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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL


CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO

SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985)

ITUIUTABA-MG
2015
GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO

SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985)

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Faculdade de Ciências
Integradas do Pontal da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito
para a obtenção do Título de
Licenciatura em Pedagogia.
Orientador (a): Profº. Dr. Sauloéber
Társio de Souza

ITUIUTABA-MG
2015
GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO

SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985)

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Faculdade de Ciências
Integradas do Pontal da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito
para a obtenção do Título de
Licenciatura em Pedagogia.
Ituiutaba, 15 de julho de 2015.
BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________

Prof. Dr. Sauloéber Társio de Souza – UFU/FACIP

(ORIENTADOR)

_______________________________________________________

Profa. Lúcia Helena Moreira Oliveira

_________________________________________________________

Profa. Simone Cléa dos Santos Miyoshi


Compreendi, então,
que a vida não é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,
é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a vida inteira.

Rubem Alves.
Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada.
Apenas dê o primeiro passo.
Martin Luther King Jr.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por me conceder seu inexprimível amor e por ter me
acompanhado em todos os momentos desta caminhada.
Agradeço ao meu esposo Romildo e a meus filhos Samuel Alexandre, Ana Elvira e
Lucas Ryan pela compreensão dos momentos em que estive ausente e pelo
companheirismo e paciência disponibilizados durante este tempo.
Aos meus pais João Pedro e Lázara Antônia, pelo incondicional apoio durante o
decorrer desta caminhada. A toda a minha família pelo incentivo e ajuda sempre
concedidos.
Agradeço em especial ao Professor Dr. Sauloéber, pela dedicação em seu compromisso
docente em todos os momentos disponibilizados nas orientações, as quais nortearam os
caminhos para a construção e aquisição de conhecimentos durante meu processo de
formação e com certeza continuarão me acompanhando. O meu agradecimento sincero
pelo incentivo, atenção, gentileza e conhecimentos proporcionados no decorrer deste
período.
As Professoras Lúcia Helena Moreira Oliveira e Simone Cléa dos Santos Miyoshi por
terem aceitado o convite em participarem da minha banca, as quais irão contribuir
relevantemente para o aprimoramento deste trabalho.
A minha turma por todos os momentos de amizade, harmonia e conhecimentos
construídos a cada dia em que vivenciamos juntos.
As minhas amigas e amigos que sempre estiveram presentes do meu lado, com o apoio
dispensado em todos os momentos deste percurso.
Ao Diretor da Universidade Federal de Uberlândia – UFU/ Campus Pontal, Professor do
Curso de Pedagogia Dr. Armindo Quilici Neto, a Coordenadora do Curso e Professora
Dra. Lúcia Valente e a todos os demais Professores do Curso de Pedagogia pelos
conhecimentos propiciados neste processo formativo.
Agradeço a todos que contribuíram para a construção deste trabalho: ao apoio de todos
os profissionais da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” – Polivalente, a qual nos
acolheu no decorrer deste processo, aos entrevistados – ex- diretor, ex-professores, ex-
alunos e aos que diretamente e indiretamente tiveram participação em vista para que
este fosse concretizado.
O meu sincero agradecimento mediante o respeito, disponibilidade e a atenção
dispensada por cada um!
RESUMO

A importância em investigar os processos históricos, é compreendida como princípio


norteador e possibilitador de novos olhares sobre as estruturas da nossa sociedade atual,
ao observarmos os modelos econômicos, políticos e sociais pautados em relações
sociais em contextos remotos. Neste sentido, a proposta desse trabalho de pesquisa, é a
história da Escola Estadual "Antônio Souza Martins" – o Polivalente, na cidade de
Ituiutaba-MG, no período que abrange os anos de 1974 a 1985, o ponto de partida foi o
contexto de sua criação legal, no período da Ditadura Civil-Militar, sendo este um dos
principais fatores para a implantação desse tipo de escola por todo o país. As escolas
polivalentes surgiram em meio ao momento de difusão da vertente pedagógica
tecnicista, a qual foi constituída com base nos acordos entre o Brasil e os Estados
Unidos, por meio das ações entre o MEC e a USAID (Ministério da Educação e
Cultura/ United States Agency of International Development). Nesta perspectiva
algumas questões foram surgindo tais como: que modelo de educação foi pensado para
essas escolas? Quais as condições de criação da Escola Polivalente nesta cidade? Quem
eram os atores sociais envolvidos nessa instituição e a que classe social se vinculavam?
O que era prescrito em seus estatutos e o que foi praticado no cotidiano das pessoas
dessa instituição? Neste intuito, o trabalho visou reflexões dos processos históricos
advindos do recorte temporal, eventos esses que deixaram marcas profundas em nossa
sociedade, na vida dos atores que participaram das vivências no espaço escolar
investigado, na valorização da identidade da instituição, enquanto provedora de
educação entendida de “qualidade” para a época. Também ressaltamos a importância da
temática no campo da história da educação de nosso país e da região, uma vez que
muito pouco se escreveu sobre as escolas polivalentes, e, em especial, no Triângulo
Mineiro. Metodologicamente pautou-se pela revisão bibliográfica sobre a temática,
pelas pesquisas documentais e iconográficas e também pelo uso de entrevistas com ex-
diretor, alunos, professores e funcionários que tiveram participação em meio as
experiências adquiridas no interior da referida instituição de ensino.

Palavras-Chave: Instituições Escolares; Regime Militar; Ensino Profissionalizante;

Triângulo Mineiro.
ABSTRACT

The importance in investigating historical processes, is understood as a guiding


principle and enabler of new perspectives on the structures of our society today, when
you look at the economic, political and social models based on social relations in remote
settings. In this sense, the proposal of this research paper, is the story of the State school
"Antonio Souza Martins"-Polivalente, in the city of Ituiutaba-MG, in the period
between 1974 to 1985, the starting point was the context of its creation, legal Civil-
military dictatorship, this being one of the main factors for the implementation of this
type of school around the country. Multipurpose schools appeared in the moment of
dissemination of pedagogical technical aspect, which was constituted on the basis of
agreements between Brazil and the United States, by means of actions between the
MEC and the USAID (Ministério da Educação e Cultura/ United States Agency of
International Development). With this in mind some questions arose such as: what
model of education was thought to these schools? What are the conditions of creation of
Multipurpose School in this town? Who were the social actors involved in this
institution and that social class bound? What was prescribed in their statutes and what
was practiced in the everyday life of the people of this institution? To this end, the work
aimed to reflections of historical processes arising from the temporal, those events that
have left deep scars in our society, in the lives of the actors who participated in the
experiences in the school space investigated, in appreciation of the institution's identity,
as provider of education understood in "quality" for the season. We also stress the
importance of the subject in the field of history of education of our country and of the
region, since very little is written about the multipurpose schools, and, in particular, in
the Triângulo Mineiro. Methodologically was by literature review on the topic, the
documentary and iconographic research and also by the use of interviews with former
directors, students, teachers and staff who had participated in the experience gained in
the educational institution mentioned.

Keywords: Educational Institutions; The Military Regime; Vocational Education;


Triângulo Mineiro.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Reportagem sobre a inauguração da Escola Polivalente..................34


FIGURA 02 – Foto Desenho da planta da Escola Polivalente................................35
FIGURA 03 – Foto Currículo das disciplinas que compunham o 1º Grau..............38
FIGURA 04– Foto Currículo das disciplinas que compunham o 2º Grau...............40
FIGURA 05 – Foto Banco com entalhe em madeira............................................... 51
FIGURA 06 – Foto Suporte para vaso em sisau.......................................................51
FIGURA 07– Foto Alunos participando de Festa Junina no Polivalente................55
FIGURA 08– Foto Alunos na aula da Escola Polivalente.......................................60
FIGURA 09 - Foto Alunos na aula de Práticas Agrícolas...................................... 62
FIGURA 10 - Foto Alunos na Pista de Atletismo.................................................. 63
FIGURA 11 – Foto Alunos nas atividades de Educação Física............................. 69
FIGURA 12 – Reportagem sobre as inscrições para a Escola Polivalente..............76
FIGURA 13 – Foto Atividades desenvolvidas na Escola Polivalente.................... 78
FIGURA 14 – Foto Alunos em fanfarra da Escola Polivalente.............................. 79
LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – Relação geral do número de Posse dos profissionais da Escola


Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício verificado por gênero
(1976-1985).............................................................................................................42

TABELA 02 - Relação específica anual do número de posses dos profissionais da


Escola Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício (1976-1985).........43
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... 11

1. AS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ORIUNDAS DO CONTEXTO


POLÍTICO BRASILEIRO DURANTE O PERÍODO DA DITADURA
CIVIL-MILITAR...................................................................................... 17

2. A EDUCAÇÃO EM MEIO ÀS PROPOSTAS DO ENSINO


PROFISSIONALIZANTE: a Pedagogia Tecnicista no
Brasil......................................................................................................... 22

3. PRIMÓRDIOS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO


CONTEXTO EDUCACIONAL E SOCIAL DE ITUIUTABA............... 28

4. A ESCOLA POLIVALENTE DE ITUIUTABA: ORIGEM DO SEU


PROCESSO CONSTITUTIVO................................................................ 32

4.1 A criação............................................................................................. 32
4.2 O prédio e espaço físico..................................................................... 34
4.3 O Currículo........................................................................................ 37
4.4 Quadro Relativo ao Percentual Docente (1974-1985)....................... 41
4.5 Memórias dos Sujeitos Históricos...................................................... 45
4.5.1 Docentes.................................................................................. ........ 45
4.5.2 Discentes.......................................................................................... 59
4.5.3 Funcionários..................................................................................... 73
4.5.4 Diretor.............................................................................................. 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 81

REFERÊNCIAS............................................................................................ 83

FONTES........................................................................................................ 84
11

INTRODUÇÃO

Este trabalho decorre dos estudos advindos do período de formação no Curso de


Pedagogia-UFU/FACIP integrado a pesquisa de Iniciação Científica que foi
desenvolvida com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq, na Universidade Federal de Uberlândia (Campus do Pontal).
A pesquisa consiste no estudo sobre o processo de implantação das escolas
Polivalentes, e especificamente o da Escola Estadual “Antônio de Souza Martins ”- o
Polivalente, na cidade de Ituiutaba-MG, bem como da reflexão sobre a história dessa
instituição e dos atores que ali estiveram em parte de sua vivência.
Neste sentido, a proposta em buscar pesquisar essa escola Polivalente decorre da
compreensão do contexto que abrange sua criação (1974); o período do Regime Militar,
sendo este o marco da implantação das referentes escolas no país, e isso implica
compreender: Que educação a ser implantada nelas? A partir de que ou/de quem seriam
os interesses desse modelo de educação? Quais seriam os grupos sociais atendidos por
essas escolas? Quem eram as pessoas que compuseram parte dessa história? Estas são
algumas das indagações a serem investigadas nesta proposta de trabalho.
Deste modo, o interesse no trabalho de investigação histórica referente à Escola
Estadual “Antônio Souza Martins”, no período compreendido desde sua criação até o
ano de 1985, surgiu diante do próprio interesse pelo campo da História, e
posteriormente dos estudos realizados na Graduação no curso de Pedagogia-
UFU/Campus Pontal, através das abordagens estudadas na disciplina de História da
Educação. Investigar a referida instituição implicou, portanto, a busca pela reflexão dos
processos históricos que deixaram marcos em nossa sociedade, na vida dos gestores,
professores, alunos, além da própria valorização da identidade da instituição enquanto
provedora da educação, e assim das pessoas que por ali construíram um pouco da sua
história de vida naquele determinado período.
Assim, o presente trabalho se apoiou em leituras bibliográficas referentes à
temática, pesquisas realizadas a partir de documentos do acervo da referida instituição,
fontes jornalísticas do Acervo Cultural do município, bem como de entrevistas com ex-
atores do âmbito acadêmico que fizeram parte dessa história na instituição.
Reconhecer a importância do conhecimento histórico, e assim das origens e dos
processos de criação e implantação das instituições escolares, é essencial para
compreendermos como foram se originando e se desenvolvendo os modelos educativos
12

no Brasil, o que contribui para a ampliação de novos olhares sobre a educação de nossa
atual realidade.
A proposta metodológica do trabalho aqui delineado se pautou ao início à
revisão bibliográfica, pela qual o pesquisador tem a possibilidade de expandir os
conhecimentos metodológicos, essenciais na investigação histórica, uma vez que as
mudanças ocorridas nas teorias metodológicas produziram embasamentos favoráveis ao
desenvolvimento das pesquisas históricas. Neste sentido, apontam Souza e Castanho
(2009, p.3):
As mudanças de ordem teórico-metodológica na investigação histórica
produziram efeitos positivos em diferentes aspectos da produção do
conhecimento, o que refletiu também na maneira de se fazer a história
da educação no Brasil, contribuindo para que este campo da ciência se
constituísse em espaço autônomo, com objeto próprio, mesmo que se
apoiando em outras disciplinas.

O procedimento metodológico para a investigação se compôs também em visitas


a Escola Polivalente e ao Acervo Cultural do Município, para o levantamento de
informações a partir dos documentos encontrados, além da análise das fontes,
compostas por documentos como o Regimento de implantação, caderno de Posse e
Exercício de professores, algumas matérias jornalísticas, publicações oficiais e
iconografia, bem como se apoiou em fontes orais em entrevistas com seis ex-alunos,
quatro ex-professores, uma ex-funcionária e um ex-diretor da escola, os quais
contribuíram relevantemente com as informações sobre o período em que ativamente
estiveram em meio ao interior da instituição.1
Alberti (2008, p.166) ao se referir sobre a relevância da História Oral no trabalho
de pesquisa:

Essa riqueza da História oral está evidentemente relacionada ao fato


de ela permitir o conhecimento de experiências e modos de vida de
diferentes grupos sociais. Nesse sentido, o pesquisador tem acesso a
uma multiplicidade de "histórias dentro da história", que, dependendo
de seu alcance e dimensão, permitem alterar a "hierarquia de
significações historiográficas", no dizer da historiadora italiana Silvia
Salvatici. Outros campos nos quais a História oral pode ser útil são a
História do cotidiano (a entrevista de história de vida pode conter
descrições bastante fidedignas das ações cotidianas); [...] Histórias de
comunidades, como as de bairro, as de imigrantes, as camponesas etc,
podendo inclusive auxiliar na investigação de genealogias; História de
instituições, tanto públicas como privadas; registro de tradições

1
Todas as entrevistas foram previamente marcadas com data e horários específicos com os participantes.
Foram usados pseudônimos para os nomes dos entrevistados.
13

culturais, aí incluídas as tradições orais, e História da memória.


(ALBERTI, 2008, p. 166)

A referida autora ressalta que outra especificidade da História Oral é o fato desta
ter como um dos principais alicerces a narrativa, já que “um acontecimento vivido pelo
entrevistado não pode ser transmitido a outrem sem que seja narrado”. (ALBERTI,
2008, p. 170-171).
Assim, o entrevistado ao relatar sobre suas experiências e significados tem a
possibilidade de transformar sua vivência em linguagem escrita, mediante a organização
dos acontecimentos que dão amplos sentidos a elas. A memória segundo a autora tem
um papel muito importante neste processo, já que as entrevistas podem ser comparadas
com outros documentos de arquivos, possibilitando ao pesquisador analisar
deslocamentos e sentidos entre ambos.
Já para Xavier (2005, p.2), a História Oral “é considerada como fonte identitária
de um povo, capaz de retratar as realidades, as vivências e os modos de vida de uma
comunidade em cada tempo e nas suas mais variadas sociabilidades” No entanto,
segundo este autor, é preciso que, ao trabalhar com as fontes orais, tenha-se a precaução
quanto a não priorizar somente estas, mas buscar redimensioná-las com fontes escritas,
visando chegar a uma investigação mais aprofundada no objeto de pesquisa.
A memória pode ser vista como uma busca de representações constitutivas de
culturas entre os povos. Neste sentido esse autor ressalta a importância da memória ao
se trabalhar com a História Oral:

Não se pode negar que, ultimamente, vários estudos são direcionados


para o estudo da memória. Já se disse que "um povo sem memória é
um povo sem história". Entende-se por esta expressão que não há
história sem memória. O discurso, hoje, sobre memória, enfoca que
ela é o encontro do passado no presente e que significa a identidade
cultural, a construção e a história de um povo. A memória representa a
forma de organização de uma nação, sociedade, comunidade, cidade
ou grupo social. É necessário ressaltar que a memória em debate é a
memória coletiva, pois, os indivíduos, não podem ser analisados
separadamente. Eles não vivem isoladamente e a memória, ao ser
retratada, será sempre de um grupo ou classe social. Deste modo,
entende-se que a memória individual é parte constitutiva e inseparável
da memória coletiva (HALBWACHS, 1990: 36). (XAVIER, 2005, p.
8).

Nesta perspectiva, a História Oral se apresenta como fonte enriquecedora para o


trabalho do pesquisador, uma vez que remete para a busca de interpretações e
14

significados que trazem importantes representações no decorrer do trabalho de pesquisa:


“A utilização da História Oral como fonte de pesquisa, no complemento, justificação e como
recurso alternativo não só enriquece o trabalho de pesquisa, como também valoriza os 'atores
sociais' como indivíduos sujeitos agentes de sua própria história”. (XAVIER, 2005, p. 4)
A utilização da História Oral foi um dos reflexos percebidos na metodologia de
pesquisa histórica a partir da década de 1990, presentes também no novo fazer histórico
da pesquisa educacional, na perspectiva dos princípios investigativos com ênfase na
cultura escolar, que passaram a ser articuladas de acordo com Souza e Castanho (2009)
em quatro grandes blocos, sendo estes os atores, os discursos e as linguagens, as
instituições e os sistemas educativos e as práticas educativas.

Não havia a preocupação com as práticas escolares, isto é, com o que


se vivia no cotidiano da escola, a realidade escolar, o ser da escola, os
saberes que nela se produziam ou se reproduziam, o currículo escolar,
o saber social que os alunos traziam à escola e suas relações com o
saber instituído pela escola, a simbologia escolar, as festividades, a
disciplina como forma de controle, as disciplinas como organização
dos saberes e das carreiras dos professores, a profissionalização
docente e seus ritos, a arquitetura escolar como linguagem
significativa...[...] Mas foi nos anos de 1990 [...] tendia a analisar de
dentro aqueles aspectos - ainda sociais - gerados por essa realidade
escolar, entendida agora como uma cultura com seus traços e
exigências, com sua própria lógica interna. (CASTANHO, 2006,
p.156 apud SOUZA; CASTANHO, 2009, p. 30).

Diante desse novo fazer metodológico sobre as instituições escolares, os estudos


temáticos referentes à estas tem se mostrado relevantes fontes de pesquisas, uma vez
que propicia o conhecimento relativo à própria identidade da instituição pesquisada,
bem como a valorização desta na sociedade, e sobretudo às vivências passadas pelos
atores que foram participantes em meio ao processo de construção da sua respectiva
historicidade.
Pode-se refletir sobre as inúmeras possibilidades de se buscar fazer a
História de Instituições Escolares, no entanto é pertinente nos indagarmos o porquê de
se fazer a história de uma determinada instituição. Sanfelice (2006) aponta alguns
pontos a serem considerados para a resposta, a qual segundo ele não é muito simples;
dentre os pontos destacam-se:

[...] As instituições escolares têm também uma origem quase sempre


muito peculiar. Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a
15

existir são os mais diferenciados. Às vezes a unidade surge como uma


decorrência da política educacional em prática. Mas nem sempre. Em
outras situações a unidade escolar somente se viabiliza pela conquista
de movimentos sociais mobilizados, ou pela iniciativa de grupos
confessionais ou de empresários. A origem de cada instituição escolar,
quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas.
(SANFELICE, 2006, p, 23).

Segundo este autor, são inúmeros os exemplos para se poder dizer que uma
determinada instituição escolar, desde seu espaço geográfico até a arquitetura do seu
prédio têm sua identidade própria, a tornando singular, ou seja, cada instituição é única
em suas características e especificidades. E, nesta perspectiva, Sanfelice (2006) coloca
que a singularidade das instituições educativas pode mostrar e como também esconder
como ocorreu ou ocorre o fenômeno educacional de uma determinada sociedade:

Mergulhar no interior de uma Instituição Escolar, com o olhar do


historiador, é ir em busca das suas origens, do seu desenvolvimento no
tempo, das alterações arquitetônicas pelas quais passou, e que não são
gratuitas: é ir em busca da identidade dos sujeitos (professores,
gestores, alunos, técnicos e outros) que a habitaram, das práticas
pedagógicas que ali se realizaram, do mobiliário escolar que se
transformou e de muitas outras coisas. Mas o essencial é tentar
responder à questão de fundo: o que esta instituição singular instituiu?
O que ela instituiu para si, para seus sujeitos e para a sociedade na
qual está inserida? Mais radicalmente ainda: qual é o sentido do que
foi instituído? (SANFELICE, 2006, p. 24).

