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DIR EI TO TR IBU TÁ R IO
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2580-0
www.iesde.com.br
ADVOCACIA GERAL
DIREITO TRIBUTÁRIO
2.ª edição
ISBN: 978-85-387-2580-0
CDD 336.2
Competência e
capacidade tributária
17 Competência tributária
18 Capacidade tributária
19 Bitributação e bis in idem
19 Lei complementar e competência tributária
Princípios constitucionais
tributários
23 Princípio da legalidade
25 Princípio da anterioridade
29 Princípio da irretroatividade
30 Princípio da capacidade contributiva
34 Princípio da vedação ao confisco
Imunidades tributárias
37 Introdução
38 Considerações gerais sobre as imunidades
Imunidades tributárias II
45 Imunidades genéricas
49 Imunidades específicas
Crédito tributário
55 Lançamento por declaração
55 Lançamento por homologação
(autolançamento)
55 Lançamento de ofício
56 Principais características dos tributos
Formas de suspensão
do crédito tributário
65 Introdução
65 Estudo das hipóteses legais
de suspensão da exigibilidade
Formas de extinção
do crédito tributário I
73 Pagamento
75 Compensação
79 Transação
79 Remissão
80 Conversão do depósito em renda
80 Pagamento antecipado
e homologação do lançamento
81 Consignação em pagamento
82 Decisão administrativa irreformável que
não possa mais ser objeto de ação anulatória
82 Decisão judicial passada em julgado
82 Dação em pagamento de bens imóveis
Formas de extinção
do crédito tributário II
85 Introdução
86 Decadência da Fazenda Pública
90 Prescrição da Fazenda Pública
95 Decadência do contribuinte
95 Prescrição do contribuinte
Formas de exclusão
do crédito tributário
101 Obrigação principal e acessória
102 Isenções
104 Anistia
104 Modalidades de multas tributárias
106 Garantias e privilégios do crédito tributário
109 Administração tributária
Referências
Conceito de tributo
O conceito de tributo está previsto no artigo 3.º do Código Tributário Nacional
(CTN), que estabelece de modo adequado as características necessárias para a identifica-
ção dessa categoria jurídica, diferenciando-a de outras figuras semelhantes.
Mestre e Doutorando em Direito Tributário pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor da Graduação da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR), da Pós-Graduação do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), da PUCPR e
da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst).
Espécies tributárias
As espécies tributárias são descritas na Constituição Federal (CF); suas caracte-
rísticas mais importantes encontram-se nos artigos 145, 148, 149, 149-A e 195 da Carta
Magna em vigor.
As duas teorias que agregam a quase totalidade da doutrina são as que afirmam
serem três ou cinco as espécies tributárias, sendo que as demais têm pouco ou nenhum
prestígio atualmente na doutrina. O posicionamento mais recente do Supremo Tribunal
Federal (STF) é no sentido de adotar a teoria das cinco espécies tributárias.
A teoria clássica tripartite afirma que a principal distinção reside no fato gerador
do tributo ter ou não relação com alguma atividade estatal. Quando há essa relação, é
denominado de tributo vinculado, ou seja, ligado à atividade estatal que vai motivar a
cobrança do tributo. Como exemplo, podemos citar a prestação de serviço, o exercício do
poder de polícia ou a realização de obra pública. Por outro lado, o tributo é denominado
de não vinculado quando não contar no seu fato gerador com a previsão de qualquer
atividade estatal, tendo como hipótese de incidência, portanto, atividade praticada emi-
nentemente por particulares e, dessa forma, não ligado a qualquer atividade estatal. Por
exemplo, os impostos, cujo fato gerador é sempre uma atividade de um particular, que
revela capacidade contributiva do administrado. Essa teoria afirma que os empréstimos
compulsórios e as contribuições especiais podem ser enquadradas ou como imposto ou
como taxa, dependendo da sua configuração (se têm ou não vinculação com alguma ati-
vidade estatal), não tendo, com isso, características próprias que justifiquem a existência
de nova categoria jurídica.
O fato de o artigo 4.º, II, do CTN, afirmar que a destinação legal do produto da
arrecadação do tributo não é fator para estabelecer a natureza dele, esse dispositivo não
pode se sobrepor à previsão constitucional posterior, que empresta importância a essa
característica tanto para os empréstimos compulsórios quanto para as contribuições es-
peciais, em face da supremacia da CF sobre as normas infraconstitucionais.
Dentre essas classificações, temos, para efeitos didáticos, que a divisão em cinco
tributos é a mais adequada, pois ajuda a compreender cada uma dessas espécies, razão
pela qual foi adotada para fins desta síntese. Logo, vale o estudo das principais caracte-
rísticas de cada uma delas.
Impostos
Imposto é todo tributo que tem por fato gerador um ato particular independente
de qualquer atividade estatal específica em relação ao contribuinte (CTN, art. 16). Em
outras palavras, o que motiva a cobrança do imposto é um fato previsto na lei (auferir
renda, por exemplo), que é totalmente alheio a qualquer atividade do Estado (diferente
da taxa, v.g., que possui como motivo para sua cobrança a prestação de um serviço ou de
um ato fiscalizatório pelo Estado). No caso do imposto, o fato gerador revela apenas a
capacidade contributiva do contribuinte, que, apenas e tão somente por esse motivo (re-
velar capacidade econômica para ajudar nas despesas que o Estado tem), será chamado a
contribuir para o pagamento dessas despesas com parte do seu patrimônio.
Contribuições de melhoria
Contribuição de melhoria é um tributo vinculado que, para ser cobrado, deve
provir de uma atividade estatal em relação ao contribuinte, e essa atividade deverá,
necessariamente, consistir na realização de uma obra pública, resultando em valo-
rização dos imóveis próximos a ela (todos os que forem atingidos por valorização
decorrente da obra pública realizada). Esse tributo deverá, entretanto, observar na sua
cobrança dois limites concomitantes, que restringirão sua incidência sobre o patri-
mônio do proprietário do imóvel atingido pela valorização. Existe um limite geral,
determinante para a arrecadação total desse tributo quanto a uma determinada obra,
que não poderá ultrapassar o custo total dela; existe também um limite específico ou
individual, que determina que o valor a ser cobrado de cada proprietário de imóvel
atingido pela valorização não poderá ser superior ao montante de valorização agregado
ao imóvel, ou seja, o limite será resultante do valor a mais apresentado pelo imóvel.
Essa verificação se dará com a comparação de seu valor antes e depois da obra pública
realizada. Assim, o Estado poderá, com esse tributo, apenas reaver o valor que foi
indevidamente acrescido ao patrimônio do particular, em função de uma obra pública,
mas não poderá, em hipótese alguma, arrecadar mais do que gastou (por imposição do
limite global). Não poderá, ainda, cobrar individualmente de cada contribuinte valor
superior à valorização verificada no imóvel e que tenha sido motivada pela obra pública
realizada (CTN, art. 81).
Existe ainda um outro fato gerador das taxas, que consiste no exercício do poder
de polícia pelo Estado, no sentido de realizar a adequação do direito individual do con-
tribuinte ao interesse coletivo, fiscalizando sua conduta de forma a moldar o exercício
do seu direito aos interesses da coletividade – definido no artigo 78 do CTN. Por exem-
plo, taxa de vistoria dos bombeiros, taxa sanitária, estacionamento regulamentado em
vias públicas etc. São as chamadas taxas de polícia ou de fiscalização.
Essas taxas podem ser cobradas mesmo que não resultem em benefício ao contri-
buinte, como é o caso das taxas judiciárias (pagas por quem perde o processo) ou da taxa
de fiscalização para emissão de alvará (que, após a vistoria, pode ser negado).
Empréstimo compulsório
Empréstimo compulsório é um tributo restituível (empréstimo), que poderá ser
criado para custear despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública (ciclones,
enchentes, seca etc.) ou guerra externa iminente ou declarada (não pode ser utilizado para
financiar repressão a levante interno ou guerra civil), ou ainda para financiar investimento
público de caráter urgente e de relevante interesse nacional (v.g., investimento em energia elé-
trica, para evitar “apagão”).
Contribuições especiais
Contribuições especiais são tributos caracterizados por sua finalidade, uma vez
que seus valores devem ser aplicados nas finalidades que geraram sua criação. O artigo
149 da CF prevê quatro subespécies de contribuições especiais:
Competência tributária
A competência tributária é definida como o poder para criar tributos, ou a parcela
de poder que é atribuída aos entes tributantes (União, Estados e Distrito Federal, Muni-
cípios) pela Constituição Federal (CF). Essa competência é exercida por meio de lei; para
distribui-la a Constituição brasileira utiliza-se da permissão de que se tributem fatos
geradores nela definidos. Por exemplo, permite que a União tribute a renda (Imposto
de Renda), enquanto os estados podem tributar a circulação de mercadorias e serviços
(ICMS), e o município a propriedade imobiliária urbana (IPTU). Esses são os fatos que,
junto com outros previstos na Constituição, formam o desenho da competência tributá-
ria de cada um dos entes tributantes.
União
■ Impostos (CF, art. 153) – Imposto de Renda (IR), Imposto Territorial Rural
(ITR), Imposto sobre Operações Financeiras – operações de câmbio, seguros e
crédito (IOF), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto de Im-
portação (II), Imposto de Exportação (IE), Imposto sobre Grandes Fortunas
(IGF), imposto extraordinário de guerra e de competência residual (compe-
tência para criar impostos não previstos na Constituição, sobre fatos que não
tenham sido afetados a nenhuma outra entidade; podem ser tributados pela
União, desde que observadas as condições do artigo 154, I, ou seja, criados por
lei complementar, não podem ser cumulativos nem ter fato gerador ou base de
cálculo já previstos nas competências descritas na Carta Magna); taxas (todas
de serviços e do exercício do poder de polícia de competência da União), con-
tribuições de melhoria de obras públicas realizadas pela União, empréstimos
compulsórios e contribuições especiais (sociais, interventivas e corporativas).
Estados
■■ Impostos (CF, art. 155) – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS),
Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), Imposto sobre a
Propriedade de Veículo Automotor (IPVA); taxas de serviços e de fiscalização
de competência dos estados, contribuições de melhoria das obras públicas que
realizar e contribuição previdenciária de seus servidores (art. 149, §1.º).
Municípios
■■ Impostos (CF, art. 156) – Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISSQN), Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) e Imposto
sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI); taxas de serviços e de fiscali-
zação de sua competência, contribuições de melhoria das obras que realizar,
contribuição previdenciária de seus servidores (art. 149, §1.º) e contribuição de
iluminação pública (art. 149-A).
