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Ciências Biomédicas

Imunologia

Valéria Garcia

Universidade Católica Portuguesa


Centro Regional das Beiras
Departamento de Ciências da Saúde

Ciências Biomédicas
Conteúdo
Resposta do Sistema Imunológico a Tumores e a Transplantes .............................................................. 2
Resposta imunitária contra tumores e transplantes............................................................................... 2
Imunologia do transplante ......................................................................................................................... 2
Tumores e Imunidade .................................................................................................................................. 7
Doenças Causadas pela Resposta do Sistema Imunológico .................................................................. 14
Hipersensibilidade e Autoimunidade – Mecanismos Celulares e Moleculares ............................. 14
Imunodeficiências Congénitas e Adquiridas ............................................................................................. 23
Imunodeficiências Congénitas ................................................................................................................. 24
Imunodeficiências Adquiridas .................................................................................................................. 27
Aplicações Práticas em Imunologia ............................................................................................................ 33
Tecnologias fundamentais ........................................................................................................................ 33
Imunodeteção ............................................................................................................................................. 36
Imunofarmacologia.................................................................................................................................... 39

Valéria Garcia 1
Resposta do Sistema Imunológico a Tumores e a Transplantes
Resposta imunitária contra tumores e transplantes
Pontos em Comum
O sistema imunitário não responde a microrganismos mas sim a células não infeciosas
percecionadas como estranhas ao organismo. Os antigénios responsáveis pela resposta
imunitária podem, virtualmente, ser expressos por qualquer tipo de células. Na resposta
imunitária há um envolvimento substancial de linfócitos T citolíticos (CTLs).

Pontos distintivos
Os antigénios responsáveis pela resposta imunitária têm natureza distinta conforme se
trate de uma resposta a tumores ou de uma resposta a transplantes.
No caso dos tumores, a resposta imunitária é desejável e o tratamento visa potenciar
essa resposta. Por outro lado, no caso de transplantes existe uma resposta imunitária indesejável
e o tratamento visa atenuá-la ou até mesmo suprimi-la.

Imunologia do transplante
Conceitos gerais
Um transplante (passagem de um enxerto de um indivíduo para outro ou de uma parte
do corpo para outra), assume designações específicas de acordo com as semelhanças ou
diferenças entre o dador e o recetor. Desta forma, um autotransplante (enxerto autólogo)
ocorre quando o dador e o recetor são a mesma pessoa; chama-se isotransplante (enxerto
singénico) quando dador e recetor são geneticamente idênticos (gémeos homozigóticos); se
estivermos perante um dador e recetor da mesma espécie mas geneticamente diferentes diz-se
que ocorre um alotransplante (enxerto alogénico); por último, se o dador e o recetor forem de
espécies diferentes ocorre um xenotransplante (enxerto xenogénico).
Tanto os enxertos autólogos como os enxertos singénicos são tolerados pelo recetor; no
entanto, quando se trata de alotransplantes ou de xenotransplantes há rejeição por parte do
recetor; essa rejeição é determinada por genes expressos em todos os tecidos.

Depois de vários estudos, conclui-se que a


rejeição de enxertos é um fenómeno imunológico
causado por uma resposta imunológica
adaptativa, ou seja, através da memória e
mediação por parte dos linfócitos.
Um enxerto cutâneo entre dois indivíduos
geneticamente diferentes é rejeitado cerca de 10
dias depois – estamos perante uma rejeição
primária devido a uma resposta imunitária
primária ao enxerto. Um enxerto subsequente
transplantado do mesmo dador para o mesmo
recetor é rejeitado em apenas 3 dias – esta é uma
rejeição secundária, é uma resposta acelerada e
deve-se a uma resposta imunitária secundária. No
entanto, se o segundo enxerto derivar de um
dador geneticamente diferente do primeiro não
ocorre rejeição secundária mas sim primária.

Valéria Garcia 2
Aloantigénios na rejeição de enxertos

Complexo Major de Histocompatibilidade


O complexo major de histocompatibilidade (MHC) corresponde ao complexo de
antigénios leucocitários humano (HLA).
O MHC é expresso à superfície de todas as células com o objetivo de apresentar
antigénios para futuro reconhecimento pelos linfócitos T.
O MHC de classe I está presente em todas as células e é responsável pela
apresentação de antigénios a linfócitos T CD8+ (CTLs). Por outro lado, o MHC de classe II só
está presente em células apresentadoras de antigénios, células dendríticas e linfócitos B e têm
como função a apresentação de antigénios a linfócitos T CD4+ (T helper).

Cada ser humano expressa uma combinação única de moléculas de MHC, herdadas dos
progenitores. Os genes do MHC são altamente polimórficos.
Os linfócitos vão ser selecionados durante o processo de maturação para reconhecerem
péptidos non-self associados a moléculas de MHC self. Células T específicas para MHC self +
péptido non-self reconhecem MHC non-self e iniciam a resposta imunológica – rejeição.

Valéria Garcia 3
Alo-reconhecimento
As moléculas de MCH alogénicas são apresentadas para o reconhecimento pelas células
T de um recetor de enxerto por duas vias diferentes.

Alo-reconhecimento direto
Os linfócitos T do recetor reconhecem
uma molécula de MHC non-self exibida por
células apresentadoras de antigénios (APC)
do dador. Dá-se a ativação de linfócitos T
alo-reativos que reconhecem e atacam as
células do alo-enxerto.
É importante na rejeição aguda
mediada por CTLs (CD8+).

Alo-reconhecimento indireto
Envolve o processamento
aloantigénios do dador pelas APCs do
recetor e a apresentação de péptidos a
linfócitos T do recetor (ativação). A molécula
de MHC non-self é tratada como qualquer
antigénio proteico non-self.
É importante na rejeição crónica
mediada por T-helper (CD4+).

Mecanismos de rejeição de enxertos


Os linfócitos T alo-reativos CD4+ ou CD8+ são capazes de mediar a rejeição de
aloenxertos por mecanismos distintos.

Rejeição hiperaguda
Tem início minutos ou horas depois de ter sido feito o transplante.
Os anticorpos circulantes pré formados (específicos para aloantigénios epiteliais do
enxerto) ligam-se ao endotélio ativando o complemento. A ativação do complemento leva à
lesão celular endotelial e à adesão e agregação plaquetárias; são também secretadas
partículas lipídicas que promovem a coagulação. Estes fenómenos contribuem para trombose e
oclusão vascular fazendo com que o órgão enxertado sofra necrose isquémica irreversível.
Esta rejeição hiperaguda é evitada por avaliação prévia da presença de anticorpos, no
recetor, reativos contra antigénios do dador.

Valéria Garcia 4
Rejeição aguda
Ocorre vários dias ou semanas após o transplante.
Os linfócitos T CD8+ (CTLs) alo-reativos participam no reconhecimento e na destruição
das células do enxerto; os linfócitos T CD4+ (T helper) secretam citocinas; os anticorpos ligam-se
à parede dos vasos e ativam o complemento, contribuindo para a lesão vascular.
A rejeição aguda é evitada através da administração de imunossupressores.

Rejeição crónica
Ocorre meses ou anos após o transplante.
Os linfócitos T alo-reativos participam em reações imunes e na produção de citocinas
que estimulam a proliferação de fibroblastos e células do músculo liso vascular.
A rejeição crónica provoca falência progressiva por oclusão luminal vascular (fibrose e
espessamento gradual da parede vascular) e necrose isquémica.

Valéria Garcia 5
Prevenção e tratamento da rejeição

Testes prévios

Tissue typing
Consiste na verificação da correspondência de alelos HLA entre dador e recetor.
Esta técnica teve um papel importante até à generalização do uso de imunossupressores
mas atualmente perdeu importância devido à demora na obtenção de correspondência dador-
recetor.

Avaliação de anticorpos pré-existentes (cross-matching)


Baseia-se na incubação de soro do recetor com uma suspensão de linfócitos do dador. É
uma técnica determinante para evitar rejeição híper-aguda.

Reação linfocitária mista (MLR)


Procede-se à incubação de linfócitos T de um indivíduo com leucócitos de outro e
avaliação da magnitude da resposta dos linfócitos T. Obtém-se um bom valor preditivo quanto
à compatibilidade do transplante.

Imunossupressores

Imunossupressores convencionais
Inibem a proliferação e ativação de linfócitos T.

Anti-inflamatórios
Diminuem a produção de TNF e IL-1 por macrófagos.

Novas abordagens
Inativam especificamente antigénios de superfície de linfócitos T.

Ciclosporina
Liga-se com alta afinidade à ciclofilina; o complexo ciclosporina e ciclofilina ligam-se e
inibem a atividade enzimática da proteína fosfatase calcineurina (necessária para ativar a
transcrição do fator NFAT). Desta forma, a ciclosporina bloqueia a ativação do NFAT e a
transcrição de IL-2 e outros genes de citocinas.
No entanto, subsistem alguns problemas: os níveis de ciclosporina necessários para a
imunossupressão ideal causam lesões renais e provocam uma imunossupressão generalizada,
aumento a suscetibilidade a infeções e cancro.

