Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Brasília/DF
2011
Brasília - DF
2011
2
Brasília/DF
2011
3
Dissertação de autoria de Luciene Pires de Araujo Lins, intitulada A criança com Síndrome de
Down e sua família: um estudo sobre a dinâmica familiar de acordo com a perspectiva
sistêmica, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia
da Universidade Católica de Brasília, em 29 de julho de 2011, defendida e aprovada pela
banca examinadora abaixo assinada:
__________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Alexina Ribeiro - UCB
Orientadora
__________________________________
Prof.ª Dr.ª Erenice Natália Soares de Carvalho - UCB
Co-Orientadora
__________________________________
Profª. Dra.Carmen Jansen de Cárdenas - UCB
Membro interno
__________________________________
Profª. Dra. Cristina Madeira coelho - UnB
Membro externo
Brasília
2011
4
CDU 159.9:616.899
6
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho contou com a ajuda de pessoas que estiveram ao meu lado,
contribuindo de uma forma ou de outra durante mais esta etapa da minha vida. É com o
coração transbordando de alegria e cheio de gratidão que eu agradeço a todos, sinceramente:
À minha querida orientadora, Dr.ª Maria Alexina Ribeiro pela disponibilidade, pela
compreensão, pela dedicação e significativo aprendizado nessa caminhada.
À professora Dr.ª Tânia Maria de Freitas Rossi por ter contribuído de forma pontual e
significativa no início do estudo como co-orientadora.
RESUMO
LINS, Luciene Pires de Araujo. A criança com síndrome de Down e sua família: um estudo
sobre a dinâmica familiar de acordo com a perspectiva sistêmica. 2011. 77 folhas. Mestrado
em Psicologia. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2011.
ABSTRACT
LINS, Luciene Pires de Araujo. The child with down´s syndrome and his family: a study
about a family dynamics in accordance with the systemic perspective. 2011. 77 leaves.
Masters in Psychology. Catholic University of Brasilia, Brasilia, 2011.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................... 9
2 – REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................ 11
2.1 - A abordagem sistêmica da família ........................................................ 11
2.1.1 – Comunicação ...................................................................................... 14
2.1.2 – O ciclo de vida familiar ...................................................................... 16
2.2 – A criança em situação de deficiência .................................................... 19
2.2.1 – A Síndrome de Down ......................................................................... 20
2.3 – A família, o ciclo de vida familiar e a criança em situação de 24
deficiência ......................................................................................................
2.3.1 – O papel da família no desenvolvimento da criança com Síndrome 32
de Down .........................................................................................................
3 – OBJETIVOS ........................................................................................... 39
3.1 – Objetivo Geral ....................................................................................... 39
3.2 – Objetivos Específicos ............................................................................ 39
4 – METODOLOGIA E MÉTODOS ......................................................... 40
4.1 – Família participante .............................................................................. 40
4.2 – Instrumentos .......................................................................................... 43
4.3 – Procedimentos ....................................................................................... 44
4.4 – Procedimentos de análise dos dados ..................................................... 45
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................... 48
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 68
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................... 72
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista semi-estruturada ............................... 74
APÊNDICE C – Roteiro para levantamento dos dados dos prontuários ....... 75
APÊNDICE D – Aprovação do projeto de pesquisa pelo CEP ..................... 76
FIGURA 1 – Genograma ............................................................................... 41
FIGURA 2 – Colagem ................................................................................... 61
FIGURA 3 – Ecomapa ................................................................................... 65
10
1 - INTRODUÇÃO
2 - REFERENCIAL TEÓRICO
A família é o contexto natural para crescimento e cura de seus membros que através
dos tempos têm desenvolvido padrões de interação. Esses padrões de interação irão governar
todo o funcionamento da família no que diz respeito à dinâmica familiar. É necessário que a
estrutura familiar seja viável para o desempenho de tarefas essenciais à família e o apoio para
a individuação, ao mesmo tempo que irá prover o sentido de pertinência (MINUCHIN;
FISHMAN, 1990).
A estrutura familiar é definida pelo conjunto invisível de exigências funcionais que
objetiva organizar as maneiras pelas quais os membros da família interagem, criando padrões
transicionais que regulam o comportamento dos membros da família, sendo mantidos por dois
sistemas de repressão: as regras universais, que governam a organização familiar e as
expectativas mútuas de membros específicos da família (MINUCHIN, 1982).
Minuchin e Fishman (1990) enfatizam a idéia de que a estrutura familiar governa
todo o funcionamento dos membros da família, definindo o comportamento e facilitando suas
interações. Segundo os autores:
Todo ser humano se vê como uma unidade, um todo, interagindo com outras
unidades. Sabe que influi sobre o comportamento de outros indivíduos e que eles
influenciam o seu (MINUCHIN; FISHMAN, 1990, p. 21).
Deve existir uma hierarquia de poder, em que os pais e os filhos têm diferentes
níveis de autoridade. Também deve haver uma complementaridade de funções, com
o marido e a mulher aceitando a interdependência e operando como uma equipe.
(MINUCHIN,1982 p. 57).
Para Minuchin, Nichols e Lee (2009), a família é mais do que uma coleção de
indivíduos, é um todo organizado cujas partes funcionam de maneira que ultrapassa suas
características isoladas, desenvolvendo-se e passando por períodos de transição à medida que
13
mudam. De acordo com estes autores as famílias são organismos sociais estruturados em
subsistemas separados por fronteiras. Estes subsistemas definem as funções de seus membros
que por sua vez irão se organizar em alianças, aflições e coalizões.
A estrutura familiar precisa ser capaz de se adaptar quando as situações familiares se
modificam, sem perder a continuidade do crescimento e desenvolvimento do processo vital
familiar. Esta estrutura da família é demarcada por fronteiras, que nada mais são do que
regras delimitadoras de quem e como cada membro irá participar do sistema. Segundo o
autor, cada indivíduo pertence a diferentes subsistemas, nos quais apresenta diferentes níveis
de poder e onde irá aprender habilidades diferenciadas (MINUCHIN, 1982).
Para esse autor, as fronteiras possuem como função a proteção da diferenciação do
sistema, onde cada subsistema terá funções próprias, podendo fazer exigências específicas a
seus membros. O autor define três tipos de fronteiras: nítida, difusa e rígida. Para que a
família alcance um funcionamento saudável é necessário que as fronteiras sejam nitidamente
bem delineadas, a ponto de permitir que os seus membros consigam prosseguir em suas
funções sem interferência indevida, mas admitindo contato entre os membros de outros
subsistemas. Nestas famílias é percebido a existência de um equilíbrio, onde as regras são
definidas e os papéis são claros, permitindo trocas flexíveis e sadias na dinâmica familiar.
O autor denomina de “emaranhadas” as famílias que possuem fronteiras difusas,
caracterizadas pela ausência de diferenciação dos subsistemas, desencorajando qualquer
autonomia e domínio dos próprios problemas por parte dos membros da família. Nestas
famílias as regras não estão claras e as funções são poucos definidas, acarretando a invasão de
privacidade e o desrespeito a individualidade de cada membro.
