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100anos em Memórias
ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA
em Mato Grosso do Sul

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Produção
Associação Sul Mato-Grossense

1ª edição
6 mil exemplares

Editoração
Américo de Brito | A7

Revisão
Soraya Vidal

Projeto Gráfico
Américo de Brito | A7

Capa
Américo de Brito | A7

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________________

Lima, Sônia Filiú Albuquerque Lima


100 anos em memórias: adventistas dos sétimo dia em Mato Grosso do Sul / Sônia Filiú Albuquerque
Lima. 1. ed. - Campo Grande, MS: Editora Alvorada, 2015.

ISBN: 978-85-8176-234-0
1. História - Adventistas do Sétimo Dia 2. Igreja Adventista do Sétimo Dia 3. Mato Grosso do Sul

CDD - 234.25
______________________________________________________________________________________

[2015]
Todos os direitos desta edição reservadas à
Gráfica e Editora Alvorada LTDA.
Rua Antônio Maria Coelho, 623
Campo Grande-MS 79008-450
(+55 67) 3316-5500

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SUMÁRIO
PREFÁCIO 07
INTRODUÇÃO 09
1. CENÁRIO DO COMEÇO 11
2. A LUZ IRROMPE OS SERTÕES 15
A bíblia proibida 16
3. PONTA PORÃ: PORTA DE ENTRADA 20
Como folhas de outono 22
Cavalos dirigidos por anjos 23
4. ADVENTISTAS NAS LONGÍNQUAS QUERÊNCIAS 25
Guardar o sábado? Só provando na minha bíblia! 26
Chega o pastor Max Rhode 28
5. NASCE A PRIMEIRA IGREJA 32
Livramento da guerra 37
Alfredo Barbosa: de peão a pastor 40
6. FOGO SELVAGEM 46
Hospital Adventista do Pênfigo 50
7. MENSAGEIROS DA COLPORTAGEM 58
Livros rejeitados espalham a mensagem 60
8. EDUCANDO PARA A ETERNIDADE 65
Colégio Adventista Campo-Grandense 66
Colégio Adventista Jardim dos Estados 68
9. CRONOLOGIA ADMINISTRATIVA 71
Primeira expedição a Mato Grosso 72
Administradores na linha do tempo 73
E A CONTINUAÇÃO DESTA HISTÓRIA? 87
REFERÊNCIAS 90

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PREFÁCIO

O passado de um povo diz muito acerca do presente, é a demonstração evi-


dente de que toda trajetória está ligada a um começo, seja ele glorioso ou
não. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, no estado do Mato Grosso do Sul, ao longo
de 100 anos tem conquistado territórios, construído edificações, fortalecido valores,
mas acima de tudo, preparado pessoas para se encontrarem com o Seu Salvador. Por
tudo o que hoje esta igreja representa, sabemos que não foi de qualquer jeito, nem sem
luta que Deus guiou cada personagem deste enredo de milagres para estabelecer o Seu
reino neste estado.
Este livro que está em suas mãos foi produzido para que você soubesse que a
direção desta igreja sempre esteve nas mãos do Dono dela. A cada página você reco-
nhecerá o poder e a ação de Deus em prover meios para o evangelho se espalhar e a es-
perança encontrar lugar no coração de pessoas. Neste estado cheio de oportunidades,
pioneiros corajosos desbravaram caminhos difíceis, mas também desbravaram sua pró-
pria fé e através dela conheceram de perto Aquele que não falha em Suas promessas.
Mulheres como Gabriela e Áurea, homens como Clementino e Alfredo, mal sabiam
que um dia sua vida seria contada a gerações futuras, que suas angústias e vitórias
seriam testemunhos influentes para cada um de nós que continuamos a história.
Esta obra preparada com esmero tem a intenção de mais uma vez nos lembrar
que “nada temos a recear quanto ao futuro a menos que nos esqueçamos a maneira
pela qual o Senhor nos guiou no passado”. Mesmo que 100 anos tenham se passado, a
promessa continua, mais firme do que nunca: em breve veremos nosso Redentor. Que
este livro não apenas sirva para contar a nossa história, mas desperte em cada um de
nós a mesma garra e compromisso que nossos pioneiros tiveram.

Pr. Maiquel S. Nunes

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Ellen G. White (1827-1915)

“Quando perdemos de vista o que o Senhor fez no passado por


Seu povo, perdemos de vista a Sua atuação presente em favor
deles. Os que agora entram na obra, comparativamente nada
sabem da abnegação e do sacrifício daqueles sobre os quais o
Senhor depôs o fardo da obra em seu começo. Isso lhes deveria
ser contado vez após vez”.

Ellen G. White, Manuscrito 23, 1899

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INTRODUÇÃO

A s histórias que aqui foram relatadas, o foram a partir da convicção de que,


como Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD em tempos pós-modernos,
quando somos bombardeados por muitas vozes e ventos do relativismo, ao esquecer-
mos nossa história podemos viver uma crise de identidade sem precedentes, e corre-
mos o risco de perder nosso propósito e razão de existir.
Ao reunir memórias de 100 anos de história de nossa igreja no estado do Mato
Grosso do Sul, é impossível considerar seu crescimento como mero produto de von-
tades humanas. A percepção da intervenção divina vai se definindo à medida que
tomamos conhecimento de como Deus guiou miraculosamente sua igreja e o continua
fazendo. Quando a igreja perde de vista suas memórias, fica à deriva de outras forças,
e pode perder o rumo. O que se segue a essa fragilização de identidade, via de regra, é
a perda do senso de missão e propósito.
Garimpar e narrar essas histórias, foi particularmente significativo para mim. Sen-
do bisneta da primeira adventista do estado, filha de um colportor evangelista pioneiro
e esposa de pastor, fuçar os baús de memórias acendeu lembranças e afetos. Com o
risco de parcialidade e sem negar a subjetividade inevitável, procurei cercar-me de

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cuidados com um relato mais veraz e justo com o máximo de pessoas que, usadas por
Deus, construíram essa história.
Nesse sentido, um levantamento histórico foi realizado por vários meses em Atas
da Associação Sul-Mato-Grossense, livros históricos e websites. Foram, também, rea-
lizadas dezenas de entrevistas e garimpagem de fotos antigas.
Agradeço a Deus pela direção deste trabalho. Agradeço ao Pr. Maiquel da Silva
Nunes pela iniciativa de produzir este livro e pelo convite de escrevê-lo. Foi uma
honra. Grata às preciosas pessoas que em entrevistas relataram suas memórias: Ode-
te Assunção (97 anos), Nelson Barbosa, Juracy Fernandes, Enoch Fernandes, Israel
Fernandes, Eli Fernandes, Artemia Fernandes, Sheila Fernandes, tio “Nunuca” (107
anos, agora in memorian), Julia Fernandes, Acis Santos, Acir Santos, Otacílio Albu-
querque, Eli Albuquerque, Ediê Albuquerque, Leny Monteiro de Lima, Lucy Monteiro
de Lima, Enos Rockel, Amador Campo Filho. Aos pastores Adoniran Ruis, Ênio San-
tos, Hassani Nascimento e Jairo de Oliveira, bem como à Cecília Eller Nascimento e
Enis Rockel pelas precisas contribuições. Obrigada aos pastores Ênio Santos e Nelson
Barbosa e aos irmãos Enock e Juracy Fernandes pela leitura de revisão histórica. Agra-
deço, com muito carinho, ao meu esposo, Erasmo, pelo suporte emocional e compa-
nhia em entrevistas.

Neste relato, pelo limite das páginas e da pesquisa, mais protagonistas ficaram
de fora do que aqueles citados. Peço perdão a eles por essas limitações. Mas no Céu
ninguém fica no anonimato. Este livro é uma sequência às pesquisas iniciadas pelos
pastores Nelson Barbosa e Ênio Santos. A complementação dessa história está em
aberto para ser registrada. Que a leitura das próximas páginas reforce em cada leitor o
senso de pertencimento, identidade e missão.

Sônia Filiú Albuquerque Lima


Autora

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r

1
-

-
l

-
o
CENÁRIO DO COMEÇO
e
n
-
O
adventismo.
início do adventismo em nosso estado não é muito fácil de ser definido, pois
depende de como se compreende o que se pode considerar como sendo o

A instituição da sede administrativa foi precedida pela primeira igreja que, por
sua vez, foi precedida pelos primeiros batismos e estes se realizaram com a chegada do
primeiro pastor, um pastor aposentado, que foi precedido por colportores. E os col-
s portores, quando aqui chegaram, encontraram famílias guardando o sábado há alguns
m anos.
Se considerarmos o início do adventismo a partir da observância dos princípios
adventistas, incluindo a guarda do sábado, os relatos dessa pesquisa apontam para
1915, ano em que Gabriela Nunes dos Santos já estava guardando o sábado em uma
fazenda na região de Rio Brilhante. No mesmo ano ocorreu o primeiro batismo em
Ponta Porã. Mas não se tem registros maiores sobre quando ocorreram as conversões
que antecederam ao primeiro batismo nessa localidade. Possivelmente, a vinda dos
primeiros conversos de Ponta Porã ocorreu em período próximo à vinda da família de
Gabriela do Rio Grande do Sul, no final do século XIX e início do século XX, quando
as terras devolutas passaram para o domínio dos estados, favorecendo a apropriação

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de largas porções no território mato- grossense, que atraiam especialmente os gaúchos
que para cá migraram.
Tendo o ano de 1915 como marco inicial da Igreja Adventista do Sétimo Dia
no então estado de Mato Grosso, é importante termos em conta o contexto político,
social e religioso do mundo e da Igreja Adventista mundial à época, como panorama
de fundo, ainda que de forma sumária.
A Primeira Guerra Mundial havia começado em 1914 e se estenderia até 1918.
Foi considerada pelos contemporâneos como “A Grande Guerra”, com violência e hor-
ror nunca antes contemplados, pois novas armas aperfeiçoadas pela indústria, novas
invenções, como o avião e tanques, matavam milhares de homens instantaneamente.
No Brasil, especificamente a região no sul de Mato Grosso, onde nossa Igreja teve
origem, havia sido palco da Guerra da Tríplice Aliança, ou a “Guerra do Paraguai”,
que terminara em 1870. Após a guerra, ex-combatentes, ao retornarem para suas ter-
ras de origem, espalharam a notícia de que havia terras a perder de vista na nova
geografia do sul do Mato Grosso. Os relatos resultaram em um massivo processo de
migração para a área, com povoadores sobretudo oriundos de províncias como Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
No sul do Brasil, a Revolução Federalista (1893-1895) pretendia conquistar
maior autonomia do estado do Rio Grande do Sul, descentralizando o poder da recém-
-proclamada República, mas os federalistas foram vencidos. O saldo foram milhares de
mortos e a prática da degola dos prisioneiros de ambos os lados, em caráter de revan-
che. O clima de insegurança e ameaça de morte aos desafetos políticos resultaram na
migração de várias comitivas em direção ao norte. Afinal, seria melhor desbravar o
desconhecido Mato Grosso, vivo, a ficar no Rio Grande do Sul, morto.
Por outro lado, a possibilidade de aquisição de grandes territórios, de geografia
semelhante às pradarias gaúchas, motivou famílias extensas a se deslocarem rumo às
grandes áreas de terras devolutas do sul de Mato Grosso, especialmente às regiões que
hoje compreendem Ponta Porã, Bela Vista e Amambai.
A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil estava em construção e iria ligar Bauru a
Corumbá. Mesmo não concluída, apontava como alternativa promissora aos imigran-
tes, para interligar milhares de léguas somente percorridas antes em lombos de animais
e carros de bois.

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Esses fatores confluíram para que, nos primeiros anos do século XX, se intensi-
ficasse a ocupação de municípios como Campo Grande e Sidrolândia e a reocupação
da área de Dourados, entre outros, onde se estabeleceram extensas fazendas de pecu-
ária que faziam uso do pasto nativo existente. O próprio nome “Campo Grande”, por
exemplo, refere-se aos largos campos de vacaria, ou pradarias, com vegetação ideal
para a criação e gado.
No cenário da Igreja Adventista no mundo, em 1915, sessenta e um anos já ha-
viam se passado do “Grande Desapontamento” de 1844, quando milhares de mileritas
esperavam a volta de Jesus em 22 de outubro daquele ano, mas Ele não voltou.
O movimento em torno da compreensão de que Jesus voltaria à Terra nessa data,
e embora tenha causado grande sofrimento por seu desapontamento, foi também o gér-
men para o nascimento da Igreja Adventista. Em maio de 1863 foi estabelecida a
- Associação Geral da IASD, tendo John Byington como seu primeiro presidente. Em
1874, John N. Andrews foi enviado à Europa como o primeiro missionário além-mar
e da Igreja.
Na América do Sul, os Adventistas do Sétimo Dia marcaram presença em 1890,
com a chegada do casal Jorge e María Riffel, que aceitaram a mensagem adventista em
1888 nos Estados Unidos. Com a convicção de sua identidade e missão profética, de-
- cidiram compartilhar sua nova fé nas terras distantes da Argentina, onde havia muitas
e pessoas de fala germânica.
- Os Riffel convenceram três famílias germânicas a se mudarem com eles para a
província de Entre Rios em 1890. Nessa província, cerca de uma década depois, pas-
o tores adventistas, pregando ao ar livre em uma conferência pública, alcançaram o
coração de Gabriela, que seria a primeira pessoa a entrar em nosso estado trazendo o
embrião da mensagem adventista em seu coração.
s Em 18 de agosto de 1894, Frank. H. Westphal, o primeiro pastor vindo à America
e do Sul, chegou com sua família para trabalhar no território que futuramente se torna-
ria a Divisão Sul-Americana.
1915 é um ano importante para a história do adventismo no mundo, pois sua
- profetiza Ellen G. White faleceu aos 87 anos. Após uma queda em 13 de fevereiro
deste ano, sua saúde debilitou-se, levando-a a um estado de intensa fraqueza. Era uma
sexta-feira à tarde, dia 16 de julho de 1915, quando Ellen faleceu na paz do Senhor.

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Suas últimas palavras foram: “Eu sei em quem tenho crido”.
O ano de 1915 também é um ano importante para a Igreja Adventista no Brasil
pelo fato de neste ano ter sido fundado o Colégio Adventista Brasileiro, hoje Univer-
sidade Adventista de São Paulo (UNASP- C1). No ano seguinte, 1916, foi fundada a
Divisão Sul-Americana da IASD (DSA), como uma unidade administrativa da Asso-
ciação Geral da IASD.
Tendo este panorama histórico e cronológico como cenário, podemos situar a
história da origem da Igreja Adventista em Mato Grosso do Sul.

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-

2A LUZ IRROMPE OS SERTÕES

A semente da mensagem adventista chegou ao sul de Mato Grosso pela re-


gião de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, em 1903. Lampejos da
verdade haviam sido semeados no coração de Gabriela Nunes do Santos, ao passar
pela Argentina, e seguiram como semente valiosa escondida em seu coração, para fru-
tificar, anos depois, em vários conversos que se somaram a ela e, nas décadas seguintes,
a muitos outros, como resultado da evangelização de mais pioneiros, até se tornar a
Igreja Adventista do Sétimo Dia de 2015, que no estado de Mato Grosso do Sul conta
com 20.404 membros.
Tudo começou quando José Cândido dos Santos e Gabriela Nunes dos Santos sa-
íram de São Borja-RS, em direção às terras de Mato Grosso, reunindo grande comitiva
de mais de 100 pessoas. O grupo era formado por seus 12 filhos e as famílias daqueles
que já eram casados, além de outras pessoas. Gabriela estava grávida daquela que seria
sua filha caçula, Maria Luíza (a Mimosa), e que nasceria em 1903 durante a longa
viagem de mais de um ano.

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Eram mais de uma dezena de carretas de bois, cobertas com toldos feitos de couro
curtido ou de sapê, e puxadas por dois, quatro ou seis bois, dependendo do tamanho
da carreta e do peso da carga que fazia chiar os eixos das rodas.
Alguns iam a pé e outros a cavalo. À frente iam os bois que puxavam as correntes
das carretas. Eram animais descompromissados, que não tinham pressa alguma e nem
intenção de ir a qualquer lugar. Levavam crianças recém-nascidas, de colo, mulheres
grávidas, como Gabriela, que além de grávida tinha filhos pequenos para cuidar. Leva-
vam também homens de idade avançada, alimentos e objetos de primeira necessidade.
As rodas das carretas iam chorando em um ritmo monótono e repetitivo, fazendo coro
ao choro de muita gente que deixava para trás irmãos, parentes e amigos, além das ter-
ras que cultivavam, como fonte de sobrevivência, e que lhes conferiam sua identidade.
Aos poucos, a civilização ia ficando para trás ao se embrenharem em matas selvagens
e desconhecidas, na esperança de doutro lado encontrar muita terra livre de guerras e
de seus sofrimentos.
Nas estações que se seguiram ao longo do trajeto, tiveram que plantar e colher
para sua sobrevivência. Tiveram que enfrentar o frio, a chuva, o calor, tendo de atra-
vessar rios, abrir estradas, construir pontes, defender-se de animais selvagens, caçar,
pescar e extrair o que a mata oferecia para sua subsistência. Alguma criança ou idoso
acabava morrendo, vítimas de doenças desconhecidas. No caminho ficavam sepulta-
dos, sem chegar ao seu destino.