Valéria Garcia 6
Tumores e Imunidade
Os tumores surgem a partir da proliferação e disseminação descontrolada de clones de
células transformadas. O crescimento de tumores malignos é determinado pela capacidade de
proliferação das células tumorais e pela capacidade destas células de invadir os tecidos do
hospedeiro e metastizar para locais distantes.

Conceitos gerais
Os tumores expressam antigénios que são reconhecidos como estranhos pelo sistema
imune do hospedeiro portador do tumor – os tumores são capazes de induzir respostas imunes
protetoras.

Camundongo com tumor induzido


por um químico carcinogéneo

Resseção do tumor Isolamento de células T CD8+

Transplante de células Transplante de células Transferência adotiva de


tumorais no camundongo tumorais em células T para o recipiente
portador do tumor original camundongo singénico do transplante tumoral

Sem crescimento tumoral Crescimento tumoral Erradicação do tumor

Um sarcoma pode ser induzido num camundongo isogénico pincelando a sua pele com
um químico carcinogéneo (MCA). Se o tumor induzido por MCA for excisado e transplantado
noutro camundongo singénico, o tumor cresce. Pelo contrário, se o tumor for transplantado
novamente para o hospedeiro original, o camundongo rejeita o tumor. O mesmo camundongo
que se tinha tornado imune ao seu tumor não é capaz de rejeitar tumores induzidos por MCA
noutros camundongos. Além disso, as células T do animal portador do tumor podem transferir a
imunidade protetora contra o tumor para outro animal livre de tumores. Desta forma, respostas
imunes contra tumores apresentam as características que definem a imunidade adaptativa –
especificidade e memória e são mediadas por linfócitos.

O sistema imunológico pode ser ativado por estímulos externos para matar células
tumorais eficazmente e erradicar tumores; ele reconhece e responde a antigénios expressos por
células tumorais (reconhecidos como non-self).

Valéria Garcia 7
Imunovigilância
As células tumorais são células “alteradas” que podem passar a expressar antigénios
que não são conhecidos como self.
O sistema imunitário pode reconhecer estes antigénios e reagir destruindo células
alteradas e impedindo o aparecimento de tumores ou limitando o crescimento de tumores que
“escaparam” à deteção inicial – imunovigilância.
No entanto, a maior parte dos tumores são pouco imunogénicos e têm capacidade para
evadir a resposta imunitária. Por isso, indivíduos imunocompetentes desenvolvem tumores.

Antigénios tumorais
Os antigénios tumorais provocam respostas imunes adaptativas e são alvos dessas
mesmas respostas. Por outro lado, podem ser usados como componentes de vacinas tumorais, e
anticorpos e células T efetoras produzidos contra esses antigénios podem ser utilizados para
imunoterapia.

Produtos de genes envolvidos na ativação e controlo do ciclo celular mutados


Alguns antigénios tumorais são produzidos por mutantes oncogénicos de genes celulares
normais.
Alguns tumores expressam genes cujos produtos são necessários para a transformação
maligna; esses genes são produzidos por mutações, deleções, translocações cromossómicas ou
inserções de genes virais que envolvem protooncogenes celulares ou genes supressores de
tumores. Os produtos desses genes mutados são sintetizados no citoplasma das células tumorais
e podem entrar na via de processamento de antigénios de classe I; podem também entrar na
via de processamento de antigénios de classe II em APCs que tenham fagocitado as células
tumorais mortas. Esses genes mutados
não se encontram nas células normais
e, por isso, não induzem
autotolerância, então, os péptidos
deles derivados podem estimular as
respostas de linfócitos T no
hospedeiro.

Proteínas self sobre-expressas ou anormalmente expressas


Os antigénios tumorais podem ser proteínas celulares normais que são expressas
anormalmente em células tumorais e que provocam respostas imunes.
Alguns antigénios tumorais são proteínas normais que são produzidas em níveis baixos
nas células normais e sobre-expressas nas células tumorais.
Outros antigénios tumorais podem ser derivados de genes que não são expressos nos
tecidos normais ou que são expressos apenas durante as fases iniciais do desenvolvimento, e
que são desregulados em consequência da transformação maligna de uma célula. A
transformação pode resultar na expressão
inadequada dos genes normais nos tecidos
errados ou no momento errado, e as
proteínas produzidas podem comportar-se
como antigénios tumorais, provocando
respostas imunes.

Valéria Garcia 8
Antigénios codificados pelo genoma de vírus oncogénicos
Os produtos de vírus oncogénicos funcionam como antigénios tumorais e provocam
respostas específicas de células T que podem servir para erradicar os tumores.
Os antigénios proteicos
codificados por vírus são encontrados no
núcleo, no citoplasma ou na membrana
plasmática das células tumorais. Essas
proteínas endogenamente sintetizadas
podem ser processadas, e complexos de
péptidos virais processados por
moléculas do MHC classe I podem ser
expressos na superfície da célula
tumoral.

Mecanismos de rejeição de tumores

Linfócitos T CD8+
As células tumorais, ou os seus antigénios, são ingeridos pelas APCs do hospedeiro; os
antigénios tumorais são processados dentro das APCs e os péptidos que derivam desses
antigénios são apresentados por MHC de classe I a linfócitos T CD8+ juntamente com co-
estimuladores para diferenciar linfócitos T CD8+ em CTLs antitumorais – cross-priming.
Depois de se formarem os CTLs efetores, estes são capazes de reconhecer e destruir as
células tumorais sem que seja necessário haver co-estimulação.

Linfócitos T CD4+
Os antigénios tumorais são apresentados por MHC classe II de APCs a linfócitos T CD4+.
Dá-se a ativação dos linfócitos T CD4+ e diferenciação em T helper. Estes secretam citocinas
para o desenvolvimento dos CTLs efetores e que podem aumentar a expressão de MHC classe I
pelas células tumorais e a sensibilidade à lise por CTLs. (ver imagem a cima)

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Linfócitos B e anticorpos
Portadores de tumor podem produzir anticorpos contra diversos antigénios tumorais. Os
anticorpos podem destruir as células tumorais por meio da ativação do complemento ou da
citotoxicidade dependente de anticorpos mediada por células.

Células NK e macrófagos
As células NK destroem vários tipos de células tumorais, especialmente aquelas que têm
expressão de moléculas do MHC da classe I reduzida e que conseguem evadir a destruição por
CTLs.
Macrófagos ativados podem destruir muitas células tumorais com mais eficiência do que
destroem células normais. Poderão ser ativados através do reconhecimento direto de alguns
antigénios da superfície de células tumorais; e a destruição das células pode ser feita através
de libertação da libertação de enzimas lisossomais.

Mecanismos de evasão do tumor à resposta imune


A eficácia da resposta imunológica aos tumores requer a eliminação de todas as células
tumorais, no entanto, as células tumorais multiplicam-se muito rapidamente. Além disso, os
antigénios tumorais podem diferir apenas ligeiramente dos antigénios self e por isso geram
resposta imunitária ténue (são poucos imunogénicos). Um outro obstáculo à resposta imune a
tumores prende-se com o facto de os tumores desenvolverem mecanismos de evasão à resposta
imunitária. Desta forma, a resposta imunológica não é suficiente para travar o desenvolvimento
tumoral.

Redução da expressão de MHC


A expressão do MHC classe I pode ser sub-regulada nas células tumorais, de modo a
não poder ser reconhecida pelos CTLs.
A célula deixa de expressar
moléculas MHC classe I deixando de
apresentar antigénios tumorais a
células T CD8+ (um mecanismo
alternativo de defesa são as células
NK).
Esta redução da expressão
de MHC é causada por seleção
negativa (ação precoce de CTLs) ou
vírus oncogénicos.

Redução da expressão do antigénio tumoral


Os tumores perdem a expressão de antigénios que provocam respostas imunes.
A célula deixa de expressar o
antigénio tumoral responsável pela
resposta imunitária (se não for
essencial ao desenvolvimento do
tumor, este continuará a crescer).
Esta redução da expressão
do antigénio tumoral é comum em
tumores de crescimento rápido uma
vez que aumenta a taxa de mutação.
A seleção negativa por ação de CTLs é muito importante neste mecanismo.

Valéria Garcia 10
Produção de substâncias imunossupressoras
Alguns produtos de células
tumorais podem suprimir respostas
imunes tumorais.
A célula tumoral passa a
produzir grandes quantidades de
moléculas que suprimem a resposta
imunitária. Um exemplo dessas
moléculas é o TGF-β que inibe a
proliferação e ação de linfócitos e
macrófagos.

Outros
Os antigénios tumorais podem induzir tolerância imunológica específica. Esta tolerância
pode acontecer porque os antigénios tumorais são antigénios próprios encontrados pelo sistema
imune em desenvolvimento ou porque as células tumorais apresentam os seus antigénios numa
forma tolerogénica para os linfócitos maduros. A tolerância a antigénios tumorais promove o
crescimento excessivo dos tumores que expressam esses antigénios.