Por outro lado, há as famílias “ desligadas” caracterizadas pela existência de
fronteiras rígidas. São famílias que podem funcionar muito bem com relação à autonomia e
independência, mas carecem de sentimentos de lealdade e pertencimento. Nestas família há
pouca comunicação e pouco contato entre os membros, dificultando o acesso na solicitação de
apoio, quando necessário.
Para Nichols e Schwartz (1998), as famílias desligadas são caracterizadas por
possuírem fronteiras rígidas, restritivas e por possibilitar quase nenhum contato com os
subsistemas externos. A comunicação torna-se deficiente e as funções de proteção familiar
são raramente exercidas. Já as fronteiras difusas podem ser classificadas como um total
emaranhamento, cujo comportamento de um membro afeta de imediato o comportamento de
outro membro. Os membros são dependentes ao extremo um do outro, causando grande
14
dificuldade no que se refere à independência e autonomia destes. Por outro lado, as fronteiras
nítidas são claras e estabelecem uma estrutura hierárquica em que os pais exercem funções de
liderança, mantendo a autonomia interna e o estabelecimento de uma proteção contra a
intromissão de outros subsistemas, no intuito de preservar os limites e a hierarquia familiar.
Nichols e Schwartz (1998) salientam que os subsistemas, os indivíduos e as famílias
como um todo são demarcados por fronteiras que servem para proteger a autonomia da
família e seus membros, lidando com a proximidade e com a hierarquia. Estas fronteiras
funcionam como barreiras invisíveis que envolvem os indivíduos e os subsistemas, onde irão
regular a quantidade de contato com os outros.
Segundo Minuchin (1982):
As fronteiras dos subsistemas devem ser firmes, ainda que suficientemente flexíveis
para permitir a predisposição, quando as circunstâncias mudam (p. 69).
2.1.1 – Comunicação
De acordo com Jackson (1967, apud FOLEY, 1990), todo comportamento possui um
significado, tornando-se assim uma comunicação, devido à maneira como uma pessoa se
relaciona com outra. O autor enfatiza os aspectos cognitivos da comunicação, considerando
que o que é pensado influencia no fazer. O autor desenvolveu seu pensamento a partir de
cinco axiomas, a saber:
- Axioma 1 - A impossibilidade de não se comunicar: parte do princípio de que todo
comportamento possui um significado, portanto, qualquer relação interacional constituirá uma
comunicação, seja através de gestos, silêncio, tom de voz, comportamento ativo e inativo.
16
membros idosos da família. Por ser o momento em que os filhos saem de casa é notável as
dificuldades encontradas pelas famílias ao lançar os filhos. De acordo com Carter e
McGoldrick (1995):
Uma família com uma estrutura disfuncional encontra um ponto de transição para
outro estágio e, devido a seus problemas estruturais, não consegue realizar
adequadamente a transição. (p. 102).
De acordo com a Convenção sobre os Diretos das Pessoas com Deficiência, pessoas
com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (2009) na Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) deficiência é um termo
genérico, que abrange deficiências, limitação de atividade e restrição de participação. Nesse
sentido, deficiência é um problema na função ou estrutura do corpo. Por sua vez, limitação da
atividade é uma dificuldade encontrada por um indivíduo na execução de uma tarefa ou ação,
enquanto que uma restrição de participação é um problema vivenciado por um indivíduo no
envolvimento em situações da vida. Assim, a deficiência é um fenômeno complexo, refletindo
uma interação entre as características do corpo de uma pessoa e as características da
sociedade em que vive.
Ainda de acordo com a OMS (2009) o termo deficiente, para denominar pessoas com
deficiência, tem sido considerado socialmente inadequado, pois o termo leva consigo uma
carga negativa e depreciativa da pessoa. Por isso, o termo foi, ao longo dos anos se tornando
cada vez mais rejeitado pelos especialistas da área e em especial pelos próprios portadores.
Muitos profissionais, entretanto, consideram que essa tendência politicamente correta tende a
levar os portadores a uma negação de sua própria situação e a sociedade ao não respeito da
diferença. Atualmente a palavra é considerada como inapropriada, e pode promover, segundo
muitos estudiosos, o preconceito em detrimento do respeito ao valor integral da pessoa.
Segundo a OMS (2009) a pessoa com deficiência geralmente precisa de atendimento
especializado, seja para fins terapêuticos, como fisioterapia ou estimulação motora, seja para
que possa aprender a lidar com a deficiência e a desenvolver suas potencialidades. A
Educação Especial se ocupa do atendimento educacional especializado – AEE das pessoas
com necessidades especiais, dentre elas, com deficiencia (s), ao longo de sua escolarização,
preferencialmente na escola e na classe comum, como determina a Lei nº 9394/96, das
diretrizes e bases da educação nacional.
Para Diniz (2007), a deficiência é um conceito complexo que reconhece o corpo com
lesão, como define a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(OMS, 2007) denunciando a estrutura social que oprime a pessoa deficiente. No entanto, a
21
autora considera que não podemos resumir a deficiência a uma simples expressão de uma
lesão que impõe restrições à participação social de uma pessoa. Segundo essa perspectiva, a
deficiência é descrita pela restrição de uma ou mais atividades provocada pela organização
social contemporânea que não considera aqueles que possuem lesões físicas e os exclui das
principais atividades da vida social.
Ainda segundo a autora, o desafio está em conseguir afirmar a deficiência enquanto
um estilo de vida, sendo reconhecida a sua legitimidade de ações distributivas e de reparação
da desigualdade, bem como a necessidade de cuidados biomédicos.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007, p. 17)
define como “pessoas com deficiência aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com
as demais pessoas.” (Art. 1). Observe-se que essa definição situa a deficiência na interação
entre as condições individuais e ambientais que limitam a participação societal da pessoa. Não
centraliza a deficiência na pessoa. Concordando com essa visão, será utilizada neste trabalho a
expressão “pessoa em situação de deficiência”.
1
Termo utilizado pelas autoras
24
Com relação às causas da Síndrome de Down, Silva (2000) afirma que existem
fatores endógenos e exógenos que contribuem para o nascimento de crianças com SD. Um
dos fatores endógenos freqüentemente associado se refere à idade da mãe. Segundo a autora,
as mulheres já nascem com uma quantidade de óvulos e estes envelhecem à medida que elas
também envelhecem. Pueschel (1999) corrobora com a autora ao afirmar que a incidência de
anormalidades cromossômicas aumenta com a idade materna avançada. Para ele, o risco de ter
um filho com SD dobra a cada dois anos e meio, aproximadamente, após os 35 anos de idade
da mulher. Sendo assim, aos 35 anos de idade o risco de que a mulher grávida esteja
esperando um filho com anormalidade cromossômica é de cerca de 1 em 200 a 1 em 300
nascimentos vivos.