Distrito Federal
■■ Todos os impostos dos estados, e ainda os dos municípios (CF, arts. 147 e 155),
as contribuições de melhoria das obras que realizar, as taxas de serviços e de
fiscalização de sua competência, contribuição previdenciária de seus servido-
res (art. 149, §1.º) e contribuição de iluminação pública (art. 149-A).
Territórios
■■ Competência da União tanto para os impostos estaduais (que, portanto, por
meio de lei federal criará um ICMS, por exemplo), quanto dos impostos mu-
nicipais (quanto a estes, desde que os territórios não sejam divididos em municípios,
quando então a competência será dos próprios municípios que compuserem o
território).
Capacidade tributária
Capacidade tributária é definida como o poder para arrecadar ou exigir tributos,
ou seja, o poder para figurar no polo ativo da relação jurídica tributária. Difere, portanto,
da competência tributária, que é o poder para criar o tributo.
relação jurídica tributária) a outra pessoa jurídica, que terá, portanto, a responsabilidade
de fiscalizar e tomar todas as providências para arrecadar o tributo. São os chamados tri-
butos parafiscais, como é o caso das contribuições sindicais, que são criadas pela União
através de lei federal (artigo 578 e seguintes da Consolidação das Leis Trabalhistas –
CLT), mas são cobradas e administradas pelos sindicatos.
Já na figura do bis in idem, temos o mesmo ente tributando duas vezes o mesmo
fato, o que, embora não seja compatível com a melhor política tributária, não se constitui
em figura ilícita. Observe-se, como exemplo, o adicional de 10% de IR que as pessoas
jurídicas devem pagar quando ultrapassam renda superior a R$20.000,00 mensais.
Além disso, é importante ressaltar que a lei complementar tem outras funções no
âmbito tributário, também previstas no artigo 146 da CF, tais como:
■■ regular as limitações constitucionais ao poder de tributar (regular os princí-
pios, as imunidades etc.);
Esses temas podem ser bem observados nos diversos manuais de Direito Tribu-
tário existentes, notadamente no livro do professor José Eduardo Soares de Melo, Curso
de Direito Tributário, da Editora Dialética. Sobre as distinções entre bitributação e bis in
idem, veja Eduardo Marcial Ferreira Jardim, Dicionário Jurídico Tributário, 3. ed. São Paulo:
Dialética, 2000.
Princípio da legalidade
Previsto no artigo 150, I, da Constituição Federal (CF) e nos artigos 9.º e 97, do
Código Tributário Nacional (CTN), no âmbito tributário, o Princípio da legalidade colo-
ca-se em contraposição ao Princípio da liberdade do particular, estabelecendo os atos que
podem ser praticados pela Administração Pública: ao particular, a liberdade de tudo
fazer, desde que não esteja vedado em lei (por exemplo, estacionar em qualquer local,
desde que não seja proibido), enquanto que, ao administrador público, a liberdade e o
poder-dever de fazer tão somente o que esteja previsto em lei.
Não é apenas a criação dos tributos, com a previsão de todos os seus aspectos,
que deve estar contemplada expressamente na lei, mas também o aumento da carga tri-
butária, que pode se dar de vários modos. Normalmente, esse aumento vem com a alte-
ração de alíquotas, mas pode ser verificado também de outras formas, como o aumento
da base de cálculo (exemplo acima), com a diminuição ou restrição de abatimentos e
benefícios fiscais, com a supressão de isenções etc.
Quando se exige lei, alude-se à lei em sentido estrito, como ato próprio e regular
do Legislativo, sendo tanto lei ordinária como lei complementar.
São exceções quanto ao aumento de alíquotas por meio de ato próprio do Execu-
tivo (decretos): Imposto de Importação, Imposto de Exportação, Imposto sobre Produtos
Industrializados, Imposto sobre Operações Financeiras (CF, art. 153, I, II, IV, V), alíquo-
tas de ICMS incidente sobre combustíveis e lubrificantes (art. 155, §4.º, I) e alíquotas da
CIDE-combustíveis (art. 177, §4.º, I, “b”).
Princípio da anterioridade
Previsto no artigo 150, III, “b”, da CF, e artigo 9.º do CTN, o Princípio da anterio-
ridade não se confunde com o Princípio da anualidade, previsto na Constituição de 1946, a
qual determinava que o tributo poderia ser cobrado apenas com a previsão em lei orça-
mentária anual, autorizando sua cobrança. Desse modo, a cada ano, a lei orçamentária
(que é anual) deveria autorizar a cobrança dos tributos que fariam frente às despesas
nela previstas.
O Princípio da anterioridade, por sua vez, proíbe que seja cobrado tributo no
mesmo exercício financeiro em que foi publicada a lei que o instituiu ou aumentou.
Em outras palavras, para que uma lei tributária que aumenta ou cria um tributo possa
produzir efeitos neste ano, é necessário que ela tenha sido publicada, no máximo, até o
último dia do ano anterior.
Esse princípio foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como garan-
tia fundamental (cláusula pétrea), status jurídico reconhecido, quando este julgou incons-
titucional o IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras, depois conver-
tido na CPMF).
Esse princípio também é conhecido como “princípio da não surpresa”, por ter
como objetivo não causar sobressaltos à vida financeira dos contribuintes, que, em
tese, sabendo antecipadamente do aumento da carga tributária, poderiam se preparar
para suportar o ônus financeiro dele decorrente. Na prática, no entanto, isso não acon-
tece, pois como a publicação pode se dar até o final do ano, é bastante comum que, nos
últimos dias do exercício, o governo publique leis que aumentam a carga tributária.
Dessa forma, elas começariam a produzir efeitos pouco tempo depois, logo no início
do ano seguinte.
Essa situação foi atenuada em parte pela Emenda Constitucional 42/2003, que
estabeleceu uma nova sistemática de vigência da lei tributária, com a conjugação dessa
anterioriedade com a anterioridade nonagesimal (de 90 dias ou noventena), antes aplicá-
vel apenas às contribuições sociais do artigo 195 da CF.
Assim, em regra, essa nova configuração determina que a lei que venha criar ou
aumentar os tributos só passe a produzir efeitos no exercício (ano) seguinte, mas com a
condição de aguardar 90 dias, contados da data de sua publicação.
A carga tributária pode ser aumentada de várias formas, seja criando-se novos
tributos, seja alterando-se os já existentes. Quanto ao aumento dos já existentes, normal-
mente se modificam as alíquotas, mas o mesmo resultado pode ser obtido com alterações
na base de cálculo dos tributos, suprimindo-se isenções e benefícios fiscais etc. Contudo,
quando essas alterações no tributo resultarem em maior gravame ao patrimônio do con-
tribuinte, elas deverão necessariamente observar as regras específicas da anterioriedade,
salvo as exceções abaixo.
Foram levadas aos tribunais algumas situações interessantes sobre alterações dos
tributos, como a mudança nos prazos de recolhimento, e se essa alteração estaria ou não
submetida à anterioridade. O STF editou Súmula a esse respeito, no seguinte sentido:
N. 669. Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se
sujeita ao princípio da anterioridade.
O STF editou, para esse fim, a Súmula 584, que depois foi superada por tese
defendida por Luciano Amaro, que ensejou a revisão pelo próprio Supremo:
Essa Súmula foi superada pelo Supremo, em virtude de sua nítida violação ao
Princípio da anterioridade (e também da irretroatividade), de forma que a lei que alterar
o Imposto de Renda só poderá atingir os fatos geradores ainda não iniciados. Quando o
contribuinte faz sua declaração de ajustes (no início do ano seguinte), referindo-se a fatos
geradores do ano anterior (ano-base), aplica-se ao caso apenas a lei que estava em vigor
antes do início do ano anterior.
em razão desses objetivos urgentes que perseguem, eles foram colocados pelo legislador
constitucional, como exceções a esses princípios. São exceções da anterioridade e da
anterioridade nonagesimal, de acordo com a Constituição Federal em vigor.
Princípio da irretroatividade
Previsto no artigo 150, III, “a”, da CF e no artigo 106 do CTN, o Princípio da irre-
troatividade proíbe que seja cobrado tributo em relação a fatos geradores ocorridos antes
do início da vigência da lei que o criou ou aumentou.
Se os fatos tributários são regidos pela lei que estiver vigente à época em que
aconteceram, evidentemente que não poderá a nova lei, sob pena de violar a segurança
jurídica, admitir que fatos ocorridos anteriormente ao início de sua vigência sejam atin-
gidos por ela.
fatos anteriores a esse marco temporal; nem mesmo poderá atingir fatos ocorridos entre
a publicação da lei e o início da sua vigência.
É importante notar que o momento de início da vigência da lei nem sempre coin-
cide com o momento de sua publicação, pois pode haver um lapso de tempo entre sua
publicação e o início de sua vigência, denominado de vacatio legis.
A capacidade contributiva absoluta diz respeito ao universo de fatos que podem ser
objeto de tributação, que são apenas os que revelem valor econômico, ou fatos signos
presuntivos de riqueza (Alfredo Augusto Becker), como auferir renda, ser proprietário
de veículo automotor, de imóvel etc. Não se admite mais, portanto, tributação como o
“imposto sobre a barba” criado por Pedro, o Grande, visando ocidentalizar os costumes
de seu povo.
portanto, prova em contrário. Dessa forma, se uma pessoa pobre for sorteada como
ganhadora de um carro de luxo, sua condição financeira pessoal (não possuir valor para
pagar o imposto do veículo) não elide a sua obrigação de pagar o IPVA, pois a presun-
ção contida na lei de que alguém que possua veículo automotor possui capacidade para
contribuir com os gastos públicos é absoluta, ou seja, a condição financeira não afasta a
capacidade contributiva.
Nos tributos proporcionais (que não são fixos, possuindo base de cálculo e alí-
quota), a capacidade contributiva pode ser melhor precisada, pois podem ser feitos ajus-
tes na base de cálculo (acréscimos ou deduções, como se faz com o IR, por exemplo, em
que podem ser abatidos gastos com dependentes, educação, saúde, previdência, doações
etc.), ou estabelecer alíquotas diferenciadas, de maneira a se auferir, da forma mais pre-
cisa possível, a capacidade contributiva da pessoa.
Contudo, nem todo tributo pode precisar, de forma tão pessoal, a capacidade con-
tributiva. É o caso da tributação sobre produtos, em que não se sabe quais são as carac-
terísticas do contribuinte. Ainda assim, é possível verificar a capacidade contributiva
deste por meio das características do próprio produto, presumindo-se sua capacidade
para contribuir com os gastos públicos.
Para esse fim, a seletividade, exigida para alguns tipos de impostos, determina que
se distribua a carga tributária de acordo com a essencialidade do produto ou serviço para a
sobrevivência das pessoas. É o caso do IPI e do ICMS, embora para o ICMS a Constitui-
ção tenha utilizado a expressão “poderá ser seletivo” (art. 155, §2.º, III), motivando os
estados a não atenderem a esse comando constitucional.
