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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ARTES,

CIÊNCIAS E HUMANIDADES

GABRIELLA DESTRO BORGES

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: análise e procedimentos


para a sua sustentabilidade no Brasil

São Paulo
2018
GABRIELLA DESTRO BORGES

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: análise e procedimentos


para a sua sustentabilidade no Brasil

Trabalho de Formatura apresentado à Escola de


Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de
São Paulo para obtenção da aprovação na disciplina
ACH1088 - Projeto de Formatura II, requisito para o
bacharelado em Gestão Ambiental.

Área de concentração: Gestão Ambiental

Orientador: Prof. Dr. Ednilson Viana

São Paulo
2018
GABRIELLA DESTRO BORGES

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: análise e procedimentos


para a sua sustentabilidade no Brasil

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES

Data de aprovação: de de

BANCA EXAMINADORA:

Professor Dr. Ednilson Viana | EACH-USP


(Orientador)

___________________________________________

Professora Drª Helene Mariko Ueno | EACH-USP

__________________________________________

Professor Dr. André Felipe Simões| EACH-USP

__________________________________________
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ARTES,
CIÊNCIAS E HUMANIDADES

GABRIELLA DESTRO BORGES

GERECIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: análise e procedimentos


para a sua sustentabilidade no Brasil

São Paulo
2018
DEDICATÓRIA

Aos meus gatos.


AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe por nunca ter desistido de mim, enquanto eu já o fiz há um
bom tempo.

E por diversos auxílios na realização deste trabalho, agradeço a:

Marc Renault e Valérie Renault


que me receberam na mesa de natal em Vannes, me levaram para conhecer a maior
unidade da Emmaüs da cidade, e conseguiram entrevista com o responsável pelos
resíduos sólidos urbanos da prefeitura de Vannes;

Jean François, Ludovic e Erwan Uguen


Responsáveis respectivamente pelas entrevistas na Déchèterie, Emmaüs e
Prefeitura de Vannes

Walter Akio do Instituto GEA


que me recebeu com muita atenção para falar sobre os projetos;

Bispo Catador
exemplo vivo de superação e empreendedorismo individual, meu mais novo ídolo;

Professor Uanderson Rébula


que respondeu prontamente meus e-mails malucos e compartilha das pesquisas dessa
temática emergente

Elize Marcondes, aluna da FATEC de Jacareí; e seu professor Luis Gustavo


que fizeram parte da primeira tentativa desse estudo

Neli
o segundo grande motivo, após minha mãe, por eu ter continuado tentando finalizar este
trabalho e esta graduação.

Ednilson Viana
meu professor orientador, que me aconselhou sempre de forma calma e tranquila
durante o projeto, e que sem tal abordagem e paciência, eu provavelmente teria
abandonado o projeto no meio do caminho.

Andrea e Helene
eles sabem o porquê
“Life is only precious because it ends, kid.”

Rick Riordan
RESUMO

Dentre as novas modalidades de resíduos sólidos decorrente da modernização e veloz


obsolescência da informação e das tecnologias, cada vez mais presente no cotidiano urbano,
estao os resíduos eletroeletrônicos (REEEs). Este é um resíduo com grande potencial de
progresso e prolongamento do ciclo de vida e, para que isso aconteça, não são apenas
necessárias tecnologias de processamento específicas, mas sim uma boa gestão do fluxo
destes resíduos. O Brasil é um dos países que mais produz REEE: em 2014, foi responsável
pela segunda maior produção do planeta deste tipo de resíduo (OMS, 2015). A grande
problemática em relação aos Resíduos Eletroeletrônicos (REEEs1) é o descarte inadequado,
pois estes contêm em sua constituição metais pesados e alguns componentes tóxicos
causando problemas ambientais (poluição) e de saúde humana (GERBASE, 2012). Por outro
lado, na França, a legislação que articula o fluxo dos Eletroeletrônicos é cumprida e isso faz
com que uma grande parte destes resíduos retomem seu ciclo de vida; já no Brasil, as
dificuldades concernentes à Logística Reversa de REEEs são notórias pela baixíssima taxa
de reciclagem deste tipo de material. Diante deste cenário, o objetivo deste trabalho foi
descrever a diferença entre os dois fluxos de Resíduos Eletroeletrônicos (no Brasil vs na
França) e propor sugestões para o aprimoramento do gerenciamento de REEES, com base
nas práticas francesas e adaptando à realidade brasileira, considerando principalmente a
vulnerável esfera dos catadores, que informalmente já fazem parte, porém, devem ser
inseridos oficialmente nesse processo. Os resultados indicam que o Brasil possui, legalmente,
tanto potencial quanto a França para estabelecer um fluxo sustentável de REEEs mas para
que a legislação seja cumprida, há esforços fundamentais que devem provir de todos os atores
envolvidos no processo.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos, Resíduo Eletrônico, Lixo Eletrônico, Gestão


Sustentável de Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos, Economia Circular, Logística Reversa
para Eletroeletrônicos, Responsabilidade Compartilhada, Responsabilidade Estendida

1 Nota: neste trabalho considera-se sinônimos os termos REEE, REEEs, REEEs,


Resíduos eletroeletrônicos e Resíduos elétricos e eletrônicos.
ABSTRACT

Among the new modalities of solid waste that emerged from the modernization and fast
obsolescence of information and technologies, increasingly present in the urban daily life,
there is the e-waste (WEEE). This is a waste with great potential for progress and an extended
life cycle, and for that to happen, not only specific processing technologies are needed, but a
good flow management. Brazil is one of the countries that most produces WEEE: in 2014, it
was responsible for the second largest production of this type of waste on the planet (WHO,
2015). The big issue about Electronic Waste is its inadequate disposal, as it contains heavy
metals and some toxic components causing environmental (pollution) and health problems
(GERBASE, 2012). On the other hand, in France, the legislation that articulates the flow of
the Electronics is fulfilled hence a great part of these residues retake their life cycle; already
in Brazil, the difficulties concerning the Reverse Logistics of WEEE are notorious for the very
low recycling rate of this type of material. In view of this scenario, this work aims to describe
the difference between the two streams of Electrical and Electronic Waste (Brazil vs France)
and to propose suggestions to improve WEEES management, based on French practices and
adapting to the Brazilian reality, considering the vulnerable element summed by the waste
pickers, who already are informally part of it, and must be officially inserted in the process.
The results indicate that Brazil has legally as much potential as France to establish a
sustainable flow of WEEE but for the legislation to be complied with, there are fundamental
efforts that must come from all the actors involved in the process.

Keywords: Urban Solid Waste, Electronic Waste, E-waste, Sustainable Management of Solid
Waste, Circular Economy, Reverse Logistics for Electrical and Electronic Equipment, Shared
Responsibility, Extended Responsibility.
RÉSUMÉ

Parmi les nouvelles modalités de traitement des déchets solides qui accompagnent la
modernisation et l'obsolescence rapide de l'information et des technologies, de plus en plus
présentes dans la vie urbaine figurent les déchets électro-électroniques (DEEE). Il s’agit d’un
résidu qui a un grand potentiel de progrès et prolongement de son cycle de vie; pour que ça
soit fait, il faut pas seulement avoir des technologies de traitement spécifiques, mais une
bonne gestion des flux de ces déchets. Le Brésil est l'un des pays qui plus produisent les
DEEEs: en 2014, il était responsable de la deuxième plus grande production de ce type de
déchet de la planète (OMS, 2015). Le problème majeur en ce qui concerne les déchets
électroniques est leur élimination inadéquate, car ceux-ci contiennent des métaux lourds et
certains composants toxiques qui causent des problèmes environnementaux (pollution) et
dans la santé humaine (GERBASE, 2012). D'autre part, en France, la législation qui articule
le flux de l'électronique est respectée, ce qui fait qu'une grande partie de ces résidus
reprennent leur cycle de vie; Déjà au Brésil, les difficultés concernant la logistique inverse des
DEEE sont connues pour le très faible taux de recyclage de ce type de matériel. Dans ce
scénario, l'objectif de ce travail était de décrire la différence entre les deux flux de déchets
électriques et électroniques (au Brésil contre en France) et de proposer des suggestions pour
améliorer la gestion de DEEES, sur la base des pratiques françaises et en train de s'adapter
à la réalité brésilienne, en considérant, principalement l’element vulnérable constitué par les
ramasseurs de déchets, qui font déjà partie informellement, mais doivent être officiellement
insérés dans ce processus. Les résultats indiquent que le Brésil a légalement autant de
potentiel que la France pour établir un flux durable des DEEEs, mais pour que la législation
soit respectée, des efforts fondamentaux doivent être fournis par tous les acteurs participants
dans le processus.

Mots-clés: déchets solides urbains, déchets électroniques, gestion durable des déchets
solides, économie circulaire, logistique inverse pour les D3E, responsabilité partagée,
responsabilité élargie
Sumário

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................11
2. OBJETIVOS.........................................................................................................13
3. REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................14
3.1 RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS.................................................................14
3.2 ECONOMIA CIRCULAR......................................................................................30
3.3 CRIMES, EXPORTAÇÃO E MERCADO INFORMAL DE REEEs......................35
4. METODOLOGIA..................................................................................................38
5. RESULTADOS.....................................................................................................41
5.1 O FLUXO DOS RESÍDUOS NA FRANÇA...........................................................41
5.1.1 CONTEXTO E LEGISLAÇÃO........................................................................41
5.1.2 ESTATÍSTICAS DA GERAÇÃO DE REEES .................................................55
5.1.3 RESPONSABILIDADE EXTENDIDA DO PRODUTOR.................................61
5.1.4 ESTUDO DE CASO E ENTREVISTAS (EMMAUS).......................................61
5.2 O FLUXO DE RESÍDUOS NO BRASIL...............................................................66
5.2.1 CONTEXTO E LEGISLAÇÃO........................................................................66
5.2.2 ESTATÍSTICAS DA GERAÇÃO DE REEES.................................................73
5.2.3 LOGÍSTICA REVERSA..................................................................................78
5.2.4 ESTUDO DE CASO E ENTREVISTAS (INSTITUTO GEA)...........................88
5.3 COMPARAÇÕES, ORIENTAÇÕES E SUGESTÕES..........................................95
5.4 CONCLUSÕES..................................................................................................108
REFERÊNCIAS........................................................................................................108
ANEXO A - FOLHETO DE COMPRA SOLIDÁRIA POR PREÇOS ACESSÍVEIS
PARA REEEs RECUPERADOS E CONSERTADOS..............................................117
ANEXO B – FOLHETO DE INSTRUÇÃO: ONDE SE INFORMAR PARA TRIAR OS
RESÍDUOS...............................................................................................................118
ANEXO C – FOLHETO EDUCATIVO DE TRIAGEM, O QUE SEPARAR E O QUE
PODE.......................................................................................................................119
ANEXO D – EMMAÜS VANNES, PARTE DA RÉCYCLERIE (RECICLARIA) - LOCAL
DE TRABALHO DE LUDOVIC................................................................................120
ANEXO E – DÉCHÈTERIE VANNES – JEAN FRANÇOIS RESPONSÁVEL PELA
ORGANIZAÇÃO DIÁRIA DO LOCAL.....................................................................121
1. INTRODUÇÃO

Os sistemas de produção, amplamente difundidos após a revolução industrial,


consomem recursos naturais, como solo, florestas, águas, minérios, combustíveis fósseis etc
(MIGUEZ, 2012 apud OLIVEIRA, 2016). Porém, visando atender às crescentes demandas da
economia, impulsionadas pelo aumento populacional e pelo consumo em massa, esses
recursos têm sido consumidos desenfreadamente e com uma velocidade cada vez maior
(SONG; LI; ZENG, 2015 apud OLIVEIRA 2016). Desta forma, observa-se a necessidade de
uma mudança no modelo de produção para que os recursos sejam consumidos de maneira
sustentável e para que seja possível manter as produções urbanas em equilíbrio com a
natureza. Parte daí a ideia de reutilizar e aproveitar os recursos, a qual tem movimentado
pesquisas e até mesmo propiciado o desenvolvimento de novos mercados que buscam
harmonizar o rendimento e lucro da economia mundial com o desenvolvimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável é definido pela Comissão Mundial de Meio Ambiente


e Desenvolvimento como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer
a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”
(OLIVEIRA, 2016). A Agenda 21 é um plano abrangente de ação a ser adotado globalmente,
nacionalmente e localmente por organizações do Sistema das Nações Unidas, Governos e
Grandes Grupos em todas as áreas nas quais os humanos impactam o meio ambiente (UN,
1992). Foi adotada por mais de 178 governos na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (UN, 1992).
Mais recentemente em 2015, a ONU publicou a Agenda 2030, um documento com dezessete
metas para o desenvolvimento sustentável, contendo 169 ações (UN, 2015). A Gestão de
Resíduos Sólidos tem sido foco internacional de debate e isso foi provado por OLIVEIRA
(2016) ao observar que mais da metade dos dezessete objetivos da Agenda 2030 estão
relacionados com a GRS.

O acesso às reservas está cada vez mais difícil e caro (REUTER et al., 2013), portanto,
independentemente da consciência ambiental, as instituições e empresas devem considerar
a importância do reaproveitamento dos recursos sob perspectiva monetária: se a exploração
for mantida nas taxas atuais, ela ficará de mais em mais cara e este valor será repassado aos
produtos, o que deve trazer diversas organizações à falência. O reaproveitamento de recursos
não somente é benéfico para o meio ambiente (e, consequentemente, para a sociedade),
como também pode ser financeiramente vantajoso para as corporações envolvidas. Por isso
a sustentabilidade ambiental deve ser considerada como parte integrante do processo de
tomada de decisão estratégica das organizações (OLIVEIRA, 2016). Condutas
11
ambientalmente responsáveis são cobradas pelo mercado e pela sociedade, e as empresas
trabalham em soluções que atendam à esta demanda sem perder competitividade, e sem que
isto signifique prejuízo financeiro (ÁVILA, 2013). A geração e o descarte de resíduos estão
estritamente relacionados às questões de salubridade e conservação de recursos naturais
(MMA, 2016) devido ao potencial de contaminação que a exposição destes materiais traz, e
portanto, este tópico deve ser visto como essencial para a resolução de problemas de saúde
pública.

Os impactos globais dos RS (resíduos sólidos) estão cada vez mais evidentes, pois a
grande geração e disposição inadequada (além da falta de tratamento) destes, contribuem
fortemente para poluição do ar, inundações e impactos na saúde humana - incluindo doenças
respiratórias, diarreia etc – (WORLD BANK, 2012). Os componentes perigosos, tais como
óleos, metais pesados, líquidos de refrigeração e gases disseminados no solo, ar e água,
prejudicam os ecossistemas e indiretamente afetam a qualidade das colheitas e da água
potável (BISSCHOP, 2012).

Desse modo, os RS se tornam alvo de políticas gerenciais e reguladoras, e começam


a ser vistos como uma oportunidade de mercado, onde a indústria de reciclagem desses
resíduos, com mais de dois milhões de catadores informais, se torna agora um negócio global
com mercados internacionais e extensas redes de abastecimento e transporte (WORLD
BANK, 2012), ou seja, surge I. um comércio de resíduos sólidos, com uma logística e um
mercado, assim como qualquer outro negócio empresarial e; II. esforços com Gerenciamento
de Resíduos Sólidos (GRS) em todas as esferas administrativas2 do mundo para regulamentar
e buscar soluções acerca desta problemática.

Isso mostra que o tratamento inadequado do lixo eletrônico é uma ameaça atual e
futura tanto para a saúde humana e a ecologia, quanto para a economia e a política. É por
isso que os transportes ilegais de Resíduos Eletroeletrônicos foram identificados como uma
das principais formas de crime ambiental por parte da comunidade internacional. A descoberta
e a atenção da mídia para os locais de despejos de lixo tóxico nos países em desenvolvimento
durante os anos 80 e 90 levaram à adoção de marcos legislativos internacionais e Europeus
que regulam (e) os transportes de resíduos (BISSCHOP,2012).

Os eletrônicos, por exemplo, são a maior indústria de manufatura do mundo e a que


está crescendo com maior velocidade (GROSSMAN, 2006; PUCKETT, et al., 2002 apud
GIBBS, 2010). No entanto, a cada ano, quase 7 milhões de toneladas de eletrônicos de alta

2
Regulamentações através de leis federais, estaduais, municipais, normas nacionais e
internacionais, diretivas etc.
12
tecnologia tornam-se obsoletos, e o resultado são muitos resíduos eletrônicos descartados
(GROSSMAN, 2006; PUCKETT, et al., 2002 apud GIBBS, 2010)

Dentro dos Resíduos Sólidos, existem alguns resíduos especiais que por conta de
algumas características particulares, exigem procedimentos específicos para coleta,
tratamento e disposição, o que pode ocorrer por sua periculosidade e/ou volume (GÜNTHER,
2008 apud PEREIRA, 2018). Dentre esses resíduos, estão os Resíduos Eletroeletrônicos
(REEEs): uma categoria de resíduo urbano que surgiu com os avanços tecnológicos
paralelos ao fenômeno da globalização. A curta duração da vida útil desses aparelhos, ligada
ao rápido progresso técnico-científico que marca a modernidade, faz com que estes se
tornem rapidamente obsoletos. O que significa que a tendência deste resíduo é se avolumar
de mais em mais com o passar dos anos.
Para uma boa gestão de REEE, é necessário desenvolver produtos de concepção
ecológica, coletar, recuperar, reciclar e descartar os REEE por meio de métodos e técnicas
seguras, proibir a transferência de dispositivos eletrônicos usados para os países em
desenvolvimento, e aumentar a conscientização da sociedade sobre o impacto do REEE
(OLIVEIRA, 2016).

