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co nhecimentos pro du zidos pel a experiên cia científica qu e se mate- riais tio país frente às exigências d o mu ndo moderno.

d o mu ndo moderno. foram monta-


rializava no pressu posto de se am pliar a cida dania. das duas estações de transmis são e de recepção radiofônica. Uma
O caráter de no vidade da antropologia de Roquette-Pinto pon- delas ficou no alto do Corcovado c a outra, na P raia Vermelha.
tuava o Museu N acio nal do Rio de Jan eiro co mo um campo de E m locai s estratégicos da s cida des de Pe trópolis, N iteró i e
possibilidade s para cons truir as dimen s ões do passa do e do futuro, Sào Paulo fo ram in stalados receptores de longo alcance. Todavia,
transpondo as po rtas do dom ínio mu seal, nas relaç ões esta belecidas o som saiu co m ruídos dissonantes, arran ha ndo os ouvidos d os
da memória co m o po de r e. l H: SSC processo, co locando em jogo as parti cipan tes. O turbilhão das co memorações criou não so me nte
relações bin árias ent re a história e a memória, a estética e o valor, o uma atmosfera polític a de realinham ento e de co nciliação entre as
sabe r c o co nhecimento. P Ú S- Sl' como intelectual engajadol ~ diante memórias do presente em relação às do passado monárqui co, co mo
d o deb ate instituc ional de sua época, em permane nte diálogo co mo també m selaram um clim a de falsa h armonia fren te ao s movi-
seus pares, a exe mplo de Când ido Mariano da Silva Rondo n. mento s sociais que embalaram o ano de 1922.
D eb ate esse , qu e ajud o u a subverte r os c âno nes do pc nsamen- Entre outros exemplos, a Seman a de Ar te Moderna de São
to soci al brasileir o, pro movendo um co mb ate ao autoritaris mo Paulo, a revolt a do forre de Copacabana e a fundaç ão do Partido
vige nte. Reafirmo u, assim, seu horror ao " conhecimen to impe- Co m unista Brasileiro. Nesse co ntexto político -institucional, o rá-
rial" das elites brancas brasileira s temerosas com a africa nização da dio ed ucativo surgiria co mo uma possibilida de de se ampliar os
socieda de e da cultura. Sua an tropologia mobilizou-se co ntra a sentidos da unificação da m em ória nacional. Roq uctte-Pin to cap-
convicção de in ferioridade raci al, co locando-se contra os estigm as tou as d imensões políticas e culturais daqu ele momento, propon-
da inferioridade racial. do, em 20 de abril de 1922, en tre os ant igos ami go s dos b ancos
esco lares da Faculdade de Medicina do Rio de J aneiro '55 e o cien-
A experi ência do rádio e do cinema educativos tista Henrique Morize, d a Ac ademia Brasileira de Ciências, a cria-
A primeira transmissão o ficial do rádio no Brasil oco rreu du - ção da Rádio Sociedade do Rio de Ja neiro.
rante as festividades de comemoração do Centenário da Indepen- Esse movimento sinalizou um es forço científico de inserção
dência, em 7 de setembro de 1922, conta ndo com a presença do do Brasil no qua dro da s nações desen volvidas pela tecnologia
presiden te da República, Ep itácio Pessoa e demais autoridades do radiofônica da Europa e dos Es tado s Unido s da Amêrica do Norte.
estado c dip lomáticas. N esse dia, tran smi tiu-se diretam ente do Tea - r\ Rádio Sociedade teve seus primórdios na exp eriênci a radiofônica
tro Municip al do Rio de Janeiro o pronunciamento do discurso do de 22 de setembro de 1922.
presidente da Rep ública e, no dia seguinte, a ópera O guarani, de E m abril do mês segui nte , na Acad emi a de Brasileira de Ciên-
Carlos Gomes. cias, na antiga E scola Politécnica do Rio Jan eiro, Roquette -Pinto e
Assim, o momento da s com emorações do Cen tenário da Inde-
pendência do Brasil tinha a intenção de reafirmar as riquezas mate- , ~~ Roquett e-Plnto mencionaria que este grupo de amigos da Facu ldade de Medici na do Rio
de Janeiro se reunia em tomo das aulas de física proferida s por Henrique Moríze. na Escola
Politécnica, no anfiteatro do Largo de São Francisco. Eram eles os veteranos e os calouros
CHA ul. Maruena. Intele ctual engajado: uma figura em extinção . In: NOVAES. Adau to.
1501 Alvaro Oz6r io de Almeida , Carlos Guinle, Maur icio Gudin, Osca r Pinto de Carvalho, Tito
(org). O silêncio dos intelectuais. São Paulo : Cia. das Letra s. 2006. p. 2. Boba de Araújo. Ver. Roquette-Plnto . E. Ensa ios brasilianos. Op.cit, p. 66.

