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Revista da Associação Médica Brasileira

Versão impressa ISSN 0104-4230

Rev. Assoc. Med. Bras. vol.60 no.1 São Paulo jan./fev. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.60.01.015

ARTIGO ORIGINAL

Violência sexual contra crianças e vulnerabilidade

Violência sexual infantil e vulnerabilidade

Luciana C Trindade 1

Silvana MGM Linhares 2

Jorge Vanrell 3

Danilo Godoy 4

José CA Martins 5

Stela MAN Barbas 6

1
Especialista, Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE), Departamento de
Medicina Legal da Paraíba (DMl / PB), João Pessoa, PB, Brasil; Doutoranda em
Bioética pela Universidade do Porto, Portugal.
2
Especialista, Departamento de Medicina Legal da Paraíba (DMl / PB), João Pessoa,
PB, Brasil.
3
Especialista, Universidade Paulista (UniP), São Paulo, SP, Brasil.
4
Estudante de Medicina da Faculdade de Medicina Nova Esperança - FAMENE, João
Pessoa, PB, Brasil.
5
Doutora em Ciências de Enfermagem, Universidade do Porto, Portugal.
6
Doutora em Direito Civil, Universidade do Porto, Portugal.
ABSTRATO

Objetivo

Analisar o perfil demográfico e epidemiológico de crianças e adolescentes vítimas de


violência sexual atendidas em uma Unidade de Medicina Legal e a relação entre vítimas
e agressores.

Métodos

Estudo descritivo, com coleta de dados de informações coletadas em relatórios de abuso


sexual realizados em 2009 sobre vítimas de violência sexual com idade inferior a 18
anos. A ferramenta de coleta de dados foi um formulário preenchido com informações
demográficas sobre a vítima - sexo e idade - e informações sobre violência sexual -,
local da ocorrência, tempo decorrido entre abuso e laudo pericial, queixas relatadas,
resultados de exames sexológicos, descrição de lesões fora da região genital e relação
do agressor com a vítima.

Resultados

Em 2009, 421 indivíduos vítimas de violência sexual foram atendidos. Desses, 379
(90%) tinham menos de 18 anos e 66 casos foram excluídos desses relatórios. A
maioria era do sexo feminino (81,2%). A faixa etária mais acometida foi de 10 a 13
anos (36,7%), seguida de 5 a 9 anos (30,7%). Na maioria dos casos (86,3%), havia
laços familiares ou de amizade entre vítimas e agressores, sendo mais frequentemente
acusados de conhecidos ou amigos da família (42,3%), seguidos pelo padrasto (16,6%)
e pai (10,9%) .

Conclusão

Os resultados são semelhantes a outros estudos realizados no país. Este trabalho visa
preencher uma lacuna causada pela falta de pesquisas sobre esse tema no Estado, na
esperança de colaborar para melhorar as políticas públicas contra o abuso sexual
infantil.

Palavras-Chave: Violência sexual; proteção de crianças e adolescentes; vítimas de


crime

RESUMO

Objetivo

analisar o perfil demográfico e epidemiológico de crianças e adolescentes que sofrem de


violência sexual causada por uma Unidade de Medicina Legal e vínculo entre as vítimas
e os autores.

Métodos

estudo descritivo, com coleta de dados a partir das informações dos melhores
sexólogos, realizado no ano de 2009, das vítimas de violência com menos de 18 anos
de idade. O instrumento de coleta foi um formulário com informações sociodemográficas
sobre vítima - sexo, idade - e informações sobre respeito à violência sexual - local de
ocorrência, tempo decorrido entre violência e perícia, queixas relacionadas, achados de
exame sexológico, descrição de lesões fora do local da região genital e vínculo entre a
vítima e o agressor.

Resultados

no ano de 2009, foram atendidas 421 pessoas vítimas de violência sexual. Destas, 379
(90%) eram menores de 18 anos, tendo sido excluídas 66 desses louvores. A maioria
era do sexo feminino (81,2%). A faixa etária mais acometida foi de 10 a 13 anos
(36,7%), seguida por 5 a 9 anos (30,7%). Na maioria dos casos (86,3%), havia vínculo
familiar ou amizade entre as vítimas e os acusados, sendo o mais frequente ou acusado
conhecido ou amigo da família (42,3%), seguido do padrasto (16,6% ) e do pai
(10,9%).