Os antigénios de superfície celular em tumores podem estar escondidos do sistema imune


por moléculas do glicocálice. Este processo pode ser consequência do facto das células tumorais
poderem expressar mais moléculas do glicocálice do que o fazem as células normais.

Imunoterapia no combate ao cancro


As terapias convencionais usadas no combate ao cancro baseiam-se em medicamentos
que destroem as células que se dividem ou bloqueiam a divisão celular. Esses tratamentos têm
efeitos graves nas células normais em proliferação dos pacientes, causando mortalidade
significativa.
A imunoterapia é um mecanismo mais específico para antigénios tumorais e não causa
dano à maioria das células. Desta forma, o objetivo seria potencializar a fraca resposta imune
aos tumores (imunidade ativa) ou administrar anticorpos ou células T específicos para o tumor
(imunidade passiva).

Imunização passiva
A imunização passiva baseia-se na transferência de efetores imunes como linfócitos T ou
anticorpos específicos para o tumor. É rápida mas não fornece uma imunidade duradoura.

Anticorpos monoclonais (mAb)


Os anticorpos tumorais erradicam os tumores por meio de mecanismos como a
opsonização e fagocitose, e ativação do sistema de complemento.
Por outro lado, anticorpos específicos para um tumor podem ser acoplados a moléculas
tóxicas (imunotoxinas) para promover a distribuição desses agentes citotóxicos especificamente
para o tumor.
São exemplos de anticorpos monoclonais o anti-HER-2 usado em casos de cancro de
mama.

Valéria Garcia 11
Imunoterapia celular
Baseia-se na transferência de células
imunes cultivadas que tenham reatividade
antitumoral num paciente portador de tumor.
Há isolamento das células T do paciente e,
a partir daí, criação de células LAK (derivadas de
células NK). Essas células são cultivadas em altas
concentrações de IL-2 e procede-se à
readministração das células no paciente.

Imunização ativa
Baseia-se em reforçar a imunidade contra tumores estimulando a imunidade específica.

Vacinação com células ou antigénios tumorais


Pode ser feita a administração de células tumorais mortas ou antigénios tumorais
purificados com adjuvantes mas os resultados apresentados são fracos. No entanto, a
administração de plasmídeos com cDNA codificante para antigénios tumorais é uma técnica
promissora uma vez que os antigénios codificados são sintetizados no citoplasma e entram na
via de apresentação de antigénios do MHC classe I.
Uma outra alternativa é a administração de células dendríticas próprias incubadas com
antigénios tumorais ou transfetadas com os genes codificantes para os antigénios tumorais.

Valéria Garcia 12
Citocinas e co-estimuladores
A imunidade contra tumores mediada por células pode ser aumentada pela expressão
de citocinas e co-estimuladores em células tumorais e pelo tratamento de indivíduos portadores
de tumor com citocinas que estimulam a proliferação e diferenciação de linfócitos T e células NK.
As células tumorais induzem respostas imunes fracas porque são desprovidas de co-
estimuladores e porque não expressam moléculas de MHC classe II, não ativando as células T
auxiliares. Para reforçar as respostas imunes do hospedeiro, há possibilidade de fornecer
artificialmente a co-estimulação para as células T específicas para tumores ou fornecer citocinas
que possam potencializar a ativação das células T específicas de tumor (CTLs CD8+).
Células tumorais podem ser transfetadas com genes de citocinas para localizar os
efeitos dessas citocinas nos locais onde são necessários. Se tumores transfetados com genes IL-2,
IL-4, IFN-γ ou GM-CFS forem injetados em animais, os tumores são rejeitados ou iniciam o
crescimento e depois regridem.
A injeção de tumores que secretavam citocinas induz uma imunidade específica mediada
por linfócitos T contra as estimulações subsequentes por células tumorais não modificadas. Assim,
a produção local de citocinas pode intensificar as respostas das células T contra os antigénios
tumorais, e tumores que expressam citocinas podem atuar como vacinas tumorais eficientes.

Imuno-estimulantes inespecíficos
A estimulação imune inespecífica de pacientes com tumores por meio de injeção de
substância inflamatórias (por exemplo, o bacilo de Calmett-Guérin (BCG)) nos sítios de
crescimento tumoral leva à ativação de macrófagos, promovendo a morte mediada por
macrófagos das células tumorais. As bactérias também funcionam como adjuvantes, podendo
estimular respostas de células T contra os antigénios tumorais.

Valéria Garcia 13
Doenças Causadas pela Resposta do Sistema Imunológico
Hipersensibilidade e Autoimunidade – Mecanismos Celulares e Moleculares
Hipersensibilidade
A resposta inflamatória tem como objetivo proteger o organismo de infeções, no entanto
pode causar dano e doença – hipersensibilidade.
A hipersensibilidade pode dever-se a uma resposta imunitária excessiva se esta for
descontrolada em relação a antigénios non-self (doenças alérgicas) ou a uma resposta
imunitária aberrante se esta for direcionada contra antigénios sefl (doenças autoimunes).

Hipersensibilidade Imediata (Tipo I)


São exemplos de hipersensibilidade do tipo I a rinite alérgica, as alergias alimentares,
a asma ou anafilaxia. Este tipo de hipersensibilidade é a desordem mais comum do sistema
imunitário. Envolve a produção de IgE em resposta a antigénios ambientais e a desgranulação
dos mastócitos na re-exposição a esse antigénio. Provoca um aumento da permeabilidade
vascular, contração do músculo liso e inflamação.

Mecanismo
1. Exposição a antigénios ambientais provenientes de pólen,
alimentos, pelo, fármacos…
2. Ativação de células Th 2.
3. IL-4 e IL-3 estimulam os l infócitos B específicos a produzir
maior quantidade de IgE, específico para o alérgeno.
4. A IgE liga-se ao recetor FC dos mastócitos.
a. Dá-se a sensibilização: revestimento de mastócitos com
IgE específica para o antigénio ao qual o indivíduo é
alérgico.
5. Re-exposição ao antigénio.
6. O antigénio liga-se à IgE nos mastócitos sensibilizados.
7. Dá-se a ativação dos mastócitos que induz:
a. Desgranulação: libertação rápida do conteúdo de
grânulos pré-formados como aminas vasoativas
(provocam vasodilatação, aumento da permeabilidade
vascular e contração do músculo liso) ou proteases
(provocam dano tecidular local)
b. Síntese e secreção de mediadores lipídicos como
prostaglandinas (responsáveis por vasodilação) ou
leucotrienos (responsáveis pela contração do músculo
liso)
c. Síntese de secreção de citocinas (TNF, IL-1, IL-4, IL-5,
IL-6…): leva ao recrutamento de leucócitos e
consequentemente eosinófilos e neutrófilos, que
provocam a libertação de proteases e
consequentemente dano tecidular local, ou linfócitos Th
2, que produzem mais citocinas para exacerbação da
reação; no final, eosinófilos, neutrófilos e linfócitos Th2
provocam uma inflamação local.

Valéria Garcia 14
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas
da hipersensibilidade do tipo I
dependem da via de entrada do
alérgeno mas principalmente da
localização dos mastócitos
ativados.
Desta forma, ocorre
vasodilatação com aumento da
permeabilidade, contração do
músculo liso ou inflamação que
podem gerar eczemas. Estas
manifestações têm severidade
variável dependendo da doença
originada.

Terapêutica
No caso da hipersensibilidade tipo I, a terapêutica passa por inibir a desgranulação
dos mastócitos, através de anticorpos anti-IgE, por antagonizar efeitos mediadores libertados
por mastócitos, através de anti-histamínicos ou adrenalina, ou por reduzir a inflamação com
corticosteroides.
Também é possível recorrer a abordagens alternativas como a dessensibilização –
administração repetida de pequenas doses do alérgeno.

Hipersensibilidade tipo II e tipo III


A hipersensibilidade tipo II é limitada aos
órgãos e tecidos que expressam o antigénio alvo
e é mediada por anticorpos (IgG / IgM) contra
componentes celulares ou da matriz (antigénios
self), causando dano.

No caso da hipersensibilidade do tipo III, os


anticorpos formam imunocomplexos com antigénios
solúveis; estes imunocomplexos depositam-se nos
vasos, em locais de maior turbulência ou maior
pressão, causando inflamação e dano.

Valéria Garcia 15
Tanto na hipersensibilidade tipo II como na hipersensibilidade tipo III a maioria dos
anticorpos atua contra antigénios self, no entanto, também existem anticorpos específicos para
antigénios non-self que provocam, por exemplo, febre reumática (originada pela deposição, no
músculo cardíaco, de anticorpos ani-streptococcus após infeção com este agente) e
glomerulonefrite (causada pela deposição, nos glomérulos renais, de imunocomplexos após
infeção com Streptococcus).