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Henrique Morize objetivavam a criação da estação Rádio Socieda- 1\ A ta dejimdação da Rádio Sociedade do Rio deJaneiro foi assinada
de do Rio de J aneiro . Foi primeira estação da América do Sul a por um a pléiade de intelecruais de diferen tes plumagens po lítico-
direcionar suas atividades radiofônicas para o âm bito da educação ideológicas: Edgard Ro qu ette-Pi nto, H enri qu e Morize, Franscisco
e não para o divertimento, sendo a primeira rádio esc o la a tentar Lafayette, Euséb io d e Oli veira, Albe rt o Torres, H enriqu e de
unir o erudito e o popular dentro de um a program ação qu e in- Bcaurepaire Aragão, Th. Lcc, Ath ur Me ses, Carlos G uinle, Dulcíni o
cluía, em 4 de junho de 1923, a ópera Rigolleto de Verdi, numa Pereira, F ran cisco Venâ ncio Pilho, Ar ma ndo Frago so Co sta, E u-
versão completa. gê nio H im e, M ário Paul o de Brito, Othon H. Leo nar do, J orge
No m esm o m ês, o jornalista Amadeu A maral, dir etor do jor- Leuxinger, Carlos G ooda Lacombe, Edgard Süssekind de Men-
nal Gazetta de Notícias deu seu apo io à Roq ucttc-Pimo, im pressio- donça, Antônio Caetano da Silva Lima, Luís Betim Paes Lem e,
nad o co m a "elementar aparelhagem". Em O Estado de S.Pmtlo, Álvaro O sório de Almeida, Ângelo Cos ta Lima e Mário de Souza.
Amadeu narradou o episó dio: A Rádio Sociedade do Rio de Ja neiro foi uma espécie de "cos-
Quando vi a antena plantada a um canto do jardim - uma simples tela de Adão" da Socied ade Brasileira de Ciência!" que havia sido
vara de bambu com uns fios ligeiramente instalados _ e sobretudo fundada, no ano de 1916, com a participação de E dgard Roquette-
quando penetrei no quarto das operações e pude examinar os toscos P into, H enrique Mo rize, Mano el A mo ros o Costa, Tobias Moscoso,
objetos que completavam o dispositivo, não pude deixar de sorrir por
Lab ouriau, Ama de u Amaral. Parte desses int electuais, eram liga-
dentro. Não era possívelque aquela caranguejola, feita com bambu,
alguns metros de fio de cobre, uma bobina de papelão e um fone de do s por fo rmação à Es col a Poli técn ica do Rio de Janeiro e ao
aparelho comum, desse resultado sério. Quem sabe se aquilo que Obser vató rio Astron ônico, com formação em diversas e diferen-
pregavam ouvir por intermédio deste aparelho, não seriam quaisquer tes áreas do co nheci me nto, a exe mplo, da m ed icina, da física, da a
vibrações ordinárias confusamente conduzidas pelos tais fios expos- p sico logia, da biomet ria e da radioe letricidade, como era o caso,
tos. Dentro em pouco, porém, colocando o fone ao ouvido, pude
do Roquette-Pint o.
escutar versos declamados na PraiaVermelhaentremeados de música
tudo tão perceptível como se os sons se originassem a ~ois passos:
Na co ncepção de Roquette-Pinto, a Rádio Socie dad e do Rio
Aquela carangueijola ridícula funcionava maravilhosamente.v'< de J aneiro tin ha como objetivo articular arte e ciência.
O pro jeto de edu cação p opular pelo rádio via Rádio Socieda- A arte e a ciência,bem como a religião e até mesmo a a técnica, onde
se entrelaçam é no abalo emocional, sublime arrancada que leva os
de do Rio de Janeiro trazia co m o prop osta um leque diário de
homen s a tentar a conquista da perfeição indefinível e inatingível,
programas com ativ idade s ed ucativ as que se estendiam de sde os como o valor daquele símbolo grego, inicial do nome de Prometeu,
cu rsos de lite raturas b ras ileira , frances a e inglesa, às aulas de eterno anseio, que encontramos no inicio das teori~s da ciência, ou
esperanto, complementadas co m as aulas de rádio-telegrafi a e de no embrião das obras de arte e dos monumentos religiosos de todas
telefonia. E ram p roferidas aulas de silvicultura prática, lições de as cr~nças . No entanto não há mais em nossa época confundir, no
mesmo termo, as diferenças do sentido estético, condicionadas pelos
história natural, física, química, italiano, francês, ingl ês, português,
temperamentos . Em ciência o caso é diferente,158
geografia e até p alestras seriada s. Teatro e música.
157 Em 1922. passou a chamar-se Associação Brasileira de Ciências.
tse Roquette-Pinto, E. Ensaios brasílianos . São Paulo: Companhia da Editora Nacional,
tse Roquetle-Pin to, E. Ensaíos brasilianos . op.clt, p. 74. 1940, p. 81.

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o símbolo grego de Prometeu, mencionado po r Roq uett c-Pin- ótica e prática, aprendem os fundamentos do TSF e pratic am a recep-
to, teria a função discur siva de "encarnar" os anseios da humanida de ção auditiva dos sinais morse. Uma vez habi litad os a receb er p elo
menos dez palavras por minuto passam a trabalhar na estação SQ IX,
pelas conquistas civilizatórias associadadas ao sacrifício e ao so fri-
sob as vistas de Alberto Co nteville com o operad or chefe Renato
mento na luta contra as injustiças c o nipresença do O limpo. Apes ar Leão de Aquino. Os moços qu e atingem suficiente preparo são enca-
da mal dição de Ze us, Prometeu resistiria aos enca ntos de Pando ra e minhados pela Rádi o Socied ad e.':"
às investidas da águia a arranca r-lhe, d ia após dia, as víseras. A Rádio O departamento em qu estão se destinava à for mação profis-
Sociedade do Rio de Janeiro personifi caria Prometeu em seus pres- sio nal do s esco teiros em opera dores de radiotelegr afia integran-
supostos básicos em relação ao pap el do rád io educativo no Brasil. do -os ao campo d a rad iodifu são. No lab o rat ório da Rádio
Em A educação e o seu ajJardhrllllclJlo, Venâncio Filho situou com Socieda de, Roquette-Pi nto construiu um p equ eno tr ansmissor que
mui ta propried ade o qu e significo u o su rgime nto da Rádio Socie- . pa ra dem o nstraçoes
servia - tec, mcas
. .16 1
da de como uma inici ativa pio neira de ed ucação po pular no país. Assim, as primeiras linh as do pr ograma educacional da Rádio
Aí desenvolveu o seu programa educativo, atingindo o Brasilinteiro Socie dade do Rio de J aneiro constituiu o plano diretor de suas
e pode dar aos estadistas o exemolo de recurso à mão, com que ações visando moldar o rádio como instrumento "fecundad or de
acudir a milhões de brasileiros, perdidos e esquecidos. !'"
almas" com capacidade de propagar o ens ino p rático elementar e
Os "perdidos e esquecidos" a que se referia Venâncio Filho
o civismo. 1\ socie dade fora pen sada co mo um o rganism o vivo.
representavam parcelas significativas da população nacional que
Cada estado, na sua capital, dispondo de estabelecimentos de ensino
precisava ser "transformada" em povo-nação. A este propósito, a de certo vulto, fundaria uma grande radioescola. Um entendimento
Rádio Sociedade do Rio de J aneiro surgi u com o caráter de divul - de ensino de certo vulto fundaria uma grande radiocscola. Um en-
gação no espaço público da comunicação de programas educativos tendimento entre governos, sob os auspícios do governo federal,
e culturais que mesclavam o eru dito c o popular, direcionan do-os permitiria a aquis ição das vinte poderosas estações necessárias. Seri-
am todas do mesmo tipo, por economia, fornecidas em concorrência
para ocu par os vazios da escola tradicional.
pública. Não há um só estado do Brasil em condições de não pode r
A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro procurou associar " do ns arcar com esta despesa. A função dessas vinte grandes radioescolas
artísticos" com "labor cientifico", cuja finalidad e era a de promover estaduais seriapuramente diretora, seus programas educativas mos-
a educação da alma nacional, fazen do o rádio educativo chegar aon- trariam às cidades do interior o caminho a seguir.162
de a escola inexistia. Essa tradi ção sertanista inspirou a criação do N o cerne das iniciativ as de "vulg arização científica" durante a
dep art amento escoteiro qu e tinha por objetivo instruir estudantes a década de 1920, a Rád io Sociedade do Rio de Janeiro cons tituiu-
ter aulas de rádio eletricidade, radiotelegrafia e radiotelefonia . se co mo uma in stituiç ão p rivada sem fin s .lucrativos, ao lado de
Os rapazez pertencentes a qualquer grupo escoteiro ou mesmo esco- outros meio s de comunicação como os jornais, livro s e revistas .
teiros isolados. É uma iniciativa que desperta grandes esperanças e N es sa conjuntura, tornou -se um poderoso instrumento desti nado
merece o maior carinho dos responsáveis pela grande instituição. No
departamento escoteiro os moços começam recebendo instrução te-
160 Revista Elétron, 01/02/1926, p. 13.
159 Venãncto Filho, Francisco. Apud Salgad o, Alvar o. A radiodifusão educativa no Brasil. 1el Ibidem.
(Notas) . Ministério de Educa ção e Cu ltura, Serv iço de Documen tação, 1946. p. 21. 1e 2 Roquette-Pi nto, E. Apud Salga do. A lvar o. Op.clt. p. 44 .