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é:


Utilizar o caso do gerenciamento de Resíduos Eletroeletrônicos na França,
comparando com o fluxo de REEEs no Brasil, e propor sugestões para uma gestão mais
sustentável.
Os objetivos específicos deste trabalho são:
- Identificar o fluxo dos Resíduos Sólidos Eletrônicos na França, com base no aspecto
legal e em um projeto de inserção social (Emmaüs) em que um dos focos são os REEEs
- Identificar as taxas de reciclagem, fluxo e cenário geral brasileiro para os REEEs e
seus atores envolvidos
- Sugerir condutas e orientações em direção ao aprimoramento do gerenciamento
sustentável de REEEs no Brasil

13
3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. RESÍDUOS E ELETROELETRÔNICOS

Equipamentos Eletroeletrônicos são todos aqueles produtos cujo funcionamento


depende do uso de corrente elétrica ou de campos eletromagnéticos (ABDI, 2012). Resíduo
Eletrônico ou Lixo Eletrônico é um termo usado para todos os itens de Equipamentos Elétricos
e Eletrônicos (EEE) e suas partes que foram descartadas pelo proprietário como lixo sem
intenção de reutilização (STEP, 2014 apud BALDÉ, 2015). Estes equipamentos são
caracterizados por seus ciclos de vida no mercado cada vez curtos, por conta da velocidade
das inovações tecnológicas e diversificação dos produtos (LEITE, 2014), e, embora isto se
observe principalmente nos itens de tecnologia de informática e comunicações o fenômeno
ocorre, em maior ou menor grau, em todos os setores do consumo (LEITE, 2014).
O padrão global de consumo de eletroeletrônicos é um problema relevante, já que ao
se tornarem obsoletos rapidamente, a tendência é que a geração desse tipo de resíduo
aumente, principalmente considerando que a vida útil (Tabela 1) dos equipamentos tem
encurtado de mais em mais (OLIVEIRA, 2016). Quando estes aparelhos quebram, o
consumidor opta normalmente por comprar um produto novo e mais moderno, ao invés de
consertar o antigo, mesmo porque o custo-benefício acaba sendo melhor (TORRES, 2012).

Tabela 1 - Tempo de vida útil de alguns EEEs.


Equipamento EletroEletrônico Vida típica (ano)
Smartphone 2
Computador, chaleira e cafeteira 3
Máquina de fax, Jogos Eletrônivos, TV, telefone etc 5
Aparelho de microondas 7
Fotocopiadora, impressora, máquina de lavar 8
Aparelhos de áudio, máquina de lavar louça, secador de cabelo etc 10
Aparelho de ar condicionado 12
Aquecedor elétrico 20
Fonte: OLIVEIRA (2016)

O custo do aterro (para disposição destes resíduos) aumentou (principalmente por


conta da falta de espaço), os produtos se tornam obsoletos mais rapidamente, aumentando
também a velocidade na qual as empresas produzem produtos que simplesmente não serão
vendidos (ROGERS, 2001) pois terão se tornado ultrapassados antes que isso aconteça. A

14
descartabilidade dos EEEs cresce, uma vez que estes caem em desuso por causa dessa
obsolescência programada34 (LI et al., 2013 apud OLIVEIRA, 2016).
No Brasil, o conceito detalhado de REEE mais empregado é o mesmo adotado na
legislação Europeia (SANTOS et al., 2014), são resíduos de equipamentos que são
dependentes de correntes elétricas ou de campos eletromagnéticos para funcionar
corretamente, bem como os equipamentos para geração, transferência e medição dessas
correntes e campos e, ainda, aqueles equipamentos projetados para uso com uma tensão
nominal não superior a 1.000 volts para corrente alternada e 1500 volts para corrente
contínua.” (UNIÃO EUROPEIA, 2003)
Os REEEs (Resíduos Eletroeletrônicos) representam a maior fonte de resíduos do
planeta (BABU; PARANDE; BASHA, 2007 apud OLIVEIRA, 2016) e exibem a maior taxa de
crescimento anual (SAVAGE, et al., 2006; HOGG et al., 2009; ILO, 2012; CUCCHIELLA et
al., 2015 apud OLIVEIRA, 2016). “Aquecedores, chaleiras, torradeiras, máquinas de lavar
pratos, ferros de passar ruopas, aspiradores de pó e batedeiras, antes manuais ou a gás,
deram lugar a equipamentos elétricos comprados e foram os primeiros produtos a serem
comprados em massa na Inglaterra, nos anos 1920” (ASSUMPÇÃO, 2017). Deste então,
novos produtos surgiram, incentivando o consumismo e contribuindo para o ciclo da
obsolescência e descarte em massa de REEEs (Resíduos Eletroeletrônicos) no mundo todo.
No Brasil, atualmente, mais de 1,5 milhão de tonelada de REEE está sem tratamento
para a recuperação de seus componentes (PSP, 2014 apud OLIVEIRA, 2016), além de ser
o 8° maior gerador de REEE do mundo (OLIVEIRA, 2016). Um relatório publicado pela UNI-
IAS5 chamado “eWaste in Latin America”, mostra que foram gerados, em 2014, cerca de 7kg
de REEE per capita no Brasil. E para o ano de 2018, projeta-se que serão aproximadamente
8,3kg por habitante (ABINEE, 2017).
Pesquisas indicam que o REEE é um dos poucos resíduos que continua crescendo
no mundo. Sua taxa de geração global anual é de 5% e estima-se que seu volume aumente
em até 500% em alguns países. (ABINEE, 2017). O aumento de 60% da extração de recursos
naturais nas últimas duas décadas, fomentou a escassez de alguns os principais metais que
compõem esses tipos de equipamentos, como o gálio, índio, ouro, prata, tungstênio, cobre,

3
Supõe o estabelecimento de uma data de morte do produto já no momento de sua
fabricação, como uma espécie de “Data de Validade” para os equipamentos EEEs (ASSUMPÇÃO,
2017).
4 “A obsolescência programada surge com a intenção de salvar a economia americana
que, depois da grande crise de 1929, assim como muitos mercados mundiais, tinha de um lado uma
grande capacidade industrial e de outro um povo sem poder de compra. Os estoques das lojas eram
grandes e era preciso aumentar o consumo, o ‘meio de acabar com o excesso de comida era produzir
comilões’ (PACKARD, 1965, p.27). Vender mais significava também gerar mais empregos, pois levaria
a um aumento maior da produção.” (ASSUMPÇÃO, 2017)
5 United Nations University – Institute for the Advanced Study of Sustainability

15
antimônio e estanho (ABINEE, 2017). Na Tabela 2, observa-se uma relação dos principais
metais utilizados na fabricação desses equipamentos, incluindo preços, aplicações, produção,
reservas mundiais e uma estimativa da disponibilidade dessas reservas (OLIVEIRA, 2016).

Tabela 2 - Reservas e Durações para os metais mais utilizados na fabricação de EEEs.

Tipo de Preço Aplicações Produção Demanda por Relação Reserva Duração


metal (US$/kg) nos EEE mundial EEE demanda/ mundial reserva
(ton/ano) (tonelada/ano) (toneladas) mundial
produção

Prata 649 Placa de 20.000 6.000 30% 400.000 20


circuito

Ouro 39.443 Circuito 2.500 300 12% 47.000 19


integrado

Bismuto 20 Placa de 5.600 900 16% 320.000 57


circuito

Cobalto 45 Bateria 58.800 11.000 19% 6.6 113


milhões

Cobre 8 Condutor 15 4.5 milhões 30% 540 36


milhões milhões

Paládio 16.948 Placa de 230 33 14% SI SI


circuito

Antimônio 9 Antichama 130.000 65.000 50% 2.1 16


milhões

Estanho 20 Solda 275.000 90.000 33% 5.6 20


milhões

Índio 566 Telas LDC 480 380 79% 6.240 13

Platina 51.811 Placa de 188 7 4% SI SI


circuito
Rutênio 5.069 Placa de 29 21 72% SI SI
circuito

Fonte: OLIVEIRA (2016).

16
Agora, na Figura 1, pode-se observar o histórico de extração de recursos naturais
aproximadamente em cada década desde 1980:

Figura 1 - Taxa de Extração Mundial de recursos úteis na produção de EEE entre 1980 e 2020.
Fonte: OLIVEIRA (2016) adaptado de EMF (2013a).

É possível ver que a extração de recursos naturais de todos os tipos tende a aumentar,
e que todos os tipos de extração entre 190 e 2020 (projeção) praticamente dobram, com
exceção dos minérios metálicos, que quase triplica. Apesar de todos esses tipos de recursos
serem necessários de alguma maneira na fabricação dos Eletroeletrônicos, os recursos que
são mais usados na produção de equipamentos EEEs são os minérios metálicos, e é
exatamente a classe de recurso natural que está crescendo a uma taxa muito maior do que
as outras extrações. O impacto ambiental da exploração desses recursos é considerável:
grande quantidade de terra precisa ser extraída para encontrá-los, são gerados dióxido de
enxofre (SO2), CO2 e águas residuais, além de consumirem muita energia (SCHLUEP, 2009).
Ou seja, as perturbações causadas por esses recursos não impactam somente no descarte
incorreto (gerando poluição e contaminação) mas sim em todo o processo, desde a extração
dos mesmos. Por este motivo, estes devem ser poupados ao máximo, e devem predominar
esforços conjuntos de todos os setores da sociedade e do mercado em direção ao seu uso
sustentável.

O Brasil produz 183 mil toneladas por dia de Resíduos Sólidos Urbanos e 50% dos
municípios dispõem em lixões a céu aberto. Atuam hoje 34 mil catadores. E o índice de
reciclagem de resíduos secos é de somente 13% (MMA, 2010 apud ARAUJO, 2013). No
país há, atualmente, cerca de 250 milhões de celulares em operação, ocupando o 6° lugar
no mercado mundial de celulares, e o 10° lugar no mercado mundial de computadores
pessoais (ABINEE, 2017). De 2003 a 2010, a produção anual de computadores no Brasil
aumentou em 337%, passando de 3,2 milhões para 14 milhões de unidades ao ano
(ABINEE, 2012, apud OLIVEIRA, 2016).

17
Tabela 3 - Histórico e perspectiva da indústria de eletroeletrônicos no Brasil.

INDICADORES GERAIS 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Faturamento (R$ bilhões) 144,5 156,7 153,8 142,5 129,4 132,6
Faturamento (US$ 73,9 72,6 65,3 42,7 37,2 41,7
bilhões)
Número de empregados 308,0 308,6 293,6 248,1 232,8 237,0
(em mil)
Investimentos em Ativo 2,6% 2,7% 2,5% 2,3% 1,8% 1,8%
Fixo (porcentagem sobre
o faturamento)
Investimentos em Ativo 3732 4168 3831 3236 2381 2439
Fixo R$ milhões)
Exportações (US$ FOB 7719 7218 6552 5912 5615 5700
milhões)
Importações (US$ FOB 40229 43599 41158 31435 25587 29000
milhões)
Saldo da Balança -32510 -36381 -34060 -25522 -19972 -23300
Comercial (US$ FOB
milhões)
Fluxo de Comércio (US$ 47948 50818 47710 37347 31202 34700
FOB milhões)
Exportações/Faturamento 10,4% 9,9% 10% 13,8% 15,1% 13,7%
(%)
Importações/Mercado 21,6% 23,0% 23,3% 27,1% 26,7% 26,6%
Interno de Bens Finais
(%)
Produção Física Industrial -8,3% 4,1 -4,8% -21,0% -11,1% 4%
– Setor Eletroeletrônico
(% a.a.)

Fonte: ABINEE (2017).

No mais, os recursos que são reciclados através da Economia Circular é apenas uma
parte dos recursos realmente utilizados e desperdiçados na produção dos EEEs. A quantidade
total de recursos consumidos ao longo de todas as fases do ciclo de vida de um produto
recebe o nome de Carga Ecológica, ou Mochila Ecológica (STEP, 2015). Um conceito similar
ao da pegada ecológica6. Dessa forma, toda tentativa de reduzir a mochila ecológica é
favorável do ponto de vista ambiental. Isto pode ser feito fechando ciclos e assegurando cerca
de 100% da taxa de reciclagem ou, pelo menos, prolongando o tempo de vida dos

6
“A Pegada Ecológica de um país, de uma cidade ou de uma pessoa, corresponde ao tamanho
das áreas produtivas de terra e de mar, necessárias para gerar produtos, bens e serviços que
sustentam seus estilos de vida. Em outras palavras, trata-se de traduzir, em hectares (ha), a extensão
de território que uma pessoa ou toda uma sociedade “utiliza”, em média, para se sustentar” (WWF,
2018).

18
componentes ou do produto completo, e/ou também através da reutilização. A mochila/carga
ecológica é muito pesada para a maioria dos EEEs, geralmente com um peso muito acima da
massa real de um produto (STEP, 2015). A Mochila Ecológica de um telefone móvel (celular)
padrão é marcante: apesar do produto pesar apenas 80g, sua Mochila Ecológica totaliza
aproximadamente 44,4 kg de recursos empregues em sua produção: na extração são
utilizados 28,6 kg de matéria-prima, na utilização 9,8 kg, na produção 6 kg e na disposição
final 0,1 kg.

Em 2015, o setor da indústria elétrica e eletrônica representava 2,4 % do PIB brasileiro,


e apresentava um faturamento de 142,5 bilhões de reais, com cerca de 250 mil trabalhadores
em empregos diretos (PEREIRA, 2018). Na Tabela 3, um quadro sobre a perspectiva e
histórico da participação da Indústria Eletroeletrônica no Brasil.

Apesar de toda essa geração, o Brasil recicla menos de 1% dos REEEs (ELIAS-
TROSTMANN, 2012 apud OLIVEIRA 2016). Somente em 2016, 44,7 milhões de toneladas de
lixo eletrônico foram geradas no mundo, das quais, 435 mil toneladas foram telefones
celulares, representando mais do que a massa do Empire State Building. Apenas 20% do lixo
eletrônico é documentado para ser coletado e reciclado sob condições adequadas, enquanto
os 80% restantes descartados com sucata ou são lançados no fluxo de resíduos residuais,
sendo comercializados ou tratados em condições abaixo do padrão (EMF, 2018). Em 2008,
foram vendidos 3 bilhões de EEE (Equipamentos Eletroeletrônicos) no planeta; em 2015,
essas vendas chegaram a 3,8 bilhões (OLIVEIRA, 2016). “Estima-se que os REEE
descartados no mundo, apenas no ano de 2014, contenham cerca de 16,5 milhões de
toneladas de aço, 1,9 milhão de tonelada de cobre, 300 toneladas de ouro e quantidades
significativas de prata, alumínio, paládio, entre outros recursos reutilizáveis, com um valor total
estimado em US$ 52 bilhões” (BALDÉ et al., 2015 apud OLIVEIRA, 2016).

Grandes quantidades de energia e substâncias perigosas são necessárias na


mineração e na fabricação de produtos, e a demanda por recursos tem sido associada a
condições de trabalho perigosas. (EMF, 2018). O lixo eletrônico geralmente contém
quantidades significativas de materiais tóxicos e ambientalmente sensíveis e, portanto, pode
ser extremamente perigoso para os seres humanos e o meio ambiente se descartado ou
reciclado de maneira inadequada (STEP, 2015), e isso torna seu gerenciamento complexo e
custoso, tanto pela perspectiva financeira, quanto pela perspectiva da saúde do trabalhador
e do meio ambiente (PEREIRA, 2018).

“Os REEEs são compostos por materiais diversos: plásticos, vidros,


componentes eletrônicos, mais de vinte tipos de metais pesados e outros.
Estes materiais estão frequentemente dispostos em camadas e
19
subcomponentes afixados por solda ou cola. Alguns equipamentos ainda
recebem jatos de substâncias químicas específicas para finalidades
diversas como proteção contra corrosão ou retardamento de chamas. A
concentração de cada material pode ser microscópica ou de grande escala.
A extração de cada um deles exige um procedimento diferenciado. Deste
modo, sua separação para processamento e eventual reciclagem tem uma
complexidade, um custo e um impacto muito maiores do que aqueles
exemplos mais conhecidos de recolhimento e tratamento de resíduos, como
é o caso das latas de alumínio, garrafas de vidro e outros.” (ABDI, 2012)

A complexidade das misturas de materiais também é um dos problemas no tratamento


dos plásticos oriundos dos Resíduos Eletroeletrônicos; para TAURINO et al. (2010) a
reciclagem dos plásticos de REEE é um desafio, visto que mais de 15 tipos de polímeros são
utilizados em REEE, e em muitos desses plásticos, aditivos como retardadores de chamas
são aplicados ao material por reação ou adição. Por esse motivo, os plásticos de REEE não
devem ser diretamente reciclados sem uma análise criteriosa, pois contêm substâncias
perigosas que podem ser dissipadas no produto manufaturado com o plástico secundário
oriundo de REEE (WAGER et al., 2009 apud ARAUJO, 2013). “A fração plástica com poder
calorífico em muitos países é incinerada para recuperação energética. Nesse processo
poderá ocorrer formação de substâncias tóxicas como dioxinas e furanos, se não houver
equipamentos adequados para tratamento dos gases (TAURINO et al, 2010 apud ARAUJO,
2013). Já a fração dos metais pode (teoricamente) ser infinitamente reciclada, sendo que a
reciclagem de alguns metais já é comum há muitas décadas. As vantagens da recuperação
de metais são inequívocas, visto que há um ganho em relação aos impactos não exercidos
pelo material primário que está sendo substituído pelo metal recuperado (GRIMES, et al.,
2008 apud ARAUJO, 2013).

A mistura de diferentes polímeros oriundos de resíduos pode gerar um material com


propriedades mecânicas mais fracas, além de imprevisível comportamento reológico. Com
isso, há duas alternativas: adicionar material virgem ao material secundário, ou adicionar
aditivos ao material para melhorar as propriedades (ARAUJO, 2013). No quadro a seguir
(Figura 2), elaborado por OLIVEIRA (2016), é possível observar algumas das substâncias
presentes nos Resíduos Eletroeletrônicos; os componentes nos quais elas majoritariamente
se localizam; e seus efeitos nocivos para a saúde:

20
21
Figura 2 - Substâncias presentes nos REEEs e seus impactos na saúde humana.
Fonte: OLIVEIRA (2016) adaptado de ILO (2012).

