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U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES

CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA


PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

MATERIAL DIDÁTICO

FUNDAMENTOS DE BIOFÍSICA

Impressão
e
Editoração

0800 283 8380


www.ucamprominas.com.br
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3

UNIDADE 1 – BIOFÍSICA – EVOLUÇÃO, INTER-RELAÇÕES DA


CONTEMPORANEIDADE E URGÊNCIA DO AVANÇO
TECNOLÓGICO/CIENTÍFICO .................................................................................... 5

UNIDADE 2 – O QUE SE ENSINA E O PORQUÊ DA BIOFÍSICA .......................... 10

UNIDADE 3 – MEDIDAS, PADRÕES, GRANDEZAS, GRÁFICOS E ESCALAS .... 14

UNIDADE 4 – BIOMÊCANICA ................................................................................. 27

UNIDADE 5 – BIOELETRICIDADE .......................................................................... 31

UNIDADE 6 – BIOACÚSTICA .................................................................................. 36

UNIDADE 7 – BIOFÍSICA ÓPTICA .......................................................................... 43

UNIDADE 8 – BIOFÍSICA DAS RADIAÇÕES IONIZANTES ................................... 47

UNIDADE 9 – A ESSÊNCIA DA PRÁTICA EM BIOFÍSICA ..................................... 55

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 63
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INTRODUÇÃO

A alegria não chega apenas no encontro do achado,


mas faz parte do processo da busca.
E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,
fora da boniteza e da alegria
Paulo Freire

O ensino de ciências e o uso das novas tecnologias precisam caminhar


juntos, não como um fim em si mesmo, mas para preparar os profissionais para os
diversos desafios que irão encontrar ao longo de suas carreiras.

No tocante à Biofísica, esta disciplina ou ainda “cadeira” como dizem em


algumas universidades, é ministrada para vários cursos, principalmente os da área
de Biologia e Saúde, sempre adaptando os seus conteúdos à realidade de cada
curso, geralmente focando o estudo dos seres vivos em suas partes mais
minúsculas, as moléculas. Da Biofísica surgiu a nanotecnologia que vem
revolucionando as Ciências Médicas, novas oportunidades, métodos, terapias,
diagnósticos de doenças com base no conhecimento das estruturas moleculares,
passaram a ser desenvolvidos.

A Biofísica também examina fenômenos em ecossistemas completos, para o


que se tornam necessários conhecimentos da física do cotidiano e, claro, como
aplicá-la na natureza e na biologia.

Como intitula a apostila, veremos os fundamentos da Biofísica, entendendo


por fundamentos as razões, os motivos, as justificativas, os argumentos, enfim, as
bases dessa área de conhecimento, por isso, propomos inicialmente algumas
reflexões acerca das inter-relações da biologia e da física, que na verdade agregam
matemática e química e sua urgência em virtude dos avanços tecnológicos e
científicos. Na sequência, daremos algumas pinceladas nas unidades, padrões,
grandezas e escalas usuais por esse profissional. O que se ensina, e o porquê se
ensina biofísica, faz parte da terceira unidade.
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Para cada um dos conteúdos a seguir dedicamos uma unidade, de antemão,


já avisamos que o assunto não se esgota: biomecânica, bioeletricidade, bioacústica,
biofísica óptica, biofísica das radiações ionizantes.

Teoria e prática são indissociáveis, portanto, dedicamos a última unidade


justamente para mostrar, além dos objetivos, comportamentos, aparelhos e
utensílios de uso mais frequente nos laboratórios e a preparação de soluções,
algumas práticas que envolvem as relações da física com a biologia, e claro, a
química permeia ambas, afinal de contas, a indissociabilidade deveria ser uma das
características de qualquer disciplina.

A prática nada mais é do experimentar o que foi visto na teoria e não há


maneira mais clara, estimulante e eficiente de se proceder à aprendizagem e ao
aprimoramento de conceitos, além de auxiliar o professor a mapear os
conhecimentos e dificuldades de determinado grupo de alunos sobre igualmente,
determinados temas estudados.

Duas observações se fazem necessárias:

Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa


ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença
para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para
que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.

Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se
tratando, portanto, de uma redação original.

Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se


muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos.
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UNIDADE 1 – BIOFÍSICA – EVOLUÇÃO, INTER-RELAÇÕES


DA CONTEMPORANEIDADE E URGÊNCIA DO AVANÇO
TECNOLÓGICO/CIENTÍFICO

Apontamentos de Roque (2014) dizem que o termo “biofísica” foi usado pela
primeira vez na literatura científica pelo matemático e estatístico inglês Karl Pearson
em seu livro ‘The Grammar of Science’, publicado em 1892.

Segundo Pearson: “O leitor pode acreditar que nossa classificação [das


ciências] está agora completa, mas há ainda um ramo da ciência ao qual é
necessário nos referirmos.” Pearson explica que, aparentemente, não há nenhuma
ligação entre as ciências físicas e biológicas e sugere que “um ramo da ciência,
portanto, é necessário para lidar com a aplicação das leis dos fenômenos
inorgânicos, ou física, ao desenvolvimento das formas orgânicas”. Ele propõe que
esse novo ramo da ciência seja chamado de “bio-física”.

Mesmo antes do aparecimento do termo “biofísica”, alguns cientistas já


faziam algo que se poderia chamar de biofísica.

Para Roque (2014), o surgimento da biofísica se dá a partir dos


experimentos do físico italiano Luigi Galvani (1737-1789), com sapos, na década de
1780. Nesses experimentos, Galvani conectava os nervos que controlam os
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membros inferiores de um sapo a fios condutores expostos a correntes elétricas


(provocadas por raios, por exemplo).

Galvani mostrou que a eletricidade produzida pelos raios podia provocar


contrações nas pernas do sapo e esta foi a primeira evidência experimental de que
um fenômeno observado apenas em seres vivos (movimento de membros) podia ser
controlado por um fenômeno puramente físico (uma descarga elétrica).

No século XIX, vários físicos e médicos se dedicaram à aplicação da física


na explicação de fenômenos fisiológicos. Em particular, o físico e médico alemão
Hermann von Helmholtz (1821-1894), destacou-se por seus estudos sobre
percepção sensorial e neurofisiologia, sendo o primeiro a determinar a velocidade de
propagação de um estímulo por uma fibra nervosa (ROQUE, 2014).

Já no século XIX, os princípios da Física estabelecidos por Isaac Newton


começaram a ser aplicados nas Ciências Biológicas, tendo a posteriori (década de
1940) nos alemães, os pioneiros que integraram Física e Biologia na Escola Alemã
de Fisiologia, facilitando as pesquisas do neurofisiologista Emil DuBois-Reymond,
que descreveu as descargas elétricas nos neurônios. Esse foi o início de novas
possibilidades para a ciência, especialmente utilizando a bioeletricidade (FIOCRUZ,
2014).

Mas, é no século XX que a biofísica ganhou grande impulso após a


publicação, em 1944, do livro escrito pelo físico austríaco e prêmio Nobel de física
Erwin Schrödinger (1887-1961) “What Is Life? The Physical Aspects of the Living
Cell” (edição brasileira: “O que É a Vida? O aspecto físico da célula viva”. Editora da
UNESP, São Paulo, 1997).

Outros eventos marcantes citados por Roque (2014) são:

 em 1946, o Conselho de Pesquisas Médicas do Reino Unido (Medical


Research Council – MRC) cria a Unidade de Pesquisa em Biofísica
(Biophysics Research Unit – BRU) do King’s College de Londres. Esta
unidade foi a primeira a contratar físicos, biólogos e químicos para trabalhar
em problemas de interesse biológico;

 o físico inglês Maurice Wilkins (1916-2004) e a química inglesa Rosalind


Franklin (1920-1958) estavam entre os primeiros contratados da Unidade de
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Biofísica do King’s College e lá eles começaram a usar difração de raios-X


para analisar a estrutura da molécula de DNA;

 em 1953, o físico inglês Francis Crick (1916-2004) e o biólogo americano


James Watson (1928-), que trabalhavam na época no Laboratório Cavendish
da Universidade de Cambridge, usaram os dados experimentais de Franklin
para propor seu famoso modelo para a estrutura em dupla hélice do DNA;

 em 1958, foi fundada a Biophysical Society, para “encorajar o


desenvolvimento e a disseminação do conhecimento em biofísica”
(http://www.biophysics.org).

A partir daí, a biofísica cresceu e se diversificou enormemente. Novos


campos surgiram, por exemplo, a neurociência (termo criado em meados da década
de 1960), levando ao aparecimento de novas especialidades interdisciplinares,
sociedades e revistas científicas (ROQUE, 2014).

Aqui no Brasil, Carlos Chagas Filho se especializou em Física Biológica na


Fundação Oswaldo Cruz e foi o primeiro a estudar as curiosas correntes elétricas do
peixe-elétrico (Electrophorus eletricus) conhecido como Poraquê da Amazônia
(FIOCRUZ, 2014).

Quanto à inter-relação dessa disciplina, Guimarães (2010) na introdução de


sua dissertação de Mestrado, explica sem muitas delongas, de maneira clara,
objetiva e interessante, a importância das relações entre Física e Biologia e suas
implicações para o mundo pós-moderno em que os avanços tecnológicos exigem
cada vez mais conhecimentos e competências dos cientistas para, além de
desvendarem os mistérios desse mundo ‘micro’, na realidade, ‘nano’, aplicarem
esses conhecimentos em prol de toda humanidade, seja na área de saúde, seja para
os negócios.

Como ele explica, nossa sociedade atual, em constante avanço, exige


criação de postos de trabalho com profissionais que dominem muito mais que os
conhecimentos. Estes profissionais generalistas e ao mesmo tempo especialistas
precisam, cada vez mais, trabalhar de maneira interdisciplinar.

No que se refere à Biologia e à Física, a relação entre ambas torna-se cada


vez mais presente e importante no cenário educacional. O avanço científico ocorre
de várias maneiras, talvez a mais importante delas seja a comunicação entre as
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diversas áreas do conhecimento gerando resultados que podem ser úteis em uma
grande variedade de situações. A Biologia, constantemente, faz uso de conceitos e
técnicas de outras áreas, incluindo a física, mesmo possuindo seus próprios
métodos de pesquisa e coleta de dados. Esta conexão entre áreas ocorre também,
por meio do intenso uso de aparelhos para exames de diagnóstico, na sua maioria
baseados em princípios físicos (GUIMARÃES, 2010, p. 15).

A verdade é que, como diz Corso (2009) tornou-se já senso comum afirmar
que o século XX foi da física e o XXI será da biologia. Palavras com o prefixo bio são
criadas a todo o momento: biotecnologia, bioinformática, biorremediaçaão,
biomecânica, bioindicador, bioestatística. Envolta em manto de mistérios a partícula
semântica bio fascina e encanta.

Mas voltemos à Educação Básica, só por um momento, por favor...

Que o processo de aprendizagem é sempre um desafio para os educadores


não temos dúvida. Que é mais do que um desafio para certos educandos também
temos como certo! Entretanto, no tocante à Biologia, ela pode ser uma das
disciplinas mais relevantes e merecedoras de atenção dos alunos, dependendo, é
claro, do que será ensinado e como.

Se pensarmos no educando e na forma destes se relacionaram com os


conteúdos, alguns deles se preocupam apenas com os resultados dos estudos
traduzidos pela nota ou conceito; outros buscam aprofundar o estudo e analisar para
atingir uma visão mais ampla.

Krasilchik (2005, p. 12 apud ROSSASI e POLINARSKI, 2008, p. 3) descreve


quatro níveis de alfabetização biológica:

 1º nível: Nominal – quando o estudante reconhece os termos, mas não sabe


seu significado biológico;

 2º nível: Funcional – quando os termos memorizados são definidos


corretamente, sem que os estudantes compreendam seu significado;

 3º nível: Estrutural – quando os estudantes são capazes de explicar


adequadamente, em suas próprias palavras e baseando-se em experiências
pessoais, os conceitos biológicos;
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 4º nível: Multidimensional – quando os estudantes aplicam o conhecimento e


habilidades adquiridas, relacionando-as com o conhecimento de outras áreas,
para resolver problemas reais.