A Bíblia Proibida
Ao saírem de São Borja, logo atravessaram o Rio Uruguai e a fronteira, entrando
em solo argentino, indo até Posadas e de lá seguindo para Corrientes.
Ali ficaram algum tempo, não se sabe quanto. Mas, o suficiente para que a men-
sagem adventista chegasse ao coração de Gabriela. Corrientes era a cidade natal de
Gabriela e lá, provavelmente, moravam familiares e parentes. Aquelas terras argenti-
nas, como foi dito antes, foram os lugares onde aportaram os primeiros missionários
adventistas vindos dos Estados Unidos, alguns anos antes. É possível que ela estivesse
se sentindo em casa, e em um clima hospitaleiro recebeu o convite para assistir as
conferências públicas de um pastor adventista, cujos relatos informam ser Kalbermater
seu sobrenome. As conferências eram ao ar livre e Gabriela aceitou o convite e assistiu

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várias noites, acompanhada de sua filha Jovina, que na ocasião tinha 15 anos.
Em meio às incertezas quanto ao futuro, à insegurança e ao medo vividos nos úl-
timos anos, com muito desassossego no coração, Gabriela ouviu do pregador a respeito
do amorável Jesus que havia entregado Sua vida para salvar os pecadores. Aprendeu
m que poderia alcançar salvação somente mediante a fé no Salvador. Conheceu sobre
s os mandamentos de Deus, inclusive o quarto, que não haviam sido abolidos na cruz.
- Aprendeu também que o corpo é o santuário de Deus e, por isso, o cristão não deveria
. ingerir bebidas alcoólicas ou alimentos impróprios, como carnes imundas. Soube tam-
o bém da promessa do breve retorno de Cristo à Terra e que deveria preparar-se para
- encontrá-Lo.
. Ao receber aquelas mensagens, seu coração foi se enchendo de paz e esperança.
s Ganhou uma Bíblia de presente e retornou muito feliz ao acampamento. O presente
e valioso que recebera e as mensagens que ouvira foram o assunto noutro dia. Mas seu
esposo ficou furioso. Rispidamente disse:
- Esta é uma religião nova. Isso a gente não acompanha! - Tomou o livro de capa
preta e, enraivecido, levou-o até o fogo e queimou.
, Podemos imaginar as lágrimas silenciosas de Gabriela ao ver as chamas destruin-
o do o bem mais precioso que havia ganhado. Nele estavam palavras inefáveis, que ha-
- viam acalentado seu coração, e onde poderia encontrar esperança para seu futuro tão
incerto. Mesmo não tendo a Bíblia para ler, as palavras de um hino aprendido nas
conferências ficaram gravadas em sua mente e, quando podia, cantava: “Neste mundo
sozinho, eu nunca posso avançar, pois sendo tão fraquinho incerto fico a lutar. Mas Jesus vai
o comigo, disposto sempre a salvar, sim Ele mesmo promete que nunca me há de deixar.” Pode-
mos imaginá-la cantando em espanhol, língua que falava e na qual deve ter aprendido
o hino.
e Mas o interesse em conhecer a vontade de Deus ardia no coração de Gabriela.
- Ainda na Argentina, ela e sua família foram visitadas por um colportor de nome Ta-
s borda, que vendeu uma Bíblia para ela. Enfurecido com aquela compra, José, com
e cerca de 40 cavaleiros armados, expulsou o colportor de suas propriedades. Gabriela
s fingiu ter jogado a Bíblia fora, mas escondeu-a. Seus descendentes contam que ela
r entrou em Mato Grosso trazendo uma Bíblia e a mensagem adventista. O que se sabe
u é que ela escondeu a Bíblia do marido por um bom tempo.

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Como rapadura era um alimento muito usado para viagens, por se conservar por
muito tempo, possivelmente havia um estoque de rapaduras entre os mantimentos de
viagem. Assim, em meio às rapaduras, o livro proibido estaria bem escondido. O fato é
que aquela Bíblia conseguiu resistir durante a viagem e chegar em solo mato-grossen-
se. Tão logo chegou ao estado, Gabriela passou a estudá-la e decidiu ser cristã.
Em um tempo quando alguns homens sabiam ler e a maioria das mulheres era
analfabeta, José Candido não sabia ler, mas Gabriela lia e lia muito. Mesmo como
homem do campo, ele sabia muito bem o quanto isso o excluía de informações e opor-
tunidades. Gabriela, no entanto, aproveitava toda oportunidade que podia para ler,
e tornou-se conhecedora de tratamentos naturais e homeopáticos. Isso fez com que
fosse muito procurada para aconselhar, passando a receitar e comercializar produtos
de cura.
Sorrateiramente, no entanto, sua leitura predileta era a Bíblia proibida. Mas aqui-
lo não podia ficar como segredo por muito tempo. Sabia que precisava compartilhar,
e a forma que arrumou para isso foi começar a ensinar os filhos a ler. O livro didático
só podia ser a Bíblia. Dessa forma, como o marido desejava que seus filhos tivessem a
alfabetização que ele não teve, apreciava a ideia de estarem aprendendo com a mãe.
Com o passar do tempo, nem se importava com que material estavam aprendendo e
foi se acostumando com a ideia da Bíblia e sua utilidade pedagógica. Foi assim que
Gabriela alfabetizou seus 13 filhos: “na Bíblia”, e gastava tempo estudando e crescendo
no conhecimento do que havia ouvido nas conferências na Argentina.
Ao chegarem em solo brasileiro, as famílias dessa comitiva se espalharam em
um grande território nas regiões próximas à Bela Vista e Ponta Porã, bem como nas
pradarias de Vacaria e Entre Rios, compreendidas atualmente pelos municípios de Rio
Brilhante e Nova Alvorada, até Maracaju. A mensagem adventista havia penetrado
tacitamente os rincões daquele novo pago de matas fechadas e virgens que se perdiam
no horizonte. Ali ela continuaria a florescer.
Quando o coração de Gabriela se tornou adventista depois daquelas conferências
na Argentina? Ninguém sabe ao certo. Mas os relatos nos informam que em 1915 ela
era uma fiel guardadora do sábado e havia espalhado a semente da mensagem no co-
ração dos filhos e de outras pessoas de sua convivência.

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Carretas de bois ao tempo da migração de Gabriela para Mato Grosso
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PONTA PORÃ:
PORTA DE ENTRADA

M esmo antes da Guerra do Paraguai, em Ponta Porã, uma região deserta


no interior do Paraguai, havia uma parada de carreteiros que faziam o
transporte da erva-mate ali nativa. A região era um ponto de parada em uma rota
importante que ligava o Brasil a Concepcion - PY, e de lá a Assunção e à Argentina,
embora sendo picadas rudimentares.
Após esta guerra, para salvaguardar a nova fronteira estabelecida com o Paraguai,
a região passou a receber guarnições militares e destacamentos policiais que atraíram
uma leva de imigrantes rio-grandenses que por ali iam se instalando por causa da segu-
rança e da estrutura em desenvolvimento.
Em 1912, Ponta Porã deixou de ser distrito de Bela Vista e passou a ser municí-
pio, atraindo cada vez mais sulistas que ali chegavam passando pelo Paraguai e Argen-
tina através da antiga Picada dos Carreteiros.
Neste contexto, no ano de 1915 chegam em Ponta Porã os primeiros missioná-
rios adventistas, vindos da Argentina, irmão Amaral e sua esposa. Percorreram cerca
de 800 km em uma viagem de difíceis condições. O casal trabalhou com afinco para

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divulgar a mensagem adventista, e logo surgiu um pequeno grupo de pessoas interes-
sadas em estudar a Bíblia.
Naquele mesmo ano, a Organização Adventista de Pousadas das Missiones, na
Argentina, enviou o Pr. Santiago Mangold, de origem russo-alemã, para realizar o
primeiro batismo no estado. Este mesmo pastor havia levado a mensagem adventista
como missionário pioneiro no Paraguai, no Equador e no Chile. Sua esposa havia
falecido alguns anos antes, de febre amarela, no Equador. Mesmo assim, a convicção
de sua missão profética impulsionou-o a continuar pregando. Foi em uma viagem de
muitos dias, a cavalo, em condições muito difíceis, até Ponta Porã, para procurar os
primeiros conversos e realizar o primeiro batismo em solo brasileiro e mato-grossense,
mais especificamente.
Não há memórias ou registros encontrados sobre quais foram as 4 primeiras pes-
soas batizadas em Ponta Porã, mas o irmão Amaral e sua esposa continuaram reali-
zando um profícuo trabalho de evangelização naquela cidade por vários e vários anos.
Quando os primeiros colportores chegaram ao estado, e foram a Ponta Porã, encontra-
ram o casal Amaral. Junto com eles, cooperaram para fortalecer e aumentar o pequeno
grupo de adventistas que ali se formou.
a Em 1917 chegou em Ponta Porã a irmã Laudelina Cuerman Mezza, vinda da pro-
víncia de Missiones, norte da Argentina, e que havia trabalhado como enfermeira no
“Sanatório del Puiggari”, hoje Sanatório de River Plate. Seu esposo havia falecido na
, Argentina e ela viera com seus irmãos e sua filha, Alba Rosa, adolescente, de carreta
para Ponta Porã.
O pequeno grupo familiar de Ponta Porã recebeu novo impulso em 1919, quando
chegaram os primeiros colportores no estado, Egídio Machado e Antônio Inácio de
- Souza, fortalecendo a fé dos novos fiéis.
Em Ponta Porã, Laudelina trabalhou como costureira, junto com sua filha Alba
Rosa. Logo ela conseguiu muita freguesia, a quem se dedicava a testemunhar de sua fé.
- Aos sábados, ela dirigia a Escola Sabatina do pequeno grupo de adventistas de Ponta
Porã que se reunia em sua casa.
Em um sábado, três rapazes, seus fregueses de costura, foram buscar suas roupas.
a Ela entregou a encomenda, mas se recusou a receber o pagamento, por ser o sétimo
dia, mas aproveitou a oportunidade para explicar sobre o quarto mandamento e a Lei

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de Deus. Ao chegarem em casa, os rapazes contaram o ocorrido aos pais, que ficaram
curiosos para conhecer a estranha convicção daquela costureira.
Naquela noite de sábado houve um baile na praça da cidade, do qual participa-
ram os três jovens e seus pais. Durante o baile, armou-se uma briga e os três rapazes
foram assassinados. No restante da noite, aqueles pais passaram velando seus filhos.
Muito abalados, durante a semana foram procurar Laudelina, e no sábado seguin-
te participaram da Escola Sabatina. Puderam aprender sobre a esperança da salvação e
a razão de sua observância ao quarto mandamento. No sábado que se seguiu, a Escola
Sabatina estava com mais de 20 pessoas levadas pelo testemunho daquele casal! Assim
o grupo cresceu e permaneceu.
Eles continuaram estudando a Bíblia, e em 1920 foram batizados pelo Pr. Max
Rhode, a respeito de quem leremos adiante. Naquele batismo, participaram, entre
outras, as seguintes pessoas: João Sotello, esposa e filhos; Fermina Torraca e filhos e
Clotilde Freire.

Como folhas de outono


Providencialmente, a vida de um rio-grandense e de um baiano convergiram-se
em 1916, congregando-os em um mesmo objetivo: desbravar o sertão do sul de Mato
Grosso para espalhar a mensagem impressa, como folhas de outono.
Antônio Inácio de Souza havia sido convidado pelo diretor de Publicações, H.
Tonjes, para ingressar na colportagem (venda de livros), em Campestre-RS, quando o
adventismo já havia se estabelecido ali. Aceitou o convite e formou dupla de trabalho
com Saturnino Mendes de Oliveira. Os dois colportaram no Rio Grande do Sul até
1912, quando foram transferidos para trabalhar em São Paulo.
Em 1916, Antônio de Souza começou a estudar no Colégio Adventista Brasi-
leiro – CAB, hoje UNASP campus São Paulo. Naquele mesmo ano, em um curso de
colportagem realizado no mesmo colégio, foi perguntado em público se havia alguém
que aceitava o desafio de iniciar o trabalho com a página impressa nos sertões de Mato
Grosso, na época um lugar de difícil acesso, sem estradas, sem pontes, com matas fe-
chadas repletas de onças e cobras. Ele aceitou o desafio. Casou-se e seguiu para Campo
Grande-MT, como colportor pioneiro.
Mas não foi só. Junto a ele, Egydio Machado, natural da Bahia, também estudan-

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te do CAB, corajosamente aceitou o desafio, e os dois penetraram os campos e matas
do sul do estado, vendendo grande número de livros.

Cavalos dirigidos por anjos


Uma das histórias desses colportores, que se tem registro, relata que em uma
- sexta-feira à tarde, viajando em seus cavalos, com as bolsas carregadas de literatura,
e se deram conta de que estavam perdidos. Não sabiam para que lado deveriam dirigir
a os animais naquela mata fechada e escura. Deram uma parada e oraram pedindo a
m direção de Deus. O sol já havia descido e o sábado havia começado. Como gostariam
de encontrar um lugar onde pudessem comer e descansar!
x Depois da oração, sentiram grande conforto e segurança. Soltaram, então, as
e rédeas dos animais e deixaram que fossem guiados pelos anjos. Confiantes nisso, come-
e çaram a cantar todos os hinos que podiam se lembrar. Algum tempo depois, viajando
na escuridão e tendo as rédeas dos cavalos soltas, avistaram luzes e logo se depararam
com uma fazenda. As fazendas, naquela época, tinham, em geral, instalações para
viajantes. Ali pediram pouso e foram prontamente atendidos.
e Quando o dia amanheceu, procuraram o fazendeiro e explicaram que guardavam
o o sábado e era seu costume fazer um culto neste dia. Cordialmente disseram que fica-
riam muito honrados se o fazendeiro e sua família pudessem participar junto com eles.
. Como aquilo representava uma novidade para os colonos, quebrando a rotina de todos
o os dias, aceitaram o convite.
o Outras pessoas, além da família, se juntaram a eles e enquanto dirigiam o culto,
é notaram que dois homens estavam em pé e com uma expressão pouco amigável. Ter-
minado o culto, aqueles dois senhores se aproximaram dos colportores e perguntaram:
- Onde estão aqueles homens altos, vestidos de branco, que vinham ontem à
e noite puxando os cavalos de vocês? Nós fazemos a segurança aqui e íamos atirar em
m vocês, mas aqueles homens de branco não permitiram. Onde eles estão?
o Aqueles servos de Deus não tinham outra resposta a não ser explicar que os
- homens de branco, vistos pelos capatazes, eram os anjos de Deus que sempre os acom-
o panhavam e os livravam do mal.

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Gabriela Nunes dos Santos
A primeira adventista do estado

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4
ADVENTISTAS
NAS LONGÍNQUAS
QUERÊNCIAS

V iajando centenas e centenas de léguas pelas querências, encontrando pes-


soas e buscando toda e qualquer oportunidade para ganhá-las para Cristo,
os dois colportores pioneiros, Antônio de Souza e Egydio Machado, ficaram sabendo
onde existiam famílias adventistas, denominadas de protestantes.
Encontraram, então, a fazenda Santa Luzia, hoje município de Nova Alvorada,
onde residia Jovina, filha de Gabriela, já casada com Tibúrcio Assunção. Nessa época,
Gabriela também morava ali, já idosa e com fortes convicções nas doutrinas bíblicas
adventistas. Falava de Ellen White e havia evangelizado os filhos.
Deparam-se também, em Ponta Porã, com um pequeno grupo de adventistas
recém-convertidos. Os colportores iam espalhando a mensagem impressa e, aos ad-
ventistas que encontravam, espalhavam a boa-nova de que não eram os únicos, não
estavam sozinhos em rincões tão isolados e distantes, como povo que esperava a se-
gunda volta de Cristo.
Chegaram em Ponta Porã em 1922, Egydio enamorou-se de Alba Rosa, filha

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da costureira Laudelina Cuerman Mezza, com quem se casou e esteve casado até sua
morte prematura, vitimado pela doença de chagas, em 1926.
Ambos os rapazes continuaram a colportagem, viajando milhares de léguas sem
fim, montados em seus cavalos, enfrentando muitas dificuldades, procurando pessoas
preciosas para Jesus nas fazendas muito distantes umas das outras.

Guardar o sábado? Só provando na minha Bíblia!


Em 1925, os destemidos colportores, Antônio e Egydio, haviam adentrado a mata
em direção à grande fazenda “Divisa”, quase fronteira com o Paraguai. Lá deveria mo-
rar uma família adventista, segundo ouviram falar.
No entanto, logo que foram se aproximando da entrada, observaram, para sua de-
cepção, grande criação de porcos, e já pensaram que os moradores dali não poderiam
ser adventistas. Foram bem recepcionados e ali ficaram hospedados. Trabalhavam nas
fazendas próximas e vinham à fazenda Divisa para dormir ou, se estavam um pouco
mais distante, voltavam apenas para passar o sábado.
Nesta fazenda, os irmãos Luciano, Arthur e Zacarias Fernandes, vindos do inte-
rior de São Paulo, trabalhavam como administradores. Cuidavam do gado, da estrada,
dos campos e pradarias. Os três irmãos eram presbiterianos, e muitas vezes o gado era
tocado ao som de belos hinos cristãos que entoavam.
Logo ficaram intrigados quando chegou o primeiro sábado e seus hóspedes não
saíram para trabalhar. Os dois rapazes já haviam conversado um pouco sobre a Bíblia
com os irmãos Fernandes nas noites anteriores, mas naquele primeiro sábado, quando
eles não saíram para vender livros, os colportores puderam explicar sobre o quarto
mandamento da Lei de Deus.
Arthur, no entanto, pensava que a Bíblia do colportor havia sido modificada para
acomodar aquelas passagens sobre o sábado, quando disse:
- Isso está na sua Bíblia. Quero ver vocês mostrarem para nós onde aparece esse
quarto mandamento na nossa Bíblia!
E, com fala incisiva, de quem sabia que palavra e trato no fio do bigode valia mais
que contratos lavrados e registrados em cartório, disse:
- Se vocês provarem, na minha Bíblia, onde está escrito que temos que guardar
o sábado, da semana que vem em diante ninguém trabalha mais aqui nesta fazenda

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a aos sábados.
Calmamente, os colportores tomaram a Bíblia de Arthur. Manejando com habi-
lidade as páginas do livro sagrado, folheando-a um pouco aqui, um pouco ali, Velho
s Testamento, Novo Testamento, foram mostrando claramente a Lei de Deus, o sábado,
desde o Éden até a Nova Terra, passando por Adão e Eva, por Jesus e pelos apóstolos.
Os irmãos Fernandes foram ficando pálidos e atônitos. Arthur, o irmão que pare-
cia ser mais líder dos três, chamou os irmãos mais novos de lado e, pasmo, disse:
- E agora? Fique na minha situação! O que vamos responder para esses homens?
O que nós vamos fazer, Totó? (Luciano). Olha aí, eles provaram, está provado na
nossa Bíblia. E agora? O que nós temos que ver mais? Como é que não vimos isso
até agora e ficamos todos esses anos lendo a Bíblia e não vendo isso? O que vamos
responder pra eles?
s Luciano (Totó) fez uma pausa, limpou a garganta e disse:
- Arthur, você acabou de falar para eles que mais valia a palavra de um homem e
o fio do bigode do que letrinhas escritas em um papel. O que você prometeu para eles
ontem e repetiu hoje?
, Zacarias reforçou a força da palavra dada, dizendo:
- Arthur, não precisa falar mais nada. O que você prometeu você cumpra agora.
Os três irmãos Fernandes se dirigiram aos colportores e Arthur, estendendo a
mão para eles e apertando-a, dirigiu-lhes a palavra:
- Pega aqui, jovens. De sábado que vem em diante ninguém mais ergue uma palha
nesta fazenda. Acabou! De agora em diante, nós seremos guardadores do sábado e
vocês vão nos ajudar a aprender mais sobre a Bíblia.
E assim foi. Algum tempo depois os colportores foram trabalhar em Rio Brilhante,
mas continuaram a visitar os Fernandes. Gradativamente, a cada volta dos colportores
à fazenda Divisa, mais luz ia sendo irradiada da Palavra de Deus. Como não havia
e pastor adventista na região, os irmãos Fernandes tiveram que esperar vários anos para
serem batizados.
s Luciano Fernandes e sua esposa Maria (Mariquinha) foram os primeiros a serem
batizados. Alguns anos depois de conhecerem a mensagem, fizeram uma viagem para
r São Paulo, onde apareceu uma oportunidade e puderam ser batizados.
Ao retornar, trouxeram lições e outros materiais para realizarem a Escola saba-

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tina. Arthur, Zacarias e suas famílias só foram batizados em 1929, quando o primeiro
pastor enviado pela União Sul Brasileira chegou ao Mato Grosso. Adiante saberemos
como a história dos Fernandes continua.