22
Figura 3 - Composição típica dos REEEs. Fonte: OLIVEIRA (2016)

Também deve ser considerado o fato de que a migração de produtos antigos para os
novos significa componentes e substâncias que antes estavam presentes, e agora não mais;
e componentes que antes não estavam presentes, mas agora estão. E as tecnologias e
sistemas de processamento desse material devem abranger ambas as situações. Na Tabela
4 constam algumas substâncias e exemplos de produtos nos quais elas estão presentes:
Tabela 4 - Substâncias Perigosas e presença em produtos.

SUBSTÂNCIAS OCCORÊNCIA NOS REEEs


COMPOSTOS HALOGENADOS
PCB – BIFENILAS POLICLORADAS CONDENSADORES, TRANSFORMADORES
TBBA – TETRABROMO-BISFENOL A RETARDADORES DE CHAMAS PARA PLÁSTICAS
PBDE – ETER DIFENIL POLIBROMADOS EM COMPONENTES TERMOPLÁSTICOS:
CFC – CLOROFLUORCABONOS PLACAS DE CIRCUITO, GABINETES E CABOS
REFRIGERADORES, CONDICIONADORES DE AR
PVC – POLIVINIL CLORADOS E OUTROS
CABOS
METAIS PESADOS E OUTROS METAIS
PEQUENAS QUANTIDADES NA FORMA DE
ARSÊNIO
ARSENETO DE GÁLIO EM DIODOS
MONITORES DE TUBO DE RAIOS CATÓDICOS
BÁRIO
MTRC
BERÍLIO FONTES DE ENERGIA, LENTES RAIO X
BATERIAS RECARREGÁVEIS DE NÍQUEL-
CÁDMIO, CAMADA FLUORESCENTE DOS MTRC,
CÁDMIO
TONNERS E TINTAS, TAMBORES DAS
MÁQUINAS FOTOCOPIADORAS
CROMO HEXAVALENTE FITAS DE DADOS, DISCO FLEXÍVEL
CHUMBO MONITORES MTRC, BATERIAS, PLACAS PCI
LÍTIO BATERIAS DE LÍTIO
MERCÚRIO LÂMPADAS FLUORESCENTES DOS LCDS,
NÍQUEL ALGUMAS BATERIAS ALCALINAS
BATERIAS NiCd eNiMH, CANHÃO DOS
TERRAS RARAS (ÍTRIO, EURÓPIO)
ELETRONS DOS MTRC
SELÊNIO TAMBORES DAS FOTOCOPIADORAS ANTIGAS
ZINCO SULFETO INTEREIOR DA TELA DOS MTRC
OUTROS
POEIRA DE TONNER CARTUCHOS DE TONNER
EQUIPAMENTOS MÉDICOS, DETECTORES DE
SUBSTÂNCIAS RADIOATIVAS
INCÊNDIO
Fonte: AEA Technology (2006) apud ARAÚJO (2013).

23
Alguns dos impactos mais relevantes envolvidos em diferentes etapas do ciclo de vida7
dos Equipamentos Eletroeletrônicos:

• Extração de recursos naturais - e.g. mineração do tântalo na África, ocasionando


danos aos ecossistemas vizinhos às minas (FISHBEIN, 2002 apud ARAÚJO, 2013)

• Produção - tem migrado para regiões com um menor controle sobre segurança e
saúde dos trabalhadores (SMITH et al., 2006 apud ARAÚJO, 2013).

• Uso/consumo - é o elo da cadeia menos preocupante em relação a toxicidade,


entretanto, ainda há questões em estudo, como e.g. emissões dos aparelhos
celulares, micro-ondas, emissões de aditivos contidos nos plásticos do REEE
(RYDBERG, et al., 2011), ou questões relativas ao consumo de energia, como
estudos para avaliação de troca de equipamentos antigos por novos que
consomem menos energia.

• Fim de vida - emissões nos processos de tratamento, recuperação energética dos


plásticos, reciclagem de metais e contaminação dos materiais secundários
utilizados em outros sistemas de produtos (CUI & FORSSBERG, 2003; CUI &
ZHAN, 2008; WESTERDAHL et al., 2011 apud ARAÚJO, 2013)

O setor de eletroeletrônicos tem revolucionado o mundo nas últimas décadas: seus


produtos tornaram-se onipresentes por causa de seu potencial de aplicação em uma
variedade de áreas, como a medicina, a mobilidade urbana, a educação, a saúde, o
abastecimento, a comunicação, a segurança pública e a proteção do meio ambiente
(SCHLUEP, 2009). Os EEE, ao final do seu ciclo de vida, ou quando considerados inservíveis
por seus proprietários, são descartados e passam a constituir a grande massa dos
denominados resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) (FERREIRA, 2014).

As atuais práticas de descarte significam que grande parte da energia, dos recursos e
do valor incorporado nos produtos eletrônicos é perdida (EMF, 2018). No caso de alguns
metais, como paládio e cobalto, a indústria dos telefones móveis por si só consome mais que
10% da produção anual global (STEP, 2015). Cada categoria de EEEs tem sua particularidade
em relação aos materiais e substâncias presentes em sua composição. A adoção de novos
modelos de negócio é uma necessidade já que o aumento de 60% da extração de recursos
naturais nas últimas duas décadas, reflete-se na escassez de metais que compõem esses

7
O ciclo de vida de um produto se refere a todo o período de vida do produto, que está muito
além da entrega ao cliente. Os produtos podem se tornar obsoletos com o tempo, danificarem, ou não
funcionarem de acordo com suas características e nesses casos surge a necessidade do envio ou
retorno ao fabricante, para serem devidamente descartados, reaproveitados ou reparados (LACERDA,
2009 apud ROSA, 2016).
24
tipos de equipamentos, como o gálio, índio, ouro, prata, tungstênio, cobre, antimônio e
estanho (ABINEE, 2017). Essa escassez é traduzida no aumento do preço dos recursos, como
por exemplo alguns metais como índio, estanho, prata, cobre, cobalto e ouro que tiveram seus
valores de mercado acrescidos entre 91 e 368% (MANHART, 2011 apud OLIVEIRA, 2016).

Há evidências suficientes sobre os efeitos adversos à saúde em curto e longo prazos


causados pela exposição a substâncias individuais contidas no lixo eletrônico, bem como
possíveis efeitos sinérgicos de misturas de compostos. Alguns desses efeitos nocivos incluem
desregulação endócrina, desenvolvimento reprodutivo anormal, deficiência intelectual,
anomalias do neurodesenvolvimento, efeitos carcinogênicos, desfechos negativos ao
nascimento, déficits de atenção e câncer (STEP, 2015). Relações têm sido encontradas entre
a exposição ao lixo eletrônico e alteração das funções tireoidianas, função pulmonar reduzida,
desfechos negativos ao nascimento, crescimento infantil reduzido, desfechos de saúde
mental, desenvolvimento cognitivo, citotoxicidade e genotoxicidade (STEP, 2015).

Há também efeitos indiretos dessa contaminação pelas substâncias nocivas


encontradas nos componentes de REEEs, onde a água e os poluentes do solo contaminados
podem entrar na cadeia alimentar e afetar a população em geral, particularmente no caso de
reciclagem informal ocorrendo nas proximidades de assentamentos urbanos (STEP, 2015) –
como é o caso dos catadores e recicladores individuais no Brasil. O uso e a geração de
substâncias tóxicas/perigosas durante o processamento de lixo eletrônico (por exemplo, um
amálgama de ouro-mercúrio ou dioxinas combinadas de incineração inadequada) é também
um problema e deve ser avaliado nas tecnologias inovadoras de processamento
(SCHLUEP,2009). Vários dos elementos presentes nos REEEs são tóxicos e resultam então,
segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI (2013), em dois tipos
de riscos:

• Contaminação de pessoas que manuseiam o Resíduos Eletroeletrônico: tanto o


consumidor que mantém e utiliza em casa equipamentos antigos, quanto as
pessoas envolvidas com a coleta, triagem, descaracterização e reciclagem dos
equipamentos estão potencialmente expostos ao risco de contaminação por metais
pesados ou outros elementos. Os efeitos no organismo podem ser graves Para
reduzir o risco de contaminação, toda a manipulação e processamento devem ser
realizados com os devidos equipamentos de proteção pessoal.

• Contaminação do meio ambiente: Os REEE não devem em nenhuma hipótese ser


depositados diretamente na natureza ou junto a rejeitos orgânicos. Mesmo em
aterros sanitários, o mero contato dos metais pesados com a água incorre em
imediata contaminação do chorume, multiplicando o impacto decorrente de
25
qualquer eventual vazamento. Penetrando no solo, esse material pode contaminar
lençóis subterrâneos ou acumular-se em seres vivos, com consequências
negativas para o ambiente. Todas as etapas da Logística Reversa devem levar em
conta esses riscos e implementar formas de evitá-los.

Além dos sistemas nacionais de recuperação, o lixo eletrônico também é descartado


com resíduo residencial misto, onde é tratado em conjunto com os outros resíduos municipais.
A eliminação de resíduos domésticos em residuos residuais mistos contabiliza de 1 a 2 kg por
habitante na União Europeia. Esta fração é composta principalmente de pequenos
equipamentos, como telefones celulares, lâmpadas, escovas de dentes elétricas, brinquedos,
etc. (BALDÉ, 2015). O Diretor-Executivo do PNUMA declara: “Além de evitar problemas de
saúde, o aprimoramento dos níveis de reciclagem de resíduos eletrônicos em países em
desenvolvimento pode resultar no potencial de gerar empregos decentes, cortar emissões de
gases de efeito estufa e recuperar um grande número de metais valiosos como prata, ouro,
paládio e cobre. Agindo agora e planejando a longo-prazo, é possível fazer do desafio uma
oportunidade” (PNUMA, 2009 apud FERREIRA, 2014). Porém, a composição deste fluxo de
resíduos, isto é, seus componentes, incluídas toxinas e seu potencial de recursos, variam
significativamente em cada produto, e isso faz o REEE muito difícil de ser gerido (BALDÉ,
2015).

O risco de efeitos adversos à saúde se estende além dos indivíduos expostos


ocupacionalmente. Através de transporte ambiental (incluindo a transferência para
residências através de roupas de trabalho), bioacumulação e a persistência desses
compostos no ambiente, os seres humanos em distâncias significativas dos locais de
reciclagem de lixo eletrônico também podem ser expostos a substâncias perigosas (STEP,
2015). Como o lixo eletrônico é amplamente classificado como perigoso devido à presença
de materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo e retardadores de chama bromados, é
necessário um gerenciamento adequado. No entanto, na prática, muitas remessas de lixo
eletrônico são disfarçadas como mercadorias de segunda mão (RUCEVSKA, 2015).

Recentemente, a reciclagem e a separação do lixo eletrônico tornou-se a principal


fonte de renda para um número crescente de pessoas (por conta da presença desses
materiais de alto valor). Porém, na maioria dos casos, isso é feito informalmente, com pouco
ou nenhum padrão de saúde e segurança. Isso pode expor os trabalhadores e os bairros
vizinhos a riscos para a saúde e levar à poluição ambiental (STEP, 2015). A reciclagem de
REEE e recuperação dos materiais apresenta, portanto, além do apelo ambiental, motivação
econômica (RODRIGUES, 2012; CARVALO et al., 2014 apud PEREIRA, 2018).

26
Com isso, é possível observar também uma discrepância nos procedimentos mais
frequentes na reciclagem do Resíduo Eletroeletrônico entre países mais desenvolvidos vs em
desenvolvimento, o que contribui para ideia de que há uma incompatibilidade dos níveis de
educação e instrução da população que efetua o manuseio desses resíduos, e isto acontece
por motivos diversos. Essa disparidade de método também significa uma disparidade nos
riscos associados. Na tabela 5 ,apresentada por FERREIRA (2014), constatam-se algumas
dessas relações do manuseio e reciclagem entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento:

Tabela 5 - Comparação dos cenários de manejo de REEEs e seus riscos associados em países
Desenvolvidos vs países em Desenvolvimento.

Países Desenvolvidos Países em Desenvolvimento

Reciclagem e • Desmontagem manual • Desmontagem manual


Processos de • Separação semiautomática • Separação manual
Disposição de
• Recuperação de metais por • Recuperação de metais por
Resíduos métodos avançados em aquecimento, queima e lixiviação
fundições e locais de refinarias do resíduo eletrônico em
pequenas oficinas de sucata
• Incineração
• Queima a céu aberto
• Disposição em aterro sanitário
• Disposição inadequada

Perigo de • Não está bem documentado, • Alto


aparentemente baixo
Exposição • Níveis de PBDEs no sangue de
Ocupacional • Concentrações de PBDEs no trabalhadores informais de
sangue de desmontadores de resíduos eletrônicos:
eletrônicos:

15-75ng/g lp* (Sweden; Sjodin et al., 140-850ng/g lp (Guiyu, China; Bi et al.,


1999) 2007)
3,8-24ng/g lp (Norway; Thomsen et al., 77-8452ng/g lp (China; Yuan et al.,2008)
2001)

Perigo de • Não está bem documentado, • Alto


aparentemente baixo
Contaminação • Concentração no ar em local
no Local de • Concentração no ar em local aberto de PBDEs em Guiyu,
fechado de PBDEs em China:
Trabalho instalações de reciclagem:
21,5 ± 7,2ng/m3 (Deng et al., 2007)
510ng/m3 (fábrica de reciclagem de TV,
Japão (Takigami et al., 2006) Obs: Nenhum dado sobre as
concentrações no ar em locais de
processamento de resíduo
eletroeletrônico estava disponível para
96; 98; 260; 310 ng/m³ - 4 medições comparação. Contudo, as altas
perto de uma usina de reciclagem de concentrações em local aberto são
eletrônicos – retalhamento, Suécia indicativos de ainda maiores
(Sjodin et al., 2001) concentrações no ambiente de trabalho.

27
Fonte: FERREIRA (2014), adaptado de Tsydenova e Bengtsson (2010).

Os principais objetivos da reciclagem de lixo eletrônico e seus pressupostos são: (i)


Tratar as frações perigosas de maneira ambientalmente correta, (ii) Recuperar material
valioso ao máximo (iii) Criar negócios ecoeficientes e sustentáveis (iv) Considere o impacto
social e o contexto local. (SCHLUEP, 2009)

Sem uma gestão sustentável, monitoramento e boa governança do lixo eletrônico, as


atividades ilegais podem apenas aumentar, prejudicando as tentativas de proteger a saúde e
o meio ambiente, bem como gerar empregos legítimos (RUCEVSKA, 2015). Em uma
Economia Circular, o objetivo é maximizar o valor em cada ponto da vida de um produto
(STAHEL, 2016 apud ARAÚJO, 2017). Essa gestão precisa evoluir de forma integrada com a
gestão sustentável dos REEE (CUCCHIELLA et al., 2015 apud OLIVEIRA, 2016).

Soluções inovadoras para combater o “lixo eletrônico” estão surgindo. Recuperar


metais valiosos e outros recursos confinados dentro de produtos eletrônicos, por exemplo, é
uma das alternativas que pode reduzir a geração de resíduos eletrônicos. A reciclagem pode
não somente reduzir a pressão sobre o meio ambiente, como também criar empregos e gerar
renda. O setor global do mercado de resíduos - da coleta à reciclagem – movimenta um
montante estimado em US$ 410 bilhões por ano, isso sem considerar um setor informal muito
grande (RUCEVSKA, 2015) que também faz parte desse comércio. O manuseio adequado do
lixo eletrônico pode evitar danos ambientais sérios e também recuperar materiais valiosos,
especialmente para metais (SCHLUEP, 2009).

A cadeia de reciclagem de lixo eletrônico é classificada em três principais etapas: (i)


coleta, (ii) triagem / desmontagem e pré-processamento (incluindo triagem, desmontagem e
tratamento mecânico) e (iii) processamento final. Todas as três etapas devem operar e
interagir de maneira holística para atingir os objetivos gerais de reciclagem (SCHLUEP, 2009).
Pode-se, então, resumir a cadeia do REEE nessas três partes, melhor detalhadas a seguir:
- Coleta dos REEE: pode incluir participação de lojas do varejo e atacado; outros
pontos de venda como farmácias e bancas de jornal; a própria autoridade municipal de coleta
de lixo em alguns países; catadores associados em cooperativas ou não; e outros atores;
- Tratamento dos REEE: incluirá empresas recicladoras atuando em nome das
empresas manufatureiras e importadoras; operações de reuso e remanufatura; operações de
desmontagem dos REEE para envio de partes para empresas recicladoras especializadas e
outras;
- Reuso: Utilização dos materiais reciclados como matéria prima secundárias em
outros produtos ou no mesmo produto (mercado secundário) e disposição final dos rejeitos
(ARAUJO, 2013).