Os alunos ao concluírem o Ensino Médio deveriam atingir o 4º nível de


alfabetização biológica, conforme indicado na citação anterior. Assim, além de
compreender os conceitos básicos da disciplina, eles devem estar capacitados a
articular o seu pensamento de forma independente, aplicando seu conhecimento na
vida e intervindo para resolver problemas.

É isso que esperamos de você, educador, que comprometido com sua práxis
se empenhe para que esses alunos possam atingir o esperado. Aprofundar os
conteúdos, promover seminários, grupos de estudos, aulas em laboratório, utilizar
outros recursos como a resolução de problemas, trabalhar por projetos,
contextualizar/relacionar situações cotidianas são apenas algumas sugestões de
métodos que podem fazer uso para motivá-los e instigá-los.
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UNIDADE 2 – O QUE SE ENSINA E O PORQUÊ DA


BIOFÍSICA

Antes de analisarmos o que se ensina na Biofísica e o porquê dessa


disciplina, vamos defini-la da maneira mais simples possível!

A biofísica é a física da biologia, assim como a astrofísica é a física da


astronomia e a física nuclear é a física dos núcleos atômicos.

Uma vez que a física estuda a matéria e a energia, em se tratando da


Biofísica, ela busca entender como as leis da matéria e energia funcionam nos
sistemas vivos.

De maneira geral, ela usa os princípios, teorias e métodos da física para


entender a biologia, e como a biofísica é interdisciplinar, ela encontra espaço e
“companheirismo” também na química e na matemática.

Embora na prática atue e estude “eventos” a nível molecular, ela também


inclui abordagens fisiológicas, anatômicas e ambientais das coisas vivas (ROQUE
2014).

Como disciplina acadêmica, é verdade que a biofísica não possui a mesma


definição clara de outros campos mais antigos e bem estabelecidos. Biofísica pode
significar o estudo de assuntos tão diversos como a estrutura das membranas
celulares, as interações entre as moléculas de DNA e as proteínas que controlam a
expressão gênica, os mecanismos de propagação de sinais no sistema nervoso e a
maneira como uma força é gerada pela contração de um músculo. Ela lida também
com questões relacionadas à formação e à morfologia das organelas celulares e às
forças que influenciam o crescimento dos tecidos biológicos.

A biofísica tenta descobrir as variáveis físicas que determinam as estruturas


estáticas e dinâmicas dos sistemas biológicos. A biofísica também tem a ver com
sinalização e comunicação: por exemplo, a excitação nervosa e a transdução dos
quanta de luz nos fotorreceptores visuais são fenômenos intrinsecamente físicos. O
desenvolvimento da tensão muscular, a locomoção de amebas e as correntes de
movimento no citoplasma também têm que ser explicadas em termos de
quantidades físicas, neste caso energia e força.
11

De maneira similar, a fotossíntese e fenômenos bioenergéticos a ela


relacionados envolvem mecanismos físicos tão básicos que o seu estudo pode ser
chamado de “biofísica quântica”.

Existem outras áreas da biologia e da medicina nas quais conceitos e


metodologias da física desempenham um papel central. Vejamos:

 a biologia das radiações – a interação da radiação ionizante com os materiais


biológicos – é um assunto que historicamente tem sido identificado como uma
área da biofísica;

 a instrumentação para diagnóstico, como detectores ultrassônicos de fluxo


sanguíneo, a tomografia computadorizada e o imageamento por ressonância
magnética envolvem técnicas físicas;

 os novos usos da espectroscopia biológica também frequentemente requerem


um conhecimento profundo de vários tópicos das ciências físicas (NOSSAL;
LECAR, 1991 apud ROQUE, 2014).

Corso (2009) também justifica conjuntamente o que e o porquê do ensino da


Biofísica:

 um médico precisa conhecer a lei de Bernoulli e a transição do regime laminar


para o turbulento para entender os sons pulmonares e cardíacos;

 também relacionado ao sistema circulatório, a velocidade do sangue na saída


do coração pode ir a 30 cm/s e nos capilares não passa de 0,3 mm/s o que se
explica pela conservação da vazão em sistemas em série e paralelo;

 para se entender a queda de pressão ao longo do sistema circulatório (e o


motivo de possuirmos afinal um coração) é preciso saber o que são fluidos
reais e o que é a viscosidade;

 no sistema auditivo ela também se faz presente no conceito de impedância


acústica, pois o som com o qual nos comunicamos se propaga no ar, mas o
corpo humano é constituído principalmente de água que possui uma
impedância acústica muito maior do que o ar, devido a isto, a maior parte da
energia da onda sonora vinda do meio exterior é refletida no ouvido ao invés
de ser transmitida para dentro do crânio. Desta forma, o nosso sistema
auditivo, ao longo de sua história evolutiva, teve que desenvolver
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mecanismos de ganho extraordinários para compensar esta perda.


Curiosamente, a audição nos organismos aquáticos não enfrenta este
problema, sendo então muito mais simples do ponto de vista anatômico e
fisiológico;

 também vêm da Biofísica os conceitos de pressão osmótica para entender o


funcionamento do rim e da troca de fluidos através das membranas, refração
da luz no olho, difusão e diferença de potencial na membrana celular, pressão
parcial de gases e difusão no sistema respiratório, pressão em fluidos na
descrição da medida da pressão cardíaca, ou alavancas na compreensão da
biomecânica do sistema esquelético muscular;

 a intensidade da onda (ou radiação), que possibilita o entendimento de escala


decibel em acústica, da sensibilidade visual em fisiologia da visão, e da
radioproteção em radiobiologia vem da Biofísica.

Vale ressaltar que os conhecimentos adquiridos pelas diversas disciplinas


(física, biologia, matemática e química) precisam ser articulados, detectando-se o
que é relevante e fundamental, o que é secundário de cada disciplina.

Tanto Corso (2009) quanto Angotti (1993) citados por Guimarães (2010),
destacam a importância dos conceitos como “construtos dialéticos por excelência”1 e
exemplificam o que, no trabalho do professor, chama-se de interdisciplinaridade: um
convite a ações comuns, articulação entre os conteúdos da Física e da Biologia.

Deve-se levar também em consideração que a Física de Superfícies


(capilaridade e tensão superficial) e a Física Nuclear (radioproteção) são importantes
para alunos de Biologia e de Engenharia, embora as aplicações sejam, na sua
maioria, bastante diversas. O mesmo pode ocorrer com o ensino de Estática e
Eletromagnetismo, pois a Estática é importante para o fisioterapeuta entender os
princípios da Biomecânica enquanto que o Eletromagnetismo tem relevância em
exames e tratamentos fisioterápicos. Os exemplos acima citados têm o objetivo de

1
A construção dialética do conhecimento implica uma relação também dialética entre o professor e o
aluno, a percepção do aluno dentro do processo de ensino e aprendizagem como um sujeito
autônomo, alguém que seja capaz de construir uma relação significativa no processo de elaboração
do conhecimento com o professor (GUIMARÃES, 2010, p. 24)
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ressaltar quais tópicos da Física podem ser usados com enfoque em algumas áreas
da Biologia.

Já a Biologia Experimental faz uso intensivo de aparelhos e técnicas


experimentais que têm como sua base de conhecimento a Física, a Engenharia e a
Química. Para a ecologia, temos a Física do Meio Ambiente. Segundo documentário
da Discovery – (EARTH 2100) – Wild Weather Ahead, de 2007, com o título em
português de “A Terra em Cem Anos” (arquivo próprio), há um simulador
denominado Simulador Terrestre que se encontra em Yokohama, no Japão. Esse
supercomputador é um dos mais velozes do mundo, visto que consegue processar
dados com velocidade de trinta e cinco trilhões de cálculos por segundo. São na
verdade cinco mil computadores interligados prevendo padrões do clima terrestre
nos próximos cem anos. Inclusive, segundo o documentário, foi previsto um desastre
natural, em Santa Catarina, em agosto de 2004, onde ocorreria a passagem do
primeiro furacão em nosso litoral. O documentário apresenta relato de
meteorologistas de todo o mundo, inclusive do brasileiro Clóvis Correa. Essa
tempestade, batizada de furacão Catarina, matou 11 pessoas, destruiu casas e
danificou milhares de outras. Exemplos como estes indicam que o trabalho
interligado de várias ciências como a Matemática, a Física, a Biologia e a
Engenharia, além de produzir avanços no conhecimento, podem gerar bons frutos
para toda a sociedade (GUIMARÃES, 2010).
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UNIDADE 3 – MEDIDAS, PADRÕES, GRANDEZAS,


GRÁFICOS E ESCALAS

Se estamos falando em Física, nada mais coerente do que lembrarmos das


unidades de medidas, os padrões, as grandezas, os gráficos e escalas tão usuais e
essenciais aos físicos que são transportados para a Biofísica.

Uma vez que estamos tratando dos fundamentos da Biofísica, eles não
poderiam ficar à margem dessa apostila, mas atentamos para o seguinte: são
noções básicas, certo?

Vários são os métodos e princípios da física utilizados para se chegar a


generalizações quantitativas de observações nas ciências biológicas, utilizando-se
ferramentas matemáticas fundamentais e princípios de outras ciências quando
necessário.

Durán nos explica com muita propriedade! Vamos lá:

Geralmente, a ciência procura estabelecer relações entre conjuntos de


observações, com as quais tenta desenvolver generalizações e, a partir disso,
elaborar conceitos teóricos para as interpretações. As observações e comparações
quantitativas, geralmente nos levam a generalizações quantitativas, hipóteses e
teorias quantitativas.

A dificuldade para se fazer generalizações quantitativas está diretamente


relacionada com as observações feitas, que muitas vezes são bastante complexas,
mas é justamente isso que torna as ciências uma permanente fonte de
conhecimentos. As leis do movimento de Newton, a teoria atômica de Dalton e a
elaboração dos princípios da hereditariedade de Mendel são exemplos notáveis de
que as generalizações, a partir de observações, deram origem a conhecimentos
importantíssimos.

Quando fazemos um conjunto de observações, ou seja, um experimento,


dados similares poderão ser obtidos outras vezes se o experimento for repetido nas
mesmas condições. A generalização sempre é consequência de uma série de
experimentos similares. Na prática, é difícil garantir que dois experimentos sejam
exatamente iguais em todas as variáveis, de modo que não podemos assegurar
resultados exatamente iguais. Os dados numéricos deverão variar dentro de uma
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faixa, o que é denominado erro experimental, e as generalizações deverão levar em


conta este erro ou incerteza.

A física e a química, ciências com grande tradição experimental, apresentam


generalizações baseadas em resultados com um bom grau de reprodutibilidade, pois
na maioria dos casos, a incerteza pode ser reduzida a proporções desprezíveis. Já
na biologia, o problema da incerteza é bastante sério, pois a maioria das
experiências é feita com organismos vivos, que são altamente complexos, o que
gera resultados altamente variáveis, ou seja, como a incerteza é muito grande, é
difícil a reprodução exata de uma experiência.

Para minimizar o problema, reduzir essa incerteza, seria uma providência


imediata, porém a tarefa de identificar e controlar todas as fontes de incerteza é algo
impossível. Além disso, seria um risco muito grande supor que qualquer organismo-
padrão possa representar toda uma espécie ou população. Ante essa realidade,
devemos procurar meios para conduzir nossos experimentos, apresentando
observações e analisando os resultados de maneira que possamos extrair
conclusões com uma precisão conhecida.

Técnicas experimentais e métodos teóricos típicos da física e da química


são extremamente úteis para as generalizações quantitativas feitas na biologia.
Procuramos sempre garantir que as incertezas tenham uma influência mínima em
nossas observações, e, muitas vezes, só o fato de conseguirmos identificar as
prováveis fontes da incerteza, permite que estas generalizações quantitativas
constituam uma contribuição importante no entendimento da biologia.

