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Brasília, DF
2019
NATHALIA OLIVEIRA ALVARES
Brasília, DF
2019
ALVARES, Nathalia Oliveira.
(ATAME), 2019.
CDU
NATHALIA OLIVEIRA ALVARES
O presente estudo tem por objetivo a análise em geral da boa-fé objetiva principalmente
voltada para o Direito Civil, bem como de seus conceitos parcelares. Para desenvolver esse
trabalho, primeiramente foi necessário abordar o histórico da boa-fé fé objetiva e seu
surgimento no mundo jurídico, sendo certo que seu marco inicial ocorreu no direito romano,
francês e alemão, e, no Brasil, com o Código Comercial, que apenas veio a aplicado graças às
influências da Revolução Francesa, com o Código Civil de 1916. Com efeito, a boa-fé
objetiva veio para ampliar e autorizar as interpretações nas normas contratuais, obrigando as
partes a agir com ética, honestidade e lealdade desde a fase pré-contratual até a pós contratual.
Também será exposto as funções da boa-fé objetiva, quais sejam: função interpretativa;
função integrativa e função de controle. Por fim, fora exposto os conceitos parcelares da boa-
fé objetiva, as quais sevem de suporte para interpretar, suprir e corrigir o contrato quando
houver um desbalanceamento na relação jurídica estabelecida. Referidos conceitos são
denominados como: Venire Contra Factum Proprium non potest, Supressio, Surrectio, Tu
quoque, Duty to mitigate the loss e Exceptio Doli.
The objective of this study is the general analysis of the objective good faith mainly focused
on the Civil Law, as well as its partial concepts. To develop this work, it was first necessary
to address the history of good faith, objective faith and its emergence in the juridical world,
being certain that its initial mark occurred in Roman, French and German law, and in Brazil,
with the Commercial Code, which only came to be applied thanks to the influences of the
French Revolution, with the Civil Code of 1916. In fact, objective good faith came to extend
and authorize interpretations in contractual norms, obliging the parties to act with ethics,
honesty and loyalty from the pre-contractual phase until contractual post. It will also be
exposed the functions of objective good faith, which are: interpretive function; integrative
function and control function. Finally, it was exposed the concepts of objective good faith,
which support to interpret, supply and correct the contract when there is an imbalance in the
legal relationship established. Such concepts are referred to as: Venire Contra Factum
Proprium non potest, Supressio, Surrectio, Tu quoque, Duty to mitigate the loss e Exceptio
Doli
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 8
1 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA ........................................................................................................ 10
1.1 Breve histórico do surgimento da Boa-fé objetiva...................................................................... 10
1.2. Conceito geral de Boa-fé no Direito e distinção entre Boa-fé Objetiva e Subjetiva. ................. 14
2 FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO ........................................................ 22
2.1 Função de Interpretação ............................................................................................................. 22
2.2 Função Integrativa....................................................................................................................... 23
2.3 Função de Controle ..................................................................................................................... 25
3 CONCEITOS PARCELARES DA BOA-FE OBJETIVA ................................................................................ 27
3.1 Venire Contra Factum Proprium non potest ............................................................................... 28
3.2. Supressio..................................................................................................................................... 31
3.3. Surrectio ..................................................................................................................................... 33
3.4 Tu quoque .................................................................................................................................... 35
3.5 Duty to mitigate the loss ............................................................................................................. 37
3.6 Exceptio Doli ............................................................................................................................... 41
CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 45
8
INTRODUÇÃO
Todo negócio jurídico a ser realizado pressupõe-se que ambas as partes estão
baseadas em negociações justas, probas e íntegras, entretanto, dentro uma sociedade
capitalista por muitas vezes tal expectativa não é respeitada.
Ao contrário, há relações jurídicas que quando da sua negociação já se encontra
imbuída de estrita má-fé, fazendo com que por diversas vezes, a outra parte seja prejudicada
e, por conseguinte, tenha sua expectativa frustrada.
