzido na ilha, como Regino Pedroso. Também com
preocupações sociais e políticas existiram: a revista Martín Fierro, da Argentina,
e Horizonte1, do México. Esta última era vinculada ao movimento estridentista
de caráter interdisciplinar, grupo que contou com a participação de Tina Modotti e
Edward Weston.
1
Também no México, na mesma época, existia a revista Contemporáneo, que tinha entre seus
participantes o fotógrafo Manuel Álvarez Bravo.
2
Importante dizer que muitos modernistas se autopublicaram nos anos 1920, contudo não foram
formadas iniciativas editoriais que se fortaleceram ao longo do tempo.
26
Foi no final da ditadura Vargas que estas editoras passaram a existir fora
do eixo Rio-São Paulo. Surge o Gráfico Amador (Gastão de Holanda), em Recife;
Edição Dinamene (Pedro Moacir Maia), em Salvador; e Noa Noa (Cleber Teixeira),
em Florianópolis. O poeta João Cabral de Melo Neto também cria uma iniciativa
editorial em Barcelona chamada O Livro Inconsútil, que depois passa a existir no
Brasil e a publicar autores estreantes.
Omar Khouri afirma que a poesia concreta inaugura outro lugar para a
palavra, o da visualidade:
27
A palavra é encarada como uma entidade sonora, semântica e
visual (gráfica), sendo a matéria-prima do poema. Persegue-se uma
sintaxe espacial, fugindo-se da linearidade do discurso. A vocação
intersemiótica da Poesia Concreta, aí, é explicitada ao evocarem, os
signatários do manifesto, além de poetas precursores, a importância
de músicos e artistas plásticos para a poesia que estavam a praticar
e a que viriam a fazer (KHOURI, 2012, p. 02)
É também nos anos 1960/1970, com a arte correio, que as mais variadas
publicações independentes tomam fôlego, bem como a imprensa alternativa. No
Brasil, o jornal Pif-Paf inicia suas atividades e tem colaboradores como Millôr
Fernandes, Ziraldo e Henfil. Para Gazy Andraus (2003), os fanzines3 surgem no
Brasil em 1965, com os boletins de história em quadrinhos, com a poesia marginal,
e têm forte relação com um meio: o mimeógrafo.
3
A história dos zines é muito complexa e não cabe a mim destrinchá-la por completo. Vale a pena
consultar Histórias e características do Zine no site do Ugrapress.
28
Guilherme Falcão (2014)4, editor e curador da Plataforma Contra, ao
contar sobre a história do zine, falou dos meios de publicação e também da história
dos zines como ferramenta política, sua relação com os manifestos e panfletos
e também com a música. Ele também destacou a importância do mimeógrafo, e
depois a fotocópia, nos anos 1960/70. Hoje em dia, segundo ele, com o computador,
compor, editar e montar as páginas se tornaram processos sofisticados e podem ser
ferramentas de autopublicação.
4
FALCÃO, Guilherme. Participação na mesa “O livro, a autonomia e a curadoria”. In: LIVRO DE
FOTOGRAFIA – MUITO ALÉM DA MESA DE CENTRO. Fauna Galeria: São Paulo: agosto/2014. O
evento ocorreu na Fauna Galeria com curadoria minha e participação de Armando Prado (fotógrafo)
e Walter Costa (Trama) e Paul de Castro (Universidade de Leeds) na mesa “Fotolivro, a coleção e
a pesquisa”; Ana Luiza Fonseca (Feira de Arte Impressa do Tijuana), Isadora Brant e Martina Brant
(ambas do Vibrant), Felipe Russo (fotógrafo) e Guilherme Falcão (Plataforma Contra), na mesa “O
livro, a autonomia e a curadoria”. A atividade foi uma ação do curso Experiências de artistas:
aproximações entre a fotografia e o livro, o qual ofereci por duas vezes na Fauna Galeria.
5
Piva não possuía relação com o mimeógrafo, mas teve seu primeiro livro, Paranoia, realizado em
dupla, com Wesley Duke Lee, em 1963, pelo editor e gráfico Massao Ohno, que também publicou
Eunice Arruda, e outros poetas paulistas. Paranoia, em sua primeira edição, era de tamanho 10 x
15 fechado, remetia ao formato de bolso fotográfico, os poemas surrealistas e as fotografias são
experimentos sobre e com a cidade de São Paulo. Apesar de forte relação com a psicodelia, os
poemas trazem citações conscientes de cânones literários ocidentais, como Petrarca. As imagens
monocromáticas e com muito ruído trazem ações pela cidade e relacionam-se com o caráter
experimental do livro. A segunda e a terceira edições não mantiveram o tamanho e a montagem
original.
29
Chacal, Quamperios, 1977, (reeditado em edição fac-smile pela Cosac Naify em 2007)
Não é à toa que foi Plaza o curador do setor de arte postal da Bienal
de 1981, que reuniu trabalhos de mais de quinhentos artistas de todo o mundo.
O curador geral da Bienal, Walter Zanini, expõe a importância da arte postal em
entrevista a Hans Ulrich Obrist: “a arte postal tem raízes futuristas e dadaístas, e, na
minha opinião, se tornou um fenômeno importante da ‘desmaterialização’ do objeto
de arte em relação à nova mídia” (OBRIST apud ZANINI, 2009, p. 75).
30
Nos anos 1970, Plaza juntamente a Augusto de Campos autopublicam
Poemobiles: 13 objetos originais de Julio Plaza com textos de Augusto de
Campos6.
31
(...) e do termo artista, de onde variam outras denominações:
“artista-curador, artista-escritor, artista-ativista, artista-produtor,
artista-agenciador, artista-teórico, artista-terapeuta, artista-
professor, artista-químico” (BASBAUM, 2004, p. 22).
Imagens dos livros pesquisados para Experiências de artistas: aproximações entre a fotografia e o livro: Welcome Home
de Gui Mohallem; El Paraíso en el Piso 37 de Patricia Lagarde; Salud de Eduardo Carrera; historia, memoria y silencios de
Lorena Guillén Vaschetti; Pulsão escópica de João Castilho; Cartografia do meio de Claudia Zimmer; Jorge Soldado de Juan
Antonio Sánchez Rull.
32
Experiências de artistas
Foram entrevistados:
7
Entende-se por margem não o marginal, termo muito usual para denominar a literatura ou as artes
feitas fora do circuito nos tempos da ditadura. Aqui a reflexão se relaciona aos estudos pós-coloniais
e às questões trabalhadas por alguns teóricos sobre o lugar. Ver: SANTOS, 2006.
33
• Artistas-referência na área, como Edith Derdyk (Brasil) e Juan Carlos
Romero (Argentina).
8
Os livros Salud (Eduardo Carrera), Welcome home (Gui Mohallem) e El Paraiso en el Piso 37
(Patricia Lagarde) continuaram comigo na dissertação. Ver capítulo 4.
