Vous êtes sur la page 1sur 346

© 1984 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2002 Editora Árvore da Vida

Título do original Inglês:


Life-Study of Philippians

ISBN 85-7304-144-7

1ª Edição — Agosto/2002 — 5. 000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


Rua Gravi, 71 — Saúde — CEP 04143-050
Tel.: (11) 5071-8879 — São Paulo — SP — Brasil
Home Page: http://wwvv.arvoredavida.org.br
E-mail: editora@arvoredavida.org.br

Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2ª


Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
BJ— Bíblia de Jerusalém
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
NVI — Nova Versão Internacional
TB — Tradução Brasileira
VRC — Versão Revista e Corrigida de Almeida
1

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E DOIS
GRAÇA, SALVAÇÃO, O ESPÍRITO E CRISTO

Leitura Bíblica: Fp 1:7b, 19-21a


Nesta mensagem consideraremos quatro termos
muito importantes usados por Paulo em Filipenses:
graça, salvação, o Espírito e Cristo. Em 1:7 Paulo diz
aos filipenses: “Pois todos vós fostes participantes da
minha graça, tanto nas minhas prisões como na
minha defesa e confirmação do evangelho” (VRC).
Note que aqui Paulo fala de “minha graça”. Então, no
versículo 19, ele prossegue: “Porque sei que isto me
resultará em salvação pela vossa súplica e pelo
socorro do Espírito de Jesus Cristo” (TB). Nesse
versículo Paulo fala de salvação e do Espírito. Então,
nos versículos 20 e 21 ele diz: “Também agora, será
Cristo engrandecido no meu corpo (...) Porquanto,
para mim, o viver é Cristo”.
Nesses versículos, graça, salvação, o Espírito e
Cristo não são definidos de modo doutrinário. Pelo
contrário, estão relacionados com a experiência.
Quando Paulo diz “minha graça”, ele se refere à graça
em sua experiência. De igual modo, quando nos diz
que para ele isso resultará em salvação, ele não fala de
salvação objetiva apenas, de salvação doutrinária,
mas de salvação bastante experimental. Além disso,
quando menciona o Espírito, obviamente fala do
Espírito em sua experiência. Certamente sua palavra
sobre engrandecer a Cristo e vivê-Lo é bastante
subjetiva e experimental. Nos versículos 20 e 21 não
2

temos um Cristo objetivo, mas o Cristo subjetivo no


viver de Paulo.

DIFERENTES TIPOS DE SALVAÇÃO


Infelizmente, muitos cristãos têm o hábito de
fazer suposições impensadas ao ler a Bíblia. Visto que
estão familiarizados com termos tais como graça,
salvação, o Espírito e Cristo, podem presumir que os
compreendem. No entanto, se são solicitados a
explicar essas coisas, podem ter dificuldades. Por
exemplo, que Paulo quer dizer com minha graça?
Além disso, que quer dizer com me resultará
salvação? (VRC). Quando escreveu essa epístola, ele
já era salvo há muitos anos, tendo-se até mesmo
tornado apóstolo. Por que, então, ele indica que ainda
precisava de salvação? Se já somos salvos, por que
ainda precisamos ser salvos? Que ele queria dizer
quando falou que tudo o que lhe acontecia:
perseguição, aprisionamento e até mesmo a pregação
dissidente advinda de rivalidade, iria tornar-se
salvação para ele? A que tipo de salvação ele se
referia?
Não seria exato tentar responder a essa pergunta
afirmando-se que a salvação não é completa. Pelo
contrário, precisamos salientar que, de acordo com a
Bíblia, há mais de um tipo de salvação. A salvação de
Deus nos resgata de Sua condenação. Como
pecadores, estávamos condenados pelo Deus justo de
acordo com Sua lei justa. Assim, tínhamos a
necessidade de salvação. Louvado seja o Senhor,
fomos salvos da condenação de Deus pela redenção
de Cristo! Além do mais, como pecadores, estávamos
sob a mão usurpadora de Satanás e sob o poder da
3

morte, destinados ao inferno. Portanto,


necessitávamos de uma salvação que pudesse
salvar-nos do inferno. No entanto, além de ser salvos
da condenação de Deus c do inferno, precisamos
também de outros tipos de salvação. Por exemplo,
precisamos ser salvos do nosso temperamento. Tanto
os jovens como os mais velhos precisam ser livrados
do mau temperamento. Além disso, marido e mulher
necessitam experimentar salvação na vida conjugal.
As mulheres necessitam de certo tipo de salvação,
enquanto os maridos precisam de outro tipo, pois
ambos enfrentam diferentes situações e problemas.
Por meio desses exemplos podemos ver que há mais
de um tipo de salvação apresentada na Bíblia.
Quando Paulo escreveu aos filipenses, ele necessitava
de certo tipo de salvação.

DOIS ASPECTOS DA SALVAÇÃO


NECESSÁRIA A PAULO
O tipo de salvação que necessitamos depende de
nossa situação. Se estamos sob o julgamento de Deus,
precisamos de uma salvação que nos resgate dessa
situação. Se estamos sob a mão de Satanás,
precisamos de uma salvação apropriada para essa
situação. Do mesmo modo, se somos atribulados por
nosso temperamento ou enfrentamos dificuldades na
vida conjugal, precisamos de outros tipos de salvação.
Pelo fato de Paulo ser prisioneiro, ele necessitava de
um tipo de salvação que se aplicasse à sua situação na
prisão. Paulo, um judeu, não era prisioneiro em
prisão comum; era prisioneiro da guarda real de
César, o pretório. O caso de Paulo era extraordinário.
Ele não tinha cometido crime algum. Estava preso
4

devido ao fato de pregar Cristo. Visto que pregava


Cristo, foi detido e mais tarde posto na prisão. Todos
os dias, ao menos por certo tempo, ele era
acorrentado a um guarda. Sem dúvida, ele sofreu na
prisão. Ele deve ter sido desprezado e tratado com
desdém. Sem dúvida, ele necessitava de um tipo
específico de salvação. Não quero dizer com isso que
o que ele precisava era a libertação da prisão. Não; ele
necessitava experimentar salvação na prisão.
Ele diz no versículo 20: “Segundo a minha
ardente expectativa e esperança de que em nada serei
envergonhado; antes, com toda a ousadia, como
sempre, também agora, será Cristo engrandecido no
meu corpo, quer pela vida, quer pela morte”. Vemos
aqui que a expectativa dele era de não ser
envergonhado. Suponha que ele se lastimasse de sua
situação. Não seria uma vergonha? Seu lamento seria
uma indicação de que ele fora derrotado, que teria
perdido a fé, confiança e segurança no Senhor. Ou
suponha que ficasse irado com o carcereiro e
discutisse com ele. Isso também teria sido uma
vergonha. No entanto, se pudesse regozijar-se,
independentemente do modo como era tratado, seria
uma glória. A fim de manter tal postura vitoriosa
como apóstolo de Cristo, ele necessitava de um tipo
específico de salvação.
No versículo 20 vemos dois aspectos da salvação
que Paulo necessitava. O primeiro aspecto era que
nunca seria envergonhado em nada; o segundo, que
Cristo seria engrandecido no seu corpo. Ele esperava
que sua situação resultasse em salvação, para que em
nada fosse envergonhado, mas Cristo fosse
engrandecido em seu corpo. Ele Paulo parece dizer
5

aqui: “Preciso de salvação para não ser envergonhado


nos sofrimentos ou perseguições. Em vez disso,
Cristo, meu Senhor, será engrandecido em meu
corpo”.

A GRAÇA DE PAULO E A NOSSA


Consideremos agora o significado das palavras
“minha graça”. Se considerarmos essa expressão no
contexto de todo o livro de Filipenses, veremos que a
graça, que era de Paulo, era nada menos que o Deus
Triúno que ele desfrutava e experimentava e do qual
era participante. Assim, a graça de Paulo não era
Deus de maneira objetiva; era Deus subjetiva e
experimentalmente, o Deus Triúno processado como
sua porção. Ele realmente desfrutava e
experimentava o Deus Triúno processado. Ele era rico
em sua experiência do Pai, Filho e Espírito. Esse Deus
Triúno processado era a graça de Paulo.
Estamos familiarizados com o hino Amazing
Grace (Graça Maravilhosa). Embora seja um bom
hino, não fala do Deus Triúno como nossa porção
para nosso desfrute. Quando ele foi escrito, o
conhecimento experimental de Deus entre os Seus
não tinha chegado a esse ponto. Mesmo há cinqüenta
anos, os cristãos não tinham o entendimento de que
graça é o Deus Triúno experimentado e desfrutado
por nós. Mas, permanecendo sobre os ombros dos
que se foram antes de nós, viemos a saber que graça é
muito mais que meramente favor não merecido. É o
Deus Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito, processado
para nossa experiência e desfrute.
Hoje nosso Deus Triúno não é mais o Deus
não-processado, ou o Deus “cru”. Antes, Ele foi
6

processado ao passar pela encarnação, crucificação e


ressurreição. Os que tiveram um passado na teologia
sistemática podem estar perturbados com as
expressões “Deus processado” e “Deus cru”. Podem
argumentar que na Bíblia não podemos encontrar tais
termos. Embora os termos não sejam usados, os fatos
estão lá. De igual modo, não podemos encontrar os
termos “Trindade” e “Deus Triúno” na Bíblia. No
entanto, não há dúvida de que a Bíblia revela o fato de
Deus ser triúno. Do mesmo modo, não podemos
negar que a encarnação foi um processo. Além do
mais, a crucificação, que levou à ressurreição, e a
ressurreição, que levou à ascensão, também foram
passos no processo de Deus. Deus passou por um
processo não somente para nos redimir, mas também
para tornar possível que o desfrutemos como graça.
Hoje Aquele que desfrutamos como nossa graça é o
Deus Triúno que passou pela encarnação,
crucificação e ressurreição. Como Tal, Ele está pronto
para que O tomemos e desfrutemos.
João 1:17 diz que a lei foi dada por intermédio de
Moisés, mas a graça veio por meio de Jesus Cristo.
Quando essa graça torna-se nossa em nossa
experiência, desfrutamos o Deus Triúno e podemos
falar de minha graça, nossa graça. Nossa graça é o
próprio Deus Triúno desfrutado por nós.
Recentemente minha esposa e eu estávamos
orando, agradecendo ao Senhor por todo o desfrute
de Si mesmo que Ele nos tem dado. Quão bom o
Senhor tem sido para nós! Podemos testificar que O
temos experimentado e desfrutado intensamente. Por
termos participado Dele, Ele realmente tem se
tornado graça para nós. Essa graça é agora nossa
7

graça.
Na sua experiência, você também não tem sua
graça? Talvez tenha experimentado o Deus Triúno
como sua graça na vida da igreja e na vida diária. Um
irmão pode testificar que, mesmo enquanto ajuda a
arrumar as cadeiras no local de reunião ele
experimenta Deus como sua graça. Igualmente, uma
irmã casada pode testificar que na vida doméstica
com o marido e filhos, experimenta o Senhor como
sua graça. É muito bom experimentar o Senhor desse
modo e testificar isso. Mas essas situações
dificilmente podem ser comparadas com o que Paulo
enfrentou na prisão.

A DEFESA E CONFIRMAÇÃO DO
EVANGELHO
Paulo experimentou Deus tanto em seu
aprisionamento como na defesa e confirmação do
evangelho. Em 1:7 ele fala da “defesa e confirmação
do evangelho”; ele não menciona a pregação do
evangelho. Pregar o evangelho não é incomum, mas
defendê-lo e confirmá-lo são coisas extraordinárias.
Paulo o defendia, do lado positivo, das heresias que o
deturpavam e distorciam, tais como o judaísmo, do
qual ele trata em Gálatas, e o gnosticismo, do qual ele
trata em Colossenses. Paulo confirmava o evangelho,
do lado positivo, com todas as revelações dos
mistérios de Deus a respeito de Cristo e a igreja
desvendados em suas Epístolas. Na sua época, o
evangelho tinha sido deturpado e distorcido pelo
judaísmo e filosofia grega. Por defender o evangelho,
ele era perseguido. Nem os judaizantes nem os
filósofos gregos estavam contentes com ele. Além
8

disso, ele confirmava o evangelho. Ele tornou o alvo


do evangelho claro às pessoas, de modo positivo.
O alvo do evangelho é Cristo e a igreja. Paulo
pregava mensagem após mensagem falando às
pessoas sobre a economia de Deus. Ele ensinava que
Cristo é o mistério de Deus e a igreja é o mistério de
Cristo. Dessa maneira, ele confirmava o evangelho,
fazendo o alvo positivo do evangelho claro a todos os
que o recebiam.
Hoje há também uma necessidade urgente da
defesa e confirmação do evangelho. Poucos cristãos
desejam falar a respeito da igreja. Por causa disso,
embora preguem o evangelho, muitos não conhecem
o alvo do evangelho. O seu alvo em pregar o
evangelho é simplesmente salvar pecadores, ganhar
almas. Portanto, há a necessidade de se confirmar o
evangelho, falando aos outros sobre o alvo do
evangelho. Se o fizermos, no entanto, encontraremos
oposição. Tanto a defesa como a confirmação do
evangelho são tarefas difíceis e encargos pesados.

GRAÇA EXPERIMENTAL
Por causa da defesa e confirmação do evangelho,
Paulo foi perseguido, detido e posto na prisão. A
responsabilidade dada a ele de defender e confirmar o
evangelho requeria provisão divina. Não podia ser
levada a cabo por meios comuns. Paulo precisava da
força e da energia divinas. Essa força e energia
divinas são o próprio Deus Triúno. À medida que
Paulo defendia e confirmava o evangelho, Deus
estava com ele para supri-lo. Além disso, Paulo sofria
perseguição, zombaria e escárnio. Nenhum ser
humano comum pode suportar tal tratamento sem
9

provisão divina especial. Mas em meio ao seu


aprisionamento, ele podia desfrutar Deus e
experimentá-Lo. Finalmente, o Deus Triúno
processado experimentado por Paulo tornou-se sua
graça. Os crentes filipenses eram muito abençoados
por participar da graça de Paulo. Isso significa que
eles participavam do Deus dele, do próprio Deus que
ele experimentava.
Agora entendemos o significado da expressão
“minha graça”. Isso denota o próprio Deus que Paulo
experimentava, desfrutava e do qual participava. Não
é a graça objetiva; é a graça subjetiva, experimentada.
Tal graça é muito diferente de algo definido apenas
como “favor não merecido”. Como já afirmamos
diversas vezes, ela é, na verdade, uma Pessoa divina,
viva, o Deus Triúno processado como graça para nós.

REGOZIJAR-SE NO SENHOR
A graça experimentada por Paulo tornou-se sua
salvação. O que quer que ele desfrutasse do Deus
Triúno tornava-se sua salvação. Ele certamente deve
ter sido um judeu patriótico, alguém que amava sua
nação e tinha aversão intensa pelo imperialismo
romano. Por causa da sua pregação do Senhor Jesus
Cristo, ele se tornou prisioneiro sob o controle dos
imperialistas romanos. Na verdade, foram os seus
patrícios que o entregaram aos romanos. Sem dúvida,
quando ele sofria perseguição na prisão, pensava na
sua obra. Antes de seu aprisionamento, sua obra
tinha sido maravilhosa e poderosa. Espalhava-se até
mesmo na Europa. Mas agora tinha cessado. Alguns
de seus contemporâneos, movidos por ri validade,
estavam contentes pelo fato de Paulo estar na prisão e
10

restringido quanto a executar sua obra. Se em meio a


tais circunstâncias ele chorasse, teria sido derrotado e
envergonhado. No entanto, sabemos por meio de
Filipenses que, em vez de chorar, ele se regozijava no
Senhor. Nesse curto livro, ele fala repetidas vezes de
regozijar-se. Isto indica que quando estava na prisão,
ele se regozijava no Senhor. Os guardas não o ouviam
chorar; podiam ouvi-lo regozijar-se. Nisso, ele
experimentou e desfrutou o Deus Triúno como graça,
e essa graça tornou-se sua salvação. Tudo o que lhe
acontecia resultava em sua salvação.
Quando foi usado pelo Senhor para conduzir os
filipenses a Cristo, Paulo estava, sem dúvida, cheio de
regozijo. No entanto, se pudesse regozijar-se somente
naquele tipo de ambiente, e não na prisão, não teria
sido um vencedor de verdade. Ele não se regozijava
somente quando a obra em Filipos florescia, mas
também na prisão quando a sua obra para o Senhor
estava restringida. Nisso vemos a real vitória. Essa
vitória é a salvação que era a salvação de Paulo. Além
disso, como já dissemos, a salvação de Paulo era sua
graça, o próprio Deus como seu desfrute. Portanto, a
graça de Paulo era sua salvação, e a sua salvação era o
Deus Triúno a sustentá-lo no ambiente mais difícil.
Tal salvação não é objetiva; é bastante subjetiva e
experimental. Essa é a razão de, em Filipenses, Paulo
não falar de Deus de maneira teológica, nem de
maneira doutrinária objetiva, mas de modo direto,
subjetivo, pessoal e experimental. Ele podia dizer:
“Minha graça é nada menos que meu Deus. Deus é
minha graça e o Senhor é a minha salvação subjetiva,
experimental”.
11

EXPERIMENTAR O ESPÍRITO
O Deus Triúno podia tornar-se a salvação
experimental de Paulo porque Deus hoje é o Espírito.
Por essa razão, no contexto de falar de salvação,
Paulo menciona também o Espírito.
Para o Deus Triúno ser nossa experiência e
desfrute, Ele deve ser o Espírito. O Espírito em 1:19 é
na verdade o próprio Deus Triúno. João 7:39 diz:
“Pois ainda não havia o Espírito, porque Jesus não
havia sido ainda glorificado”. Nos versículos 37 e 38 o
Senhor Jesus se levantara e clamara: “Se alguém tem
sede, venha a Mim e beba. Quem crer em Mim, como
diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água
viva”. De acordo com o versículo 39, “Isso, porém,
disse Ele com respeito ao Espírito”. A razão de ainda
não haver o Espírito, era que Jesus ainda não fora
glorificado; isto é, ainda não fora plenamente
processado. Mas como o Senhor Jesus agora já foi
glorificado, plenamente processado, o Espírito está
aqui para que O desfrutemos. Esse Espírito é o
próprio Deus Triúno que passou por um processo
divino para tornar-se disponível a nós como nossa
provisão abundante.
Podemos experimentar o Espírito simplesmente
invocando “Ó Senhor Jesus”. Podemos testificar pela
nossa experiência que, quando invocamos o nome do
Senhor Jesus, bebemos do Espírito. Assim como
sentimos o frescor interior quando respiramos
profundamente ao ar livre pela manhã, também
temos um sentimento interior de frescor quando
recebemos o Espírito invocando o Senhor Jesus.
Receber o Espírito invocando o Senhor não é
uma prática de misticismo. Não; é uma realidade
12

espiritual maravilhosa, muito doce, refrescante e


desfrutável. Não teríamos essa experiência invocando
o nome de pessoas tais como George Washington,
Abraham Lincoln, Pia tão ou Confúcio. Mas que
diferença sentimos quando dizemos: “Senhor Jesus,
eu Te amo!”. Isso não é superstição ou mero
fenômeno psicológico; é o exercício de nosso espírito
regenerado para desfrutar o Senhor.
Louvado seja o Senhor pois Ele está agora em
nosso espírito! Pelo fato de nosso Deus ser tão
subjetivo para nós, Ele está conosco onde quer que
estejamos. Simplesmente invocando-O, nós O
recebemos, desfrutamos e experimentamos.
Invocando o nome do Senhor ou orando com base
nalgumas poucas palavras na Bíblia, desfrutamos o
Espírito com Sua provisão abundante. ° Espírito é
Aquele que se torna, na verdade, nossa salvação. Já
frisamos que nossa salvação é nossa graça e nossa
graça é nosso desfrute de Deus.

DESFRUTAR O ESPÍRITO E ENGRANDECER


CRISTO
Quando desfrutamos o Espírito e Dele
participamos, Cristo aparece e é engrandecido. Por
um lado, desfrutamos o Espírito; por outro, Cristo é
engrandecido. Isso é verdade tanto de acordo com a
Bíblia como de acordo com a nossa experiência.
Quando invocamos “Senhor Jesus”, interiormente
desfrutamos o Espírito. Mas como resultado do
desfrute do Espírito, Cristo é engrandecido. Ele se
toma nossa expressão.
Em nossa experiência, a graça, a salvação, o
Espírito e Cristo são, na verdade, um. Nossa graça é
13

nossa salvação; nossa salvação é o Espírito, e o


Espírito é o Cristo engrandecido. Podemos também
dizer que o Cristo engrandecido é o Espírito que
habita em nós, que o Espírito que habita em nós é
nossa salvação e que nossa salvação é nossa graça, o
Deus Triúno que desfrutamos e experimentamos.
14

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E TRÊS
A PROVISÃO ABUNDANTE DO ESPÍRITO DE JESUS
CRISTO PARA ENGRANDECER CRISTO

Leitura Bíblica: Fp 1:19-20; Êx 30:23-30


Na mensagem anterior consideramos quatro
importantes termos: graça, salvação, o Espírito e
Cristo. Nesta mensagem passaremos a considerar a
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo para
engrandecer Cristo.
Como já enfatizamos, muitos cristãos têm o
hábito, talvez inconsciente, de achar fazer suposições
impensadas ao ler a Bíblia. Visto que estão
familiarizados com o que lêem, consideram o assunto
já conhecido e presumem que o entendem. Poucos
têm desenvolvido o hábito de indagar o significado de
várias palavras, termos e frases. Por exemplo, quando
nos deparamos com a expressão “minha graça”,
deveríamos perguntar ao Senhor a respeito do seu
significado. Do mesmo modo, ao ler 1:19 deveríamos
indagar por que Paulo fala do Espírito de Jesus
Cristo, e não do Espírito Santo ou do Espírito de
Deus. Por que ele fala aqui da provisão abundante do
Espírito? Usar o artigo definido aqui é enfático. Os
cristãos sempre falam do Espírito Santo ou do
Espírito de Deus, mas raramente falam do Espírito de
Jesus Cristo. Não devemos fazer suposições
impensadas acerca do versículo 19, mas questionar
por que Paulo usa um termo específico para o
Espírito.
15

Além disso, ao ler o versículo 20 devemos


indagar por que Paulo usa a palavra engrandecer. Por
que ele não diz: “Cristo será expresso”? Por que diz
engrandecido em vez de manifestado? Todos
devemos criar o hábito de fazer tais perguntas ao ler a
Palavra.
Se desenvolvermos esse hábito, ao ler 1:21
indagaremos por que Paulo diz que “o viver é Cristo”.
Por que não diz que comportar-se é Cristo, ou andar é
Cristo? Por que usa a palavra viver? Em vez de achar
que já conhecemos o assunto, devemos fazer
perguntas como essas.

SALV AÇÃO DIÁRIA


Filipenses 1:18-21 é uma longa sentença. Nela os
pontos cruciais estão nos versículos 19 e 20, onde
Paulo diz que em nada seria envergonhado, mas
Cristo seria engrandecido em seu corpo. Ele sabia que
sua situação resultaria para ele numa salvação
específica, uma salvação diária, pessoal e imediata.
Como ele, nós recebemos a salvação eterna. Mas,
além dessa salvação, ainda necessitamos de uma
salvação diária, que podemos experimentar a todo
momento. Por exemplo, talvez um minuto atrás certo
irmão tenha sido bastante gentil ao lidar com a
esposa. Mas agora ele é exatamente o oposto;
podemos até dizer que seu comportamento é
diabólico. Pela nossa experiência sabemos que num
momento podemos viver a vida de um verdadeiro
santo, e, no momento seguinte, nosso
comportamento é de um diabo. A razão disso é que
perdemos por algum tempo essa salvação pessoal,
diária. No entanto, podemos rapidamente voltar-nos
16

ao Senhor e continuar a experimentar Sua salvação


cada instante.
A salvação da qual Paulo fala em 1:19 não é a
salvação eterna; não é a salvação do juízo de Deus ou
do inferno. Pelo contrário, é diária, contínua, uma
salvação que pode ser aplicada cada instante.
Experimentando tal salvação, Paulo esperava que,
quaisquer que fossem as circunstâncias, o ambiente
ou os sofrimentos, ele não fosse envergonhado.
Antes, Cristo seria engrandecido nele.
Suponha que numa reunião um irmão ore de
modo bastante fervoroso sobre viver Cristo e
engrandecê-Lo. No entanto, se ele, na presença de
convidados para jantar, expressar descontentamento
ou ira em relação à esposa, será envergonhado. Os
outros não verão em sua face o engrandecimento de
Cristo. Mas suponha que, qualquer que seja a
situação em casa, a face desse irmão brilhe com o
Senhor. Isso seria glorioso, um verdadeiro exemplo
de Cristo sendo engrandecido nele.
Sempre que falhamos em viver Cristo e
engrandecê-Lo, somos envergonhados. A expectativa
de Paulo em Filipenses 1 era de que suas
circunstâncias resultassem em sua salvação, para que
em nada fosse envergonhado, mas Cristo fosse
engrandecido nele. Essa era a salvação de Paulo.
Paulo, um típico judeu, estava aprisionado pelos
imperialistas romanos. Todos os dias, pelo menos
parte do tempo, permanecia acorrentado a um
guarda. Além disso, devido ao aprisionamento, estava
afastado do seu serviço ao Senhor. Sem dúvida,
naquele ambiente, seria muito difícil alguém manter
a face brilhante. Seria bastante fácil ter tristeza ou
17

desânimo estampado no rosto. Se Paulo tivesse


mostrado tais sinais de tristeza, teria sido
envergonhado. Mas ele esperava não ser
envergonhado em nada. Pelo contrário, quanto mais
fosse maltratado, mais sua face brilharia com o
Senhor. Longe de ser envergonhado, ele
engrandeceria Cristo em seu corpo. Essa era a
salvação que ele esperava experimentar na prisão.
Algumas vezes senti-me envergonhado como
convidado para jantar na casa de um irmão. Até
mesmo à mesa o irmão perdia a calma com a esposa.
Quando acontecia aquilo, sentia-me envergonhado.
Faltava a ele a salvação instantânea de Deus. Em vez
de salvação, havia vergonha.
Em tal caso, há, definitivamente, carência de
Cristo. Contudo, a carência é, na verdade, a falta da
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo. Se
tivermos a provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo, experimentaremos a salvação instantânea e
constante. Então, não seremos envergonhados em
nada, mas engrandeceremos Cristo em todas as
coisas.
Ser envergonhado é ser derrotado. Se a face de
Paulo expressasse desânimo ou tristeza, teria sido um
sinal de que ele fora derrotado pelos guardas, pela
perseguição, pela zombaria e pelo sofrimento. Se essa
tivesse sido sua condição, ele teria sido
envergonhado. Mas, novamente, quero enfatizar que
ele declarou que sua situação resultaria em salvação
para ele. Em nada seria envergonhado, mas Cristo
seria engrandecido nele.

A PROVISÃO DO CORPO
18

Nesta mensagem chegamos ao ponto crucial de


como podemos ter esse tipo de salvação. Note o que
Paulo diz no versículo 19: “Porque estou certo de que
isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do
Espírito de Jesus Cristo, me redundará em
libertação”. Não faça suposições impensadas acerca
desse versículo. Antes, considere qual é o significado
da expressão vossa súplica. Muitos leitores podem
pensar que isso se refere somente às orações dos
santos que tinham preocupação amorosa por Paulo. É
correto dizer que aqui ele se refere às orações dos
santos a seu favor. A palavra de Paulo, contudo,
implica em muito mais do que isso. Para entender o
significado pleno dessa frase, precisamos
considerá-la à luz do versículo 7, onde ele diz aos
santos que eles são participantes da sua graça na
defesa e confirmação do evangelho. Se juntarmos os
versículos 7 e 19, veremos que a frase vossa súplica
indica a provisão do Corpo. Aparentemente, Paulo
estava na prisão; na verdade, estava no Corpo. O
aprisionamento não o isolou do Corpo ou cortou-o da
provisão do Corpo. Ele tinha claro sentimento
interior de que estava no Corpo e os membros do
Corpo o supriam, apoiavam e permaneciam com ele.
É digno de nota que em 1:19 Paulo fala
primeiramente da súplica dos santos, e, então, da
provisão abundante do Espírito. Por que ele não
menciona a provisão abundante do Espírito em
primeiro lugar? A razão disso é que o Espírito está
sobre o Corpo. O Salmo 133 ilustra isso: o ungüento
derramado sobre a cabeça de Arão descia para o
corpo. Isso retrata o fato de que o ungüento, a
provisão abundante do Espírito composto, está sobre
19

o Corpo. Paulo percebia que ele não era o Corpo todo,


mas apenas um membro do Corpo. Como tal, ele
necessitava da provisão do Corpo. Se o Corpo se
exercitasse para supri-lo, a provisão abundante do
Espírito iria a ele por meio do Corpo.
Podemos com freqüência pedir a um irmão que
ore por nós. Mas mesmo que ele ore por nós e nós
oremos por ele, essa oração pode ter pouco efeito. A
razão para essa falta de eficácia é que, ao orar,
podemos estar separados do Corpo. Sempre que
estivermos separados do Corpo quando oramos, até
mesmo nossa oração será seca e nossa intercessão
não terá eficácia. A unção não está sobre nós
individualmente; ela está sobre o Corpo.
Paulo e os crentes em Filipos estavam no Corpo.
Pelo fato de o Corpo ser universal, eles estavam todos
em um só Corpo, embora Paulo estivesse muito longe
de Filipos. Por meio da súplica dos membros do
Corpo, o ungüento que está sobre o Corpo fluía para
Paulo, um membro específico do Corpo, e o supria.
Portanto, ele podia dizer que suas circunstâncias
resultariam em salvação para ele por meio da oração
do Corpo e por meio da provisão abundante do
Espírito.
Ao falar da provisão abundante do Espírito,
Paulo usa uma palavra grega específica. Literalmente,
essa palavra grega refere-se à provisão que o
superintendente do coro supria no tocante a todas as
necessidades do coro nos tempos antigos. Esse
superintendente era chamado corego1. Em 1:19 Paulo

1
Corego: Na Grécia antiga, cidadão, sobretudo entre os homens de posse, que (...) supria todas as
despesas (Dic. Aurélio). (N.T.)
20

usa essa palavra para descrever a provisão abundante


do Espírito de Jesus Cristo.

O UNGÜENTO COMPOSTO
Vemos uma figura maravilhosa dessa provisão do
Espírito em Êxodo 30:23-30, trecho da Palavra que
fala do ungüento composto. Pelo fato de as coisas
espirituais serem abstratas e misteriosas, precisamos
de algo mais do que palavras para entendê-las. Por
essa razão, na Bíblia, o Senhor usa figuras bem como
afirmações diretas. No Antigo Testamento temos
muitos tipos, figuras e sombras de coisas espirituais.
O ungüento em Êxodo 30 é um tipo que retrata o
Espírito.
Em Gêneses 1:2 lemos acerca do Espírito de
Deus; em Filipenses 1:19, do Espírito de Jesus Cristo,
e em Apocalipse 22:17, simplesmente do Espírito. O
Espírito de Deus estava ativo na criação. Mas com
relação à encarnação, o Espírito de Deus é chamado o
Espírito Santo (Mt 1:20). O Espírito Santo santificou
o elemento da humanidade para Deus. É por isso que
o termo Espírito Santo é usado para a encarnação.
Após a crucificação e a ressurreição de Cristo, esse
Espírito é chamado o Espírito de Jesus Cristo, o
Espírito Daquele que se tornara um homem, morrera
na cruz e está agora em ressurreição. O Espírito de
Jesus Cristo não visa a criação ou encarnação, mas a
nossa experiência da crucificação e ressurreição de
Cristo. De acordo com 1:19, o Espírito de Jesus Cristo
é o Espírito abundante.
Agradecemos ao Senhor pelo símbolo do
ungüento sagrado descrito em Êxodo 30:23-30. Esse
ungüento não é composto somente de azeite mas de
21

azeite misturado com quatro outros ingredientes. O


azeite de oliva representa o Espírito de Deus. O
ungüento sagrado era um composto de azeite de oliva
com quatro especiarias: mirra, cinamomo, cálamo e
cássia. Após essas especiarias serem compostas com o
azeite de oliva, ele se tornava o ungüento.
Cada uma das quatro especiarias tem um
significado espiritual. A mirra simboliza a doçura da
morte de Cristo, e o cinamomo, a eficácia dessa
morte. O cálamo, um caniço que cresce em ambiente
pantanoso, representa a ressurreição de Cristo. A
cássia era uma especiaria usada como repelente; ela é
símbolo do poder da ressurreição de Cristo. Portanto,
nessas quatro especiarias vemos a doçura e a eficácia
da morte de Cristo, a ressurreição de Cristo e o poder
dessa ressurreição. O fato de serem compostas com
azeite de oliva significa que após a ressurreição de
Cristo o Espírito de Deus tornou-se o Espírito
composto. Nele temos a doçura da morte de Cristo, a
eficácia de Sua morte e a Sua ressurreição com o seu
poder.
Os números usados na composição do óleo santo
da unção são também significativos. No ungüento o
número cinco está implícito: o azeite mais quatro
especiarias. Um é o número de Deus, e quatro, o
número do homem como criatura. O número cinco
simboliza responsabilidade: o número um (Deus)
mais o número quatro (o homem como criação de
Deus). O número três está implícito pelo fato de as
quatro especiarias estarem em três unidades de
quinhentos siclos cada: quinhentos siclos de mirra;
quinhentos siclos de cinamomo e cálamo (duzentos e
cinqüenta siclos de cada); e quinhentos siclos de
22

cássia. A segunda e a terceira especiaria, o cinamomo


e o cálamo, formam uma unidade, enquanto a
primeira e a quarta, a mirra e a cássia, são, cada uma
delas, uma unidade completa. Essas três unidades
indicam a Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito. O fato
de a segunda unidade ser dividida em duas medidas
de duzentos e cinqüenta siclos cada uma indica que o
segundo da Trindade, o Filho, foi partido na cruz.
Portanto, nas medidas das especiarias e nos números
relativos ao ungüento temos o homem e o Deus
Triúno. Temos até mesmo o partir do segundo da
Trindade. Temos divindade, humanidade,
crucificação, a doçura da morte de Cristo, a eficácia
de Sua morte, a Sua ressurreição e o poder de Sua
ressurreição. Esse é o Espírito composto.

APLICAR O ESPÍRITO
Falta entre os cristãos de hoje o verdadeiro
entendimento do Espírito. Embora muitos possam
ter ouvido mensagens sobre o Espírito composto,
podemos ter pouco mais do que conhecimento
doutrinário. Podemos não aplicar o Espírito nas
situações diárias.
Suponha que um irmão me convide para almoçar
em sua casa, mas não avise a esposa. Não somente ela
não está preparada, mas está em dificuldades com os
filhos. A esposa está preocupada e ofendida. Como
pode essa situação resultar na salvação do irmão? Ele
simplesmente necessita aplicar o ungüento composto,
o Espírito composto. O Espírito composto está no seu
espírito humano regenerado. Em vez de considerar a
situação com a esposa e olhar o ambiente difícil, ele
deve voltar-se ao espírito, aplicar o Espírito
23

composto, e contemplar o Senhor com rosto


desvendado. Então irá refletir o Senhor. Se ele aplicar
o Espírito composto e contemplar o Senhor, os
elementos do ungüento serão aplicados a ele. Tanto a
morte de Cristo como a Sua ressurreição irão operar
nele, e ele será ungido com o Espírito composto.
Nesse Espírito está tudo o que ele necessita: a morte
de Cristo e a sua eficácia, a ressurreição de Cristo e o
seu poder, e a natureza divina e a natureza humana
de Cristo. Aplicando esse Espírito composto, ele irá
experimentar a salvação instantânea de Deus. Então,
longe de ser envergonhado, ele irá engrandecer
Cristo. Além disso, os que estiverem com ele irão
desejar regozijar-se no Senhor quando virem tal
glorioso engrandecimento de Cristo.
A Bíblia revela que Cristo passou pelo processo
de encarnação, crucificação e ressurreição. Como
resultado, o Espírito de Deus é agora o Espírito de
Jesus Cristo, o Espírito que inclui os elementos da
divindade, humanidade, morte e ressurreição. Esse é
o Espírito todo-inclusivo. Quando exercitamos nosso
espírito invocando o nome do Senhor Jesus, o
Espírito todo-inclusivo que habita em nós é aplicado
ao nosso ser interior, tocando-o com todos os
elementos do Espírito composto. Então seremos os
que experimentam a divindade, a humanidade, a
morte e a ressurreição de Cristo. Essa unção do
Espírito composto é nossa salvação. Quanto mais
somos ungidos com Ele, mais somos salvos. Somos
salvos não por meio de doutrina ou ensinamento;
somos salvos pela unção do Espírito composto.
É comum pastores usarem as palavras de Paulo
em Efésios 5 ao dar instruções para o casal na
24

cerimônia de casamento. O noivo pode prometer


amar a mulher, e ela pode prometer ser submissa ao
marido. Contudo, nas situações reais da vida conjugal
esse ensinamento não funciona. Mas se ambos,
marido e mulher, aprenderem a experimentar a
provisão abundante do Espírito, certamente terão
uma vida conjugal adequada. Todos necessitamos de
mais experiência da provisão abundante do Espírito.

O ESPÍRITO COMPOSTO PARA O CORPO E


PARA O SERVIÇO DE DEUS
De acordo com a prefiguração em Êxodo 30, o
ungüento composto era usado para ungir o
tabernáculo, a habitação de Deus, bem como toda a
mobília e utensílios usados no serviço do tabernáculo.
Além disso, os sacerdotes também eram ungidos com
ele. Isso significa que o Espírito composto é para o
Corpo, a igreja, a casa de Deus e também para o
serviço de Deus. Se não estivermos no Corpo ou se
não nos importarmos com o serviço de Deus, será
muito difícil participar desse Espírito composto. Para
desfrutar o Espírito precisamos ser parte do
tabernáculo e do sacerdócio, parte da habitação de
Deus e do Seu serviço. Então espontaneamente
seremos ungidos com o ungüento e desfrutaremos a
provisão abundante do Espírito.
Pela nossa experiência sabemos que, se temos
um problema com a igreja ou recusamos participar do
serviço da igreja, não desfrutamos o Espírito
todo-inclusivo. Embora possamos orar muito, nossa
oração não é efetiva. Crendo na realidade do Espírito
composto, podemos clamar ao Senhor que tenha
misericórdia de nós, e diremos a Ele quanto
25

precisamos Dele. Contudo, ainda não


experimentamos a provisão do Espírito. A razão é que
nos separamos do Corpo e não somos parte do
tabernáculo de modo prático. Além disso, não
participamos do serviço sacerdotal. De acordo com
Êxodo 30, o ungüento composto era para a unção do
tabernáculo e dos sacerdotes. É muito importante
perceber que o Espírito composto, o Espírito de Jesus
Cristo, é para o Corpo, o tabernáculo de Deus, e para
o serviço de Deus, o sacerdócio. Pelo fato de tantos
cristãos hoje estarem cortados I Corpo e do serviço
sacerdotal, é extremamente difícil para eles
compartilhar a provisão abundante do Espírito.
Temos enfatizado que Paulo vivia no Corpo.
Embora fosse um apóstolo maravilhoso, ele ainda
precisava das orações e súplicas dos santos. Essa é
uma clara indicação de que ele tinha relacionamento
correto com o Corpo. Além disso, ele também tomava
parte no sacerdócio. Por estar no Corpo, o
tabernáculo, e ser parte do sacerdócio, o serviço de
Deus, ele estava numa posição adequada para receber
o fluir do ungüento que está sobre o Corpo.
Muitos podemos testificar que antes de virmos
para a igreja, não tínhamos qualquer desfrute da
provisão abundante do Espírito. Mas depois que
viemos para a vida da igreja na restauração do Senhor
e começamos a participar do serviço da igreja,
tivemos a sensação de que estávamos sob o fluir da
provisão abundante do Espírito.
Se na vida da igreja ficamos tristes com certos
santos, especialmente os presbíteros, podemos cortar
a nós mesmos do Corpo e afastar-nos do serviço
sacerdotal. Embora possamos ainda orar
26

individualmente, tal oração não é efetiva. De fato,


quanto mais oramos individualmente, mais secos nos
tornamos. Não experimentamos a unção do Espírito
composto. Mas, se somos um com a igreja e
permanecemos no serviço sacerdotal, desfrutamos a
rica unção do Espírito todo-inclusivo. Até mesmo
uma pequena oração ou invocar o nome do Senhor,
talvez simplesmente dizer “amém”, fazem-nos
desfrutar essa unção.
Suponha que um irmão esteja descontente com a
esposa. Contudo, numa reunião ele se volta ao Senhor
e começa a dizer, “Senhor Jesus, eu Te amo”. Pelo
fato de estar regado e ungido, o seu sentimento de
descontentamento desaparece. Quando chega em
casa após a reunião, sua face brilha. A mulher percebe
que o marido experimentou uma unção fresca do
Espírito. Quando ela o viu pela última vez, sua face
estava triste, e ele estava descontente. Mas agora sua
face brilha e ele se regozija no Senhor. Isso vem da
experiência da unção do Espírito.

EXPERIMENTAR UMA SALVAÇÃO


GLORIOSA
Repetidas vezes precisamos dizer: “Senhor Jesus,
eu Te amo”. Quanto mais O contatamos dessa
maneira, mais sentimos a unção e mais ficamos
contentes e liberados. Neste país as pessoas gostam
de tirar férias. Posso testificar que as melhores férias
são invocar o nome do Senhor Jesus e desfrutar a
unção do Espírito composto em nosso espírito.
O Espírito de Jesus Cristo tem uma provisão
abundante.
Essa provisão é uma bebida todo-inclusiva que
27

contém muitos ingredientes. Tudo o que


necessitamos ela tem. A salvação instantânea sempre
vem dessa provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo. Quando oramos de modo real e invocamos o
nome do Senhor, o ungüento composto é aplicado a
nós em nossa situação, e desfrutamos as riquezas da
provisão abundante do Espírito. Então, em vez de ser
envergonhados, experimentamos uma salvação
gloriosa. Essa salvação faz com que Cristo seja
engrandecido em nós. Pelas súplicas do Corpo e pela
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo,
nossas circunstâncias resultam em nossa salvação.
Então, em nada somos envergonhados, mas Cristo é
engrandecido em nós.
28

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E QUATRO
VIVER CRISTO PELO ESPÍRITO

Leitura Bíblica: Fp 1:19-21; Jo 14:17-20; 6:57, 63; 2Co


3:6b, 17a; Gl 5:25; 1Ts 5:17-19
Nos meus primeiros anos como cristão, ninguém
me disse qual era o alvo de ser cristão. É claro,
ensinaram-me que éramos salvos a fim de ir para o
céu. A impressão que recebi foi que o propósito de ser
cristão era simplesmente ir para o céu. O céu
supostamente é o destino ordenado por Deus para
todos os que crêem em Cristo. No entanto, mais tarde
vi que o alvo de ser cristão é viver Cristo. Além disso,
o destino que Deus ordenou para nós em Sua
economia também é que vivamos Cristo. Cristo é
nosso caminho, alvo, destino e meta.

VIVER CRISTO
Não creio que nem mesmo na década de setenta
os cristãos estivessem familiarizados com a expressão
“viver Cristo”. Essa expressão não era conhecida nem
mesmo entre nós na restauração do Senhor.
Tínhamos ouvido falar de viver para Cristo,
exteriorizar Cristo e viver por Cristo, mas não de viver
Cristo. É um termo novo. Viver por Cristo e para
Cristo e exteriorizar Cristo são um pouco diferentes
de simplesmente viver Cristo.
Podemos obter ajuda para saber o que significa
viver Cristo lendo o Evangelho de João. Esse
Evangelho revela que Cristo, o Verbo, é Deus (1:1).
29

Um dia, o Verbo tornou-se carne (1:14); isto é, Deus


encarnou-se. Referindo-se ao novo Verbo que se fez
carne, João Batista declarou “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo!” (1:29). O terceiro
capítulo do Evangelho de João fala da regeneração.
Vemos ali que devemos nascer de Deus pelo Espírito
em nosso espírito.
Em João 14 o Senhor Jesus disse: “Quem Me vê a
Mim, vê o Pai” (v. 9). O Senhor também disse: “Estou
no Pai, e o Pai, em Mim” (v. 11). O Senhor Jesus era
um com o Pai. Vê10 era ver o Pai. Nesse capítulo o
Senhor Jesus também falou do Espírito da realidade,
dizendo aos discípulos que o Espírito da realidade
habitaria com eles e estaria neles (v. 17). O Senhor
Jesus indicou que, quando o Espírito da realidade
viesse, Ele próprio também viria. O versículo 19 diz:
“Porque Eu vivo, vós também vivereis”. O versículo
20 continua: “Naquele dia vós conhecereis que Eu
estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós”. Aqui
temos nosso viver juntamente com Cristo. Estamos
em Cristo e Cristo está em nós. Isso significa que nós
e Ele vivemos juntos. Ele vive e nós também vivemos.
Vivemos Nele, por Ele, com Ele e até mesmo O
vivemos.
Em João 15 o Senhor nos dá a impressionante
ilustração da videira e dos ramos. Ele diz: “Eu sou a
videira, vós os ramos” (v. 5). Os ramos são o próprio
viver da videira.

RECEBER O SOPRO SANTO


Depois que ressuscitou, o Senhor Jesus foi aos
discípulos. De acordo com João 20:22: “Soprou neles,
e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”. A palavra
30

grega para Espírito (pneûma) também significa


sopro. Isso indica que o Senhor Jesus dizia aos
discípulos que recebessem o sopro santo. O
Evangelho de João começa com o Verbo e avança
para falar do Cordeiro e da videira. Finalmente, em
João 20:22, vemos que Aquele que é o Verbo, Deus, o
Cordeiro e a videira, é também o sopro para
recebermos. Por um lado, Ele soprou; por outro, os
discípulos inspiraram.
Em 20:22 o Senhor Jesus disse aos discípulos
que recebessem o sopro santo, o Espírito Santo. Não
devemos analisar o sopro, mas recebê-lo inalando-o.
Infelizmente, muitos dos cristãos sabem somente
arrazoar e considerar; não têm nenhuma experiência
de inalar o sopro santo. A. B. Simpson era alguém que
conhecia a experiência de inalar Cristo. As primeiras
linhas de um dos seus hinos falam “Sopra em mim,
Senhor, o Espír’to, / Me ensina a Te inspirar” (Hinos,
136).
No evangelho de João temos um registro do
processo divino. A Palavra, que era Deus, tornou-se
carne. Finalmente, tendo passado pela crucificação e
ressurreição, Ele tomou-se o sopro santo para nós o
inspirarmos.
Se virmos os passos desse processo, teremos o
entendimento adequado e completo do Evangelho de
João. De acordo com João 1:1 e 14, o Verbo, que
estava no princípio com Deus e era Deus, tomou-se
carne. No versículo 29 vemos que esse Verbo que se
tomou carne é o Cordeiro de Deus. Por um lado, Ele é
o Cordeiro para realizar a redenção; por outro, é a
árvore para dispensar vida. Portanto, podemos falar
Dele como a árvore-Cordeiro. De acordo com João 15,
31

os ramos da videira são o viver da videira. Por fim, a


árvore-Cordeiro torna-se o sopro santo. Aleluia! Em
nossa experiência temos Cristo como o Verbo, o
Cordeiro, a árvore e o sopro. O Verbo é para
expressão, o Cordeiro é para a redenção, a árvore é
para o dispensar de vida e o sopro é para o nosso
viver.
Não podemos viver sem respirar. Em vez de dizer
que certa pessoa morreu, os chineses dizem que ela
parou de respirar. Sem dúvida, parar de respirar é
morrer. No entanto, continuar a respirar é viver. Não
importa em quantas escolas possamos formar-nos,
nunca podemos tirar diploma em respirar. Ninguém
pode dizer que por ter-se tornado tão conhecedor ou
maduro, não precisa mais respirar. Pelo contrário,
quanto mais alguém envelhece, mais preocupado
pode ficar com a respiração. Como é maravilhoso que
para a vida espiritual temos o sopro santo para o
nosso viver!

UMA VIDA DE “COINERÊNCIA”


O evangelho de João nos revela que, como
crentes em Cristo, precisamos viver Cristo. João 6:57
diz, “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo
por causa do Pai, assim quem Me come, também
viverá por causa de Mim”. Assim como o Senhor
Jesus vivia pelo Pai, devemos viver por Ele. Como já
enfatizamos, o Senhor Jesus, referindo-se ao dia de
Sua ressurreição, disse: “Naquele dia, vós conhecereis
que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em
vós” (10 14:20). Ele também disse que, porque Ele
vive, nós também viveremos (v. 19). De acordo com
João 14:19-20 vivemos em Cristo pela “coinerência”.
32

Ele vive no Pai; nós, Nele; e Ele, em nós. Nós não


somente coexistimos com Cristo; “coinerimos” com
Ele. Isso significa que Ele vive em nós e nós, Nele.
Quão maravilhosa é essa vida de “coinerência”!
Temos uma vida de “coinerência” com Cristo
porque Ele é não somente o Verbo, o Cordeiro e a
árvore, mas também o sopro, o Espírito. Se fosse
somente o Verbo, o Cordeiro e a árvore, não
poderíamos viver Nele e Ele, em nós. Louvado seja
Ele porque hoje Ele não é somente o Verbo, o
Cordeiro e a árvore, mas também o pneûma, o sopro,
o Espírito!

ORAR SEM CESSAR


Em 1 Tessalonicenses 5:17 Paulo nos ordena orar
sem cessar. Que significa isso? Embora possamos
fazer várias refeições e beber muitas vezes por dia,
ninguém pode comer e beber sem cessar. Mas
certamente respiramos incessantemente. O
mandamento de Paulo de orar sem cessar implica que
a oração incessante é como respirar. Mas como pode
nossa oração tornar-se nossa respiração espiritual?
Como podemos transformar oração em respiração? A
maneira de fazer isso é invocar o nome do Senhor.
Precisamos invocar o Senhor Jesus continuamente.
Essa é a maneira de respirar, de orar sem cessar. Pelo
fato de não estarmos acostumados a isso, precisamos
praticar o invocar o nome do Senhor o tempo todo.
Viver é respirar. Espiritualmente falando, respirar é
invocar o nome do Senhor e orar. Invocando-o,
respiramos o Espírito.
Depois de nos dizer que devemos orar sem cessar
e dar graças em todas (! S coisas, Paulo nos diz que
33

não apaguemos o Espírito (1Ts 5:19). Isso indica que


se não oramos e damos graças, apagamos o Espírito.
Parar de orar é parar de respirar. Assim, apagar o
Espírito é cessar de respirar.
Em 1 Tessalonicenses 5:19 Paulo fala do Espírito,
e não do Espírito de Deus ou do Espírito Santo. Já
vimos que, de acordo com o Novo Testamento, o
Espírito é o Deus Triúno processado que se tornou o
Espírito que dá vida. Se não invocarmos o nome do
Senhor, apagaremos o Espírito.

RESPIRAR PARA VIVER CRISTO


Assim como devemos respirar a fim de viver
fisicamente, devemos respirar espiritualmente a fim
de viver Cristo. A maneira de respirar espiritualmente
é invocar o nome do Senhor. Pela minha experiência
aprendi que o modo de viver Cristo é invocá-Lo
continuamente. Não basta apenas orar várias vezes
por dia, de manhã, à tarde e à noite. Se orarmos
nesses horários, mas não invocarmos o Senhor
continuamente, apagaremos o Espírito. adia todo,
não importa onde estejamos ou o que façamos,
precisamos invocar o Senhor. Em tudo que fizermos,
devemos invocar o Senhor Jesus. Posso testificar que,
mesmo quando falo pelo Senhor, eu ° invoco e respiro
profundamente por dentro.
Invoque o nome do Senhor em toda situação,
mesmo quando está para perder a calma. Invocando o
Senhor, você viverá Cristo. No entanto, se tomar a
decisão de não perder a calma, você será derrotado.
Seu temperamento ficará pior. Em vez de tentar
manter a calma, volte-se ao Senhor e O invoque.
Diga: “Senhor Jesus, eu Te amo. Senhor, estou a
34

ponto de perder a calma. Sê um comigo nisso”. Se


fizer isso, será salvo do seu temperamento e viverá
Cristo.
Orar sem cessar invocando o nome do Senhor é
vivê-Lo. Invocando-O, automaticamente ° tomamos
como nossa vida e espontaneamente O vivemos. Se
orarmos, não faremos as coisas por nós mesmos,
separados de Cristo. Em vez disso, orando sem
cessar, viveremos Cristo.
Cristo é não somente nossa vida, mas também
nossa respiração. Você já percebeu que Cristo é a sua
respiração? Se você respirá-Lo o tempo todo, irá
vivê-lo. Após anos tateando, descobri que a maneira
de viver Cristo é respirá-Lo, e a maneira de respirá-Lo
é invocá-Lo sem cessar.
Em 1 Timóteo 6:12 Paulo diz: “Toma posse da
vida eterna, para a qual também foste chamado”.
Fomos chamados para a vida eterna. Agora devemos
tomar posse dela invocando o Senhor o dia todo.
Invocando-O, nós O respiramos.
A Bíblia revela que nosso Deus é muito
maravilhoso. Segundo o Seu plano, Ele criou o
universo e tudo o que nele há. Um dia Cristo, que é o
próprio Deus, encarnou-se, nasceu de uma virgem.
Depois de viver na terra por trinta e três anos e meio,
foi crucificado para nos redimir tirando nossos
pecados. Na cruz, o Senhor Jesus também destruiu
Seu inimigo, o diabo. Ele foi então sepultado e foi ao
Hades. Depois de percorrer a região da morte,
irrompeu em ressurreição. De acordo com Atos 2:24,
o Hades exerceu seu poder para segurá-Lo, mas em
vão. Como a própria vida de ressurreição, Ele não
poderia ser barrado pela morte. Quando entrou na
35

ressurreição, Seu corpo físico foi transformado em


corpo espiritual glorioso. É um fato que Cristo em
ressurreição ainda tem um corpo. Contudo, a Bíblia
também revela que em ressurreição Ele se tornou
Espírito que dá vida: “O último Adão tornou-se
Espírito que dá vida” (1Co 15:45 — BJ). Esse Espírito
é agora nosso fôlego.
Segunda Coríntios 3:6 diz: “A letra mata, e o
Espírito vivifica” (VRC). De acordo com a Nova
Tradução, de Darby, os versículos 7 a 16 estão entre
parênteses. Isso indica que Darby considera o
versículo 17 a continuação direta do versículo 6. °
versículo 17 declara: “Ora, o Senhor é o Espírito”. O
Senhor é o Espírito que dá vida, e esse Espírito é
nosso fôlego.
Por um lado, o Senhor está no trono no céu. Nós
O adoramos, reverenciamos e louvamos como nosso
Senhor ascendido e entronizado. Por outro, Ele está
conosco na terra. Sempre que alguém crê Nele, Ele
entra nessa pessoa e a sela. Esse selo é, na verdade, o
próprio Senhor. Isso significa que quando O
invocamos e cremos Nele, Ele se une a nós e faz com
que sejamos unidos a Ele. A partir de então, Ele e nós
somos um. “Aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele” (1 CD 6:17).

RECEBER O ESPÍRITO INVOCANDO O


NOME DO SENHOR
Devido à sua falta de conhecimento, alguns
cristãos têm feito coisas estranhas a fim de
experimentar o Espírito. Alguns têm ensinado que
para receber o Espírito devemos saltar, gritar, tremer,
ou mesmo chacoalhar cadeiras (prática de um grupo
36

de cristãos em Taiwan). Não há necessidade de fazer


tais coisas para receber o Espírito que dá vida.
Precisamos apenas exercitar nosso espírito e invocar
o nome do Senhor Jesus. Podemos também partilhar
esse desfrute orando-lendo a Palavra. Digo
novamente, não importa o que você esteja a fazer,
invoque o nome do Senhor Jesus. Se invocá-lo sem
cessar, não apagará o Espírito.
Posso testificar com base em minha própria
experiência que, se não invoco o Senhor, não consigo
viver. Mas, se eu O invoco, todas as coisas vão muito
bem. Quase sempre que você cumprimenta alguém e
pergunta como vai, ele responde: “Vou bem”. Na
verdade, na maioria dos casos, as pessoas não vão
bem. Somente quem invoca o Senhor Jesus sem
cessar pode realmente dizer que vai bem. Somos
sempre atribulados por pequenas coisas na vida
diária. O carro pode não dar partida, ou um cadarço
de sapato pode arrebentar. Tais coisas podem ser
irritantes e deixar-nos aborrecidos. Quando você está
irritado por causa do carro que não pega ou devido a
um cadarço rompido, pode dizer honestamente que
tudo vai bem? Repito, somente quem invoca o nome
do Senhor Jesus vai realmente bem.
Não há necessidade de invocar o Senhor sempre
intencional ou deliberadamente. Podemos invocá-Lo
subconsciente, inconsciente e involuntariamente.
Esse é o verdadeiro respirar. O respirar é
involuntário. Vamos desenvolver o hábito de invocar
o nome do Senhor, até que O invoquemos
inconsciente e involuntariamente.

APLICAR O SENHOR E DESFRUT Á-LO


37

Devemos ser pessoas que não se importam com a


teologia sistemática, mas se preocupam com o
desfrute rico e adequado do nosso Senhor vi vo. Ele é
Deus, o Verbo, o Cordeiro, a árvore e o Espírito que
dá vida como nosso fôlego, bem presente e
disponível. Ele nos redimiu pelo Seu sangue e, agora,
como Espírito, habita em nós. Nós habitamos Nele e
Ele, em nós. Como ramos da videira, somos um em
vida com ela e experimentamos o fluir interior da sua
vida. Quão maravilhosa é a salvação que desfrutamos
hoje! O próprio Deus Triúno passou por um processo
para tornar-se nosso sopro. Agora, invocando o nome
do Senhor Jesus, nós O inspiramos.
Quando nós O recebemos invocando Seu nome,
aplicamo-Lo a nós. Temos então uma sensação
profunda de que O desfrutamos. Não posso negar
que, sempre que invoco o Senhor Jesus, tenho uma
doce sensação interior. Oh! Ele me rega, refresca,
alimenta, fortalece e ilumina! Ele é tão desfrutável
que às vezes eu fico fora de mim de alegria. O Deus
processado é muito grande, mas ainda assim Ele é
bem desfrutável e disponível.
Eu o encorajo a invocar o Senhor dizendo
“Senhor Jesus, eu Te amo”. Quando você desfruta o
Senhor dessa maneira, pode ter entre lágrimas um
sentimento da Sua doçura, amabilidade e
preciosidade. Quando O invocamos, Ele nos toca
interiormente. Essa é a verdadeira experiência de
viver Cristo respirando o sopro santo. Que todos
busquemos cada vez mais receber e desfrutar o sopro
santo.
38

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E CINCO
VIVER CRISTO TOMANDO A PALAVRA MEDIANTE O
ESPÍRITO

Leitura Bíblica: Fp I:19-21a; 2:12b-13a, 16a; Jo 1:1;


6:63; Ef 6:17b-18a; 5:18-20; Hb 4:12; Cl 3:16-17; 2Tm
3:16a
Em 1:19-21a temos a salvação, a provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo, o engrandecer
Cristo e o viver Cristo. Em 2:12, 13a e 16a temos as
questões de desenvolver nossa salvação, de Deus
operar em nós e de preservar a palavra da vida.
Nesses dois trechos de Filipenses temos duas linhas:
a primeira é a salvação, o Espírito e Cristo; a segunda
é a salvação, Deus e a palavra. Essa comparação nos
revela muita coisa.

EXPERIMENTAR SALVAÇÃO
Em 1:19 Paulo diz que sua situação, ambiente e
circunstâncias resultariam para ele em salvação
(VRC). Mas em 2:12 ele nos encarrega de desenvolver
a nossa salvação. De acordo com o que ele falou em
1:19, as situações difíceis que enfrentamos podem
resultar em salvação. Se as circunstâncias resultam
ou não em salvação para nós depende de
desfrutarmos ou não a provisão abundante do
Espírito de Jesus Cristo. Se não a desfrutarmos,
nossas circunstâncias resultarão em vergonha. Toda
situação que enfrentarmos resultará em salvação ou
em vergonha. Suponha, por exemplo, que a esposa de
39

um irmão cause-lhe dificuldades. Para ele essa


situação pode ser salvação ou vergonha. Tudo
depende de ele desfrutar ou não a provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo. Se ele a
desfrutar, irá experimentar uma salvação
instantânea, e Cristo será engrandecido nele. Se ele
não a desfrutar, mas ficar irritado com a esposa, será
envergonhado. Repito, se a situação desse irmão com
a esposa resultar em sua salvação, Cristo será
engrandecido. Num sentido muito real, a salvação em
1:19 é Cristo engrandecido.
Em 2:12 Paulo fala novamente de salvação. Dessa
vez, no entanto, ele não fala da sua salvação, mas
encarrega os santos de desenvolver a salvação deles.
Com respeito a si mesmo, ele diz que suas
circunstâncias resultariam em salvação; com respeito
aos santos, diz que deveriam desenvolver a salvação
deles.
Para os problemas que enfrentamos no dia-a-dia,
especialmente na vida familiar e da igreja,
necessitamos da salvação de Deus. Necessitamos de
vários tipos de salvação para vários tipos de
problema. Um irmão precisa de um tipo de salvação
ao lidar com todos os santos. Mas necessita de outro
tipo de salvação na relação com a esposa. De acordo
com a ordenação de Deus, não é bom que o homem
esteja só. Todo irmão deve ter uma esposa. No
entanto, na vida conjugal os problemas são
inevitáveis. Para todos esses problemas necessitamos
da salvação de Deus. Deus ordenou o casamento para
que pudéssemos ter a oportunidade de desfrutá-Lo.
Se desfrutarmos o Senhor, experimentaremos Sua
salvação na vida conjugal.
40

A salvação de Deus revelada na Bíblia tem muitas


categorias. Dia após dia, e mesmo momento após
momento, podemos experimentar vários aspectos da
salvação de Deus. Anual, mensal, semanal,
diariamente e até cada momento, precisamos
experimentar a salvação. Simplesmente não posso
viver sem a salvação de Deus.

SALVO DE MURMURAÇÕES E
ARRAZOAMENTOS
Quando Paulo nos diz que desenvolvamos nossa
salvação, ele não se refere à salvação do inferno nem à
salvação da condenação de Deus. Não somos capazes
de desenvolver esse tipo de salvação. Repare que
Paulo diz aos santos: “Desenvolvei a vossa salvação”.
Um marido não deve prestar atenção à salvação
necessária à mulher. Em vez disso, deve
concentrar-se em desenvolver sua própria salvação.
A palavra de Paulo sobre desenvolver nossa
salvação deve ser considerada em relação à sua
incumbência com respeito a murmurações e
arrazoamentos no versículo 14. Nesse versículo ele
diz: “Faze i tudo sem murmurações nem
arrazoamentos” (lit.). Como já enfatizamos, as
murmurações estão relacionadas com as emoções, e
os arrazoamentos, com a mente. Além disso, as irmãs
em particular têm problema com as murmurações,
enquanto os irmãos são atribulados por
arrazoamentos. Nunca ouvi falar de uma irmã que
não murmurasse. Uma irmã precisa desenvolver sua
salvação com relação às suas murmurações. Ela
necessita de salvação da murmuração. Do mesmo
modo, os irmãos precisam desenvolver sua salvação
41

com respeito aos arrazoamentos. Se nossa vida


conjugal e da igreja estão cheias de murmurações e
arrazoamentos, isso é prova de que nos falta salvação
de Deus. A vida familiar e a vida da igreja devem ser
plenas de salvação e sem quaisquer murmurações e
arrazoamentos. Quão maravilhoso seria se na igreja
em nossa cidade não houvesse murmurações ou
arrazoamentos, mas abundância de salvação!

A OPERAÇÃO DE DEUS E A NOSSA


COOPERAÇÃO
Por um lado, desenvolvemos nossa salvação; por
outro, Deus opera em nós. No versículo 13 Paulo
exclama: “Porque Deus é quem opera em vós” (VRC).
Deus opera em nós, e nós cooperamos com Ele. Isso
significa que desenvolvemos nossa salvação de
acordo com a operação de Deus. No mesmo instante
em que uma irmã murmura ou um irmão arrazoa,
Deus opera para capacitá-los a desenvolver sua
salvação das murmurações e arrazoamentos. Quando
nos voltamos ao Senhor e dizemos: “Ó Senhor Jesus,
eu Te amo”, somos salvos de murmurações e
arrazoamentos.
O verbo grego traduzido por efetua tem o mesmo
radical do vocábulo energia. Deus nos “energiza” a
partir do nosso interior. Visto não ser fácil para nós
experimentar a salvação de Deus em muitas
situações, Ele nos energiza. Por exemplo, um irmão
pode ser muito forte em seus arrazoamentos. Se ele
deseja desenvolver sua salvação dos arrazoamentos,
precisa que Deus o energize.
Ao criar os céus e a terra, Deus teve
simplesmente de falar. Mas para resgatar-nos de
42

murmurações e arrazoamentos, é necessário que Ele


nos energize. Isso indica que para Ele é mais difícil
salvar-nos de murmurações e arrazoamentos do que
foi criar a terra. Quando Deus queria criar algo, Ele
simplesmente falava, e isso vinha à existência. No
entanto, se Ele nos disser que não murmuremos ou
arrazoemos, podemos não prestar atenção. Assim, há
uma luta interior entre nós e Deus. Você não tem
lutado muitas vezes com Deus? Essa luta é prova de
que para Deus é difícil resgatar-nos. A fim de
resgatar-nos sem nos causar danos, Ele nos energiza
interiormente. A vida cristã é uma vida de luta, uma
vida de luta com o Deus que opera em nós.
O próprio Deus que opera em nós é o Espírito
que supre. Novamente enfatizamos que em 1:19 Paulo
diz que suas circunstâncias resultarão em sua
salvação mediante a provisão abundante do Espírito.
Se Deus não operar em nós, não poderemos
experimentar a provisão do Espírito. Deus opera em
nós a fim de nos trazer a provisão abundante do
Espírito. Isso não é mera doutrina; é um fato da
experiência espiritual.