Dessa forma, devem sofrer maior incidência da carga tributária produtos e servi-
ços considerados não essenciais (supérfluos), e menor gravame os que forem essenciais
à população. Com efeito, produtos da cesta básica devem estar desonerados ou sofrer
pouca incidência tributária, porque as pessoas que os consomem o fazem por absoluta
necessidade, de forma que não revelam qualquer capacidade contributiva. Já os que con-
somem carros de luxo ou produtos de beleza, bebidas alcoólicas e tabaco, os quais não
possuem a característica de serem absolutamente necessários, revelam grau elevado de
capacidade para contribuir, pois consomem produtos que não são essenciais, sendo dese-
jável que suportem um maior gravame tributário.
Progressividade
A progressividade consiste em aumentar a carga fiscal em função de algum fator ou
de alguma característica, fazendo com que a alíquota do tributo aumente em decorrência
disso; pode ser o aumento da riqueza ou mesmo outra característica, como o desatendi-
mento da função social da propriedade, por exemplo.
Também o IPTU, na configuração do artigo 182, parágrafo 4.º, II, da CF, tem pro-
gressividade extrafiscal, pois leva em consideração, para o aumento da alíquota, o tempo
em que está sendo desatendida a função social da propriedade urbana, definida no plano
diretor da cidade, obrigatório em cidades com mais de 20 mil habitantes. A alíquota varia
para mais ou para menos, em razão de o proprietário do imóvel urbano observar, na hora
de utilizar seu imóvel, as exigências do plano diretor, sendo que quanto mais tempo
desatender às diretrizes, maior será a alíquota a pagar a esse título.
fator de distribuição de riqueza na sociedade, de modo a tirar valores de quem tem mais
e distribuí-los, por meio de serviços, a quem nada ou pouco tem. Os tributos também
podem ser preponderantemente extrafiscais, quando arrecadam dinheiro para os cofres
públicos, mas possuem outro objetivo que não o meramente arrecadatório.
diversa daquela que tem o poder para criar esse tributo. O INSS é uma autarquia federal,
que tem o poder de arrecadar várias contribuições previdenciárias, mas é a União (por
força dos arts. 149 e 195 da Constituição em vigor) quem tem o poder para criar essas
contribuições por meio de leis; esse é o típico exemplo de parafiscalidade.
Pode-se utilizar de instrumentos para ajudar nessa verificação. É o que faz Marçal
Justen Filho, quando propõe que se utilizem de duas características do bem a ser tribu-
tado, para ajudar na caracterização do efeito confiscatório: essencialidade e renovabilidade.
Assim, quanto mais essencial for o bem, maiores serão as chances de ser consi-
derada confiscatória uma elevada carga tributária a incidir sobre ele. Pode-se dizer que
o efeito confiscatório é mais fácil de ser verificado em bens essenciais do que em bens
supérfluos (daí ninguém considerar confiscatória a elevada carga que recai sobre bebidas
e tabaco).
Por outro lado, quanto maior a probabilidade de renovação da riqueza a ser tribu-
tada, menores serão as chances de se considerar confiscatória uma elevada carga tributá-
ria a incidir sobre ela. Pode-se afirmar que existem menos chances de a incidência tribu-
tária sobre a riqueza que se renova periodicamente ser considerada confiscatória do que
sobre a riqueza estática, que não se renova de período em período. É o caso do Imposto de
Renda, que normalmente é alvo de elevadas alíquotas tanto no Brasil quanto no exterior
(nos Estados Unidos, por exemplo), mas que tem menos chances de ser considerado con-
fiscatório. É diverso do que ocorre com o imposto sobre a propriedade imobiliária (IPTU,
por exemplo), que é uma riqueza estática, com maior probabilidade de ser considerada
confiscatória uma alta carga que recaia sobre ela.
ser considerada confiscatória, e uma de 100% não ser assim considerada. Se a alíquota
de 30% for utilizada para o IPVA, seguramente será considerada confiscatória, pois a
riqueza, além de não ser renovável, reveste-se de certa essencialidade. Se a alíquota de
100% incidir sobre cigarros e bebidas, é muito provável que não seja considerada con-
fiscatória, pois tributa um bem que, além de não ser essencial, faz mal à saúde. Dessa
forma, é de interesse público desestimular seu consumo (o que pode ser feito tanto com
propagandas como por meio do instrumento tributário, atribuindo-lhe elevada carga de
impostos).
Introdução
A figura da imunidade, embora semelhante à isenção no seu efeito de desonerar o
contribuinte do pagamento de tributos, é uma categoria jurídica bastante distinta.
■ A isenção pressupõe a existência de competência tributária, enquanto a
imunidade é exatamente a inexistência de competência para tributar. Desse
modo, só poderá haver isenção para determinado tributo quando existir o
poder atribuído a uma das esferas de governo para criar o tributo. Na imu-
nidade, a Constituição não concede esse poder, proibindo expressamente no
seu texto que a pessoa ou o objeto sofram a incidência do tributo.
■ A fonte da imunidade é a Constituição Federal (CF), enquanto que a fonte da
isenção é a lei infraconstitucional (federal, estadual ou municipal). Assim, é
a própria esfera de governo que recebeu da Constituição a competência para
tributar que poderá dispensar o contribuinte do pagamento do tributo, sem-
pre visando atender a interesse público mais importante do que a mera arre-
cadação.
■ A interpretação das isenções, por força do artigo 111, II, do Código Tributário
Nacional (CTN), deve ser sempre literal, ao passo que, por força da jurispru-
dência, a interpretação das imunidades vem sendo extensiva.
Existe ainda uma terceira situação que também retrata a ausência do dever de
pagar tributo, que são os casos de não incidência, e que diferem tanto da imunidade
quanto da isenção. No caso da não incidência, existe latente (em potencial), a possibili-
dade de ser tributado o fato, uma vez que não há qualquer proibição expressa no texto
constitucional vedando sua tributação – portanto, não há imunidade.
Por outro lado, embora o fato esteja dentro do universo dos fatos que revelam
condições de serem tributados (porque atendem ao Princípio da capacidade contributiva
absoluta), ainda assim não foi exercido pelo ente tributante a competência para colocá-lo
como fato gerador de um tributo. Em outras palavras, o fato em questão não está tipifi-
cado em qualquer lei tributária para fins de incidência.
Logo, não se pode falar nem em imunidade, porque não há proibição de tri-
butá-lo, como também não se pode falar em isenção, porque não houve o exercício
dessa competência pela entidade que deteria o poder para tributá-lo e, por consequên-
cia, isentá-lo. Exemplo: no imposto sobre grandes fortunas, embora não haja proibição
na Constituição para criá-lo, essa competência não foi exercida pela União, em cujo
universo de fatos que podem ser por ela tributados encontra-se a criação desse imposto
(art. 153, VII). Também a competência residual do artigo 154, I, da CF, representa um
universo infinito de fatos que têm valor econômico, mas que não são tributados; todos
estão no âmbito da não incidência tributária.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das en-
tidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei.
Pela literalidade do texto constitucional do artigo 150, VI, “a” e “c”, não pode-
riam incidir sobre as entidades previstas apenas os impostos sobre o patrimônio, renda
ou serviços. O mesmo se daria quanto à entidade da alínea “b” (se for considerada como
imunidade subjetiva, pois boa parte da doutrina considera que estamos diante de imuni-
dade objetiva, ou seja, protegendo não a entidade religiosa, mas apenas o local – templo –
onde se realiza o culto religioso).
Artigo único. A vedação de instituir impostos de que trata a alínea “a” do inciso VI do
art. 150 da Constituição Federal (CF) aplica-se às importações realizadas pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, não sendo exigível o imposto de importação e o
imposto sobre produtos industrializados nessas operações.
Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se às importações realizadas por autar-
quias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público, desde que os bens impor-
tados estejam vinculados a suas finalidades essenciais ou sejam delas decorrentes, nos
termos do parágrafo 2.º do artigo 150 da CF.
É importante ressaltar, porém, que a imunidade diz respeito apenas aos impostos
relacionados à atividade essencial do ente imunizado, de maneira que qualquer outra atividade
realizada pelo ente, fora de seus atos constitutivos (contrato social, estatuto social ou
lei), não gozará da mesma proteção. É o que determina expressamente o parágrafo 4.º do
artigo 150 da CF:
Observe-se ainda que nem mesmo as esferas tributantes (União, Estados, Dis-
trito Federal e Municípios e suas respectivas autarquias e fundações públicas), escapam
dessa condição de praticarem atos relacionados à sua atividade essencial, conforme se
depreende dos parágrafos 2.º e 3.o do mesmo artigo 150, nos seguintes termos:
Dessa forma, tanto os entes tributantes como suas respectivas fundações e autar-
quias, que resolvam explorar atividade econômica própria de empresário particular, esta-
rão se desviando de sua atividade essencial, de modo que estarão sujeitos, nesse caso, à
tributação de todos os impostos que recaiam sobre a atividade que venham a explorar.
Nem poderia ser diferente, pois se o Estado autorizasse que essas entidades gozassem
de benefício fiscal não concedido a todos, estaria fomentando a concorrência desleal em
relação ao empresário particular, de forma a inviabilizar suas atividades e violar seus
direitos econômicos (CF, art. 170).
Quanto aos denominados impostos indiretos (IPI e ICMS), quando essas entidades
compram esses bens, não estão imunes, pois o contribuinte desse imposto é quem vende
o bem para a entidade, sendo que esta sequer faz parte da relação jurídica tributária.
Mesmo que o ônus financeiro seja suportado pela entidade imune, pois o valor estará
embutido no preço do produto, essa repercussão econômica não interfere na relação jurí-
dica tributária, que nasce entre o vendedor e a entidade tributante respectiva (a União se
for o IPI, e os Estados se for o ICMS). Essa tese vencedora e ainda em vigor no Supremo
Tribunal Federal (STF), foi defendida pelo ministro Bilac Pinto, em contraposição à tese
de Aliomar Baleeiro, que afirmava que a entidade imunizada também deveria estar pro-
tegida da incidência desses tributos, dando importância, portanto, à sua repercussão eco-
nômica, cujo ônus do fato é suportado pela entidade tributante, pois é embutido em seus
preços. Veja-se que isso se dá também com outros impostos do comerciante que vende os
produtos à entidade imune, pois todos os seus gastos estão embutidos no preço, o que,
ainda assim, não permite aproveitar a imunidade do ente para quem se está vendendo o
produto. É nesse sentido a Súmula 591 do STF, de 1976, a seguir transcrita:
N. 724. Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencen-
te a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, desde que o
valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.