Diante de tal situação, há de analisar não só a letra fria da lei, que por muitas
vezes está sendo cumprida, mas também o modelo de conduta empregado por ambas as
partes, em conformidade com os padrões, usos e costumes do lugar, a fim de se averiguar a
boa-fé, razão pela qual é de extrema importância a análise e aprofundamento nos institutos
que regem a boa-fé objetiva.
A boa-fé objetiva vem sendo tratada em diversos ramos do direito, inclusive na
área de Direito Público, devendo estar presente em todas as relações jurídicas.
Estipulado no art. 422 do Código Civil, a boa fé objetiva estabelece padrões de
conduta que todo contratante deve seguir e que por diversas vezes não estão estipulados como
centro do negócio jurídico entabulado.
A consequência disso é que uma parte restará prejudicada por realizar um negócio
jurídico legal, mas que não corresponde à intenção ou vontade da parte quando de sua
contratação.
Nesses casos, há a possibilidade de analisar as lacunas e interpretações daquele
negócio, ampliando ou retraindo as obrigações ali estipuladas, utilizando os institutos da
Venire Contra Factum Proprium non potest, Supressio, Surrectio, Tu quoque, Duty to
mitigate the loss e Exceptio Doli, os quais serão devidamente tratados e detalhados no
presente trabalho.
O presente trabalho visa a análise de cada instituto da boa-fé objetiva, bem como
as consequências e implicações práticas no meio jurídico, com demonstrações de exemplos e
o entendimento pátrio dos Superiores Tribunais de Justiça e recentes julgados do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal.
9
1
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
2
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016. Fl. 623.
11
princípios: (...) III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos
quais se finda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com
base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores"
3
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 60-61.
4
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 60-61.
5
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 60-61.
6
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 83.
12
Com efeito, a boa-fé foi disciplinada mais especificamente no art. 1134 do Código
Civil Francês de 18048. A primeira parte do artigo tratou do pacta sunt servanda, ou seja, os
convencionados valiam como lei entre as partes. O objetivo era blindar o contrato e as
vontades das partes, não havendo que se falar em interpretações ou intervenções do
magistrado para analisar uma eventual avença.
Percebe-se que a boa-fé, embora existente, era tratada de uma forma secundária,
que, conforme Edilson Nobre “o contratual – costumava-se dizer - confundia-se com o
justo.”9
Nelson Rosenvald se manifesta sobre o tratamento secundário dado à boa-fé pelo
princípio da autonomia da vontade, in verbis:
“Outrossim, o princípio da boa-fé restava inteiramente absorvido pela hegemônica
atuação do dogma da autonomia da vontade. Era evidente o fascínio dos cultores do
direito pela primeira parte do citado art. 1.134 – ‘as convenções legalmente
formadas têm lugar de lei entre as partes’ (alínea a) -, com o desprezo pela parte
final do dispositivo (alínea c), que fazia alusão à boa-fé. Ou seja, do ideário clássico
da Revolução Francesa, ‘liberdade, igualdade e fraternidade’, a burguesia se apossou
dos dois primeiros valores e comodamente se esqueceu do dever de solidariedade,
que apenas ressurgiu 150 anos após.”10
7
SARLET, Ingo Wolfgang (Org). Constituição, Direitos Fundamentais e Direito Privado. Porto Alegra:
Livraria do Advogado, 2003. p.20.
8
Code civil des Français. 1.134. Les conventions légalement formées tiennent lieu de loi à ceux qui les ont
faites. Elles ne peuvent être révoquées que de leur consentement mutuel, our pour le causes que la loi autorise.
Elles doivent être exécutées de bonne foi.
9
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 83
10
ROSENVALD, Nelson. Dignidade humana e boa-fé no código civil. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 77.
13
11
ROSENVALD, Nelson. Dignidade humana e boa-fé no código civil. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 77.
12
GIACOMUZZI, José Guilherme. A moralidade administrativa e a boa-fé da administração pública: o
conteúdo dogmático da moralidade administrativa. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 233.
13
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. O princípio da boa-fé e sua aplicação no direito administrativo
brasileiro. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 2002. p. 102.
