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O mecanismo criado para excluir pessoas com alguma necessidade especial ou mesmo

alguma deficiência é tão antigo quanto a socialização. Na Roma antiga, crianças que
nasciam com alguma deformidade eram condenadas à morte. Relatos contam que alguns
pais abandonaram seus filhos em cestos. Aos sobreviventes restavam uma vida explorada
por esmoladores nas cidades ou passavam a integrar os circos para entretenimento dos
abastados. No contexto atual, seria assim tão diferente o lugar que os deficientes ocupam?
A organização das sociedades sempre paralisou as pessoas com deficiência
marginalizando-as e privando-os de liberdade. Desse modo, nos perguntamos, qual o lugar
da deficiência no mundo? Sabemos que a força de produção técnica e autônoma do
capitalismo cria uma realidade de inclusão perversa de todas as pessoas que de alguma
forma não atendem às suas exigências, ou seja, ​todas as pessoas estão incluídas, mas
nem todas de maneira completa e digna​. Segundo Bader Sawaia​, ​autora do conceito de
“inclusão perversa”, a naturalização do fenômeno da exclusão e o papel do estigma servem
para explicitar, especificamente no caso da sociedade brasileira, a natureza da incidência
dos mecanismos que promovem o ciclo de reprodução da exclusão, representado pela
aceitação tanto ao nível social, como do próprio excluído, expressa em afirmações como
“isso é assim e não há nada para fazer”. À exemplo, o filme Uma Lição de Amor traz o
contexto de um júri que vai decidir se Sam poderá ou não ficar com a guarda da sua filha
Lucy, no momento do julgamento, o advogado do serviço social faz uso de argumentos
pautados no paradigma médico, dando maior importância ao diagnóstico de deficiente
mental do que a condição prevista pelo modelo social que reserva à pessoa com deficiência
a possibilidade de se aprimorar através do contexto sociocultural. ​É importante destacar as
diferenças entre esses dois constructos teóricos. O paradigma médico enfatiza o tratamento
da deficiência orientado para a cura, ou seja, busca-se a melhor adaptação possível da
pessoa aos padrões sociais. Nesse caso, o problema da deficiência é situado dentro do
indivíduo, é considerado como resultado exclusivo das limitações funcionais de origem
biológica. Em contrapartida, o modelo social põe ênfase na reabilitação da sociedade, que
deve ser concebida e desenhada para fazer frente às necessidades de todas as pessoas e
não apenas daquelas que se enquadram nos seus parâmetros. (MALDONADO, 2013, p.
1100).
A segunda geração dos estudiosos sobre a deficiência, em sua maior parte, formada pelo
movimento feminista, traz em seu discurso elementos que fortalecem o modelo social. Elas
transmutam o centro da gravidade da discussão para um lugar que pensa a moral humana
de forma relacional, arquitetam uma forma outra de pensar a autonomia que antes
correspondia a uma ideia de independência pensada a partir de corpos tidos como típicos,
evidenciando uma limitação na reflexão. A filósofa feminista Eva Kittay, coloca em pauta a
ideia de que “somos todos filhos de uma mãe” a fim de relembrar que todos nós precisamos
do cuidado ou da ajuda de alguém em algum momento da vida, diminuindo esse espaço
ilusório criado por pessoas que se compreendem como “normais” com a intenção de se
distinguir daqueles que têm seus corpos encarados como “anormais”.
Nesse sentido, à ideia de que a deficiência precisa ser repensada, aflora um compromisso
com a defesa dos indivíduos deficientes, no qual se volta para a percepção de que as
mudanças não deveriam vir deles e sim da sociedade, pois essa sim, era desajustada em
relação a estes. Na palestra de Benilton Bezerra dada para o Café Filosófico, ele faz
provocações interessantes ao dizer que a deficiência é um experiência que depende
fundamentalmente do tipo de ambiente que acolhe ou não acolhe a particularidade daquela
lesão. Para ilustrar ele diz que “quem é cego no Brasil é muito mais cego do que em
Praga.”.
Infelizmente, a grande maioria dos deficientes persiste ainda segregada em instituições e
escolas especiais, consequentemente sem atuação ativa na vida da sociedade e
incapacitada para o efetivo desempenho da sua cidadania. Compreendemos que a
organização da produção na sociedade capitalista cria parâmetros de avaliação dos
indivíduos de forma que possa se beneficiar, a partir de suas necessidades para que o
sistema seja alimentado. Um dos parâmetros é a capacidade de produção do sujeito. Nesse
sistema as exigências de produção são as mesmas para todos, desconsiderando assim a
subjetividade de cada sujeito. Aqueles que conseguem atender de acordo com essas
exigências, são apropriados pelo sistema. Os que não correspondem às imposições
exigidas passam a ser enxergados com desvios e são marginalizados. Desta forma, fica
claro que o processo de criação da deficiência ainda se dá a partir da focalização de
atributos do indivíduo, gerando uma culpabilização.
A partir desse pensamento, é impossível não se perguntar como o Brasil parece ainda não
se indignar a ponto de promover mudanças significativas nessa direção. A narrativa de que
a pessoa com deficiência é uma pessoa vítima de uma fatalidade do destino, é um lugar
perigoso que garante a ela um olhar de pena e de compaixão que mascara uma
perversidade que a reduz à deficiência. Existe essa ​cegueira construída e conveniente ao
sistema vigente, que mantém o conformismo, efeito contrário ao da lucidez, que traz
transformações ou interrompimentos, em processos que já estão em produção mas que não
garante dignidade a todos.
Toda essa estrutura nos leva a pensar em mecanismos de desconstrução e conscientização
desse lugar do improdutivo, da vítima e do faltante reservado a pessoa com deficiência. A
linguagem define realidades, ao passo em que é possível também criar realidades
inclusivas que compreendam a diferença não como limitação mas como possibilidade de
perceber formas novas de experienciar e transformar a vida. Vigotski (1987, p.28) propõe
que: “[...] a educação para estas crianças deveria se basear na organização especial de
suas funções e em suas características mais positivas, ao invés de se basear em seus
aspectos mais deficitários”. Embora o autor direcione o seu estudo para o contexto escolar,
ele é de imensa valia para todos as camadas de reflexões sobre a ética e a moral
construídas pela sociedade. Ver o indivíduo como sujeito social que não precisa ter o seu
limite definido pelo outro e que pode, como todos surpreender-se com a sua capacidade de
se superar, é essencial para a construção de uma sociedade fortalecida que utiliza das suas
pluralidades como formas de expansão da sua estrutura.