Quanto ao tema das imunidades, o livro de Regina Helena Costa, Imunidades Tri-
butárias, Malheiros: São Paulo, 2001, é de grande importância sobre o assunto. Não se
pode olvidar, porém, quando se trata desse tema, a jurisprudência do Supremo, que pode
ser resumida no livro Sistema Tributário Nacional na Jurisprudência do STF, Dialética: São
Paulo, 2002, coordenado por Marciano Seabra de Godoi, que, ao lado de algumas pesqui-
sas rápidas no site do STF, podem ajudar a entender as mais variadas decisões sobre um
dos temas mais controvertidos do Direito Tributário.
Imunidades genéricas
Imunidade recíproca
Prevista no artigo 150, VI, “a”, da Constituição Federal (CF) de 1988, a imu-
nidade recíproca determina que é vedado às entidades tributantes cobrarem impostos
umas sobre as outras. Essa regra talvez sequer fosse necessária, pois apenas o Princípio
federativo, que iguala e não permite ingerência entre essas entidades, já não permitiria a
tributação recíproca. Nos Estados Unidos, não há qualquer regra específica sobre imuni-
dade recíproca, mas ela é retirada do pacto federativo.
As fundações criadas pelos partidos políticos também são imunes, com os mes-
mos requisitos e limitações quanto às atividades estatutárias.
Essas entidades, como suas fundações, para gozarem dessa proteção constitucio-
nal, deverão exercer atividades inerentes a seus estatutos sociais, de forma que, aventu-
rando-se além dos seus estatutos, estarão perdendo a proteção concedida pela CF.
Sindicato de trabalhadores
Não é qualquer associação de trabalhadores que é imune, mas apenas o sindicato,
aquele constituído com base no artigo 8.º da CF, e nos artigos 511 e 512 da Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT).
As federações (formadas por pelo menos cinco sindicatos, e existentes por Estado
– CLT, art. 534) e as confederações (formadas por pelo menos três federações, com âm-
bito nacional e sede em Brasília – CLT, art. 535) enquadram-se no conceito de entidades
sindicais e são imunes, pois, se as partes estão imunizadas, o todo também estará.
Pelas mesmas razões, as centrais sindicais – CUT, CGT, Força Sindical – são imu-
nes, embora haja divergência sobre o tema. Elas devem também se ater às suas finali-
dades essenciais, sob pena de perder a proteção constitucional imunizante. Do mesmo
modo, para gozar da imunidade em questão, deverão cumprir o que dispõe o artigo 14
do CTN.
Instituição de educação
Educação no sentido da formação escolar, acadêmica ou técnica, em todos os
níveis, até mesmo pós-graduação; estão excluídas escolas de datilografia, de corte e cos-
tura, de culinária, de pintura entre outras, pois não estão abrangidas no conceito de
educação estrita.
O empresário de educação que persegue lucros não está protegido pela imuni-
dade, pois a atividade não deve ter fins lucrativos para que possa gozar desse benefício.
Não se pode confundir lucro com superávit, pois pode ocorrer que, ao final do balanço da
entidade, seja verificado que houve superávit, ou seja, que suas saídas foram menores do
que suas entradas, desde que esses valores não sejam distribuídos, mas sim reinvestidos
na própria entidade.
Como não poderia deixar de ser, essa entidade não deve ter fins lucrativos, o que
não impede, no entanto, que tenha superávit no resultado do seu exercício financeiro.
Entretanto, isso não pode ser resultado da busca deliberada de lucrar com suas ativida-
des; esse plus não poderá ser distribuído sob qualquer hipótese, mas sim reinvestido na
atividade da entidade.
Trata-se de imunidade objetiva, de modo que não se estende aos impostos das
pessoas jurídicas que realizem sua compra e venda, atingindo apenas e tão somente os
impostos que incidiriam sobre esses objetos (IPI, ICMS, II, IE etc.).
Quanto aos livros, é importante ressaltar que o termo não se refere a todo tipo de
objeto que recebe esse nome, como os livros contábeis, livro ouro, livros de ata, livros
de inscrição de dívida ativa etc., que não contam com essa imunidade.
como o conteúdo de suas informações (não pode haver censura prévia, nem perseguição
moral – livros e revistas pornográficas também são imunes), ou ainda o período em que
é editado (quinzenalmente, mensalmente, anualmente, bianual, um lustro etc.); sempre
contará com a proteção constitucional.
Também os papéis destinados à impressão desses bens são imunes, mas não é
apenas o papel, também outros produtos que sirvam para a impressão ou elaboração do
livro, jornal ou periódico (folha de polietileno para livros infantis, papiro, couro, fibra,
poliéster etc., são todos imunes, desde que destinados à impressão).
A extensão do que está abrangido nessa imunidade, quanto aos insumos consu-
midos na produção dos livros, jornais e periódicos (embora objeto de controvérsia), foi
limitada pelo STF na Súmula abaixo, editada em 2003, no sentido de que ela abrange
apenas os filmes e papéis fotográficos.
N. 657. A imunidade prevista no art. 150, VI, “d”, da CF abrange os filmes e papéis foto-
gráficos necessários à publicação de jornais e periódicos.
Imunidades específicas
Imunidade das contribuições sociais
das entidades beneficentes de assistência social
Como ressaltado anteriormente, as imunidades genéricas dizem respeito apenas
aos impostos, não abrangendo, portanto, as outras espécies tributárias, nem mesmo as
contribuições especiais que, como vimos, são consideradas pelo STF como figura diversa
dos impostos. No entanto, temos no texto constitucional previsão de imunidades especí-
ficas das contribuições, sendo a mais expressiva a que se refere às contribuições sociais.
Esse dispositivo reforça a ideia de que as imunidades genéricas do artigo 150, VI,
“a”, “b” e “c”, só atingem os impostos, pois, se abrangessem também as contribuições
especiais, o dispositivo ora em questão seria inútil.
é o caso do INSS do empregado (parte do empregado, que incide sobre seu salário);
embora também seja uma contribuição social, não está abrangido pela imunidade,
porque o contribuinte nesse caso não é a entidade (que é apenas responsável pelo seu
recolhimento), mas o próprio empregado.
assim, que o imposto pode ser cobrado no destino e não na origem, o que
significa que apenas quando o contribuinte do Estado comprador (destino) for
vender o produto é que poderá cobrar o imposto, enquanto que, na venda pelo
Estado de origem, aquele não incidirá. Nessa situação, perdem os Estados pro-
dutores, como é o caso do Paraná (energia elétrica) e Rio de Janeiro (petróleo),
que só podem tributar esses produtos ao vendê-los internamente.
■■ ICMS sobre ouro (art. 155, §2.º, X, “c”) – quando ativo financeiro, incide ape-
nas IOF, nos termos do artigo 153, parágrafo 5.º, da CF. Já enquanto produto
de comércio, não conta com proteção imunizante, podendo sobre ele incidir os
impostos respectivos.
■■ Imunidade excludente de impostos sobre energia elétrica, serviços de teleco-
municações, derivados do petróleo, combustíveis e minerais – esses produtos
só podem ser tributados pelo ICMS, pelo Imposto de Importação e pelo de Ex-
portação, nos termos do artigo 155, parágrafo 3.º, da CF. Tratam-se de produtos
essenciais para o desenvolvimento do país, compondo a planilha de custos de
vários produtos e serviços. Por essa razão, não podem ter seu custo aumentado
com a incidência indiscriminada de vários impostos, de modo que a Constitui-
ção estabeleceu que apenas o ICMS, o Imposto de Importação e o de Expor-
tação, poderão incidir sobre eles. Note-se que, ao invés de dizer qual imposto
não poderá incidir, como normalmente faz, aqui a CF diz qual é o imposto que
poderá incidir sobre esses bens, de forma a excluir os demais.
■■ Imunidade de imóveis para reforma agrária (art.184, §5.º, da CF) – todos os
impostos, de todas as esferas tributantes, que normalmente incidiriam sobre
operações de transferência de bens imóveis, não poderão incidir sobre a opera-
ção de transferência de imóveis para fins de reforma agrária.
■■ Taxas – CF, artigo 5.º, XXXIV, “a” e “b” – direito de petição e certidão pública:
■■ artigo 5.º, LXXIII – ação popular sem custas;
■■ artigo 5.º, LXXIV – acesso à justiça;
■■ artigo 5.º, LXXVI, “a” e “b” – certidão de nascimento e de óbito gratuitas;
■■ artigo 5.º, LXXVII, ações de habeas corpus e habeas data.
Ao lado das dicas da aula anterior sobre o tema imunidade, recomenda-se ainda
muito cuidado e atenção para a jurisprudência do STF. Ela normalmente é tomada como
parâmetro para a realização das provas pelos examinadores, mormente porque se trata
de tema que não é unívoco na doutrina, de forma que os precedentes do Supremo nesse
sentido ganham relevo especial. Outro livro que pode ajudar a compreender melhor o
tema é o de Aires F. Barreto e Paulo Ayres Barreto, Imunidades Tributárias: limitações
constitucionais ao poder de tributar, 2. ed., São Paulo: Dialética.
Lançamento de ofício
Trata-se de forma de lançamento aplicável às hipóteses previstas no artigo 149 do
CTN, em que o sujeito ativo realiza todo o procedimento de liquidação, para, ao final,
notificar o sujeito passivo do valor que deverá pagar a título de tributo. Presta-se, ainda,
para fazer as vezes do contribuinte que não efetua o devido lançamento por declaração
ou por homologação. Como exemplos, temos: IPTU, IPVA, taxas, contribuições de me-
lhoria etc.
Material
Esse aspecto nos informa o núcleo da hipótese de incidência, descrevendo em
linguagem jurídica qual é o fato que alguém deve praticar para estar obrigado a pagar um
tributo. Normalmente, o fato é descrito por meio de um verbo e um complemento. Por
exemplo, o aspecto material da regra de incidência do IR é obter renda.
Espacial ou territorial
Esse aspecto da norma tributária descreve o local onde ocorre o fato descrito no
aspecto material da hipótese de incidência. Por exemplo, ser proprietário de imóvel (aspecto
material) na zona urbana (aspecto espacial ou territorial).
Temporal
Se o aspecto espacial localiza no espaço o fato gerador do tributo, este aspecto o
localiza no tempo, informando quando deverá ocorrer o fato descrito no aspecto mate-
rial, para que nasça a obrigação de alguém pagar o tributo. Por exemplo, ser proprietário
de imóvel urbano no primeiro dia do ano.