Nas ciências biológicas, as observações experimentais, que requerem


justificativas bastante detalhadas, para se chegar a generalizações quantitativas,
exigem um conhecimento muito claro dos fundamentos do cálculo vetorial,
diferencial e integral, e também de vários princípios da física e da química.

Vamos ao básico e que nos interessa no momento:

a) Medidas

A generalização de uma série de observações é consequência da repetição


de experimentos similares. Isso exige certa habilidade para medir as grandezas que
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são variáveis do experimento. Para que a quantidade resultante tenha algum


significado, ao se fazer uma medida, sua magnitude deve estar acompanhada da
respectiva unidade. Na biologia, à semelhança do que ocorre na física e na química,
são bastante diversas as grandezas que medimos.

As unidades do Sistema Internacional (SI), ou unidades métricas, são as


mais utilizadas para expressar as medidas de uma grandeza. As unidades básicas
do SI são: o metro (m), o quilograma (kg) e o segundo (s) para medir comprimento,
massa e tempo, respectivamente.

Muitas grandezas derivadas são expressas em termos destas unidades


básicas; por exemplo, as medidas de energia têm como unidades o kg.m2.s-2, que é
denominado joule (J). Algumas grandezas exigem outras unidades básicas, além
daquelas já mencionadas. No SI estas são: o kelvin (K), o ampêre (A), a candela
(cd) e o mole (moI) para medidas da temperatura termodinâmica, da corrente
elétrica, da intensidade luminosa e de quantidades de substância, respectivamente.

Elas se encontram na tabela abaixo.

GRANDEZA UNIDADE SÍMBOLO

Comprimento Metro m
Massa Quilograma kg
Tempo Segundo s
Corrente elétrica Ampère A
Temperatura termodinâmica Kelvin K
Intensidade luminosa Candela cd
Quantidade de substância Mole mol

Algumas vezes, as medidas de uma grandeza são muito pequenas ou muito


grandes quando comparadas com os padrões das unidades básicas do SI, como,
por exemplo, 1 milissegundo (ms) = 10-3 s; 1 quilômetro (km) = 103 m ou 1
microampère (µA) = 10-6 A. Quando estes múltiplos dos padrões vão expressos em
potências de 10, os prefixos das unidades básicas têm nomes específicos, como se
vê na tabela abaixo, lembrando que esses prefixos também são aplicáveis a
qualquer outro tipo de unidade.
17

PREFIXO SÍMBOLO POTÊNCIA DE 10


12
tera T 10
9
giga G 10
6
mega M 10
3
quilo k 10
-2
centi c 10
-3
mili m 10
-6
micro µ 10
-9
nano n 10
-12
pico p 10
-15
femto f 10

As medidas de grandezas também podem ser expressas em unidades não


pertencentes ao SI, e em unidades derivadas, ou seja, unidades criadas a partir das
unidades básicas do SI.

b) Padrões

Sempre que medimos uma grandeza estamos comparando-a com o


respectivo padrão de referência. Este padrão é a unidade da grandeza. Quando o
sistema métrico foi estabelecido, a unidade de comprimento metro foi definida como
10-7 vezes a distância do Equador ao Polo Norte, medido ao longo do meridiano que
passa por Paris; posteriormente, em 1889, a Conferência Geral de Pesos e Medidas,
considerando que todo padrão unitário deve ter durabilidade e reprodutividade,
definiu o metro como a distância entre dois traços paralelos sobre uma determinada
barra de platina iridiada.

Durán (2003) explica que os inconvenientes deste padrão unitário eram ter
de se fazer muitas réplicas do objeto, para disponibilizá-las a outros países, e de ser
necessário comparar periodicamente estas réplicas com o padrão internacional.
Assim, em 14 de outubro de 1969, a Conferência Geral alterou a definição deste
padrão internacional, utilizando uma unidade natural de comprimento baseada na
radiação atômica. É aceito agora, como padrão de medida de comprimento, o
comprimento de onda da luz vermelho-alaranjada emitida pelos átomos excitados do
isótopo criptônio 86. Foi definido que exatamente 1 650 763,73 comprimentos desta
18

onda constituem 1 metro. Este padrão pode ser reproduzido em muitos laboratórios
do mundo inteiro, evitando assim a necessidade de deslocamento, para fazer
comparações com um padrão.

O padrão de massa, por sua vez, é um cilindro de platina iridiada, definido


como um quilograma. Infelizmente, ainda não foi adotado um padrão atômico de
massa, tal como se fez com o padrão internacional de medida de comprimento.
Certamente, quando houver condições tecnológicas para se poder determinar com
precisão a massa do quilograma-padrão, em termos de uma massa atômica-padrão,
uma nova definição deverá surgir.

O padrão de tempo é o segundo, que originalmente foi definido como o


tempo igual a 1/86400 de um dia solar médio. Esta definição não era muito
conveniente para trabalhos de alta precisão, por depender da velocidade de rotação
da Terra. Em 1967, foi estabelecida uma unidade natural para o tempo, que, assim
como a definição do padrão de comprimento, é um padrão atômico. Desta vez foram
utilizadas as características vibracionais do elemento césio 133. Atualmente, um
segundo é definido como o tempo necessário para que o césio realize 9.192.631.770
vibrações completas.

Ressaltemos que as medidas nunca são feitas com precisão absoluta.


Suponha que pretendemos medir a massa de uma tartaruga. Dispomos de uma
balança graduada de 1 em 1 g. Esta balança fornece com precisão o valor da
medida em gramas, e qualquer fração dessa unidade deverá ser estimada. Assim,
para expressar nossa medida, esta deverá conter todos os algarismos precisos mais
o algarismo estimado.

Os algarismos que compõem o resultado de uma medida são chamados de


algarismos significativos. Deles fazem parte todos os algarismos precisos mais um e
somente um algarismo estimado. É sobre este último que incide o desvio absoluto
da medida.

Observem:

1. Os zeros à esquerda do primeiro algarismo não nulo não são


significativos, pois o número de algarismos significativos não depende da unidade
adotada.
19

Assim, a medida (7,5 em = 0,075 m = 0,000075 km = 75x103 µm) tem só


dois algarismos significativos nos quatro casos acima.

2. Os zeros à direita do último algarismo não nulo serão significativos se


indicarem um valor realmente medido. Assim, a medida 0,0750 m tem três
algarismos significativos e 7,5000 tem cinco algarismos significativos.

Para medir uma grandeza, podemos fazer apenas uma ou várias medidas
repetidas, dependendo das condições experimentais particulares ou ainda da
postura adotada frente ao experimento.

Em qualquer caso, deve-se extrair do processo de medida um valor que


melhor represente a grandeza e ainda um limite de erro, dentro do qual deve estar
compreendido o valor real.

Teremos uma precisão maior quanto menor for o desvio absoluto. Sempre é
desejável obter a maior precisão possível. Se, ao fazer a medida de uma grandeza,
encontrarmos um desvio absoluto muito grande e o diminuirmos arbitrariamente,
então essa redução arbitrária da faixa de desvio lança dúvidas sobre a certeza de
que o valor da medida feita estará dentro da nova faixa de valores, pois esta se
tornou mais estreita. Portanto, precisão e certeza estão relacionadas, e não
podemos modificar arbitrariamente uma delas sem que a outra seja modificada.
Vejamos, com um exemplo, como esta relação aparece quando lidamos com várias
medidas de uma mesma grandeza:

Para fazer medidas, sob condições de repouso, do potencial de Nernst


devido aos íons Na+ no axônio de um nervo de lula, utilizamos um voltímetro
graduado em décimos de milivolt (mV). Foram feitas dez medidas; veja abaixo os
resultados em mV encontrados:

Queremos encontrar o melhor valor para expressar este potencial de Nernst


e saber qual é o desvio sobre este valor.

- O melhor valor é certamente o valor médio ou valor mais provável:


20

- Vamos supor que, para ter boa precisão, consideramos um desvio


pequeno, por exemplo: 0,01 mV. Neste caso, somente duas medidas, entre as dez
feitas, estão no intervalo (54,20 ±0,01) mV, ou seja, 80% dos valores estão fora
deste intervalo. Dizemos que este resultado nos dá muito pouca certeza, pois só
duas em dez medidas têm o mesmo resultado. Se considerarmos o desvio como
0,02 mV, teremos três medidas dentro do intervalo (54,20 ±0,02) mV. Com um
desvio de 0,03 mV, serão cinco medidas dentro do novo intervalo. Se considerarmos
o desvio como 0,05 mV, teremos todas as medidas dentro do intervalo (54,20 ±0,05)
mV. Neste último caso, teremos uma certeza total, mas a precisão diminui muito.

- Como para conciliar certeza e precisão não adianta ter uma certeza muito
grande e uma precisão pequena, ou vice-versa, então podemos expressar este
potencial de Nernst de duas maneiras: (54,20 ±0,03) mV ou (54,20 ±0,04) mV. No
primeiro caso, a precisão é boa, e a certeza é de 50% (cinco em dez medidas); no
segundo, a certeza aumenta para 70%, mas a precisão diminui.

c) Escala

Vamos considerar o conceito de escala, partindo de objetos com formas


geométricas regulares, certo?
21

a) Cubos com lados I’ e I e fator de escala L = I’/I = 2.


b) Esferas com raios r’ e r e fator de escala L=r’/r = 3.

Na Figura acima temos dois cubos, um com lado I, e outro com lado l' = 2I; e
duas esferas, uma com raio r, e outra com raio r' = 3r. Neste caso, um cubo tem o
lado duas vezes maior que o outro; este fator 2, ou L, em geral é denominado fator
de escala. Ao comparar o tamanho de seus raios, o fator de escala L para as esferas
será 3. Se compararmos as áreas das superfícies externas e os volumes destas
figuras de formas semelhantes, veremos que:

- a razão entre áreas superficiais dos cubos é 6I’2 : 6I2 = 4: 1, ou em função


do fator de escala L2 : 1. Ao compararmos as superfícies das esferas,
encontraremos o mesmo resultado com a diferença de que no segundo caso temos
9: 1, pois L = 3. Em geral,

área superficial α (comprimento característico) 2;

- a razão entre os volumes dos cubos é l’3 : 13= 8 : 1, ou em função do fator


de escala L3 : 1. O mesmo resultado é encontrado ao compararmos os volumes das
esferas, lembrando que neste caso L = 3. Em geral,

volume α (comprimento característico) 3.

Quando dois objetos têm densidade uniforme, formas geométricas


semelhantes e um fator de escala L, a comparação entre suas massas satisfaz a
razão L3 : 1.Em geral,

massa α (comprimento característico) 3.

Normalmente, para objetos com densidade uniforme, formas semelhantes e


fator de escala L, é satisfeita a razão:
22

As relações entre comprimento característico de um objeto com sua área,


volume ou massa podem ser igualmente aplicadas a partes do mesmo objeto, de
modo que, ao compararmos estas partes com regiões similares de outro objeto de
forma semelhante, as razões encontradas em função do fator de escala L sejam
satisfeitas.

Com muita cautela, também podemos utilizar estes procedimentos para


comparar objetos irregulares, mas de formas similares.

Porém, no caso de objetos irregulares – frequentemente encontrados –, a


escolha do comprimento característico do objeto normalmente é algum comprimento
predominante do objeto. Mesmo assim, esta escolha pode não ser a única (DURÁN,
2003).

d) Gráficos

Normalmente, um conjunto de valores teóricos ou mesmo as medidas feitas


em trabalhos experimentais são colocados no papel (ou no computador) para
compor gráficos. Dessa maneira, podemos ter uma ideia imediata do
comportamento das grandezas observadas.

Assim:

 o gráfico é um dos modos mais convenientes para visualizar e/ou interpretar


uma relação entre duas ou mais grandezas;

 um gráfico pode evidenciar uma relação entre grandezas, que seria difícil de
estabelecer só inspecionando uma tabela.