28
Na situação brasileira antes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a cadeia é bem
curta, composta somente pelo gestor de limpeza urbana que coleta os REEE juntamente com
os resíduos domiciliares comuns e os destina aos aterros municipais, e, eventualmente às
recicladoras de metais. Porém, há a presença de um mercado de reuso, assim como
evidências de alguma atuação de catadores e cooperativas na coleta de REEE (ARAUJO,
2013), mas este mercado é informal e, portanto, difícil de monitorar e quantificar.
Surge então a chamada mineração urbana (urban mining), que nada mais é do que a
extração de metais a partir de outros materiais e equipamentos que já estão no mercado
urbano, como, por exemplo, os próprios REEEs (PROSUM, 2018 apud PEREIRA, 2018).
Oportunidades significativas existem na transição entre este “fazer, usar e jogar fora” (modelo
linear) para um modelo baseado nos princípios de uma Economia Circular. Uma Economia
Circular é uma abordagem que implica em dissociar gradualmente as atividades econômicas
que envolvem o consumo de recursos finitos, e a projetação desses resíduos para fora do
sistema. (EMF, 2018). Centros de inovação e de excelência ainda não foram estabelecidos
devido à falta de conhecimento básico sobre reciclagem de lixo eletrônico em economias
emergentes (SCHLUEP, 2009).
A Economia Circular surge da compreensão de que pode ser economicamente
vantajoso reutilizar e reciclar recursos o máximo de vezes possível, contrapondo-se à
economia linear, que, tradicionalmente extrai recursos naturais, produz, utiliza o produto e
encaminha o resíduo para disposição final (KARASKI et al., 2018 apud PEREIRA, 2018). A
Economia Circular pode ser categorizada em três níveis de aplicação: I. micro – de empresa
ou individual, II. meso – de parque industrial ou ecoindustrial e III. macro – de eco-cidade
(GENG et al., 2011 apud ARAÚJO, 2017). Dentro do nível de aplicação macro, que promove
atividades de produção e consumo sustentáveis e visa criar uma sociedade orientada para a
Economia Circular (GENG et al., 2011 apud ARAÚJO, 2017), podemos citar políticas e ações
como a PNRS (Política Nacional dos Resíduos Sólidos) e outras normas e legislações
brasileiras que estabelecem providências como a Logística Reversa para alguns resíduos; e
as Diretivas e protocolos Europeus que também dissertam sobre sistemas de Economia
Circular que contribuem para os processos sustentáveis de recuperação de resíduos (sejam
estes eletrônicos ou não).
O desenvolvimento da Logística Reversa torna-se fundamental por fatores como
necessidade de redução de custos internos das organizações, desenvolvimento sustentável,
ciclos de vida útil dos produtos cada vez mais reduzido, exigências legais (cumprimento às
legislações vigentes), e até mesmo conscientização ambiental dos consumidores
(FONSCECA et. al.; 2013 apud ROSA, 2016). “A partir dos anos 2000, a UE estabeleceu uma
série de diretivas sobre esse tema, sendo sua experiência de sucesso considerada
atualmente, como referência na formulação e implementação de políticas para o avanço da
29
gestão de REEEs“ (PEREIRA, 2018). O Brasil surge com esforços em direção à Logística
Reversa de EEE através de leis e normas desde meados de 2005.
Porém, apesar de toda a legislação vigente detalhada e cautelosa na Europa, apenas
cerca de 37% dos REEEs gerados na UE são coletados e contabilizados de acordo com as
Diretivas, enquanto a maior parte é descartada juntamente aos RSU, exportada para países
em desenvolvimento ou informalmente reciclada (BALDÉ et al., 2017 apud PEREIRA, 2018).
Em termos de política e legislação, as principais barreiras provêm da falta de quadros legais
específicos, baixa prioridade a nível nacional neste tema, legislações inconsistentes
existentes e implementação descoordenada da lei (SCHLUEP, 2009) . No nível de tecnologias
e competências, as barreiras acorrem principalmente da falta de padrões de EHS, da forte
influência do setor informal, falta de infraestruturas de triagem, atividades de coleta seletiva,
bem como baixa qualificação e falta de conscientização. Outras barreiras para as empresas,
negócios e finanças incluem a responsabilidade limitada das indústrias, altos custos de
logística, possível exploração de trabalhadores orientes de comunidades desfavorecidas,
crime e corrupção, bem como as falsas expectativas dos consumidores (SCHLUEP, 2009).
Este cenário leva ao questionamento em relação ao prazo necessário pra que esse tipo de
regulação seja efetivo em países que já possuem um histórico ineficiente de aplicação de
normas, como é o caso do Brasil. Pois, uma vez que a Europa, usualmente notada pela prática
sistemática da legislação, possui este baixo índice de registro do final do fluxo de REEEs (o
que impede de obter dados que permitam a melhoria e adaptação das normas vigentes),
quanto tempo seria necessário então pra que a UE consiga prosperar neste índice? E qual
seria então o prazo para os países em desenvolvimento que possuem fraco histórico de
cumprimento de protocolos, como o Brasil?

3.2 ECONOMIA CIRCULAR

Uma alternativa para a problemática da geração de resíduo é seu aproveitamento


como matéria-prima. Nesse caso, a geração de resíduo passa a ser vista como uma fonte,
uma oportunidade de negócio (GONTIJO, 2010). A Economia Circular é um ciclo de
desenvolvimento positivo contínuo que preserva e aprimora o capital natural, otimiza a
produção de recurso e minimiza riscos sistêmicos administrando estoques finitos e fluxos
renováveis (EMF, 2018). Em uma Economia Circular, mais valor é agregado nos "loops
internos", pois o valor e a utilidade dos produtos e componentes são preservados. Apesar do
nível de reutilização de componentes em toda a indústria atual seja mal-explorado, existem
exemplos concretos de empresas adotando essas práticas e criando oportunidades para que
o valor seja distribuído em cascata, à medida que os itens/componentes eletrônicos são
reutilizados em várias aplicações diferentes (EMF, 2018). A Economia Circular vem para
30
mudar o conceito da atual Economia Linear/Direta, auxiliando na busca por respostas aos
problemas desencadeados por este tipo de sistema econômico. O conceito desse ciclo
propõe a mudança do fluxo único dos materiais, tanto biológicos quanto tecnológicos, para
um direcionamento circular, no qual é embasado por uma série de filosofias como: berço ao
berço (cradle to cradle), economia de performance, biomimética, ecologia industrial,
capitalismo natural. (ABINEE, 2017). A reciclagem ainda faz parte do quadro, e é vital que
os materiais constituintes possam ser separados e processados quando produtos e
componentes não são mais usados. Existe um impulso crescente em tecnologias que
permitem maiores rendimentos e qualidade de recuperação de material nesses "loops
externos" (EMF, 2018), e com isso surgem os estudos e as práticas do EcoDesign, que será
explorado mais a frente neste trabalho.
Na Economia Circular os produtos não se tornam resíduos de imediato; eles são, na
verdade, reutilizados, e reaproveitados ao máximo antes de terem sua disposição final
(SONG; LI; ZENG, 2015 apud OLIVEIRA, 2016). No fluxo direto normal, o ciclo de vida dos
REEEs normalmente percorre os seguintes estágios (Figura 4), sendo que a maioria passa
da penúltima fase para disposição final diretamente, sem antes percorrer as 3 etapas dessa
coluna (sem tentar algum reaproveitamento):

Figura 4 - Ciclo de vida dos REEEs. Fonte: ABDI (2012).

Para o setor eletroeletrônico, que depende fortemente de materiais biológicos (como


a matéria prima de seus produtos e componentes) e também tecnológicos (tanto os produtos,
quanto os componentes em si, e a logística envolvida - fabricação, transporte, manutenção,
energia), a Economia Circular é uma tendência que vem sendo e continuará a ser explorada
e desenvolvida no país, exigindo assim, um preparo dos fabricantes e importadores do setor
à novos modelos de negócio, cada vez mais restauradores e regenerativos (ABINEE, 2017).

31
No caso dos produtos eletroeletrônicos, a destinação ambientalmente adequada após sua
vida útil, permite a redução do resíduo descartado incorretamente e viabiliza a recuperação
de materiais – que faz parte dos propósitos da Economia Circular – fechando assim o ciclo
econômico, retirando o resíduo de seu túmulo (locais de descarte) e o levando novamente ao
seu berço (fábrica) (ABINEE, 2017).

O Brasil é um país com potencial para adequar a prática da Economia Circular à gestão
dos Resíduos Eletroeletrônicos (ELIAS-TROSTMANN, 2012 apud OLIVEIRA, 2016). Com
isso surgem as normas de Logística Reversa em diversas esferas jurídicas brasileiras.

“Do ponto de vista logístico, a vida de um produto não se encerra com


a entrega ao consumidor final, pois o objeto pode-se tornar obsoleto,
danificado ou inoperante. Em alguns casos, as peças dos produtos (como
automóveis, computadores, câmeras, celulares, máquinas de lavar,
geladeiras, roupas, calçados, vidros vazios e garrafas de bebidas) podem
retornar às fábricas de origem (ARAVENDAN; PANNEERSELVAM, 2014)
para conserto ou descarte. Isso ocorre por imposição da legislação
ambiental ou porque a recuperação é vantajosa em termos econômicos
(BALLOU, 2006). Assim, a logística possui um fluxo “reverso”, o qual
engloba retorno, reuso, remanufatura, recondicionamento e reciclagem e
encerra-se com destinação de um novo produto, elaborado após o fim da
vida útil do produto original.” (OLIVEIRA, 2016).

O processo descrito acima é a elucidação da execução da Logística Reversa proposta


pela legislação brasileira. A Logística Reversa (LR) tem recebido atenção em virtude de seu
potencial para extrair valor dos produtos utilizados (POKHAREL; MUTHA, 2009 apud
OLIVEIRA, 2016). “A Logística Reversa é aspecto fundamental de transição para a Economia
Circular. É preciso considerar o papel dos fluxos materiais no sistema de Economia Circular;
os estímulos da responsabilidade estendida ao produto; criação de ambiente regulatório; e
criação de oportunidade de negócios” (RIBEIRO, 2017 apud FIESP, 2017)

Para uma organização que deseja fazer parte do mercado de aproveitamento de


resíduos, a preocupação deve ser gerar valor agregado aos resíduos (GONTIJO, 2010). A
Economia Circular representa uma mudança sistêmica que constrói resiliência em longo-
prazo, gera oportunidades econômicas e de negócios, e proporciona benefícios ambientais e
sociais (Ellen Mc Arthur Foundation, 2018a). A Economia Circular surge como uma grande
oportunidade tanto para a redução de custos com o consumo de matérias primas, quanto para
tornar viáveis os processos de LR (ABINEE, 2017). É uma alternativa que incentiva a
redefinição da noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade (e meio
32
ambiente), edificando e gerando capital econômico, natural e social (EMF, 2018). Ela se
baseia em três princípios: (I) Preservar e aumentar o capital natural, (II) Otimizar a produção
de recursos, (III) Fomentar a eficácia do sistema (EMF, 2018a)

Com a implantação dos SLR (Sistemas De Logística Reversa), ocorre a redução das
despesas com os serviços de coleta, transporte e destinação dos Resíduos Sólidos Urbanos,
que são custeados pelos municípios (COUTO, 2017).

Figura 5 - Diferença entre os Fluxos da Economia Linear e Economia Circular. Fonte: SAUVÉ, BERNARD
e SLOAN (2016) apud ARAÚJO (2017).

Uma das chaves da Economia Circular é repensar o desenho dos produtos, ou seja,
trabalhar na constituição ou formato que possibilite com que aquele material retome seu ciclo
de vida (RMAI, 2018). Isso pode ser visto na Figura 5, onde o dejeto final (representado pelas
nuvens indicadas por setas pontilhadas) é sempre menor no ciclo da Economia Circular (lado
direito), pois o que se tornaria resíduo, passa novamente pelo reaproveitamento
(representado pelo símbolo da reciclagem) após cada etapa do ciclo de vida do material.
Portanto, um mesmo material pode perfazer este circuito muitas vezes, e só eventualmente,
quando não possuir mais potencial de serventia como matéria-prima nem componente
secundário, se tornar um resíduo. “As soluções baseadas em tecnologias de ponta e novos
aplicações permitem uma recuperação dos resíduos com excelência, o que aumenta a
qualidade e a quantidade dos resíduos recuperados” (RMAI, 2018).

O EcoDesign é um conceito baseado em abordagens com o objetivo comum de


melhorar os aspectos ambientais de produtos, processos e serviços. Essa melhoria não se
limita apenas à quantificação e minimização dos impactos ambientais diretos no ecossistema,
mas considera também a otimização do desempenho ambiental, através de ações articuladas
como (GIUDICE, et al., 2006; MACKENZIE, D., 1991 apud GONTIJO,2010):
• Minimização de desperdícios e da geração de resíduos;
33
• Utilização conveniente de materiais, considerando sua taxa de recuperação e
geração de poluentes tóxicos;
• Otimização do processo de produção, consistindo no planejamento de processos
que são energeticamente eficientes e com emissões reduzidas e;
• Melhor aproveitamento do produto na fase de utilização, evitando a utilização de
recursos além do necessário (GONTIJO, 2010)

O EcoDesign tem como objetivo principal a redução do impacto ambiental do produto


nas fases do ciclo de vida: matérias-primas, produção, distribuição, utilização e destino final
(FIKSEL, 1996 apud BORCHARDT, 2010). Neste conceito, os produtos devem ser
concebidos de forma a serem mais duráveis, reparáveis e atualizáveis, permitindo a
remanufatura e a reciclagem para a mesma indústria ou para outras. (ARAÚJO, 2017),
considerando também os aspectos do ciclo de vida do produto (GONTIJO, 2010).
O EcoDesign é executado através da avaliação criteriosa dos materiais a serem
utilizados na fabricação do produto e do desempenho ambiental do processo de fabricação,
da correta manutenção do produto, da prática da Logística Reversa, da reutilização,
desmontagem, remanufatura, reciclagem e disposição final do produto (GONTIJO, 2010).
O design do berço ao berço subtrai o conceito de resíduo e propõe a criação de
produtos e materiais com ciclos de vida que garantem a saúde humana e do meio ambiente
potencializando o uso de energias renováveis, e gerenciando a utilização da água para
maximizar a qualidade, promover ecossistemas saudáveis, e respeita os impactos locais
(EMF, 2010 apud ARAÚJO, 2018). Qualquer categorização por marca ou classificação dos
REEE coletados acrescenta custo à organização, mas incentiva o EcoDesign,
responsabilizando os produtores individualmente pelo tratamento de seus produtos no fim de
vida (OCDE, 2016 apud PEREIRA, 2018). Entre alguns elementos que influem na
implementação do EcoDesign estão: (i) pressão externa e requisitos legais; (ii) influências
econômicas originárias dos interesses dos parceiros da cadeia de valor; (iii) percepção e
valorização do consumidor pelos aspectos relativos ao impacto ambiental do produto; e (iv)
desenvolvimento de novas tecnologias (BOKS, 2006 apud BORCHARDT, 2010).
Na Europa, a Diretiva 2005/32/CE fala sobre EcoDesign e estabelece que os
produtores devem viabilizar a reciclabilidade de um REEE8 (com diferenciação nas taxas
aplicadas para cada produtor de acordo com a execução bem ou mal-feita dessa atribuição)
de forma a descomplexificar a reutilização, desmontagem e valorização dos REEE (PEREIRA,
2018). O EcoDesign projeta como o resíduo do produto será gerado, separado e usado; e a
LR, como será planejada a rede de movimentação desses resíduos, podendo ser concebida

8 No texto original da Diretiva, a norma se refere à aplicação em energy-using products,


ou seja, produtos que consomem energia, o que é cabível principalmente para os REEEs.
34
diferentes redes de acordo com os interesses em se utilizar os resíduos. A Logística Reversa
será desenvolvida de acordo com as características e a possibilidades de formação ou
inserção em uma cadeia de suprimentos (GONTIJO, 2010).
Lembrando que a principal diferença entre as normatizações baseadas em Economia
Circular que existem dentro da Logística Reversa Europeia e a Brasileira, é a exequibilidade
do conceito de EPR (Responsabilidade Estendida do Produtor) no continente Europeu,
definição que será discutida mais à frente, durante o capítulo 2.

3.3 CRIMES, EXPORTAÇÃO E MERCADO INFORMAL DE REEEs

Estima-se que, na União Europeia, mais da metade dos REEE são tratados de forma
inadequada e exportados ilegalmente (MUDGAL, 2013 apud OLIVEIRA, 2016). Isso pode
contribuir para a inautenticidade dos dados relativos ao índice de reciclagem do bloco
Europeu, uma vez que o total considerado é enganoso, enquanto o restante fora enviado para
regiões menos afluentes do mundo (BISSCHOP, 2012). Como consequência de
regulamentações mais rigorosas sobre os resíduos, os preços da gestão de resíduos
aumentaram nos países industrializados, o que tornou os resíduos uma commodity do
mercado global. Exportá-los é uma maneira de externalizar os danos e criar uma distância
entre produtores e consumidores, por um lado, e aqueles afetados pelo despejo ou reciclagem
dos produtos, por outro (BISSCHOP, 2012).

Uma fração razoável dos Resíduos Eletroeletrônicos gerados em países


desenvolvidos como EUA e EU e Japão, acabam sendo exportados para China, Índia,
Malásia, Nigéria e demais países em desenvolvimento (ZOETEMAN et al., 2010; ROBINSON,
2009 apud ARAÚJO, 2013). A atividade de reciclagem de REEE nesses países é realizada
informalmente e com técnicas não apropriadas de baixo custo, ocasionando impactos sociais
e ambientais (BAN e SVTC, 2002; YANG et al., 2008 apud ARAÚJO, 2013). A insuficiência
de dados sobre os REEEs afetam negativamente a performance dos sistemas formais de
coleta e destinação (ou sistemas de Logística Reversa) e pode contribuir para o
gerenciamento informal e o tráfico internacional de REEE (GU et al., 2017 apud PEREIRA,
2018). Este cenário configura um ciclo indefinidamente vicioso, portanto, posto que a
exportação e tráfico de resíduos imprecisa as taxas de reciclagem, deixando abertas as cifras
desse ciclo comercial de resíduos, favorecendo a fraude e a ausência de dados; enquanto a
falta de dados contribui para o gerenciamento informal e o tráfico de REEE.

“Além dos dados de produção formal são necessários dados de produção informal,
como por exemplo, montagem de desktops por pequenas oficinas caseiras, assim como
dados de importação legal e ilegal (mercado cinza). Se a obtenção de dados de produção dos

35
equipamentos já é difícil, a estimativa da quantidade desses produtos que são descartados
pelo consumidor, ou seja, a geração de resíduos eletroeletrônicos é mais complexa ainda”
(ARAÚJO, 2013). Medir o crime ambiental é complexo e é difícil de avaliar. Transportes ilegais
de REEE não são exceção. Este é um fenômeno sobre o qual há poucos dados oficiais,
apesar da questão dos resíduos estar no mercado internacional (BISSCHOP, 2012).