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ao " p re paro" d as mentalidades rnars do que um p rop ul so r de
rio de E ducação e Saúde, aos cuidados do titular da pa sta, G us tav o
conhecimen tos isolados.
Capanema. A doação deveu-se as dificuld ad es financeiras d a Rá-
Quanto mais ap to a apreender, maior teria sid o o co ntato das
dio em co ncorrer co m as rádios comerciais.
inteligências com o pensamento cientí fico. Por co nseguin te, esse
O referido ministro da Educação e Saúde Pública do Governo
"pensamento científico" difund ido pela Rádio So cied ade não era
Vargas aproveitou a oportunidade para ressaltar que a entrega da
assé ptico como se fazia crer, im b uíd o so me n te de altruísmo, pa-
Rád io Sociedade do Rio de Janeiro ao gov erno federal rep resentava
trioti sm o c benevo lência. Instituiu-se enqu an to dispositivo id coló-
a entrega de um valioso patrimônio dedicado à cultura do pa ís.
gico de modc laç ão, de esc o larizaçã o, implicando a produção de
Como autoridade a quem coube rece ber tão valioso legado, eu que ro
co nteúdos qu e se inte gra vam aos pro cesso s d e produção, circula-
dizer aqui que o Ministério da Educação assume com satisfação es ta
ção, consumo c apropriação de saberes a serem ped agogi:t:ados. A responsabilidade e que procurará utilizar-se da melhor maneira pos-
rádio como um veículo de difusão da "discip lina"Y'] sível deste instrumento que ora lhe é proporcionado para, no cum -
Assim, a comunidade cien tífica brasileira, em fins da d écada priment o da elevada missão, com grande clarividência lhe traçou o Sr.
presidente Getúlio Vargas, falar diariamente aos brasileiros, animá-
de 1910, viu no rádio educativo um marco determinante que fazia
los nos seus trabalhos do campo, da cidade e do mar, es tar com eles
parte de iniciativas de divulgação científica existentes no D istrito
nas suas alegr ias e pesar es. Este é o novo trabalho que, com coragem
Fe deral. Exemplo diss o, fo ra criação da Sociedade Brasileira de e fé, vamo s co mcçar.!"
Cié nc ias em 1916, da Rádio Sociedade do Rio de J aneiro em 1923
Assim, o rádio educativo, na perspectiva da Rádio Sociedade,
e da Associação Brasileira d e E ducação em 192 4. E stas organiza- afirmava-se como um veículo d e políticas públicas destinado a orga -
ções da sociedade civil abrigavam ao seu redor cientis tas sociais d e nizar e difundir culturalmente, num todo orgânico, os conhecimentos
ren ome nacional e internacional tocados pe la ânsia em d efinir pa-
reveladores da identidade nacion al como a língua, os costumes e a
drõ es cien tífico s adequados para a b rasilidade.
história. O rádio aparecia associado à ideia de divulgação da ciênc ia e
Segundo Ildeu d e Castro Moreira e L uisa Massarani, o cresci- da modernidade, constituindo-se em meio eficaz para a realização da
mento das atividades de d ivulgação científica estariam associados
obra salvacionista de educação dos brasilianos. O bra d e instrução
a um peq ueno grupo d e intelectuais: Manoel Amoroso Costa,
pública que se adequava às exigências da sociedade industrial.
He nrique Morize, os irm ãos Ozório de Alm eida, Juliano Moreira,
A concepção de rádio educativo em Ro q uette-Pinto forjou-se
E dgard Roquctt e-Pinto, Roberto Ma rinho de Az evedo, Lélio Gama no movimento de reflexão antropológica no Museu Nacional do
e T heodoro Ramos.Jv' E m 7 d e setembro d e 1936, so b o lema
Rio de J aneiro, iniciada na década anterior c na docência na Escola
"levar a cada canto do país um pouc o de educação, ensi no e ale-
de Professores do Institu to de E ducação do Rio de Janeiro. Ao
gria", a Rádio Sociedade do Rio de J aneiro foi do ad a ao Mini st é-
longo de suas ativid ad es de intelectual educador teve muitos pares
acadêmicos e interlocutores polí ticos como Be tim Paes Lemme,
163Chartier, Roger. À beira da falésia: a história entre as certezas e inquietude. Porto
Alegre: Ed. Universidade, UFRS, 2002, p. 143.
M anoel Ribe iro, A lberto José Sampaio, Bourguy d e Mendonça,
1(>1 Moreira, IIdeu de Castro, Massarani, Luisa. A divulgação científica no Rio de Janeiro:

algumas reflexões sobre a década de 1920. Hisl. Cienc. Saúde-Manguinhos, v. 7, n. 3,


Rio de Janeiro, Nov. 2001. 185 Salgado. A. Radiodifusão educativa no Brasil (Notas). Rio de Janeiro, Ministério de

Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946.