34
Para exemplificar, transformei em encarte a primeira parte do livro
Experiências de artistas, que é uma brincadeira com as respostas dos 22
entrevistados para a pergunta com que iniciei cada uma das entrevistas: “Por que
livros?” – assim, sem verbo; o verbo era o entrevistado que trazia. A seguir.
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[ Circular] → [ Mover-se ] → [ Passar de mão em mão]
→ [ Transitar ] → [ Circundar ]
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3) O circular
49
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Johanna Drucker (2008) afirma ser o livro um meio artístico com alto
potencial de circulação, com vida longa e com possibilidade de transmitir informação.
Para ela, o livro é um veículo de comunicação artístico e com possibilidades de ser
um meio de transmissão política.
50
histórica. O ativista contemporâneo atua e constrói ações que questionam as lógicas
preestabelecidas do capitalismo e também as desigualdades de gênero, classe,
raça, porém ele vai além de uma lógica combativa ou de atuações em nichos. Há
um potencial transidentitário no contemporâneo, e as práticas de intervenção e ação
não são as mesmas que foram construídas anteriormente com a redemocratização
ou mesmo com as lutas de combate à ditadura.
51
Assim, o artista deve estar engajado no público e também deve ser
produtor de um público (SHEIKH, 2012, p. 8).
Sheikh afirma ser contrapúblico algo bem além da noção de uma ação
para a auto-organização; o contrapúblico vincula-se a enunciar outros sujeitos,
outros imaginários:
52
Talvez seja o livro de artista o veículo criativo mais contrapúblico, pois
por meio dele circulam ideias, circulam projetos. Muitos pesquisadores reforçam em
seus estudos o seu caráter de engajamento.
Obviamente, quando diz isso, ele fala de um lugar, não do livro de artista
único, objeto precioso; ele fala do livro de artista reprodutível, e é este que põe em
crise o sistema institucional da arte, pois o sistema de arte é vinculado ao valor de
mercado da obra de arte.
As narrativas do livro de artista são como corpo vivo que não se limita ao
formato dado, ele busca outras dimensões do espaço.
1
Martha Hellion é uma das protagonistas do livro de artista na América Latina.
53
Os livros de artista se convertem em atores independentes
para os quais se cria a obra, se desenha o vestuário e se escolhe
o espectador para quem vai atuar, se apresentam no âmbito
performativo como uma mise en scène na qual sua interpretação,
seja oral – falado por si mesmo ou no sentido figurado –, por meio
da noção visual do texto, ou puramente visual, sempre se dirige em
direção a formas discursivas e narrativas (HELLION, 2012, p. 111).
Nos anos 1960 e 70, as revistas eram produzidas coletivamente por artistas,
tinham um caráter artesanal e circularam frequentemente pela via postal em uma rede
2
Felipe Ehrenberg conta que a editora nasceu em um contexto político: “Foi no final de 1968, às
vésperas dos Jogos Olímpicos, o governo do PRI, que cumpria na época 38 anos no poder, cometeu
o que hoje recordamos como a ‘Matanza de Tlatelolco’ (...). Quase 10 mil mexicanos fugiram do país,
entre eles Martha Hellion e eu, com nossos dois filhos pequenos (...). Chegamos à Inglaterra por
circunstâncias totalmente alheias a nossa vontade” (EHRENBERG, 2009, p. 25).
54
marginal. É o caso da revista cuja edição era realizada por Vigo Diagonal Cero3.
Nos anos 1970, outras revistas foram criadas no Brasil, como a Artéria5.
Muitos artistas se exilaram por questões políticas; contudo, a rede entre países
continuou. Ulises Carrión abriu a livraria Other Book and So6, em Amsterdã, um
espaço alternativo, um misto de livraria especializada em livros de artistas e obras
políticas. Pela primeira vez as obras de países da América Latina foram colocadas
juntas, levando a mais encontros e colaborações. Publicações de argentinos (Leon
Ferrari, Leandro Katz), brasileiros (Regina Silveira, Vera Chaves Barcellos, Julio
Plaza, Paulo Bruscky, Haroldo e Augusto de Campos) e mexicanos (Magali Lara,
Mónica Mayer e Araceli Zúñiga) fizeram parte da iniciativa.
3
A revista Diagonal Cero era editada, diagramada e distribuída por Vigo. Foram publicadas 28
edições trimestrais, entre 1962 e 1969. A edição era limitada.
Diagonal Cero era uma pasta formato de revista experimental 19,5 x 24 cm, composta por folhetos,
diferente gramatura e cor. Essas lâminas intercambiáveis permitem recompor, transformar ou dar o
seu conteúdo separadamente.
4
No capítulo 2, na parte de edição, falou-se desta relação. Vale lembrar que é uma relação que
também foi estabelecida entre os países latino-americanos, que estavam sob regimes ditatoriais.
5
Editada até os dias atuais pelo poeta, artista, editor e pesquisador Omar Khouri.
6
Um espaço para exposições, colaborações, performances e para a formulação e publicação de
livros de artista. Mais tarde, tornou-se um arquivo. Com relação ao arquivo, Carrión comentou que:
“A arte tradicional envolve um grande número de especialistas: o artista, o dono da galeria, o crítico
de arte (...) enquanto que aqui o artista é responsável por todos estes elementos, para mim, um
arquivo é a tentativa de tornar essa realidade possível, é por isso que eu considero um arquivo para
ser uma obra de arte (...). Ele não tem um limite de tempo, um arquivo sobrevive indefinidamente”
(CONWEL, 2002).
55
Dessa maneira, desde os anos 1970, o livro de artista possui uma forte
relação com os espaços alternativos. Galeristas começaram a editar livros em
vez de montarem exposições, como é o caso do curador, pesquisador e artista
estadunidense Seth Siegelaub7, figura essencial ao livro de artista nos Estados
Unidos. Também nos anos 1970, mais especificamente em 1976, foi fundada a
Printed Matter8, um espaço de arte dedicado a disseminação, estudo e exibição do
livro de artista.
56
Muitas pesquisas contemporâneas trazem a arte dos anos 1960 e 1970
e suas relações com a arte contemporânea, como é o caso do estudo realizado por
Michel Zózimo da Rocha, em 2010.
Um dos lugares do livro de artista, que se iniciou nos anos 1960, 1970 e
está em franca retomada nos anos 2010, são os espaços autônomos.
57
fora de uma agenda predeterminada. Contudo, para a pesquisadora Martha Wilson,
o importante não é apenas o livro estar fora de uma agenda predeterminada, e sim
ele afetar a experiência que o público tem da própria arte.
9
MELIM, Regina. Entrevista concedida a Fernanda Grigolin, no escritório da pesquisadora,
Florianópolis, SC, 14/3/2013.
58
O aumento de feiras e itinerâncias das mais variadas formas e por todo
o Brasil, como as feiras do Tijuana, Turnê, Plana, Pão de Forma, Parada Gráfica,
entre outras, é visto aqui sob a óptica da criação de possibilidades públicas, de
criação, troca e circulação de livros. Nelas a vocação pública do livro é latente, pois
ele está no espaço público e diminui a distância entre quem faz o livro e quem o
adquire. A curiosidade e o interesse por livros aumentam. Fala-se mais de livros.