Os REEEs são normalmente transportados com o título de “produtos de segunda mão”


(BISSCHOP, 2012). A maior parte do Equipamento Eletroeletrônico (EEE) que é transportado
para os países em desenvolvimento nunca chega ao mercado de segunda mão e acaba sendo
desmontado para extrair as matérias-primas. Sendo que essa "reciclagem" acontece de
maneira precária, em que os restos são despejados ou queimados ilegalmente, liberando
componentes tóxicos na atmosfera e nos pulmões dos que estão ao redor (BISSCHOP, 2012).
Os estados membros mais importantes para as transferências de REEE - importação,
exportação e trânsito - são a Alemanha, a Holanda, a Bélgica e o Reino Unido, e esses países
também registram a maioria dos transportes ilegais. Uma parte destes fluxos pode, no entanto,
ser simplesmente o resultado de realidades económicas e geográficas, porque estes países
têm portos economicamente significativos e funcionam como um trânsito para a Europa
continental (BISSCHOP, 2012). O comércio ilegal de REEE para países não pertencentes à
UE continua a ser identificado nas fronteiras da UE. Os relatórios indicam que os fluxos de
REEE vão da Europa Ocidental e dos EUA para a África Ocidental e Sudeste Asiático, e os
transportes para a África têm maior probabilidade de serem produtos residuais de segunda
mão ou de baixa qualidade. Não há detalhes disponíveis sobre o destino final dos
componentes ou da sucata de metal, mas em Gana, as placas-mãe de computadores
desmantelados foram encontradas para ser vendidas inteiras para exportação para a Nigéria
ou China, enquanto outros metais recuperados são usados em indústrias locais ou vendidos
para exportação (BISSCHOP, 2012). Os monitores de computador e televisão contêm uma
média de 1,8–3,6 kg de chumbo cada, o que significa que os 315 milhões de computadores
que se tornaram obsoletos entre 1997 e 2004 continham mais de 45.108 kg de chumbo
(PELLOW, 2007: 187 apud GIBBS, 2010). Devido a falhas encontradas na Convenção da
Basiléia9, vários países em desenvolvimento receberam toneladas de Resíduos
Eletroeletrônicos dos países ricos, através da exportação, um exemplo é a cidade de Guiyu,
na província de Guangdong (China), que trabalhava com reciclagem de resíduo eletrônico,
através de atividades de reciclagem, sendo uma parte fundamental da economia de Guiyu

9
As Convenções de Basiléia9, Rotterdam e Estocolmo9 fornecem a vanguarda dos esforços
globais no rastreamento e gerenciamento de resíduos perigosos e produtos químicos, juntamente com
outras iniciativas, como a Iniciativa da Resolução da Problema de Resíduos Eletroeletrônicos - UN
Solving the E-waste Problem (StEP) sobre resíduos eletrônicos (RUCEVSKA, 2015).
36
(Hicks et al., 2005), onde os tubos de raios catódicos (TRCs) quebrados eram jogados em
terreno aberto após a remoção dos jugos (BAN e SVTC, 2002 apud FERREIRA, 2014).

A União Europeia tem um sistema de relatório anual para remessas de resíduos


perigosos e problemáticos, mas não possui um banco de dados comum para transportes de
resíduos em violação da regulamentação (BISSCHOP, 2012). Além disso, cada etapa do fluxo
dos REEEs representa um risco diferente à saúde ambiental e humana. A tabela 2 mostra a
relação entre algumas etapas do processamento de Resíduos Eletroeletrônicos e os riscos
trazidos por eventual manuseio inadequado destes equipamentos:

Tabela 6 - Atividade em diferentes etapas do fluxo de REEEs e riscos associados.

Atividade Riscos em Saúde Ocupacional

Cortes e perfurações devido à exposição a objetos pontiagudos e


Recebimento inalação de poeira de vidros quebrados de monitores.

Teste e Conserto Choque elétrico devido ao uso de fontes de alimentação elétrica

Inalação de poeiras liberadas durante o processo ou derrame de


Desmontagem
substâncias perigosas de forma acidental. Problemas ergonômicos
Manual devido a movimentos repetitivos.
Fonte: CARVALHO et al (2010) apud FERREIRA (2014).

Similarmente, o risco associado à desmontagem inclui a possibilidade de emissões


acidentais e os derrames de substâncias perigosas. Por exemplo, o mercúrio, encontrado
dentro de fontes de luz (lâmpadas fluorescentes em scanners, fotocopiadoras, etc.) poderia
ser liberado para a atmosfera de um local de reciclagem quando quebrados (AUCOTT et al.,
2003 apud FERREIRA, 2014).

O sucesso futuro da inovação tecnológica em ambientes com


uma alta participação do setor informal depende fortemente de modelos de negócios
alternativos com incentivos financeiros, que permitam ao setor informal continuar participando
dos processos de reciclagem de forma "segura", enquanto as operações perigosas (de alto
risco) são transferidas para empresas avançadas de reciclagem, pertencentes ao setor formal.
Além disso, o desenvolvimento de polos de inovação requer um ambiente justo e competitivo
com regras em comum, que favoreçam realmente o desenvolvimento e a implementação de
tecnologias inovadoras (SCHLUEP, 2009). Alguns estudos associam as altas taxas de
reciclagem à existência de incentivos econômicos formais (BOHR, 2007, apud ABDI, 2012
apud SANTANA, 2017). Esse fato é atribuído à proporcionalidade do custo da reciclagem em
relação à sua eficiência, ou seja, quanto mais se busca uma alta taxa de reciclagem (gerando
uma menor quantidade de rejeitos), mais caro fica o processo (SANTANA, 2017). Dessa
forma, ao considerar a realidade econômica dos países em desenvolvimentos, deve-se

37
lembrar que nem sempre os incentivos econômicos são possíveis, e por este motivo, é preciso
recorrer a outras estratégias, como: (i) incentivos fiscais e desburocratização de processos,
que estimulam o Ecodesign, Acordos Setoriais, criação de cooperativas etc; (ii) fiscalização
rigorosa dos cumprimentos legais ambientais; (iii) promoção da consciência ambiental, tanto
da população geral quanto das empresas e organizações etc.

4. METODOLOGIA

A ideia inicial deste trabalho era realizar uma comparação entre o fluxo de
Eletroeletrônicos em uma cidade francesa, chamada Vannes; e em uma cidade brasileira,
Jacareí; ambas com o mesmo porte populacional e reconhecidas por uma boa gestão de
resíduos sólidos. Devido à dificuldade de estabelecer contato com a prefeitura de Jacareí, à
escassez de alguns dados e contradição de outros, a análise tornou-se inviável e por isso o
produto deste estudo está agora voltado à uma aplicação, e não uma comparação.
A consolidação deste trabalho não responde à uma pergunta de pesquisa, mas sim,
suscita algumas sugestões para aprimorar o gerenciamento dos Resíduos Eletroeletrônicos
no Brasil, valendo-se de um estudo de caso na França, e adaptando esta execução para a
realidade brasileira, trivialmente em relação aos catadores/recicladores individuais, categoria
que prevalece dominante no público associado a este tipo de atividade nos países em
desenvolvimento.
O desenvolvimento deste trabalho deu-se em um conjunto de etapas consecutivas
baseadas nos objetivos específicos, tais como:

4.1 Identificação o fluxo dos Resíduos Sólidos Eletrônicos na França, com base
no aspecto legal e em um projeto de inserção social (Emmaüs) em que um dos focos
são os REEEs

Nesta etapa do trabalho, foi realizada a descrição e caracterização da gestão de


REEEs e o fluxo dos resíduos, com base na legislação francesa, valendo-se de um estudo de
caso realizado em Vannes. Todas as informações que não estão no capítulo do estudo de
caso, são dados secundários, retirados de fontes como:
- sites de ONGs e organizações ambientais mundiais (ONU, UNEP, STEP, EMF,
WORLD BANK, OMS etc)
- bancos de dados de teses, artigos e dissertações de Universidades (SIBI, Dedalus)
- sites e documentos de Ministérios Governamentais (ADEME, EPA, National Safety
Council)

38
- sites de cooperativas, empresas de reciclagem e associações relacionadas (Ecologic,
Eco-systèmes, Recylum)
- revistas e periodicos cientificos (Web of Science, Scopus, Springer, Research Gate,
Revista Science, Google Acadêmico etc)
- sites com as legislações vigentes (Comissão Europeia, Legisfrance, EUX-lex)
- pesquisas gerais nos buscadores comuns (Google, Duckduckgo etc) utilizando
palavras-chaves como:
Équipements Électriques et Électroniques
Déchets d'Équipements Électriques et Électroniques
DEEE/D3E
Écoconception
Réglementation Française des Déchets
Cadre Réglementaire Européen des Déchets
Em suma: a matéria de Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos é contextualizada na
jurisdição e prática francesas; alguns números relevantes do histórico de cumprimento
dessas legislações observado no país e os atores envolvidos no processo, e; um estudo de
caso, sobre a organização solidária Emmaüs, especificamente a unidade de Vannes, na
região da Bretanha. Em campo, foi feita uma entrevista com Erwan Uguen - responsável
pelos resíduos sólidos urbanos de Vannes; Jean François – responsável pela Déchèterie de
Vannes; e Ludovic - técnico que conserta os REEEs da casa Emmaüs da cidade. Caracteriza-
se então a práxis francesa em cada etapa do fluxo dos REEEs. As entrevistas não possuem
um questionário pré-definido, pois as perguntas seguiram a direção natural da conversa
(abordagens diferentes e respeitando o conhecimento de cada um dos entrevistados, que
pertencem a diferentes esferas da sociedade). Porém, em todas as entrevistas, buscou-se
confirmar a validade das informações teóricas que estão nos relatórios e na legislação sobre
o fluxo de resíduos (as normas são realmente praticadas? E quais são as lacunas?).

4.2. Identificação das estatísticas de reciclagem, fluxo e cenário geral brasileiro


para os REEEs e seus atores envolvidos

Nesta etapa, é feita a descrição e caracterização da gestão de REEEs e o fluxo dos


resíduos. Os mesmos elementos do item anterior são contextualizados no Brasil, e o estudo
de caso, utilizado para ilustrar a conjuntura brasileira dos recicladores individuais, é feito
associadamente ao Instituto GEA, o qual promove um curso de capacitação de reciclagem de
Eletroeletrônicos para cooperativas de catadores. Nesta parte de campo, há dois
entrevistados: Walter Akio, do próprio Instituto GEA, responsável pelo curso de capacitação,

39
e o catador Bispo, que participou das capacitações feitas pelo Instituto e agora tem sua renda
focada exatamente nos Resíduos Eletroeletrônicos.
As informações do panorama são dados secundários retirados de fontes como:
- sites de ONGs e organizações ambientais mundiais (ONU, UNEP, STEP, EMF,
WORLD BANK, OMS etc)
- bancos de dados de teses, artigos e dissertações de Universidades (SIBI, Dedalus)
- sites e documentos de Ministérios Governamentais (Ministério do Meio Ambiente,
Governo do Brasil)
- sites de legislação e notícias do Governo (Planalto do Governo, Governo do Brasil)
- sites de cooperativas, empresas de reciclagem e associações relacionadas (ABINEE,
ABDI, CEMPRE, ABRELPE etc)
- revistas e periodicos cientificos (Web of Science, Scopus, Springer, Research Gate,
Revista Science, Google Acadêmico etc)
E as palavras-chaves utilizadas foram:
Equipamentos Elétricos e Eletrônicos
Resíduos Eletroeletrônicos
Ecodesign
Ciclo de Vida
REEE
Sustentabilidade de REEEs
Resíduos Sólidos
Logística Reversa de EEE
Economia Circular

4.3 Sugestão de condutas e orientações em direção ao aprimoramento do


gerenciamento sustentável de REEEs no Brasil
Concretizados em 2 partes:
I. Comparação entre os fluxos dos Resíduos Eletroeletrônicos no Brasil e na
França, em cada etapa do ciclo de vida destes; concretizado em uma tabela
comparativa
II. Sugestões de práticas e condutas com base no estudo de caso Francês, com
aplicabilidade adaptada à realidade brasileira, objetivando o aprimoramento da
sustentabilidade do gerenciamento de Resíduos Eletroeletrônicos no Brasil,
reiterando a parte social do gerenciamento, representada pelos catadores
informais.

40
5. RESULTADOS

Os resultados desse trabalho estão organizados em 3 seções, de acordo com


sequência dos objetivos específicos:
O capítulo 5.1 responde ao objetivo Identificação o fluxo dos Resíduos Sólidos
Eletrônicos na França, com base no aspecto legal e em um projeto de inserção social
(Emmaüs) em que um dos focos são os REEEs.
O capítulo 5.2 responde ao objetivo Identificação das taxas de reciclagem, fluxo e
cenário geral brasileiro para os REEEs e seus atores envolvidos;
O capitulo 5.3 responde ao objetivo Sugestão de condutas e orientações em direção
ao aprimoramento do gerenciamento sustentável de REEEs no Brasil.

5.1 O FLUXO DE REEEs NA FRANÇA


Este capítulo está organizado em quatro etapas:
I) Um panorama do contexto e legislação do país
II) Estatísticas da geração de REEEs
III) Características do conceito de Responsabilidade Extendida do Produtor
IV) Estudo de caso na Emmaüs, e demais entrevistas

5.1.1. CONTEXTO E LEGISLAÇÃO

A Europa possui a segunda maior geração de REEEs do mundo, responsável por 28%
da produção de resíduos eletroeletrônicos, atrás apenas da Ásia (STEP, 2015), mas
observando essa geração per capita, o continente Europeu figura no topo, tendo gerado uma
média de 15,6 kg/hab em 2014 (STEP, 2015). Essa estatística induz à conclusão de que,
para ser de fato a maior produtora de REEEs, bastaria que a população Europeia fosse tão
grande quanto a Asiática.
Este preocupante cenário levou o bloco a adotar algumas medidas específicas em
relação aos resíduos eletroeletrônicos, de forma semelhante ao que foi feito para a
problemática dos resíduos sólidos urbanos em geral há alguns anos. A primeira Diretiva
Europeia que trata sobre Resíduos Sólidos é a 75/442/EEC de 1975, que legisla sobre
prevenção e redução da geração de resíduos (OLIVEIRA, 2016). Com isso, surgem algumas
leis Europeias que mencionam os REEEs (ou que são válidas nominalmente para os REEEs,
i.e. cita-os).
“As primeiras discussões sobre a regulamentação destes resíduos
iniciaram-se na União Europeia em 1998, e em 27 de janeiro de 2003
aprovaram duas importantes regulamentações. A Diretiva 2002/95/CE
(Restriction on use of Certain Hazardous Substantes in Electrical and
Electronic Equipment), conhecida como Diretiva ROHS, a qual determina
que a partir de 2006 os produtores de EEE não ultrapassassem os limites

41
especificados para várias substâncias consideradas perigosas, como
mercúrio, chumbo, cádmio, cromo hexavalente, bifenóis polibromados
(PBB), e éteres difenílicos polibromados (PBDEs), e a Diretiva 2002/96/CE,
conhecida como Diretiva dos REEE, que tem como principal objetivo
prevenir a geração de REEE e também contribuir para a reutilização,
reciclagem e outras formas de valorização dos resíduos.”
(FERREIRA, 2014)
As regulações jurídicas na União Europeia são feitas com diferentes tipos de atos
legislativos, e possuem as seguintes validades:
Regulamentos (neste trabalho também tratado por norma) - ato legislativo
vinculativo, aplicável em todos os seus elementos em todos os países da EU; Diretivas – ato
legislativo que fixa objetivos gerais, também aplicável em todos os seus elementos em todos
os países da EU. Estabelece metas e cada país deve criar sua própria legislação de forma a
atingir os objetivos e as metas das Diretivas; Decisões – ato legislativo que decide algum
procedimento, e é aplicável somente ao destinatário que se cita na decisão (pode ser apenas
para um país ou mesmo uma empresa); Recomendações – ato legislativo não-vinculativo,
ou seja, não tem consequência jurídica, é apenas uma sugestão de conduta; Pareceres –
ato legislativo não-vinculativo, também não gera obrigação legal, normalmente resume um
ponto de vista sobre algum cenário. União Europeia (2018)
Portanto, para qualquer legislação específica elaborada por qualquer país membro da
União Europeia, parte-se do princípio que a mesma estará sempre em conformidade com
todos os atos legislativos aplicáveis à EU (União Europeia). Neste trabalho, então, ao citar
acerca de alguma conduta de algum país pertencente à UE, deve-se considerar sinônimas
as Normas e Diretivas Europeias e a legislação vigente do país-membro em questão. Ao
pesquisar por Waste Electrical & Electronic Equipment (WEEE) no site da Comissão
Europeia, uma das publicações que aparece mostra uma síntese das normas Europeias que
legislam acerca dos REEEs:
Tabela 7 - Lista de Normas Europeias que legislam especificamente sobre REEEs.

