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FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017

FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se


EDUCAÇÃO, DIDÁTICA, CURRÍCULO E constitui no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois
vê nessa gramática uma perspectiva de normatização
AVALIAÇÃO lingüística, tomando como modelo de norma culta as
Prof. José Barbosa e Profa. Aline obras dos nossos grandes escritores clássicos. Portanto,
saber gramática, teoria gramatical, é a garantia de se
chegar ao domínio da língua oral ou escrita.
SUMÁRIO Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o
1.TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E CONCEPÇÕES DE ENSINO E ensino da gramática pela gramática, com ênfase nos
APRENDIZAGEM; AS DIMENSÕES DO PROCESSO EDUCATIVO; exercícios repetitivos e de recapitulação da matéria,
PLANEJAMENTO DE ENSINO. O ENSINO E SEUS ELEMENTOS: ALUNO, exigindo uma atitude receptiva e mecânica do aluno. Os
CONHECIMENTO, SITUAÇÕES DIDÁTICA E A RELAÇÃO conteúdos são organizados pelo professor, numa
PROFESSOR/ALUNO PROFESSOR. 2. CURRÍCULO E PROJETO seqüência lógica, e a avaliação é realizada através de
POLÍTICO PEDAGÓGICO. PLANEJAMENTO CURRICULAR. CURRÍCULO provas escritas e exercícios de casa.
E ORGANIZAÇÃO DO TEMPO ESCOLAR E DO CONHECIMENTO.
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO 1.1.2 Tendência Liberal Renovada Progressivista
FUNDAMENTAL. A ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO NOS ANOS Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL. EDUCAÇÃO INFANTIL. 3. tendência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o
CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO. TIPOS E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO. sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões
AVALIAÇÃO NA LDB E NOS PCNS. CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS individuais.
DE COLETA DE DADOS PARA A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO NO A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno
ENSINO FUNDAMENTAL (1º AO 5º ANO). para assumir seu papel na sociedade, adaptando as
necessidades do educando ao meio social, por isso ela
1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E CONCEPÇÕES DE deve imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a
ENSINO E APRENDIZAGEM atividade pedagógica estava centrada no professor, na
escola renovada progressivista, defende-se a idéia de
1.1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno,
valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa, a
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal descoberta, o estudo do meio natural e social, etc,
sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar levando em conta os interesses do aluno.
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o torna uma atividade de descoberta, é uma auto-
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio
vigentes na sociedade de classe, através do estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à
desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que
ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre as classes é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para
sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe ser empregado em novas situações. É a tomada de
a difundir a idéia de igualdade de oportunidades, não leva consciência, segundo Piaget.
em conta a desigualdade de condições. No ensino da língua, essas idéias escolanovistas não
trouxeram maiores conseqüências, pois esbarraram na
1.1.1 Tendência Liberal Tradicional prática da tendência liberal tradicional.
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal
tradicional se caracteriza por acentuar o ensino 1.1.3 Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
humanístico, de cultura geral. De acordo com essa escola Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na
tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais
realização através de seu próprio esforço. Sendo assim, preocupada com os problemas psicológicos do que com
as diferenças de classe social não são consideradas e toda os pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a
a prática escolar não tem nenhuma relação com o uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma
cotidiano do aluno. adequação pessoal às solicitações do ambiente.
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a idéia Aprender é modificar suas próprias percepções.
de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos Apenas se aprende o que estiver significativamente
para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de relacionado com essas percepções. A retenção se dá pela
que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna
do adulto, sem levar em conta as características próprias a avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-
de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto avaliação. Trata-se de um ensino centrado no aluno,
em miniatura, apenas menos desenvolvida. sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da
No ensino da língua portuguesa, parte-se da língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as
concepção que considera a linguagem como expressão do idéias da escola renovada não-diretiva, embora muito
pensamento. Os seguidores dessa corrente lingüística, em difundidas, encontraram, também, uma barreira na
razão disso, preocupam-se com a organização lógica do prática da tendência liberal tradicional.
pensamento, o que presume a necessidade de regras do
bem falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de
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PREF.
DEMERVAL
1.1.4 Tendência Liberal Tecnicista nova estrutura do conhecimento que lhes permita
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e
da ordem social vigente (o sistema capitalista), apropriar-se de outros.
articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de
tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, classes, o saber mais importante para o oprimido é a
ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse descoberta da sua situação de oprimido, a condição para
principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” se libertar da exploração política e econômica, através da
para o mercado de trabalho, não se preocupando com as elaboração da consciência crítica passo a passo com sua
mudanças sociais. organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também
baseada na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como no campo da economia, da política e das ciências sociais,
depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser conforme Gadotti.
acumulados na mente através de associações. Skinner foi Como pressuposto de aprendizagem, a força
o expoente principal dessa corrente psicológica, também motivadora deve decorrer da codificação de uma
conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER (2000), situação-problema que será analisada criticamente,
a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua envolvendo o exercício da abstração, pelo qual se procura
por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a alcançar, por meio de representações da realidade
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, concreta, a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma
para que o aluno for me “hábitos” do uso correto da Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da
linguagem. realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, educando, e só tem sentido se resulta de uma
que implantou a escola tecnicista no Brasil, aproximação crítica dessa realidade. Portanto o
preponderaram as influências do estruturalismo lingüístico conhecimento que o educando transfere representa uma
e a concepção de linguagem como instrumento de resposta à situação de opressão a que se chega pelo
comunicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é processo de compreensão, reflexão e crítica.
vista como um código, ou seja, um conjunto de signos No ensino da leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
que se combinam segundo regras e que é capaz de sintetiza sua idéia de dialogismo: “Eu vou ao texto
transmitir uma mensagem, informações de um emissor a carinhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo
um receptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar
língua é, sobretudo, dominar o código. um diálogo comigo”.
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa
concepção de linguagem, o trabalho com as estruturas 1.2.2 Tendência Progressista Libertária
lingüísticas, separadas do homem no seu contexto social, A escola progressista libertária parte do pressuposto
é visto como possibilidade de desenvolver a expressão de que somente o vivido pelo educando é incorporado e
oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, utilizado em situações novas, por isso o saber
uma modernização da escola tradicional e, apesar das sistematizado só terá relevância se for possível seu uso
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu prático. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e
superar os equívocos apresentados pelo ensino da língua a negação de toda forma de repressão, visam a favorecer
centrado na gramática normativa. Em parte, esses o desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da
problemas ocorreram devido às dificuldades de o língua, procura valorizar o texto produzido pelo aluno,
professor assimilar as novas teorias sobre o ensino da além da negociação de sentidos na leitura.
língua materna.
1.2.3 Tendência Progressista Crítico-Social Dos
1.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS Conteúdos
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e
as tendências que, partindo de uma análise crítica das libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu
realidades sociais, sustentam implicitamente as confronto com as realidades sociais. A atuação da escola
finalidades sociopolíticas da educação. consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e
suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por
1.2.1 Tendências Progressista Libertadora meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para
As tendências progressistas libertadora e libertária uma participação organizada e ativa na democratização
têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o da sociedade.
antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o
como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à princípio da aprendizagem significativa, partindo do que o
luta e organização de classe do oprimido. Segundo aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se
GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno
informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão
mas insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao mais clara e unificadora.
lado e junto deste, não se elabora uma nova teoria do
conhecimento e se os oprimidos não podem adquirir uma 1.2.4 Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96

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Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Espalhar um olhar estético diante da vida e do ato de
Nacional de n.º 9.394/96, revalorizam-se as idéias de estudar.
Piaget, Vygotsky e Wallon. Um dos pontos em comum Imaginação. Fantasia. Descoberta. Sonho. É isso que
entre esses psicólogos é o fato de serem interacionistas, se aprende em qualquer atividade ou experiência humana
porque concebem o conhecimento como resultado da que não se limita a reproduzir fatos ou impressões
ação que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo vividas, mas que as combina produzindo novos objetos,
com ARANHA (1998), o conhecimento não está, então, no novas imagens, novas ações. ( KRAMER, 1994) Para
sujeito, como queriam os inatistas, nem no objeto, como Vigotski a imaginação surge onde quer que exista o
diziam os empiristas, mas resulta da interação entre homem criando, inventando, combinando, descobrindo.
ambos. Ele nos diz, também, que arte é catarse.
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo 2.2 DIMENSÃO DO CONHECIMENTO
permite a possibilidade de negociação de sentidos em Proporcionar a construção do conhecimento, suas
sala de aula. O processo de leitura, portanto, não é nuanças e diferentes aportes epistemológicos. Consolidar
centrado no texto, ascendente, bottom-up, como queriam uma visão de totalidade eliminando a fragmentação do
os empiristas, nem no receptor, descendente, top-down, saber desconectado. Reconhecer a importância da
segundo os inatistas, mas ascendente/descendente, ou interdisciplinaridade no processo de produção do
seja, a partir de uma negociação de sentido entre conhecimento. Possibilitar atividades de pesquisa como
enunciador e receptor. Assim, nessa abordagem metodologia de trabalho, desenvolvendo um olhar
interacionista, o receptor é retirado da sua condição de investigativo da realidade e fomentando a curiosidade
mero objeto do sentido do texto, de alguém que estava epistemológica. A postura da construção do
ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, conhecimento, segundo Celso Vasconcelos (1996), implica
tradicionalmente, no ensino da leitura. na mudança de paradigma pedagógico, qual seja, ao
As idéias desses psicólogos interacionistas vêm ao invés de dar o raciocínio pronto, de fazer para e pelo
encontro da concepção que considera a linguagem como aluno construir a reflexão tomando por base a
forma de atuação sobre o homem e o mundo e das metodologia dialética, onde o professor é mediador da
modernas teorias sobre os estudos do texto, como a relação educando e o objeto de conhecimento . Ensinar
Lingüística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica exige a consciência do inacabamento ( FREIRE,1998)
Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
2.3 DIMENSÃO LÚDICA
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. Desenvolver o lúdico promovendo o encontro com a
São Paulo : Editora Moderna, 1998. alegria e o prazer de ensinar e aprender. Propiciar a
COSTA, Marisa Vorraber et al. O Currículo nos Limiares vivência de jogos, como uma das estratégias
do Contemporâneo. Rio de Janeiro : DP&A editora, pedagógicas. A alegria, o humor, o prazer, são elementos
1999. essenciais à pratica docente. Aprender brincando, onde o
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico riso se mistura com a descoberta do saber, onde a alegria
Brasileiro. São Paulo : Ática, 1988. rodopia suas asas na imaginação criativa, onde cantar se
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola entrelaça com a aprendizagem de sinais, de códigos
Pública. São Paulo : Loyola, 1990. lingüísticos, da linguagem corporal, onde jogar introduz a
MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo : Editora aprendizagem de regras, de colaboração, de parceria. O
Moderna, 1998. lúdico é animador, é exultante, tornando a aprendizagem
colorida e prazerosa. O jogo faz parte do processo de
2. DIMENSÕES DO PROCESSO EDUCATIVO formação do homem, nas suas mais diversas formas de
manifestação cultural.
2.1 DIMENSÃO ESTÉTICA
2.4 DIMENSÃO DE POSSIBILIDADES
Criar e organizar espaços de beleza, de atitude
estética, potencializando a atividade criadora do educador Propiciar o despertar de sonhos possíveis, a
e educando. Este é o espaço do sujeito cultural. Nesse elaboração de projetos acadêmicos, a atitude de ousadia,
aspecto cabe ao educador criar e organizar ambientes a coragem de romper paradigmas, a visão de futuro. O
para que os alunos se sintam sujeitos de cultura, sujeitos educador que visualiza as influências externas e está
criativos. Resgatar a capacidade dos jovens de criar, inserido no contexto social histórico político e econômico
vivenciar e expressar o potencial artístico para redescobrir favorecerá espaços para a mudança, a flexibilidade,
e reinventar sua forma de viver e compreender o mundo incentivando a pesquisa, e novas alternativas de
com todas as suas limitações e possibilidades.(LEAL.1997) aprender. Vivenciar a diferença sedimentada na
Através da arte, encontrar o prazer de criar e a perspectiva do novo. A pedagogia de possibilidades cria
sensibilidade para a poesia, o desenho, a pintura, a um espaço fecundo, porque é trabalhando com as
escultura, o conto. Desvendar o mundo com sua possibilidades que revelamos nossa crença nas pessoas,
capacidade criativa de interpretação da realidade. no potencial criativo ( LEAL, 1997).