14
segundo Ruy Rosado de Aguiar Júnior, “permaneceu letra morta por falta de
inspiração da doutrina e nenhuma aplicação dos tribunais”.14
Sob forte influência do modelo liberal adotada pelo Código Francês, houve o
advento do Código Civil de 1916 e referida cláusula não foi consagrada expressamente, eis
que o código era totalmente voltado para o cunho patrimonial, individual e liberalista.15
Posteriormente, a sociedade passou por diversas transformações, passando por
diversas alterações sociais e necessidade de promulgações de leis especiais que
regulamentassem os novos problemas emergentes, como é o caso do Código de Defesa do
Consumidor (1990), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Lei de Locações (1991),
diplomas esses que o Código Civil passou a ter aplicação residual.
Com o Código Civil de 2002, houve consagração expressa do princípio da boa-fé
em diversos dispositivos, e aparece associada ao abuso de direito, formação dos contratos,
direito real, posse, dentre outros, disciplinando que a mesma deve ser observada tanto na
conclusão como na execução do contrato.
Tem-se então que a boa-fé passou por diversas modulações, sendo que
anteriormente era relacionada a intenção do sujeito e, atualmente, atua como princípio
primordial às relações contratuais e obrigacionais.
1.2. Conceito geral de Boa-fé no Direito e distinção entre Boa-fé Objetiva e Subjetiva.
14
NOVAIS, Aline Arquette Leite. Os Novos Paradigmas da Teoria Contratual: O Princípio da Boa-fé
Objetiva e o Princípio da Tutela do Hipossuficiente. In: TEPEDINO, Gustavo (Cood). Problemas de direito
civil Constitucional. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.17-54. p. 27.
15
RODRIGUES, Renata de Lima. As tendências do Direito Civil brasileiro na pós-modernidade. Jus
Navegandi. Disponível em https://jus.com.br/artigos/6617/as-tendencias-do-direito-civil-brasileiro-na-pos-
modernidade. Acesso em 17 jan 2019.
15
O Código Civil prevê, principalmente em seus arts. 1.214 a 1.220, 1.254 a 1.257,
1.242 a 1.261, que trata do tema relacionado a posse, situações em que devem ser observadas
a boa-fé subjetiva.
16
VENOSA. Silvio de Salvo. Direito Civil, vol. 02. Teoria das Obrigações e dos Contratos. São Paulo:
Editora Atlas, 13ª. Edição. 2013.
17
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras Parcelares da Boa-fé Objetiva e Venire Contra Factum
Próprium. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigosc/Luciano_venire.doc. Acesso em 10/01/2019.
16
18
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras Parcelares da Boa-fé Objetiva e Venire Contra Factum
Próprium. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigosc/Luciano_venire.doc. Acesso em 10/01/20169.
19
ASSIS NETO, Sebastião de Marcelo de Jesus, Maria Izabel de Melo , Manual do Direito Civil, 3ª edição,
São Paulo, Juspovivm, 2014.
17
20
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Volume II . 5ª edição. Editora Altas: Rio de Janeiro, 2005.
21
NERY, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil anotado e legislação extravagante. 2.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
22
DA SILVA, Regina Beatriz Tavares e Outros. Código Civil Comentado, 8ª. Edição. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012.
18
O Doutrinador Flavio Tartuce ensina que a boa-fé objetiva exige uma conduta leal
na realização do negócio jurídico, as quais possuem seus deveres de conduta:
(...) como sendo exigência de conduta leal
dos contratantes, está relacionada com os deveres anexos ou laterais
de conduta, que são ínsitos a qualquer negócio jurídico, não havendo
sequer a necessidade de previsão no instrumento negocial. São considerados deveres
anexos, entre outros:
Dever de cuidado em relação à outra parte negocial;
Dever de respeito;
Dever de informar a outra parte sobre o conteúdo do negócio;
Dever de agir conforme a confiança depositada;
Dever de lealdade e probidade;
Dever de colaboração ou cooperação;
Dever de agir com honestidade;
Dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão.23
23
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.P. 623.