Mecanismo

Indução de inflamação local e dano tecidular

As IgM, bem como as IgG, levam à ativação do complemento pela via clássica. Esta
ativação obriga a um recrutamento e ativação de neutrófilos e macrófagos através de recetores
Fc que provocam a fagocitose e levam à inflamação e dano tecidular; por outro lado, a
ativação dos neutrófilos e macrófagos leva também à libertação de ROS e enzimas lisomais
que, por sua vez, também provocam inflamação e dano tecidular.

Valéria Garcia 16
Interferência com função celular (sem dano tecidular)

Pode provocar
inibição ou ativação
de recetores.

Manifestações clínicas
Os anticorpos, relacionados com a hipersensibilidade do tipo II, podem provocar anemia
hemolítica autoimune ou síndrome de Goodpasture, por exemplo.
Em relação à hipersensibilidade tipo III, os imunocomplexos provocam, por exemplo,
poliartrite nodosa.

Terapêutica
Para tratar hipersensibilidade do tipo II e III usam-se mecanismos para evitar a
inflamação e as suas consequências, como corticosteroides ou plasmaferese (reduz os níveis de
anticorpos / imunocomplexos circulantes), ou tenta-se inibir a produção de anticorpos, através
do bloqueio do ligando CD40 (linfócitos T helper) ou através de indução de tolerância.

Hipersensibilidade tipo IV
Acontece devido à reação dos linfócitos T (frequentemente contra antigénios self) nos
tecidos. A maioria das reações de hipersensibilidade tipo IV á causada por autoimunidade
limitada aos órgãos/tecidos que expressam o antigénio alvo; no entanto, nalgumas situações o
dano nos tecidos pode resultar de uma resposta imunológica normal ao agente microbiano: no
caso da tuberculose, M. tuberculosis é difícil de erradicar, a resposta imune crónica (inflamação
granulomatosa) é a principal causa de dano no local de infeção; em relação à hepatite vírica, a
destruição de hepatócitos infetados por CTLs causa lesão hepática.

Valéria Garcia 17
Mecanismos

Hipersensibilidade tardia (DTH)


Os linfócitos T CD4+ reconhecem o antigénio e provocam a libertação de citocinas que
estimulam a inflamação e ativam macrófagos, levando à lesão tecidual.

Lise direta por CTLs


As respostas dos CTLs à infeção viral podem levar a dano tecidual por morte de células
infetadas, mesmo que o próprio vírus não tenha efeitos citopáticos.
O processo baseia-se no reconhecimento de antigénios pelos linfócitos T CD8+ que leva
à lise direta das células autólogas que expressam antigénios e que, por sua vez, provoca a
lesão tecidular.

Manifestações clínicas
No caso de diabetes mellitus insulinodependente há existência de macrófagos e
linfócitos em torno das ilhotas de Langerhans, no pâncreas, que destroem as células β produtoras
de insulina. Deste modo, conclui-se que não está estabelecida a especificidade dos linfócitos T.
A esclerose múltipla é uma doença auto-imune do sistema nervoso central na qual
linfócitos T CD4+ reagem contra antigénios da mielina. A reação de hipersensibilidade do tipo
tardio resulta na ativação de macrófagos em torno dos nervos no cérebro e na medula espinhal,
destruição da mielina, anormalidades na condução nervosa e défices neurológicos.

Terapêutica
Para reduzir a inflamação são usados corticosteroides e, eventualmente, antagonistas de
citocinas, que têm eficácia comprovada em doenças como a artrite reumatoide e doença
inflamatória intestinal.
A imunossupressão, inibição da resposta de linfócitos T, é feita através do uso de
ciclosporina mas existem novas abordagens como o uso de antagonistas de recetores de
citocinas (IL-2) ou bloqueio de co-estimuladores (B7).

Valéria Garcia 18
Tolerância e autoimunidade
Os linfócitos com capacidade para reconhecer antigénios próprios estão constantemente
a ser produzidos e todos os linfócitos contactam constantemente com antigénios próprios. No
entanto, o sistema imunitário reage a uma grande variedade de antigénio estranhos mas não
reage a antigénios próprios.
Para discriminar o próprio do não próprio e evitar a resposta imunitária contra
antigénio próprios contamos com a ação da tolerância imunológica. Se estes mecanismos
falharem estamos, então, perante a autoimunidade.

Tolerância
A tolerância diz respeito
à ausência de resposta
imunitária a antigénios e é
induzida pela exposição de
linfócitos a estes antigénios.
A natureza da resposta
(ativação, tolerância ou ignorar)
depende tanto da natureza do
linfócito, como da natureza do
antigénio ou da forma como o
antigénio é apresentado ao
linfócito.
O conhecimento dos fatores que que determinam a natureza da resposta imunológica
após o contacto com o antigénio contribuíram para o tratamento de alergias e doenças
autoimunes bem como para o prevenção da rejeição de transplantes.

A tolerância central é
induzida em linfócitos imaturos por
contacto com o antigénio próprio
nos órgãos linfoides primários ou
generativos (medula óssea e timo).

Pelo contrário, a tolerância


periférica é induzida em linfócitos
maduros por contacto com
antigénios próprios nos órgãos
linfoides periféricos (antigénios
ausentes de órgãos linfoides
generativos).

Valéria Garcia 19
Linfócitos T – tolerância central
No timo, são expressas proteínas próprias de todo o organismo. Também os linfócitos T
do timo (imaturos), através do TCR reconhecem antigénios self ou non-self.
O reconhecimento de
antigénios self por linfócitos T
(CD4+ ou CD8+), durante a
maturação no timo, pode originar
uma seleção negativa que
promove a apoptose da célula T
se a interação for forte (a
afinidade do TCR para antigénio
é alta e a expressão de antigénio
é abundante no timo) ou origina a
diferenciação em linfócitos T
reguladores que seguem para
tecidos periféricos.
Da seleção negativa e da diferenciação em linfócito T reguladores resulta um conjunto
de linfócitos que sobrevive a estes processos de seleção e termina a sua maturação sendo
desprovido de linfócitos T autoreativos (potencialmente perigosos) e que previne a resposta
imunitária contra a grande variedade de antigénios self na periferia.

Linfócitos T – tolerância periférica


A tolerância periférica é induzida quando linfócitos T maduros reconhecem antigénios
self em tecidos periféricos (linfócitos T self reativos), conduzindo a anergia (inativação funcional:
a ativação de linfócitos T requer sinal 1 (AG) e 2 (co-estimulador); a anergia acontece quando
a apresentação do antigénio é feita sem esse co-estimulador e a linfócitos T que expressam
CTLA-4 em vez de CD28), deleção de linfócitos (morte por ativação: o reconhecimento de
antigénios sem 2º sinal e a ativação repetida de linfócitos T levam, respetivamente, a apoptose
e a coexpressão Fas+FasL, e ambas, levam à ativação das vias apoptóticas e,
consequentemente, à morte de células T self reativas) ou supressão imunológica (o contacto com
antigénios self leva à diferenciação de células T em T reguladoras (CD25); a diferenciação leva
à produção de citocinas imuno-supressoras e os linfócitos T reguladores promovem a interação
com APC; juntamente, promovem a supressão da ativação de células T self reativas).
Esta tolerância é importante para evitar resposta de linfócitos T a antigénios self
presentes nos tecidos periféricos e ausentes no timo, ou serve como mecanismo de contingência
para situações em que a tolerância central é incompleta.

As diferenças entre antigénios self e non-self determinam a resposta imune (tolerância vs


ativação).
Características do Antigénios non-self
Antigénios self tolerogénicos
antigénio imunogénicos
Sim: elevadas concentrações induzem Não: antigénios microbianos
Presença em órgão
seleção negativa e células T reguladoras estão concentrados nos
generativos
(tolerância central). órgãos linfoides secundários.
Apresentação com Não: deficiência do segundo sinal pode Sim: segundo sinal promove
sinais secundários conduzir à anergia do linfócito T ou sobrevivência e ativação de
(imunidade inata) apoptose. linfócitos.

Persistência do Duradoura. Ativação repetida de células Pouco duradoura. Resposta


antigénio T induz a apoptose. imunitária elimina o antigénio.

Valéria Garcia 20
Linfócitos B – tolerância central e periférica
Na tolerância central e periférica, os linfócitos B têm como objetivo prevenir a produção
de anticorpos e isto é importante para antigénio self proteicos ou não proteicos, que não são
reconhecidos por células T.

Linfócitos B – tolerância central


A interação forte
entre linfócitos B imaturos e
antigénios self provoca a
troca da cadeia leve da Ig
que leva à alteração da
especificidade do recetor.
Por outro lado, essa interação
também provoca a morte por
apoptose devido à seleção
negativa.

Linfócitos B – tolerância periférica


O reconhecimento de
antigénios self em órgãos linfoides
periféricos sem auxílio de células
T helper provoca anergia
(inatividade funcional com
incapacidade de resposta em
contactos posteriores) ou exclusão
folicular e apoptose (com
privação de estímulo de
sobrevivência).