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PREF.
DEMERVAL
Trabalhar com as crianças olhando-as como sujeitos, Todas as vicissitudes humanas perpassam de ponta
como construtores do mundo, fazedores da história. a ponta esse espaço ou tempo, vicissitudes que podem
Operacionalizar metodologias que despertem a ser traduzidas em conflitos alegrias, recalques,
capacidade do aluno, suas potencialidades, abrindo exibicionismo, esperanças, avanços e retrocessos. Enfim,
perspectivas para criar desafios. Realizar projetos tudo que é humano ( NOVASKI, 1996) Aplicar
pedagógicos, construir planos audaciosos, montar metodologias que facilitem a participação dos alunos em
cenários futuristas, discutir realizações, possibilitar a jogos e exercícios interativos, brincando juntos,
montagens de jogos criativos. Propícios a superação de compartilhando dificuldades, resolvendo conflitos,
modelos que aprisionam utopias. elaborando acordos de convivência. Criar vínculos
positivos, pontes de humanidade, fortalecer os elos de
2.5 DIMENSÃO AXIOLÓGICA amizade e generosidade, criar possibilidades de
construção de novas referências e representações no
A discussão da ética, proporcionando a reflexão campo da afetividade. Desenvolver sentimentos de
sobre os valores que norteiam a formação do homem . inclusão e pertença grupal na referência do coletivo, das
Avaliar os valores atuais impostos pela mídia. Refletir relações de proximidade ajudandoos a enfrentar o medo
sobre a filosofia que rege a vida do educador e do e buscar o riso, a gostar de si mesmo e do outro, a
educando e os valores que direcionam a prática perceber a importância das relações afetivas, dos
pedagógica. Estar sendo, é a condição entre nós, para sentimentos de segurança para que possam desafiar as
ser. Não é possível pensar os seres humanos longe, dificuldades que marcam o jogo da nossa existência.
sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe, ou (LEAL, 1997).
pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma
transgressão.(FREIRE, 1997) Discutir e proporcionar aos 2.8 DIMENSÃO DIDÁTICO- PEDAGÓGICA
alunos a vivência de atitudes éticas, de valores solidários
e respeito mútuo, creio que seja uma das alternativas Planejar as atividades docentes. Pensar
metodológicas. Os jogos, as brincadeiras, a leitura de estrategicamente. Cuidar em conhecer os alunos.
contos, as dramatizações de cenas do cotidiano, o teatro Selecionar conteúdos relevantes e atuais, operar
de fantoche, podem colaborar com a formação de sujeitos metodologias participativas que priorizem a socialização
éticos. de experiências, a pesquisa e a troca de saberes. Utilizar
novas tecnologias forjando percursos individuais, sem
2.6 DIMENSÃO POLÍTICO- SOCIAL perder de vista a dimensão coletiva do aprender. Este
processo exige reflexão crítica permanente, observando
A escola é o locus da vida social que o aluno quais as ações planejadas deram resultados? Como o
experimenta, além de seu núcleo familiar. É importante processo vem acontecendo? O sendo e o devir a ser,
proporcionar situações em que o aluno se perceba como fazem parte das finalidades do processo educativo.
sujeito. A participação em conselhos, a formação de Planejar o cotidiano da sala de aula relacionado aos
grupos de jovens. Instigar situações que sugerem a grandes objetivos, às diferentes estratégias, às diretrizes
experiência de cidadania organizada, escolhas coletivas, curriculares, à flexibilização, a interdisciplinaridade , a
oportunizar exercícios que envolvem a deliberação de relação com problemas atuais. Planejar com os alunos
normas grupais, a formação de times solidários, grupos tornando-os investigadores da realidade.
de experimentos , grupos de arte e cultura, de Planejar e sistematizar com os colegas, com
comunicação e esporte. Essas experiências, professores de outras áreas do conhecimento,
provavelmente, proporcionarão aos educandos situações provocando dúvidas sobre o estabelecido, transgredindo
de aprendizagem do coletivo. Momentos de informes, paradigmas obsoletos na busca de modelos alternativos.
leituras de fatos e acontecimentos atuais, dramatizações Planejar para investir qualitativamente , fazendo e
de cenas do cotidiano enfatizando problemas sociais e refazendo a praxis pedagógica.
políticos, troca de informações. Potencializar o espaço
escolar em sua diversidade formativa para que o aluno 2.9 DIMENSÃO FAMILIAR
perceber-se como sujeito histórico capaz de assumir
compromissos e responsabilidade social. Conhecer as Reconhecer o significado da família no processo de
normas sociais, as regras que orientam a conduta social formação do aluno, sobretudo, numa perspectiva de
analisando-as a partir de uma visão crítica . Educar para participação. A família inserindo-se na escola, na medida
cidadania. de suas possibilidades. Quando nos referimos aqui sobre
essa questão estamos chamando atenção para uma ida e
2.7 DIMENSÃO HUMANA RELACIONAL vinda daqueles fazem parte da vida dos alunos, excluindo
a tradicional forma de entrega dos boletins escolares, das
Espaço da subjetividade. Reconhecer a importância reuniões de estudo e informação. Ir mais além, rebuscar
da interação. Entender-se com um sujeito de relações. trilhas que combinem caminhadas em parceria.
Sujeito de desejo. Fomentar vínculos positivos. Fortalecer Robustecer os contatos informais, as conversas breves.
elos de generosidade. Desenvolver sentimentos de Cada escola, cada professor, podem em conjunto, com a
inclusão e pertença grupal. Estabelecer relações de família, desenhar caminhos e gestar alternativas de
proximidade ajudando a cultivar a ética da solidariedade. partilhamento.

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de um planejamento tático. É de médio prazo, geralmente
Referências num horizonte trienal ou quadrienal. As IES fazem plano
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Ed. Paz e Terra de desenvolvimento institucional (PDI), elaborada a cada
S/ª Rio de Janeiro,1997. KRAMER, Sonia. Por entre as cinco anos.
Pedras: Arma e Sonho na Escola.. São Paulo: Ática, 1994 NÍVEL 3: PLANEJAMENTO CURRICULAR. Previsão
LEAL, Regina Barros. Proposta Pedagógica para dos diversos componentes curriculares que serão
Adolescente Privado de liberdade. Ceará, UNICEF, 1998 desenvolvidos no âmbito de cada curso com a definição
dos objetivos gerais e a previsão dos conteúdos
III PLANEJAMENTO DE ENSINO programáticos de cada componente. Baseia-se nas guias
curriculares oficiais (Diretrizes nacionais [núcleo comum]
3.1 CONCEITO DE PLANEJAMENTO e diretrizes locais [parte diversificada]) no âmbito de cada
série. É feito pela direção da escola com o corpo docente
Do ponto de vista didática, planejar é prever os e especialistas na área. O resultado é o plano de
conteúdos a serem trabalhados e organizar as atividades estudos/proposta curricular. Trata-se de um planejamento
e experiências de ensino-aprendizagem considerados tático. É de médio prazo, geralmente num horizonte
mais adequados para a consecução dos objetivos trienal ou quadrienal.
estabelecidos, levando em conta a realidade dos alunos, NÍVEL 4: PLANEJAMENTO DE ENSINO/DIDÁTICO.
suas necessidades e interesses. Para Libâneo (2013: Previsões das ações em nível docente (individual ou
246), o planejamento é um processo de racionalização, cooperativo). Consiste no planejamento de disciplina, de
organização e coordenação da ação docente. unidade ou de aula. Trata-se de um planejamento
Todo planejamento tem por objetivo alterar uma dada operacional. É planejamento de curto prazo, geralmente
realidade. Em face de sua natureza sistemática e num horizonte anual/semestral, bimestral ou diário.
intencional, o trabalho docente exige uma racionalização Cuidado. Não confundir planejamento com plano.
da ação (Sacristán, 1998), a fim de garantir a consecução Planejamento é o processo mental que envolve análise,
dos objetivos. A ferramenta administrativa que que reflexão e previsão. Plano é o termo genérico para o
permite isso é o planejamento. Gandin (2004) define resultado/produto/culminância/consubstanciação do
planejamento como “o processo de transformar ideias em planejamento. É o guia de orientação, o esboço das
realidade”. conclusões do processo mental de planejar, que pode
assumir forma escrita ou não (HAIDT, 2002:95;
3.2 VANTAGENS DO PLANEJAMENTO VASCONCELLOS, 1995).

1. Orienta o desempenho para os objetivos 3.4 TIPOS DE PLANEJAMENTO/PLANO DE ENSINO


2. Dirige o foco para as coisas principais
2. Evita a rotina e a improvisação Antes de se lançar ao ensino, o professor tem que
3. Promove a eficiência e a eficácia do ensino planejá-lo. Seus planos podem ter horizontes de tempo
4. Gera maior segurança na direção do ensino diferentes, mas são fases do mesmo planejamento. Este
5. Ajuda a prever e superar dificuldades “plano de trabalho” (LDB, Art. 13, II), que pode ser
6. Garante economia de tempo e energia individual ou colaborativo, comporta três níveis, segundo
a classificação tradicional:
3.3 NÍVEIS DE PLANEJAMENTO
1. PLANO DA DISCIPLINA: previsão geral das
Na esfera da educação e do ensino, há pelos menos atividades de uma componente curricular a serem
quatro níveis de planejamento, que variam em desenvolvidas por uma turma no decurso de um
abrangência e complexidade (Moretto, 2007; Gandin, ano ou semestre letivo.
2004; Vasconcellos, 1995): 2. PLANO DE UNIDADE: previsão parcial de uma
NÍVEL 1: PLANEJAMENTO EDUCACIONAL. Previsões porção significativa da matéria, constituída de
para um sistema educacional, feito em nível sistêmico, várias aulas sobre um tema correlato a ser
isto é nas esferas nacional, estadual ou municipal. desenvolvida no decurso de um mês ou bimestre
Contém objetivos de longo prazo. Realizado pelos letivo.
sistemas de ensino e seus órgãos federais, estaduais e 3. PLANO DE AULA: previsão específica e detalhada
municipais (MEC/CNE/CEE/CME). Consiste em políticas, das sequências de atividades a serem
planos, programas e projetos (PNE, PEE, PME), bem desenvolvidas no decurso de um ou vários dias
como em guias curriculares nacionais e regionais (DCNs, letivos (sequência didática).
PCNs, RCNs). Trata-se de um planejamento estratégico. É
de longo prazo, geralmente num horizonte decenal. Na classificação progressista de Libâneo (2013: 245,
NÍVEL 2: PLANEJAMENTO 255-271), temos
INSTITUCIONAL/ESCOLAR. Planejamento global da
escola, envolvendo o processo de reflexão, de decisões 1. PLANO DA ESCOLA: Documento mais amplo que
sobre a organização, o funcionamento da instituição. Nas articula escola/sistema escolar/planos de trabalho
escolas de educação básica, consiste na proposta docente. Corporifica-se no plano pedagógico e
pedagógica ou projeto político-pedagógico (PPP). Trata-se administrativo da escola, no qual se explicitam

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PREF.
DEMERVAL
concepções teóricas, bases metodológicas, 4.1 ALUNO
objetivos educacionais gerais e estrutura
curricular, organizacional e administrativa. O aluno é um dos polos do processo de ensino-
2. PLANO DE ENSINO: Previsão dos objetivos e aprendizagem. É o indivíduo que recebe formação e
tarefas do trabalho docente para o ano ou instrução de um ou vários professores ou mestres para
semestre; é um documento mais elaborado, adquirir ou ampliar seus conhecimentos, geralmente nas
dividido por unidades sequenciais, no qual áreas intelectuais, levando em conta que existem
aparecem objetivos específicos, conteúdos e diferentes aptidões e estilos de aprendizado para cada
desenvolvimento metodológicos. Corresponde ao aluno - principalmente à medida em que avança na vida
plano de disciplina e ao plano de unidade da escolar.
classificação tradicional. Lamentavelmente, as escolas não têm cumprido seu
3. PLANO DE AULA: Previsão detalhada do plano de papel de transformar alunos em estudantes e estudantes,
ensino para um tópico ou conjunto de tópicos em autodidatas, promovendo-lhes assim a autonomia, a
específicos desdobrado numa sequência lógica. aprendizagem autodirigida. O termo aluno (do lat.
Corresponde ao plano de aula da classificação alumnus, “criança de peito”, “lactente” ou “filho adotivo”,
tradicional. e não uma pessoa “sem luz”, como se afirmava no
passado com base numa etimologia equivocada) aponta
para uma espécie de lactente intelectual, alguém que
3.5 CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PLANO DE depende ainda dos cuidados de um terceiro para ser
ENSINO alimentado na boca (LEWIS E SHORT, 1879). Em sentido
genérico, aluno é alguém que assiste aula, de forma
 COERÊNCIA E UNIDADE – conexão entre os coletiva e passiva. Já estudante designa o indivíduo que
objetivos e meios, de modo que os objetivos se empenha autonomamente em algum tipo de estudo;
sejam alcançados. sugere pessoa independente, que busca o alimento
 CONTINUIDADE E SEQUÊNCIA - trabalho de intelectual por conta própria, sem necessidade de ser
forma integrada do começo ao fim, garantindo alimentado na boca, e que faz isso geralmente de forma
relação entre as várias atividades. individual.
 FLEXIBILIDADE – possibilidade de ajustar o É preciso reconhecer que, em algumas etapas e
plano, adaptando-o a situações não previstas. O fases escolares (educação infantil e primeiros anos do
plano deve atender os interesses e necessidades ensino fundamental), os aprendizes atuam mais como
dos alunos e ao mesmo tempo atender os pontos alunos do que como estudantes; porém em outras etapas
essenciais a serem desenvolvidos. e fases (séries finais do ensino fundamental, ensino
 OBJETIVIDADE E FUNCIONALIDADE – deve médio e, principalmente, na educação superior), devem
analisar as condições da realidade, adequando o atuar mais como estudantes. O que não vale é continuar
plano às condições de sua realização, como a ser aluno, nem mesmo bom aluno, mas bom estudante.
tempo, recursos disponíveis, características dos Que fazem os “bons” alunos? Vão bem nas provas, tiram
alunos etc. boas notas, têm boletim azul, passam de ano, obtêm
 CLAREZA E PRECISÃO – a linguagem utilizada diplomas ... e não aprendem nada. Essa é a razão por
deve ser simples e clara, com enunciados exatos que o sonho de todo professor é que seus “alunos”
e indicações precisas, pois o plano não pode ser evoluam para “estudantes” e, desse nível, para
passível de dupla interpretação (Haidt, 2002:104, “pesquisadores” e “autodidatas” (PIAZZI, 2011, 2015).
105).
4.2 O CONHECIMENTO
3.6 ESTRUTURA SEQUENCIAL DE UM PLANO DE
ENSINO A estrutura didática é constituída de três polos: o
professor, o aluno e o conteúdo. Esses três elementos
A elaboração dos planos de ensino (plano de curso, básicos interagem no processo de ensino-aprendizagem,
plano de unidade e plano de aula) deve apresentar numa em diferentes concepções do ato de conhecer (Martins,
sequência coerente as variáveis internas do processo de 2012:33): o professor como centro, o aluno como centro,
ensino-aprendizagem. (GIL, 2010). a técnica como centro ou o processo educativo como
centro. No último caso, o professor faz a ponte entre o
(a) Identificação aluno e o conhecimento (saber/conteúdos), agindo assim
(b) objetivos como mediador por meio de transmissão-assimilação
(c) conteúdos ativa. É como se, ao aprender, o aluno caminhasse em
(d) estratégias metodológicas, direção ao conhecimento, escoltado pelo professor.
(e) recursos de ensino Enquanto ensinar é fazer a ponte entre o aluno e o
(f) avaliação da aprendizagem conhecimento, aprender é assimilar conhecimento. Mas o
(g) referências que é conhecimento?
Para a concepção tradicional, conhecimento era um
IV O ENSINO E SEUS ELEMENTOS bem passível de posse e acumulação, uma matéria capaz
de preencher um reservatório, um balde, uma vasilha