24
ASSIS NETO, Sebastião de Marcelo de Jesus, Maria Izabel de Melo , Manual do Direito Civil, 3ª edição,
São Paulo, Juspovivm, 2014.P. 458.
19
Miguel Reale, na obra "A boa-fé no Código Civil" definiu boa-fé objetiva como:
Tem-se, então, que boa-fé objetiva passou a ser tratada como preceito de ordem
pública, cabendo responsabilização civil objetiva daquele que desrespeita a boa-fé, fazendo
com as partes tenham direitos e deveres mesmo que não esteja estipulado no contrato
(TARTUCE, 2016).
Certo é que a observância da boa-fé objetiva tem que estar presente em todas as
etapas de desenvolvimento do contrato, incluindo a fase anterior, negociação, execução e, até
mesmo posterior ao término do contrato firmado.
Um dos casos de grande repercussão que trata da boa-fé objetiva na fase pré-
contratual é o chamado “caso dos tomates”:
“(...) os primeiros entendimentos jurisprudenciais relevantes que trataram da matéria
envolveram a empresa CICA e foram pronunciados pelo Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, casos que ficaram conhecidos em todo o Brasil sob a denominação
caso dos tomates. Essa empresa distribuía sementes a pequenos agricultores gaúchos
sob a promessa de lhes comprar a produção futura. Isso ocorreu de forma continuada
e por diversas vezes, o que gerou uma expectativa quanto à celebração do contrato
de compra e venda da produção. Até que certa feita a empresa distribuiu as sementes
e não adquiriu o que foi produzido. Os agricultores, então, ingressaram com
demandas indenizatórias, alegando a quebra da boa-fé, mesmo não havendo
qualquer contrato escrito, obtendo pleno êxito.”27
Confira-se uma das emendas dentre vários julgados do caso acima mencionado:
25
ROSENVALD, Nelson; PELUZO, Cezar (Coord.). Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. 3.
ed. Barueri, SP: Manole, 2009.P. 459
26
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 1999. A boa-fé no código civil.
16.08.2003. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/boafe.htm>. Acesso em: 10 jan 2019.
27
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.P. 624.
20
Verifica-se que o art. 422, CC reconhece o dever de reparação por danos causados
na fase pré-contratual quando verificado afronta à boa-fé com a ruptura das tratativas, em
razão da expectativa gerada à outra parte de que o contrato seria concluído.
No que se refere à violação da boa-fé objetiva na fase contratual pode-se
mencionar como exemplo a previsão contida na Súmula 308 do STJ: “A hipoteca firmada
entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de
compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”.
Flávio Tartuce explica a motivação que desencadeou referida Súmula:
Assim, se um imóvel é garantido pela hipoteca, é possível que o credor reivindique o
bem contra terceiro adquirente, prerrogativa esta que se denomina direito de sequela.
Assim, não importa se o bem foi transferido a terceiro; esse também perderá o bem,
mesmo que o tenha adquirido de boa-fé.
A constituição da hipoteca é muito comum em contratos de construção e
incorporação imobiliária, visando a um futuro condomínio edilício. Como muitas
vezes o construtor não tem condições econômicas para levar adiante a obra, celebra
um contrato de empréstimo de dinheiro com um terceiro (agente financeiro ou
agente financiador), oferecendo o próprio imóvel como garantia, o que inclui todas
as suas unidades do futuro condomínio. Iniciada a obra, o incorporador começa a
vender as unidades a terceiros, que no caso são consumidores, pois é evidente a
caracterização da relação de consumo, nos moldes dos arts. 2º e 3º da Lei 8.078/1
990.
Diante da boa-fé objetiva e da força obrigatória que ainda rege os
contratos, espera-se que o incorporador cumpra com todas as suas obrigações
perante o agente financiador, pagando pontualmente as parcelas
do financiamento. Assim sendo, não há maiores problemas.29
28
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Embargos Infringentes 591083357, 3º Grupo de Câmaras Cíveis,
Rei. Juiz Adalberto Libório Barros, j. 0.11.1991, Comarca de origem: Canguçu. Fonte: Jurisprudência TJRS,
Cíveis, 1992, V. 2, t. 14, p. 1-22.