Irmãos Fernandes: Zacarias, Arthur e Luciano

Chega o Pastor Max Rhode


Era o ano de 1920, quando o Pr. Max Rhode e família chegaram a Campo Grande
para morar. Ele havia trabalhado na Casa Publicadora Brasileira e alguns anos antes
era um editor frequente de artigos na Revista Adventista para a juventude e líderes da
“Mocidade” adventista do Brasil.
O Pr. Max Rhode era um dos muitos pastores adventistas para os quais a aposen-
tadoria significa o início de outras oportunidades para continuar a Missão. Dessa for-
ma, ele chegou ao Mato Grosso sabendo que era o único pastor neste vasto território
e quase tudo estava por fazer. Ele passou a residir onde hoje é a Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul.
Sendo também um dentista prático, as atividades dessa profissão colocaram-no
diante de pessoas. E pessoas significam oportunidades de cumprir a Missão. Logo co-
nheceu o Sr. Ernesto Matias e passou a estudar a Bíblia com ele e sua família. Sua

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casa ficava na Av. Afonso Pena, em frente à Praça do Rádio Clube. Naquele endereço
s começou a funcionar uma classe bíblica familiar e, logo mais, uma Escola Sabatina.
No mesmo ano que chegou ao Mato Grosso, o Pr. Max visitou o pequeno grupo
de pessoas evangelizadas em Ponta Porã, pela irmã Laudelina Cuerman e pelo irmão
Amaral e esposa, como foi narrado anteriormente, realizando um batismo de vários
que esperavam somente a oportunidade da vinda de um ministro para descerem às
águas batismais.
Em 1921, aconteceu o segundo batismo em Mato Grosso. O Pr. Max Rhode bati-
zou um número expressivo de pessoas em um tanque próximo à sua casa, na região da
atual Universidade Federal. Entre os batizados estavam o irmão Ernesto Matias, sua
esposa Amanda, Maria Michel, entre outras.
Também vieram algumas pessoas das fazendas do sul do estado, que já estavam
guardando os preceitos bíblicos como resultado do trabalho evangelístico de Gabriela,
a primeira guardadora do sábado. Dentre elas estavam Jovina Assunção, filha de Ga-
briela, e Maria do Carmo Santos, nora de Gabriela.
Nos anos de 1926 e 1927 houve mais dois batismos em Campo Grande, também
realizados pelo pastor Max Rhode. Foram batizados o sargento do exército, Fernando
Lopes, sua esposa, a jovem Valy, filha adotiva de Max Rhode, e Áurea Assunção, que
se tornaria a esposa do primeiro pastor natural da região.
Ernesto Matias havia chegado a Campo Grande recentemente, vindo do Rio
Grande do Sul. Havia deixado sua terra natal por causa dos conflitos e da insegurança
à vida que se instalaram após a Revolução Federalista.
a Ele se tornou um adventista missionário, junto com Max Rhode e outros pastores
que vieram depois, e abriu sua casa à primeira congregação de interessados e adven-
tistas, que se tornariam nos anos seguintes os primeiros membros da Igreja Central de
Campo Grande.
Seu carro, um dos primeiros Ford “Pé de bode” da cidade, também esteve a serviço
l dos primeiros pastores, para viagens à procura dos irmãos adventistas, não batizados, já
existentes no sul do estado. Sua casa passou a ser também um local de hospedagem dos
irmãos residentes nas fazendas quando vinham a Campo Grande.
- Não há um registro sobre isso, mas podemos imaginar que aqueles colportores
pioneiros, Antônio de Souza e Egydio Machado, possivelmente, assim como as abelhas

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levam o pólen de uma flor para outra, ajudando-as a criar sementes e frutos, fizeram o
trabalho de interligar as pessoas e informações preciosas para germinar a semente da
organização adventista no estado e produzir os frutos obtidos.
Seu contato frequente com a Casa Publicadora Brasileira pode ter sido o meio
usado por Deus para comunicar ao Pr. Max Rhode a existência de adventistas, inte-
ressados e sobre o potencial evangelístico do estado naqueles anos.
Podemos deduzir isso pelo fato de o Pr. Max ter ido, no mesmo ano que chegou,
à Ponta Porã em busca do grupo de adventistas não batizados e, no ano seguinte, no
primeiro batismo realizado em Campo Grande, terem sido batizadas pessoas que já
estavam guardando a doutrina adventista nas fazendas no interior do sul do estado,
em um tempo em que a transporte por estrada e a comunicação por outras vias era
lenta e precária.
Possivelmente, as notícias que levavam do evangelismo no estado tenham con-
tribuído para a criação da Missão Mato Grosso, em 1921. Mas, alguns anos passariam
até que o Campo recebesse um obreiro enviado para organizar e liderar o evangelismo.
A depressão econômica, após a Primeira Guerra Mundial, resultou em severos
cortes no orçamento da Divisão Sul-Americana e foi um obstáculo ao chamado de
novos obreiros. No Brasil, a recessão era tanta, que bancos e outros negócios entraram
em colapso e a moeda, em depreciação, consumia o ganho real dos obreiros.
Montgomery, primeiro presidente da Divisão Sul-Americana, criada em 1916, já
havia notado que havia, especialmente no Brasil, um sentimento antigermânico, de-
pois da Primeira Guerra Mundial. As uniões brasileiras eram organizações majoritaria-
mente alemãs, cujos membros e obreiros ainda mantinham o idioma e os costumes de
seus antepassados. Nessa época, os colportores alemães precisaram deixar o trabalho.
A organização buscava, com a crise financeira instalada, buscar aumentar a porcenta-
gem de obreiros americanos.
Mas, a despeito da carência de obreiro para assumir a liderança da Missão Mato
Grosso, o número de adventistas crescia rapidamente, graças ao trabalho dos colpor-
tores pioneiros, ao evangelismo dos primeiros conversos e à dedicação de Max Rhode,
jubilado e ativo.
Em 1929, chega a Campo Grande o primeiro pastor americano, Godfredo Ruf,
diretor de Ação Missionária da União Sul Brasileira. Vem para visitar Mato Grosso.

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o Juntamente com o pastor Max Rhode e o irmão Ernesto Matias, visitam comunidades
adventistas nas fazendas do sul do estado e realizam batismos.
Imediatamente, foram procurar a fazenda Caçadinha, município de Rio Brilhan-
te, onde se encontravam os três irmãos Fernandes e suas famílias. Nessa ocasião, foram
- batizados Arthur Fernandes e sua esposa, Belmira. O tanque batismal foi arrumado por
Arthur Fernandes e seu cunhado, irmão de Belmira, Alfredo Barbosa.

.
s
e

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5
NASCE A
PRIMEIRA IGREJA

P or volta da data em que foram batizados os primeiros adventistas em Campo


Grande, os primeiros conversos evangelizados por Gabriela construíram um
salão próximo à fazenda Santa Luzia, pertencente aos Assunção, onde morava Gabrie-
la e sua filha, Jovina Assunção, casada com Tibúrcio Assunção.
Gabriela ensinou as doutrinas bíblicas a seus netos, à filha Jovina e aos outros
filhos, noras e genros. Entre eles estavam Juvenal, Bráulio, Celso e Áurea. Quando Jo-
vina foi batizada, em 1920, Maria do Carmo, esposa de um de seus irmãos mais novos,
Thimóteo Cândido dos Santos, também foi batizada. Havia então na fazenda Santa
Luzia uma comunidade de batizados, familiares conhecedores da Bíblia e interessados.
Odete Assunção, hoje com 97 anos, neta de Gabriela, lembra que aos cinco anos
de idade gostava de sentar-se no colo da avó para ouvir histórias bíblicas. Recorda-se
de como ela gostava de cantar o hino “Nunca me Deixar”. As impressões de Gabriela
ficaram na memória de filhos, netos, genros e noras como uma mulher carinhosa,
caridosa e conselheira.

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Próximo à fazenda “Santa Luzia”, noutra fazenda “Sempre Alegre”, à frente da
casa do irmão Bráulio, filho de Jovina, foi erigida a primeira construção para abrigar
a igreja que nascia. Nessa primeira construção reuniu-se um grupo ainda não orga-
nizado. Era feita de barro e coberta de tabuinhas. Logo, nessa primeira construção,
também estava funcionando uma Escola Adventista.
A partir de 1937, a Missão Mato-Grossense conseguiu enviar a professora Yo-
landa Karrú para ali lecionar. Essa foi a segunda Escola Adventista do estado. Nessa
escola estudaram os filhos dos adventistas e muitas outras crianças cujos pais para lá
acorriam. Muitos deles foram evangelizados por influência da escola.

Primeira Igreja Adventista e Escola


Sentada, ao centro, a professora Yolanda Karrú

Após o batismo dos Fernandes, um grupo crescente de adventistas estava se for-


mando nas fazendas “Espada”, “Mateira” e “Curralzinho”, cada uma administrada pe-
los irmãos Arthur, Zacarias e Luciano Fernandes.
As famílias dos Fernandes necessitavam deslocar-se léguas para poder congregar
junto aos irmãos daquela primeira igreja adventista na fazenda “Sempre Alegre”. O

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longo deslocamento, a cavalo, de carretas de bois ou a pé, pelas picadas em meio às
matas com animais ferozes, não era fácil. Mesmo assim, aqueles adventistas pioneiros
não deixavam de congregar e de enviar seus filhos à escola adventista.
No ano de 1940 os Fernandes propuseram aos Assunção e Santos, transferir a
igreja de localidade.
- Bráulio - propuseram os Fernandes - nós temos três famílias grandes em nossa
região. Queremos construir uma igreja em nossa terra, que vai funcionar como escola
também, vocês vão acabar ficando sozinhos. Venham morar perto de nós!
Pensando sobre o convite dos Fernandes e nas bênçãos que igreja e escola repre-
sentavam para suas famílias, Bráulio decidiu mudar-se, comprando parte das terras de
Arthur Fernandes. O irmão Arthur doou, nessa ocasião, oito hectares de terra para
a construção da igreja e escola adventista na nascente do córrego “Galo”.Essa igreja
ficava a seis quilômetros do córrego “Lambari”. Ao lado do “Lambari” morava a família
de Arthur.
Primeiramente foi construído o salão como escola. Construção simples, feita de
coqueiro, coberta com tabuinhas. Mesmo as instalações sendo modestas, e aquilo que
podiam fazer, sabiam que o conteúdo a valorizava. Ao lado da escola foi construída
a casa de Lourdes Fernandes, filha de Luciano Fernandes. A professora era também
zeladora, secretária, dentre todas as funções de que a escola necessitava.
Logo em seguida, ali passou a funcionar também a igreja. Bem próximo à igreja
residiam as famílias dos Cavaliere, evangelizados pelo Pr. Alfredo Barbosa, em Cuiabá,
e cuja mudança para a região do Lambari ocorreu em função daquela igreja e escola
adventista.
O Pr. Alfredo Barbosa, primeiro pastor adventista brasileiro e natural de Mato
Grosso, pediu a Deus uma confirmação de que seu chamado realmente viera do Se-
nhor. Em seu coração, pediu que Deus o certificasse disso, fazendo-o alcançar as
pessoas consideradas mais difíceis ou humanamente impossíveis de serem alcançadas
pela salvação em Cristo.
Assim, em Cuiabá, seu primeiro Campo, logo conheceu a família de Sérgio Cava-
liere, de origem italiana. Ele era um comerciante bem conhecido na cidade. Sua fama
se espalhara também por se dizer um ateu convicto e por sua valentia, em um tempo
em que as diferenças eram resolvidas com o “trinta e oito” na cintura.

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s Alfredo começou uma amizade com Sérgio Cavaliere e não demorou muito para
que estivesse estudando a Bíblia com ele. Todas as noites, muitas vezes até altas horas,
as verdades eram estudadas, discutidas, entendidas, digeridas. A luz foi penetrando
a na vida de Sergio Cavaliere e da esposa e eles pediram o batismo. Passaram-se alguns
anos, Alfredo já estava trabalhando em Corumbá, mas voltou a Cuiabá e visitou os
Cavaliere. Sérgio contou de sua preocupação com seus filhos.
a - Pastor, não sei o que fazer - disse, abrindo o coração. O senhor me tirou do
mundo, eu fui batizado, mas meus filhos estão sendo criados nesta cidade. Vez por
outra estão metidos em confusão na rua, envolvidos com gente de má índole. E agora,
e que sou cristão, não posso mais resolver as confusões em que se metem na base do
revólver. Corremos até risco de vida aqui. Aqui eu não vejo jeito pra eles.
a - Tem um jeito - respondeu o pastor - vá para Lambari onde eu fui criado,
arrende uma terra lá, abra um bolicho. O senhor já faz isso aqui. E põe esses meninos
na roça. Isso mesmo, tire-os do centro da cidade e coloque-os pra trabalhar na roça. E
e eles não terão como sair de lá - propôs Alfredo.
e Entendendo que aquela ideia era boa, pois era a vida de seus filhos e a sua pró-
a pria vida que estavam em jogo, Cavaliere vendeu tudo em Cuiabá e foi embora para
Lambari. Lá, arrendou terras dos Fernandes, abriu um bolicho e seus filhos puderam
estudar na escola adventista e frequentar a igreja. Agora as famílias da região do Lam-
bari não precisavam ir para Campo Grande fazer compras, pois havia um comércio que
abastecia a região com produtos secos e molhados.
a Os filhos foram trabalhar na enxada quando chegaram. Mais à frente, em 1949,
Cavaliere comprou uma caminhonetinha e nela embarcou todos seus filhos e foram
colportar. Em seguida, foram estudar no Colégio Adventista Brasileiro.
- Aquela comunidade cristã adventista representou uma grande benção também
s para os Cavaliere. Eles entenderam a importância da educação adventista. Indo todos
para o colégio, três dos quatro filhos, José, Voltaire e Rodolfo, tornaram-se pastores
adventistas. A única filha fez enfermagem.
O Pr. Rodolfo Cavaliere, posteriormente voltou e se prontificou a colaborar fi-
nanceiramente com a Igreja do Lambari, quando o Campo já era Associação Sul-Ma-
to-Grossense. O filho mais novo fez direito e tornou-se um renomado juiz de direito no
Rio de Janeiro, Sergio Cavaliere Filho.

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Esta história de conversão e transformação radical de vidas é um dos exemplos
do que a educação e a igreja adventista representaram para milhares de pessoas neste
estado. É uma pequena mostra do poder transformador que o Cristo crucificado pode
fazer, e tem feito, em muitas vidas.
Também buscando trazer suas famílias para perto da luz da verdade, assim como
os Cavaliere, os Assunção e Santos mudaram-se para próximo da igreja de Lambari.
Ali as famílias também se uniram em casamentos. Por exemplo, Maria de Lourdes Fer-
nandes casou-se com Leopoldo, neto de Gabriela, vindo a se chamar Maria de Lourdes
Santos, cujo filho, Ênio Santos, veio a se tornar pastor presidente da Associação Sul-
-Mato-Grossense na década de 1990.
Como a escola atraía várias famílias não adventistas, e elas desejavam mudar
para perto da escola, os Fernandes arrendavam-lhes pedaços de terra. Ali moravam
e trabalhavam enquanto seus filhos estudavam. Não demorava muito tempo para es-
sas pessoas serem alcançadas pela mensagem, em uma convivência acolhedora. Nesse
período, muitas famílias se converteram à fé adventista pela influência da escola e da
comunidade de fiéis da região.
Outros ainda se locomoviam muitos quilômetros para chegar à igreja, a cavalo,
a pé, como podiam. Era costume entre eles ir à igreja com revólver no cinturão, para
enfrentar as onças, comuns naquelas matas e pradarias.
Juracy, filha de Arthur, e outros alunos se deslocavam na infância, cerca de 6
quilômetros para ir e vir da escola. Certo dia, haviam acabado chegar em casa e almo-
çar, quando alguns vizinhos chegaram assustados. Vieram para ajudar o irmão Arthur
com o gado.
- Tio Arthur - disseram - ali atrás tem um boi enorme que a onça acabou de
matar.
Arthur foi ver o animal que ainda estava quente, pois acabara de ser atacado e
morto por uma onça. Ele estava há uns cinquenta metros do caminho onde um pouco
antes passaram as crianças conversando, brincando, cantando e catando frutinhas na
beira da estrada.
A onça estava bem perto das crianças, mas Deus tinha um plano para a vida delas
e impediu que as atacasse, assim como fechou a boca dos leões na cova onde estava
Daniel. Algumas dessas crianças se tornaram pastores ou mães e pais de líderes da

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s igreja em anos posteriores.
e Alguns anos depois, essa pequena igreja à beira do córrego Galo foi transferida
e para as margens do rio Lambari, cerca de 6 quilômetros. Somente as portas e as janelas
foram aproveitadas em sua edificação.
Na década de 1960, a Missão Mato-Grossense doou 200 cruzeiros, na época um
. valor considerável, com o qual foi possível reformar essa primeira igreja. Foram eleva-
- das paredes de tábuas de cedro, janelas de vidro, piso queimado e telhas de barro. Essa
s última construção da igreja existe até hoje, no entanto, com o passar das décadas, as
- famílias foram se mudando e a igreja foi desativada.
Embora ela tenha mudado de lugar e de instalações várias vezes ao longo do
tempo, atendia a mesma comunidade e foi sempre denominada de Igreja Adventista
do Sétimo Dia do Lambari.
-
e
a

-
r

Igreja do Lambari - Década de 1940

Livramento da guerra
s Enoch Fernandes, filho de Arthur Fernandes, seguiu as pegadas do pai, atuando
a como ancião na Igreja Adventista do Lambari. Na década de 60, ele e sua família de-
cidiram morar junto com seu pai, que já estava em avançada velhice. Apesar da idade,