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
(cérebro). A partir de Descartes, o conhecimento passou Guy Brosseau tem feito avanços importantes no
a ser visto como um conjunto de elos lógicos encadeados campo da Didática das Matemáticas. Sendo um dos
de forma linear e paulatina. maiores estudiosos nesse sentido, ele desenvolveu uma
Na escola nova, o conhecimento é encarado como teoria que abrange a relação entre os conteúdos de
uma estrutura a ser construída. Na concepção atual, ensino, o discente e os métodos utilizados pelo professor
conhecimento é uma rede de significados em um espaço para efetivar o aprendizado. Todas essas observações
de representações, uma teia de relações cuja construção acontecem em sala de aula e, nesse sentido, ele também
não se inicia na escola (Machado, 2011:19, 34, 35). introduziu algumas teorias já comprovadas
Para Dewey (1979), há a aprendizagem quando o cientificamente para amplificar os seus estudos.
aluno compreende. Mas o que é compreender? É Brosseau e o mundo sabiam que o professor e o
apreender a significação (feixe de relações). Apreender o aluno eram - e são - indispensáveis ao processo de
significado de um objeto, por sua vez, é vê-lo em suas ensino, que eram atores protagonistas nos palcos da
relações com outros objetos. educação, mas faltava algo que seus questionamentos
Podemos dizer, então, que conhecer é assimilar e transformavam em inquietude: qual a contribuição do
processar a informação, tendo consciência do que ela meio em que a situação evolui para o processo Ensino-
significa. Quem passa por esse processo desenvolve um Aprendizagem? Daí parte o seu estudo.
aprendizagem significativa. Quem não compreender, A Teoria das Situações Didáticas parte da ideia de
desenvolve apenas uma aprendizagem mecânica. que "cada conhecimento ou saber pode ser determinado
Duas são as formas de desenvolver o conhecimento: por uma situação, entendida como uma ação entre duas
de forma direta (investigação) ou de forma indireta ou mais pessoas". Nessa ótica, para solucionar
(exposição). O bom professor combina os dois métodos determinada questão, o aprendiz deverá recorrer a
em sala de aula (Luckesi, 2011:153-168). conhecimentos desenvolvidos previamente, mesmo fora
do âmbito educacional, que corresponda à expectativa do
4.3 SITUAÇÕES DIDÁTICAS problema em ação.
É importante que o professor não apresente as
A Teoria das Situações Didáticas foi concebida pelo respostas das questões propostas imediatamente, pois o
educador francês Guy Brosseau. Nascido em 1933 em aluno deverá pensar, agir, refletir sobre a ação e validar
Tarza, no Marrocos, começou a lecionar aos 20 anos os argumentos usados para sustentar as suas respostas.
numa pequena aldeia da região de Lot et Garone. Lá, sua Estamos falando de um aluno capaz de criar caminhos
turma era composta por crianças com idade entre 5 e 14 diversos na busca por soluções, capaz de vasculhar a
anos. Em 1960 formou-se em matemática, passando a mente a procura de micro ou macro conhecimentos
lecionar na Universidade de Bordeaux, onde, em dias adquiridos no pretérito e utilizá-los na situação presente.
atuais, "é diretor do Laboratório de Didática das Ciências A Teoria das Situações Didáticas visa à criação de alunos
e das Tecnologias e professor emérito". autônomos, reflexivos, ativos e argumentativos. Situações
Porém, foi aos 17 anos, três anos antes de sua dessa natureza foram batizadas por Brosseau por
iniciação na docência, que Brosseau ganhou uma bolsa Situações Adidáticas. "Mas, segundo o pesquisador, a
para estudar Matemática Avançada na Universidade de criança ainda não terá adquirido de fato, um saber até
Toulouse. Mas seu espírito inquieto de pesquisador, que consiga usá-lo fora do contexto de ensino e sem
fortalecido pelo forte desejo de educar, o trouxe de volta nenhuma indicação intencional".
a Escola Normal de Agen, onde tivera estudado no Não há como separar as situações adidáticas das
passado. Dessa vez buscava compreender as maneiras situações didáticas, pois a primeira faz parte da segunda
pelas quais as crianças aprendem os conteúdos e se complementam entre si. Elas são divididas, segundo
disciplinares. Mesmo numa época cognitivista, alicerçada Brosseau, em quatros tipos: Ação, Formulação, Validação
pelas descobertas de Jean Piaget, Brosseau buscou e Institucionalização.
desenvolver uma teoria que priorizasse a relação entre Ação - é o momento das tomadas de decisões, a
aluno, professor e o conhecimento. prática do saber. É o momento em que surgem os
Com mais de 40 anos de dedicação a Didática da conhecimentos não matemáticos como modelos basilares.
Matemática, Brosseau desenvolve seus trabalhos de Formulação - Aqui os alunos formulam suas
investigação no Centro de Observação e Pesquisa em estratégias e explicitam-nas verbalmente, recorrendo à
Educação Matemática, mais uma de suas criações ação anterior, chegando à apropriação cônscia do
realizada em 1972. Por fim, se Comênio é tido como o Pai conhecimento.
da Didática Moderna, Ruy Brosseau é o Pai da Didática da Validação – é a demonstração dos argumentos
Matemática. utilizados na resolução do problema. “O aluno não só
O campo de pesquisa em relação à Didática tem deve comunicar uma informação como também precisa
crescido bastante, ampliando o leque de conhecimentos afirmar que o que diz é verdadeiro dentro de um sistema
sobre a relação entre os conteúdos de ensino, os alunos e determinado”, afirma Brosseau.
os métodos utilizados para sua apropriação. No século 20, Institucionalização – Nesse momento todos os
através dos estudos de Lev Vygotsky e Jean Piaget, as procedimentos adotados pelos alunos no decorrer do
crianças ganharam posição de destaque num cenário debate, desde a ação até a validação, são devidamente
onde o nascer do aprendizado destas era objeto de registrados e organizados com a ajuda do professor,
estudo e meticulosa investigação. sempre com a presença explícita do caráter matemático

1
PREF.
DEMERVAL
validado pelos discentes. 4.4 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O PROCESSO
Na Teoria das Situações Didáticas o erro aparece DE ENSINO-APRENDIZAGEM
envolto em um novo conceito. Reconhece-se seu valor no
processo de aquisição de novos saberes, onde ele “é visto O plano de ensino-aprendizagem não garante
como o efeito de um conhecimento anterior, que já teve necessariamente excelência na formação dos educandos.
sua utilidade, mas agora se revela inadequado ou falso”. Ela é decorrente também das relações que o professor
Claramente quando se trabalha com a concepção constrói com seus alunos e alunas, relações essas de
pedagógica propostas por Brosseau, tem-se uma inversão proximidade, empatia e significado. Contudo, a
do ensino tradicional da Matemática, onde o ensino parte construção dessas relações, a sua qualidade e
de conteúdos acabados, não oferecendo a possibilidade consistência, bem como seus impactos no processo de
de criação por parte do aluno. ensino-aprendizagem, dependem da concepção que os
professores apresentam do ensino e da aprendizagem, do
modo como concebem seu papel, o papel dos alunos e
como consideram o pensar e o fazer docente no contexto
escolar.
Nesse sentido, grosso modo, pode-se falar em duas
concepções e práticas: uma autoritária e
antidemocrática, ancorada numa visão de que o professor
é “dono” do saber, é ele que detém o poder do
conhecimento; é ele que sabe o caminho através do qual
se ensina e se aprende. Essa visão, naturalmente, vai
produzir um tipo de relação também autoritária com os
alunos, uma vez que estes são vistos como “latas” onde o
professor “sabe tudo” despeja seus conhecimentos e
saberes. Estabelece-se assim uma relação pautada no
autoritarismo e no não diálogo. O ensinar e o aprender
assumem um caráter “bancário” e antidialógico, como
dizia Paulo Freire (1987). A relação que se constrói não é
de empatia e proximidade, mas de negação do outro
como legítimo outro (MATURANA, 1998). O aluno,
segundo essa visão, é visto como objeto da ação
pedagógica e não como sujeito.
A segunda concepção e prática docente referente ao
processo de ensino–aprendizagem pode ser caracterizada
como dialógica (FREIRE, 1987). Essa concepção parte de
outro pressuposto, onde a atitude dialógica é, antes de
tudo, uma atitude de amor, humildade e fé no ser
humano, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de
recriar. Portanto, o “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção", (FREIRE, 1996, p. 21); o
aprender, nessa perspectiva dialógica, é mais que uma
relação de saber; é relação de existência de vida;
aprender é uma modificação estrutural não do
comportamento, mas da convivencia (MATURANA,1998).
O processo de ensino-aprendizagem decorre então de
uma relação entre parceiros, onde todos ensinam e todos
aprendem. Numa relação como essa, onde professores e
alunos se sentem acolhidos em seus saberes e
experiências, constroem juntos o conhecimento, alegram-
se juntos pelas descobertas que fazem, percebem juntos
o movimento da vida e da convivência no ato de ensinar e
aprender coletivamente, produzindo proximidade, empatia
e significado.

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
Nesse sentido, a proximidade e a empatia podem ser O mundo está mudando e isso está ocorrendo a uma
consideradas como um instrumento da dialogicidade, na velocidade sem precedentes na evolução histórica da
medida em que, quando nos juntamos para, humanidade. A globalização, o surgimento de novas
parceiramente, descobrir, conhecer, resolver problemas, tecnologias, como o avanço das telecomunicações e da
ficar juntos e referendar o outro no seu jeito de ver o informática, contribuem para que ocorra mudanças,
mundo, de explicá-lo e mobilizar as experiências e também, na Educação. A interação professor - aluno vem
saberes de que é portador, vivenciamos uma relação se tornando muito mais dinâmica nos últimos anos.
ontológica, uma relação de totalidade do ser, O professor tem deixado de ser um mero transmissor
existencialmente produtiva, nunca uma busca objetivista de conhecimentos para ser mais um orientador, um
do conhecimento, muito menos um esforço de uso do estimulador de todos os processos que levam os alunos a
parceiro (FONSECA, 2000). construírem seus conceitos, valores, atitudes e
Sabendo que a construção de relações de habilidades que lhes permitam crescer como pessoas,
proximidade, empatia e significado, no processo de como cidadãos e futuros trabalhadores, desempenhando
ensino-aprendizagem, será sempre um desafio, visto que uma influência verdadeiramente construtiva.
é contextualizada, isto é, precisa considerar a história, o A Educação deve não apenas formar trabalhadores
ambiente, as trajetórias formativas de professores e para as exigências do mercado de trabalho, mas cidadãos
alunos, seus saberes e experiências, etc., pode-se críticos capazes de transformar um mercado de
apontar algumas recomendações que podem contribuir na exploração em um mercado que valorize uma mercadoria
superação do desafio de construir relações de cada vez mais importante: o conhecimento. Dentro deste
proximidade e empatia, e perseguir a excelência no contexto, é imprescindível proporcionar aos educandos
ensinar e no aprender. Destaco, pois, as seguintes: uma compreensão racional do mundo que o cerca,
1 – É preciso adotar uma postura dialógica, fundada levando-os a um posicionamento de vida isento de
na construção parceira do saber e na afirmação da vida preconceitos ou superstições e a uma postura mais
de cada ator do processo educativo; adequada em relação a sua participação como indivíduo
2 – Construir coletivamente um ambiente de na sociedade em que vive e do ambiente que ocupa.
aprendizagem onde todos possam ser escutados, O desafio de contribuir com a educação do jovem e
sentirem-se acolhidos e valorizados em seus saberes e do cidadão, num momento de mudanças e incertezas e a
experiências, implicando o conhecimento das histórias, necessidade de resgatar valores tão importantes
trajetórias, perfil dos alunos, de seus gostos, problemas e condizentes com a sociedade contemporânea leva o
dificuldades; professor a entender que deverá exercer um novo papel,
3 – Estabelecer, em cada aula ou espaço de ensino- de acordo com os princípios de ensino-aprendizagem
aprendizagem, condições alegres e bonitas para se adotados, como saber lidar com os erros, estimular a
trabalhar, vivenciando momentos de inquietação aprendizagem, ajudar os alunos a se organizarem, educar
epistemológica, produção individual e coletiva, através do ensino, entre outros.
sistematização e valorização das descobertas, procurando O aluno precisa adquirir habilidades como fazer
identificar os significados da convivência pedagógica; consultas em livros, entender o que lê, tomar notas, fazer
4 – Trabalhar o gosto pela curiosidade e a síntese, redigir conclusões, interpretar gráficos e dados,
investigação, motivando e fomentando atitudes e práticas realizar experiências e discutir os resultados obtidos e,
produtivas, procurando dar um sentido social para a ainda, usar instrumentos de medida quando necessário,
produção do saber; bem como compreender as relações que existem entre os
5 – Criar espaços de avaliação, entendendo-a não só problemas atuais e o desenvolvimento científico. Isso só
como aferição de resultados do ensino-aprendizagem, será possível, a partir do momento que o professor
mas como identificação dos sentidos e significados do assumir o seu papel de mediador do processo ensino-
saber e do fazer epistemológico e social. aprendizagem, favorecendo a postura reflexiva e
Finalizo, reforçando a ideia de que não haverá investigativa. Desta maneira ele irá colaborar para a
excelência no processo de ensino-aprendizagem se não construção da autonomia de pensamento e de ação,
houver uma busca permanente por uma excelência nas ampliando a possibilidade de participação social e
relações de convivência, no ambiente ou espaço de desenvolvimento mental, capacitando os alunos a
aprendizagem, entre professores e alunos. É no espaço exercerem o seu papel de cidadão do mundo.
da convivência, onde se dá a proximidade e a empatia,
que o ato de ensinar e aprender se efetiva, ganha sentido
e significado.