29
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.P. 628.
21
308 do STJ, que a boa-fé objetiva também envolve a ordem pública, caso contrário
não seria possível a restrição do direito real.30
Foi com base nos entendimentos jurisprudenciais que houve consolidação, por
meio da Súmula 548 do STJ, a qual prevê que "Incumbe ao credor a exclusão do registro da
dívida em nome do devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir
do integral e efetivo pagamento do débito".
Realizado então a distinção da boa-fé subjetiva e da objetiva, bem como
apresentado os exemplos concretos quanto à utilização da boa-fé objetiva passam-se ao estudo
das funções da boa-fé objetiva.
30
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.P. 628
31
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.P. 630
22
32
THEODORO JR., Humberto. O contrato e Seus Princípios. Rio de Janeiro: Aide. 1993.p. 38.
33
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 11. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014.
23
Essa função de interpretação, repise-se, também parece estar presente no Novo CPC,
no seu art. 489, § 3º, devendo o julgador ser guiado pela boa-fé das partes ao proferir
sua decisão.
Segundo Stolze:
Guarda, pois, essa função, íntima conexão com a diretriz consagrada na regra de
ouro do art. 5º, da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, segundo o
qual o juiz, ao aplicar a lei, deve atender aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.34
“[...] a boa-fé servirá como parâmetro objetivo para orientar o julgador na eleição
das condutas que guardem adequação com o acordado pelas partes, com correlação
objetiva entre meios e fins. O juiz terá que se portar como um “homem de seu meio
e tempo” para buscar o agir de uma pessoa de bem como forma de valoração das
relações sociais.” 36
34
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria
Geral. Editora Saraiva, 8ª Edição. 2012.
35
MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
36
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Lineamentos acerca da interpretação do negócio
jurídico: perspectivas para a utilização da boa-fé objetiva como método hermenêutico. Revista Magister de
Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor, Porto Alegre, v.18, p.20
24
37
SILVA, Clóvis do Couto. A obrigação como processo. São Paulo: Bushatsy, 1976 apud por GAGLIANO,
Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de direito civil. Volume único. 1ª edição.Editora Saraiva Jur:
São Paulo, 2017.
25
38
REALE, Miguel. A boa-fé no código civil. 16.08.2003. Disponível em:
http://www.miguelreale.com.br/artigos/boafe.htm>. Acesso em: 12 jan 2019.
26
39
DA SILVA, Regina Beatriz Tavares e Outros. Código Civil Comentado, 8ª. Edição. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012.
27
40
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium.
Disponível em
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=3&ved=0CCcQFjAC&url=htt
p%3A%2F%2Fwww.flaviotartuce.adv.br%2Fartigosc%2FLuciano_venire.doc&ei=AxnFU9fQDuvksASq-
IDgDA&usg=AFQjCNHBB2uGOZFjFNeFaBu6gx8STqtQHQ&sig2=bPu3lzdhZ06K0zc8BybI2g. Acesso em
12 jan 2019. P. 10
41
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum
proprium.. Disponível em:
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=3&ved=0CCcQFjAC&url=htt
p%3A%2F%2Fwww.flaviotartuce.adv.br%2Fartigosc%2FLuciano_venire.doc&ei=AxnFU9fQDuvksASq-
IDgDA&usg=AFQjCNHBB2uGOZFjFNeFaBu6gx8STqtQHQ&sig2=bPu3lzdhZ06K0zc8BybI2g. Acesso em
12 jan 2019. P. 11).
28
42
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 11. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014.
29
43
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras Parcelares da Boa-fé Objetiva e Venire Contra Factum
Próprium. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigosc/Luciano_venire.doc. Acesso em 12 jan 2019.
44
SCHREIBER, Anderson. A proibição de comportamento contraditório – tutela da confiança e venire
contra factum proprium. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 107.
45
AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado de. A Extinção do Contratos por Incumprimento do Devedor, 1ª ed. Rio
de Janeiro, Aide, 1991.