Já com os homens, Silva (2000) diz que o mesmo não acontece, devido ao fato de
que eles não param de produzir espermatozóides, sendo sempre renovados. Dentre os fatores
exógenos que mais contribuem para a incidência da SD estão a ausência de diagnóstico pré-
natal e a exposição à radiação. Para a autora:
malformações fetais e Síndromes genéticas. Hoje, após pouco mais de 10 anos de introdução
da TN como método de rastreamento de anomalias cromossômicas, o exame já é oferecido na
rotina pré-natal em vários países.
Inúmeros marcadores fenotópicos têm sido descritos por exames ultra-sonográficos
pré-natais como indicativos de risco maior de o feto ser portador da Síndrome de Down.
Assim, é fundamental que tais exames sejam avaliados por profissionais treinados que saibam
interpretar o exame morfológico fetal completo, não se fixando em um ou outro achado. Entre
estes marcadores está a translucência nucal (SCHWARTZMAN, 2003).
podemos pensar que esta fase do desenvolvimento do ciclo de vida, que é a chegada de um
filho, exige dos pais uma série de transformações, de ambos, para que a família consiga se
desenvolver e dar continuidade ao processo de crescimento familiar. Para o desenvolvimento
sadio nesta fase do ciclo vital da família, percebe-se a necessidade de uma parceria dos pais
em prol das novas tarefas e responsabilidades que surgem após o nascimento de um filho,
sendo fundamental o ajustamento do sistema conjugal para incluir os filhos.
Frente à necessidade de compreender que a transição do casal para a paternidade traz
consigo um impacto para a família, questionamos como o nascimento de um filho em situação
de deficiência pode influenciar esse processo de transição.
De acordo com Brunhara e Petean (1999), o nascimento de uma criança com
“deficiência” traz uma nova realidade para a família, embora esta acabe procurando maneiras
de se adequar a nova realidade, desenvolvendo duas maneiras de lidar com a informação do
nascimento de uma criança com “deficiência”: enfrentando e reagindo. Segundo Miller (1995)
enfrentar significa fazer tudo o que é preciso para lidar com as adversidades e seguir em
frente. Já reagir é lidar com emoções que vão desde confusão até medo da incompetência.
Para Faber (1972 apud BRUNHARA; PETEAN, 1999, p. 31) a extensão e a profundidade do
impacto gerado pelo nascimento de uma criança com “deficiência” são indeterminadas por
dependerem da dinâmica de cada família, como também do significado que esta nova
realidade terá para cada um de seus membros.
No que se refere à perspectiva psicanalítica, Mannoni (1991) afirma que o
nascimento de um filho envolve o desejo ou recompensa ou a repetição da própria infância da
mãe. Este filho irá ocupar um lugar que ficou vazio no seu passado, tendo como missão
restabelecer, reparar o que na história da mãe foi julgado deficiente e que muitas vezes ela
teve que renunciar. Para Mannoni (1991), o nascimento de um filho doente irá despertar os
conflitos neuróticos que foram compensados pelo casamento.
Brunhara e Petean (1999) afirmam que na maioria das vezes, no entendimento dos
pais, algo deu errado pelo fato da criança ter nascido com deficiência. Neste caso eles sentem-
se responsáveis pelo problema do filho e na tentativa de elaboração do problema, agem de
forma conformada ou revoltada. Assim, os pais assumem a culpa, o conformismo e a raiva,
27
uma vez que existindo um culpado, há pelo menos uma explicação para a situação. Para as
autoras, quando os pais não assumem a culpa, ocorre a negação como um mecanismo de
defesa perante o problema do filho que terão de enfrentar.
Miller (1995) aponta duas maneiras em que a negação poderá se apresentar. A
negação escolhida, onde os pais ignoram o problema do filho no intuito de que este problema
suma de vez e a negação inconsciente quando os pais não conseguem perceber os fatos na
dimensão que eles realmente são.
Complementando esta idéia, Brunhara e Petean (1999) salientam que os processos
e/ou sentimentos pelos quais os pais passam com o nascimento da criança com “deficiência”
como a culpa, raiva, medo, negação irão afetar diretamente na aceitação do filho, no que diz
respeito ao vínculo que será estabelecido com a criança. De acordo com as autoras os pais, ao
perderem o filho desejado, podem não conseguir elaborar o luto pelo filho perdido e, imersos
no sofrimento de melancolia ficam impedidos de estabelecer o vínculo com o bebê real.
Este vínculo poderá ser estabelecido com a deficiência e não com o “filho
deficiente”, baseando nas relações com o fenômeno e não com o filho, principalmente no que
diz respeito às questões de ordem práticas terapêuticas e não nas necessidades humanas de
amor, carinho, dentre outros (AMARAL, 1995). Corroborando com o autor, Brunhara e
Petean (1999) afirmam:
2
Termo utilizado pelas autoras
29
Segundo o autor, isso acontece devido a uma série de questões peculiares a cada dinâmica
familiar. Entre elas, estão as expectativas culturais sobre gênero, relações familiares, trabalho
doméstico e criação de crianças, tornando uma experiência estressante para as mães, podendo
levá-las ao isolamento.
Para Bastos e Deslandes (2008) as conseqüências de ter um filho com problema são
maiores para as mães, pois culturalmente cabe a elas o cuidado da prole. Há também um
grande impacto no que se refere às frustrações e expectativas sobre o bebê que irá nascer. Os
autores afirmam que:
De acordo com Petean (1995) os pais estão despreparados para lidar com situações
advindas da criança com deficiência, sendo muitas vezes condescendentes e outras vezes
impacientes, podendo revelar atitudes de depreciação em relação ao próprio filho.
MacCollum (1984 apud BRUNHARA; PETEAN, 1999) apresenta estudos que
mostram que os pais experimentam a perda das expectativas e dos sonhos lançados em
relação ao futuro descendente, quando têm um filho com necessidades especiais. Segundo o
autor:
Com relação aos cuidados especiais que uma criança com deficiência irá demandar
ao longo de toda uma vida, Bastos e Deslandes (2008) apontam a influência direta que as
dinâmicas, identidades e papéis familiares sofrerão. Além disto, serão necessárias estratégias
para que os pais consigam elaborar a nova condição de vida que irão vivenciar. É importante
dizer que, de acordo com as autoras, o tipo de modificação na estrutura familiar e a
intensidade do sofrimento que as famílias irão passar dependerão exclusivamente da
gravidade e do significado que cada família dará para a deficiência.
Bastos e Deslandes (2008) em estudo sobre a “experiência de ter um filho com
deficiência mental”, também observaram que o impacto da deficiência na dinâmica familiar,
apresentou-se em sua pesquisa de forma diversificada para cada família. A seguir incluiremos
30
algumas falas que as autoras relatam de mães de crianças com necessidades especiais que
falam sobre as mudanças ocorridas com o impacto da deficiência do filho:
- “Ah! Mudou muito. Porque eu saia e não saio mais. Trabalhava e agora não
trabalho mais. Agora eu fico só pra ela, né? Fico em casa só pra cuidar dela”.