Código da Norma Descrição


EN 50419 Marcação dos Equipamentos Elétricos e Eletrônicos
Relativa aos requisitos de coleta, logística e tratamento de aparelhos domésticos
EN 50574 em fim de vida útil que contêm fluorocarbonetos voláteis ou hidrocarbonetos
voláteis
Relativa aos requisitos de coleta, logística e tratamento de aparelhos domésticos
TS 50574-2 em fim de vida útil que contêm fluorocarbonetos voláteis ou hidrocarbonetos
voláteis – Parte 2: especificação para despoluição
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 1: Requisitos gerais
EN 50625-1 de tratamento
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 3-2: Especificação
TS 50625-3-2 para a despoluição - Lâmpadas
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 2-2: Requisitos de
EN 50625-2-2 tratamento para REEEs contendo CRTs e monitores de tela plana

42
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 3-3: Especificação
RS 50625-3-3 para a despoluição, REEE contendo CRTs e telas planas
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 2-3: Requisitos de
EN 50625-2-3 tratamento para equipamento de regulação de temperatura
Coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 3-4: Especificação para
TS 50625-3-4 equipamento de regulação de temperatura
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 2-4: Requisitos de
EN 50625-2-4 tratamento para painéis fotovoltaicos
Coleta, logística e requisitos de tratamento para REEE - Parte 3-5: Especificação
TS 50625-3-5 para despoluição de painéis fotovoltaicos
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 4: Especificação
TS 50625-4 para a coleta e logística associadas aos REEE
Requisitos de coleta, logística e tratamento para REEE - Parte 5: Especificação
TS 50625-5 para o processamento final de fracções de REEE - cobre e metais preciosos
Requisitos para a preparação para a reutilização de resíduos de Equipamentos
EN 50614 Elétricos e Eletrônicos (ainda não publicado)
Fonte: EC (2018)
É possível observar que a legislação Europeia é avançada em matéria de Resíduos
Eletroeletrônicos, e ainda mais no que tange os Resíduos Sólidos em geral, pois a quantidade
de normas Europeias com o tema REEE é já maior do que a quantidade de normas federais
sobre Resíduos Sólidos em geral para o Brasil (comparação viável, uma vez que não existe
legislação com este objeto para a América Latina – correspondente ao continente Europeu -
então, o próximo nível de influência legislativa é exatamente as federações).
Pela Diretiva 1999/31/EC, que regula resíduos que podem e não podem ser
depositados em aterros sanitários, esta disposição final é a menos preferível e deve ser
restringida ao máximo (União Europeia, 2016). A taxa de geração de Resíduos Sólidos
Urbanos da OECD tende a reduzir-se e esse fenômeno deve-se ao comprometimento da
OECD com estratégias de gestão e planejamento urbano, incluindo a adoção de instrumentos
legais e econômicos que contribuem para a melhor Gestão de Resíduos Sólidos
(RUCEVSKA, 2015). A Diretiva RoHS (Restriction on use of Certain Hazardous Substantes
in Electrical and Electronic Equipment) EC 2002/95 impõe que a partir de 2006 os produtores
de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos não ultrapassem em seus produtos alguns limites
especificados para várias substâncias consideradas perigosas, como cádmio, cromo
hexavalente, mercúrio, chumbo, bifenóis polibromados (PBB), e éteres difenílicos
polibromados (PBDEs). Essa legislação tem como principal objetivo sensibilizar os
produtores para mudarem seus processos de manufatura, portanto, afetando o ciclo de vida
do produto desde seu início. A partir disso, os fabricantes que ofertam seus produtos no
mercado Europeu, foram alterando seus processos produtivos, para uma produção de
equipamentos que gerem resíduos menos ambientalmente impactantes. (ARAÚJO, 2013).
A união entre os recicladores e a Associação Europeia de Logística Reversa de
Resíduos Eletroeletrônicos traz o “WEEE Forum”, do qual participam 41 programas de
Logística Reversa e reciclagem, com um total de 17 mil produtores de Equipamentos
Eletroeletrônicos afiliados, cujos membros em 2008 trataram de 1,5 Mt de REEE, para um
total estimado de 8.3 Mt na UE, ao custo total de 240 milhões de Euros (160 euros/t). Em
43
2008 lançaram o WEEELABEX – selo de certificação para o tratamento de REEE, em busca
de uma harmonização de padrões de tratamento (WEEE FORUM, 2009).” (ARAÚJO, 2013)
A Diretiva de Resíduos Eletroeletrônicos 2002/96/EC (WEEE Directive) discorre sobre
a prevenção da geração de REEEs, incentivo ao reuso e à reciclagem com fins de redução
da disposição de rejeitos (ARAÚJO, 2013). Ela também traz algumas definições como (I)
Reuso – qualquer operação pela qual o REEE os seus componentes são usados para o
mesmo fim para os quais foram concebidos, incluindo o contínuo uso do equipamento e seus
componentes, que foram retornados aos postos de coleta, distribuidores, recicladores e
produtores. (II) Reciclagem – reprocessamento em um processo produtivo de materiais
residuais para o mesmo fim, ou para outro fim, mas excluindo a recuperação energética, o
que significa o uso do material combustível como insumo energético, através de incineração
direta, com ou sem outro resíduo, mas com recuperação de calor. (III) Recuperação –
qualquer das operações aplicáveis listados no anexo IIB da Diretiva 75/442/EC.
A responsabilidade financeira do gerenciamento dos resíduos históricos (resíduos
produzidos antes da publicação da diretiva) deve ser dividida por todos os produtores
existentes de forma proporcional à participação de cada produtor no mercado da época. E
para os produtos colocados no mercado após 13/08/2005, cada produtor será
financeiramente responsável pelos custos das operações referidas na norma relativas aos
resíduos dos produtos por esses fabricados (ARAUJO, 2013).

Figura 6 - Evolução do foco da legislação Europeia sobre Resíduos Eletroeletrônicos.


Fonte: UNU (2007) apud ARAUJO (2013).

44
A adaptação da legislação baseada nas estatísticas de monitoramento é essencial
para a continuidade da eficácia de um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos, a título
desse pressuposto, houve alterações das legislações Europeias referentes aos REEEs, como
mostra a Figura 6.
As normativas Europeias devem orientar a legislatura dos países participantes do
continente. Com isso, todas as leis de menor escala, devem se adaptar e estar sempre em
conformidade com os regulamentos superiores. Para a França, isso é igualmente aplicado:
as regulamentações francesas em matéria de resíduos estão em consonância com as
Europeias. E com isso, na Figura 7, temos as normas norteadoras Europeias e as francesas
que derivam desse direcionamento.
A coleta segura (especialmente de REEEs e itens volumosos)
é um modelo de coleta que explora o potencial de reutilização de
bens recolhidos. O objeto (resíduo/lixo) coletado mantém seu estado desde sua coleta, até
entrar no centro de triagem e reparo. O envolvimento de diferentes
atores-chave é necessário para permitir o fornecimento de bens úteis e ter oportunidades de
reutilização e reparação do mercado (MEDDE, 2014).
O suporte para o fortalecimento deste método de coleta pode ser obtido por meio de:
• Definição dos métodos de coleta de objetos a serem incluídos nas
especificações dos diferentes atores públicos e privados.
• Definição das especificações dos espaços de reutilização na
eliminação de resíduos. (MEDDE, 2014)

45
Figura 7 - Articulação das regulamentações Europeias e Francesas
Fonte: DEPROUW, 2017
Pela Diretiva WEEE existem 2 formas dos produtores e distribuidores atenderem às
obrigações impostas: ter um programa de Logística Reversa individual aprovado pelas
autoridades locais, ou se juntar à um programa coletivo.” (ARAUJO, 2013).
“Reuso de um equipamento eletroeletrônico ou de seus componentes é a continuação do
uso deles, para o mesmo fim que foram concebidos, para além do ponto que as especificações
do equipamento falham em atender as necessidades do proprietário atual, e este cessa de usar
o equipamento” (UNEP, 2009 apud ARAUJO, 2013). O reuso é previsto tanto na hierarquia de
resíduos da legislação Europeia, quanto na brasileira. Na revisão da Diretiva REEE é indicada
uma tendência de uma meta específica para reuso (HUISMANN et al. 2007 apud ARAUJO,
2013). No mercado Europeu existem algumas organizações voltadas para o mercado
secundário de produtos. Entre elas destaca-se a União Europeia de Empreendedores Sociais
46
de Reuso e Reciclagem (Reuse and Recycling European Union Social Entreprises –
www.rreuse.org), que é uma rede de organizações voltadas para o empreendimento social
focada em reuso e reciclagem de vários bens, com um total de 42 mil funcionários, e 120 mil
voluntários. (ARAUJO, 2013).
A hierarquia Europeia e francesa dos métodos de gestão de resíduos coloca a
prevenção no topo da agenda das políticas da gestão de resíduos, considerando que "o
melhor resíduo é aquele que não é produzido". A França já está fortemente comprometida
com iniciativas de prevenção de resíduos. O primeiro plano nacional de prevenção de
resíduos, realizado a título voluntário em 2004, posicionou a França como uma das pioneiras
em matéria de resíduos na escala Europeia. Este programa é também o resultado da
aplicação da diretiva de 2008, relativa aos resíduos, que estabelece que cada Estado-Membro
da União Europeia deve desenvolver e implementar um planejamento nacional para a
prevenção de resíduos. O programa, previsto para ser implementado durante o período 2014-
2020, aborda todo o conjunto de ações associadas à prevenção: prevê, assim, a
implementação gradual 54 ações concretas, divididas em 13 eixos estratégicos, que
possibilitarão contribuir para o alcance dos objetivos. Os instrumentos selecionados são
diversos e balanceados, com o objetivo de garantir uma máxima eficiência: ferramentas
regulamentares, procedimentos voluntários, compartilhamento de informações, auxílios e
incentivos. O programa também tange as decisões administrativas tomadas no domínio dos
resíduos: por exemplo, exercícios de planejamento local. (MEDDE, 2014)
A regulamentação Europeia sobre REEEs impõe notadamente:
• Ecodesign dos REEEs, para viabilizar o reemprego e o tratamento destes
• A coleta seletiva de REEEs, com objetivos progressivos de coleta e uma obrigação
de retorno gratuito do dispositivo antigo ao vender um novo dispositivo similar;
• Tratamento sistemático de certos componentes (capacitores PCB, placas de circuito
impressos, lâmpadas de descarga, etc.) e substâncias perigosas (mercúrio, CFC, etc.) para
evitar qualquer poluição;
• Reutilização, reciclagem, recuperação de REEE recolhidos, com metas de
reciclagem e alta recuperação, a prioridade a ser dada à reutilização de eletrodomésticos
inteiros. (DEPROUW, 2017)
A diretiva RoHS10 define uma lista de substâncias cujo uso é proibido ou muito limitado
na fabricação de equipamentos. A maioria dos EEES estão englobados nesta lista, as duas
legislações estão, portanto, intimamente ligadas. A Diretiva 2011/65/UE incorpora novas
categorias de equipamentos (alguns dispositivos médicos, instrumentos de monitoramento e
vigilância) na lista de EEE sujeitos à restrição de uso de substâncias perigosas.

10 Diretiva 2002/95/CE atualizada pela Diretiva 2011/65/UE


47
Desde a transposição da Diretiva 2012/19/UE, são considerados como aparelhos
domésticos “os resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos provenientes de
residências, e os resíduos de equipamentos produtos elétricos e eletrônicos de origem
comercial, industrial, institucional e outros que, devido sua natureza e quantidade, são
semelhantes aos desse gênero". Resíduos do equipamento dispositivos elétricos e
eletrônicos que possam ser usados tanto em domicílios quanto fora destes, são considerados
REEEs domésticos (DEPROUW, 2017).
A transposição francesa da Diretiva relativa aos REEEs agrega algumas
classificações consideradas pela Diretiva Europeia, como mostrado na tabela 4, abaixo:
Tabela 8 - Nova classificação francesa dos REEEs a partir de agosto de 2018.

AS 11 CATEGORIAS DE EQUIPAMENTOS AS 7 CATEGORIAS DE


VALIDOS DE 1 DE JANEIRO DE 2015 ATÉ 14 DE EQUIPAMENTOS VÁLIDOS A
AGOSTO 2018 PARTIR DE 15 DE AGOSTO DE 2018
1 Grandes aparelhos domésticos 1 Equipamento de troca térmica
1A Aparelhos com troca térmica
1B Outros grandes equipamentos domésticos
2 Pequenos aparelhos domésticos 2 Telas, monitores e equipamentos com
telas de superfície superior a 100 cm²
3 Equipamento de TI e 3 Lâmpadas
telecomunicações
3A Telas, monitores e equipamentos, incluindo telas
com uma área superior a 100 cm²,
3B Outros equipamentos de informática e
telecomunicações
4 Material de público grande 4 Grandes Equipamentos
4A Telas, monitores e equipamentos, incluindo telas
com uma área superior a 100 cm²,
4B Outros materiais de público grande
5 Equipamentos de iluminação 5 Pequenos equipamentos
6 Ferramentas elétricas e eletrônicas 6 Pequenos equipamentos de informática
e telecomunicação
7 Brinquedos, equipamentos de lazer e esporte 7 Paineis Fotovoltaicos
8 Dispositivos médicos
9 Instrumentos de monitoramento e controle
10 Distribuidoras automáticas
11 Paineis Fotovoltaicos
Fonte: (DEPROUW, 2017).
As novas categorias estão mais próximas durante os fluxos de coleta, ou seja,
correspondem à sua similaridade na coleta e no tratamento (DEPROUW, 2017), o que facilita
o processo. O produtor de um EEE, de acordo com o artigo R543-174 do Código Ambiental/do
Meio Ambiente, é a entidade que coloca este equipamento no mercado francês. Essa
definição leva à distinção de cinco tipos de produtores:
48
Tabela 9 - Os 5 tipos de produtores de REEEs considerados na legislação francesa.

OS 5 TIPOS DE PRODUTORES
FABRICANTE fabrica na França e vende sob sua marca
IMPORTADOR Importa de um país fora da União Europeia
INTRODUTOR Importa de um país da União Europeia
REVENDEDOR SOBRE SUA MARCA Distribui somente sob sua própria marca
VENDEDOR À DISTÂNCIA Vende remotamente do exterior
Fonte: (DEPROUW, 2017)
O Código Ambiental francês impõe as seguintes obrigações ao distribuidor de
Aparelhos Eletroeletrônicos Domésticos:
• Ele é obrigado a sistematicamente e visivelmente oferecer o retorno gratuito de
um dispositivo usado na compra de um novo produto do mesmo tipo (obrigação
de "aquisição de um por um") no local de venda do aparelho, ou no local de
entrega
• Com uma área superior a 400 m² dedicada à vendas de EEE, ele deve retomar
gratuitamente os equipamentos que possuem todas as dimensões inferiores a 25
cm, sem obrigação de compra (o chamado “um por zero”)
• Deve informar os compradores sobre i. a obrigação de não eliminar Resíduos
Eletroeletrônicos junto com os resíduos domésticos, ii. os sistemas de coleta à sua
disposição e iii. os efeitos potenciais das substâncias perigosas presentes nos
EEE sobre o ambiente e sobre a saúde humana.

De acordo com o decreto 2016-288 de 10 de março de 2016, um operador de gestão


de resíduos pode manusear resíduos de EEE somente se contratualizado com uma Eco-
organização/Eco-organismo aprovada(o), com um produtor tendo criado um sistema
individual ou com um operador de tratamento em contrato com um Eco-organismo ou um
sistema individual (DEPROUW, 2017).
Os produtores de eletrodomésticos, assim como os distribuidores, são obrigados a
informar os compradores sobre o custo de descarte de REEE, indicando, na nota fiscal de
venda, o valor da contribuição ecológica (também conhecida como eco-participação, ou eco-
taxa) recebida com a venda. Esta quantia varia de acordo com o equipamento em questão e
a Eco-organização à qual o produtor pertence. Desde julho de 2010, a eco-participação paga
ao ecossistema é modulada de acordo com critérios de Ecodesign. Isso é aumentado se os
produtos não atenderem a certos critérios relacionados à vida útil do produto, reciclabilidade

49
ou presença de componentes poluentes. Os produtores de EEE, ou Eco-organismos agindo
em seu nome, devem declarar anualmente no Registro, mantido pela ADEME11:
• as quantidades de EEE colocados no mercado nacional,
• as quantidades de REEE coletados na França e depois tratados, na França ou no exterior,
por local de tratamento, assim como as quantidades de certos componentes ou
substâncias específicas originadas no tratamento desses resíduos. (DEPROUW, 2017)
Os produtores de eletrodomésticos (ou produtos domésticos similares) têm duas
possibilidades de organização para cumprir o decreto:
• Colocar em prática e obter aprovação para um sistema individual de coleta e
tratamento (atualmente nenhum sistema individual está aprovado);
• Aderir a um Eco-organismo/Eco-organização aprovado para a coleta e tratamento de
equipamentos domésticos (que trata de maneira coletiva os resíduos de múltiplos produtores)
(DEPROUW, 2017)
A partir de 1° de janeiro de 2017, 4 Eco-organismos estavam oficialmente autorizados
a realizar a coleta e tratamento dos REEEs. Portanto as categorias sob responsabilidade de
cada Eco-organismo são:
• Categorias 1,2,3,4,6,7 e 10: Ecologic
• Categorias 1,2,6,9 e 10: Eco-systèmes
• Categorias 5,6,8 e 9: Récyclum
• Categoria 11: PV Cycle
Os REEEs são atualmente coleados dos seguintes modos:

Figura 8 - Organização dos fluxos físicos de REEEs na França (DEPROUW, 2017).

11ADEME: Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Énergie (Agência do Meio


Ambiente e de Gestão Energética)

50
• Coletividades locais que instalaram a coleta independente (déchèterie12, coleta de
proximidade) e assinaram um contrato com a OCAD3E13 para beneficiar de uma
indenização pelos custos dessa coleta. No final de 2016, 65,5 milhões de habitantes
estavam servidos por uma coleta seletiva de REEE, em particular através de mais de
4800 centros de eliminação de resíduos (déchèterie);
• Distribuidores (na recuperação "um por um" ou "um por zero" na loja ou possivelmente
na entrega: um equipamento usado retirado para uma compra do mesmo tipo ou coleta
sem compra para equipamentos pequenos). No final de 2016, quase 22.500 pontos de
coleta do tipo "distribuidores" poderiam receber REEEs e mais de 16.700 lâmpadas;
• Atores da economia social e solidária responsáveis pela reemprego: associações,
empresas de integração/reinserção, etc. (cerca de 300 pontos de coleta no final de 2016).
• Novos canais de coleta desenvolvidos pelas Eco-organizações (empresas, atores da
reciclagem etc) (DEPROUW, 2017)
O fluxo físico dos REEEs obedece, então, a sequência da Figura 8.
Já o esquema da Figura 9 mostra um resumo do fluxo de REEE resultante de todas
as interações descritas, este fluxo é gerido por cada Eco-organismo para cada tipo de resíduo
a ele atribuído.
Os Eco-organismos dos REEEs também colaboram igualmente entre si,
particularmente no contexto das ações de comunicação. Os Eco-organismos desempenham

Figura 9 - Esquema do ciclo dos REEEs.