Coletivos e editoras são formados. E a utopia de ser o livro um encontro e uma
estratégia política existente.
59
Contudo, com o desenrolar da feira, percebeu-se o surgimento de mais e
mais editoras brasileiras. Ana Luiza Fonseca (informação verbal) explica:
60
Em Belo Horizonte, a Turnê teve parceria com a Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)13.
13
A instituição realiza importante pesquisa em Artes Gráficas e Visuais. Em 2009, os pesquisadores
Amir Brito Cadôr e Maria do Carmo de Freitas Veneroso coordenaram a realização do primeiro
seminário Perspectivas do Livro de Artista. Na mesma época, foi criada uma Coleção de Livro de
Artista, a primeira a fazer parte de biblioteca pública de uma universidade. A coleção especial de livros
de artista conta com mais de 350 títulos. É uma biblioteca não circulante, mas os livros continuarão
a ser acessíveis ao público e a estudiosos interessados.
14 A edição de 2015 será temática, sobre fotolivros.
61
Outro ganho muito importante é fazer parte da reativação de
um espaço como a Casa do Povo. É um espaço na nossa cidade
que estava esquecido, e participar desse recomeço da Casa do
Povo com a Feira do Tijuana foi muito emocionante. Isso não teria
acontecido sem o convite do diretor do espaço, o Benjamin Seroussi,
que já tinha participado da segunda edição da feira do Tijuana e foi
a peça-chave dessa mudança.
62
pessoa. Quem visita participa das oficinas de quadrinhos, gravura
ou infantis e se percebe como um potencial criador, isso faz o evento
ser muito mais próximo do público (NEVES, 2014)17.
63
Importante destacar que não são apenas as feiras as formadoras de
público. Não podemos deixar de falar das iniciativas de acervo de publicações que
são criadas em bibliotecas e também das iniciativas completamente autônomas.
Destaque especial ao Projecto Múltiplo, da curadora Paula Borghi, que teve início
em 2011 e, de tempos em tempos, realiza exposições temporárias de cartazes,
livros e jornais em cidades da América Latina (já aconteceu em São Paulo, Córdoba,
Valparaíso, Quito, entre outros lugares). Sempre é aberta uma convocatória e os
livros enviados são doados e agregados às futuras edições itinerantes.
64
O livro fotográfico20, de acordo com Paulo Silveira, em sua expressão, é
tão amplo e variado que merece ser olhado atentamente.
65
à própria fotografia.
Muitos autores já escreveram sobre a fotografia estar entre a arte e a comunicação. Ver CHEVIER,
21
2007.
66
no tempo e no espaço. Ele é um entrelugares:
67
de um suporte. Tampouco é um espaço onde há uma grandiloquência de imagens
impressas em qualidade superior (fine art, por exemplo).
68
já que se combina muito bem o fotolivro com texto e imagem
(CANNABRAVA, 2013)22.
22
CANNABRAVA, Iatã. Entrevista concedida no Estúdio Madalena, São Paulo, SP, 27/3/2013.
23
COSTA, Walter. Participação na mesa “Fotolivro, a coleção e a pesquisa”. In: LIVRO DE
FOTOGRAFIA – MUITO ALÉM DA MESA DE CENTRO. Fauna Galeria: São Paulo: agosto/2014.
24
Livro clássico sobre livro de artista, já teve edições realizadas em diversas línguas. A edição
brasileira foi feita pela Com Arte e tem tradução do pesquisador Amir Brito Cadôr.
25
A frase original de Carrión é: “um livro não é um mostruário de palavras, nem um saco de palavras,
nem um portador de palavras”. (CARRIÓN, 1975, p. 1).
26
MELO E CASTRO, Paul. Participação na mesa “Fotolivro, a coleção e a pesquisa”. In: LIVRO DE
FOTOGRAFIA – MUITO ALÉM DA MESA DE CENTRO. Fauna Galeria: São Paulo: agosto/2014.
69
as iniciativas intercontinentais: os colóquios, depois os festivais e por fim as feiras
de fotolivro. Vale a pena falar brevemente desse contexto latino-americano.
27
A primeira empresa desse tipo na América do Sul e já publicou o trabalho de cerca de cem
fotógrafos, além de muitas outras publicações em execução para a segunda ou terceira edição.
28
Encontro de fotografia, iniciado em 1978, no México. O último aconteceu em 1996. Eles permitiram
o intercâmbio entre fotógrafos da região, bem como formação de iniciativas diversas.
29
KOSSOY, Boris. Trabalho apresentado na mesa “Circuitos na Fotografia Latino-americana”. In:
PRIMEIRO FÓRUM LATINO-AMERICANO, 2007, ITAÚ CULTURAL. Transcrição disponível em: <
http://www.forumfoto.org.br/disponivel-em-pdf-as-transcricoes-das-mesas-e-entrevistas/>. Acesso
em: 29 maio 2014.
70
De acordo com Fernando de Tacca, o conjunto de fotografias conservado
no Centro de la Imagen faz parte de um grande esforço que teve lugar no final
dos anos 1970 e início dos anos 1980, com o objetivo de realizar uma reunião
crucial entre fotógrafos e pesquisadores que discutem uma possível fotografia e a
identidade latino-americana (TACCA, 2013).
71
fotografia da América Latina não pode ser resumida às prescrições
da documentação social explicitamente delimitada entre as décadas
de 1970 e 1980 (SANTOS, 2013, p. 9).
72
Marcelo Brodsky, Tiempo de Árbol, 2013, 100 páginas, 17cm x 23 cm
73
continuidade e proporções são Fotoseptiembre, talvez, no México,
e Encuentros Abiertos, na Argentina, que é formado a partir da
década de 1990 em continental referência à aplicação deste modelo
de festival (NAVARRETE, 2007)32.
E, para falar destes últimos anos, retomo uma pergunta seminal que
Marcelo Brodsky fez à plateia do 1º Fórum Latino-americano de Fotografia: como
serão a fotografia, a distribuição e os livros de fotografia em dez, vinte ou trinta anos33?
74
seus livros para a feira, outros vêm à feira para se inspirarem,
editores vêm em busca de novos títulos para seus catálogos. Além
da visita, oferecemos encontros, lançamentos e um prêmio de
fotolivro”, comenta Escardó (informação verbal)34.
75
de atividade (ESCARDÓ, 2013)35.
A cada ano, meses antes da feira, abre-se uma convocatória para receber
livros, forma-se um comitê de seleção e são escolhidos os livros que comporão a
feira do ano. Em 2012, foram em média 250 livros, sendo que em 2013 houve mais
livros e o espaço foi maior. E com as itinerâncias já realizadas forma-se uma rede
de feiras independentes. Julieta Escardó explica (informação verbal) que não se
pode falar da feira sem chamar a atenção para políticas culturais. De fato, a feira é
um motor de ações para livros de fotografia na Argentina e em outros países, e gera
uma conexão de trabalhos latino-americanos sobre livro. Falar da feira na Argentina
é falar de autogestão de espaços culturais e de autonomia, algo essencial a todos
os países da região.