O Professor como Mediador no Processo Ensino


Aprendizagem

1
PREF.
DEMERVAL
O modo de entender e agir que nos possibilita não É indispensável dar mais ênfase à aprendizagem do
nos deixarmos abater pela adversidade e, até mesmo, de que aos programas e provas como é prática comum em
utilizá-la para crescer. Uma das causas do fracasso do nossas escolas, pois no processo de ensino e
ensino é que tradicionalmente, a prática mais comum era aprendizagem, conceitos, idéias e métodos devem ser
aquela em que o professor apresentava o conteúdo abordados mediante a exploração de problemas,
partindo de definições, exemplos, demonstração de desenvolvendo competências para a interpretação e
propriedades, seguidos de exercícios de aprendizagem, resolução dos mesmos. E esta resolução não é um
fixação e aplicação, pressupondo-se que o aluno aprendia exercício em que o aluno aplica, de forma quase
pela reprodução. Considerava-se que uma reprodução mecânica, uma fórmula ou um processo operatório, mas
correta era evidência de que ocorrera a aprendizagem. uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o
Essa prática mostrou-se ineficaz, pois a reprodução contexto em que se pode aprender conceitos,
correta poderia ser apenas uma simples indicação de que procedimentos e atitudes. Para que ocorram essas
o aluno aprendeu a reproduzir, mas não aprendeu o transformações, tão necessárias, é preciso que o
conteúdo. É necessário saber para ensinar. O professor professor demonstre profissionalismo, ética e, acima de
deve se mostrar competente na sua área de atuação, tudo, compromisso com o sucesso dos alunos. O
demonstrando domínio na ciência que se propõe a compromisso de conduzi-los ao aprendizado. É o desafio
lecionar, pois do contrário, irá apenas "despejar" os para todos os que estão envolvidos em Educação.
conteúdos "decorados" sobre os alunos, sem lhes dar
oportunidade de questionamentos e criticidade. 5 CURRÍCULO E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Adequar a metodologia e os recursos audiovisuais de
forma que haja a comunicação com os alunos, é também, Inicialmente quando se fala de currículo é primordial
uma forma de fazer da aula um momento propício à entender que não existe apenas uma concepção para este
aprendizagem. termo, ao tomar o currículo como objeto de estudo foi
É importantíssimo que o professor tenha, também,
interessante perceber a sua materialização na intenção da
competência humana, para que possa valorizar e escola, como esta organiza o processo de ensino-
estimular os alunos, a cada momento do processo ensino-
aprendizagem, como se dá a relação existente entre
aprendizagem. A motivação é imprescindível para o professor e aluno e como este é capaz de acompanhar as
desenvolvimento do indivíduo, pois bons resultados de
mudanças que ocorrem dentro da unidade escolar.
aprendizagem só serão possíveis à medida que o Santiago nos apresenta uma contribuição importante
professor proporcionar um ambiente de trabalho que quando ela nos faz perceber que o importante é estar
estimule o aluno a criar, comparar, discutir, rever,
atendo ao "efeito do currículo ? o que ele causa, o que
perguntar e ampliar idéias. ele diz, o que ele é capaz de fazer"(2006,p.75). É por
Dentro das competências: científica, técnica, humana
entender essa afirmação que percebemos a capacidade
e política desenvolvidas pelo professor, é essencial
renovadora do currículo e reconhecemos que este deverá
propiciar aos alunos condições para o desenvolvimento da
ser desenvolvido a partir das experiências vividas pelos
capacidade de pensar crítica e logicamente, fornecendo-
sujeitos envolvidos no processo educacional.
lhes meios para a resolução dos problemas inerentes aos Santiago ao apresentar o currículo numa perspectiva
conteúdos trabalhados interligados ao seu cotidiano,
freireana, nos fez entender que o sujeito, a existência e o
fazendo com que ele compreenda que o estudo é mais do
conhecimento são seus pontos principais. Nesta
que mera memorização de conceitos e termos científicos
abordagem é ratificado que o sujeito não surge apenas
transmitidos pelo professor ou encontrados em livros.
como um recebedor de conhecimentos, ele surge como
um ser capaz de construir conhecimentos, deixando de
É um trabalho em que raciocínio e criatividade são aparecer como um ser passivo, mas mostrando-se como
recompensados. um sujeito ativo, este capaz de elaborar conhecimentos
através de sua existência. É nesta atuação que o sujeito
surge como um ser curioso, crítico e criativo.
Outro fato relevante percebido dentro desse estudo é
enxergar que esta questão de currículo não está
relacionada apenas a equipe gestora de uma escola, foi
interessante perceber que este é plural, pois toma forma
na atuação de todos que formam a escola e que estão
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, além de
ser capaz de deixar claro qual a intenção e quais são os
verdadeiros desejos de determinada instituição escolar.
Através de nossos estudos podemos perceber que o
currículo é muito mais que uma mera relação de
conteúdos a serem trabalhados dentro da escola, é por
meio deste que a escola mostra quais são as suas
intenções para o processo de ensino-aprendizagem e
como este tem o poder de atuar dentro da organização

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
da escola, determinando seu caráter político, pedagógico _____________. Formação, currículo e prática
e organizacional. pedagógica em Paulo Freire. In: Formação de professores
Dentro destes estudos sobre currículo fora de grande e práticas pedagógicas. Organizadores: José Batista Neto,
importância perceber a importância e a função de uma de Eliete Santiago. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Ed.
suas peças: o Projeto Político Pedagógico. Massangana, 2006.
O PPP é uma das formas de se materializar o
currículo, pois é uma forma de organização do trabalho 6 PLANEJAMENTO CURRICULAR
pedagógico, que visa o melhoramento da qualidade de
ensino, organização esta que vai do relacionamento O planejamento curricular abrange o planejamento
existente entre docente e discente até a relação entre das experiências vividas pelos alunos em uma escola
escola e comunidade. (PILETTI, 1991).
Outro fator que merece ser ressaltado quando nos É o processo de tomada de decisões sobre a
referimos ao projeto político pedagógico escolar é o dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e
quanto este pode favorecer uma atuação democrática da ordenada de toda a vida escolar do aluno. Portanto, essa
escola, pois este é capaz de dar voz àqueles que modalidade de planejar constitui um instrumento que
normalmente não estão inseridos no processo de orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é
organização escolar. É durante sua aplicação que com a proposta geral das experiências de aprendizagem
docentes, representantes dos discentes e da comunidade que a escola deve oferecer ao estudante, através dos
externa podem ajudar a escolar a se organizar de forma diversos componentes curriculares (VASCONCELLOS,
mais adequada para atender as necessidades de seus 1995, p. 56).
discentes e da comunidade na qual está inserida. É Cada escola deve elaborar seu planejamento de
através deste que a escola se propõe a aprender a pensar currículo, inserindo todos os componentes escolares que,
e a realizar o fazer pedagógico de forma mais efetiva, direta ou indiretamente, fazem parte do processo
crítica e adequada a sua situação. É nesta concepção que educativo, como diretor, supervisor pedagógico,
a escola é percebida como uma instituição social, inserida orientador educacional e professores. Assim, definirão
na sociedade, e aberta para atender as necessidades juntos os objetivos finais, o conteúdo básico e delinearão
desta sociedade. os métodos e as estratégias de avaliação.
Durante nosso estudo foi interessante perceber que De acordo com Luckesi (2006, p.112), o
é através do projeto político pedagógico que os planejamento curricular é uma tarefa multidisciplinar que
educadores, os funcionários, os discentes e pais tem por objetivo a organização de um sistema de relações
demonstram o tipo de escola que desejam; é através dele lógicas e psicológicas dentro de um ou vários campos de
que se demonstram os fins a serem alcançados pela conhecimento, de tal modo que se favoreça ao máximo o
escola; é por meio deste, que a escola demonstra que processo ensino-aprendizagem. É, dessa forma, a
tipo de cidadão ela quer formar; é através do PPP que se previsão de todas as atividades que o educando realiza
avaliam as condições para viabilizar a escola ideal com a sob a orientação da escola para atingir os fins da
definição de etapas e meios para torná-la realidade. educação.
Concluindo afirmamos que é de suma importância
perceber a importância de uma unidade escolar conhecer 7 CURRÍCULO E ORGANIZAÇÃO DO TEMPO
bem quais são os seus objetivos educacionais e ESCOLAR E DO CONHECIMENTO
formalizadores, pois desta forma ela poderá atuar de
forma mais significativa na formação de seus discentes e Em uma escola, a organização do tempo é
na sua relação com a sociedade. Durante esta nossa primordial. O calendário escolar é de extrema
abordagem procuramos demonstrar como o currículo e o importância, pois ele é um elemento constitutivo da
projeto político pedagógico pode favorecer essa atuação organização do currículo escolar. É ele que mostra a
da instituição de ensino, como eles podem beneficiar o quantidade de horas que os professores de cada matéria
processo de ensino-aprendizagem ocorrido dentro da terão para usar em sala de aula, as avaliações, cursos, os
escola, pois são capazes de atuar significativamente em feriados, as férias, períodos em que o ano se divide, os
seu modo de organização. dias letivos, as atividades extracurriculares (como
campeonatos interclasse, festa junina, entre outros) e as
Referências atividades pedagógicas (como trabalho coletivo na escola,
VEIGA, Ilma Passos A. Projeto Político Pedagógico da conselho de classe e paradas pedagógicas).
escola: uma construção coletiva. In: Projeto Político O professor também necessita de tempo para
Pedagógico da Escola: uma construção possível. conhecer melhor seus alunos, exercer sua formação
Campinas: Papirus, 1995. continuada dentro do ambiente escolar, participar de
cursos e palestras de formação continuada, preparar suas
SANTIAGO, Eliete. O Projeto Político da Escola como aulas, diários, avaliações, atividades didáticas e
instrumento da gestão democrática. In: Políticas e Gestão acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico em
da Educação Básica. Organizadoras: Laêda Bezerra ação.
Machado, Eliete Santiago. Recife: Ed. Universitária da O estudante também precisa de tempo para, entre
UFPE, 2009. outras coisas, se organizar e criar seus espaços para além
da sala de aula.

1
PREF.
DEMERVAL
Além disso, essa organização do tempo escolar de As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são
cada escola deve levar em consideração a realidade, a normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam
região e a estrutura de cada instituição e dos alunos. Por o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de
exemplo, em regiões onde a maioria da população, o que ensino. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo
engloba os alunos, trabalha na área rural, o calendário Conselho Nacional de Educação (CNE).
escolar deve levar em conta as épocas de safra e Atualmente, existem diretrizes gerais para a
entressafra. Educação Básica. Cada etapa e modalidade da dela
Essa organização do tempo escolar é normalmente (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio)
feita no momento da elaboração do projeto-político- também apresentam diretrizes curriculares próprias. A
pedagógico (PPP) de cada escola. mais recente é a do Ensino Médio.
As pessoas mais indicadas para a organização desse As diretrizes buscam promover a equidade de
tempo escolar são os próprios professores, por aprendizagem, garantindo que conteúdos básicos sejam
conhecerem as necessidades e a realidade da sala de ensinados para todos os alunos, sem deixar de levar em
aula. No entanto, verifica-se que, na maioria dos casos, consideração os diversos contextos nos quais eles estão
são especialistas e membros de outras áreas, os inseridos.
responsáveis por esta parte.
Assim, o resultado é que o tempo escolar fica muito 8.1 QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE AS
compartimentado e hierarquizado. Isto significa que a DIRETRIZES CURRICULARES E OS PARÂMETROS
grade curricular, que fixa o tempo de cada disciplina, CURRICULARES?
concede mais tempo – que normalmente é apenas de
uma hora ou menos – para disciplinas que são Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são
consideradas de mais importância em detrimento de diretrizes separadas por disciplinas elaboradas pelo
outras, que acabam ficando prejudicadas por terem governo federal e não obrigatórias por lei. Elas visam
menos tempo para serem desenvolvidas. subsidiar e orientar a elaboração ou revisão curricular; a
Comentando sobre esse assunto e sobre o resultado formação inicial e continuada dos professores; as
imediato no desenvolvimento escolar dos alunos, Enguita discussões pedagógicas internas às escolas; a produção
(1989) diz: de livros e outros materiais didáticos e a avaliação do
sistema de Educação. Os PCNs foram criados em 1997 e
A sucessão de períodos muito breves – sempre funcionaram como referenciais para a renovação e
de menos de uma hora – dedicados a matérias reelaboração da proposta curricular da escola até a
muito diferentes entre si, sem necessidade de definição das diretrizes curriculares.
sequência lógica entre elas, sem atender à Já as Diretrizes Curriculares Nacionais são normas
melhor ou à pior adequação de seu conteúdo a obrigatórias para a Educação Básica que têm como
períodos mais longos ou mais curtos e sem objetivo orientar o planejamento curricular das escolas e
prestar nenhuma atenção à cadência do dos sistemas de ensino, norteando seus currículos e
interesse e do trabalho dos estudantes; em conteúdos mínimos. Assim, as diretrizes asseguram a
suma, a organização habitual do horário escolar formação básica, com base na Lei de Diretrizes e Bases
ensina ao estudante que o importante não é a da Educação (LDB), definindo competências e diretrizes
qualidade precisa de seu trabalho, a que o para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
dedica, mas sua duração. A escola é o primeiro Ensino Médio.
cenário em que a criança e o jovem presenciam,
aceitam e sofrem a redução de seu trabalho a 8.2 FUNDAMENTOS
trabalho abstrato. (ENGUITA, 1989, p.180)
O direito à educação como fundamento maior destas
Desse modo, vários autores, como Veiga (p. 30) Diretrizes
concordam que é necessário reformular a forma em que o O Ensino Fundamental, de frequência compulsória, é
tempo escolar é organizado, para alterar a qualidade do uma conquista resultante da luta pelo direito à educação
trabalho pedagógico. travada nos países do ocidente ao longo dos dois últimos
séculos por diferentes grupos sociais, entre os quais
Referências avultam os setores populares. Esse direito está
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político- fortemente 105 associado ao exercício da cidadania, uma
pedagógico da escola: uma construção possível. 14a vez que a educação como processo de desenvolvimento
edição Papirus, 2002, pgs. 29,30. do potencial humano garante o exercício dos direitos
civis, políticos e sociais. De acordo com Cury (2002), seja
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e por razões políticas, seja por razões ligadas ao indivíduo,
trabalho no capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, a educação foi tida historicamente como um canal de
1989. acesso aos bens sociais e à luta política e, como tal,
também um caminho de emancipação do indivíduo.