Autoimunidade
A autoimunidade refere-se à resposta
imunitária contra antigénios self; é causa importante
de doença e resulta na produção de anticorpos
contra antigénios self e na ativação de linfócitos T
self reativos.
Ainda não é conhecida a forma como a
tolerância self (a linfócitos self reativos) pode falhar
mas tanto a suscetibilidade genética como os
fatores ambientais (inflamação) são considerados
fatores de risco.

Valéria Garcia 21
Fatores genéticos e autoimunidade
Com o objetivo de conhecer mais sobre os genes envolvidos em doenças autoimunes,
foram feitos estudos de associação em vários elementos de uma família, estudos de linhagem em
modelos animais e estudos genómicos.
Sabe-se que a maioria das doenças autoimunes é multigénica, e os indivíduos afetados
herdam múltiplos polimorfismos genéticos que contribuem para a suscetibilidade a doenças. A
variação em alelos MHC e não-MHC é visto como um fator de predisposição genética e foi
estabelecida uma associação multigénica complexa.
Entre os genes que se associam a autoimunidade, a associação mais forte ocorre com os
genes do MHC, especialmente os genes da classe II do MHC. O número de alelos de MHC varia
entre pacientes com doenças autoimunes e pacientes saudáveis, isto porque a apresentação
deficitária de antigénios self provoca uma falha de diferenciação de células T reguladoras, que,
consequentemente, provoca um défice na seleção negativa de células T e, por isso, aumenta o
risco de doença autoimune.
Sabes que existem vários genes que influenciam a manutenção da tolerância aos
antigénios próprios, sendo essa é uma área em franca expansão.

Infeções e autoimunidade
As infeções virais ou bacterianas podem contribuir para o desenvolvimento e
exacerbação de autoimunidade pela ativação de linfócitos self reativos. Desta forma, as lesões
autoimunes não se devem ao próprio agente infecioso, mas resultam de respostas imunes do
hospedeiro que podem ser desencadeadas ou desreguladas pelo microrganismo.

Se um antigénio self for apresentado por uma APC tecidual em repouso, deficiente em
co-estimulador, a um linfócito T self reativo, ocorre tolerância periférica por anergia.

Uma infeção, com resposta inflamatória local, faz com que o microrganismo ative as
APCs e estas aumentem a expressão de co-estimuladores bem como citocinas, levando à
estimulação de linfócitos T self reativos. Neste caso, a infeção pode reverter a anergia
promovendo a sobrevivência e ativação de células T self reativas.

Valéria Garcia 22
A infeção, com resposta inflamatória local, pode levar ao processamento do antigénio
microbiano e à apresentação por APCs do péptido microbiano, provocando uma reação imune
contra antigénios self. Estamos, portanto, perante mimetismo molecular que se caracteriza por
reação cruzada entre antigénios self e microbianos.

A infeção que provoca uma resposta inflamatória local, pode levar à lesão do tecido,
que provoca a libertação de antigénios self normalmente ocultos do sistema imunitário levando a
uma reação autoimune contra o tecido.

Imunodeficiências Congénitas e Adquiridas


A integridade do sistema imunológico é essencial para a defesa contra organismos
infeciosos e seus produtos tóxicos e, portanto, para a sobrevivência dos indivíduos.
Uma imunodeficiência é caracterizada por defeitos num ou mais componentes do
sistema imunológico, que podem levar a distúrbios graves e, frequentemente, fatais.
A imunodeficiência pode ser congénita, caracterizada por defeitos genéticos que
resultam em suscetibilidade maior para infeções, ou adquirida, que se desenvolve como
consequência de desnutrição, cancro disseminado, tratamento com drogas imunossupressoras ou
infeção de células do sistema imunológico.
As imunodeficiências provocam uma suscetibilidade aumentada para infeções ou cancros
e podem resultar de defeitos no amadurecimento ou ativação de linfócitos ou defeitos nos
mecanismos efetores de imunidade inata e adaptativa.

Valéria Garcia 23
Imunodeficiências Congénitas
Caracterizam-se por defeitos genéticos que bloqueiam a maturação ou função de
diferentes componentes do sistema imunitário, como os linfócitos. A anomalia pode estar em
diferentes etapas do amadurecimento de linfócitos ou nas respostas de linfócitos maduros ao
estímulo antigénico.
As anomalias no desenvolvimento e função de linfócitos B resultam na produção
deficiente de anticorpos e maior suscetibilidade a infeções por microrganismos extracelulares.
São diagnosticadas por níveis reduzidos de imunoglobulinas séricas, respostas deficientes a
anticorpos na vacinação e número reduzido de células B na circulação.
As anomalias no desenvolvimento e função de linfócitos T provocam imunidade mediada
por células deficientes e uma maior incidência de infeção. São diagnosticaas por número
reduzidos de células T no sangue periférico, baixas respostas proliferativas de linfócitos
sanguíneos a ativadores policlonais da célula T e reações de hipersensibilidade cutânea
retardada a antigénios antimicrobianos comuns.

Defeitos no amadurecimento de linfócitos


O amadurecimento de linfócitos envolve várias etapas como a proliferação celular,
expressão de recetores dos antigénios, seleção de células com especificidades úteis e mudanças
na expressão de vários genes. As imunodeficiências congénitas em humanos resultam de
bloqueios nas várias etapas deste amadurecimento linfocitário.
Os distúrbios que afetam tanto linfócitos B quanto linfócitos T, com defeitos resultantes
na imunidade humoral e mediada por células, são designados como imunodeficiência combinada
severa (SCID).

Valéria Garcia 24
SCID ligada ao X
Os problemas relacionados com SCID ligada ao X devem-se a mutações no gene que
codifica a subunidade da cadeia γ, recetora de citocinas IL-2, IL-4, IL-7, IL-9, IL-15…
Estas mutações são recessivas pelo que as mulheres heterozigóticas podem ser
portadoras mas fenotipicamente normais, enquanto os homens que herdam um cromossoma X
mutado manifestam a doença.
A SCID ligada ao X caracteriza-se pelo amadurecimento deficitário de células T e
células NK e por números reduzidos de células T e NK maduras. Isto acontece devido a uma
diminuição da resposta proliferativa de percursores imaturos de linfócitos a citocinas que
provocam uma diminuição na sobrevivência, maturação e proliferação e, como consequência,
uma diminuição no número de linfócitos maduros, uma diminuição da imunidade mediada por
células e uma diminuição da imunidade humoral.

SCID autossómica
Os casos de SCID autossómica devem-se à deficiência da enzima adenosina desaminase
(ADA) ou da purina nucleosídio fosforilase (PNP) que participam no catabolismo de purinas.
Estas mutações levam à acumulação de metabolitos tóxicos em células que se encontram em
proliferação ativa provocando o bloqueio na maturação de linfócitos T e uma descida da
imunidade humoral.
Formas mais raras de SCID autossómica devem-se a mutações na JAK3 cinase, que
intervém na transdução do sinal gerado pela cadeia , ou nas RAG1 e RAG2, que intervêm no
rearranjo de genes de células B ou T necessários à criação de imunoglobulinas e recetores de
células T com novas especificidades.

Agamaglobinémia ligada ao X
A agamaglobinémia ligada ao X caracteriza-se pela ausência de gamaglobulina no
sangue e isso deve-se a mutações na tirosina cinase da célula B (Btk) que está envolvida na
transdução de sinais provenientes do recetor de células pré-B, que são necessários para o
amadurecimento contínuo das células, e por isso as células B não passam de células pré-B.
O bloqueio da maturação de células B faz com que os pacientes afetados tenham Ig
sérica baixa, células B reduzidas no sangue periférico, ausência de centros germinais nos
nódulos linfáticos e ausência de células plasmáticas nos tecidos.

Síndrome DiGeorge
Esta síndrome deve-se a uma malformação congénita que resulta em desenvolvimento
deficitário do timo e das glândulas paratiroides. O defeito congénito manifesta-se por
hipoplasia do timo, levando ao amadurecimento deficiente dos linfócitos T.

Tratamento
Para o tratamento dos defeitos no amadurecimento dos linfócitos, há possibilidade de
antibioterapia para as infeções; transplante da medula óssea no caso da SCID; terapia de
substituição Ig’s relativamente à agamaglubinémia; e terapia génica que seria o ideal mas tem
pouco aplicação prática.

Valéria Garcia 25
Defeitos na ativação e funcionamento de linfócitos

Síndrome hiper-IgM ligada ao X


É causada por mutações no gene que codifica o ligante CD40 da molécula efetora da
célula T. As formas mutantes do ligante CD40 não estimulam as células B a passar pela mudança
do isótipo de cadeia pesada, o que requer o auxílio da célula T.

Deficiências na produção de imunoglobulinas


É uma imunodeficiência comum e variável e deve-se a alterações genéticas como uma
deficiente ativação ou maturação de células B ou uma deficiência na função de células T
auxiliares.
Estas alterações provocam deficiências na produção de determinados isotipos de
imunoglobulinas e, desta forma, há uma diminuição dos níveis séricos de IgM, IgA e/ou IgM, e a
resposta de anticorpos a infeções torna-se fraca, aumentando a suscetibilidade a infeções.