No Brasil não existe uma feira similar, e sim ações em livros, como a
Biblioteca do Livro de Fotografia do FotofestPoa e a livraria itinerante do Estúdio
Madalena, que funciona nos festivais de fotografia. Viviane Vilela (2014) conta que a
Livraria Madalena significa uma oportunidade de ter acesso aos mais variados livros
de fotografia e fotolivros e a possibilidade de torná-los acessíveis às pessoas que
se interessam por livros e fotografia. Ela conta que a livraria foi iniciada de maneira
despretensiosa e “hoje vejo que ocupamos um espaço, ainda que timidamente,
importante de pesquisa, difusão e discussão de livros de fotografia e fotolivros”.
A livraria que também acontece no Festival Paraty em Foco tem um aumento
significativo de lançamentos ano a ano. “Vejo o cenário do fotolivro no Brasil mais
consolidado e com as pessoas entendendo melhor o conceito e o papel do fotolivro
para a fotografia” (VILELA, 2014)37.
35
ESCARDÓ, Julieta. Op. cit.
36
Em 2013, contribuí com a feira realizando uma curadoria de livros brasileiros: levei todos os livros
brasileiros pesquisados em Experiências de artistas, além de livros de forte repercussão, como
Mulheres centrais, do Coletivo Garapa, por exemplo.
37
VILELA, Viviane. Entrevista concedida por e-mail, 12/9/2014.
76
Em 2013, ocorreu a exposição dos Fotolivros Latino-americanos,
em São Paulo e no Rio de Janeiro no Instituto Moreira Salles. A exposição é
um desdobramento da pesquisa homônima e contou com participação de Iatã
Cannabrava e Marcelo Brodsky, com curadoria do historiador da fotografia Horácio
Fernandez. Para Fernandez, o livro é um conjunto. Uma soma.
77
No México, no marco do Festival Fotoseptiembre, acontece a Feria
Internacional de Libro de Artista. O evento, bianual, é uma iniciativa governamental,
a única dessa natureza. O festival teve início em 1993 e já foram realizadas dez
edições. A feira, por sua vez, é uma das atividades do festival e teve início em 2009,
com o convite feito à Feria de Libros de Foto de Autor da Argentina.
Junto à feira foi realizado um concurso com prêmios, tanto para protótipos
de livros quanto para livros únicos. Na última, de 2011, foram exibidos cerca de
150 exemplares e entre estes havia livros brasileiros, enviados por Carlos Carvalho
do FestFotoPoA. Em 2009, um dos livros vencedores foi Jorge Soldado, de Juan
António Sánchez Rull, juntamente com o livro Choques, de Diego Levy (Argentina).
Pedro David teve seu mais recente livro, Rota raiz, lançado pela editora
Tempo D’Imagem. Rota raiz é um inventário afetivo. De acordo com David, o livro
parte da influência dos seus pais sobre sua cultura. Ele me contou que cresceu com
uma saudade do sertão, da fazenda, do interior. Visitou muito estes lugares, mas a
saudade sempre foi maior que a visita.
79
Pedro David, Rota Raiz, 2014, 128 páginas, 14 cm x 21cm
Imagens cedidas pelo autor
41
DAVID, Pedro. Entrevista realizada por e-mail, 29/6/2014.
80
Há outros casos latino-americanos, inclusive. A brasileira Maíra Soares,
por exemplo, publicou seu primeiro livro, Este seu olhar, na Espanha e rodou com
ele em todos os festivais de fotografia do mundo, bem como nas principais feiras
de livro.
Isadora Brant, Juliana Nadin, Luiza Sigulem e Martina Brant, Minotauro, 2014, 32 páginas, 20cm x 30cm
42
SOARES, Maíra. Entrevista por email, 19/7/2014.
81
Há também iniciativas vinculadas a uma estrutura gráfica como a
PingadoPrés (que iniciou publicando jovens artistas com reconhecimento dentro da
fotografia, como Gui Mohallem e Breno Rotatori).
82
No mesmo ano, Felipe Russo lançou Centro: com tiragem de mil, o livro é
resultado de um processo de pesquisa e trabalho do fotógrafo pelo centro da cidade
de São Paulo e foi impresso com a ajuda de Cartase. Russo tem uma forte relação
com o livro, realiza bonecos e planos de edição para estudar o processo de edição
das imagens. Seu processo é meticuloso. O livro vem em uma luva que contém
apenas seu título, e ao tirar o livro entrega-se o miolo, trabalhado com imagens que
trazem um tempo de espera sobre a cidade e sua fragilidade, de relações efêmeras.
83
84
4) Artistas e seus livros
Silent Book teve sua primeira edição em 1998 pela editora Cosac Naify.
Rio Branco realiza livros desde os anos 1980. Dulce Sudor Amargo foi seu primeiro
livro, publicado em 1985 pelo Fundo de Cultura Económica, México. O segundo,
Nakta, com um poema de Louis Calaferte, foi publicado em 1996 pela Fundação
Cultural de Curitiba.
85
4.1) Silent Book: a montagem inatual
A relação dele com a poesia é uma constante, tanto nas curadorias quanto
na academia. Lívia Aquino (2005) relaciona a obra de Rio Branco com imagem-
poema, e a define como metáfora visual. David Levi Strauss (2003) qualifica Miguel
Rio Branco como poeta da luz e da cor. Contudo, há poucos estudos existentes
sobre seus livros e seu processo de montagem. A mim, o que mais instiga é a
maneira como Rio Branco pensa seus livros. A partir do mais famoso, Silent Book –
brevemente abordado aqui, como obra-referência –, estabeleço um paralelo com o
poeta Herberto Helder, cuja montagem contém a essência da poésis de Miguel Rio
Branco. Foi a montagem que me aproximou dos livros.
86
de centro e da necessidade estática e contemplativa das antologias fotográficas, e
vão para as mãos, como um objeto pequeno, tátil e móvel.
No final dos anos 1970 e início dos 1980, Rio Branco conhecia a produção
brasileira, tanto de arte quanto de cinema. Trabalhou com artistas como Waltercio
Caldas, bem como com cineastas, fazendo direção de fotografia, como é o caso
do trabalho realizado com a diretora Lucia Murat. Porém, o trabalho de Rio Branco
foi para outro lugar. Sua produção em livros1, por exemplo, não partiu do campo do
que se convencionou chamar de arte conceitual na época, e sim da deslocalização
do documentarismo para o campo da arte contemporânea2. Na obra de Miguel
Rio Branco, a fotografia é componente central do processo e dos livros, vídeos e
instalações que realiza. Elementos como espaço, enquadramento, cor e luz fazem
parte do seu trabalho.