Quantitativo
Este critério, previsto no mandamento (ou consequente) da norma tributária,
prescreve o valor que será objeto da prestação obrigacional, de forma a determinar o
quantum debeatur devido pelo sujeito passivo da obrigação tributária. Normalmente, essa
dimensão da riqueza será indicada por um valor em dinheiro (o valor venal, o valor da
operação etc.), mas também pode ser utilizada outra grandeza, como, por exemplo, o
metro quadrado, o metro linear, o quilo etc., sobre o qual incidirá a alíquota. Entretanto,
no caso da grandeza indicada, como a base de cálculo não é um valor em dinheiro, ne-
cessariamente a alíquota o será (R$1,00 por quilo, R$20,00 por metro etc.). Era o caso
do antigo imposto sobre consumo, incidente sobre a industrialização de tecidos, cuja
alíquota era expressa em dinheiro (por exemplo, de R$10,00), a incidir sobre a base de
cálculo (por metro linear de comprimento).
É possível também que o tributo seja fixo, ou seja, que tenha determinado o
seu valor diretamente na lei, de forma a prescindir da base de cálculo e da alíquota; por
exemplo, o ISS fixo dos profissionais liberais (advogados, médicos, contadores etc.). Ou
proporcional, como é o caso do ICMS, cuja alíquota incidirá sobre o valor da operação.
Quanto aos tributos fixos, cujo valor devido já está diretamente indicado na lei
tributária, é considerado pela doutrina como inconstitucional, em face da nítida violação
do Princípio da capacidade contributiva – que é a expressão da igualdade em matéria
tributária – pois o pagamento não leva em conta a capacidade de contribuir de cada um.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu válido o ISS fixo para profissio-
nais liberais de Curitiba, que, quando vão retirar seu alvará de autônomo, por exemplo,
pagam um determinado valor fixo já indicado na lei e não sobre o valor do serviço, como
ocorreria normalmente no pagamento desse imposto.
Quanto às funções da base de cálculo, ela pode ser meramente aritmética (de-
terminar a dimensão econômica do fato jurídico tributário), ou, ainda, comparativa ou
confirmativa (comparar a base de cálculo com a hipótese de incidência, de forma a con-
firmá-la, para determinar a natureza jurídica do tributo; nesse sentido, a base de cálculo
Pessoal
Esse critério, prescrito no mandamento da norma tributária, determina os sujeitos
constantes nos polos ativo e passivo da obrigação tributária. Em outras palavras, estabe-
lece quem vai receber (se é a própria entidade que detém competência, ou outra, que re-
cebeu apenas a capacidade tributária – situação de parafiscalidade) e quem deverá pagar
(se o próprio contribuinte ou um terceiro considerado responsável tributário pela lei).
Ao lado dele, temos o chamado responsável tributário, que é aquele que tem rela-
ção apenas indireta com o fato gerador do tributo, de forma que não é contribuinte, mas
é indicado como sujeito passivo pela lei e, nessa medida, responsável pelo pagamento do
tributo devido por outrem.
É o que ocorre, por exemplo, com a fonte pagadora da renda, que deve, como re-
gra, fazer a arrecadação do IR devido por aquele que vai receber essa renda, retendo na
fonte o imposto e repassando-o aos cofres da União.
A doutrina chegou a dizer que, se fosse possível utilizar essa forma de presunção
para tributar, os Estados poderiam cobrar antecipadamente e de forma presumida o im-
posto sobre a herança das pessoas – com alguma vantagem ainda sobre o caso da subs-
tituição do ICMS, quando o fato presumido pode não acontecer, por ter sido roubado o
bem, pegar fogo etc., enquanto que o evento morte é certo na vida das pessoas. É exemplo
desse modo de substituição a do ICMS sobre veículos, em que o fabricante é substituto
tributário da concessionária, na operação de venda ao consumidor, quando então haverá
uma antecipação de pagamento do imposto referente à operação (concessionária-consu-
midor) por ocasião da saída do produto da fábrica. O substituído, no caso a concessioná-
ria, está à frente na cadeia produtiva.
Não cumulatividade
Observa-se, neste comando constitucional (arts. 153, §3.º, II, 155, §2.º, I, e 195,
§12), a proibição de que os impostos e contribuições incidam em cascata na cadeia pro-
dutiva (exemplo: IPI, ICMS, PIS e Cofins).
Nessa linha, do valor a ser pago em uma operação da cadeia produtiva, poderá ser
descontado o valor pago na etapa anterior dessa mesma cadeia, de forma a evitar o efeito
cascata, que faz com que um tributo incida várias vezes sobre o mesmo produto, aumen-
tando de modo artificial e indesejável o seu valor final para o consumidor.
Com efeito, na coluna dos créditos, deverão ser contabilizados os valores pagos
a título daquele tributo na etapa anterior. Eles serão utilizados para abatimento dos
valores que deverão ser pagos, contabilizados na coluna dos débitos. Logo, ao final do
período, teremos um saldo positivo (crédito, que deverá ser utilizado para abatimento
nos períodos seguintes) ou negativo (débito, determinando o valor exato que deverá ser
pago a título do tributo apurado).
É fato, porém, que, quanto ao ICMS, o artigo 155, parágrafo 2.º, II, da CF,
estabelece expressamente que a isenção e a não incidência, salvo determinação legal
em contrário, não implicarão créditos para as operações seguintes e, ainda, que elas
acarretarão a anulação do crédito relativo às operações anteriores.
O estudo da norma tributária pode ser realizado no livro de Paulo de Barros Car-
valho, Curso de Direito Tributário, 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Se necessário maior
aprofundamento, do mesmo autor, Teoria da Norma Tributária, São Paulo: Max Limonad,
1998. Quanto ao tema específico da não cumulatividade, objeto invariável de questiona-
mentos, pode-se aprofundar com o livro de José Eduardo Soares de Melo e Luiz Fran-
cisco Lippo, A Não Cumulatividade Tributária, São Paulo: Dialética, 1998. Sobre o tema da
responsabilidade tributária, pode-se consultar o livro de Sacha Calmon Navarro Coelho,
Curso de Direito Tributário Brasileiro, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, e para o tema
específico da substituição tributária, consulte-se Walter Piva Rodrigues, Substituição Tri-
butária, São Paulo: Quartier Latin, 2004.
Introdução
Após a regular constituição do crédito tributário pelo lançamento do tributo,
tornando-o exigível com a notificação do contribuinte, ele poderá ter sua exigibilidade
suspensa se alguma das hipóteses previstas no artigo 151 do Código Tributário Nacional
(CTN) ocorrer.
suspenso só volta a correr quanto houver a revogação da moratória por parte da Fazen-
da, não correndo durante o período em que o débito estava em moratória, sob pena de
beneficiar o infrator.
■■ Exceção: quando a Fazenda Pública incorrer em erro, não induzido por dolo
ou simulação do contribuinte, e conceder moratória individual mesmo não es-
tando presentes os requisitos para a concessão, o prazo prescricional continua
correndo. Como não houve suspensão da exigibilidade, o prazo de prescrição
não foi suspenso, de maneira que o crédito poderá ser cobrado, desde que não
esteja prescrito (CTN, art. 155, parágrafo único).
■■ A lei poderá exigir a prestação de garantia (caução, por exemplo) para a conces-
são da moratória (CTN, art. 153, III, “c”).
■■ Não poderão ser levantados os valores antes da decisão final, nem mesmo pelo
depositante, antes do trânsito em julgado, como sumulado em alguns tribunais,
como o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região:
■■ Quando houver julgamento sem exame de mérito, o valor deverá ser restituído
ao depositante, de modo que não poderá ser feita a conversão do depósito em
renda, pois estar-se-ia expropriando o bem, sem que a outra parte tivesse o
direito de discutir o mérito da questão.
■■ O depósito deverá ser feito na Caixa Econômica Federal (Lei 9.289/96, art. 11
e Lei 9.703/98). A Lei 9.703/98 determinou o repasse dos valores aos cofres do
Tesouro Nacional. A devolução, no entanto, se for sucumbente a Fazenda, de-
verá ser feita em 24 horas da decisão, acrescida de juros e correção monetária (o
art. 39, parágrafo 4.º, da Lei 9.250/95 determina que seja corrigida pelo Sistema
Especial de Liquidação e Custódia para os títulos federais).
(CPC, art. 273) em qualquer tipo de ação judicial, estabelecendo o mais amplo
poder de cautela do magistrado quando preenchidos os requisitos legais para
concessão de tutelas de urgência.
I - o pagamento;
II - a compensação;
III - a transação;
IV - a remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no
artigo 150 e seus parágrafos 1.º e 4.º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no parágrafo 2.º do artigo
164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita adminis-
trativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado;
XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.
Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito
sobre a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto
nos artigos 144 e 149.
Pagamento
É o modo natural de extinção do crédito tributário, por meio de sua satisfação,
nos termos do que determina a lei, sendo que nas obrigações pecuniárias ocorre com a
entrega da quantia correspondente ao crédito tributário. O CTN é pródigo em regras
sobre essa forma de satisfação do crédito (arts. 157 a 164), disciplinando-a até mesmo
de maneira óbvia, como ao afirmar que a imposição de multa não elide o pagamento do
tributo (art. 157), ou seja, que aquele que paga a multa não está liberado do pagamento
do tributo, dentre outras regras evidentes.
Determina ainda que, quando a legislação não fixar o termo de pagamento, incide
a norma supletiva do artigo 160, a qual decreta que ele deverá ocorrer em até 30 dias da
notificação do devedor. O pagamento deverá ser feito na repartição competente (salvo
disposição em contrário – CTN, art. 159), situada no domicílio do devedor, onde deverá
comparecer o contribuinte para efetuar o pagamento (obrigação portable, ao contrário da
regra geral do Direito Privado, em que a dívida é querable – CC, art. 327).
Ocorre, entretanto, que, hoje, na maioria dos entes tributantes, como a legislação
determina o pagamento em rede bancária e não na repartição fiscal, esse dispositivo tem
pouca aplicação, salvo em pequenos municípios (dos mais de 5.500 existentes no país)
que não contam com rede bancária, onde essa regra pode ter aplicabilidade.
O pagamento deverá ser feito em moeda corrente ou em cheque, que será consi-
derado pro solvendo (CTN, art. 162, §2.º), ou seja, só extinguirá o crédito e a obrigação
quando efetivamente houver a compensação.
O pagamento poderá ainda ser feito de outra forma, desde que possa ser avaliado
em moeda (autorizado pelo próprio artigo 3.º do CTN, quando define tributo “[...] em
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir”), nos casos de legislação que permitiu ou
ainda permite pagamento de tributos em bens ou serviços (ITR, impostos em Curitiba
pagos em serviços etc.).