O trabalho de pesquisa historiográfica assim é produzido a partir da


interpretação que se faz do sentido que tais instituições escolares propiciaram aos
sujeitos enquanto nas formas que educaram, instruíram e contribuíram para a formação
ofertada, e que de algum modo estão preservadas na memória dos que vivenciaram
práticas no interior dessas instituições.
Neste sentido, afirma Rodríguez (2008, p.23):

O estudo histórico das instituições educacionais deve considerar os


diversos aspectos envolvidos para podermos compreendê-los nos
âmbitos social e institucional. Focalizar as instituições escolares nos
estudos da História da Educação, implica também detectar as
possíveis vinculações e articulações com a história da política
educacional, considerando os aspectos escolares internos e seus
condicionantes do contexto histórico, visando a compreensão dos
“modelos” sociais, culturais e religiosos presentes nesses contextos.
16

Nesse processo de pesquisa, as fontes jornalísticas foram utilizadas de forma


complementar as outras fontes na interpretação dos fatos integrantes do período descrito
já que não foi possível localizar nessas fontes muitas informações sobre a escola,
mesmo assim, aquelas encontradas possibilitaram uma reflexão decorrente do
cruzamento entre os relatos orais e os documentos levantados na instituição.
A pesquisa dessa forma buscou a coerente compreensão do trabalho
historiográfico, valorizando às temáticas conceituais e metodológicas necessárias ao seu
desenvolvimento. Buffa e Nosella (2005) ao abordarem sobre a pesquisa em instituições
escolares e os aspectos metodológicos importantes, afirmam:

Quanto às principais fontes utilizadas, podemos citar: legislação,


documentos oficiais da criação da instalação da escola, recuperação da
memória dos dirigentes, professores, ex-alunos, entrevistas e
questionários, livros didáticos, diários de classe, currículo e programa
das disciplinas, cadernos dos alunos, materiais didáticos, jornais da
época, fotografias, etc. (BUFFA e NOSELLA, 2005 apud SOUZA;
CASTANHO, 2009, p. 12,).

O pesquisador, assim ao adentrar o trabalho de pesquisa, deve se atentar para


uma profunda investigação, que compreende uma vasta dedicação entre o objeto e as
partes envolvidas; nesta análise metodológica proposta “é essencial indagar a origem
social e o destino profissional dos atores de uma instituição escolar para se definir o
sentido social da mesma; assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para
se compreender seus objetivos sociais”. (BUFFA e NOSELLA 2005, p.5083).
Diante desta perspectiva, se torna necessário, que o trabalho de investigação às
instituições escolares, abranja uma contextualização ampla de compreensão histórica.
Assim, nas duas primeiras seções do texto, abordamos o contexto histórico brasileiro,
bem como a pedagogia proposta pelo Estado naquele momento.2 O Brasil traz em seu
contexto histórico, e principalmente, no período da Ditadura Civil-Militar, grandes
características de movimentos políticos geradores de mudanças que provocaram
transformações no modo de organização da educação brasileira; e as Escolas
Polivalentes surgem em meio a essas vertentes, tendo como principal característica

2
Referente a isso Sanfelice (2008) aponta: “A dimensão da identidade de uma instituição somente estará
mais bem delineada quando o pesquisador transitar de um profundo mergulho no micro e, com a mesma
intensidade, no macro. As instituições não são recortes autônomos de uma realidade social, política,
cultural, econômica e educacional. Por mais que se estude o interior de uma instituição, a explicação
daquilo que se constata não está dada de forma imediata em si mesma. Mesmo admitindo que as
instituições adquirem uma identidade, esta é fruto dos laços de determinações externas a elas e, como já
dito, “acomodadas” dialeticamente no seu interior”. (SANFELICE, 2007, p. 14-15).
17

serem as percussoras de implantação desse modelo educativo, inspirada pelas relações


econômicas entre o Brasil e Estados Unidos, por meio de acordos entre USAID/MEC3,
a fim de disponibilização financeira por parte dos Estados Unidos; através das quais
seria propiciada uma educação que além das disciplinas regulares, abrangia também as
disciplinas de Práticas Agrícola, Industrial, Comercial e Educação Para o Lar, com o
intuito de uma formação profissional, voltada a suprir as demandas do desenvolvimento
industrial necessário à sociedade.
Nas seções finais, adentramos diretamente ao cenário dos fatos estudados.
Assim, neste exercício sobre a história da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - o
Polivalente, em Ituiutaba-MG, buscou-se a construção de um discurso propiciador de
conhecimentos constituintes de parte de nossa história local e também brasileira no
período empreendido em que o país se encontrava sob o regime da Ditadura Civil-
Militar; o qual se respaldou em um processo de leituras e metodologias indicadas pelo
orientador da presente pesquisa, com o intuito de que esta poderá servir de apoio à
maiores explanações posteriores na área da historiografia referente às Instituições
Escolares.

1. AS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ORIUNDAS DO CONTEXTO


POLÍTICO BRASILEIRO DURANTE O PERÍODO DA DITADURA
CIVIL-MILITAR

Ao procurar o entendimento e a compreensão sobre a criação de uma instituição


escolar, é imprescindível buscar o aprofundamento dos processos históricos que
abrangem o contexto político, econômico, cultural e social de um determinado período
da história, dessa forma, torna-se favorável uma breve abordagem do contexto histórico,
ao qual há uma estreita relação entre acontecimentos marcantes da história e às políticas
internacionais que adentraram nosso país, contribuindo para modos de organização no
âmbito educacional brasileiro, especificamente se tratando do período ao qual objetiva o
presente trabalho: a Ditadura Civil-Militar, ocorrida entre os anos de 1964 a 1985.
Podemos destacar as interferências oriundas do contexto da Segunda Guerra
mundial entre os anos de 1939 a 1945, como marcantes às determinações econômicas,
políticas, sociais e consequentemente educacionais; uma vez que a partir de então, os
3
USAID – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional/ MEC – Ministério da
Educação e Cultura.
18

países considerados economicamente prejudicados passaram a ter a “ajuda” de


financiamentos dos Estados Unidos, bem como passaram também ao endividamento e
controle político até mesmo na educação, estando o Brasil à mercê dessas questões.
A Segunda Guerra Mundial, como sabemos, objetivou a busca por conquista de
espaços territoriais e superação de poder econômico; desse modo a formação e divisão
entre os países que a constituíram deram origem a dois blocos; de um lado estava o
“Eixo”, englobando a Alemanha e países seguidores, e do outro o bloco “Aliado”,
referente à Grã-Bretanha, e posteriormente outros países aderentes, entre eles a União
Soviética, os Estados Unidos e o Brasil.
Com a derrota da Alemanha, a União Soviética e Estados Unidos passaram a ser
considerados as superpotências mundiais, porém a partir de então vivendo em clima de
adversidade; o que caracterizou a chamada “Guerra Fria” entre os dois países no
período de 1945 a 1989, no qual viveram em clima eminente de guerra por 40 anos, o
que não veio a acontecer efetivamente de modo radical como era previsto, uma guerra
nuclear.
Este breve contexto, remete às influências capitalistas exercidas pelos Estados
Unidos, que a partir de então cada vez se tornaram mais visíveis as relações de linhagem
capitalista, e consequentemente de empréstimos e dívidas aos quais o Brasil foi se
submetendo ao mesmo, referente às negociações que se intensificavam no mercado
internacional.
Tais contextos deixaram marcos na história brasileira, bem como na Educação, a
qual foi também submetida a financiamentos e modelos de ensino a serem seguidos;
sendo assim considerada como meio de poder ideológico e possível mantenedora da
esfera social; no que diz respeito aos reflexos deixados pelo período compreendido pela
Ditadura Civil-Militar4, no qual o autoritarismo e controle estiveram presentes.
Deste modo, como já mencionado, a partir das relações políticas entre os
Estados Unidos e Brasil, houve também na área educacional, formas de organização
visando estruturas de ensino através dos acordos políticos entre instituições
internacionais e nacionais.

4
O início do Regime Militar teve como principal característica a inconformidade por parte dos
opositores, as propostas de governo de João Goulart, o então presidente com planos democráticos de
reformas, que favorecia as massas de trabalhadores; seus adversários assim em 31 de março de 1964 o
destituíram do poder com o Golpe Militar, resultando na permanência de governos militares no poder até
o ano de 1985. Neste período, fortes repreensões davam sustentação ao regime, e a oposição ao mesmo
era visto como ameaça nacional (ARAÚJO, 2010).
19

Em frente às propostas de implantação de um modelo educativo, destaca-se a


USAID; de acordo com Araújo (2007, p. 52), esta instituição estava ligada à esfera da
educação brasileira, com o intuito de legitimar um projeto de transformação e
modernização da educação brasileira, na qual a finalidade era o direcionamento a uma
racionalidade de modo de produção capitalista e que partiria do contexto da sociedade
brasileira, dividida em classes.
Desta forma, o modelo de educação desenvolvido, ganha um projeto a ser
implantado no Brasil através também da criação das Escolas Polivalentes; houve assim
transformações nas etapas do ensino, unificando-se o primário com o ginásio, e
profissionalizando-se o colegial, o que resultou na mudança da Lei básica de
normalização do ensino; a Lei 5.692/71, a qual norteou toda a educação básica neste
período.
Foi realizada deste modo, a união entre a USAID e MEC, a fim de nortearem os
rumos da educação brasileira a serem definidos e implantados nas Secretarias Estaduais
de Educação; a USAID no âmbito universitário, promoveu a orientação dos
profissionais especialistas para os planejamentos do ensino secundário, o que veio a ser
a EPEM- Equipe de Planejamento do Ensino Médio e a partir de planos racionais sobre
o ensino médio para os Estados, resultou na organização do PREMEM- Programa de
Expansão e Melhoria do Ensino Médio5; o que veio a constituir a completa
transformação do Ensino Médio, bem como na implantação da Lei 5.692/71; o que,
segundo Araújo (2007, p. 53), tais medidas são vistas como principais pontos do
processo de modernização brasileira educacional.
Surge a partir dessas decisões, a implantação das Escolas Polivalentes no Brasil,
seguida da legalização da Lei 5.692/71 e mediante as decisões advindas de reuniões
específicas realizadas, ficam claras as posições ideológicas de educação a serem
promovidas; Uruguai e Chile apoiaram as metas voltadas para o desenvolvimento
educativo visando atender a profissionalização capitalista, enquanto a Colômbia ao

5
A Universidade norte-americana “San Diego State College Foundation”- Califórnia foi responsável por
nortear os planejamentos da área educacional do ensino secundário, no âmbito federal e estadual. Assim,
o governo brasileiro ficou responsável por promover a reprodução em meio à sociedade, sobre a
importância deste projeto educativo, e ao mesmo tempo a união com a Aliança para o Progresso, a qual
diz respeito ao projeto de educação, desenvolvido a partir de três reuniões realizadas respectivamente no
Uruguai, Chile e Colômbia, que objetivaram definir o tipo de educação a ser implantada no Brasil; a fim
de estabelecerem metas a serem alcançadas em dez anos seguintes (ARAÚJO, 2010, p. 7).
20

avaliar o Plano de metas da Aliança para o Progresso6, evidenciou a crítica quanto à este
modelo, apontando propostas para um novo projeto, no qual o Homem deveria ser o
ponto principal e não o trabalho, como era evidente nas metas dos outros países
descritos; porém a crítica não surgiu efeito e o plano a ser seguido seria o então de
cunho político internacional, o qual buscava aliar ao Regime Militar, com o intuito de
garantir a força das elites dominantes.
Nesta vertente, as Escolas Polivalentes se apresentaram como uma proposta de
ensino, com ênfase a promover a qualidade de uma educação pautada no ensino
profissionalizante, no qual se encontrava elevado grau de prestígio educacional, uma
vez que o aparato metodológico e prático contava com um significativo diferencial,
diante dos demais modelos em vigor.
De acordo com Fonseca (2013), o período ditatorial, como já apontado, iniciou-
se assim com o Golpe Militar, advindo da união civil-militar ao tirar o então presidente
João Goulart do poder, passando a assumir a Presidência da República o Marechal
Humberto Castello Branco, o qual contava com o total apoio dos EUA e das
multinacionais.
É fato que as repressões causaram grande temor e espanto no decorrer deste
período, já que o povo não tinha direito a manifestar nenhuma opinião contrária ao
determinado pela ditadura. A este respeito Cunha e Góes (1985) apontam:

A repressão foi a primeira medida tomada pelo governo imposto pelo


golpe de 1964. Repressão a tudo e a todos considerados suspeitos de
práticas ou mesmo ideias subversivas. A mera acusação de que uma
pessoa, um programa educativo ou um livro tivesse inspiração
"comunista" era suficiente para demissão, suspensão ou apreensão.
(CUNHA; GOÉS, 1985, p. 36).

Podemos refletir, a partir desse contexto, o quanto a Educação pode ser vista
como um forte mecanismo de poder; neste momento ela era considerada como uma das
maiores armas a favor dessa forma de governo, já que se uma parcela maior do povo

6
Um importante Projeto neste contexto político foi a Aliança Para o Progresso; de acordo com Araújo
(2010), este projeto foi o resultado de três reuniões com o objetivo de decidir a educação que seria
colocada no Brasil, o que resultou na implantação das Escolas Polivalentes, bem como na criação da Lei
5.692/71, a qual legalizou e oficializou a Educação Básica no Brasil durante o período. Destaca-se
primeiramente a "Reunião Extraordinária do Conselho Interamericano Econômico e Social em Nível
Ministerial”, a qual foi realizada em Punta del Este - Uruguai. Após destaca-se a "Segunda Conferência
sobre Educação e Desenvolvimento Econômico e Social na América Latina", sendo esta realizada em
Santiago do Chile, em 1962. A terceira conferência foi considerada como a "Reunião Interamericana de
Ministros da Educação", sendo a mesma realizada em Bogotá - Colômbia em 1963.
21

tivesse acesso a maiores conhecimentos, isso poderia trazer ameaças a estabilidade das
formas mantidas pelo regime militar.
Nesta perspectiva, a sociedade foi se estabelecendo em uma visão global do
mundo do trabalho enquanto a educação compulsoriamente ia se tornando fundamental
para a promoção das atividades capitalistas, uma vez que a instrução se torna essencial
para as práticas profissionais.
O período do Regime Militar tornou mais visível as influências dos Estados
Unidos no que diz respeito às formas de controle dos meios de produção capitalistas;
era preciso que o mercado se preparasse para receber trabalhadores técnicos capacitados
para a produção industrial que a demanda exigiria dos mesmos na execução das
diferentes tarefas presentes no setor industrial.
É importante também destacar que as políticas internacionais da USAID, já se
faziam presentes no Brasil antes ao período do Regime Militar, uma vez que esta atuava
na formação de professores do ensino primário por meio da Universidade de Minas
Gerais.
De acordo com Araújo (2010) , a partir de tais medidas, a Escola Polivalente foi
criada, e com a ajuda financeira, política e ideológica dos EUA, o modelo internacional
foi oficialmente estabelecido por meio das Escolas Polivalentes que seriam implantadas
no Brasil; e frente à decisão de que a ajuda internacional seria importante para a solução
dos problemas educacionais do país, os órgãos CFE (Conselho Federal de Educação),
MEC (parte da instituição educacional brasileira) e DES (Diretoria do Ensino
Secundário), a USAID foi então convidada a se incumbir de dar o suporte necessário ao
processo educativo no que diz respeito ao controle técnico e financeiro, bem como em
outras funções como em treinar a equipe técnica brasileira nos planejamentos de ensino,
dar assistências às secretarias e conselhos de educação, dentre outros. Araújo (2010)
traz:
Neste momento, a USAID contrata os serviços do sistema
universitário do Estado da Califórnia (EUA), que, por meio da San
Diego State College Foundation, ofereceu os serviços de seus
especialistas para atuarem como consultores durante dois anos, tendo
eles a obrigação de orientar a área de planejamento de ensino no nível
secundário em âmbito federal e estadual. (ARAÚJO, 2010, p. 3).

Nesta perspectiva, tais instituições americanas se responsabilizaram em propiciar


cursos de formação aos profissionais escolhidos pela USAID na San Diego State
University, a fim de posteriormente colocá-los em prática no Brasil.
22

O PREMEM, de acordo com Araújo (2010) foi o resultado do novo acordo em


1970, entre a USAID/MEC, sendo que a partir de 1972, a EPEM foi incorporada à
estrutura do planejamento do MEC, perdendo deste modo sua autonomia e
administrativamente implementada à este; a partir de então o PREMEM passou a ser o
responsável pelo plano da reforma educacional e pela implementação e organização das
Escolas Polivalentes, escolas estas que marcaram o contexto histórico brasileiro junto
ao acordo realizado com a política internacional da Aliança para o Progresso no
momento em que se encontrava o país sob a Ditadura Militar.

2. A EDUCAÇÃO EM MEIO ÀS PROPOSTAS DO ENSINO


PROFISSIONALIZANTE: a Pedagogia Tecnicista no Brasil

Podemos ver que a Escola foi constituindo-se e modificando-se ao longo dos


tempos, porém sempre identificada pelos grupos sociais que a compõem. Neste sentido
é visto que a Escola surge no primeiro momento voltada para uma minoria da classe
dominante. A partir da Idade Média, na Europa, é que a Educação veio a se tornar um
Produto da Escola, sendo que um conjunto de pessoas, em sua maioria religiosa, se
especializou na transmissão do saber, e desde então a atividade de ensinar foi se
desenvolvendo em lugares específicos; nesta perspectiva a escola durante um bom
tempo esteve reservada às elites, e, aos ditos “pobres”, a aprendizagem acontecia na
prática cotidiana:
Durante séculos, este tipo de escola ficou reservado às elites.
Serviu em primeiro lugar aos nobres, passando depois a atender
à burguesia que, na medida de sua ascensão, exigia os mesmos
privilégios que detinham os aristocratas. O “resto”- lavradores,
operários, a gente pobre- aprendia na prática do dia-a-dia.
(HARPER, Babette et al, 2000, p. 27).

A escola assim voltada para esta minoria dominante só veio a sofrer mudanças
com o início da Revolução Tecnológica, pela qual houve a necessidade de se pensar em
modificações nos conteúdos disciplinares que exigiam maior cientificidade para o
desenvolvimento técnico que emergia frente às sociedades.
Assim sendo, na medida em que as produções econômicas geradas pelas
indústrias cresciam, foi surgindo também a necessidade desta população da classe
operária ter o mínimo de instrução para saber lidar com as técnicas exigidas ao
23

desenvolvimento do trabalho nas indústrias. O que, deste modo, levou-se a pensar em


uma escola que preparasse, para o trabalho, a classe social oposta à elite dominante, a
classe dos menos favorecidos, os quais, para tal, precisariam saber o mínimo necessário.
Nesta lógica, a escola desde seu princípio é marcada por diferenças sociais que
interferem diretamente na Qualidade do Ensino ofertado às distintas classes sociais.
Referente a isso:

Foi assim que, paralelamente à escola dos ricos, foi surgindo uma
outra escola, a escola dos pobres. Sua função era dar aos futuros
operários o mínimo de cultura necessário à sua integração por baixo
na sociedade industrial. A coexistência desses dois tipos de escola cria
uma situação de verdadeira segregação social. As crianças do “povo”
freqüentavam a “escola primária”, que não é concebida para dar
acesso a estudos mais aprofundados. As crianças da elite seguiam um
caminho à parte, com acesso garantido ao ensino de nível superior,
monopólio da burguesia. (HARPER, Babette et al, 2000, p.29).

Esta distinção foi se alterando a partir das reivindicações feitas pela classe
trabalhadora quanto aos direitos de igualdade do ensino para todos; o que repercutiu no
ensino público, gratuito e obrigatórios à todos. A escola passou assim a ser considerada
como um meio essencial para as chances de emancipação social pelas classes menos
favorecidas.
No entanto, essa expectativa teve suas limitações ao passo que o ensino ofertado
a todos os alunos das distintas classes possuíam diferentes condições de sobressaírem-se
ou não nos estudos; a própria escola não dava condições para os alunos que não
conseguiam prosseguir seus estudos. Na maioria das vezes, pela precária condição
social que não lhes permitiam a permanência na escola, e ainda considerando que em
determinado período dos estudos era realizado exames de “seleção”, nos quais
obviamente os mais favorecidos eram aprovados para seguirem em frente, ou seja, os
alunos mais favorecidos continuavam os estudos até chegarem à universidade, enquanto
os da classe inferior dificilmente chegavam a esta, mas ao contrário, em poucos anos de
escolaridade seguiam a profissão desvinculados da escola, aumentando o número da
evasão escolar e uma maior massa da classe operária. Neste sentido:

Gradualmente vai sendo abolido o sistema de duas escolas separadas,


uma reservada aos ricos e outra destinada aos pobres. A partir de
agora, todos os alunos começam seus estudos num mesmo tipo de
escola e é apenas ao término de um tronco comum que vai se dar a
SELEÇÃO, isto é, a repartição dos alunos em dois grupos: de um
24

lado, uma minoria que vai continuar os estudos até alcançar a


universidade e, de outro lado, uma maioria que vai seguir cursos mais
curtos e menos valorizados, que conduzem apenas às escolas técnicas
e profissionais. (HARPER, Babette et al, 2000, p. 32).