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Sérgio Carva lho, Alfre do de And rade , Cesar Diogo, Alberto Childc, Após fundar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Roq ucttc-
No magistério, AIÚSio Teixeira, Fernando de Azev edo, Fernando Pinto organizou uma outra em issora, no Distrito Federa l: a Rádio
Tude de Souza, ent re outros tan to s. Escola M unicipal (hoje Rádio Roqucttc-Pi nto), quc se ins talou em
Sua tomada de po sição na formula ção de um pen samento 1928, no edifício da P raça da República, próximo ao Campo de
vo ltado para a constituição do ca mpo pcdagúgico 1('(' no Brasil, Santana. Esta emis so ra buscou dar con tinuidade as tarefas de
encontrou no rádio educativo sua razão mais eficaz de existir. Com radio escola desenvolvidas até então, estreitando os vínculos de acesso
o rádio educativo fazia expa ndir a educação forma l aonde ela não do povo às culturas popular e erudira.!"
podia chegar, sobre tudo, nas regiões interioranas, saltando obstá- A rigo r, Roqu ette-Pinto definiu o papel social a ser dc sem pe -
culos aparent em ente in sup er áveis, carac rcristicos do atraso social e nhado pelo rádio educativo na soc ieda de brasileira e o que carac -
ec onômico do país. O rád io edu cativo co mo po deroso instru- terizou a tra nsição pa ra a superação do atraso nacional, herança de
m ent o da esco la na lut a co ntra o an alfab eti smo. nossa tradição colonial.
A filiação desse pr ojeto de educação nacional pelo rádio tinha O rádio repres en ta o papel p repo nderant e de guia dire tor, de grande
como eixo in fluir po derosamente na formação do povo e das eli- funda dor de almas, porque espalha a cultura , as info rmaçõe s, o ensino
prático elementar, ()civismo, abre campo para o progresso preparando
tes, sua posterior, transformação em cidadão. N a Revista É/elron,
os rabar éus, despertando em cada qual o de sejo de aprender. Muita
publicada em 1926, Ro quette-Pinto escreveu artigo sob o título
gente acredita llue () papel educacional do radiofô nico é simplesme nte
" Radioe ducação no Brasil" , traçando em linhas gerais um plano para um conceito po ético, coisa desejável mais difícil ou irrealizável. Quem
transformar em cinco ou seis anos a mentalidade popular do país. pe nsa desse modo, não con hece () que se faz no Brasil. t'"
O rád.io educativo teria, antes de tudo, um compromisso com a Ao reivindicar o r ádio educa tivo com o pedra de toque da
institu cionalizaçâo das instituições dem ocráticas liberais no Bra sil, modernização tecnológica, buscou-se construir uma ideia de uni -
p roduzindo novas práticas sociais oriun das da cultura democrá tica.
dade p ara além das difere nças étc nicas e culturais, endossando a
O concurso contou com uma ap resentação de uma monografia por
parte do s candidatos. Fernan do Tude ap resentou uma monografia
concepção de progresso científico em marcha . O rádio educativo
intitulada " Educação e Opinião Pública" , procuran do tratar da for - era a sinergia de ligação e de rnedia çâo entre barbarismo e civiliza -
mação da opiniã o pública, do s rec urso s de pu blicidad e e propagan - ção. Para Roqu erre-Pint o, o s males na cionais não poderiam ser
da, das relaçõ es entre imprensa, gove rn o e educação n um país em curados nem pelo vo to, nem pelos partidos p olítico s, nem pelo
vias de industrialização e urbanização."?
serviço militar obrigatório ou pela s reformas constitucionais.
O "antídoto" devia ser o aperfeiçoamento da ciência a derrotar o
166 Segundo Pie rre Bo urdieu , a estrutura do campo é um estado da relação de força entre
"atraso nacional" personificado pelas doenças tropicais e pelos altos
agentes ou as instituições engajadas na futa ou, se pre ferirmos , da distribuição do capital
especifico que . acumulado no curso das lutas anter iores, orienta as estratég ias ulteriores. índices de analfabetismo. Nessa perspectiva, o rádio educativo teria
Essa estrutura . que estâ na origem das estratégias destina das a transformâ -/a, também
estâ sempre em jo go: as lutas cujo esp aço é o campo tem por objeto o monopólio da
como missão civilizatória libertar o povo considerado rústico do bar-
violência legitima (autoridade especifica) que é característica do campo considerado, isto
é, em definitivo, a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital
específico. Ve r Bour die u, Pierre. Questões de Sociologia . Rio de Janeiro: Editora Marco 168 Roquette-Pi nto, Edgard Apud Salg ado , Álvaro. A radiodifusão educativa no Brasil. (No-

Zero , 198 3, p. 90. tas). Serviço de Doc ume ntação do Minis tério de Educ ação e Saúde , 1946, p. 34.
'67 Revista Elétron, 01/02/ 1926, p. 14. 169 Roquette-Ptnto, Edgard. Seixos rolados: estudos brasileiro s. op .cit, p. 234.