30
O primeiro caso emblemático que tratou do venire foi o RESP 95539, o qual foi
proferido o seguinte ementa:
"Promessa de compra e venda. Consentimento da mulher. Atos posteriores. Venire
contra factum proprium. Boa-fé. A mulher que deixa de assinar o contrato de
promessa de compra e venda juntamente com o marido, mas depois disso, em juízo,
expressamente admite a existência e validade do contrato, fundamento para a
denunciação de outra lide, e nada impugna contra a execução do contrato durante
mais de 17 anos, tempo em que os promissários compradores exerceram
pacificamente a posse sobre o imóvel, não pode depois se opor ao pedido de
fornecimento de escritura definitiva. Doutrina dos atos próprios. Art. 132 do CC. 3 .
Recurso conhecido e provido"47
46
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria
Geral. Editora Saraiva, 8ª Edição. 2012.
47
STJ, REsp 95539/SP, 4.ª Turma, Rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 1 4. 1 0. 1 996, p. 39.0 1 5, Data da
decisão 03.09. 1996.
31
3.2. Supressio
48
STJ, REsp 953389/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 15/03/2010.
32
Para Tartuce,
Ao mesmo tempo em que o credor perde um direito por essa supressão, surge um
direito a favor do devedor, por meio da surrectio (Erwirkung), direito este que não
existia juridicamente até então, mas que decorre da efetividade social, de acordo
com os costumes. Em outras palavras, enquanto a supressio constitui a perda de um
direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo; a surrectio é o
surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. Ambos os conceitos
podem ser retirados do art. 330 do CC/2002, constituindo duas faces da mesma
moeda, conforme afirma José Ferando Simão.
49
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 11. ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014.P. 53.
50
STOLZE. 2012, p. 125
51
STJ, REsp 356821/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJ 05/08/2002). Em igual sentido: STJ, REsp
281.290; REsp 325.870; REsp 356.821; REsp 1.096.639; REsp 214.680.
33
3.3. Surrectio
52
STJ, REsp 1096639/DF, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 12/02/2009.
53
Francisco Falconi. Internet: http://franciscofalconi.wordpress.com/2011/07/17/o-principio-da-boa-fe-objetiva-
e-seus-desdobramentos-%E2%80%9Cvenire-contra-factum-proprio%E2%80%9D-
%E2%80%9Csupressio%E2%80%9D-%E2%80%9Csurrectio%E2%80%9D-e-%E2%80%9Ctu-
quoque%E2%80%9D/
34
E mais,
expectativa na outra parte de que a forma com que o negócio vem sendo exercido
possa ser mantido.
5. A inércia do apelante, por um período superior a um ano, em relação ao
questionamento dos pagamentos efetuados a destempo pelos apelados, faz com que
a sua reação seja tardia para reaver aquilo que havia sido relevado, pois leva a
insegurança jurídica, afinal, exigir dos apelados o pagamento de tais valores violaria
a boa-fé, sendo medida incoerente diante da postura adotada a todo tempo pelo
apelante.
6. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos.
(Acórdão n.1052037, 20160110948653APC, Relator: ROBSON BARBOSA DE
AZEVEDO 5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 27/09/2017, Publicado no
DJE: 09/10/2017. Pág.: 479/482)
3.4 Tu quoque
54
Francisco Falconi. Internet: http://franciscofalconi.wordpress.com/2011/07/17/o-principio-da-boa-fe-objetiva-
e-seus-desdobramentos-%E2%80%9Cvenire-contra-factum-proprio%E2%80%9D-
%E2%80%9Csupressio%E2%80%9D-%E2%80%9Csurrectio%E2%80%9D-e-%E2%80%9Ctu-
quoque%E2%80%9D/
55
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Civil: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2010. Pp 615.