Essa imputação de qual débito está sendo quitado, feito pela Fazenda, deve ser
sempre prévia ao efetivo pagamento, como estabelece a doutrina e a jurisprudência sobre o
assunto. Do mesmo modo, deve ser respeitada a ordem do artigo 163 do CTN, no esta-
belecimento de critérios. Logo, esses créditos deverão ser solvidos na seguinte ordem,
sendo indicados pela Fazenda, antes do pagamento pelo devedor:
Paulo de Barros Carvalho observa que hoje é muito difícil a aplicação desse dis-
positivo, em virtude da forma como são cobrados os tributos, por meio de guias com
códigos próprios, indicando a obrigação a ser solvida. Assim, o agente recebedor (que são
normalmente as instituições bancárias) não possui qualquer condição de fato e de direito
de dar atendimento a esse dispositivo.
Compensação
Se dois sujeitos de direito são ao mesmo tempo credor e devedor um do outro,
as duas obrigações se extinguem até se compensarem (é o que determina o artigo 368
do CC/2002). É permitido, portanto, fazer um encontro de contas desses valores até as
forças de cada crédito. Esse instituto do Direito Privado determina que, para ocorrer a
compensação, as obrigações devem ser recíprocas, líquidas (valor estabelecido), exigíveis
(já vencidas) e fungíveis (CC, art. 369).
(como no Direito Privado). Nesse caso, a lei oferece desconto na dívida vincenda paga
antecipadamente com a compensação, mas o desconto não pode ultrapassar 1% ao mês
(contado desde a compensação até o mês em que venceria a dívida – art. 170, parágrafo
único, do CTN).
Paulo Cesar Conrado, em trabalho sobre o tema, afirma existirem dois regimes
de compensação diversos nos dias de hoje. O primeiro, referente à Lei 8.383/91, com as
modificações posteriores, e que permite a compensação, por parte do contribuinte, sem
qualquer ingerência prévia da autoridade fazendária, e observando-se os tributos de mesma
espécie e com a mesma destinação. E outro, coexistindo com o primeiro, com base na disci-
plina da Lei 9.430/96, em que se pode compensar tributos de espécies diferentes, desde que
administrados pela Receita Federal, porém, com a prévia intervenção da Fazenda.
Essa última modalidade, no entanto, embora ainda disciplinada pela Lei 9.430/96,
recebeu alterações recentes no artigo 74, com nova redação dada pelas Leis 10.637/2002,
10.833/2003 e 11.051/2004, contando, atualmente, com a seguinte redação:
Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em jul-
gado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal,
passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensação de débitos
próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão.
§1.º A compensação de que trata o caput será efetuada mediante a entrega, pelo sujeito
passivo, de declaração na qual constarão informações relativas aos créditos utilizados e
aos respectivos débitos compensados.
§3.º Além das hipóteses previstas nas leis específicas de cada tributo ou contribuição, não
poderão ser objeto de compensação mediante entrega, pelo sujeito passivo, da declaração
referida no §1.º:
§5.º O prazo para homologação da compensação declarada pelo sujeito passivo será de 5
(cinco) anos, contado da data da entrega da declaração de compensação.
§8.º Não efetuado o pagamento no prazo previsto no §7.º, o débito será encaminhado à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para inscrição em Dívida Ativa da União, ressal-
vado o disposto no §9.º.
no inciso III do art. 151 da Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacio-
nal, relativamente ao débito objeto da compensação.
a) seja de terceiros;
b) refira-se a “crédito-prêmio” instituído pelo art. 1.º do Decreto-Lei 491, de 5 de março
de 1969;
c) refira-se a título público;
d) seja decorrente de decisão judicial não transitada em julgado; ou
e) não se refira a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Fede-
ral – SRF.
§13. O disposto nos §§ 2.º e 5.º a 11 deste artigo não se aplica às hipóteses previstas no
§12 deste artigo.
§14. A Secretaria da Receita Federal – SRF disciplinará o disposto neste artigo, inclusive
quanto à fixação de critérios de prioridade para apreciação de processos de restituição, de
ressarcimento e de compensação.
A compensação efetuada terá efeito de confissão de dívida (de modo que inter-
rompe a prescrição – CTN, art. 174, IV), e será efetivada mediante entrega da declaração,
em que constarão informações sobre os créditos compensados. Os créditos serão extintos
pelo compensado sob condição resolutória de sua ulterior homologação (a Receita tem o
prazo de até 5 anos, a contar da entrega da declaração da compensação, para homologar
expressamente ou, por decurso desse prazo, deixar que seja homologada tacitamente).
Por fim, complementando o que acima está regulamentado pela Lei 9.430/96 e
suas ulteriores alterações, vale registrar a proibição de compensação de tributos com cré-
ditos que são alvo de disputa judicial para serem reconhecidos, determinada pelo artigo
170-A do CTN, acrescido pela Lei Complementar 104/2001, que proibiu a compensação
dos tributos sem que tenha havido o trânsito em julgado dos créditos ainda em discus-
são judicial. Dessa forma, não poderá haver compensação de crédito objeto de disputa
judicial antes do trânsito em julgado da decisão que tenha reconhecido esse crédito. O
efeito dessa norma é que não se pode realizar compensação com crédito que não tenha
sido reconhecido de forma definitiva pelo Poder Judiciário, ou ainda, não se pode mais
obter liminar ou antecipação de tutela para determinar a compensação dos créditos que
ainda não foram reconhecidos definitivamente em competente processo judicial.
Transação
Como se trata de direito indisponível, pois representa crédito de interesse público,
a transação, no âmbito tributário, só pode ser admitida pelos titulares desses créditos,
os quais poderão permitir o acordo judicial mediante lei, que é considerada a expressão
da vontade da população.
Será então permitida a transação nos termos previstos em lei, que deverá indicar
precisamente as condições das concessões recíprocas entre os litigantes, para fins de
transacionarem e colocarem fim ao litígio.
Remissão
A forma de extinção da obrigação tributária a que se refere o dispositivo vem do
verbo remitir, que significa perdão, indulgência, indulto do tributo. Diferente, portanto, de
remição, do verbo remir, que significa resgate (remir o bem, v.g., significa resgatá-lo da
execução).
Esse perdão da dívida tributária poderá ser concedido apenas mediante lei
(também aqui a indisponibilidade do interesse público), nos termos e nas condições nela
previstas. A autoridade pública é que examinará e dará despacho fundamentado, conce-
dendo-o ou não.
As hipóteses que a lei que remitir tributos pode contemplar são apenas aquelas
estabelecidas no artigo 172 do CTN. Deverá ser levado em conta:
■■ a situação econômica do sujeito passivo;
■■ erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto à matéria de fato;
Pagamento antecipado
e homologação do lançamento
Nos casos dos tributos sujeitos à liquidação por meio de lançamento por homolo-
gação, não é o pagamento realizado que extingue desde logo a obrigação e o crédito tribu-
tário, mas sim a homologação. Esse pagamento é considerado apenas uma antecipação,
de forma que depois será examinado pela Fazenda, que poderá extinguir o crédito pago,
se concordar com o lançamento realizado pelo sujeito passivo.
não existe (José Eduardo Soares de Melo). Desse modo, o pagamento é mera condição
para extinguir o crédito, que será extinto com a homologação, que poderá ser tácita ou ex-
pressa (tácita caso se opere pelo decurso do prazo de cinco anos que a Fazenda tem para
examinar o lançamento, sem que ela tenha expressamente realizado a homologação).
O CTN afirma então que o pagamento extingue a obrigação sob condição resolu-
tória de posterior homologação (CTN, art. 150, §1.º), ou seja, o pagamento e consequente
extinção do crédito tributário só será confirmada se houver a concordância (homologa-
ção) da Fazenda (expressa ou tácita) com o lançamento realizado.
Consignação em pagamento
Esse modo de extinguir o crédito tributário é uma garantia do devedor, pois per-
mite a ele cumprir seu dever e se livrar da prestação que lhe prende ao credor, mesmo
que o titular do direito correspondente a esse dever se oponha, por meio de recusas ou
exigências descabidas.
No âmbito tributário (embora raro, mormente nos dias de hoje, em que os paga-
mentos são feitos de forma unilateral pelo devedor diretamente na rede bancária), pode
ele utilizar a consignação em pagamento nos seguintes casos, previstos no artigo 164 do
CTN:
■■ recusa de recebimento ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou
de penalidade, ou ao cumprimento de dever instrumental (hipótese improvável
pelo sistema bancário de cobrança atual);
■■ subordinação do recebimento a exigências administrativas sem fundamento le-
gal (também improvável em face do pagamento via rede bancária);
■■ exigência, por mais de uma pessoa jurídica de Direito Público, de idêntico tri-
buto, incidindo sobre o mesmo fato jurídico (casos de conflito de competência
como de IPTU e ITR, ISS e ICMS etc.).
Pode ocorrer de, após a insurgência do sujeito passivo pela via administrativa,
com todo o procedimento administrativo de verificação de legalidade do lançamento efe-
tuado, ser considerado ilegal por decisão prolatada por órgão da própria Fazenda (Juntas
de Julgamento, Conselho de Contribuintes, Conselho Superior de Recursos Fiscais etc.).
A doutrina questiona se caberia à Fazenda, ainda assim, ingressar com pedido judicial de
anulação de decisão que ela mesma tomou por meio de seus órgãos.
Se admitido o ingresso na Justiça pela Fazenda para desfazer seus atos, é sub-
vertida a ideia de que não é possível alguém ingressar em juízo para questionar seus
próprios atos, mesmo que eles não tenham sido praticados sob qualquer vício de vontade
(coação, dolo, simulação, dano etc.).
Paulo de Barros afirma não ser possível o ingresso em juízo pela Fazenda. As
Súmulas 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal, que dariam permissão a isso, são ques-
tionadas por José Eduardo Soares de Melo, no sentido de não se aplicar a essas modali-
dades de atos administrativos, mormente porque realizados após regular procedimento
administrativo, com a garantia do devido processo e da ampla defesa (CF, art. 5, LV).
acrescida ao artigo 156 do CTN, pela Lei Complementar 104/2001, de forma a autorizar
que bens imóveis sejam aceitos para satisfazer a obrigação tributária.
É importante verificar que isso não impede, entretanto, que outros bens que pos-
sam ser avaliados em dinheiro sejam também aceitos (CTN, art. 3.º) para satisfação do
crédito tributário pela lei que criar cada tributo.
Com efeito, desde que previsto na lei – a qual também poderá estabelecer con-
dições para essa causa de extinção do crédito – os entes tributantes podem admitir o
cumprimento de obrigação tributária por meio de outros modos que não o pagamento
em dinheiro. Alguns municípios vêm permitindo, por exemplo, que a obrigação tribu-
tária seja satisfeita até mesmo com a prestação de serviços por parte do sujeito passivo,
extinguindo, dessa forma, o crédito tributário com prestação diversa da originalmente
indicada para a obrigação.
