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Por que somos contrários à redução da maioridade penal? Commented [Office1]: Trabalho muito bem feito, quase
sem erros e com ótima capacidade de síntese. Nota total 10.
Contagem - 2019
A juventude e a questão criminal no Brasil
Os defensores da redução têm tido grande apoio da mídia, que influencia as pessoas, não
prestando as devidas informações e até calando os argumentos contrários. Essa
“regressão” pode ser explicada por fatores históricos e políticos. Na saída da ditadura
começaram a operar o deslocamento do “inimigo interno”, este que passou a ser o
“criminoso comum”, os jovens negros e marginalizados que vendem drogas nas favelas
e periferias do Brasil. Com a crise econômica dos anos 80, vieram as disseminações de
medo e de novos inimigos, a política de combate às drogas imposta pelos Estados Unidos
forjou uma nova guerra e um novo inimigo: a ponta pobre do mercado varejista.
Essa economia proibicionista gerou uma criminalização sem igual no sistema penal do
país. Loïc Wacquant interpretou essa gestão punitiva da pobreza como uma ferramenta
neoliberal de controle social.
O alienista e a redução da maioridade penal: Quem diz o que é crime? Quem diz o
que é normal?
O julgamento dessa grande discussão é feito pela mídia que espalha a desinformação, pois
visam a limpeza urbana e apoia a concentração de riquezas de uma economia liberal, que
compactua com a segregação, exploração, pobreza e aumenta a criminalidade como uma
tentativa de rebelião/saída. Há uma ideologia por trás disso, colocando a mentira da
“escolha própria”.
Quem diz o que é normal ou crime, é o Estado moderno, que se beneficia e idealiza o que
pode ou não ser feito, já que esses padrões são desviantes de uma sociedade para outra
econômicas.
A alienação diante desse processo perpetua essa concepção imposta pelo Estado. Em que
medida somos todos alienados e contribuímos com este processo. A ciência diz o que é
normal, e é apoiada pelo Estado. O que acontece, é que, não é interessante para o Estado
liberal desestimular esses conceitos que limitam, pois somos reféns deles econômicas. A
radicalização do processo de alienação é o grande problema, “suas ideias não
correspondem aos fatos”. –Cazuza (1988).
Não há como definir exatamente a partir que qual idade o sujeito se torna adulto e pode
ser responsabilizado. No Brasil, o menor de 18 anos não comete um crime, mas uma
infração. Ele recebe uma medida socioeducativa, não uma pena. Ele não é privado de sua
liberdade, mas internado ou tutelado pelo Estado.
Para ficar mais claro essa diferença etária é preciso entender que um indivíduo que se
responsabiliza por seus atos, que entende as leis e adquire certa autonomia em relação aos
demais pode ser considerado responsável. Ser autônomo é ser capaz de se reconhecer nas
leis que nos governam e se fazer reconhecer perante elas, inclusive de modo a aplicar,
questionar ou transgredi-las. Reduzir a maioridade penal como forma de impor medo e
respeito aos jovens adultos é uma maneira de desconsiderar esta diferença.
Nos países que adotam uma estratégia mais gradualista para a decisão de imputabilidade,
esta depende de uma junta formada por instâncias jurídicas, educativas, médicas e
psicológicas. Ou seja, existe uma análise mais aprofundada das potencialidades e
limitações do sujeito para obter uma avaliação mais completa acerca do enquadramento
etário deste indivíduo, para assim optar de forma mais efetiva as medidas adotadas em
cada caso.
O governo cortou custos na área social, os gastos em programas e políticas públicas são
considerados excessivos para a economia, pois geram um déficit orçamentário.
Desigualdade e opressão fazem parte dessa sociedade. O estado contradiz o que ele
mesmo diz exercer. Segundo Ana Livia, é preciso garantir condições objetivas para que
os meninos e meninas exerçam o direito de serem crianças e adolescentes.
A autora aborda os argumentos que são utilizados para aprovação da PEC 171/93, que
tem como objetivo definir a redução da maioridade penal para 16 anos; é citado que essa
definição é contrária aos compromissos internacionais de direitos humanos assumidos
pelo Brasil. O capítulo problematiza a questão do porquê é tão visado a redução da
maioridade penal nas câmaras do governo, e questiona a necessidade fugaz de ser
aprovado tal projeto para os deputados e senadores. É descrito todos os pontos de repúdio
contra a PEC 171/93, onde a autora destaca que com essa redução da idade penal, os
jovens serão extremamente prejudicados devido o convívio com presidiários adultos que
prejudicará a reincidência na sociedades dos mesmos. É relatado que o período de
aplicação da medida socioeducativa deve constituir um momento para a estruturação de
um projeto de vida para o jovem, incluindo atividades que potencialmente despertem a
vontade de construir uma vida baseada em novas experiências e longe da delinquência.
Partindo para a parte principal, a autora explica e expõe sua opinião sobre cada trecho da
justificação da PEC. No primeiro trecho ela pontua o objetivo da PEC: atribuir
responsabilidade criminal ao menor infrator. Além de pontuar que conforme a PEC a lei
é responsável por criar a consciência do jovem do que é o certo e o errado. Mais adiante,
diz que usam questões não comprovadas cientificamente para formulação de suas
justificativas, como dizer que o jovem de 1990 tem uma capacitação mental maior que o
de 1940 e por tal, deve ser responsabilizado pelos seus atos. Além de considerarem apenas
o fator biológico, desconsiderando totalmente valores morais, sociais e psicológicos nos
quais o jovem está inserido.
Para justificar o porquê de ser de fato contra a redução da maioridade penal, a autora
aponta os argumentos que as pessoas que são a favor usam e os contraria. O primeiro Commented [Office3]: à
ponto é a alta maturidade dos jovens de hoje, em relação a isso, a autora afirma que a
comparação entre os jovens de 1993 (ano da PEC 171) e os de 1940 (ano que a PEC cita)
é irreal, pois desconsidera que a subjetividades desses jovens foram constituídas de forma
diferente. Um segundo ponto é que diante da possibilidade de serem presos os jovens
criariam a consciência sobre o certo e errado, diante disso, a autora cita que os jovens
possuem essa consciência, mas apenas não podem se responsabilizar sobre seus atos.
Um terceiro ponto apresentado é a expectativa de que a punição reduziria a criminalidade,
a partir disso, é apontado que há mais de 3 séculos que a instituição da punição penal
existe, e nunca se verificou a diminuição da criminalidade. O quarto e quinto argumento
citam a cultura de impunidade e também o fato de responsabilizar quem deve ser
responsabilizado, para a autora, tal argumento ignora a condição de vulnerabilidade social
que os jovens infratores vivem.
Referência:
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Mitos e verdades sobre a justiça infanto
juvenil brasileira: Por que somos contrários a redução da maioridade penal? Brasília,
2015, 1ª Edição. Disponível em: < https://site.cfp.org.br/publicacao/por-que-somos-
contrarios-a-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 06 nov 2019.