8 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS 8.3 A OFERTA DE UMA EDUCAÇÃO COM


QUALIDADE SOCIAL

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
Cabe primordialmente à instituição escolar a
O Ensino Fundamental foi, durante a maior parte do socialização do conhecimento e a recriação da cultura. De
século XX, o único grau de ensino a que teve acesso a acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
grande maioria da população. Em 1989, já na virada da para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº7/2010 e
última década, portanto, a proporção de suas matrículas Resolução CNE/CEB nº 4/2010), uma das maneiras de se
ainda representava mais de ¾ do total de alunos conceber o currículo é entendê-lo como constituído pelas
atendidos pelos sistemas escolares brasileiros em todas experiências escolares que se desdobram em torno do
as etapas de ensino. Em 2009, o perfil seletivo da nossa conhecimento, permeadas pelas relações sociais,
escola havia se atenuado um pouco, com a expansão do buscando articular vivências e saberes dos alunos com os
acesso às diferentes etapas da escolaridade. Contudo, conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo
entre os 52,6 milhões de alunos da Educação Básica, para construir as identidades dos estudantes. O foco nas
cerca de 66,4% estavam no Ensino Fundamental, o que experiências escolares significa que as orientações e
correspondia a 35 milhões de estudantes, incluídos entre propostas curriculares que provêm das diversas instâncias
eles os da Educação Especial e os da Educação de Jovens só terão concretude por meio das ações educativas que
e Adultos (conforme a Sinopse Estatística da Educação envolvem os alunos.
Básica, MEC/INEP 2009). Os conhecimentos escolares podem ser
compreendidos como o conjunto de conhecimentos que a
8.4 PRINCÍPIOS NORTEADORES escola seleciona e transforma, no sentido de torná-los
passíveis de serem ensinados, ao mesmo tempo em que
Os sistemas de ensino e as escolas adotarão como servem de elementos para a formação ética, estética e
norteadores das políticas educativas e das ações política do aluno. As instâncias que mantêm, organizam,
pedagógicas os seguintes princípios: orientam e oferecem recursos à escola, como o próprio
Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e Ministério da Educação, as Secretarias de Educação, os
autonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e Conselhos de Educação, assim como os autores de
de compromisso com a promoção do bem de todos, materiais e livros didáticos, transformam o conhecimento
contribuindo para combater e eliminar quaisquer acadêmico, segmentando de acordo com os anos de
manifestações de preconceito e discriminação. escolaridade, ordenando-o em unidades e tópicos e
Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres buscam ainda ilustrá-lo e formulá-lo em questões para
de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação muitas das quais já se têm respostas. Esse processo em
do regime democrático e dos recursos ambientais; de que o conhecimento de diferentes áreas sofre mudanças,
busca da equidade no 108 acesso à educação, à saúde, transformando-se em conhecimento escolar, tem sido
ao trabalho, aos bens culturais e outros benefícios; de chamado de transposição didática.
exigência de diversidade de tratamento para assegurar a
igualdade de direitos entre os alunos que apresentam 8.6 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
diferentes necessidades; de redução da pobreza e das
desigualdades sociais e regionais. O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove)
Estéticos: de cultivo da sensibilidade juntamente com anos de duração exige a estruturação de um projeto
o da racionalidade; de enriquecimento das formas de educativo coerente, articulado e integrado, de acordo com
expressão e do exercício da criatividade; de valorização os modos de ser e de se desenvolver das crianças e dos
das diferentes manifestações culturais, especialmente as adolescentes nos diferentes contextos sociais. O projeto
da cultura brasileira; de construção de identidades plurais educativo pode ser entendido como uma das formas de
e solidárias. expressão dos propósitos educacionais que pode ser
Matrícula no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e compartilhada por diferentes escolas e redes. Ciclos,
carga horária séries e outras formas de organização a que se refere a
O Ensino Fundamental com duração de 9 (nove) Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos e
anos abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos espaços interdependentes e articulados entre si, ao longo
14 (quatorze) anos de idade e se estende, também, a dos 9 (nove) anos. Ao empenhar-se em garantir aos
todos os que, na idade própria, não tiveram condições de alunos uma educação de qualidade, todas as atividades
frequentá-lo. É obrigatória a matrícula no Ensino da escola e a sua gestão deverão estar articuladas com
Fundamental de crianças com 6 (seis) anos completos ou esse propósito. O processo de enturmação dos alunos, a
a completar até o dia 31 de março do ano em que ocorrer distribuição de turmas por professor, as decisões sobre o
a matrícula, nos termos da Lei e das normas nacionais currículo, a escolha dos livros didáticos, a ocupação do
vigentes. As crianças que completarem 6 (seis) anos após espaço, a definição dos horários e outras tarefas
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil administrativas e/ou pedagógicas precisam priorizar o
(Pré-Escola). A carga horária mínima anual do Ensino atendimento aos interesses e necessidades dos alunos.
Fundamental regular será de 800 (oitocentas) horas
relógio, distribuídas em, pelo menos, 200 (duzentos) dias 8.7 A ENTRADA DE CRIANÇAS DE 6 (SEIS) ANOS
de efetivo trabalho escolar. NO ENSINO FUNDAMENTAL

8.5 O CURRÍCULO A entrada de crianças de 6 (seis) anos no Ensino


Fundamental implica assegurar-lhes garantia de

1
PREF.
DEMERVAL
aprendizagem e desenvolvimento pleno, atentando para a recuperação daqueles com menor rendimento e
grande diversidade social, cultural e individual dos alunos, consideram a prevalência dos aspectos qualitativos sobre
o que demanda espaços e tempos diversos de os quantitativos, bem como os resultados ao longo do
aprendizagem. Na perspectiva da continuidade do período sobre os de eventuais provas finais.
processo educativo proporcionada pelo alargamento da A avaliação do aluno, a ser realizada pelo professor e
Educação Básica, o Ensino Fundamental terá muito a pela escola, é redimensionadora da ação pedagógica e
ganhar se absorver da Educação Infantil a necessidade de deve assumir um caráter processual, formativo e
recuperar o caráter lúdico da aprendizagem, participativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica.
particularmente entre as crianças de 6 (seis) a 10 (dez) A avaliação formativa, que ocorre durante todo o
anos que frequentam as suas classes, tornando as aulas processo educacional, busca diagnosticar as
menos repetitivas, mais prazerosas e desafiadoras e potencialidades do aluno e detectar problemas de
levando à participação ativa dos alunos. A escola deve aprendizagem e de ensino. A intervenção imediata no
adotar formas de trabalho que proporcionem maior sentido de sanar dificuldades que alguns estudantes
mobilidade às crianças na sala de aula, explorar com elas evidenciem é uma garantia para o seu progresso nos
mais intensamente as diversas linguagens artísticas, a estudos. Quanto mais se atrasa essa intervenção, mais
começar pela literatura, utilizar mais materiais que complexo se torna o problema de aprendizagem e,
proporcionem aos alunos oportunidade de racionar consequentemente, mais difícil se torna saná-lo.
manuseando-os, explorando as suas características e A avaliação contínua pode assumir várias formas, tais
propriedades, ao mesmo tempo em que passa a como a observação e o registro das atividades dos alunos,
sistematizar mais os conhecimentos escolares. sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
Além disso, é preciso garantir que a passagem da trabalhos individuais, organizados ou não em portfólios,
Pré-Escola para o Ensino Fundamental não leve a ignorar trabalhos coletivos, exercícios em classe e provas, dentre
os conhecimentos que a criança já adquiriu. Igualmente, outros. Essa avaliação constitui um instrumento
o processo de alfabetiza- ção e letramento, com o qual indispensável do professor na busca do sucesso escolar
ela passa a estar mais sistematicamente envolvida, não de seus alunos e pode indicar, ainda, a necessidade de
pode sofrer interrupção ao final do primeiro ano dessa atendimento complementar para enfrentar dificuldades
nova etapa da escolaridade. específicas, a ser oferecido no mesmo período de aula ou
Assim como há crianças que depois de alguns meses no contraturno, o que requer flexibilidade dos tempos e
estão alfabetizadas, outras requerem de dois a três anos espaços para aprender na escola e também flexibilidade
para consolidar suas aprendizagens básicas, o que tem a na atribuição de funções entre o corpo docente.
ver, muito frequentemente, com seu convívio em Os procedimentos de avaliação adotados pelos
ambientes em que os usos sociais da leitura e escrita são professores e pela escola serão articulados às avaliações
intensos ou escassos, assim como com o próprio realizadas em nível nacional e às congêneres nos
envolvimento da criança com esses usos sociais na família diferentes Estados e Municípios, criadas com o objetivo de
e em outros locais fora da escola. Entretanto, mesmo subsidiar os sistemas de ensino e as escolas nos esforços
entre as crianças das famílias de classe média, em que a de melhoria da qualidade da educação e da aprendizagem
utilização da leitura e da escrita é mais corrente, verifica- dos alunos. A análise do rendimento dos alunos com base
se, também, grande variação no tempo de aprendizagem nos indicadores produzidos por essas avaliações deve
dessas habilidades pelos alunos. auxiliar os sistemas de ensino e a comunidade escolar a
Para as crianças que entram pela primeira vez na redimensionarem as práticas educativas com vistas ao
escola aos 6 (seis) anos, o período requerido para esse alcance de melhores resultados.
aprendizado pode ser mais prolongado, mas o esperado é Entretanto, a ênfase excessiva nos resultados das
que, com a ampliação da obrigatoriedade escolar para a avaliações externas – que oferecem indicações de uma
faixa etária dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de parcela restrita do que é trabalhado na escola – pode
idade, todas as crianças se beneficiem. Entretanto, os produzir a inversão das referências para o trabalho
anos iniciais do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos não pedagógico, o qual tende a abandonar as propostas
se reduzem apenas à alfabetização e ao letramento. curriculares e orientar-se apenas pelo que é avaliado por
Desde os 6 (seis) anos de idade, os conteúdos dos esses sistemas. Desse modo, a avaliação deixa de ser
demais componentes curriculares devem também ser parte do desenvolvimento do currículo, passando a
trabalhados. São eles que, ao descortinarem às crianças o ocupar um lugar indevido no processo educacional. Isso
conhecimento do mundo por meio de novos olhares, lhes ocasiona outras consequências, como a redução do
oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita ensino à aprendizagem daquilo que é exigido nos testes.
de um modo mais significativo. A excessiva preocupação com os resultados desses testes
sem maior atenção aos processos pelos quais as
8.8 A AVALIAÇÃO aprendizagens ocorrem, também termina obscurecendo
aspectos altamente valorizados nas propostas da
Quanto aos processos avaliativos, parte integrante educação escolar que não são mensuráveis, como, por
do currículo, há que partir do que determina a LDB em exemplo, a autonomia, a solidariedade, o compromisso
seus artigos 12, 13 e 24, cujos comandos genéricos político e a cidadania, além do próprio ensino de História
prescrevem o zelo pela aprendizagem dos alunos, a e de Geografia e o desenvolvimento das diversas áreas de
necessidade de prover os meios e as estratégias para a expressão. É importante ainda considerar que os