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barismo da ignorância." ? O rádio havia de preceder a escola em lugar cional, abrangendo, de maneira segura c co ntrolada, as esco las de
todo o país, será o maior passo no sentido de dar a nossa vida escolar
de substituí-la, desenvolvendo as estruturas pedagógicas simples,e efe-
a unid ade esp iritual que lhe falta. 172
tivando novas estruturas, com o objetivo de operacionalizar novos
Co ube ao estado organizar o social, co nsolidar a unidade naci-
métodos, novas técnicas e novos con teúdo s de ensino.
onal e definir regras de co nduta comportame ntal dos indivíduos na
A posse da emissora Rádio Sociedade do Rio de Ja neiro pelo
sociedade. A educ ação pelo rádio poderia vir a constituir uma mo -
govern o federal, em 1936, possibilitou a criação do Serviço de Ra-
dalidade de comunicação de massa pro pulsora do progress o. Sob o
diodi fusão do Ministério de Educação e Saúd e pela lei núme ro 378,
decreto número 11.491, de 4 de fevereiro de 1943, o regimento do
de 13 de janeiro de 1937, em que, pelo artigo 50, este serviço se
Serviço de Radiodifusão Educativa (PRA-2) do Ministério da Edu-
destinava a promover permanent emente a irradiação de programas
cação e Saúde preconizava, em seu artigo primeiro que:
de caráter edu cativo.
O Serviço de Radiodi fusão Educativa (SRE) , órgão subordinado ao
A lei determi na no parágrafo único deste artigo que:
ministro de Ed ucação e Saúde, tem por finalidade orien tar a radiodi-
Uma vez o rganizado ()Serviço de Radiodifu são Ed ucativa, ficam as fusão como meio auxiliar de educação e ensino, pro mover, per ma~
estações radio difusora s que funcio nam em todo () país, obri gad as a nente me nte, a irradiação de progr amas científicos, literários e artísti-
transmitir, em cada dia, durante 10 min utos, no mínimo segu idos cos de caráter educativo, e incorporar e esclarecer quanto à política de
ou parcelados, textos educativos, elabo rados pelo Ministério de Edu - educação do país.In
cação e Saúde, sendo pelo menos metade do tempo de irradiação
no rum a.'?' E m 1943, foi nomeado pelo en tão ministro da Educação e e
Saú de Gustavo Capa nema, o primeiro Diretor d o Serviço de
E m carta de 1938, o ministro da Educação e Saúde G ustavo
Radiodifusão Ed ucativa (SRE). Tratava-se do médico e jornali sta
Capanema apre sentaria ao presidente da República, G etúlio Vargas,
baiano Fernando Tude de Souza , um do s dscípulos de Roquette -
proposta para impl eme ntação do Serviço de Radiodi fusão Educa-
Pinto. O Dr. Tud c de Souza assum iu um papel relevante e decisivo
tiva do Minist ério da Educação e Saúde.
nas defesa dos princípios não comerciais do rádio educativo, de-
N o Brasil, não pali emos ficar atrás neste terreno. É preciso introdu-
zir o rádio em todas as esco1as,- primárias, secundár ias, profissio- fendendo e imp lementando, até março de 1951, o antigo projeto
nais, superiores noturnas, diurnas - e estabelecer, através deste pod e- de edu cação popular da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.
ros o instru mento de difusão, um a certa comunhão espiritual ent re N essa perspectiva, a defesa do rádio educativo encetada por .
os estabelecimentos de ensino. O rádio será mesmo o único meio de Roquette-Pint o entrou em conflito com os setores auto ritários da
se fazer essa com un hão de espírito, pois tudo (a dificuldade de trans-
Rep ública Varguista. Exemp lo disso, seria a queda de braço en tre
portes. de longa s distâncias, a escassez da população) tudo concorre
a separar e isolar as nossas escolas, que são aqui e ali colmeias autôno-
o ministro Gu stavo Capanema com () D epartamento de Irnpren-
mas, cada qual com sua ment alidade. e todas distantes do sentido
que nós cá do centro desejamos imprimir-lhes. Um serviço bem
organizado de radiodi fusão esco lar, cobrindo todo o terri tório na-

172 Cap anema. Gustavo Apud Salgado. Alvaro. op. citop. 24 .


170 Ibidem, p. 235. 173Horta, José Silvério Baia . Hist6rico da radiodifusao educativa no Brasil ( 1922-1970).
m Lopes, Saint-Clair. Radiodifusão hoje . Rio de Jane iro: Editora Temário , 1970. Rio de Janeiro , FGV/CPOOC , p. 92.

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sa e P rop aganda (D IP) , em virt ud e do co ntrole da programação pOSI <;tlCS ocupadas pelo s int electu ais no interior do estado. Não
do Serviço de Radiodifusão Educativa.'?' era uma luta de mera justaposição entre co mp anheiros que p arti-
Em car ta ao presidente da República, Ge túlio Vargas, em 1938, lhava m do mesmo poder, mas um cnfrcntamc nto po lítico- ideo-
Capancma apresen to u possível desfavorável à tran sferên cia do lógico m arcado por uma lógica de relações simb ólicas, expressão
Ser viço de Radiodifusão E ducativa pa ra a pasta da J ustiça. de r elações de for ças en tre indivídu os o u g r u p os .176
A hipó tese de tran sferir esta estação ( P R i\ S~2) para o Min istério da Roquett e-Pinto não se engajo u na co rren te do " autoritarism o
justiça não me parece conveniente. Antes do mais, porque o Ministé - instr um ental" . Nã o foi mero reprodutor da ideologia do estado.
rio não pr ecisa d ela. O Ministério daju stiça preci sa sim, de todas as
Bu scou co ns tr uir, através do museu . do rádio e d o CInema
estaçõ es radiofôn icas existentes no país, d uran te o dia e durant e a
educativos, in stru men to s político-culturais de mediação direcio-
noite. De ve ser fixado emlei o temp o que as estações dev erão dar à
difusão do D ep artamen to d e lln lpagatltla, tcmp () este a ser u tilizado nados a influencia r nas condições so ciais e culturais da amp la ca-
parceladamen te, nos in tervalos das irradiç õc s musica is, de tal modo m ada da população excluída da educação. Enfrentou a politização
que ou vissem os anúncios co me rciais. Utilizando to das, e a tod as as da ed ucação e a pedagogização da política nos anos qu e se suce-
horas, o Minist ério d aJustiça falará continu am ente c eficientemente
deram à implementação do novo es tado republicano do pós-re-
a toda a população radioouvinte do país. Se, porém , o Minist ério da
vo lução de outubro, Dei xou o Museu Nacio nal do Rio de Janeiro,
J ustiça passa a usar uma determi nada esta ção, dia e no ite, para a sua
propaganda, o resultado será fatalm ente o seguinte: tal estação não em m arço de 1936, para ded icar-se à criação do Instituto Nacio-
terá nenhum público, poi s todo mundo mesmo os amigos do go - nal de Cinema Ed ucativo (INCE).
verno ligar ão o aparelho para as outras estaçõ es. Se o :Ministério da Em ato do presid ente da República, G et úlio DorneIes Vargas,
J ustiça pensar de montar uma estação própria, esta deverá ser de publicado no Diário Oficial da União, no dia 26 dc janeiro de 1937,
onda curta, para a propaganda no estrangeiro. O programa de propa-
com assinatura do então chefe de gabine te do ministro da Educa-
gand a para o estrangeiro deve ser completamente diferente do pro-
grama para o pafsMuitas coisas 'lue precisam ser ditas ao estrangeiro ção e Saúde, Carlos Drummond de Andrade, efetivou-se a nomea-
enfadam os habitantes do país, e vice-versa. Acresce que, para o es- ção, em comiss ão, de Roquette-Pinto para ocupar a função de
trangeiro, deve ser usada outra língua. Sendo assim, a organização dire tor do IN CE .
autônoma e própria a ser mantida pelo D epartamen to de Propaga n- Cinco anos antes, Roqucttc-Pinto acumulava outras funções
da, deveria cons istir numa podero sa est ação d e onda curta, para pro-
na est rutura estatal atuando como p ro fesso r assistent e, intcrino l 77 ,
gramas especiais, diferentes, exclusivas para o estrangeiro.!"
da discipli na hi stória natural, da Escola Secundá ria, do In stitut o de
O discurso do ministro Capanema pontuava uma preocupa-
E ducação do Rio de Janeiro , nomeado em ab ril de 1932 . Neste
ção por parte do Ministério de Educação e Saúde em preservar
sob sua direção o Serviço de Radiodifusão Educativa, o qu e re-
\76 Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva,
presentou em certa medida, um a luta de po der ent re diferentes 1974, p. 14.
m O Diretor-qeral de Instrução Pública do Distrito Federal Anísio Teixeira, em ato oficial
Range l, Jorge Antonio da S. O moderno Dom Quixote : a trajetória intelectual do educa.
174
de 25 de abril de 1933, des ignou Roquetle- Pinto para exercer o cargo de profess or
dor Fernando Tude de Souza no Serviço de Radiofusâo Educativa no Brasil. Rio de subst ituto da cadeira de história natural na Escola de Professores do Instituto de Ed uca-
Janeiro: UFF, 1998, pp. 254-265. (Dissertação de Mestrado) ção. Em 7 de junho de 1933, por ato do interventor federal do Distrito Federal, Roquetle-
175 CAPANEMA: Gustavo. Carla a Getúlio Vargas . CPDOC [ Ge .36 .12DDg . DOe .I-8), Pinto foi efe tivado no car go de professor adjunto da mesma disciplina. Ver : Fundo
Fevereiro, 1938. Roquette-Pinto, Arquivo do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