Mello (1986) ao se referir sobre a questão do papel formativo da Escola, coloca


que “foi proclamando a educação pública, gratuita e obrigatória, como forma de
promoção da igualdade e, portanto direito de todos, que a burguesia conseguiu ser
hegemônica e garantiu o apoio de amplos setores da sociedade para sua proposta
político-educacional” (MELLO, 1986, p. 11).
Assim, os cidadãos passaram a ter os mesmos direitos de igualdade formais para
adentrar a escola, no entanto prevaleciam as dificuldades para que de fato estes tivessem
reais condições de prosseguir os estudos, bem como viesse a refletir em uma sociedade
mais igualitária por meio das possibilidades colocadas através do direito do ensino
público.
Nesta vertente, compreende-se que as mudanças ocorridas na Educação vêm
sendo ao longo do tempo advindas de relações em meio ao processo da economia
capitalista.
Todavia, a década de 1970 nos revela um período em que a Pedagogia
Tecnicista esteve à frente de um modelo implantando com maior intensidade na
Educação brasileira, uma vez que esta se encontrou diretamente vinculada ao trabalho
pedagógico escolar.
Tal modelo se caracterizou em vista da organização da necessidade da mão de
obra para o trabalho frente à sociedade que se encontrava nesse exato momento, em
meio ao crescimento capitalista industrial e consequentemente, aflorando o aumento das
produções que emergiam sob os interesses de um país economicamente mais
desenvolvido para o progresso.
Nesta perspectiva, ao analisar se realmente ocorreu uma Revolução em 1964, ou
seja, uma ruptura ao que diz respeito aos aspectos políticos e socioeconômicos no
Brasil, Saviani (2007, p. 362) coloca que a partir do Golpe Militar, desencadeado em
março de 1964, de fato a ruptura deu-se no nível político e não no socioeconômico, uma
vez que esta ruptura política buscou “preservar a ordem socioeconômica, pois se temia
que a persistência dos grupos que então controlavam o poder político formal viesse a
provocar uma ruptura no plano socioeconômico”. (SAVIANI, 2007, p. 362).
Desse modo, segundo o referido autor, não ocorrendo ruptura no plano
socioeconômico, houve continuidade também na Educação, o que pode ser refletido na
25

legislação instituída pelas reformas de ensino pautadas na LDB (Lei n. 4024, de 20 de


dezembro de 1961) baixadas pela ditadura, as quais não foram revogadas em seus
primeiros títulos que enunciavam as diretrizes traçadas, mas “foram alteradas as bases
organizacionais, tendo em vista ajustar a educação aos reclamos postos pelo modelo
econômico do capitalismo de mercado associado dependente, articulado com a doutrina
da interdependência”. (SAVIANI, 2007, p. 362).
Neste sentido, a Educação sofreu ajustes específicos a partir da concepção do
ensino proposto junto à formação técnica profissionalizante. De acordo com Saviani
(2007, p. 363), a concepção produtivista de Educação, teve como marco de abertura o
ano de 1969; a partir deste ano ocorreram reformas implementadas na área educacional
em virtude de aprovações que regulamentavam a incorporação destas reformas na
legislação.
Mira apud Romanowski (2009, p. 10210), colocam que “as reformas de Ensino
Superior (Lei 5540/68) e do Ensino Primário e Médio (Lei 5692/71 – que instituiu o
Ensino de 1º e 2º graus), decorrentes dos acordos MEC-USAID (1966) foram
representativas da influência da concepção tecnicista no contexto escolar”.
Especificadamente em relação aos objetivos da reforma do 1º e 2º graus as autoras
apontam:

A reforma do Ensino de 1º e 2º Graus teve por objetivo geral


“proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento
de suas potencialidades como elemento de auto-realização,
qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da
cidadania” (Brasil, 2009). Para tanto, ampliou a obrigatoriedade para 8
(oito) anos, aglutinando o curso primário e o ginasial e extinguiu a
separação entre escola secundária e escola técnica, criando o ensino
profissionalizante. (MIRA apud ROMANOWSKI, 2009, p. 10211).

A Pedagogia Tecnicista é compreendida assim, tendo sua origem no Brasil a


partir da tendência produtivista, sob a aprovação da Lei n. 5692, de 11 de agosto de
1971, a qual buscou sua extensão a todas as escolas do país.
Nessa perspectiva, Kuenzer apud Machado (1986, p. 29), ao abordarem sobre
esta Pedagogia, nos traz que a partir da década de 1960 diante do discurso
desenvolvimentista presenciado, a baixa produtividade do sistema escolar teve um papel
fundamental, ou seja, naquele momento em que o país se encontrava em um
significativo desenvolvimento econômico, os baixos índices da demanda escolar
relativos ao número da população e suas consequências como os altos níveis de evasão e
26

repetência, eram fatores vistos como entrave ao alcance dos objetivos do


desenvolvimento esperado na sociedade.
Neste sentido, o sistema escolar era tido como o responsável por esta
inadequadação no resultado de seu produto, uma vez que havia por um lado a baixa
qualificação da mão de obra advinda pela desigualdade de distribuição de renda, e por
outro lado, pela falta de preparo das massas para o processo político.
A referida autora aponta que frente a tais soluções para o impasse, o Estado e
considerável número de intelectuais, privilegiaram a tecnologia educacional:

A demanda de mão-de-obra representada pelas multinacionais trazia


em decorrência da transposição do modelo de produção, a importação
do modelo de formação utilizado na pátria-mãe. A reprodução das
relações de produção na divisão internacional do trabalho na etapa
monopolista exige a reprodução das ideias que a suportam.
(KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 30).

Nesse momento então, em que a demanda pela mão de obra do trabalho


profissional surge como base do processo econômico, surge também a necessidade de
pensar em medidas para a preparação adequada dos trabalhadores no desenvolvimento
das técnicas exigidas nos setores industriais; vemos assim a Educação como meio para a
busca do alcance de alternativas condizentes com a demanda do trabalho advinda pelo
crescimento industrial:

[...] a opção pela tecnologia educacional configurou-se, então, como a


possibilidade de transpor, para o sistema de ensino, o modelo
organizacional característico do sistema empresarial, visando à
reordenação do sistema educacional com base nos princípios da
racionalidade, eficiência e produtividade. (MIRA apud
ROMANOWSKI, 2009, p. 10209).

A tecnologia educacional é apontada por Kuenzer apud Machado (1986, p. 30),


como “a absorção, pela educação, da ideologia empresarial”, podendo ser entendida no
contexto do processo produtivo sistematizado a partir da Teoria Geral da
Administração, tendo como primeiro teórico Frederick W. Taylor:

Esta teoria surge tendo como preocupação central o controle do


processo produtivo, necessidade gerada pelo desenvolvimento
capitalista, que, introduzindo novas relações de produção a partir da
compra e venda de força de trabalho, transfere o controle realizado
internamente pelo produtor, a uma instância superior a ele: a da
gerência. (KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 31).
27

Diante desta concepção, os cidadãos passaram a executar o trabalho de acordo


com a organização estabelecida pela divisão setorial de controle do processo produtivo
industrial, bem como passa também a ser transposta essa ideologia para a educação:

A educação passa ser vista como investimento individual e social, em


decorrência do que deve vincular-se aos planos globais de
desenvolvimento. A expectativa de que a educação atenda às
necessidades econômicas, políticas e sociais, conduz, inicialmente à
avaliação dessas mesmas necessidades, o controle da execução dos
projetos e a posterior verificação do grau de atingimento dos objetivos
propostos. É a tecnologia educacional, suportada pela Teoria Geral
dos Sistemas, que oferece a resposta para os problemas assim
colocados; ela já havia comprovado sua eficácia nos meios
empresariais e na pátria-mãe; bastava portanto, transpô-la para a
educação no Brasil. (KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 34).

A busca pelo aperfeiçoamento da organização necessária ao processo de


qualificação profissional decorrente em virtude da demanda da mão de obra que cada
vez fluía frente à estrutura econômica de produção mostrava-se necessária diante das
relações capitalistas no âmbito da sociedade em expansão, expressa pelas crescentes
indústrias que iam surgindo consideravelmente nesse período.
Tal processo, como antes mencionado, neste período se mostra com maior
concretude, trazendo para a Educação essa concepção advinda do objetivo de estreitar a
formação dos sujeitos integrada ao ensino profissionalizante, a fim do alcance de uma
maior qualificação para o trabalho a ser desenvolvido nas diferentes áreas específicas
em meio às indústrias que estavam sendo consideravelmente implantadas no Brasil em
prol do crescimento econômico. Neste sentido Saviani (2007) ao se referir a essa
temática traz apontamentos que melhor salientam para essa questão:

A adoção do modelo econômico associado-dependente, a um tempo


consequência e reforço da presença das empresas internacionais,
estreitou os laços do Brasil com os Estados Unidos. Com a entrada
dessas empresas, importava-se também o modelo organizacional que
as presidia. E a demanda de preparação de mão-de-obra para essas
mesmas empresas associada à meta de elevação geral da
produtividade do sistema escolar levou à adoção daquele modelo
organizacional no campo da educação. Difundiram-se, então, ideias
relacionadas à organização racional do trabalho (taylorismo,
fordismo), ao enfoque sistêmico e ao controle do comportamento
(behaviorismo) que, no campo educacional, configuraram uma
orientação pedagógica que podemos sintetizar na expressão
“pedagogia tecnicista”. (SAVIANI, 2007, p. 365-367).
28

Mediante ao exposto, fica claro que o ensino passa a sofrer influências do


modelo econômico capitalista, uma vez que a escola é considerada uma instituição
capaz de contribuir com as metas esperadas para o alcance da melhoria do processo de
crescimento econômico, ao ofertar o ensino preparatório para as classes trabalhadoras
que seriam inseridas no mercado de trabalho.
No entanto, torna-se pertinente a reflexão sobre a prática pedagógica no âmbito
dessa Pedagogia Tecnicista, uma vez que, se importava primordialmente a essa
concepção o alcance de sujeitos preparados profissionalmente para atender as demandas
de mão de obra para as indústrias, como daria a formação integral destes mediante a
necessária aprendizagem dos conteúdos curriculares junto ao ensino regular? Havia uma
adequação metodológica condizente com a grade curricular proposta, entre teoria e
prática? Como era a relação entre professor e aluno mediante essa educação
profissional? Como se dava esse processo de ensino? Essas são algumas das questões
cabíveis de estudos posteriores em buscas relativas ao processo da história da educação
brasileira, uma vez que remete-nos para a possibilidade de novos olhares sobre as
práticas e saberes constituídos no Brasil sob a orientação dessa tendência pedagógica.
Dentre as indagações, o presente trabalho buscou uma reflexão sobre a possível
identificação desta tendência Pedagógica aplicada no âmbito da referida instituição
pesquisada, a fim de estabelecer uma relação entre o trabalho desenvolvido mediante o
ensino ali ofertado e aprendizagem apreendida pelos ex-alunos que ali perpassaram
parte do processo de formação, na qual se pautou a voz ativa dos sujeitos que fizeram
parte dessa história, pela pesquisa aqui delineada.

3. PRIMÓRDIOS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO CONTEXTO


EDUCACIONAL E SOCIAL DE ITUIUTABA

A história da cidade de Ituiutaba remete ao contexto relativo à área territorial


antes habitada por índios Caiapós, que viviam nos arredores deste município. No
primeiro momento, de acordo com o historiador Zoccoli (2013), Ituiutaba foi
desbravada pelos fazendeiros Joaquim Antônio de Morais e José da Silva Ramos,
ambos vindos do Sul de Minas Gerais no ano de 1820. Nessa perspectiva, a ocupação
constituiu a origem histórica da construção da cidade, como aponta Silva (2012):
29

Com o decorrer dos anos, a fama do lugar extraordinário atravessou


suas fronteiras e com isso a localidade começou a ganhar forasteiros,
trabalhadores, comerciantes, professores, padres, intelectuais que
vinham de perto ver São José do Tijuco. O arraial foi progredindo e
adquirindo novo aspecto, de Vila. [...] Em 1910, Vila Platina recebeu
sua primeira escola, o Grupo Escolar João Pinheiro, existente até os
dias de hoje. Em 1915, Vila Platina foi elevada à categoria de cidade,
recebendo o nome de Ituiutaba, oriundo da língua tupi-guarani, cujo
significado é “I” (rio), TUIU (Tijuco), “TABA” (povoação, aldeia,
cidade), portando – cidade do rio tijuco. O nome, um neologismo
ameríndio, foi escolha do então líder político da região, senador e
intelectual Camilo Rodrigues Chaves, um dos envolvidos na
emancipação político-administrativa da terra tijucana. (SILVA, 2012,
p. 59-60).

Até os anos de 1950, havia predomínio da educação privada no município de


Ituiutaba. A partir de então houve um considerável avanço no sistema de educação
pública, ao passo que partir da década de 50 a cidade recebeu a criação de escolas que
viriam a promover maiores oportunidades de escolarização para a população que até
então anterior há essa década, fora mantida uma restrita oferta de ensino público, e
como visto a Escola Polivalente surge em meio a esse processo de instalação de escolas
públicas que vinham sendo sucessivamente implantadas na cidade de Ituiutaba.
Entretanto, no que se refere à Educação Profissionalizante no contexto histórico
de Ituiutaba, Silva (2012) aponta que nos anos de 1930 foram fundadas duas escolas
privadas, as quais ao início não tinham a finalidade de ofertar cursos profissionalizantes,
porém no decorrer dos anos vieram a ser instaladas.
Segundo o referido autor, tais escolas visavam atender os anseios da elite urbana
e rural a fim de oferecer a educação para os seus filhos no próprio município, já que o
ensino ginasial era inexistente na cidade. A primeira escola a oferecer o ensino
profissional, de acordo com Silva (2012), foi o Instituto “Marden”, fundado em 1933,
iniciando em 1934 o seu funcionamento com o Curso Primário; em 1935 veio a ter
início o Curso Normal e em 1942 o Curso Ginasial.
Assim, em busca de atender aos interesses dos jovens que trabalhavam durante o
dia, foi instalado no referido Instituto, o Colégio Comercial “Barão de Mauá”, o qual
ofereceu os cursos Ginásio Comercial (1º Ciclo) e Técnico de Contabilidade (2º Ciclo).
Silva (2012) destaca que “apesar de ser privado e destinado à elite urbana e rural da
cidade, o Marden criou e manteve os cursos comerciais para aqueles que não podiam
estudar de dia por conta de não terem outro recurso ou forma de se manter, inclusive na
30

escola, senão pelo trabalho”. (SILVA, 2012, p. 62). Este Instituto exerceu suas
atividades educacionais até o ano de 1979, quando então veio a ser extinto.
A segunda escola a ofertar esse tipo de ensino em Ituiutaba na década de 1930,
de acordo com este autor, foi o Colégio Santa Teresa, instituição Confessional, a qual
atendia moças em regime de internato e externato, formando-as em Economia
Doméstica e Artes, nos Cursos Primário, Ginasial e Normal.
Silva (2012) traz que outra escola confessional instalada em 1948, o Ginásio
São José, fundado e dirigido pelos padres Estigmatinos, ofertava os Cursos Ginasial e
Colegial, bem como os Cursos Profissionais Ginasial de Comércio e Técnico de
Contabilidade; este Colégio teve assim seu funcionamento até o ano de 1980.
Outra instituição criada no ano de 1956 em Ituiutaba, conforme aponta Silva
(2012), foi o Educandário Espírita Ituiutabano, o qual era particular e mantido pela
União das Mocidades Espíritas de Ituiutaba (UMEI), bem como mantenedor de cursos
primários e ginasiais gratuitos. Assim sendo, após requerimento do Diretor em prol do
Colegial de Comércio, em 1963 a instituição foi denominada de “Colégio Comercial de
Ituiutaba”, passando a ofertar o Curso Técnico em Contabilidade, de modo que em 1967
foi oficialmente autorizado pelo Diretor de Ensino Comercial, o funcionamento do
Curso de Técnico em Contabilidade na referida instituição.
Contudo, como já mencionado, a Escola Polivalente, com seu diferencial
pedagógico, veio acompanhada também por um modelo arquitetônico advindo para a
construção de seu prédio, com todo um planejamento setorial para o desenvolvimento
das práticas educativas a serem realizadas no seu interior. É visto que um amplo espaço
geográfico foi destinado para a instalação desta escola em Ituiutaba.
Podemos refletir a partir dessa perspectiva, que o Colégio Polivalente, antes de
tudo se mostrava com o intuito de se apresentar como um diferencial, não apenas ao
setor educacional como também ao desenvolvimento cultural e econômico da cidade,
uma vez que, os processos advindos das relações econômicas estavam em alta por meio
das indústrias que cada vez mais se instalavam no cenário ituiutabano. Tais
características influenciaram grandemente as relações econômicas entre as indústrias e a
demanda por trabalhadores nos diversos setores técnicos, necessários para a mão de
obra especializada.
É compreendido neste contexto, que este período do recorte temático aqui
delineado, destaca-se como um dos mais fluentes no que diz respeito ao
31

desenvolvimento industrial que a cidade vivia até então, ou seja, as grandes indústrias
vieram a se instalar em Ituiutaba, consideravelmente no decorrer da década de 1970:

A capital econômica e cultural de uma das mais ricas, prósperas e


futurosas áreas do opulento Estado de Minas – Ituiutaba -, está
completando 74 anos nesta data. Essa idade pode ser provecta para um
homem, que ao atingi-la sente o peso de tantos “janeiros” e traz no
rosto a marca de tantos anos vividos. Para Ituiutaba, contudo, ocorre
um fenômeno interessante. Quanto mais velha, mais jovem, vaidosa e
cativante se mostra. Sempre remoçada, com roupagens novas e se
enfeitando como fazem as moças catitas e de requintado bom-gosto.
Ituiutaba é assim. Uma jóia de cidade, que sedia o progresso em ritmo
galopante. Cidade que cresce rapidamente nos sentidos horizontal e
vertical, com u’a média de construção de três e meia casas por dia.
No meio do casario, que se estende por todos os lados, cobrindo uma
área superior a 20 quilômetros quadrados, destacam-se edifícios de
dois, três, quatro pavimentos e se erguem os oito primeiros “arranha-
céus”. Novos blocos, de muitos andares, surgirão brevemente,
atestando a pujança desta terra e o quanto pode sua gente arrojada e de
incomparável espírito empreendedor. (Jornal Cidade de Ituiutaba, 16
de setembro de 1975).

Segundo constatações através de documentos locais investigados, nesta década a


cidade vivenciou uma grande expansão de progresso, uma vez que recebeu a criação de
importantes obras públicas, como o terminal rodoviário, implementação de rodovias e
aeroporto, o parque de exposições, bem como de indústrias de porte agrícola, pecuária,
pneus, adubos, cerâmicas, dentre outras, destacando-se dentre elas a Nestlé, sendo sua
instalação prevista na cidade, já no ano de 1974, a qual se mantém ativamente no
mercado de produção da cidade. Em destaque editorial de jornal da cidade referente à
tal crescimento industrial: "Já contamos com mais de 200 unidades industriais,
incluindo-se é claro, as máquinas de beneficiar arroz". (Jornal Cidade de Ituiutaba, 16-
17/07/1974).
Nesta perspectiva, a Escola Polivalente vem a ser implantada em meio a este
próspero crescimento industrial em Ituiutaba, a qual perpassava por grandes
investimentos que foram efetivados em prol do desenvolvimento econômico, sendo um
fator primordial para novas possibilidades do crescimento do mercado de trabalho, ao
passo que as atividades industriais buscavam se expandir neste município:

Novas indústrias estão se implantando, entre elas a maior fábrica de


leite em pó da América Latina e 15a da Cia. Nestlé, a ELDORADO –
Indústria de Plásticos Ltda., a Cerâmica Tamoio, todas no setor
industrial-norte de nossa cidade. Estas se somam às numerosas
indústrias em funcionamento, dando-nos a certeza de que a
industrialização em marcha não sofrerá solução de continuidade.
32

Todos os setores de nossa comuna estão em pleno desenvolvimento.


Indústria, Comércio, Educação, Ensino Superior, Saúde,
Comunicação, Transportes, Assistência, Artes, Esportes, Diversões,
Turismo, etc., em notável expansão e melhoria. (Jornal Cidade de
Ituiutaba, 16 de setembro de 1975).

Deste modo, é visto que a escola se colocava como um avanço a ser conquistado
no setor educacional, como também na contribuição a ser alcançada no
desenvolvimento sócio cultural e econômico; tais objetivos, nesta perspectiva por certo,
traziam muitas expectativas aos moradores de Ituiutaba, uma vez que a escola se
mostrava com um diferencial desde sua arquitetura, comparando-a com as demais
escolas da rede pública da cidade daquele momento.