Conclusão
os resultados encontrados são semelhantes aos outros estudos avançados no país. Este
trabalho pretende preencher uma lacuna decorrente da pesquisa sobre esse tema no
Estado, esperando colaborar nas políticas públicas de enfrentamento desse mal.

Palavras-Chave: Violência sexual; defesa da criança e do adolescente; proibições de


crime

INTRODUÇÃO

Toda criança tem direito a uma vida saudável, livre de violência. Apesar disso, a
Organização Mundial da Saúde estima que milhões de crianças em todo o mundo
sofrem violência, direta ou indiretamente. Entre suas muitas formas, está a
violência sexual. 1

A violência sexual é um fenômeno universal, afetando indivíduos de ambos os


sexos e de todas as faixas etárias. 2 Parece estar incorporado em um contexto
social, histórico e cultural. 3 Além das lesões corporais e genitais às quais as vítimas
são submetidas no momento do abuso, há um aumento da suscetibilidade a outros
tipos de violência no futuro, além da possibilidade de contrair doenças sexualmente
transmissíveis e desenvolver distúrbios psicológicos. 4 Portanto, é visto como um
complexo problema de saúde pública. 3 , 5 , 6 , 7 , 8

A violência sexual no Brasil é uma realidade antiga, sendo crianças e adolescentes


as vítimas mais frequentes. 3 , 9 Estima-se que menos de 10% dos casos de
violência sexual contra crianças e adolescentes sejam relatados. Ainda, a incidência
e prevalência são consideradas altas. Assim, nos anos 80 e posteriores, surgiram
no país grupos de prevenção de maus-tratos infantis, culminando com a publicação
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 9 , 10

As práticas eróticas e sexuais são impostas a crianças ou adolescentes através de


violência física, ameaças ou induzindo sua vontade. Eles variam de comportamento
em que não há contato físico (assédio, voyeurismo, exibicionismo) a diferentes
tipos de atos com contato físico sem penetração (sexo oral, relações interfemorais,
carícias pesadas e frottage) ou com penetração (dedos, objetos, órgãos genitais ou
relação anal). Também inclui exploração sexual, prostituição e
pornografia. 11 , 12 , 13

No país, os crimes sexuais são regulamentados pelo Código Penal (CC) de 1940,
modificado pela Lei nº. 12015, de 2009, que agora os classifica como “crimes
contra a dignidade pessoal”, atualmente sendo vistos como um insulto à liberdade e
à moralidade sexual. 14 , 15

A nova lei tem uma definição mais ampla de estupro e inclui o estupro de
vulnerável, definido como "ter conhecimento carnal ilegal ou praticar outros atos
libidinosos com menor de 14 (catorze) anos", incorrendo na mesma pena para
quem pratica essas ações. com alguém que não pode oferecer resistência.

A experiência do abuso sexual pode afetar o desenvolvimento de crianças e


adolescentes de diferentes maneiras, pois algumas apresentam sequelas mínimas
ou nenhum efeito posterior aparente, enquanto outras desenvolvem graves
problemas emocionais, sociais e / ou psiquiátricos. 16 , 17 , 18 , 19 , 20 Além disso,
estudos mostram que a violência sexual é frequentemente acompanhada de outras
formas de violência e violações dos direitos da criança e do
adolescente. 4 , 11 , 21 Outras formas de violência parental ou conjugal, como abuso
físico, abuso e negligência psicológica, bem como violência comunitária e
institucional, estão comumente presentes na história de crianças e adolescentes
vítimas de abuso sexual. 11 , 22

Diante do exposto, fica claro que a violência sexual precisa ser estudada de forma
consistente. Este trabalho enfoca a questão e tem como objetivo descrever o perfil
demográfico e epidemiológico de crianças e adolescentes vítimas de violência
sexual atendidas em uma Unidade de Medicina Legal no estado da Paraíba, em
2009, bem como o relacionamento com os agressores. e as lesões apresentadas
para exame forense.

MÉTODOS

Este estudo foi conduzido pelo Departamento de Medicina Legal da Paraíba (DFM /
PB), órgão do grupo que integra o Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC /
PB), subordinado à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social da Paraíba. . A
agência está localizada nos arredores da cidade de João Pessoa (PB), capital de um
estado localizado na região nordeste do Brasil, e é responsável por realizar exames
médicos especializados das vítimas (inclusive no caso de crimes sexuais)
decorrentes de a capital e cidades vizinhas.