Introdução
O titular de um direito precisa exercê-lo, sob pena de esse direito perecer por
desuso. Aplica-se à hipótese o brocardo latino dormientibus non socurrit jus (o Direito não
socorre aos que dormem). Nessa linha, seja para oferecer segurança jurídica, seja para
pacificar a sociedade, o Direito estabelece mecanismos para apenar aquele que deixa de
exercer o seu direito por um determinado período de tempo previsto em lei, chamados
de prescrição e decadência.
Assim, por exemplo, para que alguém não seja obrigado a guardar documentos
comprobatórios do pagamento de tributo eternamente, o Direito faz perecer o direito de
a Fazenda ingressar em juízo após determinado período de tempo.
Nesse sentido, para a teoria clássica sobre o tema, pode-se dizer que a decadência
e a prescrição se distinguiriam porque aquela fulmina o próprio direito (direito material),
enquanto que esta faz perecer apenas o direito de ação (direito instrumental), ou seja, de
buscar a tutela do Estado para defendê-lo, mantendo intacto o direito material.
Outra distinção importante apontada pela teoria clássica diz respeito à possibili-
dade ou não de ser reconhecida de ofício pelo magistrado.
São requisitos para que se opere a prescrição ou a decadência: primeiro, que al-
guém seja titular de um direito (existência de um direito); segundo, que haja a inércia
do titular desse direito; terceiro, que transcorra em albis o prazo estipulado na lei para o
exercício do direito pelo titular.
Além disso, é importante ressaltar que, por força do artigo 146 da CF, a prescri-
ção e a decadência só podem ser disciplinadas por lei complementar, de maneira que
são consideradas inconstitucionais muitas normas que veiculam prazos prescricionais
e decadenciais por meio de lei ordinária, em flagrante dissonância com esse dispositivo
constitucional.
Embora não seja pacífica a questão, pode-se afirmar que a doutrina estabelece
que a prescrição e a decadência, para a Fazenda Pública, estão relacionadas com o pe-
ríodo de tempo que ela tem para constituir o crédito tributário (decadência) ou para
ingressar em juízo para receber os créditos constituídos e não pagos (prescrição).
Modos de lançamento
Os modos de lançamento dos tributos são importantes porque acabam por con-
dicionar a maioria dos marcos iniciais dos diversos prazos decadenciais que a Fazenda
Pública tem para constituir o crédito tributário. É a lei criadora do tributo que vai
determinar o modo como ele deverá ser lançado, para fins de se constituir o crédito
tributário.
Pode-se afirmar que temos vários termos iniciais para a contagem dos prazos de-
cadenciais da Fazenda Pública, assinalados para que se constitua o crédito tributário.
O prazo previsto no artigo 173 do CTN para esse fim é de cinco anos, contados,
porém, de marcos diversos, a depender, principalmente, do modo de lançamento que é
previsto para o tributo.
Desse modo, tendo o fato gerador ocorrido no dia 20 de junho de 2004, o prazo de
cinco anos para lançar o tributo começa no dia 1.º de janeiro de 2005. Na verdade, todos
os fatos geradores ocorridos em 2004 teriam como marco inicial o primeiro dia de 2005,
e assim sucessivamente.
Ocorre que esse marco inicial se aplica apenas aos tributos lançados por decla-
ração (como o imposto sobre herança, por exemplo – ITCMD) e de ofício (IPTU, IPVA,
taxas etc.).
Esse termo inicial é utilizado para os tributos sujeitos a lançamento por homo-
logação, que é o modo de constituição do crédito tributário aplicado à maior parte dos
impostos (IR, IPI, ICMS, ISS etc.) e às contribuições especiais existentes atualmente no
Brasil (INSS, PIS, Cofins, salário-educação, SAT etc.).
Nessa situação, observa-se que os cinco anos começam a contar desde logo da
ocorrência do fato gerador, sendo, portanto, em regra, mais exíguo que o Termo 1 ante-
riormente explicitado.
Interessante ainda notar que, para alguns autores, no caso da ocorrência de dolo,
fraude ou simulação, o artigo 150, parágrafo 4.º, do CTN estabelece que não correria o
Só que esse prazo só seria aplicado depois de expirado o prazo de cinco anos con-
tados do fato gerador, razão pela qual foi chamado de prazo do direito potestativo de lançar.
Assim, isso resulta, em mais de 10 e menos de 11 anos para a Fazenda Pública lançar o
tributo.
■■ Acórdão
Por unanimidade, dar provimento ao recurso.
■■ Resumo Estruturado
Afastamento, decadência, cobrança, contribuição previdenciária, início,
contagem, quinquênio, posterioridade, extinção, prazo, Fazenda Pública
Estadual (RJ), revisão, homologação, lançamento.
Se obtiver êxito e for acolhida sua alegação de vício formal, ainda assim não se
livrará do tributo, pois novo lançamento poderá ser realizado pela Fazenda Pública, sa-
nando o vício formal anteriormente existente.
Dessa forma, a Fazenda terá novo prazo de cinco anos para fazer o lançamento
correto, contados agora da data em que se tornar definitiva a decisão que acolheu o vício
formal alegado pelo contribuinte contra o lançamento realizado.
Esse marco é aplicável a todos os tributos, inclusive àqueles que deveriam ser
lançados por homologação pelo próprio contribuinte e não o foram. Nesse caso, cabe à
Fazenda fazer o lançamento de ofício, substituindo o lançamento que deveria ter sido
iniciado pelo contribuinte.
Por fim, sublinhe-se que esse prazo se aplica apenas a vício formal alegado pelo
sujeito passivo, pois o vício material inviabiliza novo lançamento por parte da Fazenda
Pública.
A maioria entende, no entanto, que esse dispositivo se refere apenas aos casos em
que o início do prazo se dá no ano seguinte, e a Fazenda, antes desse início, depois da
ocorrência do fato gerador, notifica o contribuinte da medida preparatória. Nesse caso,
o prazo seria antecipado e começaria a contar da notificação, e não do primeiro dia do
ano seguinte.
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados
da data da sua constituição definitiva.
Por outro lado, qualquer ato judicial (a notificação, por exemplo), que constitua
em mora o devedor também tem força para interromper a prescrição.
Prescrição intercorrente
Devemos evidenciar que após o ingresso da ação e a obtenção do despacho de-
terminando a citação do devedor, o papel da Fazenda Pública não está exaurido, pois
é preciso que ela continue a dar impulso ao processo, para fins de efetivamente obter
a tutela judicial e satisfazer a obrigação tributária inadimplida. A inércia em continuar a
impulsionar o processo, no sentido de demonstrar a manutenção do seu interesse pro-
cessual, pode levar a decretação da prescrição intercorrente, conforme prevista no artigo
40 da LEF (Lei 6.830/80), cujo parágrafo 4.º foi recentemente acrescentado pela Lei
11.051/2004:
Art. 40. O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor
ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o
prazo de prescrição.
§1.º Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao representante judicial
da Fazenda Pública.
§2.º Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou en-
contrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.
§3.º Encontrados que sejam, a qualquer tempo o devedor ou os bens, serão desarquivados
os autos para prosseguimento da execução.
§4.º Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o
juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição inter-
corrente e decretá-la de imediato.
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5
(cinco) anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado;
II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o
lançamento anteriormente efetuado.
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados
da data da sua constituição definitiva.
CTN, em detrimento dos artigos 45 e 46 da Lei 8.212/91, que não estão mais em vigor
no Brasil, pois foram julgados inconstitucionais pelo STF, o que foi retratado na Súmula
Vinculante 8 do STF.
Decadência do contribuinte
Ficou estabelecido anteriormente que a decadência para o contribuinte diz res-
peito ao prazo que ele tem para fins de pedir a restituição administrativa do crédito
indevidamente pago.
■■ Termo inicial: cinco anos para pedir a restituição administrativa do crédito tri-
butário, contados da sua extinção.
Prescrição do contribuinte
A prescrição, como se sabe, sempre diz respeito ao prazo para o exercício do
direito de ação, que, no caso do contribuinte, é para fins de pedir a repetição do indé-
bito tributário. Esse prazo é também de cinco anos, porém, contado de termos iniciais
diversos, a saber.
No que concerne, porém, aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, como
se sabe, a extinção do crédito tributário não se dá com o pagamento, pois este é consi-
derado apenas antecipação, sendo que a extinção do crédito, neste caso, só se dá com a homo-
logação do lançamento.
Trata-se da chamada tese dos cinco mais cinco anos, que, de acordo com os pre-
cedentes do STJ, aplica-se, como regra, aos tributos sujeitos a lançamento por homologa-
ção, utilizado no Brasil para a maioria dos impostos e para as contribuições especiais.
Porém, a Lei Complementar 118/2005, no seu artigo 3.º, teria modificado a inter-
pretação do artigo 168, I, do CTN, afirmando que:
Art. 3.º Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei 5.172, de 25 de outubro
de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de
tributo sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento antecipado
de que trata o parágrafo 1.º do art. 150 da referida Lei.
aplicar essa norma de modo retroativo, como se pretendia ao qualificar a norma como
interpretativa. Vide, nesse sentido, nos embargos de divergência em recurso especial
(EREsp) 644.736, que unificou a decisão da 1.ª Seção do STJ sobre o assunto, prove-
niente da disputa entre decisões da 1.ª e 2.ª Turmas.
Esse prazo é interrompido pela citação do devedor e volta a correr pela metade, a
partir da intimação válida feita ao representante judicial da Fazenda Pública interessada.
Assim, o fato de não existir a chamada obrigação principal (que veicula uma pres-
tação no sentido de pagar o tributo), como ocorre na imunidade e na isenção, não libera o
contribuinte ou responsável do dever de continuar a cumprir as regras estabelecidas nos
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mais informações www.iesde.com.br
DIREITO TRIBUTÁRIO
Isenções
A par da natureza bastante controvertida sobre a isenção, se ela seria dispensa do
dever de pagar tributo (Rubens Gomes de Sousa), ou a tese ainda hoje bastante defendida de
que seria hipótese de não incidência qualificada na lei (Alfredo Augusto Becker), ou outra qual-
quer, pelo acordo com as muitas teorias para explicar sua natureza, pode-se verificar um
regramento específico para essa forma de exclusão do crédito tributário prevista no CTN.
Com efeito, a interpretação das regras isentivas, por exemplo, só pode ser literal,
conforme se verifica disposto no artigo 111, I e II, do próprio CTN. Diverso, portanto, do
que a doutrina vem estabelecendo para a interpretação dos dispositivos imunizantes.
A isenção poderá ser concedida em caráter geral (quando se concede a todos, in-
discriminadamente) ou específico (quando se especificará as condições para a concessão
da isenção, que deverá então ser requerida e deferida pela autoridade fazendária, em
despacho fundamentado), nos termos do artigo 179 do CTN.
Art. 178. A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas con-
dições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto
no inciso III do artigo 104.