Fonte: (DEPROUW, 2017)

12 Centro de eliminação de resíduos. Dechets = resíduos, déchèterie = “residuaria”, local onde

se depositam alguns resíduos


13 OCAD3E: l’Organisme Coordonnateur de la filière DEEE (D3E): Organismo coordenador de

REEE
51
um papel central na organização dos fluxos financeiros do setor dos REEEs domésticos e
similares. Os domicílios ou profissionais que adquirem equipamentos domésticos também
estão envolvidos no financiamento do setor por meio da ecoparticipação (ou contribuição
visível), paga no momento da compra do equipamento. Esta contribuição foi posta em vigor
para permitir o tratamento de equipamentos colocados no mercado antes de 13 de agosto de
2005, e pelos quais os produtores não são responsáveis. No caso de equipamento
profissional colocado no mercado a partir de 13/08/2005 ou mais velhos “reiniciados” com
alguma substituição, os produtores são responsáveis pelo seu fim de vida e têm desde agosto
2014 duas possibilidades de procedimento: (i) Estabelecer um sistema individual de coleta e
tratamento (sem a necessidade de aprovação, ao contrário do setor doméstico); (ii) Aderir a
um Eco-organismo
Em 2006, os Eco-oganismos fundaram o OCAD3E, um órgão de coordenação
encarregado de gerenciar as relações entre as Eco-organizações e as autoridades locais,
encarregadas de coletar REEE. Para os REEEs colocados no mercado antes da entrada em
vigor da responsabilidade dos produtores, os usuários permanecem responsáveis pela gestão
dos seus REEE. Portanto, os produtores devem recolher gratuitamente os REEEs no sistema
de compra 1 por 1 (consumidor compra um novo produto e pode retornar o velho para o
produtor). E então, os produtores financiam a gestão e o tratamento dos REEEs recuperados.
Existem cinco tipos de tratamento REEE listados abaixo, em ordem de prioridade
definida pela regulamentação:
Tabela 10 - Tipos e hierarquia de tratamentos de REEEs.
TÍTULO TIPO DE TRATAMENTO
Preparação para reutilização reutilização do equipamento inteiro
Reutilização de peças reutilização de peças ou subconjuntos do equipamento
Reciclagem de materiais reciclagem da matéria
Valorização energética incineração com recuperação de energia
Eliminação eliminação de resíduos sem recuperação (aterro, incineração, sem
recuperação de energia)
Fonte: (DEPROUW, 2017)
Após a chegada a um centro de tratamento, o REEE passa por operações diferentes.
Estas etapas variam em dependendo dos fluxos a serem processados e dos processos de
reciclagem implementados pelos operadores. O tratamento geralmente consiste em seis
etapas principais:
- desmantelamento (separação de diferentes componentes) e despoluição (extração de
substâncias poluente)
- trituração em pequenos pedaços;
- separação eletromagnética de elementos ferrosos através de ímãs;

52
- uma classificação óptica que separa as placas eletrônicas, que são subseqüentemente
avaliados por meio de outro processo de reciclagem para recuperar os metais estratégicos
contidos nessas frações;
- separação dos elementos de metais não ferrosos (incluindo o cobre) por meio de correntes
de Foucault;
- separação de plásticos por flotação ou triagem óptica (outros resíduos, como papel ficam no
fundo do tanque, enquanto o plástico permanece na superfície).

Lâmpadas:
As lâmpadas são trituradas para recuperar os diferentes materiais, o que permite
reciclar mais de 90% do seu peso. Elas consistem principalmente em vidro (88%), que é
reciclado para fazer novas lâmpadas. Os metais, que representam 5% do peso das lâmpadas,
são reinjetados na indústria para fabricar novos produtos. O pó fluorescente, que contem entre
3 e 30% de ELEMENTOS terras raras, dependendo das lâmpadas, são enviados para
reciclagem em outro centro de tratamento. O mercúrio, presente em quantidades muito
pequenas, é neutralizado. Resíduos (plásticos, etc.) são incinerados com recuperação de
energia.

GEM froid14:
Resíduos GEM frios incluem equipamentos de refrigeração (geladeira, freezer) e
condicionadores/climatizadores de ar. Contem fluidos refrigerantes poluentes (CFC, HCFC,
HFC, HC), que exigem um tratamento específico. Os GEMs frios são compostos por quase
60% de metais, mas também plásticos (20%), espumas de poliuretanos (13%) e outros
resíduos (7%), incluindo componentes que requerem extração específica como gases
refrigerantes (em circuitos e espumas de isolamento), óleo de compressor, condensadores no
PCB e interruptores de mercúrio. O tratamento com GEM a frio é realizado em duas fases:
- Fase 1: Cabos de energia externos, elementos de madeira e peças de vidro
(prateleiras) são removidos manualmente. Os condensadores são despoluídos, assim
como os como possíveis interruptores de mercúrio. Gases refrigerantes e o óleo contidos nos
compressores são sugados de forma semi-automática usando um aparato específico. O
compressor limpo é então desmontado antes da fase de moagem confinada.
- Fase 2: Carcaças do GEM F cujas espumas são isoladas por gases refrigerantes do
tipo CFC ou Pentano são tratados por um britador confinado (atmosfera neutra criada pela

14 GEM Froid: gros électro-ménager froid (Réfrigérateur - Congélateur - Climatiseur): Grandes

eletrodomésticos Frios (Refrigerador, congelador, climatizador);


GEM Hors Froid: gros électro-ménager hors froid; (cuisinière, lave-vaisselle, lave linge):
Grandes eletrodomésticos não-Frios (Fogão, máquina de lavar louça, máquina de lavar roupa)
53
adição de nitrogênio para evitar o risco de explosão) para recuperar os gases. Os diferentes
materiais são, em seguida, separados (sucata, plástico, cobre, alumínio, espumas, água, etc.)
e levados para reciclagem específica. No final do processo, os musgos extraídos devem
conter menos de 0,2% de CFC residual.

Tratamento de telas:
O fluxo de telas inclui telas de TV e telas de computador. As diferentes tecnologias de
tela requerem tratamento adaptado de acordo com os seus componentes. As telas atualmente
coletadas, no entanto, são na sua maioria telas CRT ou LCD, não representativas das vendas
de telas atuais. Novos métodos de processamento estão sendo desenvolvidos para antecipar
a futura coleta dessas telas. O tratamento das telas de TRC começa com o desmantelamento
das televisões, para separar o tubo de raios catódicos de outros componentes (casco, cabos,
cartões eletrônicos, pistola de elétrons, etc.). Este passo pode ser manual ou automatizado.
Por outro lado, o tratamento do tubo apresenta altos riscos de exposição às diferentes
partículas tóxicas, sendo, portanto, feito automaticamente.
O tratamento do tubo de raios catódicos (parte interna da tela) visa recuperar os dois
tipos de vidros que o compõem: o vidro de laje que representa aproximadamente 2/3 do peso
do tubo e que contém bário; e o copo de cone que representa 1/3 do peso do tubo e que
contém 20% de chumbo (ver diagrama ao lado).

Placas eletrônicas:
As placas eletrônicas são amplamente usadas em computadores, telemóveis,
impressoras ou até calculadoras e representam um depósito economicamente interessante.
Uma placa eletrônica é feita de plástico (frequentemente contendo trióxido de
antimónio, retardantes de chama), metais preciosos e raros, assim como fibras de vidro para
suporte de resina epóxi. Uma tonelada de placas eletrônicas pode armazenar até 200g de
ouro, enquanto uma mina produz 5g por tonelada. A valorização do material dessas placas é,
portanto, interessante para recuperar os metais preciosos que os constituem.
Várias tecnologias de tratamento existem atualmente. Uma vez que as placas
eletrônicas são extraídas dos REEE que as contêm e esmagadas, a maioria delas é hoje
processada por pirometalurgia. Somente uma dezena de empresas de fundição ao redor do
mundo pode processar placas assim (ex: Umicore). O material moído é introduzido em fornos
de alta capacidade, misturado com resíduos e minérios metalúrgicos. Este processo permite
uma taxa de recuperação de metais preciosos superior a 95% (cobre, ouro, prata, paládio).
No entanto, uma fração de resíduos finais persiste no final do processo. Além disso, a fração
de polímero é queimada e a presença de compostos bromados resulta na liberação de furanos

54
e dioxinas, que devem ser filtrados (usando filtros de carvão ativado) para evitar qualquer
liberação na atmosfera.
O tratamento dos paineis fotovoltaicos não será mencionado aqui pois não é
representativo da matriz energética brasileira, portanto este tipo de resíduo ainda não é uma
realidade do país.

5.1.2. ESTATÍSTICAS DA GERAÇÃO DE REEEs

758 milhões de equipamentos foram colocados no mercado francês em 2016, isso


significou 1,73 milhão de toneladas de EEEs, 172 vezes o peso da torre Eiffel ou mais de 33

Figura 10 - Objetivos mínimos de reutilização e reciclagem e valorização para cada categoria de REEE na
França. Fonte: (DEPROUW, 2017).

vezes o peso do Titanic (DEPROUW, 2017). Desses equipamentos, 664 milhões eram
eletrodomésticos (o que totaliza 9,6 aparelhos por habitante).
Em 2016, os produtores e as Eco-organizações relataram 497 locais de tratamento e
1020 estações de tratamento (962 relatados por Eco-organismos domésticos, e 345 para o
profissional, sendo que alguns são mistos), incluindo 200 instalações que realizam somente

Tabela 11 - Número de instalações e quantidade de REEEs tratados em 2016.

Instalações praticando a Todas as instalações


preparação para o reuso

Número de instalações 270 1020

Toneladas tratadas 6701 683 829

Fonte: (DEPROUW, 2017).

55
a preparação para reutilização como por exemplo a Emmaüs e Envie. Isso corresponde a
uma média de 2,4 fluxos tratados por local. A tabela 7 mostra o peso total processado e as
toneladas de equipamentos preparados para reutilização, doméstica e profissional.
O peso unitário médio em todas as categorias é estável (2,3 kg em 2016 e 2015).
Porém as categorias de equipamentos mais massivamente comercializadas em 2016 tiveram
uma queda de peso unitário:
• Categoria 3 (equipamento informático e de telecomunicações), que representa 23,2%
de todas as comercializações no mercado em número de unidades, registrou queda
de 2,8% do peso médio unitário;

• Categoria 5 (equipamentos de iluminação), que representa 22,4% do mercado


de unidades, teve uma queda do peso unitário médio de 2,8%.

Esta tendência é parcialmente compensada por aumentos de peso unitário para


outras categorias de equipamentos - em especial as categorias 2 e 9, que representaram
respectivamente 15,8% e 7,6% das comercializações do mercado em número de unidades,
e registraram um aumento no seu peso unitário de 1,2% e 28,3% (DEPROUW, 2017).

Figura 11 - Repartição do número de equipamentos colocados no mercado, por categoria e por ano
Fonte: (DEPROUW, 2017).

Os dados do registro podem mudar de ano para ano porque, devido a distorções ou
atrasos, os produtores têm a opção de declarar ou modificar suas declarações
retrospectivamente. O estudo anual do Instituto GfK sobre o mercado de bens técnicos
(televisões, câmeras, telecomunicações, áudio, computador, dispositivos conectados,
correspondendo principalmente às categorias 3 e 4), mostra um aumento de 2% em relação
a 2015 (15,5 bilhões de euros de despesas em 2016). O mercado de eletrodomésticos na
França mostra atualmente um aumento de 7,2% em relação ao 1° trimestre de 2016
(DEPROUW, 2017).

56
Já em relação à categoria 5, sua importância diminui consideravelmente devido ao
baixo peso unitário das lâmpadas em comparação com outros equipamentos. De acordo com
a Eco-organização Récylum, a colocação no mercado para esta categoria atingiu um limite
máximo e deve parar de aumentar, por causa da chegada em massa de lâmpadas de LED
com uma maior vida útil mais do que lâmpadas fluorescentes compactas (DEPROUW, 2017).
No quadro da Figura 11, é possível observar o número de equipamentos colocados
no mercado de cada categoria e ao longo dos anos:
Com isso, observamos que:
• A categoria 1 (equipamentos de troca térmica e grandes eletrodomésticos) é a mais
produzida, e portanto é a mais vendida também, além de ser a única que apresentou
um crescimento significativo entre 2010 e 2016
• A emergência da categoria 11 (painéis fotovoltaicos) aconteceu em 2015
• As categorias 3 e 4 apresentaram um declínio ao longo dos anos; que são
representados por equipamentos de informática e telecomunicação e grandes
equipamentos
Tabela 12- Instalações e locais para tratamento de REEE por categoria em 2016 (excluindo reutilização)

Fonte: (DEPROUW, 2017).

Apesar do número de EEEs comercializados ter se mantido estável ao longo dos


anos, observa-se uma diminuição no peso médio unitário desses aparelhos. Isso acontece
com a tendência de miniaturização de bens de consumo e dispositivos médicos em geral, o
surgimento das novas modalidades de segurança e monitoramento que demandam
equipamentos cada vez menores e mais discretos, e a demanda por materiais mais baratos
e leves. Essas mesmas tendências são responsáveis, então, pela rápida troca dos produtos
(que está ligada à obsolescência programada).
Podemos observar também, na tabela 8, o número de instalações na França para
tratamento de REEEs de cada categoria. As três primeiras categorias (com maior número de
instalações) são: 6 (ferramentas/utilidades domésticas elétricas e eletrônicas), 3B

57
(equipamentos de informática e telecomunicação, excluindo telas), e 9 (instrumentos de
monitoramento e controle).
Um outro objeto focal muito importante na política de Resíduos Eletroeletrônicos
francesa é o Ecodesign. A Diretiva Europeia 2012/19/UE incentiva a “cooperação entre
produtores e recicladores e medidas que promovem a concepção e produção dos EEEs, em
especial, com vista a facilitar a reutilização, desmantelamento, bem como a
recuperação/valorização de REEEs e seus componentes e materiais" (Artigo 4). Na França,
A Eco-systèmes e a Récylum, com o apoio da ADEME, lançaram, em 2015, um projeto para
criar um inventário do ciclo de vida do setor de REEE, ou seja, um banco de dados ambiental
que permite aos produtores de equipamentos avaliar os impactos ambientais de seus
produtos em fim da vida como parte da abordagem do Ecodesign. Esta ferramenta visa
facilitar a otimização de recursos e a consideração do melhor fim de vida para estes produtos,
já que um mesmo material utilizado num frigorífico ou em uma tela não terá o mesmo fim de
vida e, portanto, precisam ser analisados de forma diferente.
Esta ferramenta, única na Europa, deve ajudar os produtores a evoluir
seus produtos para economizar recursos e limitar o uso de substâncias perigosas. A
base de dados será atualizada regularmente, em particular, nos REEEs profissionais.
Eco-organismos domésticos criaram um site para educar os produtores sobre o
Ecodesign e fornecer informações sobre o trabalho de acordo com a finalidade pretendida
(aumentar a reutilização ou desmantelamento) ou os materiais utilizados (em especial, as
regras relativas às misturas de materiais que podem reduzir a eficiência da reciclagem) e
ferramentas existentes para Ecodesign: http://eco3e.eu
A Eco-systèmes desenvolveu uma ferramenta de apoio ao design ecológico para
todos os seus produtores membros: "REEECYC'LAB" permite projetar novos produtos. Ao
informar características essenciais de seus equipamentos na interface de simulação, os
produtores têm também acesso à uma avaliação completa dos seus produtos:
https://reeecyclab.eco-systemes.com/.
A efervescência atual a favor da Economia Circular, que visa otimizar o uso dos
recursos naturais e garantir que o desperdício de alguns seja o recurso de outros, é benéfico
para incentivar o Ecodesign dos REEEs (DEPROUW, 2017). Por este motivo, as estatísticas
sobre a origem dos produtos declarados são importantes. A maior parte dos produtos
colocados no mercado francês são importados (43%) (DEPROUW, 2017). Isso invalida o
esforço do Ecodesign pois os produtos importados já vêm como estão, e por isso há pouca
influência sobre esses equipamentos (que infelizmente são a maioria, e sabemos que vem
de fora da União Europeia, pois estão classificados como importadores e não introdutores –
tabela 5).