Antes de levar os valores das grandezas para a folha de gráfico, é


necessário definir dois ou mais eixos que servirão para representar os valores das
grandezas. Para construirmos um gráfico, devemos estabelecer uma escala para
cada eixo, de modo que os pares de valores possam ser colocados no gráfico,
independente do intervalo de variação desses valores e dos comprimentos dos
23

eixos. As folhas para gráficos mais utilizadas apresentam dois tipos de escalas: a
milimetrada e a logarítmica. A combinação dessas escalas dá origem a três tipos de
folha para gráficos:

 milimetrado – a folha apresenta escalas lineares;

 mono-log – a folha apresenta uma escala logarítmica e outra linear;

 di-log – a folha apresenta escalas logarítmicas.

Vejamos algumas regras úteis para construção de um gráfico:

 em uma mesma folha, é possível construir vários gráficos; basta usar


símbolos diferentes (, ≠, $, , ... ) e uma legenda que identifique cada tipo
de ponto;

 quando o valor das grandezas já tem seu desvio absoluto definido, o gráfico
deve trazer esta informação. Por exemplo, se a grandeza representada no
eixo y tem desvio ± Δy e a representada no eixo x tem desvio ± Δx, então a
representação desses desvios na folha para gráfico será:

 na medida do possível, convém representar os gráficos por uma reta. Muitas


vezes, para isso, basta fazermos mudanças convenientes das grandezas que
definem o gráfico.

Vamos construir uma Escala Linear e uma Escala Logarítmica?

Considere um eixo de comprimento L. Nesse eixo queremos colocar um


conjunto de valores positivos e negativos de uma grandeza X. Se a diferença entre
os valores máximo e mínimo da grandeza é L1, o passo da escala a ser utilizado é o
seguinte: p = L/Δ.
24

Na medida do possível, convém arredondarmos o valor de L1, a fim de que p


seja inteiro ou, pelo menos, semi-inteiro. Com o passo da escala definido, há
condições para colocar todos os valores da grandeza X no eixo. Por exemplo, para
uma escala linear o passo é p, como mostra a figura abaixo:

Considere um conjunto de medidas de duas grandezas G e G', sendo u e u',


respectivamente, as unidades dessas grandezas. Agora vamos levar os valores
dessas grandezas para a folha de gráfico cujas escalas são lineares.

Inicialmente definimos os passos Px e Py para os eixos horizontal e vertical,


respectivamente. Colocamos os dados de G e G' na folha e finalmente traçamos o
gráfico, conforme ilustrado a seguir:

Para encontrarmos uma relação funcional entre G e G' a partir do gráfico


destas grandezas, procedemos da seguinte maneira:

a) Determinamos o declive (inclinação) da reta:

b) Determinamos o valor de G' quando G = O:

c) Como o gráfico das grandezas G e G' é uma reta, teremos:


25

Em geral, toda vez que o gráfico correspondente a duas grandezas G e G'


for uma reta, a relação funcional entre essas grandezas será:

G’ = b + mG

onde b é o valor de G' quando G = O; e m é o declive ou inclinação da reta.

Trabalhando agora com escala logarítmica:

Se tivermos um conjunto de valores x1, x2, ... , xn, e quisermos colocar em


um eixo os logaritmos na base decimal desses valores, então podemos calcular os
logaritmos de cada um dos xn, valores e colocá-los em um eixo cuja escala é linear
ou ainda colocar os xn valores diretamente em um eixo de escala logarítmica.

Na figura a seguir mostramos um eixo horizontal de comprimento L, que será


denominado ciclo da escala. Esse ciclo será dividido em intervalos proporcionais à
diferença log (m + 1) - log m, sendo m = 1,2, ...,9. Dessa forma, teremos construído
um eixo logarítmico. Em geral as folhas para gráfico com escalas logarítmicas têm
vários ciclos nos eixos vertical e/ou horizontal.

O comprimento L do ciclo é proporcional à diferença log 10 - log1 = 1; ou,


em geral, L é proporcional à diferença log 10n+1 – log 10n, onde n: 0, ±1, ±2, ...

Se x = log m e L= 10 cm, então dentro de cada ciclo a diferença entre os


logaritmos de:

- m = 2 e m = 1 será 0,301 e, portanto L12 = 3,01 cm;

- m = 3 e m = 1 será 0,477 e, portanto L13 = 4,77 cm;

- m = 9 e m = 1 será 0,954 e, portanto L19 = 9,54 cm.

Quando a folha para gráfico tem vários ciclos, como se vê na ilustração


abaixo, os extremos de cada ciclo tomam valores correspondentes a potências
inteiras de 10.
26

Fonte: DURÁN (2003, p. 14).

STHAL (1962 apud DURÁN, 2003) diz que os cientistas às vezes podem ser
classificados como os que ajuntam ou separam fatos que ocorrem na natureza. Os
que ajuntam, geralmente os físicos, descrevem leis que ligam fenômenos
aparentemente diversos entre si. Os que separam, geralmente os das ciências da
vida, relatam mais a diversidade. Mas há exceções, como é o caso do problema da
escala biológica, em que ambas as tendências reunidas permitem melhorar a
compreensão de fatos conhecidos.

Como relacionar as mudanças de várias características de organismos vivos


(duração da vida, frequência cardíaca, rapidez com que convertem energia, entre
outras) com o tamanho de seus corpos? Eis uma aplicação da Escala! Ela é usada
para relacionar a função biológica dos organismos com seu tamanho.

Na biologia, o tamanho de um organismo está diretamente relacionado com


suas características e funções. Assim, vários problemas da biologia podem ser
analisados de maneira simples, relacionando a forma e/ou o tamanho e/ou o peso
dos organismos com algumas de suas funções biológicas. Quando nos referimos a
um organismo, este pode ser único ou constituído de organismos menores.

As propriedades biológicas de um organismo são bastante dependentes de


seu comprimento, área superficial, volume e massa. Tendo em vista um
comprimento característico para um organismo complexo, interessa à biologia saber
como suas diversas partes dependem desse comprimento. Por exemplo, ao
considerarmos 1,80 m de altura como comprimento característico para um ser
humano, suas diversas partes ou constituintes terão tamanho, volume ou massa
associados ao valor desse comprimento característico. Eis uma simples, mas
importante inter-relação da Física com a Biologia.
27

UNIDADE 4 – BIOMÊCANICA

A Biomecânica é uma área de conhecimento fortemente envolvida na


identificação de parâmetros mecânicos capazes de influenciar o rendimento
esportivo e a melhora da qualidade de vida. Tem como objetivo central o estudo do
movimento humano.

Com dizem Amadio e Serrão (2011), ainda que esse seja um objetivo
comum a muitas áreas que compõem o corpo de conhecimento da Educação Física
e do Esporte, a Biomecânica procede sua análise a partir de um prisma particular: o
das leis da Física.

Mais do que simplesmente aplicar as leis da Física, a Biomecânica leva


ainda em consideração as características do aparelho locomotor. Para tanto, além
da Física e da Matemática, enquanto disciplinas que fundamentam e suportam a
análise do movimento humano, a Biomecânica ainda utiliza-se dos conhecimentos
da Anatomia e da Fisiologia, disciplinas que delimitam as características estruturais
e funcionais do aparelho locomotor humano. Configura-se desta forma, uma
disciplina com forte característica multidisciplinar, cuja meta central é a analise dos
parâmetros físicos do movimento, em função das características anatômicas e
fisiológicas do corpo humano, utilizando diferentes metodologias para tais análises
28

como a antropometria, cinemática, dinamometria, simulação computacional,


modelamento muscular e eletrofisiologia.

A biomecânica é a disciplina que usa os princípios da física para estudar,


quantitativamente, como as forças interagem em um organismo vivo (BLANPIED;
NAWOCZENSKI, 2011).

Enquanto a Cinemática é o ramo da mecânica que descreve o movimento de


um corpo, sem se preocupar com as forças ou torques que podem produzi-lo, na
Biomecânica, o termo corpo é usado de forma bastante flexível na descrição de um
corpo inteiro ou de qualquer uma de suas partes ou segmentos, como ossos e
regiões.

Quanto a sua forma de execução, os movimentos podem ser divididos em:


lineares ou de translação, angulares ou de rotação, e combinados (mistos) ou
gerais.

O movimento linear ou de translação ocorre quando todos os pontos do


corpo movem-se na mesma distância ou direção, ao mesmo tempo. A aplicação de
uma força no centro de massa de um corpo de qualquer dimensão faz todos os
pontos desse objeto se deslocarem na mesma direção e magnitude, constituindo o
movimento de translação. Ele pode ser linear retilíneo (quando a direção não é
modificada) ou curvilíneo (quando a direção muda constantemente).

Durante a marcha, por exemplo, um ponto na cabeça se move de maneira


curvilínea, conforme mostra a ilustração abaixo.
29

Um ponto no topo da cabeça é mostrado seguindo para cima e para baixo


de modo curvilíneo durante a marcha. O eixo X do gráfico mostra a porcentagem de
finalização de um ciclo inteiro de marcha (caminhada).

A rotação, diferentemente da translação, descreve um movimento em que


um corpo rígido se move de forma circular, ao redor de um ponto de pivô. Em
decorrência disso, todos os pontos do corpo são simultaneamente rotacionados na
mesma direção angular (por exemplo: horária ou anti-horária) pelo mesmo número
de graus.

O movimento do corpo humano, como um todo, é frequentemente descrito


como a translação do centro de massa do corpo, geralmente localizado
imediatamente anterior ao sacro. Embora o centro de massa de um indivíduo faça a
translação pelo espaço, ele é fortalecido por músculos que rotacionam os membros.
A rotação dos membros pode ser observada no movimento descrito por um punho
enquanto o cotovelo é flexionado (vide abaixo).

Com um flash estroboscópico, uma câmara é capaz de capturar a rotação do


antebraço a partir do cotovelo. Se não fosse pelas restrições anatômicas do
cotovelo, o antebraço poderia, em teoria, rotacionar 360º ao redor do eixo formado
pela articulação (círculo aberto).

O ponto de pivô para o movimento angular do corpo ou de partes do corpo é


denominado eixo de rotação. O eixo é o ponto em que a movimentação do corpo em
rotação é zero. Para a maioria dos movimentos dos membros e do tronco, o eixo de
30

rotação está localizado no interior da estrutura da articulação ou bastante próximo a


ela.

Na maioria das atividades humanas, os movimentos são realizados por meio


de uma combinação das duas formas de movimento (de translação e de rotação), e
podem ser tratados como movimentos gerais, ou combinados.
31

UNIDADE 5 – BIOELETRICIDADE

Os seres vivos são verdadeiras usinas elétricas, pois a maioria dos


fenômenos utiliza a eletricidade. As células apresentam diferença de potencial (ddp)
dos dois lados da membrana. A origem dessa ddp é uma concentração heterogênea
de íons, principalmente Na+, K+, Cl- e PO4.

A Bioeletricidade ou Bioeletromagnetismo (algumas vezes também chamado


de biomagnetismo) refere-se à voltagem estática de células biológicas e as
correntes elétricas que fluem em tecidos vivos, tal como nervos e músculos, em
consequência de potenciais de ação (SOUZA, 2012).

A grande importância dada às análises dos aspectos celulares do estudo da


Biologia, seja em seus aspectos estruturais químicos ou físicos, reside, claro, no fato
de serem elas as constituintes das unidades morfofuncionais dos organismos vivos.

Dentre os aspectos físicos ligados às funções celulares, destacam-se os


potenciais de membrana, os quais se revelam como a diferença de potencial elétrico
entre as faces da membrana plasmática, meio intracelular e meio extracelular.

Para a real compreensão de como as células são capazes de manter ou


mudar seu potencial de Membrana, e a devida importância deste potencial nas suas
funções, faz-se necessário o entendimento de dois aspectos preliminares aos
próprios potencias: conceitos iniciais de eletricidade, e o próprio movimento destes
íons e da água, ou seja, a física está totalmente presente nesses processos!