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porém, Arthur estava ativo, cuidando do gado e vistoriando os trabalhos requeridos
em terras próximas à Nova Alvorada do Sul.
Em uma manhã, pai e filho estavam em suas lides rotineiras, quando após abrir
uma porteira, Enoch viu uma inscrição no troco de uma figueira que lhe chamou a
atenção. Chegou mais perto e viu um talhado antigo no tronco da árvore. O tempo
não havia apagado aquelas marcas feitas talvez a facão. Na árvore estava escrito “100
+ 100”.
- Pai - chamou Enoch - o que é isto aqui? Venha ver!
O pai, de longe, respondeu:
- Isto o quê? Vamos embora! Você deixou a porteira aberta, o gado vai sair.
Enoch insistiu para que o pai viesse ver aquela estranha inscrição na árvore, per-
dida na mata em terras que há várias décadas eram propriedade de Arthur.
Chegando perto, Arthur ficou por uns instantes contemplando e, com o olhar
distante, perdido no tempo, disse:
- Isto é uma longa história - pensativo complementou - essas marcas são o selo
de um pacto que fiz com Deus.
Enoch sabia da história por alto, mas naquela manhã teve a oportunidade de
saber os detalhes por meio da voz do pai, que continuou a narrativa:
- Quando você era bem pequeno, quase perdi seus irmãos mais velhos, Ofil e
Zacarias, na Segunda Guerra Mundial. Eles serviam o exército em Ponta Porã, quando
estourou a guerra e chegou um momento em que os soldados brasileiros foram convo-
cados. Uns dois mil soldados de Mato Grosso foram chamados e seus irmãos foram uns
dos primeiros da lista.
Fez uma pausa, olhando um ponto perdido distante, e continuou:
- Algum tempo antes de dar baixa no exército, Ofil fez o curso de cavalaria.
Ele já tinha experiência, domando, montando e cuidando de cavalos aqui na fazenda
e depois do curso feito ele passaria a ganhar mais por isso. Tornou-se muito bom na
cavalaria.
- Zacarias fez, na mesma época, o curso de enfermeiro padioleiro e atuava nessa
função no exército, com muito esmero. Sendo assim, com as habilidades desenvolvi-
das, os dois foram logo convocados para a guerra quando o Brasil decidiu enviar solda-
dos - relembrou o pai - quando soubemos da notícia, ficamos muito preocupados. Se

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s fossem para a guerra, a chance de voltarem com vida era mínima e as de voltarem com
sequelas físicas e psicológicas eram grandes. O que poderia ser feito? Como poderiam,
como cristãos que eram, pegar em armas, sendo obrigados a matar? A quem recorrer?
Só havia uma possibilidade, clamar a Deus. Eu orava: ‘Senhor leve-me tudo, menos os
meus filhos! Meus filhos não, Senhor!’ - relatou, abrindo o coração - assim, em uma
manhã de julho de 1944, bem cedinho, nascendo o sol, passei por esta árvore com o
coração apertado. Foi bem aqui o lugar onde ajoelhei e clamei a Deus. Precisava de um
milagre. Orei ao Senhor por livramento.
E prosseguiu dizendo:
- Após orar por algum tempo, fiz com Deus um pacto de sacrifício. Se o Senhor
- livrasse meus filhos de irem para a guerra, comprometeria-me com uma oferta de gra-
tidão no valor de cem mil réis por cada filho.
Continuou dizendo que, enxugando as lágrimas, levantou-se e, tomando o facão
da bainha, talhou no tronco da figueira a inscrição “100 + 100”. Seu pacto estava
o gravado na árvore com a ponta do facão. Levantou-se e foi cuidar do seu trabalho,
depondo seu fardo nas mãos de Deus.
e Menos de um mês era o prazo para o embarque dos soldados. No dia determinado
para a viagem, todos os soldados convocados estavam a postos. Tomariam o trem da
“Noroeste do Brasil” até Campo Grande. De lá o trem os levaria para São Paulo, onde
tomariam o navio para a Itália. Cerca de 25.000 soldados brasileiros participaram da
Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha naquele ano.
s Chegou o dia do embarque, e até aquele momento o pai orava todos os dias
pedindo o livramento de seus filhos da grande guerra. O General de Brigada colocou
os soldados em forma e passou em revista a tropa. Tomando à mão a lista de nomes e
olhando-a por uns instantes, ordenou:
- Cabo Ofil Fernandes, saia de forma!
a Ofil prontamente atendeu, sem entender, tendo o coração acelerado. Alguns
poucos soldados também foram destacados para sair de forma. Entre eles estava Zaca-
rias Fernandes. O Coronel de Enfermagem havia ordenado que saísse de forma tam-
- bém.
- Indo para outro recinto, foram informados que estavam dispensados da guerra.
e A razão era que com a convocação de tantos soldados, novos recrutas seriam incor-

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porados e aquelas novas turmas precisariam ser ensinadas na cavalaria e Ofil seria
imprescindível para isso. Da mesma forma, Zacarias era um dos principais padioleiros
e iria treinar novos enfermeiros.
O coração daquele pai, e da família, se rendeu em gratidão pela providência di-
vina. Mesmo provados até o último instante, não deixaram de rogar a Deus por Sua
intervenção e não deixaram de cumprir o voto gravado no tronco daquela figueira.
Como votado com Deus, Arthur dedicou uma oferta de 200.000 contos de réis,
que foram destinados à Igreja Adventista do Lambari. Podemos imaginar o valor com-
parando com o valor do gado à época. Segundo relatos ouvidos, uma vaca custava
cerca de 20.000 contos de réis. Com 200.000 réis compravam-se 10 vacas.
Podemos ver nessa história a mão de Deus guiando Sua igreja e cuidando de seus
líderes e de suas famílias. Ofil e Zacarias faleceram há alguns anos, com idade bastante
avançada, firmes na promessa do retorno do Senhor Jesus.

Alfredo Barbosa: de peão a Pastor


Aos quinze anos de idade, depois de passar seis meses sendo alfabetizado na es-
cola de uma fazenda na região, Alfredo voltou às lides do campo, onde morava com
sua irmã Belmira e o cunhado Arthur Fernandes. Ali voltou a fazer o que sabia: domar
cavalo, cerca de aramado, rachar aroeira... trabalho duro de sol a sol.
Foi numa manhã de 1929, quando Alfredo, já com 21 anos, reservou um dia para
ir a Campo Grande. Da fazenda Caçadinha, foi com seu cavalo até um bolicho na
estrada, onde esperava pegar carona em algum caminhão que ali passasse. Enquanto
estava esperando chegou um “fordeco”, um Ford 1929, também chamado de “pé de
bode”.
No carro estavam Ernesto Matias, dirigindo, o Pr. Max Rhode e o recém-chegado
Pr. Godfredo Ruf, diretor de Ação Missionária, enviado pela União Sul Brasileira.
Pararam para pegar informações com Alfredo e se apresentaram. Estavam procurando
a fazenda Caçadinha, onde sabiam existir alguns interessados e pessoas preparadas
para o batismo, segundo haviam informado os colportores Antônio de Souza e Egydio
Machado.
Alfredo conta que sentiu uma enorme vergonha de seu revólver 38 na cintura, ao
saber que se tratava de pastores.

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a - Quando vi aqueles homens, com “cara de santos”, fui virando de lado, fui fican-
s do torto. Tudo para não verem a arma na revolvera - contou posteriormente.
Usar revólver na cintura era algo natural naquela época, e naqueles matos sem
fim, salpicados de animais selvagens, quem não usava “não era homem”.
Não obstante, depois daquele encontro e da vergonha que sentiu, Alfredo tirou o
revólver da cintura, pendurou em um prego em seu quarto e nunca mais usou.
, Aqueles homens se ofereceram para levar Alfredo a Campo Grande de carro,
- mas pediram antes que os guiasse até as pessoas que procuravam. Foram até a fazenda
a “Caçadinha”, onde realizaram o batismo de Belmira, irmã de Alfredo, e de seu cunha-
do, Arthur Fernandes. Alfredo já havia conhecido um pouco da fé adventista, mas
s naquele dia apenas assistiu ao batismo, pois achou que não estava preparado.
e Os visitantes também queriam conhecer a família de Jovina Assunção, filha de
Gabriela, que já era batizada e morava na fazenda Santa Luzia. Alfredo sabia onde
moravam e como chegar lá por uma estrada de boiadeiro, caminho traçado e familiar
a um tropeiro. Levaram um dia nessa viagem, tendo que pernoitar no seu destino
- quando chegaram.
m Alfredo, um tanto intratável, não aceitou o convite para entrar na casa, permane-
r cendo embaixo de uma figueira. Jovina tinha uma filha de 16 anos que já era batizada
e, conhecendo a mensagem adventista desde pequena, orava para que Deus enviasse
a um homem diferente para um dia se casar.
a - Não quero me casar com um “grosso”, um “guascas”, com “paiero” na boca,
o com revólver na cinta. Quero me casar com um homem cristão, que lê a bíblia, faz
e oração, canta hino. Senhor, arranja um jeito, porque aqui no mato é só desses que
aparecem.
o Áurea tinha um rebanho de ovelhas de onde tirava lã e confeccionava baixeiros,
. uma espécie de trançado de lã, integrante dos arreios, muito usados na montaria para
o selar os cavalos. Assim os viajantes, mercadores que ali passavam para comprar gado e
s levar para São Paulo, frequentemente a procuravam para comprar os baixeiros.
o

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Fazenda Sempre Alegre. Da esquerda para a direita: Max Rhode, Os Assunção: Bráulio,
Juvena, Áurea e Jovina. Ernesto Matias e Alfredo Barbosa. O Pr. Godfredo Ruf tirou a foto.

Na viagem para Campo Grande, Alfredo foi junto, de carona. O Pr. Ruf falou
com Alfredo sobre o Colégio Adventista Brasileiro e como lá ele poderia trabalhar na
agricultura, ou com o gado, e nas férias teria a possibilidade de colportar para se man-
ter. Estudar era tudo que Alfredo queria. Mas Ernesto Matias arrazoou que talvez ele
devesse se preparar um pouco mais para depois ir ao Colégio Adventista.
Vivendo naqueles rincões e praticamente sem oportunidade de estudos, tímido
como era, talvez não estivesse ainda preparado para ir. Ademais, ainda não possuía
documentos pessoais. Seu primeiro documento foi a certidão de reservista. O tempo e
a convivência no quartel talvez tenham contribuído para sua melhor adaptação futura
no Colégio, além do que, ao ir para o exército pôde conseguir seus documentos de
identificação. E assim foi. Serviu o exército, mas antes sua vida teve sua guinada de
180 graus.
No curto tempo entre o batismo da irmã, cunhada e tios e o tempo de apresentar-
se ao exército, Alfredo participou de um pôr do sol com a família, em uma sexta-feira.
O grupo de adventistas começou a cantar o hino “A Última Hora”. Ao cantarem o
coro: “Meu amigo, hoje tu tens a escolha, vida ou morte, qual vais aceitar? Amanhã
pode ser muito tarde, hoje Cristo lhe quer libertar”, Alfredo foi tocado pelo Espírito

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Santo e sentiu que Deus falava com ele através daquele hino. Em seu coração, se en-
tregou a Deus naquele instante, decidiu ser fiel aos mandamentos de Deus, custasse o
que custasse, e teve a certeza de um Salvador que o amava e poderia dar-lhe um futuro
mais promissor, que a lide com animais no mato não podia.
Assim, quando Alfredo foi servir ao exército, conhecendo um pouco sobre as
doutrinas da igreja, levou consigo a Bíblia e o livro “Nossa Época à Luz da Profecia”.
Conseguiu também uma “Revista Adventista” e logo já estava estudando a Bíblia e
lendo artigos da revista para um colega. Enfrentou provas difíceis quanto à guarda do
sábado, mas foi fiel e conseguiu dispensa, quando podia ir para alguma mata tranquila,
estudar melhor a Bíblia e outras literaturas adventistas.
Saindo do quartel, a forte chuva que caía não foi suficiente para atrasá-lo na bus-
ca de seus sonhos: ir estudar no Colégio Adventista Brasileiro. Rapidamente se dirigiu
ao “portão de ferro”, local onde hoje é a Av. Bandeirantes esquina com a Rua Salgado
Filho, a fim de pegar uma carona para a fazenda Caçadinha. Lá chegando, logo arru-
mou um dinheiro emprestado, a ser pago com a venda de uma pequena propriedade
que tinha como herança.
a - Juntei tudo que tinha, deu 3 contos de réis, e fui para o Colégio - contou
Alfredo.
e Chegou ao Colégio Adventista e com o dinheiro que levou pagou o primeiro ano
de estudo. Mesmo tendo que frequentar a quarta série, com crianças menores, não se
importava.
- Tenho bastante idade, mas não sou velho demais para aprender! Finalmente,
e aos vinte e três anos de idade estou numa escola, uma escola de verdade! E, ainda por
cima, numa Escola Adventista! - pensava Alfredo.
e Com boas notas, ao terminar o quarto ano, prestou os exames do quinto e foi
e logo promovido ao sexto. Durante as férias do final do ano, trabalhou na fazenda do
colégio para conseguir o estipêndio do ano seguinte, mas os fundos não eram suficien-
tes. Decidido a colportar nas férias do verão seguinte, procurou o diretor de colporta-
gem da União Sul Brasileira, mas os diretores acreditavam que Alfredo não era talhado
para a colportagem. Poderia ser um fracasso.
- Tenho confiança e creio que serei bem-sucedido. O Senhor me deu saúde e
o uma dose extra de perseverança. Sinto a necessidade de ter a experiência do contato

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com outras pessoas. Isso é parte do meu preparo para o ministério - argumentou ele.
Impressionado com a insistência de Alfredo, o diretor da colportagem passou às
suas mãos as ofertas do livro “Vida de Jesus” e da revista “O Atalaia”. De 1933 a 1937
Alfredo colportou nas férias. Estudou e sempre conseguiu alcançar o seu estipêndio.
Dois anos após ter chegado ao colégio, Áurea também foi estudar no CAB. Os
dois se encontraram e firmaram uma amizade que depois se transformou em namoro.
No início de 1937 se casaram. Assim, Alfredo cursou seus dois últimos anos já casado.
Ao se formar, já tinham recebido seu filho primogênito, Nelson.
Antes do final do ano, os colegas de turma de Alfredo estavam sendo chamados
para trabalhar na obra, mas ele ainda não havia sido chamado. Acreditando que Deus
tinha um plano para sua vida e quanto já o havia conduzido até ali, Alfredo orou ao
Senhor, dizendo:
- Meu Deus, o Senhor conhece o meu coração e sabe do meu desejo de servi-
-Lo onde quer que for. Agora, Senhor, se quer me usar em Seu trabalho, dá-me uma
oportunidade. Se o Senhor for à frente, pode colocar desafios, pessoas difíceis de se-
rem alcançadas. Pode me enviar para lugares inóspitos, de difícil acesso. Eu só quero
trabalhar para Ti.
Depois da formatura, já quase perto de partir, o Presidente da União mandou
chamar Alfredo e informou que havia um voto para que fosse trabalhar em Cuiabá,
norte do Mato Grosso. Era realmente um desafio, pois em Cuiabá quase não havia
presença adventista e tudo estava por ser feito. Alfredo Barbosa foi o primeiro pastor
adventista brasileiro e natural do estado a trabalhar em solo mato-grossense.
Durante 4 anos o Pr. Alfredo trabalhou em Cuiabá. Quando foi transferido dei-
xou funcionando uma escola adventista e um templo construído em uma área central,
com cerca de sessenta adventistas envolvidos no trabalho da igreja onde congregavam
mais de 100 pessoas.
Em Cuiabá, também teve o desafio de levar os Cavaliere ao batismo, como ante-
riormente relatado. Em sua época iniciou-se também o evangelismo em Várzea Gran-
de.
Alfredo foi transferido em 1943 para Corumbá. Ali trabalhou mais 3 anos em um
prédio alugado, como igreja. Quando já haviam conseguido um terreno para construir
uma escola e casa pastoral, tiveram que desviar a atenção para dificuldades maiores.

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Precisaram procurar ajuda para Áurea, que tinha o corpo ardendo como que em cha-
mas, acometida de “fogo selvagem”.

,
Áurea e Alfredo com o bebê Nelson e o sobrinho Saul
m

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6
FOGO SELVAGEM

A pós procurarem médicos em Corumbá e usarem as pomadas e vitaminas


D receitadas para Áurea, as bolhas, diagnosticadas como eczema, agora
tomavam conta de seu abdômen e costas. Elas persistiam e se espalhavam para outras
partes do corpo. Sem acharem um dermatologista na região, e sem um minuto de des-
canso por conta do ardor constante que atormentava Áurea, decidiram buscar ajuda
em Campo Grande.
Foram quinze horas de viagem no trem que partiu às seis horas da manhã. Alaíde,
uma moça responsável, da igreja, ficou com os quatro filhos. Ao chegarem a Campo
Grande, imediatamente foram procurar um médico de confiança. O diagnóstico dado
foi que se tratava de um eczema persistente, mas algumas injeções resolveriam em
cerca de uma semana.
No entanto, isso não ocorreu. Áurea sentia como se tivesse um ferro em brasa
sobre o seu estômago e costas. Começou a temer o pior. Conhecia alguns casos de fogo
selvagem e começou a desconfiar que poderia ser ela, a tão temível doença sem cura,

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que logo levava as pessoas à morte.
- Eu sei o que você está pensando, Áurea - disse Alfredo. Por favor, não deixe
esse pensamento perturbar sua mente! Deus nunca iria permitir que você estivesse
com fogo selvagem. Somos seus servos e estamos em Suas mãos. Ademais, você vive
de acordo com os princípios de saúde...
- Sim, eu sei - respondeu ela - mas Jó foi melhor do que eu e alguns pensam que
foi fogo selvagem que ele teve...
Novamente os dois ajoelharam-se e dedicaram a vida à causa de Deus. Ficaram
certos do cuidado do Senhor. No entanto, duas semanas se passaram e o tal “eczema”
não regredia, só aumentava.
Decidiram, então, não esperar mais e buscar ajuda mais especializada em São
Paulo, 1.000 quilômetros distante dali. Mas, a preocupação em deixar as crianças
muito mais longe, era grande. Áurea lembrou-se da fama que “Águas Calientes”, na
Bolívia, eram águas minerais que podiam curar qualquer enfermidade de pele. Havia
muitas histórias convincentes de cura, e cura pela natureza! Assim poderiam ir para
casa primeiro, ver as crianças, depois ir para a Bolívia.
Partiram em outra dolorida e incômoda viagem, e puderam ficar com a as crian-
ças um pouco de tempo. Nelson, o mais velho, já estava com 8 anos de idade e ajudava
a cuidar das três irmãs mais novas, Gilda, Gília e Noemi.
Com as dores da esposa aumentando, Alfredo tomou logo comida, roupa, uten-
sílios de cozinha, remédios, redes, tudo que precisaram na selva para onde iam e par-
- tiram em um trem mais rústico, somente com bancos de madeira, em outra longa
viagem. Foram 200 quilômetros percorridos em longas quatorze horas de viagem.
Ao chegarem, tarde da noite, deviam descarregar tudo nos poucos minutos que o
, trem ficava parado. Quase à exaustão, Áurea já estava chegando ao desespero. O trem
logo partiu, deixando-os sozinhos em uma área deserta, em plena escuridão da mata. O
o que Alfredo achou foi um rancho coberto de palha, abandonado, onde armaram suas
m redes, oraram e dormiram.
Ao raiar do dia, Alfredo foi procurar as “Águas Calientes” e outro rancho, onde
pudesse deixar sua esposa próximo do esperado tratamento. Com muitas dores e difi-
culdade, Áurea foi carregada e, após muitas paradas, duas horas depois chegaram ao
rancho onde ficariam. Alfredo voltou para buscar a bagagem. Mal se alimentaram e

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Áurea queria entrar na água quente o mais rápido possível, para obter alívio.
Alfredo ajudou-a a tirar as roupas, que saiam junto com a pele que estava gru-
dada. Como Jó em sua aflição, Áurea tinha o corpo ferido da cabeça aos pés. Ao
chegarem às águas, ele orou para que o milagre de Naamã no rio Jordão pudesse se
repetir ali. Ela foi colocada na água que teve um efeito anestésico. Normalmente as
pessoas não suportavam o calor das águas por mais de 10 minutos. Mas ela pediu para
que fosse deixada ali, pois sentia grande conforto. Não demorou muito para que des-
maiasse. Esfriando um pano com água, o esposo aplicou sobre sua testa e ela recobrou
a consciência.
Ao sair da água as dores aumentaram e, à medida que o corpo secava, as feridas,
ressequidas, rachavam. Acreditando que o tratamento ajudaria, persistiram com dois
banhos quentes por dia. Mas logo os moradores da região souberam e pensando tratar-
se de uma doença contagiosa, boicotaram qualquer ajuda e contato.
Dormir na rede se tornou algo insuportável para ela. Não dava para dormir es-
ticada, grandes bolhas de água se formavam e vazavam o tempo todo, as excreções,
ao passarem pelo cobertor de lã e pela rede, formavam poças na terra batida. Após 10
dias de banhos, as dores não diminuíam e Áurea começou a ter febre e se angustiar.
Uma das pragas da região era o carrapato preto, cuja picada doía e transmitia
outras doenças. Havia também outros insetos, e aquele esposo aflito começou a sus-
peitar que a febre de sua esposa podia ser malária. Foram 4 dias de febre e calafrio, o
que fez suspenderem os banhos e, para piorar, começou a esfriar e chover. Perceberam
o quanto estavam sem lar. Pensando estar chegando seu fim, Áurea pediu para ir pra
casa morrer perto dos filhos.
Com muita dificuldade de conseguir transporte para ir e voltar, Alfredo foi até
uma cidade distante, a mais próxima dali, conseguir pomadas e antibióticos. Nesse
tempo, ela ficou sozinha e imóvel em sua posição encurvada, por cera de 8 horas.
Tendo decidido voltar para Corumbá, enviaram carta às irmãs da igreja para vi-
rem ajudar, uma vez que a locomoção de Áurea estava quase impossível. A mensagem
demorou quase uma semana para chegar e logo algumas irmãs vieram e puderam vol-
tar para Corumbá. A aparência de Áurea causava espanto nas pessoas. Na difícil via-
gem, os passageiros do trem tomavam dela a maior distância possível e na alfândega,
em Corumbá, os policiais rapidamente a dispensaram da revista.