A realidade brasileira é cruel. A grande maioria dos deficientes persiste ainda segregada em
instituições e escolas especiais, consequentemente sem atuação ativa na vida da
sociedade e incapacitada para o efetivo desempenho da sua cidadania. Compreendemos
que a organização da produção na sociedade capitalista cria parâmetros de avaliação dos
indivíduos de forma que possa se beneficiar, a partir de suas necessidades para que o
sistema seja alimentado. Um dos parâmetros é a capacidade de produção do sujeito. Nesse
sistema as exigências de produção são as mesmas para todos, desconsiderando assim a
subjetividade de cada sujeito. Aqueles que conseguem atender de acordo com essas
exigências, são apropriados pelo sistema. Os que não correspondem às imposições
exigidas passam a ser enxergados com desvios e são marginalizados. Desta forma, fica
claro que o processo de criação da deficiência se dá a partir da focalização de atributos do
indivíduo, gerando uma culpabilização.
A manutenção desse status de deficiente ocorre na segregação que limita ou impede
condições que possibilitem a participação desse deficiente na sociedade, comprometendo
gradativamente seu entendimento do real e seu consecutivo desenvolvimento.

(?) --- ​É importante sublinhar que cognição e linguagem são socialmente formadas e
culturalmente constituídas, nas relações concretas da vida. A linguagem, entendida como
trabalho constitutivo exclui, de modo radical, a possibilidade de que o desenvolvimento
cognitivo possa acontecer desvinculado da linguagem do Outro e dos signos; impossível
pensar desenvolvimento cognitivo fora dos processos de significação que se criam entre as
pessoas, no meio social (PADILHA, 2014, p. 15).

Nesse sentido, entrar no mundo do simbólico, penetrar na cultura, significa inserir-se como
sujeito da linguagem e supõem a entrada no mundo dos signos: dos gestos das palavras,
das ações que possuem um significado. Ao compreender, dominar e criar sentidos, as
pessoas desenvolvem as funções especificamente humanas: a vontade, a memória, a
atenção Fernanda Holanda Fernandes Revista de Direito, Arte e Literatura | e-ISSN:
2525-9911 | Brasília | v. 2 | n. 1| p. 74-91 |Jan/Jun. 2016. 87 voluntária, o raciocínio, o
pensamento abstrato, a formação de conceitos, o afeto, a imaginação (PADILHA, 2014, p.
15).