Deficiência MHC II ou TCR


As mutações em fatores de transcrição (APCs) provocam uma diminuição da expressão
de MHC classe II o que leva à maturação defeituosa de CD4+, bem como à diminuição da
atividade destes; o resultado é a diminuição da imunidade celular e humoral. As mutações
podem ser noutros genes de células T.

Valéria Garcia 26
Defeitos na imunidade inata
Os fagócitos e o complemento são importantes mediadores da imunidade inata; assim,
distúrbios congénitos dos fagócitos e do sistema de complemento resultam em infeções
recorrentes, de gravidade variada.

Doença granulomatosa crónica


É causada por mutações num componente da enzima fagócito-oxidase que resultam na
produção deficiente de um produto intermediário do oxigénio reativo e, por isso, há uma falha
na eliminação dos microrganismos que passaram por fagocitose. Desta forma, como as infeções
provocadas pelos microrganismos não vão ser controladas pelos fagócitos, estimulam respostas
imunológicas crónicas mediadas pelas células, resultando em ativação de macrófagos mediada
pelas células T e formação de granulomas, compostos de macrófagos ativados.

Deficiência da adesão leucocitária


Em situações normais, as integrinas e as seletinas são responsáveis pela adesão de
leucócitos. Se estas forem mutadas, há uma incapacidade de adesão de leucócitos ao endotélio
vascular que provoca um défice no recrutamento leucocitário para o local da infeção.

Deficiências no complemento
A ativação deficitária da cascata do complemento através de C3 provoca infeções
severas e fatais. Por outro lado, se C2 ou C4 forem incapazes de eliminar imunocomplexos,
ocorre uma hipersensibilidade mediada por esses mesmos imunocomplexos (geralmente, a
ativação do complemento pela via clássica elimina imunocomplexos formados constantemente na
resposta humoral).

Imunodeficiências Adquiridas
Resultam de alterações adquiridas ao longo da vida e, por isso, não se devem a causas
genéticas. São causadas por doenças metabólicas, como diabetes ou cirrose hepática;
malnutrição; infeções virais, como a hepatite B e o sarampo, ou fúngicas, como aspergilose;
traumas, como cirurgia e anestesia ou queimaduras; idade; doenças auto-imunes, como artrite
reumatoide e lúpus; ou terapêutica, no caso de uso de fármacos citotóxicos, radiações ou
imunossupressores.
Outras causas para as imunodeficiências adquiridas são, por exemplo, a infeção pelo
vírus da imunodeficiência humana, que provoca a depleção de células T auxiliares, a
desnutrição de proteínas-calorias, que ocorre sobretudo em países subdesenvolvidos e provoca
disfunções metabólicas que inibem o amadurecimento e a função dos linfócitos, a radioterapia e
quimioterapia para cancro, que diminuem os precursores de linfócitos da medula óssea, a
remoção do baço e metástases de cancro para a medula óssea, que provocam a fagocitose
diminuída dos microrganismo e um local reduzido de desenvolvimento leucocitário.

Valéria Garcia 27
Infeção por HIV – SIDA
A síndrome da imunodeficiência adquirida é causa pela infeção pelo HIV que infeta
várias células do sistema imunológico, incluindo células T que expressam CD4, macrófagos e
células dendríticas. A SIDA caracteriza-se por profunda imunossupressão, com infeções
oportunistas associadas a tumores malignos, desgaste e degeneração do sistema nervoso
central.

Características do HIV
O HIV é um retrovírus capaz de infeção latente a longo prazo das células e de efeitos
citopáticos a curto prazo, produzindo doenças fatais, de progressão lenta. O HIV tem dois
subtipos: HIV-1 e HIV-2; enquanto o primeiro é a causa mais comum de SIDA, o segundo difere
na estrutura genómica mas causa uma síndrome clínica semelhante.

Por ser um retrovírus, é


constituído por uma dupla cadeia
de RNA e enzimas associadas como
a transcriptase reversa, protéase e
integrase, empacotadas num núcleo
cónico composto de proteína p24
com uma matriz de proteína p17 ao
seu redor, todos envolvidos por um
invólucro de membrana de
fosfolípido. As glicoproteínas da
membrana gp41 e gp120,
codificadas pelo vírus, são ligadas
ao envelope fosfolipídico.
O RNA viral é constituído
por proteínas estruturais, enzimas e
proteínas reguladoras que
participam na transcrição de genes
virais e no ciclo de vida do vírus.

Valéria Garcia 28
Ciclo de vida do vírus

Valéria Garcia 29
Infeção
A glicoproteína do invólucro é constituída tanto por gp41 como gp120; esta última liga-
se a moléculas CD4, induzindo uma mudanças de conformação que promove a ligação
secundária de gp120 com um co-recetor de quimiocina. Essa ligação induz uma mudança
conformacional em gp41 que expõe uma região hidrofóbica que se insere na membrana celular
e permite que a membrana no vírus se funda com a membrana celular-alvo. O RNA viral é,
então, libertado no citoplasma.

Produção de DNA viral e integração


O genoma de RNA do HIV vai ser transcrito para um forma de DNA de cadeia dupla
através da transcriptase reversa, e o DNA viral penetra no núcleo através da ação da
integrase. O DNA integrado do HIV é chamado de pró-vírus e permanece num estado de
latência durante um período que pode ir de meses a anos.

Expressão de genes virais


A ativação exógena da célula hospedeira por infeções ou citocinas dá início à
transcrição do gene de HIV, levando à produção de RNA e proteínas virais.
A resposta normal de linfócitos T com infeção latente a microrganismos pode ser a via
para que o pró-vírus passe a vírus. Assim, as várias infeções que os pacientes com SIDA
adquirem estimulam a produção de HIV e a infeção de células adicionais.

Produção de partículas virais


Depois da organização de novas partículas virais, estas são exportadas do núcleo e
migram para a membrana onde são encapsuladas com o envelope lipídico e depois libertadas.

Valéria Garcia 30
Patogénese
O HIV é transmitido entre indivíduos por via sexual, placentária, por partilha de
seringas ou por transfusões.
A doença causada por HIV inicia-se com infeção aguda, que é controlada parcialmente
pela resposta imune adaptativa, e avança para a infeção progressiva dos tecidos linfoides
periféricos.
A infeção primária ocorre quando o vírus
presente nos fluidos corporais de um indivíduo
ingressa nas células de outro indivíduo. As
primeiras células infetadas são linfócitos T CD4+,
monócitos (no sangue), macrófagos (nas mucosas)
e células dendríticas que, depois de capturarem o
vírus, migram para os órgãos linfoides.
Alguns dias depois da primeira
exposição, ocorre uma replicação viral abundante
que leva a uma viremia. A viremia permite que o
vírus se dissemine por todo o corpo e infete
células T auxiliares, macrófagos e células
dendríticas nos tecidos linfoides periféricos.
À medida que a infeção avança, o
sistema imunológico adaptativo monta respostas
imunológicas com mediação humoral e celular
dirigidas aos antigénios virais.
Numa segunda fase, o sistema
imunológico ainda consegue lidar com a maioria
das infeções com microrganismos oportunistas e
por isso o vírus encontra-se num período de
latência onde a destruição das células T CD4+
dentro dos tecidos linfoides progride lentamente.
Na fase crónica, o paciente torna-se
suscetível a outras infeções e as respostas
imunológicas a essas infeções podem estimular a
produção de HIV e acelerar a destruição de
tecidos linfoides.
A doença do HIV progride até à fase
final (SIDA) onde a destruição do tecido linfoide
periférico está essencialmente terminada. A
viremia do HIV pode subir drasticamente,
enquanto a replicação viral noutros locais acelera
sem controlo.

Valéria Garcia 31
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas da doença por HIV ocorrem em diferentes fases:
1. Viremia aguda com sintomas difusos como a febre e o mal-estar.
2. Latência caracterizada por perda progressiva de células T CD4+ e assintomática.
3. SIDA é uma imunodeficiência e caracteriza-se pelo aumento da suscetibilidade a infeções e
cancro.

Aumento da suscetibilidade a
Destruição progressiva de

infeções intracelulares
Diminuição da resposta de
CTL
linfócitos T CD4+

Aumento da suscetibilidade a
cancro

Aumento da suscetibilidade a
infeções extracelulares

Diminuição da produção de Demência


anticorpos (devido a infeção do SNC)

Diminuição da massa corporal


(devido a alterações
metabólicas)

A resposta imunológica mediada por anticorpos e CTLs contra antigénios virais controla
as manifestações clínicas iniciais (viremia aguda) e força um longo período assintomático, e por
isso de latência, mas não evita a progressão. Desta forma, um aumento da taxa de mutação e
uma diminuição da expressão de MHC I levam a uma ineficácia de anticorpos e CTLs; a ligação
anticorpo-antigénio viral facilita a penetração do vírus em macrófagos e células dendríticas,
aumentando o número de reservatórios da infeção; a lise de células infetadas (via CTLs)
promove a libertação de partículas virais e re-infeção; por último, a imunodeficiência
(diminuição de CD4+) difulta a irradicação do vírus.