A Eletricidade (Eletrostática, eletrodinâmica, eletromagnetismo) estuda na


Física os fenômenos que envolvem carga elétrica, uma propriedade inerente a
determinadas partículas elementares, que propicia interação de natureza elétrica
entre elas. Embora a Física moderna não seja capaz de dizer o que é carga elétrica,
é capaz de descrever inúmeras de suas característica e propriedades, dentre as
quais, podemos destacar o princípio da conservação da carga elétrica: “Em um
sistema eletricamente isolado, a carga elétrica é constante, e o valor da carga
elétrica de um corpo é nula ou igual a um múltiplo da carga elementar”

CARGA ELEMENTAR (e) = 1,6 x 10-19 Coulomb (Ampère/segundo)


32

Existem dois tipos de carga elétrica, positiva e negativa, e o princípio básico


da interação das cargas elétricas diz que cargas opostas se atraem, cargas iguais se
repelem.

Em um átomo, comumente, o número de elétrons (partícula com carga


negativa de -1,6 X 10-19 C) é igual ao número de prótons (partícula com carga
positiva de +1,6 X 10-19 C), logo o átomo é eletricamente neutro. Caso no átomo
exista um número diferente entre elétrons e prótons, este terá carga e será
denominado de íon.

Assim, ao considerarmos a carga elementar (e):

e = 1,6 x 10-19 C,

temos que:

1 Coulomb = 6,25 x 1018; e,

considerando um sistema eletricamente isolado, a soma algébrica das


quantidades de carga é constante...

O transporte através da membrana celular, seja diretamente, através de


canais ou poros na membrana plasmática ou por meio das proteínas carreadoras,
como a sódio/potássio ATPase, concorrem para manter uma distribuição assimétrica
entre os meios intra e extracelular.

A difusão (também chamada de transporte passivo) ocorre de uma região de


maior concentração para outra de menor concentração; em outras palavras, de onde
tem mais para onde tem menos, na procura do equilíbrio de concentração. A figura a
seguir mostra o oxigênio se difundindo de uma região de maior concentração, o
alvéolo pulmonar, para outra de menor concentração, o capilar alveolar.
33

Já o transporte ativo é realizado com gasto de energia, principalmente do


ATP, produzindo o movimento contrário ao transporte passivo, ou seja, conduz a
substâncias para o meio mais concentrado na tentativa de manter o desequilíbrio de
concentração, como podemos ver na próxima ilustração, onde a bomba de próton
mantém o desequilíbrio, criando um gradiente de concentração para o íon H+.

Ainda podemos definir difusão como movimento aleatório de substâncias,


molécula a molécula, seja pelos espaços intermoleculares da membrana, seja em
combinação com uma proteína carreadora. A energia produtora da difusão é a
energia do movimento cinético normal da matéria.

A passagem de substâncias através da membrana celular e das paredes dos


capilares depende fortemente da difusão, onde o deslocamento destas moléculas e
íons depende de sua energia térmica que promove agitação térmica nas moléculas e
íons, ou seja, energia cinética.

A energia térmica em um sistema é revelada na agitação térmica de suas


moléculas, quanto maior a temperatura mais rapidamente os íons e moléculas do
sistema irão se difundir.
34

Porque a distância para o processo de difusão é muito importante?

R = Quanto maior o percurso menor a difusão da partícula.

Assim, moléculas e íons só podem se difundir até determinado limite; por


exemplo, o oxigênio só se difunde através de cerca de 100 micrometros entre
células, fator que limita a distância entre capilares sanguíneos.

Quando consideramos o transporte ativo, ainda podemos dizer que este se


revela no movimento, principalmente de íons, porém também pode ocorrer com
átomos ou moléculas não carregadas, através da membrana, em combinação com
proteínas carreadoras.

Como o transporte ativo ocorre contra um gradiente de energia, isto é, de um


estado de baixa concentração para um de alta concentração, é um processo que
exige fonte adicional de energia, uma vez que a energia cinética atua movimentando
as moléculas em sentido contrário ao movimento ativo.

Por tudo isso e muito mais, o principal compartimento para a análise do


deslocamento de substâncias é a célula, seja no deslocamento para o meio
intracelular (influxo) ou para o meio extracelular (efluxo). Assim, é importante
ressaltar que é através da membrana plasmática, ocorrendo influxo ou efluxo, a
célula dispõe do movimento passivo, assim como também do movimento ativo,
eventos concomitantes que mantêm as concentrações intra e extracelulares.

No meio intracelular a concentração de proteínas é infinitamente superior a


sua presença no meio extracelular, uma vez que elas são muito grandes e não
podem deixar a célula através da membrana celular. Assim, contidas na célula, as
proteínas conferem modificação no movimento de água, é a pressão osmótica ou
colidosmótica.

Complexidade, praticidade, inteligência e beleza são alguns do adjetivos e


qualidade que podemos transferir para o papel desempenhado pelas células.

Caminhando para representações mais práticas, agora de escala macro,


podemos justificar o suporte que a biofísica dá ao ensino de fisiologia, mais
precisamente sua inserção nos cursos de medicina onde existem alguns conceitos
cruciais para o entendimento do sistema circulatório e respiratório humano que
35

necessitam de conhecimentos de dinâmica de fluidos que não são sequer


mencionados no ensino médio.

Um médico precisa conhecer a lei de Bernoulli e a transição do regime


laminar para o turbulento para entender os sons pulmonares e cardíacos. Também
relacionado ao sistema circulatório, a velocidade do sangue na saída do coração
pode ir a 30 cm/s e nos capilares não passa de 0,3 mm/s o que se explica pela
conservação da vazão em sistemas em série e paralelo. Ademais, para se entender
a queda de pressão ao longo do sistema circulatório (e o motivo de possuirmos
afinal um coração) é preciso saber o que são fluidos reais e o que é a viscosidade
(CORSO, 2009).

Os conceitos da pressão osmótica também são importantes para entender o


funcionamento do rim e da troca de fluidos através das membranas, refração da luz
no olho, difusão e diferença de potencial na membrana celular, pressão parcial de
gases e difusão no sistema respiratório, pressão em fluidos na descrição da medida
da pressão cardíaca, ou alavancas na compreensão da biomecânica do sistema
esquelético muscular (CORSO, 2009).

Enfim, há uma gama de possibilidade da aplicação da física na biologia das


células!
36

UNIDADE 6 – BIOACÚSTICA

Acústica é a parte da Física que estuda o som. Som é a sensação percebida


pelo cérebro que se relaciona com a chegada ao ouvido de ondas de vibração
mecânica. Todo sistema que emite som é uma fonte sonora.

Em geral, costuma-se confundir o conceito de som com o conceito de onda


sonora. Por isso, pode-se dizer que o som se propaga nos ambientes materiais e
elásticos através de ondas. As ondas sonoras são vibrações sincronizadas das
moléculas que constituem o meio. Ao vibrarem em conjunto, elas criam em torno da
fonte sonora regiões de alta e de baixa pressão. Essas variações de pressão se
propagam no meio como uma onda mecânica longitudinal (GARCIA, 2002).

As ondas mecânicas são perturbações ou distúrbios que se propagam


através de meios materiais. Por exemplo, são ondas mecânicas:

 ondas em cordas (geradas por muitos instrumentos musicais);

 ondas na água;

 ondas sonoras (importantes na comunicação de seres vivos), entre outras.

As ondas mecânicas são muito utilizadas na medicina, odontologia e


biologia; são utilizadas também para tratamentos de saúde, observação interna de
organismos e pesquisas em geral. Dentro de sua gama de comprimentos de onda,
as ondas mecânicas são utilizadas como meio de comunicação por diversas
espécies. Elas também são utilizadas para detectar a presença de seres vivos ou
como elementos de orientação (DURÁN, 2003).

Enfim, a importância desse tipo de onda para diversas espécies é muito


grande.

Diferentes das ondas eletromagnéticas, que somente são transversais, as


ondas mecânicas podem ser:

 transversais – quando a perturbação é perpendicular à direção de propagação


da onda (como é o caso das ondas produzidas pelas cordas);

 longitudinais – quando a perturbação é paralela à direção de propagação da


onda (como é o caso das ondas sonoras).
37

Os pulsos ondulatórios são perturbações de extensão limitada, ou seja, eles


têm um princípio e um fim. Por exemplo, o barulho de um tiro é um pulso ondulatório
acústico; um relâmpago de luz é um pulso luminoso; uma onda de maré é um pulso
ondulatório na água.

Toda vez que um pulso se propaga:

 em qualquer instante, somente uma região limitada do espaço estará


perturbada;

 em qualquer ponto, ele leva um tempo limitado para passar;

 em qualquer instante ou posição, o pulso estará transmitindo momento linear


e energia.

Se um pulso viaja uma distância Δx, em um tempo Δt, sua velocidade média
de propagação será v = Δx/Δt. Em geral, a velocidade de um pulso depende das
propriedades físicas do meio em que ele se propaga, e não da velocidade da fonte
que gera o pulso em relação ao meio.

Todo pulso ondulatório precisa de um meio material para se propagar. Se o


pulso tem uma velocidade v em um certo meio e entra em outro meio onde:

 sua velocidade é menor do que a original, então o pulso refletido será


invertido;

 sua velocidade é maior do que a original, então o pulso refletido não é


invertido (DURÁN, 2003).

As ondas mecânicas longitudinais são perturbações que se propagam em


meios líquidos, sólidos ou gasosos.

Sendo o som uma sensação produzida no ouvido humano por um trem de


ondas que percorre um meio elástico e que satisfaz certas frequências e
intensidade, podemos deduzir que ele não é produzido no vácuo, portanto, toda vez
que experimentamos uma sensação sonora há:

 um movimento vibratório de um meio material, que pode ser sólido (corda),


líquido (água) ou gasoso (ar);

 um meio material elástico entre o corpo vibrante e a orelha.


38

Os sons distinguem-se uns dos outros pelas seguintes qualidades


fisiológicas:

 a altura, que está ligada unicamente à frequência de ondas sonoras;

 o timbre, que depende dos harmônicos associados ao som fundamental;

 a intensidade fisiológica de um som, que está ligada à amplitude das


vibrações.

A bioacústica estuda o funcionamento do sistema auditivo dos mamíferos e


dos humanos, ou seja, é a análise e a percepção de sensações auditivas cuja
origem são os estímulos sonoros. Esses estímulos, cuja origem física são as ondas
mecânicas, ao chegarem ao sistema auditivo, terminam agindo sobre células
ciliadas e seus nervos terminais, que codificarão o estímulo mecânico em potenciais
de ação.

De acordo com os estudos publicados até o presente, a ação de ouvir dos


mamíferos é bastante similar a dos humanos. Logo, é comum comparar, discutir e
estender os resultados de experiências acústicas com mamíferos para os humanos
e para outras espécies animais (GRINNELL; SCHNITZLER, 1977; SIMMONS;
SAILLANT; DEAR, 1993; GROTHE; NEUWEILER, 2000; MULLER; BRUNS, 1993
apud DURÁN, 2003).

Grande parte das informações que o ser humano recebe é transmitida por
ondas sonoras. Elas, normalmente, provêm do ambiente que nos cerca e são
originadas em diversas fontes sonoras. O sistema auditivo dos animais permite a
captação dessas ondas e o reconhecimento do conteúdo de informação que
possuem. Além de participar da audição, o aparelho auditivo humano também está
relacionado com o equilíbrio do corpo (GARCIA, 2002).

O ouvido humano é um órgão extremamente sensível, que converte um


fraco estímulo mecânico, produzido em um meio externo, em estímulos nervosos.
Na região de sua máxima sensibilidade, a pressão acústica que ele pode perceber é
de um milibar; o que equivale a uma amplitude de deslocamento molecular da ordem
de 10-9 cm ou 0,1Ǻ.
39

Nosso ouvido é constituído de três partes: ouvido externo, médio e interno.