104 105

an o, pelo Decreto Federal n° 21.240, de 14 de abril de 1932, trito Federal nos anos de 1927 -1930 e responsável pela redação final
implemen tou -se a Cen sur a Cinematográfica no Ministério de E du- do Alauifesto dos pioneiros da Educação N ova de 1932, bem como a
cação e Saúd e Pública. Participou como membro-p reside nte da redação do Manifesto de 1959.
P rimeira Co missão Federal de Ce nsura (j l1C tinh a po r ob jetivo O movimento escolanovista emba lou as refo rmas educacio-
manter sob vigilância e co ntrole a produ ção e a distribu ição de nais do período em qu estão bu scando instituir um modelo in te-
filme s educativos exibido s no país. Em particular, o decr eto em gr ado de organi zação ed ucaci o na l no paí s (lue fu ncio nasse de
vigor fo rçou a inclusão de filmes ed ucativos em cada série de fil- m aneira sist êmica, hierárqui ca c eme rgencial. Este modelo refor -
me s exibid os pelas salas de cinema do país. mista da ed ucação na concepção azevediana resvala va para a afir-
Dois anos dep ois, a censura cinem atog rá fica ficaria sob a tut e- mação da unidade po r sobre as diferenças culturais e étnicas como
la do Mini st ério da Justiça, fazendo com 'i llC Roqu ett e aba ndo nas- a língu a, a religião, os costumes, os usos etc.
se a comissão. E m janeiro de 1934, foi nomeado pelo interventor A questão da organização do espaço escolar passou a exercer
federal no Di strito Fed eral, Pedr o E rnesto , chefe da Seção Técnica papel funda mental no planejamento da form ação do novo hom em
de Museus Es colares e Radiodifusão Educativa do D ep artam en to produzido pelas virtualidades da educação.!" O rganizar e transfor-
de E ducação da Diretoria de Instrução Pública do Distrito Fede- mar a realidade eram imperativos com os quais Roqu ettc-Pinto lidou
ral. N o mesmo ano, a convite do ed ucador Anísio Teixeira, Dire- ao form ular as bases de fundame ntação da Rádio Escola Mun icipal
to r G eral de Instrução Pública, Ro quette-Pinto dava início ao tra- (PRA-5) e do Instituto Naci onal de Cinema Educativo (INCE) aos
balho de organi zação da Rádio Escola Municip al do Rio de J anei- mo ldes da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e do Serviço de Radi-
ro (PRA-5), futura Rádio Roqucttc-Pinto. odifusão Educativa do Minist ério de Ed ucação e Saúde.
A Rádio Es cola teve como caract erística os pressupostos qu e Segundo Sônia Cam ara , os reformadores possuíam a crença
guiaram o projeto original de fundação da Rádio Soci edade do de qu e, através da educação, foss e possível adequar as classes po-
Rio de J aneiro: articular educação, ciência e ar te. A tran smi ssão do pular es a uma lógica de soci edade que se pretendia co nstruir. Nes-
rádio teatro, da s óp era s e dos jogos de futeb ol, do jornal dos te aspecto, a refo rm a de ens ino de Fernando Azevedo no Distrito
professores, as con ferên cias, curs os , p alestras contribuíram para Federal não so mente implem an tou novas práticas pedagógicas
fazer da radiodifusão um veículo pod eroso de difusão cultural. dir ecionadas a alterar o cotidiano escolar do ponto de vista admi-
A ess a altura, o pro jeto radiofônico e cine m atográfico de nistrativo-hi erárquico, m as também a desenvolver uma função
Roquctte-Pinto integrou -se ao m ovim ento do escolanovismo brasi- socia lizad ora da s descobertas do conhecimento.!"
leiro, cons trui ndo não som ente um a rede de afinidades eletivas com Para p ensar a concep ção refor m adora dos intelectuais educa-
as quais estabeleceu vínculos identitários, mas também articuland o dores do período, Antonio Candido ob serva que:
organicament e o campo da educação. Teve co mo interlocu tores nesse
percurso, entre tantos outros, Aní sio Teixeira, Lo uren ço Pilho, Fran- 176 Azevedo, Fer nando . A trans missão da cultu ra. In: A cultura brasileira. São Paulo :

Editora Melhoramentos , 1958, p. 658 .


cisco Venâncio Filho,Jonathas Serr ano , Paschoal Lemme e Fernando
179 Gamara, Sônia. Reiventando a escola: o ens ino profissiona l na reforma Fernando de
de Az evedo . E ste último , foi diretor de Instr ução Pública do Dis- Azeve do de 1927 a 1930. Rio de Janeiro : UF F, 1997 , pp. 46 -152 . (Dissertação de
mestra do)