Terapêutica
A administração precoce de cocktails de fármacos antirretrovirais que bloqueiam a
atividade de transcriptase reversa, protéase e integrase (todas elas enzimas víricas) tem como
objetivo controlar a replicação do VIH e as complicações infeciosas da doença.
Esta terapêutica tem benefícios consideráveis a curto-prazo, no entanto é dispendioso e
a sua eficácia a longo-prazo é desconhecida mas sabe-se que não erradica reservatórios de
vírus latente e pode desenvolver-se resistência aos fármacos.
O controlo mundial da infeção por VIH passa por desenvolver uma vacina eficaz que
deverá induzir resposta da imunidade inata, induzir títulos elevados de anticorpos
neutralizantes, induzir resposta forte por células T, induzir imunidade das mucosas e proteger
contra os diferentes subtipos de HIV.

Valéria Garcia 32
Aplicações Práticas em Imunologia
Tecnologias fundamentais
Os anticorpos que se conhecem como aplicações da imunologia podem ser poli- ou
monoclonais. De entre os anticorpos monoclonais, estes podem ser murínicos, quiméricos,
humanizados ou humanos, tendo em conta a sua origem.

Anticorpos policlonais
Os anticorpos policlonais foram os primeiros a ser descobertos e consistem num conjunto
de diferentes anticorpos, produzidos por diferentes linfócitos B, em resposta ao mesmo
antigénio, reconhecendo diferentes regiões desse mesmo antigénio.

Produção
Estes anticorpos policlonais são usados para fins terapêuticos, diagnóstico ou
investigação. A sua produção resulta da imunização de humanos ou animais com antigénios e
recolha do soro para tratamento / imunização:
1. Injetam-se animais com um antigénio, induzindo uma resposta imune (produção de
anticorpos contra o antigénio): imunização
a. A ativação de clones de linfócitos B para produção de uma mistura de
anticorpos
2. Recolha do sangue, coagulação e recolha do soro
3. Testar presença de anticorpos
4. Purificar o soro (por cromatografia de afinidade)
a. Deve efetuar-se este passo porque o oro pode conter anticorpos contra
eventuais impurezas do antigénio ou anticorpos contra outros antigénios a que o
animal esteve exposto anteriormente.
Como existe muita variabilidade na composição dos anticorpos, há uma diminuição da
eficácia e, por isso, também uma diminuição na quantidade de produto. Por estas razões, há
necessidade de recorrer a uma segunda imunização, com o objetivo de melhorar a quantidade
de anticorpos policlonais.
Estas limitações levaram à produção de anticorpos monoclonais.

Valéria Garcia 33
Anticorpos monoclonais
Os anticorpos monoclonais são um conjunto de anticorpos idênticos que reconhecem o
mesmo epítopo de antigénio para o qual são específicos.

Produção
São produzidos em laboratórios (in vitro) por populações de células resultantes da expansão
clonal de um único hibridoma (células iguais que produzem anticorpos iguais contra um só
epítopo), resultante da fusão de um único linfócito B (estimulado) e uma célula de mieloma.
1. Injetam-se animais com um antigénio: imunização
2. Recolhem-se os linfócitos B
3. Faz-se a fusão dos linfócitos B com células do mieloma, originando o hibridoma
a. Os linfócitos sobrevivem pouco tempo in vitro, então juntam-se com células do
mieloma que são imortais
4. Os hibridomas são separados, cultivados e testados para identificar os que produzem
os anticorpos pretendidos.

Valéria Garcia 34
Classificação
Os primeiros anticorpos monoclonais que surgiram tinham origem 100% animal, eram,
portanto, anticorpos animais. Como eram muito imunogénicos (reconhecidos como estranhos)
quando administrados em humanos, houve necessidade de se desenvolver anticorpos
quiméricos, onde as regiões variáveis são de origem animal e as regiões constantes são de
origem humana; no entanto, têm uma baixa eficácia ao nível do reconhecimento e também
apresentam uma diminuição na atividade do complemento. Mais tarde foram desenvolvidos
anticorpos humanizados
onde apenas as regiões
determinantes de
complementaridade são de
origem animal. Os anticorpos
humanos têm origem100%
humana e, por isso, são os
menos imunogénicos.
O uso de anticorpos humanos envolve técnicas muito complexas e dispendiosas, para
além de poderem surgir problemas relacionados com a segurança, uma vez que a imortalização
de células humanas produtoras de anticorpos requer a manipulação com vírus.

Nomenclatura

Designação Identificador Identificador


de fantasia do alvo / da fonte Sufixo -mab
doença

Identificador do alvo / doença


Viral -vir-
Bacterial -bac-
Imune -lim-
Infeções e lesões -les-
Cardiovascular -circ-

Tumores
Cólon -col-
Melanoma -mel-
Mama -mar-
Testículos -got-
Ovário -gov-
Próstata -pr(o)-

Identificador da fonte
Humano u
Rato o/a
Humanizado zu
Primata i
Quimérico xi

Valéria Garcia 35
Aplicações biomédicas
Os anticorpos monoclonais são usados em testes diagnóstico, no tratamento de doenças
auto-imunes e cancro, na prevenção da rejeição de transplantes, na imunização passiva (soro
antitetânico) e no tratamento de intoxicações ou envenenamento, funcionando como antídotos.
Desta forma, são usados no diagnóstico, prevenção e tratamento de patologias, uma
vez que são usados para a deteção de determinadas moléculas, para a manipulação da
resposta imunitária e para a vectorização de fármacos / toxinas.

Vantagens e Desvantagens

Vantagens
 Aumento da homogeneidade
 Aumento da especificidade
 Aumento da afinidade
 Maior capacidade de produção
 Mais aplicabilidade prática

Desvantagens
 Custo elevado
 Imunogenicidade
o Reações alérgicas e neutralização por Ig’s do paciente
 Risco de contaminação e transmissão de antigénios infecciosos

Imunodeteção
Os anticorpos, envolvidos no reconhecimento específico, juntamente com os antigénios,
relacionados com a interação e ligação, formam o complexo Ac-Ag. Esta é uma interação
biológica muito importante que permite a separação e / ou deteção de moléculas.
A formação do complexo Ac-Ag permite a precipitação de antigénios solúveis, a
aglutinação e a marcação, sendo que as duas primeiras requerem a interação com dois locais
de ligação do anticorpo.

A imunomarcação é um método indireto no qual se usa um anticorpo


primário, produzido em coelho, contra proteínas humana, e um anticorpo
secundário, produzido em rato, contra IgG de coelho (com marcador). A
forma de deteção vai depender dos marcadores usados, assim: enzimas +
substrato quimioluminescente  cor; fluoróforo  fluorescência;
radioisótopo  radiação.

Imunoprecipitação
A interação de antigénios solúveis com os dois locais de ligação do anticorpo, leva à
formação de complexos insolúveis. Depois faz-se a separação dos complexos por centrifugação
para análises bioquímicas (p.e. PAGE).
Adicionando numa preparação um
anticorpo contra uma proteína de interesse,
o anticorpo vai ligar-se a essa proteína.
Adicionando, por exemplo, a proteína A,
faz com que o complexo anticorpo-proteína
se torne insolúvel. Ao centrifugar a solução,
remover o sobrenadante e lavando, obtém-
se o precipitado de imunocomplexos.

Valéria Garcia 36
ELISA – Enzime Linked Immunosorbent Assay
1. Numa placa de superfície inerte com poços, colocam-se os antígenos de interesse,
juntamente com um tampão (sensibilização).
2. Realiza-se uma lavagem
3. Faz-se o bloqueio
a. Ocupação dos poços livres (são sítios inespecíficos).
4. Faz-se nova lavagem
5. Trata-se a superfície com uma solução anticorpo primário para que este se ligue à
proteína.
6. Faz-se nova lavagem para retirar os anticorpos primários que não se ligaram a
proteínas.
7. Trata-se o produto com anticorpos secundários que possuem uma enzima acoplada
a. Esta enzima produz uma substância corada
8. Lava-se a superfície para retirar os anticorpos secundários que não se ligaram aos
anticorpos primários
9. Adiciona-se substrato de ligação para a enzima produzir a substância corada
10. Mede-se a intensidade da cor da superfície para verificar e quantificar a presença de
substância de interesse.

Western blotting (Imunoblotting)

Este método permite saber se a proteína


está presente, em caso de resposta afirmativa, a
concentração de proteína e a massa molecular
da proteína.

Valéria Garcia 37
Imunocitoquímica
É uma técnica de coloração histológica com recurso a anticorpos. Permite identificar a
presença de determinada proteína numa secção histológica e permite também determinar a
localização histológica e celular de determinada proteína.
Para observar, conjuga-se o anticorpo primário ou secundário com metais coloidais
(ouro), radioisótopos, compostos fluorescentes (fluoresceína) ou com uma enzima.