CRISTO ENGRANDECIDO
Mediante a provisão abundante do Espírito,
Cristo é engrandecido em nós. O que Paulo fala em
1:20 é o engrandecimento de Cristo, mas em 2:16 ele
fala de expor (TB) a palavra da vida. Expor a palavra
da vida é o mesmo que engrandecer Cristo. O próprio
Cristo é a palavra da vida. Expomos a palavra da vida
e essa palavra é Cristo.

O ESPÍRITO, DEUS, CRISTO E A PALAVRA


43

Aprecio muito esses dois trechos de Filipenses.


Por um lado, vemos no capítulo um que é possível
nosso ambiente resultar em nossa salvação. Por
outro, vemos no capítulo dois que precisamos
desenvolver nossa salvação cooperando com o
energizar de Deus. No entanto, de acordo com nossa
disposição caída, nossa tendência é ir contra o desejo
de Deus. Precisamos que Ele opere em nós. Então, se
cooperarmos com Ele, desenvolveremos nossa
salvação instantânea e exporemos a palavra da vida.
Precisamos ficar impressionados com o fato de
que o Espírito em 1:19 equivale a Deus em 2:13, e que
Cristo em 1:20 e 21 equivale à palavra da vida em
2:16. Na verdade, o Espírito, Deus, Cristo e a palavra
da vida são um.

A PALAVRA E O ESPÍRITO
Temos visto que, a fim de engrandecer e viver
Cristo, necessitamos da provisão abundante do
Espírito. Agora, precisamos avançar e ver que essa
provisão abundante está na Palavra. De acordo com a
Bíblia, o Espírito e a Palavra são um. Em João 6:63b o
Senhor Jesus diz: “As palavras que Eu vos tenho dito
são espírito e são vida”. Isso indica que a Palavra é o
Espírito. Efésios 6:17-18 indicam que o Espírito é a
Palavra. Segunda Timóteo 3:16 diz que toda Escritura
é soprada por Deus. Cada palavra da Bíblia é o sopro
de Deus. Temos enfatizado que esse sopro é o
pneûma, o Espírito. Assim, pelo fato de a Palavra e o
Espírito serem o sopro de Deus, eles são, de fato, um.
O Espírito é o sopro de Deus, e a Palavra também é o
sopro de Deus. Além disso, o sopro de Deus é Seu
pneûma, o Espírito. Por um lado, a Palavra de Deus é
44

o Espírito; por outro, o Espírito de Deus é a Palavra.


Pela nossa experiência sabemos que podemos
contatar o Espírito e experimentar o Seu mover em
nós dizendo: “Ó Senhor Jesus, eu Te amo”. Esse
mover interior do Espírito sempre resulta numa
palavra vinda do Senhor. Por exemplo, suponha que
um irmão esteja descontente com a esposa. Mas ele se
volta ao Senhor e diz: “Senhor Jesus, eu Te amo”, e o
Espírito se move nele. Então esse mover do Espírito
se toma uma palavra para ele: “Não considere sua
esposa desse modo”. Primeiramente o irmão contata
o Espírito; então o Espírito se toma a palavra
expressa nele. Além disso, essa palavra se toma uma
luz a brilhar nele, fazendo com que ele exponha a
palavra da vida.
Outras vezes, em nossa experiência, recebemos
primeiramente a Palavra, e então a Palavra se toma o
Espírito a mover-se em nós. Quer experimentemos
primeiramente o Espírito e então a Palavra, ou
primeiramente a Palavra e então o Espírito, o Espírito
e a Palavra são um.

DEUS NOS ALCANÇA


O Novo Testamento nos assegura que a Palavra e
o Espírito são um. João 1:1 diz: “No princípio era o
Verbo”. Mas em João 20:22, o Senhor Jesus soprou
sobre os discípulos e disse: “Recebei o Espírito
Santo”. No princípio do Evangelho de João, Cristo é o
Verbo, mas, no final desse evangelho, ele sopra o
Espírito. Em 6:63 Ele diz que o Verbo é o Espírito.
Mediante o Verbo e o Espírito, Deus nos alcança.
Se Deus não fosse a Palavra e o Espírito, Ele não
poderia alcançar-nos. O Espírito é Deus a nos
45

alcançar. Sempre que tocamos o Senhor, ou o Senhor


nos toca, experimentamos um alcançar divino. Deus
nos alcança como o Espírito. No entanto, de acordo
com o conceito de alguns cristãos, o Espírito é apenas
um meio usado por Deus para nos alcançar. Não; o
Espírito é o próprio Deus a nos alcançar. Podemos
usar a corrente elétrica como ilustração. Deus é como
a eletricidade e o Espírito é como a corrente elétrica.
É evidente que é errado dizer que a corrente elétrica é
diferente da própria eletricidade. Quando a
eletricidade flui, toma-se a corrente. Portanto, a
corrente elétrica é a própria eletricidade em
movimento. Quando a corrente nos alcança ela ainda
é eletricidade, e não algo separado dela. No entanto,
alguns cristãos insistem que, quando o Espírito vem a
nós, Deus Pai fica no trono no céu. Não; quando o
Espírito nos alcança, é o próprio Deus a nos alcançar.

A ANTENA E O FIO TERRA


O Espírito é misterioso, abstrato e difícil de
entender. Mas, juntamente com o Espírito, temos a
Palavra. Mais uma vez usando a eletricidade como
exemplo, podemos falar da antena e do fio terra. O
Espírito pode ser comparado à antena, e a Palavra ao
fio terra. Por meio da antena e do fio terra
experimentamos a transmissão de eletricidade. Se
tivermos o Espírito sem a Palavra ou a Palavra sem o
Espírito, não seremos capazes de receber a
transmissão divina. Tanto o Espírito como a Palavra,
tanto a antena como o fio terra, são necessários.

DOIS EXTREMOS
Entre os cristãos de hoje, os fundamentalistas
46

representam um extremo, e os pentecostais, outro. Os


fundamentalistas se preocupam com a Palavra, mas
freqüentemente negligenciam o Espírito. Isso é um
extremo. Por outro lado, muitos pentecostais se
preocupam com o Espírito, mas negligenciam a
Palavra. Esse é outro extremo. Não devemos ficar em
nenhum extremo, mas ser equilibrados,
preocupando-nos tanto com o Espírito como com a
Palavra. Interiormente, temos o Espírito, e nas mãos
temos a Palavra, a Bíblia.

TOMAR A PALAVRA POR MEIO DA ORAÇÃO


Em Efésios 6:17-18 Paulo nos diz que tomemos a
espada do Espírito, o qual é a Palavra de Deus, por
meio de toda oração e súplica. Aqui ele fala dos
aspectos tanto da Palavra como do Espírito. Além
disso, ele nos diz que tomemos a Palavra de Deus com
toda oração, orando a todo tempo no espírito.
Podemos tomar a Palavra de Deus por meio de todos
os tipos de oração: audível e silenciosa, longa e curta,
rápida e lenta, particular e pública.
Tomar a Palavra de Deus por meio da oração é
orar-ler a Palavra. Sempre que nos achegamos à
Palavra de Deus, não devemos apenas exercitar os
olhos para ler ou a mente para entender, mas também
exercitar o espírito. Pela minha experiência posso
testificar que se tocarmos a Bíblia sem oração, usando
somente os olhos e a mente, ela será letras mortas
para nós. Nossa leitura da Bíblia deve ser mesclada
com oração. Isso é orar-ler. Por exemplo, ao orar-ler
Gênesis 1:1, podemos dizer: “No princípio criou Deus
os céus e a terra. No princípio, amém. Obrigado,
Senhor, no princípio. Oh! Deus estava lá no princípio.
47

Obrigado, Senhor, por seres o princípio, a origem”.


Quando oramos-lemos a Palavra dessa maneira, ela
se torna para nós o sopro vivo de Deus, o Espírito.
Como resultado, somo regados, nutridos, refrescados
e iluminados. Longe de ser um livro de letras mortas,
a Bíblia torna-se em nossa experiência o Espírito
nutriente.
Em Efésios 6:17-18 Paulo definitivamente nos
incumbe de tomar a Palavra de Deus por meio da
oração. Alguns que se opõem à prática de orar-ler
insistem que esses versículos não podem ser
aplicados dessa maneira. No entanto, de acordo com
o texto grego, temos de dizer que devemos tomar a
Palavra de Deus por meio de oração ou com oração.
Aqui Paulo nos diz que tomemos a Palavra de Deus e
também nos dá o caminho para tomá-la: a oração.
Portanto não podemos negar que na Bíblia há tal
coisa, que é orar-ler a Palavra.
Precisamos ler a Palavra e tomá-la por meio da
oração. Através dos séculos muitos santos têm
praticado isso em princípio. Alguns têm dito que
precisamos orar quando lemos a Bíblia. Outros têm
enfatizado que devemos ler a Bíblia cheios de oração.
Ler a Bíblia cheio de oração é orar-ler a Palavra.
Muitos filhos do Senhor têm praticado o orar-ler sem
conhecer esse termo. Espontaneamente, ao
achegar-se à Palavra, têm orado com ela e sobre ela.
Creio que antes de você ter ouvido o termo orar-ler,
pode ter orado-lido João 3:16. Você pode ter lido as
palavras “Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira” e então orou: “Ó Deus, obrigado por amares
ao mundo. Pai, eu Te agradeço por me teres amado.
Tu me amaste a tal ponto que deste Teu Filho por
48

mim”. Isso é orar-ler.

EXERCITAR O ESPÍRITO
Quando oramos-lemos a Palavra, exercitamos o
Espírito. Como pessoas salvas e regeneradas, temos o
Espírito de Deus em nosso espírito. Assim, quando
exercitamos o espírito ao orar-ler a Palavra,
aplicamos a Palavra a nós e a mesclamos com o
Espírito. Imediatamente, recebemos a provisão
abundante do Espírito.

A RECEITA E A DOSE
A Bíblia revela que Cristo é Deus e também a
corporificação de Deus. Um dia, Cristo tornou-se um
homem. Em Seus anos na terra, Ele viveu a vida
humana mais elevada. Por meio de Sua crucificação e
ressurreição, Sua humanidade foi elevada e
introduzida na divindade. Depois de viver uma vida
perfeita e maravilhosa na terra, o Senhor Jesus foi à
cruz e lá morreu por nossos pecados, realizando uma
redenção plena, completa e perfeita. Ao terceiro dia,
foi ressuscitado. Em ascensão foi glorificado, coroado
e entronizado; recebeu o encabeçamento, o senhorio
e o reinado. Além dessas questões cruciais, a Bíblia
também revela que Cristo em ressurreição tornou-se
o Espírito que dá vida (1Co 15:45). Agora esse Espírito
que dá vida habita em nosso espírito regenerado.
O Espírito que dá vida contém a divindade de
Cristo, Sua humanidade ressurreta elevada, Seu viver
humano perfeito que era a expressão de Deus, a
eficácia de Sua morte todo-inclusiva para a realização
da redenção, o poder da Sua ressurreição que nos
dispensa a vida e a natureza divinas e Sua natureza
49

humana elevada, e Sua ascensão com o Seu


encabeçamento, senhorio e realeza. Todos esses são
os elementos do Espírito composto. No entanto, se
não tivéssemos a Bíblia, não saberíamos dessas
coisas. Não saberíamos quais ingredientes estão
contidos nessa dose todo-inclusiva. Oh! que riquezas
maravilhosas constituem a provisão abundante do
Espírito! Podemos aplicar as riquezas da provisão
abundante em todas as nossas circunstâncias.
Louvado seja o Senhor por termos o Espírito e a
Palavra! Como já enfatizamos repetidamente, o
Espírito e a Palavra são um. A Palavra é a receita, e o
Espírito é a aplicação. Lendo a Palavra sabemos o que
recebemos na provisão abundante do Espírito. Pela
Palavra, percebemos que recebemos a divindade, a
humanidade, o viver humano, a morte todo-inclusiva,
a ressurreição e a ascensão de Cristo. Além disso,
entendemos que somos um com Cristo em Seu
encabeçamento, senhorio e realeza. Todos esses
elementos estão incluídos no Espírito composto.
Todos são aspectos da provisão abundante do
Espírito. Aleluia, agora podemos viver Cristo
recebendo a Palavra pelo Espírito!
50

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E SEIS
AS RIQUEZAS DA PROVISÃO ABUNDANTE DO
ESPÍRITO CORPORIFICADAS NA PALAVRA

Leitura Bíblica: Fp 1:19; 2:12b, 16a; Ef 3:8; 5:18-20;


Cl 3:16-17; 1Tm 4:6; 6:3
O conceito básico da Bíblia é que o Deus Triúno
deseja trabalhar a Si mesmo no homem, para que o
homem possa tomá-Lo como vida e vivê-Lo. A fim de
cumprir esse desejo, o Deus Triúno passou por um
processo maravilhoso. Tanto a encarnação como a
crucificação foram etapas desse processo. Por meio
de Sua morte na cruz, Cristo lidou com o pecado, os
pecados e Satanás. Ele também liberou a vida divina.
A Sua morte todo-inclusiva foi seguida pela
ressurreição. Pela encarnação, Ele se tomou um
homem; por meio da crucificação lidou com todas as
coisas negativas; e em ressurreição dispensou a Si
mesmo a todos os que Nele crêem, de modo que
pudessem tomar-se um com Ele em vida e em
natureza.

O HOMEM CRIADO À IMAGEM DE DEUS


Pela criação o homem é uma criatura de Deus.
Como tal, ele não tem a vida ou a natureza divinas.
No entanto, foi criado à imagem de Deus e conforme
a Sua semelhança. Deus o criou dessa maneira
porque Sua intenção é entrar nele e ser um com ele.
Por essa razão; Deus criou o homem de tal modo que
este pudesse recebê-Lo e tornar-se um com Ele.
51

A relação entre Deus e o homem criado à Sua


imagem pode ser ilustrada por uma luva desenhada
para conter a mão. A luva é feita à imagem da mão
com o propósito de contê-la. Quando a mão entra na
luva, mão e luva formam uma unidade. De igual
modo, o homem é um vaso criado à imagem de Deus
com o propósito de conter Deus. Romanos 9 indica
que somos vasos criados para conter Deus.

SER UM COM O DEUS TRIÚNO


No que tange ao homem, ele foi criado como vaso
para conter Deus. No que tange a Deus, certo
processo foi necessário. Após passar pelo processo de
encarnação, crucificação e ressurreição, o Deus
Triúno estava pronto para entrar no homem. Após
Sua ressurreição, o Senhor Jesus encarregou Seus
seguidores de fazer discípulos das nações e batizar os
que cressem no nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo (Mt 28:19). Batizar os crentes no nome do Deus
Triúno é imergi-los na própria Pessoa do Deus
Triúno. O nome denota a pessoa; e a pessoa é a
realidade do nome. Em suas Epístolas Paulo fala de
ser batizado em Cristo (Rm 6:3; Gl 3:27). Batizar os
crentes em Cristo é o mesmo que batizá-los na Pessoa
do Deus Triúno. Os crentes em Cristo e são batizados
Nele tornam-se um com o Deus Triúno em vida e
natureza.
Louvamos o Senhor pois, como crentes, temos a
vida divina e participamos da natureza divina.
Segunda Pedro 1:4 indica claramente que somos
participantes da natureza divina. Visto que
participamos da natureza divina, pode-se dizer
corretamente que somos divinos. No entanto, isso
52

decididamente não significa que evoluímos até Deus,


ou nos tornaremos Deus como objeto de adoração. A
Bíblia não ensina que os crentes serão deificados.
Mas, de acordo com a Palavra de Deus, nós que
cremos em Cristo, de fato, nascemos de Deus. Assim,
somos filhos autênticos nascidos Dele, e não filhos
adotados. Pelo fato de sermos filhos de Deus, temos a
vida e a natureza de Deus. Por termos a vida e a
natureza divinas, somos um com Deus. Mas
repetimos que isso não significa que nos tornaremos
o próprio Deus como objeto de adoração.
De acordo com a Bíblia ensinamos que somos um
com Deus porque, por meio da regeneração, temos a
vida e a natureza de Deus. Exatamente como um filho
tem a vida e a natureza do pai, assim nós, como filhos
de Deus, temos a vida e a natureza de Deus. Mas
alguns cristãos são humildes de maneira religiosa, e,
embora confessem que foram gerados de Deus, não
ousam dizer que têm a natureza divina. Dirão
somente que são pecadores que receberam a
misericórdia de Deus. São relutantes em confessar
que têm a natureza de Deus e são um com Ele.
A regeneração não faz de nós parte da Deidade.
Dizer que os crentes tornam-se parte da Deidade
como objeto de adoração é blasfemar contra Deus.
Não podemos fazer parte da Deidade. Mas podemos
participar da natureza divina. Fazer parte da Deidade
é uma coisa; participar da natureza divina é outra.
Que grande bênção é ser um com Deus em Sua vida e
natureza!

JÁ CHEIOS DE CONCEITOS
Embora essa questão seja tão crucial na Bíblia,
53

muitos cristãos hoje não prestam atenção a ela, pois


já estão cheios de conceitos éticos, culturais,
religiosos e filosóficos. Quando eles se achegam à
Bíblia, ficam impressionados com admoestações tais
como o mandamento de que os filhos devem honrar
os pais, os maridos devem amar a mulher e as
mulheres devem submeter-se ao marido. Alguns
maridos cristãos apreciam a Bíblia porque ela ensina
a mulher a submeter-se ao marido. Do mesmo modo,
as mulheres cristãs podem apreciar a Bíblia porque
ela requer do marido que ame a mulher. As pessoas
que já estão tomadas de ética e religião irão prestar
atenção a essas questões na Bíblia, as quais elas
consideram éticas ou religiosas. No entanto, não
vêem a revelação básica nas Escrituras.
Suponha que um chinês ouça a pregação do
evangelho e creia em Cristo. Ao ler a Bíblia, ele pode
prestar especial atenção aos trechos da Palavra que
parecem dizer respeito a ética. Ele pode ter muito
pouco entendimento de Gênesis 1:26, que diz que
Deus criou o homem à Sua própria imagem, mas
pode devorar o livro de Provérbios, apreciando todos
os seus ensinamentos éticos. De modo semelhante,
pode apreciar as palavras de Paulo que dizem respeito
ao comportamento de maridos e mulheres, pois essas
palavras são muito parecidas com os ensinamentos
de Confúcio. Ele pode louvar a salvação do Senhor
porque ela o ajuda a ser ético e moral. Podemos dizer
que na vida diária ele é um “cristão confuciano”, um
crente que considera os ensinamentos da Bíblia iguais
aos ensinamentos éticos de Confúcio.
Um crente com outros antecedentes culturais
pode apreciar a Bíblia porque ela nos ensina a não
54

exaltar a nós mesmos. Ele pode prestar atenção às


questões na Palavra que parecem estar de acordo com
suas características nacionais e antecedentes
culturais. Assim, o viver Cristo é substituído pela
ética e cultura.

NUTRIÇÃO E REVELAÇÃO
Quando nos achegamos à Bíblia, devemos
esquecer a ética, a cultura e as diversas características
nacionais. Com a face desvendada e o ser interior não
tomado de antemão por coisa alguma, devemos
orar-ler a Palavra. Ao fazer isso, não receberemos
somente revelação, mas também nutrição.
Em 1 Timóteo 4:6 Paulo fala de nutrição:
“Alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina
que tens seguido”. Nutrição está relacionada com a
vida. Todas as palavras na Bíblia são palavras de vida,
palavras nutritivas e saudáveis. Paulo até mesmo usa
a expressão “ensinamento saudável” (1Tm 1:10; Tt 1:9
— lit.), referindo-se ao ensinamento que nos alimenta
e nos faz saudáveis. É importante que todos
recebamos a nutrição que vem da Palavra de Deus.
Se desejamos ser nutridos pela Palavra, devemos
estar livres de todos os preconceitos. Precisamos
colocar de lado os véus da cultura, do regionalismo e
do nacionalismo. Precisamos ler a Palavra de Deus
sem usar qualquer tipo de óculos coloridos, isto é,
sem quaisquer idéias preconcebidas. Então
receberemos tanto nutrição como revelação.
Freqüentemente, depois de salvas, as pessoas
decidem melhorar a si mesmas. Talvez digam: “Eu
era ímpio e mau. Maltratava meus pais, meus irmãos
e irmãs, bem como meus filhos. De agora em diante
55

orarei ao Deus Todo-Poderoso para que me ajude a


ser gentil com todos. Decidi nunca mais perder a
calma; pelo contrário, serei amável”. Creio que
praticamente todo cristão já tomou uma decisão
como essa. No entanto, não é correto que os crentes
tomem essa decisão. Pela experiência aprendi que
não há necessidade de decidirmos ser bons ou orar
para que Deus nos ajude a melhorar. O que
necessitamos é achegar-nos à Palavra viva e receber
nutrição.

AS RIQUEZAS E A PROVISÃO NA PALAVRA


A Bíblia revela que a plenitude da Deidade está
corporificada em Cristo. Isso significa que todas as
riquezas do que Deus tem e é estão corporificadas em
Cristo. Tendo passado pelo processo de encarnação,
crucificação e ressurreição, Cristo é agora o Espírito
todo-inclusivo com a provisão abundante. A provisão
abundante do Espírito em 1:19 é nada menos do que
as riquezas de Cristo em Efésios 3:8. Paulo testifica
que a ele foi dada a graça de pregar o evangelho das
riquezas insondáveis de Cristo. Com relação a Cristo,
há as riquezas insondáveis, mas, com relação ao
Espírito, há a provisão abundante. Repito, a provisão
abundante do Espírito são as riquezas insondáveis de
Cristo. Tanto as riquezas como a provisão estão
corporificadas na Palavra, na Bíblia. Se quisermos
tocar as riquezas insondáveis de Cristo e participar da
provisão abundante do Espírito, devemos
achegar-nos à Bíblia.
A intenção de Deus é dispensar-Se a nós e
trabalhar-Se em nós. Ele faz isso por meio do Espírito
como a “antena” e a Bíblia como o “fio terra”. Por
56

esses meios, as riquezas celestiais são transmitidas a


nós. De nossa parte, precisamos desistir de tentar
fazer o bem e de tomar a Bíblia meramente como
livro de ética; em vez disso, precisamos achegar-nos à
Palavra para obter nutrição. Não devemos
simplesmente ler a Bíblia e estudá-la; precisamos
também orar-lê-la.

COMER A PALAVRA
Não é suficiente entender a Bíblia; precisamos
também comer as suas palavras. Jeremias 15:16 diz:
“Achadas as tuas palavras, logo as comi”. Além disso,
Mateus 4:4 diz: “Não só de pão viverá o homem, mas
de toda palavra que procede da boca de Deus”. A
Bíblia não é boa somente para se ler e estudar, mas,
principalmente, é muito boa para alimento. Oh!
precisamos comer a Palavra de Deus!
O melhor modo de comer a Palavra é orar-ler. Se
desejamos desfrutar a provisão abundante do
Espírito, precisamos comer a Palavra. Já enfatizamos
que a provisão abundante do Espírito equivale às
riquezas de Cristo e as riquezas de Cristo estão
corporificadas na Palavra. Portanto, para desfrutar as
riquezas, devemos orar-ler a Palavra.

OS ELEMENTOS DAS RIQUEZAS DE CRISTO


As riquezas de Cristo têm certos elementos
básicos. O primeiro é divindade e o segundo é
humanidade. Em Cristo temos a verdadeira
divindade e uma humanidade elevada e adequada,
que expressa Deus. O terceiro elemento das riquezas
de Cristo é o viver humano do Senhor Jesus. O Seu
viver humano foi absolutamente maravilhoso. Em
57

Sua vida humana na terra Deus foi expresso. O quarto


elemento é Sua morte maravilhosa, todo-inclusiva na
cruz. O próximo ingrediente é a Sua ressurreição.
Podemos usar a semente de cravo para ilustrar a
ressurreição. Após a semente de cravo ser semeada,
ela brota, cresce e se desenvolve, e finalmente aparece
a flor do cravo. Isso é uma figura da ressurreição. A
ressurreição é questão de ressurgir e crescer em vida.
Após o Senhor Jesus ter sido crucificado e sepultado,
Ele ressurgiu. Na ilustração da semente de cravo, não
vemos somente o crescimento de vida, mas também a
forma, a função e o poder da vida. A ressurreição de
Cristo com todos esses aspectos é outro elemento de
Suas riquezas. Os outros ingredientes são a ascensão
de Cristo e Sua glorificação, com Sua entronização.
O Novo Testamento revela a divindade, a
humanidade, o viver humano, a morte, a ressurreição
e a glorificação com a entronização de Cristo.
Juntamente com esses sete elementos básicos há
outros inumeráveis ingredientes: luz, vida, amor,
santidade, justiça, paz, alegria, paciência, bondade,
sabedoria. Todos esses, no entanto, são elementos
secundários; os primários são a divindade, a
humanidade, o viver humano, a morte, a
ressurreição, a ascensão e a glorificação.
Todos esses elementos maravilhosos das
riquezas de Cristo estão corporificados na Bíblia. Mas
não estão corporificados na Palavra de maneira
sistematizada. A Palavra de Deus simplesmente não
pode ser sistematizada. As riquezas de Deus são
profundas demais para isso.
Temos enfatizado que na Bíblia está
corporificada a provisão abundante do Espírito. Além
58

disso, temos visto que o Espírito e a Palavra são, de


fato, um. Pelo fato de a Palavra ser o Espírito e o
Espírito ser a Palavra, eles não podem ser separados.

ORAR-LER A PALAVRA
Quando lemos a Palavra, devemos mesclar nossa
leitura com oração. Assim como exercitamos os olhos
e a mente, devemos também exercitar o espírito para
tocar o Espírito. Então tudo o que está na Palavra irá
tornar-se em nossa experiência a provisão abundante
do Espírito.
Vamos usar o Salmo 133 para mostrar a
diferença entre analisar a Bíblia e desfrutar a nutrição
contida nela ao orar-ler. Nos momentos de devoção
pessoal, alguns cristãos podem ler o Salmo 133. À
medida que o lêem, podem começar a analisar e
questionar sobre o ungüento precioso, a barba, a orla,
o orvalho e o monte Hermom. Em vez de receber a
provisão abundante, eles se perdem em meio a
muitas questões não respondidas. Mas se
orarmos-lermos o Salmo 133, tomaremos essa porção
na maneira da vida. À medida que oramos-lemos,
podemos dizer: “Oh, amém! Como é bom e agradável,
amém”. Tomando a Palavra dessa maneira,
aplicaremos o Espírito todo-inclusivo ao nosso ser
interior. Orando-lendo exercitamos o espírito para
receber nutrição espiritual proveniente da Palavra.
Por meio dessa nutrição crescemos em vida. Somos
alimentados com as palavras de fé e ensinamento
saudável. Se usarmos mesmo que seja dez minutos
para orar-ler uma porção da Palavra, receberemos
nutrição. Além disso, experimentaremos os vários
elementos das riquezas de Cristo.
59

Por um lado, o alimento que comemos cada dia


nos nutre; por outro, contém elementos que matam
os germes. Não há necessidade de tentarmos matar os
germes em nosso corpo. Devemos simplesmente
alimentar-nos adequadamente e permitir que os
elementos do alimento que comemos realizem esse
trabalho. De igual modo, ao orar-ler a Palavra,
experimentamos tanto a nutrição como a
mortificação das coisas negativas em nós. À medida
que oramos-lemos, inconsciente e automaticamente
participamos dos elementos básicos das riquezas de
Cristo: divindade, humanidade, viver humano, morte,
ressurreição, ascensão e glorificação. Por um lado, o
elemento da morte todo-inclusiva de Cristo mata as
coisas negativas em nós. Por outro, Sua ressurreição
nos fortalece e edifica. Isso não provém de
ensinamento exterior, mas de nutrição interior.

VIVER CRISTO E ENGRANDECÊ-LO


Se recebermos as riquezas de Cristo ao orar-ler a
Palavra, não será necessário decidir fazer o bem ou
nos aperfeiçoar. Espontaneamente viveremos Cristo.
Teremos uma vida plena dos elementos básicos das
riquezas de Cristo. Em nosso viver haverá divindade,
humanidade, a experiência da morte de Cristo e o
fortalecimento em Sua vida de ressurreição. Viver
desse modo é preservar a palavra da vida e
engrandecer Cristo.
Além disso, gostaria de enfatizar que não há
necessidade de que nos decidamos engrandecer
Cristo. Quando algumas pessoas ouvem mensagens
sobre viver Cristo e engrandece-Lo, elas podem dizer:
“De agora em diante engrandecerei Cristo. Eu O
60

engrandecerei em casa, no trabalho e onde quer que


esteja. Senhor, peço-Te que me ajudes a
engrandecer-Te”. Em vez de tomar esse tipo de
decisão e orar dessa maneira, simplesmente
achegue-se à Palavra, à corporificação das riquezas de
Cristo e da provisão abundante do Espírito. À medida
que você se alimenta da Palavra de maneira adequada
dia após dia, você crescerá. A carne, o homem
natural, o ego e diversas tendências e intenções
malignas serão eliminadas. A provisão abundante do
Espírito corporificado na Palavra tomada ao orar-ler
irá realizar essa obra. Além do mais, a vida de
ressurreição de Cristo irá liberar as riquezas divinas
introduzindo-as em você, fortalecerá seu espírito e
edificará todo o seu ser. Espontânea, inconsciente e
automaticamente você viverá Cristo. Viver Cristo
desse modo equivale a preservar a palavra da vida. À
medida que você vive Cristo, tendo uma vida diária
cheia da divindade, humanidade, viver humano de
Cristo, Sua morte e a fragrância de Sua ressurreição,
você O engrandecerá. Isso é o que significa viver
Cristo pelas riquezas da provisão abundante do
Espírito corporificadas na Palavra.

RECEBER AS RIQUEZAS CORPORIFICADAS


NA PALAVRA
Dia após dia devemos achegar-nos à fonte
correta: à Palavra como corporificação das riquezas
de Cristo. À medida que a oramos-lemos, tais
riquezas irão tornar-se para nós a provisão
todo-inclusiva e abundante do Espírito.
Acheguemo-nos à Palavra todos os dias para
orar-lê-la, para comer e absorver as riquezas de
61

Cristo. Orando-lendo receberemos as riquezas


corporificadas na Palavra.
Embora não saiba muito sobre a composição do
alimento que como todos os dias, tenho me
alimentado por mais de setenta anos. No que diz
respeito ao alimento, o mais importante não é
conhecê-lo; é ingeri-lo. Então todos os seus
elementos e ingredientes entrarão em nós e
funcionarão em nós para nutrir-nos, fortalecer-nos,
edificar-nos e matar os germes. Então seremos
saudáveis e teremos uma vida diária adequada. Como
já enfatizamos, o mesmo se aplica à vida cristã. A vida
cristã não é uma vida de ética, religião, cultura ou
mesmo moralidade. Na verdade, é o próprio Cristo,
que é mais elevado que a ética mais elevada ou a
melhor moralidade. Se desejamos viver uma vida
cristã adequada, Deus deseja que percebamos que
nascemos Dele e somos agora Seus filhos. Como
membros de Cristo, possuímos a vida divina com a
natureza divina. Além disso, temos o Espírito e a
Palavra, os meios para receber a divina transmissão.
Dia a dia devemos achegar-nos à Palavra com espírito
de oração para receber tanto as riquezas de Cristo
como a provisão abundante do Espírito. Alimentados
pela Palavra desse modo, cresceremos e
espontaneamente viveremos uma vida plena de todos
os elementos das riquezas de Cristo. Em nosso viver
haverá uma humanidade elevada, a operação da
morte maravilhosa de Cristo e a fragrância e o poder
de Sua ressurreição. Todas as coisas negativas em nós
(a carne, o ego e a vida natural) serão anuladas. Então
preservaremos a palavra da vida. Isso é o
engrandecimento de Cristo.
62

Louvo ao Senhor e agradeço-Lhe por


mostrar-nos essa maneira de tomar a Palavra. Essa é
a maneira bíblica, a maneira da vida. Quão
maravilhoso é que o Deus Triúno tem trabalhado a Si
mesmo em nós e também nos tem dado sua santa
Palavra exteriormente e seu Espírito interiormente!
Agora podemos achegar-nos à Palavra e, exercitando
o espírito, receber as riquezas corporificadas na
Palavra e aplicar o Espírito todo-inclusivo a todo o
nosso ser. Então viveremos Cristo.
63

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E SETE
A PALAVRA RICA, A PROVISÃO ABUNDANTE E A
ORAÇÃO INCESSANTE PARA VIVER CRISTO

Leitura Bíblica: Cl 3:16-17; Ef 5:18-20; 1Ts 5:17-19; Fp


1:19-21a

A ECONOMIA DE DEUS VERSUS O


CONCEITO NATURAL
Há grande diferença entre a economia de Deus e
o conceito humano natural. Nosso conceito é que
depois de salvos devemos tomar a decisão de
melhorar o comportamento. Provavelmente, todo
cristão autêntico já tomou tal decisão. De acordo com
nosso conceito, precisamos melhorar-nos.
Conscientes de nossa fraqueza, imploramos a Deus
que nos ajude. No entanto, Ele não responde a tal
oração. Quanto mais orarmos para que Ele nos ajude
a melhorar, menos Ele irá fazê-lo. Pelo contrário,
nosso comportamento pode até mesmo piorar. A
razão para isso é que o conceito de receber ajuda de
Deus para melhorar o comportamento é contrário à
economia divina. A economia divina é dispensar-Se a
nós e trabalhar-Se em nós para que O tomemos como
nossa vida e suprimento de vida a fim de vivê-Lo. Isso
não é ter um caráter humano melhorado; é viver
Deus. De acordo com Sua economia, a intenção de
Deus é di pensar Seu elemento, substância e
ingredientes de Sua natureza a nosso ser para que
possamos vivê-Lo.
64

Os cristãos têm caído na armadilha de tentar


melhorar o caráter. Agradecemos ao Senhor pois em
Sua restauração somos resgatados dessa armadilha.
Muitos anos atrás, era meu hábito orar ao Senhor
para que me ajudasse a melhorar meu
comportamento. Eu desejava ser um ser humano
muito refinado. Especialmente, desejava ter mais
amor por minha esposa. Percebendo minha
inabilidade, pedia ao Senhor que me ajudasse. Agora,
em vez de orar dessa maneira, desfruto a economia de
Deus. Vejo que Sua intenção é dispensar, ou
transfundir, a Si mesmo em mim, para que eu possa
vivê-Lo.

NÃO CORREÇÃO EXTERIOR, MAS


TRANSFUSÃO INTERIOR
Podemos usar outros termos para descrever o
desejo de Deus de Se dispensar a nós. Deus deseja
regar-nos, alimentar-nos, refrescar-nos e nutrir-nos.
Esses termos indicam que Ele deseja ser nossa vida,
suprimento de vida, alimento, bebida e ar. Ele é nosso
alimento para nos nutrir; bebida para matar nossa
sede; ar para nos refrescar; e provisão de vida para
nos enriquecer. Como o Ser divino, Ele infunde em
nós os Seus elementos, fazendo com que sejamos o
mesmo que Ele em vida e natureza.
Em Sua economia Deus não nos melhora
exteriormente. Antes, Ele nos transmite tudo o que é.
A diferença entre correção exterior e transfusão
interior pode ser ilustrada pela diferença entre aplicar
maquiagem e ter aparência saudável pela
alimentação adequada. A maneira do homem é usar
maquiagem. A maneira de Deus é transformar-nos
65

metabolicamente; é nutrir-nos, refrescar-nos,


regar-nos, enriquecer-nos e fortalecer-nos. Essa é a
economia de Deus. Ele é rico em Seu nutrir, regar,
alimentar, refrescar e brilhar. Oh! Seu brilhar traz
Suas riquezas! O ar, a água e o alimento também
suprem Suas riquezas a nós. Na Bíblia Deus se
compara a alimento, água, ar e o brilho do sol. O
Salmo 84:11 diz que o Senhor é nosso sol. Deus não
somente nos ensina Ele nos nutre, rega e infunde
todas as Suas riquezas em nosso interior. Essa é a
maneira de Deus.

CONSTITUÍDOS DO QUE COMEMOS


O propósito de Deus ao transmitir Suas riquezas
a nós é que possamos vivê-Lo. Os nutricionistas
dizem que somos o que comemos. Se comermos
grande quantidade de certo alimento, seremos
constituídos dele. Quando era jovem, reparava que
todos os que viviam na casa de meus avós cheiravam
a peixe. Minha mãe me explicou que as pessoas
naquela região comiam peixe três vezes ao dia. Por
comer tanto peixe, eles se constituíam de peixe. Isso
ilustra o fato de que somos o que comemos. Se nos
alimentarmos de Cristo seremos constituídos Dele.
A economia de Deus é que comamos Cristo e
sejamos constituídos Dele. Em João 6 o Senhor Jesus
diz que Ele é o pão da vida, o pão que desceu do céu, e
quem Dele comer viverá por causa Dele (vs. 35, 41,
57). Então, em João 7, Ele proclama um
chamamento: “Se alguém tem sede, venha a Mim e
beba” (v. 37). O Senhor Jesus disse isso com respeito
ao Espírito. Em Apocalipse 22:17 mais uma vez há o
chamado para vir e beber. O Senhor nos chama para
66

beber do Espírito, do Deus Triúno processado. Tendo


passado pelos passos de um processo divino, o Deus
Triúno é agora uma bebida universal, todo-inclusiva,
preparada e disponível.
Cada reunião da igreja deve ser uma festa. O
Senhor nos chama para participar Dele como nossa
comida e bebida. Se há ou não uma “mesa de jantar”
numa reunião determina se essa reunião é ou não do
Senhor. Se você for a uma catedral católica,
encontrará superstição em vez de banquete. As
reuniões da igreja, em contraste, são uma festa. Em
cada reunião há uma mesa de jantar preparada para
nós e temos a oportunidade de comer e beber do Deus
Triúno.
Agora deve estar claro que o que precisamos não
é correção ou aperfeiçoamento exterior. Nossa
necessidade é tomar em nós o Deus Triúno comendo
e bebendo Dele. De acordo com a ordenação de Deus,
a maneira de participar Dele é comê-Lo e bebê-Lo.

A PALAVRA DE CRISTO HABITA EM NÓS


RICAMENTE
Agora chegamos a uma questão crucial, que é
onde encontrar o Deus Triúno processado como
bebida todo-inclusiva. É correto dizer que Ele está no
céu. É também correto dizer que Ele está em nós. Mas
embora o Deus Triúno habite em nós como Espírito
todo-inclusivo, Ele pode não habitar em nós
ricamente. Em Colossenses 3:16 Paulo diz: “Habite,
ricamente, em vós a Palavra de Cristo; instruí-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Que
67

significa a Palavra de Cristo habitar em nós


ricamente? Anos atrás eu pensava que isso era
memorizar versículos da Bíblia e poder recitá-los. De
acordo com meu conceito então, a Palavra de Cristo
habitar em mim ricamente era memorizar mais e
mais versículos. No entanto, não é isso que Paulo quis
dizer em Colossenses 3:16.
A Palavra de Cristo habitar em nós ricamente
quer dizer que ela reside em nós, faz morada em nós,
de maneira rica. Isso pode ser ilustrado pelo comer.
Depois que tomamos uma refeição o alimento habita
em nós de maneira rica. O alimento contém muitos
elementos ricos em nutrientes. Quando o ingerimos e
assimilamos, ele habita em nós ricamente. De modo
semelhante, a Palavra de Cristo habitar em nós
ricamente significa que ela habita em nós como
nutrição e enriquecimento. Não é questão de
memorizar versículos, mas de ter a Palavra com as
riquezas insondáveis de Cristo habitando em nós de
tal modo que nos nutra e enriqueça.
Encontrei algumas pessoas que tinham
memorizado todo o livro de Efésios e até alguém que
tinha memorizado o Evangelho de Mateus. Mas
memorizar livros inteiros do Novo Testamento não
quer dizer que a palavra de Cristo habita em nós
ricamente. Por exemplo, podemos ingerir comida,
mas nosso estômago pode não digeri-la
adequadamente. A indigestão indica que o alimento
não entra em nós ricamente. O alimento pode ser rico
em nutrição, mas a sua entrada em nós não é rica se
sofrermos de indigestão após comê-lo. Em tal caso
não temos a habilidade de absorver as riquezas do
alimento. Mas se tivermos metabolismo adequado e
68

digerirmos o que comemos, os elementos do alimento


entrarão em nós ricamente. Precisamos que a Palavra
de Cristo habite em nós desse modo.
É possível que um versículo da Bíblia entre em
nós de maneira rica ou pobre. Em certo instante você
pode não ser capaz de digerir e assimilar um
versículo. Mas em outro momento a Palavra pode ser
rica ao entrar em você e habitar em você ricamente.
Todos necessitamos deixar a Palavra de Cristo habitar
em nós ricamente.

. CANTAR A PALAVRA
Neste ponto é importante considerar a maneira
de a palavra de Cristo habitar em nós ricamente.
Paulo nos dá o caminho em Colossenses 3:16: “A
palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a
sabedoria, instruindo e admoestando-vos uns aos
outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, com
gratidão louvando a Deus em vossos corações” (TB).
Aqui ele indica que devemos instruir e admoestar,
não de maneira comum, mas com salmos, hinos e
cânticos espirituais. Salmos são freqüentemente
longos, cânticos espirituais tendem a ser curtos e
hinos são geralmente de comprimento médio. À
medida que admoestamos uns aos outros com
salmos, hinos e cânticos espirituais, devemos cantar a
Deus com gratidão em nosso coração. Precisamos
cantar com o exercício do espírito. Quanto mais
cantamos dessa maneira, mais somos inspirados e
inflamados. Cantando assim, a Palavra de Cristo
habita em nós ricamente.
Suponha que numa reunião cantemos um hino
composto de Efésios 3:16-21. Se cantarmos esses
69

versículos com o exercício do espírito, esse trecho da


Palavra irá habitar em nós ricamente e receberemos
nutrição. Essa nutrição é suprida primeiramente ao
espírito, não à mente. Cantando com o espírito temos
como deixar a palavra de Cristo habitar em nós com
todas as suas riquezas para nos nutrir.

FAZER TUDO EM NOME DO SENHOR


Em Colossenses 3:17 Paulo prossegue: “E tudo o
que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em
nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus
Pai”. Que significa fazer todas as coisas em nome do
Senhor? Agir no nome de alguém é ser um com ele e
até mesmo tomar-se ele. Se eu não sou um com uma
pessoa, como posso fazer algo em seu nome? Se
queremos fazer tudo em nome do Senhor, devemos
ser um com Ele e até mesmo tomar-nos Ele. Fazer
isso é viver Cristo.
Quanto mais tomarmos a Palavra ao ler, orar-ler
e especialmente cantar-ler, mais as riquezas da
Palavra irão saturar-nos e fazer-nos um com o
Senhor. Então não faremos coisas em nosso próprio
nome, mas em nome do Senhor Jesus.
A maneira de viver Cristo é tomar a Palavra
exercitando o espírito. Não é suficiente apenas usar a
mente para ler a Palavra. Devemos também exercitar
o espírito orando e cantando a Palavra. Espero que
nas reuniões da igreja gastemos mais tempo cantando
a Palavra de Deus. Vamos primeiramente ler a
Palavra e então orar-lê-la. A seguir, cantemos a
Palavra. Então, tornar-nos-emos plenamente
saturados das riquezas da Palavra.
Pelo fato de a Palavra ser a corporificação das
70

riquezas de Cristo, ser saturado da Palavra é ser


infundido e permeado pelos elementos de Cristo.
Essa infusão e permeação fazem com que nos
tornemos um com Cristo e façamos tudo em Seu
nome. Em tudo que dissermos ou fizermos, seremos
um com Ele. À medida que somos permeados pela
Palavra enriquecedora, tornamo-nos um com o
Senhor Jesus e fazemos tudo em Seu nome. Essa é a
maneira de viver Cristo.
A intenção de Deus é ter um povo que seja um
com Ele, não em Sua Deidade, mas em Sua vida e
natureza. Os que são um com Deus na vida e na
natureza divina são capazes de expressá-Lo. O que
Deus procura hoje é um grupo de pessoas que vivam
Cristo recebendo nelas a rica Palavra.

A PALAVRA TORNA-SE O ESPÍRITO


ABUNDANTE
Sempre que somos saturados das riquezas da
Palavra, a Palavra em nós toma-se o Espírito
abundante. Isso acontece por meio da oração
incessante. Talvez você pense: “Que esse tipo de
oração tem a ver com cantar?” Cantar é excelente
maneira de orar. Quando você canta exercitando o
espírito, você ora. Freqüentemente, a melhor oração
que podemos oferecer a Deus é cantar a Ele. Suponha
que você cante “Que vida plena! Oh! que paz! / Pois
Cristo agora vive em mim” [Hinos, 238]. Essa é uma
excelente oração.
Também oramos quando agradecemos a Deus.
Quando fazemos coisas em nome do Senhor Jesus,
devemos também dar graças a Deus Pai por meio
Dele.
71

Orando, cantando e agradecendo, temos Cristo


infundido em nós, somos permeados por Ele e
mesclados com Ele. Muitos de nós podem testificar
que, quando desfrutávamos certo trecho da Palavra,
espontaneamente uma melodia brotava do nosso
interior. Começamos então a usá-la para cantar a
Palavra para o Senhor. Cantando, fomos saturados da
Palavra e nutridos por suas riquezas. Isso nos fez
agradecidos a Deus. Nesse momento éramos, de fato,
um com Cristo. O que quer que fizéssemos em
palavra ou obra era feito em nome do Senhor Jesus.
Novamente digo, isso é viver Cristo.
Precisamos ver que a Palavra, a provisão
abundante do Espírito e a oração incessante com o
cantar e agradecer caminham todas juntas. Pela
oração com o cantar e dar graças, a rica Palavra em
nós torna-se o Espírito abundante. Então, por sermos
um com o Espírito, com a Palavra e com Cristo,
vivemos Cristo, somos, de fato, um com Ele em tudo o
que dizemos e fazemos.
Todos os dias devemos achegar-nos à Palavra e
permitir que ela entre em nós de maneira rica. Para
isso, precisamos mais do que apenas a leitura da
Palavra. Precisamos também orar, cantar, agradecer e
louvar. Quando a tomamos em nós dessa maneira, ela
se torna o Espírito com a provisão abundante. Somos
então saturados do Senhor, mesclados com Ele e um
com Ele de maneira prática em vida e natureza.
Gradualmente, o elemento mortificador da Palavra
irá lidar com as coisas negativas em nós: a carne, o
ego e a vida natural. Ao mesmo tempo, a Palavra irá
nutrir-nos, fortalecer-nos e enriquecer-nos,
suprindo-nos com todos os elementos que
72

precisamos para o crescimento espiritual. Por um


lado, somos saturados da Palavra e do Espírito; por
outro, as coisas negativas são gradualmente
reduzidas. Isso fará com que vivamos Cristo e
cresçamos Nele.
Mais uma vez gostaria de exortá-los a combinar a
rica Palavra, o Espírito abundante e a oração
incessante. Tome a Palavra de Deus não somente
lendo, mas também orando-lendo e cantando-lendo.
Também louve ao Senhor e dê graças a Ele. Combine
a rica Palavra e a provisão abundante do Espírito com
a oração incessante. Então você desfrutará o Senhor,
participará Dele, será um com Ele, vivê-Lo-á, crescerá
Nele e engrandecê-Lo-á. Isso é o que Deus deseja
hoje.
Espero que todos fiquemos profundamente
impressionados com a necessidade de praticar o que
foi apresentado nesta mensagem. Não ore de acordo
com o conceito natural, humano. Pelo contrário,
exercite o espírito para orar a Palavra, cantar a
Palavra e agradecer a Deus e louvá-Lo. Dessa maneira
você permitirá que a Palavra entre em você para
nutri-lo com todas as suas riquezas. Essas riquezas,
então, irão tornar-se a provisão abundante do
Espírito por meio da sua oração incessante. Você
então desfrutará o Senhor, será um com Ele e
vivê-Lo-á.
73

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E OITO
AS RIQUEZAS DE CRISTO TORNAM-SE REAIS NA
PROVISÃO ABUNDANTE DO ESPÍRITO E A
PROVISÃO ABUNDANTE DO ESPÍRITO É
CORPORIFICADA NA RICA PALAVRA DE DEUS

Leitura Bíblica: Cl 2:9; Ef 3:8; Fp 1:19; Cl 3:16; Jo


16:13-15; 6:63
O desejo de Deus é que nós, que fomos
redimidos, salvos, lavados pelo sangue e regenerados
pelo Espírito, e que recebemos a vida e a natureza de
Deus, vivamos Cristo. Não é adequado simplesmente
melhorar a conduta ou o padrão de viver. De modo
muito experimentável e prático, precisamos viver
Cristo.

O CRISTO TODO-INCLUSIVO E EXTENSIVO


A fim de viver Cristo, devemos perceber quem e o
que Cristo é. Em Colossenses vimos que Cristo é não
somente todo-inclusivo, mas também extensivo. Ele é
tanto o mistério de Deus como o mistério da
economia de Deus. Cristo é Deus, homem e a
realidade de todas as coisas positivas do universo.
Isso, logicamente, não é panteísmo; é testificar de
acordo com Colossenses 2:16-17 que Cristo é o corpo,
a realidade, de todas as coisas positivas.
Em Colossenses 2:16-17 Paulo diz: “Ninguém,
pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia
de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso
tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém
74

o corpo é de Cristo”. De acordo com o princípio


exposto nesses versículos, Cristo é o real feriado, ou
dia santo. Como nosso feriado, Cristo é nosso
descanso, alegria e regozijo. Com Cristo todo dia é
feriado. Sem Ele, todos os dias são miseráveis.
Mesmo em tempos difíceis, podemos experimentar
um verdadeiro feriado se tivermos Cristo como nossa
alegria, desfrute e descanso.
Cristo é também nossa lua nova. Repetidas vezes
precisamos de novo começo, novo início, como
tipifica a lua nova. Cristo é tal lua nova para nós. Cada
dia, em nosso contato com Ele, podemos
experimentar uma lua nova, um novo começo.
De acordo com esses versículos de Colossenses,
Cristo é também nosso alimento, bebida e festa. As
palavras não podem esgotar o que Ele é em Sua
extensão e todo-inclusividade. Embora seja tão
extensivo e todo-inclusivo, Ele é nosso desfrute e
experiência, e podemos vivê-Lo.

NOSSA VIDA E PROVISÃO DE VIDA


Juntamente com todos os cristãos autênticos,
cremos que Cristo é nosso Redentor e Salvador. Ele é
Deus encarnado, e viveu na terra como homem por
trinta e três anos e meio. Então morreu na cruz,
vertendo Seu sangue para nos limpar dos pecados.
Agora Ele é nosso Salvador em ressurreição. Embora
creiamos enfaticamente que Cristo seja nosso
Redentor e Salvador e O tenhamos experimentado
como tal, viemos a perceber que Ele é também nossa
vida. Por um lado, como vida, Ele nos foi suprido uma
vez por todas; por outro, é suprido continuamente. A
vida requer contínua provisão. Se tivermos vida mas
75

faltar-nos meios de mantê-la, morreremos. Respirar,


por exemplo, é uma necessidade vital, assim, deve
prosseguir continuamente. Embora possamos
formar-nos na escola, não podemos ter diploma de
respirar e ainda permanecer vivos. Formar-se nas
questões de vida só pode significar morte. Louvamos
ao Senhor por Cristo ser nosso Redentor, Salvador e
também nossa vida e provisão de vida!

VIVER CRISTO COMO FILHOS DE DEUS


Como pessoas redimidas, salvas e regeneradas,
temos a vida e a natureza de Deus. Quão maravilhoso
é que seres humanos caídos possam declarar que têm
a vida e a natureza de Deus! Temos a natureza de
Deus porque nascemos Dele. Ele não é somente nosso
Criador; é também nosso Pai. “Vede que grande amor
nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus” (1Jo 3:1). Em Seu amor por
nós o Pai dispensou-nos Sua vida e natureza. Agora
somos filhos de Deus com a vida e a natureza divinas.
Você já percebeu que posição tem como cristão?
Você é filho do Deus todo-poderoso. Deus é, na
verdade, seu Pai. Se seu Pai fosse o presidente da
República, você ficaria muito orgulhoso. Quanto mais
devemos ficar orgulhosos de ter o Deus
todo-poderoso como nosso Pai! Temos o direito de
declarar; “Aleluia, somos filhos do Deus
todo-poderoso!”
Como filhos de Deus, devemos viver Cristo, e não
ética, moral idade ou boa conduta. A ética pode ser
muito boa, e um alto padrão de moralidade é, sem
dúvida, excelente, mas não há comparação entre
essas coisas e Cristo. O padrão da vida cristã é o
76

próprio Cristo; não é ética, moralidade ou caráter


elevado. Em Filipenses Paulo queria
impressionar-nos com a questão de viver Cristo. Ele
podia dizer: “Para mim, o viver é Cristo” (1:21). Era
sua expectativa que, por meio da vida ou da morte;
Cristo fosse engrandecido nele. Que padrão! O padrão
da vida cristã excede em muito o padrão da ética, da
moralidade ou de qualquer tipo de filosofia.
Repetindo, o padrão da vida cristã é Cristo, e
devemos vivê-Lo e engrandecê-Lo.
Cristo era o alvo de Paulo, e seu desejo era ser
achado em Cristo (Fp 3:9). Deve ser também o nosso
desejo ser achado em Cristo. Onde quer que
estejamos, devemos ser achados em Cristo. Que
vergonha é ser achado na vida natural ou na cultura!
Mas quão bom se os outros puderem testificar que
nos acharam em Cristo! Nosso alvo é Cristo, e nosso
padrão também é Cristo. Onde quer que estejamos, as
pessoas que encontramos devem ser impressionadas
com Cristo. Então, porque vivemos Cristo, seremos
achados Nele.
Se vivermos determinada coisa, seremos sem
dúvida achados nela. Por exemplo, se vivermos nossa
cultura, os outros nos encontrarão na cultura. De
igual modo, se vivermos Cristo todo o tempo, seremos
sempre achados Nele. Se desejamos ser achados em
Cristo, devemos antes vivê-Lo. Em vez de viver de
maneira natural, como jovem, alguém de meia idade
ou idoso, devemos viver Cristo. Oh! é algo grandioso
viver Cristo e ser achado Nele!
Viver Cristo é abstrato e misterioso. Viver Cristo
é viver de maneira misteriosa. Por um lado, esse viver
é real e substancial; por outro, é indefinível. Quando
77

os outros nos acham em Cristo, será difícil


descrever-nos. Aparentaremos ser bastante
misteriosos. Embora como seres humanos não
sejamos muito diferentes dos outros, há algo
misterioso e até especial em nós. Cristo é misterioso,
e quem O vive é também misterioso. Pelo fato de
Cristo ser abstrato e misterioso, não é fácil explicar
como vivê-Lo.
De acordo com o pensamento central da Bíblia, o
Deus Triúno deve ser nossa vida, e precisamos estar
Nele. Em Mateus 28:19 o Senhor Jesus encarregou os
discípulos de batizar os crentes no nome do Deus
Triúno, isto é, no nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. Batizar os crentes no Deus Triúno é colocá-los
numa união orgânica com o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Antes de sermos salvos, o Deus Triúno era
totalmente objetivo para nós. Mas, por meio da
redenção, salvação, justificação e regeneração, Ele se
tornou subjetivo. Agora estamos Nele, e Ele está em
nós. O Deus Triúno não está em nós somente para ser
nosso Redentor e Salvador, mas também nossa vida e
provisão de vida. O desejo de Deus não é que façamos
coisas para Ele, mas que sejamos um espírito com Ele
e O vivamos. Viver o Deus Triúno é viver Cristo. E
engrandecer Cristo, glorificá-Lo e expressá-Lo, É
engrandecer Cristo aos olhos das pessoas com as
quais temos contato. O ponto central da Bíblia está
relacionado com viver Cristo.

A BÍBLIA SANTA E O ESPÍRITO SANTO


Embora viver Cristo seja misterioso, não é tão
misterioso a ponto de não podermos entender nada.
78

Como veremos, viver Cristo tem muito a ver com as


riquezas de Cristo percebidas na provisão abundante
do Espírito, e a provisão abundante do Espírito
corporificada na rica Palavra de Deus. A Bíblia não é
somente a Palavra de Deus; é também o Seu falar, até
mesmo o Seu sopro. Em 2 Timóteo 3:16 Paulo diz que
toda Escritura é soprada por Deus (lit.). Pelo falar de
Deus, pelo Seu sopro, muitas coisas maravilhosas são
reveladas.
Se não houvesse linguagem, não haveria
nenhuma maneira de Deus falar a nós. Como Deus
que fala, Ele fala a nós por meio de nossa linguagem
humana. A linguagem foi dada ao homem como
preparação para o falar de Deus.
Louvamos o Senhor pelo fato de que, como
cristãos, temos tanto a Bíblia santa nas mãos como o
Espírito Santo no espírito e coração. Agora
precisamos considerar o que são o Espírito Santo e a
Bíblia santa.

O DEUS TRIÚNO A NOS ALCANÇAR


Quando se pergunta aos cristãos sobre o Espírito
Santo, eles sempre dizem que é a terceira Pessoa da
Deidade. Enfatizam que a Deidade inclui três
Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito. Embora esteja
correto dizer que o Espírito Santo é o terceiro da
Deidade, esse entendimento não é adequado. É muito
importante ver que o Pai e o Filho tornam-se
plenamente reais no Espírito como o terceiro da
Deidade. Isso significa que não podemos separar o
Espírito Santo do Filho ou do Pai.
Os três da Deidade não somente coexistem, mas
79

também “coinerem”2. Portanto, entre o Pai, o Filho e


o Espírito há tanto coexistência como “coinerência”.
Deus é triúno; Ele é três-um. A coexistência significa
existir juntamente ao mesmo tempo. A “coinerência”
é muito mais difícil de se definir ou entender.
Aplicado ao Deus Triúno, esse termo significa que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo existem um no outro. A
Bíblia revela claramente que quando o Filho veio, o
Pai veio com Ele. Do mesmo modo, quando o Espírito
vem, Ele vem com o Filho e o Pai. Além do mais,
quando o Filho veio, o Pai veio com Ele não de modo
exterior, mas interior, subjetivamente, no Filho.
Com respeito à relação entre o Pai e o Filho, e
entre o Filho e o Espírito, o Evangelho de João usa
uma preposição grega específica, que pode ser
traduzida por de com (6:46; 16:27). O Filho veio não
somente do Pai, mas até mesmo de com o Pai. Ele
veio do Pai e também com Ele. Isso indica que
quando o Filho veio, o Pai veio também. O Pai veio no
Filho. Portanto, o Senhor podia dizer “Quem Me vê a
Mim, vê o Pai” (10 14:9). Ele podia também testificar:
“Eu estou no Pai e o Pai está em Mim” (10 14:10). Por
um lado, o Pai e o Filho são dois; por outro, são um.
Uma vez que o Pai não veio somente com o Filho, mas
também Nele, o Filho, o Senhor Jesus, podia dizer:
“As palavras que Eu vos digo, não as falo de Mim
mesmo; mas o Pai, que habita em Mim, faz as Suas
obras” (10 14:10). Além disso, de acordo com a Bíblia,
se temos o Filho, temos também o Pai (1Jo 2:23).
Visto que o Pai está com o Filho e até mesmo Nele,

2
Embora os dicionários em português não contenham o vocábulo “coinerir”, vamos adotá-lo para
descrever o fato de os Três da Deidade serem inerentes entre si, isto é, estarem um no outro. (N T.)
80

recebemos o Pai quando recebemos o Filho. Ainda


mais, quando o Espírito vem, vem com ambos, o
Filho e o Pai. Portanto, ter o Espírito é ter o Filho e o
Pai.
O Espírito Santo é o alcance final, máximo e
consumado do Deus Triúno para nós. Não pense que
quando o Espírito Santo o alcança, somente Ele, o
terceiro da Deidade, vem, e o Pai e o Filho
permanecem no céu. Alguns cristãos têm tal
entendimento. Em vez de crer que Cristo está em nós,
afirmam que Cristo enviou o Espírito Santo como Seu
representante em nós. Esse conceito é totalmente
errôneo. A Bíblia não fala do Espírito representando o
Filho nos crentes. Antes, de acordo com as Escrituras,
quando o Espírito Santo vem o Filho vem com Ele e
Nele. O Pai também vem com o Filho e o Espírito.
Isso significa que quando o Espírito Santo vem a nós,
todo o Deus Triúno vem. De acordo com a Bíblia,
podemos dizer que o Pai é a fonte, o Filho é a curso e
o Espírito é o fluir. Quão maravilhoso é que o Espírito
Santo é o alcance consumado do Deus Triúno para
você e para mim!

HABITADOS PELO ESPÍRITO


Como crentes em Cristo, podemos ter a plena
certeza de que o Espírito Santo habita em nós. No
entanto, há muita confusão a respeito disso entre os
cristãos. Alguns insistem em que após uma pessoa
tornar-se cristã, ela deve ainda orar para receber o
Espírito Santo. Alguns chegam ao ponto de afirmar
que falar em línguas é o único sinal de receber o
Espírito. De acordo com a Bíblia, quando cremos no
Senhor Jesus, invocamos Seu nome e O recebemos
81

como nosso Salvador, o Espírito Santo entrou em nós.


Daí em diante, fomos habitados pelo Espírito. Não
precisamos falar em línguas como sinal de que
recebemos o Espírito Santo.
Um indicador claro de que recebemos o Espírito
Santo é que temos doce sensação interior quando
invocamos Deus, nosso Pai. Um dia um jovem
perguntou ao irmão Nee sobre Romanos 8:16, que diz
que o Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus. Ele queria ajuda para entender
o que significa dizer que o Espírito Santo testifica com
nosso espírito desse modo. Como o jovem era casado,
o irmão Nee perguntou-lhe se, quando chamava seu
sogro de “papai”, ele sentia a mesma doçura como
quando se dirigia ao seu próprio pai dessa maneira. O
jovem testificou que não. O irmão Nee mostrou-lhe
que ele podia chamar seu próprio pai de “papai” de
maneira doce porque tinha nascido dele. O irmão
Nee, então, perguntou-lhe se ele tinha um sentimento
de doçura interior quando chamava Deus de Pai. O
jovem disse com certeza que sim. O irmão Nee
replicou: “Você certamente é salvo. A razão de sentir
essa doçura é que você tem o Espírito em você. Você
agora tem o espírito de filiação. A doçura que
experimenta quando invoca Deus Pai é sinal de que
recebeu o Espírito”. Quer tenhamos ou não falado em
línguas, podemos ter certeza de que recebemos o
Espírito Santo e somos agora filhos de Deus.

A PALAVRA E O ESPÍRITO
No Novo Testamento vemos que o Espírito e a
Palavra são um. O Senhor Jesus disse: “As palavras
que Eu vos tenho dito são espírito e são vida” (10
82

6:63). Não devemos separar o Espírito Santo que


temos em nós da Palavra santa que temos nas mãos.
Os dois são uma realidade divina. Separada do
Espírito Santo, a Bíblia é vazia, totalmente sem
realidade. A realidade da Bíblia é o Espírito Santo. No
entanto, se não tivéssemos a Bíblia, não teríamos a
corporificação do Espírito Santo. Sem a Palavra, não
há corporificação do Espírito. Por um lado, a Bíblia é
a corporificação do Espírito; por outro, o Espírito é a
realidade da Bíblia. Nunca devemos separar os dois.
Agradecemos ao Senhor por dois maravilhosos
dons: o Espírito Santo interiormente e a Bíblia santa
exteriormente. Temos visto que o Espírito Santo é o
Deus Triúno a nos alcançar de maneira consumada.
Quando o Espírito Santo nos alcança, o Deus Triúno
está conosco. O Espírito, no entanto, é abstrato e
misterioso. Portanto, é importante ver que o Espírito
está corporificado na Palavra. Agora, se desejamos
viver Cristo, precisamos experimentar o Espírito
interiormente e desfrutar a Palavra exteriormente.
Em nossa experiência, o Espírito e a Palavra devem
ser um. Sempre que lemos a Bíblia, devemos também
orar. Isso é orar-ler a Palavra. Orando-lendo,
exercitamos o espírito para contatar o Espírito Santo.
Desse modo, combinamos o Espírito Santo com a
Bíblia santa. Como resultado, em nossa experiência o
Espírito e a Palavra são um desfrute, e esse desfrute é
o Deus Triúno.

A PLENITUDE, AS RIQUEZAS, A PROVISÃO


E A PALAVRA
Quatro versículos básicos do Novo Testamento
são Colossenses 2:9; Efésios:3:8; Filipenses 1:19 e
83

Colossenses 3:16. Neles temos quatro termos


estratégicos. Primeiramente, em Colossenses 2:9
vemos que a plenitude da Deidade habita em Cristo
corporalmente. Aqui o termo crucial é plenitude. Em
segundo lugar, em Efésios 3:8 Paulo diz que prega as
riquezas insondáveis de Cristo como evangelho. O
evangelho de Paulo eram as riquezas de Cristo. A
questão crucial aqui são as riquezas de Cristo. Em
terceiro lugar, em Filipenses 1:19 Paulo fala da
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo. Em
quarto lugar, Colossenses 3:16 diz que a Palavra de
Cristo deve habitar em nós ricamente. A Palavra de
Cristo habitar em nós ricamente significa que ela faz
morada em nós em suas riquezas e também de
maneira rica. Portanto nesses quatro versículos
temos a plenitude, as riquezas, a provisão abundante
e a Palavra a habitar em nós ricamente. A plenitude
está relacionada com a Deidade, as riquezas estão
relacionadas com Cristo, a provisão abundante está
relacionada com o Espírito, e a Palavra de Cristo que
habita em nós ricamente está relacionada com a
Palavra. Resumindo, temos a Deidade, Cristo, o
Espírito e a Palavra. Recomendo categoricamente
que, na primeira oportunidade, você ore-leia esses
quatro versículos, desfrutando a plenitude da
Deidade, as riquezas de Cristo, a provisão abundante
do Espírito e a Palavra de Cristo a habitar em você
ricamente.
A plenitude, as riquezas, a provisão abundante e
a Palavra estão relacionadas umas com as outras. A
plenitude da Deidade é, na verdade, as riquezas de
Cristo, e as riquezas de Cristo são a provisão
abundante do Espírito. Com a Deidade, há a
84

plenitude; com Cristo, a plenitude torna-se as


riquezas insondáveis, e com o Espírito, as riquezas
tomam-se a provisão abundante. Além do mais, essa
provisão abundante do Espírito está corporificada na
Palavra. Quando a Palavra de Deus habita em nós
com a provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo, ela, de fato, faz morada em nós ricamente.
Quando era jovem, podia recitar facilmente
muitos versículos da Bíblia. No entanto, embora
pudesse recitar um versículo como João 3:16, esse
versículo não habitava em mim de maneira rica. Pelo
contrário, habitava em mim de maneira pobre. Mas
agora posso testificar que esse versículo, com muitos
outros, habita em mim com todas as suas riquezas.
Ele habita em mim ricamente. Sempre que medito em
alguns versículos, sou preenchido com o desfrute do
Deus Triúno. Minha experiência hoje é muito
diferente da que costumava ter. Podia recitar
Colossenses 2:9, mas não tinha muito desfrute da
plenitude da Deidade. Mas, quando medito sobre esse
versículo hoje, o desfrute é excedentemente rico.