106
107
Há ho mens que só sabem criar dentro do s quadro s estabelecidos,
as "i ll\:lgt.: l1~ do Brasil" que se p retendi a ext rao rd inariamen te im en so
que lhes servem de referência e apoio. São os puros administra do res.
c portado r de um d esti no manifesto triunfa lista e reno vad or. A
Outro s só sabe m criar ro mpe ndo o s quad ro s, po n..lue desejam es ta-
belecer quadro s novos para novas práticas. Sâo ( ) S reformadores, aos cr iaçã o do IN CE vincular-se-ia a esses p rincí pios do " nacio na-
quais pertencia Ferna ndo de Azevedo, l luC por isso punha ( )S interes- lismo milita n te" !" . Construir im agens interp re tativas do Brasil ca-
ses das refo rmas acima de regimes e pa rtidos, os quai s encarava fre- pazes d e absorver o id eário de co nstrução d a nac io nalida de e as
quen temen te como o po rtun id ade s c instrumenros.t'"
perspectivas cen rralizado ras do esta do.
Roqu etto -Pinto foi um reformador no sen tido em p regado por Roq ucr tc-Pi n to acreditava que o cine ma educativo d evia ser o
Antonio Cândido. Concebeu o rádio e o cinema ed ucativos não porta-vo z d as imagens do Brasil mo d erno, calçado na ide ia de
como instrumento s de uma retórica rcacirmária do estado interven to r d esen vol vim ent o e difu são d a ciên cia e d a cu ltu ra. Não é à to a que
b rasileiro, dos homen s e tias institui ções, mas como um espé cie de o IN C E vai seguir o s molde s de o rga nização d e p rogramas d as
fermento social pa ra a ampliação tio s direitos d a cidadania numa experiên cias anterio res com a Rádio Socied ade do Rio d e J aneiro
soc iedade marcada pela cu ltura da iberia patrimonialista, e a Rádio Escola d o D istrito Fed era l. D a d at a de sua fu nd ação até
E m Roq ucttc-Pin to, nacionaliza r e o rga niza r as for ças nacionais 1947, o Instituto N acio nal de Cine ma Educativo (IN CE) , so b a
do país tinh a a ve r co m a promoção d a esco larização em larga d ireção de Roquctte-Pinto, p rod uziu-se e d istri b uiu-se um ars ena l
escala e com o fo rtalecim en to da matriz liberal de viés demo crático. d e film es em escolas, repart içõe s p úblicas, casa s d e ex ib içã o,
Por esse en tendimen to, caracterizou-se por ser um intelectual co ns- agrem iaçõ es lite rárias e esportivas, socie d ades ben eficientes.
tru tor de pontes, in terclassista, pensador da s diferenças'ê' num a so - Esse s film es abo rd ava m u m repert ó rio ecl ético d e assun to s
ciedade em que o espírito da época for a m uito men o s libera l que o com temas da atu alida d e e da hi stóri a d o Bra sil, incluíd o as d es-
de hoje, o au to ritarismo pairava no ar da dir eita à esquerda.1!Q co bertas científic as. T odavi a, as ativ idad es d o IN CE não se re-
Tudo indica tlue Roquct tc-P into tr an sitou não tão d entro do d u zir am à produção d e film es. Influiu na fo rma ção do público
p oder tlue lh e fo sse retirado o exer cício do discernimento críti co, leit or, co ns truind o e ampliando bibliotecas espe cializad as, publi-
ne m tão fora qu e bloqueasse as expectativas d e afirmação c reali- cando revistas, co ntrolando a p ropag anda."! A reforma edu -
zação de seus pr o jetos co ntra (J imbobilismo. Manteve-se, no jogo cacio nal d e Fernando de A ze ve do no Dist rito Fed era l ha via in -
do pod er, ator in ter cambi ável. " ? clu ído o rádioeducativo, em seu prog rama d e ensino, o rga nizand o
Em ma rço d e 1936, Roquctte-Pinto d aria inicio às ativid ad es um plano sistemático de açã o que tin ha por es t ratégia de sp ert ar a
no In stitu to Nacio na l do Cin em a E d uc ativo (INCE), sendo seu ade são pública e p rivad a para a criação d e u m ambien te cine-
criad or e prim eir o di reto r. Convidou o cineasta H u mber to Mauro m at ográ fico.
para in tegrar sua eq uipe co mo di reto r téc nico. Jun to s pro d uziriam E m agosto d e 1927, fo rmou-se uma Comissão d e Cinema
1110 Cândido, Antonio. Um reformador. In: Revista do Instituto de Estu dos Brasileiros , E du cativo, inciand o seus trabalhos com uma exp os ição de aparelho s
USP, São Paulo, n. 37, 1994. p. 6. Apud Camara. Sônia oo.cü, p. 46.
181 Portella, Eduardo. O intel ectual e o pod er. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 21.
1'" Oliveira, Lúcia li ppi. A ques tão naci onaf na Primeira Rep ublica . Sâc Paulo: Editora
182Carvalho, José Murilo de. Pontos e bord ados: escritos de história e política. 8elo
Braslnense. 1990. p. 146_
Horizon te: Ed itora UFMG, 1998, p. 204.
'" Moretttn. Eduardo víctorlo. Cin ema e hist6ria : uma análise do filme "Os Bandeirantes".
,~ Portella. Eduardo. O intelectual e o poder. Op . citop.13.
S ão Paulo: USP, 1994, p. 57. (Dissertação de mestrado)

108
109
de projeção fiza e animada. Em função d o fácil acesso e de boa s pio neiros em favo r das refor mas da educação no país. N o IN C), ele
condições de edificação foi escolhida a E scola José de Alencar, no teve participação direta na esco lha dos tema s do s filmes propo sto s,

Largo do Machado. Além de possuir salas am plas, a esco la dispunha co mo também na m o ntagem de alguns deles, do po nto de vista da
de um imenso salão , propício a receber um co ns iderável núm ero de argumentação e adap tação do rot eiro. (~ o caso de Os Bandeirantes e

visitantes para assistiràs exibições de filmes. Assim, o cine ma aplica- Argila. Em amb o s o s filmes, H umberto J\ lauro contaria com a ajuda
do à educação deveria operar com co leções de filmes, não so mente de Roqucrre-Pinro, do então direto r do Museu Paulista (do Ipirang a),
instrutivos, compreend en do div ersos g eneros , entre eles, os Affonso de Taunay e de Villa-Lobos que trabalhariam afinados na

docum en tário s, o s cientí ficos, o s artístico s, religioso s, patrióti cos etc. l !!6 construção discursiva do mi to do bandeirantism o como discu rso fun-