4. A ESCOLA POLIVALENTE DE ITUIUTABA: ORIGEM DO SEU


PROCESSO CONSTITUTIVO
4.1 A criação

A história de uma instituição escolar não se restringe apenas ao seu fazer


burocrático, pedagógico e prático, mas vai muito além disso, uma vez que todas as
relações que a envolvem são advindas de processos interativos entre os atores que a
compuseram em determinado período.
Com o intuito de descrever o processo constituinte da Escola Polivalente de
Ituiutaba, esta segmentação busca apresentar alguns dos importantes aspectos advindos
do seu desenvolvimento, respaldando-se em análises de fontes composta por Histórico e
Regimento Escolar, Livro de Exercício e Posse de professores e funcionários e jornais
do contexto pesquisado, bem como de entrevistas com ex-diretor, professores, alunos e
funcionários, através das quais foi possível obter consideráveis informações sobre as
práticas cotidianas que permearam o interior desta instituição.
Em meio a este contexto histórico, a cidade de Ituiutaba recebe assim, através do
PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio) em convênio com o
Estado, a implantação da Escola Estadual Polivalente “Antônio Souza Martins”, situada
em área central desta cidade. No entanto, esta Escola trazia um diferencial que a
distinguia das demais escolas também implantadas neste período: a proposta de ensino
curricular, bem como as metodologias aplicadas no processo de ensino e de
aprendizagem aos alunos.
33

Mediante pesquisa documental da referida instituição, pôde-se constatar através


do seu Histórico, que esta teve sua instalação no ano de 1971, por meio do disposto na
Lei nº 5.760/71, sob o Artigo 76, inciso X da Constituição do Estado, o qual dispõe da
criação das 26 (vinte e seis) Escolas Polivalentes implantadas no país, em decorrência
do convênio celebrado em 1970, entre a União, representada pelo Ministério da
Educação e Cultura – MEC- através do PREMEM, e o Estado de Minas Gerais.
As Escolas Polivalentes como consta no referido documento foram pensadas
minuciosamente através de estudos que foram realizados pela EPEM - Equipe de
Planejamento do Ensino Médio, ao se buscar partir para uma concepção de escola
polivalente e totalmente sintonizada com a realidade brasileira; sendo também
ressaltado neste documento (1987) que as Escolas foram ao início definidas como
Ginásios, estando naquele momento denominada "Escola Polivalente".
Este marco constituinte ficou estabelecido por meio do Decreto Nº 16. 654, de
Outubro de 1974, de Criação das Escolas Polivalentes de 1º Grau, como demonstra a
parte descrita do referido documento abaixo:

DECRETO N 16.654, DE OUTUBRO DE 1974


Cria Escolas Estaduais de 1 Grau.
O governador do Estado de Minas Gerais, no uso da atribuição que lhe
confere o artigo 76, inciso X, da Constituição do Estado, e tendo em
vista o que dispõe o artigo 3º da Lei nº 5.760, de 14 de setembro de
1971, decreta:
Art. 1º - Ficam criadas 26 (vinte e seis) Escolas Estaduais de 1º Grau –
5ª. a 8ª série – construídas, na terceira etapa, em decorrência do
convênio celebrado, aos 19 de fevereiro de 1970, entre a União,
representada pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC – através
do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – PREMEM – e o
Estado de Minas Gerais, aprovado pela Resolução nº 925 de 27 de
maio de 1970, da Assembléia Legislativa, nas cidades de Araxá,
Campo Belo, Caxambu, Corinto, Conselheiro Pena, Curvelo,
Diamantina, Frutal, Guaxupé, Juiz de Fora, Itabira, Itajubá, Itaúna,
Ituiutaba, Mantena, Monte Carmelo, Nova Lima, Muriaé, Oliveira,
Paracatu, Poços de Caldas, Sabará, Santos Dumont, S. João del-Rei, S.
João Nepomuceno e Três Corações.
[...]
Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, aos 15 de outubro de 1974.
Rondon Pacheco
34

4.2 O prédio (espaço físico)

Neste sentido, essa Escola se mostrou à população tijucana como uma nova
expectativa de instituição pública que viria ser instalada na cidade, sendo já considerada
uma Escola Modelo, a qual viria possibilitar um ensino de qualidade aos alunos que ali
a adentrasse para os estudos.
A futura implantação desta instituição, como constatado em acervo histórico, foi
consideravelmente anunciada em jornal da cidade quando ainda se encontrava em
processo de construção: "O Ginásio Polivalente será sem sombra de dúvidas, uma nova
arrencada de Ituiutaba no setor educacional e haverá de contribuir muito para com o
nosso desenvolvimento sociocultural e econômico. (sic)" (Jornal de Ituiutaba, 4 de
novembro de 1973).

Figura 1: Notícia sobre a inauguração do Polivalente

Fonte: Acervo Cultural do Município

Em outra matéria jornalística, revela-se que a instituição escolar era


ansiosamente aguardada pela comunidade local, carente de oportunidades educativas:

A instalação do Polivalente é de grande significação para nossa


comuna. É a concretização de um ideal, para a qual contribuíram a
administração anterior e a atual e os homens do governo ligados ao
35

setor da instrução pública. Ela virá a ajudar a resolver um dos grandes


problemas de nossa terra, qual seja o da falta de vagas para todos os
que desejam estudar. (Jornal de Ituiutaba, 21 de agosto de 1974).

A Escola Polivalente foi deste modo instalada na Rua 18 entre Avenidas 31 e 33,
atendendo inicialmente aos alunos da 5ª a 8ª séries do 1º Grau.
É possível identificar a partir de sua arquitetura a ampla construção destinada a
suas atividades, bem como ao espaço de sua área física. Neste sentido, a construção
dessa Escola se constitui em um avanço de modernidade educacional da época, uma vez
que esta apesar de contar com todas essas especificidades era pública e visava atender
aos anseios da comunidade tijucana por mais oportunidades de escolarização,
especialmente na esfera pública.
Mediante documentos consultados, é possível observar o registro da planta da
área compreendida pela Escola Polivalente, pela qual se pode notar os espaços interno e
externo da mesma.

Figura 2: Desenho da planta da Escola Polivalente

Fonte: Acervo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente

É visível a identificação das partes constituintes do espaço da Escola Polivalente, bem


como de suas respectivas áreas externas, compostas por jardins frontais e laterais,
estacionamento, campo de futebol, duas quadras pararelas, pista de atletismo e o espaço
reservado às atividades de Práticas Agrícolas.
36

Para a construção do Colégio Polivalente, o estilo empregado foi alvenaria


(tijolo laminado), de acordo com o constatado, este foi inaugurado com todas as
dependências citadas acima, ou seja, com todos os setores já finalizados e em condições
de funcionamento.

Inauguração da Escola Polivalente


Deverá ser inaugurada no próximo dia 02 de setembro, a Escola
Estadual Polivalente de Ituiutaba. Os pavilhões e praça de esporte já
estão concluídos. O mobiliário, material didático, etc. deverão chegar
a qualquer momento. (Jornal Cidade de Ituiutaba, Agosto de 1974)

Em relação ao mobiliário, a partir do “Manual de Equipamento” contido no


acervo da escola foi possível ter o conhecimento das áreas sob as quais esses materiais
eram planejados e organizados a fim de serem equipados nas Escolas Polivalentes.
Segundo consta neste documento, este tinha por finalidade apresentar a distribuição do
“Mobiliário e Equipamento Escolar” pelos Ambientes e Unidades Espaciais que
compunham uma Escola Polivalente, os quais se caracterizavam pela oferta do ensino
de 1º Grau de 4 séries (5ª a 8ª) e o ensino de 1º Grau de 8 séries (1ª a 8ª). Desse modo, o
livro apresenta detalhadamente as partes acima mencionadas.
Como visto pela referência destacada sobre as possíveis diferenças dos
mobiliários a serem recebidos pelas distintas áreas de atividades que seriam
desenvolvidas nesses dois níveis de ensino nessas escolas, havia a distinção de acordo
com modelo arquitetônico sob sua estrutura de ensino:

Vale assinalar que nem todos os Ambientes e Unidades Espaciais são


encontrados, obrigatoriamente, na Escola Polivalente de 4 séries (5a.
à 8a. Série), dependendo a sua existência do projeto arquitetônico
relativo a cada modelo. (PREMEM, Manual de Equipamento, 1974).

Foi possível também verificar a listagem de espaços prescritos neste documento,


para os Ambientes e as Unidades Espaciais em um número total de 84 setores,
destacando-se entre estes as áreas destinadas para as atividades com o trabalho de
práticas esportivas, agrícolas, jardins, biblioteca, cantina, laboratórios, salas diversas
para o trabalho pedagógico, sanitários, vestiários, zeladoria, dentre outros.
Deste modo, o Mobiliário e Equipamento Escolar destinados as Escolas Polivalentes
se caracterizavam pelos modelos arquitetônicos que estas possuíam mediante o ensino
ofertado. A Escola Polivalente pesquisada, como constatado, recebeu o seu mobiliário
37

no ano de 1974, pelo Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – PREMEM,


mediante o Termo de Exame e recebimento do Mobiliário e Equipamento Escolar.

4.3 O Currículo

O Colégio Polivalente, deste modo iniciou suas atividades no ano de 1974 sendo
o ensino ofertado aos estudantes da 5ª à 8ª séries do 1º Grau, sendo a partir do ano de
1984 implantado também o ensino de 2º Grau- 1º, 2º e 3º anos. O ensino assim decorria
de um currículo desenvolvido sob planejamento específico, visando à formação integral
do aluno com disciplinas regulares, bem como a formação profissional técnica a partir
de conteúdos diversificados e aulas práticas que seriam realizadas em espaços
adequadamente organizados, em salas e laboratórios que abrangessem o aparato
necessário à aprendizagem, como os mobiliários e recursos de materiais usados por
alunos e professores.
Tendo, portanto em vista a implantação do ensino técnico profissionalizante
nesta instituição, referente ao seu Cronograma Curricular, podemos vê-lo como
constatado, organizado em seus conteúdos específicos em Núcleo Comum e a Parte
Diversificada; estando as atividades de Preparação para o Trabalho integradas a estas
dentro de uma carga horária prevista e sob a forma de aprimoramento ao trabalho.
Mediante o Currículo da Escola Polivalente relativo ao ensino de 1 Grau, as
disciplinas eram organizadas pelas matérias em suas áreas de estudos, estando estas
assim prescritas: Parte do Núcleo Comum: “Comunicação e Língua Portuguesa –
Língua Portuguesa e Educação Artística; Estudos Sociais – Geografia e O. S. P. B,
História, Educação Moral e Cívica e O. S. P. B; Ciências - Ciências F. B. Programa da
Saúde, Matemática, Geometria e Desenho; Educação Física; Ensino Religioso”.
A Parte Diversificada era composta por: “Culturas Regionais - Jardinagem e
Fruticultura; Artes Gráficas e Manugráficas – Cerâmica, Couro, Vidro, Madeira e
Cortiça, Eletricidade; Atividades de Escritório – Bancária, Comerciais, Mecânografia
e Datilografia; Economia Doméstica – Decoração e Habitação, Puericultura; Nutrição
e Dietética; Língua Estrangeira Moderna (Inglês)”. Como pode-se observar na
imagem do currículo a seguir:
38

Figura 3: Currículo das disciplinas que compunham o 1º Grau

Fonte: Acervo Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente (1974).

A cidade de Ituiutaba recebera assim uma nova forma de modelo educativo, ou


seja, uma escola projetada para um ensino diferenciado dos demais Currículos, já que a
prática pedagógica seria integrada ao ensino profissionalizante vinculada às demais
disciplinas da Grade Curricular do ensino regular.
Como pode ser visto, a carga horária referente às disciplinas das partes comum e
diversificada contava com uma diferença considerável quanto ao número de aulas, ou
seja, para as disciplinas do currículo comum a carga horária se apresentava bem maior
que as disciplinas do currículo diversificado destinado as aulas do ensino técnico, já que
dentre a carga horária que perfazia um total de 750 h anuais, pode ser identificada uma
ênfase maior nas disciplinas do ensino regular. Referente às disciplinas que compunham
o ensino técnico profissionalizante, observou-se que há uma maior carga horária destas
disciplinas nas duas últimas séries que compunham o ensino ofertado, a 7ª e 8ª séries.
Esta Instituição foi assim compreendida no primeiro momento, como já antes
mencionado, ao ensino de 1º Grau desde sua implementação no ano de 1974, quando
39

foram iniciadas suas atividades, passando a partir do ano de 1984, a ser ofertado e
ensino de 2º Grau.
De acordo com o constatado, o ensino de 2º Grau foi bastante desejado pela
população tijucana, uma vez que os pais alegavam a necessidade de continuidade dos
estudos dos filhos, assim a equipe gestora da escola com apoio de pais e outras
instâncias, buscaram meios para a conquista deste nível de ensino. Tal busca pela
ampliação do ensino teve destaque em notícia de jornal da cidade, como descrito abaixo
em parte da publicação:

2º Grau na Escola Polivalente


O Vice Presidente da Câmara Municipal, vereador H. D., procurando
traduzir as aspirações da Direção, do seleto Corpo Docente, da
Secretaria, de Funcionários e, sobretudo, dos Srs. Pais e dos jovens
alunos da tradicional Escola Polivalente de Ituiutaba, no sentido de
dotar, o quanto antes e com a máxima urgência aquele modelar
estabelecimento de ensino do 2º Grau, solicitou na reunião da
edilidade tijucana, fosse enviado ofício ao secretário da Educação de
nosso Estado, objetivando a materialização do assunto em tela, tendo
o Requerimento daquele edil e que, professor que por longos que é e
pai de alunos matriculados no Polivalente, sente na própria carne a
falta que está fazendo o curso de 2º Grau naquele estabelecimento de
Ensino. [...] Naquela oportunidade o vereador H. D. lembrou à casa
Legislativa que, dotando nosso Polivalente de 2º Grau, sua
metodologia educacional não sofrerá solução de continuidade, ou seja:
os alunos do Polivalente, ao lado de uma esmerada educação recebida
e reforçada pela ação atuante e bem atualizada de suas Orientadoras e
Supervisoras, também são preparados para uma profissão, cujos
parâmetros são as vocações diversificadas e respeitadas de cada um de
seus alunos individualmente, devendo-se todo esse sucesso formativo
daqueles jovens estudantes à presença amiga, humana, firme,
filosófica-moral e sobretudo idealista de seu Diretor, Profº. S. N.
(Acervo Cultural do município. Jornal Cidade de Ituiutaba, 23 de
outubro de 1980).

E diante das aspirações para o ensino de 2º Grau nesta escola, o mesmo foi
contemplado posteriormente, como mencionado no ano de 1984. Como constatado em
seu Regimento:
Adendo ao Regime Escolar
Em atendimento à publicação do Diário Oficial do Estado de Minas
Gerais de 07-02-84, página...coluna...quando do ato de aprovação
prévia da Escola Estadual "Antônio Souza Martins" de 1º e 2º graus, o
regimento da referida Escola sofre as seguintes modificações:
2 - Da identificação da Escola.
2.1 - Ato de Criação: Decreto 16.654 de 15-10-74 e Ato de Criação do
2º Grau: Decreto 23.416 de 07-02-84. [...]
40

O Plano Curricular da escola referente ao ano de 1984, como pesquisado, consta


que as disciplinas da Educação Regular referente aos Conteúdos Específicos era
composta por áreas de ensino que se subdividiam em cinco, sendo estas: Comunicação
e Expressão - Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Educação Artística, Educação
Física, Língua Estrangeira Moderna (Inglês); Estudos Sociais - Geografia e Educação
Moral e Cívica, História, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do
Brasil, Ensino Religioso; Ciências - Matemática, Física, Química, Biologia e Programa
da Saúde. A Parte Diversificada era composta pelas disciplinas: Biologia e Programa
de Saúde. Segundo nota de observação contida no documento, as atividades de
Preparação para o Trabalho seriam integradas aos programas do Núcleo Comum e da
Parte Diversificada, dentro da carga horária prevista para os mesmos e sob a forma de
aperfeiçoamento ao trabalho.

Figura 4: Currículo das disciplinas que compunham o 2º Grau

Fonte: Acervo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente.


41

Nesse sentido, ao compreendermos as práticas advindas do trabalho pedagógico


integradas ao currículo, podemos melhor refletir sobre a proposta do ensino ofertado
mediante as práxis efetivadas.

O pesquisador pode estabelecer a conexão objetiva entre as


particularidades da escola e a sociedade, a partir do levantamento e da
análise de qualquer dado empírico (documentos, fotografias, plantas,
cadernos, livros didáticos etc.), mas, dada nossa experiência,
acreditamos que os procedimentos mais adequados para alcançar esse
objetivo metodológico são a análise das trajetórias dos alunos, ex-
alunos e docentes, bem como a análise dos conteúdos e das
metodologias utilizadas na instituição estudada. Em outras palavras: é
essencial indagar a origem social e o destino profissional dos atores de
uma instituição escolar para se definir o sentido social da mesma;
assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para se
compreender seus objetivos sociais. (NOSELLA; BUFFA, 2005, p.
5074).

4.4 Quadro com relação dos docentes (1976-1985)

Como constatado no livro de “Posse e Exercício” do Acervo da Escola


Polivalente no qual se encontra o registro datado da entrada dos profissionais referente
aos “termos de Posse e Exercício do pessoal nomeado, enquadrado, reenquadrado ou
removido para o referido estabelecimento de ensino” (Ituiutaba, setembro de 1976), a
partir do ano de 1976, restringindo-se ao ano de 1985, considera-se que houve um bom
número no quadro dos profissionais que estiveram inseridos no interior dessa
instituição, como professor (a), supervisor pedagógico, orientador educacional, inspetor
de alunos, servente, serviçal, auxiliar de secretaria e auxiliar de biblioteca.
É possível identificar através das tabelas que seguem abaixo, a relação das
Posses registradas no recorte temático aqui delineado:
42

Tabela 1- Relação geral do número de Posse dos profissionais da Escola Polivalente de


acordo com o livro de Posse e Exercício verificado por gênero (1976-1985)

Função Feminino Masculino Total

Supervisoras 02 - 02
Escolar/
Pedagógico

Orientadoras 05 - 05
Educacionais

Docentes 47 24 71

Inspetores de 01 01 02
alunos

Serventes 05 01 06

Serviçais 02 - 02

Auxiliares de 06 - 06
Secretaria

Auxiliares de 03 - 03
Biblioteca

TOTAIS 71 26 97
43

Tabela 2 – Relação específica anual do número de posses dos profissionais da Escola


Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício (1976-1985)

Ano Supervisor Nº de Posse Inspetor Servente Serviçal Auxiliar Auxiliar


Escolar/ Professora/F de de de
Orientador Professor/M alunos Secretaria Biblioteca
Educacional
1976 1 Supervisor F-7
Pedagógico M-5
= 12
1977 F-3 1
M-4
= 07
1979 1 Orientador F-3 1
M-2
= 05
1980 F-1
M-1
= 02
1981 F - 15 1 5
M-4
= 19
1982 1 Supervisor F-6 1
Pedagógico- M-5
2 Orientadores = 11
Educacionais
1983 F-7
M-2
=9
1984 F-5 6 3

1985 2 Orientadores M-1 1


Educacionais

É visto mediante o recorte temporal do referido documento, especificadamente


ao quadro de professores, a existência de um significativo percentual em relação a
questão do gênero, ou seja, a maioria dos (as) docentes que atuaram no Polivalente neste
período determinado, constituía-se por professoras; uma vez que sob o total de 71
contratados, havia 47 professoras e 24 professores, com vista aproximadamente de 66%
de diferença quanto às professoras em relação aos professores.
Entretanto é necessário considerar também que alguns desses professores no
decorrer do tempo específico contaram com novas contratações mediante processos
seletivos, fato que não será aprofundado nesta contextualização.
44

Todavia, a questão do gênero7 remete para a importância da reflexão sobre a


atuação do professor no contexto histórico educacional, uma vez que a atuação
profissional no magistério foi primeiramente perpassada pela atuação do gênero
masculino, sendo aos poucos modificada por razões socioeconômicas e culturais que
foram sendo estruturadas no âmbito educacional.
Nessa perspectiva, Soares (2008) aponta que foram surgindo vários aspectos
para que a carreira docente masculina no Magistério fosse sendo aos poucos superada
pelo gênero feminino; tais aspectos segundo a referida autora, dizem respeito a questões
relativas à própria condição econômica salarial, bem como ao crescimento do número
do gênero feminino que adentrou as Escolas Normais, uma vez que houve nesse
contexto a oferta do ensino público secundário para a formação de professoras e assim a
partir de então a classe feminina foi se inserindo na carreira docente, acarretando deste
modo a feminização mais acentuada desta profissão:

Para que se compreenda o trabalho docente atual, é de extrema


relevância compreender e refletir historicamente sobre o início da
feminização dessa profissão. Michael Apple (1998) foi o primeiro a
definir a categoria de gênero como um elemento indispensável para a
compreensão do trabalho docente. Para o autor, classe, sexo e ensino
são indissociáveis. O autor sugere que o magistério feminino está
diretamente relacionado a “um processo de trabalho articulado às
mudanças, ao longo do tempo na divisão sexual do trabalho e nas
relações patriarcais e de classe” (SOARES, 2008, p. 3 apud APPLE,
1998, p. 15).

Neste sentido, compreende-se que a questão do gênero relativa à profissão


docente pode ser entendida a partir de processos advindos e permeados por relações e
mudanças em meio a sociedade, as quais se constituíram historicamente sob os aspectos
socioculturais, políticos e econômicos e foram sendo reconstruídas na esfera social e
educacional.