PERMEADO COM O DEUS TRIÚNO PARA


VIVER CRISTO
É crucial que vejamos que a plenitude da
Deidade corporificada no Filho toma-se as riquezas
insondáveis de Cristo, que as riquezas de Cristo, o
Filho, são percebidas como provisão abundante do
Espírito, e que essa provisão abundante está agora
corporificada na Palavra. Quando lemos a Palavra e a
oramos-lemos, podemos tocar a essência e a
substância dela: provisão abundante do Espírito de
Jesus Cristo. Se apenas lemos a Palavra sem oração,
85

podemos não ganhar nada além de conhecimento


objetivo. Mas orando com a Palavra tocamos o
Espírito. Como resultado, desfrutamos a provisão
abundante do Espírito, as riquezas de Cristo e a
plenitude da Deidade. Talvez agora você entenda
porque essa mensagem tem um título tão longo: “As
Riquezas de Cristo Tomam-se Reais na Provisão
Abundante do Espírito e a Provisão Abundante do
Espírito É Corporificada na Rica Palavra de Deus”.
Se desejamos viver Cristo, precisamos ler a
Palavra e orar-lê-la de tal modo que participemos da
plenitude de Deus, das riquezas de Cristo e da
provisão abundante do Espírito. Oh! precisamos ser
imersos na plenitude da Deidade, nas riquezas de
Cristo e na provisão abundante do Espírito, e
saturados delas! Então, permeados com o Deus
Triúno, viveremos Cristo.
Todos precisamos ser permeados com a provisão
abundante do Espírito, com as riquezas de Cristo e
com a plenitude da Deidade. Tudo isso está na
Palavra e no Espírito. Assim, devemos achegar-nos à
Palavra constantemente e orar incessantemente. Ao
orar-ler a Palavra, tocamos a provisão do Espírito, as
riquezas de Cristo e a plenitude da Deidade. Então
participamos de tudo o que o Deus Triúno é, e
espontaneamente O vivemos. Isso é viver Cristo.
Viver Cristo não é questão de decidir ter
mudança no modo de viver. Não devemos dizer:
“Agora aprendi o que significa viver Cristo. Eu decido
vivê-Lo e oro para que Deus me ajude a fazer isso. Ó
Deus, ajude-me a viver Cristo”. Isso não funciona. Se
orar. desse modo, descobrirá que imediatamente
após orar continuará a viver você mesmo. O modo de
86

viver Cristo é primeiramente ser permeado por Ele


com todas as Suas riquezas. Repetidas vezes temos
enfatizado que essas riquezas estão no Espírito e na
Palavra.

A ANTENA E O FIO TERRA


Podemos comparar a provisão abundante do
Espírito à eletricidade, que nos alcança por meio de
uma antena e de um fio terra. O próprio Espírito é
como a antena, e a Bíblia como o fio terra. Quando
temos ambos, a antena e o fio terra, o Espírito e a
Palavra, funcionando juntamente, recebemos a
provisão abundante do Espírito como eletricidade
celestial. Nossa experiência testifica isso. Quando
exercitamos o espírito para orar-ler um versículo,
temos o sentimento interior de ser supridos,
refrescados, iluminados, regados, nutridos,
confortados e fortalecidos. Esse é o desfrute da
eletricidade divina. Use a antena e o fio terra, o
Espírito e a Palavra, e receberá a provisão abundante.
O princípio é o mesmo quanto a conhecer a
vontade de Deus. A maneira de saber a vontade de
Deus não é orar: “Ó Senhor, sabes quão tolo eu sou.
Mostra-me Teu caminho”. Esse tipo de oração não
funciona muito bem. Em vez de orar desse modo,
simplesmente desfrute a Palavra e o Espírito,
permitindo que a eletricidade celestial infunda em
você o Deus Triúno. À medida que receber a infusão
da provisão abundante do Espírito, a vontade de Deus
tomar-se-á clara para você automática e
espontaneamente. Você saberá que não deve fazer
certas coisas, pois não são a vontade de Deus.
Também saberá que deve fazer outras coisas, pois são
87

a vontade de Deus. Você não precisará que outros lhe


digam o que fazer. A divina infusão que você desfruta
interiormente o esclarecerá. Além do mais, à medida
que você for imerso no Deus Triúno e permeado com
a provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo,
você espontaneamente viverá Cristo.
Louvado seja o Senhor por mostrar-nos a
maneira de viver Cristo! A maneira é desfrutar o Deus
Triúno ao ler e orar-ler a Palavra. Quando tocarmos a
provisão abundante do Espírito, viveremos uma vida
que expressa Cristo, uma vida que é, na verdade, o
próprio Cristo.
88

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM TRINTA E NOVE
PARTICIPAR DA PROVISÃO ABUNDANTE DO
ESPÍRITO E DESFRUTAR AS RIQUEZAS DE CRISTO
TOMANDO A PALAVRA DE DEUS (1)

Leitura Bíblica: Fp 1:19-21; 2:12-16; Cl 3:16; Ef.


5:18-19; 6:17-18
De acordo com a economia de Deus revelada no
Novo Testamento, o alvo da vida cristã é viver Cristo.
Quando era jovem, aprendi que a idéia central da
Bíblia está relacionada com Cristo. Agora percebo que
a idéia central da Bíblia não é somente Cristo, mas
também viver Cristo.

CRISTO HABITA EM NÓS E VIVE EM NÓS


Dizer simplesmente que Cristo é a idéia central
da Bíblia é muito objetivo. Em nossa experiência,
Cristo deve ser bastante subjetivo. Por exemplo, o
Senhor Jesus diz: “Permanecei em Mim, e Eu
permanecerei em vós” (Jo 15:4). Essa expressão é
simples, mas o significado é profundo. Como
podemos permanecer em outra pessoa e tê-la em
nós? Tratando-se de seres humanos é impossível que
as pessoas permaneçam, ou habitem, umas nas
outras. Mas é possível que a vida humana habite na
vida divina, e que a vida divina habite na vida
humana. Isso significa que Deus pode habitar em nós,
e nós, Nele.
Alguns podem questionar como nós, pequenos
seres humanos, podemos habitar em Deus, e como o
89

Deus grande e todo-poderoso pode habitar em nós.


Recentemente, algumas pessoas tentaram dizer-nos
que pelo fato de Deus ser ilimitado em grandeza e o
homem ser tão pequeno, é impossível para Ele
habitar em nós. Eles perguntaram como um
recipiente tão pequeno poderia ter conteúdo tão
vasto. Suas palavras indicam que eles não crêem no
que o Senhor Jesus disse em João 15. Eles nos
acusam de heresia e afirmam que, por um lado,
reduzimos Deus à nossa escala, e, por outro,
ensinamos a evolução até Deus e cremos que os seres
humanos podem, na verdade, tornar-se o próprio
Deus. Quando lhes perguntamos o significado da
palavra do Senhor “Permanecei em Mim, e Eu
permanecerei em vós”, eles responderam que isso se
refere apenas a uma relação ou comunhão íntima. A
resposta deles mostra que, de acordo com a
mentalidade natural humana, é impossível crer que
podemos, de fato, habitar em Cristo e tê-Lo
habitando em nós. Contudo, devemos crer na palavra
do Senhor: “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei
em vós”, e dizer amém a ela.
Em Gálatas 2:19b-20 Paulo diz: “Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim”. Dizer que Cristo vive em
nós é até mesmo mais forte que dizer que Ele
permanece em nós. Quando visito outra cidade, posso
ficar na casa de um irmão. Contudo, não posso dizer
que vivo lá. Fico ali apenas temporariamente com
certas limitações. Mas, quando volto para casa, posso
viver ali. Viver em certo lugar é ter plena liberdade.
Você permanece na sua casa ou vive nela?
Logicamente você responderia que vive nela. Mas
90

você não diria que vive em um hotel. Dizer que Cristo


vive em nós significa que Ele tem plena liberdade de
falar, agir e conduzir-se. Ele é capaz de fazer em nós o
que deseja, pois nos redimiu e tomou-nos Sua
habitação.

CRISTO FAZ MORADA E É FORMADO EM


NÓS
De acordo com Efésios 3, Paulo orou para que o
Pai nos fortaleça por meio do Espírito em nosso
homem interior para que Cristo habite em nosso
coração. Primeiramente Cristo habita em nós, depois
Ele vive em nós e então Ele se estabelece em nós,
fazendo morada em todo o nosso ser interior. Por um
lado, Cristo pode viver em nosso espírito. Mas, por
outro, podemos não dar a Ele muito espaço para viver
em nossa mente, vontade ou emoção. Pela
experiência sabemos que algumas vezes restringimos
Cristo ao nosso espírito. Quando Ele tenta
expandir-se do espírito para a emoção, podemos não
permitir-Lhe fazer isso. Por exemplo, pela manhã um
irmão pode orar ao Senhor, desfrutá-Lo, e declarar:
“Aleluia, o Senhor Jesus vive em meu espírito!” Mas,
mais tarde, no mesmo dia, ele é tentado a fazer certa
coisa. Embora o Senhor que vive em seu espírito não
concorde, o irmão, que vive de acordo com a emoção,
insiste em fazer aquilo. Ele arrazoa com o Senhor,
tentando persuadi-Lo a permanecer em seu espírito e
dar a ele a liberdade de viver segundo a emoção. Ele
até mesmo promete que no dia seguinte dará ao
Senhor a liberdade de expandir-se até sua emoção.
Mas quando chega o dia seguinte, não cumpre a
promessa. Assim, não é dada ao Senhor a liberdade
91

para estabelecer-se na emoção desse irmão.


Visto que não damos facilmente ao Senhor a
oportunidade de habitar em nosso coração, foi
necessário que Paulo orasse ao Pai para que nos
fortalecesse em nosso homem interior por meio do
Espírito, para que Cristo habitasse em nosso coração.
De acordo com a Bíblia, o coração é composto de
mente, vontade, emoção e consciência. O coração
circunda o espírito e é maior do que ele. Quando
recebemos o Senhor Jesus, Ele entrou em nosso
espírito, e agora vive aí. No princípio, não podíamos
nem mesmo dar ao Senhor a liberdade de viver em
nosso espírito. Simplesmente permitíamos que Ele
permanecesse ali. Gradualmente, no entanto, demos
a Ele oportunidade de viver em nosso espírito. Mas
ainda não queríamos dar-lhe pleno acesso ao nosso
ser interior. Por causa disso necessitamos que nosso
homem interior, nosso espírito regenerado, seja
fortalecido. Então Cristo será capaz de habitar em
nosso coração. Ele não somente habitará em nós e
viverá em nós, mas se expandirá até cada parte de
nosso ser interior e se estabelecerá ali.
Embora tenha experimentado muito do Senhor
através dos anos, não tenho a confiança de dizer que
Cristo está plenamente estabelecido no meu ser
interior. Talvez tenha dado a Ele a plena liberdade
para ocupar minha mente ou emoção, mas posso
ainda reservar parte da minha vontade para mim
mesmo.
É importante ver que Cristo deve ser subjetivo
para nós em nossa experiência. Ele habita em nós,
vive em nós e deseja fazer morada, estabelecer-se, em
todo o nosso ser interior.
92

Em Gálatas 4:19 Paulo diz: “Meus filhos, por


quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo
formado em vós”. Cristo ser formado em nós quer
dizer que Ele habita em nós, vive em nós,
estabelece-se em nós e então satura cada parte de
nosso ser.

CONSTITUÍDOS DE CRISTO
Como cristãos, diferimos na medida de Cristo
que temos em nós. Alguns têm dado mais lugar a
Cristo; outros têm dado a Ele menos espaço para
crescer neles. Sem dúvida, a medida de Cristo em
Paulo era plena. Isso significa que Cristo fora
plenamente formado nele. Em Filipenses 1:21 Paulo
podia até mesmo declarar: “Para mim, o viver é
Cristo”. Cristo fora trabalhado nele e, de fato,
tornara-se seu constituinte. Portanto, Paulo era um
homem completamente constituído de Cristo. Essa
era a razão pela qual ele podia dizer que para ele o
viver era Cristo.
Os nutricionistas freqüentemente nos dizem que
somos o que comemos. O alimento que comemos
torna-se, por fim, parte de nossa constituição. Ele é
trabalhado em nossas fibras e até mesmo em nossas
células. Se uma pessoa come grande quantidade de
um alimento, ela será, por fim, constituída desse
alimento.
Na época em que Paulo escreveu Filipenses,
tinha sido um crente em Cristo por cerca de trinta
anos. Em todos aqueles anos, Cristo fora mais e mais
trabalhado no ser interior de Paulo. Paulo
continuamente comia Cristo, participava Dele.
Finalmente, tendo sido constituído de Cristo, ele
93

tornou-se um homem-Cristo. Como alguém


constituído de Cristo, ele podia testificar: “Para mim,
o viver é Cristo”.
Hoje devemos ser a continuação do testemunho
de Paulo. Estamos aqui para viver Cristo, para tê-Lo
trabalhado em nós, até que nossa mente, emoção e
vontade estejam constituídas Dele.

MUDANÇA METABÓLICA
Em Romanos 12:2 Paulo nos exorta a não nos
conformar com este século, mas ser transformados
pela renovação da mente. Ser conformado com este
século é ter a aparência exterior de acordo com o
estilo da era, de acordo com a tendência do mundo.
Ser transformado é ser renovado interior e
organicamente. Alguns nos têm difamado,
acusando-nos de distorcer a mente das pessoas.
Repudiamos totalmente essa falsa acusação. Pela
graça do Senhor procuramos ministrar algo divino e
espiritual que pode transformar a mente. A distorção
da mente é o resultado de influência externa sobre a
mente, mas a renovação da mente envolve
transformação interior, orgânica, metabólica em vida.
Quanto mais permanecemos na restauração do
Senhor, mais nossa mente é metabolicamente
transformada. Automaticamente nosso pensamento é
renovado e mudado. Isso acontece porque um novo
elemento é adicionado em nosso ser para tirar o velho
elemento e substituí-la. Isso é transformação. Dia
após dia e reunião após reunião, algo divino,
espiritual, santo e celestial é transfundido em nós.
Esse elemento é Cristo com Suas riquezas
insondáveis. À medida que as riquezas de Cristo são
94

infundidas em nós, elas se tornam o novo elemento


em nós que retira a velhice e causa uma mudança
metabólica, intrínseca, interior.
Quanto mais somos transformados, mais espaço
é dado a Cristo para se estabelecer em nós. De fato, o
processo de transformação é o processo de ser
ocupado e possuído por Cristo. Nossa mente ser
transformada significa que Cristo tomou posse dela e
a saturou Dele mesmo. Do mesmo modo, quando
nossa emoção e vontade são saturadas de Cristo, Ele
se torna o próprio constituinte delas. Dessa maneira
Cristo se torna subjetivo para nós.

O CRISTO EXPERIMENTÁ VEL


Por séculos, o Cristo subjetivo tem sido ignorado
pelos crentes. Muitos cristãos devotos têm
direcionado seu amor ao Cristo objetivo. Eles crêem
Nele, respeitam-No, exaltam-No e tomam-No como
objeto de adoração. No entanto, em muitos casos, eles
O consideram alguém bem longe, no céu. Embora O
amem, podem não experimentá-Lo habitando neles.
Podem trabalhar diligentemente por Ele, mas não
percebem que Ele não está apenas no céu, mas
também habita neles. Alguns têm até mesmo
recebido o ensinamento errôneo de que Cristo não
habita nos crentes, mas é apenas representado neles
pelo Espírito Santo. Consideram o Espírito Santo um
agente enviado por Cristo para representá-Lo,
trabalhar neles, mover-se neles e inspirá-las.
Contudo, de acordo com a Palavra de Deus, o Espírito
que habita em nós não é um agente de Cristo; é, na
verdade, o próprio Cristo. De acordo com a
experiência cristã, o Cristo que habita em nós é
95

idêntico ao Espírito que habita em nós. O Espírito em


nós é o Cristo prático, subjetivo e experimentável. Se
tivermos percepção adequada disso, não tentaremos
separar Cristo do Espírito. Os três da Deidade são
um. O Pai está no Filho, e o Filho é tornado real como
Espírito. Quando o Espírito nos alcança e vem vi ver
em nós, os três da Deidade vêm habitar em nós. Quão
maravilhoso é que Cristo está em nós! Nosso Cristo é
subjetivo e experimentável.
Se desejamos viver Cristo, devemos perceber que
Ele é tanto subjetivo como objetivo. Como o Deus
Poderoso, o Senhor de todos, Aquele que ascendeu
aos céus e foi entronizado e coroado com glória,
Cristo é objetivo. Disso não devemos ter dúvida. Mas
Cristo é também subjetivo. Ele habita em nós, Ele
vive em nós, procura estabelecer-se em nós e também
trabalha para saturar todo o nosso ser Dele mesmo.

CRISTO ENGRANDECIDO
Consideremos agora Filipenses 1:19-21. No
versículo 19 Paulo diz que suas circunstâncias
resultariam em sua salvação pela súplica dos santos e
pela provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo.
De acordo com o versículo 20, vemos que a salvação
que ele esperava experimentar era que, em vez de ser
envergonhado, em tudo Cristo seria engrandecido
nele com toda ousadia. Assim, o ambiente de Paulo
resultar em sua salvação significa que se tornaria o
engrandecimento de Cristo nele. Portanto, a salvação
aqui é, na verdade, Cristo engrandecido nele. As
palavras “Para mim, o viver é Cristo” no versículo 21
são uma explicação do que quer dizer engrandecer
Cristo. Engrandecer Cristo é vivê-Lo. Do lado
96

negativo, ele esperava não ser envergonhado; do lado


positivo, esperava que Cristo fosse engrandecido nele.
De acordo com o contexto desses versículos,
salvação aqui não é ser salvo do inferno. Em vez
disso, é a salvação de ser envergonhado. Se Paulo
estivesse entristecido e deprimido quando estava na
prisão, isso teria sido uma vergonha. Suponha que
Timóteo fosse visitar Paulo e o encontrasse chorando
devido à sua difícil situação. Que vergonha teria sido
para Paulo! Mas suponha que Paulo se regozijasse no
Senhor e cantasse louvores a Ele. Então Cristo, de
fato, teria sido engrandecido em seu corpo, embora
ele fosse prisioneiro em Roma. Essa é a salvação
mencionada aqui.
Suponha que um irmão esteja numa situação
muito triste, e alguém o visite. Se esse irmão chorar e
reclamar de seu sofrimento, isso será uma vergonha.
Ele precisa experimentar a salvação de Deus em sua
situação. Então se alguém o visitar, esse irmão
sofredor será capaz de dizer-lhe: “Louvado seja o
Senhor. A graça do Senhor é suficiente. Estou no
terceiro céu. Aleluia!” Que testemunho glorioso seria!
Veríamos que o sofrimento do irmão resultou em sua
salvação.
A ardente expectativa de Paulo era que, em vez
de ser envergonhado, ele engrandeceria Cristo. Que
tremenda salvação é engrandecer Cristo em todas as
circunstâncias! Os carcereiros e guardas poderiam
vê-lo a se regozijar no Senhor. Nele Cristo era
engrandecido. Engrandecer Cristo de tal modo é
vivê-Lo.

SALVOS MEDIANTE O ESPÍRITO QUE


97

HABITA EM NÓS E O DEUS QUE OPERA EM


NÓS
Em 2:12 Paulo nos exorta a desenvolver nossa
salvação com temor e tremor. Em 1:19-20 ele fala de
algo que resulta em salvação, mas em 2:12 diz-nos
que devemos desenvolver nossa salvação. No
versículo 13 ele passa a explicar: “Porque Deus é o
que opera em vós tanto o querer como o efetuar,
segundo a sua boa vontade” (VRC). No capítulo um a
salvação vem pela provisão abundante do Espírito de
Jesus Cristo. Mas aqui a salvação vem do Deus que
opera em nós. Agora precisamos ver que o Deus que
opera é, na verdade, o Espírito de Jesus Cristo.
Aquele que opera em nós tanto o querer como o
efetuar, segundo Sua boa vontade, é o Espírito de
Jesus Cristo que habita em nós com Sua provisão
abundante.
Devemos ser cuidadosos, e até mesmo temerosos
e receosos em não ofender o Deus que opera em nós.
Essa é a razão de Paulo dizer em 2:14: “Fazei tudo
sem murmurações nem arrazoamentos” (lit.). As
murmurações são encontradas principalmente nas
irmãs, e os arrazoamentos, principalmente nos
irmãos. Se murmuramos ou arrazoamos, ofendemos
o Deus que habita e opera em nós. Quando
murmuramos ou arrazoamos, podemos ter o
profundo sentimento de que ofendemos o Deus que
opera, entristecendo o Espírito que habita em nós.
Além do mais, podemos ter o sentimento de que o
Espírito que habita em nós nos diz que não
arrazoemos nem murmuremos, mas desenvolvamos
nossa salvação. Recebemos uma salvação
todo-inclusiva, que é o próprio Cristo, mas agora
98

devemos desenvolvê-la. O próprio Deus, que é o


Espírito com a provisão abundante, opera em nós.
Com temor e tremor, vamos respeitá-Lo e cooperar
com Ele para desenvolver nossa salvação. Se fizermos
isso, seremos salvos de murmurações e
arrazoamentos. Essa é uma salvação prática e
instantânea, desenvolvida de acordo com a operação
interior de Deus.

BRILHAR COMO LUZEIROS E EXPOR A


PALAVRA DA VIDA
Nos versículos 15 e 16 Paulo continua: “Para que
vos tomeis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus
inculpáveis no meio de uma geração pervertida e
corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no
mundo; preservando a palavra da vida” [O verbo
preservar também pode ser traduzido por expor,
como na TB]. Brilhar como luzeiros é engrandecer
Cristo. Isso indica que a salvação no capítulo dois
equivale à salvação no capítulo um. O Deus que opera
equivale ao Espírito com a provisão abundante, e
brilhar como luzeiros equivale a engrandecer Cristo.
De acordo com o versículo 16, a maneira de
brilhar como luzeiros é expor a palavra da vida (TB).
É bastante difícil entender adequadamente o
significado do verbo “expor”. Ele significa apresentar
algo às pessoas, oferecer alguma coisa a elas e até
mesmo aplicar algo a elas. Expor a palavra da vida é
oferecer tal palavra aos outros, apresentá-la a eles e
até mesmo aplicá-la a eles. Isso é ministrar Cristo a
outros, oferecer Cristo a eles. Que você oferece à sua
família, parentes, vizinhos, colegas, amigos ou
colegas de escola? que você apresenta a eles? Sua
99

resposta deveria ser que oferece, apresenta e aplica


Cristo a eles em sua situação. Isso é expor a palavra
da vida. A palavra da vida é, na verdade, a expressão
viva de Cristo. Brilhar como luzeiros é engrandecer
Cristo, e expor a palavra da vida é viver Cristo.

UMA DEFINIÇÃO DE VIVER CRISTO


Tanto 1:19-21 como 2:12-16 referem-se à mesma
coisa. No capítulo um Paulo diz que suas
circunstâncias resultarão em salvação. Então, em vez
de ser envergonhado, ele iria engrandecer Cristo. Isso
é viver Cristo. No capítulo dois Paulo nos exorta a
desenvolver a nossa salvação de acordo com o operar
de Deus em nós. Então, em vez de murmurar e
arrazoar, brilharemos como luzeiros, preservando a
palavra da vida. Filipenses 2:12-16 é, assim, uma
definição de 1:19-21. Em 1:19 temos a provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo. Esse Espírito é
o próprio Deus que opera em nós. Além disso,
engrandecer Cristo é brilhar como luzeiros sem
murmurar ou arrazoar, e viver Cristo é expor a
palavra da vida.

SATURADOS DA PALAVRA DA VIDA


Isso nos traz a uma questão crucial: para viver
Cristo precisamos primeiramente receber a palavra
da vida e ser constituídos dela. Desde o momento em
que nascemos, somos gradualmente constituídos da
cultura. A cultura foi infundida em nós pela família e
sociedade. Por fim, a cultura infundida em nós
tornou-se nossa constituição. Automaticamente
vivíamos de acordo com a cultura constituída em nós.
Também vivemos o que foi infundido em nós. As
100

crianças vivem de acordo com o que foi infundido


nelas pelos pais. Agora que fomos salvos, não
devemos mais viver essa cultura. Por exemplo, um
crente da China não deveria mais viver a cultura,
filosofia ou ética chinesas. Em vez disso, deve viver
Cristo. Mas como podemos viver Cristo? Se
desejamos vivê-Lo, precisamos receber a Palavra em
nosso ser e permitir que ela nos sature. A Palavra que
nos satura irá gradualmente substituir a cultura
infundida em nós. Quanto mais tivermos a Palavra
infundida em nós, mais seremos transformados.
Espontaneamente nosso pensamento, amor,
aspiração e conversa tornar-se-ão Cristo. Então, em
vez de viver a cultura, viveremos Cristo. A única
maneira de viver Cristo é ser saturado da Sua palavra
da vida. A palavra da vida infundida em nós eliminará
os elementos da cultura e tomar-se-á o novo
constituinte em nosso ser interior. Então viveremos
Cristo.
101

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA
PARTICIPAR DA PROVISÃO ABUNDANTE DO
ESPÍRITO E DESFRUTAR AS RIQUEZAS DE CRISTO
TOMANDO A PALAVRA DE DEUS (2)

Leitura Bíblica: Fp 1:19-21; 2:12-16; Cl 3:16; Ef


5:18-19; 6:17-18
Colossenses 3:16 diz: “A palavra de Cristo habite
em vós abundantemente, em toda a sabedoria,
ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros,
com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao
Senhor com graça em vosso coração” (VRC). Aqui
Paulo diz que a palavra de Cristo deve habitar em nós,
morar em nós. Isso implica em que a palavra de
Cristo é viva. Para que algo habite ou more em nós,
ele deve ser vivo .

UMA PESSOA VIVA


A expressão de Paulo neste versículo indica que a
palavra de Cristo é muito parecida com uma pessoa
viva. Paulo quase personifica a palavra de Cristo; ele
nos diz que a palavra deve habitar em nós, como se
fosse uma pessoa viva. A palavra de Cristo é, na
verdade, a Pessoa viva de Cristo. Ainda mais, de
acordo com o Novo Testamento, a Pessoa viva de
Cristo é o Espírito. Jesus é o nome dessa Pessoa, e a
realidade dessa Pessoa é o Espírito. Por essa razão,
sempre que invocamos o nome do Senhor Jesus, é o
Espírito que vem. Temos também enfatizado que a
Palavra e o Espírito são um. Portanto, quando a
102

palavra de Cristo habita em nós, o Espírito mora em


nós.

EM TODA A SABEDORIA
Em Colossenses 3:16 Paulo nos diz que a palavra
de Cristo deve habitar em nós ricamente “em toda a
sabedoria”. Você já considerou o que significa a
palavra de Cristo habitar em você em toda a
sabedoria? Se quisermos entender o significado dessa
expressão, devemos diferenciar a sabedoria do
conhecimento. O conhecimento está relacionado
principalmente com a função da mente, ao passo que
a sabedoria está relacionada com a função do nosso
espírito. Isso significa que, para a palavra de Cristo
habitar em nós em toda a sabedoria, precisamos
exercitar o espírito. Se usarmos a mente para
memorizar a Palavra, ela irá então habitar em nós em
forma de conhecimento. Memorizar versículos da
Bíblia é função da mente relacionada com o
conhecimento, e não do espírito relacionada com a
sabedoria. A palavra habitar em nós em toda a
sabedoria refere-se ao seu habitar de todos os modos
possíveis por meio do exercício do espírito. A
sabedoria é mais profunda, mais refinada e mais
íntima do que o conhecimento. Ela vem do exercício
do espírito.
A diferença entre conhecimento e sabedoria pode
ser ilustrada na vida conjugal. Suponha que a esposa
de um irmão murmure e até mesmo o repreenda. Se
revi dar, discutindo com ela, ele exercitará a mente
com seu conhecimento. Não há sabedoria nisto. Mas
suponha que enquanto a esposa murmura, ele
invoque o nome do Senhor Jesus e ore. Isso é
103

sabedoria. Discutir está relacionado com o


conhecimento, mas orar está relacionado com a
sabedoria. Orar-ler e cantar podem também estar
relacionados com a sabedoria. O irmão pode também
mostrar sabedoria exercitando o espírito para
compartilhar um testemunho útil que ouviu
recentemente na reunião da igreja. O ponto aqui é
que o conhecimento envolve o exercício da mente,
mas a sabedoria envolve o exercício do espírito por
meio de práticas como orar, orar-ler, cantar e
testificar.
Quando Paulo fala em Colossenses 3:16 de a
palavra de Cristo habitar em nós ricamente, ele não
menciona a leitura, que é um exercício da mente.
Antes, ele menciona a sabedoria, que implica no
exercício do espírito. O que resulta do exercício do
espírito é sabedoria, mas o que vem pelo exercício da
mente é conhecimento.

ENSINAR E ADMOESTAR UNS AOS OUTROS


Neste versículo Paulo também fala:
“Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros,
com salmos, hinos e cânticos espirituais”. Aqui Paulo
não fala de instruir e aconselhar de maneira comum,
mas com salmos, hinos, e cânticos espirituais. Além
disso, ele indica que é cantando que a palavra de
Cristo habita em nós ricamente. Podemos também
instruir e aconselhar cantando.

CANTAR AO SENHOR
Visto que muitos de nós nascemos no
cristianismo, fomos criados no cristianismo, e até
mesmo temos o cristianismo constituído em nós,
104

devemos admitir que, pelo menos até certo ponto,


ainda estamos sob a influência da religião do
cristianismo, especialmente na maneira de nos
reunir. Em nenhum lugar do Novo Testamento é dito
aos cristãos que devem reunir-se e sentar-se quietos,
esperando que alguém comece a reunião. De acordo
com o livro de Salmos, quando os filhos de Israel se
ajuntavam para as festas três vezes ao ano,
começavam suas reuniões não no templo, mas ao pé
do Monte Sião. À medida que subiam a montanha,
salmodiavam os cânticos de romagem (Sl 120-134).
De modo semelhante, as reuniões da igreja não
devem começar no local de reuniões, mas em casa ou
a caminho da reunião. A reunião deve ser uma
exibição da vida diária, da maneira que vivemos em
casa, na escola ou no trabalho. A reunião deve ser
cheia de cantar e louvar porque cantamos e louvamos
ao Senhor dia após dia. Aprecio o coro do hino “Eis
minha história, minha canção, louvo meu Salvador
sem cessar”. Mas onde você pode encontrar um
cristão que louve o Senhor sem cessar? Muitos
cristãos que cantam este hino não louvam seu
Salvador no viver diário. Mas nossa vida diária deve
ser cheia de cantar ao Senhor.
Muitos de nós têm lido a Bíblia por anos sem
perceber que podemos tornar a Palavra de Deus
cantando. É sua prática tornar um versículo da Bíblia
não somente lendo, mas também cantando? Os
cristãos têm sido ensinados a estudar a Bíblia e a
lê-la, mas não a cantá-la. Somos gratos pela
restauração do orar-ler a Palavra. Agora devemos
passar a cantar-ler a Palavra de Deus. A palavra de
Cristo deve habitar em nós ricamente em toda a
105

sabedoria quando a cantamos. Isso não é meu


ensinamento; é a exortação dada pelo apóstolo Paulo
em Colossenses 3:16.
Embora tenhamos lido Colossenses por anos,
não temos prestado a atenção adequada no tocante a
tomar a Palavra cantando. Muitos cristãos afirmam
ser bíblicos. Mas, em vez de serem totalmente
bíblicos, podem ser formais e religiosos. Certamente é
bíblico cantar a Palavra de Deus.
Devemos cantá-la não somente nas reuniões,
mas especialmente na vida diária. Em especial,
devemos cantá-la em casa. Quando estiver sozinho
em seu quarto ou em companhia de outros à mesa do
jantar, cante a Palavra de Deus. Cantar a Palavra é
uma excelente maneira de exercitar o espírito. Orar é
exercitar o espírito, mas cantar é uma maneira
excelente de exercitar o espírito.
O livro mais longo da Bíblia é Salmos, com cento
e cinqüenta capítulos. Esse livro foi composto não
somente para leitura; foi escrito para cantar, até
mesmo para salmodiar. Salmodiar é mais elevado que
cantar. Em Colossenses 3:16 Paulo menciona salmos,
hinos, e cânticos espirituais. Cânticos espirituais são
geralmente curtos; hinos, de extensão média; e
salmos, geralmente, composições mais longas.
Precisamos cantar e salmodiar a Palavra de Deus.
Salmodiar é mais elevado e mais profundo que
cantar.

SATURADOS DA PALAVRA CANTANDO


Se desejamos sinceramente ser saturados da
Palavra viva para viver Cristo, precisamos seguir a
prática defendida por Paulo em Colossenses 3:16.
106

Isso significa que a palavra de Cristo deve habitar em


nós de maneira rica, não por mero conhecimento da
mente, mas por todo tipo de sabedoria proveniente de
nosso espírito, incluindo cantar e salmodiar. Oh!
precisamos cantar e salmodiar a Palavra de Deus!
Cantar a Palavra é melhor que lê-la, e salmodiá-la é
ainda melhor que cantá-la. Salmodiá-la inclui
contemplá-la profundamente e desfrutá-la. À medida
que a salmodiamos, permanecemos nela,
contemplamo-la profundamente e a desfrutamos,
dando assim mais oportunidade de ela nos saturar.
Se somente lemos a Palavra, há pouca
oportunidade de o trecho que lemos aprofundar-se
em nós e saturar nosso ser. Mas se a cantamos, e,
especialmente, se a salmodiamos, abrimos nosso ser
mais plenamente a ela e lhe damos a oportunidade de
aprofundar-se em nós e saturar-nos. Por exemplo, se
cantarmos o Salmo 1, desfrutaremos as riquezas que
se encontram nesse curto salmo. Cantemos e
salmodiemos a Palavra de Deus não somente nas
reuniões. Acheguemo-nos a ela diariamente para
cantá-la e salmodiá-la com todo o nosso ser. Ao
cantá-la e salmodiá-la, exercitemos a voz, a mente, o
coração e o espírito.
Além disso, espero que, de agora em diante, nas
reuniões da igreja, seja dado mais lugar ao cantar
espontâneo da Palavra. Talvez em certa reunião
cantemos ou salmodiemos todo o livro de Efésios.
Sem dúvida, se gastarmos uma reunião inteira para
fazer isso, tocaremos as riquezas dessa Epístola.
É surpreendente que em Colossenses 3:16 Paulo
não mencione a leitura. Em vez disto, ele enfatiza o
cantar. E possível ler a Palavra sem exercitar o
107

espírito e sem contatar Deus. Mas ao orar, cantar e


salmodiar somos levados ao Espírito. A melhor
maneira de receber a palavra da vida e ser saturado
do elemento de Cristo é cantar a Palavra.

ENCHIDOS NO ESPÍRITO
Efésios 5:18-19 é um paralelo de Colossenses
3:16. Nesses versículos Paulo diz: “E não vos
embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos,
e hinos, e cânticos espirituais, cantando e
salmodiando ao Senhor no vosso coração” (VRC).
Note que em Colossenses 3:16 Paulo nos diz que a
palavra de Cristo deve habitar em nós ricamente, mas
em Efésios 5:18 ele nos diz que sejamos cheios no
espírito (lit.). Quando colocamos esses versículos
juntos, vemos que devemos ser enchidos no espírito
da palavra de Cristo. Esses dois trechos da Palavra
têm o mesmo objetivo: que tenhamos o espírito cheio
da Palavra.
Podemos comparar nosso espírito com um
automóvel que precisa de combustível, e a Palavra, a
Bíblia, com um posto de gasolina. Quando sentimos
que estamos vazios, devemos achegar-nos à Palavra
para ser enchidos. Na Palavra temos um suprimento
inesgotável de “gasolina espiritual”. A maneira de
bombear essa “gasolina” é cantar e salmodiar a
Palavra. Se estivermos cheios desse modo,
logicamente falaremos uns aos outros em salmos,
hinos e cânticos espirituais. Descobriremos também
que cantar e salmodiar a Palavra são mais elevados
que orar-lê-la.
Quanto mais cantarmos e salmodiarmos a
108

Palavra de Deus, mais seremos libertos da influência


da religião, a influência que faz com que
freqüentemos as reuniões de maneira formal.
Criemos o hábito de cantar a Palavra dia após dia.
Então nossas reuniões não serão formais. Em vez de
qualquer tipo de apresentação, as reuniões serão
preenchidas com a exibição de nossa vida diária. O
que exibirmos nas reuniões da igreja será a maneira
que vivemos dia após dia. Em especial, cantaremos
nas reuniões porque cantamos a Palavra diariamente.
Com respeito ao cantar a Palavra de Deus, meu
encargo principal não é que as reuniões serão
enriquecidas; é que seremos saturados da Palavra
viva. Participaremos na provisão abundante do
Espírito e desfrutaremos as riquezas de Cristo
recebendo a Palavra de Deus.
No passado perdi muitas oportunidades de ser
saturado da Palavra porque não conhecia o cantar a
Palavra. Gastava muito tempo lendo e estudando a
Bíblia, enchendo várias Bíblias com anotações, mas
não percebia que podia cantar ou salmodiar a
Palavra. Uma coisa é ler Efésios 2 e outra coisa é
orar-lê-lo. Mas, uma vez mais, gostaria de enfatizar
que cantar a Palavra é ainda melhor que orar-ler.
Muitos cristãos exercitam apenas a mente para ler e
estudar a Palavra. Eles absolutamente não cantam a
Palavra, e alguns na verdade opõem-se à prática de
orar-ler. Tenho confiança de que quanto mais a
cantarmos e salmodiarmos, mais seremos lavados e
saturados do elemento de Cristo.

RECEBER A PALAVRA PARA VIVER CRISTO


Com respeito a essas coisas necessárias para a
109

vida, o que é importante não é entender, mas receber.


Podemos não entender muito sobre a água que
bebemos e especialmente sobre o alimento que
comemos, contudo precisamos beber e comer. Ao
comer e beber recebemos o que é necessário para
manter a vida. De modo semelhante, precisamos
receber a Palavra em nós, comendo-a. Sim, podemos
comer a Palavra ao lê-la de maneira adequada. Além
disso, pela experiência sabemos que podemos
tomá-la como alimento ao orar-lê-la. Mas agora
devemos também ver que não há maneira melhor de
receber a Palavra em nosso ser do que cantá-la.
Quanto mais a cantarmos e salmodiarmos, mais ela
penetrará nas profundezas de nosso ser e nos
saturará. Se usarmos mesmo que seja pouco tempo
para cantar a Palavra, sentiremos que somos
interiormente cheios e saturados dela. Então
espontaneamente viveremos Cristo.
Quando o elemento de Cristo tiver sido infundido
em nós ao cantar e salmodiar a Palavra, viveremos
Cristo espontânea e automaticamente. Às vezes
podemos ler a Palavra sem ter qualquer elemento de
Cristo infundido em nosso ser. Mas quando cantamos
e salmodiamos a Palavra, somos saturados do
elemento divino contido nela e transmitido a nós por
meio dela. Quanto mais a cantamos e salmodiamos,
mais damos a ela oportunidade de habitar em nós,
aprofundar-se em nós e nos permear com o elemento
divino. Então seremos constituídos do elemento de
Cristo. Automaticamente nos tornaremos o que
comermos e expressaremos o que absorvermos. Essa
é a maneira de viver Cristo.
110

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E UM
CRISTO FAZ MORADA EM NÓS MEDIANTE SUA
PALAVRA QUE HABITA EM NÓS

Leitura Bíblica: Ef 3:8, l6-l7a, 19b; 6:17b-18a; Cl 3:16;


Fp 2:16a; Jo 14:23; 15:4, 7
Os versículos acima podem ser comparados a
peças de um quebra-cabeças. Quando juntamos as
peças, vemos uma figura completa.
Em Efésios 3:8 Paulo fala das riquezas
insondáveis de Cristo. As riquezas insondáveis de
Cristo são a plenitude da Deidade (Cl 2:9). Quão
todo-inclusivas e extensivas devem ser! A própria
plenitude da Deidade tornou-se as riquezas
insondáveis de Cristo.
À medida que consideramos Efésios 3:8 e 16-17a,
vemos que Cristo fazer morada em nosso coração
significa que suas riquezas insondáveis devem tomar
posse de todo o nosso ser. Elas devem encher nosso
coração, incluindo a mente, emoção, vontade e
consciência. Sem dúvida, se o nosso coração tem sido
ocupado e possuído por Cristo, também seremos um
com Ele em espírito. Então, todo o nosso ser interior
será possuído por Cristo e será um com Ele.
A palavra sobre a plenitude de Deus sendo as
riquezas de Cristo e as riquezas de Cristo possuindo
nosso ser interior pode não passar de doutrina para
nós. Devemos então perguntar como as riquezas de
Cristo podem encher-nos de maneira prática. A
plenitude da Deidade e as riquezas insondáveis de
111

Cristo são percebidas pelo Espírito e no Espírito.


Além disso, o Espírito está corporificado na Palavra.
Por um lado, em Efésios 3:8 e 17, Paulo fala das
riquezas de Cristo e de Cristo habitar em nosso
coração; por outro, em Colossenses 3:16 ele nos
exorta a deixar a Palavra de Cristo habitar ricamente
em nós. A palavra ricamente corresponde a riquezas,
e o verbo habitar é o mesmo em português, embora
haja pequena diferença no grego. O Cristo com as
riquezas insondáveis deseja habitar em nosso
coração. Colossenses 3:16 refere-se tanto a essas
riquezas como à questão da palavra de Cristo habitar
em nós.
Além do mais, de acordo com Efésios 3:19, se
Cristo habitar em nosso coração, seremos cheios até
toda a plenitude de Deus. Começamos com a
plenitude da Deidade, e agora retomamos a essa
plenitude. A plenitude de Deus, que é desde a
eternidade, tornou-se as riquezas insondáveis de
Cristo. Agora esse Cristo com Suas riquezas
insondáveis habita em nosso coração para que
sejamos cheios até toda a plenitude da Deidade.
Portanto, temos aqui um círculo completo,
começando com a plenitude da Deidade e voltando a
essa plenitude. Louvamos ao Senhor porque,
mediante o Espírito e a Palavra, podemos
experimentar as riquezas insondáveis de Cristo e ser
cheios até toda a plenitude de Deus!

A PALAVRA E O ESPÍRITO
Com respeito ao Espírito, há dois extremos, um
encontrado entre os fundamentalistas, e o outro,
entre os pentecostais. Visto que têm medo da
112

experiência do Espírito, certos cristãos


fundamentalistas preocupam-se principalmente com
a doutrina da Bíblia. Mas ter somente a doutrina da
Bíblia sem o Espírito é ter um corpo sem vida. O
Espírito está corporificado na Palavra. Portanto, a
Palavra pode ser chamada de o corpo do Espírito.
Separar o Espírito da Palavra é ter um corpo sem
vida. O Espírito é o conteúdo de vida da Bíblia.
Separada do Espírito, a Bíblia não passa de letras
mortas. Contudo, os cristãos fundamentalistas
freqüentemente têm medo de ouvir sobre a
experiência de Cristo, o Espírito e a vida interior. Eles
representam um extremo.
Os pentecostais representam outro extremo. Eles
podem negligenciar a Palavra e enfatizar o Espírito de
maneira anormal e desequilibrada.
A economia de Deus evita ambos os extremos. Na
economia de Deus, o Espírito é o alcançar
consumado, final e máximo do Deus Triúno ao
homem. Como temos visto, quando o Espírito vem a
nós, o Deus Triúno vem. Juntamente com o Espírito,
Deus nos dá a Palavra. Por um lado, temos o Espírito
como o alcançar consumado, final e máximo do Deus
Triúno; por outro, temos a Palavra como a
corporificação do Espírito. Nunca devemos divorciar
a Palavra e o Espírito. Assim como nossa vida e nosso
corpo físico são uma entidade, um organismo vivo
completo, do mesmo modo o Espírito e a Palavra são
um. Como seres humanos, devemos ter tanto um
corpo visível e tangível como uma vida invisível e
intangível. De modo semelhante, como crentes,
precisamos tanto da Palavra como do Espírito. Ainda
mais, assim como é a vida invisível em nosso corpo
113

que torna o corpo vigoroso e ativo, é o Espírito que faz


com que a Palavra seja viva.
O Deus Triúno como Espírito todo-inclusivo está
conosco. Não há necessidade de jejuar e orar a fim de
receber o Espírito. Podemos recebê-Lo simplesmente
invocando o nome do Senhor Jesus. Pela nossa
experiência sabemos que sempre que invocamos: “Ó
Senhor Jesus”, recebemos o Espírito (1Co 12:3). O
Espírito, então, volta-nos para a Palavra. Muitos de
nós podem testificar que, quando invocamos o nome
do Senhor Jesus com fé e amor, recebemos o Espírito.
Automaticamente, somos atraídos para a Bíblia. Isso
indica que o Espírito e a Palavra são um. A economia
de Deus depende tanto da Palavra quanto do Espírito
Devemos ter ambos e nunca separá-los, Precisamos
da Palavra como corpo e do Espírito como vida.
Se desejamos permitir que Cristo nos ocupe e
habite em nós, devemos estar cheios da palavra de
Cristo. Em João 14:23, o Senhor Jesus diz: “Se
alguém Me ama, guardará a Minha Palavra; e Meu
Pai o amará, e viremos para ele e faremos com ele
morada”. Aqui vemos a conexão entre a palavra do
Senhor e o Pai e o Filho vindo a nós e fazendo morada
conosco. É difícil dizer se essa morada é para o Pai e o
Filho ou para nós. Na verdade, é uma morada mútua.
Por um lado, o Senhor faz de nós morada; por outro,
Ele é morada para nós. Isso é provado pela Palavra do
Senhor em João 15:4 com respeito ao permanecer:
“Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós”.
Isso se refere ao habitar mútuo e a morada mútua.
Sem dúvida, João 15 é a continuação do capítulo
catorze, onde temos a morada mútua; já no capítulo
quinze, temos o permanecer mútuo. Pelo fato de
114

haver uma morada tanto para o Senhor como para


nós, podemos agora permanecer Nele e Ele, em nós.
De acordo com João 15:4 e 7, a palavra do Senhor
permanecer em nós significa que o próprio Senhor
permanece em nós. O versículo 4 diz: “Permanecei
em Mim, e Eu permanecerei em vós”. No versículo 7
o Senhor prossegue: “Se permanecerdes em Mim e as
Minhas palavras permanecerem em vós”. Esses
versículos indicam que as palavras do Senhor
equivalem ao próprio Senhor. Se quisermos que
Cristo permaneça em nós na prática, Suas palavras
devem permanecer em nós. Não podemos ter Cristo
em nós na experiência a não ser que tenhamos
também Suas palavras em nós.
Louvamos ao Senhor por termos Cristo, o
Espírito e a Palavra! Pelo fato de Cristo ser Deus, Ele
é real; pelo fato de ser o Espírito, Ele é vivo; e pelo
fato de ser a Palavra, Ele é muito prático. Nenhum de
nós pode negar que, como crentes em Cristo, temos o
Espírito e a Palavra. Como é maravilhoso que o
Espírito e a Palavra são um!

RECEBER A PALAVRA PARA VIVER CRISTO


Chegamos agora a uma questão crucial: a
necessidade de receber a Palavra dia após dia. Não
devemos ter a atitude de, porque adquirimos certa
quantidade de conhecimento através dos anos como
cristãos, achar que não há necessidade de nos achegar
à Palavra diariamente. Embora tenhamos nos
alimentado por anos, continuamos a comer todos os
dias a fim de permanecer vivos. Seria tolice dizer que
já nos alimentamos muito no passado, e não
precisamos mais comer. De igual modo, devemos
115

achegar-nos à Palavra todos os dias, até mesmo várias


vezes por dia. Devemos começar cada dia com um
bom café da manhã tanto física como
espiritualmente. Todos os dias precisamos receber a
Palavra viva em nós e ser satisfeitos.
Após ouvir as mensagens sobre viver Cristo,
podemos ter o desejo autêntico de vivê-Lo. No
entanto, se não nos alimentarmos da Palavra
diariamente, não nos será possível vivê-Lo, Sou
saudável espiritualmente porque todos os dias como,
digiro e assimilo a Palavra e sou nutrido por ela.
Deus fez de Cristo nossa vida e nosso tudo, e nos
destinou a vivê-Lo. Se O vivermos, seremos as
pessoas mais abençoadas do mundo. Teremos alegria,
satisfação e toda a bênção. Como temos enfatizado, a
maneira de viver Cristo é receber Sua palavra em nós
e ser preenchidos com ela.
A fim de receber a Palavra em nosso ser, não
devemos apenas lê-la, mas devemos mesclar leitura
com o orar, cantar, salmodiar, e invocar o nome do
Senhor. Sempre que abro a Palavra de Deus, seja para
a obra ou para minha própria nutrição, sou imerso na
atmosfera e no anseio da oração. Sempre converso
com o Senhor por meio do versículo que leio. Dessa
maneira recebo infusão, nutrição e sou preenchido
em meu espírito com a Palavra viva, a qual é, na
verdade, o próprio Cristo como Espírito.
Não pense que será capaz de viver Cristo
simplesmente decidindo fazê-Lo. Alguém pode ouvir
uma mensagem sobre viver Cristo e então orar:
“Senhor, desejo viver-Te. Decido viver Cristo de agora
em diante. Por favor, ajuda-me a fazer isso”. Esse tipo
de oração, no entanto, não é eficaz. Ela pode ser
116

comparada a pedir ao Senhor que o torne saudável


quando, você não se alimenta direito. É inútil decidir
ser saudável se você não come alimento nutritivo. Do
mesmo modo, se não formos nutridos pela Palavra,
de nada adiantará decidir viver Cristo. Somente
comendo a Palavra podemos viver Cristo.
Quando somos preenchidos com a palavra de
Cristo, somos automaticamente preenchidos com às
riquezas de Cristo e a plenitude da Deidade. Todos os
dias necessitamos receber a Palavra viva em nós
como alimento. Quando nos achegamos a ela,
devemos abrir todo o nosso ser e exercitar o espírito.
Primeiramente devemos orar, e então orar-ler,
cantar-ler e salmodiar-ler. Ao cantar e salmodiar a
Palavra, podemos usar qualquer tipo de melodia, até
mesmo uma melodia espontânea composta por nós
mesmos.

CANTAR A PALAVRA DE CRISTO


Certos cristãos, especialmente no
Pentecostalismo, cantam versículos da Bíblia.
Contudo, na maior parte dos casos, cantam trechos
do Antigo Testamento. Isso é bom, mas não tão rico
quanto cantar trechos do Novo Testamento. Em
particular, devemos cantar os quatro livros que
constituem o coração da revelação divina: Gálatas,
Efésios, Filipenses e Colossenses, para desfrutar as
riquezas insondáveis de Cristo.
Nas reuniões da igreja às vezes cantamos “Assim
voltarão os resgatados do Senhor, a Sião virão
cantando” (Is 51:11). Cantar esse versículo pode ser
inspirador e liberador. Mas não pode ser comparado
em riquezas com o cantar versículos do livro de
117

Efésios. Precisamos especialmente cantar os


versículos que nos transmitem as riquezas de Cristo.
Novamente, encorajo-os a cantar-ler Gálatas, Efésios,
Filipenses e Colossenses, quatro livros cheios das
riquezas divinas. Que riquezas podem ser
encontradas em versículos como Colossenses 2:9 e
Efésios 3:17: toda a plenitude da Deidade habita em
Cristo, e Cristo habita em nosso coração!
Não devemos pensar que Gálatas, Efésios,
Filipenses e Colossenses não passam de palavras
escritas por Paulo, e não são a palavra de Cristo.
Quando Paulo as escreveu, Cristo estava nele como
Espírito. Assim, Cristo podia escrever na escrita de
Paulo. Isso quer dizer que as palavras de Paulo são a
palavra de Cristo.
De acordo com Hebreus 1, Deus hoje fala por
meio de Seu Filho. Como crentes, os apóstolos têm o
Filho de Deus, Cristo, vivendo neles. Assim, qualquer
coisa que eles falem com Cristo é a palavra de Cristo.
Por essa razão, devemos considerar que todas a
palavras escritas por Paulo, na verdade, todo o Novo
Testamento, são a palavra de Cristo. Espero que um
dia sejamos capazes de colocar música em todo o
Novo Testamento como ajuda para cantar toda a
palavra de Cristo. Então teremos uma melodia para
cada versículo no Novo Testamento.
Minha preocupação não é com o cantar formal; é
com o cantar espontâneo da Palavra, um cantar que
faz com que todo o nosso ser seja exercitado. À
medida que cantamos a Palavra, precisamos exercitar
os olhos para ler, a mente para entender, a emoção
para amar a Palavra, a vontade para receber a
Palavra, e também o espírito para orar, cantar,
118

louvar, salmodiar, agradecer ao Senhor por Sua


Palavra.

SATURADOS DA PALAVRA MEDIANTE O


ESPÍRITO
No passado, muitos de nós não exercitávamos
todo o nosso ser quando nos achegávamos à Palavra.
Com freqüência usávamos apenas a mente para
estudar a Bíblia. Não exercitávamos adequadamente
a emoção para amar a Palavra, nem fortemente a
vontade para recebê-la. Mas se exercitarmos todo o
nosso ser para tomar a Palavra, por fim seremos
enchidos, ocupados e saturados da Palavra viva. Pelo
fato de a Palavra ser a corporificação do Espírito e
pelo fato de o Espírito ser a realidade de Cristo,
seremos automaticamente cheios de Cristo. Então o
que quer que façamos ou digamos será em nome de
Cristo. Isso é viver Cristo. Vivemos Cristo
automaticamente quando somos saturados da
Palavra de Cristo mediante o Espírito.
Quanto mais comermos a Palavra viva, mais
seremos constituídos dela. Seremos saturados e
plenamente constituídos de Cristo. Então nosso
pensar será o pensar de Cristo, nosso falar será o falar
de Cristo e nossas ações serão as ações de Cristo. Essa
é a maneira de viver Cristo.
Viver Cristo sendo saturado da Palavra é muito
diferente de decidir viver Cristo e então pedir ao
Senhor que nos ajude nessa questão. Sei pela
experiência que esse tipo de determinação não
funciona. Antigamente costumava dizer: “Senhor,
peço-Te que me ajudes a viver-Te de agora em
diante”. Tinha sucesso por curto tempo, somente para
119

falhar para com o Senhor de novo mais tarde, no


mesmo dia. Então confessava minha falha e pedia ao
Senhor que tivesse misericórdia de mim e me
ajudasse a vivê-Lo. Por fim, aprendi que a maneira de
viver Cristo não é pedir ajuda a Ele; é ser nutrido
diariamente com a Palavra viva. Por exemplo, em vez
de orar para ser saudáveis fisicamente, devemos
aprender a fazer refeições nutritivas dia após dia. De
igual modo, se desejamos ser espiritualmente
saudáveis e viver Cristo, precisamos receber a Palavra
de Deus em nós continuamente. Simplesmente orar
pedindo ajuda ao Senhor não adianta. Mas o que
realmente funciona é achegar-nos à Palavra viva de
Deus todos os dias e ser infundidos com as riquezas
de Cristo. Todos necessitamos abrir-nos das
profundezas do nosso ser e exercitar o espírito para
receber a Palavra de Deus em nós, não só pela leitura,
mas também orando, cantando, salmodiando,
agradecendo e invocando o Senhor. Então as riquezas
da Palavra saturarão nosso ser.
Em Sua restauração o Senhor não procura
restaurar formalidades ou práticas. O Seu alvo é
restaurar a Si mesmo como nossa experiência e
restaurar a vida adequada da igreja que provém da
experiência prática Dele. Hoje o Senhor é o Espírito e
também a Palavra. Temos a Palavra para contemplar
profundamente e por meio dela conversar com o
Senhor. Podemos também orá-la, cantá-la e
salmodiá-la, e podemos agradecer a Deus Pai por
meio dela. O objetivo de tal exercício não é só ganhar
conhecimento bíblico; é principalmente receber o
elemento, a substância, a essência, da Pessoa divina,
o próprio Cristo, corporificado na Palavra e
120

transmitido por meio dela. Oremos a Palavra e


cantemos a Palavra para receber as suas riquezas por
meio do Espírito.
121

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E DOIS
FAZER TUDO EM NOME DO SENHOR SENDO SATURA
DO DE SUAS RIQUEZAS

Leitura Bíblica: Cl 3:16-4:2; Ef 5:18-25; 6:17-18a; Fp


4:13
Em Colossenses 3:17 Paulo nos exorta a fazer
tudo em nome do Senhor Jesus. Em Filipenses 4:13
ele testifica: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
É até fácil entender o que significa fazer tudo no
Senhor que nos fortalece, mas é bastante difícil
entender o que significa fazer tudo em nome do
Senhor. O nome, logicamente, denota a pessoa.
Quando chamamos alguém pelo nome, a pessoa
responde. Portanto, o nome denota a pessoa.
Separado da pessoa, o nome é vazio e sem significado.
Visto que o nome denota a pessoa, fazer coisas em
nome do Senhor deve significar fazer coisas em Sua
Pessoa.

ORAR EM NOME DO SENHOR


No fim de suas orações muitos cristãos
adicionam as palavras “em nome de Jesus, amém”.
Eles usam o nome do Senhor como selo, carimbo, ou
assinatura para endossar suas orações. De acordo
com a Bíblia, no entanto, esse não é o significado de
orar em nome do Senhor. Em João 15:16 o Senhor
Jesus diz: “O que pedirdes ao Pai em Meu nome, Ele
vo-lo conceda”. Aqui o Senhor fala de pedir ao Pai em
nome do Senhor. João 14:13-14 diz: “E o que pedirdes
122

em Meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja


glorificado no Filho. Se Me pedirdes alguma coisa em
Meu nome, Eu o farei”. Se pedimos algo ao Pai em
nome do Filho, pode ser possível usar o nome do
Filho como assinatura ou endosso em nossa petição.
Mas certamente não podemos usar o nome do Senhor
desse modo quando pedimos algo diretamente a Ele.
De acordo com a verdade básica revelada em João 14
e 15, estar no nome do Senhor significa ser um com
Ele, viver por meio Dele e permitir que Ele viva em
nós. O Senhor veio em nome do Pai e fez coisas em
nome do Pai (Jo 5:43; 10:25). Isso quer dizer que Ele
era um com o Pai (10 10:30) e vivia por meio do Pai
(10 6:57), e o Pai trabalhava Nele (Jo 14:10). Nos
Evangelhos, o Senhor como expressão do Pai fez
coisas em nome do Pai. Em Atos, os discípulos como
expressão do Senhor realizaram coisas até mesmo
maiores (Jo 14:12) em Seu nome. Portanto, estar no
nome do Senhor significa ser um com Ele de fato.
Em João 5:43 o Senhor Jesus diz: “Eu vim em
nome de Meu Pai e não Me recebeis”. O fato de o
Senhor Jesus vir em nome do Pai não significa que
Ele usou o nome do Pai como selo. O fato de Ele vir
em nome do Pai quer dizer que Ele veio com o Pai e
no Pai. Quando Ele veio, o Pai também veio. Além
disso, de acordo com João 10:25, o Senhor Jesus
disse: “Já vo-lo disse, e não credes. As obras que Eu
faço em nome de Meu Pai, essas testificam a Meu
respeito”. O Senhor fazer obras em nome do Pai é ser
um com o Pai e fazer coisas na Pessoa do Pai. Por essa
razão, o Senhor Jesus podia dizer: “Eu e o Pai somos
um” (Jo 10:30). Em João 6:57 o Senhor Jesus disse
que o Pai vivo O enviou e que Ele vivia por causa do
123

Pai. O pensamento aqui é que o Senhor Jesus era um


com o Pai e portanto estava na Pessoa do Pai e em
nome do Pai. Todos esses versículos indicam que, de
acordo com o uso bíblico, estar no nome de alguém
significa ser um com ele. Assim, o nome não é
meramente uma assinatura, carimbo ou selo usado
como endosso para concluir uma oração.

EXPERIMENTAR CRISTO
SUBJETIVAMENTE
Muitos cristãos não percebem que como crentes
devemos experimentar Cristo subjetivamente. A
Bíblia revela que o desejo e a intenção de Deus é
trabalhar Cristo em nós. O que poderia ser mais
subjetivo do que ter Cristo trabalhado em nosso ser?
Paulo refere-se a isso quando fala de Cristo habitar
em nosso coração (Ef 3:17). Como Aquele que é
todo-inclusivo, extensivo, o Ungido de Deus, Cristo
deseja não somente habitar em nós, mas também
fazer morada em nós. Isso certamente é subjetivo. A
raiz da Palavra grega traduzida por habite em Efésios
3:17 é a mesma que a raiz da palavra casa, ou
habitação. Cristo deseja habitar, acolher-se, fazer
morada, em nós. A experiência de Cristo
acolhendo-se em nós é, de fato, bastante subjetiva.
Contudo, na maior parte dos casos, essa experiência é
negligenciada pelos cristãos.
Os ensinamentos entre os cristãos enfatizam
principalmente que Cristo é nosso Redentor e
Salvador, que, como Deus, deve ser o objeto de nossa
adoração e os cristãos devem melhorar a conduta.
Cremos plenamente que Cristo é nosso Redentor e
Salvador, que Ele é Deus, e que devemos adorá-Lo.
124

No entanto, de acordo com a Bíblia, o ponto de que os


cristãos devem melhorar a conduta é questionável.
Que significa boa conduta? Não concordamos com a
boa conduta que é mero produto do esforço próprio.
Mas decididamente concordamos que precisamos da
boa conduta, que é o produto da vida cristã
transformada com Cristo. Quando a Bíblia fala de boa
conduta não se refere à boa conduta da vida natural.
Pelo contrário, denota o viver ou conduta adequada
de urna vida transformada. O importante aqui é que
muitos cristãos têm errado o alvo, o ponto central da
economia de Deus. Eles não vêem na Palavra de Deus
que o Deus Triúno deseja entrar em nós para ser
nossa vida, suprimento de vida e tudo para nós, até
mesmo nossa pessoa, para que sejamos um com Ele.

“COINERÊNCIA”3
Quero enfatizar uma vez mais que estar no nome
do Senhor não é apenas usar Seu nome como selo ou
assinatura no fim da oração. Significa estar na Pessoa
do Senhor Jesus. Quando Cristo, o Filho, veio em
nome do Pai, não usava o nome do Pai como
assinatura ou selo. Em vez disso, Ele veio na pessoa
do Pai. Não devemos pensar que quando o Senhor
Jesus veio, somente o Filho veio, e não o Pai também.
Não; quando o Filho veio, o Pai veio Nele e com Ele.
João 14:23 prova isso: “Se alguém Me ama, guardará
a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos a ele e
faremos com ele morada”. Por um lado, o Senhor fala
do Pai nos amando; por outro, fala do Pai e do Filho
vindo a nós e fazendo morada conosco. De acordo
3
Ver nota na mensagem 38, pág. 392. (N.T.)
125

com esse versículo, se amarmos o Filho, o Pai nos


amará. Então o Pai e o Filho farão morada conosco.
Isso indica que quando o Filho vem a nós, o Pai
também vem. No entanto, isso não quer dizer que o
Pai vem ao lado do Filho. O Pai vem no Filho, pela
“coinerência”, isto é, pelo habitar mútuo. João 14:11
fala do Filho estando no Pai e do Pai, no Filho. A
pequena palavra “em” é muito importante pois
aponta a questão da “coinerência”. O Senhor veio no
Pai e com o Pai Nele. Isso é o que significa dizer que o
Filho veio em nome do Pai.
Nosso pensamento precisa ser renovado com
relação ao significado de orar e fazer coisas em nome
do Senhor. Não devemos mais considerar a expressão
“em nome do Senhor Jesus” como selo de endosso. É
vital que vejamos que estar no nome do Senhor Jesus
significa que somos um com Ele, estamos Nele e Ele
em nós. Como o Filho está no Pai e o Pai no Filho pela
“coinerência”, nós também devemos ser um com o
Senhor dessa maneira. Nós e o Senhor Jesus devemos
“coinerir”, isto é, estar Nele e tê-Lo em nós. Então, de
fato, estaremos no nome do Senhor.

SATURADOS DA PALAVRA
Em Colossenses 3:17 Paulo diz: “E tudo o que
fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em
nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai”. Fazer tudo em nome do Senhor Jesus está
relacionado com deixar a palavra de Cristo
saturar-nos e permear-nos. Somos enchidos,
saturados da Palavra e permeados com ela quando a
oramos, cantamos e salmodiamos e por ela damos
graças a Deus Pai. Desse modo, estimulamos todo o
126

nosso ser: mente, vontade, emoção e espírito.


No entanto, em vez de serem estimulados pela
Palavra, muitos cristãos são indiferentes em relação a
ela; seu contato com a Palavra é extremamente frio.
Não devemos ler a Bíblia desse modo. Pelo contrário,
precisamos deixar a palavra de Cristo morar em nós
ao cantar, orar, salmodiar e dar graças. Quanto mais
nos exercitarmos desse modo, mais nosso ser interior
será estimulado, e mais a palavra de Cristo irá não
somente saturar-nos, mas mesclar-se conosco. Desse
modo, todo o nosso ser interior será saturado da
palavra de Cristo.
A palavra de Cristo é, na verdade, a
corporificação de Cristo. Assim, quando a Palavra
como corporificação de Cristo está mesclada com
nosso ser interior, internamente somos um com
Cristo. É em tal momento que podemos
espontaneamente fazer coisas em nome do Senhor.
Uma vez que o Senhor saturou-nos, permeou-nos,
mesclou-Se conosco, fazendo-nos um com Ele,
podemos fazer tudo em Seu nome. Fazer coisas em
nome do Senhor significa fazer coisas Nele.
Colossenses 3:17 corresponde a Filipenses 4:13,
onde Paulo nos diz que tudo pode Naquele que o
fortalece. Para que a palavra Naquele não seja uma
simples terminologia, mas prática e real para nós,
precisamos deixar a Palavra de Cristo saturar todo o
nosso ser. Quando ela entra em nós e nos estimula
interiormente, somos, de fato, um com Cristo.
Estamos Nele em verdade e experiência. Então, assim
como vivemos pelo alimento que temos comido,
digerido e assimilado, faremos tudo em nome
Daquele com o qual temos sido permeados e
127

mesclados, do qual temos sido saturados, e com o


qual somos um, de maneira prática.