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Ao chegar em casa, os filhos ficaram assustados e não reconheceram a mãe. En-
quanto Alaíde cuidava de Áurea, Alfredo foi buscar os médicos da cidade. Havia en-
contrado um folheto de quarenta e oito páginas intitulado “Fogo Selvagem”, do Dr.
e João de Paula. Não queria acreditar, mas Áurea só poderia estar com aquela doença.
Sabia que em São Paulo estavam pesquisando sobre essa enfermidade e logo buscou
um jeito de levá-la de avião. Antes, porém, teve que enfrentar muitas dificuldades,
- pois até no último momento os pilotos fizeram de tudo para não embarcá-la, temendo
u o contágio da doença.
Com muita oração, conseguiram permissão para embarcar. Antes de ir para São
, Paulo, Áurea passou cerca de um mês em Águas de Lindoia, próximo a Campinas,
s mas o tratamento com águas medicinais, não fazia a doença regredir e estava causando
uma reação desfavorável.
Até que ao chegar a São Paulo, no Hospital Adhemar de Barros, Áurea recebeu
- o diagnóstico derradeiro, dado pelo próprio Dr. João de Paula, autor daquele panfleto
, encontrado por Alfredo em Corumbá: fogo selvagem.
Conseguiram ir para o hospital Adhemar de Barros, na esperança de terem en-
contrado finalmente o local certo, onde a doença seria tratada de maneira definitiva
até a cura. Junto com outros tantos pacientes de fogo selvagem, que padeciam muito,
- Áurea ficou ali por pouco tempo, pois, sendo de Mato Grosso, alegaram que o hospital
o não tinha vagas suficientes nem para atender os pacientes do estado de São Paulo,
m então não podiam receber pessoas de outras partes do País.
Tendo conseguido ficar no hospital por um tempo, em uma tenda do lado de fora
e depois em uma maca na enfermaria, passou ali alguns dias. Alfredo procurou os mé-
dicos para saber como seria o tratamento e quais eram as esperanças de cura, somente
e para ser desenganado quanto à possibilidade de cura.
Ali era mais um lugar de pesquisas, que na realidade acabava amenizando um
- pouco os sofrimentos dos últimos dias de vida dos penfigosos. Alfredo engoliu seco.
Não poderia falar isso para Áurea, e passou a considerar a sombria ideia de que iria
mesmo perder sua esposa. Precisava tirá-la do hospital e buscar seus filhos para esta-
rem perto da mãe talvez em seus últimos dias.
Conseguiu deixar Áurea na casa do amigo Ernesto Matias, que neste tempo havia
se mudado de Campo Grande para o Capão Redondo, em São Paulo, para que sua

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filha, a “Amandita”, pudesse continuar seus estudos no Colégio Adventista Brasileiro.
Seus planos eram: ir em um avião do exército até Campo Grande, de lá conseguir
uma condução rumo à fazenda dos familiares de Áurea, para vender uma pequena pro-
priedade, a fim de saldar algumas dívidas, e só então ir buscar os filhos em Corumbá,
para levá-los para junto da mãe antes que fosse tarde demais. Mas os planos de Deus
eram outros.
Na última hora, soube que o avião estava lotado, não havia vaga para ele. Atra-
sou a viagem um dia, indo de trem. Durante o percurso soube que aquele avião havia
caído. Deus estava, sim, com ele. Chegando a Campo Grande não havia condução
alguma que o levasse à fazenda. Teve que esperar mais quatro dias ali. Ao ir aos Cor-
reios, no final de uma tarde, Deus providencialmente colocou-o diante de uma mulher
curada do fogo selvagem.
Na hora não sabia que ela havia sido curada dessa doença, nem o que havia feito
com que aquela mulher estivesse escurecida, com a pele negra. Mas Deus suscitou na-
quele pastor um interesse, que Alfredo não conseguia explicar, em saber o que aconte-
ceu com a pele daquela mulher. Quase não conseguiu acreditar quando, ao conversar
com seu esposo, soube que ela havia sido curada do fogo selvagem com os remédios
fabricados por um senhor que morava em Sidrolândia.
Finalmente, Alfredo conseguiu o remédio que curou definitivamente sua esposa.
Não foi buscar os filhos para ver a mãe morrer, mas correu para salvar a vida de Áurea
em São Paulo, com o precioso remédio conseguido.
Em meio ao deserto da vida de Áurea e seu esposo, tendo passado pela mais dura
prova de suas vidas, Deus estava preparando o caminho para, por meio da dura experi-
ência e da compreensão de que tamanha dor e sofrimento poderiam ter fim com a cura
da doença, darem início a uma das maiores obras de ministério médico do mundo: o
Hospital Adventista do Pênfigo.

Hospital Adventista do Pênfigo


Uma das mais notáveis conquistas na área da Medicina no mundo, foi a cura do
fogo selvagem que o Hospital Adventista do Pênfigo desenvolveu a partir da fórmula
conseguida por Alfredo Barbosa, com Isidoro Jamar, em Sidrolândia-MS.
Alfredo Barbosa, procurando incansavelmente cura para sua esposa, encontrou

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Jamar, um ex-farmacêutico que havia cursado alguns anos de Medicina em Buenos
r Aires, saindo às pressas da Argentina por questões políticas e pessoais. Estava em Si-
drolândia, vivendo em uma cabana decrépta, de onde se arrastava regularmente para
o bar local, para consumir sua renda no vício do álcool.
s Depois de chegar de tão longe, Alfredo não iria embora sem levar um pouco do
remédio para a esposa. Após se certificar de que não se tratava de um feitiço, conven-
ceu o embriagado Jamar a fazer uma grande quantidade por 500 cruzeiros.
Com dois litros do bálsamo feito de piche, Alfredo voltou para casa e aplicou a
o pasta preta no corpo da esposa. Era como se estivesse colocando fogo em sua pele. As
reações de Áurea convenceram-no de que ela morreria, mas, três dias depois, estavam
r certos de que ela se recuperaria. Em alguns meses, Áurea estava totalmente curada.
Na mente de Alfredo, havia um desejo pungente: aprender a fórmula e ajudar ou-
tras pessoas. Por conta própria, começou a tratar os doentes, mas não demorou muito
até se espalhar a notícia de que havia cura disponível para uma das mais repugnantes
doenças brasileiras. Muitas pessoas carentes de recursos, acometidas de fogo selvagem,
r vieram procurar o Pr. Alfredo para serem tratadas e curadas. Compadecido com o
s sofrimento dessas pessoas, ele não deixava que nenhuma voltasse sem ser atendida. O
tratamento durava vários meses.

Doentes com fogo selvagem tratados depois de Áurea

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Alfredo passava a pomada com as mãos, da cabeça aos pés. A reação do doente
era de grande sofrimento. Depois, de 15 minutos à meia hora, obtinha-se o alívio com-
pleto da dor e vinha o sono. No dia seguinte realizava-se o banho de imersão em chá de
eucalipto, limpando bem as crostas da pele. Alguns minutos após o banho, a pele res-
secava. Depois de alguns meses de tratamento sistemático a pele estava curada. Com
essa fórmula, Áurea e Alfredo ajudaram a curar centenas de pessoas, que passaram a
procurá-los em Campo Grande, São Paulo e Santa Catarina.
Quando o Pr. Alfredo foi transferido para Santa Catarina, por algum tempo não
houve quem atendesse os doentes que procuravam tratamento do fogo selvagem. As
tentativas de descobrir a fórmula secreta com o Sr. Jamal sempre terminavam em
grunhidos que não revelavam muito e em promessas de que quando os adventistas
concluíssem o hospital ele trabalharia para eles.
Os obreiros estavam frustrados, mas a natureza se encarregou da situação. O
corpo de Isidoro, tomado pelo álcool, toleraria por pouco tempo o sofrimento que ele
costumava infligir sobre si mesmo. Ao perceber que a morte estava próxima, divulgou
a informação aos adventistas que estavam cuidando dele. Sem perder tempo, estes pre-
pararam o remédio e fizeram experiências que comprovaram a veracidade da fórmula.
Depois daquela primeira fórmula, as pesquisas e a prática fizeram com que ela
passasse por dezenas de modificações, procurando substituir substâncias que causavam
efeitos colaterais indesejáveis.
O secretário de saúde da época, temendo que a doença fosse contagiosa, exigiu
que o tratamento fosse feito em um local distante da cidade. O casal Ida Baís e Bernar-
do Rodrigues doou uma área de 39 ha, situado há 12 quilômetros do centro da cidade.
Ali foram construídas as primeiras instalações de um centro de recuperação para os
doentes.
Era um barracão rústico. Havia uma casa simples na localidade, onde morou por
algum tempo a família do professor Paulo Rockel. Sua esposa ajudava no trabalho de
enfermaria e em outros trabalhos necessários. Como essa casa e o hospital estavam
afastados da cidade, cercados por matas e pastos, e a casa tinha apenas os espaços para
portas e janelas, que ficavam totalmente abertos, em uma noite, a mãe acordou com
um barulho e foi ver seus filhos pequenos que dormiam no quarto ao lado, deparando-
se com um lobo próximo às camas deles.

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e Em 18 de março de 1951, a Missão Mato-Grossense lançou a pedra fundamental
- na terra onde construíram o pequeno hospital. Neste mesmo ano, foi chamado o médi-
e co e pastor Edgar Bentes Rodrigues. Ele era prefeito em Alenquer-PA quando aceitou
- a mensagem adventista levada por um colportor. Foi batizado em 1945.
m Deixou o honroso cargo e foi para São Paulo fazer Teologia. Chamado para le-
a cionar no CAB, decidiu, porém, aceitar outro chamado: ser um médico pioneiro no
Hospital do Pênfigo, levando lenitivo aos doentes, mas com tudo para ser construído.
Depois de um ano de funcionamento, ele relatou sucesso de 80%. Com o tempo, a
s propaganda sobre o lugar chamou a atenção do governo para o hospital.
m Os adventistas não mantiveram a descoberta em segredo. Eles a registraram na
s Universidade Federal de Minas Gerais, onde obtiveram acesso a laboratórios de pes-
quisa, a fim de desenvolver o remédio.
Edgar sentiu o forte desejo de compartilhar seus achados com a classe médica.
e Depois de entregar um artigo à Associação Médica de Minas Gerais, ele publicou-o
u na Revista Brasileira de Medicina, no número de abril de 1952. Outros médicos logo
- passaram a administrar o tratamento do fogo selvagem. Três anos depois, Luis Rodri-
gues de Souza, dermatologista brasileiro, informou aos colegas especialistas sobre o
a tratamento adventista do Pênfigo, nome técnico da doença, por meio da circulação de
m 3.000 exemplares de um relatório de 96 páginas de sua pesquisa a respeito dos resulta-
dos no centro de recuperação.
u Após três anos de experiência com o tratamento, Rodrigues relatou que tratara
de 120 casos no centro e coordenara mais 15 a distância. Desses pacientes, 38% foram
. completamente curados, 20% progrediram a ponto de voltar a trabalhar, 26% continu-
s aram em tratamento, 6% reagiram negativamente e 7% foram casos de óbito.
Por haver mais paciente do que a capacidade máxima do pequeno hospital ad-
r ventista, Rodrigues e seus colegas logo planejaram ampliar o estabelecimento, mudan-
e do-se para mais perto da cidade de Campo Grande. A comissão da Divisão aprovou a
m proposta em 1955.
O progresso foi lento, porque era difícil obter recursos. Cinco anos depois de
m receber a aprovação, a União Sul Brasileira tomou 1.000.000 de cruzeiros emprestados
da tesouraria da Divisão e doou mais 500.000 para o programa de reconstrução. Essa
medida financeira extrema trouxe resultados e, no mesmo ano, começou a construção

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do novo local.
Em 1961, as três uniões brasileiras recolheram duas ofertas especiais para o hos-
pital. Nas reuniões de fim de ano, em dezembro de 1961, a Divisão votou um subsídio
mensal de 200.000 cruzeiros para a instituição. A despeito desse apoio, a construção
ainda sofria atrasos. Novos planos foram aprovados pela Divisão em 1961, e a oferta do
décimo terceiro sábado de dezembro de 1966 foi destinada ao projeto.
Também chegou o apoio de outras fontes. No final de 1959, Dr. Günter Hans
assumiu a função de Diretor-clínico do hospital. Com sua dedicação o hospital desen-
volveu-se em vários aspectos. Foi provido com água potável, energia elétrica, telefonia
interna e externa, asfaltamento interno, viaturas, horta, pomar e gado leiteiro.
O Dr. Günter Hans impressionou tanto o cônsul alemão em São Paulo, com seu
apelo por um meio de transporte melhor, que o diplomata doou uma Kombi “Volkswa-
gen” nova, ano 1962. O cônsul mesmo dirigiu de São Paulo a Campo Grande para
entregá-la.
Outros contatos também geraram resultados. Uma organização filantrópica da
Alemanha Ocidental doou 50 mil dólares para a reconstrução do centro de tratamen-
to, e mais 13.000 para conectá-lo à energia elétrica. O reconhecimento do hospital foi
projetado no cenário nacional e internacional. Além disso, chegava apoio de convê-
nios com os governos federal, estadual e local, que, em 1975, eram responsáveis por
75% da renda do hospital.

Dr. Günter Hans e o automóvel doado pelo consulado alemão

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Em abril de 1971, 20 anos após a fundação do centro, foram inauguradas as novas
- instalações de pesquisa. Em cooperação com a Universidade Federal do Mato Grosso,
o médicos e técnicos do hospital se dedicavam à descoberta das causas do fogo selvagem.
Este ministério médico adventista pôde realizar uma contribuição histórica ao
o bem-estar da Nação, fato reconhecido pelo Governo Federal do Brasil. Em 19 de abril
de 1978, o ministro do interior conferiu à Igreja Adventista do Sétimo Dia uma meda-
lha de honra ao mérito, homenagem advinda principalmente dos benefícios resultan-
- tes das realizações do Hospital Adventista do Pênfigo.
a De sua origem até hoje, nenhum paciente de fogo selvagem foi recusado. Mesmo
aqueles que não podiam pagar eram tratados. Esta era uma política que fazia uma
excelente obra de caridade, mas que ameaçava o sucesso financeiro da instituição.
Era necessário depender de recursos externos. No entanto, mesmo com essa situação
financeira precária, o hospital conseguiu ampliar seu total de leitos já em 1966.
Em 1975, sob a administração do médico João Kiefer, outra expansão foi iniciada,
mas a construção logo precisou ser interrompida por insuficiência de fundos e pelo
impacto prejudicial da economia do País no valor da moeda.
i A sorte do hospital mudou em 1982, quando Amanda Simpson, uma menina
- adventista do sétimo dia, de oito anos de idade, de Manchester, Inglaterra, chegou
r para ser tratada. Desde os três meses, ela vivia atormentada por uma doença de pele
que desafiava os especialistas da Inglaterra e Nova York. Sem qualquer esperança de
cura, depois que os médicos desistiram, Amanda e sua mãe estavam totalmente deses-
peradas. Foi então que um novo ministro chegou para assumir o pastorado da igreja
de Manchester.
O novo pastor era do Brasil. A primeira olhada em Amanda Simpson deixou cla-
ro para ele que a menina deveria ir para o Hospital Adventista do Pênfigo. Em pouco
tempo conseguiu que ela e sua mãe, Marlene, viajassem para o Brasil. Em menos de
dois meses, o Dr. João Kiefer diagnosticou a doença de Amanda e curou-a. O proble-
ma da garota não era o fogo selvagem, mas uma alergia cutânea que o hospital estava
preparado para tratar.
Antes de voltar para a Inglaterra, Amanda apareceu num popular programa bra-
sileiro de televisão com sua mãe e com o Dr. Kiefer, o administrador do Hospital do
Pênfigo. Quando a entrevista terminou, todo o País sabia que o hospital, o mesmo que

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havia restaurado a saúde de muitos brasileiros, enfrentava uma crise financeira e corria
o risco de ser fechado. Marlene Simpson lembrou que durante as seis semanas de sua
permanência no hospital a eletricidade havia acabado 40 vezes.
Dentro de poucos dias, o hospital recebeu uma carta de uma menina de nove
anos de idade, que colocou suas economias de 30 centavos num envelope e escreveu
que não queria que o Hospital do Pênfigo fechasse. Ela assinou apenas como Car-
la. Essa foi a primeira de uma série de doações, que incluíram dinheiro, colchões de
água, roupas de cama, alimentos, importantes itens de melhoria, um novo veículo
institucional e equipamento para manter a propriedade, a construção e o serviço de
alimentação. Também chegaram novos pacientes. Sem planejar, Amanda Simpson
salvou o hospital.
A história de Amanda chegou a Bihar, na Índia, onde a menina Cecília Sunita
Guria, aos sete anos de idade agonizava diariamente em razão de uma doença de pele
que a fazia parecer uma adulta idosa e enrugada. Por meio de amigos nos Estados Uni-
dos, seus pais entraram em contato com o Hospital do Pênfigo, que enviou remédios
que levaram alívio à garota, mas não a cura. Os funcionários indianos da Associação
Geral ficaram sabendo do caso dela. Em pouco tempo, com ajudas financeiras, Cecília
e sua mãe viajaram para o Brasil. Quatro meses depois a pele da menina estava limpa,
e o Hospital do Pênfigo declarou que ela estava pronta para voltar para casa.
Em parte por causa da experiência de Cecília, a ADRA, Agência Adventista de
Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, que já havia colaborado com o Pênfigo,
providenciou recursos para melhorar os quartos de tratamento do hospital.
Em 1981 a incidência do pênfigo diminuiu, em decorrência dos tratamentos ofe-
recidos pelo hospital. Desde o início, o propósito exclusivo do centro médico era cui-
dar das vítimas dessa doença dermatológica, mas o decréscimo de pacientes permitiu
que a instituição passasse a atuar no mercado geral de saúde, fazendo, inclusive, cirur-
gias. Antes do início do século 21, o Hospital Adventista se tornou um centro médico
bem estabelecido em Campo Grande, e o tratamento para o fogo selvagem passou a ser
apenas um de seus muitos serviços.
Embora o propósito da instituição fosse tratar vítimas do fogo selvagem, a nature-
za experimental do tratamento e o impacto sobre o bem-estar público ajudaram a con-
ferir reputação internacional ao hospital. Desde seu surgimento estava envolvido em

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pesquisas, mas não tinha recursos para se tornar um centro. Tornou-se proeminente,
em grande parte, por ter sido pioneiro em encontrar cura para as mazelas do fogo sel-
vagem que afligia o Brasil, mas também tornou-se um parceiro para muitas pesquisas,
tanto no País quanto no exterior.
u Dr. Günter Hans foi um dos organizadores do I Congresso Brasileiro sobre Pênfi-
go. Por causa do seu meritório serviço no tratamento do fogo selvagem, e de seu vasto
e conhecimento sobre a doença, a Universidade Federal do Mato Grosso contratou-o
o como professor de Dermatologia, função que exerceu até sua morte em 1991.
e O filho de Hans, Dr. Günter Hans Filho, também dermatologista, formado pela
mesma universidade, deu continuidade ao legado do pai, tornando-se um proeminente
pesquisador internacional sobre o fogo selvagem.