A concepçã o de refo rma azc vcd iana so bre a utilização do cine- dador da nacionalida de. Discurso fundador qu e Villa-Lo bos soube
ma no ensino e na pesquisa científica teve início co m a experiência tão be m enca rnar quando transformou os fonogramas de canções,
de instalação da filmoteca organi zada por Roq uctte-Pi n to no M useu gr avadas por Roquette-Pinto, dos índios da Serra do Norte.
N acio nal, em 1910. Um a filmo reca enriquecida, em 1912, pelo ma- Em 1947, Roquctte-Pinto participou da fun dação do Partid o

terial filmico sobre os N ambiquáras e pelas películas - diria Fern ando Socialista Brasileiro. A partir de Ju n ho de 195 1, assessorou o Serviço

de Azevedo - com que a Comis são Ro ndo n registrou as explora- de D ivulgação da Secretaria de Educ ação e Cu ltu ra do D istrito Fe-
ções geográficas, bo tânicas, zoológicas e emogr áficas.!" deral, comandado por seu amigo c discípulo Fernando Tu de de
So uza . Um ano depo is, a co nvite do prefe ito do Distrito Federal,
So mente , porém , em 1928, surge a primeira lei sobre o emprego do
cinema para fins escolares: o autor desta obra, então diretor-geral da João Carlos Vital, pre sidiu a Comissão T écnica de Televisão da Pre-
Instrução Pública do D istrito Federal, determino u e regulou a sua feitura do Distrito Federal, que tinha po r finalid ade receber propos-
utilização em todas as escolas da capital do país. (Decreto n'' 3.281, de tas v isando organizar estação de uma emi ssora de televisão educativa
23 de janeiro de 1928, arts 296-297; e Decreto n'' 2.940, de 22 de
para a aoti ga Rád io Escola. D a comissão também faziam parte o
novembro de 1928, arts. 633-635). Em 1929, por iniciativa da Dire-
prefeito, o cotonel Lauro Augusto de Medeiro s, o engenhe iro José
toria-geral de Instrução, inaugu ro u-se oficialmente a 1" Expo sição de
Cinematografia Educativa, cuja organização esteve à cargo de Jonathas Carlos de O liveira Reis e o educador Fernando Tude de So uza. N a
Serrano, um do s iniciadore s desse mo vim ento. reun ião da comissão , es teve presente, entre o utro s, o pro fessor Celso
A Lei 378 de 1937, que reorga nizou os serviços do Ministério de Kelly, diretor do D epart amento de E duc ação de Ad ultos.!"
Educação e Saúde, criando também o Inc e, deu continuidade às pro- O empreendimento co ncebido pela comissão não teve conti-
po stas de utilização do cinema, anteriormente encetadas pela re for ma nuidade devido ao bombardeio po lítico qu e so fre u. A proposta
azevediana, concebe ndo-o como ferrameta para educar e civilizar, de Ro que tte-P into c onsi sti a em transfo rmar a n ova em issora
apostando na educação como caminho certo para a modernização televisiva em educativa.
cultural do país. Roq uette-Pinto acreditou e investiu na cruz ada dos Nos cam pos de batalh a, Roque tre-Pi nto e steve em pe rma -
ne nte vigília engajada pela auto nomização d o cam po ed ucacio-
'M Serrano, Jonathas; Venâncio Filho, Francisco. Cinema e eauceçôo. São Paulo: Cla .
M elhoramentos, 1932. p. 35 .
1M Souza, Fernando Tude de Souza. Comissã o Técnica de Televisão da Prefeitura do
.8 1 Azevedo. Fernando de. A cultura brasileira. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1958 .
Distrito Federal. Ministério de Educação e Saúde: Serviço de Documentação, 1952 .
p. 702.

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nal. N ão se encolheu no contraponto de ideias a favor do espaço
púb lico, nem tão po uco usou seu capita l intelectual para se tornar
um " intelectual exterminador"! " . Foi, an tes de tudo, um educa-
dor p reocup ado em inte rpre tar os trópico s, construir caminhos
e abrir po rtas. Engajou-se, decididamente, a serviço da demo -
cratização da educação brasileira.
Libânia Xavier en fatiza '1ue a geração de intelectuais edu cado -
res herdeiros do s pioneiros da Escola N ova tiveram como marca
tornarem-se especialistas e ou pu blicistas. Es tes últimos estiveram
identificados com a defesa da auto no mização do campo cientí-
fico em relação à po lítica estatal. Eram laicistas que se confrontaram
com o s dilema s nacionais de sua épo ca. Foram tamb ém recriadores
instirucionais.l'"
Roquette-Pinto foi um intelectual educador multidisciplinar, po -
livalente e orgâ nico por suas to madas de posição públicas. Tal enga-
jament o foi pion eiro e polêmico não somente por sua experiência
de universalidade da prática intelectual, mas por transformar os
saberes práticos em conhecimentos do social. Sua antropologia
expedi cionária e educacional pre screveu e orien tou a produção e
as estatégias de difusão de saberes pedagógicos no mu seu, no rá-
dio e no cinema do Brasil, criando uma pedagogia que se fund a-
mentou na ação intelectua l a favo r da co nstrução da brasilidade.
Em 18 de outubro de 1954, dois meses após o suicídio do
presidente da Rep úblic a, Getúlio Vargas, em pleno exercício pro-
fissional, Roquette-Pinto veio a falecer.

18 9 Portell a, Eduard o. Os intelectuais e o poder. cp.ctt. p. 20.


' 90 Xavie r, Libãnia Nacif. O Brasil como laboratório: educação e ciências soc iais no projeto
dos Centros Brasi leiros de Pe squi sas Educac ionais CBP EII NEP/M EC (1950-1960).
Bragança Paulis ta: IFAN/CDAPH /EDUSF, 1990 . pp . 262-263 .

J or ge Antonio da Sil va Range l (Fidel) é mestre em educa ção pela Universidade Federal
Fluminense, doutor em educa ção pela Universidade de São Paulo. E professor adjun to da
Faculda de de Fonnação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde
coordena o Projeto Memória Fotográfica da Educação Fluminense. Coordenou o Projeto
Centro de Memória da êducação e foi o primeiro diretor do Cent ro de Memória da Educação
da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro .

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