UM COM O SENHOR
Em Colossenses 3:18--4:1 Paulo fala às mulheres,
aos maridos, aos filhos, aos pais, aos servos e aos
senhores. As mulheres devem ser sujeitas ao marido,
os maridos devem amar a mulher, os filhos devem
obedecer os pais, os pais não devem provocar os
filhos, os servos devem obedecer os senhores e os
senhores devem conceder aos servos o que é justo e
equitativo. Mas como a mulher submete-se ao
marido, ou o marido ama a mulher? A única maneira
de submeter-se ou amar é estar no nome do Senhor,
ser um com o Senhor.
Note que 3:18--4:1 é a continuação direta da
palavra de Paulo nos versículos 16 e 17. Isso quer
dizer que se não estivermos no nome do Senhor
Jesus, sendo um com Ele tendo a palavra de Cristo a
habitar em nós ricamente, não podemos
submeter-nos ou amar. O cumprimento de todas as
palavras dadas por Paulo nesse trecho de Colossenses
provém de estarmos “no nome do Senhor Jesus”. Se
uma irmã estiver mesclada com o Senhor e for uma
com Ele, irá espontaneamente submeter-se ao
marido. Do mesmo modo, se o marido estiver
mesclado com o Senhor, irá automaticamente amar a
mulher. De modo semelhante, o filho honrará os pais,
o pai irá refrear-se de provocar os filhos, o servo
obedecerá o senhor, e o senhor dará ao servo o que é
justo e equitativo. Isso quer dizer que a mulher deve
submeter-se ao marido no nome do Senhor, e o
marido deve amar a mulher também no nome do
128

Senhor. Além disso, os filhos devem obedecer os pais,


os pais devem cuidar dos filhos, os servos devem
obedecer os senhores, e os senhores devem ser justos
para com os servos, tudo no nome do Senhor.
Em 4:2 Paulo prossegue: “Perseverai na oração,
vigiando com ações de graças”. Tendo-nos tomado
um com o Senhor ao cantar, salmodiar, orar e
agradecer, precisamos preservar essa unidade
perseverando em oração. Pela oração preservamos a
unidade, o mesclar com o Senhor. Perseverar em
oração é orar continua e incessantemente. Isso é
necessário se formos viver Cristo.

O VIVER CRISTÃO NORMAL


Em Efésios 5:18 Paulo nos diz que nos enchamos
em nosso espírito. De que o nosso espírito deve ser
enchido? Precisamos ser enchidos no espírito da rica
palavra de Cristo. Quando deixamos a palavra de
Cristo habitar em nós ricamente, ela irá saturar-nos e
produzir um encher interior. Seremos enchidos das
riquezas de Cristo contidas na Palavra, enchidos até
toda a plenitude de Deus. Quando um irmão for
enchido desse modo, Deus irá amar sua esposa por
meio dele. Do mesmo modo, quando os filhos forem
enchidos dessa maneira, o seu honrar os pais será
com a plenitude de Deus.
A maior parte dos cristãos aprende a viver de
acordo com a ética. Eles negligenciam o Deus Triúno
que Se dispensa aos crentes e Se mescla com eles para
que O vivam. Alguns chegam a se opor a essa
revelação. Eles nos acusam de rebaixar Deus, de
elevar o homem e de ensinar o panteísmo e a
evolução até Deus. Que cegueira e ignorância! A
129

Bíblia ensina que Deus encarnou-se. Ele se rebaixou


tanto a ponto de nascer em manjedoura. Por fim,
após Cristo ser crucificado, foi sepultado numa tumba
e até mesmo desceu ao Hades a fim de preparar o
caminho para entrar em nós. Não fomos nós que
elevamos o homem; foi Cristo que nos elevou. De
acordo com o Novo Testamento, quando Ele
ascendeu, nós também ascendemos. De outro modo,
como poderíamos estar assentados com Ele nos
lugares celestiais (Ef 2:6)?
É de fato triste que tantas verdades divinas sejam
negligenciadas pelos cristãos. Mas em Sua
misericórdia o Senhor as tem mostrado a nós. Temos
visto na Bíblia que o Deus Triúno deseja entrar em
nós, mesclar-Se conosco e elevar-nos aos céus para
que vivamos com Ele e sejamos um com Ele. Se essa
for nossa experiência, tudo que fizermos será em
nome do Senhor Jesus. Que bênção é ver essa
verdade maravilhosa! Levará toda a eternidade para
tomar conhecido quanto temos sido abençoados pelo
Senhor ao ver isso. Oh! que bênção é poder fazer tudo
em nome do Deus Triúno! Se uma irmã submete-se
ao marido no nome do Deus Triúno, sua submissão
será maravilhosa, divina, totalmente diferente da
submissão que é de acordo com a ética de Confúcio.
Sua submissão não será por meio da vida humana
natural, mas por meio da vida divina nela trabalhada.
É um fato maravilhoso que como crentes
tenhamos a natureza divina. Segunda Pedro 1:4 diz
que somos participantes da natureza divina. A
maneira de expandir a esfera da natureza divina em
nós é tomar a Palavra de Cristo não somente lendo-a,
mas também orando-a, cantando-a, salmodiando-a e
130

dando graças. Para a palavra de Cristo habitar em nós


ricamente, precisamos abrir todo o nosso ser e
exercitar o espírito. Então a Palavra irá entrar em
nós, estimular-nos e mesclar-se conosco, fazendo
com que sejamos um com o Senhor de maneira real e
prática. Como resultado, faremos tudo em nome do
Senhor Jesus. Espontaneamente viveremos Cristo.
Seremos um com Cristo em obras e palavras.
Portanto, fazer tudo em nome do Senhor é fazer
tudo em unidade com o Senhor, lendo, orando,
cantando e salmodiando a Palavra, exercitando o
espírito para mesclar-se com a Palavra e assim
tomar-se um com Cristo na experiência. Então
viveremos Cristo, fazendo tudo em Seu nome. Esse é
o viver cristão normal.
131

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS
CRISTO, SALVAÇÃO, DEUS E A PALAVRA DA VIDA

Leitura Bíblica: Fp 2:5-16


Em 2:5-16 temos Cristo, salvação, Deus e a
palavra da vida. Esses são os quatro elementos
básicos da estrutura desses versículos. No versículo 5
Paulo apresenta Cristo como nosso modelo: “Tende
em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus”. Paulo então passa a descrever esse
Cristo, dizendo que Ele foi obediente até a morte. No
versículo 12 Paulo fala de desenvolver a nossa
salvação, e no 13, então, diz que Deus opera em nós.
Portanto, temos Cristo como modelo de nossa
salvação e devemos desenvolver nossa salvação de
acordo com a operação de Deus em nós. O resultado
da operação de Deus em nós é que exibimos a palavra
da vida (v. 16 — TB). Portanto, os quatros elementos
básicos em 2:5-16 são Cristo, salvação, Deus e a
palavra da vida. Nesta mensagem consideraremos
como esses quatro elementos estão
inter-relacionados.

CRISTO COMO MODELO


Filipenses é um livro sobre a experiência de
Cristo. Se desejamos experimentar Cristo e vivê-Lo,
devemos conhecê-Lo como nosso modelo. Em 2:5-11
Paulo apresenta Cristo como nosso modelo.
Precisamos ser profundamente impressionados com
esse modelo e até mesmo tê-lo infundido em nós.
132

Cristo é maravilhoso; Ele realmente é


todo-inclusivo. Pelo livro de Colossenses vimos que
Cristo é tanto todo-inclusivo como universalmente
extensivo. Esse Cristo todo-inclusivo é nada menos
do que Deus. Mas, embora seja igual a Deus, Ele “a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens” (v. 7). Ele
não considerou sua igualdade com Deus como algo a
que se apegar. Pelo contrário, Ele deixou de lado essa
igualdade e a Si mesmo Se esvaziou. Isso não quer
dizer, no entanto, que não fosse mais Deus. Quer
dizer tão-somente que pôs de lado Sua expressão
exterior de Deus. Embora subsistisse na forma de
Deus, assumiu a forma de servo e tornou-se em
semelhança de homens e em figura humana. Como
resultado, Ele tinha a aparência de homem em vez da
expressão de Deus. Por um lado, possuindo a forma
de Deus, Cristo esvaziou-Se a Si mesmo. Por outro,
sendo encontrado em figura humana, Ele
humilhou-Se a Si mesmo, tornando-se obediente
mesmo até a morte, e morte de cruz. Como Salvador,
Cristo tem tanto a divindade como a humanidade. Ele
Se esvaziou e Se humilhou. Assim, de acordo com os
versículos 6 a 8, podemos falar do Cristo que Se
auto-esvaziou e Se auto-humilhou.
Filipenses 2:9 diz: “Pelo que também Deus o
exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está
acima de todo nome”. Esse versículo indica que Deus
veio para exaltar Cristo. Cristo ser exaltado significa
não somente que foi elevado ao terceiro céu desde as
regiões inferiores da terra; também quer dizer que de
maneira gloriosa foi conduzido de volta com Sua
natureza humana à forma de Deus. Antes da
133

encarnação, Cristo não tinha a natureza humana. Mas


por meio da encarnação Ele vestiu a humanidade. Em
seguida, levou essa natureza humana à cruz,
derramando Seu sangue para nossa redenção. Após a
ressurreição, foi elevado aos céus e com natureza
humana foi conduzido de volta à forma de Deus em
glória. Agora Ele é nosso modelo. O modelo da vida
cristã é o Salvador homem-Deus que esvaziou-Se a Si
mesmo e humilhou-Se a Si mesmo e foi exaltado e
glorificado por Deus.

REPRODUZIR O MODELO
O próprio modelo revelado em 2:5-11 deve agora
tornar-se nossa salvação. Isso é indicado pelas
palavras “assim, pois” no início do versículo 12. Após
dar-nos clara visão de Cristo como nosso maravilhoso
modelo, Paulo diz: “Assim, pois, amados meus, (...)
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”.
Como nosso modelo, Cristo é tanto inclusivo
quanto exclusivo. O modelo é exclusivo porque exclui
tudo o que é mundano, carnal ou pecaminoso. Não há
maneira de as coisas negativas terem parte Nele ou
acesso a Ele. Mas, do lado positivo, Ele é
todo-inclusivo, pois é o Salvador homem-Deus que Se
esvaziou e Se humilhou e foi exaltado e glorificado
por Deus. Com tal modelo disponível a nós, devemos
agora desenvolver nossa salvação.
Desenvolver nossa salvação é desenvolver esse
modelo e tornar-se, na experiência, uma reimpressão
dele. Cristo como modelo pode ser comparado a uma
página matriz usada para imprimir um livro, e nossa
experiência subjetiva do modelo tornando-se nossa
salvação pode ser comparada à impressão das
134

páginas de um livro. Ao fazer um livro, cada página


matriz é reimpressa várias vezes até que haja muitas
cópias. Em nossa experiência, o Salvador
homem-Deus deve ser reimpresso e tornar-se nossa
salvação subjetiva. A própria salvação que devemos
desenvolver é Cristo como nosso modelo.

SALVAÇÃO DE MURMURAÇÕES E
ARRAZOAMENTOS
A salvação em 2:12 não é a salvação da
condenação de Deus ou do inferno, mas refere-se à
salvação que experimentamos dia após dia. Em
particular, é a salvação de murmurações e
arrazoamentos. No versículo 14 Paulo diz “Faze i tudo
sem murmurações nem contendas”. [O termo
contenda pode ser traduzido por arrazoamento.]
Precisamos de uma salvação instantânea para
livrar-nos das murmurações e arrazoamentos.
Temos enfatizado que as irmãs têm um problema
em especial com as murmurações, e os irmãos, com
os arrazoamentos. Geralmente as mulheres são dadas
a murmurar, e os maridos, a arrazoar. Pelo fato de
sermos todos atribulados por murmurações ou
arrazoamentos, precisamos do tipo de salvação que
possa resgatar-nos, não somente da condenação de
Deus e do lago de fogo, mas também das
murmurações e arrazoamentos. Isso significa que
precisamos de uma salvação subjetiva, cada
momento.
Temos visto que, como nosso modelo, Cristo
esvaziou-Se e humilhou-Se e também foi exaltado e
glorificado por Deus. Irmãs, vocês acham que
enquanto murmuram Deus irá exaltá-las? Irmãos,
135

vocês crêem que enquanto arrazoam Deus irá


glorificá-los? Certamente Deus não irá exaltar-nos ou
glorificar-nos quando estivermos a murmurar ou
arrazoar. Oh! precisamos ser salvos de murmurações
e arrazoamentos!
Tanto murmurações como arrazoamentos são
sinais de rebelião e desobediência. No versículo 12
Paulo diz que os filipenses “sempre obedeceram”.
Precisamos também obedecer: obedecer Cristo como
nosso modelo. Como Aquele que se tornou nosso
modelo, o Senhor Jesus não murmurava nem
arrazoava. Pelo contrário, esvaziava-Se e
humilhava-Se. Agora devemos obedecer esse modelo,
percebendo que Cristo não murmura nem arrazoa,
mas esvazia-Se e humilha-Se. Quando os irmãos são
tentados a arrazoar, precisam lembrar-se do modelo
do Cristo que Se auto-esvaziou e auto-humilhou.
Devem, então, obedecer esse modelo sem
arrazoamentos. Essa obediência é o desenvolvimento
de nossa salvação. Sempre que obedecemos a Cristo
como nosso modelo, automaticamente
desenvolvemos nossa salvação das murmurações e
arrazoamentos.
Os cristãos sempre perguntam aos outros se
estes foram salvos. Quando era jovem e me faziam
essa pergunta, eu respondia enfaticamente que sim.
Mas se me fizessem essa pergunta hoje, responderia:
“Que você quer dizer por ‘salvo’? Se quer dizer salvo
do juízo de Deus e do lago de fogo, por certo a
resposta é sim. Contudo, se quer dizer salvo de
arrazoamentos, eu teria de admitir que em parte
tenho sido salvo, mas não ainda totalmente”.
Anos atrás, considerava por que Paulo incluiu o
136

versículo 14 nesse capítulo. Parecia-me que o que ele


tinha escrito era tão elevado que não havia
necessidade desse versículo. Após dizer que Cristo foi
exaltado e recebeu um nome acima de todo nome,
que toda língua confessaria que Jesus Cristo é Senhor
e que devemos desenvolver nossa própria salvação
segundo o operar de Deus em nós, Paulo
repentinamente nos diz que façamos tudo sem
murmurações nem arrazoamentos. Parecia-me que
murmurações e arrazoamentos eram insignificantes
demais para ser mencionados aqui. Contudo, após
mais experiência, aprendi que decididamente
precisamos ser salvos de murmurações e
arrazoamentos de maneira prática.
Na vida da igreja e na vida conjugal há muita
murmuração e arrazoamento. As irmãs podem
comportar-se adequadamente, mas interiormente
podem murmurar contra os irmãos. Qual irmã pode
dizer que nunca murmurou de algo na vida da igreja?
Se as irmãs não reclamam por fora, certamente
murmuram por dentro. Quando os irmãos ouvem a
murmuração das irmãs, podem reagir arrazoando.
Por causa de murmurações e arrazoamentos,
precisamos da salvação prática revelada em
Filipenses 2, não a salvação que já recebemos uma
vez por todas, mas a salvação que necessitamos
desenvolver a fim de ser resgatados diariamente de
nossas fraquezas. Temos enfatizado que essa salvação
é Cristo como nosso modelo. Portanto, o modelo e a
salvação são um. O modelo é a salvação, e a salvação é
o modelo desenvolvido em nós.

DEUS OPERANDO EM NÓS


137

Filipenses 2:13 diz: “Porque Deus é o que opera


em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua
boa vontade” (IBB-Rev.). A pequena palavra porque
no início do versículo 13 conecta-o ao versículo 12.
Isso indica que podemos desenvolver nossa salvação
porque Deus opera em nós. A salvação é o modelo, e
Deus é quem opera, efetua, esse modelo em nós.
Portanto, podemos dizer que a salvação é o próprio
Deus operando em nós. A salvação, o modelo e Deus
não são três itens separados; são um só. O modelo é a
salvação, e a salvação é Deus. Temos aqui um item em
três aspectos. O modelo é Cristo, o homem-Deus que
esvaziou-Se e humilhou-Se e que foi exaltado e
glorificado por Deus. Esse Cristo, no entanto, é o
próprio Deus a fim de ser a salvação diária para que a
desenvolvamos. Além disso, essa salvação é na
verdade o Deus que opera em nós.
A questão de Deus operar em nós para ser nossa
salvação não deve ser apenas doutrina, mas algo que
experimentamos de maneira prática no dia-a-dia.
Sempre que uma irmã reclama ou murmura, ela pode
sentir que algo nela a constrange e impele a parar.
Esse sentimento interior vem de Deus operando nela.
Se, pela misericórdia de Deus, ela obedecer esse
sentimento interior, irá experimentar salvação e será
cheia de alegria.
Podemos dizer que, exteriormente,
objetivamente, Cristo é o modelo. Mas quando o
modelo trabalha em nós, torna-se o Deus operante.
Cristo não somente morreu na cruz como nosso
Salvador; agora Ele vive em nós como o Deus
operante. Cristo como homem não era capaz de viver
em nós. No entanto, como Deus é-Lhe possível
138

habitar em nós. Assim, Ele é tanto o modelo


objetivamente como o Deus operante subjetivamente.
Uma vez mais vemos que o modelo, Cristo e Deus são
um.
Em 2:13 Paulo claramente diz que Deus opera em
nós. Mas em outras partes ele geralmente fala ou de
Cristo ou do Espírito em nós. Por anos eu não
entendia porque em 2:13 Paulo falava de Deus e não
do Espírito. Agora percebo que ele fez isso
deliberadamente a fim de nos mostrar que o Cristo
que é o modelo para nossa salvação é o próprio Deus
a operar em nós. Se considerarmos o contexto desse
versículo, veremos que Cristo, como modelo, é
também o Deus operante. Objetivamente, Ele é o
modelo. Subjetivamente, quando entra e opera em
nós, Ele é o Deus operante. Na cruz, Ele era Cristo.
Mas em nós Ele é o Deus operante. Na cruz Ele, como
Cristo, estabeleceu um modelo para nós. Mas em nós
Ele, como Deus, é quem opera para desenvolver esse
modelo. Portanto, o modelo é a salvação, e a salvação
é o Deus operante.
Podemos experimentar o Deus operante
diariamente como nossa salvação prática. Sempre
que cooperamos com o Deus que opera em nós,
desfrutamos salvação. A operação de Deus torna-se
nossa salvação. Além disso, essa Salvação é a
reimpressão, a reprodução, do modelo. Quando o
modelo é reimpresso em nós, torna-se nossa salvação.
A reimpressão do modelo é realizada por Deus a
operar em nós.

EXPOR A PALAVRA DA VIDA


O versículo 16 começa com as palavras:
139

“Expondo a palavra da vida” (TB). Quando Deus


opera em nós, espontaneamente expomos a palavra
da vida. De fato, a palavra da vida é, na verdade, o
Deus que opera em nós. Deus trabalha em nós por
meio de Sua Palavra. Ele opera em nós sendo a
palavra da vida. Temos falado repetidamente do Deus
operante. Agora devemos ver que Deus está
corporificado na palavra da vida. Isso significa que a
palavra da vida é a corporificação do Deus operante.
Precisamos colocar esse entendimento em
prática achegando-nos diariamente à palavra da vida,
a Bíblia. Sempre que nos achegamos à Palavra,
devemos também achegar-nos a Deus. Isso, contudo,
não é considerar a Bíblia como o próprio Deus. Mas
não devemos separar Deus de Sua Palavra, pois Deus
está corporificado nela. Pelo fato de Deus ser
misterioso, é difícil compreendê-Lo. Como
agradecemos a Ele pois Ele Se corporificou na
Palavra, a Bíblia! A Palavra é a condensação do Deus
invisível e misterioso. Muitos de nós podem testificar,
baseados na experiência, que sempre que nos
achegamos à Bíblia e nos abrimos, tocamos Deus, e
Deus trabalha em nós. Sempre que tocamos a palavra
da vida, experimentamos Deus operando em nós,
movendo-se em nós, para produzir uma reimpressão
do modelo. Essa é nossa salvação prática.
Agora podemos ver que Cristo, a salvação, Deus e
a palavra da vida são um. Além do mais,
experimentar Cristo, a salvação, Deus e a palavra da
vida do modo que temos descrito é viver Cristo.

A SALVAÇÃO POR MEIO DO ESPÍRITO E DA


PALAVRA
140

Paulo fala de salvação tanto em 1:19 (VRC) como


em 2:12. Em 1:19 Paulo podia dizer que as
circunstâncias lhe resultariam em salvação. Isso
indica que mesmo em seu aprisionamento ele
desfrutava a salvação de Deus. A salvação em 2:12 é a
salvação prática que nos resgata diariamente das
murmurações e arrazoamentos. Contudo, a salvação
em 1:19 e 2:12 é, em princípio, a mesma. Em ambos
os casos, a salvação é prática, diária, cada momento.
De acordo com 1:19, Paulo desfrutava a salvação
por meio da provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo. Aparentemente, não encontramos essa
provisão abundante no capítulo dois. Em vez disso,
temos a palavra da vida. No entanto, a provisão
abundante do Espírito e a palavra da vida, na
verdade, estão em unidade. Paulo desfrutava a
salvação diária por meio da provisão abundante do
Espírito, e nós podemos desfrutar a salvação diária
pela palavra da vida. Ainda mais, Paulo diz que
desfrutar a salvação por meio da provisão abundante
do Espírito é engrandecer e viver Cristo. No mesmo
princípio, quando desfrutamos diariamente a
salvação por meio de Deus a operar na palavra da
vida, também vivemos Cristo. Assim, desfrutar a
salvação de Deus de modo prático é viver Cristo, isto
é, expor a palavra da vida. A fim de viver Cristo,
devemos primeiramente tomá-Lo como o modelo
vivo. Então precisamos obedecer ao Deus que opera
em nós e receber Sua palavra da vida. Assim
espontaneamente viveremos Cristo.
Salvação, Cristo, Deus e a palavra da vida são
quatro em um. Por fim, em nossa experiência, o
modelo é a palavra da vida. A palavra da vida
141

desenvolve o modelo por meio do Deus operante para


aplicar a salvação à nossa vida diária. Desse modo
desfrutamos Cristo e O vivemos.
142

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO
A PALAVRA DE DEUS É A CORPORIFICAÇÃO DO
DEUS VIVO

Leitura Bíblica: Fp 2:13, 16a; Jo 1:1-2, 14; 6:63; Hb


1:1-2; 2Tm 3:15; At 6:7; 12:24; 19:20
A Bíblia revela os atos de Deus, Seus feitos e
atividades. Primeiramente, de acordo com Seu plano,
Ele criou o universo e tudo o que nele há. Os feitos de
Deus incluem também a encarnação, crucificação,
ressurreição, ascensão, descensão como Espírito, e,
no futuro, a segunda vinda de Cristo, o reino e o novo
céu e nova terra com a Nova Jerusalém. Deus não é
de modo algum inativo. Pelo contrário, Ele tem
realizado muitíssimas coisas. Se não fosse pela
atividade de Deus na criação, o universo não teria
vindo à existência. O universo surgiu da atividade de
Deus.
A encarnação é ainda mais impressionante que a
criação. Por meio da encarnação, Deus tomou-se
homem. Como homem, Cristo realizou o trabalho da
redenção, morrendo na cruz pelos nossos pecados.
Em Sua ressurreição Ele introduziu Sua humanidade
em Deus. Como isso é maravilhoso!

O MENINO-DEUS E O ESPÍRITO QUE DÁ


VIDA
Os cristãos com freqüência dizem que o Filho de
Deus encarnou-se. Isso, logicamente, é verdade. No
entanto, João 1:14 não diz que o Filho de Deus
143

tornou-se carne; diz: “o Verbo tornou-se carne”. João


1:1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus”. O Verbo, de acordo
com o versículo 14, tornou-se carne. Isso indica que o
próprio Deus tornou-se homem. Primeiramente, o
Verbo tornou-se homem. Então, em ressurreição,
Cristo, o último Adão na carne, tornou-se Espírito
que dá vida. Em João 1:14 e 1 Coríntios 15:45 temos
dois importantes usos da palavra tornou-se: o Verbo
tornou-se carne, e o último Adão tomou-se Espírito
que dá vida (BJ). Primeiramente, Cristo tomou-se
homem a fim de realizar a redenção. Para isso, Ele
morreu na cruz e foi sepultado. Então, em
ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida. Nosso
Deus hoje é o Espírito que dá vida.
Deus passou por um processo maravilhoso. Ele
tornou-se homem, nascido de uma virgem, numa
manjedoura. Por essa razão, Isaías 9:6 declara que
um menino nos nasceu e esse menino é chamado o
Deus forte. O menino nascido de uma virgem era o
Deus forte. Isso quer dizer que o Deus forte na
verdade tomou-se um menino. Você percebe que um
dia nosso Deus tornou-se um menino? O Deus único,
o único Deus no universo, tornou-se um menino!
Podemos até mesmo falar desse menino como o
menino-Deus. É lógico, esse termo não é encontrado
na Bíblia. No entanto, o fato de Deus tornar-se um
menino é claramente revelado nas Escrituras. Falar
do menino-Deus não é heresia; é um fato divino.
Estamos considerando as duas vezes cruciais nas
quais a palavra “tornou-se” é usada. A primeira é que
o Verbo tornou-se carne, Deus tornou-se um menino
nascido em manjedoura.
144

Como já indicamos, a segunda vez crucial que a


palavra “tornou-se” é usada está em 1 Coríntios 15:45,
onde é-nos dito que o último Adão tomou-se Espírito
que dá vida. Quem era esse último Adão? Sem dúvida,
o homem Cristo Jesus, Deus encarnado. Por meio da
ressurreição Ele se tornou Espírito que dá vida.
Como cristãos todos devemos reconhecer que o
Verbo, que era Deus, tomou-se carne. O próprio
Deus, na verdade, tornou-se um menino. Devemos
também reconhecer que Cristo, após a crucificação e
em ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida.
Alguns cristãos, no entanto, opõem-se a esse
ensinamento e dizem que é herético. Perguntam
como Cristo, o segundo da Trindade, poderia ser o
Espírito, que é o terceiro da Trindade. Mas, de acordo
com 1 Coríntios 15:45, Cristo como último Adão
tornou-se Espírito que dá vida. O Espírito que dá vida
aqui não é o Espírito Santo? Negar isso é adotar a
visão herética de que há dois Espíritos que dão vida.

O DEUS PROCESSADO
Devemos afastar-nos da teologia tradicional e
voltar-nos à pura Palavra de Deus. De acordo com a
Bíblia, o Deus Triúno foi processado para tomar-se
Espírito que dá vida. Com base na revelação na
Palavra, podemos dizer que Deus hoje é o Deus
processado. Ele não é mais não-processado ou “cru”.
Dizer que Deus foi processado quer dizer que Ele se
tornou um menino nascido de uma virgem e que,
como homem, foi crucificado, sepultado, visitou o
Hades e entrou na ressurreição. Isso certamente foi
um processo. Portanto, podemos falar de nosso Deus
como o Deus processado.
145

Desde o nascimento até a ressurreição, Cristo foi


processado. Todo o período de Sua vida humana, da
encarnação até a ressurreição, foi um período de
processo. Agora, tendo entrado no estado de
ressurreição, Ele se tomou Espírito que dá vida.
Visto que Cristo é o Espírito que dá vida, é fácil
respirá-Lo. De acordo com Romanos 10, Deus não
está longe de nós. Pelo contrário, Ele está muito
perto, até mesmo em nossa boca. Tudo o que
precisamos fazer é inspirá-Lo. Isso, logicamente, é
uma boa nova.
O Evangelho é que o Deus único, o Criador, um
dia tornou-se homem e passou por um processo a fim
de tornar-se Espírito que dá vida para que O
respiremos. A letra mata, mas esse Espírito dá vida
(2Co 3:6).
Nosso Deus fez tudo o que era necessário para
tornar-se Espírito que dá vida. Agora, não somente
temos Deus e o Salvador; temos também o Espírito
que dá vida. Os judeus não sabem que Deus tornou-se
um homem chamado Jesus Cristo. Em vez disso, eles
conhecem Deus como Criador e não O reconhecem
como Aquele que se encarnou para ser o Salvador.
Até mesmo muitos cristãos hoje conhecem Deus e
Cristo somente de maneira objetiva. Não percebem
que, como o próprio Deus, Cristo hoje é o Espírito que
dá vida. Não podemos separar Deus, Cristo e o
Espírito. Os três são um. Podemos desfrutar o Deus
três-um como o Espírito porque Ele entrou em nosso
espírito e nos fez um espírito com Ele. Primeira
Coríntios 6:17 diz: “Aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele”. Como isso é maravilhoso!
A consumação dos feitos de Deus, de tudo o que
146

Ele fez, é o Espírito que dá vida. Primeiramente, Deus


criou todas as coisas. Em segundo lugar, por meio da
encarnação, Ele se fez homem. Em terceiro lugar, por
meio da morte e ressurreição, Ele foi processado para
tornar-se Espírito que dá vida. Agora Deus não é
somente o Criador, o Redentor e o Salvador. De modo
final, máximo e consumado, Ele é o Espírito que dá
vida. Esse Espírito é uma bebida todo-inclusiva para
o nosso desfrute. Louvado seja o Senhor pela
revelação na Palavra de que o mesmo que é nosso
Deus, Criador, Salvador, Redentor, Senhor e Mestre é
também o Espírito que dá vida habitando em nosso
espírito!

O FALAR DE DEUS
Além dos atos de Deus, a Bíblia revela o falar de
Deus. Deus é um Deus que fala. Hebreus 1:1-2 dizem:
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de
muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias, nos falou pelo Filho”. Como resultado
dos atos de Deus, temos o Espírito que dá vida, e
como resultado do falar de Deus, temos a Palavra.
Além disso, a Palavra é a palavra da vida.

O ESPÍRITO E A PALAVRA
Podemos usar a eletricidade como ilustração do
Espírito e da Palavra. Com a aplicação da
eletricidade, há freqüentemente a necessidade de
uma antena e de um fio terra. Por meio de uma
antena e de um fio terra a eletricidade pode ser
aplicada de diferentes modos e irá fluir. O Espírito
pode ser comparado à antena, e a Palavra, ao fio
terra. Muitos cristãos hoje concentram-se na Palavra
147

como o fio terra, mas negligenciam o Espírito como a


antena. Muitos, especialmente os que estão nos
seminários e em faculdades de teologia, estudam a
Bíblia, mas negligenciam o Espírito, a antena. No
outro extremo estão os Pentecostais que enfatizam o
Espírito, a antena, mas não prestam atenção
adequadamente à Bíblia, o fio terra. Nós, na
restauração do Senhor, devemos ser equilibrados e
ter tanto a antena como o fio terra, tanto o Espírito
como a Palavra. Se formos equilibrados com relação
ao Espírito e à Palavra, experimentaremos a
transmissão, o fluir, da eletricidade divina.
Como a eletricidade divina, Deus foi instalado
em nós para nosso desfrute. No entanto; para
desfrutá-Lo, precisamos do Espírito e da Palavra.
Louvado seja Ele por termos nas mãos a Palavra e em
nosso espírito o Espírito que dá vida! O Espírito e a
Palavra são dois grandes dons.
É importante perceber que a Palavra é a
corporificação do Deus vivo. Além do mais, a Palavra
é espírito e vida. O Senhor Jesus disse: “As palavras
que Eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo
6:63). Nunca devemos separar Deus, o Espírito e a
Palavra. Esses três são um. Deus é a Palavra, e a
Palavra é o Espírito.
Se Deus não fosse a Palavra, Ele permaneceria
um grande mistério no que diz respeito a nós. Por
exemplo, se uma pessoa não fala o que está nela, ela
será misteriosa. Mas, se falar, far-se-á conhecida, e o
que está nela será revelado. Por meio de Seu falar,
Deus Se tem revelado. Visto que é um Deus que fala,
Ele é transparente. Quanto mais uma pessoa fala,
mais transparente se torna.
148

Louvamos ao Senhor porque, por meio de Seus


atos, Ele se tornou o Espírito e, por meio do Seu falar,
tornou-se a Palavra. Dia após dia, necessitamos
achegar-nos à Palavra com espírito aberto,
exercitado. Então, não somente receberemos luz que
vem da Palavra, mas entraremos num reino, numa
esfera, de luz. Sempre que nos achegamos à Bíblia
com coração puro e espírito correto, entramos numa
esfera de luz. Então, em vez de simplesmente receber
iluminação, estaremos num ambiente de luz. Apenas
ver a luz que vem da Palavra não é adequado.
Precisamos estar na esfera da luz.

DEUS OPERA EM NÓS


Quando contatamos a Palavra de maneira
adequada ao ler e orar, experimentamos a corrente da
eletricidade divina. Isso é Deus a operar em nós tanto
o querer como o realizar para Seu bom prazer (Fp
2:13). Se não experimentamos Deus a operar em nós
quando despendemos tempo na Palavra, devemos
estar errados de alguma maneira. Provavelmente algo
está errado em nossa experiência da antena, do
Espírito, deixando-nos somente com a Palavra como
fio terra. Mas se tivermos tanto o Espírito como a
Palavra, experimentaremos uma atividade divina
interior. Algo em nós irá mover-se, e seremos
fortalecidos, confortados, nutridos, supridos e
refrescados. Isso é Deus a operar em nós.

EXPOR A PALAVRA DA VIDA


Como resultado do operar de Deus em nós,
espontaneamente temos uma vida na qual a Palavra
da vida é apresentada aos outros. Expor a palavra da
149

vida é apresenta-la aos outros, oferecê-la a eles,


aplicá-la a eles. Se Deus operar em nós e se
estivermos preenchidos da Palavra, então, onde quer
que estivermos e o que quer que digamos ou façamos,
seremos uma expressão do Deus vivo. Isso é expor a
Palavra da vida. Isso é também viver Cristo.
Creio que a maioria de nós já experimentou que,
quando estamos corretos no espírito e puros no
coração e nos achegamos à Palavra com todo o nosso
ser aberto ao Senhor, temos a sensação de que
entramos numa esfera de luz. Então, à medida que
oramos-lemos um trecho da Palavra, sentimos que
algo se move interiormente, opera em nós a fim de
nos confortar, fortalecer, satisfazer e refrescar. Às
vezes podemos querer gritar de alegria. Outras vezes
podemos cantar e louvar ao Senhor. As pessoas ao
redor podem ficar surpresas com a mudança que
ocorre em nós como resultado de contatar a Palavra
desse modo.
Precisamos ter esse tipo de contato com o Senhor
dia após dia, hora após hora e até mesmo momento
após momento. Por essa razão, é útil ter sempre uma
versão de bolso do Novo Testamento para aproveitar
as oportunidades para orar-ler a Palavra durante o
dia. Quanto mais orarmos-lermos com espírito
correto e coração puro, mais iremos desfrutar a
eletricidade celestial e experimentar o Deus vivo a
operar em nós. Então, se estivermos tristes, Ele irá
confortar-nos; se estivermos secos, irá regar-nos; se
estivermos famintos, irá satisfazer-nos e, se
estivermos desanimados, irá encorajar-nos.
Espontaneamente, o que dizemos e fazemos será um
expor, uma apresentação, da palavra da vida. Isso
150

quer dizer que no viver diário haverá uma expressão


divina. Isso é viver Cristo para que Ele seja
engrandecido em nós. Isso é realmente a vida cristã
adequada.
A vida cristã está intimamente relacionada com o
Espírito que dá vida e a palavra da vida. Como
consumação de Seu processo, Deus é agora o Espírito
que dá vida. Além disso, em Seu falar Ele é a Palavra.
Ele nos deu o Espírito e a Palavra como duas dádivas
maravilhosas. Temos agora tanto a antena como o fio
terra, tanto o Espírito como a Palavra, para contatar e
desfrutar a eletricidade celestial. O desfrute da
eletricidade divina é bem diferente da teologia e do
cristianismo tradicionais. É contatar Deus
subjetivamente como Aquele que habita em nós como
Espírito que dá vida por meio da Palavra. Quanto
mais experimentarmos a palavra da vida como
corporificação do Deus vivo, mais Deus irá tomar-se
nosso desfrute. Então, iremos preservar a palavra da
vida. Isso é viver Cristo para que Ele seja
engrandecido em nós.
151

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E CINCO
A PALAVRA DA VIDA É IDÊNTICA AO CRISTO VIVO

Leitura Bíblica: 1Jo 1:1-2; Jo 15:5, 7-8; Cl 3:16; 1Jo


2:14b; Ap 1:2-9; 19:13
Na mensagem anterior enfatizamos que a
palavra da vida é a corporificação do Deus vivo. Agora
passaremos a ver que a palavra da vida é idêntica ao
Cristo vivo. A Palavra (ou Verbo) é a corporificação
do Deus vivo e também idêntica ao Cristo vivo.
Primeira João 1:1-2 diz: “O que era desde o princípio,
o que vimos com os nossos olhos, o que temos
contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da
vida. (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e
testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que
estava com o Pai e nos foi manifestada)” (VRC). [Em
grego, o vocábulo Verbo é o mesmo para Palavra.]
Esses versículos indicam que a palavra da vida é o
Filho de Deus, Cristo. Portanto, a palavra da vida é
idêntica ao Cristo vivo.

O DEUS TRÊS-UM
O Deus Triúno é misterioso, muito além de nossa
compreensão. Dizer que Deus é triúno significa que
ele é três-um. A palavra triúno é derivada do latim tri
—, que significa três, e — uno, que significa um.
Portanto, a palavra triúno na verdade não significa
três-em-um; ela significa três-um.

Uma Linguagem Celestial


152

A linguagem está intimamente relacionada com a


cultura e expressa vários aspectos da cultura.
Contudo, na cultura humana não há nada que seja
três-um. Mas o Deus. misterioso, invisível, é triúno;
Ele é três-um. A expressão três-um não pertence a
nenhuma linguagem terrena, mas a uma linguagem
celestial, divina.
João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Nesse
versículo uma sentença diz que o Verbo estava com
Deus, enquanto outra sentença declara que o Verbo
era Deus. Dizer que o Verbo estava com Deus parece
indicar que o Verbo e Deus são dois. Mas dizer que o
Verbo era Deus indica que o Verbo e Deus são um. O
Verbo e Deus são um ou dois? Podemos dizer que eles
são dois-um, embora não haja tal expressão em nossa
linguagem pois não há tal fato em nossa cultura.
Contudo, precisamos de uma linguagem divina para
expressar a realidade divina.

Distintos, mas Não Separados


Hoje muitos cristãos fundamentalistas afirmam
que o Pai, o Filho e o Espírito são três Pessoas
separadas. Contudo, de acordo com a Bíblia,
podemos dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são
distintos, porém decididamente não estão separados.
O Senhor Jesus disse: “Eu estou no Pai, e o Pai está
em Mim” (Jo 14:10). Como, então, podem o Pai e o
Filho estar separados? Ele também disse: “Quem Me
vê a Mim, vê o Pai” (Jo 14:9). Como então, o Filho
pode ser separado do Pai? Além disso, o uso da
preposição grega que significa “de com” no Evangelho
de João (gr. pará) é bastante significativo. O Senhor
153

Jesus, o Filho, é não somente de Deus, mas também


com Deus. Ao mesmo tempo em que Ele é de Deus,
Ele ainda está com Ele (10 6:46; 8:16, 29; 16:32). Do
mesmo modo, o Espírito foi enviado não somente da
parte do Pai, mas de com o Pai (10 15:26). Isso indica
que quando o Espírito vem da parte do Pai, Ele vem
com o Pai. Portanto, embora sejam distintos, o Pai,
Filho e Espírito não podem ser separados. Os Três da
Deidade são inseparáveis. Embora Eles sejam três,
são realmente um. De fato, Eles são três-um.

Um Nome Três-Um
De acordo com a Bíblia temos o Deus único, que
é chamado Pai, Filho e Espírito Santo. Mateus 28:19
indica que QS Três da Deidade têm somente um
nome. Esse versículo fala de batizar os que crêem no
nome do Pai do Filho e do Espírito. Temos aqui um
nome três-um. Isso é um fato divino, embora nossa
linguagem não seja adequada para expressá-lo.
Muitos cristãos hoje, talvez inconscientemente,
apegam-se ao triteísmo, a crença em três Deuses. O
ensinamento tradicional da Trindade tem uma
tendência para o triteísmo. Mas nós não cremos no
triteísmo; cremos na revelação do Deus Triúno de
acordo com a Bíblia.
Com respeito à Deidade, muitos trechos da
Palavra são intrigantes. Por exemplo, Hebreus 1:2 diz
que Deus nos tem falado no Filho. Mas de acordo com
o versículo 8, o Filho é citado como Deus. Além do
mais, falando de Deus, o versículo 9 usa então a
expressão “o teu Deus”. De acordo com a gramática,
isso deve significar o Deus de Deus. Como podemos
entender isso? Certamente é misterioso. Versículos
154

como esses indicam que precisamos estar


desvencilhados da maneira natural, tradicional e
religiosa de entender a Bíblia.

O ESPÍRITO
É crucial perceber que, tendo passado por vários
passos de um processo, o Deus Triúno hoje tornou-se
o Espírito. João 7:39 diz: “Ainda não havia o Espírito,
porque Jesus não havia sido ainda glorificado”.
Embora o Espírito de Deus tenha sempre existido,
esse versículo contudo diz que ainda não havia o
Espírito. A expressão “o Espírito” aqui denota o Deus
Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, processado
para tornar-se o Espírito todo-inclusivo que dá vida.
Esse Espírito é todo-inclusivo porque inclui não
somente divindade, mas também humanidade, viver
humano, crucificação, ressurreição e ascensão. Ele
inclui tudo o que o Deus três-um é, tem, e realizou e
alcançou. Portanto, o Espírito é a totalidade de tudo o
que o Deus três-um é, tem, e realizou e alcançou.

O ESPÍRITO CORPORIFICADO NA PALAVRA


É ainda mais difícil definir a Palavra do que
definir o Espírito. No Novo Testamento, o Filho de
Deus é chamado a Palavra (o Verbo). Apocalipse
19:13 diz Dele: “Seu nome se chama o Verbo de
Deus”. No passado enfatizamos que Cristo ser o
Verbo de: Deus quer dizer que Ele é a definição, a
explicação e a expressão de Deus. Contudo, esse
entendimento não é adequado. Devemos ver também
que o Novo Testamento indica que o Verbo é o
Espírito. O Senhor Jesus disse: “As palavras que Eu
vos tenho dito são espírito e são vida” (106:63). Além
155

do mais, Efésios 6:17 até mesmo identifica a Palavra


como o Espírito. Portanto, o Pai, o Filho, o Espírito
Santo, o Espírito e o Verbo (ou Palavra) são um de
maneira bastante misteriosa.
Na mensagem anterior enfatizamos que o
Espírito é a consumação do processo pelo qual o Deus
Triúno passou. Também dissemos que a Palavra é a
consumação do falar de Deus. Mas por que o Verbo é
o Espírito, e o Espírito é o Verbo? Reconheço que essa
questão é bastante difícil de entender e explicar.
Para ajudar a entender isso, podemos usar o
riscar de palitos de fósforos como ilustração. Os
palitos de fósforo contêm o elemento fósforo.
Portanto, um palito é a corporificação do fósforo.
Como tal, de maneira muito prática, ele é idêntico ao
fósforo. Isso quer dizer que o palito é o fósforo e o
fósforo é o palito. Aplicando essa ilustração à Bíblia e
ao Espírito, podemos comparar a Bíblia ao palito de
fósforo e o Espírito ao fósforo. Além do mais, visto
que o palito contém fósforo e é a corporificação do
fósforo, ele torna o fósforo disponível a nós. O Deus
Triúno hoje é o Espírito, e o Espírito é corporificado
na Palavra. Embora seja difícil manusear o Espírito,
podemos facilmente carregar uma Bíblia. Assim como
temos o elemento fósforo num palito de fósforo,
temos o Espírito por meio da Bíblia.

EXERCITAR O ESPÍRITO PARA “RISCAR” A


PALAVRA
Contudo, embora a Palavra seja a corporificação
do Espírito, muitos cristãos não a contatam por meio
do Espírito. Usando a ilustração do palito de fósforo,
quando esses crentes “riscam” a Palavra, o “palito de
156

fósforo” não acende, embora amem muito a Bíblia. Se


desejamos acender um palito de fósforo, não basta
apenas amar o palito. Precisamos riscar o palito de
maneira adequada. No mesmo princípio, se queremos
contatar o Espírito corporificado na Palavra,
precisamos “riscar” o “palito de fósforo” da Palavra,
exercitando o espírito.
Suponha que alguém tentasse acender um palito
de fósforo analisando-o ou exercitando a emoção
para expressar seu amor por ele. Isso, de fato, seria
inútil, até mesmo tolice. Acender um palito de fósforo
não requer que o analisemos ou o amemos.
Precisamos simplesmente riscá-lo de maneira
adequada, e ele irá instantaneamente pegar fogo. Do
mesmo modo, se queremos contatar o Espírito por
meio da Palavra, não devemos somente analisar o
“palito de fósforo” da Palavra ou expressar nosso
afeto por ele. Mais uma vez digo que precisamos
“riscar” a Palavra no lugar adequado, e esse lugar é o
nosso espírito. Os seminários e faculdades de
teologia, no entanto, instruem os crentes a analisar o
“palito de fósforo” ou a amá-lo. Eles não enfatizam a
maneira de “riscá-lo”.
Se desejamos “riscar” o “palito de fósforo” da
Palavra, devemos aprender a exercitar o espírito. Não
use a mente ou a emoção para “riscar” a Palavra. A
Palavra irá acender-se em nossa experiência somente
se a riscarmos no espírito. Essa é a razão pela qual
precisamos exercitar o espírito para orar quando nos
achegamos à Palavra de Deus. Isso é orar-ler a
Palavra.

TESTEMUNHOS DE ORAR-LER A PALAVRA


157

Muitos crentes através dos séculos tinham a


prática de orar com a Palavra de Deus. Embora não
usassem o termo orar-ler, eles tinham o fato na
experiência. Uma das pessoas que praticaram orar as
palavras da Bíblia foi George Whitefield, um
contemporâneo de John Wesley. A prática de George
Whitefield era orar o Novo Testamento em grego de
joelhos. Esse era o segredo de seu poder e
espiritualidade. Ele orava-lia a palavra da vida. Orar a
Palavra é usar o espírito para “riscar” a Palavra.
Tenho lido e estudado a Bíblia por mais de
cinqüenta anos. Quando era jovem, amava a Palavra
de Deus e ambicionava conhecê-la totalmente.
Contudo, sabia somente ler a Bíblia com os olhos e a
mente. Então alguém encorajou-me a não somente
lê-la, mas também a meditar nela. Comecei a
despender tempo ponderando acerca da Palavra, para
considerá-la, para permanecer nela. Isso foi um
pouco útil. Fui também ajudado pela leitura da
autobiografia de George Mueller. De acordo com
Mueller, não devemos somente ler a Bíblia e meditar
nela, mas também orar sobre ela. Em sua
autobiografia, Mueller não diz que devemos orar a
Palavra; contudo, diz que após ler um trecho devemos
orar. Por exemplo, se lermos um versículo sobre o
amor, deveríamos então orar com relação ao amor.
Do mesmo modo, deveríamos orar com relação ao
arrependimento quando lemos sobre o
arrependimento na Palavra. Essa prática de orar logo
após ler um versículo é similar ao orar-ler. A
autobiografia de George Mueller foi muito útil, e
comecei a ler a Bíblia e orar de acordo com sua
prática. Freqüentemente eu, na verdade, orava com a
158

pura Palavra da Bíblia, fazendo de certo versículo


minha oração ao Senhor. De fato, eu estava
orando-lendo.

A IMPORTÂNCIA DO ESPÍRITO
Embora tivesse adotado a prática de orar
enquanto lia a Palavra, ainda não sabia como
exercitar o espírito. Foi do irmão Watchman Nee que
recebi ajuda nessa questão. O irmão Nee enfatizava a
necessidade de exercitar o espírito. Ele dizia que
quando falamos aos outros, especialmente ao dar
uma mensagem, precisamos externar nosso espírito
exercitando-o. Ele enfatizava que se usarmos certa
parte de nosso ser enquanto falamos aos outros,
tocaremos a mesma parte neles. Por exemplo, se
usarmos a mente, tocaremos a mente dos outros. Se
falarmos a partir da emoção, tocaremos os outros na
emoção. Para tocar o espírito dos outros, o irmão Nee
nos dizia, devemos usar o espírito.

O Espírito Adormecido
Pelo fato de o homem ser caído, seu espírito está
adormecido, enquanto a mente e a emoção da alma
estão extremamente ativas. Com os homens a mente é
ativa; com as mulheres, é a emoção que é ativa. A
parte mais ociosa e adormecida do ser do homem
caído é o espírito. Mesmo depois de salvos e
regenerados, o espírito pode permanecer ocioso e
adormecido. Quando certas irmãs oram, talvez orem
pela emoção em vez de orar pelo espírito. Quando
oram ao Senhor sobre seus problemas, elas podem
chorar. Se exercitarem o espírito em vez da emoção,
irão orar de maneira muito diferente sobre seus
159

problemas. Em vez de chorar, talvez digam: “Senhor,


eu Te agradeço e Te louvo por todos os meus
problemas. Eu Te agradeço, Senhor, pelas minhas
circunstâncias”.
Embora possamos ser muito fortes na mente,
emoção ou vontade, nosso espírito pode ser fraco,
ocioso e adormecido. Nossa mente, emoção ou
vontade podem reagir imediatamente às coisas.
Nosso espírito, contudo, pode ser muito lento para
reagir. Ele pode até mesmo estar adormecido quando
nos achegamos à Bíblia, enquanto outras partes de
nosso ser, especialmente a mente, podem estar
extremamente ativas. Ao ler a Bíblia, podemos ter
muito pouco exercício do espírito.

Experimentar o Fogo na Palavra


Se falhamos em exercitar o espírito ao ler a
Palavra, falhamos em “riscar” o “palito de fósforo” em
nosso espírito. Como resultado, o “fósforo”, o Espírito
corporificado na Palavra, não acende. Se desejamos
experimentar o “fósforo corporificado no palito”, isto
é, o Espírito corporificado na Palavra, precisamos
exercitar o espírito para orar-ler a Palavra. Então
“riscaremos o palito de fósforo” no lugar certo e
experimentaremos “o fogo” na Palavra. Podemos
testificar que recebendo a Palavra da maneira
adequada, exercitando o espírito, experimentamos o
queimar no espírito.

EXPERIMENTAR OS ATRIBUTOS DIVINOS


Na Bíblia a luz é uma com a vida, a vida é uma
com o amor, o amor está relacionado com a
santidade, e a santidade, com a justiça. Quando todas
160

essas coisas são colocadas juntas, temos poder. Estes


atributos divinos: luz, vida, amor, santidade, justiça e
poder são, na verdade, o próprio Deus Triúno vindo a
nós como Espírito por meio da Palavra. Quando
contatamos o Deus Triúno como Espírito por meio da
Palavra, nós O experimentamos como luz, vida, amor,
santidade, justiça e poder. Isso é Cristo em nossa
experiência. Experimentando-O de tal maneira
subjetiva, espontaneamente O vivemos.
A palavra da vida não é somente idêntica a
Cristo; ela é também idêntica a esses atributos
divinos. Pela experiência podemos testificar que
sempre que “riscamos” a Palavra com nosso espírito,
temos luz. A palavra da vida toma-se luz para nós na
experiência. Ainda mais, a Palavra toma-se vida,
incluindo amor, santidade, justiça, poder, vigor e
força. Isso é a palavra da vida sendo idêntica ao Cristo
vivo e também aos vários atributos do Deus Triúno.

RECEBER A PALAVRA COMO A ÁRVORE DA


VIDA
Não devemos considerar a Bíblia simplesmente
como livro de teologia que revela quem é Deus, o que
Ele é, e o que Ele quer que façamos a fim de
contatá-Lo. A Bíblia não é somente uma revelação
objetiva de Deus e suas exigências. Ela deve também
ser a árvore da vida para comermos. Para nós, a
Bíblia pode ser um livro de conhecimento ou de vida,
a árvore do conhecimento ou da vida. A árvore do
conhecimento traz morte, mas a árvore da vida traz o
suprimento da vida divina. Posso testificar que no
passado adquiri muito conhecimento abordando a
Bíblia como a árvore do conhecimento. Como
161

resultado, fui mortificado, até mesmo morto, pela


Bíblia em letras pretas no papel branco. Isso está de
acordo com a palavra de Paulo: “A letra mata” (2Co
3:6). A Escritura em letras pode matar. Isso resulta de
se tomar a Bíblia como árvore do conhecimento. Mas
se exercitarmos o espírito para nos alimentar da
Palavra, a Bíblia irá tornar-se em nossa experiência
um livro de vida, até mesmo a árvore da vida.
Seremos então supridos com vida por meio de cada
versículo. Muitos cristãos têm sido mortos pela Bíblia
em letras mortas. O que eles precisam não é mais
doutrina, mas a vida do Espírito. Eles precisam
achegar-se à Bíblia como árvore da vida.

O SENHOR E SUAS PALAVRAS


PERMANECEM EM NÓS
Posso testificar que sou vivo e tenho energia
porque recebo o suprimento vital que vem da Palavra
como árvore da vida. A Palavra é a corporificação do
próprio Senhor a quem amo. Porque O amo, eu O
contato por meio da Palavra, que é idêntica ao
próprio Senhor. Dois versículos em João 15 indicam
isso. No versículo 4 o Senhor Jesus diz: “Permanecei
em mim, e Eu permanecerei em vós”. Mas no
versículo 7 Ele diz: “Se permanecerdes em Mim, e as
Minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que
quiserdes, e vos será feito”. Note que no versículo 4 é
o Senhor que permanece em nós; já no versículo 7
Suas palavras permanecem em nós. Isso indica que as
palavras do Senhor em nós equivalem ao próprio
Senhor em nós. Se não tivermos Suas palavras em
nós, será difícil experimentá-Lo em nós. O Senhor é
abstrato, mas Sua palavra é concreta.
162

Precisamos contatar a Palavra não somente com


a mente, mas também com o espírito regenerado.
Quando exercitamos o espírito para contatar a
Palavra, ela se torna idêntica ao próprio Senhor na
experiência. Então a Palavra é viva, dá energia e é
cheia dos atributos divinos de luz, vida, amor,
santidade, justiça e poder. Recebendo a Palavra desse
modo, vivemos Cristo.

A VIDA CRISTÃ ADEQUADA


Não tenho dúvidas de que a vida de Paulo era
uma vida de viver Cristo. Ele podia dizer: “Para mim,
o viver é Cristo” (Fp 1:21). Ele também nos exortou a
deixar a palavra de Cristo habitar em nós ricamente
(Cl 3:16). Como temos enfatizado, a palavra habitar
em Colossenses 3:16 significa morar, fazer morada,
em nós. Deixar a Palavra de Cristo fazer morada em
nós é deixá-la saturar todo o nosso ser. Por fim,
quando em nossa experiência a Palavra, Cristo e o
Deus Triúno estão mesclados juntamente como um
só, vivemos Cristo. Temos uma vida cheia das
virtudes divinas da luz, vida, amor, santidade, justiça
e poder. Essa é a vida cristã adequada.
163

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E SEIS
OS FILHOS DE DEUS BIDLHAM COMO LUZEIROS
EXPONDO A PALAVRA DA VIDA

Leitura Bíblica: Fp 2:14-16

ORAR-LER A PALAVRA
Em 2:14 a 16 há muitas palavras e frases
importantes: murmurações, arrazoamentos,
irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus, inculpáveis,
geração pervertida e corrupta, brilhar como luzeiros,
expor a palavra da vida. Precisamos orar-ler essas
palavras várias vezes. Por exemplo, se orarmos com
as palavras murmurações e arrazoamentos em 2:14,
inspiraremos o sopro de Deus. Ainda mais, iremos
odiar nossas murmurações e arrazoamentos e
aspiraremos ser salvos deles. Orando-lendo a Palavra,
respondemos a ela. Então, na experiência, a Palavra
não é um livro de letras mortas; pelo contrário, é o
sopro de Deus, até mesmo Sua respiração.
Algumas vezes quando oramos-lemos a Palavra,
podemos orar um versículo inteiro de uma vez. No
entanto, freqüentemente é melhor orar-ler palavra
por palavra ou frase por frase. Ninguém pode comer
um frango inteiro de uma só vez. Pelo contrário,
comemos um pouco de cada vez. No mesmo
princípio, devemos orar-ler a Palavra um pouco de
cada vez, talvez até mesmo palavra por palavra. Se
orarmos com as palavras murmurações e
arrazoamentos em 2:14, receberemos uma injeção
164

divina, uma inoculação celestial, que nos salvará das


murmurações e arrazoamentos.
Em nosso corpo, às vezes desenvolvemos um
problema na pele, talvez infecção ou fungo. Em
alguns casos, nem a limpeza nem a aplicação de
medicamentos sobre a pele irá trazer a cura. No
entanto, um médico pode prescrever uma medicação
para ser ingerida, que resolverá todo o problema. A
Bíblia é um remédio divino, o mais eficaz antídoto
para todas as coisas negativas. A maneira de aplicar a
Palavra como antídoto não é apenas pensar nela,
considerá-la ou analisá-la. Recebemos o antídoto da
Palavra exercitando o espírito para orar-lê-la.
Jeremias 15:16 diz: “Achadas as tuas palavras,
logo as comi”. Assim como o profeta Jeremias,
devemos também comer a Palavra de Deus. Alguns
cristãos, no entanto, se opõem a esse conceito,
afirmando que a Bíblia é boa somente para leitura e
estudo. Porém a Bíblia não é somente para ler e
estudar, mas também para comer. O Senhor Jesus
disse: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4). Isso
indica que cada palavra da Bíblia, até mesmo termos
como murmurações e arrazoamentos, podem
suprir-nos com vida. Portanto, podemos orar-ler um
versículo como 2:14 palavra por palavra. Desse modo,
viveremos por meio de cada palavra que procede da
boca de Deus.

CANTAR A PALAVRA
Podemos não perceber quanto somos
influenciados pelo cristianismo tradicional, até
mesmo na maneira de ler a Bíblia. Colossenses 3:16
165

diz: “Habite ricamente em vós a Palavra de Cristo, em


toda sabedoria ensinando e admoestando uns aos
outros em salmos, hinos, e cânticos espirituais,
cantando com graça em vossos corações a Deus” (TB).
Aqui Paulo não fala de ler, analisar, ou meditar sobre
a Palavra. Em vez disso, ele nos encoraja a cantar a
Palavra. Devemos receber a palavra de Cristo não
somente lendo, mas também cantando, salmodiando
e louvando. Quer cantemos bem ou não, o Senhor se
agrada de ouvir-nos cantar a Palavra. Ele fica feliz
quando cantamos do nosso espírito e coração. Se não
conhecemos uma melodia para usar ao cantar certo
versículo, podemos criar nós mesmos uma melodia. O
importante é que aprendamos a cantar a Palavra de
Deus. Creio que um dia numa reunião possamos
despender a maior parte do tempo a cantar um livro
como Efésios.
Temos enfatizado que o Senhor disse que o
homem não vive somente de pão, mas de toda palavra
que procede da boca de Deus. A Palavra, no entanto,
não é somente alimento para nós e suprimento de
vida; é também um antibiótico espiritual. Devemos
não somente ser alimentados por ela, mas também
inoculados com ela contra várias tribulações,
problemas, fraquezas e “doenças”. Murmurações e
arrazoamentos são doenças espirituais contra as
quais precisamos ser inoculados com a Palavra. Dia
após dia precisamos orar-ler e cantar a Palavra a fim
de receber mais inoculações. Se orarmos-lermos 2:14,
seremos inoculados contra murmurações e
arrazoamentos.
Precisamos tomar a Bíblia como um livro de
vida. Toda a Bíblia é a palavra da vida. Como tal, ela é
166

alimento para nós. Não seria tolice somente estudar o


alimento e não comê-lo? Se estudássemos o alimento
e nos recusássemos a comê-lo, por fim morreríamos.
Do mesmo modo, se não comermos a Palavra,
morreremos espiritualmente. É crucial que a
comamos orando-lendo e cantando-a.
Ao orar-ler 2:14-16, não devemos simplesmente
orar-ler esses versículos como um todo, mas
concentrar-nos nas frases e palavras importantes.
Precisamos orar-ler as palavras murmurações,
arrazoamentos, irrepreensíveis, inculpáveis,
sinceros, filhos de Deus, corrupta, pervertida,
geração, brilhar, luzeiros, mundo, expor, palavra e
vida. Podemos não gostar de modo algum de
murmurações, arrazoamentos e da geração
pervertida e corrupta. Contudo, as palavras
murmurações, arrazoamentos e geração pervertida
e corrupta nesses versículos podem suprir-nos com
vida se as orarmos-lermos e cantarmos. Devemos
odiar as murmurações, mas devemos apreciar
orar-ler a palavra murmurações. Ainda mais,
devemos não somente comer essas palavras, mas
também digeri-las e assimilá-las para que se tomem
parte de nossa constituição.

AS RIQUEZAS INESGOTÁVEIS NA PALAVRA


Os que têm ouvido minhas mensagens por
muitos anos algumas vezes consideram por que eu
sempre tenho algo novo e cheio de frescor para
ministrar aos santos. Quanto mais oro-leio 2:14-16,
mais percebo que podemos dar mensagens e mais
mensagens sobre esses versículos. Podemos dar uma
mensagem sobre murmurações e outra sobre
167

arrazoamentos. Então precisaremos de mensagens


sobre ser irrepreensíveis e sinceros. Ser irrepreensível
é ser sem defeito na conduta exterior e ser sincero é
ser puro no caráter interior. Externamente, na
conduta, precisamos ser sem defeito; interiormente,
no caráter, precisamos ser puros. Logicamente tais
questões podem ser o assunto de mensagens inteiras.
Contudo, os cristãos podem ler esses versículos e
fazer suposições impensadas. Podem não indagar o
que Paulo quer dizer aqui por irrepreensíveis e
sinceros.
Imagine quantas mensagens precisamos sobre a
expressão filhos de Deus! Como filhos de Deus, temos
a natureza e a vida divina. Essas questões são
profundas e requerem muitas mensagens para ser
abordadas adequadamente.
Poderíamos também dar mensagens sobre ser
inculpáveis e sobre a geração corrupta e pervertida.
Qual é a diferença entre corrupta e pervertida? Qual é
a geração no versículo 15 e que Paulo quer dizer com
mundo? Se fizermos perguntas como essas e se
orarmos-lermos esses versículos, seremos
impressionados com o fato de que as riquezas na
Palavra são inesgotáveis. Dia após dia precisamos
receber essas riquezas orando-lendo a Palavra e
cantando-a.

CHEIOS DA PALAVRA PARA MANIFESTAR


CRISTO
Se formos enchidos das riquezas da Palavra viva
dia após dia, espontaneamente exporemos a palavra
da vida (TB). Iremos apresentá-la aos outros e
oferecê-la a eles. Isso é engrandecer e viver Cristo. O
168

próprio Cristo é a Palavra viva, a palavra da vida. Por


essa razão, quando estamos cheios da palavra da vida,
manifestamos Cristo e O engrandecemos. Essa é a
maneira de viver Cristo.

FILHOS DE DEUS
O que eu disse até aqui é a introdução desta
mensagem, intitulada “Os Filhos de Deus Brilham
como Luzeiros Expondo a Palavra da Vida”. A
expressão “filhos de Deus” implica a vida e a natureza
de Deus. Como filhos de Deus, temos Sua vida e a
natureza. Assim como um filho tem a vida e a
natureza do pai porque nasceu dele, e não porque foi
adotado por ele, do mesmo modo nós temos a vida e a
natureza de Deus Pai porque nascemos Dele, e não
porque fomos meramente adotados por Ele. Louvado
seja o Senhor porque somos filhos do Deus Triúno
com a vida e a natureza divina!
Você não teria um sentimento especial de
orgulho se fosse o filho do presidente da República?
Não se sentiria honrado e não gostaria de gloriar-se
desse fato? Nós, contudo, temos uma filiação muito
mais elevada. Somos filhos de Deus e temos a vida e a
natureza divina! Antes éramos pecadores, mas agora
somos filhos de Deus. Quão glorioso é que sejamos
filhos divinos de Deus!
Visto que temos a vida divina e a natureza divina,
podemos, de fato, dizer que somos divinos. Contudo,
isso certamente não quer dizer que evoluímos até a
Deidade ou nos tornaremos Deus como objeto de
adoração. Além do mais, isso não é ensinar o
panteísmo ou a deificação do homem. Contudo,
podemos ser audaciosos em declarar que, como filhos
169

de Deus com a vida e a natureza divina, somos


divinos. Aleluia, somos filhos de Deus com a vida
divina e a natureza divina!
Não devemos somente orar-ler as palavras
“filhos de Deus”; devemos também cantá-las, usando
uma melodia familiar ou criando nossa própria
melodia. Se cantarmos a Palavra dessa maneira,
receberemos uma infusão, seremos inspirados e
interiormente fortificados. Receberemos também
uma inoculação divina.