A população alvo deste estudo consistiu em relatos de violência sexual de vítimas


atendidas no DFM / PB em 2009. O estudo incluiu relatos de vítimas de violência
sexual, de ambos os sexos, com menos de 18 anos na época do exame médico foi
realizada, independentemente do intervalo de tempo entre o incidente e o exame
pericial, e que foram encaminhadas por uma autoridade policial ou judicial.

Relatos de vítimas com mais de 18 anos e mulheres com menos de 18 anos, cuja
motivação para a realização do exame sexológico não foi considerada violência
sexual, mas de outra forma relacionada ao próprio desejo e / ou ao desejo do
responsável legal de conhecer ou provar a integridade do hímen foi excluída do
estudo.

Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo do tipo documental, com


abordagem quantitativa, cuja coleta de dados ocorreu em janeiro e fevereiro de
2011, com base nas informações contidas nos laudos de exames sexológicos
realizados no DFM / PB em 2009. A ferramenta de coleta de dados consistiu em
formulário preenchido pelos pesquisadores, com informações sociodemográficas
sobre as vítimas - sexo e idade - e sobre violência sexual - local de ocorrência,
tempo decorrido entre o incidente e o exame pericial, queixas da vítima, resultados
do exame sexológico, descrição lesões fora da área genital, tipo de agressor e
conclusão do exame pericial.

Os dados foram digitados, revisados para erros de digitação e analisados no


programa Epi Info (versão 3.5.3, CDC, Atlanta, EUA). Para análise dos dados,
foram utilizadas frequências absolutas e percentuais.

O estudo foi desenvolvido respeitando todos os princípios éticos relacionados à


pesquisa em seres humanos. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE), com
consentimento prévio do Diretor do DFM / PB.

Não houve conflito de interesses nesta pesquisa.


RESULTADOS

Em 2009, 421 indivíduos de ambos os sexos, vítimas de violência sexual, foram


atendidos pelo DFM / PB. Desses, 379 (90%) tinham menos de 18 anos, cujos
relatórios de exames constituíam a população do estudo; Foram excluídos 64 casos
(correspondendo a 16,9% das vítimas menores de idade e 15,2% do número total
de relatórios médicos) devido à motivação para o relatório médico, que não foi
definido como crime sexual, e 2 outras vítimas (0,48% dos relatórios médicos para
vítimas menores de idade e 0,53% do número total de relatórios) que se recusaram
a passar por exames especializados.

Dos 64 relatos de vítimas menores de 18 anos excluídas, as motivações para o


exame foram: 4 (6,3%) para confirmar a integridade do hímen, conforme desejado
pela vítima ou responsável legal; 31 (48,4%) por solicitação das autoridades, como
parte da investigação de acusação de difamação; 26 (40,6%) devido à ocorrência
de relações consensuais entre uma mulher acima de 14 anos e seu namorado ou
parceiro (incluindo 3 para “fins de casamento”) e 3 (4,7%) por trauma genital.

Quanto às características sociodemográficas das vítimas de violência sexual deste


estudo, 254 eram do sexo feminino (81,2%, intervalo de confiança 76,4 -
85,3%). Uma minoria, 59 deles (18,8%, intervalo de confiança 14,8 - 23,7%),
eram do sexo masculino. Com relação à idade, as vítimas foram divididas em
quatro grupos. A idade média foi de 10 anos. A faixa etária mais acometida foi de
10 a 13 anos (36,7%), seguida de 5 a 9 anos (30,7%) Tabela 1 . Considerando
apenas a idade, a maioria das vítimas tinha 13 anos (14,1%).

Os municípios com maior número de reclamações foram João Pessoa (55,3%),


Santa Rita (10,5%) e Bayeux (4,2%), os dois últimos localizados na região
metropolitana da capital do estado da Paraíba.

Tabela 1 Faixa etária das vítimas

Faixa etária (em anos) Frequência Percentagem


0a4 52 16,7%
5a9 96 30,6%
10 a 13 115 36,7%
14 a 17 50. 16,0%
Total 313 100%

O tempo decorrido entre o incidente de violência sexual e o exame médico foi


inferior a 24 horas em 8,6% dos casos, um dia em 9,6%, dois dias em 3,5% dos
casos, três dias em 5,8%, quatro a 29 dias em 11,7%, 30 a 60 dias em 5,1%, mais
de 60 dias a um ano em 10,9% dos casos e 5 anos em 0,6% dos casos. Esse
intervalo de tempo não foi descrito em 44,2% dos relatórios.