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
resultados da educação demoram, às vezes, longos perí- Intensificando o processo de inclusão e buscando a
odos de tempo para se manifestar ou se manifestam em universalização do atendimento, as escolas públicas e
outros campos da vida humana. Assim sendo, as privadas deverão, também, contemplar a melhoria das
referências para o currículo devem continuar sendo as condições de acesso e de permanência dos alunos com
contidas nas propostas políticopedagógicas das escolas, deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
articuladas às orientações e propostas curriculares dos altas habilidades nas classes comuns do ensino regular.
sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao que é Os recursos de acessibilidade, como o nome já indica,
avaliado pelos testes de larga escala. asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos
com deficiência e mobilidade reduzida, por meio da
8.9 EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL utilização de materiais didáticos, dos espaços, mobiliários
e equipamentos, dos sistemas de comunicação e
A escola brasileira é uma das que possui menor informação, dos transportes e outros serviços.
número de horas diárias de efetivo trabalho escolar. Não Além disso, com o objetivo de ampliar o acesso ao
obstante, há reiteradas manifestações da legislação currículo, proporcionando independência aos educandos
apontando para o seu aumento na perspectiva de uma para a realização de tarefas e favorecendo a sua
educação integral (Constituição Federal, artigos 205, 206 autonomia, foi criado, pelo Decreto nº 6.571/2008, o
e 227; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº atendimento educacional especializado aos alunos da
9.089/90; Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº Educação Especial, posteriormente regulamentado pelo
125 9.394/96, art. 34; Plano Nacional de Educação, Lei nº Parecer CNE/CEB nº 13/2009 e pela Resolução CNE/CEB
10.172/2001; e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento nº 4/2009. Esse atendimento, a ser expandido
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da gradativamente com o apoio dos órgãos competentes,
Educação, Lei nº 11.494/2007). Além do mais, já existem não substitui a escolarização regular, sendo
variadas experiências de escola em período integral em complementar à ela. Ele será oferecido no contraturno,
diferentes redes e sistemas de ensino no país. Diante em salas de recursos multifuncionais na própria escola,
desse quadro, considera-se que a proposta educativa da em outra escola ou em centros especializados e será
escola de tempo integral poderá contribuir implementado por professores e profissionais com
significativamente para a melhoria da qualidade da formação especializada, de acordo com plano de
educação e do rendimento escolar, ao passo em que se atendimento aos alunos que identifique suas necessidades
exorta os sistemas de ensino a ampliarem a sua oferta. educacionais específicas, defina os recursos necessários e
Esse tipo de escola, quando voltada prioritariamente para as atividades a serem desenvolvidas.
o atendimento das populações com alto índice de
vulnerabilidade social que, não por acaso, encontram-se Referências
concentradas em instituições com baixo rendimento dos CAMPOS, M. M. Qualidade da educação: conceitos,
alunos, situadas em capitais e regiões metropolitanas representações, práticas. Trabalho apresentado na mesa
densamente povoadas, poderá dirimir as desigualdades redonda Qualidade da Educação: conceitos, e
de acesso à educação, ao conhecimento e à cultura e representações, integrante do ciclo A qualidade da
melhorar o convívio social. Educação Básica, promovido pelo Instituto de Estudos
O currículo da escola de tempo integral, concebido Avançados/USP, em 26 de abril de 2007.
como um projeto educativo integrado, deve prever uma CURY, C. R. J. Direito à educação: direito à igualdade,
jornada escolar de, no mínimo, 7 (sete) horas diárias. A direto à diferença. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n.
ampliação da jornada poderá ser feita mediante o 116, p.245-262, jul. 2002.
desenvolvimento de atividades como as de DUARTE, C. S. Direito público e subjetivo e políticas
acompanhamento e apoio pedagógico, reforço e educacionais. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18,
aprofundamento da aprendizagem, experimentação e n. 2, abr./jun. 2004.
pesquisa científica, cultura e artes, esporte e lazer, DUSSEL, I. A transmissão cultural sob assédio:
tecnologias da comunicação e informação, afirmação da metamorfoses da cultura comum na escola. Cadernos de
cultura dos direitos humanos, preservação do meio Pesquisa, São Paulo, v.39, n.137, 351-365, maio/ago.
ambiente, promoção da saúde, entre outras, articuladas 2009.
aos componentes curriculares e áreas de conhecimento, MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. Indagações sobre
bem como as vivências e práticas socioculturais. currículo. Currículo, conhecimento e cultura. Brasília:
As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica,
escolar, conforme a disponibilidade da escola, ou fora 2008.
dele, em espaços distintos da cidade ou do território em ONU. Declaração Universal dos Diretos Humanos. Nova
que está situada a unidade escolar, mediante a utilização York: Nações Unidas, 1948.
de equipamentos sociais e culturais aí existentes e o UNESCO/OREALC. Educação de qualidade para todos: um
estabelecimento de parcerias com órgãos ou entidades assunto de diretos humanos. Brasília: UNESCO/ OREALC,
locais, sempre de acordo com o projeto político- 2007.
pedagógico de cada escola. UNICEF. Convención sobre los derechos del niño. Nova
York: UNICEF, 1989
8.10 EDUCAÇÃO ESPECIAL YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? In:
Educação & Sociedade. Vol. 28 n. 101. Campinas

1
PREF.
DEMERVAL
set./dez/2007. potencialidades do aluno e sua inserção no ambiente
social utilizando, para isso, os conteúdos curriculares da
9. A ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO NOS ANOS base nacional comum e os temas transversais,
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL trabalhados em sua contextualização. O Ensino
Fundamental foca-se em estar comprometido com a
Currículo do Ensino Fundamental, organizado em democracia e a cidadania. Nesse sentido, baseados no
séries anuais, obedecendo-se à legislação vigente, está texto da Constituição Federal, os Parâmetros Curriculares
constituído de uma base comum e de uma parte Nacionais – PCNs orientam a escola quanto aos princípios
diversificada. gerais que visam à consecução das seguintes metas:
A Base Comum abrange o estudo da Língua 1) Respeito aos direitos humanos e exclusão de
Portuguesa e da Matemática, o Conhecimento do Mundo qualquer tipo de discriminação, nas relações
Físico e Natural e da realidade Social e Política, interpessoais, públicas e privadas de igualdade de
especialmente no Brasil, observadas as seguintes direitos, de forma a garantir a equidade em todos os
diretrizes: níveis;
– A difusão de valores fundamentais ao interesse 2) Participação como elemento fundamental à
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao democracia;
bem comum e à ordem democrática; 3) Corresponsabilidade pela vida social como
– Consideração das condições de escolaridade dos compromisso individual e coletivo;
educandos; 4) A inclusão de temas socioculturais no currículo
– Orientação para o trabalho; transcende o âmbito das diversas disciplinas e
– Promoção do desporto educacional e apoio às corresponde aos Temas Transversais, preconizados pelos
práticas desportivas não formais. PCNs para o Ensino fundamental e que se caracterizam
O ensino da arte e da música como componentes por: urgência social, abrangência nacional, possibilidade
obrigatórios estão fixados do 1º ao 9º ano, permeando de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental,
atividades e vivências artísticas de todo o ensino favorecimento na compreensão da realidade social, na
fundamental, promovendo, assim, o desenvolvimento forma de: Ética, diversidade cultural, meio-ambiente,
cultural dos educandos e proporcionando-lhes saúde, orientação sexual, trabalho e consumo.
oportunidades de desenvolvimento de potencialidades
artísticas, além do despertar da sensibilidade para o belo. 10. DIRETRIZES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO
A Educação Física integra esta proposta pedagógica INFANTIL
com a visão de desenvolvimento do corpo, preocupação
com a saúde, resgatando o Mente sã em Corpo são. As Diretrizes aqui apreciadas orientam as políticas
Sendo uma aula semanal, acrescida de treinamentos públicas na área e a elaboração, planejamento, execução
esportivos atendendo as modalidades diversas de e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares.
esportes. Promovem o desenvolvimento integral de crianças de
O Ensino Religioso (distingue-se da Catequese), visto 0 a 5 anos de idade. Como mostram a literatura e a
como “educação da religiosidade”, entendendo-se “por experiência, a criança constrói a sua identidade pessoal e
religiosidade a atitude dinâmica de abertura da pessoa coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende,
para o sentido mais radical e mais profundo de sua observa, experimenta, narra, questiona e constrói
existência, e o compromisso de vida coerente com isso”, sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo
será ministrado do 1º ao 9º ano, em regime de 9 anos. cultura.
Com base na legislação vigente, a INSTITUIÇÃO opta A Educação Infantil é oferecida em creches e pré-
pelo ensino do Inglês como língua estrangeira, fazendo escolas, que constituem estabelecimentos educacionais
parte da organização curricular. Ministrado no 2º ano do públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de
Ensino Fundamental, até a 3ª série do Ensino Médio com 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada
o objetivo de desenvolver nas diferentes idades as integral (igual ou superior a sete horas diárias) ou parcial
habilidades e linhas básicas do saber. (mínimo de quatro horas diárias), regulados e
A INSTITUIÇÃO oferece o ensino da Língua supervisionados por órgão competente do sistema de
Espanhola no Ensino Fundamental, anos finais, do 6º ao ensino e submetidos a controle social.
9º ano e no Ensino Médio. Estão sujeito aos É dever do Estado garantir a sua oferta pública,
procedimentos metodológicos e critérios avaliativos dos gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
demais componentes curriculares. É obrigatória a matrícula de crianças que completam
A parte diversificada da organização curricular da 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer
INSTITUIÇÃO foi enriquecida com a introdução do a matrícula e as que completam 6 anos após o dia 31 de
componente curricular de Educação para o Pensar março devem ser matriculadas na Educação Infantil. Não
(Filosofia) no Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, com o é pré-requisito para matrícula no Ensino Fundamental. As
propósito de buscar um aprimoramento das habilidades vagas devem ser oferecidas próximas às residências das
cognitivas. crianças. Valores objetivados.
No Ensino Fundamental, a proposta pedagógica da São princípios das propostas pedagógicas: éticos (da
INSTITUIÇÃO privilegia o ensino enquanto construção do autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do
conhecimento, o desenvolvimento pleno das respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às

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FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
diferentes culturas); políticos (dos direitos de cidadania, conhecimentos, crenças, valores, concepções de mundo e
do exercício da criticidade e do respeito à ordem as memórias de seu povo; reafirmar a identidade étnica e
democrática) e estéticos (da sensibilidade, da criatividade, a língua materna como elementos de constituição das
da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes crianças; dar continuidade à educação tradicional
manifestações artísticas e culturais). oferecida na família e articular-se às práticas
Apresenta a seguinte concepção de proposta socioculturais de educação e cuidado coletivos da
pedagógica: comunidade; adequar calendário, agrupamentos etários e
a) Objetivo: garantir à criança acesso a processos de organização de tempos, atividades e ambientes de modo
apropriação, renovação e articulação de conhecimentos a atender as demandas de cada povo indígena; crianças
aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores
direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da
respeito, à dignidade, à brincadeira; à convivência; e à reforma agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta,
interação com outras crianças. devem reconhecer os modos próprios de vida no campo
b) Concepção: oferecer condições e recursos para como fundamentais para a constituição da identidade das
que as crianças usufruam seus direitos civis, humanos e crianças moradoras em territórios rurais; ter vinculação
sociais; assumir a responsabilidade de compartilhar e inerente à realidade dessas populações, suas culturas,
complementar a educação e cuidado das crianças com as tradições e identidades, assim como a práticas
famílias; possibilitar a convivência entre crianças e entre ambientalmente sustentáveis; flexibilizar, se necessário,
adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e calendário, rotinas e atividades respeitando as diferenças
conhecimentos de diferentes naturezas; promover a quanto à atividade econômica dessas populações;
igualdade de oportunidades educacionais no que se refere valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência populações na produção de conhecimentos sobre o
da infância; construir novas formas de sociabilidade e de mundo e sobre o ambiente natural; prever a oferta de
subjetividade comprometidas com a ludicidade, a brinquedos e equipamentos que respeitem as
democracia, a sustentabilidade do planeta e com o características ambientais e socioculturais da comunidade.
rompimento de relações de dominação etária, e) Eixos norteadores do currículo: interações e
socioeconômica, étnico- racial, de gênero, regional, brincadeiras. As creches e pré-escolas, na elaboração da
linguística e religiosa. proposta curricular, de acordo com suas características,
c) Organização de espaço, tempo e materiais: identidade institucional, escolhas coletivas e
assegurar o cuidado como algo indissociável ao processo particularidades pedagógicas, estabelecerão modos de
educativo; a indivisibilidade das dimensões expressivo- integração dessas experiências.
motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e f) Avaliação: as instituições de Educação Infantil
sociocultural da criança; a participação, o diálogo e a devem criar procedimentos para acompanhamento do
escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento
de suas formas de organização; o estabelecimento de das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou
uma relação efetiva com a comunidade local e de classificação, garantindo a observação crítica e criativa
mecanismos que garantam a gestão democrática e a das atividades, das brincadeiras e interações das crianças
consideração dos saberes da comunidade; o no cotidiano; a utilização de múltiplos registros realizados
reconhecimento das especificidades etárias, das por adultos e crianças; a continuidade dos processos de
singularidades individuais e coletivas das crianças, aprendizagens por meio da criação de estratégias
promovendo interações entre crianças de mesma idade e adequadas aos diferentes momentos de transição vividos
crianças de diferentes idades; os deslocamentos e os pela criança; documentação específica que permita às
movimentos amplos das crianças nos espaços internos e famílias conhecer o trabalho da instituição junto às
externos às salas de referência das turmas e à instituição; crianças e os processos de desenvolvimento e
a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, aprendizagem da criança na Educação Infantil; e a não
brinquedos e instruções para as crianças com deficiência, retenção das crianças na Educação Infantil.
transtornos globais de desenvolvimento e altas g) Transição para o Ensino Fundamental: a proposta
habilidades/superdotação; a apropriação pelas crianças pedagógica deve prever formas para garantir a
das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, continuidade no processo de aprendizagem e
afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países desenvolvimento das crianças, respeitando as
da América; o reconhecimento, a valorização, o respeito e especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos
a interação das crianças com as histórias e as culturas que serão trabalhados no Ensino Fundamental.
africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao
racismo e à discriminação; a dignidade da criança como 11 CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO
pessoa humana e a proteção contra qualquer forma de
violência – física ou simbólica – e negligência no interior Ao longo da história da educação brasileira, algumas
da instituição ou praticadas pela família, prevendo os abordagens foram predominantes no que diz respeito aos
encaminhamentos de violações para instâncias processos de ensinar e aprender. A escola sempre se
d) Diversidade: autonomia dos povos indígenas na embasa em princípios e pressupostos que em
escolha dos modos de educação de suas crianças de 0 a 5 determinado período podem ser considerados eficazes,
anos de idade; proporcionar uma relação viva com os mas parecem equivocados sob a perspectiva de