A FUNÇÃO DE BRILHAR
Em 2:15 Paulo passa a dizer que, como filhos de
Deus, nós resplandecemos “como luzeiros no
mundo”. A palavra grega traduzida por luzeiros
significa astros que refletem a luz do sol. A questão de
brilhar como luzeiros indica nossa habilidade de
funcionar. Louvado seja o Senhor pois somos capazes
de brilhar! Não somente somos filhos de Deus, mas
também luzeiros com a função celestial de refletir
Cristo como sol real.
Todo tipo de vida tem sua função específica. A
função da macieira é produzir maçãs e nossa função
como luzeiros que têm a vida e a natureza divina é
brilhar. Como filhos de Deus com a vida divina temos
a função de brilhar. No viver diário não devemos
meramente conduzir-nos de acordo com certo
padrão; devemos brilhar.
Como luzeiros, em nós mesmos não possuímos
nenhuma luz. Nosso brilho é simplesmente o reflexo
da luz que recebemos de outra fonte. Cristo é a luz, o
sol real, e nós O refletimos expondo a palavra da vida.
Assim, o nosso brilho é, na verdade, o reflexo de
170

Cristo como fonte de nossa luz.


Brilhamos expondo a palavra da vida. De acordo
com Colossenses 3:16, a Palavra de Cristo deve
habitar em nós, fazer morada em nós, ricamente.
Então teremos a palavra da vida com a qual
brilharemos. A fim de expor a palavra da vida,
devemos primeiramente ter a vida divina em nós.
Uma vez supridos com essa vida e energizados por
ela, podemos brilhar como luzeiros expondo a palavra
da vida. Quanto mais somos nutridos
alimentando-nos da palavra da vida, digerindo-a e
assimilando-a, maior será o acúmulo da palavra em
nós. Então espontaneamente brilharemos com a
própria palavra da vida que temos recebido. Esse
brilhar será então nosso expor, nosso apresentar, a
maravilhosa palavra da vida a outros. Os que têm
contato conosco por certo tempo irão assim receber
ajuda de nós. Se diariamente digerirmos Cristo como
a palavra da vida, acumulando as riquezas da Palavra
de maneira subjetiva, orgânica, teremos algo vivo e
orgânico para compartilhar com outros. Essa é a
adequada pregação do evangelho e proclamação da
verdade. Como temos enfatizado, essa é a maneira de
engrandecer Cristo e vivê-Lo.
Que todos oremos-leiamos a Palavra e a
cantemos exercitando o espírito. Que sejamos libertos
de todo o tipo de escravidão ao lidar com a Palavra e o
Espírito. Se exercitarmos o espírito para orar-ler,
cantar e salmodiar 2:14-16, louvaremos ao Senhor
por ser filhos de Deus e luzeiros a brilhar expondo a
palavra da vida. Se praticarmos orar-ler esses
versículos palavra por palavra e também
exercitarmos o cantar a Palavra de Deus, seremos
171

permeados e saturados do rico suprimento da Palavra


viva. Então nosso ser interior estará cheio das
riquezas de Cristo. Espontânea, inconsciente e até
mesmo involuntariamente, viveremos uma vida que
expressa Cristo e expõe a palavra da vida. O que o
Senhor necessita em Sua restauração hoje não é um
grupo de pessoas que sejam religiosas, mas que vivam
Cristo e brilham como luzeiros expondo a palavra da
vida.
172

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E SETE
A SALVAÇÃO CONSTANTE NA VIDA PRÁTICA

Leitura Bíblica: Fp 1:19-21; 2:12-16


De acordo com o livro de Filipenses, há uma
salvação que é constante na vida prática. Dizer que
essa salvação é constante significa experimentá-la
cada dia, cada hora e cada momento.

UMA SALVAÇÃO SUBJETIVA PARA


ENGRANDECER CRISTO
Em Filipenses 1 e 2 Paulo usa a palavra salvação
duas vezes. Em 1:19 ele diz: “Porque estou certo de
que isto mesmo (...) me redundará em libertação”. [O
termo libertação, nesse versículo, também pode ser
traduzido por salvação — cf. VRC.] Em 2:12 ele diz
aos santos em Filipos: “Desenvolvei a vossa salvação
com temor e tremor”. A salvação em 1:19 denota a
salvação que ele experimentou na prisão em Roma.
Sendo um típico judeu, ele era mantido prisioneiro
em Roma, longe da terra natal. Usando termos de
hoje, ele era mantido cativo pelos imperialistas
romanos. Certamente era vergonhoso, desonroso
para um judeu ser mantido em prisão romana. Na
maior parte do tempo, ele provavelmente estava
acorrentado a um guarda. Certamente deve ter sido
um insulto para um judeu culto, de classe superior,
estar acorrentado a um guarda em prisão romana.
Era também desonroso para tal apóstolo do Senhor
Jesus estar aprisionado de tal modo. Contudo, Paulo
173

testificava que sua situação resultaria para ele em


salvação.
Em 1:19 Paulo não se refere à salvação eterna, à
salvação do inferno e do juízo de Deus, que é a
salvação objetiva. O que ele tem em mente aqui é uma
salvação muito subjetiva, experimentável, uma
salvação experimentada não uma vez por todas, mas
momento após momento.
Quando disse que esperava que sua situação
resultaria em salvação, Paulo não tinha em mente a
libertação da prisão. Alguns leitores de Filipenses
podem pensar que a expectativa dele era de que, por
meio das orações dos santos, especialmente os de
Filipos, ele seria libertado da prisão. No entanto, de
acordo com a construção gramatical de 1:19-21, esse
não pode ser o significado de salvação aqui. A
salvação no versículo 19 está relacionada com o que
ele diz no versículo 20 sobre não ser envergonhado
em nada e Cristo ser engrandecido em seu corpo,
quer pela vida quer pela morte. Portanto, no versículo
20 temos a definição da salvação mencionada no 19,
que consiste em não ser envergonhado em nada, mas
engrandecer Cristo em todas as coisas.
Salvação aqui certamente não quer dizer
libertação da prisão. Em vez disso, significa que, não
importa quão difícil e degradante fosse a situação de
Paulo, ele não seria envergonhado em nada. Pelo
contrário, Cristo seria engrandecido em seu corpo.
Nem mesmo ser acorrentado a um guarda iria
impedi-lo de engrandecer Cristo. Isso é o que
queremos dizer por salvação constante.
Na verdade, a palavra constante não é adequada
para descrever a salvação em 1:19. Todas as nossas
174

palavras estão relacionadas com nossa cultura. Se


certa questão não existe em nossa cultura, não temos
palavras para expressá-la. A salvação aqui é
totalmente maravilhosa, e nenhuma palavra é
suficiente para descrevê-la plenamente. Nem mesmo
na prisão Paulo seria envergonhado. Antes, ele sabia
que engrandeceria Cristo. Essa era a salvação de
Paulo.
Suponha que em vez de regozijar-se no Senhor,
Paulo lamentasse sua situação e reclamasse dizendo:
“Sou judeu culto e também apóstolo do Senhor Jesus
Cristo, chamado, comissionado e enviado por Ele.
Agora estou na prisão acorrentado a um guarda. Que
terrível!” Se tivesse lamentado e reclamado, ele teria
sido envergonhado. Contudo, ele não lamentava nem
reclamava. Pelo contrário, regozijava-se no Senhor.
Quem quer que o visitasse na prisão poderia ficar
surpreso e maravilhado. Talvez Paulo até mesmo
testificasse ao carcereiro que estava feliz no Senhor e
regozijava-se Nele. Possivelmente o desfrute de Cristo
que Paulo tinha na prisão tivesse sido um fator para
conduzir Onésimo, um escravo fugitivo, à salvação.
Quem o observasse na prisão teria visto um homem
louvando o Senhor e regozijando-se.
Quando Paulo foi preso em Filipos, ele e Silas
cantaram louvores ao Senhor (At 16:23-26).
Certamente, os crentes filipenses sabiam dessa sua
experiência. Sabiam que os louvores de Paulo e Silas
resultaram em grande terremoto. Sem dúvida,
enquanto estava na prisão em Roma, ele também se
exercitava para cantar louvores ao Senhor. Longe de
ser achado reclamando ou lamentando, ele poderia
ser encontrado regozijando-se no Senhor, cantando
175

louvores a Ele e testificando a respeito Dele. Essa é a


salvação constante.

DESFRUTAR CONSTANTE SALVAÇÃO PARA


VIVER CRISTO
Muitos de nós temos sido cristãos por anos, mas
nunca ouvimos falar nada sobre salvação constante.
Conhecíamos, é claro, a salvação eterna, que é a
salvação objetiva. Quero deixar bem claro que,
certamente, não menosprezo a salvação eterna de
modo algum. Eu a valorizo e aprecio profundamente.
Em Sua salvação eterna Deus nos resgatou do inferno
e de Seu juízo justo. Mas dia após dia precisamos
experimentar também uma salvação constante na
vida prática. Quando estava na prisão, o que Paulo
desfrutava não era simplesmente a salvação eterna de
Deus com a esperança que ela lhe proporcionava; ele
também desfrutava uma salvação constante cada
momento. Desfrutar tal salvação é viver Cristo. Na
verdade viver Cristo é desfrutar a constante salvação
na vida diária.
Cada aspecto da salvação de Deus nos livra de
algo do lado negativo e nos introduz em algo do lado
positivo. Negativamente, Paulo era salvo de ser
envergonhado; positivamente, Cristo foi
engrandecido nele. Que salvação maravilhosa!

SALVOS DE COISAS COMUNS


Em 2:12 Paulo diz aos santos em Filipos:
“Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. A
salvação constante em 1:19 é para determinada
pessoa numa situação específica, enquanto a salvação
constante em 2:12 é para todos os crentes em
176

situações comuns. Vimos que a salvação em 1:19


salvava Paulo na situação específica de seu
aprisionamento, de tal modo que ele não seria
envergonhado; antes, engrandeceria a Cristo. Agora
precisamos ver que, de acordo com o contexto de
2:12, a salvação constante é também para que os
crentes sejam salvos de coisas comuns no viver diário.
Nos versículos 14 e 15 vemos que essas coisas
incluem murmurações, arrazoamentos, culpa,
falsidade, manchas, corrupção, perversidade e trevas.
Essas são características gerais da condição do
homem caído onde quer que esteja. Não importa
onde estejamos, haverá murmuração, arrazoamento,
culpa, falsidade, manchas, corrupção, perversidade e
trevas. Tais coisas podem ser encontradas não
somente na sociedade em geral, mas até mesmo na
vida familiar dos crentes. É comum as esposas
murmurarem e os maridos arrazoarem. A mulher
pode reclamar de algo e o marido pode defender-se.
Então, nem a mulher nem o marido são inculpáveis, e
ambos podem também ter falsidade e manchas. Às
vezes, marido e mulher são também corruptos e
perversos quando lidam um com o outro. Quem pode
dizer que nunca foi corrupto no relacionamento com
outros? As crianças podem até mesmo ser corruptas
em relação aos próprios pais. Embora tenhamos
recebido a salvação eterna de Deus, até certo ponto
podemos ainda ser corruptos, não totalmente
honestos e francos em certas questões. Assim,
precisamos de uma salvação constante com relação a
todas as coisas negativas nos versículos 14 e 15.
Paulo nos diz que precisamos desenvolver nossa
salvação. Desenvolvendo-a, seremos salvos de
177

murmurações, arrazoamentos, culpa, falsidade,


manchas, corrupção, perversidade e trevas. É claro,
não é fácil ser salvo de tais coisas. Ele
deliberadamente usou essas palavras para indicar a
condição caída comum a todos.

EXPOR A PALAVRA DA VIDA


No entanto, assim como a salvação em 1:19 tem
tanto um lado negativo como um lado positivo, a
salvação em 2:12 também os tem. O lado negativo
está nos versículos 14 e 15; o lado positivo, no
versículo 16, onde Paulo fala de “expor a palavra da
vida” (TB). A palavra grega traduzida por expor
significa aplicar, apresentar, oferecer. Expor a
palavra da vida é apresentá-la a outros e oferecê-la a
eles, aplicando-a li eles em suas situações. Onde quer
que estejamos, precisamos expor a palavra da vida;
precisamos apresentá-la (I outros. O que oferecemos
às pessoas ao redor não devem ser palavras de
murmuração ou arrazoamento, nem algo relacionado
com corrupção ou perversidade. Não devemos
oferecer nada além da palavra da vida.
Preservar a palavra da vida é idêntico a viver
Cristo. Sempre que vivemos Cristo, expomos a
palavra da vida. Mais uma vez vemos que o livro de
Filipenses aborda a experiência de Cristo e também o
viver Cristo. O que Paulo escreveu nessa epístola está
relacionado com a experiência de Cristo e com viver
Cristo.
Espero que todos sejamos profundamente
impressionados com a necessidade de desfrutar a
salvação constante na vida prática dia após dia.
Necessitamos de uma salvação que podemos chamar
178

de nossa salvação. Ela não nos salva do inferno, nem


apenas do pecado, mas das murmurações,
arrazoamentos, culpa, falsidade, manchas, corrupção,
perversidade e trevas. Quando a experimentamos,
espontaneamente expomos, apresentamos, aplicamos
a palavra da vida às pessoas ao redor. Isso é vi ver
Cristo.

SITUAÇÕES ESPECÍFICAS E SITUAÇÕES


COMUNS
Em Filipenses 1 e 2 vemos uma salvação
constante que é, por um lado, para alguém em
particular numa situação específica, e, por outro, para
todos os crentes nas situações comuns da vida diária.
Sob a soberania de Deus, podemos tomar-nos alguém
numa situação específica. Paulo tomou-se tal pessoa
quando foi aprisionado em Roma. O aprisionamento
fez dele alguém numa situação particularmente
difícil. Mas estar nessa situação proporcionou-lhe
excelente oportunidade de experimentar e desfrutar a
salvação constante. Podemos também encontrar-nos
em situações específicas. Por exemplo, um irmão
pode repentinamente perder o emprego. Ele necessita
da Salvação de 1:19.
Na maior parte do tempo, nossa situação é
comum, corriqueira. Como temos enfatizado, a
situação diária do homem caído inclui murmurações,
arrazoamentos e muitas outras coisas negativas. Na
vida conjugal necessitamos de uma salvação
constante a fim de ser resgatados das murmurações e
arrazoamentos. Também necessitamos de uma
salvação constante a fim de ser resgatados da
corrupção e perversidade. Por exemplo, um irmão
179

pode não ser honesto ou franco ao lidar com a esposa.


Assim, ele necessita de uma salvação presente,
constante. Se não experimentar tal salvação, não
haverá maneira de expor a palavra da vida.
Dia após dia necessitamos de uma salvação
constante para salvar-nos de tudo o que não seja
Cristo. Essa salvação nos conduz a uma condição em
que espontaneamente vivemos Cristo. Então em
nosso viver apresentaremos a palavra da vida aos
outros. Essa palavra da vida por nós exposta também
é Cristo. Por essa razão, expor a palavra da vida é
viver Cristo.
Quanto necessitamos da salvação constante do
Senhor em nossa vida conjugal! Suponha que um
irmão esteja trabalhando em casa, e a mulher o
chame para jantar. Contudo, pelo fato de estar
ocupado com o que faz, ele não responde. Após
chamá-lo várias vezes ela pode começar a murmurar,
a reclamar. O marido pode reagir arrazoando para se
justificar. Então suas atitudes um com o outro nessa
situação tomam-se corruptas e perversas. Ambos
necessitam de urna salvação constante.
Agradeço ao Senhor, pois Ele tem ganho em Sua
restauração muitos santos que O amam e O buscam.
Embora O busquemos, devemos admitir que, pelo
menos até certo ponto, ainda somos corruptos ao
lidar com outros, especialmente com os de casa. Pais
e filhos podem não ser francos no relacionamento
mútuo. Isso expõe nossa necessidade de uma
salvação diária para resgatar-nos da condição caída.
Paulo conhecia a situação do homem caído. Em
Filipenses 1 ele apresenta seu próprio caso como
ilustração da salvação constante de Deus. Então no
180

capítulo dois mostra que essa salvação é para todos os


crentes nas situações comuns da vida diária. Embora
a Salvação em 1:19 nem sempre possa ser aplicada a
você especificamente em suas circunstâncias, você
não pode negar sua necessidade da salvação em 2:12.
Você pode não ser alguém em especial com um caso
específico, mas certamente é uma pessoa comum
numa situação corriqueira. Na vida cotidiana comum
todos somos incomodados pelas murmurações,
arrazoamentos, corrupção e até mesmo perversidade.
Assim, precisamos de uma salvação constante dia
após dia.

O QUE SIGNIFICA VIVER CRISTO


Precisamos dessa salvação não somente para nos
tirar de coisas negativas, mas também para nos
introduzir numa condição gloriosa de apresentar a
palavra da vida às pessoas ao redor. A salvação em
1:19 nos introduz num estado em que Cristo é
engrandecido em nós, e a salvação em 2:12 nos
introduz numa condição em que apresentamos o
Cristo vivo como a palavra da vida aos outros. Ter
essa salvação, que necessitamos cada dia e cada hora,
é viver Cristo de maneira prática.
Você sabe o que significa viver Cristo? Significa
que não importa quais sejam nossas circunstâncias,
Cristo é engrandecido em nós e não somos
envergonhados em nada. Portanto, a salvação em 1:19
equivale a viver Cristo. Desfrutar e experimentar essa
salvação é viver Cristo. Além do mais, viver Cristo
também significa que na vida diária somos salvos de
murmurações, arrazoamentos, corrupção e
perversidade, e que apresentamos nosso Senhor vivo
181

como palavra da vida às pessoas que encontramos


todos os dias. Que tremenda salvação! Todos
necessitamos dessa salvação diária, constante, uma
salvação que não é outra senão o próprio Cristo.
182

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E OITO
SALVAÇÃO CONSTANTE POR MEIO DA PROVISÃO
ABUNDANTE DO ESPÍRITO DE JESUS CRISTO E DA
OPERAÇÃO INTERIOR DO DEUS QUE HABITA EM
NÓS

Leitura Bíblica: Fp 1:19-21; 2:12-16


Embora Filipenses seja um livro curto, ele é rico
e profundo. Nenhum outro livro no Novo Testamento
revela a salvação de maneira tão prática e
experimental. Sabemos pelo primeiro capítulo de
Mateus que Cristo tornou-se um homem chamado
Jesus e Emanuel. Jesus significa Jeová, o Salvador e
Emanuel significa Deus conosco. Após ser salvo, eu
valorizava esses nomes. Contudo, não conhecia seu
significado na experiência, até que o Senhor
introduziu-me na realidade do livro de Filipenses.
Nesse livro temos os detalhes da salvação prática,
experimental, subjetiva e constante de Deus.
Filipenses apresenta a salvação de Deus de maneira
mais prática e experimental do que a que é
apresentada em Romanos. Romanos fala da salvação
de maneira mais doutrinária, porém Filipenses fala
disso de maneira mais experimental.

A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
CONSTANTE NA VIDA FAMILIAR E NA VIDA
DA IGREJA
A salvação de Deus em Cristo é não somente
eterna, mas também constante e prática. Em certo
183

sentido, a salvação eterna está bem distante.


Precisamos de uma salvação que se aplique a nossas
situações diárias, especialmente à vida conjugal e
familiar. A vida conjugal pode ser comparada a uma
prisão. O cônjuge é o carcereiro e os filhos são
guardas. Para tal situação, precisamos de uma
salvação prática, constante e experimental. O livro de
Filipenses revela uma salvação que podemos
experimentar dia após dia, que podemos desfrutar na
“prisão” da vida conjugal.
Precisamos experimentar uma salvação presente
não somente na vida familiar, mas também na vida da
igreja. Na igreja há santos de várias nacionalidades e
com todos os tipos de disposição e personalidade. A
fim de permanecer juntos na vida da igreja,
precisamos de uma salvação presente e prática. Isso é
especialmente necessário se quisermos experimentar
a igreja não somente localmente, mas também como
novo homem universalmente. Portanto, precisamos
da salvação para a vida familiar, a vida da igreja local
e a vida no novo homem.
Suponha que você planeje visitar as igrejas em
diversas partes do mundo. À medida que entrar em
contato com santos de várias culturas, nacionalidades
e disposições, perceberá quanto precisamos
experimentar a salvação de Deus na vida da igreja. Se
desejamos praticar a vida da igreja com tantos irmãos
e irmãs diferentes reunindo-se juntamente como um,
precisamos da salvação constante revelada no livro de
Filipenses.
Em 1:19 Paulo diz: “Porque sei que disto me
resultará salvação” (VRC). Como prisioneiro em
Roma, ele precisava de salvação prática. Suponha que
184

alguém lhe falasse da salvação eterna. Ele poderia


dizer: “Irmão, não fale de algo tão distante da minha
situação atual. Estou em cadeias. Preciso de uma
salvação aplicável a esta situação”.

SALVOS DA CORRUPÇÃO
Em 2:12-15 Paulo fala de desenvolver a nossa
salvação em relação às murmurações, arrazoamentos,
culpa, falsidade, manchas, corrupção e perversão.
Isso indica que precisamos ser salvos de todas essas
coisas negativas. Se ainda somos corruptos de alguma
maneira, então, quer sejamos cristãos ou não, somos
parte da geração corrupta de hoje. Ser salvo da
geração corrupta é ser salvo da corrupção. Todos
precisamos de uma salvação para hoje, a salvação
revelada em Filipenses.

OS MEIOS DE NOSSA SALVAÇÃO DIÁRIA


Nesta mensagem veremos que podemos ter uma
salvação constante e diária por meio da provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo e da operação
interior do Deus que habita em nós. Salvação requer
poder. Isso significa que certo poder é necessário para
nos fornecer uma salvação constante. Os meios de
Deus realizar essa salvação são indizivelmente
grandiosos. De acordo com Filipenses, os meios são
dois: a provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo e a operação interior do Deus que habita em
nós. Cada dia e até mesmo cada hora podemos ser
salvos por esses dois meios.
Por favor, note que os meios da salvação diária
não são a provisão abundante do Espírito de Deus e a
operação do Deus visitante. São a provisão
185

abundante do Espírito de Jesus Cristo e a operação


interior do Deus que habita em nós. O Deus que nos
salva não é alguém que nos visita apenas; é Aquele
que habita em nós. Por um lado, Paulo podia dizer
que suas circunstâncias resultariam para ele em
salvação por meio da provisão abundante do Espírito
de Jesus Cristo. Por outro, ele exortava os santos a
desenvolver sua salvação de acordo com a operação
interior de Deus. Assim, a provisão abundante do
Espírito e a operação interior do Deus que habita em
nós são os dois meios pelos quais somos salvos de
maneira prática dia após dia.

UNIÃO ORGÂNICA COM O DEUS TRIÚNO


Quando cremos em Cristo, uma união orgânica
aconteceu entre nós e o Deus Triúno. Fomos, na
verdade, unidos ao Deus Triúno. Crendo em Cristo
nascemos de Deus, e Deus nasceu em nós. Esse
nascimento divino toma possível a união orgânica.
Nascemos de Deus quando o Deus Triúno como
Espírito todo-inclusivo, o Espírito de Jesus Cristo,
entrou em nosso espírito. Isso aconteceu quando
cremos no Senhor Jesus, muito embora
provavelmente não o tenhamos percebido nem ficado
cientes disso. Tendo entrado em nosso espírito, o
Espírito todo-inclusivo permanece lá com a Sua
provisão abundante.

O CONTEÚDO DA PROVISÃO ABUNDANTE

Divindade
Precisamos ver o que a provisão abundante do
Espírito inclui. Primeiramente, a provisão abundante
186

inclui a Pessoa divina com a vida e a natureza divinas.


Assim, a provisão abundante inclui a divindade, e a
divindade inclui a vida, a natureza, o ser e a Pessoa
divina. Em outras palavras, é o próprio Deus. Na
provisão abundante temos Deus com Sua vida,
natureza, ser e Pessoa.

Humanidade
A provisão abundante também inclui uma
humanidade elevada, uma humanidade com uma
vida, viver, natureza e Pessoa adequadas. O Senhor
Jesus é tanto Deus como homem. Nele há tanto a
divindade como a humanidade. Assim, quando estava
na terra, Ele vivia como Deus e também como
homem. Tudo que o Senhor passou em trinta e três
anos e meio de vida na terra está agora no Espírito
todo-inclusivo. Portanto, divindade e humanidade,
incluindo o viver humano do Senhor Jesus, estão na
provisão abundante do Espírito todo-inclusivo.

Crucificação, Ressurreição e Ascensão


Na cruz o Senhor Jesus teve uma morte
maravilhosa. A morte todo-inclusiva de Cristo lidou
com todas as coisas negativas no universo. Por Sua
morte todas as coisas pecaminosas foram terminadas.
Essa morte maravilhosa está também incluída na
provisão abundante do Espírito. A ressurreição e a
ascensão de Cristo também estão incluídas. Agora, na
provisão abundante do Espírito temos a divindade, a
humanidade, a crucificação, a ressurreição e a
ascensão de Cristo.

Os Atributos Divinos e as Virtudes Humanas


187

A provisão abundante do Espírito também inclui


os atributos divinos e as virtudes humanas. Deus é
amor e luz, e Ele é santo e justo. Esses são alguns de
Seus atributos. Além do mais, como homem, Cristo
tem todas as virtudes humanas. Tanto os atributos
divinos como as virtudes humanas estão no Espírito
todo-inclusivo de Jesus Cristo.
A submissão e o amor de que precisamos cada
dia são também encontrados na provisão abundante
do Espírito. Embora a Bíblia ordene que a mulher se
submeta ao marido, que o marido ame a mulher, na
verdade em nós mesmos não temos a submissão nem
o amor autêntico. Em vez de submissão, temos
rebelião. Em vez de um amor adequado, temos um
amor desequilibrado, distorcido. A submissão e o
amor verdadeiros estão na provisão abundante do
Espírito.
À medida que desfrutamos a provisão abundante
do Espírito, participamos dos ingredientes dessa
provisão sem nos aperceber disso. Por exemplo,
podemos amar os outros sem estar cônscios do fato
de que os amamos. De modo semelhante, podemos
ser submissos sem perceber que o somos. No entanto,
se deliberadamente tentarmos amar ou nos
submeter, nosso amor ou submissão não serão
autênticos. A submissão e o amor verdadeiros são
sempre espontâneos e não algo do qual estejamos
conscientes. Uma irmã que é autenticamente
submissa ao marido não tem consciência disso, pois
sua submissão provém da provisão abundante do
Espírito de Jesus Cristo.
Às vezes, as irmãs submetem-se propositada e
intencionalmente. Uma irmã pode achar que deve
188

submeter-se ao marido a fim de ser espiritual. Tal


submissão é política. Outras podem submeter-se com
o propósito de dar bom exemplo para as filhas. Essa
submissão é também política e até mesmo hipócrita.
É uma representação em vez de ser espontânea.
Repito, a real submissão é espontânea; resulta de se
desfrutar a provisão abundante do Espírito.
Sempre que tentamos comportar-nos sem
desfrutar a provisão abundante do Espírito de Jesus
Cristo, somos políticos e hipócritas. Na verdade, todo
tipo de religião ensina as pessoas a agir de maneira
política. Sob essa influência, podemos pensar que,
para o bem do cônjuge, para o bem dos filhos ou
parentes, e até mesmo para o bem da igreja, devemos
comportar-nos de certa maneira. Tal comportamento
é político, hipócrita.
A fonte da verdadeira virtude é a provisão
abundante do Espírito de Jesus Cristo. Quando Paulo
se regozijava na prisão em Roma, ele não tentava
deliberadamente ser alegre. Seu regozijo não era o
resultado de seu próprio esforço, e certamente não
era uma representação. Visto que Paulo amava o
Deus Triúno, abria-se para o Deus Triúno e
comunicava-se com o Deus Triúno, o Deus Triúno
tinha caminho livre para infundir tudo o que Ele é em
Paulo. Como resultado, Paulo podia perceber que
com o Deus Triúno há a provisão abundante do
Espírito de Jesus Cristo. Por experimentar essa
provisão, ele podia regozijar-se no Senhor mesmo
sendo prisioneiro em cadeias.
O Espírito hoje não é meramente o Espírito de
Deus o Espírito de Jeová ou o Espírito Santo. Tendo
passado pelo processo de encarnação, viver humano,
189

crucificação, ressurreição e ascensão, o Espírito é


agora o Espírito de Jesus Cristo. Nele há uma
provisão viva que inclui todos os tipos de ingredientes
divinos, espirituais e celestiais. Por meio dessa
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo, as
circunstâncias de Paulo resultaram em sua salvação.
Ele era salvo constante e instantaneamente por meio
dessa provisão abundante. Assim, a fonte de sua
salvação diária era a provisão abundante do Espírito
de Jesus Cristo.

SALVO DE MURMURAÇÕES E
ARRAZOAMENTOS
Em Filipenses 1 Paulo foi salvo de certa situação
por meio da provisão abundante do Espírito. No
capítulo dois ele passa a mostrar como os crentes
podem experimentar uma salvação constante nas
coisas comuns da vida diária. Por exemplo, 2:14 diz:
“Fazei tudo sem murmurações nem arrazoamentos”
(lit.). Murmurações e arrazoamentos são coisas que
experimentamos diariamente. Podemos não
experimentar ódio ou ira todos os dias, mas
certamente arrazoamos e murmuramos todos os dias.
Na vida conjugal, as mulheres são dadas
especialmente à murmuração, e os maridos, ao
arrazoamento. Em certo sentido, a vida conjugal
natural é uma vida de murmurações e arrazoamentos.
Se um irmão vivesse sozinho, sem esposa por
companhia, teria poucas ocasiões para murmurar e
arrazoar. A vida conjugal, contudo, dá a ele ampla
oportunidade para ambas as coisas. Do mesmo modo,
antes de uma irmã casar-se, ela pode não murmurar
por pequenas frustrações. Agora, após estar casada,
190

ela pode murmurar pela menor frustração. Seu


marido pode reagir à sua murmuração arrazoando
com ela, justificando-se e acusando-a. Pode haver
murmurações e arrazoamentos sobre coisas tais como
uma cama não arrumada, escova fora do lugar,
lâmpada queimada ou quarto que não está limpo.
Quando o marido chega em casa do trabalho e
encontra a casa de maneira não adequada, pode achar
difícil ficar calado. Mesmo se tentar, poderá não estar
contente. Murmurações e arrazoamentos sobre
questões tais como essas revelam a necessidade de
uma salvação constante. Oh! como precisamos ser
salvos diariamente de murmurações e
arrazoamentos!

DEUS OPERA EM NÓS


Que pode salvar-nos de murmurações e
arrazoamentos? Em 2:12 e 13 Paulo nos exorta a
desenvolver nossa salvação, pois “Deus é o que opera
em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade”. Contudo, a questão de Deus operar em
nós pode ser mera doutrina. Quando nos deparamos
com certas situações em casa, podemos não ter a
realidade da operação interior de Deus. Em vez disso,
podemos estar totalmente em nós mesmos. No
entanto, se queremos experimentar a salvação
constante, precisamos perceber que essa salvação é o
próprio Deus operando em nós.
Por anos fui incomodado pelo fato de que em
2:13 Paulo fala de Deus e não de Cristo ou do Espírito.
Ele deliberadamente fala de Deus nesse versículo a
fim de indicar que nossa salvação constante é nada
menos que o próprio Deus. No entanto, há diferença
191

entre o Deus revelado em 2:13 e o Deus revelado em


Gênesis 1:1. Ao chegar ao livro de Filipenses, Deus
passou pela encarnação, viver humano, crucificação,
ressurreição e ascensão. De acordo com Isaías 9:6, o
filho que nos nasceu foi chamado o Deus forte.
Aquele que nasceu na manjedoura em Belém e que
viveu na casa de um carpinteiro em Nazaré era o Deus
forte. Por meio disso vemos que o Deus vivo
experimentou a vida humana. Em um homem, o Deus
forte viveu entre os seres humanos por mais de trinta
anos. Então, para o cumprimento da redenção, Ele foi
crucificado, entrou na morte, deu um passeio pelo
Hades e ressurgiu. Além disso, nosso Deus, Jesus
Cristo, ascendeu ao céu e foi feito Senhor de tudo.
Agora Ele tem o senhorio, a realeza e o
encabeçamento. Hoje nosso Deus é não somente o
Criador, o Redentor, o Salvador e o Senhor. Ele é
todo-inclusivo. A palavra Deus em 2:13 aponta para
esse Deus maravilhoso, processado e todo-inclusivo.
Esse Deus que habita em nós agora opera em nós. O
Deus que habita e opera em nós é o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Ainda mais, ele é nosso modelo, a
palavra da vida e o Espírito todo-inclusivo.
Esse Deus que habita em nós não é passivo; pelo
contrário, é ativo e enérgico, movendo-se,
trabalhando e operando em nós. A palavra grega
traduzida por opera em 2:13 tem o mesmo radical de
energia. O verbo energizar é uma forma
aportuguesada dessa palavra. O Deus que habita em
nós nos energiza a partir do nosso interior para ser a
fonte, o poder, a força e a energia para nossa salvação
constante.
Ser salvos de murmurações e arrazoamentos não
192

é insignificante. Separados do Deus que habita e


opera em nós, não temos maneira de ser salvos dessas
coisas. Também precisamos ser salvos da corrupção e
perversão. De certo modo todos somos corrompidos e
pervertidos. Ser pervertido é ser desvirtuado,
distorcido. Não é fácil ser salvo dessas coisas de modo
prático.

SALVAÇÃO CONSTANTE DOS PECADOS


REFINADOS
Em Filipenses 2 Paulo refere-se a murmurações,
arrazoamentos, culpa, falsidade, mancha, perversão,
corrupção e trevas. Em contraste com isso, em
Romanos 1 ele fala de pecados grosseiros tais como
idolatria, fornicação e assassinato. Na verdade, ser
salvo de pecados grosseiros é relativamente fácil, mas
ser salvo de murmurações, arrazoamentos,
corrupções e perversidades é muito difícil. Podemos
não cometer pecados grosseiros, mas dia após dia
ainda somos incomodados pelas coisas negativas
descritas por Paulo em Filipenses 2. Precisamos da
salvação não somente de pecados grosseiros, mas
também de pecados que podem ser considerados um
pouco refinados, tais como murmuração e
arrazoamento. Se quisermos ser inculpáveis e
sinceros, precisamos também de uma salvação
constante.
O único que pode salvar-nos dessa maneira é o
Deus Triúno que foi processado para tomar-se o
Espírito composto, que dá vida, todo-inclusivo. Hoje
nosso Deus é tal Espírito todo-inclusivo. Esse Deus
maravilhoso agora habita em nós e trabalha, energiza,
opera em nós, procurando a oportunidade de
193

resgatar-nos dia após dia.


Quando era jovem, ouvi somente dois aspectos
da salvação de Deus. Primeiro, foi-me dito que Cristo
morreu na cruz para nos salvar. Segundo, aprendi
que, como Todo-Poderoso, Ele está nos céus, capaz de
nos salvar ao máximo se confiarmos Nele. Por anos
não sabia especificamente como o Senhor Jesus nos
salva de maneira prática. Agora, no livro de
Filipenses, vemos que temos uma salvação constante,
tanto para situações específicas como para a vida
cotidiana. Aquele que nos salva não é meramente o
Todo-Poderoso nos céus; somos salvos por meio da
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo e pela
operação interior do Deus que habita em nós.

SALVOS MEDIANTE O ESPÍRITO QUE DÁ


VIDA E O DEUS PROCESSADO
Hoje nosso Deus é subjetivo. Ele se tomou nossa
provisão interior para sustentar-nos em qualquer
situação específica com Suas riquezas, que agora são
nossa porção na provisão abundante do Espírito. À
medida que desfrutamos tal provisão, somos
espontaneamente salvos de situações específicas.
Além do mais, esse Espírito é o Deus que habita em
nós para operar em nós a fim de nos salvar das
situações comuns da vida diária.
Nos anos em que tenho estado neste país, tenho
continuamente ministrado aos santos o Cristo
todo-inclusivo como Espírito que dá vida e o Deus
processado. Em Filipenses 1 temos o Espírito
todo-inclusivo, que dá vida, composto, e em
Filipenses 2 temos o Deus processado. Hoje nosso
Deus já não é apenas o objeto de nossa adoração.
194

Como Aquele que foi processado, Ele habita em nós.


Deus não é mais não-processado, ou “cru”. Tendo
passado pelas etapas de um processo, Ele agora
habita em nosso espírito para nossa experiência e
desfrute. Aleluia, temos o Deus processado como
nossa porção! Ele opera em nós para nos salvar dia
após dia. Por fim, Ele próprio toma-se nossa salvação
constante.
Na verdade, o Deus que habita e opera em nós é o
Espírito todo-inclusivo, o Espírito de Jesus Cristo.
Porque Ele é assim, simplesmente não podemos
sistematizá-Lo. Esse Deus é Cristo e também o
Espírito. A fonte de nossa salvação constante é o Deus
processado que é o Espírito todo-inclusivo, que dá
vida, composto. Com esse Espírito temos a provisão
abundante, e com o Deus processado temos a
operação interior. A provisão e a operação são a fonte
de nossa salvação constante. Por meio dessa fonte
maravilhosa somos salvos de nossa situação
específica e das situações comuns da vida diária.
Desse modo podemos ser salvos de murmurações,
arrazoamentos, corrupções e perversões. Isso não é
teoria; é algo prático e experimental. Quando
desfrutamos essa salvação constante, vivemos Cristo.
Vivemos Cristo desfrutando a salvação constante na
vida diária.
195

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM QUARENTA E NOVE
A PROVISÃO DIVINA E RICA PARA NOSSA SALVAÇÃO
CONSTANTE

Leitura Bíblica: Fp 2:5-16


Em 2:5-16 Paulo não somente fala da salvação
constante e sua fonte, mas também nos mostra a
provisão divina e rica para essa salvação. Para o
desenvolvimento de nossa salvação precisamos dessa
provisão.
Em 2:5-11 temos um registro da encarnação,
morte, ressurreição e exaltação de Cristo. Contudo,
aqui nada é dito sobre a redenção de Cristo. Parece
que nesses versículos Paulo propositadamente não se
refere à redenção de Cristo. Seu propósito é
apresentar o Senhor Jesus e Sua encarnação, viver
humano, morte, ressurreição e exaltação de tal modo
que nos dê um modelo para nossa salvação diária.
Somente Cristo era qualificado para realizar a
redenção. Não podemos participar dessa obra. Seria
blasfêmia dizer que participamos da realização da
redenção. Nós desfrutamos a redenção de Cristo, mas
não podemos participar da Sua obra de redenção.

O MODELO E O PADRÃO
Embora não possamos participar da redenção de
Cristo, precisamos ser participantes com Ele de Seu
viver humano, especialmente de Seu esvaziar-Se,
humilhar-Se e não apegar-se à igualdade com Deus
como um tesouro. Embora subsistisse na forma de
196

Deus e fosse igual a Deus, Ele não considerou essa


igualdade um tesouro a que se agarrar e reter. Ele não
insistiu em apegar-se à forma de Deus, mas estava
disposto a esvaziar-Se, deixando de lado a forma de
Deus e vestindo a forma de servo. Todos devemos ser
participantes com Cristo nesse auto-esvaziamento.
Isso significa que em vez de nos agarrar ao que temos,
devemos deixar essas coisas de lado e esvaziar-nos.
Depois que Se esvaziou, tomando-se em
semelhança de homens e sendo achado em aparência
de homem, Cristo Se humilhou a tal ponto que foi
obediente até mesmo à morte de cruz. Então Deus O
ressuscitou dentre os mortos e O exaltou
grandemente. Aqui não temos somente um modelo
para nossa salvação constante, mas também o padrão
dessa salvação. O modelo inclui a experiência de
Cristo desde a encarnação até a crucificação; o padrão
inclui Sua experiência desde a ressurreição até a
exaltação. Diariamente precisamos desfrutar uma
salvação que tenha tal modelo e padrão.
Suponha que a esposa de certo irmão cause-lhe
dificuldades. A maneira de ele ser salvo nessa
situação não é insistir em seu encabeçamento ou na
subordinação dela. Ele não deve considerar-se um rei
e considerá-la uma vassala. Ele tampouco deve usar
Efésios 5:22 para insistir que ela se submeta a ele.
Fazer isso seria apegar-se ao seu encabeçamento, seu
“maridamento”. Isso não seria guardar o princípio
que o Senhor adotou em não considerar a igualdade
com Deus uma coisa a que se apegar. Embora seja
difícil para alguém que tenha o encabeçamento pô-lo
de lado, isso é exatamente o que o irmão deve fazer a
fim de experimentar a salvação constante do Senhor.
197

Logicamente, o irmão pode ser salvo pela operação


interior de Deus. Contudo:2:5-8 vem antes da
operação de Deus, que está no versículo 13.
Certamente Deus irá operar no irmão para salvá-lo.
Todavia, ele deve estar disposto a esvaziar-se e deixar
de lado seu encabeçamento de acordo com o padrão
em 2:5-8. Porém, na maioria dos casos, um irmão
casado apega-se ao seu encabeçamento e recusa-se a
pô-lo de lado. Isso pode dar origem a murmurações,
arrazoamentos e troca amarga de palavras. O irmão
aqui deveria contatar o Senhor Jesus e dizer: “Senhor,
Tu não te apegaste à igualdade com Deus, e eu não
me apego ao meu encabeçamento. Nem insisto em
minha posição de marido. Pela Tua misericórdia
cheia de graça, ponho de lado meu encabeçamento”.
Simplesmente fazendo isso, ele experimenta o
primeiro passo da salvação constante de Deus. Agora
deve prosseguir e experimentar o restante
humilhando-se, mesmo até a morte. Em vez de sentir
ressentimento em relação à esposa por ter de deixar
de lado seu encabeçamento, ele deve humilhar-se
diante dela. Isso é experimentar o modelo da salvação
constante desde a encarnação até a morte de cruz. Se
o irmão experimentar isso, Deus virá para levantá-lo
e exaltá-lo. Então o irmão irá também experimentar o
padrão da salvação instantânea de Deus. Como
resultado, a mulher pode ficar humilde, preocupada
com o fato de ter causado dificuldades a ele. Em vez
de reagir de maneira negativa, o marido esvaziou-se e
humilhou-se. Agora ela percebe que, na experiência
de Cristo, ele está exaltado e entronizado. Ele
experimentou a salvação constante com seu modelo e
padrão.
198

Em 2:5-16 vemos como desenvolver nossa


própria salvação. Também vemos a fonte e o poder
para uma salvação constante. À medida que
consideramos o modelo e o padrão encontrados aqui,
vemos que precisamos ser participantes com Cristo
em Seu modelo e padrão. Esse é o primeiro aspecto
da provisão divina e rica para nossa salvação
constante.

O DEUS QUE OPERA


Quando era jovem, aprendi que em 2:5-11 há sete
passos na humilhação do Senhor: esvaziar-Se, tomar
a forma de servo, tornar-se em semelhança de
homens, humilhar-Se, tornar-se obediente, ser
obediente até a morte e ser obediente até a morte de
cruz. Foi-me também ensinado que, como cristãos,
devemos seguir o Senhor Jesus nesses passos.
Contudo, quanto mais eu tentava segui-Lo e imitá-Lo,
mais minha natureza caída era exposta. Percebi pela
experiência que o ensinamento tradicional de imitar
Cristo não funciona, porque eu simplesmente não
tinha uma natureza que pudesse seguir o Senhor
desse modo. O Senhor Jesus era Deus encarnado, um
Homem-Deus, um homem com o elemento divino.
Como poderia eu, um ser humano caído, alguém que
não tinha nem mesmo o elemento humano adequado
e totalmente destituído do elemento divino, seguir
esse Homem-Deus? O Senhor Jesus tem tanto o
elemento divino como o humano adequado. Embora
tenha deixado de lado a forma de Deus, nunca deixou
de lado a natureza divina. A realidade, a essência, a
substância da natureza divina ainda estava Nele.
Assim, Ele era um homem cheio do elemento divino.
199

Ele pôde passar pelos sete passos de Sua humilhação.


Contudo, eu não podia imitá-Lo.
Gradualmente comecei a entender que para
seguir o Senhor Jesus de acordo com Filipenses 2,
precisamos ter Deus a operar em nós. Em nós
mesmos não somos capazes de seguir o modelo
divino ou alcançar o padrão de Deus. Louvado seja o
Senhor porque Deus opera em nós! O próprio Deus
que se encarnou no Senhor Jesus está agora em nós.
Esse Deus é o Deus infinito, o Deus eterno, Aquele
que criou o universo pela Sua palavra. Por meio da
encarnação, esse Deus eterno veio para viver no
Senhor Jesus. Ele fez de Jesus um modelo e O elevou
de acordo com o padrão divino. Agora esse mesmo
Deus opera em nós. Quando percebi isso pela
primeira vez, fiquei muitíssimo alegre. Porque Deus
opera em mim, sou agora um homem-Deus. Todos os
crentes autênticos em Cristo precisam ver que, como
cristãos, somos homens-Deus. Não precisamos mais
viver de acordo com nossa humanidade caída, pois
Deus agora opera em nós. Aleluia, visto que Deus
habita e opera em nós, somos homens-Deus! Essa
operação interior de Deus é o segundo aspecto da
provisão divina e rica para a salvação constante.

FILHOS DE DEUS
O terceiro aspecto é que somos filhos de Deus
(2:15). Porque temos proclamado essa verdade,
alguns nos têm acusado falsamente de ensinar a
evolução até Deus. Certamente não ensinamos a
evolução até Deus. De acordo com a Bíblia,
testificamos que, como filhos de Deus, nascemos
Dele. Assim como a descendência do cachorro tem a
200

vida e a natureza do cachorro, e a criança tem a vida e


a natureza dos pais, assim também nós, como filhos
de Deus, temos a vida e a natureza de Deus.
Se não fôssemos filhos de Deus com a vida e a
natureza divinas, não poderíamos entender a
operação de Deus em nós ou cooperar com ela. Nossa
cooperação com a operação de Deus pode ser
comparada a uma corrida de três pernas. Em tal
corrida, cada pessoa tem apenas uma perna livre e a
outra amarrada a uma das pernas do parceiro. É
impossível para um ser humano correr a corrida de
três pernas amarrado a um animal, porque um
animal não tem a vida e a natureza para cooperar com
um ser humano. Figuradamente falando, porque
temos a vida e a natureza divinas, estamos numa
corrida de três pernas com Deus como nosso
parceiro. Paulo diz: “Aquele que se une ao Senhor é
um espírito com ele” (1Co 6:17). Depois que nosso
Deus veio por meio da encarnação, viveu na terra
para estabelecer um modelo de salvação, foi
crucificado, e foi ressuscitado e exaltado de acordo
com o padrão divino, tornou-se o Espírito que dá vida
(1 Cor. 15:45). Como tal, Ele entrou em nós e agora
habita em nós como Deus todo-inclusivo, processado.
Sua operação em nós é baseada no fato de que Ele nos
regenerou e depositou em nós Sua vida divina com a
natureza divina. Essa é a maior maravilha do
universo! Depois de estabelecer o modelo e fixar o
padrão, Deus pôs Sua vida e natureza em nós. Agora
Ele nos motiva, opera e energiza interiormente por
meio de Sua vida e natureza divinas conforme o
modelo com o padrão. Quando invocamos o Senhor
ou oramos ao Pai, experimentamos essa operação
201

interior.
Temos visto que o primeiro aspecto da provisão
divina para nossa salvação constante é o modelo com
o padrão, e o segundo aspecto é a operação interior
do Deus que se encarnou, morreu na cruz, e foi
ressuscitado e exaltado. Esse Deus entrou em nós
para exteriorizar esse modelo em nós. Em primeiro
lugar Ele nos regenerou, dispensando Sua vida divina
com a natureza divina a nós para fazer-nos
homens-Deus, filhos de Deus. Agora Ele habita em
nós para operar em nós continuamente. Porque
temos o Deus que habita e opera em nós, Hebreus
8:11 diz: “E não ensinará jamais cada um ao seu
próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:
Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão,
desde o menor deles até ao maior”. Visto que Deus
opera em nós, sabemos o que Ele deseja fazer e o que
devemos fazer. Por exemplo, quando a esposa de um
irmão causa-lhe dificuldades, ele não precisa de um
pastor para instruí-lo. Por meio do Deus que opera,
ele sabe que deve deixar de lado seu encabeçamento
e, de acordo com o modelo do Senhor Jesus, estar
disposto a servi-la como escravo.

RESPLANDECER COMO LUZEIROS


No versículo 15 Paulo diz: “Resplandeceis como
luzeiros no mundo”. A palavra grega traduzida por
luzeiros denota astros que refletem a luz do sol. Como
filhos de Deus com a vida e a natureza divinas, temos
uma função especial: brilhar. Uma vez que temos a
vida e a natureza divinas, tomamo-nos astros
refletindo Cristo como verdadeiro sol. Sempre que
cooperamos com a operação interior de Deus de
202

acordo com a vida e a natureza divinas, brilhamos


com a luz de Cristo. Esse é o quarto aspecto da divina
e rica provisão para a salvação constante.

A PALAVRA DA VIDA
O quinto aspecto é encontrado na frase “expondo
a palavra da vida” (v. 16 — TB). Em 1:19 temos a
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo, e em
2:16 temos a palavra da vida. Entre eles temos o
modelo da salvação com o padrão, o Deus que opera,
a vida divina com a natureza divina, e a função de
refletir a luz de Cristo. Que provisão tremenda! Com
tal rica provisão podemos ser salvos constantemente.
Agradecemos ao Senhor por dois grandes dons: o
Espírito e a Palavra, a Bíblia. Todo filho de Deus deve
aprender a se aprofundar na Palavra de Deus pela
vida e natureza divinas. Isso é contatar a Escritura
exercitando o espírito para tocar o Deus que habita
em nós. Tal contato, baseado na vida e natureza
divinas, é muito diferente de ler a Bíblia com o mero
exercício da mente. Alguns cristãos analisam a Bíblia
de modo puramente mental, outros enfatizam a
memorização de versículos e ainda outros,
especialmente os que foram treinados em seminários,
expõem a Palavra de maneira doutrinária. Se
abordarmos a Bíblia somente dessas maneiras, não
tocaremos a palavra da vida. Em vez disso, a Bíblia
será para nós um livro de conhecimento, doutrina,
ensinamento e teologia. Uma vez regenerados do
Espírito, temos a vida divina, a natureza divina e até
mesmo a Pessoa divina, o próprio Deus, a habitar em
nosso espírito. Agora precisamos exercitar o espírito
sempre que nos achegamos à Palavra. Se fizermos
203

isso, cada linha, frase e palavra da Bíblia tomar-se-ão


vida para nós.
Porque tudo relacionado com Deus é vivo, as
palavras de Deus devem ser palavras vivas, palavras
de vida. Se nos achegarmos à Bíblia com um espírito
vivo, espontaneamente desfrutaremos a palavra da
vida. Então seremos supridos, fortalecidos,
vivificados, iluminados, refrescados, nutridos e
lavados.
À medida que experimentamos a palavra da vida
desse modo, devemos expor a palavra aos outros,
apresentando-a, oferecendo-a e aplicando-a a eles.
Isso é falar a palavra da vida aos que estão ao redor.
Longe de ser subjugados pelos opositores, devemos
em amor falar a palavra da vida a eles. Falando-a,
apresentamos a palavra da vida a outros. Devemos
ser um povo que fala. Sempre que tivermos
oportunidade, devemos falar pelo Senhor. Pregar não
é nossa profissão; é nosso viver. Precisamos entrar na
palavra da vida de modo tão vivo que vivamos por ela
e a falemos. Expondo a palavra da vida desse modo
desfrutamos a salvação constante.
Nesta mensagem cobrimos cinco aspectos da
provisão divina e rica para nossa salvação constante:
o modelo com seu padrão, a operação interior de
Deus, os filhos de Deus, os luzeiros e a palavra da
vida. Se desfrutarmos todos esses aspectos,
experimentaremos a salvação constante. Quem
estabeleceu o modelo e é, Ele mesmo, o modelo agora
opera em nós como o Deus que em nós habita. Por
meio da regeneração, tomamo-nos filhos de Deus
com a vida e a natureza divinas. Isso faz de nós
luzeiros com a função de refletir Cristo. Além do
204

mais, temos a palavra da vida, e podemos


aprofundar-nos nela, desfrutar suas riquezas e
declará-la aos que estão ao nosso redor. Desse modo,
as coisas negativas são derrotadas e desfrutamos a
vitória da salvação constante.
205

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA
O SACRIFÍCIO DA VOSSA FÉ

Leitura Bíblica: Fp 2:17-18; 1:25; 3:9; Ef 1:13; 2:8;


3:17; Gl 2:20; 5:6; Cl 1:3-4; 2:12
Em 2:17 Paulo diz: “Entretanto, mesmo que seja
eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da
vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo”.
Nesse versículo Paulo fala do “sacrifício e serviço da
vossa fé”, uma frase difícil de entender para os que
estudam a Bíblia. Aqui duas questões estão
relacionadas com a fé dos crentes: o sacrifício e o
serviço sacerdotal. Paulo considera a fé dos crentes
um sacrifício oferecido a Deus. O serviço sacerdotal
refere-se à oferta de sacrifícios feita por um
sacerdote. Nesse versículo Paulo parece dizer:
“Filipenses, considero vossa fé um sacrifício oferecido
a Deus, e a minha oferta desse sacrifício a Ele é um
serviço sacerdotal”. Nesta mensagem consideraremos
o sacrifício da nossa fé. Não abordaremos o serviço
sacerdotal.
Em Filipenses Paulo usa certas expressões
extraordinárias tais como “provisão do Espírito de
Jesus Cristo” (1:19), “expondo a Palavra da vida”
(2:16 — TB), e “o sacrifício e serviço da vossa fé”. Se
quisermos conhecer o segredo de experimentar Cristo
como revela esse livro, precisamos entender essas
expressões.

A FÉ COMO SACRIFÍCIO OFERECIDO A


206

DEUS
Que é a fé que pode constituir um sacrifício
oferecido a Deus? Como crentes, todos temos certa
porção de fé. Se não tivéssemos fé, não poderíamos
ser crentes em Cristo. Embora tenhamos fé,
permanece a questão de se a nossa fé pode ou não ser
considerada alegremente pelos apóstolos um
sacrifício oferecido a Deus. Paulo era um sacerdote do
Novo Testamento. Ele diz em Romanos 15:16: “Que
seja ministro de Jesus Cristo entre os gentios,
ministrando o evangelho de Deus, para que seja
agradável a oferta dos gentios, santificada pelo
Espírito Santo” (VRC). Como sacerdote do evangelho,
ele oferecia seus convertidos a Deus como sacrifício.
Em Filipenses 2:17 não são os próprios crentes que
são o sacrifício; é a fé deles. O pensamento em 2:17 é
mais profundo do que em Romanos 15:16. Você já
pensou na sua fé como sacrifício que tal ministro
pode oferecer a Deus?
De acordo com o versículo 17, Paulo desejava ser
derramado por libação sobre o sacrifício e serviço
sacerdotal da fé dos crentes. Ele percebia que um dia
seria martirizado. Como mártir, seria libação
derramada sobre o sacrifício da fé deles. No Antigo
Testamento a libação era derramada sobre as ofertas
básicas. Sem uma oferta básica, não poderia haver a
libação. Paulo considerava sua morte como mártir
uma libação. A oferta básica sobre a qual essa libação
iria ser derramada era a fé dos crentes em Filipos. É
muito importante que entendamos que tipo de fé
pode tomar-se o sacrifício sobre o qual a libação é
derramada. Assim, nesta mensagem procuraremos
entender a fé a qual Paulo se refere em 2:17.
207

A FÉ, A PALAVRA E O ESPÍRITO


A fé nesse versículo é um pouco diferente da que
é mencionada em outros lugares na Bíblia. Efésios
1:13 diz “Em quem também vós, depois que ouvistes a
Palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação,
tendo nele também crido, fostes selados com o Santo
Espírito da promessa”. Como resultado de ouvir a
Palavra da verdade e crer em Cristo, fomos selados
com o Espírito Santo. Nesse versículo temos a
Palavra, a fé e o Espírito. Ouvindo a Palavra e crendo
nela, recebemos o Espírito. A Palavra, a fé e o Espírito
são um.
A Palavra [o Verbo] é a expressão de Deus (Jo
1:1). Deus é a fonte da Palavra. Quando temos a
Palavra, temos Deus, pois a Palavra é a expressão de
Deus.
De acordo com o Evangelho de João, a Palavra é
tanto Deus como o Espírito. Além disso, Cristo é
também Deus, o Espírito e a Palavra. Cristo é a
Palavra, e a Palavra é Deus. Assim, há uma
maravilhosa inter-relação entre Deus, Cristo, o
Espírito e a Palavra. A Palavra é Deus e também o
Espírito. Ao mesmo tempo Cristo é tanto Deus como
o Espírito. Por um lado, Cristo é a Palavra; por outro,
a Palavra é Cristo. Do mesmo modo, Deus é o
Espírito, e o Espírito é Deus. Aqui vemos o Deus
Triúno corporificado na Palavra.
O Deus Triúno está corporificado na Palavra, e a
Palavra veio a nós. A própria Palavra [Verbo] que
estava com Deus e é Deus tornou-se carne e armou
tabernáculo entre nós (Jo 1:1, 14). De acordo com
João 20, essa Palavra que se tomou carne foi adorada
como Deus. Tomé disse com respeito a Ele: “Senhor
208

meu e Deus meu!” (Jo 20:28). A Palavra é não


somente Deus, mas também a vinda de Deus a nós.
Deus vem a nós corporificado na Palavra. Além do
mais, de acordo com Efésios 6:17, o Espírito é a
Palavra. O maravilhoso Deus Triúno está
corporificado na Palavra, e a Palavra veio a nós.
Quando a Palavra vem, Deus, Cristo e o Espírito vêm.
Os Três do Deus Triúno vêm com a Palavra.
A primeira função da Palavra é infundir-nos a fé.
Não acredito que seja possível alguém repetir um
versículo da Bíblia dez vezes sem ter a fé infundida
nele. Suponha que um ateu leia João 3:16 e repita
esse versículo várias vezes. Até mesmo esse ateu teria
a fé infundida nele por meio da Palavra.
A fé infundida em nós por meio da Palavra é a
função do Espírito. Fé é tanto o resultado da Palavra
como a função do Espírito. Quando a Palavra vem a
nós e é contatada por nós, recebemos o Espírito. Isso
quer dizer que quando a Palavra nos alcança e a
tocamos, ela torna-se o Espírito na experiência.
Assim, a Palavra primeiramente vem a nós e, então,
se toma o Espírito em nós.
A Palavra tomando-se o Espírito em nossa
experiência pode ser ilustrada por riscar um palito de
fósforo. A cabeça de um palito é feita de fósforo.
Quando riscamos um palito de maneira adequada, o
fósforo pega fogo. O fogo é diferente do fósforo? Não,
é simplesmente a explosão do fósforo. Do mesmo
modo, o Espírito é a “explosão” da Palavra. Quando
experimentamos essa explosão, somos “queimados”
pelo “fogo”. Esse queimar é a fé.
Como jovem cristão, eu sinceramente desejava
ter fé. Li vários livros sobre a fé. Contudo, nenhum
209

deles me disse o que é, na verdade, a fé. Somente nos


últimos anos descobri por meio da experiência o que
é a fé. A fé vem da palavra que nos infunde com o
elemento divino. Portanto, a fé é o resultado da
palavra e da função do Espírito. Quando temos a
palavra com o Espírito, espontaneamente temos fé.
Como temos enfatizado, a fé, a palavra e o Espírito
são um.
Se você considerar essa definição de fé na
presença do Senhor, irá adorá-Lo. Você verá que
sempre que há fé autêntica em você, a palavra está
envolvida e o Espírito toma-se real. Sem a palavra e o
Espírito, é-nos impossível ter fé.

FORTALECIDOS PELO ELEMENTO DA FÉ


Efésios 3:16-19 diz que quando o Pai nos
concede, de acordo com as riquezas da Sua glória, que
sejamos fortalecidos com poder mediante o Seu
Espírito no homem interior, Cristo habita em nosso
coração pela fé. Então, arraigados e alicerçados em
amor, seremos fortalecidos para compreender com
todos os santos qual é a largura, o comprimento, a
altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo
que excede todo entendimento para ser enchi dos até
toda a plenitude de Deus. Se despendermos algum
tempo para orar-ler esses versículos e meditar neles,
nossa fé será fortalecida. Algo em nós será fortalecido
para perceber que Cristo habita em nosso coração,
que somos arraigados e alicerçados em amor, que
compreendemos as dimensões de Cristo e que até
mesmo somos enchidos até toda a plenitude de Deus.
Certo elemento foi infundido em nós para
fortalecer-nos, e esse elemento é a fé.
210

Antes de orar-ler esses versículos, podemos


sentir-nos fracos. Mas após orar-ler, seremos
fortalecidos. Seremos como um pneu de automóvel
que foi enchido de ar. Na experiência perceberemos
que a fé, a palavra e o Espírito são, de fato, um como
nossa porção. Além disso, teremos o desfrute de
Cristo na fé. Desfrutaremos o ser fortalecidos com
poder, tendo Cristo habitando em nosso coração, o
ser arraigados e alicerçados em amor, o experimentar
as dimensões de Cristo e o ser enchidos até toda a
plenitude de Deus.

O DESFRUTE DE CRISTO
Se tomarmos um trecho das Epístolas de Paulo e
nele permanecermos por um tempo, sentiremos algo
erguendo-se em nós com poder. Isso é o mesclar da
palavra e do Espírito com a nossa fé. Esse mesclar
sempre resulta no desfrute de Cristo. O que
desfrutamos em particular irá depender do que a
Palavra transmite especificamente a nós. Por
exemplo, se um pecador despender tempo em 1
Timóteo 1:15, um versículo que diz que Cristo Jesus
veio ao mundo para salvar os pecadores, ele será
infundido com um apreço por Cristo como seu
Salvador. Ele saberá que Cristo é capaz de salvá10.
Tal apreço por Cristo nesse aspecto é fé. Como já
enfatizamos, fé é o apreço por Cristo e a reflexão do
que Ele é e faz por nós. Sempre que um pecador tem
tal apreço por Cristo, ele tem a fé para ser salvo. Ele
realmente desfruta Cristo como seu Salvador.
Podemos também desfrutar Cristo orando-lendo
Efésios 3:17. Em particular, desfrutaremos Cristo
habitando em nosso coração pela fé, porque isso é o
211

que esse versículo transmite a nós. O que


desfrutamos na fé sempre depende do que é
transmitido a nós pela Palavra. Por essa razão, o
desfrute de Cristo entre os cristãos tem várias
intensidades.
Com a fé autêntica há tanto a alegria, ou desfrute,
da fé como o sacrifício da fé. Vimos que Efésios 1:13
fala de fé. Fé é o resultado da Palavra e a função do
Espírito.
Pelo menos dois versículos no livro de Efésios
indicam que a fé nos traz o desfrute de Cristo. Efésios
2:8 diz: “Pela graça sois salvos, mediante a fé”. Uma
vez salvos pela fé, é pela fé que desfrutamos Cristo
como nosso Salvador. Assim, a fé nos traz o desfrute
do Salvador com Sua salvação. Efésios 3:17 diz que
Cristo habita em nosso coração pela fé. Isso indica
que a fé nos traz o desfrute de Cristo a habitar em nós.
Embora todos os cristãos digam amém a 2:8, poucos
podem dizer amém a 3:17. Duvido que muitos
cristãos desfrutem Cristo a habitar neles. Se
quisermos desfrutar o Cristo que habita em nosso
coração, precisamos ler Efésios 3:15-19 e despender
tempo nesses versículos. Além do mais, devemos
orar-ler esse trecho e até mesmo cantá-lo.
Gálatas 2:20 também indica que a fé está
relacionada com o desfrute de Cristo: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas
Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne
vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e
entregou a si mesmo por mim” (VRC). De acordo com
esse versículo, Cristo vive em nós, e a vida que agora
vivemos, vivemos na fé. Portanto, de acordo com esse
versículo, a fé traz o desfrute do Cristo que vive em
212

nós. Que maravilhoso desfrute é esse!


Em Gálatas 5:6 Paulo prossegue: “Porque, em
Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão
têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor”. O
Cristo revelado em Gálatas pode ser desfrutado
somente por meio da fé. É a fé que nos traz o desfrute
de Cristo.
O livro de Colossenses também relaciona a fé ao
desfrute de Cristo. Depois de referir-se à “fé em Cristo
Jesus” (1:4) dos crentes, Paulo diz que os colossenses
foram “sepultados, juntamente com ele, no batismo”
e Nele foram “ressuscitados mediante a fé no poder
de Deus” (2:12). A fé nos traz o desfrute da operação
de Deus. Antes estávamos mortos, mas agora
podemos desfrutar a ressurreição dos mortos. A fé
nos traz o desfrute do Deus que opera, que nos
ressuscita dentre os mortos.
Todos esses versículos ilustram que com a fé
autêntica há alegria ou desfrute. O desfrute particular
que temos depende de qual trecho da Palavra
recebemos pela fé. Em outras palavras, o desfrute da
fé depende do que certo versículo nos transmite.
Em Colossenses 1:25 Paulo fala de completar a
Palavra de Deus. Se não fosse o ministério de Paulo,
especialmente o que está contido em Gálatas, Efésios,
Filipenses e Colossenses, a Palavra de Deus não
estaria completa. Isso significa que se não nos
aprofundarmos nas palavras de Paulo nesses quatro
livros, nosso desfrute de Cristo por meio da fé não
será adequado. Não irá corresponder às riquezas
contidas nesses livros.
Muitos cristãos têm um tipo de desfrute de Cristo
por meio da fé. Mas não desfrutam o Cristo
213

todo-inclusivo para a igreja, na igreja e com a igreja.


Posso testificar que, como jovem cristão, eu
realmente desfrutava Cristo até certo ponto. Contudo,
não O desfrutava de maneira rica com a Igreja ate que
entrei na restauração do Senhor. Em meus anos na
restauração, os livros de Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses tornaram-se fé para mim. Hoje minha fé
não é simplesmente o resultado de versículos tais
como João 3:16 e 5:24; é o resultado desses quatro
livros escritos por Paulo.
De modo nenhum menosprezo qualquer livro da
Bíblia. Contudo, estou certo de que, lendo o livro de
Eclesiastes, você não terá muito desfrute de Cristo.
Você pode perceber que todas as coisas são vaidade, e
pode sinceramente desejar que em seu viver nada seja
vaidade. Contudo, esse livro não introduz você no rico
desfrute de Cristo. O pleno desfrute de Cristo é
encontrado em Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses.
Antes de entrar na restauração do Senhor, você
desfrutava o Cristo todo-inclusivo? você O desfrutava
na igreja, para a igreja e com a igreja? Provavelmente
desfrutava algo de Cristo revelado em Lucas 15, mas
não o Cristo todo-inclusivo revelado nas Epístolas de
Paulo. Não desfrutávamos o Cristo todo-inclusivo
antes de entrar na restauração do Senhor porque não
nos aprofundávamos em Gálatas, Efésios, Filipenses
e Colossenses. Nos anos em que estive com os Irmãos
Unidos, participei de muitas conferências sobre a
tribulação e a profecia na Bíblia. Ouvi mensagens
sobre o homem da iniqüidade, a última trombeta, o
arrebatamento, a Imagem em Daniel 2, as setenta
semanas em Daniel 9 e as bestas em Daniel7 e
214

Apocalipse 13. Não há dúvida de que cada capítulo da


Bíblia é o sopro de Deus, até mesmo Seu fôlego.
Contudo, é fato que em Daniel 7 não desfrutamos
tanto de Cristo quanto em Gálatas, Efésios, Filipenses
e Colossenses. Embora Atos fale bastante sobre a
igreja, não podemos desfrutar tanto de Cristo nesse
livro quanto em Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses.