56
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum
proprium. Disponível em
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=3&ved=0CCcQFjAC&url=htt
p%3A%2F%2Fwww.flaviotartuce.adv.br%2Fartigosc%2FLuciano_venire.doc&ei=AxnFU9fQDuvksASq-
36
À título de exemplo, Stolze cita: “um bom exemplo desse desdobramento da boa-
fé objetiva reside no instituto do exceptio non adimplendi contractus. Se a parte não executou
a sua prestação no contrato sinalagmático, não poderá exigir da outra parte a
contraprestação.”57
Sobre o tema da exceção de contrato não adimplido, Luciano Penteado explica:
O enunciado, em termos de tu quoque, equivale a dizer: você não pode cobrar
enquanto não pagar o que deve; se o fizer, surpreende-me sua conduta e o direito
fornece um meio de tutela. Em outras palavras, a pessoa que viola uma regra jurídica
não pode invocar a mesma regra a seu favor, sem violar a boa-fé objetiva, na
modalidade denominada tu quoque.58
IDgDA&usg=AFQjCNHBB2uGOZFjFNeFaBu6gx8STqtQHQ&sig2=bPu3lzdhZ06K0zc8BybI2g. Acesso em
10 jan 2019. P. 10.
57
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria
Geral. Editora Saraiva, 8ª Edição. 2012. P. 127.
58
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras Parcelares da Boa-fé Objetiva e Venire Contra Factum
Próprium. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigosc/Luciano_venire.doc. Acesso em 12 jan 2019.
37
59
REsp 1192678/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
13/11/2012, DJe 26/11/2012.
38
Como ilustração, cita-se uma situação em que houve deferimento de uma tutela
antecipada para retirada do nome do devedor do cadastro de inadimplentes, sob pena de
astreintes de R$ 1.000,00 por dia. A parte aguarda um ano para executar as astreintes,
esperando beneficiar-se de vultosa quantia. O juiz deve, porém, reduzir o valor por conta de
sua excessividade, em clara configuração de violação pelo credor do duty to mitigate the loss,
além dos diplomas legais do art. 461, § 6º, e art. 461-A, § 3º, do CPC.
Para ilustrar o exemplo prático com a jurisprudência pátria, Tartuce cita em seus
ensinamentos a publicação de um acórdão no Informativo nº 439, o qual foi utilizado o
conceito do dut to mitigate the loss, com a seguinte ementa:
"Direito civil. Contratos. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico.
Observância pelas partes contratantes. Deveres anexos. Dut to mitigate
60
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.p. 639.
61
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.pag. 640
39
Por fim, a respeito das i lustrações, a este autor parece que há uma
relação direta entre o dut to mitigate the loss e a cláusula de stop loss,
tema analisado pelo mesmo Superior Tribunal de Justiça no ano de 2014.
Nos termos de julgado publicado no Informativo n. 541 da Corte Superior, "a
instituição financeira que, descumprindo o que foi oferecido a
seu cliente, deixa de acionar mecanismo denominado stop loss pactuado
em contrato de investimento incorre em infração contratual passível de
gerar a obrigação de indenizar o investidor pelos prejuízos causados.
Com efeito, o risco faz parte da aplicação em fundos de investimento, podendo a
instituição financeira criar mecanismos ou oferecer garantias
próprias para reduzir ou afastar a possibilidade de prejuízos decorrentes das
variações observadas no mercado financeiro interno e externo.
Nessa linha intelectiva, ante a possibilidade de perdas no investimento,
cabe à instituição prestadora do serviço informar claramente o grau de
risco da respectiva aplicação e, se houver, as eventuais garantias concedidas
contratualmente, sendo relevantes as propagandas efetuadas e
os prospectos entregues ao público e ao contratante, os quais obrigam
a contratada. Neste contexto, o mecanismo stop loss, como o próprio
40
E mais,
63
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016. P. 642.
41
No que se refere à Exceptio Doli, como o próprio termo fala, refere-se à exceção
do dolo, isso é, a boa-fé objetiva não é considerada quando a parte vale-se de uma conduta
dolosa com o intento de “não de preservar legítimos interesses, mas, sim, de prejudicar a parte
contrária.”64
Tartuce conceitua a figura da Exceptio como:
“A exceptio dali é conceituada como sendo a defesa do réu contra ações dolosas,
contrárias à boa-fé. Aqui a boa-fé objetiva é utilizada como defesa, tendo uma
importante função reativa, conforme ensina José Fernando Simão. A exceção mais
conhecida no Direito Civil brasileiro é aquela constante no art. 476 do Código Civil,
a exceptio non adimpleti contractus, pela qual ninguém pode exigir que uma parte
cumpra com a sua obrigação se primeiro não cumprir com a própria. A essa
conclusão chega Cristiano de Souza Zanetti. O jovem jurista da Universidade de São
Paulo aponta que a exceptio dali pode ser considerada presente em outros
dispositivos do atual Código Civil brasileiro, como nos arts. 175, 190, 273, 274, 281
, 294, 302, 837, 906, 915 e 916.