1
Seus vídeos também se localizam no campo da videoarte, não do cinema, mas o tema aqui são
os livros.
2
No campo do livro de artista, os livros de Miguel Rio Branco também são bons para pensar, já que,
anteriormente, os livros de artista que tinham utilização de fotografia, no Brasil e na América Latina,
eram pautados em conceitos de montagem muito ligados à poesia concreta e à arte visual.
87
Silent Book: imagens erupções
88
Miguel Rio Branco, Silent Book, 1998, 98 páginas, 20x20 cm (fechado) , capa dura
89
Ou pode-se voltar e olhar a imagem que está atrás da dobradura,
percebendo a sua relação com a dobradura posterior, e formar um jogo de quatro
imagens.
90
A edição perpassa por uma proposta cromática, alegórica e formal:
cromática, porque os jogos de edição variam em cores; alegórica, por trabalhar com
formas-escombros, ruínas e temporalidades; formal, visto que, em todo momento,
o formato livro e seu trabalho de montagem são conceituados na obra. Há uma
proposta labiríntica (“sutil, furtiva, secreta”, para usar palavras de Herberto Helder)
em Silent Book.
91
o primeiro plano. O frame pode ser visto como cena, onde a construção da luz e, por
consequência, a sombra, bem como a cor, mantêm aproximações com os cânones
da pintura, como Caravaggio e Goya (LÉVI-STRAUSS, 2003).
92
O tempo é a matéria desprezível (deleznable), nas palavras do escritor
Jorge Luis Borges. A matéria inconsistente que se rompe, desagrega, desfaz-se
facilmente. A matéria que invade, destroça, consome e está fora e dentro de nós.
O tempo é a própria impermanência. E, certamente, foi o perene do tempo o fio
condutor de Patricia Lagarde em seu livro.
Patricia Lagarde, El Paraíso en el Piso 37, 2005, 42 páginas, 23x17 cm (fechado) , capa dura, com lombada
de 2,5 cm, vertical
93
Lá, no penúltimo andar do edifício, a fotógrafa entrou em contato com um
aquário contendo os mais variados tipos de peixes tropicais. Ao visitá-lo pela primeira
vez, a artista Patricia Lagarde teve a certeza de que aquilo era “a representação
exata do paraíso” e de que havia estado ali na infância. Foi e voltou diversas vezes,
acompanhada de uma câmera digital compacta. Ao fotografar o lugar, descobriu
que era impossível ter estado ali quando criança: o aquário havia sido construído
quando ela já estava na juventude.
3
Teólogo da Escolástica, Pierre d’Ally foi o primeiro a discorrer sobre a forma redonda da Terra, bem
antes de Copérnico.
94
meio das imagens. O lago nutre e dá vida aos peixes dos mais variados tamanhos.
Aparentemente, o paraíso encontra-se no Oriente.
Até os mitos e citações cristãs são base de fundo para outro personagem
real e mexicano: o aloxote. É ele que, em contraste com a luz do aquário, apresenta
o paraíso. Suas patas, corpo alongado e cabeça são apresentados.
À primeira vista, ele parece um animal montado, muito similar aos animais
do projeto Fauna, de Joan Fontcuberta. Mas o aloxote existe; é um animal que
vive em ambientes escuros e águas doces. Um ser que está sempre com os olhos
abertos e de rápida regeneração. Em asteca, aloxote significa monstro aquático.
Na mitologia local, ele é encarnação do deus Xolotl, o deus asteca do caminho, do
fogo e da iluminação, aquele que conduz as almas durante sua jornada por Mictlan.
Aqui, é ele o condutor da criação e destruição do paraíso. O animal errante, natural
da Cidade do México, bem como a Torre Latino-americana, o aquário e a autora.
95
Na última parte do livro, a destruição, o aquário vazio, o preto invade o
cinza, os peixes mortos. A simbologia do tempo se materializa na figura do relógio,
que vem logo na sequência de uma imagem da cidade. O que as imagens nos
informam é nossa condição humana, nossa mortalidade; só nos cabem a expulsão
do Paraíso e o passar dos dias.
96
Pode-se dizer que o trabalho de Lagarde se aproxima do conceito
denominado contravisão, de Joan Fontcuberta (1998)41. De acordo com o autor, um
dos “papéis” contemporâneos da fotografia é desenvolver o ilusório e produzir as
tramas do simbólico, que são compartimentos de um recipiente no qual se constrói
nossa experiência.
4
“A contravisão aspira a perverter o princípio de realidade assinalado à fotografia e não representa
tanto uma crítica à visão, mas à intenção visual. Trata-se, portanto, de uma atitude e não de um estilo.
Uma atitude elástica que dependerá dos marcos das circunstâncias sociais, culturais e políticas nos
quais se envolve cada fotógrafo” (FONTCUBERTA, 1998, p. 32).
97
Welcome Home, de Gui Mohallem, é um livro que compartilha uma
experiência. Uma experiência de campo comum. Do lugar. Do lar. Da comunidade.
Do conviver. Welcome Home é o relato de uma experiência, o lugar onde arte e
vida não possuem fronteiras. Um livro em estado de corpo lírico. Um lirismo pulsante
que é percebido na edição, no página a página.
Você tem uma sequência, um ritmo que não deixa você saber
o que vem na próxima página, você olha com frescor para cada
coisa à qual você está sendo apresentado. É um jeito só de quebrar
a previsibilidade também. Então esse ritmo do livro tem um pouco
a ver com isso. As pausas, o jeito como as pausas são feitas, os
soluços e os gaps (...). As imagens estouradas têm muito a ver com
elementos da experiência que eu queria sublinhar. Então, cada uma
das imagens, pra mim, elas representam um aspecto importante
dessa experiência. É óbvio que é o conjunto todo, mas as imagens
maiores, elas têm questões (...) (MOHALLEM, 2013).51
5
MOHALLEM, Gui. Entrevista concedida na Casa Tomada, São Paulo, SP, 5/4/2013.
98
Gui Mohallem, Welcome Home, 2013, 168 páginas, 25x17cm (fechado), capa dura, 1000 cópias, publicação
independente
99
O lugar. O lar.
O autor me contou que o livro surgiu depois, ele jamais pensara em fazer
um livro, nunca imaginara fazer as imagens. Ele levou a câmera sem a pretensão de
as imagens se tornarem um trabalho. “Welcome Home é uma experiência de vida,
ele não é um trabalho. Ele nunca foi premeditadamente um livro. Ele foi a vida.”
(MOHALLEM, 2013).