O ouvido externo – capta e conduz o som. É a parte que está em contato


com o meio externo. É nessa parte que incide o estímulo produzido por uma fonte
sonora. É formado pelo pavilhão auricular, ou orelha, e o canal auditivo, ou meato. O
canal tem aproximadamente 0,7 cm de diâmetro e 2,5 cm de comprimento e termina
na membrana timpânica.

A estrutura é basicamente a mesma no homem e nos outros mamíferos,


salvo as particularidades de cada espécie.

Para Heneine (2005), alguns animais são até capazes de mover o pavilhão
auditivo, e dessa forma, direcionar a captação, semelhante a uma antena de radar.

No ouvido médio acontece a transformação da energia sonora em


deslocamento mecânico. A membrana timpânica é o início do ouvido médio. Este se
comunica com o exterior através da trompa de Eustáquio. É uma cavidade de ar
com aproximadamente 2 cm3 de volume. A função desse canal é equalizar as
pressões interna e externa, porque qualquer diferença de pressão entre o ouvido
médio e o ambiente externo é intolerável. Nele está localizada a cadeia mecânica
que transmite o som para as estruturas do ouvido interno.

O tímpano vibra sob o impacto da pressão sonora, em amplitude


proporcional a intensidade do som. A eficácia mecânica do tímpano, que é uma
membrana de 65mm2, com apenas 0,1 mm de espessura, permite que os seus
movimentos sejam transmitidos ao martelo, daí para a bigorna e desta para o
estribo.
40

Através desse sistema de alavancas, a pressão exercida na janela oval pelo


estribo pode ser 3 a 20 vezes maior que a pressão exercida pelo som no tímpano.
Essa necessidade é interessante para os eventos seguintes da audição que ocorrem
em meio líquido, a cóclea.

No ouvido interno ocorre a transformação do movimento mecânico em


hidráulico, e deste em pulso elétrico.

Nesta parte do ouvido, a energia transportada pelo estímulo sonoro será


convertida em um sinal elétrico, o qual será levado ao córtex auditivo. Sua estrutura
contém a cóclea, que constitui o labirinto anterior.

A cóclea tem 21/2 voltas, e está representada como um cone de 35 mm de


comprimento. É separada em dois compartimentos principais, a rampa vestibular
(em cima) e a rampa timpânica (embaixo) pela membrana basilar.

A galeria superior da cóclea, ou rampa vestibular, comunica-se com o ouvido


médio através da janela oval. A galeria média ou canal coclear contém o órgão de
Corti. A galeria inferior ou rampa timpânica, comunica-se com o ouvido médio
através da janela redonda. O pulso se propaga rapidamente, mas durante o trajeto,
estabelece gradientes de pressão entre a rampa superior e a inferior. Esse gradiente
de pressão comprime o órgão de Corti, que gera um impulso elétrico.

Um fator biofísico importante nesse processo, segundo Heneine (2005, p.


330), é a diferença de potencial entre o órgão de Corti ( + 80 mv ) e a endolinfa ( - 70
mv ), o que torna as células extremamente sensíveis e excitáveis.

Enfim, no mecanismo da audição, as partes que compõem os ouvidos médio


e interno vibram na direção em que a onda se propaga desde os tímpanos até os
cílios do ouvido interno.

As propriedades elásticas e inerciais de cada uma dessas partes


desempenham papel importante na propagação de energia sonora.

Uma das aplicabilidades dos estudos que reúne a Física e a Biologia, nós
encontramos no uso das ondas ultrassônicas, que são ondas mecânicas
longitudinais, cujas frequências estão fora do campo de audibilidade dos humanos.

Se a frequência de vibração da onda sonora for:

 menor do que 20 Hz, as ondas são denominadas infrassônicas;


41

 maior do que 20 000 Hz = 20 kHz, as ondas são denominadas ultrassônicas.

As propriedades físicas das ondas acústicas infrassônicas ou ultrassônicas


são as mesmas que as das ondas acústicas audíveis pelo humano. Assim, a
descrição das interações físicas das ondas com a matéria é feita sem que se tente
distinguir o tipo de onda acústica. As ondas infrassônicas se manifestam pelas
oscilações de pressão que elas provocam no meio em que estão se propagando. Já
as ondas ultrassônicas se manifestam por produzirem alterações no meio em que
estão se propagando.

Muitos animais têm um campo de audição que inclui essas ondas acústicas,
como, por exemplo:

 os cães podem ouvir frequências entre 15 Hz e 50 kHz;

 os gatos podem ouvir frequências entre 60 Hz e 65 kHz;

 os morcegos podem ouvir frequências entre 10 kHz e 120 kHz;

 os golfinhos podem ouvir frequências entre 10 kHz e 240 kHz; entre outros.

Para a geração de ondas ultrassônicas, utilizamos transdutores, que são


mecanismos que convertem energia elétrica em energia mecânica. A figura abaixo
mostra um material piezelétrico, ao qual aplicamos uma diferença de potencial. Se o
campo elétrico no material for de uma frequência apropriada, serão induzidas
vibrações mecânicas no interior do material, as quais darão origem às ondas
ultrassônicas.

Fonte: Durán (2003, p. 235).


42

Quanto menor for a espessura d do transdutor, maior será a frequência de


vibração das moléculas do material. O efeito piezelétrico permite que o transdutor
simultaneamente possa receber um eco ultrassônico induzindo um sinal elétrico.
Este sinal será processado e finalmente lido e interpretado.

A intensidade de uma onda ultrassônica poderá ser:

 baixa, como é o caso das ondas utilizadas para obtermos informações de um


meio;

 alta, como é o caso das ondas utilizadas em terapia médica ou para limpeza
por cavitação. Essas ondas muito intensas caracterizam-se por produzir
alterações no meio em que são aplicadas, como, por exemplo, a ruptura das
células biológicas.
43

UNIDADE 7 – BIOFÍSICA ÓPTICA

Embora já tenhamos falado, é comum encontrarmos em sala de aula, alunos


com dificuldades em entender e relacionar os conceitos e leis da Física na sua vida
cotidiana, portanto, mais uma vez frisamos: aguçar sua curiosidade, motivá-lo, torná-
lo mais participativo e questionador é um dos caminhos para que o trabalho seja
prazeroso e proveitoso.

A visão dos espécimes vivos acontece por meio dos olhos que funciona
respondendo à ação da luz visível nesse órgão.

O termo luz pode ser utilizado para designar a radiação eletromagnética um


pouco fora da faixa visível. A luz ultravioleta é a radiação eletromagnética com v >
4,3 x 1014 Hz, e a luz infravermelha é a radiação com v < 7,5 x 1014 Hz.

Essas radiações também ocupam uma faixa de frequência no espectro


eletromagnético.

A luz propaga energia sem propagar massa, sendo importante para todo tipo
de vida existente na Terra. Ela proporciona aos espécimes informações sobre seu
meio ambiente vitais para a sua sobrevivência. A luz também é muito utilizada em
aplicações médicas, científicas, tecnológicas, entre outras. Sua natureza pode ser:

 ondulatória, do tipo onda transversal;

 corpuscular, ou seja, consiste de quantum de energia.

Se a frequência da luz for v, seu quantum de energia ΔE será definido como:


44

ΔE = h . v = hc/λ.

H é a constante de Planck de valor 6,626 x 10 -34 J.s. e c é a velocidade da


luz no ar ou no vácuo de valor constante 3 x 10 8 m/s. Como a luz visível é
policromática, sua energia total será determinada a partir da integração dos quanta
de energia correspondentes a cada frequência constituinte de espectro visível.

A velocidade v da luz em um meio que não seja o ar ou vácuo depende das


características desse meio. O índice de refração n é um parâmetro que caracteriza
um meio óptico e é definido; n = c/v.

Como c ≥ v para qualquer meio óptico, então sempre teremos n≥1. Para o
caso do ar ou vácuo, temos n = 1. Valores de n para outros meios, encontramos na
tabela abaixo.

SUBSTÂNCIA n
Ar (CNPT) 1,000
Água a 20ºC 1,333
Etanol a 20ºC 1,360
Cristal de quartzo 1,553
Flint glass 1,650
Cloreto de sódio 1,544
Lente do olho 1,424

Quanto ao sentido da visão, este é muito elaborado, pois, mais do que ver, o
homem é capaz de observar!

A bioengenharia do aparelho visual representa grande desafio para os


cientistas. Muitos esforços têm sido feitos para conhecer os diversos tipos de
adaptação que o olho possui e para entender como se processa a capacidade desse
órgão para perceber o brilho e cor. Também têm sido investigadas as vias nervosas
de comunicação do olho como cérebro, bem como a integração dos trajetos visuais
com outros circuitos neuronais. Apesar do muito que sobre isso já se aprendeu, os
mecanismos da visão tridimensional, o processamento e a memorização das
imagens, ainda são pouco conhecidos.

O avanço da eletrônica e da óptica, a invenção do microelétrodo, o


desenvolvimento das teorias da informação e da cibernética, que ocorreram depois
45

dos anos 40, e, mais recentemente, a introdução da lógica dos fractais em biologia,
têm fornecido ferramentas importantes para o estudo dos complexos fenômenos que
estão associados à visão (GARCIA, 2002).

Se comparados aos padrões da tecnologia atual, o olho humano é um


instrumento óptico altamente complexo e sofisticado. Funciona semelhantemente a
uma máquina fotográfica. Nessa analogia, a íris, funciona como o diafragma da
máquina controlando a quantidade de luz; a retina é semelhante ao filme fotográfico
no fundo da câmara; a córnea e o cristalino atuam como a lente. Da mesma maneira
que a imagem formada pela lente numa máquina fotográfica, também a imagem
formada na retina é invertida. A figura abaixo mostra os principais elementos do olho
humano.

Estrutura do globo ocular

De uma forma simplificada, como podemos ver abaixo, a luz atravessa a


córnea, segue através do cristalino (lente convergente) – fenômeno conhecido como
refração – e atinge a retina que é rica em células fotorreceptoras (cones e
bastonetes) local onde ocorrem as conversões químicas que sensibilizam a retina
efetivando a fototransdução (SANTOS et al., 2006).
46

Na retina, mais de cem milhões de células fotorreceptoras transformam as


ondas luminosas em impulsos eletroquímicos, que são decodificados pelo cérebro.
Inspirado no funcionamento do olho o homem criou a máquina fotográfica. Portanto,
em nossos olhos, a córnea funciona como a lente da câmera, permitindo a entrada
de luz no olho e a formação da imagem na retina. Localizada na parte interna do
olho, a retina seria o filme fotográfico, onde a imagem se reproduz. A pupila funciona
como o diafragma da máquina, controlando a quantidade de luz que entre no olho.
Ou seja, em ambientes com muita luz, a pupila se fecha, e em locais escuros, a
pupila se dilata com o intuito de captar uma quantidade de luz suficiente para formar
a imagem (CBO, 2010).

Na retina, camada interna do olho, temos a mácula, que é o ponto central da


visão, responsável pela melhor acuidade visual e pela nitidez das imagens. Quando
as imagens não são apropriadamente focalizadas na retina, precisamos de lentes
corretivas (óculos).

É por meio da coordenação entre o sistema visual e o cérebro que


percebemos e compreendemos o mundo que nos cerca.
47

UNIDADE 8 – BIOFÍSICA DAS RADIAÇÕES IONIZANTES

Vimos até o momento, algumas das áreas de saúde onde encontramos


aplicabilidade prática da Biofísica.

Como diz Corso (2009), ensina-se biofísica, também, para que os


profissionais da saúde possam operar instrumentos médicos sofisticados onde se
destacam os aparelhos de imageamento. O século XX assistiu a um aumento
exponencial no desenvolvimento das tecnologias médicas. A invasão da física e da
tecnologia na medicina começou há pouco mais de 100 anos com a descoberta dos
raios X que quase imediatamente gerou instrumentos de produção de imagens do
interior do corpo humano. Quanto ao uso de radiações na medicina, vale destacar
aquilo que no Brasil se chama física médica.