Na maioria dos casos (86,3%), havia um vínculo entre vítimas e réus, e na maioria
das vezes o réu era familiar ou amigo (42,3%), seguido pelo padrasto (16,6%) e
pai (10,9%). Outras relações observadas com menos frequência foram: primo
(2,6%); tio (2,6%); companheiro de avó ou tia (2,2%); irmão, padrinho e vizinho,
cada um deles com uma frequência de 1%; superior, sogro da cunhada e ex-
marido da mãe, cada um com uma frequência de 0,3%. Em 20 casos (6,4%) não
havia informações a esse respeito.
Quanto às lesões corporais apresentadas por vítimas fora da região genital, 49,5%
não apresentavam evidências; em 47,3% dos relatos não havia referência a essas
informações e 10% das vítimas apresentavam lesões.

Os tipos mais comuns de violência sexual sofrida pelas vítimas, de acordo com a
conclusão dos relatos de especialistas, foram: ausência de traços de violência
(64,2%), estupro de pessoa vulnerável (13,7%) e resultados inconclusivos
(9,9%). Outros achados foram: atos libidinosos (7%), estupro anal (3,2%), estupro
vaginal (1,6%) e outros (0,3%).

DISCUSSÃO

A violência sexual é definida como qualquer ato ou brincadeira sexual,


relacionamento heterossexual ou homossexual, no qual o agressor está em um
estágio de desenvolvimento psicossexual mais avançado do que a criança ou
adolescente, com o objetivo de estimular sexualmente a vítima ou usá-la como
estímulo sexual. . 9 11 , 13

Constitui um problema complexo, com raízes culturais, que atinge o campo da


moralidade e da proteção dos direitos humanos. A violência sexual tem muitas
consequências graves, comprometendo o desenvolvimento de crianças e
adolescentes, possivelmente inserindo as vítimas em um ciclo de violência que pode
continuar na idade adulta. 3 , 4 , 5

No Brasil, vítimas menores de 14 anos são legalmente consideradas vulneráveis. A


vulnerabilidade na perspectiva da bioética é definida como uma relação de
desigualdade entre dois indivíduos ou entre grupos, em que uma das partes tem
sua vontade anulada ou diminuída. 23 24 Principalmente relacionado apenas ao
campo de pesquisa, o termo passou a ser utilizado também em situações
cotidianas, como desigualdade de gênero, exclusão social de grupos, em relação
aos idosos e muito mais. 13 , 24 , 25 , 26

O fenômeno da violência também se interessou pela bioética, não apenas porque


envolve a quebra da autonomia das vítimas e violação dos direitos humanos, mas
também porque essas vítimas já sofreram vulnerabilidade social. 4 Além disso, do
ponto de vista da justiça distributiva, há uma interação com a saúde pública: a
violência sexual sendo vista como um problema de saúde pública, justifica-se o
interesse no tópico pelos dois campos do conhecimento. 26) 27

No presente estudo, a maioria das vítimas de violência sexual era de crianças e


adolescentes, o que é consistente com os resultados de várias investigações
brasileiras. 2 , 9 , 28 Para Ribeiro et al, isso pode estar relacionado à dominação e
exploração do gênero feminino. 3) 4

Em relação à idade, neste estudo, a maioria das vítimas tinha entre 12 e 14 anos,
seguida por crianças de 9 a 11 anos, semelhante aos achados de Ribeiro et
al. 3 Esses resultados diferem de estudos de outros autores, que descobriram que a
faixa etária mais afetada foi a de crianças de 5 a 10 anos. 3 , 8 , 12

Em termos de local onde os incidentes ocorreram, alguns autores descobriram que,


na maioria dos casos, ocorrem na casa da vítima. Para esses autores, o ambiente
doméstico facilita o abuso porque mantém as vítimas longe de olhares
indiscretos. 3 De Lonrenzi et al. Consideraram o pai o principal responsável pelas
agressões sexuais. 28 Tios e irmãos também foram citados como responsáveis,
depois do padrasto e pai, por Ribeiro et al. 3 Habigzang et al., Analisando casos
legais ocorridos entre 1992 e 1998 no Rio Grande do Sul, descobriram que os
responsáveis por abuso sexual eram geralmente parentes ou pessoas que
mantinham uma relação de confiança com a família da vítima. 11 O presente estudo
também constatou que os indivíduos acusados desses crimes tinham, na maioria
dos casos, algum grau de relação com as vítimas, sendo o pai e o padrasto o
vínculo mais frequente. Isso sugere que os criminosos usam a proteção fornecida
pelo ambiente privado, a possível confiança das vítimas e suas famílias e seu poder
sobre elas 29 , o que caracteriza, na opinião dos pesquisadores, vulnerabilidade
qualificada.