- “Muda tudo, Mudou tudo. Mudou tudo assim... Eu pensava assim em trabalhar,
né? Eu não tenho tempo para sair à tarde. Eu não saio pra lugar nenhum, a não ser
hospital, lá na UNAERP e na APAE.
- “Ah! Mudou, vichi! (...) Foi bem melhor, né? Nossa senhora! Não tem nada
melhor do meu fio, né?
- “Ah mudou, né? Não tem jeito de não mudar, muda, né? Eu acho assim que a
minha vida é mais para ela, só para ela, ando mais, a gente fica, a gente começa a
ficar mais humilde, né?”.
suas famílias. Para as autoras, tudo se modificaria se os profissionais que fossem atender a
família com uma criança com deficiência provessem acolhimento e demonstrassem maior
sensibilidade ao tratar a nova questão familiar. Nas narrativas abaixo são elucidadas este
momento complexo que a família carregará por toda a vida.
- “O Carlos, quando ele fez quatro anos ele não falava ... e eu dei de cara com um
monte de ignorantes. Aí ela olhou bem na minha cara. Olhou para a cara do Carlos.
E disse assim: - Esse menino é um mongolóide! E aí (...) quando eu saí, eu saí
chorando de dentro da sala”.
- “Ah! Olha eu (...) eu não estou nem pensando no futuro dele. Porque nenhum
remédio está dando certo para ele. Ele não teve melhora nenhuma”.Como era uma
clinicazinha ... Ela falava assim:- Ah, tá na hora de aumentar o remédio da Milene.
Mas ela nem examinava a Milene, nem pedia outro eletro ... Aí comecei a achar
aquilo estranho. Eu falei: - Chega, eu não vou mais fazer nada disto”.
Tais narrativas expressam tamanha insatisfação com a atenção recebida de uma rede
de serviços que pouco contribuiu para um desenvolvimento mais satisfatório da criança
(BASTOS; DESLANDES, 2008).
As autoras ainda salientam que a atenção merecida por estas pessoas com deficiência
mental3 constitui um desafio para a organização dos serviços públicos de saúde, que ainda se
encontra de forma muito precário. É apresentada reduzida oferta de serviços, baixa cobertura,
difícil acesso, descontinuidade de atendimento, entre outros problemas que tornam a atenção a
este grupo escasso e precário.
Uma pesquisa realizada em Brasília com famílias de crianças autistas revela a falta
de habilidade e acolhimento dos profissionais no momento de informar o diagnóstico aos pais
(ZARANZA, 2008). A autora cita algumas falas das mães sobre o momento em que
receberam a notícia de que seus filhos são autistas que apresentamos a seguir:
- “Para mim, como mãe, foi difícil. Entrei na sala e a doutora deu o diagnóstico de
Transtorno Global do desenvolvimento. Ela explicou que isso tem que ser tratado e
que nós vamos levar isso para o resto de nossas vidas, e que ele não vai ser uma
criança como as outras. Quando ela falou, minhas lágrimas desceram e ela
perguntou por que eu chorava (...) Ela disse isso com dureza, e eu chorei ainda
3
Termo utilizado pelas autoras
32
mais, fiquei muito triste. Eu queria que a médica me respeitasse porque estava
doendo muito (...) como eu estava chorando, não lembro de nada que a doutora
falou. Eu não aceitei aquilo, eu não sabia o que era autismo. Ela explicou o autismo
em termos técnicos e fica difícil entendermos”.
está preparada para lidar com pessoas que possuem um comportamento diferenciado na
sociedade.
No caso de irmãos de crianças em situação de deficiência, Trause e Irvin (1992)
entendem que quando as crianças são submetidas a eventos estressantes, o equilíbrio e a
segurança ficam comprometidos, tendo a necessidade de apoio e conforto como prioridades.
Os eventos que perturbam as rotinas familiares são especialmente difíceis para as crianças,
uma vez que as rotinas proporcionam a base para o manejo das novas experiências. Assim, a
experiência de se tornar um irmão ou irmã é considerado um evento de muito estresse para as
crianças no início da infância, pelo fato de que as rotinas familiares quantos aos
relacionamentos começam a tomar dimensões inesperadas. Ou seja, o colo da mãe e atenção
do pai podem não estar mais tão disponíveis a criança como antes do nascimento do bebê.
De acordo com os autores, as reações mais comuns ao nascimento de um irmão ou
irmã, incluem hostilidade ou agressão para o bebê ou a mãe, regressão em algumas áreas do
funcionamento, e esforços aumentados para chamar a atenção. Para a maioria das crianças o
nascimento de um novo irmão ou irmã será difícil, pelo menos por algum tempo. Neste
momento, surge o aparecimento do ciúme e da rivalidade que necessitam ser apoiados e
compreendidos pelos pais para que os filhos consigam lidar com estes sentimentos de cólera e
ciúmes para se desenvolverem junto com a família.
Sobre o nascimento de um irmão ou irmã prematuro ou com um sério problema,
Trause e Irvin (1992) afirmam que mesmo com toda a dificuldade da adaptação das crianças
ao nascimento de um irmão ou irmã saudável, a termo, geralmente, podem ser apoiarem nos
pais compreensivos a situação para que estes possam auxiliá-los com seus sentimentos. No
caso do nascimento de um novo bebê prematuro ou com sério problema, as crianças tendem a
ter que sustentar um fardo adicional. Ou seja, a feliz expectativa dos pais quanto ao
nascimento de um novo bebê pode mudar, subitamente, para tristeza e preocupação. Assim, as
crianças podem perder a atenção de seus pais, que estão preocupados com seu próprio choque
e pesar. Neste momento, as crianças experimentam a falta de tempo dos pais, depressão e
retraimento destes, tendendo a se transformarem no membro esquecido da família.
Segundo Trause e Irvin (1992) o primeiro impulso dos pais, para proteger suas
crianças da tristeza e confusão, é mandá-las para casa de parentes ou amigos, deixando-as
angustiadas pelo fato de serem separadas de seus pais e do novo membro da família. Neste
caso, o melhor é quando as crianças continuam fazendo parte do ambiente doméstico,
experimentando a realidade junto com sua família.
34
As crianças, em sua maioria, necessitam de garantias dos pais, de que não são
culpados pelos problemas do novo bebê. Dentro deste contexto, as crianças quando levadas
para longe da família podem acreditar que é uma punição por elas terem tido em algum
momento, desejo de que o novo bebê não existisse. Neste caso, é preciso que os pais
reassegurem de que aquilo que aconteceu estava totalmente fora do controle de todos.
Ainda segundo os autores, os outros filhos tendem a se perguntarem, durante muito
tempo, por que isto aconteceu, e ás vezes sente-se culpados por serem normais.