100
A casa original nos poupa do fastígio de renomear tudo, pois
fornece, além da continuidade (sempre irrepreensível, no começo,
e depois totalmente repreensível) das coisas, uma continuidade dos
nomes, um hábito dos nomes, dos fonemas, dos idioletos. Primeiro
a continuidade do nome da mãe, depois do nome do pai, e suas
ramificações. É sempre dessa casa, e desses nomes, que se parte,
portanto; dessa interpretação do mundo, ao mesmo tempo familiar
e alheia, que se foge. E com esta série se retorna a uma ideia de
casa; o espaço e os termos do encontro (antes de se tornar retorno,
e condição para ele) são especiais: em uma fazenda no interior dos
EUA, pessoas se reúnem para celebrar o Beltane, festa celta entre o
começo da primavera e o do verão que marcava o reinício dos ciclos
naturais; o encontro é de orientação queer, e no entanto casais e
indivíduos não vinculados a essa identidade vão ali compartilhar a
expressão de princípios de convivência radicalmente diferentes do
que se experimenta em qualquer outro lugar. As regras, mínimas,
são respeitadas; e porque o são, e dizem respeito essencialmente
ao cuidado, o encontro se dá como retorno: aqui temos novamente
uma casa, que é preciso conhecer e definir.
Todo retorno a casa é a aparição de um fantasma; é um
reencontro. Aprendemos a nos sentir em casa, aos poucos; todo
retorno traz acolhimento e medo – é o retorno ao pertencimento, à
proteção, ao assombro da força que a casa encerra e revela.
Esta casa nos rejuvenesce; retornar a ela é religar-se ao espaço
em que criamos os nossos personagens, e revemos a intimidade do
desejo. A casa é onde ficamos a sós com a solidão das origens, e é o
descanso nessa solidão. Onde as pessoas se reúnem em seu nome,
a casa existe novamente; e com ela suas potências. A celebração
do Beltane o reitera: o festival remete ao silêncio dos ciclos naturais,
desde o momento obscuro das sementes até a nova floração; a
fertilidade ganha sua expressão mais carnal e o corpo se adorna,
preparando-se para o ofício sagrado. É daí que vêm essas imagens:
elas são o registro de um ritual de retorno – e ao mesmo tempo o
próprio encontro, a sua voz (BOGOSSIAN, 2012, p. 131-132).
101
os grupos sociais visíveis e invisíveis. “A política se ocupa do que se vê e do que
se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade
para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis tempos.” (RANCIÈRE,
2005, p. 11). É por meio dessa perspectiva de política que Rancière fala da arte.
Completamente vinculada ao signo da transformação, “a arte ressignifica o que
se vê e o que se diz e intervém na distribuição das maneiras de fazer e suas
relações com as maneiras de ser e formas visíveis”. (RANCIÈRE, 2005, p. 16).
Segundo Rancière, a arte é o testemunho do encontro com o irrepresentável que
desconcerta todo pensamento. E a partilha do sensível seria uma tarefa da arte,
que é a realização da humanidade comum.
Queer é um conceito, uma crítica das identidades, ele vai para o campo
das singularidades no qual cada um pode vivenciar e ter a experiência do seu desejo,
de sua sexualidade, como lhe for permitido. É um campo de liberdade e acordos
éticos entre sujeitos, já que a sexualidade é um campo relacional, de acordos éticos.
102
é encorajado a entender o outro como uma fonte desse desejo,
um sujeito com o próprio desejo. Então os encontros têm que ser
intermediados, o encontro dos desejos, né? Se eles... E aí, você tem
uma real liberdade. Tem uma questão do conceito de liberdade, né?
A gente vive muito o conceito de liberdade muito burguês, que é a
liberdade como território, então, a minha liberdade termina quando
começa a sua. Não é verdade, eu não acredito nisso (MOHALLEM,
2013)61.
Ao afirmar que ser público é estar exposto à alteridade, diz Deutsche que
retoma isso de Emmanuel Lévinas, bem como a noção da terceira parte.
6
MOHALLEM, Gui. Entrevista concedida na Casa Tomada, São Paulo, SP, 5/4/2013.
103
A relação com o outro, a transcendência, consiste em dizer o
mundo ao outro. (...) A generalidade da palavra instaura um mundo
comum. O acontecimento ético, situado na base da generalização, é
a intenção profunda da linguagem. (...) A linguagem não exterioriza
uma representação preexistente em mim: põe em comum um
mundo até agora meu. (...) A visão do rosto não se separa deste
oferecimento que é a linguagem. Ver o rosto é falar do mundo.
A transcendência não é uma ótica, mas o primeiro gesto ético
(LÉVINAS, 2005, p. 44).
O livro de Carrera não poderia ter outro nome. Isso porque talvez sejam
as lembranças do Conde e a sua história que Carrera saúda. As suas cartas, suas
bebedeiras e suas angústias também são saudadas.
104
Salud fala do pequeno. Salud é um livro menor, tanto em formato como
em proposta. Menor no sentido de literatura menor, da memória dos dias, das dores
e do pequeno do ser. Literatura menor é termo cunhado por Deleuze e Guattari
(2008) sobre o trabalho de Kafka, a literatura menor e a desterritorização do outro.
O autor me contou que Salud poderia chamar-se “Como contar uma vida”.
Contudo, eu discordo: em Salud, não apenas se conta, também se reverencia a
vida. As diversas plataformas, como o texto, o frame de vídeo, a fotografia de álbum
de família e a fotografia do passado, vão além do relato, do contar uma história; elas
recriam um tio, o Conde: “o único adulto com quem se podia brincar a sério”.
A face lúdica do tio, de ser ele um adulto que sabia estar entre as
crianças, é muito reforçada no livro, com imagens jocosas, ora brincando com quem
o fotografa, ora fazendo cenas ao sentar em um cavalo ao contrário. Outra face
também muito “dita” em texto e imagem era a de ele ser um personagem excêntrico,
com uma vida na qual a liberdade tenha sido levada às últimas consequências. Um
tio que fedia a tabaco, a perfume banhado a uísque.
105
destino. E o nosso destino não é o que nos tornamos ou o que
deixamos de ser. Nosso destino é “aprender a ler” (LISSOVISKY,
2011, p. 6).
106
Salud é um livro que demorou oito anos para ser publicado. O cenário para
o livro de fotografia é completamente diferente em 2003 (ano do primeiro boneco) e
em 2011 (quando o livro foi enfim publicado). A história do livro se confunde com a
história da Feira do Livro de Foto de Autor da Argentina. O autor, Eduardo Carrera,
mostrou pela primeira vez o boneco do livro nos primórdios da Feira, quando ela
era apenas um espaço pequeno de encontro de fotógrafos de Buenos Aires. Em
2011, a obra é de fato publicada pela editora da Feira, e ganha uma tiragem de
duzentos exemplares. A feira, pioneira no gênero, já é um encontro internacional:
possui itinerâncias em muitas partes da região.
7
CARRERA, Eduardo. Entrevista concedida no ateliê do artista, Buenos Aires, Argentina, 30/4/2013.