O GOZO DA FÉ
Ter o desfrute de Cristo é ter o gozo da fé. Paulo
fala do gozo da fé em Filipenses 1:25: “E, convencido
disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com
todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé”. Paulo
estava constrangido por duas coisas: o desejo de
partir e estar com Cristo e a necessidade de
permanecer na carne por causa dos santos (vs.
23-24). Por fim ele concluiu que permaneceria e
continuaria com os crentes para o progresso e o gozo
da fé deles. A expectativa de Paulo era que ele
ministraria mais de Cristo aos santos para que
tivessem mais experiência Dele. Por meio do
ministério de Paulo, receberiam mais infusão e como
resultado teriam mais fé. Essa fé lhes traria, então,
maior desfrute de Cristo. Desse modo teriam o
progresso e alegria da fé.
Hoje temos a palavra completa de Deus. Eu os
encorajo a estudar toda a Bíblia, mas especialmente
Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses, livros que
completam a palavra de Deus. Se você deseja ter a fé
que o introduz no pleno desfrute de Cristo com a
igreja, precisa tornar-se totalmente familiarizado com
esses quatro livros.
215

CONSTITUÍDOS DE CRISTO PARA SER


SACRIFÍCIO
O desfrute da fé nos constitui sacrifício. Esse
sacrifício é o próprio Cristo experimentado e
desfrutado por nós. Por meio do desfrute de Cristo,
nós O experimentamos, ganhamos e possuímos.
Nosso ser é até mesmo constituído de Cristo. Desse
modo nossa fé toma-se sacrifício que pode ser
oferecido a Deus.
Anseio ver o sacrifício da fé entre os santos. Não
quero gastar muitos anos a ministrar Cristo e a igreja
aos crentes somente para descobrir que eles não têm
muita experiência ou desfrute de Cristo. Se não
ganhamos Cristo, não pode haver sacrifício. Não
teremos o desfrute de Cristo, e o que ministra não
terá o sacrifício da fé para oferecer a Deus. A fim de
ter o sacrifício da fé, precisamos tocar a palavra da
vida de tal modo que ela se tome, na experiência, a
provisão abundante do Espírito. Então teremos fé, a
fé que é o resultado da Palavra e do Espírito
mesclados com nosso apreço. Esse é o sacrifício que
pode ser oferecido a Deus.
Como é usada em 2:17, a fé tem em vista o
desfrute de Cristo, a experiência de Cristo e o ganhar
Cristo. Nosso desfrute, experiência e ganho de Cristo
tomam-se doce sacrifício oferecido a Deus. Então o
que ministra ficará feliz em oferecer esse sacrifício a
Deus e ao mesmo tempo derramar-se-á sobre ele
como libação.
Encorajo a todos os santos a gastar mais tempo
nos livros de Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses, meditando neles, orando-lendo e até
mesmo cantando-os. Precisamos “riscar o fósforo” e
216

experimentar o “queimar” para ganhar,


experimentar, desfrutar e possuir Cristo. Então
teremos a fé como sacrifício oferecido a Deus. Todos
precisamos ter uma fé mesclada com a Palavra de
Deus e a provisão abundante do Espírito para ter o
sacrifício para o desfrute de Deus.

A FÉ E O EXPOR A PALAVRA DA VIDA


Filipenses 2:16-17 devem ser considerados
conjuntamente. De acordo com a gramática, esses
versículos são unidos pela conjunção “entretanto”.
Isso indica que a fé no versículo 17 está relacionada
com o expor a palavra da vida no versículo 16 (TB).
Em outras palavras, expor a palavra da vida, na
experiência, está relacionado com o sacrifício da fé. O
conceito de Paulo nesses versículos é que se os santos
expusessem a palavra da vida, ele teria algo de que
gloriar-se no dia de Cristo. A era atual é o dia do
homem (1Co 4:34), e a era vindoura será o dia de
Cristo. Aquele de quem é o dia é aquele que exerce
autoridade. Visto que hoje é o dia do homem, o
homem tem autoridade sobre a terra. Mas no dia de
Cristo Ele terá autoridade. Se no dia do homem os
crentes expuserem a palavra da vida, Paulo será capaz
de gloriar-se com respeito a eles no dia de Cristo de
que não correu em vão nem laborou em vão.
Após falar que os crentes devem expor a palavra
da vida e falar que ele deveria ser capaz de gloriar-se
no dia de Cristo, Paulo prossegue no versículo 17:
“Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação
4
Lit.: dia de homem. O dia do juízo do homem é a era presente, na qual o homem julga (esse juízo se
refere ao exame do homem). Está em contraste com o dia do Senhor (3:13), que é a era vindoura, a era
do reino, na qual o Senhor julgará e na qual o juízo será o do Senhor. (N.T.)
217

sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e,


com todos vós, me congratulo”. Mesmo agora, no dia
do homem, Paulo podia ser derramado como libação
sobre o sacrifício produzido pelo fato de os crentes
exporem a palavra da vida. Isso quer dizer que
quando os crentes expunham a palavra da vida, Paulo
tinha o sacrifício básico sobre o qual derramar-se
como libação.
À medida que consideramos esses versículos
cuidadosamente, vemos que tudo o que
experimentamos de Cristo resulta de nossa fé. Nossa
fé é a soma de nossa experiência de Cristo. O expor da
palavra no versículo 16 é a própria fé mencionada no
versículo 17. A conjunção “entretanto” unindo esses
versículos indica esse fato. No dia de Cristo, Paulo
desejava gloriar-se no fato de os crentes terem
exposto a, palavra da vida. Contudo, mesmo no
presente, no dia do homem, ele podia ter o sacrifício
da fé como sacrifício básico sobre o qual podia ser
derramado. Esse sacrifício da fé é idêntico ao expor a
palavra da vida pelos santos.
No versículo 16, Paulo fala de gloriar-se, e no 17,
de regozijar-se. Nesses versículos as palavras
gloriar-se e regozijar-se podem ser consideradas
sinônimos. Paulo podia gloriar-se no fato de os
crentes exporem a palavra da vida e de ele se regozijar
no sacrifício da fé deles. No versículo 16 temos o
gloriar-se relacionado com o preservar a palavra, e no
17 temos o regozijar-se relacionado com o sacrifício
da fé dos crentes. O regozijar-se no versículo 17 é
sinônimo de gloriar-se no 16, assim como o sacrifício
da fé é idêntico ao expor a palavra da vida, Uma vez
mais vemos que a fé aqui é a soma total de nossa
218

experiência, desfrute e ganho de Cristo,


219

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E UM
SER ACHADO EM CRISTO, NA JUSTIÇA DE DEUS,
MEDIANTE A FÉ EM CRISTO

Leitura Bíblica: Fp 3:7-9; Gl 2:19-20


Filipenses 3:9 diz: “E ser achado nele, não tendo
justiça própria, que procede de lei, senão a que é
mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de
Deus, baseada na fé”. De acordo com esse versículo, a
justiça própria de Paulo estava intimamente
relacionada com a lei. Se desejamos ser achados em
Cristo, devemos preencher a condição de não ter
justiça própria, que procede da lei, mas a justiça que
não é nossa: a que é mediante a fé em Cristo, a justiça
que é de Deus baseada na fé. Portanto, o título desta
mensagem é: “Se; Achado em Cristo, na Justiça de
Deus, mediante a Fé em Cristo”. Na justiça de Deus
podemos ser achados em Cristo e essa justiça é
mediante a fé em Cristo.

A EXCELÊNCIA DO CONHECIMENTO DE
CRISTO
Em 3:8 Paulo fala da “excelência do
conhecimento de Cristo Jesus” (VRC). A excelência
do conhecimento de Cristo não se refere ao
conhecimento que Cristo tem refere-se a conhecer
Cristo. E o conhecimento pelo qual conhecemos que
tipo de Cristo Ele é. Esse conhecimento tem sua
excelência.
Paulo obteve a excelência do conhecimento de
220

Cristo por meio de revelação. Quando estava no


judaísmo, ele estava sob a lei. Sua visão e pensamento
estavam ocupados com a lei. Ele sinceramente
buscava o conhecimento da lei e o perseguia. Para ele,
o conhecimento da lei era tão excelente que ele até
queria sacrificar-se por ele. Mas um dia no caminho
de Damasco, o Senhor lhe abriu os olhos para ver a
economia divina com respeito a Cristo. Daí em diante
Paulo voltou-se da excelência do conhecimento da lei
para a excelência do conhecimento de Cristo.
Nos livros de Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses, Cristo não é apenas revelado como
alguém todo-inclusivo, mas também todo-extensivo.
O próprio Cristo é a largura, o comprimento, a altura
e a profundidade. Como tal, Suas dimensões são
imensuráveis. Quem pode medir essa altura ou
profundidade? Pedro recebeu a revelação de que
Cristo é o Filho do Deus vivo para a edificação da
igreja. No entanto, não viu tanto sobre Cristo quanto
Paulo. A revelação dada a Paulo resultou num
conhecimento excelente da extensão de Cristo.
Por causa da excelência desse conhecimento,
Paulo estava disposto a sofrer a perda de todas as
coisas e considerá-las refugo. Em outras palavras,
após ver a revelação com respeito a Cristo, as demais
tornaram-se refugo, lixo, esterco. Espontaneamente
ele percebeu que não somente a religião era refugo,
comida para cães, mas a cultura era também um
refugo. Por que ele considerou todas as coisas como
perda? Foi por causa da excelência do conhecimento
do Cristo extensivo e todo-inclusivo. Além disso, ele
desejava considerar todas as coisas como perda a fim
de ganhar Cristo.
221

GANHAR CRISTO E SER ACHADO NELE


Ter a revelação com respeito a Cristo não quer
dizer que já tenhamos ganhado Cristo. Após ter a
revelação, havia a necessidade de Paulo prosseguir
para ganhar Cristo. Do mesmo modo, podemos ter a
excelência do conhecimento de Cristo, mas Cristo
pode ainda não ser nosso na experiência. Portanto,
assim como Paulo, precisamos buscar a Cristo a fim
de ganhá-Lo.
No fim do versículo 8, Paulo fala de ganhar
Cristo, e, no 9, fala de ser achado Nele. Esses são dois
aspectos de uma só coisa. Paulo desejava ganhar
Cristo e ser achado Nele. Ter a excelência do
conhecimento de Cristo é uma coisa; ganhar Cristo e
ser achado Nele é outra. Embora eu tenha tido a
revelação com respeito à extensão e
todo-inclusividade de Cristo, posso ser achado na
ética, na cultura ou no bom comportamento, e não
em Cristo. Se alguém visitá-lo em casa, você será
achado em Cristo? Você pode declarar: “Aleluia, estou
em Cristo! Fui transferido de Adão para Cristo”. No
entanto, isso pode ser mera declaração, e não um fato
de experiência real.
Em 2:14 Paulo diz: “Fazei tudo sem
murmurações nem contendas”. [O termo contendas
pode ser traduzido por arrazoamentos.] Em vez de
ser achados em Cristo, podemos ser achados em
nossas murmurações e arrazoamentos. Por exemplo,
a mulher pode murmurar para o marido, e ele pode
reagir arrazoando com ela. Em tal caso, nem a mulher
nem o marido são achados em Cristo.
Temos falado muito sobre Cristo versus religião,
cultura e filosofia. Contudo, na maior parte do tempo
222

somos achados em nossa cultura, na religião


auto-imposta, e na filosofia autoconfeccionada.
Podemos maquiar-nos com certa política para
prosseguir na vida conjugal ou na vida da igreja.
Portanto, os outros podem não nos achar em Cristo,
mas na política autoconfeccionada com respeito à
vida conjugal e à igreja. Essa política pode ser a fonte
de muitas murmurações, arrazoamentos e críticas.
Podemos também usar essa política como padrão
para medir os outros. Oh! é crucial que, tendo a
excelência do conhecimento de Cristo, nós O
ganhemos e sejamos achados Nele!

UMA CONDIÇÃO NECESSÁRIA


Temos enfatizado que há um requisito ou
condição para que sejamos achados em Cristo. Essa
condição é não ter justiça própria, que provém da lei,
mas a justiça que procede de Deus, baseada na fé.
Algumas vezes pode parecer-nos que somos achados
em Cristo. No entanto, não haverá realidade nesses
momentos a não ser que preenchamos a condição de
ter a justiça de Deus por intermédio da fé de Cristo.
Repito, precisamos ser achados em Cristo na justiça
de Deus mediante a fé em Cristo. A frase “na justiça
de Deus” usada no título desta mensagem aponta
para o fato de que essa é a condição de ser achado em
Cristo em realidade. Assim, o aspecto crucial da
condição é a justiça de Deus.

A JUSTIÇA DE DEUS E A JUSTIÇA PRÓPRIA


Neste ponto gostaria de apresentar nova
definição, ou interpretação, de justiça, encontrada em
3:9. Nesse versículo justiça significa um viver diário
223

justo com Deus e com o homem. Falando de seu


passado, Paulo diz em 3:6 que “quanto à justiça que
há na lei” ele se tomara irrepreensível. Antes de ser
transferido para Cristo, ele era um fariseu
irrepreensível na lei. Ele achava que, no viver diário,
era justo com o homem e com Deus. Na verdade, ele
não era justo com Deus de modo algum. A justiça que
representa um viver, de fato, justo com Deus e com o
homem deve proceder de Deus. A expressão “justiça
de Deus” não significa simplesmente que ajustiça
pertence a Deus; também quer dizer que essa justiça é
o próprio Deus. Por exemplo, os termos vida de Deus,
luz de Deus e amor de Deus não significam
meramente que a vida, a luz e o amor pertencem a
Deus. A vida de Deus é o próprio Deus. O mesmo
ocorre com relação à luz de Deus e ao amor de Deus.
O próprio Deus é luz e amor. Em princípio, isso é
também verdade com relação à justiça de Deus.
Assim como a vida de Deus e a luz de Deus são o
próprio Deus, a justiça de Deus também é o próprio
Deus. Portanto, o viver que é correto tanto com Deus
como com o homem deve ser Deus como nossa
expressão no viver diário, o próprio Deus
exteriorizado por nós.
Isso se toma mais claro quando consideramos o
que significa falar de justiça própria. Justiça própria é
a expressão de nós mesmos, a expressão do “eu”.
Minha justiça é exatamente a exteriorização de mim
mesmo. Mas a justiça de Deus é Deus manifestado em
nós. É Deus tomando-se nosso viver diário e
expressão. Quando amamos aos outros, nosso amor é
Deus expresso. Além do mais, nossa humildade não é
uma humildade ética: é divina, é o próprio Deus
224

manifestado em nós. Se desejamos ser achados em


Cristo, devemos estar numa condição em que Deus se
expresse por meio de nós e se tome nosso viver diário.
Quando era jovem, pensava que a justiça no
versículo 9 se referia à justiça que Deus nos dá por
meio da justificação. Contudo, por muitos anos tive o
sentimento profundo de que esse não era o
significado exato de justiça aqui. Um dia percebi que
ajustiça de Deus em 3:9 é, na verdade, o próprio Deus
tomando-se nosso viver diário. Se queremos ter essa
justiça, devemos ter um viver que é a expressão de
Deus. Devemos preencher essa condição a fim de ser
achados em Cristo em realidade.

A FÉ DE CRISTO
Como pode a justiça de Deus tornar-se nosso
viver diário? Somente mediante a fé em Cristo. Assim
como a justiça de Deus é o próprio Deus, a fé em
Cristo é o próprio Cristo. A fé em Cristo não é
simplesmente algo que pertence a Cristo; é, na
verdade, o próprio Cristo. Somente pelo ouvir da
Palavra a fé em Cristo pode tornar-se nossa. Por
intermédio da Palavra temos o elemento de Cristo
infundido em nós. Ao mesmo tempo,
experimentamos a função do Espírito. O resultado
dessa infusão e função é a fé que resulta numa união
orgânica entre nós e o Deus Triúno. Essa fé, que é de
fato o próprio Cristo, faz com que sejamos
organicamente unidos a Deus. Em tal união orgânica,
nós e Deus somos um só espírito. Nós vivemos, e
Deus vive em nós. Deus vive, e nós vivemos Nele.
Não devemos pensar que estamos em Deus, mas
Ele não esteja em nós, ou que Ele está em nós, mas
225

nós não estamos Nele. Pelo contrário, há uma relação


mútua entre nós e Deus: nós estamos Nele, e Ele está
em nós. Por essa razão o Senhor Jesus pôde dizer:
“Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós”
(10 15:4).
Por meio da união orgânica que nos une ao Deus
Triúno e nos faz um espírito com Ele, temos a justiça
de Deus. Essa justiça de Deus decididamente não
procede da lei. Ela provém totalmente da fé. Na união
orgânica produzida pela fé, nós expressamos Deus, e
Deus se expressa de nosso interior e se toma justiça
para nós. Quando estamos nessa justiça, estamos na
condição adequada para ser achados em Cristo. A
idéia aqui é muito profunda. Mas se a virmos,
experimentaremos o aspecto mais elevado da
salvação de Deus e seremos resgatados de tudo o
mais. Que todos anelemos ganhar Cristo e ser
achados Nele em tal condição.

O ESPÍRITO E A PALAVRA
Para que tenhamos entendimento adequado de
3:9 devemos considerá-lo de acordo com o contexto
de todo o livro de Filipenses. Em 1:19 Paulo fala da
provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo. Essa
provisão abundante não apenas pertence ao Espírito;
na verdade, é o próprio Espírito. No mesmo princípio
a expressão o Espírito de Jesus Cristo não significa
que o Espírito simplesmente pertence a Cristo; quer
dizer que o Espírito é Cristo. Assim como o Filho de
Deus é o próprio Deus, o Espírito de Cristo é o
próprio Cristo. Cristo é o Espírito, e o Espírito é a
provisão abundante.
Em 2:16 Paulo passa a falar da palavra da vida.
226

Mais uma vez vemos que a palavra aqui não pertence


simplesmente à vida, mas, na verdade, é vida. Na
linguagem do Novo Testamento, a palavra da vida é a
própria vida. Primeira João 1:1 menciona o Verbo da
vida, e em João 6:63 o Senhor Jesus diz que as
palavras que Ele fala são vida. No livro de Filipenses,
por um lado, temos o Espírito de Jesus Cristo como
provisão e, por outro, a palavra da vida como o meio.
Precisamos considerar os três primeiros
capítulos de Filipenses como um todo e colocar juntos
a provisão do Espírito, a palavra da vida e ajustiça
que é de Deus baseada na fé. Quando em nossa
experiência temos o Espírito, a palavra e a fé, temos o
próprio Deus infundido em nós. Então o próprio
Deus infundido em nós toma-se nosso viver diário, o
viver que Paulo descreve como justiça de Deus.

INFUNDIDOS COM DEUS


Quando temos a provisão do Espírito, a palavra
da vida e a justiça de Deus mediante a fé, temos Deus
infundido em nós, o qual será, então, manifestado em
nós como nossa vida diária. Tal vida diária pode ser
chamada a justiça de Deus. Isso não é apenas ganhar
Cristo; é a experiência e o desfrute de Cristo de
maneira muito prática. Isso é ser achado em Cristo
sob a condição de desfrutar a infusão de Deus para
que O manifestemos por meio da provisão do
Espírito, da palavra da vida e da justiça de Deus
mediante a fé. Estou plenamente persuadido e
convencido de que esse era o conceito de Paulo
quando compôs o livro de Filipenses.
Paulo era muito experiente nessa questão. A
partir da palavra da vida e por meio da provisão do
227

Espírito, ele obteve fé. Essa fé trouxe a ele a infusão


de Deus. Espontaneamente ele manifestava Deus
como seu viver diário e podia ser achado em Cristo,
tendo a justiça de Deus. A sua expectativa e também
aspiração era ser sempre achado em Cristo em tal
condição. Ele não desejava somente ganhar Cristo,
mas também ser achado Nele em tal maravilhosa
condição para que as pessoas reconhecessem que ele
era um homem que expressava Deus ao falar. Como
tal, ele não era um homem na cultura, na religião, na
filosofia, na ética ou na moralidade; era
absolutamente um homem em Cristo que, ao falar,
manifestava Deus como sua vida diária.
228

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E DOIS
OBTER CRISTO EXPERIMENTANDO O PODER DE
SUA RESSURREIÇÃO

Leitura Bíblica: Fp 3:10-16; Rm 1:4; 8:ll


Os quatro livros que constituem o coração da
revelação divina: Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses, são uma mina inesgotável. Quanto mais
a cavamos, mais percebemos que suas riquezas são
inesgotáveis. Em um só versículo, Filipenses 3:10,
vemos pelo menos quatro “diamantes”. Aqui Paulo
primeiramente diz “para o conhecer”. O pronome “o”
aqui denota Cristo como Aquele que é todo-inclusivo.
Em segundo lugar, o versículo fala do poder da
ressurreição de Cristo; em terceiro, da comunhão de
Seus sofrimentos; em quarto, de ser conformado à
Sua morte. Que riquezas há nesse versículo!
No versículo 11 Paulo prossegue: “Para, de algum
modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
[Como vimos em mensagens anteriores, o vocábulo
ressurreição pode ser traduzido por ressurreição
extraordinária.] Aqui encontramos outro
“diamante”: a ressurreição extraordinária dentre os
mortos, a ressurreição notável.
Em 3:7-16 Paulo usa pelo menos três palavras
gregas para expressar o pensamento de ganhar. No
versículo 8 ele diz que sofreu a perda de todas as
coisas e as considerou como refugo para “ganhar a
Cristo”. A palavra grega significa segurar, obter,
conquistar. No versículo 12, Paulo usa duas outras
229

palavras que significam obter e conquistar. Assim, ele


fala de ganhar, obter e conquistar Cristo. Conquistar
significa agarrar ou possuir. O desejo de Paulo era
não somente ganhar Cristo, mas também obtê-Lo e
até mesmo conquistá-Lo.
De acordo com o versículo 12, o desejo de Paulo
era conquistar aquilo para o que também fora
conquistado por Cristo Jesus. No caminho para
Damasco, ele perguntou ao que lhe aparecera: “Quem
és tu, Senhor?” (At 9:5). Quando o Senhor respondeu:
“Eu sou Jesus”, Ele conquistou Paulo. Agora, em
Filipenses, Paulo diz que buscava conquistar aquilo
para o que Cristo o havia conquistado.
Quando fomos salvos, Cristo nos conquistou.
Talvez não tenhamos percebido isso no princípio.
Mas como todos os que tentaram escapar de Seu
domínio percebem, é impossível fugir Dele. Cristo de
fato nos conquistou para que O ganhemos,
obtenhamos e conquistemos.

OS TRÊS ESTÁGIOS DE APODERAR-SE DE


CRISTO
O fato de Paulo ter usado três vocábulos gregos
para expressar a idéia de ganhar indica que o desejo
do Senhor é que nós O ganhemos, obtenhamos e
conquistemos. Alguns leitores podem achar que essas
expressões são meras repetições. Contudo” em vez de
ser repetitivas, elas apontam três estágios para
apoderar-se de Cristo. No versículo 8 Paulo diz:
“Perdi todas as coisas e as considero como refugo,
para ganhar a Cristo”. Isso marca o início de
apoderar-se do Senhor. No versículo 10 ele
prossegue: “Para o conhecer, e o poder da sua
230

ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos,


conformando-me com ele na sua morte”. Temos aqui
o segundo estágio, o processo de obter Cristo. O que
temos nesse versículo é, na verdade, a maneira de
obtê-Lo. Por fim, no terceiro estágio, nós O
conquistamos (v. 12). Essa é a finalização de
apoderar-se de Cristo.
Todos experimentamos o primeiro estágio, pois
todos ganhamos Cristo. Quando cremos no Senhor e
O recebemos, nós O ganhamos. Esse foi o começo de
nosso ganhá-Lo. Agora precisamos ganhá-Lo
continuamente. Ganhá-Lo continuamente é obtê-Lo.
Por fim, a finalização desse processo é que O
conquistamos.
Sabemos pelo versículo 12que Paulo não se
considerava alguém que já tivesse obtido. Aqui ele
parece dizer: “Eu ainda não obtive, mas estou no
caminho. Estou no processo de obter Cristo para
conquistá-Lo”.
Nos versículos 8, 10 e 12 vemos o ganhar inicial
de Cristo, o ganhá-Lo continuamente, que é a
obtenção, e o conquistá-Lo, que é a finalização da
obtenção. Nesta mensagem meu encargo não é falar
do ganhar inicial nem do conquistar final de Cristo.
Meu encargo está relacionado com o processo da
obtenção contínua de Cristo, processo que ocorre
entre o ganhar inicial e a conquista final.

SOFRER PELO CORPO


Esse processo de obter Cristo, revelado no
versículo 10, é conhecê-Lo e o poder de Sua
ressurreição. Contudo, se quisermos conhecer o
poder da ressurreição de Cristo, devemos partilhar
231

Seus sofrimentos e conhecer a comunhão de Seus


sofrimentos.
Num sentido bastante real, os sofrimentos de
Cristo ainda não foram completados. Quando alguns
ouvem isso, podem dizer: “Cristo morreu, foi
sepultado e ressuscitado uma vez por todas. Agora
está no trono. Como você pode dizer que Seus
sofrimentos não foram completados?” Considere a
palavra de Paulo em Colossenses 1:24: “Agora, me
regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o
que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a
favor do seu corpo, que é a igreja”. Certamente, Cristo
está no trono, mas ainda falta algo em relação aos
Seus sofrimentos. Como Cabeça, os sofrimentos de
Cristo estão completados. Mas os Seus sofrimentos
pelo Corpo ainda não estão finalizados. Tais
sofrimentos são também chamados “Seus
sofrimentos”. Além disso, em Colossenses 1:24 Paulo
considerava seus próprios sofrimentos o
preenchimento do que restava dos sofrimentos de
Cristo pelo Corpo. Por essa razão, ele indica em
Filipenses 3:10 que precisamos partilhar dos
sofrimentos de Cristo. Os sofrimentos de Cristo pelo
Corpo ainda ocorrem hoje, e precisamos partilhá-los.
Quando estava na terra, Ele sofreu. Como os que O
seguem, devemos partilhar os Seus sofrimentos pelo
Seu Corpo. Se desejamos conhecer Cristo
experimentando o poder da Sua ressurreição,
devemos partilhar Seus sofrimentos. O processo de
obter Cristo está relacionado com a Sua ressurreição,
sofrimentos e morte. Para conhecê-Lo devemos
partilhar Seus sofrimentos e ser conformados à Sua
morte para experimentar o poder de Sua
232

ressurreição.

LIVRES DE OBSTÁCULOS TERRRENOS


Filipenses 3:10 começa com a oração
subordinada “para o conhecer”. Essa oração está
ligada a uma oração encontrada nos versículos 8 e 9:
“Para ganhar a Cristo e ser achado nele”. Primeiro
precisamos sofrer a perda de todas as coisas e
considerá-las como refugo para ganhar a Cristo.
Ganhar a Cristo desse modo não é simplesmente crer
Nele ou recebe-Lo. É considerar todas as coisas como
perda, sofrer a perda de todas as coisas e
considerá-las como refugo. Paulo era alguém que
sofria a perda de todas as coisas e as considerava
como refugo. Ele era livre de todos os obstáculos
terrenos. Para ganhar a Cristo, ele abandonara tudo,
incluindo religião e cultura, e considerava tudo como
refugo, lixo, comida de cachorro. Portanto, o caminho
estava limpo para ele ganhar a Cristo e ser achado
Nele a fim de conhecê-Lo.
A expressão “para o conhecer” é uma tradução
literal do grego. Muitas traduções, no entanto, não
usam o infinitivo. Em vez disso, dizem “para que eu
venha a conhecê-Lo” ou “a fim de que possa
conhecê-Lo”. No entanto, de acordo com o grego,
Paulo dizia que ele queria ganhar a Cristo e ser
achado Nele para conhecê-Lo. Assim como Paulo,
precisamos ser libertados de todos os obstáculos
terrenos e também considerar todas as coisas como
refugo. Então seremos capazes de dizer: “Senhor
Jesus, eu me importo somente Contigo. Quero
ganhar-Te, ser achado em Ti e conhecer-Te”.
Temos enfatizado que obter no versículo 12 é
233

continuação do ganhar Cristo no versículo 8. ° desejo


de Paulo era ganhar a Cristo a fim de conhecê-Lo e
obtê-Lo. Ele procurava ganhar Cristo para obtê-Lo
conhecendo-O, conhecendo também o poder de Sua
ressurreição e a comunhão de Seus sofrimentos.

A RESSURREIÇÃO E OS SOFRIMENTOS DE
CRISTO
“Para o conhecer” refere-se a conhecer Cristo de
maneira geral. Mas conhecer o poder da ressurreição
de Cristo e a comunhão de Seus sofrimentos e ser
conformado à Sua morte são detalhes relacionados
com conhecer Cristo. Na verdade conhecer Cristo
aqui quer dizer conhecer o poder de Sua ressurreição
e a comunhão de Seus sofrimentos. Alguns cristãos
afirmam que têm conhecido Cristo por anos, mas não
conhecem o poder da Sua ressurreição, embora
possam perceber que Cristo é poderoso e que
demonstrou Seu poder ressuscitando a Lázaro dentre
os mortos. Contudo, a ressurreição de Lázaro é
bastante diferente do poder da ressurreição de Cristo.
Lázaro, mais tarde, morreu e foi novamente
sepultado, mas a ressurreição de Cristo foi uma
ressurreição que O conduziu ao trono. Quando Paulo
fala do poder da ressurreição de Cristo, ele tem em
mente algo diferente do poder manifestado na
ressurreição de Lázaro. Ele fala de uma ressurreição
que pode ser chamada a ressurreição de Cristo. Ele
queria conhecer o poder da Sua ressurreição.
No versículo 10 Paulo menciona a comunhão dos
sofrimentos de Cristo. É possível sofrer sem
participar dos sofrimentos de Cristo. Por exemplo,
alguém pode perder o emprego porque deixou de
234

trabalhar adequadamente, e isso pode fazer com que


ele sofra. Mas esse sofrimento nada tem a ver com os
sofrimentos de Cristo.
Também há diferença entre os sofrimentos que
são para a transformação e os que são para o Corpo. O
que Paulo diz em 3:10 não se refere ao sofrimento
para transformação. Se compararmos 3:10 com
Colossenses 1:24, veremos que os sofrimentos sobre
os quais ele fala aqui são os que completam a carência
das aflições de Cristo pelo Corpo. É quando sofrermos
pelo Corpo que experimentaremos o poder da
ressurreição de Cristo. Sem dúvida, os sofrimentos
são necessários para que sejamos, transformados.
Mas não devemos identificar tais sofrimentos com os
de Cristo, pois Ele não sofreu dessa maneira.
Muitos cristãos não têm nem mesmo
entendimento adequado dos sofrimentos que são
para a transformação, muito menos dos que são para
o Corpo. Alguns mestres da Bíblia enfatizam o
sofrimento como disciplina ou punição. Advertem os
outros a obedecer ao Senhor e a andar de acordo com
a Palavra de Deus, senão serão disciplinados por Ele.
Alguns usam Hebreus 12 para enfatizar que os
sofrimentos podem colaborar para nos santificar (v.
11). Contudo, nem sempre explicam o que significa
ser santo.
No livro de Romanos Paulo não fala de
sofrimento como disciplina. No entanto, ele se refere
à transformação e à conformação. Romanos 8:28 diz
que todas as coisas cooperam para o bem dos que
amam a Deus. Alguns mestres da Bíblia dão muita
ênfase a esse versículo sem conectá-lo ao versículo
seguinte, que indica que a intenção de Deus é
235

conformar-nos à imagem de Seu Filho. Essa


conformação é o resultado da transformação. Todas
as coisas cooperam para o nosso bem para que
sejamos transformados e conformados à imagem do
Filho de Deus. Sem dúvida, esse processo envolve
sofrimento, sofrimento esse que nos ajuda a
tornar-nos filhos maduros. À medida que passamos
por tal sofrimento, podemos também experimentar o
poder da ressurreição de Cristo, mas não tanto
quanto em nosso sofrimento pelo Corpo.
Assim como há mais de um tipo de sofrimento,
há mais de um tipo de ressurreição. Todos os mortos
serão ressuscitados, alguns para a “ressurreição da
vida” e outros para a “ressurreição do juízo” (10 5:29).
O tipo de ressurreição com o qual estamos
preocupados nesta mensagem é a ressurreição de
Cristo e seu poder. Poucos cristãos conhecem o poder
dessa ressurreição única.
Conhecer o poder da ressurreição de Cristo está
relacionado com conhecer a comunhão de Seus
sofrimentos. Paulo experimentou o poder da
ressurreição de Cristo dessa maneira. Quando
sofrermos em benefício do Corpo, em nome de Cristo,
também experimentaremos o poder de Sua
ressurreição. Posso testificar que quando sou ousado
em permanecer com o Senhor, experimento a unção e
o poder. Contudo, se você tem vergonha de dizer que
é cristão, especialmente na vida da igreja, não terá
nenhum poder. Mas, se testificar que é um cristão que
permanece na base da igreja, você receberá poder.

CONFORMADOS À SUA MORTE


À medida que participamos dos sofrimentos de
236

Cristo pelo Corpo, somos conformados à Sua morte.


Quando o Senhor Jesus estava na terra, Ele estava
morto para qualquer coisa que não fosse Deus,
incluindo família e parentes. Ele viveu uma vida
crucificada; continuamente punha a vida natural na
morte. Vivendo tal vida crucificada, Ele estava vivo
para Deus e O vivia.
Quando desejarmos sofrer por Cristo e Seu
Corpo, também seremos mortos para tudo que não
seja Ele, e viveremos somente para Ele. Então
seremos, de fato, conformados à Sua morte, pois dela
participaremos. Dia após dia experimentaremos o
poder de Sua ressurreição. Essa é a maneira de
conhecer Cristo de modo experimental. Ao conhecer
Cristo desse modo, experimentando-O no poder de
Sua ressurreição, nós O obtemos.

A REALIDADE DA RESSURREIÇÃO DE
CRISTO
A realidade do poder da ressurreição de Cristo é
o Espírito. Romanos 1:4 prova isso dizendo que Cristo
foi “designado Filho de Deus com poder, segundo o
espírito de santidade pela ressurreição dos mortos”.
Além disso, Romanos 8:11 diz: “Se habita em vós o
Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos vivificará também o vosso corpo
mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita”.
Esses dois versículos indicam que o Espírito é a
realidade do poder da ressurreição de Cristo. Na
verdade, o próprio Cristo é o poder de Sua
ressurreição, e o Espírito é Cristo em ressurreição.
Precisamos experimentar esse poder para obter
237

Cristo.

O PODER INTRÍNSECO DA VIDA DIVINA


Há diferença entre o poder da ressurreição de
Cristo e Seu poder exibido na criação. A criação
testifica que Deus é poderoso: “Porque os atributos
invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como
também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas”
(Rm 1:20). Contudo, o que necessitamos
experimentar para o Corpo não é o poder de criação
de Deus, mas o poder da ressurreição de Cristo. O
poder da ressurreição não é físico ou exterior; é
interior e intrínseco. Como tal, é um poder de vida. Se
desejamos obter Cristo, devemos experimentar esse
poder de vida intrínseco. Quanto mais
experimentamos o poder da Sua ressurreição, mais
obtemos Cristo. Assim, nós O obtemos
experimentando o poder de Sua ressurreição.
Para exibir o poder intrínseco de Sua
ressurreição, Cristo primeiramente tomou-se um
homem. Então morreu e visitou o Hades, a esfera dos
mortos. Por meio de Sua ressurreição, o poder
intrínseco de vida foi manifestado Nele. Os anjos não
podem experimentar esse poder. Mas nós, seres
humanos, de carne e sangue, podemos, se
participarmos dos sofrimentos de Cristo e formos
conformados à Sua morte.
Muitos cristãos hoje enfatizam o poder criativo
de Cristo, e não o poder da Sua ressurreição. Quando
falam do poder de Cristo, pensam no poder criativo, e
não no poder de ressurreição. Como Aquele que
238

passou pela morte, para nunca morrer novamente,


Cristo manifestou em Sua ressurreição o poder
intrínseco da vida divina. Esse é o poder de Sua
ressurreição. Experimentando o poder da Sua
ressurreição obtemos Cristo em realidade.
239

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E TRÊS
OBTER CRISTO ALCANÇANDO A RESSURREIÇÃO
EXTRAORDINÁRIA

Leitura Bíblica: Fp. 3:10-14


Em 3:10-14 Paulo enfatiza a ressurreição
extraordinária. O versículo 11 diz: “Para, de algum
modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”. [O
termo ressurreição também pode ser traduzido por
ressurreição extraordinária.] O empenho de Paulo
era atingir essa ressurreição notável. No versículo 12
ele prossegue: “Não que eu o tenha já recebido ou
tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado
por Cristo Jesus”. Aqui ele admite que ainda não
alcançara a ressurreição extraordinária, mas
prosseguia para conquistá-la. Para essa ressurreição
extraordinária, Cristo o havia conquistado, e agora o
desejo dele era conquistá-la. O propósito de Cristo ao
conquistá-lo era que ele obtivesse a ressurreição
extraordinária. Portanto, nos versículos 11 e 12, a
ressurreição extraordinária é o alvo de Paulo, o objeto
de sua busca.
Nos versículos 13 e 14 Paulo continua: “Irmãos,
quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma
coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás
ficam e avançando para as que diante de mim estão,
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus”. [A expressão
soberana vocação também pode ser traduzida por
240

chamamento do alto.] Aqui vemos que Paulo


reconhecia que ele mesmo não tinha ainda
conquistado a ressurreição extraordinária. Contudo,
ele prosseguia em direção ao alvo, o alvo da
ressurreição extraordinária, para o prêmio do
chamamento do alto de Deus em Cristo Jesus.

O ALVO E O PRÊMIO
Há uma diferença entre o alvo e o premio. Paulo
prosseguia para o alvo, para o prêmio do
chamamento do alto de Deus. Todo chamamento tem
um propósito com um alvo. Quais são o propósito e o
alvo do chamamento do alto de Deus? A expressão
“chamamento do alto” usada aqui não significa que a
chamada é elevada; quer dizer que essa chamada é do
alto, isto é, proveniente dos céus. Traduzido
literalmente, o grego significa “a chamada de cima”.
Em Hebreus 3:1, Paulo usa o termo “vocação
celestial”, ou chamamento celestial. A ressurreição
extraordinária é tanto o propósito como o alvo do
chamamento do alto de Deus. Portanto, se
considerarmos 3:10-14 cuidadosamente,
perceberemos que a ressurreição extraordinária é o
assunto de Paulo.
O termo “ressurreição extraordinária” é
encontrado na Bíblia somente em 3:11. De acordo
com meu conhecimento, a maior parte das traduções
ignoram o prefixo grego ek, que significa “fora”. Aqui
Paulo adiciona esse prefixo à palavra grega usual para
ressurreição. Qual era sua razão para fazer isso? De
acordo com sua visão e experiência, ele percebeu que
a intenção de Deus no universo está totalmente
relacionada com algo que é novo, algo em
241

ressurreição, mas ressurreição num sentido bastante


particular, e não num sentido comum.

PARA FORA DA VELHA CRIAÇÃO E


INTRODUZIDO NA NOVA CRIAÇÃO
O significado comum de ressurreição é que algo
morre e vem à vida novamente. Lázaro foi
ressuscitado desse modo. Ele tinha morri do, fora
sepultado e até mesmo começara a cheirar mal. Então
o Senhor Jesus veio e clamou: “Lázaro, vem para
fora!” e Lázaro saiu da tumba (10 11:43-44). A
ressurreição de Lázaro foi um caso de ressurreição
extraordinária? Não. Embora tenha sido ressuscitado
dentre os mortos e trazido à vida novamente, nada da
nova criação foi trabalhado nele. Em vez disso, ele
continuou a ser uma pessoa na velha criação. No
máximo, ele experimentou a restauração; foi
restaurado da morte para a vida natural. Mas não foi
regenerado naquele momento nem recebeu nova
constituição. Você já ouviu uma mensagem dizendo
que a ressurreição de Lázaro foi ainda na esfera da
velha criação e que ele não foi ressuscitado na nova
criação? Prova-se que Lázaro não foi introduzido na
nova criação mediante a ressurreição, pois um dia ele
morreu novamente e seu corpo antes ressuscitado foi
novamente colocado numa tumba.
A ressurreição extraordinária em 3:11 é muito
diferente da ressurreição de Lázaro. Paulo esperava
retomar à tumba uma vez que obtivesse a
ressurreição extraordinária? Certamente não! A
ressurreição que ele buscava em Filipenses 3 era algo
absolutamente fora da velha criação e introduzido na
nova criação. O que ele denomina a ressurreição
242

extraordinária refere-se à ressurreição para fora da


velha criação e que o introduziu na nova criação.

O ALVO DE PAULO
De acordo com a gramática, a ressurreição
extraordinária no versículo 11 é o alvo do que Paulo
buscava no versículo 10. Nesses versículos ele diz:
“Para O conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a
comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me
com Ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar
a ressurreição extraordinária dentre os mortos” (lit.).
No versículo 10 vemos que ele almejava conhecer
Cristo, o poder de Sua ressurreição e a comunhão dos
Seus sofrimentos, sendo conformado à Sua morte. Ele
desejava conhecer, experimentar e desfrutar Cristo. O
seu alvo é encontrado no versículo 11: alcançar a
ressurreição extraordinária. De fato, esse não é o alvo
somente do versículo 10, mas também dos versículos
8 e 9. Ele considerava todas as coisas como refugo
para ganhar a Cristo (v. 8) e ser achado Nele (v. 9),
conhecer Cristo, o poder de Sua ressurreição e a
comunhão dos Seus sofrimentos, sendo conformado à
Sua morte, para alcançar a ressurreição
extraordinária. De acordo com a gramática, essa é a
interpretação adequada dos versículos 8 a 11. O alvo
de Paulo era alcançar a ressurreição extraordinária.
Nesta mensagem precisamos considerar como
atingir o alvo da ressurreição extraordinária. Para
isso, devemos conhecer Cristo no poder de Sua
ressurreição, na comunhão dos Seus sofrimentos e na
conformação à Sua morte.

MORRER PARA A VELHA CRIAÇÃO E VIVER


243

PARA DEUS
Pela encarnação o Senhor Jesus vestiu a natureza
humana. Ele vestiu um corpo de sangue e carne. Esse
corpo pertencia à velha criação ou à nova criação?
Sangue e carne são parte da velha criação. Primeira
Coríntios 15:50 diz que “a carne e o sangue não
podem herdar o reino de Deus”. Isso inclui a carne e o
sangue do Senhor Jesus. O princípio aqui é que nada
que pertença à velha criação tem algo a ver com o
reino de Deus. Portanto, o corpo vestido pelo Senhor
Jesus pertencia à velha criação.
Nos anos em que viveu na terra, o Senhor Jesus
teve um viver humano. Esse viver era parte da velha
criação ou da nova criação? Embora tivesse um corpo
de carne e sangue pertencente à velha criação e
embora vivesse no ambiente da velha criação, a vida
que Ele vivia não pertencia à velha criação. Pelo
contrário, pertencia completamente à nova criação.
Mas como poderia Ele, uma pessoa com corpo
pertencente à velha criação e habitando num
ambiente da velha criação, viver uma vida que
pertencia à nova criação? Ele podia fazer isso
morrendo continuamente para seu corpo e ambiente
da velha criação e vivendo para Deus. Essa era a
maneira que Ele vivia uma vida que pertencia
inteiramente à nova criação.
Não devemos pensar que o Senhor Jesus morreu
somente quando foi crucificado. Não, Ele começou a
morrer, isto é, a ter um viver crucificado, logo que
nasceu. Ele certamente viveu uma vida humana, mas
foi uma vida crucificada. Vivendo uma vida
crucificada Ele morria para a velha criação.
O fato de o Senhor ter vivido uma vida
244

crucificada é ilustrado por um incidente que ocorreu


aos doze anos de idade. Quando Seus pais O
encontraram após gastar dias procurando por Ele,
Sua mãe disse: “Filho, por que fizeste assim conosco?
Eis que Teu pai e eu, aflitos, Te procurávamos” (Lc
2:48). O Senhor Jesus respondeu: “Porque é que Me
procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-Me das
coisas de Meu Pai?” (v. 49). Aqui vemos que, mesmo
quando tinha doze anos, o Senhor vivia uma vida
crucificada. Por meio de sua mãe, Maria, Ele recebera
a vida da velha criação. Mas em vez de viver de acordo
com a vida da velha criação, Ele morria para ela e
vivia de acordo com outra vida, de acordo com a vida
de Seu Pai.
João 6:57 ajuda-nos a entender isso. Aqui o
Senhor Jesus disse: “Assim como Cl Pai, que vive, Me
enviou, e Eu vivo por causa do Pai”. Sim, o Senhor
Jesus vivia, mas vivia por causa do Pai. O Pai vivia
Nele e Ele vivia o Pai. Isso quer dizer que Ele não
vivia a vida da velha criação recebida de Sua mãe.
Portanto, embora tivesse um corpo pertencente à
velha criação e estivesse no ambiente da velha
criação, Ele não vivia a vida da velha criação. Antes,
vivia urna vida que é divina e eterna, a vida de Deus
exteriorizada na velha criação. Tal viver é o elemento
da nova criação.
Paulo fala duas vezes sobre a nova criação. Em
Gálatas 6:15 ele diz: “Pois nem a circuncisão é coisa
alguma nem a incircuncisão, mas o ser urna nova
criação” (TB). Em 2 Coríntios 5:17 ele declara: “Se
alguém está em Cristo, é urna nova criação” (TB).
Quando começou essa nova criação? A velha criação
começou em Gênesis 1:1, um versículo que diz: “No
245

princípio, criou Deus os céus e a terra”. A nova


criação teve seu início quando o Senhor Jesus
começou a viver outra vida, urna vida crucificada. Ele
viveu a vida da nova criação estando num corpo
pertencente à velha criação e no ambiente da velha
criação. À medida que vivia desse modo, Ele
continuamente morria para todas as coisas da velha
criação.
Um dia, com a ajuda de Satanás e seus
seguidores, o corpo do Senhor Jesus foi real e
cabalmente levado à morte. Depois Seu corpo da
velha criação foi sepultado. Após três dias, esse corpo
foi ressuscitado. No entanto, havia grande diferença
entre o corpo ressurreto de Lázaro e o corpo
ressurreto de Jesus Cristo. O corpo ressurreto de
Lázaro não foi alterado; ele ainda pertencia à velha
criação. Mas o corpo ressurreto de Jesus Cristo foi
modificado, tanto em natureza como em forma.
Como um corpo na velha criação, Seu corpo era de
carne e sangue; como um corpo da nova criação,
tornou-se um corpo espiritual.

CONHECER CRISTO EM RESSURREIÇÃO


Esse Cristo encarnado, crucificado e ressurreto
tomou-se urna semente plantada em nós. O Cristo
que recebemos não é um Cristo natural, mas
ressurreto e transformado. Pedra conhecia Cristo na
carne, quando este ainda estava no corpo da velha
criação. Mas o Cristo que experimentamos hoje é
totalmente na nova criação. Você ainda tem inveja
dos discípulos que O conheceram na carne? Você
ainda deseja, como João, reclinar-se sobre Seu peito?
No fundo, talvez subconscientemente, podemos ter o
246

desejo secreto de ter vivido no tempo de Pedra, João e


Tiago, pois eles estavam com o Senhor na carne.
Contudo, é muito melhor conhecer a Cristo no poder,
na esfera e no elemento de Sua ressurreição e na
comunhão dos Seus sofrimentos.

CONFORMADOS À MORTE DE CRISTO


Podemos desprezar a velha criação e desejar ser
livres dela. Mas quanto mais ternos aversão à ela,
mais ela se apega a nós. Somente no Corpo de Cristo
podemos ser libertados da velha criação. Somente
ocupados com o Corpo e pelo Corpo, somos capazes
de ser livres de gastar tanto tempo pensando em nós
mesmos. Paulo era tão ocupado com o Corpo que em
seu ser não havia espaço para ele considerar suas
próprias coisas. Por ser tão preocupado com o Corpo,
ele participava da comunhão dos sofrimentos de
Cristo. Desse modo, foi conformado à morte de
Cristo.
Há quatro importantes questões no versículo 10:
conhecer Cristo, conhecer o poder de Sua
ressurreição, conhecer a comunhão de Seus
sofrimentos e ser conformado à Sua morte. Na
verdade, ser conformado à morte de Cristo está
relacionado com conhecer tanto o poder da
ressurreição de Cristo como a comunhão dos Seus
sofrimentos. O verbo conformar-se indica como
podemos conhecer o poder da ressurreição de Cristo e
a comunhão dos Seus sofrimentos.
Já dissemos que a morte de Cristo ocorreu em
todo o Seu viver na terra. Enquanto vivia, Ele também
morria, morrendo para a velha criação a fim de ter
um viver na nova criação. Esse é o significado de “sua
247

morte” no versículo 10. Precisamos ser conformados


à morte de Cristo, tanto na vida da igreja como na
vida familiar, morrendo para a velha criação a fim de
viver a nova criação.
O fato de Paulo ter usado o verbo conformar-se
em 3:10 implica que a morte de Cristo é um molde.
Sempre que as irmãs preparam um bolo elas usam
uma fôrma. A massa é colocada na fôrma e
conformada ao seu formato. No dia em que
começamos a viver a vida cristã, nós, como a massa,
fomos colocados na fôrma da morte de Cristo.
Quando sofremos pelo Corpo, somos conformados na
fôrma da morte de Cristo. Isso é o que quer dizer ser
conformado à Sua morte.
Sendo conformados à morte de Cristo,
experimentamos o poder de Sua ressurreição e
entramos na comunhão dos Seus sofrimentos. É
desse modo que alcançamos a ressurreição
extraordinária e atingimos o alvo de estar totalmente
fora da velha criação e plenamente ressurretos na
nova criação.

VIVER NA NOVA CRIAÇÃO


Se um irmão atinge a ressurreição extraordinária
em sua experiência, até mesmo seu amor pela esposa
será na nova criação. Não será mais um amor natural,
na velha criação. Um irmão pode amar muito a
esposa, mas seu amor pode não ter nada a ver com a
ressurreição extraordinária. Do mesmo modo, uma
mulher pode ser submissa ao marido de acordo com a
sua ética e princípios culturais, mas sua submissão
pode também estar totalmente na esfera natural, na
velha criação, e não na nova criação. Suponha que
248

uma irmã se esforce para submeter-se ao marido. Ela


não quer submeter-se mas, talvez com lágrimas, ela
se esforce por fazê-lo. Essa submissão é na velha
criação. Deus não deseja amor natural ou submissão
natural, que não estejam na ressurreição
extraordinária. Em vez disso, Ele deseja que vivamos
o tipo de vida revelado em Filipenses 3. Para isso,
necessitamos ganhar a Cristo e ser achados Nele para
conhecer o poder de Sua ressurreição e a comunhão
dos Seus sofrimentos, sendo conformados à Sua
morte, para alcançar a ressurreição extraordinária.
Quando Paulo escrevia a Epístola aos Filipenses,
ele não julgava ter alcançado a ressurreição
extraordinária. Portanto, ele podia dizer: “Não que eu
o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição;
mas prossigo para conquistar aquilo para o que
também fui conquistado por Cristo Jesus”. Ele se
preocupava com uma coisa: esquecer-se das coisas
que ficavam para trás e avançar para as que estavam
adiante dele, e avançar para o alvo, para o prêmio do
chamamento do alto de Deus em Cristo Jesus. Todas
as coisas deixadas para trás pertencem à velha
criação, mas as coisas adiante, à nova criação. Deus
nos resgatou da velha criação e nos colocou numa
corrida para o alvo, para o prêmio. Agora devemos
correr essa carreira para alcançar a ressurreição
extraordinária dentre os mortos e todas as coisas da
nova criação.
249

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E QUATRO
PROSSEGUIR PARA O ALVO A FIM DE OBTER O
PRÊMIO DO CHAMAMENTO DO ALTO

Leitura Bíblica: Fp 3:10-14; Rm 8:11; Ap 20:6


Esta mensagem irá concentrar-se em duas
palavras encontradas em 3:14: alvo e prêmio. Se
atingirmos o alvo, receberemos o prêmio. Assim,
perseguir o alvo visa à obtenção do prêmio. Mas qual
é o alvo, e qual é o prêmio? Muitos responderiam que
tanto um como o outro são Cristo. Embora tal
resposta seja considerada correta, nesta mensagem
precisamos ver em 3:10-14 algo específico com
respeito ao alvo e ao prêmio.
Filipenses 3:10-13 ajuda-nos a entender o alvo e
o prêmio no versículo 14. No versículo 11 podemos
dizer que a ressurreição extraordinária é, na verdade,
um sinônimo de Cristo. No versículo 10, Paulo fala de
conhecer Cristo, o poder de Sua ressurreição e a
comunhão de Seus sofrimentos. Esse versículo indica
claramente que se desejamos conhecer Cristo,
devemos conhecer Sua ressurreição. Contudo, muitos
cristãos negligenciam essa questão importante. No
máximo, eles conhecem somente Cristo e Sua morte,
e não o poder de Sua ressurreição. Entre os cristãos
raramente há uma mensagem adequada sobre o
poder de Cristo. Poucos pregadores falam do poder
da ressurreição de Cristo do modo que Paulo falava.
Temos enfatizado que o desejo de Paulo era
ganhar a Cristo e ser achado Nele, conhecê-Lo, e o
250

poder de Sua ressurreição e a comunhão dos Seus


sofrimentos. Conhecer a Cristo desse modo é o
resultado de ganhá-Lo e ser achado Nele. A idéia aqui
é tão profunda que poucos cristãos lhe têm dado a
atenção que merece. Nossa mente natural não pode
tocar as profundezas do que significa: “O conhecer e o
poder de sua ressurreição”.
Neste ponto, precisamos fazer uma importante
pergunta: Onde está Jesus Cristo hoje? Nesta
mensagem eu responderia que Ele está em
ressurreição. Sem dúvida, por um lado, Ele está nos
céus e, por outro, está em nós. No entanto, quero
enfatizar o maravilhoso fato de que Ele hoje está em
ressurreição. Um dia, como Aquele que existia na
eternidade, Cristo tornou-se um homem por meio da
encarnação. Por fim, foi crucificado e sepultado. Por
meio da morte Ele entrou em outra esfera, a da
ressurreição. Em Sua preexistência, Cristo era Deus e
estava com Deus na eternidade; pela encarnação,
tornou-se um homem na carne, e então, por meio da
crucificação e sepultamento, Ele entrou na
ressurreição. Você já ouviu falar que Cristo está agora
em ressurreição? No dia de Sua ressurreição os anjos
disseram às mulheres que Cristo não poderia ser
encontrado no túmulo, pois fora ressuscitado dentre
os mortos (Lc 24:1-6). Isso indica que Cristo está em
ressurreição.
Pelo fato de Cristo estar agora em ressurreição,
não podemos conhecê-Lo na experiência a não ser
que conheçamos o poder de Sua ressurreição. Hoje
alguns cristãos conhecem Cristo em Sua encarnação e
crucificação. Mas em Filipenses 3 Paulo almeja
conhecê-Lo não somente em Sua morte, mas muito
251

mais em Sua ressurreição.


No versículo 11, continuação do 10, Paulo diz:
“Para, de algum modo, alcançar a ressurreição
extraordinária dentre os mortos” (lit.). A expressão
“ressurreição extraordinária” é intrigante. Após
Cristo ser ressuscitado, tornou-se uma Pessoa
totalmente em ressurreição. Ainda mais, a
ressurreição na qual Cristo está hoje não é uma
ressurreição comum, como a de Lázaro; antes, é
extraordinária. Por essa razão, Paulo adiciona o
prefixo ek à palavra grega para ressurreição para
mostrar que a ressurreição de Cristo é extraordinária.
É a ressurreição extraordinária.

UMA DEFINIÇÃO DE RESSURREIÇÃO


EXTRAORDINÁRIA
Estar na ressurreição extraordinária significa
deixar tudo o que pertence à velha criação e ser
introduzido em Deus. Embora Lázaro tenha sido
ressuscitado, ele não deixou as coisas da velha criação
nem foi introduzido em Deus. No final da era
vindoura todos os incrédulos mortos serão
ressuscitados. No entanto, tal ressurreição não os irá
tirar da velha criação nem irá introduzi-los em Deus.
Há somente um tipo de ressurreição que nos tira da
velha criação e nos introduz em Deus: a ressurreição
de Cristo. Assim, a ressurreição de Cristo é a notável
ressurreição. Cristo é o único que saiu da velha
criação e entrou em Deus. Na mensagem anterior
enfatizamos que Ele viveu num corpo e num
ambiente da velha criação por trinta e três anos e
meio. Por meio de Sua morte e ressurreição Ele
deixou a velha criação para trás e foi introduzido em
252

Deus.
Não devemos achar que Cristo nunca esteve na
velha criação. De acordo com Colossenses 1:15, Ele foi
o Primogênito da criação de Deus. Seu corpo físico
pertencia à velha criação e, vivendo na casa de um
carpinteiro em Nazaré, Ele viveu no ambiente da
velha criação. Por fim, Ele tomou a velha criação
sobre Si e pregou-a na cruz. Agora, em ressurreição,
Ele está absolutamente fora da velha criação e está
em Deus. Tudo o que Ele é, tem e faz estão em Deus.
Esse é o significado da ressurreição extraordinária.
Se desejamos conhecer Cristo, devemos conhecer
essa ressurreição extraordinária e alcançá-la. As
palavras de Paulo “alcançar a ressurreição
extraordinária” (lit.) implicam em um alvo. Esse alvo,
mencionado no versículo 14, é a ressurreição
extraordinária no versículo 11. Portanto, alcançar a
ressurreição extraordinária é atingir o alvo. Nos
versículos 12 e 13, Paulo confessou que julgava ter
alcançado o alvo. Mas esquecendo-se das coisas que
ficaram para trás e avançando para as coisas que
estavam adiante, ele perseguia o alvo da ressurreição
extraordinária.
Numa mensagem anterior eu disse que o alvo é o
próprio Cristo, e agora digo que o alvo é a
ressurreição extraordinária. Dizer que Cristo é o alvo
é falar de maneira geral de acordo com os versículos 8
e 9. Mas, de maneira específica, o alvo é a
ressurreição extraordinária. Se considerarmos o
versículo 14 em relação ao 11, veremos que o alvo
deve ser a ressurreição extraordinária. Portanto,
genericamente falando, o alvo é Cristo, mas,
especificamente falando, o alvo é a ressurreição
253

extraordinária.
Precisamos agora fazer uma pergunta
importante: Podemos atingir o alvo da ressurreição
extraordinária nesta era, ou podemos somente correr
a corrida e esperar atingir o alvo na era vindoura?
Alguns podem achar que devemos esperar até a era
vindoura para atingir o alvo. Mas, se não chegarmos
ao alvo nesta era, não o alcançaremos na próxima.
Devemos empenhar-nos para chegar ao alvo em
nossa vida.
Em 1:21 Paulo diz: “Para mim o viver é Cristo”.
Esse Cristo era seu alvo. Portanto, para ele o viver era
o alvo: Cristo como a ressurreição extraordinária.
Além do mais, o viver para nós deve ser também a
ressurreição extraordinária, pois o próprio Cristo a
quem devemos viver é a ressurreição extraordinária.
Isso quer dizer que dia após dia devemos viver a
ressurreição extraordinária. Por exemplo, suponha
que certo irmão ame muito a esposa. Ele precisa
perguntar-se se seu amor é natural ou em
ressurreição. Até mesmo maridos não-cristãos podem
amar a mulher de maneira natural. Se um irmão ama
a esposa em ressurreição, seu amor será fora da velha
criação e em Deus. Isso mostra que viver Cristo é
viver a ressurreição extraordinária, é ter um viver
absolutamente fora da velha criação e em Deus.
Quando era jovem, ficava a imaginar qual era a
dificuldade de Paulo em alcançar o alvo. Achava que
as perseguições que ele sofria tomavam isso difícil.
Parecia-me que a oposição dos outros o atrapalhava
de correr a corrida cristã. Anos depois, pela
experiência, vi que para mim é mais fácil vencer as
perseguições do que amar minha esposa na
254

ressurreição extraordinária, e não de acordo com a


vida natural. Estou em Cristo há mais de cinqüenta
anos. Em todo esse tempo tenho sido um cristão
zeloso. Tendo encontrado muitos empecilhos na
corrida cristã, aprendi que o maior empecilho é a vida
natural com seus pensamentos e hábitos. A vida
natural nos frustra na corrida em direção ao alvo.
Você já se perguntou quanto da sua conversa
diária é natural e quanto é na ressurreição
extraordinária? Embora não fale de maneira má ou
caluniosa, o seu falar pode ser natural. Você pode
falar muitas coisas positivas, mas suas palavras
podem ser ditas de maneira natural, e não em
ressurreição. É fácil melhorar o caráter,
comportamento, ética ou moralidade, mas e
extremamente difícil viver em ressurreição.
Uma característica da vida natural é a ansiedade.
Você está livre de ansiedade e preocupações?
Recentemente tive um problema de saúde, e fiquei
ansioso por isso. Proclamei a palavra do Senhor em
Filipenses 4:6-7: “Não andeis ansiosos de coisa
alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica,
com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo
o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa
mente em Cristo Jesus”. Contudo, logo após declarar
que me firmava nessa promessa, estava novamente
ansioso. Queria ficar livre da ansiedade, mas ela se
recusava a me deixar. Você sabe por que eu estava
ansioso? Porque não estava plenamente em
ressurreição. Na ressurreição extraordinária não há
ansiedade. A ansiedade pertence à velha criação, e ela
não pode entrar no reino da ressurreição, na esfera da
255

nova criação.
Paulo sabia pela experiência que não é fácil ter
um viver totalmente fora da velha criação e em Deus.
Em 1:21 ele podia declarar: “Para mim, o viver é
Cristo”. Mas no capítulo um temos simplesmente a
declaração, e não a explicação ou a definição. No
capítulo três, vemos que viver Cristo é viver a
ressurreição extraordinária, e esse deve ser nosso
alvo. Nossos feitos e palavras devem estar em
ressurreição. Se certo feito não estiver em
ressurreição, não devemos fazê-lo. Se certa palavra
não estiver em ressurreição, não devemos dizê-la. A
questão não é se certa coisa é certa ou errada, mas se
está ou não em ressurreição. Até mesmo nosso amor
precisa estar em ressurreição.
Na ressurreição extraordinária não há nenhum
elemento da velha criação. Em vez disso, tudo está
cheio do elemento divino. Essa é a razão pela qual as
pessoas sentem Deus quando estão com alguém que
vive na ressureição extraordinária. O seu viver, obras
e palavras estão em ressurreição. Essa é a
ressurreição extraordinária na vida diária. Em
Filipenses 3 Paulo buscava esse viver. Isso é o que ele
tinha em mente quando declarou que seu desejo era
conhecer Cristo e o poder de Sua ressurreição e de
algum modo alcançar a ressurreição extraordinária.
Não julgando haver alcançado, ele prosseguia em
direção ao alvo da ressurreição extraordinária.
Agradecemos ao Senhor por mostrar-nos as
profundezas desses versículos em Filipenses 3. O que
Ele falou com respeito à ressurreição extraordinária
não será em vão. Creio que muitos de nós terão um
viver fora da velha criação e em Deus.
256

Assim como o alvo, o prêmio também é a


ressurreição extraordinária. O alvo é para que
ganhemos, e o prêmio é para que desfrutemos.
Podemos atingir o alvo nesta era, mas desfrutaremos
o prêmio na era vindoura.
Em Romanos 8:11 Paulo diz: “Se habita em vós o
Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos vivificará também o vosso corpo
mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita”.
Esse versículo indica que podemos alcançar a
ressurreição extraordinária nesta era. Aqui Paulo diz
que o Espírito Daquele que ressuscitou a Cristo
dentre os mortos dará vida à parte de nosso ser que
está morrendo: nosso corpo mortal. Temos visto que
o Espírito é a realidade da ressurreição de Cristo, a
realidade da ressurreição extraordinária. O Espírito
habita em nós para trabalhar a ressurreição
extraordinária em nosso ser de maneira real e prática.
Assim, Romanos 8:11 indica que devemos alcançar a
ressurreição extraordinária nesta era.
Apocalipse 20:6 refere-se ao prêmio na era
vindoura, o prêmio da primeira ressurreição:
“Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte
não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes
de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos”. A
palavra grega traduzida por primeira é a mesma
palavra usada para a melhor roupa dada ao filho
pródigo que retomou em Lucas 15. A primeira
ressurreição é a melhor ressurreição, a ressurreição
extraordinária. Se nesta era não buscarmos uma vida
que seja absolutamente fora da velha criação e
257

plenamente em Deus, não teremos o prêmio para


nosso desfrute na era vindoura. Mas se obtivermos a
ressurreição extraordinária hoje, ela se tomará um
prêmio para nós na próxima era. Então, o que é agora
nosso alvo tornar-se-á nosso prêmio quando, no
milênio, reinarmos como co-reis com Cristo. Esse
será o desfrute da ressurreição extraordinária como
nosso prêmio. Em Cristo, Deus nos chamou do alto
para esse prêmio. Esse prêmio deve ser o alvo que
buscamos e obtemos nesta era.
258

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E CINCO
A ÚNICA MENTE E O ÚNICO ANDAR

Leitura Bíblica: Fp 3:15-16; Gl 5:25; 6:15-16


Em Filipenses 3 temos uma revelação de uma
Pessoa única: o Cristo excelente, todo-inclusivo.
Nesta mensagem veremos que, como cristãos,
devemos ter a única mente interiormente e o único
andar exteriormente.