A revisão da literatura mostra que o nascimento de uma criança é considerado um
momento de transição, que exige dos pais a adequação a novos papéis familiares. Com
relação ao nascimento de um filho em situação de deficiência, entende-se que o impacto é
muito maior para o casal e a família, causando uma desestruturação e interrupção no que diz
respeito à estabilidade familiar numa perspectiva circular, na medida em que atinge todo a
sistema familiar.
3 – OBJETIVOS
- Conhecer a história familiar, identificando as fases do ciclo de vida vivenciadas pela família.
- Identificar os subsistemas, fronteiras e o padrão hierárquico da família.
- Conhecer o padrão de relacionamento conjugal e o relacionamento pais/filhos.
- Identificar como são estabelecidos os papéis e funções familiares.
- Conhecer as relações da família com outros sistemas sociais.
41
4 – METODOLOGIA E MÉTODO
12/96
73 62 62
48 38 31
35 31 30
CARLOS
JOVIANA NETO JAQUELINE
WALTER WILLIAM LAURA MATHEUS MARIA
22 13
14 10 2 2
CLÁUDIO NICE
PAULO LUCA MARCOS NANDO ARTHUR
46 35
IVONICE
SUZANA
JANICE NIVALDO ALDO
21 19
KAROLINE
39 42
WESLEY CRISTINA
SD
EDUARDO LUIS
18 16 23
JOANA GABRIEL
THIAGO
LEGENDA DO GENOGRAMA
Homem
Mulher
União Consensual
Namoro
Casamento
Separação do Casal
Filho e Filha
Filhos gêmeos
Pessoas Falecidas
4.2 – Instrumentos
Para a construção dos dados foram utilizados os seguintes instrumentos:
d – Ecomapa (Figura 3): instrumento capaz de identificar os sistemas sociais com os quais a
família se relaciona (escola, igreja, instituições sociais, família de origem, vizinhança, etc).
Permite também identificar a natureza e a intensidade destas relações familiares
(RODRIGUES, 2001).
e – Colagem (Figura 2): instrumento que auxiliou na verificação da imagem que os membros
fazem da família. A colagem é uma técnica não-verbal e lúdica utilizada pela terapia familiar,
com o objetivo de envolver todos os membros da família em torno da atividade de representar
as relações familiares através de figuras recortadas de revistas (VIEIRA, 2005).
4.3 - Procedimentos
Após a qualificação do projeto, o mesmo foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Católica de Brasília, que o aprovou, de acordo com o documento
constante no Apêndice D.
Inicialmente, foi realizado um contato com a Instituição que atendia à família com o
objetivo de apresentar o projeto e solicitar autorização para a realização da pesquisa.
Posteriormente, foi feito contato com a família e o convite para participar da pesquisa. Em
seguida, foram feitos três encontros com a família, em sua própria residência, com duração de
2 horas cada. As atividades realizadas nos encontros foram gravadas em áudio, com a
autorização da família. Foi explicada a necessidade da gravação dos encontros, levando em
consideração a garantia do sigilo dos nomes para preservar a identidade dos membros e o
compromisso de devolver à família os resultados da pesquisa.
46
processo construtivo-interpretativo. Desse modo, a proposta do estudo foi fazer uma análise
detalhada do material adquirido na pesquisa com o intuito de destacar indicadores, para a
construção das Zonas de Sentido.
Os indicadores estão relacionados ao processo de produção da informação, sendo
capaz de produzir um significado por meio da relação que o investigador estabelece, dentro do
contexto do sujeito estudado. É através do conjunto de expressões produzidas pela fala,
produção escrita e observações feitas durante o estudo que é construído as categorias
produzidas no próprio processo de construção do conhecimento e que constituem ferramentas
essenciais para a definição das Zonas de Sentido. Ou seja, as Zonas de Sentido são
caracterizadas pelas construções feitas pelo pesquisador a partir do seu contato com o sujeito
ou grupo pesquisado e com o material por ele produzido, sistematizado nos indicadores.
Zona de sentido 1.2: “Ficamos com receio... mas independente do que viesse, ia ser
meu filho...”: o nascimento de Joana
Zona de sentido 2: Subsistemas, fronteiras e hierarquia
Zona de sentido 2.3: “Com o pai é assime já comigo ele não faz”: a relação pais
/filhos
Zona de sentido 3: “Em Brasília é difícil fazer amizades”: relações da família com
outros sistemas sociais.
49
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta ocasião, Cristina trabalhava e estava morando com os tios e Wesley morava com
um amigo. Quando tinham completado nove meses de namoro, Cristina engravidou e
casaram-se quando estava com três ou quatro meses de gravidez. Ressaltam que o casamento
aconteceu mais pela gravidez do que qualquer outro motivo: “foi assim, esse negócio de casar
foi mais pela gravidez”.
cromossômicas, segundo Brizot e Zugaib (2003) é oferecido na rotina pré-natal, como uma
das grandes contribuições da pesquisa ultra-sonográfica do final do século 20. Esta pesquisa
Wesley afirmaram que não tiveram o interesse em buscar informações sobre o exame para
realizá-lo. O casal não imaginava que Cristina poderia correr algum risco de ter um filho com
Síndrome de Down, principalmente porque ela estava com 26 anos à época e, portanto, não
fazia parte da faixa etária ‘de risco’. Cristina afirma: “porque assim, tem mais risco com a
idade avançada e aí a gente podia tomar um pouco mais de atenção se fosse o meu caso ...”.
1.1 – “Prepara que seu filho vai ser assim”: o nascimento de Thiago
Sobre o nascimento de Thiago, Cristina conta que: “o médico não falou para mim. Ele
falou que ... assim, eu desconfiei assim, eu achei estranho na hora que ele ... porque coloca o
neném em cima da gente, né, pra mostrar pra mãe, né, aí eu vi assim bem puxadinho o olho,
mas a gente não sabia de nada de Síndrome. Ela falou: ‘é a sua cara’. Aí eu falei: ‘por que
esses olhinhos estão puxados? ’. Ele disse: ‘ deve ser o pai’. Eu: ‘não’... ‘e a família?... ’ Aí
não falou mais nada, né?. Aí só depois que mandaram por no meu quarto, né ...”.
“ela foi explicando, falou que ele ia precisar de ajuda para ir ao banheiro, fazer xixi e
lavar as mãos. Então assim, a médica mais ... mais renomada falar daquele jeito ... fiquei
com raiva, com raiva mesmo porque mais que você seja ... por mais ...”. Cristina afirma:
“eu saí chorando do consultório porque ela ainda pegou ... você se lembra? Uma, tipo
uma pasta com bastante foto de criança assim, especiais, com todo o tipo, toda deficiência, tu
lembra? Ela começou a mostrar. Mas aquela ... era a mesma coisa de ela falar: ‘seu filho vai
ser desse jeito ... ‘prepara que seu filho vai ser assim’. Aí tava eu, ele e a minha sogra no
consultório, não foi? Aí ela, do jeito que ela deu a notícia, ela fez só mostrar as fotos e ‘seu
filho vai ser assim, se prepare porque ele vai ser desse jeito”.