Os físicos reivindicaram com sucesso para sua categoria as atividades


profissionais envolvendo o uso de material radioativo e de radiações ionizantes em
geral. Divide-se a física médica em três grandes áreas, a saber: a radioterapia, o
radiodiagnóstico e a medicina nuclear. A primeira é exclusivamente terapêutica
enquanto as outras duas estão na ponta das técnicas de imageamento.

 A radioterapia trabalha com o uso de radiações ionizantes na destruição de


tecido canceroso, seu mote é: destruir com radiação o máximo de câncer
minimizando o dano aos tecidos sadios do corpo.

 O radiodiagnóstico trata do estudo de imagens médicas usando raios X, a


técnica básica é: radiação de uma fonte externa incide sobre o corpo
projetando sombras (os ossos são mais rádio-opacos do que os tecidos
moles) em uma película fotográfica radio-sensível.

 A medicina nuclear é um pouco mais sofisticada, aqui radioisótopos são


introduzidos no paciente sendo seletivamente absorvidos por tecidos que
passam a irradiar radiação gama. Então um sensor fora do corpo, tipicamente
uma gama câmara, capta esta radiação e uma imagem é construída no
computador.

Tanto a medicina nuclear como o radiodiagnóstico são essencialmente


técnicas de imageamento, mas na primeira, o paciente não entra em contato direto
com radioisótopos.
48

Existem outras técnicas de imageamento que não usam radiações


ionizantes, como a ultrassonografia e a ressonância nuclear magnética. Na
compreensão destas tecnologias se utiliza uma linguagem física sofisticada, a
ultrassonografia envolve ondas de ultrassom, reflexão de onda na passagem entre
meios, absorção da onda acústica pelos tecidos, difração, entre outras, como já
vimos anteriormente.

A ressonância magnética é ainda mais sutil, pois para seu entendimento se


necessitam usar ideias quânticas como spin de partículas nucleares e interação do
spin com campos magnéticos oscilantes. Curioso que, do ponto de vista da
classificação dos saberes, a ultrassonografia e a ressonância magnética são
estudadas por engenheiros, ao que chamam de Bioengenharia (CORSO, 2009).

Outra grande área da bioengenharia lida com potenciais elétricos evocados


que são registrados em uma série temporal. Variando um pouco os eletrodos e o
sistema de amplificação e filtragem do sinal se constroem vários instrumentos de
medida de biopotencias importantes no diagnóstico médico. O mais famoso, e que
corresponde ao mais intenso sinal elétrico no corpo, é o eletrocardiograma. Este
instrumento registra o campo elétrico oscilante do coração, com auxílio do
eletrocardiograma muitas disfunções cardíacas podem ser detectadas.

Em ordem de fama no dizer de Corso (2009) e importância, segue o


eletroencefalograma que registra os potenciais evocados sobre a superfície do couro
cabeludo informando sobre o comportamento elétrico do cérebro. O número de
eletrodos (e de canais de entrada) que podem ser usados neste equipamento, varia
de 8 até mais de uma centena dependendo do tipo de exame. Existe também um
instrumento que avalia o sinal da atividade elétrica dos músculos, o miograma. Este
instrumento pode usar tanto eletrodos de superfície (como aqueles utilizados no
eletrocardiograma) como sensores tipo agulha para avaliar a condição de músculos
profundos (CORSO, 2009).

Mas voltemos ao uso da radiação!

A Radiação, por característica, é qualquer entidade capaz de transferir


energia de um sistema a outro, independentemente de meio material. Tais entidades
podem ser corpusculares ou eletromagnéticas.
49

Quando a radiação transfere sua energia através de um corpo ou partícula,


como, por exemplo, as partícula α, β +, β -, neutrinos,..., sendo emitidas dos núcleos
radioativos (radioisótopos) ela é denomina de radiação corpuscular.

A radiação eletromagnética é a energia transferida na sua forma pura,


através de uma partícula móvel, sem carga e cuja massa só existe em função de
sua velocidade, o Fóton.

As radiações podem ainda ser classificadas de Ionizantes, como os Raios


gama, e os Raios X, ou Não-ionizantes, como as radiações Ultravioleta, Luz visível,
Infravermelho, Microondas, ondas de TV ou de Radiodifusão.

Fonte é qualquer corpo ou ponto material capaz de emitir ao menos um tipo


de radiação e são classificadas em terrestres ou extraterrestres.

As fontes Extraterrestres, cujo principal representante é o sol, emitem


radiação que chega a alta atmosfera da terra, esta radiação recebe a denominação
de raios cósmicos primários. Ao atingirem a atmosfera são absorvidos por ela em
diversas camadas, por exemplo, a radiação ultravioleta é absorvida na camada de
ozônio. A radiação que chega à região onde vivemos, a biosfera recebe a
denominação de Raios cósmicos secundários, sendo compostos principalmente de
radiação infravermelha, luz visível e luz ultravioleta.

As fontes Terrestres podem ser classificadas de Naturais, principalmente os


radioisótopos, utilizados na medicina nuclear e na radioterapia de tumores. Ainda
temos as fontes artificiais como as Ampolas de RX utilizadas em radiodiagnóstico, as
lâmpadas de UV para Esterilização, Lâmpadas de luz visível, Lâmpadas IV,
utilizadas na fototerapia (banho de luz), as fontes de Micro-ondas, Radiodifusores.

As principais fontes naturais são os radioisótopos, usados no tratamento de


câncer, ou na produção de imagens para realização de diagnóstico. Sua utilização
se deve ao fato de emitirem radiação espontaneamente, em um processo
denominado radioatividade.

O fenômeno da Radioatividade consiste na emissão espontânea de


partículas ou energia pelo núcleo de um átomo. As partículas mais comuns são a
alfa e a beta, e a energia é sempre a radiação gama, conforme ilustrado abaixo.

Radioatividade - emissão espontânea de radiação pelo nucleio de um radioisótopo


50

A interação Radiação-Matéria depende do tipo e energia da emissão e das


propriedades do material que recebe a radiação, sendo assim, a matéria que
absorve energia das emissões radioativas fica ionizada. Essa ionização é
responsável pelos desvios que ocorrem no caminho natural das reações bioquímicas
nos seres vivos, e podem resultar em danos biológicos diversos.

As interações podem ser: α, β e γ matérias.

A Interação α-matéria ocorre quando as partículas alfa interagem


intensivamente, arrancando elétrons por atração. Ela se satisfaria com apenas 2
elétrons, mas, devido à sua alta energia cinética, ela arranca elétrons dos orbitais de
outros átomos, deixando varias moléculas ionizadas. No fim de seu caminho, ela se
acomoda com um átomo de hélio, após sua trajetória retilínea. Vejamos abaixo uma
partícula alfa sendo emitida.
51

Emissão alfa

Na Interação β-matéria ocorre repulsão de elétrons, os β-, ao passarem


perto dos orbitais, repelem elétrons, deixando átomos e moléculas ionizados. A
trajetória da β- é cheia de desvios, devido aos choques com a matéria, e a partícula
se acomoda como um elétron orbital.

Emissões Beta

Já na Interação γ-matéria, podem ocorrer dois eventos. O efeito fotoelétrico


é o mecanismo da medida de radiações ionizantes e ocorre com emissões γ de
energia de até 1 MeV. Esse efeito pode ocorrer com elétron de qualquer camada,
nela a radiação eletromagnética transfere sua energia para o elétron, ejetando-o de
sua órbita.

O Efeito Compton, ocorre quando a energia de radiação γ é superior àquela


necessária para ejetar um elétron, e o excesso vai se distribuindo por outros
elétrons, que se liberam das órbitas. A cada radiação, mais de um elétron é liberado.
Esse efeito ocorre com emissão γ de energia superior a 1 MeV .
52

Emissão gama

A luz UV é excitante nos tecidos, podendo até ionizar a matéria, sendo


exceção nos sistemas biológicos. Átomos e moléculas que absorvem UV tornam-se
energizados e em estado de excitação, participando mais facilmente de reações
bioquímicas, havendo, portanto, um aumento no ritmo geral das reações biológicas e
um aparecimento de novas vias metabólicas que podem ser prejudiciais ao sistema.
Vejamos:

Emissões radioativas – radiações nucleares alfa, beta e gama

As radiações ionizantes têm o poder de alterar as moléculas de um meio


biológico, tanto no que se refere à estrutura das macromoléculas orgânicas, como à
composição química delas.
53

Do ponto de vista químico, após a ionização e quebra de uma ligação


química, se seguirão recombinações e rearranjos da macromolécula alvo e das
moléculas do meio. Dessa forma, a ionização poderá dar origem tanto a fragmentos
de moléculas como provocar uma alteração da macromolécula original através da
inserção de novos íons ou radicais livres nas ligações químicas quebrada.

Existe, também, a possibilidade de alterações na estrutura de uma


macromolécula que, tanto quanto a composição química, é também chave para
diversas funções biológicas. Essa estrutura é normalmente mantida por ligações
químicas mais fracas que as ligações covalentes, chamadas “pontes de hidrogênio”.
Através da quebra das pontes de hidrogênio, uma proteína ou enzima pode perder
parte da sua estrutura secundária ou terciária, o que pode levar à perda de sua
atividade biológica. Da mesma forma, o surgimento de ligações cruzadas inter e
intramoleculares podem vir a acontecer como consequência da exposição a
radiações ionizantes.

Apesar de todas as macromoléculas e estruturas de uma célula estarem


sujeitas às alterações provocadas pelas radiações ionizantes, considera-se como
potencialmente deletéria a interação das mesmas com as fitas de DNA, localizadas
no núcleo. De fato, as radiações ionizantes são um dos agentes físicos capazes de
causar instabilidade genética – o que pode, posteriormente, levar ao surgimento de
mutações genéticas à medida que a célula se divide. Em longo prazo, a instabilidade
genética, aliada tanto à ativação dos chamados “oncogenes”, como à desativação
dos chamados “genes supressores”, pode levar à manifestação final de um câncer.

Células com alta taxa de proliferação são mais sensíveis à radiação


ionizante, sendo a radiossensibilidade inversamente proporcional ao grau de
diferenciação apresentado pelas células (isto é, quanto menos definida ou menos
diferenciada a célula em sua função, maior a radiossensibilidade).

Dentre as células humanas mais radiossensíveis estão as células basais da


epiderme, os eritroblastos, as células totipotentes hematopoiéticas (localizadas na
medula óssea), as espermatogônias (células-matrizes, imaturas, dos
espermatozóides), assim como as células das criptas nas vilosidades intestinais.
Todas essas células dividem-se muito rapidamente, sendo indiferenciadas em
relação às funções a serem mais tarde desempenhadas. Da mesma forma, células
neoplásicas (células em um tumor, que perderam o controle do processo de divisão
54

celular e se dividem rapidamente de maneira descontrolada) são também muito


radiossensíveis.

Células nervosas ou células musculares, que não se dividem e são


diferenciadas, se encontram entre as mais radiorresistentes do corpo humano. Uma
exceção à regra seriam os linfócitos (diferenciados e sujeitos a baixas taxas de
divisão, mas extremamente radiossensíveis), e os oócitos (células-matrizes dos
óvulos na mulher, que, embora não-diferenciadas, não se dividem até que se
encontrem sujeitas a um processo que resultará na formação de um óvulo maturo).

Dessa forma, podemos observar como a radiação pode alterar o


funcionamento do organismo humano, o que nos leva à necessidade de
compreender os processos de uso destas radiações, bem como o cuidado no seu
emprego. Porém, apesar de todos os riscos, o uso das radiações tem trazido à
humanidade inestimáveis avanços, sobretudo na medicina. Isto torna verdadeira a
afirmativa de que devemos respeitar a radiação e seu uso e não temê-la (UFPB,
2013).
55

UNIDADE 9 – A ESSÊNCIA DA PRÁTICA EM BIOFÍSICA

Quando falamos em práticas, geralmente estamos nos reportando a


laboratório. Essas práticas precisam ser realizadas com segurança e seguindo os
procedimentos e recomendações básicas para que atinjam seus objetivos que nos
curso de Biofísica são:

a) Familiarizar o estudante com técnicas analíticas e equipamento de


emprego mais frequente na análise de componentes celulares.

b) Desenvolver sua capacidade de observação e interpretação de resultados


experimentais.

c) Ensinar-lhe medir a intensidade de certos fenômenos físico-químicos de


importância biológica.