107
até que eu tenha esse tipo de imagens que têm um máximo de
detalhes e força nas sombras e destaque também (...). Desenvolvi
com um ampliador em um papel em branco... eu tive que aprender
muitas coisas, muitas coisas sobre a técnica para conseguir essas
fotos. Mas quando eu as coloquei para imprimir, de tanto que apoiei
um vidro para ficarem bastante planas, porque você sabe que
até mesmo um pouco de separar apenas como borrões e colocar
um vidro não saiu tão pesado como para evitar manchas, mas foi
enquanto eu estava usando um copo cortado e então tinha feridas
e as feridas apareceram por acaso. E eu disse: minhas fotos terão
as feridas de vidro, são todas as marcas de batidas de corte. E foi
esse não gerenciável que eu incluí no processo. A ferida apareceu
de forma aleatória e os borrões são aleatórios (CARRERA, 2013)81.
108
Na época em que fazia Salud estava trabalhando todos os dias
em um jornal no computador. E, de repente, eu escrevi à máquina
antes de ir para o jornal ou quando regressava à noite com um copo
de vinho, era como jogar-me de um penhasco. Se eu errasse algo
com a máquina de escrever tinha que refazer... ou riscar ou retirar o
papel e recomeçar... Mas você não pode fingir que não aconteceu.
A pegada de papel quebra, foi marcante para mim (...). Então, isso
significava que eu tinha que escrever uma outra densidade. Você
escreve muito menos e com uma concentração muito mais elevada.
E de alguma forma relaciono isso com o improvisar no jazz, não?
Como na música. Pode-se corrigir algo em que você ficou fora de
mão, mas não dá para dizer que não tocou, não? (CARRERA,
2013).92
9
Idem.
109
110
111
112
5) recôncavo
1
Índigo é conhecida como offset digital.
113
5.1) O produzir: fotografia, poesia e livro
114
recôncavo:
antro
seio
cavidade
gruta
enseada
115
O plano geral de recôncavo é dado no desenho. Para que isso ocorresse,
busquei imagens aéreas de um recôncavo e fiz, a partir delas, um mapa tracejado,
onde linhas se encontravam, cruzavam-se e se conformavam. Ao finalizar o
tracejado, percebi que ele mantinha a visão aérea, mas o mapa aproximava-se
muito mais de traços que queriam ser escritos, de rabiscos rudimentares. Era a
minha primeira experiência com o desenho.
116
Walter Benjamim (1994) já apontava a importância do artista (no caso do
texto, o escritor) em apropriar-se dos meios de produção e realizar novas formas
artísticas a partir dos novos meios técnicos disponíveis. A tentativa em recôncavo
é trabalhar desde o princípio com a produção técnica e a reprodutibilidade tanto nas
imagens fotográficas, no desenho e no livro, fazendo do protótipo pensado para o
mestrado uma matriz para o livro que será reproduzido em quantidade. Assim, os
princípios gráficos de reprodução em série (como a folha gráfica, os cadernos do
livro) foram respeitados. Mesmo com as dobras e com o fato de elas vazarem o
tamanho do livro aberto, o formato códex mantém-se, pois ainda há uma sequência
proposta e fixada pelos três cadernos, a costura e a lombada. A seguir, as lâminas
de impressão do miolo:
117
Lâmina 5 - frente Lâmina 5 - verso
118
Lâmina 10 - frente Lâmina 10 - verso
Lâmina 11
119
5.2) Narratividade experimental
120
121
122
123
124
125
Silveira afirma ser a página um espaço temporalizado.
126
relação entre figura e fundo e as tensões no jogo de espaços.
Perceberemos a dinâmica de movimentos sugeridos, o uso das
áreas de impressão e das cores (quando houver). E, sobretudo,
imergiremos no projeto expressivo que nos é proposto, munidos de
todo nosso conhecimento acumulado, de todas as nossas certezas
e desconfianças, de nossa bagagem intelectual, de nosso acervo
mnemônico. Tudo isso ajudando a confirmar os princípios particulares
de eloquência na percepção visual (SILVEIRA, 2008, p. 112).
127
Na segunda parte, a fotografia sangra, e a luz, mesmo difusa, muda.
128
Na segunda parte, ele toma todas as páginas, sangra, propõe caminhos.
E aparece impresso em transparência que invade a imagem, a vela.
Tornei-me artista por acaso, e de maneira tardia. E, por ter uma formação
transdisciplinar, tenho forte influência de artistas de vários campos, em especial
dos documentaristas ficcionais (Chris Marker, Cao Guimarães e Kazuo Hara), dos
artistas que trabalham com impressos e publicações (Juan Carlos Romero, Paulo
Bruscky e Antonio Vigo) e dos que trazem o político para dentro de seus projetos
(Eustáquio Neves e Lucila Quieto).
129
Seja um livro experimental de fusão da poesia com a fotografia (como é
em Reticente), seja como uma proposta de edição em diálogo com a poesia de outro
autor, como é o caso de De longe muito longe desde o início, livro que parte do
poema “Com fúria e raiva”, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Ou, por fim, como
o meu primeiro livro publicado, Retratos da Garoupa, do qual falarei mais adiante.
Olho.
Apalpo.
O cinza sonhado.
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131
Fernanda Grigolin, Reticente, 2009, 14 páginas, 10x15 (fechado)
132
O trecho do poema “Com fúria e raiva”, de Sophia, que cito no meu livro,
vem a seguir:
133
5.2.2) Retratos da Garoupa
Trabalhar em barco foi uma das piores coisas que já fiz. Todo
dia era aquela solidão esticada. De noite, diante do mar, não havia
nada além da escuridão.
Pouco se conversa nesses momentos. A audição deve ser
o principal sentido, pois o invisível prega peças e o mar braveia a
qualquer hora.
Quantas madrugadas de mar revolto. Afoito. Passei a odiar
meu antigo companheiro. Justo ele, que sempre foi meu confidente,
minha memória e meu pensamento. Embarcado, era meu inimigo.
Não havia mulheres e músicas compactuando cigarros e
beijos. Não havia trapiche. Havia apenas outros inseguros homens
à espera do porto: nossa mais ansiosa promessa. Em terra firme
teríamos o amor rápido e a pesagem do camarão.
Retratos da Garoupa é uma ficção, meu pai nada deixou escrito. Construí
um narrador masculino que tinha um primeiro encontro com a escrita. Também era
meu primeiro encontro como filha com meu pai e com minha escrita ficcional.
Meu pai era um homem de classe média baixa, que viveu no Brasil no
final dos anos 1970 em plena ditadura militar.
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Curitiba; contudo, suas digressões e flashbacks remetem sempre à cidade de Porto
Belo (SC).
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Por anos, quando via fotos de pais e filhos, essa era a imagem que eu
retomava. A foto era um testemunho de que eu estive com ele, apesar de não saber
muito bem como era isso (o estar com ele). Diferente de Barthes (1984), não sinto
a minha inexistência nas roupas do meu pai, sinto a prova do afeto, um momento
quase único, pois logo após houve a morte, a separação e anos de ausência.