Esses dados nos remetem a um estudo realizado em Brasília (ZARANZA, 2008) com
famílias de crianças autistas, onde os pais relataram a falta de habilidade e acolhimento dos
52
Com relação aos sentimentos dos pais ao saberem da deficiência do filho, a mãe
afirma:
Sobre esse momento, o pai conta que em seu trabalho ‘tem uma frase na porta que
dizia sobre amor, fé e esperança’, então a primeira coisa que lhe veio à cabeça no momento do
diagnóstico foi esta frase. Isto lhe deu força para aceitar e cuidar do filho da melhor forma
possível. O casal afirma que teve todo o apoio das famílias de origem e dos amigos e nunca
sentiram rejeição por parte deles. Quanto ao relacionamento entre o casal, afirmam que houve
maior aproximação entre eles.
1.3- “Ficamos com receio ... mas independente do que viesse, ia ser meu filho ...” :
o nascimento de Joana
Quando Thiago estava com dois anos, por indicação da médica que os acompanhava,
tiveram uma filha. Segundo o casal, a médica lhes disse que seria bom para o Thiago ter uma
irmã ou irmão: “ela falava assim que seria bom porque eles copiam muito, né? Costumam
copiar crianças menores, então seria bom prá ele”. Assim, decidiram ter outro filho, mesmo
com receio de que nascesse com Síndrome de Down. A mãe afirma:
“ficamos com receio, porque falavam que a gente corria o risco de ter outro filho
com Síndrome de Down, mas depois que eu fiquei grávida não ... o que viesse ia ser meu
filho”.
Com relação ao medo dos pais de terem outro filho com deficiência, mesmo com todo
o esclarecimento da médica, ainda sim, tinham o receio de que viesse outro filho com
deficiência, mas independente disso, não hesitaram em ter outro filho. Podemos perceber
através da fala dos pais, a existência do amor incondicional pelo filho, só pensaram no que
seria melhor para o desenvolvimento de Thiago. Ou seja, independentemente se viesse outra
criança com deficiência, eles apostaram que tudo ia dar certo, pensando unicamente no bem
estar do filho, até arriscando passar por toda a situação novamente.
Hoje, a família está vivendo a fase do ciclo de vida “família com filhos adolescentes”
(CARTER; MCGOLDRICK, 1995). O pai conta que: “é uma mudança no ciclo, há algum
tempo a gente corria atrás das crianças, hoje a gente tem que estar lembrando, olha... que
vai chegar ... A Joana é mais caseira, então a gente não tem tanta preocupação ...”.
Segundo Carter e McGoldrick (1995) a família vivencia um momento em que as
questões conjugais e profissionais do meio da vida estão em foco e o companheirismo entre
56
estão voltados para os filhos. Neste caso, Wesley fica com a função do sustento do lar e
Cristina cuida da casa e dos filhos.
Segundo Minuchin (1982) o subsistema fraterno, formado pelos irmãos, é o primeiro
laboratório da vida social no que diz respeito às relações com iguais. Neste contexto a criança
aprende a negociar, cooperar e competir no mundo de irmãos. As fronteiras neste subsistema
devem existir para proteger as crianças da interferência dos adultos, porém é necessário
permitir que as mesmas exercitem sua privacidade e a existência de áreas de seu próprio
interesse, dando-lhes autonomia sem que seja minimizado o direito dos pais sobre a educação
dos filhos. Observamos um vínculo forte entre Joana e Thiago. Possuem boa relação, onde há
companheirismo, cooperação, cuidado, proteção e amizade.
O relacionamento entre Thiago e Joana sempre foi muito tranqüilo, segundo os pais,
sem brigas e de muita amizade. “E em momento algum ele (Thiago) sentiu que tinha algum
tipo de regalia. O tratamento era igual”. Desde cedo aprenderam a compartilhar os
brinquedos, os espaços e as brincadeiras juntos. “Nunca brigavam por causa de brinquedo,
sempre brincavam juntos ...”, segundo afirmação da mãe.
Thiago sempre foi cuidadoso e protetor com a irmã. Joana, apesar de sentir ciúme do
irmão, durante a infância, também cuidava dele e o protegia. Hoje o ciúme diminuiu, e ela
consegue entender os motivos do irmão receber alguns cuidados a mais. Joana diz: “Quando
eu era mais nova eu tinha muito ciúme mesmo, agora eu entendo, né?” Em determinado
momento, durante a entrevista, quando a mãe diz que o Thiago foi um ‘presente de Deus’
para ela, Joana pergunta à mãe: “E eu mãe, sou um presente de Deus também?” Neste
momento a mãe responde: “tudo que eu falo para ele eu tenho que falar para ela também”. O
pai explica dizendo que ela tem frustração porque não teve aniversário de 1 ano e o Thiago
teve. O fato é que, a diferença dos dois é de 2 anos e oito dias, então a Joana sempre ficava
‘com o resto da festa do Thiago’. A mãe complementa dizendo que ela teve aniversário de 15
anos na Disney e ele não.
É possível que, para Joana, a experiência de se tornar irmã tenha sido vivida como um
momento de estresse no início da infância, pelo fato de que as rotinas familiares tiveram que
ser, na maioria das vezes, reorganizadas em função do Thiago, devido à sua deficiência. Ou
seja, talvez o colo da mãe e atenção do pai muitas vezes não estivessem tão disponíveis a ela
58
por ser a filha mais nova. Neste caso, percebe-se que a mesma precisou se organizar
internamente para ocupar o lugar de irmã mais velha, perdendo os cuidados e “manhas” que
poderia vivenciar sendo a filha mais nova, que realmente é.
Daí o aparecimento do ciúme e da rivalidade que foram apoiados e compreendidos
pelos pais para que Joana conseguisse lidar com tais sentimentos. Observa-se que em
determinados momentos, Joana experimentou a falta de tempo e atenção dos pais, tendendo a
se transformar no membro esquecido da família. Isso fica claro quando ela pergunta para a
mãe se ela também “é um presente de Deus”. Podemos perceber a insegurança de Joana,
necessitando de garantias dos pais de que também é amada e desejada. Neste caso, é preciso
que os pais reassegurem de que ambos são amados, embora Thiago, pela deficiência,
demande cuidados diferenciados para se desenvolver.
Um cuidado que essas famílias precisam ter é não perder de vista o fato de que os
filhos “que não têm deficiência” não podem ser considerados como mais maduros a ponto de
cuidar e proteger os irmãos deficientes, ou até mesmo de não precisarem tanta atenção dos
pais como os irmãos. Eles precisam ser vistos com suas próprias necessidades e
individualidades, de acordo com a fase de desenvolvimento que estão vivendo. Trause e Irvin
(1992) falam sobre o risco de um irmão com deficiência se tornar um fardo adicional para os
demais irmãos.
