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FICHAMENTO
1
VAINFAS, Ronaldo. Inquisição, Moralidade e Sociedade Colonial. IN: Trópico dos Pecados: moral,
sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteir, 1997. Página: 222.
período da Graça, fora extinta (embora a confissão sacramental ainda fosse
regular). O visitador ouvia a denúncia e o acusado, dando-lhe uma pena. Apenas
em casos extremos e ele era enviado ao Santo Ofício.
Mas essas visitas de bispos em muito lembravam as visitas inquisitoriais, cujos
objetivos pedagógicos e repressivos eram semelhantes: “ensinar a fé católica e
doutrinar fora de todas as heresias, e conservar bons costumes, emendar os
maus, incitar o povo com admoestações à religião, paz e inocência” 2. O segredo
também era algo presente nas duas visitações, onde o acusado não sabia quem
procedera e o porquê da acusação.
A chamada “pedagogia do medo” fazia com que a população aderisse ao apelo
das autoridades eclesiásticas. Ela era associada “ao segredo dos processos, ao
pavor da morte na fogueira, do confisco dos bens e da infâmia que recaía sobre
os condenados do Santo Ofício”3.
As devassas eram frequentes e expunham a vida de todos ao julgamento público.
Procissões de fé e execução de sentenças em público aumentavam o medo da
população. Esse medo era interessante a instituição inquisitorial por estimular
confissões e delações para aliviar a consciência.
Por outro lado, o medo levava – tanto no âmbito individual quanto coletivo – a
fugas, pactos de silêncio, reinvenção de histórias a serem contadas. Também
arruinava solidariedades, lealdades familiares, desfazia amizades, rompia laços
de vizinhança, afetos e paixões.
o Havia também as acusações por defesa, onde o delator tentava fazer com
que o crime do acusado fosse entendido e tivesse uma pena leve, o que
não aconteceria caso um inimigo o delatasse.
Essas acusações e delações eram vistas como submissão ao poder eclesiástico.
o A princípio, a Inquisição deveria chegar a todos, não importando
privilégios ou classe social. Mas não era bem assim que acontecia.
o Os mais ricos e privilegiados eram os que mais delatavam, por ter mais a
perder enquanto os abastados mal ousavam a ter tal atitude.
o Os mais pobres e desclassificados eram os mais acusados de crimes
sexuais e morais.
o Índios e negros estavam a margem da religiosidade e pouco delatavam e
confessavam. Mas o caráter de suas palavras era posta em dúvida devido
a sua inferioridade.
o O número de mulheres na colônia era bem limitado e por isso apareciam
tão pouco em qualquer lado do processo. Mas na denúncia foi onde
particularmente apareciam mais.
Dessa maneira, surgem alguns padrões:
Delator típico: branco, casado, português, bem posicionado e cristão-velho.
Denunciados típicos (mais heterogêneo): homem simples, colono pobre,
trabalhador manual ou servil, português, mazombo e até mestiço.
Portanto, a Inquisição estava vulnerável as hierarquias sociais. Não se
estabeleceu de maneira direta na colônia, mas teve um importante papel de
modelar comportamentos e maneiras. Além disso, dava um certo poder de
submissão ao bispo e ao inquisidor.
2
Idem, Página 227.
3
Idem, Página 230.