A mãe de Lucila estava grávida dela quando o pai morreu. Sendo ele
marinheiro, Lucila não tinha imagens com seu pai; por este motivo, ela decidiu fazer
um álbum de família.
2
Hijos é uma rede nacional argentina contra o esquecimento e o silêncio. A organização teve início
em 1999. Um grupo de filhos de desaparecidos se uniu para pedir justiça, mas foi com a exposição
Arqueología de la Ausencia que a rede se ampliou.
3
Importante dizer que diversos coletivos e artistas realizam trabalhos até hoje sobre a ditadura
na Argentina, como os já citados Marcelo Brodsky e Juan Carlos Romero. O fotógrafo brasileiro
Fernando de Tacca realizou importante ensaio denominado “Pañuelos”, vencedor do Prêmio Pierre
Verge e que trata do movimento de resistência e luta das mães da Praça de Maio e sua “marca
indicial” pela cidade de Buenos Aires (Tacca, 2004).
136
Uma das frases de Lucila falando do próprio trabalho foi motivadora, era
assim: “Vejo o mar nos olhos do meu pai”. O trabalho dela e a frase simples fizeram
com que eu compreendesse muitas possibilidades de fazer uma pesquisa em arte.
Mas nada daquilo significava tanto quanto a cidade. Porto Belo era o
nosso ponto de encontro. Seria como Ítaca no poema de Kavafis (1982)43. Para
chegar a ela, devem-se enfrentar “lestrigões” e “ciclopes”.
137
feito até então. Teria que ir por outro lugar. Falar do meu pai é, por consequência,
falar de mim, da minha família e da cidade de Porto Belo. A cidade onde vivemos no
passado, tanto eu quanto meu pai, seria o lugar de encontro. E assim começamos
a caminhar.
138
5.3) recôncavo, a edição, as versões
139
140
Na qualificação, o livro já tinha um nome, uma proposta de edição e um
pensamento de livro. Nesse momento, realizei uma edição em jogos de imagens
entre trípticos com dobras (para fora na página ímpar), divididos em quatro jogos
(divididos aqui em linhas) e dois jogos de imagens com outras propostas de edição
que trabalham com imagens verticais, horizontais e respiros (na terceira linha) e
imagens horizontais e verticais com uma dobra invertida (para dentro e em páginas
paralelas). Estava muito inspirada nos livros que pesquisava para a dissertação, em
especial naqueles de que falo no quarto capítulo. A seguir versão de maio de 2014.
141
O protótipo impresso foi munição para a conversa com o artista Eustáquio
Neves ao longo de três semanas, fruto da residência artística que realizei no estúdio
dele. Junto a Eustáquio, revisitei meus arquivos de imagens e também meu álbum
de família. Com o auxílio de Karina Francis Urban, designer de livros, montei mais
um boneco. Karina era minha parceira em Publicações Iara51 e estava comigo na
impressão e montagem desde o primeiro boneco.
5
Em outubro de 2010, Publicações Iara nasce inspirada no mito da sereia amazônica. A mãe d’água que leva con-
sigo a todos que ao seu canto ouvem. Na Iara, a publicação era pensada em todas as etapas, desde a concepção
e o design, escolha do papel e tipo de impressão até a distribuição. Em 2012, por exemplo, realizou o evento: Iara e
Amigos na Serralheria dez horas com diversas atividades. Em 2014, a iniciativa dividiu-se em outros projetos.
142
143
Achei que na residência artística havia solucionado o livro e poderia me
concentrar nas outras partes da dissertação. Todavia, ao pôr o livro em diálogo com
várias pessoas provindas de vários espaços, percebi que ainda faltava uma relação
entre as imagens e o lugar: o recôncavo.
144
Ao criar o caminho, voltei ao livro. Reeditá-lo. E neste momento, Herberto
Helder tomou-me a mão, foi meu parceiro de jornada. No seu livro percebi relações
interessantes entre memória, montagem e política.
O acaso não existe senão para quem está demasiadamente fora. (Herberto
Helder)
145
Memória é Montagem. Montagem é poder. Logo, Poesia é montagem. (...) Montagem total:
memória como tecido ininterrupto ou a permanência rigorosa do imaginário no tempo; e a ilusão do
mundo, inesgotável (HELDER, 1996, p. 141).
146
Versão de setembro
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Versão de setembro
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Na edição de 52 páginas, o livro foi pensado para as imagens fotográficas
transitarem pela mesma linha inferior, sendo ela o limite entre a foto e o desenho,
que transita abaixo da linha e nas páginas em fragmentos.
As fotografias em páginas ímpares eram menores, há uma linha superior
que também as delimita. Já nas imagens em páginas pares ou duplas, a linha
superior inexiste, e pode-se jogar com imagens horizontalizadas ou verticais lado a
lado. As dobras também são trabalhadas na frente de um jeito (seguindo a marcação
das páginas ímpares) e nas pares de outro (seguindo a marcação das pares). Os
fragmentos do mapa caminham lado a lado com as fotos e depois compõem o
escrito que aparece no final.
149
Eder Chiodetto e Paula Borghi, os fotógrafos Talita Virginia e Walter Costa, a
biblioteconomista Ruth Simões e as jornalistas Carina Baladi e Graziela Vancine,
que deram importantes opiniões para compreender o processo do livro. Também tive
a contribuição da artista e designer Laura del Rey, que acompanhou e me auxiliou
na montagem das lâminas e também na edição do livro.
nos quartos.
pelo meio
um pouco loucas
A doçura mata.
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Setembro não trouxe o livro final. As imagens subiram. Retirei o branco
da parte de cima da página. Desafoguei as imagens. O lugar, recôncavo, ampliou-
se. O sufocamento matemático das divisões não funcionou. Não comportou o livro.
151
Muda o ritmo. E muda o ritmo no meio físico do livro, meio de um caderno,
com a costura a surgir tímida. Talvez eu já tenha nascido, simbolicamente, outras
vontades de imagem. A luz das imagens é outra, o movimento mantém-se, mas não
é enterrado no preto, no contraste. Mesmo quando há preto e branco, a sombra
dilui-se. Contornos aparecem. O dia mesmo turvo. Paisagens cruzam e cortam a
página. O desenho se verticaliza, vem em transparência para que no final se veja
completo e o livro se cerra.
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Página a página da última versão
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O lugar, o seio e a cavidade acontecem.
5.5) O circular
6
Com recursos provenientes do edital PROAC 16, edição inédita de livro de artista, (2014), da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo no qual fui aprovada com o projeto do livro recôncavo.
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Considerações finais
O encontro e seus riscos são dois fortes motivos que me fazem realizar
livros. Os atos de produzir, editar e circular constituem uma forma de conduzir o
pensamento e compreender as relações do livro de artista, da fotografia e suas
reprodutibilidades.
159
160
Referências
Entrevistas:
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MOHALLEM, Gui. Entrevista concedida a Fernanda Grigolin, na Casa Tomada, São
Paulo, SP, 5/4/2013.
Documentos virtuais:
Eventos:
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