Conforme Stolze: “Uma aplicação deste desdobramento é brocardo agit qui petit
quod statim redditurus est, em que se verifica uma sanção à parte que age com interesse de
molestar a parte contrária e, portanto, pleiteando aquilo que deve ser restituído.”65
Levando a teoria ao caso concreto, aponta-se interessante julgado publicado no
Informativo nº 430 do Superior Tribunal de Justiça:
"Exceção. Contrato não Cumprido. Tratou-se de ação ajuizada pelos recorridos que
buscavam a rescisão do contrato de compra e venda de uma sociedade empresária e
dos direitos referentes à marca e patente de o sistema de localização, bloqueio e
comunicação veicular mediante uso de aparelho celular, diante de defeitos no
projeto do referido sistema que se estenderam ao funcionamento do produto.
Nessa hipótese, conforme precedentes, a falta da prévia interpelação (arts. 397,
parágrafo único, e 473, ambos do CC/2002) impõe o reconhecimento da
impossibilidade jurídica do pedido, pois não há como considerá-la suprida pela
64
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria
Geral. Editora Saraiva, 8ª Edição. 2012.P. 127.
65
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Contratos: Teoria
Geral. Editora Saraiva, 8ª Edição. 2012.P. 127.
42
E ainda,
43
Diante do exposto, verifica-se que a cada dia as teorias da boa-fé objetiva estão
sendo objeto e amparo em diversas decisões, a fim de solucionar os litígios da forma mais
razoável e balanceada possível.
66
PENTEADO, Luciano de Camargo. Figuras Parcelares da Boa-fé Objetiva e Venire Contra Factum
Próprium. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigosc/Luciano_venire.doc. Acesso em 10/01/2019.
44
CONCLUSÃO
Como visto acima, o princípio da boa-fé objetiva é o princípio balizador de toda
negociação contratual, sendo indubitavelmente tratada como garantia fundamental à função
social do contrato e da ordem pública.
É certo que, ao ter o entendimento das funções da boa-fé objetiva, verifica-se a
grande evolução no entendimento doutrinário e jurisprudencial ao considerar as interpretações
do contrato voltadas para o cotidiano de cada relação contratual existente.
Do mesmo modo, as figuras parcelares e deveres anexos que formam o conceito
de boa-fé objetiva concedem ao princípio uma amplitude na formação e análise dos negócios
jurídicos.
É inegável que o crescente entendimento jurisprudencial tem se revelado como
limitador e regulador das ilegalidades existentes decorrentes de um sistema capitalista cada
vez mais severo.
45
REFERÊNCIAS
ASSIS NETO, Sebastião de Marcelo de Jesus, Maria Izabel de Melo , Manual do Direito
Civil, 3ª edição, São Paulo, Juspovivm, 2014.
DA SILVA, Regina Beatriz Tavares e Outros. Código Civil Comentado, 8ª. Edição. São
Paulo: Editora Saraiva, 2012.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. vol.
IV, tomo I. São Paulo: Saraiva, 2005.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. vol. III. 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2006.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 11.
ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 21ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
NERY, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil anotado e legislação
extravagante. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
46
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único 6. ed. Ver., atual. e ampl – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.
THEODORO JR., Humberto. O contrato e Seus Princípios. Rio de Janeiro: Aide. 1993.
VENOSA. Silvio de Salvo. Direito Civil, Teoria das Obrigações e dos Contratos. Vol. II.
São Paulo: Editora Atlas, 13ª. Edição. 2013.