Desenvolver o senso de observação e aprender a utilizar a parte teórica na


busca de explicações plausíveis para os resultados experimentais também fazem
parte dos objetivos.

Embora as boas práticas de laboratório (BPL) se voltem para o mercado de


trabalho, não custa lembrar sua importância. Elas são técnicas, normas e
procedimentos de trabalho que visam minimizar e controlar a exposição dos
trabalhadores aos riscos inerentes às suas atividades. A aplicação das boas práticas
é indispensável para a segurança do trabalhador, aqui, estudante, do produto que
está manipulando e do ambiente em que trabalha, e deve fazer parte de sua rotina
de trabalho. O uso das BPL deve fazer parte de uma consciência profissional de
cada trabalhador, independente do grau de formação.

Costa (1996) relata que a estatística dos acidentes de trabalho envolvendo


substâncias químicas, assim como a grande maioria dos acidentes em geral, mostra
maior frequência de casos em trabalhadores que apresentam falta de experiência e
trabalhadores que apresentam excesso de confiança, e menor frequência de casos
em trabalhadores que apresentam equilíbrio profissional. Isto revela a importância
de disponibilizar, ao funcionário que está iniciando, um treinamento consistente,
periódico e atualizado. Novamente podemos fazer relações com o estudante no
laboratório de prática. Desde já ele pode refletir, entender e aplicar essas boas
práticas.
56

Sobre o comportamento no laboratório, você deve recomendar ao seu aluno:

a) Ter sempre em mente que o laboratório é um lugar para trabalho sério.


Não improvisar experiências sem prévio consentimento do seu professor.

b) Nunca iniciar um experimento, ou parte dele, sem fazer um esquema do


que deverá realizar e tentar compreender bem as operações nele contidas.

c) Procurar dividir racionalmente o trabalho com os demais membros do


grupo para que não surjam as figuras do “estudante absorvente” e do “estudante
indolente”.

d) Não tentar operar qualquer aparelho sem estar familiarizado com os seus
princípios de funcionamento.

e) Comunicar imediatamente ao instrutor qualquer acidente no laboratório


(quebra de utensílios, derrame de substâncias tóxicas ou corrosivas, entre outros).

f) Ter sempre à mão um bloco ou caderno de rascunho para as anotações


durante a aula.

Evidentemente que após uma aula prática você pedirá um relatório, correto?
Sugere-se que trabalhe com os alunos em grupos de três ou quatro dependendo do
tamanho da turma.

São orientações básicas para elaboração do relatório.

a) Apesar de os experimentos serem realizados por grupos, sugere-se que


os relatórios sejam individuais, isto é, embora o grupo trabalhe em conjunto até a
fase de análise dos dados obtidos, cada um deverá apresentar seu próprio relatório.

b) Anotar todos os dados no caderno próprio à medida que as experiências


forem sendo desenvolvidas. Lembrando que essas anotações serão usadas para o
preparo do relatório.

c) Os relatórios deverão ser redigidos à tinta e apresentados sem rasuras e


borrões, de forma ordenada e compreensível. Não sendo aceitos relatórios
incompletos.

d) Apresentar os cálculos efetuados e o uso de quadros, tabelas e gráficos


enriquecem o relatório, além de ser necessário ter os resultados discutidos,
57

analisados, comparados com os da literatura e evidenciadas as principais


conclusões do experimento.

Os aparelhos e utensílios usados em laboratórios de Biofísica e, ou, outras


ciências biológicas são numerosos e, às vezes, muito versáteis. Alguns são mais
sofisticados, requerendo treinamento especial e, às vezes, a presença de um técnico
especializado.

Em aulas práticas, geralmente, utilizam-se os aparelhos e instrumentos mais


simples, sendo, de todo modo importante familiarizar com aparelhos e utensílios de
uso mais frequente, discutindo suas várias aplicações e o modo correto de utilizá-
los, afinal de contas, para alguns este pode ser o primeiro contato.

Diversas etapas de um trabalho de laboratório requerem aplicação de calor,


que vai desde um simples aquecimento até a calcinação total do material biológico.

Dentre eles temos o agitador magnético e o bico de Bulsen

A separação de partículas sólidas de sistemas líquidos pode, em geral, ser


obtida por meio de filtração ou de centrifugação. A filtração requer o uso de um
suporte (funil de vidro, de plástico, entre outros) e de um elemento filtrante (papel-
filtro, porcelana porosa, entre outros).
58

Em alguns casos, principalmente quando o elemento filtrante é de baixa


porosidade ou as partículas do precipitado tendem a obstruir os poros, a filtração
pode tornar-se extremamente demorada. Na maioria das vezes, pode-se obter uma
aceleração do processo, fazendo-se a filtração sob vácuo.

A medida e a transferência de
volumes exatos ou aproximados são
realizadas por meio de aparelhos
volumétricos como as pipetas.

Os trabalhos de pesquisa em laboratório de química, bioquímica ou biofísica


envolvem a utilização de soluções cujas concentrações, quase sempre, precisam ser
perfeitamente conhecidas.

O estudante precisa conhecer os modos de expressão das concentrações e


também saber preparar as soluções com o rigor exigido para cada situação. Na
prática, há casos em que a solução não precisa ser preparada com extremado rigor.
Entretanto, há situações em que o sucesso de uma análise, ao lado de outros
fatores, depende da exatidão com que for preparada a solução.

Algumas definições:

a) Solução - mistura homogênea de duas ou mais substâncias.

b) Soluto - é a substância que se dissolve.


59

c) Solvente - é a substância que dissolve o soluto.

d) Concentração - é a quantidade de soluto que se encontra dissolvida em


determinada quantidade de solvente.

A concentração é expressa de várias formas:

a) Percentagem - é a relação entre o peso (p) ou volume (v) do soluto e


100g ou 100mL de solução final. Podemos ter: p/p, p/v, v/v e v/p.

b) Molaridade - é o número de moles de soluto presentes em um litro de


solução.

c) Normalidade - é o número de equivalentes-grama de soluto presentes em


um litro de solução;

d) Molalidade - é o número de moles do soluto por quilograma do solvente.

Em se tratando de preparo de soluções diluídas, a diluição é geralmente


expressa como uma relação entre o número de partes da solução original e o
número de partes da solução final. Assim, uma diluição 1/3, contém uma parte da
solução original em três partes de solução final e uma diluição de soro a 1/5, com
água destilada, conterá uma parte de soro e quatro partes de água, totalizando cinco
partes de solução final.

Quando efetuamos diluições, a partir de uma solução original, podemos


utilizar a seguinte fórmula: D = C2 / C1, onde:

D = diluição efetuada ou a ser efetuada.

C1 = concentração da solução original.

C2 = concentração da solução obtida ou a se obter.

Quando queremos um determinado volume final, bastará multiplicá-lo pela


diluição e teremos o valor do volume de solução original requerido para efetuar a
diluição.

Em casos de altas concentrações nas dosagens, quando é necessária a


diluição da amostra, o fator de multiplicação (ou de diluição) será o inverso da
diluição.
60

Dentre as várias técnicas aplicadas em laboratórios temos:

a) Separação de aminoácidos por Cromatografia em Papel

A cromatografia em papel é um método de separação essencialmente


microanalítico, que se baseia em diferentes partições, do tipo líquido-líquido, dos
componentes de uma mistura sobre um suporte de papel-filtro.

O fenômeno é, predominantemente, de “partição”, embora outros fenômenos


como a adsorção e a troca iônica também possam ocorrer em menor intensidade.

Os componentes básicos da cromatografia em papel são:

a) Fase estacionária: formada pelo sistema água-celulose, que resulta da


adsorção das moléculas de água pelas fibras de celulose, através de pontes de
hidrogênio entre os grupos hidroxílicos da celulose e as moléculas de água.

b) Fase móvel: normalmente constituída de um solvente ou um sistema de


solventes orgânicos de baixa polaridade.

c) Suporte sólido: constituído pelo papel-filtro, que deve ser de boa


qualidade, com características adequadas à cromatografia.

Durante o processo, a fase móvel passa sobre o papel em contato íntimo


com a fase estacionária, com a qual é imiscível, provocando uma partição contínua
dos componentes da mistura entre as duas fases.

b) Análise Espectrofotométrica na Região do Visível

A análise espectrofotométrica na região do visível só é possível para aqueles


compostos que absorvem radiação de comprimentos de onda nesta faixa do
espectro ou, então, que possam ser transformados, por uma reação, em tais
compostos. Embora existam inúmeros compostos coloridos e que poderiam ser
medidos por esta técnica diretamente, sem nenhum problema, na maior parte das
vezes, o mais comum é aplicar a técnica após transformação do composto sob
estudo.

A determinação da concentração (c) de uma substância em solução pode


ser feita:
61

a) Pela simples determinação da absorvância (A) em determinado


comprimento de onda, quando se conhece o coeficiente de absortividade (a)
daquela substância:

c =A/ ab

em que b: espessura da cubeta (b = 1; maioria das cubetas).

b) Indiretamente, por meio de curva de calibração, preparada com padrões


de concentração conhecida.

c) Difusão Seletiva de Partículas de Soluto Através de Membrana


Semipermeável

Segundo a teoria cinética, as partículas, moléculas ou íons de todas as


substâncias, principalmente de líquidos e de gases, encontram-se em movimento
constante em todas as direções e, portanto, há uma tendência natural de serem
dissipadas as diferenças de concentrações que, porventura, ocorram entre duas
regiões adjacentes. O movimento de partículas de soluto em direção à região de
menor concentração naquele soluto denomina-se DIFUSÃO.

A difusão em soluções sem a interposição de uma membrana é chamada


“difusão livre” e depende basicamente da diferença de concentração entre duas
regiões próximas. Quando ela ocorre entre compartimentos separados por uma
membrana semipermeável (como papel-celofane e membranas de diálise), além da
diferença de concentração entre os compartimentos, depende também do tamanho
das partículas dos solutos e do tamanho dos poros destas membranas.

Em células, além dos fatores já mencionados, a difusão é ainda influenciada


pelas características das membranas celulares que serão atravessadas. É o caso,
por exemplo, da dupla camada de lipídios. Por ser tipicamente apolar, a difusão de
substâncias polares e, ou, iônicas através da membrana fica bastante restringida.
Além disso, nas membranas operam canais iônicos e outros sistemas de transporte
que tornam ainda mais difícil interpretar a contribuição individual dos sistemas de
transporte.
62

d) Demonstração do Fenômeno da Osmose

Quando duas soluções de concentrações diferentes, separadas por uma


membrana semipermeável, são colocadas em contato, além da difusão das
partículas de soluto, pode ocorrer um movimento passivo de moléculas do solvente
para a solução mais concentrada.

Este fenômeno é denominado OSMOSE e pode ser facilmente observado


pelo aumento do volume da solução mais concentrada. O movimento de solvente
para a solução mais concentrada pode ser reduzido, impedido ou revertido pela
aplicação de uma pressão externa. Pressão osmótica é a pressão que deve ser
aplicada à solução mais concentrada para impedir a passagem de moléculas de
solvente.

A sua relação com a concentração da solução é dada pela equação de Van't


Hoff:

π = RTCi

em que π = Pressão Osmótica, atm;

R = Constante dos gases, 0,082 L atm mol-1 K-1;

T = Temperatura absoluta, K;

C = Concentração, mol L-1;

i = Fator de Vant’Hoff = [1 + α (q-1)], em que α é o grau de dissociação e q o


número de partículas originadas da dissociação.

Estima-se a influência do tipo de soluto e de sua concentração sobre o valor


da pressão osmótica utilizando-se um osmômetro capilar (CAMBRAIA et al., 2012).
63

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