É uma cegueira produzida e distribuída, conveniente ao sistema vigente, que mantém o


conformismo, porque, ao ver terá que lidar e lidar significa repensar e, às vezes,
interromper processos que já estão em produção.

Por isso, o pensamento capitalista de produção imoderada, prefere reduzir a pessoa com
deficiência a deficiência e esconde essa perversidade através da pena e da compaixão que
são geradas a partir da narrativa de que a pessoa com deficiência é uma pessoa vítima de
uma fatalidade do destino.

Para os defensores do Modelo Social o corpo atípico não é um destino de exclusão​15​.


Habitar um corpo anômalo é uma experiência singular que pode ser descrita de diversas
formas, dependendo da experiência subjetiva e do aporte ambiental. Se o prejuízo
sofrido pelos deficientes for analisado como resultado da sociedade, as pessoas com
deficiência serão vistas como membros de uma minoria cujos direitos foram violados por
uma maioria injusta.
Assim, o foco da atenção aos deficientes seria permitir às pessoas com deficiência
liberdade para participar da vida social e das oportunidades​13​.

Nessa direção, podemos pensar agora na contribuição de Nordenfelt sobre a construção


das noções de deficiência e doença que, para o autor, são categorias construídas pelos
valores da sociedade e portanto, estão sujeitas a julgamentos de valor. Ele conclui a
autonomia como um “valor social central na caracterização da saúde e o conceito de
deficiência que importa à medicina é igualmente valorativo, podendo ser entendido a partir
do mesmo quadro conceitual.”

A supervalorização da individualidade em detrimento da sociabilidade, manifestada no alto


valor dado ao indivíduo e no desprezo ao valor das redes de reciprocidade é um processo
construído

todo deficiente pode ser autonomo se viver num ambiente que propicie isto.
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A mudança na forma de compreender a causalidade da deficiência, deslocando a


desigualdade do corpo para as estruturas sociais fragilizou a autoridade dos discursos
curativos e abriu possibilidades analíticas para uma redescrição do significado de habitar
um corpo com deficiências. Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos
e justiça. ​Sur, Rev. int. direitos human​ 2009; 6(11):64-77.

Na concepção do autor, deficiência e doença não são condição da natureza humana,


termos a-históricos ou atemporais; elas são categorias construídas por uma determinada
sociedade e estão sujeitas a julgamentos de valor. Nordenfelt L. ​On the Nature of
Health: An Action-Theoretic Approach.​ Dordrecht: Kluwer Academic; 1995.​ X - acho q ja
foi contemplado
Nessa direção, é importante destacar as diferenças entre esses dois constructos teóricos.
O paradigma médico enfatiza o tratamento da deficiência orientado para a cura, ou seja,
busca-se a melhor adaptação possível da pessoa aos padrões sociais. Nesse caso, o
problema da deficiência é situado dentro do indivíduo, e considerado como resultado
exclusivo das limitações funcionais de origem biológica. Em contrapartida, o modelo
social põe ênfase na reabilitação da sociedade, que deve ser concebida e desenhada para
fazer frente às necessidades de todas as pessoas e não apenas daquelas que se
enquadram nos seus parâmetros. (MALDONADO, 2013, p. 1100) ​X

É importante sublinhar que cognição e linguagem são socialmente formadas e


culturalmente constituídas, nas relações concretas da vida. A linguagem, entendida
como trabalho constitutivo exclui, de modo radical, a possibilidade de que o
desenvolvimento cognitivo possa acontecer desvinculado da linguagem do Outro e dos
signos; impossível pensar desenvolvimento cognitivo fora dos processos de significação
que se criam entre as pessoas, no meio social (PADILHA, 2014, p. 15).​ X

Nesse sentido, entrar no mundo do simbólico, penetrar na cultura, significa inserir-se


como sujeito da linguagem e supõem a entrada no mundo dos signos: dos gestos das
palavras, das ações que possuem um significado. Ao compreender, dominar e criar
sentidos, as pessoas desenvolvem as funções especificamente humanas: a vontade, a
memória, a atenção​ Fernanda Holanda Fernandes Revista de Direito, Arte e Literatura |
e-ISSN: 2525-9911 | Brasília | v. 2 | n. 1| p. 74-91 |Jan/Jun. 2016. 87 voluntária, o
raciocínio, o pensamento abstrato, a formação de conceitos, o afeto, a imaginação
(PADILHA, 2014, p. 15).

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