7
Para entender tal processo concorda-se com as colocações de Almeida (1998), que afirma que a
atribuição do desprestígio da profissão ao “sexo” do sujeito, se constitui num discurso que contribui para
a desvalorização da profissão docente. Tal conotação apresenta uma forma contraditória, pois no início a
docência era uma função realizada sumariamente por homens. Então podemos inferir que sua
desvalorização antecede à feminização. Inicialmente, eram os homens que freqüentavam em grande
maioria o magistério. Mas, aos poucos essa situação ia mudando em decorrência de salários diminutos e a
presença de mulheres que aceitavam esses parcos rendimentos, se tornou maciça nas escolas normais.
Esse fenômeno foi registrado em todas as Províncias do Brasil. (SOARES, 2008, p. 1).
45

4.5 Memórias dos Sujeitos Históricos

4.5.1. Docentes

A Escola Polivalente, desde o início de suas atividades, em sua singularidade,


contou com professores que demonstraram ter se dedicado intensamente ao processo de
consolidação do ensino na instituição. No período aqui delineado, os professores que
tiveram participação nesta pesquisa partilharam de lembranças e vivências
compreendidas através de suas práticas desenvolvidas no âmbito educacional junto aos
que coletivamente construíram parte dessa história no tempo em que atuaram no
Polivalente.
Neste intuito, para a presente pesquisa, contou-se com a participação de quatro
ex-professores - três professores e uma professora. A partir dos depoimentos dos ex-
professores, foi possível a reflexão sobre os significados construídos em meio as suas
práticas experenciadas junto aos alunos, podendo também ser vista a consideração
desses profissionais ao terem sido partícipes do processo histórico educativo de boa
parte da população tijucana. Sendo assim oportuno uma breve contextualização relativa
ao perfil de cada um dos entrevistados.
Valter8 iniciou seus estudos no Grupo Escolar São José em Santa Vitória,
concluindo nesta cidade até a 8ª série, após concluiu o 2º Grau na Escola Técnica
Federal na cidade de Uberlândia e posteriormente fez o Curso Superior na Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG, sendo este o Curso de Formação de Professores
promovido pela SEE, MEC e PREMEM; esse Curso de acordo com o professor visou
formar Profissionais para atuarem nas Escolas Polivalentes.
Ao falar sobre sua vida acadêmica, o Professor Valter relata que começou sua
carreira como professor aos 18 anos e sempre gostou de Matemática, sendo esta sua
área preferida; ele relembra que dentre professores que deixaram marcas em sua vida
foram um professor de Matemática e um de Ciências, já que estas eram as áreas com as
quais ele mais se identificava. Antes de iniciar seu trabalho na Escola Polivalente de
Ituiutaba, o Professor Valter relatou que lecionou na Escola Polivalente da cidade de

8
O professor Valter nasceu no ano de 1953 na cidade de Santa Vitória - MG, onde viveu sua infância no
sítio de propriedade da família, junto aos pais e aos seus 10 irmãos. No sítio ele brincava e trabalhava
ajudando seus pais com os afazeres da fazenda, como também estudava. Ele colocou que sempre teve o
apoio da família, não ocorrendo nenhum obstáculo durante o período de seus estudos. Durante o tempo
em que residia nesta cidade, trabalhou no comércio até se mudar para outra localidade a fim de dar
continuidade aos estudos. Casou-se e teve um filho, o qual está no momento em Formação Superior na
Universidade Federal de Uberlândia.
46

Caxambú, posteriormente veio para esta cidade na qual exerceu sua profissão docente
na Escola Polivalente até se aposentar, no período de 1974 até 2007.
O seu processo de contratação nesta escola, segundo ele, se deu por meio de
seleção através de vestibular, mediante sua formação no Curso de Licenciatura para
Formação de Professores destinado aos profissionais que atuariam nas Escolas
Polivalentes, realizada na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, na qual se
especializou na área de Práticas Agrícolas.
A escola segundo ele, contava com uma Gestão participativa, já que Diretor,
Vice, Supervisão, Orientação, Professores e Serviçais trabalhavam sempre em conjunto,
mantendo uma boa relação com todos da escola.
Quanto ao aspecto físico do Polivalente na época em que atuou nesta escola, ele
relatou que este era excelente, capaz de atender alunos e professores em todos os
aspectos, uma vez que contava com uma ampla estrutura tanto no ambiente interior,
com salas e laboratórios adequados ao trabalho pedagógico, quanto ao ambiente
exterior, o qual contava com vasta área para as práticas efetivadas com os alunos, como
a sua disciplina de Práticas Agrícolas, a qual no momento das aulas práticas era
realizada no espaço específico destinado às mesmas, como também quadras de esporte,
dentre outros.
Ele relatou que a escola contava com uma grande demanda de alunos e era
muito procurada pela população tijucana, segundo ele, vinham muitos filhos de
fazendeiros da região estudar no Polivalente, como também alunos de famílias
tradicionais da cidade. Sobre o perfil destes, na maioria, em sua consideração quanto o
nível socioeconômico, estava no nível da classe média.
Segundo o Professor, não havia casos de evasão desses alunos e quanto a
transferências, estas ocorriam apenas por motivo de mudança de família, já que quem
começava na 5ª série sempre terminava o curso que abrangia até a 8ª série. A
distribuição das vagas era organizada de modo a preencher o número correspondente ao
que a escola ofertava: “existiam na época 400 vagas por turno para as 4 áreas de
atuação – Agrícolas, Comerciais, Industriais e Educação Para o Lar. Havia exame de
seleção para todos os alunos”. (VALTER, 2015)
De acordo com este professor, o qual atuou nesta escola como professor de
Práticas Agrícolas e Matemática, ao se referir sobre o ensino de 1º Grau9- 5ª a 8ª séries,

9
Referente às disciplinas que compunham o Currículo do 1º Grau das áreas de ensino do Polivalente
neste período, foram destacadas pelo Professor Valter respectivamente: Matérias Acadêmicas- Português,
47

ele relata que o Polivalente contava com a oferta de 800 vagas, sendo estas divididas
nos períodos em que a Escola atendia- matutino e vespertino – 400 vagas em cada
turno, contando assim com 10 turmas de 40 alunos em cada turno, de modo que as áreas
do ensino profissionalizante eram distribuídas em quatro (4) integradas ao ensino
regular: Práticas Agrícolas, Práticas Comerciais, Práticas Industriais e Educação Para o
Lar.
No decorrer da 5ª e 6ª séries os alunos perpassavam pelas quatro áreas do ensino
profissionalizante, ou seja, a cada semestre os alunos estudavam uma dessas áreas, e ao
adentrarem a 7ª série, escolhiam a área com a qual mais se identificavam, dando
continuidade na área escolhida sob a 7ª e 8ª séries.
Neste sentido, os alunos já eram orientados a refletirem sobre a possível vocação
profissional, ou seja, a escola propiciava ao aluno a se conhecer e se identificar com as
ramificações propostas pelos cursos integrados ao ensino que este aluno freqüentava no
decorrer de sua formação nas quatro séries abrangentes nesta escola.
De acordo com este professor, sua área de atuação no Polivalente de Ituiutaba
nas áreas que compunham o ensino integrado era Técnicas Agrícolas; segundo ele, as
suas aulas sempre aconteciam de forma dinâmica e com uma considerável participação
dos alunos.
Assim, como relatado, durante as suas aulas ele sempre estava em movimento na
sala e não tinha o costume de ficar sentado, mas buscava o diálogo a todo o momento
entre o que estava sendo ensinado e aprendido pelo aluno, segundo ele, teve casos de
alunos virem procurá-lo posteriormente para lhe falarem sobre a continuidade dos
estudos e para lhe agradecer pela atenção e pelo ensino disponibilizado nas aulas, como
o caso de um ex-aluno que em determinado dia o procurou na escola para lhe falar que
estava fazendo o Curso de Medicina, dentre outros.
Quanto a rotina das aulas, ele apontou que embora trabalhasse o mesmo
conteúdo teórico com as diferentes turmas, ele sempre contextualizava variando os tipos
das abordagens, buscando interagir com os alunos de modo a fazer com que eles se
interessassem pelo exposto e assim pela participação mediante uma aprendizagem
significativa: “sempre gostei de quebrar essa rotina a cada aula”. (VALTER, 2015).

Matemática, Ciências, História, Geografia, Organização Social e Política do Brasil – O.S.P.B., Inglês,
Desenho Geométrico, Geometria, Educação Moral e Cívica, Educação Religiosa. Matérias Práticas –
Técnicas Agrícolas: Técnico agrícola, Agronomia, Veterinária, Engenharia florestal e outros. Técnicas
Comerciais: Contabilidade, Administração, Ciências econômicas e outras. Técnicas Industriais:
Engenharia industrial, Engenharia elétrica e outras. Educação Para o Lar: Nutrição, Fisioterapia e outras.
48

Em seu depoimento, o Prof. Valter (2005) destacou que ainda mantém contato
com alguns ex-alunos, quando estes o encontram na rua, sempre o procuram para
conversar e relembrar um pouco da época em que estiveram juntos na escola, já que na
relação entre professor e alunos houve a construção de um vínculo de amizade que
permanece vivo entre eles. Dentre os alunos, ele ressalta o conhecimento de alguns que
deram continuidade aos estudos e são formados em medicina, veterinária, agronomia,
etc.
Ao se referir sobre o contexto político educacional da época e suas
considerações sobre as influências da política na escola, ele aponta que estas influências
sempre estiveram presentes no meio educacional: “a política sempre teve interferência
sobre a educação. São várias as formas em que a política interfere: preparação de
professores, currículos, carga horária, salários, etc., naquela época as normas eram
cumpridas conforme queria o Governo.” (VALTER, 2015)
Como vimos anteriormente, a repressão forçava a adesão aos programas que o
governo federal impunha a população neste período em que várias medidas foram
dimensionadas nas esferas sociais, como também na educação, ao ser priorizada como
meio de integração aos interesses da economia industrial.
Sobre sua consideração no tempo em que atuou no Polivalente, ele ressalta que
foi um período em que aprendeu junto aos seus alunos e como antes mencionado,
continua ainda sendo muito querido por vários ex-alunos que o encontram, pois,
segundo ele: “A docência é o maior aprendizado para o ser humano. Nas faculdades
aprendemos as matérias acadêmicas. Na relação com os alunos de diferentes idades,
aprendemos a ser gente cada vez melhor”. (VALTER, 2015)
Mariana10 iniciou seus estudos no Colégio Santa Tereza, no qual concluiu até a
4ª série, indo morar posteriormente na cidade de “São Sebastião do Paraíso”, estudar
interna em um Colégio de Freiras, concluindo neste, parte da 8ª série, quando o
internato fechou, regressando deste modo a Ituiutaba e voltando a estudar no Colégio
Santa Tereza, onde fez o Curso Normal. Após, Mariana foi para Uberlândia fazer
Faculdade de Artes - Curso de Desenho e Artes. Posteriormente retornou a Ituiutaba e
graduou-se em Complementação Pedagógica, Pós-Graduação em Supervisão, Inspeção,

10
A professora Mariana nasceu no ano de 1952 na cidade de Ituiutaba- MG, onde viveu sua infância junto
aos pais e seus 10 irmãos, já que perdeu três quando crianças, totalizando deste modo 14 irmãos, assim
ela relatou que brincava e ajudava a cuidar dos irmãos mais novos. Estudou no Colégio Santa Tereza até a
4ª série, o qual se localizava bem próximo à sua casa, prosseguindo posteriormente seus estudos em outra
localidade. Atuou no Polivalente de 1983 até o ano de 1985 quando saiu e tirou o LIP – Licença para
Tratar de Interesses Particulares - para ir para fora do país. Casou-se e não teve filhos.
49

Gestão Escolar e Orientação. Atuou no Polivalente de 1983 até o ano de 1985. Nasceu
no ano de 1952 na cidade de Ituiutaba- MG, onde viveu sua infância junto aos pais e
seus 10 irmãos, já que perdeu três quando crianças, totalizando deste modo 14 irmãos,
assim ela relatou que brincava e ajudava a cuidar dos irmãos mais novos. Estudou no
Colégio Santa Tereza até a 4ª série, o qual se localizava bem próximo à sua casa,
prosseguindo posteriormente seus estudos em outra localidade.
De acordo com o depoimento da Professora Mariana, ela sempre teve o apoio
dos pais para prosseguir com seus estudos. Começou a atuar profissionalmente em
Uberlândia como professora quando estava fazendo faculdade de Artes com a idade de
20 anos. Após concluir sua graduação retornou à Ituiutaba e começou a lecionar em
escolas estaduais, dentre estas o Polivalente, sendo sua área de atuação Práticas
Industriais.
A professora relatou que o processo de seleção para sua entrada no Polivalente
foi por contrato, tendo como requisito a apresentação da escolaridade, ou seja, do Curso
de Graduação exigido para a área a ser ministrada. Ao se referir sobre sua entrada nesta
escola ela aponta que:

Quando comecei a trabalhar na Escola Polivalente, não encontrei


nenhuma dificuldade, era uma relação muito boa, era um pessoal
amigo, na época, tinha o Valter, o Valter todo extrovertido, nós
éramos parceiros, ele trabalhava com a metade da turma e eu com a
outra metade, ele trabalhava com Práticas Agrícolas... teve outros
professores que eu dividi a turma na Educação para o Lar, eu não me
lembro o nome dos professores, mas o Polivalente era muito assim, o
pessoal era muito amigo, muito legal... (MARIANA, 2015).

Ao falar sobre a relação com a Gestão da escola, a Professora Mariana relatou


que esta era sempre participativa e se interagia bem com os professores e demais da
escola; segundo ela, a sua relação com os colegas de trabalho era legal, ainda tem
contato com alguns deles, bem como sua relação com os funcionários, uma vez que
ainda ao encontrá-los fica feliz porque ficou guardada uma amizade que foi construída
naquela instituição.
Em relação a situação física do Polivalente na época em que atuou como
professora, ela relata que tinha tudo que era necessário no espaço físico, de modo que
ela considera ainda permanecer conservado o espaço dessa escola no atual momento, já
que o mesmo não sofreu grandes modificações.
50

Segundo o depoimento da Professora Mariana, embora ela fosse formada em


Artes e assim trabalhasse na área de Práticas Industriais, havia alguns materiais que
exigiam maiores conhecimentos, como habilidades em algumas máquinas, o que foi
sendo trabalhado e apreendido gradualmente junto aos alunos:

No Polivalente eu lecionei Artes Industriais, embora não tinha a


especialização da Arte Industrial... trabalhávamos com argila...com
argila os alunos trabalhavam com a alma, com a sensibilidade; os
vasos eram feitos na máquina, eram peças criativas e decorativas,
lembro-me que os alunos faziam vasos em forma de orelha, nariz, eles
criavam as peças.., com sisau os alunos faziam suporte para plantas,
trabalhavam com moldura de espelho, lá eles trabalhavam muito com
couro – molhava-se o couro, frisando o trabalho artístico, fazíamos
também carteiras com o couro, bancos...trabalhávamos com
cerâmica, madeira, entalhe, os alunos fizeram vários banquinhos
usando o entalhe, suportes de vasos trançados com sisau... O entalhe
é feito na madeira com formão, os meninos assim gostavam bastante,
e o entalhe para ser feito depende de muita habilidade, muita
paciência, para ele ficar bonito tem que trabalhar muito, aproveitar a
veia da madeira, lixar muito bem lixado para dar um acabamento
bonito... então eles faziam, eles gostavam, faziam quadros...Na minha
aula quem gostava, gostava, quem não gostava, aprontava, mas eu
tinha vários alunos que gostavam muito... (MARIANA, 2015).

Ao falar sobre as influências da aprendizagem dos alunos mediante as técnicas


aprendidas em suas aulas, ela relata ter conhecimento de ex-alunos do Polivalente que
prosseguiram estudos e profissões que estão vinculados ao que vivenciaram nas aulas de
Artes Industriais:

[...] inclusive, eu tive alunos que aprenderam a entalhar, hoje eles tem
a profissão de Dentista, Protético, como um que se formou como
Protético; ele despertou a sua habilidade quando era aluno do
Polivalente, tem outro também, formado em Podologia, no início
mesmo ele fazia entalhe na madeira, hoje ele trabalha a parte de
“cutículas”, então ele tinha aquela habilidade e aflorou a
experiência, dentre outros. (MARIANA, 2015)

Foi possível ter o acesso a alguns objetos pessoais da Professora Mariana, os


quais ela guarda como lembrança, estes foram construídos junto aos alunos do
Polivalente na época em que ela ministrava a disciplina de Artes Industriais, dentre
estes, bancos, suporte para vasos de sisau e suporte para chaves de madeira, como
demonstra as imagens abaixo:
51

Figura 5: Banco com entalhe em madeira.

Fonte: Acervo Pessoal Mariana

Figura 6: Suporte para vaso em sisau

Fonte: Acervo Pessoal Mariana


52

Como pode ser visto, os trabalhos desenvolvidos pelos alunos demonstraram que
a habilidade era algo essencial para a produção artística dos objetos, como a Professora
Mariana relata ao falar que “o entalhe na madeira é a arte manual, na qual a pessoa
desenvolve a habilidade, a paciência e a intuição... a beleza dele é a execução do
trabalho, feito com a alma, é um trabalho longo que exige paciência”. (MARIANA,
2015)
A professora ao se referir sobre a organização do número de alunos sob os
cursos profissionalizantes relata que a sala de aula era dividida ao meio, com um
número aproximado de 20 alunos para cada professor. Segundo ela, as classes eram
sempre muito cheias, quanto ao perfil socioeconômico dos alunos, ela considera que a
maior parte era da classe média; ela coloca que naquela época “os alunos eram mais
comprometidos, mais do que hoje”. (MARIANA, 2015)
Ao fazer uma reflexão sobre sua prática, a professora ressalta que é importante
ter o gosto pela profissão na qual se atua: “Em toda a minha vida eu lecionei Artes, eu
gostei daquilo que eu fazia, sempre gostei de Arte, de fotografar... hoje, recentemente
aposentada, continuo com a minha Arte da Fotografia”. (MARIANA, 2015)
Helton11 estudou em uma Escola Rural concluindo nesta até a 2ª série, após
mudou-se para a cidade de Ituiutaba para estudar no Instituto Marden onde concluiu a 3ª
e 4ª séries. Posteriormente mudou-se com os irmãos para a cidade de Araguari para
estudarem em admissão internos no Colégio “Regina Pacis” (Rainha da Paz), no qual
estudou cinco anos, voltando a Ituiutaba para fazer o Tiro de Guerra e estudar. Em 1960
os pais mudaram para a cidade e passou a morar com eles. Em 1961 começou a
trabalhar no Banco Mineiro da Produção e após passou a trabalhar no Banco de Crédito
Real, quando também estudava a noite fazendo o Curso de Contabilidade no Instituto
Marden. Quando terminou o Curso de Contabilidade em 1970 iniciou a Faculdade de
História na Faculdade do Triângulo Mineiro – FTM e continuou a trabalhar no Banco.
Atuou no Polivalente de 1974 até 1993, quando foi trabalhar na Superintendência de
Ensino e atuou nesta instituição até se aposentar.

11
O Prof. Helton nasceu no ano de 1941 na cidade de Ituiutaba – MG, sendo que a sua família residia na
zona rural. Assim, em sua infância morou na fazenda junto aos pais e aos quatro irmãos - no entanto, ele
perdeu dois, estando no presente momento em um número total de três irmãos. Segundo ele, em sua
infância brincava, fazia serviços que dava conta e estudava em uma Escola Rural que ficava próxima a
sua casa, na qual concluiu até a 2ª série, já que posteriormente ele veio para Ituiutaba estudar no Instituto
Marden, concluindo neste as 3ª e 4ª séries, quando posteriormente mudou-se com os irmãos para estudar
em outra localidade. Casou-se e teve três filhos, os quais tem como formação profissional: Médico,
Advogado e Bióloga.
53

Em seu depoimento, o Professor Helton relatou que sempre teve o apoio da


família para continuar os estudos, pois o pai fazia questão que os filhos estudassem. Ao
falar sobre um professor que deixou marcas em sua vida, ele lembra-se sobre “o
professor da Escola Rural, ele era um espetáculo, sem recurso nenhum ele dava aula
maravilhosamente bem”. (HELTON, 2015)
Ao referir-se sobre sua carreira como docente, o Professor Helton relatou que
começou a lecionar no Colégio São José, onde trabalhou por aproximadamente três
anos. Após, no ano de 1974 começou a trabalhar como Professor na Escola Polivalente,
tendo atuado também nesta como Vice-diretor, exercendo deste modo suas atividades
nesta escola até o ano de 1993.
Segundo ele, quando começou a trabalhar no Polivalente, não encontrou
nenhuma dificuldade, pois já conhecia os professores e o diretor, uma vez que estes
juntos haviam realizado o Curso Superior de Formação de Professores na Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG – Curso de Curta Duração.
Quanto a situação física da escola, ele relatou que naquela época era
espetacular, o prédio e tudo era novo, com toda a estrutura capaz de atender bem os
alunos, contando inclusive com um número de 20 banheiros que ficavam em local
próximo ao espaço das atividades esportivas, os quais eram usados para os alunos
tomarem banho após as aulas de Educação Física, a escola contava também com a
presença de um médico e um psicólogo. Quanto a sua contratação profissional no
Polivalente, segundo ele, ocorreu através de vestibular, mediante a graduação obtida
pelo Curso Superior de Formação de Professores realizado na UFMG, no qual sua área
de formação foi em Práticas Comerciais.
O Professor relatou que havia muita demanda de vagas na escola; sua
consideração quanto o nível socioeconômico dos alunos, é de que esta permeava todas
as classes, sendo comum aos alunos darem continuidade aos estudos e assim mantinham
a permanência na mesma: “Casos de evasão no Polivalente não eram comuns,
reprovação era, mas por falta do aluno estudar, então fazíamos reunião, chamávamos
os pais e conversávamos sobre a situação dos filhos”. (HELTON, 2015)
Neste sentido, em seu depoimento o Professor Helton relatou que a Gestão da
escola procurava sempre participar de modo integrado com todos da escola, e sua
relação com esta e seus colegas de trabalho sempre foi muito boa e de respeito.
Ao falar sobre sua atuação como vice-diretor, ele colocou que sempre procurou
trabalhar com honestidade e clareza mediante as necessidades que surgiam na escola,
54

junto à gestão, alunos, pais e professores, de modo que, diante das ações o diálogo
estava sempre presente: “eu era vice-diretor e cuidava da área disciplinar dos alunos,
na verdade os professores cuidavam da disciplina dos seus alunos, então em último
caso, chamávamos os pais para conversar e para nos ajudar e surtia efeito”.
(HELTON, 2015)
Segundo ele, os cursos técnicos que compunham o ensino integrado, não eram
bem cursos profissionalizantes, mas vocacionais, já que havia diferentes áreas com as
quais os alunos podiam se identificar.
A área de atuação de Helton como professor no Polivalente foi em Práticas
Comerciais; de acordo com seu relato, as aulas eram sempre dinâmicas, os alunos
aprendiam na interação com a prática:

Minha sala de aula era muito gostosa, era divida em três momentos
de atividades práticas: tinha uma “Bomboniere”, de verdade, se
comprava e vendia, e os alunos ganhavam salário com o próprio
dinheiro que era obtido no decorrer das vendas. Tinha o Banco, os
alunos trabalhavam com talão de cheque, tudo como o funcionamento
de um Banco mesmo... e uma Escola de Datilografia. Todo o lucro da
loja era revestido no salário deles, na Bomboniere a gente mudava a
diretoria da loja a cada 15 dias, mudávamos também a diretoria da
loja de Datilografia e do Banco, mudávamos tudo. Quanto a rotina
das aulas, lá no Polivalente os professores não mudavam de sala de
aula, os alunos é que mudavam; os alunos tinham 5 minutos para
mudarem de sala na troca de horários. Os alunos interagiam muito
nas minhas aulas; na minha área os próprios alunos cuidavam da
organização da sala e dos materiais. (HELTON, 2015)

A partir dessas aulas que aconteciam de modo prático e dinâmico, o referido


professor relatou que os alunos se sobressaiam mediante as aprendizagens, como no
caso de três ex-alunos do Polivalente que trabalharam no Banco Financial do qual ele
era gerente, devido aos conhecimentos práticos que eles aprenderam lá. Ele relatou
também que tem o conhecimento de ex-alunos que atualmente são médicos, dentistas,
policiais, dentre outros, de modo que ainda encontra ex-alunos na rua e sempre é
lembrado por eles.
Em seu depoimento, ele relatou que há poucos dias um ex-aluno o abordou
perto de sua residência chamando-o: “professor, professor” e relembrando o tempo em
que foi seu aluno o elogiou pela postura que tinha como professor, postura esta como
mencionou ao professor, que procura ter em suas ações, já que ficou como exemplo em
sua vida. Ao relatar sobre a relação da escola com a comunidade, o Prof. Helton
55

ressaltou que a escola sempre procurava estabelecer uma relação participativa junto a
esta e aos pais dos alunos:

Na escola havia confraternizações e eventos, ela promovia esses


encontros com pais e com os filhos, fazíamos campeonatos. Os
pais participavam, fazíamos torneios com participação, tinha
festa junina com dança de quadrilha, os pais participavam e se
interagiam com a escola. (HELTON, 2015)

Figura 7: Alunos participando de Festa Junina no Polivalente

Fonte: Acervo Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente


56

Danilo12 iniciou seus estudos em regime interno no Instituto Marden, no qual


concluiu o 1º Grau – 1ª a 8ª séries, após fez o 2º Grau na Escola Estadual “Governador
Israel Pinheiro” – o Estadual. Em seu depoimento ele relatou que durante sua trajetória
escolar sempre teve o apoio da família e após ter concluído o 2º Grau, fez dois anos de
cursinho no Colégio Objetivo na cidade de São Paulo.
Ao seu retorno a Ituiutaba, ele fez Faculdade de Filosofia e posteriormente o
Curso de Curta Duração em Belo Horizonte, o qual foi promovido para a Formação de
Professores dos Colégios Polivalentes, na Universidade Federal de Minas Gerais, tendo
sido Ciências a sua área de formação neste curso. Segundo o Professor Danilo, alguns
anos mais tarde, ao ter início o 2º Grau no Polivalente, ele fez também o Curso de
Química em Guaxupé, no Sul de Minas, em Universidade Privada.
Desse modo, o Professor Danilo relatou que começou a exercer sua atividade
profissional trabalhando no comércio da cidade. Ao falar sobre sua carreira docente, ele
relatou que iniciou esta por volta dos 25 anos de idade, ministrando aulas no Instituto
Marden, Escola Israel Pinheiro, Colégio Santa Tereza e SESI.
Neste sentido, o professor afirmou que começou a trabalhar na Escola
Polivalente no ano em que esta começou suas atividades em 1974 e atuou nesta até se
aposentar, não encontrando assim nenhuma dificuldade no ambiente desta escola, já que
as aulas eram bem distribuídas e os professores trabalhavam apenas com 20 alunos na
sala, como relatado: “Eu dava aula de Ciências no laboratório com 20 alunos, eram
dois laboratórios e dois professores de Ciências, cada um ficava com 20 alunos, todas
as aulas práticas da escola eram com 20 alunos”. (DANILO, 2015)
Segundo ele, para o ingresso como professor no Polivalente era necessário antes
fazer concurso, os candidatos aprovados foram fazer o Curso Superior de Curta Duração
na Universidade Federal de Minas Gerais, quanto o processo de seleção para a
contratação na escola, após a graduação do curso, esta seleção era feita por concurso
CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), os aprovados eram admitidos e tinham a
carteira assinada.

12
O Professor Danilo nasceu no ano de 1945 em Ituiutaba, sendo sua família na época residente da área
rural. Tem três irmãos, sendo o mais novo destes. Viveu com seus pais e os irmãos na fazenda até os 10
anos de idade, quando mudou para a cidade de Ituiutaba para estudar. Casou-se e têm três filhas, a mais
velha é formada em Ciências da Computação e Inglês e reside no Canadá, a do meio é formada em Física
e a mais nova é Nutricionista.
57

Referente a essa questão, foi possível através da notícia destacada em jornal


identificar a ênfase sobre a importância trazida quanto aos Cursos destinados a
formação de professores para as Escolas Polivalentes:

Nosso Governador assinou o Decreto nº 12.863, que dará


cumprimento a convênio celebrado entre Minas e a União, o Programa
de Expansão e Melhoria do Ensino Médio, a Universidade Federal de
Minas Gerais e o Centro de Treinamento de Professores para os 90
Ginásios Orientados para o Trabalho – a Serem criados em Minas,
haja vista os grandes benefícios que têm trazido ao País, às nossas
indústrias, as experiências feitas com os aludidos ginásios nos Estados
onde já foram instalado. A admissão de pessoal administrativo,
técnico, docente e auxiliares será feita através do contrato regido pela
CLT, com vigência por prazo indeterminado, exigindo-se dos
interessados títolos de habilitação legal. Estão abertas desde 2º de
Julho p. p. e prolongar-se-á até dia 15 do corrente, o prazo para as
inscrições para o exame de seleção dos candidatos aos Cursos de
Licenciatura de Curta Duração (autorizados pelo Conselho Federal de
Educação através dos pareceres; nsº 912169 e 74/70), em Belo
Horizonte, Uberaba, Uberlândia e outras cidades. (Jornal Cidade de
Ituiutaba, 1971)

Neste sentido, os professores das Escolas Polivalentes como compreendido,


passaram por um Curso de Licenciatura Curta específico de preparação para as áreas de
ensino a serem ministradas nos cursos técnicos integrados ao ensino regular e mediante
a este eram capacitados para atuar nessas escolas sob tais áreas.
Quanto a entrada dos alunos na escola, o Professor Danilo relatou que estes
também passavam pelo processo de exame de seleção, o qual era baseado em conteúdos
de Língua Portuguesa e Matemática, e desse modo era exigida uma pontuação para o
aluno adentrar esta escola, segundo ele, havia muita demanda de vagas na escola, casos
de evasão não aconteciam e a reprovação era muito rara; em sua consideração este fato
se deve em vista das aulas serem atrativas para os alunos, como relatado pelo professor
“as aulas eram muito prazerosas, eram muito práticas, no laboratório, eles gostavam
da aula de Ciências, para trabalharem com o microscópio, eles ficavam loucos por
essas aulas”. (DANILO, 2015)
Segundo ele, as aulas do ensino técnico que compunham o currículo escolar,
eram bem dinâmicas e interativas, os alunos aprendiam nessas aulas por interesse
mesmo, pelo próprio movimento das aulas, como demonstra em seu relato:

Na Educação par o Lar, fomos os primeiros a trabalhar com a soja,


em 1974 estavam começando com o plantio na região, então
ensinava-se nessas aulas a preparação de alimentos com a soja, como
58

bolo, torta, leite de soja, farinha, carne de soja, tudo de soja, e eles
aprendiam a fazer. Na época, os alunos estranharam um pouco os
alimentos de soja, o sabor... mas todos os alunos participavam dessas
aulas de Educação para o Lar e aprendiam muitas técnicas com os
alimentos. Na Prática de Comércio, eles aprendiam a trabalhar com
crédito, com débito, a preencher um talão de cheque... Nas Artes
Industriais eles aprendiam muitas coisas, como trabalhar com
madeira, cerâmica, tinha o forno de cerâmica, tinha até o torno para
o metal.... (DANILO, 2015)

Ao falar sobre a estrutura física da escola, o Professor Danilo destacou que esta
contava com tudo, biblioteca, sala para filmes, laboratórios, quadra, campo de grama,
banheiros com chuveiros, vestiário feminino e masculino. Segundo ele, depois das aulas
de Educação Física os alunos voltavam suados e iam para o banho e lá os alunos é que
mudavam de sala, os professores não.
Quanto a inspeção escolar, ele relatou que havia a presença desta na escola uma
vez por mês, a qual vinha de Uberlândia, já que não havia ainda na cidade uma unidade
da Secretaria do Estado. O Polivalente segundo ele buscava sempre a participação dos
pais e da comunidade “os pais eram bem presentes, fazíamos as reuniões e os pais
sempre iam”. (DANILO, 2015)
Nesse sentido, o Professor Danilo trouxe em seu relato que a escola promovia
muitos eventos, como festas que visavam a integração dessas partes, como mencionado
em seu relato a fanfarra era uma das atividades de mais destaque: “a escola promovia
muitos eventos, um dos principais era a fanfarra, o Polivalente possuía 120
instrumentos de fanfarra, ela ganhou em primeiro lugar em vários concursos que teve
aqui; o professor de Educação Física treinava a fanfarra”. (DANILO, 2015)
Nessa perspectiva, o professor destacou também a relação da escola com os
funcionários, a qual segundo ele era bem interativa “Os funcionários eram muito
amigos, muitas vezes ajudamos funcionários e alunos que passavam por dificuldades,
arrecadávamos dinheiro, alimentos, comprávamos roupas, sapatos, fazíamos
campanhas, a gente ajudava”. (DANILO, 2015)
Ao se referir sobre o contexto político da época, o Professor Danilo relatou que
este interferiu nas políticas educacionais, no entanto não prejudicou o ensino do
Polivalente, já que os professores buscaram ofertar um ensino de qualidade aos seus
alunos, não se limitando a prepará-los para a mão de obra destinado ao mercado de
trabalho, mas visando a preparação dos alunos a darem continuidade dos estudos em um
processo de ensino integrado a formação humana.
59

Dentre o exposto a partir das memórias e vivências trazidas pelos Professores (a)
Valter, Mariana, Helton e Danilo, foi possível vislumbrar parte da história vivida nesta
escola e na vida dos sujeitos que a comporam neste período.
Considerando as lembranças trazidas por estes profissionais a partir dos
momentos experenciados entre o ensino e a aprendizagem, os significados se fazem
presentes em cada prática do passado, os quais demonstram terem sido internalizados e
marcados pela convivência em meio às ações vividas no Polivalente.
Como compreendido, a Escola Polivalente ao dispor de uma boa e organizada
infraestrutura, propiciava o interesse da comunidade quanto ao comprometimento em
assegurar uma formação de qualidade para os filhos, uma vez que, como demonstrado
nos relatos dos professores, não havia um quadro de evasão, de modo que a escola
buscava o vínculo participativo dos pais junto as atividades que eram desenvolvidas na
mesma, como festas comemorativas, torneios esportivos, dentre outros eventos que
podem ser considerados interativos entre a relação escola e família. Os docentes eram
contratados por seleções simplificadas ou por indicação, passaram por qualificações e
tinham boa estrutura para atuarem nessa instituição, dentro dessas condições,
indagamos: que tipo de aluno a escola “modelo” passou a receber em suas
dependências?

4.5.2 Discentes

O conhecimento advindo das vivências entre os atores que estiveram no interior


da instituição torna-se essencial para buscarmos a compreensão das práticas que ali
foram integradas e experenciadas, as quais constituíram parte da construção histórica
desta instituição. Para a presente pesquisa foram entrevistadas seis ex-alunas, as quais
estudaram nesta escola durante o recorte temporário e contextual atingido pela pesquisa.
Dentre as alunas que foram entrevistadas, todas residem neste município; estas
se fizeram integrantes em prol do processo de construção dessa história, bem como das
interpretações que foram sendo constituídas nessa trajetória em busca de significados
vividos na Escola Polivalente.
No arquivo da Escola, durante o período da pesquisa não foi possível verificar
documentos relativos ao livro de matrículas dos alunos que a adentraram no período do
início e suas atividades, porém mediante as entrevistas, buscou-se a relação entre os
60

depoimentos e fontes pesquisadas, como registros jornalísticos, grade curricular,


práticas pedagógicas e fotografias.

Figura 08: Alunas (os) da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente

Fonte: Acervo da Escola Estadual Antônio Souza Martins – Polivalente

Eva13 nasceu em 1965 em Ituiutaba e sempre morou nesta cidade, dos seis
irmãos ela é a terceira. Ela relatou que durante sua infância passou por muitas
dificuldades e precisou trabalhar para ajudar com o sustento da família, assim, tinha
muita vontade de conhecer outros lugares, como uma fazenda, mas devido às
dificuldades financeiras, acabou ficando sempre limitada a esta cidade, a qual segundo
ela, nesta época, era pequena, tinha bastantes árvores, poucas residências:

A gente brincava um pouco, mas saíamos para vender tomate, vender


doce, vender sabão, o que o adulto achava conveniente para vender;
a gente visitava as Vilas, atravessava o córrego e íamos vender. Era

13
A ex-aluna Eva é formada na área de Assistência Social e Pedagogia, como também proprietária de
Salão de Beleza e, atualmente se encontra em curso na Pós-Graduação em Educação. Concluiu da5ª a 8ª
série do 1º Grau na Escola Polivalente, entre os anos de 1979 a 1982, se afastou dos estudos durante
alguns anos e retornou aos mesmos já na idade adulta, depois de casada e com uma filha, a qual está em
formação cursando Medicina.
61

muito bom ser aquela turma grande, mesmo que a gente passava
muita dificuldade... mas a hora de ir brincar era muito boa, a hora de
ir para a escola a gente também ia feliz porque sempre vinha um
conhecimento novo e.... era uma carência de coisas materiais muito
grande, mas naquela época ninguém ligava, não tinha esse
capitalismo que tem hoje. (EVA, 2015)

Ao falar sobre sua trajetória escolar, Eva relata que após concluir a 4ª série do 1º
Grau, iniciou a 5ª série na Escola Polivalente no ano de 1979 no período vespertino,
onde concluiu até a 8ª série, não possuindo nenhuma reprovação durante este período;
mesmo antes de iniciar os estudos ela colocou que pensava em como seria estudar no
Polivalente: “eu via contar maravilhas, a minha irmã mais velha já tinha estudado lá,
eu fui com muitas expectativas” (EVA, 2015). Ela relatou que nesta época trabalhava
fora para uma tia no período da manhã, e logo que terminava os afazeres se dirigia para
a escola.
Referente às práticas pedagógicas, Eva relata que foi muito boa a experiência do
estudo nesta escola junto às disciplinas que compunham o ensino profissional, já que as
aulas eram sempre dinâmicas. Dentre os depoimentos referentes às disciplinas estudadas
na Escola Polivalente Eva (2015) relata:

Tinha as aulas de Práticas Agrícolas, que ora a gente estudava a


parte teórica e depois a gente descia lá para a horta, a gente plantava
hortaliça; tinha o Professor Valter que lecionava essa disciplina,
Práticas Agrícolas... a gente media os canteiros, preparava a terra,
semeava sementes, aguava todo dia e quando começavam a nascer as
hortaliças era uma beleza só... a gente podia até levar um pouco para
casa, e isso era bom porque para mim que tinha os irmãos, chegava
em casa com verduras, fazíamos a comida e ficava muito bom...
nessas aulas não ficávamos só sentados, só na teoria, escrevendo
como nas outras disciplinas...Tinha também uma disciplina muito boa
que era a Práticas Comerciais, a gente simulava compras e vendas, e
isso era tudo anotado, era muito bom. Para mim era mais dificultoso
porque eu tinha dificuldade com os números, em fazer contas, mas eu
via que quem saia bem, achava o máximo essas aulas...Tínhamos
também outra disciplina chamada Educação Moral e Cívica, que nos
ensinava mais o preparo para o civismo, era o amor a Pátria, era o
respeito à Escola, para com as pessoas, a reverência ao Hino
Nacional, o astiamento a Bandeira, então na aula de Educação Moral
e Cívica a professora sempre lia e a gente sabia muitas coisas que
não podíamos fazer, porque foram ensinadas nessas aulas... (EVA,
2015)
62

Figura 09: Alunos na aula de Práticas Agrícolas.

Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente

Nessa perspectiva, a aluna destaca algumas das disciplinas estudadas e que


ficaram marcadas em sua vida; no entanto ela revela com a qual mais se identificou ao
estudar nesta Escola:

Tínhamos também uma hora boa, que era a hora que eu mais
gostava...era a hora da aula de Educação Física, tinha muitas
duchas para a gente tomar banho, cada um chegava da Educação
Física suado, tinha corrida, tinha voleibol, handebol... a gente jogava,
na corrida eu era boa, conseguia medalhas porque eu chegava na
frente, esforçava, esforçava muito... porque durante a minha infância
eu brinquei muito, corri muito, pulei muito, subi em muitas
árvores...então correr para mim não era dificuldade, então eu corria,
corria muito e as medalhas vinham para mim... era boa também no
handebol... (EVA, 2015)
63

De acordo com o relato acima, pode-se observar que o esporte ocupava um


espaço central na vida da ex-aluna, já que ela expõe sua espontaneidade sobre as
práticas positivas vivenciadas nessa área.

Figura 10: Alunos na Pista de Atletismo.

Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins”- Polivalente

A aluna Eva (2015), ao concluir seu relato e concepção sobre o período de sua
formação nessa instituição:

O ensino do Polivalente, na verdade tinha suas regras. Mas acredito


que foi o que me deu base teórica e social para o meu retorno aos
estudos já depois de alguns anos afastada da escola, pois logo que
terminei a 8ª série parei de estudar... Mas hoje vejo que uma das
coisas mais importantes é a continuidade dos estudos, de modo que
busco sempre continuar aprendendo no processo formativo pessoal,
profissional e humano. Foi boa a interação, eu conheci muita gente,
eu aprendia... valeu a experiência, a interação com as pessoas
mesmo, e aquele objetivo de estar lá concluindo a 5ª, 6ª, 7ª e a 8ª,
estar sempre indo para a escola e não ficar na ociosidade, não ficar
na rua, não ficar em casa vendo o tempo passar, então eu fui à
luta...não foi em vão aquele ensino, contribuiu para o processo de
minha formação, enquanto sujeito sobre o que eu aprendi lá; as
coisas mudaram muito, mas ainda está valendo os valores. (EVA,
2015).
64

Luíza14 nasceu no ano de 1968 em Ituiutaba e relata que sempre residiu nesta
cidade, sendo a 2ª filha dos cinco irmãos, dois (2) homens e três (3) mulheres, assim ela
coloca que teve uma infância feliz, na qual brincava e ajudava sua mãe com os afazeres
domésticos, não tendo trabalhado fora neste período.
A ex-aluna relata que iniciou seus estudos no Polivalente no ano de 1979,
concluindo neste da 5ª a 8ª série, não sendo reprovada no decorrer deste período.
Deste modo, ela relembra que vivenciou grandes momentos ao estudar nesta
escola, uma vez que todas as atividades, tanto as teóricas quanto as práticas advindas da
integração do ensino regular e técnico profissionalizante, eram em sua consideração
devidamente bem planejadas; segundo seu relato os professores se mostravam
empenhados e acompanhavam a aprendizagem dos alunos, sendo este um dos maiores
motivos para que ela se lembre com carinho dessa escola, como traz ao relembrar sobre
um dos professores que deixou marcas em sua vida como estudante:

Na verdade a gente, eu mesma, gostava de todos, mas um que marcou,


acho que para a maioria dos alunos, foi o professor Valter, que na
época era professor de Práticas Agrícolas... Porque ele era uma
pessoa muito amiga, muito alegre, ele conversava assim com a gente,
não parecia ser um professor, parecia ser um amigo mesmo, um
colega de sala, não tratava a gente com indiferença... (LUÍZA, 2015)

Ao falar sobre as aulas que integravam o ensino profissionalizante, Luiza (2015)


relata que não se esquece do tempo em que estudou participando dessas aulas, já que
elas faziam com que o ensino se tornasse mais dinâmico, pois haviam várias práticas
diferenciadas e isso tornava a escola mais interessante. Segundo ela todas as aulas que
compunham esta área integrada eram ministradas de modo interativo:

Havia salas específicas, cada uma para sua matéria, a de Práticas


Comerciais por exemplo, nas aulas simulávamos compras e vendas de
produtos, havia o caixa, a gente abria o caixa, anotava as vendas e no
final a gente fechava o caixa... então nas aulas de Práticas Agrícolas
a gente plantava, a gente colhia alimentos, legumes que a gente
plantava, e nas Práticas Industriais a gente fazia trabalhos manuais,
trabalhávamos muito com madeira, pintávamos quadros, era tudo na
sala específica. Na aula de Práticas Agrícolas a gente descia para
onde havia os canteiros. Eu gostava muito dessas aulas. (LUÍZA,
2015)

14
A ex-aluna Luíza iniciou seus estudos no ano de 1979 na 5ª série do 1º Grau no Polivalente, concluindo
nesta a 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries, e após alguns anos o 2º Grau, profissionalmente atua na área comercial do
município como proprietária de uma “Boutique”. É casada e têm três filhos, dois estão cursando
Faculdade de Direito e a filha está se preparando para adentrar a faculdade.
65

Ao relatar sobre sua concepção do ensino na Escola Polivalente na época em


estudou nesta, Luíza (2015), ressalta que a aprendizagem aconteceu de modo integrado
em sua vida, pois considera que tanto o ensino regular com as disciplinas comuns
quanto as integradas ao ensino profissionalizante contribuíram para o seu processo
formativo:

O ensino foi muito bom, foi muito válido porque na época nenhuma
outra escola oferecia todos esses cursos profissionalizantes, então
assim foi um diferencial que a escola ofereceu para os alunos, foi
muito gratificante porque foram vários cursos e em todos a gente
aprendeu um pouco, saindo dali tendo concluindo o 1º Grau com um
diferencial a mais do das outras escolas. O ensino profissionalizante
junto ao ensino regular deveria ter permanecido nesta escola, porque
como eu já comentei, apesar de sido em pouco tempo, mas assim,
trouxe noções básicas para o aluno, de Práticas Comerciais,
Industriais, de tudo um pouco, então, preparava o aluno também para
o mercado de trabalho, era muito importante se tivesse continuado,
ainda mais hoje em dia em que o mercado de trabalho anda muito
exigente e competitivo. Com certeza acredito que o Polivalente
buscou oferecer um ensino de qualidade no período em que estudei lá,
como os cursos profissionalizantes as outras matérias em si foram
também de um alto conteúdo, a gente saiu dali bem preparado
mesmo, os professores eram assim, bem preparados para cada
matéria e saímos de lá, assim bem preparados mesmo... o estudo na
verdade é a alavanca para o futuro de qualquer pessoa, se a pessoa
não tiver o estudo muito dificilmente irá conseguir uma boa profissão,
então quanto mais estudar maior vai ser a chance do futuro
profissional. (LUÍZA, 2015)

Rosemary15 nasceu no ano de 1972 na cidade de Ituiutaba e sempre residiu


nesta, em sua infância morava junto com seus pais e irmãos, dos cinco (5) irmãos é a
quarta filha. Ela relata que em sua infância brincava, ajudava a mãe com os afazeres e a
cuidar da sua irmã mais nova, não precisando ter trabalhando fora durante esse período
de sua infância. Ao falar sobre sua vida escolar, ela relatou que iniciou os estudos no
Polivalente no ano de 1984, na 5ª série, concluindo até a 7ª no mesmo, e durante este
período não teve nenhuma reprovação.
Em seu depoimento, Rosimary (2015) relatou que guarda lembranças profundas
do tempo em que esteve em formação nesta escola, como das aulas, dos colegas,

15
A ex-aluna Rosemary tem sua formação como Pedagoga atuando como professora e funcionária
federal. Iniciou seus estudos no Polivalente no ano de 1984, concluindo neste a 5ª, 6ª, 7ª e parte da 8ª
série, quando transferiu-se para outra escola, concluindo alguns anos após o Ensino Médio no Polivalente.
Tem apenas uma filha, a qual atua profissionalmente como Fotografa.
66

professores e equipe gestora. Segundo ela, nesta escola não encontrou dificuldades
quanto a interação como também de aprendizagens.
Ao falar sobre as aulas que integravam o ensino profissionalizante e prática dos
professores:

Eu me lembro que dividia-se a sala com a metade dos alunos;


fazíamos um semestre de Práticas Agrícolas e o outro semestre do
ano fazíamos as Práticas Comercias, Industriais...Eu me lembro que
nas aulas de Práticas Industriais, a gente aprendia a fazer trabalho
com sisau, com madeira, a gente fazia quadros, escrevia os nomes,
fazia algum desenho, suporte para vasos com sisau, e nas de Práticas
Agrícolas a gente aprendia a plantar a horta, como cuidar da horta,
dentre algumas outras lembranças. A turma era bem participativa,
não só na minha sala, mas eu me lembro que a escola toda gostava
muito dessas aulas. Os professores todos que eu me lembro eram
dedicados, professores que respeitavam os alunos e tinham uma boa
convivência com eles; tanto que quando eu precisei sair em 1989 do
Polivalente e fui para outra escola concluir a 8ª série, eu achei bem
diferente...os professores da outra escola não tinham uma
aproximação com os alunos, tanto os professores como a direção e os
funcionários; eu percebi uma diferença muito grande, então assim, eu
acredito e considero que a escola procurava sim proporcionar um
ensino, um ambiente agradável. (ROSEMARY, 2015)

A ex-aluna a partir do relato acima demonstra ter experenciado uma nova


adaptação ao adentrar a outra escola, de modo que foi possível perceber as marcas
positivas do convívio estabelecido nesta escola mediante a outra na qual ela adentrou.
Uma das questões importantes apontadas pela ex-aluna Rosemary em seu relato se
refere à relação professor e aluno; ela lembra-se de uma vivência que considera ter
contribuído para sua formação humana no que se refere a prática de um dos seus
professores:

[...] Houve... o professor de Português, ele incentivava muito a


leitura, ele reservava, não me lembro, mas por exemplo, 5 (cinco)
pontos em cada bimestre para a leitura e então assim, o meu gosto
pela leitura eu acredito ao incentivo dele; e ele pedia para os alunos
lerem lá na frente e ia lá para o fundo da sala de aula e conforme o
aluno ia lendo lá, ele ia fazendo as suas intervenções, ele falava
“olha, aí tem uma pausa”... e com o aluno que tinha mais dificuldade,
ele pegava aquele texto que o aluno estava lendo, ia lá e se
posicionava no lugar dos mesmos, lia, explicava e voltava para o
fundo da sala. Então assim, esse professor é o Nilson, foi professor de
Português e Inglês, foi também vice-diretor nesta escola, ele tem um
papel muito marcante na minha vida, tem outros professores também,
mas esse é o que mais marcou. Eu tenho certeza que foi um ensino de
qualidade, um ensino que proporcionou muitos conhecimentos...
conhecimentos que eu trago até hoje e que foram essenciais para a
67

minha formação pessoal, para minha formação profissional, para


minha formação social. (ROSEMARY, 2015)

Vanusa16 nasceu no ano de 1964 na cidade de Ituiutaba – MG; em sua infância


morou nesta cidade junto com os pais e os irmãos, sendo a segunda dos sete (7) irmãos.
Em seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila e feliz, cheia de
brincadeiras, segundo ela, os pais tiveram que trabalhar arduamente para criar os filhos,
mas sempre procuraram oferecer o melhor a eles, sendo muito amados pelos mesmos e
não trabalharam antes da idade adulta.
Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, a ex-aluna Vanusa relata que começou a
estudar na Escola Polivalente no ano de 1976 na 5ª série, concluindo nesta até a 8ª, o
que de acordo com ela, era o que a escola oferecia, não possuindo nenhuma reprovação
neste período. Ao se referir sobre o ensino que o Polivalente ofertava, bem como das
disciplinas que compunham o currículo, o qual abrangia o ensino regular integrado ao
profissionalizante, Vanusa bem destaca a forma como estas eram organizadas mediante
as práticas ali vivenciadas por ela no período em que lá estudou:

O diferencial da escola era a oferta em concomitância com o ensino


regular, disciplinas de caráter profissionalizante. Não era
propriamente um curso independente, mas disciplinas que integravam
o currículo escolar. Essas disciplinas eram: Educação para o lar,
Técnicas Comerciais, Técnicas Industriais e Técnicas Agrícolas. As
matérias do ensino regular eram: Português, Matemática, História,
Geografia, Ciências, que dispunha de um magnífico laboratório todo
equipado e até as mesas eram diferenciadas das demais disciplinas,
pois a sala era específica. Educação Física, Educação Artística,
Inglês, Francês, Moral e Cívica OSPB - Organização Social e
Política do Brasil. Essas duas últimas substituíram as disciplinas de
filosofia e sociologia consideradas de caráter comunista e
reacionárias pelo governo militar, claro que entendi isso depois de
adulta.... As salas de aula eram todas específicas, por conta da
diversidade de cada disciplina, não somente para as disciplinas
profissionalizantes, mas as do currículo regular também. Sendo
assim os alunos que mudavam de sala a cada troca de horário, não os
professores. (VANUSA, 2015).

Vanusa (2015), ao mencionar sobre sua consideração sobre as práticas docentes,


aponta que a escola primava pela disciplina, pelo dever de cumprir, da moral e do
civismo, características que segundo ela eram próprias do período do regime militar em
que estavam vivendo no país.
16
A ex-aluna Vanusa é Doutora em Educação e professora na Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Campus do Pontal.
68

Quanto a marcas deixadas pelos professores, a ex-aluna relata que “todos de


alguma foram muito marcantes, o ensino era muito intenso, os professores eram
extremamente dedicados, não sei se era a visão de criança adolescente, mas consegui
sentir que o ensino era ministrado com muita paixão” (VANUSA, 2015). Ela ressalta
que perdeu o contato com a maioria dos que foram seus colegas, no entanto ainda tem
contatos com alguns e o conhecimento dos que hoje atuam como médicos, vereadores,
motoristas de ônibus, e uma colega mais íntima que atua na área educacional, dentre
outros.
De acordo com Vanusa (2015), as aulas práticas eram muito estimulantes, uma
vez que as diferentes áreas possibilitavam dinâmicas interessantes no processo de
aprendizagem:
Era tudo de bom... Plantávamos, colhíamos, pintávamos quadros,
cozinhamos, costurávamos, comprávamos, vendíamos,
participávamos de olimpíadas, gincanas e feiras de ciências; fazíamos
exposição de artes, organizávamos recitais de poesias, entre outros. O
cunho político do ensino tecnicista e militar que caracterizava o
momento não era sentido no interior da escola, sobretudo na visão
dos alunos. Pelo contrário, era o ensino visto como de excelente
qualidade, que oferecia um currículo rico e diversificado, que nos
dias de hoje se oferecido, garantiria uma formação bem menos
enfadonha, reprodutivista desestimulante como testemunhamos.
(VANUSA, 2015)

Neste sentido, a ex-aluna relata que não considera que o ensino integrado ao
profissionalizante ofertado no Polivalente tenha tido o caráter restrito a preparação dos
alunos para o trabalho, como propunha a política da época, podendo ser identificada sua
posição quanto a isso através de seu depoimento:

Não considero que a escola tenha oferecido um ensino técnico


profissionalizante, embora esse fosse o objetivo não declarado por
conta do momento político que estávamos vivendo. Digo que não era
profissionalizante porque não havia certificação específica para esse
fim. Concluímos na oitava série o primeiro grau sem especificações
de caráter profissional. A formação que recebemos não se restringia
apenas a instrução conteudistas, característica das demais escolas
públicas, embora ela existisse. Além do conteúdo eram trabalhadas
formas diferentes e ensino que para mim foi significativa a
aprendizagem. (VANUSA, 2015)

Uma das disciplinas mais lembradas por Vanusa se refere a Educação Física, a
qual segundo ela tinha um diferencial que a destacava das demais escolas do município:
69

[...] foi uma das experiências que mais marcou minha trajetória na
escola. A disciplina era uma verdadeira arena olímpica, pois nos era
oferecida as mais variadas modalidades de educação físicas, entre
jogos coletivos, vôlei, handball, basquete, ginástica, apoio, flexões,
polichinelos, alongamentos etc, ... corridas, pois tinha uma pista
específica para esse fim, livre, de revezamento, com barreira..., salto
à distância, com barra... Futebol de quadra e de campo... tinha muita
coisa nem sei precisar, mas era literalmente uma educação física das
mais variadas, que não via em nenhuma outra escola. Éramos de fato
modelo nesse aspecto. (VANUSA, 2015)

Figura 11: Alunos nas atividades de Educação Física

Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins” - Polivalente

É possível a partir das imagens identificar algumas das diversas atividades


desenvolvidas nas aulas de Educação Física, como jogos na quadra, saltos a distância e
a altura, corrida, dentre algumas que foram anteriormente citadas pela a ex-aluna
Vanusa.
Segundo esta aluna, as avaliações eram realizadas sem muita distinção do que
temos atualmente, já que faziam provas de caráter somativa, mensais e bimestrais, como
também trabalhavam em grupo, faziam cópias de conteúdos dos livros, “mas também
fazíamos trabalhos interessantes como dramatizações de livros de literatura, maquetes,
70

avaliações práticas de ciências no belíssimo laboratório, entre outros”. (VANUSA,


2015)
Ao concluir sobre sua experiência e vivência formativa no Polivalente, Vanusa
relatou sua consideração quanto a qualidade do ensino que a escola buscou oferecer no
período de seus estudos:

No contexto do período e considerando a realidade das demais


escolas públicas, o Polivalente ofereceu sim uma educação
polivalente e de qualidade... foi uma escola de proeminência na
sociedade ituiutabana, principalmente por oferecer um ensino de boa
qualidade e de acesso a população de baixa renda. (VANUSA, 2015)

Roberta17 nasceu no ano de 1966 na cidade de Ituiutaba- MG, residindo nesta


junto com seus pais e seus quatro irmãos, sendo a quarta dos cinco filhos da família. Em
seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila, na qual tinha o carinho dos
pais, brincava e era muito feliz, não precisou trabalhar durante esta fase de sua vida.
Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, Roberta (2015) relatou que começou a
estudar no Polivalente em 1978 na 5ª série, concluindo neste até a 8ª série, não tendo
nenhuma reprovação durante este período. A ex-aluna diz lembrar-se bem dos cursos
profissionalizantes que eram integradas ao ensino regular, sendo estes: Educação para o
Lar, Práticas Agrícolas, Técnicas Comerciais e Técnicas Industriais, segundo ela, as
habilidades que os alunos adquiriam através dos conteúdos da base comum e
diversificadas davam o suporte para os cursos profissionalizantes, para os quais haviam
salas específicas e muito bem equipadas.
Desse modo, Roberta (2015), diante da sua consideração sobre esta escola e
professores que deixaram marcas em sua vida, pode ser observada a referência afetiva
presente na relação entre professor e aluno, constituída neste processo:

Foi a melhor escola que estudei... havia um professor, o Valter, de


Práticas Agrícolas, que era muito amigo da turma, muito alegre, ele
chamava todos pelo nome, e se lembrava de todos os alunos, quando
mesmo nem éramos mais seus alunos... até hoje, somos amigos.
(ROBERTA, 2015)

17
A ex-aluna Roberta é formada em Ciências Biológicas, com especialização em Gestão e Auditoria
Ambiental e mestranda em Microbiologia Agropecuária. Atua como professora da Educação Básica da
rede municipal e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG. É casada e teve três
filhos, no entanto perdeu uma filha; estando o filho mais velho cursando Medicina e o mais novo
cursando o 9º ano do ensino fundamental.
71

Esta ex-aluna relatou que a relação com os colegas no Polivalente era boa, já que
“era uma escola muito especial, o relacionamento era muito bacana, lá não havia
naquela época problemas de indisciplina” (Roberta, 2015). Ela diz ter ainda contatos
com alguns ex-colegas.
Ao falar sobre a disciplina da qual mais gostava, ela relatou que era Ciências, já
que segundo ela, sempre lhe chamou a atenção estudar os fatos que estão relacionados
conosco e com o meio que nos cerca.
A ex-aluna em seu depoimento relatou que as aulas de Educação Física eram
sempre interativas, os alunos participavam nos campeonatos e competições, como traz
ao lembrar-se dessas aulas:

Eram aulas que treinavam para o esporte de competição, havia uma


caixa de areia para o salto à distância, uma pista de corrida, e
também, as aulas para o esporte em equipe, basquete, vôlei, futebol,
... as aulas eram muito dinâmicas e diversificadas, na época, havia
muitos banheiros femininos e masculinos, para que após as aulas de
educação física, pudéssemos tomar banho... eu participava com
moderação das aulas, nunca tive muito habilidade para os esportes...
(ROBERTA, 2015)

De acordo com Roberta (2015), as avaliações no Polivalente aconteciam por


meio de provas, trabalhos em grupos e individuais, segundo a ex-aluna, os professores
eram todos muito bem capacitados naquela época, inclusive muitos deles foram vindos
de outras cidades para ministrarem aula nesta escola. Ao se referir sobre sua
consideração sobre o ensino integrado ao técnico profissionalizante ofertado nesta
escola ela relatou que este era:

Excelente, éramos loucos por fazer as disciplinas de ensino técnico


profissionalizante... eu acho que para aquela época era um formato
que prometia um avanço na educação para as pessoas da rede
pública. Foi um pena o projeto das Escolas Polivalente ter acabado...
(ROBERTA, 2015)

Diante das suas considerações sobre a qualidade do ensino que a escola buscou
propiciar nesta época, a ex-aluna ressalta que “foi um ensino de qualidade, fui muito
feliz nesta escola, na época em que estudei lá, era tudo muito prazeroso”. (ROBERTA,
2015)
72

Elisa18 nasceu no ano de 1968 na cidade de Ituiutaba - MG, onde morou junto
aos seus pais, irmãos e o seu avô paterno, sendo a quarta filha dos cinco (5) irmãos. Em
seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila, na qual brincava e estudava,
não tendo trabalhado fora, mas apenas ajudava a mãe com os afazeres domésticos.
A ex-aluna Elisa iniciou seus estudos na Escola Polivalente em 1979 na 5ª série
concluindo nesta até a 8ª, tendo sido reprovada na 5ª série. Ao falar sobre o período de
sua formação e ao ensino integrado aos cursos profissionalizantes que a escola oferecia
Elisa (2015), relatou que nesta época, estudou junto às disciplinas do ensino regular
também as áreas de Práticas Comerciais, Educação para o Lar, Práticas Industriais e
Práticas Agrícolas, para as quais havia salas específicas:

Nas aulas de Práticas Comerciais a gente aprendia a trabalhar com


cheque, com troco, comprando e vendendo... em Educação para o Lar
fazíamos pratos de comidas, em Práticas Agrícolas plantávamos
verduras, nas Artes Industriais a gente trabalhava com entalhe na
madeira, com argila, com suporte para vasos feitos com cordas...
(ELISA, 2015)

Sobre as suas considerações sobre as práticas dos professores, Elisa (2015)


relatou que estes cobravam retorno dos alunos quanto aos conteúdos, eram mais
exigentes do que hoje, o que ela acredita se referir ao regime da reprovação que tinha na
escola.
A relação com os colegas, segundo ela era boa; ainda possui contatos com várias
colegas que estudaram no Polivalente, inclusive uma delas é sua colega de trabalho
atualmente. A matéria da qual mais gostava de estudar era Matemática, já que sempre
foi a sua matéria preferida, quanto as avaliações que eram realizadas pelos professores
no Polivalente Elisa (2015), diz ter sido trabalhos em grupos, no entanto eram mais
provas individuais.
Ao se lembrar sobre as aulas de Educação Física, Elisa (2015) relatou que
gostava de praticar salto a distância e handebol, segundo ela, os alunos que se negavam
a fazer as atividades eram orientados a catar folhas dos jardins, assim ela diz que essas
aulas eram boas, e logo após o término os alunos tinham que tomar banho.

18
A ex-aluna Elisa é formada em Matemática e atua como professora na rede estadual do município e
como professora de Música em cidade próxima ao município.
73

Elisa (2015) ao se referir sobre sua concepção do ensino ofertado no Polivalente


na época em que lá estudou, mediante aos cursos profissionalizantes que estavam
integrados ao ensino regular, traz em seu relato que:

Naquela época o ensino ajudou bastante, até o final do estudo...


ajudou muito no desenvolvimento das profissões, acho que este ensino
deveria ter permanecido, pois os alunos poderiam hoje ficar mais
atualizados com a aprendizagem, hoje muitos não sabem fazer um
troco, hoje poucos dão conta de preencher um cheque. (ELISA, 2015)

A ex-aluna conclui que em sua opinião o Polivalente naquela época procurou


oferecer um ensino de qualidade, segundo ela “devido a essas práticas de ensino que
tiveram no Polivalente, a maioria queria estudar lá, considero que foi uma escola
importante na minha vida”. (ELISA, 2015)

4.5.3 Funcionários

Considerando que escola se constitui como espaço educativo mediante aos


conhecimentos que são produzidos em meio as relações sociais que se estabelecem entre
os sujeitos, buscamos enfatizar a importância da participação dos funcionários que junto
a comunidade escolar constituem o processo organizacional educativo deste espaço.