UMA MENTE PARA BUSCAR A


RESSURREIÇÃO EXTRAORDINÁRIA
No versículo 15 Paulo diz, como uma palavra de
conclusão de 3:1-14: “Todos, pois, que somos
perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se,
porventura, pensais doutro modo, também isto Deus
vos esclarecerá”. [O termo sentimento no original
grego é mente.] Que Paulo quer dizer por “esta
mente”? Para responder a essa pergunta precisamos
considerar o que ele diz nos versículos 13 e 14:
“Irmãos, quanto a mim, não julgo havê10 alcançado;
mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que
para trás ficam e avançando para as que diante de
mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. O que ele
quer dizer por “esta mente” é ter uma mente que
esquece as coisas que ficaram para trás e que avance
para as coisas que estão à frente, prosseguindo para o
alvo, para o prêmio.
Temos enfatizado que o alvo é viver, andar,
259

conduzir-se absolutamente fora da velha criação e em


Deus. Esse é o alvo da ressurreição extraordinária (v.
11). Prosseguir para o alvo da ressurreição
extraordinária é perseguir uma vida que é fora da
velha criação e totalmente em Deus. Essa
ressurreição extraordinária é, na verdade, o próprio
Cristo em ressurreição. Podemos também dizer que
em Sua Pessoa, Cristo retrata a ressurreição
extraordinária. Antes da encarnação, crucificação e
ressurreição de Cristo, não havia tal retrato, pois não
havia ainda tal coisa como a ressurreição
extraordinária. Antes da encarnação de Cristo, Deus
não Se tinha unido à Sua criação. Mas, um dia, o Filho
de Deus veio na velha criação. Ao ser crucificado, Ele
levou toda a velha criação à cruz e pregou-a ali.
Portanto, por meio da crucificação, Ele pôs fim à
velha criação. Ainda mais, quando foi sepultado, Ele
levou Consigo a velha criação, simbolizada pelos
lençóis que O envolviam no túmulo. Quando foi
ressuscitado, Ele deixou os lençóis para trás (Jo
20:6-7). Isso. indica que a velha criação foi deixada
no sepulcro. Quando se levantou em ressurreição, Ele
era uma Pessoa absolutamente fora da velha criação e
em Deus. Esse é o significado da expressão “a
ressurreição extraordinária”. Cristo a atingiu por
meio da crucificação e ressurreição.
De acordo com o Novo Testamento, não devemos
separar a ressurreição extraordinária da Pessoa de
Cristo, pois o próprio Cristo é, na verdade, a
ressurreição extraordinária. Isso quer dizer que
quando O recebemos, também recebemos a
ressurreição extraordinária. Contudo, através dos
séculos, desde o primeiro século até hoje, essa
260

questão não foi adequadamente divulgada. Como


agradecemos ao Senhor que, pela Sua misericórdia,
tenha aberto os nossos olhos para ver o que é a
ressurreição extraordinária dentre os mortos! Ter
“esta mente” está relacionado com buscar a
ressurreição extraordinária. Ter essa mente é ter o
entendimento e a percepção de que, como escolhidos,
redimidos e regenerados por Deus, devemos buscar
uma só coisa: ter nosso viver fora da velha criação e
em Deus. Isso significa que toda a nossa vida deve
estar na ressurreição extraordinária. Temos visto que
a ressurreição extraordinária é, na verdade, a amada,
preciosa e excelente Pessoa de Cristo, Aquele que, por
meio da crucificação e ressurreição, saiu da velha
criação e entrou em Deus. Essa Pessoa. maravilhosa é
muito mais excelente do que os anjos. Os anjos
pertencem ainda à velha criação. Eles não
experimentaram a crucificação ou a ressurreição. Mas
após ter sido crucificado e sepultado, Cristo foi
ressuscitado saindo da velha criação e entrando em
Deus. Você já ouviu tal descrição do Senhor Jesus?
Aleluia, o próprio Cristo é a realidade da ressurreição
extraordinária! Agora devemos buscar uma vida que é
essa maravilhosa Pessoa de Cristo. Juntos com Paulo,
devemos ser capazes de dizer: “Para mim, o viver é
Cristo” (1:21). Paulo podia também testificar que fora
crucificado com Cristo e que Cristo vivia nele (Gl
2:20). O próprio Cristo que vivia em Paulo é Aquele
que, em Sua própria Pessoa, é a ressurreição
extraordinária.
Uma vez que tenhamos nosso viver na velha
criação, não vivemos Cristo, mesmo se as coisas que
fizermos forem muito boas. Suponha que alguém viva
261

de acordo com um padrão ético superior ao de


Confúcio. No entanto, tal viver não é Cristo; é um
mero viver ético, o viver da ética na velha criação.
Não devemos buscar somente vencer os pecados, mas
também vencer os melhores aspectos da velha
criação, incluindo a ética da velha criação.
Precisamos prosseguir para o alvo: o alvo da
ressurreição extraordinária, que é o nosso amado e
excelente Cristo. Que bênção é ver isso! Como
seríamos abençoados na vida familiar se buscássemos
uma vida que fosse fora da velha criação e em Deus.
Todos precisamos ter “essa mente”, uma mente
para buscar Cristo como ressurreição extraordinária.
Para um jovem, buscar esse alvo não deve apenas
visar à melhora do comportamento ou caráter, ou
tornar-se um aluno melhor. Deve ser ter um viver que
é, na verdade, o próprio Cristo em ressurreição. Essa
é uma vida que é totalmente fora da velha criação e
em Deus. Que todos tenhamos essa única mente.

NÃO TER OUTRA MENTE


No versículo 15 Paulo diz que se em alguma coisa
temos outra mente (lit.), isso também Deus nos
revelará (VRC). Ter “outra mente” é comum entre os
cristãos hoje. Os cristãos têm centenas de maneiras
de pensar, entender e perceber as coisas. Oh! quantas
mentes há hoje entre os crentes! Mas Paulo nos
encoraja a ter uma só mente: “Esta mente”.
Algumas vezes, quando eu pregava o evangelho
na China, os outros me acusavam de ter mentalidade
restrita. Eles me advertiam a não dizer que somente
Cristo é o Salvador. Afirmavam que é restrito demais
pregar que Jesus Cristo é o único Salvador da
262

humanidade. Eu lhes dizia que, a respeito de Cristo,


eu não era ainda restrito o suficiente, que não
precisava ser restringido a nada senão ao próprio
Cristo. Os cristãos também me exortavam a não ser
restrito. Em particular, pediam-me que não dissesse
que o caminho que seguimos na restauração do
Senhor é o caminho correto. Eu respondia: “Se esse
caminho não é correto, não posso segui-lo. Mas se
esse é o caminho certo, devo tanto tomá-lo como
encorajar outros a fazer o mesmo. Doutra forma,
enganarei a mim mesmo e aos outros crentes. Vocês
se consideram de mente aberta. Mas, na verdade,
enganam a si mesmos e aos outros. Vocês não
conhecem o caminho correto e não estão nele”. Com
relação às questões espirituais, Deus condena a
mentalidade aberta do homem. O Senhor Jesus disse
que estreita é a porta e apertado o caminho que
conduz à vida (Mt 7:14).
De acordo com a Bíblia, temos um só Deus, um
só Senhor, um só Espírito e uma só igreja. A ênfase na
Palavra está na unidade. Há um só Criador e um só
Salvador, e é totalmente maligno ensinar de modo
diferente.
O fato de Paulo dizer que se pensamos de outra
maneira “também Deus vo-lo revelará” (VRC) indica
que pensar de modo diferente é não ter revelação. Se
pensamos de modo diferente, precisamos de
revelação. Por essa razão, ele não diz no versículo 15
que Deus nos ensinará, mas diz que Deus no-lo
revelará.
Os crentes não podem ter uma única mente
simplesmente lendo a Bíblia na letra. Quando o
Senhor Jesus veio, os trinta e nove livros do Antigo
263

Testamento já tinham sido escritos. Mas, embora os


religiosos examinassem as Escrituras, não queriam ir
a Cristo para ter vida. Em João 5:39-40 o Senhor
Jesus disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais
ter nelas a vida eterna; e são elas mesmas que
testificam de Mim. Contudo não quereis vir a Mim
para terdes vida”. Se examinarmos as Escrituras sem
nos achegar ao Senhor, teremos muitas mentes.
Alguns podem preferir Moisés, e outros, Elias ou
Jeremias. Somente quando nos achegamos a Cristo, o
Único, podemos ter uma só mente.
Após a ressurreição, o Senhor disse aos
discípulos: “São estas as palavras que Eu vos falei,
estando ainda convosco: que era necessário que se
cumprisse tudo o que de Mim está escrito na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24:44). Isso
indica que nas Escrituras necessitamos ver Cristo.
A situação entre os cristãos hoje é uma repetição
da situação dos religiosos quando o Senhor Jesus
estava na terra. Na verdade, é pior. Agora os leitores
da Bíblia têm sessenta e seis livros em vez de trinta e
nove. Há hoje mais “fariseus”, “saduceus” e “escribas”
do que no primeiro século, pois há muito mais
leitores da Bíblia e mais crentes com pensamentos
diversos.
Embora haja centenas de mentes entre os
cristãos hoje, não é nosso alvo unificar os crentes.
Contudo, quando Cristo, a Pessoa única, é revelada a
nós, somos unificados Nele e por Ele. De fato, Ele
próprio é a nossa unificação.
Não somente não é nosso alvo tentar unificar os
crentes; na verdade, não esperamos que um grande
número de crentes tomem o caminho da restauração
264

do Senhor. No fim de Seu ministério na terra, o


Senhor Jesus não tinha muitos seguidores. De acordo
com Atos 1, somente cento e vinte estavam reunidos
naquela sala em Jerusalém. Não é nosso alvo ser
calorosamente recebidos ou ter um número enorme
de pessoas. Neste ponto, precisamos lembrar-nos de
que Paulo não escreveu o livro de Filipenses numa
época em que era bem recebido pelas multidões. Pelo
contrário, essa Epístola foi escrita quando ele era
rejeitado, perseguido e estava preso.
Provavelmente se milhões de cristãos tomassem
o caminho da restauração do Senhor, a restauração
deixaria de existir. Ela acabaria por causa das
diferentes mentes entre os crentes. A restauração do
Senhor é, na verdade, um caminho estreito, difícil
para a maioria dos cristãos. Todos os que estão na
restauração devem prestar atenção à palavra de Paulo
de ter “esta mente”.

PERCEPÇÃO E RESOLUÇÃO
Não podemos negar que recebemos a revelação
do Senhor a respeito do Cristo todo-inclusivo.
Somente a revelação de Deus pode fazer com que
tenhamos “esta mente”, a mente única, a mente que
estava em Paulo e em muitos que amam o Senhor
Jesus e O buscam. É uma mente que não busca uma
obra ou um movimento, mas busca uma vida
absolutamente fora da velha criação e em Deus. Essa
é a mente única em Filipenses 3.
“Esta mente” envolve tanto percepção como
resolução para prosseguir para o alvo. A prática da
religião e da ética é totalmente diferente da percepção
do alvo de Deus e da resolução de buscá-lo. Ter essa
265

mente é ter uma mente que busque Cristo em Sua


ressurreição para vivê-Lo como ressurreição
extraordinária. Todos necessitamos de tal mente, de
tal percepção e resolução, para prosseguir em direção
a esse alvo.

GOVERNADOS PELA MENTE ÚNICA PARA


TER O ÚNICO ANDAR
Se tivermos a mente única, teremos também o
andar único. Como seres humanos, estamos sob o
controle da mente. É a mente que direciona o andar,
não o andar que direciona a mente. a que pensamos
governa o que dizemos e fazemos. Portanto, o pensar
direciona e controla toda a nossa vida. Por isso é que
precisamos ser transformados pela renovação da
mente.
Temos sido falsa e caluniosamente acusados de
ser distorcedores de mentes. De modo algum
praticamos a distorção da mente, mas realmente
promovemos a renovação da mente. Nossa mente
necessita ser renovada para que tenhamos percepção
e resolução adequadas. Então nosso andar cristão
será direcionado por uma mente renovada por Deus.
a termo grego traduzido por andar no versículo
16 não é o vocábulo comum para andar; também é
encontrado, por exemplo, em Gálatas 5:25. É um
termo bastante peculiar; é o verbo derivado do
substantivo elemento. Pelo menos uma versão o
traduz por observar os elementos. O verbo grego,
stoichéo, derivado do substantivo steícho, significa
andar ordenadamente, marchar em uma tropa
militar, manter o passo. Andar desse modo é andar
numa trilha ou caminho. É o andar regulado como o
266

dos soldados a marchar em cadência, que andam ao


mesmo tempo e no mesmo ritmo.
Alguns podem imaginar como é possível que os
santos com vários graus de experiência andem no
mesmo passo ou na mesma cadência. Como, por
exemplo, pode um irmão com mais de cinqüenta anos
de experiência no Senhor andar no mesmo passo de
outro recém-salvo? Não pense que tal andar é
impossível. A maneira de ensinar na Bíblia é diferente
da que é praticada no sistema educacional do mundo.
Nas escolas há vários livros-texto para alunos de
várias idades. Como cristãos, no entanto, temos a
Bíblia como nosso único livro-texto. Tanto para os
que, espiritualmente falando, estão no jardim de
infância, como para os que estão fazendo
pós-graduação, a Bíblia é o único livro-texto.
No versículo 15 Paulo refere-se a “todos, pois,
que somos perfeitos”. [O termo perfeitos também
pode ser traduzido por maduros.] Isso quer dizer que
alguns crentes são mais maduros do que outros. Mas
no versículo 16 ele prossegue: “Mas, naquilo a que já
chegamos, andemos segundo a mesma regra” (VRC).
As palavras “naquilo a que já chegamos” indicam que
todos os santos, independentemente do grau de
maturidade, estão incluídos. Todos devemos andar
pela mesma regra. Até mesmo o mais novo dos santos
deve andar no mesmo caminho dos que estão bem
maduros. Com respeito a isso, a mente de Deus é
mais elevada do que a nossa. Todos devemos ter “esta
mente” e andar no mesmo caminho.
Por fim, todos seremos governados pela
revelação da única mente e do único andar. Então,
espontaneamente diremos: “Senhor Jesus, eu Te amo
267

como nunca Te amei antes. Senhor, em Tua presença


decido buscar-Te como ressurreição extraordinária.
Quero que tudo na minha vida esteja fora da velha
criação e em Deus”. Se tivermos essa revelação e
tomarmos essa resolução, teremos o único andar
controlado e direcionado pela única mente.

ANDAR PELA REGRA DA NOVA CRIAÇÃO


Gálatas 6:15-16 indicam que esse único andar é
pela regra da nova criação: “Pois nem a circuncisão é
coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova
criatura. E, a todos quantos andarem de
conformidade com esta regra, paz e misericórdia
sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus”. [O
vocábulo criação também pode ser traduzido por
criatura.] Andar pela regra da nova criação é andar
pela regra da ressurreição extraordinária. Se
andarmos por essa regra, seremos o verdadeiro Israel
de Deus.
O nome Israel significa príncipe de Deus.
Tornamo-nos príncipe de Deus tendo a única mente
que nos direciona a tomar o caminho do único andar,
isto é, prosseguir para o alvo da ressurreição
extraordinária. Hoje o Senhor deseja ter um grupo de
pessoas que busque esse alvo. Que todos vejamos a
importância crucial da única mente a direcionar o
único andar, e que todos prossigamos para o único
alvo: Cristo, a ressurreição extraordinária.
268

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E SEIS
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (1)

Leitura Bíblica: Fp 4:1-7; 1:8; 2Co 1O:1a


Ao lermos o livro de Filipenses, pode-nos parecer
que a idéia de Paulo em 4:1-7 não é tão elevada como
a que é expressa nos primeiros três capítulos. No
capítulo um ele fala de viver Cristo e engrandecê-Lo;
no dois, de tomar Cristo como nosso modelo, de
brilhar como luzeiros no mundo e de expor a palavra
da vida; e, no três, fala da excelência do
conhecimento de Cristo e de prosseguir para o alvo,
para o prêmio do chamamento do alto, de Deus, em
Cristo Jesus. Então, no capítulo quatro, ele usa
expressões que aparentemente são bastante comuns:
“Alegrai-vos no Senhor”; “Seja a vossa tolerância
conhecida de todos os homens” (lit); e “Não andeis
ansiosos de coisa alguma”. Suponha que enquanto
você prosseguisse para o alvo, para o prêmio, alguém
de repente o encorajasse a não ser ansioso. Você não
consideraria isso como uma interrupção e diria:
“Estou buscando a Cristo. Desejo chegar ao alvo da
ressurreição extraordinária. Por que você me fala
sobre ansiedade?” Muitos leitores de Filipenses
apreciam os primeiros três capítulos, mas, talvez
inconscientemente, considerem que o capítulo quatro
está num nível mais baixo que os anteriores.
Anos atrás eu apreciava os três primeiros
capítulos de Filipenses muito mais que o quatro.
269

Parecia-me que, após subir a um alto pico nos


capítulos um, dois e três, Paulo repentinamente
desceu para um nível mais baixo no capítulo quatro.
Não podia entender por que havia essa repentina
mudança.

A NECESSIDADE DE APRENDER O
SEGREDO
Em 4:12 Paulo diz: “Aprendi o segredo” (NVI).
Fazer as coisas mencionadas no capítulo quatro
requer a vida divina. Paulo aprendera o segredo de
tudo poder Naquele que o fortalecia. No versículo 4
ele nos exorta a nos regozijar sempre no Senhor.
Podemos achar fácil regozijar-nos no Senhor. Na
verdade, regozijar-se Nele requer a ressurreição
extraordinária. A fim de regozijar-nos no Senhor
precisamos estar Nele como Aquele que nos fortalece.
Assim, até mesmo a questão aparentemente simples
de regozijar-se no Senhor requer que aprendamos o
segredo. Se não conhecermos o segredo, não seremos
capazes de nos regozijar.
Em 4:5 Paulo diz: “Seja a vossa tolerância
conhecida de todos os homens” (lit.). Em 2 Coríntios
10:1 ele diz: “Vos rogo pela mansidão e tolerância de
Cristo” (lit.). A tolerância mencionada em 4:5 não é
comum ou ética. E a tolerância de Cristo, um atributo
ou virtude espiritual de Cristo. Essa tolerância deve
tornar-se nossa, e então devemos fazê-la conhecida
de todos os homens.
Qual é o significado de tolerância e por que Paulo
a menciona em 4:5 em vez de alguma outra virtude?
Se ele nos tivesse dito que fizéssemos nosso amor ou
bondade conhecidos de todos os homens, esse
270

versículo não seria um problema para nós. Mas aqui


ele não fala de amor, bondade, humildade ou alguma
outra virtude humana. Em vez disso, ele escolhe a
tolerância. Sabemos o que é amor, bondade e
humildade, mas quem pode dar uma definição
adequada de tolerância? Se me pedissem anos atrás
para definir tolerância, teria respondido que tolerar
significa carregar um pesado fardo por longo tempo.
No entanto, essa definição é natural. Ela não nos
ajuda a entender por que Paulo fala de tolerância em
4:5 em vez de alguma outra virtude.
Após dizer que devemos fazer nossa tolerância
conhecida de todos os homens, Paulo prossegue,
também no versículo 5: “Perto está o Senhor”. Muitos
expositores acham que isso quer dizer que a vinda do
Senhor está próxima. Não ouso dizer que esse
significado não está incluído; contudo, Paulo aqui
não diz que o Senhor virá em breve, mas que já está
perto. Então, no versículo seguinte, ele nos diz que
não estejamos ansiosos de coisa alguma, mas “em
tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as
vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações
de graças”. Enquanto fala de fazer nossa tolerância
conhecida de todos os homens, de não estar ansiosos
de coisa alguma, mas em tudo fazer nossas petições
conhecidas de Deus, Paulo declara que o Senhor está
perto.
Em nós mesmos, não somos capazes de fazer
nossa tolerância conhecida de todos os homens, de
ser livres da ansiedade, nem mesmo de fazer nossas
petições conhecidas de Deus. Alguns podem achar
que é fácil orar; na verdade, orar é difícil. A fim de
fazer todas essas coisas, nós, como Paulo, devemos
271

aprender o segredo. Também precisamos estar


Naquele que nos fortalece.

PERMANECER FIRMES NO SENHOR


Filipenses 4:1-7 é parte da palavra conclusiva de
Paulo dos capítulos um, dois e três. O que ele diz em
4:1-7 baseia-se no que escreveu anteriormente sobre
vi ver Cristo, engrandecer Cristo, tomar Cristo como
modelo, conhecer a excelência de Cristo, prosseguir
para o alvo e viver na ressurreição extraordinária.
Em 4:1 ele diz: “Portanto, meus irmãos, amados
e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados,
permanecei, deste modo, firmes no Senhor”. Sabemos
pelo capítulo três que Paulo aspirava ser achado em
Cristo. Em 4:1 ele nos diz que permaneçamos firmes
no Senhor. Permanecer firmes no Senhor é a chave
para fazer nossa tolerância conhecida de todos os
homens. Se não permanecemos firmes no Senhor,
não há maneira de fazer nossa tolerância conhecida.
A fim de fazer qualquer coisa devemos ter posição
adequada. Isso é verdade tratando-se de fazer
conhecida nossa tolerância. Para isso, devemos
permanecer firmes no Senhor, isto é, devemos
permanecer Nele. Portanto, a palavra de Paulo sobre
permanecer firmes no Senhor equivale à palavra do
Senhor sobre permanecer Nele (10 15:4).
No versículo 2 Paulo prossegue: “Rogo a Evódia e
rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor”.
[Pensar concordemente também pode ser traduzido
por pensar o mesmo.] Como pessoas que
permanecem firmes no Senhor, devemos também
“pensar o mesmo no Senhor”. Separados do Senhor,
não podemos pensar o mesmo. Se desejamos pensar
272

o mesmo no Senhor, devemos primeiramente


permanecer firmes Nele.
O versículo 3 continua: “A ti, fiel companheiro de
jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se
esforçaram comigo no evangelho, também com
Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos
nomes se encontram no livro da vida”. [O termo fiel
também pode ser traduzido por verdadeiro (VRC).]
Aqui Paulo pede aos que são verdadeiros
companheiros de jugo que ajudem Evódia e Síntique
a pensar o mesmo. Paulo parece dizer: “Essas duas
irmãs são minhas cooperadoras, mas, pelo menos
temporariamente, elas não estão no Senhor. Encorajo
vocês, verdadeiros companheiros de jugo, a fazer o
melhor que puderem para conduzi-las de volta ao
Senhor e ajudá-las a pensar o mesmo no Senhor”.
Essas irmãs eram cooperadoras que laboraram com
Paulo e lutaram juntamente com ele no evangelho e
cujos nomes estavam no livro da vida. Contudo,
naquele momento elas não estavam no Senhor.
No versículo 4, Paulo diz: “Alegrai-vos sempre no
Senhor; outra vez digo, alegrai-vos”. Quando em
nossa experiência não estamos no Senhor, não temos
qualquer alegria e não podemos alegrar-nos.
Anteriormente Evódia e Síntique podiam alegrar-se,
mas, agora, visto que não estavam no Senhor, não
podiam alegrar-se Nele.
Há um modo prático de saber se estamos ou não
no Senhor. Sempre que você não é um com certo
irmão ou irmã na igreja, você não está no Senhor. É
claro, com respeito à posição, estamos em Cristo
eternamente. Nada pode afetar nossa posição em
Cristo. Mas na prática e na experiência podemos não
273

permanecer Nele. O fato de não sermos um com certo


irmão prova que não estamos no Senhor.
É bastante sério não ser um até mesmo com um
irmão ou uma irmã. A maioria dos santos têm pelo
menos um irmão com o qual não são um. Por
exemplo, suponha que algumas irmãs sirvam juntas
numa festa do amor. Uma pode não gostar da
maneira que outra serve e pode recusar-se a servir
com ela. Ela pode até mesmo afastar-se dela.
Afastando-se da irmã, ela na verdade afasta-se do
Senhor. Em vez de recusar-se a servir com a irmã, ela
deveria tomar sua tolerância conhecida na situação.
Não é fácil servir com os santos na igreja. Se um
empregado não trabalha bem, o chefe pode
despedi-lo. Mas na vida da igreja ninguém é
contratado nem pode ser despedido. Assim como
nascemos numa família e, como membros, não
podemos ser despedidos, do mesmo modo nascemos
na igreja e, como membros, não podemos ser
despedidos. Quando surgem dificuldades, não
devemos afastar-nos dos santos ou recusar-nos a
servir com eles. Em vez disso, devemos exercitar
nossa tolerância.

SEM ANSIEDADE
Se exercitamos a tolerância, não ficamos
ansiosos. Sempre que fazemos nossa tolerância
conhecida, nossa ansiedade é crucificada. Quando
exercitamos a tolerância, podemos alegrar-nos no
Senhor, e, quando nos alegramos no Senhor, nossa
ansiedade desaparece. Assim, a tolerância mantém o
regozijo e o regozijo afasta a ansiedade. Mas, sempre
que não exercitamos a tolerância, não somos capazes
274

de nos alegrar. Então o caminho está aberto para a


ansiedade entrar. Isso não é mera doutrina; é uma
palavra que toca a situação real da vida cristã.

SATISFEITOS COM MENOS DO QUE


MERECEMOS
Neste ponto precisamos considerar de maneira
mais profunda o significado de tolerância. Tolerância
quer dizer que ficamos facilmente satisfeitos, mesmo
com menos do que merecemos. Esse é o significado
da palavra grega traduzida por tolerância. Ficar
satisfeitos com menos do que merecemos é um
contraste com ser justo de maneira exigente. Tolerar
é não fazer nenhuma exigência dos outros; é ficar
satisfeitos com qualquer coisa que alguém faça a nós
ou por nós. Suponha que a esposa de um irmão sirva
a ele uma bebida gelada quando ele preferia uma
quente, e, bastante insatisfeito, ele a repreende pelo
que ela fez. Isso não é tolerância; é ser justo de
maneira muito exigente. Se o irmão tivesse mostrado
tolerância em relação à esposa, teria ficado satisfeito
com qualquer coisa que ela lhe servisse, mesmo que
não fosse capaz de beber. Teria ficado satisfeito com
menos do que merece.

UMA VIRTUDE TODO-INCLUSIVA


Em seu livro “Word Studies” [Estudo de
Palavras], Wuest mostra que a palavra grega
traduzida por tolerância não somente significa
satisfeito com menos do que merece, mas quer dizer
também doce sensatez. A palavra inclui autocontrole,
paciência, moderação, bondade e gentileza. Ainda
mais, de acordo com a experiência cristã, a tolerância
275

é todo-inclusiva, pois inclui todas as virtudes cristãs.


Isso quer dizer que se falhamos em exercitá-la,
falhamos em exercitar qualquer virtude cristã. Se a
esposa de um irmão serve-lhe uma bebida gelada
contrariamente à sua preferência e ele reclama disso,
então, nesse momento, ele não exibe nenhuma
virtude cristã. Mas, se pela graça de Cristo, ele fica
satisfeito com menos do que merece e exercita a
tolerância com a esposa, não a criticando ou
condenando, ele mostra em sua tolerância uma
virtude cristã todo-inclusiva. Sua tolerância incluirá
paciência, humildade, autocontrole, dependência do
Senhor e até mesmo a virtude de admitir que o
Senhor é soberano em todas as coisas.
A razão pela qual nós, às vezes, nos comportamos
de maneira imprópria é que nos falta a tolerância.
Atitudes negativas e palavras ásperas também
provêm de falta de tolerância. Quando falhamos em
amar, é porque não temos tolerância. Do mesmo
modo, podemos ser intransigentes porque nos falta a
tolerância. Até mesmo a tagarelice pode resultar da
falta de tolerância. Se não tivermos tolerância, não
teremos paz. Se não mostramos tolerância em relação
aos membros da família, não haverá paz na vida
familiar. A paz vem da tolerância. .

ENGRANDECER CRISTO FAZENDO


CONHECIDA A NOSSA TOLERÂNCIA
Paulo percebia que a tolerância é uma virtude
todo-inclusiva. Eis a razão de ele dizer: “Seja a vossa
tolerância conhecida de todos os homens” (lit.). Essa
tolerância é, na verdade, o próprio Cristo. Em 1:21 ele
diz: “Para mim, o viver é Cristo”. Como Cristo é a
276

tolerância, para Paulo o viver era a tolerância. A sua


ardente expectativa era que Cristo fosse engrandecido
nele, quer pela vida quer pela morte. Para ele,
engrandecer a Cristo era fazer conhecida sua
tolerância. Assim, Cristo ser engrandecido em nós
equivale a fazer nossa tolerância conhecida de todos
os homens. A razão disso é que a tolerância é Cristo
experimentado por nós de modo prático. Podemos
falar de viver Cristo e testificar que para nós o viver é
Cristo. Contudo, dia após dia, na vida familiar, o que
necessitamos é de tolerância. Se temos tolerância, na
experiência temos Cristo, de fato. Se a esposa de um
irmão o ofende, o que ele precisa manifestar a ela é
Cristo como sua tolerância.
É muito difícil ser um bom cônjuge. A chave para
isso é a tolerância. Repito, a tolerância inclui muito
mais do que gentileza ou humildade. Como virtude
cristã todo-inclusiva, a tolerância é o próprio Cristo.
Tanto na vida familiar como na vida da igreja,
precisamos viver Cristo tendo um viver de tolerância.
Quanto mais consideramos o significado de
tolerância, mais podemos apreciar a razão de Paulo
ter falado sobre ela em 4:5. Os nossos fracassos e
derrotas na vida cristã acontecem porque temos
pouca tolerância. Todos os santos, tanto jovens como
velhos, têm a tendência de negligenciar a tolerância.
Se desejamos viver Cristo, devemos estar satisfeitos
com menos do que merecemos. Não devemos fazer
exigências severas aos outros.
O Senhor Jesus teve um viver de tolerância
enquanto estava na terra. Em certo sentido, Ele era
bastante rigoroso, mas, em outro, era bastante
tolerante. Por exemplo, embora orasse muito, não
277

fazia exigências aos discípulos com relação à oração


nem os condenava por não orar o suficiente.

A PROXIMIDADE DO SENHOR
Imediatamente após falar sobre tolerância, Paulo
prossegue: “Perto está o Senhor”. Como já falei, não
me oponho ao entendimento de que isso se refere à
proximidade da vinda do Senhor. Contudo, de acordo
com a experiência, e não com a doutrina, eu diria que
essa palavra refere-se à presença do Senhor conosco
hoje. Isso também fortalece a exortação de Paulo de
que façamos nossa tolerância conhecida de todos os
homens. Visto que o Senhor está perto, não temos
desculpa para não fazer conhecida nossa tolerância.
Freqüentemente falhamos em exercitar a tolerância
porque esquecemos que o Senhor está perto. Nem
mesmo lembramos que Ele está, na verdade, em nós.
Quando a esposa de um irmão serve a ele uma bebida
gelada em vez de quente, ele irá preocupar-se com a
bebida ou com o Senhor? Se ele se preocupar com a
bebida em vez de com o Senhor, então em sua
experiência somente a bebida estará perto, pois o
Senhor estará distante. Por não perceber que o
Senhor está perto, não exercitamos a tolerância. Em
vez disso, somos rigorosos ao lidar com os outros e
fazemos severas exigências sem considerar a situação
deles. Quanto mais percebermos a proximidade do
Senhor, mais estaremos satisfeitos, mais atenciosos
seremos com os outros e mais gentilmente sensatos
seremos com relação à situação deles. Se
percebermos que o Senhor está perto, iremos
voltar-nos da velha criação para a nova, para a
ressurreição extraordinária, que é expressa como
278

tolerância.

A EXPRESSÃO DA RESSURREIÇÃO
EXTRAORDINÁRIA
Viver uma vida cheia de tolerância exigiu de
Jesus Nazareno viver em ressurreição. Somente uma
vida na ressurreição extraordinária pode ser uma vida
de tolerância. A tolerância é, na verdade, a expressão
de um viver na ressurreição extraordinária, na nova
criação, e não na velha criação. Fazer nossa tolerância
conhecida de todos os homens não é simplesmente
ser amável ou paciente. Antes, é mostrar aos outros
um viver cristão adequado. Esse viver é Cristo como
ressurreição extraordinária expressa por meio da
tolerância.

TER CONSIDERAÇÃO PELOS OUTROS


Temos enfatizado a necessidade da tolerância na
vida da igreja e na vida familiar. Se somos tolerantes,
seremos atenciosos ao lidar com os outros. Por
exemplo, suponha que uma irmã deseje ajudar outra
a melhorar o modo de servir na igreja. A irmã que
deseja oferecer ajuda necessita considerar se a outra é
capaz de receber correção. Deve também considerar
se ao oferecer correção, ela própria está no espírito ou
na carne.
A tolerância requer que não falemos aos outros
precipitadamente. Pelo contrário, precisamos ter
muita consideração antes de dizer algo. Podemos
causar danos aos santos na igreja e também aos
membros da família se formos precipitados demais ao
lidar com eles.
Posso testificar que, como alguém idoso, lido
279

agora com minha família de maneira muito diferente


da que eu praticava quarenta anos atrás. Hoje mostro
muito mais tolerância do que naquela época.
Anteriormente, permanecia em minha posição como
marido e pai, e dizia tudo o que eu sentia que era
necessário. Contudo, aprendi que essa prática, com
freqüência, é prejudicial aos outros. Agora, antes de
dizer certas coisas à minha esposa, eu a levo em
consideração bem como a sua situação. Pergunto a
mim mesmo se ela é capaz de suportar o que desejo
dizer e qual é a hora certa de dizê-lo. Também
considero quão contente e à vontade ela está, e
quanto é capaz de receber o que eu desejo dizer. Tudo
isso está envolvido em mostrar tolerância.
Quando o Senhor Jesus foi com os dois
discípulos no caminho de Emaús, Ele demonstrou
tolerância. Quando lhes perguntou sobre o que
falavam, um deles respondeu: “És Tu o único
forasteiro em Jerusalém que não sabes das coisas que
nela sucederam nesses dias?” (Lc 24:18). Embora
conhecesse todas as coisas, Ele lhes perguntou:
“Quais?” (v. 19). Então Ele pacientemente ouviu-os
enquanto contavam-Lhe o que acontecera. Mais
tarde, na hora certa, o Senhor fez-se conhecido a eles.
Ele certamente foi tolerante com aqueles discípulos.
Se mostrarmos tolerância para com os outros,
eles serão nutridos, curados e ajudados a crescer. Não
faremos com que tropecem nem os machucaremos de
modo algum. Contudo, devido à nossa falta de
tolerância, temos causado dano aos outros na igreja e
na vida familiar.

VIVER NA RESSURREIÇÃO
280

EXTRAORDINÁRIA
Desejo enfatizar que a tolerância não é questão
de ética. Tolerância é Cristo. Nos capítulos um, dois e
três de Filipenses, Paulo tem muito a dizer com
respeito a Cristo. Então, em 4:5, ele fala de tolerância,
e não de Cristo. Na verdade, quando ele diz: “Seja a
vossa tolerância conhecida de todos os homens” (lit.),
está dizendo: “Seja Cristo manifestado e
engrandecido diante de todos os homens”. Após falar
sobre viver Cristo, engrandecê-Lo, tomá-Lo como o
modelo e persegui-Lo como o alvo, Paulo indica que
necessitamos vivê-Lo como nossa tolerância. Todos
precisamos que Ele seja nossa tolerância. Vivê-Lo
como tolerância é, de fato, viver na ressurreição
extraordinária.
281

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E SETE
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (2)

Leitura Bíblica: Fp 4:1, 4-5, 11-13; 1Tm 3:3; Tt 3:2; Tg


3:17
Em 4:5 Paulo diz: “Seja a vossa tolerância
conhecida de todos os homens” (lit.). Embora
estejamos familiarizados com a palavra tolerância,
não nos é fácil defini-la adequadamente. Muitos
diriam que tolerância é paciência. Contudo, esse
termo é usado no final de um livro que enfatiza a
experiência de Cristo. Filipenses não coloca em
primeiro plano a moralidade, o comportamento, o
caráter ou a ética. O tema dessa Epístola é a
experiência de Cristo. Os quatro capítulos desse livro
estão relacionados com a experiência de Cristo.

TORNAR CRISTO CONHECIDO


À medida que lemos os primeiros versículos do
capítulo quatro, podemos não perceber que esses
versículos ainda têm como tema a experiência de
Cristo. Mas o versículo 13 diz: “Tudo posso naquele
que me fortalece”. O vocábulo tudo deve incluir o
exercício da tolerância citada no versículo 5. Paulo
exortou os santos a ter tolerância. Certamente ele
próprio tinha um viver de tolerância. De outro modo,
seria hipócrita exortar outros a fazer a tolerância
conhecida se ele mesmo não a praticasse. O que ele
diz em 4:5 deve basear-se em seu próprio viver,
282

experiência e prática. Assim, a tolerância deve ser


uma experiência de Cristo. Além do mais, o fato de
Paulo dizer que tudo podia Naquele que o fortalecia é
indicação de que a tolerância é Cristo.
Em 1:20-21 Paulo fala de engrandecer Cristo e
vive-Lo. No capítulo dois, ele apresenta Cristo como
nosso único modelo e então fala de expor a palavra da
vida (TB). Expor a palavra da vida equivale a
expressar Cristo. No capítulo três vemos que Cristo
deve ser nosso alvo e prêmio. Precisamos prosseguir
para o alvo, para o chamamento do alto, de Deus, em
Cristo Jesus (3:14). Quer sejamos jovens ou velhos,
todos devemos buscar Cristo. Esse era o conceito de
Paulo quando disse em 3:16: “Mas, naquilo a que já
chegamos, andemos segundo a mesma regra” (VRC).
Todos devemos viver Cristo, engrandecê-lo,
expressá-Lo e buscá-Lo. Então, no capítulo quatro,
ele fala de permanecer firme no Senhor, regozijar-se
Nele e fazer nossa tolerância conhecida de todos os
homens. Se tivermos entendimento adequado do
tema de Filipenses, percebendo que esse livro enfoca
a experiência de Cristo, veremos que fazer nossa
tolerância conhecida é, na verdade, fazer Cristo
conhecido. Creio que esse era o pensamento de Paulo.
A melhor maneira de entender a Bíblia é
penetrar no pensamento do escritor e apreender os
principais pontos de acordo com os quais ele escreveu
certo livro. Sem dúvida, considerando os quatro
capítulos de Filipenses, veremos que o pensamento
básico de Paulo aí é que Cristo era seu viver, modelo,
alvo com o prêmio, e poder. Nesse livro ele diz que
necessitamos viver Cristo, torná-Lo como nosso
modelo, buscá-Lo como nosso alvo e experimentá-Lo
283

como nosso poder. Tudo isso deve resultar em certo


viver, um viver que expressa Cristo.

UMA EXPRESSÃO DE CRISTO


Que palavra você usaria para descrever uma vida
que expressa Cristo? Você a descreveria como
amável, submissa, paciente, humilde, gentil?
Nenhuma dessas palavras é adequada. Sim, uma vida
que expressa Cristo certamente é amável, submissa,
paciente, humilde e gentil; contudo, ela inclui muito
mais. É significativo que Paulo não use quaisquer
desses termos em 4:5. Em vez disso, ele usa a palavra
tolerância. Ele não nos diz que manifestemos nosso
amor ou paciência, e, sim, nossa tolerância.
Em 4:5, por que Paulo nos diz que façamos nossa
tolerância conhecida de todos os homens? Por que ele
não fala de outra virtude, como santidade ou justiça?
Que palavra você usaria se escrevesse essa Epístola?
Talvez alguns usassem fidelidade, obediência ou
unidade. Mas nenhuma dessas palavras parece
encaixar-se. Não parece adequado dizer: “Seja vossa
fidelidade conhecida”, ou: “Seja vossa unidade
conhecida”. Por mais que tentemos, não podemos
achar um substituto adequado para a palavra
tolerância. Embora não possamos definir
plenamente tolerância ou explicar o que seja,
sentimos, à medida que lemos esse versículo, que
tolerância é a única palavra que se encaixa.
Quando Paulo diz que devemos fazer nossa
tolerância conhecida de todos os homens, ele indica a
plenitude de nossa tolerância. Uma tolerância que
pode ser conhecida de todos não é limitada ou
parcial; é a plenitude da tolerância.
284

Se desejamos entender o significado de


tolerância, não devemos voltar-nos aos livros de
filosofia ou ética. Em vez disso, precisamos nos voltar
à Bíblia e buscar aprender nas Escrituras o
significado de tolerância em 4:5. Como vimos, essa
deve ser uma expressão de Cristo. Primeiramente
Paulo nos exorta a fazer nossa tolerância conhecida
de todos os homens. Percebendo que não somos
capazes disso, ele prossegue: “Tudo posso naquele
que me fortalece”. Isso indica que tolerância é, no
mínimo, parte da expressão de Cristo.
O fato de que a tolerância está relacionada com a
expressão de Cristo torna-se ainda mais claro quando
consideramos 4:5 no contexto de todo o livro de
Filipenses. Em 1:20-21 Paulo fala de engrandecer
Cristo e vivê-Lo. Certamente fazer conhecida nossa
tolerância deve envolver viver Cristo e
engrandecê-Lo. Isso significa que nossa tolerância
deve ser o próprio Cristo que vivemos e
engrandecemos. Não devemos separar o capítulo
quatro do restante do livro. No capítulo um Paulo fala
de engrandecer Cristo e, então, chegando ao final do
livro, fala de fazer conhecida nossa tolerância. A
tolerância que fazemos conhecida deve ser o próprio
Cristo que engrandecemos.
No capítulo dois, Paulo apresenta Cristo como
nosso único modelo. Certamente, a tolerância deve
estar relacionada com Cristo como nosso modelo.
Isso quer dizer que a tolerância deve envolver a
experiência e a expressão de Cristo como o modelo
revelado no capítulo dois.
Como temos enfatizado, no capítulo três temos
Cristo como nosso alvo. Com Paulo, devemos
285

prosseguir para esse alvo. Cristo como alvo para o


qual prosseguimos deve incluir a tolerância. De outro
modo, como poderia Paulo encorajar-nos a buscar
Cristo no capítulo três e, então, em 4:5 nos exortar a
fazer algo que não seja Cristo conhecido de todos os
homens? Isso não seria lógico. Para que Paulo seja
coerente, o que ele nos exorta a fazer conhecido em
4:5 deve ser o próprio alvo para o qual ele nos
encoraja a prosseguir no capítulo três. Como ele nos
encoraja a buscar Cristo, em 4:5 ele não deve dizer
que façamos algo que não seja Cristo conhecido de
todos os homens. Como ele fala tanto de Cristo nos
primeiros três capítulos do livro, o que ele diz no
quatro deve também estar relacionado com Cristo.
Portanto, cremos que a tolerância em 4:5 é Cristo.
Se a palavra tolerância em 4:5 pode ser
substituída por qualquer outra palavra, essa palavra
deve ser Cristo. Em vez de dizer: “Seja a vossa
tolerância conhecida” podemos dizer “Seja o vosso
Cristo conhecido”. Isso significa fazer o Cristo que
vivemos e engrandecemos, a quem tomamos como
modelo e buscamos como alvo, conhecido de todos os
homens.

FAZER A NOSSA TOLERÂNCIA CONHECIDA


A tolerância é Cristo como nosso viver. O Cristo
que vivemos toma-se a tolerância que exercitamos e
manifestamos. Se virmos isso, perceberemos que a
tolerância tem grande significado. Não é de modo
algum uma virtude isolada na vida cristã; pelo
contrário, é, na verdade, um sinônimo de Cristo. Por
um lado, podemos dizer que a vida cristã é Cristo. Por
outro, podemos dizer que é uma vida de tolerância.
286

Fazer a nossa tolerância conhecida, portanto,


significa fazer o nosso Cristo conhecido.
Se não fazemos conhecida nossa tolerância,
teremos Cristo somente em doutrina ou terminologia,
mas não na experiência. Jovens, seus pais talvez
saibam que Cristo está em vocês. No entanto, vocês
precisam fazer Cristo conhecido deles fazendo a sua
tolerância conhecida deles. A todos aqueles a quem
contatamos dia após dia precisamos manifestar nosso
Cristo. Isso é fazer nossa tolerância conhecida de
todos os homens.
Gostaria de enfatizar que a tolerância é nada
menos que o próprio Cristo. Doutrinariamente,
podemos falar sobre Cristo; mas, na experiência,
necessitamos ter tolerância. Fazer nossa tolerância
conhecida é fazer conhecido o Cristo que
experimentamos, vivemos e engrandecemos. Esse é o
entendimento adequado de 4:5 à luz da experiência
cristã.
Em cada capítulo de Filipenses, Cristo é
revelado. Contudo, no capítulo quatro, um termo
específico, tolerância, é usado para denotar Cristo em
nossa experiência. Não pense que esse capítulo está
num nível inferior aos capítulos um, dois e três. Não,
no capítulo quatro temos Cristo experimentado por
nós e expressado por meio de nós como tolerância.
Podemos dizer que o ponto central da vida cristã é
Cristo. Certamente concordo com tal afirmação. Mas,
do ponto de vista da experiência cristã prática, o
centro da vida cristã é a tolerância. A tolerância é uma
virtude cristã todo-inclusiva; inclui amor, paciência,
bondade, humildade, compaixão, consideração e
submissão, disposição de ceder. Se tivermos tal
287

virtude todo-inclusiva, teremos também justiça e


santidade.
A vida cristã é repleta de tolerância, mas sem
ansiedade. Somente quando temos tolerância
podemos ter uma vida sem ansiedade. Se todo o
nosso ser estiver cheio de tolerância, não haverá
nenhum lugar para a ansiedade.

AJUSTADO E ADEQUADO
A palavra grega para tolerância é traduzida de
diferentes maneiras por diferentes versões. Algumas
versões a traduzem por complacência. A palavra
usada na versão chinesa quer dizer ceder
humildemente. Esses entendimentos são corretos,
mas muito superficiais. Outros tradutores enfatizam
que a palavra grega quer dizer razoável, atencioso,
adequado e ajustado. Uma pessoa tolerante é alguém
que sempre se ajusta, alguém cujo comportamento é
sempre adequado.
Certos santos são bons, mas não se ajustam.
Podem mudar-se de um lugar para outro, mas não
importa aonde vão, não estão contentes. A razão de
não se ajustarem é que não são tolerantes. Uma
pessoa tolerante é alguém que sempre se ajusta, cujo
comportamento é sempre adequado, não importando
quais sejam as circunstâncias ou o ambiente.
A tolerância também inclui quietude, mansidão e
bondade. Se você for razoável, atencioso e capaz de se
ajustar, será sem dúvida bondoso, amável, brando e
sereno. Você será também manso e moderado, cheio
de compaixão pelos outros. Como enfatizamos na
mensagem anterior, o oposto de tolerância é ser justo
de maneira muito exigente. Uma pessoa que carece
288

de tolerância será rigorosa e exigirá muito dos outros.


Mas ser tolerante significa que somos satisfeitos com
menos do que nos é devido. Alford diz que a palavra
grega para tolerância quer dizer não ser rígido com
relação aos direitos legais. Por exemplo, certa coisa
pode ser nossa, mas não a exigimos de acordo com o
direito rigoroso, legal. Isso é tolerância.

A TOLERÂNCIA DE CRISTO
A vida do Senhor Jesus é a melhor ilustração de
tolerância. Considere como Ele falou aos dois
discípulos no caminho de Emaús. Lucas 24:15 diz
que, enquanto eles “conversavam e discutiam, o
próprio Jesus se aproximou e ia com eles”. Ele lhes
disse: “Que palavras são essas que trocais um com o
outro enquanto caminhais?” (v. 17). Com um tom de
repreensão, um dos discípulos respondeu: “És Tu o
único forasteiro em Jerusalém que não sabes das
coisas que nela sucederam nesses dias?” (v. 18).
Aparentando não saber de nada, o Senhor respondeu:
“Quais?” (v. 19). Então eles passaram a falar sobre
Jesus, o Nazareno, alguém que descreveram como
“Profeta, poderoso em obras e palavras, diante de
Deus e de todo o povo”. Eles disseram ainda que os
principais sacerdotes e as autoridades O entregaram
para ser condenado à morte e O crucificaram. Quão
tolerante foi o Senhor ao ouvi-los falar coisas que Ele
sabia muito melhor do que eles! Após andar certa
distância, “se aproximavam da aldeia para onde iam,
e Ele fez que ia para mais longe” (v. 28). Contudo,
“eles O constrangeram, dizendo: Fica conosco,
porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar
com eles” (v. 29). O Senhor até mesmo sentou-se para
289

jantar com eles. Quando tomou o pão, abençoou-o,


partiu-o e o deu a eles, “se lhes abriram os olhos, e O
reconheceram” (v. 31). Em tudo isso vemos a
tolerância do Senhor.
Além do Senhor Jesus, nenhum ser humano
jamais praticou uma vida de tamanha tolerância. Se
estudar a biografia de pessoas famosas, verá que
ninguém foi, de fato, uma pessoa de tolerância. No
entanto, se ler os quatro Evangelhos, verá que o viver
humano do Senhor Jesus foi repleto de tolerância. Ele
a exercitava com os discípulos. Você pode achar
algum caso onde o Senhor Jesus “demitiu” algum
deles? O Senhor foi tolerante até mesmo com Judas.

CRISTO COMO NOSSA TOLERÂNCIA


Necessitamos de tolerância na vida da igreja,
especialmente ao servir juntos. Suponha que certa
irmã não sirva de maneira adequada. A irmã que
serve com ela tem pelo menos quatro opções: ir
embora, juntar-se a ela e servir de maneira precária,
corrigi-la ou tentar melhorá-la. Nenhuma dessas
opções envolve tolerância. Se essa irmã exercitar
tolerância, certamente não irá afastar-se da outra.
Pelo menos por um pouco, irá juntar-se a ela em seu
serviço. Então exercitará sabedoria para ver a
situação da irmã e determinar se pode ou não
corrigi-la ou aperfeiçoá-la em amor. Se a irmã não for
capaz de recebê-lo, a outra deve esperar antes de
dizer algo. Por fim, ela pode ter uma oportunidade de
falar, não de acordo com a própria intenção, mas de
acordo com a direção do Espírito. Isso é exercitar a
tolerância. Se todos a exercitarmos, a igreja será
edificada de maneira maravilhosa.
290

A virtude da tolerância é todo-inclusiva. Ela


inclui amor, bondade, misericórdia, sensatez, a
habilidade de ajustar-se e muitas outras virtudes.
Talvez agora possamos entender porque Paulo fala de
tolerância no final de um livro profundo sobre a
experiência de Cristo. Quando nos exorta a que
façamos nossa tolerância conhecida de todos os
homens, ele diz algo de grande significado. Pela vida
natural, nenhum ser humano é capaz de cumprir tal
requisito. Confúcio pode ter sido muito bom, mas
ainda era pecaminoso e caído. Somente o Senhor
Jesus teve uma vida plena de tolerância, e somente
Cristo pode ser nossa perfeita tolerância hoje. A
melhor palavra para resumir a totalidade das virtudes
humanas de Cristo é tolerância. Fazer conhecida
nossa tolerância é ter uma vida que expressa Cristo; é
expressar o Cristo pelo qual vivemos. Tal vida é o
próprio Cristo como a totalidade de todas as virtudes
humanas. Isso é Cristo como nossa tolerância.
291

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E OITO
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (3)

Leitura Bíblica: Fp 4:1-2, 4-7, 11-13; 3:15-16


O termo grego para tolerância é composto de
dois radicais. O primeiro é a preposição epí que,
quando adicionada a uma outra palavra, pode ter o
significado de extensivo ou pleno. Esse é um
componente do vocábulo grego para pleno
conhecimento em 2 Timóteo 2:25. O segundo radical
grego tem vários significados: razoável, atencioso e
adequado. Assim, o significado do grego é
extensivamente razoável ou plenamente razoável.

UMA VIRTUDE TODO-INCLUSIVA


Com base na análise da palavra grega, na nossa
experiência espiritual, nas atividades de Deus em Sua
economia e no viver do Senhor na terra, podemos
perceber que para ter tolerância adequada é preciso
ter também muitas outras virtudes. A tolerância é
uma virtude todo-inclusiva.
Dentre as muitas virtudes humanas, Paulo
escolheu a tolerância em 4:5. Como veremos, essa
virtude específica relaciona-se com outras
importantes questões em Filipenses 3 e 4. Por
exemplo: ser capaz de fazer tudo em Cristo e também
aprender o segredo de estar contente em todas as
circunstâncias. Além disso, para ter tolerância,
devemos estar qualificados de acordo com o que é
292

mencionado em 3:15-16.
Tolerância quer dizer ser totalmente razoável,
atencioso e adequado. Isso requer um entendimento
real da situação ao redor. Suponha que dois alunos
discutam um problema de matemática. Sendo
incapazes de resolver a discussão, eles trazem o
problema a você. Mas, se você for ignorante em
matemática, não poderá dar-lhes um julgamento
justo e razoável. Mesmo se você tiver o entendimento
necessário, pode faltar-lhe sabedoria para lidar com
as pessoas envolvidas.

A NECESSIDADE DE TOLERÂNCIA NA VIDA


FAMILIAR
Há grande necessidade de tolerância na vida
familiar. Uma boa vida familiar é produto da
tolerância. Se marido e mulher mostram tolerância
um com o outro e com os filhos, terão excelente vida
conjugal e familiar. Contudo, se não exercitarem a
tolerância, irão danificar seriamente a vida como
farm1ia.
Ao lidar com os filhos, os pais não devem ser
exigentes demais ou transigentes demais. Tanto a
exigência excessiva como a transigência excessiva são
danosas aos filhos. Então qual é o modo correto de
cuidar deles? É aquele que é cheio de tolerância.
Suponha que um filho faça algo errado, e a
questão chegue ao conhecimento do pai. Este não
deve repreender o filho precipitadamente ou surrá-lo
com raiva. Em Efésios 6, Paulo nos diz que não
provoquemos os filhos. Com freqüência os pais
provocam os filhos ao tratá-los com raiva. Se você
está irado com seu filho, precisa primeiro pedir ao
293

Senhor que tire sua ira. Uma vez que a ira tenha sido
tirada pelo Senhor, você precisa exercitar o
entendimento para perceber porque o filho cometeu
tal erro. Sem dúvida, o filho estava errado.
Contudo, você ainda deve entender a situação
dele. Talvez ele estivesse errado porque você foi
descuidado. Se você não tivesse sido descuidado na
situação, seu filho não teria cometido o erro. Sua falta
de cuidado deu a ele oportunidade de fazer algo
errado, por isso você não deve colocar toda a culpa
nele. Antes, você deve culpar primeiro a si mesmo e
então, disciplinar o filho. Tudo isso está incluído no
exercitar tolerância em relação aos filhos.
Os pais precisam exercitar sabedoria ao falar
com os filhos. Um filho pode necessitar de correção,
mas os pais precisam sentir qual é a hora certa de
falar com ele. Um pai deve perguntar-se se deve ou
não repreender o filho diante de outros filhos ou
mesmo da mãe. Às vezes não sábio disciplinar um
filho na presença de outros. Quanta sabedoria
devemos exercitar ao cuidar dos filhos! Se não
tivermos tolerância, não exercitaremos a sabedoria.
Por outro lado, se não tivermos a sabedoria
adequada, não seremos capazes de exercitar a
tolerância.
Se desejamos demonstrar tolerância, precisamos
também de paciência. A maioria dos pais acha difícil
ser paciente quando disciplina os filhos. Suponha que
um irmão esteja a ponto de repreender um filho.
Seria muito melhor se ele esperasse algumas horas
antes de dizer algo. Contudo é extremamente difícil
esperar até mesmo alguns minutos, quanto mais
algumas horas. A tendência natural é lidar com o filho
294

precipitadamente. Tal impaciência é danosa.


A impaciência é também danosa na vida
conjugal. Suponha que um irmão sinta que é
necessário falar com a esposa sobre certa questão não
muito agradável. Se for realmente tolerante, irá
esperar o momento certo para falar, a hora em que a
conversa será construtiva. No mesmo princípio, a
mulher precisa ser paciente com o marido e esperar
pelo momento adequado para expressar seus
sentimentos sobre certas questões. Contudo, ser
paciente e tolerante de tal modo é muito difícil.
Como uma virtude todo-inclusiva, a tolerância
implica não somente em compreensão, sabedoria e
paciência, mas também em misericórdia, bondade,
amor e comiseração. A lista de virtudes é quase
interminável. Como já falamos, a palavra grega
traduzida por tolerância implica consideração. Ser
tolerante é considerar a situação dos outros. Se
exercitássemos a tolerância na vida conjugal e
familiar, teríamos vida conjugal agradável e excelente
vida familiar.

NECESSÁRIA AOS PRESBÍTEROS


Em 1 Timóteo 3:3 Paulo indica que os presbíteros
precisam ser tolerantes. Se os presbíteros não têm
tolerância adequada, a igreja em sua cidade não será
edificada.
Sabemos por Efésios 4 e Colossenses 3 que a
igreja é o novo homem, constituído de crentes de
várias nacionalidades e culturas. É necessária muita
tolerância para edificar uma igreja composta de
santos com vários antecedentes. Os presbíteros
necessitam entender adequadamente todos os santos
295

e seu caráter específico, Também precisam exercitar


sabedoria ao cuidar deles. Se não tiverem
entendimento e sabedoria, não serão capazes de
exercitar a tolerância e poderão causar grande dano.
Para a edificação entre os santos numa igreja, a
virtude mais necessária a cada presbítero é a
tolerância.

NECESSÁRIA A TODOS OS SANTOS


Na igreja, a tolerância é necessária não somente
aos presbíteros, mas também a todos os santos.
Precisamos exercitá-la especialmente quando nos
ajuntamos para o serviço da igreja. Quando servimos
juntos na igreja, precisamos mostrar tolerância uns
com os outros. Por um lado, não devemos rejeitar
ninguém; por outro, não devemos ser excessivamente
transigentes com alguém que sirva de maneira
inadequada. Como necessitamos de tolerância!

A TOLERÂNCIA DE DEUS
A Bíblia revela que em Sua economia Deus tem
exercitado grande tolerância. Imediatamente após a
queda do homem, Deus começou a mostrar tolerância
ao lidar com o homem. Se ler Gênesis 3 do ponto de
vista da tolerância, você verá quão tolerante Deus foi
com o homem caído. Deus exercitou Seu
entendimento, percebendo plenamente a situação e a
necessidade do homem. Também exercitou sabedoria
para lidar com o homem caído.
Para realizar Seu eterno propósito, para cumprir
Sua economia, Deus tem sempre exercitado
tolerância. Com Sua tolerância, Ele tem
compreensão, sabedoria, misericórdia, bondade,
296

amor e graça. Até mesmo o rico suprimento de vida


está incluído na tolerância de Deus. Ele nunca nos
ordena fazer algo sem considerar nossa necessidade e
sem conceder-nos Sua provisão. Se um pai encarrega
os filhos de fazer certa tarefa, mas não lhes supre com
o que precisam, esse pai não é tolerante. A tolerância
sempre inclui a provisão adequada para atender à
necessidade.
Quando lemos a Bíblia, vemos que Deus lidou
com diferentes pessoas de diferentes modos. Por
exemplo, Ele lidou com Adão de um modo, com Abel
de outro modo, e com Caim ainda de outro modo.
Alguns estudantes da Bíblia dizem que nas Escrituras
há diferentes dispensações, diferentes maneiras de
Deus lidar com o homem. Essas dispensações estão,
na verdade, relacionadas com a tolerância. Lidar com
as pessoas de uma maneira particular durante uma
certa era é para Deus mostrar tolerância. Porque
Deus é tolerante, Ele sabe como lidar com todos. Ele
pode vir a você de um certo modo porque sabe que
você é certo tipo de pessoa. No entanto, Ele pode
abordar outra pessoa de uma maneira bastante
diferente.
A Bíblia revela que Deus exercita tolerância ao
executar Sua economia. Se Ele tivesse lidado com o
homem caído da maneira como lidamos com os
outros, não haveria como cumprir Seu propósito. Mas
Ele tem manifestado Sua tolerância a todos os
homens. Assim, o próprio Deus estabeleceu um
exemplo, um modelo de tolerância, manifestando Sua
tolerância aos homens através das gerações. Deus faz
conhecida Sua tolerância lidando conosco de maneira
razoável, adequada e atenciosa. Ele nunca disciplina
297

ninguém sem consideração adequada. Ele sempre


espera muito antes de punir alguém. Deus
certamente é tolerante e cheio de compreensão,
sabedoria, paciência, consideração, comiseração,
misericórdia, bondade, amor e provisão de vida.
Considere, por exemplo, quão tolerante Ele foi ao
lidar com Israel. Se ler sobre a peregrinação de Israel
no deserto, verá que Deus realmente foi tolerante
com eles. Ele também tem sido tolerante conosco. Ele
tem lidado conosco como Pai sábio e amável, cheio de
tolerância.

UM LIVRO DE TOLERÂNCIA
Toda a Bíblia revela a tolerância divina. Podemos
até mesmo dizer que a Bíblia é um livro de tolerância
e que, como está revelado nas Escrituras, o próprio
Deus é tolerância. Portanto, se você me pedir que
defina tolerância, eu diria primeiramente que a
tolerância é Deus.

A TOLERÂNCIA DE CRISTO
Como enfatizamos nas mensagens anteriores, o
próprio Cristo é nossa tolerância. Os quatro
Evangelhos revelam que o Senhor Jesus teve uma
vida de tolerância. Ele foi tolerante com Judas e ao
lidar com Pedro. Quando tinha doze anos, Ele
exercitou tolerância com Sua mãe, Maria, e com José.
Caso após caso, o Senhor mostrou compreensão,
sabedoria, paciência, misericórdia, bondade e amor.
Ele foi bondoso com Judas, e com Pedro foi cheio de
graça.
Um excelente exemplo da tolerância de Cristo em
relação a Pedro é encontrado em Mateus 17:24-25. Os
298

que recebiam as duas dracmas do imposto vieram a


Pedro e perguntaram: “Não paga o vosso Mestre as
duas dracmas?” (v. 24). Pedro logo respondeu “Sim”.
Quando ele chegou em casa, o Senhor Jesus não o
repreendeu. Antes, falou-lhe cheio de tolerância. Por
fim, o Senhor Jesus até mesmo deu a Pedro um meio
de prover o imposto. Exercitando a tolerância em
relação a Pedro, o Senhor Jesus também a ensinou a
ele. Sem dúvida, enquanto Pedro esperava por um
peixe que tivesse um estáter na boca, teve boa
oportunidade de ser tolerante.
Em João 11 vemos a tolerância do Senhor com
Marta e Maria, as irmãs de Lázaro. Em vez de agir
com pressa, quando ouviu que Lázaro estava doente,
o Senhor demorou-se de propósito. Por meio dessa
demora, outros foram expostos. Ao lidar com essa
situação o Senhor exercitou muita compreensão,
sabedoria, consideração, misericórdia e bondade. Por
fim, houve grande provisão de vida manifestada na
ressurreição de Lázaro.

A TOLERÂNCIA DE PAULO
A vida de Paulo foi também um testemunho de
tolerância. Ele escreveu o livro de Filipenses numa
prisão em Roma. Ele sofria e, de acordo com o
capítulo quatro, tinha pouca provisão passava por
necessidades. Dentre todas as igrejas, a igreja em
Filipos foi a melhor em cuidar das necessidades dele.
Mas, por alguma razão, de acordo corri a soberania
do Senhor, houve um tempo em que os filipenses
aparentemente esqueceram-se de Paulo e de suas
necessidades. É por essa razão que ele diz em 4:10:
“Muito me alegro no Senhor de que já por fim tenhais
299

renovado o vosso cuidado para comigo” (TB). [O


verbo renovar também pode ser traduzido por fazer
brotar.] Essa palavra implica que Paulo tinha
passado por um “inverno” de sofrimento e a
“primavera” chegara com a renovação da
preocupação dos filipenses em relação a ele. Mas,
muito embora Paulo sofresse aprisionamento,
perseguição, ataque, negligência e a falta de provisão,
ele ainda exercitava a tolerância e podia declarar:
“Aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação. Tanto sei estar humilhado, como também
ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já
tenho experiência, tanto de fartura, como de fome;
assim de abundância, como de escassez; tudo posso
naquele que me fortalece” (4:11-13). Antes de exortar
os santos a fazer sua tolerância conhecida de todos os
homens, ele próprio exercitou tolerância. Sem
dúvida, a tolerância de Paulo era conhecida dos que
estavam ao redor dele. Ele era cheio de compreensão,
sabedoria, consideração, comiseração, misericórdia e
bondade. Ele era também cheio da provisão de vida.
Se lermos o livro de Filipenses cuidadosamente,
veremos que 3:17 — 21 é uma seção separada. Isso
significa que, espiritualmente falando, 4:1 é a
continuação de 3:16. Após exortar os santos a andar
pela mesma regra, Paulo os exorta a permanecer
“firmes no Senhor” (4:1). Em seguida, pede a eles que
se alegrem no Senhor (v. 4) e manifestem sua
tolerância a todos os homens (v. 5). Mais tarde, no
capítulo quatro, ele testifica que tudo pode Naquele
que o fortalece. Assim, ele podia manifestar sua
tolerância aos santos porque estava Naquele que o
fortalecia. Além do mais, estava contente, tendo
300

aprendido o segredo tanto de ser humilhado como de


viver em abundância.

A NECESSIDADE DE CRESCIMENTO
Não é fácil manifestar nossa tolerância a todos os
homens. Isso requer crescimento, tanto na vida
humana como na vida espiritual. Quanto mais uma
pessoa cresce e amadurece, mais tolerância tem.
Portanto, a tolerância requer o crescimento de vida.
Ela requer maturidade.
Em 3:15 Paulo diz: “Todos, pois, que somos
perfeitos, tenhamos este sentimento”. [O termo
perfeitos pode também ser traduzido por maduros, e
o termo sentimento, no original, é mente.] Temos
enfatizado que ter essa mente é ter a mente para viver
Cristo e buscá-Lo. Contudo, o próprio Cristo a quem
vivemos e buscamos deve ser expresso como
tolerância. Se colocarmos juntos esses versículos dos
capítulos três e quatro, veremos que a tolerância
requer maturidade. Sem crescimento e maturidade
será extremamente difícil fazer conhecida nossa
tolerância.
Não devemos esperar que um novo crente em
Cristo seja capaz de exercitar muita tolerância. Em
vez de exigir que ele exercite a tolerância, nós é que
devemos ser tolerantes. Por exemplo, numa família
os pais devem ser os primeiros a ser tolerantes e
assim estabelecer um exemplo de tolerância para os
filhos. Se um irmão não for tolerante com a esposa e
filhos, não deve esperar que os filhos saibam o que é
tolerância. Em vez de ordenar aos outros que sejam
tolerantes, ele próprio deve estabelecer um modelo de
tolerância para os filhos. Como temos indicado, ter tal
301

tolerância requer maturidade.