Desse modo, pode-se estabelecer duas regras sobre a revogação da isenção, de-
pendendo de ela ser estabelecida ou não com prazo certo.
■■ Com prazo certo: não pode ser revogada, devendo respeitar o prazo e as con-
dições estabelecidas para a isenção concedida. Ela pode ser decorrente de
contrato, mas, ainda assim, deverão estar previstas em lei as condições e requi-
sitos para sua concessão, e mesmo o prazo de sua duração (CTN, art. 176).
■■ Sem prazo certo: pode ser revogada a qualquer tempo, mas deverá respeitar o
princípio da anterioridade (CTN, art. 104, III – CF, art. 150, III, “b”), de modo
que o tributo só poderá voltar a ser cobrado no ano seguinte àquele em que foi
publicada a lei revogadora da isenção.
Isenção heterônoma
Diferentemente da Constituição de 1946, a Constituição Federal (CF) em vigor
estabelece, no artigo 151, III, que é vedado à União instituir isenção dos tributos de com-
petência dos estados, Distrito Federal e municípios. Em outras palavras, veda a chamada
isenção heterônoma, que é aquela deferida por entidade diversa da que detém competência
para criar o tributo.
Não podem ainda os estados conceder isenções de tributos municipais, tal qual a
União não pode conceder isenções dos tributos estaduais e municipais. Aplica-se mutatis
mutandis, a regra do artigo 151, III, da CF, para proibir a invasão da competência tributá-
ria dos municípios pelos estados. Isso não ocorre nem mesmo por norma da Constituição
Estadual, conforme nos ensina José Souto Maior Borges, que vê a regra dessa Constitui-
ção como isentiva e não imunizante, porque infraconstitucional, abaixo da CF. Não pode
se sobrepor, portanto, à regra da distribuição de competências estabelecidas na CF.
Anistia
A anistia é a dispensa do pagamento da multa imposta por descumprimento da
norma tributária (tanto norma de obrigação principal quanto de deveres instrumentais),
referente a fatos passados, nos termos do que determina o artigo 180, do CTN, de for-
ma que ela não poderá ser concedida para acontecimentos futuros, mas apenas aos já
ocorridos.
Do mesmo modo, determina o artigo 180 que ela não poderá ser concedida para
atos qualificados como crime ou contravenção, ou ainda aos que, mesmo que não sejam
qualificados como tais, tenham sido praticados com dolo, simulação ou fraude pelo sujei-
to passivo ou por terceiro em seu benefício.
Também não poderá ser concedida, salvo expressa previsão legal em sentido con-
trário, para as infrações resultantes de conluio, nos termos do artigo 180, II, do CTN.
Interessante notar ainda que, pelo mesmo artigo, para se configurar a denúncia
espontânea, é necessário que ela venha acompanhada do pagamento do valor devido (ex-
cluída a multa, é claro), mas acrescido de juros de mora sobre o valor principal.
De outra parte, do mesmo modo que isenção e moratória, a anistia pode ser con-
cedida em caráter geral e em caráter específico (ou limitado, para usar a expressão do CTN,
quando se estabelecem condições para sua concessão).
Com efeito, a anistia em caráter específico (nas condições previstas no art. 181,
II, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, do CTN) deverá ser requerida à autoridade fazendária com
a demonstração de preencher os requisitos para sua concessão. Ela só poderá ser deferida
em despacho fundamentado que, tal qual na moratória e na isenção, não gera direito
adquirido, aplicando-se ao caso a regra do artigo 155 do CTN.
09/06/2005), no artigo 186, parágrafo único, I, do CTN, que o crédito tributário não
tem preferência de pagamento sobre os créditos extraconcursais previstos no artigo 188 do
CTN, e definidos no artigo 84 da nova Lei de Falências (Lei 11.101/2005), como, por
exemplo, as remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e crédi-
tos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos
a serviços prestados após a decretação da falência, nem sobre as importâncias passíveis de
restituição (nos termos da lei falimentar), e muito menos sobre os créditos com garantia
real (no limite do valor do bem gravado).
Portanto, na falência, o crédito tributário não tem o mesmo privilégio que nos
demais concursos de preferências, já que devem ser pagos antes dele os créditos extra-
concursais, os créditos passíveis de restituição por parte do falido e os créditos gravados
com garantia real até o limite do bem gravado.
Destaca-se, por sua importância, que esses créditos do artigo 83 são precedidos,
porém, na ordem de pagamento, pelos créditos extraconcursais previstos no artigo 84
do mesmo diploma, que serão efetivamente os primeiros créditos a serem saldados no
processo de falência.
O artigo 186 do CTN ainda prevê que a lei poderá estabelecer limites e condições
para a preferência dos créditos trabalhistas, o que foi feito pela nova Lei de Falências,
quando no artigo 83, I, determinou que os créditos trabalhistas de até 150 salários –
mínimos terão essa preferência de pagamento (apenas créditos trabalhistas, não sendo
essa limitação aplicável ao crédito proveniente de acidente de trabalho, que não encontra
qualquer limite para gozar do privilégio), enquanto que o valor que ultrapassar esse limi-
te será considerado mero crédito quirografário.
Importante sublinhar que o crédito trabalhista não pode ser cedido a terceiros,
caso em que perderá esse privilégio na ordem de pagamento, conforme determina o arti-
go 83, parágrafo 4.º, da lei falimentar atual, sendo considerado, após cessão, como mero
crédito quirografário, para efeitos de ordem de preferência na falência.
O pagamento dos créditos tributários é condição sine qua non para que se declare
extinta a obrigação do falido ou para que se conceda concordata, nos termos do artigo
191 do CTN. A Lei Complementar 118/2005 ainda acresceu o artigo 191, exigindo, para
que se conceda a recuperação judicial (nova Lei de Falências), que também se faça a com-
provação de quitação de todos os tributos.
Administração tributária
Destaca-se, nessas regras, a que permite o acesso a livros contábeis, fiscais, assen-
tos comerciais ou documentos referentes aos fatos geradores praticados pelo contribuin-
te. Não tem efeitos para fins tributários qualquer restrição de acesso e sigilo, nos termos
do artigo 195 do CTN. Esse tema é objeto da Súmula 439 do STF.
A Fazenda Pública, quando for proceder a uma investigação, deverá lavrar o com-
petente auto, para fins de formalizar seus atos e procedimentos. Quando realiza alguma
apreensão de bens ou livros, deverá lavrar também o respectivo auto de apreensão.
O Supremo Tribunal Federal emitiu várias Súmulas sobre esse tema, como a ve-
tusta Súmula 70, que proíbe a interdição do estabelecimento como meio coercitivo para
cobrar o tributo; a Súmula 323, que proíbe a apreensão de mercadoria para exigir o
pagamento do tributo; a Súmula 547, que afirma não ser lícito proibir o contribuinte em
Sigilo fiscal
A Fazenda Pública poderá ter acesso às informações sigilosas do contribuinte,
referente a fatos relativos ao pagamento de tributos. Existe aqui eterno conflito entre o
direito à intimidade, à privacidade e ao sigilo bancário, e o dever da Fazenda de fiscalizar
os fatos geradores de seus tributos.
Há muita disputa sobre o acesso a esses dados sigilosos (como conta bancária,
por exemplo), se essa permissão só poderia ser concedida judicialmente, ou se a própria
Administração poderia realizá-la sem autorização judicial.
Até o advento da Lei Complementar 105/2001, eram muitas as decisões dos tri-
bunais no sentido de que a quebra do sigilo só seria válida se precedida de autorização
judicial, que poderia ser requerida até mesmo durante o procedimento de investigação.
Essa lei, no entanto, passou a autorizar que a quebra do sigilo pudesse ser rea-
lizada pela própria Receita Federal. Ela poderia, de acordo com certos procedimentos
previstos na lei, requerer informações sigilosas a bancos, corretoras de valores, factoring
etc., relativamente ao contribuinte investigado. Existem ainda questionamentos sobre a
constitucionalidade dessa lei, por afastar direitos fundamentais (intimidade, sigilo ban-
cário, privacidade), em tese protegidos como cláusula pétrea da Constituição (CF, art.
60, §4.º).
Dívida ativa
A inscrição em dívida ativa é ato contínuo, que deve ser promovido pela auto-
ridade fazendária competente, após a constituição definitiva do crédito tributário, nos
termos do artigo 201 e seguintes do CTN.
Essa inscrição se fará em livro próprio, com todos os dados referentes ao contri-
buinte e ao fato gerador que praticou, nos termos do artigo 202 do CTN. Desses dados
se extrai a chamada Certidão de Dívida Ativa (CDA), que representa o crédito que goza
de presunção relativa de liquidez e certeza (art. 204), e que serve para imediata execução
fiscal do valores devidos.
Certidões negativas
Poderá ser exigida do contribuinte a comprovação de sua regularidade fiscal junto
à Fazenda Pública, sendo que esta estará obrigada a atestar regularidade mediante certi-
dão, que deverá ser expedida em até dez dias da entrada do requerimento na repartição,
nos termos do artigo 205, parágrafo único, do CTN.
Exige-se ainda, para que alguém contrate com a Administração Pública, que se
faça a prova de que é adimplente em relação aos tributos municipais, estaduais ou fede-
rais, nos termos do artigo 193 do CTN e artigo 195, parágrafo 3.º, da CF em vigor.
Importa ressaltar que não poderá ser negada a certidão de regularidade, que será
expedida como positiva com efeito de negativa (prevista no CTN, art. 206), se o crédito esti-
ver com sua exigibilidade suspensa (CTN, art. 151) ou para o qual exista penhora regularmente
realizada, garantindo o crédito.
Demos ênfase, dentro dos temas desta aula, à distinção entre multa moratória
e multa de ofício, e sua relação com a denúncia espontânea. Sobre esse tema, pode ser
consultado o livro de José Alexandre Saraiva, Tributário: denúncia espontânea & multa
moratória, Curitiba: Juruá, 2002, e ainda Valdir de Oliveira Rocha, A Consulta Fiscal, São
Paulo: Dialética, 1996. Sobre isenção tributária e as distinções em relação à imunidade,
o livro do mestre José Souto Maior Borges, Teoria Geral da Isenção Tributária, 3. ed., São
Paulo: Malheiros, 2001. Recomenda-se, por fim, a leitura atenta da nova Lei de Falências,
sobre os privilégios do crédito tributário, que receberam disciplinamento diferenciado
com o novo diploma.
_____. Direito Tributário Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
_____. Uma Introdução à Ciência das Finanças. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998.
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. atual. Misabel de Abreu
Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Saraiva,
1963.
BORGES, José Souto Maior. Teoria Geral da Isenção Tributária. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001.
CARRAZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 19. ed. São
Paulo: Malheiros, 2004.
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