Sobre a questão dos ‘limites’ nessa família, Joana afirma que a mãe é quem põe
limites em casa: “Ela é mais durona, porém é mais flexível. O pai é bonzinho, meio termo,
nem bom demais e nem durão demais”. O pai está mais presente quando se trata das saídas da
filha com o namorado. Segundo Joana, nessas horas ‘ele aparece com força’: “é ... e com
força (risos)... coloca a voz no comando...”.
Sobre isso, a mãe afirma: “... é um quartel, né, como se ele tivesse mandando nos
soldados... A filha diz: “é, mas eu obedeço ...”. O pai se defende dizendo: “deve ser também
porque a mãe tá mais direto em casa, ela vai lidando com uma coisa ali, uma coisa aqui e
quando chega o pai é porque o negócio já extrapolou ... eu, vendo que ela já mandou fazer, aí
eu mando ...”. Cristina afirma que os limites são colocados pelos dois. Segundo ela, existem
momentos em que o filho procura mais a mãe e em outros mais o pai.
59
Outra questão que chamou nossa atenção foi uma afirmação dos pais citada na zona
de sentido anterior: “E em momento algum ele (Thiago) sentiu que tinha algum tipo de
regalia. O tratamento era igual”. Mostra a preocupação dos pais em não ‘facilitar’ ou
‘proteger’ o filho de limites por ser deficiente. É importante não perder de vista que a criança
deficiente é, antes de tudo, uma criança com problemas e manhas cotidianas das demais
60
crianças. Glat (1996) enfatiza a importância de diferenciar os problemas que são decorrentes
da deficiência e os problemas que são “normais”, que qualquer pessoa, inclusive os outros
irmãos poderiam ter. Esta diferenciação ajuda a família a não se estruturar em torno do
membro deficiente, impedindo que o mesmo ocupe seu espaço na constelação familiar, sem
privilégios.
2.3 – “Com o pai é assim e já comigo ele não faz”: a relação pais/filhos
Ao final da atividade, quando é perguntado a cada membro sobre como foi para cada
um a realização da atividade, os pais dizem que ‘para a filha foi mais fácil por ela estar na
escola, por isso mais acostumada com este tipo de atividade’. Relataram que buscaram
palavras pela dificuldade de acharem família que representassem a deles. No momento em
que o pai fala sobre como foi para ele, mãe e filha fazem comentário brincalhão sobre o modo
de ele falar. Dizem que ‘ele quer falar bonito, em linguagem técnica, fica rodeando para dizer
61
uma coisa simples’. Joana resume a colagem dizendo: “é, porque assim, todo mundo
participa dessa história ... cada um ... das coisas que acontecem ... tem tudo, tem
companheirismo, carinho, cuidado, proteção ... história de amor ... do mesmo grupo ...”.
De acordo com Minuchin (1982) Joana seria a filha parental, ou seja, a filha, em
determinados momentos, assume uma função que seria do pai ou mãe. Durante a confecção
do genograma a mãe sempre se remetia à filha para responder ou dar alguma informação,
dando a entender que é a filha que possui o controle e o conhecimento acerca da história
familiar, numa relação de complementaridade entre mãe e filha. Na atividade da colagem a
filha mais uma vez, toma o lugar que deveria ser dos pais de conduzirem a atividade.
Com relação às díades mãe/filha e pai/filho, observamos que em determinados
momentos estes se unem para lidar com situações adversas no sistema familiar, determinadas
por condições diferentes como gênero, geração ou interesses comuns. Durante a atividade da
colagem e das entrevistas fica clara a formação da díade quando mãe e filha se unem e
zombam do pai através de sorrisos quando o mesmo se coloca diante dos questionamentos da
pesquisadora. Temos também uma relação de “quase irmãos” entre pai e filho com a função
de ter o afeto e uma maior proximidade com o filho.
Figura 2: Colagem
63
3 - “Em Brasília é difícil fazer amizades”: relações da família com outros sistemas
sociais
amizade sincera. Não é tá toda hora junto, né? todos os dias, mas eu acho diferente, diferente
de lá”.
Quanto às atividades de lazer, o pai faz corridas, a mãe faz caminhada, Joana joga
futebol na escola e o Thiago, além de jogar bola na quadra do prédio, assiste futebol na
televisão e joga na internet. Nos finais de semana relatam que freqüentemente, se organizam
com os amigos do trabalho do Wesley e realizam churrasco no clube. Cristina conta: “é mais
final de semana, pra fazer uma coisa diferente, né ... com os amigos, né?” E Wesley
complementa quando fala dos amigos: “é, amigo, amigo ... tem os do trabalho que a gente
tem que fazer aquela social...”.
Com relação ao namorado de Joana, ela relata ser uma relação tranqüila sem nenhuma
desavença com a família. Diz ser uma relação de amor, companheirismo e carinho: “é uma
relação tranqüila, sem nenhuma desavença, né pai? Comigo é de amor, companheirismo,
carinho”. O pai diz em tom de brincadeira: “tirando que ele ocupa o sofá né?... (risos)”.
Thiago acha o namorado da irmã chato e diz que não gosta dele. A mãe concorda com a filha,
embora não tenha dito em linguagem clara.
Apesar da família não ter uma rede social extensa, com relações fora do seu ambiente
familiar, os encontros religiosos fazem parte desta família como uma forma de encontrarem o
bem-estar familiar e apoio espiritual.
Com relação ao trabalho de Wesley, após o nascimento de Thiago sentiu certa
resistência por parte dos colegas em ajudarem de forma compreensiva a família, no que diz
respeito à delicadeza do momento vivido por eles e por vezes na demora de autorizações das
consultas. A partir de então, o significado do trabalho para Wesley é somente o sustento da
família. Ele afirma que em nenhum momento sentiu-se apoiado e acolhido pelo Exército.
66
Figura 3: Ecomapa
FAMÍLIA DE
IGREJA
FAMÍLIA DE ORIGEM DE
ORIGEM DE C.
W.
ESCOLA
TRABALHO
EXÉRCITO
FAMÍLIA
CURSO
39 42 DE
INGLÊS
WESLEY CRISTINA
CONTABILI- SD
DADE
18 16
AMIGOS
JOANA
THIAGO
AMIGOS/
VIZINHOS
NAMORADO
AULA DE
REFORÇO PRIMOS
APAE
Relação Fraca
Relação Forte
67
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou conhecer a dinâmica de uma família com um filho com Síndrome de
Down, enfocando alguns aspectos da dinâmica familiar. Estudamos algumas dimensões da
dinâmica familiar no tocante à história familiar, identificando as fases do ciclo de vida
vivenciadas pela família, os subsistemas, as fronteiras e o padrão hierárquico da família.
Foram objetos de nossa pesquisa também, conhecer as relações da família com outros
sistemas sociais, o padrão de relacionamento conjugal e o relacionamento pais e filhos, assim
como o estabelecimento de papéis e funções familiares dentro do contexto familiar. A
abordagem sistêmica contribuiu de maneira significativa para ampliar os conhecimentos e o
entendimento sobre a dinâmica de uma família com um filho com Síndrome de Down.