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MENSAGEIROS DA
COLPORTAGEM

“A obra daquele outro anjo”, como também é denominada a colportagem, foi


realizada em nosso estado por muitos colportores evangelistas efetivos, ocasionais e
estudantes. Depois de Egídio Machado e Antônio de Souza, alguns dos colportores
evangelistas foram Ludovico Martins, Alciro de Lima, Jerônimo Rocha da Cunha,
Jonas Teixeira, entre outros que vieram posteriormente.
Certa ocasião, Jerônimo Rocha foi designado para colportar na cidade de Rondo-
nópolis. A distância entre Campo Grande e Rondonópolis é de 450 quilômetros. Ao
dirigir-se para lá, montado em seu animal, levando sua carga de livros, atravessou o rio
Vermelho e trabalhou o território do município. Mas, antes de voltar, copiosas chuvas
causaram grande enchente no rio, impedindo que pudesse ser atravessado. Aquele
colportor, assim como todos os habitantes daquele lado do rio, ficaram ilhados, presos.
Sem ter como voltar de Rondonópolis, Jerônimo decidiu aproveitar o tempo ali
para o trabalho evangelístico. Em uma manhã, observando a enchente às margens do
rio, começou a conversar com pessoas que ali estavam. Alguns senhores reclamavam

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do barro acumulado, por isso Jerônimo aproveitou a oportunidade e disse:
- Mas o barro não é tão ruim assim, afinal nós fomos feitos de barro.
Os homens que nunca haviam ouvido falar sobre isso, ficaram curiosos e qui-
serem saber mais da história. Dessa forma, um grupo pequeno começou a estudar a
Bíblia naquela cidade e este foi o começo da igreja adventista em Rondonópolis, por
volta de 1947.
Desde o início da colportagem no estado, Mato Grosso era considerado um cam-
po promissor para venda de livros. Por isso, muitos estudantes do colégio adventista
procuravam a região para colportar nas férias. Entre os primeiros colportores estudan-
tes que vieram para Mato Grosso, estavam Alfredo Barbosa e Áurea Assunção. Anos
depois, vieram Lina de Souza, Lourdes Fernandes, Araci Assunção e Cecília Souza.
Vieram também teologandos, entre eles Joel Fernandes, Honório Perdomo, Sesóstris
César e Tércio Sarli. Viajavam em vagões de segunda classe, no trem da Noroeste do
Brasil, em bancos de madeira nada confortáveis, por mais de 24 horas até chegar a
Campo Grande.

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Alfredo Barbosa e companheiro
com livros para entrega – 1936
o

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Em 1948, o campo recebeu o primeiro diretor de colportagem, Saturnino Mendes.
Nessa época Clementino Albuquerque, Sérgio Cavalieri e Zacarias Fernandes entra-
ram na colportagem. Logo depois iniciaram Ulisses Pimentel e Sebastião Barbosa. Em
1949, a direção da colportagem começou a publicar o jornal “Arauto Matogrossense”,
inicialmente impresso em mimeógrafo e depois em tipografia.
Os colportores dessa época viajavam centenas de quilômetros em lombos de ani-
mais para vender seus livros no estado. Em 1959, Saturnino Mendes de Oliveira apo-
sentou-se e o Campo ficou mais alguns anos sem alguém para dirigir especificamente
a colportagem.

Colpoltores em Curso de Treinamento na Igreja de Campo Grande – 1949

Livros rejeitados espalham a mensagem


Por volta de 1945, o colportor Clementino Albuquerque viajava, montado em
seu animal, de Campo Grande a Poconé, percorrendo uma distância de cerca de 700
quilômetros. Dormia em fazendas, ou no meio da mata, quando não encontrava algu-
ma casa. Levava consigo rapadura e queijo, para suprimento em trechos mais distantes

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. e não povoados, onde não encontrava pouso e outro alimento melhor. Tendo o animal
- carregado de livros para vendas de pronta entrega, foram várias as vezes que ao atra-
m vessar rios com seu animal, necessitava, após a travessia, abrir os livros e espalhá-los ao
, sol para secarem por horas, a fim de estarem em condição de venda.
Vendeu muitas coleções de livros em Poconé. Elas eram compostas pelos livros
Patriarcas e Profetas, Conflito dos Séculos e Vida de Jesus. Uma dessas coleções foi
- vendida para um fazendeiro que nunca leu os livros. Ele decidiu mudar para São Paulo
e e, ao arrumar sua bagagem e pertences para levar, separou a coleção para jogar fora
ou queimar. Seu sobrinho, Ronaldo Freire, alfaiate, pediu para ficar com os livros e
começou a lê-los com interesse.
À medida que lia cada página, verificava os textos bíblicos citados e comparava-
-os com os textos de sua Bíblia. Cada página que lia trazia-lhe a certeza de que estava
completamente enganado em sua forma anterior de crer. Ao conhecer o mandamen-
to a respeito da guarda do sábado, criou uma forma particular de culto. Começou a
guardá-lo da meia noite de sexta-feira à meia noite do sábado. À meia noite de sexta,
reunia a família e fazia um culto de “início” do sábado. Apagava as brasas de seu ferro
de passar, que antes ficavam continuamente acessas, apagava seu cigarro de palha e, à
sua maneira, guardava o quarto mandamento. Então começou a ouvir:
- Essa religião não existe. Você está louco, inventou uma religião nova!
- Existe sim, está na Bíblia - respondia, mostrando as passagens que tratam da
guarda do sábado.
Pouco tempo depois, mudou-se para Cuiabá, mas continuou falando sobre os
mandamentos a quem encontrava, comprovando com os textos bíblicos. Não demo-
rou muito e naquela cidade alguém lhe perguntou:
- Então você é adventista?
- Adventista? Existe essa religião?
- Sim, eu sou adventista e quero que você conheça nossa igreja - disse aquele
senhor.
Ao chegar lá, Ronaldo Freire foi apresentado ao Pr. Edgar de Oliveira, que come-
çou a estudar com ele sobre a guarda do sábado de pôr do sol a pôr do sol e outras dou-
trinas bíblicas. Ronaldo tornou-se um grande evangelista leigo em Cuiabá e depois em
s Ponta Porã, para onde mudou algum tempo depois, levando muitas pessoas a Cristo.

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Aquele colportor faleceu sem conhecer essa história, e assim como outros dedicados
colpoltores conhecerá somente no Céu o resultado da mensagem que espalhou.

O anjo fechou a boca da onça


Noutra ocasião, Clementino estava viajando, e já era quase noite, mas não havia
conseguido encontrar nenhuma fazenda onde pudesse obter pouso e abrigo. Apeou
do cavalo e ajoelhou-se ali, à beira do mato, pedindo a Deus para tomar as rédeas e a
direção de seu animal para um lugar mais seguro.
Provando sua fé, o animal tomou, em uma bifurcação, o caminho que o levaria
para a margem de um rio, local onde as onças costumavam ir à noite para tomar água.
Entregou-se nas mãos de Deus e, já no escuro, amarrou as cordas do cavalo em uma
árvore. Armou sua rede, tomou sua Bíblia e, sob a luz da lanterna, leu Daniel 6:22:
“O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões e eles não me fizeram mal
algum”. Entregou mais uma vez sua vida na mão do seu Salvador, em oração, e dormiu.
No meio da noite foi acordado pelo relinchar e agitação de seu cavalo, procuran-
do escapar. Sentindo um frio congelante na barriga, ouviu passos de algum animal por
perto, quebrando folhas secas no chão. Era uma ou mais de uma onça. Com certeza
seriam presas fáceis daqueles animais ferozes. Agarrando-se às promessas divinas, em
silêncio ficou a clamar a Deus em oração. Depois de algum tempo, que deve ter pa-
recido uma eternidade, o cavalo foi ficando calmo e a noite voltou ao ruído tranquilo
dos grilos.
Mais uma vez Deus provou seu cuidado e amor para com aquele servo mensa-
geiro. Provou que Seus anjos acampam-se ao redor daqueles que O temem e os livra,
daqueles que, arriscando suas vidas, não mediam esforços para levar a palavra de Deus.
.

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s

r
a

,
Colportor Clementino Albuquerque - 1951
.

A partir da década de 1960 outros colportores licenciados e ordenados traba-


lharam em Mato Grosso, entre eles, Fernando Tubino da Silva, Marcelino Torquato
Arruda, Luiz Brito, Ildo Torales, Sebastião Silva, Josias Lima, Geraldo Rufino Araújo,
José Gonçalves, José Evangelista Braga, Melquíades Reis, Osmar Lima, Walter Mame-
de, Francisco Granja, Benjamim Soares de Oliveira.

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Na década seguinte, tivemos o Pr. Osvaldino Bonfim dirigindo a colportagem,
sucedido pelo Pr. Elói Miranda. Outros colportores desse período foram Antenor Lino
Macedo, Elias José de Lima, Hélio Porto, Ermelino Ramos, Arlindo Caetano, entre
outros. Através da “obra daquele outro anjo” milhares de livros e revistas com a men-
sagem da salvação foram espalhados por todo nosso estado e o resultado será visto na
eternidade.

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,
o
e
-
a

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EDUCANDO PARA
A ETERNIDADE

A trajetória histórica da Igreja Adventista no estado, como instituição, esteve


diretamente vinculada à abertura das escolas paroquiais. Para cada lugar
onde se planejou o plantio de uma igreja, plantou-se antes, ou concomitantemente,
uma escola paroquial. Assim foi em Lambari, em Três Barras, na igreja que iniciou jun-
to com o Hospital do Pênfigo, em Campo Grande, Cuiabá, Várzea Grande, Corumbá,
entre tantas outras.
O início da obra educacional no estado foi marcado por um notório espírito de
desprendimento e sacrifício. Os professores recebiam seus salários somente nos meses
em que os alunos estavam estudando. Nas férias, eles precisavam colportar ou procu-
rar outra forma de se manter, fosse como obreiros evangelistas ou em alguma função
no escritório da Missão.

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Início da Escola Adventista de Corumbá

Colégio Adventista Campo-Grandense


A primeira escola paroquial adventista do estado iniciou seu funcionamento em
1936, no mesmo ano em que a Igreja de Campo Grande (hoje Central) foi inaugurada
à Rua Barão do Rio Branco, esquina com a Rua Rui Barbosa. A primeira professora
dessa escola foi a senhora Feliza Mota.
Entre tantos dedicados professores, a professora Edy de Souza Alencar, sem dúvi-
da foi quem mais tempo dedicou-se à educação adventista no estado. Trabalhou como
professora e diretora muitos anos em Campo Grande e alguns anos em outras escolas
adventistas em Mato Grosso entre as décadas de 1950 até 1970. Seu trabalho foi mar-
cado por muita dedicação, seriedade e compromisso.

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Professora Edy Alencar e Haidée Lindqüist com alunos
Ao fundo, à direita, Pr. Oscar Lindqüist

A Missão Mato-Grossense reformulou o ensino em algumas escolas em 1973 e


esta Escola Adventista de Campo Grande passou então a denominar-se Escola Adven-
tista Vital Brasil quando, devido à Lei 5.692/71, começou a implantação gradativa do
“Ginásio”, iniciando com a 5ª série.
m Com a inserção das novas séries, o espaço físico da Rua Barão do Rio Branco, jun-
to à Igreja Central, tornou-se pequeno e novas instalações foram construídas. Assim,
a em fevereiro de 1975 foi inaugurada a sede própria à Rua Melvin Jones, 225, no Bairro
Amambaí. Ali, a primeira diretora foi a professora Haidée Lindqüist. Novas instala-
- ções, novo endereço e novo nome: Instituto Adventista Campo-Grandense. Em 1976
o houve a implantação da oitava série, completando, assim, o Ensino Fundamental.
s Antônio de Souza, o primeiro colportor do estado, adquiriu terras em Três Barras.
- Morava em sua fazenda e sonhava com um internato adventista funcionando naquelas
terras, educando e salvando a muitos naquela região. Um lugar onde os alunos traba-
lhassem para poder pagar seus estudos, como ele fez quando estudou no Seminário
Adventista Brasileiro, hoje UNASP-SP.
Assim, antes de seu falecimento, doou sua fazenda para a Missão. Não foi possível

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construir ali um internato, mas seu sonho não foi em vão. Com o dinheiro, a Missão
investiu na área onde funciona hoje o Colégio Adventista Campo-Grandense - CAC.
Em 1989, o Instituto Adventista Campo-Grandense mudou para as novas insta-
lações amplas e adequadas à Av. Cuiabá, 1311, no Jardim Leblon, uma área de apro-
ximadamente 5.000 metros quadrados.
Em 1990, o nome da escola passou a ser Centro Educacional Adventista Campo-
Grandense. Hoje o Colégio Adventista Campo- Grandense possui amplas instalações,
oferecendo desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Colégio Adventista Jardim dos Estados


Em Campo Grande, na década de 1970, a Igreja Central iniciou a construção
de seu novo templo à rua Cândido Mariano, tendo o Pr. Darcy Gorski como distrital.
Com a mudança da escola adventista da Central para o Bairro Amambaí, em
1975, a Igreja Central ficou sem escola. Mas a esposa do Pr. Darcy, professora Virgínia
Gorski, fez todo empenho para a abertura de uma escola adventista no novo endereço
da Igreja Central.
Em 1975, sob sua direção, iniciaram-se as atividades da escola, mantendo o mes-
mo nome da escola da Rua Barão do Rio Branco, Escola Adventista Vital Brasil, com o
oferecimento das quatro séries iniciais. A escola que se mudou para o Bairro Amambaí
teve seu nome alterado, como foi relatado anteriormente.
Em 1976, assumiu a direção dessa escola a professora Carmelita Cavalcante e,
durante esses primeiros anos, os desafios eram grandes. A escola teve poucos alunos e
poucos recursos didáticos.
No ano de 1980, a professora Cristina Lúcia Feitosa, recém- formada no magisté-
rio, foi convidada para a direção da escola. Mesmo jovem e iniciando sua experiência,
assumiu a direção e uma sala de aula, implantando a turma do “prézinho”. Em sua
gestão, a escola começou a aumentar o número de alunos, ano após ano, conseguindo
autonomia financeira nos anos seguintes, mesmo sendo pequena. Uma biblioteca foi
organizada, materiais didáticos foram adquiridos e um coral com 25 vozes foi formado
pela diretora em 1985.
Em 1987, assumiu a direção da escola a professora Eleni Wosokawa Wordell,
recém-formada em Educação pelo Instituto Adventista de Ensino - São Paulo. Foi um

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o período de muitas inovações e o número de alunos alcançou a capacidade máxima da
escola, 150 alunos.
- Em 1992 o nome da escola foi mudado para Escola Adventista Central de Campo
Grande. A diretora era Freny Garcia e nesse período a Associação Sul-Mato-Grossen-
se adquiriu uma área no bairro Jardim dos Estados para a construção da nova sede da
escola.
, A professora Cristina retornou à administração da escola em 1996. Nesse pe-
ríodo iniciou-se a 5ª série e, com as demais séries implantadas gradativamente, houve
a necessidade de alugar algumas salas do prédio ao lado.
Em 1998, a Associação adquiriu o terreno no Jardim dos Estados para a constru-
ção da nova sede da Escola Adventista Central de Campo Grande.
Em 1999, as escolas adventistas passaram a ser regidas por Referenciais Pedagógi-
cos e Regimentos Unificados, o que colaborou muito para a unificação e identificação
a específicas da Rede Adventista. A logomarca e a bandeira da educação adventista
o também foram atualizadas neste ano, fortalecendo sua identidade e imagem externa.
O coral da escola aumentou a cada ano, sendo um elemento de destaque. Sob a
- regência de Marly Peyerl, passaram a ser 3 corais, chegando a mais de 200 vozes. Par-
o ticiparam em vários eventos e lugares e gravaram um CD comemorativo aos 500 anos
do Brasil, cujo lançamento aconteceu em outubro de 1999, no Centro de Convenções
Rubens Gil de Camilo, projetando a Escola Adventista à sociedade campo-grandense.
Em 2000, essa escola passou a funcionar em seu atual endereço, à Rua Rio Grande
do Sul, 760, já com o nome de Colégio Adventista Jardim dos Estados - CAJE, tendo
neste ano também a abertura do Ensino Médio, com funcionamento do primeiro ano.
Hoje o CAJE tem mais 750 alunos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, e
, possui uma estrutura moderna e ampla. Seu desenvolvimento deve muito à visão de
a administradores da obra, do trabalho de professores e gestores do colégio, bem como
ao comprometimento e apoio de várias famílias da igreja, dentre elas, dos irmãos Hans.
i Outras escolas adventistas atualmente no Mato Grosso do Sul são: Escola Ad-
ventista de Mundo Novo, com funcionamento iniciado em 1980; Escola Adventista
de Miranda, fundada em 1968; Escola Adventista de Dourados, fundada em 1951;
, Escola Adventista de Corumbá, criada em 1944; Escola Adventista de Fátima do Sul,
criada em 1959.