Essa organização dentro das escolas, que muitas vezes sequer é


percebida, nos leva a refletir sobre o papel dos funcionários não-
docentes no processo educativo, para desfazer o fetiche que a envolve,
para compreender o trabalho de cada um e em seu conjunto, não
apenas para valorizá-lo adequadamente – o que é absolutamente
necessário –, mas, também, para aperfeiçoá-lo em benefício da
qualidade do ensino. Ao refletirmos, percebemos a inter-relação entre
o trabalho do professor na sala de aula e a importância do trabalho da
secretária da escola, da merendeira, do inspetor de alunos, dos
trabalhadores dos serviços de apoio. Há saberes e vivências que
contribuem para o resultado final da escola que precisam ser
sistematizados para serem incorporados de forma intencional e
integrada ao projeto. (NORONHA, 2009, p. 363)

Dessa forma, compreendendo os funcionários como parte constitutiva do


processo da educação escolar, contamos nesta pesquisa, com a participação de uma ex-
funcionária da Escola Polivalente, a qual nos concedeu uma entrevista.
74

Carla19 nasceu no ano de 1950 na cidade de Canápolis – MG; após a família


mudou-se para Centralina, cidade onde morou com seus pais e os sete irmãos, sendo a
mais velha dos oito filhos, assim ela relatou que teve uma infância boa e feliz, brincava
com os irmãos e primos e não precisou trabalhar, apenas ajudava em casa com as tarefas
domésticas.
A senhora Carla relatou que ao iniciar sua atividade profissional na Escola
Polivalente a sua adaptação foi tranquila porque era um ambiente muito bom, de acordo
com ela o desenvolvimento do seu trabalho era dinâmico “a gente chegava, varria,
fazia a organização das salas, ajudava na cantina, na área externa, ajudei também na
secretaria, rodando provas”. (CARLA, 2015)
Desse modo, a senhora Carla em seu depoimento relatou que a escola na época
promovia interações com a comunidade “era muito bom, lá tinha o Dia do Convívio,
com a participação dos pais, alunos e professores, nesse dia tinha almoço, recreação,
lanche”. (CARLA, 2015)
Ao se referir sobre sua consideração referente a vivência junto a todos que
faziam parte do Polivalente e as relações que lá foram constituídas, a senhora Carla
relatou que:
Sempre tive uma boa convivência com todos, não havia indiferença
entre diretor, professores, funcionários e alunos, parecia uma
família... também havia as regras na escola, e as advertências de
acordo com o Regimento Interno para todos. Foi uma escola muito
importante para mim, eu cresci. (CARLA, 2015)

A ex-funcionária, por meio de seu relato demonstra que ao exercer suas funções
na Escola Polivalente, constituiu também uma parte da sua história de vida, na qual
aprendeu junto aos alunos, professores, equipe gestora, colegas de trabalho e
comunidade.

Todos os espaços da escola são também espaços educativos e o


processo de aprendizagem também se complementa fora da sala de
aula, onde o professor desenvolve um papel único e insubstituível. É
preciso reconhecer que a educação é um processo coletivo, e que nos
demais ambientes escolares ocorrem contínuos momentos de interação
entre os profissionais não-docentes e os estudantes, sendo que aqueles
contribuem de forma peculiar e diferenciada para o processo ensino-

19
A ex-funcionária Carla estudou em duas escolas em Centralina, uma de Ensino Primário e a outra
Ginasial. Tem formação no Ensino Médio. Começou a trabalhar na Escola Polivalente no ano de 1980,
onde exerceu a função por 27 anos até se aposentar. É casada e têm quatro (4) filhas, a mais velha é
formada em Letras e duas estão estudando.
75

aprendizagem e para a formação integral dos alunos. (NORONHA,


2009, p. 365)

4.5.4 Diretor

Sandro20 é natural de Ituiutaba, em relação ao seu percurso acadêmico, em seu


depoimento ele relatou que nesta cidade estudou nas Escolas João Pinheiro, Professor
Ildefonso Mascarenhas da Silva e Colégio São José; aos 12 anos foi para Rio Claro e
posteriormente à Ribeirão Preto estudar em Seminário, onde concluiu o 2º Grau.
Segundo ele, após o ano de 1969 ele dedicou sua formação à Educação, ao magistério.
Assim, após fez o Curso Superior de Filosofia e Teologia em Campinas- São
Paulo, no Instituto Filosófico e Teológico, indo posteriormente fazer Pós- Graduação na
Universidade de São Paulo- USP. Depois de concluir a Pós-Graduação, o ex-diretor fez
especialização em Goiânia, o Curso de Administração Escolar- PREMEM em Belo
Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais e Mestrado em Filosofia da
Educação em Campinas.
O ex-diretor Sandro, em seu depoimento, relatou que em sua carreira docente
lecionou em Goiânia, as disciplinas de Filosofia e Psicologia em 2º Grau, no entanto sua
ambição educacional sempre foi a de gerir uma escola técnica, até que foi convidado a
criar uma Escola Normal em Magistério em uma cidade do interior, através da qual ele
considera que o fez gostar e se identificar com a área da gestão:

[...] me aventurei e me apaixonei pela gestão administrativa escolar;


porque o que eu encontrei; um pessoal que não tinha visão nenhuma,
com uns costumes muito elementares de educação e mesmo de
família, [...] fiquei surpreso, mas falei aqui é o meu lugar, vou dar um
salto nisso. (SANDRO, 2015)

Neste sentido, o ex-diretor relatou que esta foi sua primeira experiência como
gestor na área educacional, na qual ele atuou até quando prestou concurso para o
Polivalente, no qual passou e posteriormente foi realizar o Curso de Administração
Escolar em Belo Horizonte, como aponta em seu depoimento:

20
O ex-diretor Sandro nasceu no ano de 1942 em Ituiutaba-MG. Viveu junto a sua mãe e os três irmãos,
já que seu pai veio a falecer quando ele tinha dois anos de idade. Segundo ele, na sua infância nem tanto
brincava, mas trabalhava com seus irmãos ajudando sua mãe em casa com plantações de hortaliças. Aos
doze anos foi para outra localidade estudar. Casou-se e tem 6 filhos, dentre os quais possuem as seguintes
formações no momento: Agrônomo, Decoradora, Pedagoga, Contabilista. Atuou no Polivalente de 1974
até se aposentar no ano de 1988.
76

[...] o processo seletivo foi o seguinte, uma seleção onde tinha mais de
400 pessoas concorrendo a 76 vagas, que eram para as novas escolas
que iam abrir, então eu consegui, daí tivemos que fazer o curso
específico para as escolas Polivalentes na Universidade Federal de
Belo Horizonte, fiz o curso de Administração Escolar. (SANDRO,
2015)

Como relatado pelo ex-diretor Sandro, a escola iniciou suas atividades com o
regime semestral no 2º semestre, em Setembro de 1974, o que veio a ser uma tremenda
surpresa, já que, segundo ele, foi um drama em relação a conseguir alunos e, o que
propuseram foi procurar e oferecer vagas para os alunos evadidos das escolas existentes,
bem como para quem não havia ainda se matriculado “então nós fizemos uma proposta
para 400 alunos e tivemos um atendimento para mais de 700 alunos, passavam pelo
exame de seleção, especificamente matemática e português”. (SANDRO, 2015)
Referente ao exposto pelo ex-diretor Sandro, foi notícia em destaque do jornal
da cidade o anúncio sobre as vagas disponibilizadas na escola, como demonstra a
imagem abaixo:

Figura 12: Notícia sobre as vagas para inscrições no Polivalente

Fonte: Acervo Cultural do Município.


77

Nesta perspectiva, o ex-diretor Sandro, colocou que ao início a escola recebeu


muitos alunos que não haviam conseguido acesso as principais escolas de Ituiutaba,
dando-se atendimento a um grande número de alunos moradores de distintas áreas da
cidade, segundo ele, os alunos buscavam também o acesso a uma escola nova, bonita e
atraente.
Ao se referir sobre o ensino ofertado na escola, considerando que o mesmo
contava com o diferencial do curso técnico integrado ao ensino regular, o ex-diretor
relatou que este visava a uma preparação inicial para o aluno se apropriar de uma futura
descoberta, como relatado:

Esse programa na época do PREMEM, ele deveria ser o que


hoje aspiram a formação técnica, começamos com uma
iniciação profissional, então ela funcionava de 5ª a 8ª série, e
nós trabalhávamos com o aluno o ensino acadêmico, com as
disciplinas comuns, o currículo comum e mais as de iniciação
profissional, de Artes Industriais, Educação para o Lar,
Práticas Comerciais e Práticas Agrícolas, para nível de 5ª série
era simplesmente uma iniciação ou uma apropriação para a
pessoa descobrir uma profissionalização, um futuro
educacional, então era semestral, como que funcionava, em dois
anos os alunos passavam por semestre para uma dessas
práticas de iniciação profissional e na sétima série ele definia
por dois anos o que ele queria fazer, a cada semestre ia
passando por uma dessas práticas e depois na 7ª e 8ª ele
definia. (SANDRO, 2015)

No entanto, segundo ele, apesar da grade curricular contar um número


determinado para cada disciplina que compunha o currículo do Polivalente, a
preponderância era para as áreas de Português e Matemática. Desse modo, o ex-diretor
relatou que sempre houve uma certa competitividade entre outras escolas da cidade, ou
seja, havia as escolas consideradas as melhores para prepararem os alunos para o
vestibular, e assim começaram a descobrir que no Polivalente também isso era viável, já
que o ensino deste dava possibilidade para os alunos passarem nos vestibulares também.
78

Figura 13: Atividades desenvolvidas na Escola Polivalente

Fonte: Acervo Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente

De acordo com a imagem acima, é possível identificar momentos de convívio


entre professores e alunos e comunidade no interior da escola, neste sentido o ex-diretor
relatou que a escola buscava conciliar a harmonia entre as relações praticadas e ensino e
a aprendizagem dos alunos:

[...] a nossa maneira de ser, sobretudo como uma escola onde


propunha-se atraente, agradável, simpática ao público, simpática aos
alunos e ao mesmo tempo com o rigor; mas o aluno era o dono da
escola, ele intencionava as intenções da escola, a direção e os
professores procuravam encaminhá-los para o rigor do saber, para a
seriedade. (SANDRO, 2015)

O ex-diretor, nessa perspectiva, ao falar sobre o conceito de educação ofertada


na escola durante o período de sua gestão, relatou que sempre procurou desenvolver um
79

trabalho coletivo com todos da escola, pois segundo ele, em primeiro lugar ele tinha
uma proposta pedagógica para esta escola mediante sua concepção de educação, a qual
foi pautada nos ideais de Paulo Freire, o qual foi seu professor de Mestrado.
Sendo assim, o ex-diretor Sandro colocou que aprendeu muito nos estudos que
realizou sobre o pensamento de Paulo Freire, como também na qualidade de aluno deste
autor, tendo assim se identificado com a educação proposta por este educador, sob a
qual pensou em uma escola aberta para todos, alunos, professores, funcionários e
comunidade:

Eu tinha uma proposta, inclusive a proposta pedagógica do


Polivalente, a partir de 1974 era uma experiência que eu sonhava,
que eu visualizava muito o trabalho de Paulo Freire e me encantei e
estudei muito Paulo Freire e fui aluno dele depois no Mestrado em
Campinas, então a minha proposta era uma escola aberta, uma escola
franca oficial com o aluno sendo o dono do saber, dos interesses, das
necessidades, tudo isso, mas uma escola atraente, agradável, tanto é
verdade que a fanfarra era aberta, era o xodó da escola, tinha 115
instrumentos na época, o esporte era outro atrativo mas ao mesmo
tempo o aluno sabia que era rigorosa e lá era lugar de estudo mesmo
que ela fosse aberta para o esporte aos sábados a vontade, para os
pais, para a família, nós tínhamos um convívio, todo semestre os pais
participavam e iam lá para a escola, chamava-se “um dia na
escola de seu filho”, então nós descobrimos coisas fantásticas...
era um processo tremendamente saudável, agradável e moderno.
(SANDRO, 2015)

Figura 14: Alunos em fanfarra do Polivalente

Fonte: Acervo da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente


80

Ao fazer considerações sobre a relação estabelecida entre os docentes quanto à


organização do trabalho pedagógico realizado no Polivalente na época, o ex-diretor
relatou que não enfrentou dificuldades, já que eles sabiam sobre sua visão pedagógica,
bem como da sua intenção de ação educativa naquela escola, e essa postura
desenvolvida por ele é destacada ainda entre os que conheceram sua forma de atuação
como educador:

Todo mundo entendia a proposta, que por trás havia uma proposta,
isso é interessante, eu tive elogios aqui em Uberlândia de professor
que trabalhou lá, aqui mesmo na UFU em uma palestra que nós
tivemos, em que eu fui falar sobre Paulo Freire, do meu trabalho, da
minha visão de educação, teve um professor que levantou-se lá e
havia trabalhado comigo, e ele falou que lá tinha uma proposta e
que ele só conhecia um diretor que toda vez que tinha reunião, todo
mundo tinha a pauta e sabia a direção do que se passava, então foi
muito gratificante ouvir isso também, então eu tinha uma proposta
sim, tinha um trabalho e eles aderiam, mesmo a contratempo como
podiam rejeitar, mas no todo endossavam a ideia. (SANDRO, 2015)

Neste sentido, o ex-diretor em seu depoimento ao falar sobre o tempo em que


atuou no Polivalente, ressaltou que embora o seu sonho de atuar em uma escola
profissionalizante talvez não tenha se concretizado como almejou, foi nesta escola que
ele vivenciou processos marcantes de sua vida ao sentir que colocou em prática aquilo
que acreditava alcançar no processo educacional enquanto educador:

O Polivalente foi o meu lar, foi lá que eu me realizei como educador,


foi lá que eu realizei um processo que eu acreditava de educação,
onde as matrizes que eu criei com Paulo Freire, com Moacir Gadotti,
com Rubem Alves que foram meus professores também de
Mestrado, com todo esse pessoal eu senti que a educação que eu
acreditava, eu conseguia passar para frente. No aspecto profissional
ficou evidente que foi uma realização tremendamente forte e eu
consegui passá-la para frente com muita maturidade, com muita
confiança e com muita segurança e os resultados, hoje você recebe do
pessoal que passou pela escola, que amadureceu com a gente que
conviveu com a gente, que assumiu com a gente, então eu não posso
esquecê-los, como jamais vou esquecer todo aquele pessoal que se
envolveu comigo, acreditou que ali tinha uma proposta que era
diferente e nós fizemos uma escola diferente, essa foi a minha
gratificação. (SANDRO, 2015)

Portanto, de acordo com o ex-diretor Sandro, a sua experiência de atuação no


Polivalente no decorrer deste período, lhe propiciou muitas vivências marcantes,
81

segundo ele, ainda mantém contato com várias pessoas com que conviveu nesta escola,
em maior número com ex-alunos do que com os ex-professores, assim ele relatou que
sempre está em contato com ex-alunos que residem na cidade de Uberlândia, dentre
estes atuando como advogados, professores, médicos, enfermeiros, engenheiros, dentre
outros. Como demonstrado, tal experiência remete para uma história que tem sido
construída e constituída a partir de vínculos afetivos que foram vivenciadas em meio a
Escola Polivalente, os quais remetem os significados dessas vivencias que se encontram
vivas na memória dos sujeitos envolvidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho consideramos que, apesar do contexto político educacional


mediante a ênfase no Ensino Técnico Profissionalizante no período em questão, bem
como na intenção das Escolas Polivalentes no Brasil decorrente do processo de
crescimento industrial e à necessidade de mão de obra especializada para o mercado de
trabalho, a Escola Polivalente deste município buscou efetivar, desde sua criação,
práticas norteadoras de uma formação pautada na qualidade do ensino ofertada aos seus
alunos, desenvolvendo um trabalho integrado ao ensino regular e técnico, considerando
as especificidades das áreas do conhecimento.
Foi possível também refletir sobre as práticas permeadas entre os atores
envolvidos nesta instituição, bem como das concepções pedagógicas presentes na
Gestão Escolar no período do recorte da pesquisa. Usamos concepções pedagógicas no
plural pois havia aquela prescrita – a Pedagogia Tecnicista, contudo, pelas falas dos
colaboradores, percebemos a circulação de outras ideias entre os educadores, como a
Pedagogia Histórico-Critica mencionada pelo ex-diretor.
Considera-se que, ao mesmo tempo em que o país passava pelo período do
Regime Civil Militar, no qual a educação sofreu, como já descrito antes, grandes
interferências oriundas das medidas que buscaram vincular estreitamente a escola e a
economia capitalista, a fim de atender as demandas e interesses do mercado de trabalho,
a exemplo da criação das Escolas Polivalentes. Contudo, na escola pesquisada, foi
perceptível a intenção da equipe gestora e docente na proposta de promover um ensino
voltado para uma formação integrada e não apenas focada na profissionalização, fato
observado pelas atividades desenvolvidas no interior da instituição, fomentando a
82

participação de alunos, pais, funcionários e comunidade nos eventos como em festas


comemorativas, dias de convívio na escola, reuniões, desfiles, torneios esportivos,
dentre outros.
Como compreendido, a escola recebeu alunos de diversas classes sociais. Foi
possível, através dos relatos das entrevistadas, identificar que, mesmo apesar de
dificuldades econômicas vividas por parte de algumas, estas deram continuidade aos
estudos e avaliam positivamente a formação obtida na escola, como também as demais
entrevistadas ao se referirem com entusiasmo sobre as práticas formativas vividas na
instituição. Dentre as seis entrevistadas, cinco possuem ensino superior.
Tal questão remete para a importância do trabalho mediante a coletividade das
partes constituintes, o qual demonstrou ter sido incorporado às práticas educativas que
estiveram presentes no planejamento desenvolvido nesta instituição; estas, por sua vez,
foram vividas e assimiladas pelos atores envolvidos no compromisso com a qualidade
da educação dos seus educandos, não se restringindo a formação técnica profissional,
mas envolvendo também a formação intelectual, social e humana.
É visível a importância do trabalho desenvolvido nesta instituição, bem como
no que se refere à subjetividade relatada pelos sujeitos envolvidos nessa pesquisa
histórica, a qual nos possibilitou a reflexão de que os alunos consideram o Polivalente
como uma escola que promoveu não apenas o ensino formal acadêmico, como também
a construção da história pessoal e humana vivida nessa instituição.
Portanto, ao buscar enfatizar a história desta escola, foi possível refletir sobre a
origem de sua criação, sua rica estrutura física e arquitetônica (que se diferenciava do
histórico de criação de outras instituições públicas de ensino locais), os atores
envolvidos, as práticas vivenciadas, o modelo e as concepções do ensino ofertado e,
sobretudo os significados que se fazem ainda presentes na vida dos sujeitos que
perpassaram por esta instituição escolar. Fato este que consideramos relevante para a
História da Educação ao contemplarmos parte dos processos constituintes das práticas
educativas de nossa sociedade.

O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a
relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade,
como inconclusão em permanente movimento na História. (FREIRE,
1996, p.136)
83

REFERÊNCIAS

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Polivalentes no Brasil. Disponível em:
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84

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ituiutaba-fundacao.html. acesso em 07/05/2015.

FONTES ORAIS

ALMEIDA; Carla. Ex-funcionária da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 20/05/2015 às 19h na
residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.

BERNARDES, Elisa. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 28/05/2015 às 17h na
residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.

BORGES, Danilo. Ex-professor da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 29/06/2015 às 14h na
residência do entrevistado em Ituiutaba – MG.

CARVALHO, Vanusa. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 18/05/2015 às 18h na
residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.
85

CASTRO, Mariana. Ex-professora da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 02/03/2015 às 16h; 16/04/2015
às 13h na residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.

SOARES, Eva. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” – Polivalente,


Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 10/01/2015 às 13h na
residência da entrevistada em Ituiutaba - MG.

OLIVEIRA, Valter. Ex-professor da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 13/02/2015; 17/02/2015;
24/02/2015 respectivamente às 14h na residência do entrevistado em Ituiutaba – MG.

FERREIRA, Sandro. Ex- diretor da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 03/07/2015 às 16h na
residência da sua cunhada em Uberlândia - MG.

FREITAS, Luiza. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” – Polivalente,


Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 05/03/2015 às 13h na
residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.

GUEDES, Helton. Ex-professor da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 27/05/2015 às 14h na
residência do entrevistado em Ituiutaba – MG.

QUEIROZ, Roberta. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 25/05/2015 às 18h na
residência do entrevistado em Ituiutaba - MG

RODRIGUES, Rosimary. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” –


Polivalente, Ituiutaba MG.
Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 15/04/2015 às 20h na
residência da entrevistada em Ituiutaba – MG.

DOCUMENTOS PESQUISADOS

MINAS GERAIS, Acervo Cultural, Jornal Cidade de Ituiutaba. 1974/1985.

MINAS GERAIS, Acervo da Escola Estadual “Antônio Souza Martins”. Regimento


Escolar Escola Estadual “Antônio Souza Martins” O.5.O.C., Ituiutaba – MG.
Documentos Consultados: Decreto de Criação; Livro de Posse e Exercício de
86

Profissionais; Currículo Escolar; Manual de Mobiliário das Escolas Polivalentes; Planta


Baixa Arquitetônica

ANEXO - HISTÓRICO ESCOLAR DE EX-ALUNA

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