Acreditamos que os objetivos da pesquisa foram alcançados, uma vez que a partir dos
resultados foi possível conhecer alguns aspectos da dinâmica familiar, contribuindo com o
conhecimento sobre o tema e possibilitar aos profissionais que trabalham com essa clientela
prestar melhor assistência as famílias. Os dados sugerem alguns aspectos encontrados na
família pesquisada que foram comuns aos mostrados pela literatura escolhida e estudada,
como o despreparo de profissionais ao lidar com a família no momento do diagnóstico do
filho; a religião como ajuda na aceitação da deficiência; a importância da família para o
desenvolvimento saudável do filho; o sentimento negativo dos pais diante do diagnóstico; o
relacionamento entre irmãos marcado por ciúmes; o relacionamento restrito com outros
sistemas sociais; a reestruturação e adaptação como aspectos fundamentais para o
estabelecimento de limites, regras e definição de papéis e funções dentro do contexto familiar.
É interessante notar que mesmo com todos os avanços da medicina, ainda encontramos
profissionais despreparados no que diz respeito à falta de habilidade e acolhimento no
momento de informar o diagnóstico de deficiência dos filhos. Esta dificuldade pode afetar
diretamente as crianças com deficiência, uma vez que se os pais não são informados e
assegurados do tratamento necessário para seus filhos, podendo tornar tardia uma intervenção
que deveria ser precoce.
Outro aspecto que pontuamos refere-se à aceitação dos pais quando nasce uma
criança com deficiência. Este é um momento de extrema delicadeza que irá envolver todos os
sonhos e planos para o filho ideal, sendo fundamental, além dos pais terem que lidar com as
expectativas frustradas em relação ao nascimento do filho deficiente, terá também que dar
68
conta da função parental de maneira saudável para que o desenvolvimento do filho transcorra
da melhor maneira possível, dentro da limitação de cada um.
A utilização do estudo de caso, como meio de investigação, teve grande importância,
uma vez que possibilitou um conhecimento aprofundado da dinâmica e história familiar, pelo
fato de favorecer o acesso diferenciado, nos apresentando simultaneamente a constituição
subjetiva da própria história da família e não uma simples repetição da realidade social em
que os participantes da família vivem.
Por fim, esse estudo, além de contribuir para a compreensão da importância da família
no que diz respeito ao nascimento de um filho com deficiência, busca questionar o despreparo
dos profissionais no momento do diagnóstico de maneira tão intensa e atual, prejudicando não
só a pessoa em situação de deficiência, mas todos os familiares que estão envolvidos,
necessitando de explicações e tornar-se seguros para buscar os melhores e mais adequados
atendimentos para o filho.
Em relação a estudos futuros, consideramos necessários aqueles que abordassem a
questão religiosa como enfrentamento para aceitar o filho com deficiência. Também seria
muito interessante a realização de um estudo que focalizasse somente o pai, uma vez que a
revisão bibliográfica nos trouxe poucos dados a respeito da relação do pai com o filho com
Síndrome de Down.
69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO, A.M.W; DESSEN, M.A. Crianças surdas e suas famílias: um panorama geral.
Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v.12, n. 2, p. 429-445, 1999.
BRIZOT. M. L.; ZUGAIB. M. A translucência nucal deve ser solicitada na rotina pré-natal.
Resvista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v.49, n.4, 2003.
DESSEN, M.A; BRAZ, M.P. Rede social de apoio durante transições familiares decorrentes
do nascimento de filhos. Psicologia Teoria e Pesquisa. v. 16, n.3, p. 221-31, 2000.
ELKAIM, M. Panorama das terapias familiares. Tradução Eleny Corina Heller. São Paulo:
Summus, 1998.
IRVIN, N. A., KENNELL, J.H.; KLAUS, M.H. Atendimento aos pais de um bebê com
malformação congênita. In: KLAUS, M.H.; KENNELL, J.H (orgs). Pais e bebês: a
formação do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
PUESCHEL, S. M. Síndrome de Down: Guia para pais e educadores. São Paulo: Papirus,
1999.
TRAUSE. M. A.; IRVIN, N. A. Atendimento aos irmãos. In: KLAUS, M.H.; KENNELL, J.H
(orgs). Pais e bebês: a formação do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
APÊNDICE A
Você e sua família, incluindo seus filhos, estão sendo convidados a participar de uma
pesquisa que vai estudar a dinâmica de uma família com um filho com Síndrome de Down. O
objetivo é conhecer alguns aspectos da dinâmica dessa família, como sua história nas
diferentes fases do ciclo de vida, os relacionamentos pais e filhos e as suas relações sociais.
Por favor, leia cuidadosamente o que se segue e quaisquer dúvidas serão respondidas
prontamente. Este estudo será conduzido por Luciene Pires de Araújo Lins, aluna do
Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, e será orientada
pela Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro. Sempre que quiser, você poderá pedir
informações sobre a pesquisa, entrando em contato com a pesquisadora, pessoalmente, ou
pelo telefone: 91625951. Caso você concorde em participar da pesquisa, você e sua família
participarão das seguintes atividades: entrevistas semi-estruturadas com a família; elaboração
do genograma e ecomapa familiar e colagem. Essas atividades serão realizadas em três
encontros, com duração de duas horas cada, na própria Instituição onde seu filho é
acompanhado. Caso você concorde, esses encontros serão gravados em áudio.
Você e sua família não terão nenhum benefício direto ao participar da pesquisa.
Entretanto, esperamos que esta forneça informações importantes sobre a dinâmica de famílias
que possuem um filho com Síndrome de Down, que poderão contribuir para um melhor
atendimento e acompanhamento dessas famílias. Você e sua família não terão nenhum tipo de
despesa com a pesquisa, bem como nada será pago pela participação de vocês.
EU.........................................................................Identidade.................................,
declaro que fui informado e devidamente esclarecido sobre o projeto de pesquisa intitulado
“A criança com Síndrome de Down e sua família: um estudo sobre a dinâmica familiar de
acordo com a perspectiva sistêmica”, que será desenvolvido por Luciene Pires de Araújo Lins,
aluna do Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, e
orientada pela Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro.
Declaro que, após ser esclarecido pela pesquisadora a respeito da pesquisa, consinto
voluntariamente com minha participação e de minha família nesta pesquisa.
Brasília.......de.......................2010
Nome:...............................................................................
RG:............................Data de nascimento:...../........./........
Endereço:.................................nº.......Apto:...............
Bairro:.............................cidade:....................CEP:.........Tel:.......
..............................................................
Assinatura do representante da família
75
APÊNDICE B
5. Sobre a Síndrome
Quando foi diagnosticada a Síndrome
Quem informou o diagnóstico
Quem estava presente no momento da informação
Quais os tipos de acompanhamento seu filho já realizou, e por quanto tempo
76
APÊNDICE C
2. Dados escolar
4. Anamnese social
5. Vida social
7. Comportamento
8. Nível cultural