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Como foi narrado, em nosso estado já tivemos um número maior de escolas paro-
quiais adventistas, sob a visão “para cada igreja uma escola”. Isso era possível quando
só se ofereciam as quatro séries inicias da escolarização, ou seja, a estrutura da escola
era definitivamente bem menos complexa que a realidade atual. Pela expansão da es-
colarização exigida em lei, entre outras contingências legais, as escolas paroquiais não
puderam continuar a existir e se manter naquele modelo inicial.
Na década de 1980, as escolas obtiveram significativo apoio financeiro de do-
ações contínuas da Golden Cross. Mas esse apoio foi suprimido na década de 1990,
quando a Golden Cross não teve à sua frente a direção do Dr. Milton Afonso. As
escolas adventistas de todo o Brasil necessitaram passar por uma reestruturação, em
busca de sua autonomia financeira. Isso resultou em uma redução significativa no
número de escolas.
Em Mato Grosso do Sul não foi diferente. Mas as escolas existentes hoje se
fortaleceram, atualizando-se face às novas exigências legais e outras contingências,
e hoje representam e honram o nome da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Acima de
tudo, participam ativamente em projetos de Evangelismo Integrado, e estão engajadas
na missão que marcou o surgimento, o crescimento e a existência desse movimento
profético em Mato Grosso do Sul e no mundo.

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a
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o

o
CRONOLOGIA
e
,
ADMINISTRATIVA
e

E m 1901, a igreja adventista mundial adotou a estrutura administrativa de


Associação Geral, União, Associação e Missão. As entidades chamadas “Di-
visão” foram criadas em 1913, dois anos antes da morte de Ellen White, e operam hoje
como extensões da Associação Geral. No Brasil, e em Mato Grosso do Sul consequen-
temente, as estruturas administrativas seguiram esta ordem cronológica:
1894 - Enviado pela Associação Geral, Frank Westphal chega à America do Sul
como primeiro obreiro oficial responsável por toda obra na Argentina, no Uruguai e
no Brasil.
1895 - Chega o primeiro pastor, Huldreich Graf, para atender o Brasil. Foi o
primeiro pastor ordenado a trabalhar em terras brasileiras. É criada a Missão Brasileira
da IASD, no Rio de Janeiro.
1901 - J. W. Wesphal, irmão mais novo de Frank Westphal, chegou à Argentina
como o primeiro pastor enviado pela Associação Geral à America do Sul, e assumiu a
superintendência da União-Missão Sul-Americana, assim denominada pela Associa-

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ção Geral.
1906 - A igreja alcançou o número suficiente de membros e condição financeira
necessária para ser elevada de União-Missão à União-Associação. Por volta de 1901,
quase metade dos adventistas da Argentina estavam concentrados em Crespo, mas
desde 1896 pastores e auxiliares haviam evangelizado pessoas em um raio de cerca
de 1.000 quilômetros. Os novos conversos surgiam inicialmente onde os colportores
haviam passado vendendo livros e revistas.
1910 - A União Sul-Americana foi dividida por critérios linguísticos. Foi criada a
União Brasileira para atender o território onde se fala o português.
1916 - Foi criada a Divisão Sul-Americana, como extensão da Associação Geral,
com sede na Argentina. Oliver Montgomery foi eleito presidente. Nos quatro anos
seguintes o número de adventistas neste território cresceu 71%. Foi o maior índice de
crescimento em períodos de quatro anos de sua história.

Primeira expedição ao Mato Grosso


Quando a Divisão Sul-Americana foi criada, em 1916, e o Pr. Oliver Montgo-
mery esteve na presidência, o território experimentou seus anos de maior crescimento
em número de membros. Uma das marcas do trabalho de Montgomery, além do tempo
dedicado à preparação para o trabalho, buscando a benção de Deus, foram as viagens
incansáveis para conhecimento do território e de suas necessidades.
Desde dezembro e janeiro, antes de sua chegada à Divisão, na Argentina, e nos
primeiros meses de 1916, grande parte do território da América do Sul foi visitada.
Suas viagens foram acompanhadas pelo Pr. W. W. Prescott, secretário de campo da
Associação Geral. Em trens e barcos subiram a América do Sul. Quando sentavam
para as reuniões de planejamento, conheciam as necessidades de obreiros para o evan-
gelismo.
Dois anos após sua chegada, os líderes da União Brasileira pediram para que vi-
sitasse os estados de Mato Grosso e Goiás, onde pretendiam dar início, em breve, à
presença adventista. Montgomery aceitou o convite e junto com seu tesoureiro, W. H
Williams, viajaram de barco quase 2.500 quilômetros, de Buenos Aires até Corumbá,
por meio do Rio Paraguai.
Quando viajaram até Corumbá, o grupo apenas margeou a fronteira com Mato

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Grosso. Mas o que puderam ver ofereceu-lhes as informações importantes sobre a re-
gião que a União Brasileira deveria penetrar. Em cada comunidade onde a embarcação
parava para abastecer, os viajantes desembarcavam para conhecer as comunidades.
s Em uma parada, contataram guias para levá-los por vários quilômetros até uma vila
a indígena e formaram suas primeiras impressões sobre os povos que os missionários
encontrariam.
Na noite em que dormiram em um hotel em Corumbá, os dois estudaram deta-
a lhadamente o mapa da América do Sul. Na Assembleia seguinte, a União Brasileira
votou o envio de colportores para Mato Grosso. “Esse foi o princípio de nosso trabalho
pioneiro naquele grande estado”, escreveu Montgomery (The Making of a Missionary,
s Washinton, DC, 1985).
e
Administradores na linha do tempo
A obra adventista em nosso estado começou com muitas dificuldades financeiras.
Embora a Missão Mato Grosso tenha sido criada legalmente pela União Sul Brasileira
em 1921, ela somente passa a ter estrutura administrativa no estado em 1935.
o Em 1919, o território brasileiro foi dividido em duas uniões, União Este Brasilei-
ra e União Sul Brasileira. O limite das duas uniões ficava abaixo do Rio de Janeiro,
passando pela metade de Minas Gerais. Mato Grosso, portanto, passou a pertencer à
União Sul Brasileira, cuja sede era em São Paulo.
Quando a Missão Mato Grosso foi criada, ela era a sexta do vasto território da
. União Sul Brasileira, juntamente com Associações Rio Grande do Sul e Santa Cata-
rina e as Missões Paraná, São Paulo e Mineira Oeste. Mas a Missão não tinha ainda
nem escritório nem líderes.
- Em 1929, chegou a Campo Grande o primeiro pastor americano, Godfredo Ruf,
diretor de ação missionária da União Sul Brasileira. Veio para visitar Mato Grosso.
Juntamente com o Pr. Max Rhode e o irmão Ernesto Matias, buscou comunidades
adventistas nas fazendas do sul do estado e realizou batismos em Campo Grande e na
H fazenda onde moravam os irmãos Fernandes.
Em 1935 chegou a campo Grande, para residir com sua família, o primeiro Pas-
tor-Presidente nomeado para a Missão Mato Grosso, Pastor Alfredo Meyer. No mes-
mo período, o obreiro Emílio Kepkke chegou para assumir as funções de secretário e

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tesoureiro. Neste ano foi construída a igreja (hoje Central de Campo Grande), e em
1936 foi inaugurada. O endereço era Rua Barão do Rio Branco, esquina com a Rua
Rui Barbosa.

Primeiro Presidente da Missão Mato Grosso: Alfredo Meyer e família

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Adventistas do estado na inauguração da Igreja de Campo Grande – 1936
m

Pessoas identificadas na foto: 1. Pastor Elmer H. Wilcox - Presidente da União Sul Brasileira, de origem
americana - Convidado para a Inauguração da Igreja, Escola e Missão Mato Grosso. 2. Pastor Alfredo
Meier - primeiro Presidente da Missão Mato Grosso. 3. Evangelina Paulo, esposa do pastor Alfredo Meier.
4. Professor Renato Bivar, da Escola Adventista de Campo Grande, anos depois foi secretário da Missão.
5. Sérgio Cavaliere - Comerciante e colportor. 6. Bráulio Assunção. 7. Zacarias Fernandes. 8. Celso As-
sunção. 9. Odete Assunção - esposa de Celso. 10. Ernesto Matias - primeiro adventista de Campo Grande.
11. Amanda Matias - “Amandita”. 12. Artur Fernandes. 13. Jovina Assunção - filha de Gabriela Nunes
dos Santos - a primeira adventista do estado. 14. Esposa de Sérgio Cavaliere. 15. Pastor Alfredo Barbosa -
primeiro pastor brasileiro e natural do estado. 16. Áurea Assunção - depois esposa de Alfredo Barbosa. 17.
Pastor aposentado, Max Rhode. 18. Belmira Fernandes - esposa de Artur Fernandes. 19. Antônio de Souza.

Ao lado da igreja, ao fundo do terreno, foi construída uma sala de aula para abri-
gar a Escola Paroquial Adventista e nos pequenos espaços na parte posterior da igreja
funcionava o escritório da Missão. Como os recursos eram escassos, Emílio Kepkke
morou nesse pequeno escritório por alguns anos.

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Primeira Escola Adventista de Campo Grande: professora Edy de Souza Alencar e estudantes

Os professores precisavam colportar nas férias ou buscar outra fonte de renda


nesse período, já que recebiam salário em apenas oito meses do ano, pois as escolas só
recebiam mensalidades nos meses que haviam aulas.
As visitas e viagens eram realizadas em lombos de animais e, em anos posteriores,
em bicicletas. Muitas vezes, o irmão Ernesto Matias, um dos primeiros adventistas de
Campo Grande e o único adventista a ter um carro, levava o pastor em suas viagens às
fazendas do sul, em seu Ford 1929, o famoso “Pé de Bode”.
Nesse período inicial, o Pr. Alfredo Barbosa foi chamado para pastorear o norte
do estado, em um trabalho pioneiro. Além do evangelismo, ele também acompanhava
e assistia os colportores daquela região.
O registro da primeira Ata da Comissão da Missão Mato-Grossense data de 04
de dezembro de 1938, com a participação do Pr. Alfredo Meyer, Emilio Keppke e o Pr.
Alfredo Barbosa, além de 5 colportores convidados.
Neste ano também formou-se em teologia o Pr. Alfredo Barbosa, primeiro pastor
adventista brasileiro natural do estado de Mato Grosso e que havia sido chamado para
pastorear o norte deste Campo.
Em 1940 assumiu a presidência do Campo o Pr. Nelson Schwantes. Neste ano,

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a Missão adquiriu sua primeira máquina de projeção com duas lâmpadas de 60 watts.
No sul do estado, nas fazendas e cidades, dois obreiros bíblicos ajudaram no evangelis-
mo: Sérgio Cavaliere e João Karrú.
Em agosto de 1941, veio para presidir o Campo o Pr. José Rodrigues Passos.
No início de 1942, o Pr. Orion Fonseca foi chamado da Associação do Rio Grande do
Sul para realizar um grande evangelismo em Campo Grande. Nessa época, em uma fa-
zenda em Três Barras, pertencente a Antônio de Souza, primeiro colportor do estado,
funcionava uma Escola Adventista e um grupo de adventistas.
Iniciaram-se estudos para a construção de um escritório que pudesse também
abrigar os irmãos doentes que vinham do interior à Capital em busca de tratamento,
e que até então eram hospedados nas casas dos obreiros. A Missão adquiriu um carro,
mas os recursos eram poucos para o combustível. Por essa razão, em 1944 esse carro foi
transformado em caminhonete, para poder ter trânsito livre e cota de gasolina.
É interessante notar também que nessas décadas, onde a igreja chegava, antes ou
junto ao estabelecimento de uma congregação, criava-se uma escola paroquial que, na
maioria das vezes, funcionava inicialmente no mesmo salão da igreja.
A Educação Adventista era, desde aquele tempo, o instrumento usado por Deus
para iniciar o contato com adventistas em potencial, quebrar barreiras, preconceitos e
, abrir portas para o evangelismo. Nesses anos iniciais da obra no estado, já havia escolas
e em Campo Grande, Lambari, Três Barras, Cabeceira Alta, Cuiabá e Várzea Grande.
s

Pr. José Rodrigues Passos em visita à escola e igreja de Lambari,


ao lado da Professora Yolanda Karrú e estudantes

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Em 1945, veio para presidir o Campo o Pr. Emílio Azevedo. O atendimento da
igreja de Campo Grande era realizado pelos obreiros da Missão. Só em 1948 o Pr. Al-
fredo Barbosa passou a pastorear a igreja de Campo Grande por motivo de tratamento
de fogo selvagem de sua esposa. Neste ano, ele realizou as primeiras conferências pú-
blicas no Bairro Amambaí.
A partir de 1949, o administrador do Campo foi o Pr. Durval Stockler de Lima.
Após a descoberta da cura para o Pênfigo Foliáceo, neste ano foi feita uma solicitação
para que 50% da recolta fosse revertida para abrir um abrigo para tratamento dessa ter-
rível doença. Esse abrigo deveria ser construído lá no “Saltinho”, nome do local onde
o rio Anhanduí possui uma pequena queda d’água e que, na época, era bem distante
da cidade. Local onde está hoje o Hospital do Pênfigo (unidade matriz), ou seja, uma
distância “segura”, pois acreditava-se que a doença era contagiosa.
Somente o Pr. Durval possuía carteira de motorista. Os demais obreiros recebiam,
em alguns casos, auxílio animal ou auxílio bicicleta para poderem adquirir esses meios
de transporte.
Em 1951, o médico Edgar Rodrigues foi chamado para começar o atendimento
da clínica para tratamento do fogo selvagem em Campo Grande. Mas, devido à grande
distância entre o escritório da Missão e a clínica, houve a urgente necessidade de um
automóvel e um Jipe foi adquirido para esse transporte médico.
Neste mesmo ano, começou em Campo Grande a irradiação de A Voz da Pro-
fecia, pelo Pr. Roberto Azevedo, através da Rádio Difusora. No ano seguinte, o Dr.
Edgar Rodrigues começou também a realizar palestras religiosas pela mesma rádio.
Em 1952, o obreiro Olival Costa foi chamado para realizar evangelismo em Ponta
Porã e Dourados. Ocorreu, então, um aumento significativo no número de interes-
sados e adventistas em Ponta Porã. Aos poucos, adventistas dali, que até então se
reuniam em uma residência, somaram-se a outros que começaram a congregar em seu
primeiro salão alugado, à Rua 7 de Setembro. Eram cerca de trinta adventistas ali em
1953.
Em 1954, Oscar dos Reis, que era pastor em Cuiabá, assumiu a presidência do
Campo. Neste período, funcionava no Centro uma clínica de tratamentos naturais,
dirigida pelo Dr. Edgar, e o Hospital do Pênfigo estava em construção. O evangelismo
no estado tem um grande impulso pelas conferências realizadas em Dourados e Ron-

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a donópolis e em Campo Grande pelo Pr. Roberto Rabelo, novamente.
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,
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Primeiro Coro Adventista do Estado - Igreja Central de Campo Grande (1955).
m
A partir da esquerda, na última fila, Hiroíto Araújo, Bernardo Barbosa, Oscar dos Reis, Paulo Rockel, Paulo
Araújo. Fila do meio: Olga Jardim, Nilza Patrício, Maria Filiú, (...), Maria Dantas, Maria da Glória Otoni,
Maria Rodrigues, Rute Filiú. Sentados: Luci Araújo, Olival da Costa, Ilde Reis.

.
Em 1955 são construídas salas para o funcionamento do escritório e então equi-
padas com ventiladores, com seu primeiro telefone e a construção de um “telheiro”
para abrigar o carro da Missão. Mas as ligações telefônicas não eram diretas. Pedia-se
e auxílio à telefonista, dando-lhe o número desejado. Quando o tronco estivesse des-
u congestionado, ela retornava a ligação. A espera era de horas ou, às vezes, de dias.
m Entre o escritório, com frente para a Rua Rui Barbosa, e a sala de aula, aos fundos,
existia uma sala de madeira onde era feito o atendimento da clínica e, posteriormente,
ali foi sala de Dorcas. No mesmo ano foi construída a igreja de Dourados e os terrenos
para a igreja de Ponta Porã e para a igreja do Bairro Amambaí foram comprados. Na
igreja de Campo Grande foi organizado o primeiro coro evangélico.