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PREF.
DEMERVAL
tendências educacionais prevalecentes em outras épocas. avaliação? Para Luckesi (2011, p. 223-224), muitos de
Trataremos aqui de algumas das principais nós pensamos em práticas tradicionais, dadas as
abordagens pedagógicas no contexto da educação experiências que tivemos. O autor lista quatro pontos que
brasileira, com ênfase nas diferentes perspectivas que estão no imaginário (ou talvez ainda na prática) de muitos
direcionaram a avaliação durante a vigência de cada uma educadores acerca do tema “avaliação”.
dessas concepções. É importante observar que todas as 1. Elaborar um questionário, após certo período das
tendências pedagógicas estão sempre relacionadas aos aulas, para coletar dados sobre o desempenho dos
contextos histórico-sociais em que ocorreram e, portanto, alunos.
são também reflexos das ideias de seu tempo. 2. Ao determinar que os estudantes vão responder
Antes do tratamento específico de cada abordagem, ao questionário, seguir o mesmo procedimento: dispor
é necessário deixarmos um esclarecimento inicial: não se todos sentados e distantes uns dos outros para não
pode dizer que todas essas abordagens já são somente colarem, distribuir o questionário, fiscalizar os alunos
história passada no Brasil. Em razão das dimensões durante a realização da atividade para evitar a “cola” e
continentais do nosso país, nem sempre as propostas recolher o documento com as respostas.
pedagógicas avançam na mesma proporção em todo o 3. Corrigir cada um dos questionários, atribuindo-
território brasileiro. lhes nota classificatória.
Portanto, não raro (e infelizmente), é possível 4. Por último, registrar tudo na caderneta (ou livro
encontrar nas mais diversas realidades nacionais de chamada). Esses quatro pontos citados por Luckesi
diferentes exemplos de práxis pedagógicas e abordagens evidenciam uma prática que perdura há tempos na
da avaliação educacional. São retratos de um Brasil que educação brasileira e que bem ilustra a ideia da avaliação
luta para fazer educação de qualidade, mas que ainda na abordagem tradicional: a de reprodução do conteúdo
caminha no sentido da democratização e modernidade trabalhado na escola. Ao aluno não cabe refletir, somente
das ideias pedagógicas. reproduzir as informações na sequência em que estas lhe
foram apresentadas.
11.1 A AVALIAÇÃO NA PEDAGOGIA TRADICIONAL Os aspectos mais importantes na avaliação eram os
quantificáveis. A base da avaliação nessa perspectiva era
Certamente, você é capaz de, ao recordar-se de suas realmente a mensuração 42 e, nesse contexto, atribuir
experiências escolares, mencionar práticas que uma nota classificatória era fundamental. Muitas escolas
exemplificam a concepção da pedagogia tradicional, pois tornavam pública uma listagem classificatória de
essa abordagem teve grande representatividade no desempenho dos seus alunos como forma de incentivá-los
ensino brasileiro e vigorou por muitos anos em nosso a prosseguir na busca pelas melhores notas. Nesse
país. contexto, castigos físicos e humilhações eram práticas
De modo geral, a abordagem tradicional, que que os professores utilizavam tanto para disciplinar o
predominou no Brasil até a década de 1930, era comportamento do aluno em sala de aula quanto para
embasada pela ideia de que os professores detinham todo repreendê-lo por um desempenho inadequado aos
o saber e deveriam repassá-lo a seus alunos, cabendo a padrões vigentes.
estes, em grande parte, a memorização dos conteúdos Outro ponto de destaque no âmbito da pedagogia
transmitidos. tradicional diz respeito à periodicidade da avaliação: via
Os educandos eram classificados por sua capacidade de regra, esta era realizada ao término de períodos de
de memorização, sendo alguns rotulados como não aula (bimestrais, semestrais, anuais), o que a
inteligentes por não conseguirem memorizar. Nesse caracterizava como um elemento do final do processo (e
sentido, a inteligência era vista como uma faculdade de não do processo em si). Também existia ao final de um
armazenar e acumular informações. Portanto, quanto ensinamento; assim, por exemplo, o professor ensinava a
mais informações uma pessoa pudesse armazenar, mais tabuada do 3 (e, nesse caso, ensinar era fazer os alunos
inteligente era considerada (MIZUKAMI, 2007, p. 10). repetirem exaustivamente em coro) e, após esse tempo
Essa maneira de fazer educação acabava por afastar de memorização, aplicava uma “prova da tabuada”, que
da escola aqueles que não correspondiam às expectativas consistia em solicitar que as crianças repetissem
geradas por essa dinâ- mica pedagógica. oralmente aquilo que haviam decorado.
Se na perspectiva tradicional o ensino se baseava na Infelizmente, a pedagogia tradicional ainda vigora
memorização, como seria a forma de avaliar coerente em muitas escolas brasileiras. Mesmo com a proibição de
com esse princípio? Na abordagem tradicional, o conceito castigos físicos e humilhações, como consta no Estatuto
de avaliação era predominantemente aquele em que o da Criança e do Adolescente, muitas instituições de
educando deveria reproduzir o conteúdo exposto pelo ensino ainda acabam fazendo do momento da avalia- ção
professor, que, por sua vez, deveria medir o desempenho uma coleta de informações meramente decoradas, sem
deste em erros e acertos. Provas, exames, chamadas qualquer ligação significativa com os alunos ou relação
orais e exercícios eram bastante evidenciados, uma vez com a vivência deles.
que possibilitavam que os alunos reproduzissem com Contrapondo-se à abordagem tradicional, em que o
exatidão as informações recebidas (MIZUKAMI, 2007, p. centro do processo de ensino-aprendizagem era a figura
17). do professor e as práticas avaliativas tinham como
Para refletir sobre esse aspecto, consideremos ainda princípios a repetição e a memorização, na década de
o seguinte: no que em geral se pensa quando se fala em 1930, surgiu no ambiente escolar brasileiro, derivada das

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FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
ideias progressistas da Europa, a pedagogia renovada ou relacionamento entre docente e discente. Era a técnica se
pedagogia nova. sobrepondo à afetividade (LUCKESI, 1994, p. 62).
O enfoque tecnicista introduziu no ensino uma visão
11.2 A AVALIAÇÃO NA PEDAGOGIA NOVA em que há uma supervalorização dos meios. São dessa
época os planejamentos elaborados pelos técnicos da
No contexto da educação brasileira, a pedagogia educação, que deveriam ser apenas seguidos pelos
nova trouxe um olhar voltado para o aluno, colocando-o professores, e as fichas de acompanhamento dos alunos,
no centro do processo de ensino-aprendizagem e buscando-se na educação uma objetividade como se tudo
conferindo especial importância às necessidades pudesse ser medido e comparado a um padrão. Daí
individuais. Podemos afirmar até mesmo que as derivam muitos testes que foram realizados com as
necessidades dos alunos eram consideradas tão ou mais crianças (entre eles, o de Q.I.) de modo a submetê-las a
importantes que os professores, que eram a peça central uma classificação.
na abordagem tradicional. Com tanta ênfase em instrumentos e técnicas, a
Ao levar em consideração os interesses dos alunos, avaliação se caracterizava como mais um momento de
essa abordagem transformou o conceito que se tinha de aplicá-los. Nesse sentido, voltou-se à concepção já
conhecimento. Se antes conhecer algo era tê-lo decorado, adotada na pedagogia tradicional, em que a avaliação era
sem que aquela informação tivesse relação com sua vida, considerada somente uma medida, um resultado final.
agora se tratava de relacionar os conteúdos ensinados Entre os vários instrumentos destinados a medir o
com as necessidades e interesses dos educandos. desempenho dos alunos no contexto da pedagogia
Conhecer, portanto, era “o resultado da ação a partir dos tecnicista, podemos citar testes, escalas de atitude,
interesses e necessidades dos alunos” (LUCKESI, 1994, p. questionários, fichas de registro de comportamento e
58). diversas maneiras de coletar informações sobre o
A pedagogia nova propõe uma educação focada no desempenho dos alunos (DEPRESBITERIS, 1989, p. 7).
estudante, em que o professor se transforma em Provavelmente, em algum momento da sua vida como
mediador do conhecimento, facilitador da aprendizagem, estudante, você deve ter sido colocado em contato com
fazendo com que o aluno encontre nas propostas alguns desses instrumentos de medida, que exemplificam
didáticas temas que venham ao encontro de suas perfeitamente como a técnica se sobrepôs ao ensino em
experiências de vida. Além disso, uma grande ênfase é grande parte da época de predomínio da pedagogia
dada à relação professor-aluno. Não se trata, porém, de tecnicista, de 1969 a 1980. Temos de considerar, no
desconsiderar a importância da transmissão de entanto, que alguns desses instrumentos (fichas,
informações, tão validada na pedagogia tradicional. Trata- pareceres etc.) ainda permanecem nas escolas e são úteis
se de propor situações significativas para os alunos, em sua função. No caso das fichas, por exemplo,
compreendendo o papel fundamental do professor na podemos afirmar que podem ser eficientes por permitirem
ampliação dos saberes do aluno, como no caso em que que o professor faça um acompanhamento mais
este realiza uma pesquisa em casa e, ao apresentá-la detalhado de cada aluno e, assim, forme uma visão mais
para o professor, com a ajuda deste, estabelece novos ampla acerca dos desempenhos individuais. Já os
parâmetros e melhora o que havia feito anteriormente pareceres trazem informações valiosas sobre os
(MIZUKAMI, 2007, p. 54). educandos, possibilitando que aspectos do
A avaliação na abordagem da pedagogia nova se desenvolvimento destes somente conhecidos pelos
baseia na autoavaliação, uma vez que o aluno é educadores possam ser compartilhados com os pais.
considerado a parte mais importante do processo de Considerando esses e outros casos, podemos afirmar
ensino-aprendizagem. Como poderia ser avaliado por que o fato de uma escola fazer uso de fichas de
outro que não ele mesmo? Na prática da pedagogia nova, acompanhamento dos alunos ou de livros de chamada
a “autocrítica e a autoavaliação são fundamentais para não significa que ela trabalha conforme a pedagogia
ajudar o aluno a ser independente, criativo e tecnicista. Contudo, no que se refere à avaliação, vale
autoconfiante” (FERREIRA, 2009, p. 20). uma ressalva: somente avaliar o aluno com questionários,
sem que as questões tenham relação com o estudante,
11.3 A AVALIAÇÃO NA PEDAGOGIA TECNICISTA sem que possibilitem reflexão e análise é dar muita
ênfase à técnica em detrimento da aprendizagem
A abordagem tecnicista concebia a escola como significativa, o que caracteriza a perspectiva da pedagogia
modeladora de comportamentos. Para isso, eram usadas tecnicista. A técnica pode ser útil, mas precisa vir
técnicas específicas, daí o nome tecnicista. Professores e acompanhada de reflexão.
alunos faziam parte de uma relação em que os primeiros
administravam a transmissão da matéria, contando com 11.4 A AVALIAÇÃO NA PEDAGOGIA HISTÓRICO-
técnicas e conteúdos previamente estipulados e colocados CRÍTICA
na ordem em que deveriam ser ensinados, e os segundos
apenas recebiam as informações, cabendo-lhes apreendê- Segundo Saviani (2011), a pedagogia histórico-crítica
las e fixá-las. A comunicação professor-aluno, surgiu, na década de 1980, pela necessidade, identificada
exclusivamente técnica, visava garantir a eficácia na entre os educadores, de se instaurar uma educação que
transmissão dos conteúdos. Assim, debates, reflexões e não fosse meramente reprodução da sociedade em vigor,
discussões não eram incentivados, bem como qualquer mas pudesse promover a crítica e a reflexão em face da

1
PREF.
DEMERVAL
realidade social. refeita, reescrita, reconsiderada. Em linhas gerais, a
De acordo com essa abordagem, professor e aluno avaliação visa ao aprendizado, à construção do
têm um relacionamento baseado no diálogo, nas vivências conhecimento e a uma possível mudança de atitude do
e necessidades de ambos, mas sem deixar de levar em educando em decorrência do que ele aprendeu.
conta igualmente a sociedade e sua histó- ria, No âmbito dessa perspectiva, também ganha
considerando que os caminhos historicamente traçados destaque o contexto sociocultural do aluno. Assim,
devem ser respeitados e analisados, pois têm muito a importa saber onde está localizada a escola e de qual
ensinar. sociedade aqueles que nela estudam são provenientes,
Paulo Freire (1987), famoso por sua defesa à não com a intenção de diferenciar as avaliações (e os
modalidade da EJA, em seu livro A pedagogia do processos de ensino-aprendizagem) tendo em vista a
oprimido, afirma que a opressão que se dá na escola condição social dos alunos, mas sim com o interesse de
(entre professor e aluno) é reflexo daquela que se considerar aspectos que tornem as aprendizagens e a
identifica na sociedade (em que patrão oprime avaliação mais significativas para eles.
empregado, por exemplo). A escola, portanto, reproduz Além de considerar a realidade dos estudantes, a
comportamentos da vida social. avaliação sob a perspectiva da pedagogia histórico-crítica
A pedagogia histórico-crítica visa a uma mudança propõe-se a respeitar as dificuldades e as possibilidades
dessa realidade, cabendo ao professor estimular o do aluno, considerando-o como único. Como afirma
exercício da reflexão nos alunos e cuidar para que, sendo Luckesi (1994, p. 88), “ao se trabalhar com
respeitado como autoridade, não use artifícios do conhecimentos culturais sistematizados há que se ter
autoritarismo (LUCKESI, 1994, p. 166). presente o destinatário deste processo”.
A própria essência da pedagogia histórico-crítica
perpassa pela compreensão do compromisso de mudança 12 TIPOS E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO
da sociedade, e não da sua perpetuação. Aliás, esse é o
sentido básico da expressão histórico- -crítica. Assim, 12.1 TIPOS OU NÍVEIS DE AVALIAÇÃO
podemos compreender a escola tal como se configura no
momento presente, mas precisamos lembrar que tudo o Numa tentativa de sistematizar o campo da avaliação
que se mostra agora é resultado de um longo processo de educacional, Freitas et. al. (2009) postulam a existência
transformação histórica (SAVIANI, 2011, p. 93). de três níveis de avaliação integrados, simultaneamente,
No que se refere à metodologia de ensino, na ao articularem: (a) a avaliação da aprendizagem ou
pedagogia histó- rico-crítica, é importantíssima a relação didática; (b) a avaliação da escola ou institucional; e (c)
entre professor e aluno. A construção do conhecimento é avaliação do sistema ou sistêmica. A primeira pode ser
resultado das trocas decorrentes dessa relação e também chamada de AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO,; as duas últimas
(com a mesma importância) da interação com o meio podem ser consideradas AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO.
(natural, social e cultural) em que se vive. Reforça-se o Enquanto a primeira avalia o processo de ensino-
papel docente, mas entende-se que o educando vai aprendizagem, as duas últimas avaliam o nível e a
confrontar os saberes socialmente construídos com suas qualidade da educação.
vivências pessoais. Ao professor cabe envolver-se com Avaliação Educacional/Sistêmica: Avaliação de
seus alunos de modo a abrir-lhes as perspectivas a partir larga escala, realizada pelo poder público federal. Seu
dos conteúdos ensinados (LUCKESI, 1994, p. 71). Ou objetivo é verificar se as redes de ensino estão
seja, os conhecimentos não são repassados como oferecendo um ensino de quantidade e qualidade,
verdades absolutas, devendo ser objeto de reflexão por avaliando todos os níveis e modalidades da educação
parte do estudante. nacional para subsidiar políticas públicas na área
Além disso, considerando-se o papel do professor educacional. Destacam-se os exames (Enem, Enad),
como mediador do conhecimento produzido pela provas (Saeb), pesquisas (Ideb). É por meio destes
sociedade, os meios utilizados por ele devem favorecer a instrumentos que o MEC assume a incumbência atribuída
correspondência entre os interesses do aluno e as pela LDB. A avaliação sistêmica pode ser feita também
questões sociais que permeiam sua vida. Dessa forma, a em nível estadual (Ex.: Saresp) ou municipal, a título
metodologia utilizada não deve ser baseada em dogmas, complementar.
como na pedagogia tradicional, nem pode ser totalmente Avaliação Instituciona/Escolar: Avaliação de
fundamentada na descoberta, como na concepção da escala média, realizada pela escola. Seu objetivo é
pedagogia renovada (LUCKESI, 1994, p. 71). verificar se a escola e seus docentes estão ministrando
Como evidenciamos aqui, a forma escolhida para um ensino de qualidade, mediante coleta de informações
avaliar sempre teve relação com a metodologia adotada e obtenção de subsídios para correções e melhorias. A
para ensinar. Assim, a avaliação no contexto da avaliação pode ser interna (comunidade escolar) ou
pedagogia histórico-crítica deve assumir realmente o externa (comunidade local). Deve ser prevista no PPP e
sentido de processo, como algo que vai construindo-se, e realizada anualmente. Esse nível de avaliação assume
não como o fim da aprendizagem ou de um período características de autoavaliação organizada por parte de
escolar. Não pode, portanto, ser considerada somente ao seus membros (gestores, docentes, funcionários, pais,
final do bimestre, como classificatória ou determinação alunos etc.). Não consiste só em medir desempenho, mas
final. Ao contrário, deve ser pensada como uma etapa dizer se o desempenho foi adequado ou não. Não é um
que integra o processo educativo, podendo ser retomada, instrumento de controle burocrático e centralizador, mas