Considerando o tempo decorrido entre crime sexual e perícia médica, foram


observados com frequência intervalos superiores a 72 horas, o que permite a perda
de evidências, dificultando o exame forense. 30 Isso pode refletir o que alguns
estudos apresentam sobre alegações de abuso sexual envolvendo crianças e
adolescentes: na maioria dos casos, as queixas não são feitas devido a sentimentos
de culpa, medo de ameaças, vergonha e tolerância da vítima. Além disso, outros
fatores contribuem para essa situação, como a relutância de alguns médicos em
reconhecer e denunciar abusos, a insistência dos tribunais em regras estritas de
evidência e o medo de desmembrar a família quando o incidente é revelado. 31

Em ofensas sexuais, o uso da força física pode determinar lesões genitais


evidenciadas pelo exame médico forense. 07 O exame pericial permite que a vítima
seja avaliada por meio da análise de corpo, roupas ou amostras biológicas, como
sangue ou esperma. No entanto, em muitos casos, como ocorreu em 65% dos
relatórios desta pesquisa, nenhuma evidência é encontrada, o que não nega o
abuso sexual, mas torna mais difícil para as autoridades gerenciar o caso. 29

Ainda analisando os exames forenses, os pesquisadores encontraram resultados


inconclusivos em aproximadamente 10% dos relatos e falta de violência em
aproximadamente 65% deles. Esses resultados podem ser consequência do longo
período de tempo entre a violência sofrida pela vítima e o exame médico ou o fato
de o crime não deixar evidências, como as várias formas de atos libidinosos
(acariciar, introdução de dedos sem orifícios naturais prejudiciais, sexo oral,
manipulação genital, entre outros) e a situação de estupro anterior (mais de 72
horas) em mulheres vítimas de hímen previamente rompido ou mesmo hímen
complacente.

Além das lesões genitais, a violência sexual pode ser acompanhada de lesões não
genitais, descritas em 10% dos relatos analisados neste estudo. Tais achados
demonstram outra das conseqüências do abuso sexual, além dos danos morais e
psicológicos e dos riscos inerentes às situações. 07 A presença de lesões não
genitais pode ajudar a caracterizar o uso de força física e coerção em crimes
sexuais, principalmente para vítimas acima de 14 anos, quando a relação
consensual não constitui crime. 3

CONCLUSÃO

Este trabalho tem como objetivo ajudar a preencher uma lacuna resultante da falta
de pesquisas sobre violência sexual no Brasil. Suas limitações estão relacionadas ao
estudo retrospectivo, com dados coletados indiretamente e não da própria
vítima. Isso impediu que dados relevantes, que poderiam estar ligados ao
fenômeno da violência, como as condições socioeconômicas da vítima e do
agressor, sejam deixados de fora dos registros. Além disso, os relatórios estavam
incompletos e, por esse motivo, a conclusão do exame forense era frequentemente
deduzida pelos pesquisadores com base nas descrições médicas.

Assim como descrito por vários autores, as principais vítimas de violência sexual
deste estudo foram crianças e adolescentes do sexo feminino, com algum tipo de
relacionamento emocional ou parental com o agressor, o que aumenta sua
vulnerabilidade.

O abuso sexual de crianças e adolescentes é uma realidade no Brasil e na Paraíba,


constituindo um problema de saúde pública que merece ser estudado de forma
consistente, para que diferentes atores possam contribuir com as estratégias de
prevenção e enfrentamento desse problema.

Os autores assumem a responsabilidade por todo o conteúdo do artigo. Eles


apontam a autora Luciana C. Trindade como responsável pela pesquisa e declaram
não haver conflito de interesses, afirmando que o trabalho foi aprovado
definitivamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FAMENE em 06.06.2012.

Trabalho realizado pelo Departamento de Medicina Legal da Paraíba (DMl / PB),


João Pessoa, PB, Brasil.

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Recebido: 16 de janeiro de 2013; Aceito: 07 de janeiro de 2013

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Conflito de interesse: nenhum

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