ANDAR PELA REGRA DA TOLERÂNCIA


Em 3:16 Paulo diz: “Mas, naquilo a que já
chegamos, andemos segundo a mesma regra” (VRC).
É verdade que a regra aqui é a regra de buscar a
Cristo. Mas, visto que na vida diária prática Cristo
deve ser expresso como tolerância, podemos dizer
que andar pela mesma regra é andar pela regra da
tolerância.

O SEGREDO DO CONTENTAMENTO
Após falar de tolerância em 4:5, Paulo diz:
“Aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação” (v. 11). Paulo aprendera o segredo do
contentamento. Por meio disso vemos que, a fim de
ser tolerantes, devemos estar satisfeitos e contentes.
Se não estivermos contentes, não seremos capazes de
tolerar.
Pela experiência posso testificar que, sempre que
não estou satisfeito, não sou capaz de exercitar
tolerância. Mas, sempre que estou satisfeito e
contente, é fácil ser tolerante.
Quando alguém está contente, não se irrita
facilmente. Mas se estiver infeliz, cansado, faminto e
sedento, pode irritar-se facilmente. Alguém satisfeito,
pelo contrário, é agradável e feliz. Quando estamos
cheios de alegria, é difícil ficar irados. Quem é pai
sabe que se um filho se comporta mal, quando
estamos satisfeitos e felizes lidamos com ele de um
modo: com tolerância. Mas, se ele se comportar
exatamente do mesmo modo quando estivermos
insatisfeitos e infelizes, lidaremos com ele de outra
302

forma: sem tolerância. A diferença é que numa


ocasião estamos cheios de Cristo, e felizes e
satisfeitos, ao passo que em outra ocasião temos
pouco de Cristo e pouca satisfação Nele.
Paulo podia fazer sua tolerância ser conhecida de
todos os santos porque estava contente. Nada lhe
faltava; antes estava plenamente satisfeito. Não
importava como era tratado pelos outros, não
importava se os santos em Filipos cuidavam de suas
necessidades ou não, Paulo estava satisfeito. Sua vida
era cheia de contentamento.
Agora podemos ver que a tolerância requer
maturidade de vida e também satisfação e
contentamento em Cristo. Poucos estamos
plenamente maduros, mas podemos agradecer ao
Senhor pois estamos maduros pelo menos até certo
ponto. De acordo com nosso grau de maturidade,
desfrutamos o contentamento da vida do Senhor.
Conhecendo o contentamento e a satisfação,
podemos, então, exercitar nossa tolerância.
Quanto mais os presbíteros numa igreja
amadurecerem e se alegrarem, mais fácil será
exercitar a tolerância na casa de Deus. De modo
semelhante, quanto mais um pai estiver maduro e
contente, mais fácil será exercitar a tolerância com os
membros da família. Sem dúvida, como o Ancião de
Dias, nosso Deus é maduro, satisfeito e contente ao
máximo. Assim, Ele é capaz de exercitar Sua
tolerância em plenitude. O Senhor Jesus também
tinha o crescimento, a satisfação e o contentamento
da vida. Portanto, onde quer que estivesse, Ele estava
cheio de tolerância e podia exercitar Sua tolerância
para com todos.
303

Quando vi vermos tal vida cheia de tolerância


não teremos nenhuma ansiedade. Nas mensagens
seguintes veremos que, quando nosso vi ver for cheio
de tolerância, seremos livres da ansiedade.
304

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM CINQÜENTA E NOVE
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (4)

Leitura Bíblica: Fp 4:4-7, 10-13


Na mensagem anterior, ressaltamos a
necessidade de haver tolerância na vida matrimonial,
familiar e da igreja. Para a edificação da igreja, os
presbíteros e todos os santos precisam exercitar a
tolerância. Do mesmo modo, para que tenhamos vida
matrimonial agradável e vida familiar excelente,
precisamos ser tolerantes. Espero que todos os santos
que tenham filhos fiquem profundamente
impressionados com a necessidade de exercitar a
tolerância no dia-a-dia em casa.

O SIGNIFICADO DE TOLERÂNCIA
O vocábulo grego traduzido por tolerância em 4:5
compõe-se de dois radicais: epi, preposição que
significa para, e eikás, que quer dizer decente,
conveniente, adequado. Quando a preposição epi é
acrescentada a outras palavras gregas, como prefixo,
geralmente tem o significado de pleno ou extenso.
Considere, por exemplo, o vocábulo epignôsis. usado
em 2 Timóteo 2:25. Nesse versículo, Paulo fala de
“conhecer plenamente a verdade”. Daí, epi
acrescentado a gnósis resulta num vocábulo que quer
dizer pleno conhecimento. O uso dessa preposição
como componente da palavra grega para tolerância,
em 4:5, indica que o sentido deve ser plenamente
305

razoável, ou conveniente ou adequado ao extremo.


Precisamos ter plena ou extrema razoabilidade e
consideração. Além do mais, precisamos agir de
modo adequado e conveniente ao extremo. Todos
esses sentidos estão incluídos no vocábulo grego
usado por Paulo em 4:5.
O vocábulo grego traduzido por tolerância em
4:5 não é, na verdade, um substantivo; é um adjetivo
usado como substantivo com artigo definido. O uso
de um adjetivo como substantivo serve para ressaltar
o sentido da palavra. Por exemplo, em 1 Timóteo 6:17,
Paulo diz: “Exorta aos ricos do presente século que
não sejam orgulhosos”. Isso é mais enfático do que
dizer: “Exorta aos homens ricos que não sejam
orgulhosos”. Em 4:5, Paulo deliberadamente usa um
adjetivo como substantivo a fim de dar especial
ênfase a tolerância.

RICA PROVISÃO
Na mensagem anterior, ressaltamos que a
tolerância requer entendimento, sabedoria, paciência
e muitas outras virtudes. Se quisermos ser tolerantes,
precisamos ser misericordiosos, bondosos e
compassivos. Além disso, ser tolerante
definitivamente requer certa habilidade em várias
áreas. Precisamos da habilidade de entender, de ser
pacientes, de socorrer os outros e proporcionar-lhes a
devida provisão. Em Sua tolerância para conosco,
Deus certamente nos tem proporcionado rica
provisão.
Deus é tolerante com o homem caído porque tem
um propósito: levar a cabo a Sua economia. Se não
proporcionasse ao homem a provisão adequada nem
306

lhe demostrasse tolerância, Deus não teria meios de


cumprir o propósito de levar a cabo a Sua economia.

ALEGRAR-SE NO SENHOR
Já vimos que tolerância requer maturidade e
também santificação e contentamento. Agora
precisamos ver que tolerância também se relaciona a
alegrar-se no Senhor. Em 4:4, Paulo diz: “Alegrai-vos
sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Logo
depois ele diz: “Seja a vossa moderação conhecida de
todos os homens”. [Como já vimos, o vocábulo
moderação pode ser traduzido por tolerância.] Se
não nos alegrarmos no Senhor, não seremos capazes
de ser tolerantes. Se quisermos manifestar nossa
tolerância, precisamos estar contentes e alegres no
Senhor. Os que estão tristes e infelizes não podem ter
tolerância. Antes, acham fácil zangar-se, queixar-se
ou perder a calma. A tolerância em 4:5 é o resultado
de alegrar-se no Senhor, mencionado no versículo 4.
Pela experiência, sabemos que alegrar-se e ser
tolerante andam juntos.

MODELO DE TOLERÂNCIA
Em 4:11-13, vemos o relacionamento entre
contentamento e tolerância. No versículo 11, Paulo
testifica: “Digo isto, não por causa da pobreza, porque
aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação”. No versículo 12 ele prossegue: “Tanto sei
estar humilhado como também ser honrado; de tudo
e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,
tanto de fartura como de fome; assim de abundância
como de escassez”. [A expressão já tenho experiência
pode ser traduzida por aprendi o segredo.] Visto que
307

aprendera o segredo do contentamento, ele podia ter


tolerância com todas as igrejas e todos os santos. Ele
diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (v. 13).
Segundo o contexto, isso inclui a habilidade de
manifestar sua tolerância aos santos: Considere a
situação de Paulo quando escreveu Filipenses. Suas
circunstâncias não eram positivas. Ele era prisioneiro
em Roma; sofria oposição dos fanáticos religiosos, e
até os santos, inclusive os filipenses, que no passado
lhe foram fiéis em prover para as suas necessidades,
eram negligentes para com ele já há algum tempo.
Em 4:10, ele diz: “Muito me alegro no Senhor de que
já por fim tenhais renovado o vosso cuidado para
comigo, o qual sempre tínheis, mas vos faltava
oportunidade” (TB). [O verbo renovar também pode
ser traduzido por fazer brotar novamente.] A
expressão fazer brotar novamente implica que ele
passara pelo “inverno” na sua experiência, mas agora
chegara a “primavera”, com o cuidado dos filipenses
por ele brotando novamente. Embora fizesse alusão
ao “inverno” que experimentara e ao temporário
esquecimento dos filipenses para com ele, ele
exercitou grande entendimento ao escrever para eles.
Enquanto escrevia essa Epístola, ele exercitava a
tolerância. Assim, o apóstolo Paulo, alguém cheio de
entendimento acerca da situação e dos santos, foi
excelente exemplo de tolerância.

A NECESSIDADE DE ENTENDIMENTO E
SABEDORIA
Quase não somos tolerantes, por causa de
mal-entendidos. Na vida da igreja, freqüentemente
não entendemos os irmãos. Na vida familiar talvez
308

fracassemos em entender o cônjuge. Essa falta de


entendimento produz falta de tolerância. Suponha
que Paulo não entendesse bem os filipenses.
Certamente não lhes teria escrito tal Epístola
maravilhosa. Antes, talvez dissesse que, quando mais
precisava da ajuda deles, esta não estava disponível.
Agora que eles se lembraram dele e lhe enviaram uma
oferta, chegou tarde demais. Ele, porém, tinha pleno
entendimento da economia de Deus e Seu mover;
também entendia a sutileza do ataque de Satanás.
Além disso, entendia os santos de Filipos e a situação
deles. Para ele tudo estava c1aríssimo. Assim, da sua
parte, não havia mal-entendidos. Ele podia exercitar
muita tolerância ao escrever aos crentes de Filipos.
Ao escrever aos filipenses, Paulo também
exercitou sabedoria. Ele sabia o que dizer e quanto
dizer. Se lermos essa Epístola cuidadosamente,
perceberemos que a redação de Paulo é muito
precisa. Ele não escreveu de modo longo demais nem
breve demais. Aqui vemos a sabedoria do autor.
Paulo precisou exercitar sabedoria ao escrever
aos filipenses, e nós precisamos exercitar sabedoria
na vida conjugal. O marido precisa de sabedoria para
falar com a mulher, e a mulher precisa de sabedoria
ao lidar com certas questões com o marido. Eu
gostaria de ressaltar aqui a necessidade de a mulher
ter sabedoria para com o marido. Imaginemos que
uma irmã queira falar com o marido sobre certa
questão. Antes de dizer algo, ela precisa exercitar
entendimento, consideração e sabedoria. Se falar com
ele na hora errada ou se falar demais sobre o assunto
em questão, pode fazer com que ele fique bravo não
só com ela, mas também com os demais irmãos na
309

vida da igreja, e até com os presbíteros. Às vezes o


marido fica bravo com os presbíteros só porque a
mulher lhe dá uma informação sem exercitar
entendimento, consideração e sabedoria. Até ao
passar certa informação ao marido, uma irmã precisa
de muita tolerância. Para isso, ela precisa entender
corretamente o marido e a situação dele. Se perceber
que o marido é alguém rápido, que reage
precipitadamente a certas coisas e perde a calma e
fica bravo facilmente, ela precisa considerar como
ajudá-lo a ser paciente e acalmar-se. Ela precisa
especificamente considerar quanto deve falar com
ele. Talvez primeiro precise compartilhar apenas
parte da informação. Antes de ir adiante, deve
considerar a atmosfera e discernir se está na hora de
o marido ouvir mais. Ela pode compartilhar algo num
momento, outra coisa depois e o restante em outra
hora. Se ela for tolerante, exercitando entendimento,
consideração e sabedoria, o resultado da conversa
com o marido será muito proveitoso tanto para a vida
conjugal como para a vida da igreja.

ORAÇÃO E TOLERÂNCIA
Assim como o versículo 5 é a continuação do 4,
também o 6 é continuação do 5. Se virmos a
continuação aqui, perceberemos que a tolerância
requer oração. No versículo 6, Paulo diz: “Não andeis
ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam
conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela
oração e pela súplica, com ações de graças”. Parece
não haver relação entre as expressões “seja a vossa
moderação conhecida” e “sejam conhecidas (...) as
vossas petições”. Na verdade, estão muito
310

relacionadas. Quando exercitamos a tolerância,


percebemos o quanto precisamos orar. Podemos
estar ansiosos e temerosos acerca de muitas coisas
relacionadas com a família ou a igreja. Além do mais,
talvez percebamos que se falarmos acerca de nossas
preocupações, podemos causar problemas. Que
devemos fazer, então? Após exortar-nos a não ficar
ansiosos, Paulo nos insta a orar. Se oramos, o Senhor
nos dá o entendimento, consideração e sabedoria de
que precisamos. Se uma irmã ora antes de
compartilhar com o marido certa questão específica,
ela sabe o que dizer a ele e quando deve conversar.
Além disso, se for fiel na oração, ela também terá rica
provisão para ministrar ao marido. Então, a
tolerância dela com sua rica provisão realizará o
propósito de Deus na situação.
Se todos os santos na restauração do Senhor
exercitarem a tolerância na vida conjugal e também
na criação dos filhos, teremos a melhor vida familiar.
Então seremos capazes de cantar acerca da
maravilhosa e gloriosa vida da igreja. Poderemos
testificar não só da maravilhosa vida da igreja, mas
também da maravilhosa vida conjugal.

VIDA CONJUGAL, VIDA FAMILIAR E VIDA


DA IGREJA
Primeiro precisamos edificar uma vida conjugal e
familiar adequada; depois poderemos edificar a vida
da igreja. Se um irmão não sabe edificar uma vida
conjugal adequada em casa e uma excelente vida
familiar com os filhos, será muito difícil ter parte na
edificação da igreja. Quando se reúne com os demais
para o serviço da igreja, ele pode até tentar ser cortês,
311

todavia não é cortês com a esposa ou com os filhos.


Podemos ser corteses com os irmãos na igreja, mas
muito rudes com o cônjuge ou com os filhos.
A vida doméstica é o que mais nos expõe. Não
pense que simplesmente porque certo irmão é gentil,
educado e cortês com os santos na igreja, ele
necessariamente o é em casa. Se quiser conhecê-lo,
precisa ver como ele vive com a esposa e filhos. Oh!
como precisamos de tolerância na vida conjugal e
familiar para que edifiquemos a vida correta da
igreja!
Quanto mais percebemos a necessidade de
tolerância, mais vemos quão difícil é ser um ser
humano correto. Não é fácil ser mulher ou marido,
pai ou membro da vida da igreja. A maioria dos
cristãos hoje nada sabe sobre a autêntica vida da
igreja. No máximo, muitos se reúnem para um culto
de adoração de uma hora aos domingos. Não há a
prática da vida da igreja. Além disso, na sociedade, a
vida familiar foi severamente danificada. Muitos nem
se casam, apenas vivem juntos, pois não querem
aceitar as limitações do casamento. Isso é o total
abandono da prática da tolerância.
Precisamos estar completamente
comprometidos com a vida conjugal, familiar e da
igreja. Os laços que nos unem são permanentes. Na
autêntica vida familiar e da igreja, ninguém é
contratado nem demitido. Será que podemos
contratar alguém para ser nosso filho, ou será que
podemos demitir os filhos? É claro que não!
Tampouco podem os membros da vida da igreja ser
contratados ou demitidos. Do mesmo modo, se um
servo do Senhor pode demitir um de seus
312

cooperadores, eles, de fato, não cooperam juntos no


Senhor. Na obra do Senhor não existe contratação ou
demissão. Portanto, na vida familiar, da igreja e ao
cooperar pelos interesses do Senhor, precisamos de
tolerância. A tolerância é necessária pois estamos
unidos permanentemente.
Gostaria de relembrar-lhe que a tolerância é uma
virtude todo-inclusiva. Ela inclui o entendimento,
sabedoria, paciência, consideração e a habilidade de
socorrer e prover adequadamente. Se todos
exercitarmos a tolerância, teremos uma agradável
vida conjugal, excelente vida familiar e maravilhosa
vida da igreja.
313

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM SESSENTA
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (5)

Leitura Bíblica: Fp 4:4-7; 1:18-21; 4:10-13


Temos enfatizado repetidamente que o livro de
Filipenses é um livro sobre a experiência de Cristo.
Para experimentar Cristo precisamos vivê-Lo a fim de
engrandecê-Lo (1:20-21). Então precisamos torná-Lo
como modelo e buscá-Lo como alvo. Na vida cristã
devemos ter a única mente: a de buscar Cristo e
ganhá-Lo. Após falar desses aspectos da experiência
de Cristo, Paulo, para nossa surpresa, fala no capítulo
quatro de tolerância e ansiedade. Do lado positivo,
precisamos de tolerância; do lado negativo, não
devemos ter ansiedade alguma.
Por que na conclusão de tal livro profundo sobre
a experiência de Cristo Paulo menciona tolerância e
ansiedade? Aparentemente não há conexão entre as
questões abordadas nos capítulos um, dois e três e o
que Paulo fala sobre tolerância e ansiedade. Anos
atrás, eu não achava que valesse a pena Paulo falar de
ansiedade. De acordo com o meu conceito, ele deveria
ter continuado a falar sobre coisas mais elevadas,
embora eu não tivesse clareza de quais deveriam ser
essas coisas mais elevadas.

AS CIRCUNSTÂNCIAS DESIGNADAS POR


DEUS
Em Efésios 1:3 e 2:6 Paulo fala sobre as regiões
314

celestiais. Na sua experiência de cada dia, você está


nas regiões celestiais ou em ansiedade? Na maioria
das vezes, estamos em ansiedade, e não nas regiões
celestiais. Após a queda do homem, a vida humana
tornou-se uma mescla de ansiedade e preocupação.
Se você ler Gênesis 3 cuidadosamente, verá que a
ansiedade provém do ambiente designado para nós
por Deus. Por exemplo, temos ansiedade com relação
aos filhos. Desde o momento que uma criança nasce,
seus pais preocupam-se com ela. Quem não tem
filhos pode sonhar em tê-los algum dia. Mas não
percebe a preocupação e a ansiedade associadas ao
dá-los à luz e cuidar deles. Tudo o que afeta o viver
dos filhos gera ansiedade. Podemos preocupar-nos
com sua respiração, dieta e roupas. A maioria dos
pais pode testificar que, no que diz respeito aos filhos,
seus dias são mais cheios de ansiedade do que de
felicidade.
Gênesis 3 indica que o homem caído é também
ansioso no que diz respeito ao viver. Em Gênesis 3: l7
o Senhor disse ao homem: “Maldita é a terra por tua
causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os
dias de tua vida”. No versículo 19 o Senhor diz: “No
suor do rosto comerás o teu pão”. Visto que o homem
deve labutar para subsistir, ele é cheio de ansiedade.
Todo fazendeiro é ansioso com relação à plantação.
Ele se preocupa com o clima e também com o dano
causado por pragas e insetos. Na verdade não há
nenhum tipo de trabalho que nos deixe livres da
ansiedade. Até mesmo quem é bem-sucedido na
profissão fica ansioso com o trabalho. A ansiedade é
inevitável.
Também há muita ansiedade relacionada com a
315

vida conjugal. Os jovens desejam casar-se. A vida


conjugal é boa, mas envolve mais preocupação e
ansiedade do que felicidade. Encorajo todos os jovens
a que se casem no tempo adequado, mas não esperem
uma vida conjugal livre de ansiedade.
A vida humana é cheia de ansiedade. Os anjos, no
entanto, não estão sujeitos à ansiedade porque não
têm circunstância nenhuma com a qual se preocupar.
Eles não se casam, e não precisam estar preocupados
em ganhar a vida ou cuidar da família. Nem mesmo é
necessário que durmam. Algumas pessoas cometem o
erro de tentar viver como se fossem anjos. Mas Deus
determinou todas as circunstâncias da vida humana,
embora elas gerem mais ansiedade que felicidade.
Parece que a tristeza sempre dura mais do que a
felicidade. Pode haver um curto período de felicidade
e, então, um período muito mais longo de tristeza,
preocupação ou ansiedade.
Qual é o propósito de Deus ao designar-nos
circunstâncias que nos causam ansiedade? De acordo
com Romanos 8, além da redenção e do Espírito que
habita interiormente, precisamos de “todas as
coisas”. O versículo 28 diz: “Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito”. Esteja certo, incluídos em “todas as
coisas” estão os sofrimentos, as ansiedades e as
preocupações. A fim de Deus nos aperfeiçoar, são
necessários os sofrimentos. Pela nossa experiência
sabemos que praticamente tudo que está incluído em
“todas as coisas” envolve ansiedade.

A TOTALIDADE DA VIDA HUMANA E DA


316

VIDA CRISTÃ
Como uma pessoa idosa, passei por inúmeras
experiências na vida humana. Sob a mão soberana do
Senhor, estive em muitíssimas circunstâncias
diferentes. Conheci a pobreza, e conheci o que é ter
minhas necessidades supridas. Posso testificar que
em todas as circunstâncias da vida humana a
ansiedade está presente. Ansiedade é uma palavra
que pode resumir a vida humana. A totalidade da vida
humana é ansiedade. Se perguntar a uma pessoa mais
velha sobre ansiedade, ela lhe dirá que conheceu a
ansiedade quase todos os dias da vida.
Paulo fala sobre ansiedade em 4:6 porque
percebe que ela é a totalidade da vida do homem. Ele
também percebia que a tolerância é a totalidade da
vida cristã adequada. Ele sabia que a vida humana é
constituída de ansiedade e que a vida cristã é
constituída de tolerância. Assim, viver Cristo é ter
tolerância sem ansiedade.
Não é possível entender adequadamente
Filipenses 4 simplesmente estudando esse capítulo na
letra. Precisamos de experiência com o Senhor a fim
de entender o que Paulo quer dizer. Cinqüenta anos
atrás eu não tinha um entendimento adequado desse
capítulo. Mas, por meio de muitos anos de estudo e
experiência, tanto na vida humana como na vida
cristã, o Senhor me abriu os olhos para ver que a
verdadeira vida cristã é uma vida de tolerância. Vim a
perceber que, assim como a ansiedade é a totalidade
da vida humana, a tolerância é a totalidade da vida
cristã. E por isso que Paulo usa as palavras tolerância
e ansiedade juntas ao exortar os santos.
Positivamente, devemos fazer conhecida nossa
317

tolerância. Todos os que têm contato conosco devem


conhecer nossa tolerância. Negativamente,
precisamos ter uma vida sem ansiedade.
Para que sejamos seres humanos adequados
precisamos ser cristãos, e para que sejamos cristãos
normais precisamos ter a vida da igreja. Contudo, se
quisermos ter a vida da igreja adequada e autêntica,
precisamos de uma vida cheia de tolerância, mas sem
ansiedade. Ter tal vida é viver Cristo.

VIVER CRISTO
Em Gálatas 2:19-20 Paulo diz: “Estou crucificado
com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim”. Anos atrás, comecei a ler livros sobre
esse versículo. Contudo, não podia entender o que
significava Cristo viver em mim. A explicação de
Gálatas 2:20 não é encontrada em Gálatas, mas em
Filipenses. Em Filipenses Paulo diz não somente que
Cristo vive em nós; ele avança e revela que viver é
Cristo. Viver Cristo ultrapassa simplesmente ter
Cristo vivendo em nós. Viver Cristo significa que
temos uma vida cheia de tolerância, mas sem
ansiedade.
Qualquer quantia de ansiedade diminui a medida
de Cristo em nossa experiência. Até mesmo uma
pequena ansiedade faz com que a medida de Cristo
diminua. A extensão da presença de Cristo na vida
diária é determinada pela quantidade de tolerância e
ansiedade. Se temos tolerância, temos Cristo. Mas, se
temos ansiedade, temos carência de Cristo. No viver
do dia-a-dia, quanta tolerância você tem e quanta
ansiedade? Qual é maior: o grau de tolerância ou o de
ansiedade? Provavelmente a maioria de nós teria de
318

admitir que na vida diária temos mais ansiedade do


que tolerância.
Quero enfatizar que viver Cristo é ter tolerância,
mas sem ansiedade. Se tivermos tolerância, não
teremos ansiedade. Mas, se ti vermos ansiedade, não
teremos tolerância. Tolerância e ansiedade não
podem existir juntas.

ENGRANDECER CRISTO
Filipenses 4:4 diz: “Alegrai-vos sempre no
Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Paulo abre 4:10
com as palavras: “Alegrei-me, sobremaneira, no
Senhor”. Além do mais, em 1:18, ao falar de sua
aflição, ele diz: “Todavia, que importa? Uma vez que
Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer
por pretexto, quer por verdade, também com isto me
regozijo, sim, sempre me regozijarei”. O que ele fala
sobre regozijar-se é especialmente significativo
quando consideramos suas circunstâncias. Ele era
prisioneiro em Roma, e alguns de seus opositores
faziam o possível para danificar seu ministério.
Contudo, ele declara: “Porque estou certo de que isto
mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito
de Jesus Cristo, me redundará em libertação” (v. 19).
[Já ressaltamos que o vocábulo provisão pode ser
traduzido por provisão abundante e o termo
libertação é, no original, salvação.] Como
enfatizamos anteriormente, salvação aqui significa
engrandecer Cristo vivendo-O. Assim, Paulo diz:
“Segundo a minha ardente expectativa e esperança de
que em nada serei envergonhado; antes, com toda a
ousadia, como sempre, também agora, será Cristo
engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela
319

morte” (v. 20). Ele esperava não ser envergonhado


em nada.
Suponha que um dos colaboradores de Paulo o
visitasse na prisão e o encontrasse ansioso, triste e
cheio de preocupações. Sem dúvida, o visitante teria
dito: “Que vergonha ver o próprio apóstolo que
ministrou Cristo a nós tão triste e ansioso!” Se essa
fora a situação de Paulo, ele teria sido envergonhado.
Mas Paulo engrandecia Cristo. Não importava quão
difíceis fossem suas circunstâncias, ele não tinha
ansiedade alguma. Visto que não estava ansioso de
nada, ele não foi envergonhado em nada. Em vez
disso, Cristo foi engrandecido nele.
Paulo podia engrandecer Cristo porque tinha
tolerância. Mesmo em seu aprisionamento, ele tinha
muita tolerância. Ele levava as igrejas em
consideração, tinha um entendimento adequado dos
santos e tinha a habilidade para suprir os santos e os
que estivessem em torno dele com amor,
misericórdia, bondade e comiseração. Uma vez que
exercitava sua tolerância plenamente, não havia
nenhum traço de ansiedade. Ele podia até mesmo
dizer que esperava que Cristo fosse engrandecido nele
quer pela vida quer pela morte. Isso indica que não
estava preocupado com a morte. O pensamento sobre
a morte não o deixava ansioso.

CONTENTAMENTOETOLERÂNCIA
Vimos que a ansiedade é oposta à tolerância. A
ansiedade é como um verme que devora nossa
habilidade de tolerar. Se não tivermos tolerância,
ser-nos-á fácil ficar irritados ou perder a calma. A ira
freqüentemente provém da ansiedade. Se estou
320

preocupado com meu futuro, circunstâncias ou


família, não fico contente com os outros. Essa
preocupação faz-me ficar irritado com todos.
Somente quando estamos alegres e satisfeitos temos
realmente tolerância.
Numa mensagem anterior enfatizamos que a
felicidade e o contentamento são dois elementos que
produzem tolerância. Somente uma pessoa feliz e
satisfeita pode tolerar. Alguém triste e descontente,
pelo contrário, facilmente se irrita ou se ofende. Uma
vez cheio de felicidade e contentamento, Paulo não
tinha ansiedade, e, sim, tolerância abundante.
Sabemos pela palavra de Paulo em 4:10-12 que,
pelo menos por certo tempo, ele teve pouca provisão.
Mas podia testificar: “Aprendi a viver contente em
toda e qualquer situação”. Ele podia dizer: “Sei o que
é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi
o segredo de viver contente em toda e qualquer
situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo
muito ou passando necessidade” (NVI). Visto que
aprendera o segredo, ele podia estar contente e, como
resultado, ter tolerância abundante.
Muitos têm enfatizado que Filipenses é um livro
sobre a alegria. Várias vezes Paulo nos exorta a nos
alegrar no Senhor.
O ambiente de Paulo tornaria difícil para
qualquer pessoa ser alegre. Geralmente, não
pensamos numa prisão como um lugar para
alegrar-se. Mas, uma vez que Paulo não tinha
ansiedade, ou preocupação com suas circunstâncias
ou seu futuro, ele podia regozijar-se no Senhor e ser
tolerante.
321

O DESÍGNIO DE DEUS
Se quisermos ter uma vida livre de ansiedade,
precisamos perceber que todas as nossas
circunstâncias, boas ou más, foram designadas por
Deus. Precisamos ter essa percepção com plena
certeza. Suponha que um irmão seja comerciante. Seu
negócio pode prosperar, e ele pode ganhar um bom
dinheiro. Mais tarde seu negócio pode fracassar e ele
pode perder muito mais do que ganhou. Tanto o
ganhar dinheiro como perdê-lo são o desígnio de
Deus para ele. Se esse irmão tem a plena certeza de
que suas circunstâncias vêm do desígnio de Deus,
será capaz de adorar ao Senhor por Seu arranjo.
Talvez perder dinheiro irá beneficiá-lo mais do que
ganhar dinheiro, pois por meio de tal perda ele pode
ser aperfeiçoado e edificado.
Do mesmo modo, tanto a doença como a saúde
vêm de Deus como Seu desígnio. Todos devemos
desejar ser saudáveis. Mas, às vezes, uma boa saúde
não nos aperfeiçoa tanto quanto um período de
doença. Além do mais, quando nossa saúde está
fraca, podemos ser mais propensos a orar do que
quando temos boa saúde.
O primeiro pré-requisito para não ter nenhuma
ansiedade é ter a plena certeza de que todos os
sofrimentos que experimentamos são o desígnio de
Deus. Que necessidade há de preocupar-se com as
coisas? Deus as designou para nós. Ele sabe do que
precisamos.
Quando era muito jovem, li uma história sobre
uma conversa entre dois pardais que falavam sobre as
tristezas e as preocupações comuns entre os seres
humanos. Um pardal perguntou ao outro por que as
322

pessoas preocupavam-se tanto. O outro pardal


respondeu: “Não creio que eles tenham um Pai que
cuide deles como nós. Não precisamos preocupar-nos
com nada porque nosso Pai toma conta de nós”. Sim,
nosso Pai realmente cuida de nós. Mas, às vezes, Ele
nos envia dificuldades e sofrimentos a fim de servir
ao cumprimento do nosso destino de engrandecer
Cristo. Podemos estar livres das preocupações não
porque Deus nos prometeu uma vida sem sofrimento,
mas porque sabemos que todas as nossas
circunstâncias vêm a nós como desígnio de Deus.
Paulo não se preocupava com a vida ou com a morte.
Ele se preocupava somente em que Cristo fosse
engrandecido nele. Ele percebia que cada
circunstância era para seu bem. Essa é a maneira de
não ter nenhuma ansiedade.
Por que certos santos preocupam-se em perder
dinheiro? Simplesmente porque o desejo deles é ter
mais dinheiro. Por que outros são ansiosos com
relação à saúde? Porque têm medo de morrer. Se
estamos doentes, precisamos declarar: “Satanás, o
que você pode fazer a mim? Não estou preocupado
com a morte. A morte não me torna ansioso. Antes, a
possibilidade de morrer me dá outra oportunidade de
engrandecer Cristo”. Em vez de temer a pobreza,
doença ou morte, devemos dar boas-vindas a elas se
Deus no-las enviar. Então não teremos nenhuma
ansiedade, pois saberemos que cada circunstância é
um desígnio de nosso Pai. Isso não quer dizer, no
entanto, que devamos buscar sofrimento pelo
sofrimento. Não devemos fazer coisas que irão nos
fazer sofrer. Os negociantes devem procurar ganhar
dinheiro, e os empregados devem tentar obter uma
323

promoção. Mas, se perdermos dinheiro ou até mesmo


o emprego, não precisamos ficar ansiosos. Tal perda
vem do desígnio de Deus, e não precisamos ficar
ansiosos com relação a isso.
324

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM SESSENTA E UM
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (6)

Leitura Bíblica: Fp 4:4-7; 1Ts 5:16-18; Jó 1:20-22;


2Co 4:16-17; 12:7-9
Nesta mensagem e na seguinte consideraremos
muitos detalhes e pontos refinados com respeito a
uma vida cheia de tolerância, mas sem ansiedade. Em
particular consideraremos a maneira de cumprir a
palavra de Paulo em 4:6: “Não andeis ansiosos de
coisa alguma”.
Temos enfatizado repetidamente que o tema do
livro de Filipenses é a experiência de Cristo. Nos três
primeiros capítulos dessa Epístola, o padrão dos
escritos de Paulo é muito alto. Contudo, no capítulo
quatro, a conclusão do livro, Paulo parece descer a
um nível mais baixo ao enfatizar a tolerância e a
ansiedade.
Há mais de cinqüenta anos fiquei preocupado
com Filipenses 4. Apreciava as palavras de Paulo nos
três primeiros capítulos. No capítulo um vemos que
devemos engrandecer Cristo vivendo-O; no dois, que
devemos tomar Cristo como o modelo da vida cristã;
e no três, que Cristo é muito superior a todas as coisas
da religião e da cultura e devemos considerar todas as
coisas como perda a fim de buscá-Lo e ganhá-Lo.
Então, no capítulo quatro, Paulo repentinamente fala
sobre tolerância e ansiedade. Eu percebia que a
tolerância era uma virtude, mas na minha opinião o
325

que Paulo falou sobre tolerância não podia ser


comparado com o que ele tinha escrito nos três
capítulos anteriores. Além do mais, eu ficava
incomodado com o fato de Paulo enfatizar a
ansiedade. Mas nos últimos anos a luz sobre a
questão da tolerância versus ansiedade tem
gradualmente se tornado mais clara. Tenho agora um
profundo apreço pelas palavras de Paulo: “Seja vossa
tolerância conhecida de todos os homens” (v. 5 — lit.),
e: “Não andeis ansiosos de coisa alguma” (v. 6).

DUAS VIDAS
A ansiedade é a totalidade da vida humana
natural. Dia após dia, e até mesmo hora após hora, a
vida humana comum é cheia de ansiedade. Todo ser
humano normal é ansioso. Quanto mais sóbrio você
for na mente, mais ansioso será. Se for uma pessoa
pensativa e cautelosa, terá bastante ansiedade.
Pessoas sensíveis são especialmente incomodadas
pela ansiedade. Quem é incomumente indiferente ou
insensível pode não ter muita ansiedade, mas quem é
sensível geralmente tem muitas ansiedades.
Assim como a ansiedade é a totalidade da vida
humana comum, a tolerância é a totalidade da vida
cristã adequada. Portanto, as palavras ansiedade e
tolerância representam dois tipos de vida. Entre os
seres humanos há somente dois tipos de vida: a vida
humana e a vida cristã. A vida humana é cheia de
ansiedade, ao passo que a vida cristã é cheia de
tolerância. Se virmos esse contraste, perceberemos
que é questão de grande importância Paulo enfatizar
a tolerância e a ansiedade em Filipenses 4. Ele
enfatiza a tolerância e a ansiedade porque
326

representam duas vidas distintas. Todo ser humano


está sujeito à ansiedade. Mas se formos cristãos de
acordo com o padrão divino, teremos uma vida cheia
de tolerância e sem ansiedade. O primeiro ponto que
gostaria de enfatizar nesta mensagem é que
tolerância e ansiedade representam dois tipos de
vida.

DUAS FONTES
Em segundo lugar, a tolerância vem de Deus, e a
ansiedade vem de Satanás. Isso quer dizer que
tolerância e ansiedade representam duas fontes: Deus
e Satanás.

Deus, a Fonte da Tolerância


A fonte da tolerância é Deus. Ele nos dá
tolerância para que realizemos Seu propósito. Deus
tem um propósito conosco individualmente, com
nossa família e conosco na igreja. A fim de executar o
propósito divino relacionado conosco, com nossa
família e com a igreja, necessitamos de tolerância. Se
nos faltar a virtude todo-inclusiva da tolerância,
ser-nos-á impossível cumprir o propósito de Deus.
Isso quer dizer que não poderemos permitir que Deus
cumpra Seu propósito conosco, com nossa família e
com a igreja.
Deus tem um triplo propósito com cada um de
nós. Ele tem um propósito para nós individualmente,
para nós em relação à nossa família e para nós na vida
da igreja. É crucial que percebamos que Ele tem esse
triplo propósito com respeito a nós. Para o
cumprimento de tal propósito divino, necessitamos
de tolerância. Sem tolerância não permitiremos que
327

Deus cumpra Seu propósito conosco, com nossa


família ou com a Igreja.
Vimos que tolerância quer dizer ser plenamente
razoável, atencioso e compreensivo ao lidar com
outros. Se formos tolerantes, teremos a sabedoria e a
habilidade para suprir os outros com o que
necessitam. Também teremos o pleno conhecimento
do que lhes dizer e quando dizer. Por exemplo, um pai
tolerante saberá como e quando falar aos filhos. Se
não exercitarmos a tolerância na vida familiar, não
seremos capazes de edificar a família para o
cumprimento do propósito de Deus. A tolerância é
não somente a totalidade da vida cristã adequada; é
também o meio dado por Deus para cumprir Seu
triplo propósito com cada um de nós. Quão precioso é
que a fonte da tolerância seja Deus! A tolerância que
exercitamos e fazemos conhecida aos outros provém
de Deus.

Satanás, a Fonte da Ansiedade


A fonte da ansiedade é Satanás. A ansiedade
provém de Satanás para frustrar o cumprimento do
propósito de Deus. Não pense que Deus designa
ansiedade para nós. Na mensagem anterior eu disse
que a ansiedade vem das circunstâncias designadas
por Deus. Dizer que a ansiedade vem do desígnio de
Deus é bem diferente de dizer que a ansiedade é o
desígnio de Deus. Por causa da queda, Deus designou
sofrimentos para nós. Por exemplo, Ele ordenou que
as mulheres experimentem sofrimento no parto.
Também ordenou que os homens lidem com cardos e
abrolhos. Gênesis 3:17-19 diz: “Maldita é a terra por
tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante
328

os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e


abrolhos, (...) no suor do rosto comerás o teu pão”.
Embora tenha designado tais sofrimentos, Ele não
designou a ansiedade. Após Deus ter feito Seu
desígnio, Satanás veio para causar ansiedade por
meio dos sofrimentos designados por Deus. A
ansiedade não vem de Deus. Ela vem do Seu
adversário, Satanás, que usa os sofrimentos por Ele
ordenados para causar ansiedade na vida humana.
Portanto, a ansiedade vem de Satanás e o representa,
enquanto a tolerância vem de Deus e o representa.

Como Deus Usa Satanás


A Bíblia revela que Deus usa Satanás. Vemos isso
especialmente no livro de Jó. Quando o li pela
primeira vez, fiquei preocupado com o fato de que
Satanás tinha acesso à presença de Deus nos céus. Jó
1:6 diz: “Num dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se perante o SENHOR, veio também
Satanás entre eles”. Os versículos seguintes registram
uma conversa entre Deus e Satanás. Eu imaginava
como essa conversa podia acontecer. Por que Deus
permitiria tal ser maligno falar com Ele? Por que Ele
não o destruiu, ou pelo menos o afastou? Deus usou
Satanás para lidar com JÓ. Jó era justo e perfeito em
si mesmo; contudo, não conhecia a Deus de fato.
Assim, Jó precisou ser quebrantado; Deus precisou
lidar com ele por completo. Deus usou Satanás para
realizar esse trabalho, permitindo a Satanás,
respeitando certos limites estabelecidos, fazer
determinadas coisas a Jó.
De 2 Coríntios 12 vemos que Deus também
permitiu que um mensageiro de Satanás afligisse
329

Paulo. Paulo percebia que esse espinho na carne


vinha de Satanás. Ele diz: “E, para que não me
ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foime
posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás,
para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (v. 7).
O princípio é o mesmo tanto no caso de Paulo como
no de Jó. Assim como foi permitido por Deus que
Satanás afligisse a Paulo, foi-lhe permitido afligir Jó.
De acordo com o primeiro capítulo do livro de Já,
logo após Satanás ter recebido permissão para afligir
Já, ele enviou calamidades. Primeiramente, chegou
uma mensagem dizendo que os sabeus tinham
roubado os bois e as jumentas e matado os servos (Jó
1:14-15). Imediatamente chegou a notícia de outra
calamidade: caíra fogo do céu e consumira as ovelhas
de Jó e outros de seus servos. Então veio a mensagem
sobre os caldeus que roubaram os camelos e mataram
ainda outros servos. Então chegou a notícia da quarta
calamidade: “grande vento da banda do deserto”
destruiu a casa onde os filhos e filhas de Jó
festejavam, e todos morreram. Aqui vemos que
Satanás é capaz de usar pessoas, fogo e vento para
trazer grande destruição. Quando li Jó 1 pela primeira
vez, não entendi por que Deus permitiu que Satanás
fizesse tais coisas. Primeiro Satanás envia
calamidades. Depois vem para causar ansiedade.
Deus tinha um propósito ao permitir que Satanás
afligisse Jó. O propósito era quebrantar Jó, alguém
perfeito e justo aos próprios olhos. Deus usou Satanás
para fazer o que nenhum ser humano seria capaz de
fazer. Como os amigos de Jó não podiam lidar com
ele, Deus usou Satanás para essa tarefa. O diabo com
freqüência realiza para Deus certos desígnios difíceis.
330

Algumas vezes, se Deus não consegue atingi-lo ao


usar outras pessoas, Ele permitirá que Satanás lide
com você. Com respeito a Jó, o propósito de Deus era
quebrantá-lo. Com respeito a Paulo, o propósito de
Deus ao permitir que Satanás enviasse um
mensageiro para afligir seu corpo era guardá-lo de se
orgulhar por causa das visões e revelações que
recebera. Sem dúvida, o propósito de Satanás é
sempre atacar o povo de Deus. Esse propósito é
negativo. Mas, ao permitir que ocorre: um ataque
satânico, Deus tem outro propósito, um propósito
muito positivo. Todos os sofrimentos pelos quais
passamos são designados a nós por Deus para um
propósito positivo.
Paulo fala desse propósito em 2 Coríntios
4:16-17: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário,
mesmo que o nosso homem exterior se corrompa,
contudo, o nosso homem interior se renova de dia em
dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação”. Embora as aflições sejam designadas
por Deus, elas não vêm diretamente Dele. Antes, cada
aflição, desastre, calamidade ou catástrofe vem de
Satanás. Mas elas vêm com a permissão de Deus e
para o Seu propósito de aperfeiçoar-nos. Essa era a
razão pela qual Paulo podia declarar que a leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno peso
de glória. Deus tem um propósito para cumprir em
relação a nós, e esse propósito algumas vezes requer a
ajuda de Satanás.
Alguns meses atrás tive um problema de saúde.
Sabia que esse problema era causado pelo maligno,
Satanás. Mas também percebi que foi permitido por
331

Deus para LI m propósito. O Senhor desejava tocar


algo em mim, e usou e se meio para fazê-lo,
Se olharmos para os casos de Jó e Paulo, veremos
que Deus permite que Satanás cause aflição. Assim
que a aflição vem, Satanás vem para causar
ansiedade. A ansiedade causada por Satanás visa
frustrar o propósito de Deus. Repetindo, a tolerância
vem de Deus para o cumprimento de Seu propósito,
mas a ansiedade vem de Satanás para frustrar o
propósito de Deus. Se virmos isso, perceberemos que
não é insignificante Paulo falar de tolerância e
ansiedade juntas em Filipenses 4:5-6.

NENHUMA COEXISTÊNCIA ENTRE


TOLERÂNCIA E ANSIEDADE
Se tivermos tolerância, não teremos ansiedade.
Mas, se tivermos ansiedade, não teremos tolerância.
Assim como Deus e Satanás não podem permanecer
juntos, tolerância e ansiedade não podem coexistir.
Sempre que a tolerância vem, a ansiedade deve ir
embora. Mas, se a ansiedade estiver conosco,
estaremos completamente sem tolerância. Ninguém
que exercite a tolerância pode estar ansioso. Mas se
você não for tolerante, estará ansioso e cheio de
preocupações.
Pela experiência, não pela doutrina, viemos a
entender que quando exercitamos a tolerância
plenamente, toda a ansiedade desaparece. Se pela
misericórdia e graça de Deus tolerarmos todo o
mundo, todas as coisas e todas as questões, não
seremos ansiosos de nada. Pela misericórdia e graça
de Deus, precisamos tolerar as pessoas, coisas e
questões. Se formos tolerantes desse modo, não
332

estaremos sujeitos à ansiedade.

VIVER CRISTO COMO NOSSA TOLERÂNCIA


Vimos que a tolerância é, na verdade, o próprio
Cristo expresso em nós. O Cristo em Filipenses 1, 2 e
3 é a própria tolerância da qual Paulo fala em 4:5.
Assim, fazer nossa tolerância conhecida é fazer nosso
Cristo conhecido. A tolerância é, na verdade,
engrandecer Cristo. Em 1:20 Paulo diz que Cristo será
engrandecido nele, mas em 4:5 diz que façamos nossa
tolerância conhecida. Quando colocamos esses
versículos juntos, vemos que engrandecer nosso
Cristo é fazer nossa tolerância conhecida. Portanto,
em nossa experiência a tolerância é o próprio Cristo.
Se vivermos Cristo como nossa tolerância, não
nos será possível ser ansiosos. A ansiedade é uma
impossibilidade para quem tem Cristo como sua
tolerância. Você sabe por que somos ansiosos e por
que nos preocupamos? Somos ansiosos e
preocupados porque não vivemos Cristo. As palavras
“viver Cristo” podem ser mero termo doutrinário,
uma maneira de falar, e não nosso viver real de forma
prática. Mas quando vivemos Cristo dia após dia, a
ansiedade não tem terreno em nós.
Repito: tolerar é viver Cristo. Em tal vida, uma
vida de tolerar todas as coisas pela graça de Deus, não
há lugar para ansiedade. Quando engrandecemos
Cristo vivendo-O, a ansiedade não tem como
tocar-nos. Então, visto que vivemos Cristo como
nossa tolerância, não ficamos ansiosos de coisa
alguma.
333

ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES
MENSAGEM SESSENTA E DOIS
UMA VIDA CHEIA DE TOLERÂNCIA, MAS SEM
ANSIEDADE (7)

Leitura Bíblica: Fp 4:4-7; 1Ts 5:16-18; 2Co 12:7-9


Na mensagem anterior enfatizamos que a
tolerância e a ansiedade representam dois tipos de
vida, que a tolerância provém de Deus e a ansiedade,
de Satanás, e que tolerância e ansiedade não podem
coexistir. Além do mais, vimos que viver Cristo como
nossa tolerância é ter uma vida livre de ansiedade.
Agora, nesta mensagem, consideraremos mais
algumas questões relacionadas com uma vida cheia
de tolerância, mas sem ansiedade.

SER UM COM O SENHOR


Se vivemos Cristo, somos, de fato, um com o
Senhor. Em 4:4 Paulo diz: “Alegrai-vos sempre no
Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Alegrar-se no
Senhor é ser um com Ele. Quando somos um com o
Senhor, não somos ansiosos de coisa alguma, pois
não somente estamos debaixo de Sua mão soberana,
mas estamos no próprio Senhor. Se tivermos esse tipo
de vida, como podemos ser ansiosos? Quanto mais
praticarmos ser um com o Senhor, mais
perceberemos que Seu destino é nosso destino. Se Ele
quiser que permaneçamos na terra por mais tempo,
Ele nos manterá vivos. Mas, se for Seu desejo irmos a
Ele, Ele nos tomará para Si. Como tudo depende da
Sua vontade e como somos um com Ele de maneira
334

prática, não há razão para ficar ansiosos.


Quando estamos separados do Senhor, ficamos
ansiosos de tudo. Todas as coisas na vida humana dão
ocasião à ansiedade. Mas, quando somos um com o
Senhor, somos separados da vida humana natural e
sua ansiedade. Se desejamos fazer nossa tolerância
conhecida de todos os homens e não ser ansiosos de
coisa alguma, precisamos praticar ser um com o
Senhor. Essa é a razão pela qual Paulo nos exorta a
nos alegrar no Senhor antes de nos exortar a fazer
conhecida nossa tolerância.
Quando tive um problema de saúde alguns meses
atrás, fiquei preocupado. Um dia o Senhor pôs-me à
prova e perguntou-me se eu era um com Ele. Quando
eu disse que era um com Ele, foi como se Ele dissesse:
“Como você é um Comigo, não deveria estar ansioso
de sua saúde”.
Ficamos ansiosos sempre que não somos um
com o Senhor de maneira prática. Doutrinariamente
falando, sempre somos um com Ele. No entanto, nem
sempre somos um com Ele na prática. Podemos dar
mensagens aos santos, dizendo-lhes que somos um
espírito com o Senhor. Mas no viver diário
precisamos ser postos à prova para ver se temos a
experiência real. Se formos um com o Senhor de fato
e na prática, não ficaremos ansiosos.
Embora Paulo fosse prisioneiro em Roma, ele
não estava ansioso de coisa alguma, porque era
totalmente um com o Senhor de fato e na prática. Ele
podia até mesmo dizer que morrer era melhor que
viver. Paulo era tão unido com o Senhor, que sabia
que o Senhor era seu destino. O destino de Paulo não
somente estava nas mãos do Senhor; seu destino era
335

o próprio Senhor. Visto que Paulo era um com o


Senhor, ele sabia que Satanás nada podia fazer-lhe,
embora pudesse enviar um mensageiro, um espinho
na carne, para esbofeteá10. Paulo não estava
preocupado com o que Satanás poderia fazer, pois o
Senhor era seu destino.

O SEGREDO DA SATISFAÇÃO
Se somos, de fato, um com o Senhor na
experiência e algo negativo acontece conosco, não
precisamos ficar ansiosos ou atribulados. Se não
formos um com o Senhor de maneira prática,
praticamente toda pessoa, toda questão e todas as
coisas nos incomodarão. Podemos ser perturbados
pelo cônjuge ou pelos filhos. Quando não somos um
com o Senhor, nada nos será satisfatório. Por
exemplo, separado do Senhor, nenhum trabalho traz
satisfação. O segredo da satisfação é ser um com
Cristo. Quando somos um com o Senhor, podemos
estar satisfeitos com as circunstâncias e ser tolerantes
com todos, com todas as coisas e com todas as
questões. Somente quando somos um com Cristo
podemos ser tolerantes ao máximo e estaremos
satisfeitos em todas as situações.
Se não desejamos ter nenhuma ansiedade,
devemos reconhecer que todas as aflições,
sofrimentos, calamidades, desastres e catástrofes são
designados por Deus. Devemos também ser um com
o Senhor na experiência. Sim, podemos perceber a
necessidade de passar por sofrimento e aflição. Mas,
se quisermos estar livres da ansiedade, precisamos de
algo mais do que essa percepção. Devemos também
ser um com o Senhor. De outro modo, por fim, nossas
336

circunstâncias ou as coisas que nos acontecem


causarão ansiedade, e não estaremos satisfeitos com
nada e com ninguém.
Quanto mais velha uma pessoa fica, mais difícil é
ficar satisfeita. Através dos anos observei muitas
pessoas idosas que não tinham Cristo. Quanto mais
velhas eram, mais insatisfeitas se tomavam. Algumas
ficavam aborrecidas com quase tudo e todos. Se não
praticarmos ser um com o Senhor, nossa situação
também ficará pior à medida que envelhecermos. Por
causa do sentimento de insatisfação, podemos culpar
as circunstâncias ou os membros da família. É fácil
satisfazer uma criança ou um jovem, mas é difícil
satisfazer alguém mais velho. Esse fato deve
motivar-nos a ser um com o Senhor de maneira
prática para que estejamos livres de ansiedade e
tenhamos uma vida de tolerância.

ORAÇÃO E SÚPLICA COM AÇÕES DE


GRAÇAS
Em 4:6-7 Paulo diz: “Não andeis ansiosos de
coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas,
diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela
súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará o vosso
coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. Paulo
certamente escreveu esses versículos de maneira
bastante cuidadosa. No versículo 6 ele fala de oração,
súplica e ações de graças. A oração é geral e inclui a
essência da adoração e comunhão; a súplica é especial
e está relacionada com necessidades específicas. De
acordo com a experiência cristã, orar é ter comunhão
com o Senhor e adorá-Lo. Diariamente necessitamos
337

ter um tempo para contatar o Senhor, ter comunhão


com Ele e adorá-Lo. Em nossa comunhão, podemos
ter pedidos específicos. Assim, não somente oramos
de maneira genérica, mas fazemos súplicas ao Senhor
de modo específico. Oferecemos nossas súplicas
Àquele com quem temos comunhão. A súplica,
portanto, é um pedido especial feito durante a nossa
oração.
É significativo que em 4:6 Paulo não fale de
oração, súplicas e ações de graças, mas de oração e
súplicas com ações de graças. Tanto a oração como a
súplica devem ser acompanhadas de ações de graças
ao Senhor. Recentemente aprendi uma vez mais a
lição de ser grato ao Senhor. Quando pedi ao Senhor
que restaurasse minha saúde, fui repreendido por Ele
por não Lhe agradecer pela saúde que eu ainda tinha.
Sempre que estivermos doentes, precisamos dizer:
“Senhor, eu Te agradeço porque ainda estou saudável
até certo ponto. Senhor, estou doente, mas não a
ponto de não poder ministrar Cristo aos santos. Mas,
Senhor, Tu sabes que eu não estou totalmente
saudável. Portanto, peço-Te que melhores a minha
saúde e me faças plenamente saudável outra vez”.
Todos precisamos aprender a fazer súplicas ao
Senhor desse modo.
Suponha que um irmão ore para que o Senhor
mude sua esposa. Se ele orar desse modo, o Senhor
pode perguntar-lhe por que não dá graças pela
esposa. Então o irmão deve orar: “Senhor, eu Te
agradeço por me dar uma boa esposa”. Após dar
graças ao Senhor, ele pode passar a pedir que Ele a
transforme.
Outro irmão pode perder o emprego e orar ao
338

Senhor com relação ao trabalho. Em vez de dizer:


“Senhor, perdi meu emprego e preciso que tenhas
misericórdia de mim”, ele deveria primeiramente
agradecer ao Senhor. Talvez devesse dizer: “Senhor,
eu Te agradeço por não ter perdido o emprego antes.
Senhor, também Te agradeço pelos meios que ainda
tenho para sustentar a família. Ó Senhor, tenho
muitas coisas pelas quais agradecer-Te”. Então, junto
com sua ação de graças, ele pode pedir ao Senhor que
lhe dê outro emprego. Mas mesmo quando orar com
respeito a um novo emprego, deve ainda ser grato e
dizer: “Senhor, creio que me darás um novo emprego.
Senhor, Tu sabes o que preciso. Eu até mesmo Te
agradeço antecipadamente pelo emprego que me
darás”.
Que todos aprendamos a orar e a pedir com
ações de graças. Ser gratos ao Senhor nos guardará da
ansiedade. Mas se orarmos ao Senhor cheios de
preocupação, nossa ansiedade aumentará. Orar sobre
a situação pode, na verdade, fazer a ansiedade
aumentar. Mas se orarmos e pedirmos com ações de
graças, a ansiedade será dissipada.
Devo testificar que aprendi a orar e a pedir com
ações de graças não pela doutrina, mas pela
experiência com o Senhor. Quando estive doente
recentemente, o Senhor me repreendeu por não Lhe
agradecer. Ele me fez lembrar que ainda sou saudável
o bastante para exercer a função de liberar a Palavra.
Ele me repreendeu por permitir que uma pequena
doença me perturbasse e por reclamar sobre a
situação em vez de exercitar a tolerância. Ao
repreender-me por não Lhe agradecer
suficientemente, o Senhor me ajudou a estar
339

satisfeito Nele e a não estar ansioso. Agradeço-Lhe


por esse treinamento, que veio por meio de um
período de doença e pela repreensão do Senhor.

ACEITAR A VONTADE DO SENHOR


Experimentar Sua Graça Suficiente
Temos visto que para vencer a ansiedade
precisamos orar e ter comunhão com o Senhor e
adorá-Lo. Então, com ações de graças, precisamos
tomar nossas súplicas conhecidas. Quando fazemos
isso, podemos pensar que o Senhor sempre nos
responderá e sempre nos dará o que pedimos.
Contudo, algumas vezes o Senhor dirá não. Considere
a experiência do espinho na carne de Paulo. Em 2
Coríntios 12:8 ele diz: “Por causa disto, três vezes
pedi ao Senhor que o afastasse de mim”. Contudo, o
Senhor negou o pedido de Paulo, e disse-lhe: “A
minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza” (v. 9). Portanto, Paulo pôde declarar: “De
boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas,
para que sobre mim repouse o poder de Cristo”. O
ponto crucial aqui é que ele aceitava a vontade de
Deus. Ele percebia que a vontade de Deus era deixar o
espinho com ele para que ele experimentasse Sua
graça suficiente. Visto que aceitava a vontade do
Senhor, ele não tinha nenhuma ansiedade.
Sim, precisamos orar e pedir ao Senhor com
ações de graças. Mas quando o Senhor não atender
nossa súplica, nossa ansiedade pode aumentar em vez
de diminuir. Nesse momento, percebemos que o
Senhor não mudará nossa situação. Em vez disso, Ele
permite que o “espinho” permaneça. Ele sabe que
necessitamos do espinho. Ele também necessita dele
340

para revelar Sua graça suficiente e, além disso,


treinar-nos a confiar Nele. Se não aceitarmos a
vontade do Senhor, mas insistirmos em fazer súplicas
de acordo com nossa própria vontade, não seremos
capazes de nos livrar da ansiedade.
Suponha que você ore ao Senhor quando sofrer
de certa doença. O Senhor pode responder sua oração
e curá-la. Ele faz isso especialmente em benefício dos
que são novos na experiência Dele. Mais tarde,
contudo, você pode ficar novamente doente e pedir ao
Senhor que o cure. Em vez de curá-lo
repentinamente, ele pode curá-lo gradualmente, ou
até mesmo não curá-la. Por fim, pode ficar claro a
você que Ele deseja que a doença permaneça. Se você
aceitar Sua vontade nessa questão, estará em paz.
Você não terá nenhuma ansiedade.
Quando o irmão Nee era jovem, sofria de uma
doença no coração. Freqüentemente quando
ministrava a Palavra ele tinha tamanha dor que
precisava apoiar-se em algo para ficar em pé. Embora
tivesse contraído essa doença antes dos trinta anos,
ele viveu com ela por cerca de quarenta anos. Ele
sabia que podia morrer daquela doença a qualquer
momento, mas ele aceitava a vontade do Senhor e não
ficava ansioso. Ele percebia que sua doença era um
espinho dado a ele para o cumprimento do propósito
de Deus.

Confiar no Senhor
Aceitar a vontade do Senhor em questões
específicas não somente nos capacita a experimentar
Sua graça suficiente; também nos ensina a ter uma
vida de confiar no Senhor. Se o espinho ti vesse sido
341

retirado de Paulo, ele provavelmente não teria


confiado tanto no Senhor. Simplesmente porque o
espinho permanecia, dia após dia Paulo tinha de
confiar no Senhor.
Todos preferimos que as dificuldades e
sofrimentos sejam afastados de nós. Mas, algumas
vezes, o Senhor dirá: “Não, Eu não posso atender seu
pedido. É melhor que isso permaneça para que você
aprenda a confiar em mim e não estar ansioso”. Se
aceitarmos a vontade do Senhor e confiarmos Nele,
não ficaremos ansiosos. Contudo, se não aceitarmos a
Sua vontade, ou se não vivermos a confiar Nele,
ficaremos ansiosos.
De acordo com minha vida natural, sou do tipo
de pessoa que gosta de tudo perfeito. Se de algum
modo fico doente, meu desejo é estar totalmente
curado. Mesmo se houver algo errado numa peça de
roupa, desejo que ela seja reparada e fique perfeita.
Desejo que tudo sob minha administração esteja
certo de todos os modos. Mas não posso controlar a
ocorrência de uma doença. O Senhor pode designar
uma enfermidade para mim, percebendo que preciso
dela para aprender a confiar Nele e não me
preocupar. Por isso, preciso dizer: “Senhor, eu Te
louvo porque essa doença é uma ajuda para mim.
Também Te agradeço, Senhor, porque até mesmo
isso cumpre o Teu propósito”. Quanto mais
agradecermos ao Senhor desse modo, mais teremos
tolerância em lugar de ansiedade.

UMA PERCEPÇÃO ADEQUADA


Ser capaz ou não de exercitar tolerância em
situações difíceis depende do tipo de percepção e
342

prática que temos. Se percebermos que certa situação


é do Senhor, que é necessária para nos aperfeiçoar, e
então Lhe agradecermos por isso, não nos sentiremos
ansiosos ou ameaçados. Seremos capazes de dizer:
“Senhor, eu Te agradeço por isso. Não estou
ameaçado por isso, porque sei que sou um Contigo e
tudo que me acontece é o Teu desígnio. Senhor,
também sei que permites que isso permaneça para
que cumpras o Teu propósito e me aperfeiçoes”. Se
percebermos que tudo é o desígnio do Senhor e se
aceitarmos Sua vontade e Lhe agradecermos por isso,
seremos capazes de dizer com Paulo: “Por isso, não
desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso
homem exterior se corrompa, contudo, o nosso
homem interior se renova de dia em dia. Porque a
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós
eterno peso de glória, acima de toda comparação”
(2Co 4:16-17). Então não teremos nenhuma
ansiedade.
Os cristãos freqüentemente dizem que o modo de
sermos livres da ansiedade é simplesmente crer no
Senhor. De acordo com esse conceito, o fato de uma
pessoa estar ansiosa significa que ela não crê no
Senhor. Contudo, em 4:6 Paulo não diz que é crendo
que não temos ansiedade. Nesse contexto ele nada diz
sobre crer.

SEIS TÓPICOS PARA ENTENDER E


PRATICAR
Se desejamos ser livres da ansiedade, precisamos
entender e praticar os seis tópicos que abordamos na
mensagem anterior e nesta. Primeiro, precisamos
perceber que assim como a ansiedade é a totalidade
343

da vida humana, a tolerância é a totalidade da vida


cristã. Em segundo lugar, precisamos ver que a fonte
da tolerância é Deus, e a fonte da ansiedade é
Satanás.
A terceira questão é perceber que tolerância e
ansiedade não podem existir juntas. A razão para isso
é que a tolerância é, na verdade, uma pessoa, o
próprio Cristo. Somente quando Cristo é expresso em
nós realmente temos tolerância. Isso é indicado pelo
fato de que em Filipenses 1, 2 e 3 Paulo fala de Cristo
várias vezes. Ele enfatiza engrandecer Cristo,
tomá-Lo como nosso modelo e buscá-Lo como nosso
alvo. Mas em Filipenses 4, ele usa o termo tolerância
e nos exorta a fazer nossa tolerância conhecida de
todos os homens. Na verdade, essa tolerância é o
próprio Cristo revelado nos capítulos anteriores.
Portanto, fazer nossa tolerância conhecida é viver
Cristo.
Vimos que Deus pode designar-nos certos
sofrimentos. Mas, embora os sofrimentos sejam o
desígnio de Deus, eles não vêm de Deus, mas de
Satanás. As experiências de Jó e de Paulo ilustram
isso. As calamidades designadas a nós por Deus, na
verdade, vêm de Satanás. Satanás é o mensageiro que
traz essas coisas a nós. Deus designou um espinho a
Paulo, e permitiu que Satanás levasse esse espinho a
ele. Imediatamente após enviar-nos certa dificuldade
ou aflição, Satanás vem causar ansiedade. Essa
ansiedade não é designada por Deus e não vem da
parte Dele. Pelo contrário, é sempre causada por
Satanás para frustrar o propósito de Deus. Se
tivermos plena percepção disso, veremos a nossa
necessidade de Cristo como tolerância. Se tivermos
344

essa tolerância, não teremos ansiedade. Mas, se


tivermos ansiedade, não teremos tolerância.
A quarta questão que precisamos entender e
exercitar é que para que tenhamos uma vida plena de
tolerância, mas sem ansiedade, precisamos ser um
com o Senhor de maneira prática. Ser um com o
Senhor na experiência é estar Nele.
Em quinto lugar, precisamos orar. Isso quer
dizer que precisamos ter um tempo de comunhão
com o Senhor e adorá-Lo. Oração não significa
meramente pedir coisas ao Senhor, mas envolve
conversar com o Senhor, comunicar-se com Ele em
comunhão e adorá-Lo. À medida que despendemos
tempo com Ele desse modo, devemos tornar
conhecidas nossas súplicas com ações de graças.
Em sexto lugar, após orar, ter comunhão com o
Senhor, adorá-Lo e fazer-Lhe conhecidas as nossas
súplicas, saberemos qual é a vontade do Senhor. Por
exemplo, se estivermos doentes, saberemos se o
Senhor pretende curar-nos ou permitir que a doença
permaneça. Uma vez que conheçamos a vontade de
Deus, devemos aceitá-la, experimentar Sua graça
suficiente, confiar Nele e agradecer-Lhe. Então
teremos uma vida cheia de tolerância, mas sem
ansiedade.

Vous aimerez peut-être aussi