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Igreja de Campo Grande em piquenique no Hospital do Pênfigo, com ônibus antigo - 1955

Em 1957 foi organizado e promovido o primeiro acampamento MV, Missionários


Voluntários, o que hoje denominamos de Jovens Adventistas. No ano seguinte, foram
criados no Campo os departamentos: de MV, sob a responsabilidade do Presidente, de
Educação e Colportagem, atendidos pelo Secretário-Tesoureiro.
De meados de 1958 até 1959, Geraldo Marsk assumiu a presidência, atendendo
o departamento de MV e de Educação. Neste ano foi adquirido um Jeep Willys para
Cuiabá e telefone para o hospital, instalado na casa do Presidente. As primeiras sema-
nas de oração jovem começam a ser realizadas em 1960 em diversas cidades.
Em 1961, o Presidente da Missão era Oscar Lindqüist. A igreja de Campo Gran-
de já se encontrava pequena para comportar o número de irmãos, e muito mais quan-
do eram realizados congressos e assembleias gerais do estado. Estudos foram feitos para
a aquisição de outro terreno para a construção da igreja.
No ano seguinte, 1962, foi adquirido o terreno da Av, Cândido Mariano Ron-
don, onde está atualmente a Igreja Central. A solenidade de lançamento da pedra
fundamental foi realizada com presença de autoridades e convidados das demais igre-
jas evangélicas.
Em 1963, assumiu a presidência o Pr. Benito Raimundo. Este pastor relatou que
em suas visitas aos irmãos de Lambari, ficava, juntamente com sua esposa, hospedado
na casa dos Nogueira. Sua esposa, que também era Nogueira, acreditava serem paren-

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tes. Noutra família Nogueira ali perto, a mãe e a filha eram também adventistas. Mas
o pai, um abastado fazendeiro, odiava a Jesus, pois a esposa falava com muito carinho
sobre Ele.
- Um homem que morreu há tanto tempo, está sendo hoje meu rival? – dizia ele.
Quando o Pr. Benito foi visitar a família, ele ficou tão irado que não deixou que
entrasse.
Certo dia, a filha, na Missão, pediu ao pastor uma sugestão de um presente para
seu pai que logo faria aniversário. Sem saber de seu ódio, sugeriu o livro “Vida de Je-
sus”. Ao receber e abrir o presente, o pai avançou sobre a filha que foi socorrida pelos
familiares. Seu ódio e ressentimento com a religião da família o fizeram adoecer e foi
orientado a procurar um médico em Campo Grande. Aceitou, desde que não fossem o
Dr. Günter e o Dr. Edgar, médicos adventistas.
Qual não foi sua surpresa quando o médico, muito católico, com o qual foi se
consultar, disse:
m - Vou receitar alguns calmantes, mas o que você precisa mesmo é deste aqui –
e apontando para um quadro de Jesus que estava na parede.
Voltou para sua fazenda depois disso, mas sua ira era tanta que atirava nos pás-
o saros nas árvores quando começavam a cantar. Desesperado, tomou seu revólver e
a foi sozinho para a mata tirar a própria vida. Com a arma apontada para sua cabeça,
- começou a pensar e, repentinamente, caiu de joelhos no chão e bradou:
- Senhor, eu creio! Eu creio em Ti!
Voltou para sua casa, jogou os remédios fora, mas não tinha coragem de contar
à família o que estava acontecendo. Escondido, em seu quarto, lia o livro “Vida de
Jesus”. A esposa começou a notar que ele estava mudando e um dia, espreitando-o, viu
que estava lendo o livro. Um dia, ele não se aguentou e disse:
- Por que você não vai a Campo Grande convidar o Pr. Benito para passar o
sábado conosco?
O Pr. Benito foi convidado e logo estava na casa desses Nogueira. Quanta dife-
rença havia naquele irmão! Estava totalmente transformado pelo amor de Jesus! Sua
conversão era visivelmente sincera. Agora só queria ouvir hinos e histórias do Senhor
Jesus. Assim como ele, muitas vidas em nosso estado foram transformadas pelo conhe-
cimento da mensagem do Salvador.

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Noutra ocasião, o Pr. Benito levava o Pr. Ronaldo Bottsford e esposa para inicia-
rem uma série evangelística em Guiratinga. A viagem foi muito difícil. Na maior parte
do trajeto, a esposa do pastor dirigia a Kombi da Missão e os dois a empurravam. De-
baixo do sol escaldante, depois de empurrarem o carro até suas últimas forças, os dois
caíram exaustos, largados na areia escaldante, esperando recobrar as forças dos mús-
culos que já não obedeciam mais. Deitados ali, o Pr. Benito disse ao seu companheiro:
- Acho que descobrimos o lugar em que o diabo vai passar o milênio.
Chegaram a Guiratinga com o firme propósito de só sair de lá com uma igreja
construída, cheia de adventistas. O templo ficou pronto quase antes das reuniões ter-
minarem. O Pr. Benito nem sabia que dentro das malas de seus convidados havia um
grande maço de dólares que o pai de Bottsford havia enviado para as despesas evange-
lísticas e construção do templo.
O sacrifício foi pequeno diante dos resultados. Assim era o amor e desprendi-
mento daqueles que deixavam as facilidades e conforto de suas terras para levar a
mensagem, movidos pelo mesmo amor que fez Jesus deixar o Céu e vir a este mundo
escuro para nos salvar.
Enquanto isso, em Campo Grande, antes da construção da Igreja Central, era
necessário investir na aquisição de um terreno para construção da Igreja do Bairro
Amambaí. Em 1964 este terreno foi adquirido. No mesmo ano foi solicitado à União o
envio de um pastor para atender exclusivamente a Igreja Central de Campo Grande.
A manutenção deste pastor seria custeada pela União Sul Brasileira e doações dos
irmãos que pudessem.
Em 1968, assumiu a presidência o Pr. Ataliba Huf. Somente em 1969, o Pr.
Albino Marks veio para atender a Central de Campo Grande e a nova congregação do
Bairro Amambaí. Neste mesmo ano, o Pr. Roberto Rabello e o quarteto de A Voz da
Profecia realizaram mais uma vez importante evangelismo em Três Lagoas e Campo
Grande. No mesmo período, foi construído um salão para funcionamento da Igreja da
Alvorada, após conferências realizadas pelo colportor Clementino.
A década de 1970 foi marcada também pelo funcionamento da Lancha Luzeiro
do Oeste, que atendia as necessidades médicas da população ribeirinha do Pantanal
Mato-Grossense. Havia também uma Clínica Rodante em Cuiabá, para atendimento
médico e odontológico. O ministério médico-missionário foi um instrumento de evan-

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gelização da igreja para alcançar pessoas com a mensagem da salvação.
A mesma década foi também um período de animadas Campais, reuniões gerais
- da igreja que congregavam adventistas de todo o estado para celebração e treinamen-
s to, realizadas em várias cidades.
- A partir das décadas de 1970, e nas décadas de 1980 e 1990, os jovens se organi-
zaram através da Federação da Mocidade Adventista Campo-Grandense - FEMAC
- e adquiriram uma sede social e esportiva próxima ao Hospital do Pênfigo. Poste-
a riormente, a Prefeitura de Campo Grande abriu uma avenida que cortou o espaço da
- Federação, reduzindo-o.
m Em 1977, o estado de Mato Grosso foi dividido. Criou-se, então, o estado de
- Mato Grosso do Sul, com a capital em Campo Grande. Em virtude das grandes distân-
cias, houve também a necessidade da divisão do campo da Missão. A sede em Campo
- Grande passou a designar-se Missão Sul-Mato-Grossense.
a
o

o
.
s

o Primeiro pastor da Igreja Central de Campo Grande, Albino Marks,


e congregação. Em frente à Igreja, na Barão do Rio Branco – 1969.
a
Em 1975, assumiu a presidência do campo o Pr. Elias Lombardi. Nesse período,
a a Igreja Central passou a ter a suas reuniões no prédio novo, em construção na Av.
Cândido Mariano. Em 1976 foi adquirido o terreno onde funciona atualmente a As-
o sociação Sul-Mato-Grossense. O lançamento da pedra fundamental foi no dia 13 de
junho de 1976.
o Em 1977, muitos irmãos da congregação da Igreja de Lambari, primeira igreja
- do estado, mudaram-se da região e aquela congregação voltou a ser um Grupo. Neste

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ano ainda, o Hospital do Pênfigo doou 10 mil metros quadrados para a construção da
atual Igreja do Pênfigo, pois a primeira igreja do hospital havia ficado pequena para
comportar os membros que ali congregavam.
No dia 13 de dezembro de 1978 foi inaugurada a sede da Missão Mato-Grossense.
Em 1981, assumiu a presidência do campo o Pr. Leonid Bogdanow. A partir de
1982 começou a ser veiculado o programa “Encontro com a Vida” pela TV Morena.
As escolas adventistas nesta década tiveram um grande impulso através de verbas que
começaram a receber da Golden Cross.
A partir de 1985, a União Sul Brasileira passou a designar-se Corporação da
União Sul Brasileira com sede em Curitiba, estado do Paraná.
A partir de 1986 o presidente da Missão foi o Pr. Osório Feliciano dos Santos.
Antônio de Souza, que havia sido um dos primeiros colportores do estado, depois de
se aposentar adquiriu uma fazenda em Três Barras. Antes do seu falecimento, havia
doado esta fazenda para a Missão, com o sonho de que ali funcionasse um internato-fa-
zenda adventista. Como isso não foi possível, esta fazenda foi vendida posteriormente
para a aquisição da quadra onde hoje se encontra o Colégio Adventista Campo-Gran-
dense - CAC. Em 1986 foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental
deste Colégio.
Em julho de 1988, o presidente da Missão era o Pr. Laercio Mazaro. O ano
seguinte foi marcado pela campanha evangelística “Nacional 89”, e o ano de 1990 foi
o ano do centenário da Missão Adventista Mundial. Foram lembrados os 100 anos do
lançamento do navio “Pitcairn”, que singrou os oceanos em direção a novos continen-
tes, quando a obra adventista foi marcada por um intenso desejo de penetração em
nível mundial. Havia passado 100 anos do lançamento das bases para o atual programa
de evangelismo Missão Global, visando levar a mensagem a todo mundo, como cum-
primento profético que antecede a volta de Jesus.
Em 1991, o presidente da Missão foi Valdilho Quadrado. Neste ano foi realizado
o primeiro concílio da AFAM - Área Feminina da Associação Ministerial, que visou
congregar, motivar e instrumentalizar as esposas de pastores.
A partir de 1992 foram criados os CADECs - Centros Adventistas de Desenvolvi-
mento Comunitário em várias cidades do estado, com consultas e outros atendimentos
sociais gratuitos. Nesse período também foi criada a Federação Sul-Mato-Grossense de

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Empresários e Profissionais Adventistas.
1992 foi o ano de evangelismo jovem, intitulado “Desafio 92”. Grande ênfase foi
dada a cursos de treinamento de evangelistas mirins e evangelistas jovens. As ações
desenvolvidas continham os fundamentos e a inspiração do atual programa evangelís-
tico “Missão Calebe”. No mesmo ano, e nos anos seguintes, o programa “Festival de
Resgate” motivou e inspirou ações em favor de irmãos adventistas afastados.
Em 1993, a Missão Sul-Mato-Grossense teve seu status alterado para Associação
Sul-Mato-Grossense. A primeira Casa Aberta foi realizada no estado em 1994. No ano
seguinte iniciou-se o Segundo Grau no Centro Educacional Adventista de Campo
Grande – CEAC (hoje CAC). As escolas que ofereciam o Segundo Grau mudaram
. seus nomes de “Centros Educacionais” para Colégios.
Em 1996, assumiu a presidência da Associação o Pr. Ênio Santos, bisneto de
Gabriela, a primeira adventista do estado e fruto da Igreja do Lambari. Neste período,
a igreja comemorou 80 anos de presença adventista no estado e o presidente escreveu
o começo dessa história em versos e rimas por ocasião da IV Assembleia Trienal da
Associação Sul-Mato-Grossense. Neste ano, teve início o projeto Multidão de Natal.
A partir de 1997 a Igreja Adventista Mundial passou a utilizar o atual “Logo” que
identifica a Igreja Adventista, um elemento importante de identificação visual.
As décadas de 1970, 1980 e 1990 são lembradas também pelas atividades e en-
contros desenvolvidos no Acampamento Jovem em Jaraguari, há cerca de 40 quilôme-
tros de Campo Grande.
Em 1998, o presidente da Associação era o Pr. Luís Fuckner. Neste ano foi ad-
quirido o terreno no Jardim dos Estados para a construção da escola da Igreja Central,
atual Colégio Adventista Jardim dos Estados – CAJE, nome que passou a utilizar com
a implantação do Ensino Médio no ano 2000.
Neste período também, os departamentos Bom Samaritano e Dorcas passam a
ser denominados de ADRA, com um novo estatuto legal para fazer frente às novas
exigências do estado.
Em 2001, assumiu a presidência do Campo o Pr. Uesley Peyerl. No estado, neste
ano, houve a importante aquisição e implantação da Rádio Novo Tempo, AM 630,
um instrumento de largo alcance na evangelização e divulgação da Igreja Adventista.
Nessa década iniciou-se o programa de Evangelismo Integrado. A internet e os

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websites ganharam cada vez mais espaço também na evangelização. Começaram os
evangelismos via satélite. A partir do slogan “A Esperança é Jesus”, a ênfase na Espe-
rança tem sido uma marca para a evangelização através do Evangelismo Integrado. O
Ministério da Mulher também desenvolveu vários programas, dentre eles o inicio do
“Rompendo o Silêncio”, hoje “Quebrando o Silêncio”.
Em 2004 foi constituída a União Centro-Oeste Brasileira, com sede em Brasília,
e em 2005 a Associação Sul-Mato-Grossense passou a estar sob sua jurisdição, junta-
mente com Mato Grosso, Goiás,Tocantins e Distrito Federal.
Em 2006, o Campo teve como Presidente o Pr. Marcos Moreira Nardy. Come-
çou a ganhar força o apelo urgente por Reavivamento e Reforma, com consciência
crescente da breve volta de Cristo à Terra. A igreja foi motivada à comunhão por
meio de Jornadas de Oração e o estilo de vida em comunidades de amor é enfatizado
através do programa dos Pequenos Grupos. O evangelismo é impulsionado de várias
formas, dentre eles o “Impacto Esperança”, tendo um livro missionário por ano para
distribuição massiva.
Em dezembro de 2012, foi eleito como Presidente da Associação o Pr. Maiquel
da Silva Nunes. No ano seguinte, foi inaugurada a TV Novo Tempo com sinal aberto
para Campo Grande. O evento foi na Praça do Rádio Clube, após grande passeata. Em
2015 a igreja constitui-se em 20.537 membros, 131 igrejas e 125 grupos distribuídas em
42 distritos, temos 57 pastores, 30 colportores e as escolas possuem 3.790 alunos. Entre
os destaques dos últimos anos, tivemos um aumento significativo no número de juve-
nis e jovens tomando parte ativa no projeto evangelístico “Missão Calebe”, passando
de 400 para 965 participantes em 2014.
A igreja tem cuidado de forma especial das novas gerações, pois elas representam
sua continuidade e crescimento. Nada poderá fortalecer mais a fé e a experiência cristã
do que o exercício da fé por meio do cumprimento de nossa missão. Por isso, acredita-
mos que a melhor forma de valorizar e cuidar das novas gerações, é proporcionar-lhes
a vivência com os desafios e alegrias de alcançarem pessoas para Cristo.
Até que Ele volte, precisamos, como igreja, passar o bastão da fé e a tocha da
missão às novas gerações. A história do adventismo no Mato Grosso do Sul ainda não
terminou. Muitos capítulos estão por ser escritos por nós e, principalmente, por nossas
crianças e jovens.

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A CONTINUAÇÃO
DESTA HISTÓRIA?

Após retomarmos a história de pioneirismo que marcou nossa trajetória, nos de-
paramos com a pergunta: Como serão os próximos capítulos desta história? Não pode-
mos estacionar aqui, pois ainda não chegamos ao nosso repouso. Nosso lar não é aqui!
Não esquecer nossa história, desde sua origem no mundo, deve assegurar sempre
que não somos uma denominação a mais, mas um movimento profético, caracterizado
por sua origem profética, predita em Apocalipse 10 como referência ao livro de Daniel;
por sua identidade profética, descrita em Apocalipse 12, qual seja, guardar os manda-
mentos, todos, inclusive o quarto, e possuir a manifestação do Espírito de Profecia; e
sua missão profética apontada em Apocalipse 14, indicada na Tríplice Mensagem An-
gélica. Não perder o senso de nossa identidade histórica e profética, intrinsecamente
associada à nossa missão, é fundamental para impulsionar nosso crescimento como
igreja.

“Passando em revista nossa história, percorrendo todos os passos de nosso pro-


gresso até o estado atual, posso dizer: ‘Louvado seja Deus’. Quando vejo o que Deus
tem executado, encho-me de admiração por Cristo, e de confiança nEle como dirigen-
te. Nada temos a recear no futuro, a não ser que nos esqueçamos a maneira em que o
Senhor nos tem guiado” (WHITE, p.204, 2007).

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Passando em revista nossa história em Mato Grosso do Sul, percebemos, nos pas-
sos percorridos, a mão visível de Deus. Na intensidade da dedicação dos pioneiros,
parece palpável que suas bases e convicções estavam firmemente enraizadas na cer-
teza de quem eram, e de onde vinha o movimento pelo qual gastaram suas vidas, não
medindo esforços para levar a mensagem avante e alavancar o crescimento da igreja.

“De certo modo muito especial, os adventistas do sétimo dia foram postos no
mundo como vigilantes e portadores de luz. [...] Foi-lhes dada uma obra da mais solene
importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. [...]
Não devem permitir que nada mais lhes absorva a atenção” (White, p.19, 2000).

Nos últimos anos, a Rádio e a TV Novo Tempo tiveram em nosso estado um al-
cance incomensurável. Uma igreja invisível cresce exponencialmente, amadurecendo
milhares para o Alto Clamor, quando o Espírito Santo irá chamá-los para congregá-los
em um só redil. Enquanto isso, precisamos crescer em amor e relacionamento, deslo-
cando nosso foco das tarefas para focar nas pessoas, amando-as incondicionalmente.
Esta é a legítima motivação para cumprir a missão.

O movimento adventista é descrito como aquele cujo povo pregaria o evangelho


final ou eterno no tempo do fim. Essa visão deve nos conferir um senso de urgência em
nossa pregação e missão profética, para buscarmos, com a mesma intensidade, experi-
mentar a emoção e o compromisso vividos pelos pioneiros, para realizarmos aquilo que
Deus deseja fazer por nosso intermédio.

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REFERÊNCIAS

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rico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2001.
CHRISTMAN, Don R. O tempo não apagou. Trad. Erich Stute Filho e Ivacy F. Oliveira. Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2004.
COLLINS, Norma J. Retrato dos pioneiros: Detalhes inspiradores da vida dos primeiros adventistas. Trad.
Eunice Scheffel do Prado. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
GREENLEAF, Floyd. Terra de Esperança: O crescimento da Igreja Adventista na América do Sul. Trad.
Cecília Eller Nascimento. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011.
HANS, Lígia. Günter Hans. Um verdadeiro médico missionário. São Paulo: Editora Novo Dia, 2014.
RAYMUNDO, Benito. Ele tinha planos para mim. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002.
SANTOS, Ênio. Origens do adventismo no Brasil e no Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS: Associa-
ção Sul Mato Grossense da IASD, 2007.
SANTOS, Aleli e SOUZA, Nelson A. Laços de família: E eles foram chegando. Apostila. 2008.
TRAPP, Osmar, compilador. Evangélicos em Campo Grande: Origens e desenvolvimento. Campo Grande,
MS: FUNCESP, 1999.
WHITE, Ellen G. Manuscritos, 1989.
_____________. Vida e Ensinos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_____________. Testemunhos para a Igreja. v. 9. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.

WEBSITES CONSULTADOS

Adventist Online Yearbook: Home Page. Disponível em http://www.adventistyearbook.org/default.aspx?


Adventistas.org. Disponível em http://www.adventistas.org/pt/institucional/os-adventistas/historia-da-igre-
ja-adventista/.
Centro Nacional de Memória Adventista. Disponível em http://www.wikiasd.org/wiki/Centro_Nacional_
da_Mem%C3%B3ria_Adventista.
Centro da Memória Adventista. Disponível em http://www.unasp-ec.com/memoriadventista/.
Centro de Pesquisas Ellen White. Disponível em http://centrowhite.org.br/pesquisa/pioneiros-adventistas/
pioneiros-da-iasd/.
Criacionismo. Disponível em http://www.criacionismo.com.br/.
Memória Revista Adventista. Disponível em http://www.revistaadventista.com.br/2015/01/memoria.html.

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