Os métodos de imunocoloração simples


podem ser diretos se o anticorpo primário for
conjugado com fluorescência, ou indiretos se o
anticorpo primário não for marcado mas o
anticorpo secundário for marcado com
fluorescência.

Um exemplo destes métodos é o da Avidina-Biotina: a avidina tem uma elevada


afinidade para a biotina e cada molécula de avidina liga quatro moléculas de biotina; o
anticorpo secundário pode ter mais moléculas de biotina e então aplica-se um complexo
avidina-biotina-enzima (complexo ABC) para amplificação do sinal.

Valéria Garcia 38
Imunofarmacologia
O sistema imunitário responde a antigénios reconhecidos como non-self, dando origem a
uma resposta imunitária. Esta resposta pode ser benéfica no caso das infeções por
microrganismos patogénicos ou no caso dos tumores, por imunovigilância. Por outro lado, no caso
da hipersensibilidade, autoimunidade ou na rejeição de transplantes, ela é prejudicial.
Em grande parte dos casos, a resposta imunológica necessita de uma intervenção
farmacológica, quer de imunoestimulantes, para potenciar a resposta, no caso de ser benéfica,
quer de imunossupressores, para inibir a resposta, quando esta é prejudicial.

Imunossupressores

Glucocorticoides
Os glucocorticoides são anti-inflamatórios e imunossupressores que diminuem a
expressão de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, 2, 6…) e, consequentemente, diminuem também a
proliferação de células T.
São usados no tratamento de doenças auto-imunes e em casos de transplante. O seu uso
crónico, em doses elevadas, pode provocar osteoporose, hiperglicemia, hipertensão e um
aumento da suscetibilidade a infeções.
Fármacos como a prednisona e a prednisolona pertencem ao grupo dos
glucocorticoides.

Inibidores de calcineurina
Exemplos de inibidores de calcineurina são a ciclosporina ou o tacrolimus. Estes são
imunossupressores muito eficazes a atuam pela inibição potente e seletiva da ativação de
células T. Atuam nas vias intracelulares de transdução de sinal ativadas em resposta ao
reconhecimento de antigénio por TCR. Não apresentam citotoxicidade nem efeitos anti-
inflamatórios diretos.
A ciclosporina, por exemplo, é um polipéptido produzido por um fungo e o seu
complexo com ciclofilina inativa a calcineurina que, por sua vez, inativa o fator de transcrição
NFAT. Desta forma, diminui a expressão de IL-2 e outras interleucinas, em resposta à
estimulação antigénica de células T, o que contribui para a inibição da ativação de células T.
Estes inibidores apresentam alguma nefrotoxicidade que pode ser evitada pela
interrupção ou modificação do tratamento. São administrados via oral ou intravenosa,
metabolizados via hepática (CYP3A) e eliminados por via biliar.

Antiproliferativos e antimetabolitos
A azatioprina, a ciclofosfamida e o metotrexato são agentes que interferem com a
síntese de ácidos nucleicos, diminuindo a proliferação celular. Em células que se caracterizam
pela elevada proliferação celular, esta diminuição pode originar neoplasias ou depressão
medular.
Um exemplo de antiproliferativos e antimetabolitos é o micofenolato mofenil, que é um
pró-fármaco que inibe a enzima inosina monofosfato desidrogenase, necessária à síntese de
purinas em linfócitos. É usado, em associação, na profilaxia da rejeição de transplantes (renal,
cardíaco e hepático). O micofenolato mofenil apresenta efeitos adversos gastrointestinais
(diarreia e vómitos), hematológicos e aumento da suscetibilidade a infeções oportunistas.

Valéria Garcia 39
Anticorpos
São produtos de origem biológica ou biotecnológica e dividem-se em poli ou
monoclonais, sendo que estes últimos podem atuar especificamente em determinados pontos da
Resposta Inflamatória. Outras proteínas terapêuticas são outra alternativa mas a dificuldade da
técnica e o custo limitam a sua utilização clínica. Os anticorpos são promissores em casos de
transplantação ou doenças auto-imunes.

Anticorpos policlonais
Foram os primeiros a serem usados e foram obtidos através da imunização de animais
com antigénio humanos, seguida de purificação das Ig do soro.
A globulina anti-timócito, um exemplo de anticorpo policlonal, é obtida do soro de
coelhos imunizados com timócitos humanos. A sua função é bloquear as funções das células T
circulantes e provocar a sua depleção (citotoxicidade mediada por células ou complemento).

Anticorpos monoclonais
Substituíram os anticorpos policlonais, uma vez que apresentam mais especificidade,
reprodutibilidade e produção em quantidade ilimitada.
Um exemplo de anticorpos monoclonais é o muromonab, primeiro anticorpo monoclonal
aprovado para uso terapêutico. É um anticorpo murínico que reconhece o CD3 das células T,
diminuindo a sua atividade. É usado em transplantes mas o seu uso repetido é contraindicado
porque a sua origem murínica induz a formação de anticorpos que o neutralizam e diminuem a
sua eficácia, e pode apresentar efeitos secundários.
Os anticorpos monoclonais atuam pela opsonização e ativação do complemento, pelo
bloqueio competitivo de recetores, pela neutralização de mediadores (solúveis ou não) e pela
vectorização de drogas / toxinas. Estes mecanismos levam à destruição seletiva de células e à
imunossupressão.

Proteínas recombinantes
As proteínas recombinantes resultam da fusão de duas ou mais proteínas em cadeia
polipeptídica única e têm ação imunossupressora.
Um exemplo de proteínas recombinantes é a etanercept, uma proteínas dimérica que
resulta da fusão do domínio de reconhecimento de ligando do recetor TNF humano com a região
Fc da IgG1 humana. Vai ligar-se ao TNF, impedindo a interação com o recetor e é usado como
anti-inflamatório no tratamento de artrite reumatoide.

Valéria Garcia 40
Imunoestimuladores

Interferões
São proteínas produzidas no organismo humano por células do sistema imunitário, em
resposta a estímulos específicos. Coordenam a ação das células envolvidas na resposta
imunitária, através da ligação a recetores membranares específicos, resultando num aumento da
síntese proteínas, diminuição da replicação viral, diminuição da proliferação celular, aumento da
fagocitose por macrófagos, aumento da citotoxicidade linfocitária e aumento da capacidade
antigénica leucocitária.
O interferão α, produzido por leucócitos em resposta a infeções virais, é indicado no
tratamento de tumores e de doenças infeciosas. Os efeitos secundários mais comuns são a febre,
arrepios e cefaleias; podem também produzir efeitos no sistema nervoso central.
Os interferões β (1a 1b), produzidos por fibroblastos, são indicados no tratamento da
esclerosa múltipla porque reduzem a frequência da sua exacerbação clínica, mas podem
originar febre, mialgia e arrepios.
O interferão γ 1b, produzido por linfócitos T, ativa as células fagocitárias, estimulando-
-as a produzir ROS. É usado no tratamento de doença granulomatosa crónica, diminuindo a
frequência / severidade das infeções).

Interleucinas
São polipéptidos produzidos por linfócitos e monócitos, e estimulam a proliferação
linfocitária e potenciam a citotoxicidade mediada por linfócitos, células NK e macrófagos.
A IL-2 recombinante é usada para ativação da imunidade celular e pode provocar uma
diminuição do tónus vascular e pela transferência de proteínas plasmáticas e fluido para o
compartimento extravascular, podendo ter efeitos graves e potencialmente fatais.

Fatores de crescimento hematopoiético


São glicoproteínas que atuam nas células percursoras da medula óssea, aumentando a
mitose e a diferenciação de eritrócitos, granulócitos e macrófagos.
A administração de CSF recombinantes pode levar a um aumento de tolerabilidade da
quimioterapia (citotóxicos suprimem a hematopoiese na medula óssea).

Outros fármacos
A talidomida tem um efeito modulador na função imunitária, é usado no tratamento do
eritema nodoso leproso e no mieloma múltiplo; apresenta teratogenicidade e, por isso, é
absolutamente contrariado o seu uso em grávidas.
O BCG estimula células T e NK e é usado no tratamento e profilaxia de neoplasias.

Imunização ativa
Visa estimular o desenvolvimento do sistema imunitário pela exposição intencional do
paciente ao antigénio de interesse. É feita através de vacinação e tradicionalmente potencia as
defesas imunológicas do paciente contra determinados agentes infeciosos. Nos últimos anos tem-
se feito uma tentativa de atuar em doenças não infeciosas como o cancro ou doenças
autoimunes.

Imunização passiva
Consiste na administração de Ig’s (anticorpos pré-formados) e é indicada em
imunodeficiências quando um paciente de alto risco está exposto a um antigénio infecioso sem
que haja tempo para a imunização ativa ou quando os anticorpos administrados permitem
melhorar uma doença já instalada. As Ig’s são mais ou menos específicas consoante a indicação
clínica e a proteção conferida é de curta duração (1-3 meses).

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