20
FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
um processo necessário de administração do ensino.
Como critérios de avaliação para a avaliação institucional,
o MEC publicou dois documentos: Parâmetros de
Qualidades da Educação e Indicadores de Qualidade da
Educação.
Avaliação da Aprendizagem/Didática: Avaliação
de pequena escala, realizada em sala de aula pelo
professor. Seu objetivo é verificar se os alunos estão
alcançando ou não os objetivos de aprendizagem
propostos. Compõem-se de provas orais, escritas e
práticas.

12.2 FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO 13 AVALIAÇÃO NA LBD E NOS PCNs

Basicamente, a avaliação apresenta três funções: 13.1 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA LDB
DIAGNOSTICAR, CONTROLAR E CLASSIFICAR.
Relacionadas a essas três funções, existem três A LDB em seu art. 31, inciso I, determina que a
modalidades de avaliação: Diagnóstica, Formativa e avaliação na Educação Infantil seja feita “mediante
Somativa. acompanhamento e registro do desenvolvimento das
Na escola tradicional, a avaliação era quase que crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o
exclusivamente somativa e, portanto, classificatória. Na acesso ao ensino fundamental”..
educação moderna, predominam a avaliação diagnóstica ACOMPANHAMENTO - Assistência ou supervisão
e a formativa. dada pelo professor à criança que está sob seus cuidados
O uso conjugado das três modalidades de avaliação ou orientação. Olhar crítico e criativo sobre o
tende a garantir a eficiência do processo de avaliação e a desenvolvimento integral e as interações das crianças.
eficácia do processo de ensino-aprendizagem. REGISTRO – Documentação diária das informações
Avaliação Diagnóstica ou Inicial: É realizada no obtidas pelo professor a respeito do comportamento,
INÍCIO do ano ou semestre letivo ou no início de uma aprendizagem e desenvolvimento da criança, obtidas pela
unidade de ensino. Visa identificar características dos técnica da observação: relatórios, fotografias, desenhos,
alunos, levantar conhecimentos prévios, verificar presença álbuns, gravação em áudio e vídeo etc. para fins de
ou ausência de pré-requisitos para as novas reflexão e planejamento.
aprendizagens, potencialidades e limitações, detectar
eventuais problemas de aprendizagem, tentando 13.2 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA NA LDB
identificar suas causas. Tem função heurística
(pesquisacional). Enfoca causas, efeitos e condições. A LDB em seu art. 24, inciso V, determina que A
Avaliação Formativa ou Intermediária: É verificação do rendimento escolar observw os seguintes
realizada DURANTE o transcurso do período letivo. Visa, critérios:
mediante acompanhamento progressivo, verificar se os a) avaliação contínua [feedback: observação e
alunos estão alcançando os objetivos previstos. Caso haja entrevista] e cumulativa do desempenho do aluno, com
dificuldades, busca-se orientar o aluno na superação das prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
dificuldades de aprendizagem e subsidiar a reorganização quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre
do trabalho docente, mediante (a) readequação do os de eventuais provas finais; (caráter formativo sobre o
ensino; (b) retomada dos conhecimentos não assimilados; quantitativo e classificatório, art. 47, p. 4, DCNGs para a
e (b) aperfeiçoamento do ensino através de Educação Básica).
replanejamento ou redirecionamento de práticas b) possibilidade de aceleração de estudos para
pedagógicas ineficazes. Também recebe o nome de alunos com atraso escolar;
reguladora, processual ou controladora (feedback). c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
Enfoca o processo. mediante verificação do aprendizado;
Avaliação Somativa ou Final: É realizada no FIM d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
do ano ou semestre letivo e no fim de uma unidade de e) obrigatoriedade de estudos de recuperação [de
ensino. Visa fazer um somatório do programa instrucional conhecimentos, e não apenas de notas], de preferência
para subsidiar o Conselho de Classe, na promoção, paralelos ao período letivo [não em dezembro], para os
retenção ou reclassificação dos alunos segundo o nível de casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados
aproveitamento. Tem função integradora, classificatória e pelas instituições de ensino em seus regimentos.
finalística. Síntese da diagnóstica e da formativa. Enfoca o 14. Critérios e instrumentos de coleta de dados para
produto (Haidt, 2002:16-18). a avaliação na educação no ensino fundamental (1º ao 5º
Essa que acabamos de ver é a classificação ano)
tradicional. Libâneo apresenta outra classificação,
também cobrada em provas de concursos: 13.3 AVALIAÇÃO SEGUNDO OS PCNS

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

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PREF.
DEMERVAL
a avaliação da aprendizagem deve compreender o ensino testemunho da aprendizagem. Esses critérios devem
oferecido, a atuação do professor, o desempenho do refletir sobre diferentes tipos de capacidades e as três
aluno, a estrutura da escola, as ferramentas auxiliares dimensões de conteúdos para encaminhar a programação
promovidas no ensino e a metodologia utilizada. e atividades do ensino aprendizagem.
Não devemos pensar uma avaliação somente voltada A avaliação inicial instrumentará o professor para
para a medição dos conteúdos ensinados, ela deve que possa por em pratica seu planejamento de forma
possuir características contextuais embasadas em temas adequada às características de seus alunos, servindo de
transversais como: ética, meio ambiente, pluralidade informação pra propor atividades e gerar novos
cultural, trabalho e consumo, educação sexual e saúde. A conhecimentos.
interdisciplinaridade também deve ser abordada, por A avaliação contínua ela subsidia a avaliação final.
exemplo: em uma avaliação de Matemática podemos criar Ela intenciona averiguar a relação entre a construção do
situações problemas relacionadas à Física, Química, conhecimento, por parte do aluno e os objetivos a que o
Biologia, Engenharia, entre outras ciências afins. professor se propôs, é indispensável para se saber se
Atualmente, a educação tem sofrido uma série de todos os alunos estão aprendendo e quais condições
reformulações no intuito de resgatar a individualidade de estão sendo ou não favoráveis para isso, como
cada estudante, promovendo de forma contundente sua indicadores para reorientação da pratica educacional e
inserção na presente sociedade. O aluno precisa sentir nunca como um meio de estigmatizar os alunos. Avaliar a
segurança em relação ao trabalho desenvolvido pela aprendizagem implica avaliar o ensino oferecido.
escola e seus colaboradores, para que produza resultados As avaliações devem ser feitas de modos
satisfatórios. Através de aulas bem elaboradas e sistemáticos, com observações, uso de instrumentos
trabalhadas, seguidas de uma avaliação moldada de como registros de tabelas, listas de controle, diário de
acordo com os PCN’s esse sucesso será alcançado. classe e outros, e na analise de produção dos alunos, em
Ao construir uma avaliação sobre determinado atividades especificas para avaliação com objetividade
conteúdo, tenha certeza de que ela: expor o tema, e responder questionários.
 Seja uma ferramenta capaz de permitir Par ao aluno, é um instrumento de tomada de
com que o aluno saiba analisar os avanços e consciência de suas conquistas, dificuldades e
dificuldades envolvendo o conteúdo; possibilidades de reorganização de seu investimento. Na
 Promova a integralização entre o ensino e autoavaliação, o aluno desenvolve estratégias de analises
a aprendizagem; e interpretação de suas produções e dos diferentes
 Seja uma verificadora do nível de procedimentos para se avaliar.
conhecimento que o estudante detém; Para a escola, possibilita definir prioridades e
 Possua questões que possam ser localizar aspectos das ações educacionais, demandam
respondidas através da relação entre os maior apoio. A ela se delega a responsabilidade de
conteúdos estudados e acontecimentos estabelecer uma serie de registros e documentos,
cotidianos; atestados oficiais de aproveitamento como notas,
 Apresente questões discursivas capazes boletins, recuperações, aprovações, reprovações,
de permitir ao aluno dispor suas ideias em prol do diplomas, etc.como testemunhos oficial e social do
tema apresentado; aproveitamento do aluno.
 Envolva questões de múltipla escolha, O resultado da avaliação leva a decisões, medidas
pois permitem ao aluno comparar afirmações na didáticas, acompanhamentos individualizados, grupo de
busca pelo acerto. apoio, lições extras. Aprovar ou reprovar requer analise
dos professores. Devem-se considerar critérios de
14 CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE avaliação a sociabilidade e ordem emocional. No caso da
DADOS PARA A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO NO reprovação, discussão de conselhos de classes deve
ENSINO FUNDAMENTAL (1º AO 5º ANO) considerar questões trazidas pelos pais para subsidiar o
professor na tomada de decisão. A repetência cristaliza
A avaliação é considerada instrumento de auto- uma situação em que o problema é do aluno e não do
regulação, que requer que ocorra em todo processo de sistema educacional, por isso deve ser estudado caso a
ensino e aprendizagem, possibilitando ajustes constantes caso. A permanência em mais um ano deve ser
de regulação do processo e contribui para o efetivo compreendia como medida educativa para que o aluno
sucesso. tenha oportunidade e expectativa de sucesso e
A avaliação deve compreender um conjunto de motivação. Aprovar ou reprovar alunos com dificuldades
atuações que tem por função alimentar, sustentar e deve sempre ser acompanhada de encaminhamentos de
orientar a intervenção pedagógica, analisando e apoio e ajuda que garantam a qualidade de aprendizagem
adequando situações didáticas, subsidiando assim, o e desenvolvimento das capacidades esperadas.
professor com elementos de reflexão contínua sobre sua
prática. 14.1 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Avaliar significa emitir um juízo de valor, por isso
exige-se critérios que orientem a leitura dos aspectos a Não são a mesma coisa. Enquanto a técnica de
serem avaliados, estabelecendo expectativas de avaliação é a forma de se obter as informações
aprendizagem dos alunos, expressando objetivos como desejadas, o instrumento de avaliação é o recurso que

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FUNDAMENTOS DIDÁTICOS – 2017
será usado para isso. Instrumentos de avaliação são 9. As provas devem ser aplicadas num clima
todos os documentos utilizados para registrar o favorável.
desempenho do aluno: testes, tarefas, trabalhos de
campo, boletins, pareceres e relatórios finais – todas as 10. As provas devem ser corrigidas com cuidado e
tarefas avaliativas (Haidt, 2002:54-636). devolvidas rapidamente.
Os instrumentos de avaliação de aprendizagem
devem ser largamente utilizados ao longo do período 11. O processo deve incluir também uma
letivo. Esses instrumentos de avaliação devem permitir ao autoavaliação.
professor colher informações sobre a capacidade de
aprendizado dos alunos, medida, em especial, pela
12. O desempenho do professor também deve ser
competência dos mesmos para resolver problemas e
avaliado (GIL, 2009: 246-254).
instrumentalizar o conhecimento para a tomada de
decisões.
Cabe ao professor da disciplina, definir os
instrumentos que serão utilizados para melhor
acompanhar o processo de aprendizado de seus alunos.
Não existem instrumentos específicos de avaliação
capazes de detectar a totalidade do desenvolvimento e
aprendizagem dos alunos. É diante da limitação que cada
instrumento de avaliação comporta que se faz necessário
pensar em instrumentos diversos e mais adequados com
suas finalidades, para que dêem conta, juntos, da
complexibilidade do processo de aprender.
Seguem alguns exemplos de instrumentos de
avaliação.

14.2 CRITÉRIOS PARA UMA AVALIAÇÃO EFICAZ

1. A avaliação é parte integrante do processo


educativo.
2. A avaliação deve ser contínua.

3. Os instrumentos de avaliação devem apresentar


validade e precisão.

4. A avaliação deve abranger os diferentes domínios


de aprendizagem.

5. A avaliação deve ser integrada.

6. As avaliações devem ser preparadas com razoável


antecedência.

7. As provas devem ser múltiplas e diversificadas.

8. Os alunos devem ser preparados para as provas.

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