58
Em 2016, o montante total das contribuições recebidas pelos Eco-organismos pelos
EEE domésticos colocados no mercado aumentou para 189 milhões de euros (DEPROUW,
2017). Sendo que o Eco-organismo Eco-systèmes foi responsável por 74,8% desses
processamentos de REEEs.
Alguns Eco-organismos puderam, assim, concluir parcerias com algumas profissões
integralmente, levando a aumentos acentuados no gênero dos REEEs profissionais. Por
exemplo, em 2014, a Ecologic reuniu todo o setor de cozinha profissional. Acordos de Eco-
organismos em outros setores profissionais (pequenos extintores de incêndio no caso da
Récylum e “resíduos de elementos de mobiliário” (DEA) das cozinhas profissionais da
Ecologic) permitem sinergias que facilitam a conscientização dos produtores envolvidos pelos
dois setores (DEPROUW, 2017).
No caso dos equipamentos profissionais, diferente dos eletrodomésticos, o tipo de
produtor mais presente é o fabricante (42%), e não o importador (DEPROUW, 2017). Em
2016, o montante total das contribuições recebidas pelos Eco-organismos pelos EEEs
profissionais colocados no mercado chegou a 10,8 milhões de euros. Os Eco-organismos
notam uma diminuição na qualidade do equipamento recolhido para ser tratado, devido à
redução de utilização de peças ferrosas e não ferrosas em favor do plástico. Isso levanta
novos problemas já que o plástico é mais difícil de reciclar e contém substâncias que
requerem tratamento especialmente devido à sua toxicidade (retardantes de chama
bromados). O nível de tratamento destes plásticos é, no entanto, razoável na França, e
algumas medidas estão sendo tomadas para limitar a sua colocação no mercado (Ecodesign,
Ecomodulação).
Em 2016, graças a estes diferentes fluxos de REEE recolhidos, a taxa de coleta foi de
45,2%, permitindo assim atingir o objetivo fixado pela directiva de 45%. A coleta de telas e
lâmpadas foi retomada em 2016 com um aumento de 19,2% e 2,7%, respectivamente.
Podemos atribuir o aumento na coleta de telas à forte renovação de TVs, desde a extinção
do sinal MPEG2 em abril de 2016, observado nos dados de comercialização, o que leva,
entre outras coisas, à remoção de TVs CRT mais pesadas, incapazes de funcionar com este
novo dispositivo (DEPROUW, 2017). Os Eco-organismos também estabelecem ações nos
centros de disposição de resíduos (Déchèteries) para evitar o roubo: rastreamento eletrônico
ou papel do equipamento recolhido pelos distribuidores durante as devoluções de entrega,
marcação dos equipamentos coletados nos centros de disposição de resíduos, recipientes
seguros (caçambas/banheiras), aumento das freqüências de coleta, apoio financeiro às
comunidades para o estabelecimento de soluções contra roubos e furtos (DEPROUW, 2017).
Em 2016, com 15% dos resíduos coletados de canais de coleta não atendidos pelo serviço
público de gestão de resíduos, a aquisição de distribuidores ou de resíduos provindos de

59
equipamentos não reutilizados pelos atores da ESS15 trouxe o atendimento do objetivo fixado
de 15% pela lei. 32.153 toneladas adicionais foram coletadas em relação a 2015. A meta é
gradualmente aumentada até 30% em 2019 (DEPROUW, 2017). A coleta é, então, algo a ser
sempre desenvolvido. E isto é visto nas ações recentes, por exemplo: a Ecologic desenvolve
a coleta em empresas que possuem REEE, oferecendo-lhes uma solução de coleta local nas
empresas. Os contêineres são disponibilizados aos funcionários, que podem depositar seus
pequenos REEEs. Os REEE são coletados periodicamente para processamento. A Récylum
realizou várias ações em 2016 que começam a produzir frutos, incluindo eventos com
particulares (em Paris, Marselha, Toulouse e Lyon), uma campanha de comunicação
televisiva e programas de entretenimento nos pontos de coleta. (DEPROUW, 2017). A coleta
é dificultada pela retenção dos equipamentos utilizados pelos indivíduos, bem como pelo
roubo de telefones nas caixas de coleta, apesar da introdução de dispositivos antifurto
reforçados. Um dos eixos de melhoria do desempenho da coleta é, portanto, informar o
consumidor sobre a triagem, na intenção de evitar esse estoque de aparelhos em casa. De
fato, 41% dos usuários mantêm seus dispositivos antigos até uma nova compra para ter uma
solução de substituição em caso de falha. Outros o retêm por seu valor sentimental e pelos
dados nele contidos (fotos, por exemplo). Dois outros grandes obstáculos ao gesto de
escolha são a preocupação com a eliminação sistemática de dados (embora a Eco-Systèmes
garanta o apagamento de dados como parte de sua premissa de reutilização) e o tamanho
pequeno de equipamento que leva a sua conservação sem desconforto para o indivíduo
comparado a outros aparelhos mais volumosos. Distribuidores são obrigados a informar os
compradores sobre a obrigação de não dispor equipamentos misturados aos resíduos
domésticos; bem como, a indicar-lhes os dispositivos de coleta disponíveis. A comunicação
de Eco-organismos geralmente diz respeito ao REEE como um todo, e não é específico para
telefones móveis apesar da existência de uma coleta dedicada para telefones. O Senado
propõe o lançamento de uma campanha nacional dedicada à triagem de telefones móveis
"esvazie as suas gavetas para o emprego e para o planeta" e considera examinar a
conveniência de aumentar a porcentagem do orçamento dos Eco-organismos dedicado à
comunicação sobre triagem e valorização de telefones celulares (DEPROUW, 2017).

A coleta nas Déchèteries (correspondente às coletividades em alguns dados),


aumentou, em 14,0% em comparação com 2015, e continua a ser a fonte da maioria dos
REEE recolhidos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Récylum em 2015, 86% dos
franceses dizem ter identificado a coleção mais próxima de casa contra apenas 50% em 2010
(DEPROUW, 2017)

15 Economia Social e solidária


60
5.1.3 RESPONSABILIDADE EXTENDIDA DO PRODUTOR

Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) é um conceito introduzido há quase


30 anos em um relatório do Ministério do Meio Ambiente da Suécia (AGORIA, 2017). O
princípio da Responsabilidade Estendida do Produtor visa incentivar a concepção e a
produção de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos de forma ambientalmente sustentáveis,
facilitando sua reutilização e desmontagem para a reciclagem, promovendo a eliminação ou
redução da quantidade de substâncias perigosas, buscando um circuito fechado de retorno
de materiais à cadeia produtiva e fornecendo informações fundamentais à melhoria dos
produtos (RODRIGUES, 2007 apud FERREIRA, 2014).
O conceito de Responsabilidade Estendida do Produtor - REP (EPR – Extended
Producer Responsability), foi desenvolvido inicialmente em 1990 na Suécia (LINDHQVIST,
2000), a partir da análise de programas de tratamento de resíduos, e de instrumentos de
política pública para produção mais limpa. O principal objetivo da REP seria influir sobre o
produtor de forma que este desenvolva produtos menos ambientalmente impactantes em
todas as fases do ciclo de vida do produto, incluindo o fim da vida útil. Com isso a REP
pretende tirar o ônus da gestão do fim de vida dos contribuintes e das autoridades locais de
gestão de resíduos levando-a para o produtor e/ou, indiretamente, para o consumidor, de
acordo com o conceito do poluidor pagador. Dessa forma, o custo do tratamento da gestão
do resíduo é internalizado na empresa produtora ou importadora, servindo como um estímulo
direto para o desenvolvimento de produtos e processos inovativos(ARAUJO, 2013).

5.1.4. ESTUDO DE CASO E ENTREVISTAS (EMMAÜS)

Vannes é uma cidade localizada na região da Bretanha, no Departamento Morbihan.


Na região da Bretanha. No último censo realizado foram contabilizados 52.983 habitantes
(GRALON, 2018). Em Vannes, as déchèteries chegam a 80% de reciclagem dos materiais
descartados, o que representa um alto índice de recuperação. Além dos materiais
depositados rotineiramente pela população, a cidade também cumpre a legislação
concernente aos REEEs. Dessa forma, também possui os pontos de coleta na Emmaüs e na
Envie, além de outros pontos conveniados que recebem o material.
“O Movimento Emmaüs desenvolve soluções originais para lutar contra a
exclusão...Na sequência das lutas usadas pelo Padre Pierre, o seu fundador”. Entre 1959 e
1960, o padre Pierre conduziu uma série de conferências em todo o mundo. A fim de ligar
todos os grupos Emmaüs ao redor do mundo, a Emmaüs International foi criada em 1971 em
uma assembleia constituinte em Montreal. Hoje, 337 grupos em 37 países ao redor do mundo
trabalham com e pelos mais pobres, para combater as causas da exclusão em uma ampla
variedade de contextos econômicos e políticos. (EMMAÜS, 2018). O Movimento Emmaüs
61
funciona sem subsídio e somente pela recuperação, coleta, recebimento de objetos. Essa
autonomia financeira permite que sejam inovadores e livres em suas ações. A pessoa
acolhida na comunidade permanece o tempo que desejar, com a única obrigação de respeitar
as regras da vida comum. A comunidade tenta promover o sentimento de pertencimento e de
se sentir útil novamente, dando sentido à vida dessas pessoas uma vez que elas passam a
servir os necessitados, graças às diversas ações solidárias realizadas.
Desde 2010, eles se beneficiaram do status OACAS16 (Organização de acolhimento
comunitário e atividades solidárias), que formalmente reconhece o status de trabalhador
solidário para os abrigados e garante o acesso a direitos de saúde (cobertura universal
complementar CMU-C) e à aposentadoria. Este acordo entre o Estado e a Emmaüs France
prevê a promoção dos direitos à formação destes trabalhadores e também sua inserção
profissional (EMMAÜS, 2018). Em 2014, o movimento envolvia um total de 18.060 pessoas,
dentre voluntários, abrigados e 5060 funcionários, dos quais 1460 eram assalariados da
reinserção, proposta pela organização (EMMAÜS, 2014). Além disso, neste mesmo ano
foram totalizadas 285 mil toneladas de mercadorias coletadas/recuperadas, chegando, com
as vendas destas mercadorias recuperadas e restauradas/consertadas, à cifra de 485
milhões de euros em recursos financeiros (EMMAÜS, 2014).
Uma flexibilidade contratual é eficaz desde 2014, sendo agora possível oferecer
contratos de integração de até dois anos e trabalhar menos de 20 horas ou até 35 horas por
semana (EMMAÜS, 2014). O movimento contribuiu largamente para a criação de atividades
proambientais: depois de têxteis, embalagens e equipamentos eletrônicos, ele participou
ativamente em 2013 da criação e lançamento do setor de móveis (EMMAÜS, 2014).
Em 2013, a Emmaüs France também foi convidada a participar da 2ª Conferência

Figura 12 - Estrutura mínima de uma casa Emmaüs.


Fonte: Emmaüs Rennes. Disponível em: https://Emmaüs-rennes.fr/index.php/les-sites/rennes. Acesso em 1 dez. 2018.

Ambiental, focada na questão da Economia Circular. Nesta ocasião, a Emmaüs reafirma que
a Economia Circular e Solidária não se limita à questão da reciclagem. Com isso, o carácter
social da Economia Circular deve ser tido em conta: ela permite o desenvolvimento de

16 Organisme d’accueil communautaire et d’activités solidaires


62
atividades de prevenção dos resíduos, bem como a criação de postos de atividade no respeito
do princípio da proximidade, e, portanto, sem deslocamentos (EMMAÜS, 2014).
Em uma casa Emmaüs convencional, existem ao menos duas repartições: a sala de
vendas e a reciclaria (Figura 12). Na sala de vendas, estão expostos os produtos, dentre os
quais há sapatos, roupas, guarda-chuvas, malas, móveis, livros, CD’s, DVD’s, acessórios
diversos, utilidades domésticas em geral etc. E a reciclaria, que é uma pequena seção
dedicada aos eletrodomésticos e eletrônicos consertados à venda (ANEXO D). Na reciclaria
há alguns funcionários, responsáveis pelo conserto dos equipamentos que são levados até
lá. Muitas vezes, os habitantes contratam este serviço alternativo para tentar reparar seus
produtos, porém, se o preço do conserto não vale o retorno, acabam doando estes
equipamentos para a casa e, uma vez consertados, são vendidos para o público habitual.
Um objetivo alcançado com as coletas solidárias de bairro (Figura 15): um serviço
local para os residentes e uma inovação real em termos de métodos de coleta para Emmaüs
e a Eco-systèmes, estas operações, que começaram em 2013, instalaram-se em Paris em
2014 e continuaram a crescer em 2015. Uma van passa e recolhe pequenos aparelhos
elétricos e eletrônicos (mas também têxteis, livros, móveis etc). Para garantir essa coleta,
várias estruturas, comunidades e projetos de integração - são mobilizadas todos os sábados
de manhã para receber a população doadora destes materiais (EMMAÜS, 2014).

Figura 13 - Coleta solidária em benefício da Emmaüs - van que recolhe materiais a serem doados pela população
Fonte: EMMAÜS, 2014.

Na Figura 13, constam as diferentes estruturas providas pela Emmaüs em toda a


França. A Emmaüs é uma estrutura que provê acolhimento, moradia e reinserção para todas
as pessoas. Por esse motivo, ela é uma solução cabível para o Brasil onde, infelizmente, uma
grande parcela da população reside nas ruas e isso inclui os catadores, tão importantes
agentes ambientais para o fluxo de resíduos do país.

63
Na cidade de Vannes foram entrevistados Jean François, responsável pela
Déchèterie; Ludovic, técnico da Emmaüs; Erwan Uguen, funcionário da prefeitura,
responsável pelo serviço ambiental e gestão de resíduos da aglomeração de Vannes.

i. Jean François - Déchèterie


Jean François explica que há containers para cada tipo de resíduo na Déchèterie e
que a população pode livremente depositar os resíduos em seu respectivo espaço
apropriado. De tempo em tempo, o prestateur de cada tipo de resíduo vem buscar os resíduos
para sua destinação final (seja tratamento, reciclagem, reutilização etc).
Com isso, François expõe uma outra situação: para que o processo seja otimizado, é
necessário que os funcionários da Déchèterie estejam sempre orientando a população sobre
o conteúdo de cada contêiner, e reorganizando os resíduos inadequadamente descartados
(antes da prestadora vir busca-los), já que resíduos mal triados reduzem a qualidade do
tratamento oferecido pelo prestador também. Diante dessa situação, criou-se uma multa para
as Déchèteries que não estejam orientando corretamente a população e mantendo os
resíduos erroneamente depositados nos contêineres. E o que acontece, diversas vezes, é
que os prestadores chegam à Déchèterie e alegam que há resíduos a mais no contêiner
deles, aplicam uma multa e, com isso, recebem mais dinheiro.
No mais, a Déchèterie de Vannes é um ponto de coleta para os REEEs, óleos,
elementos químicos diversos, todos corretamente armazenados (ANEXO E). Os prestadores
de resíduos clássicos vêm à Déchèterie recuperar seus resíduos de uma a duas vezes na
semana e normalmente às segundas-feiras, já que a população costuma levar o dobro de
resíduos aos finais de semana. Já a Emmaüs, vem recolher os REEEs todos os dias.
François esclarece que, na verdade, essa deposição “gratuita” à qual a população tem
direito na Déchèterie, é financiada por um imposto de cerca de 30 euros por pessoa, mas
varia de comuna para comuna (que é a esfera administrativa responsável pela gestão de
resíduos).

ii. Ludovic – Emmaüs


Ludovic é o técnico da casa Emmaüs em Vannes, ele é responsável pelo conserto de
diversos aparelhos que chegam da Déchèterie através da Retrilog (que é, na verdade, uma
parte da Emmaüs). Estes resíduos chegam já separados em 4 categorias: Froid (com troca
térmica – geladeira etc), Hors-froid (sem troca térmica – máquina de lavar, forno etc),
eletrodomésticos e PAM (Petit Appareil Ménager – pequenos eletrodomésticos). Os
aparelhos que Ludovic não consegue recuperar para colocar à venda na sala da Emmaüs,
ele envia à cidade de Lorient, onde há um centro de desmantelamento e reciclagem; e

64
também uma espécie de aterro onde os produtos não-reaproveitados são descartados e
enterrados. Neste centro de desmantelamento em Lorient, os desmantelamentos são em
nível de matéria-prima, e então ela é revendida separadamente.
Esta valorização dos REEEs é feita pela Emmaüs há cerca de 10/15 anos. Ele diz que
no caso das geladeiras, elas são enviadas diretamente a Lorient para serem desmontadas e
o gás inflamável retirado do motor; é um dos produtos mais difíceis de serem reciclados.

iii. Erwan Uguen – Prefeitura – saneamento básico e ambiental


Erwan cuida da parte ambiental e de gestão de resíduos da aglomeração de Vannes.
Ele explica que a lei francesa impõe que cada comuna gerencie seus resíduos, sendo que as
34 comunas francesas gerem sinergicamente. A Déchèterie de Vannes recebe os REEEs, e
é um dos elos entre os consumidores e os produtores - que segundo o princípio da
Responsabilidade Extendida devem se responsabilizar pelos produtos colocados no mercado
-. Os produtores e revendedores são autorizados a deixar um contêiner na Déchèterie para
que os consumidores venham depositar REEEs nestes reservatórios.
Os consumidores que compram uma geladeira, por exemplo, não é responsabilidade
das comunas ou da coletividade gerir isto, e sim dos fabricantes e (re)vendedores. Para tanto,
os cidadãos pagam por isto; os fabricantes e (re)vendedores se associam para financiar isso
e aumentam um pouco o preço de venda dos produtos (embutindo a ecotaxa no preço final).
Então o cliente que compra um produto pode retornar diretamente ao fabricante, produtor ou
à loja (revendedor) e estes irão repassar os REEEs aos Eco-organismos a quem estão
afiliados. Os Eco-organismos possuem contratos com prestadores de serviços
especializados na reciclagem de certos produtos, então estes Eco-organismos redistribuem
estes REEEs para cada um dos prestadores.
Uguen ressalta que a ecotaxa financia uma parte deste processo mas não
inteiramente, e quem arca com estes custos são os próprios vendedores, produtores e
fabricantes. Por conta disso, os próprios produtores e fabricantes acabam fazendo esforços
sobre o Ecodesign, uma vez que, facilitar e baratear o processo de reciclagem é do interesse
deles, e caso contrário, os custos recaem sobre os mesmos.
A Emmaüs faz também essa coleta nos contêineres de REEEs da Déchèterie, se
autorizada pelos produtores e fabricantes responsáveis por aqueles contêiners, porém, a
Emmaüs não ganha nenhum incentivo fiscal nem econômico para fazê-lo, já que recebe
incentivos pelo cunho social de inserção pelo Estado. A fundação recolhe estes materiais, e
conserta para revenda (arrecadando fundos). Segundo Uguen, as taxas de reaproveitamento
de REEEs são: 80% são reciclados, 11% eliminações (deposição, enterro), 8% valorização
energética (principalmente incineração) e 1% reparação (conserto).

65
5.2 O FLUXO DE RESÍDUOS NO BRASIL

Este capítulo está organizado em quatro etapas:


I) Um panorama do contexto e legislação do país
II) Estatísticas da geração de REEEs
III) Conceito e funcionamento da Logística Reversa
IV) Estudo de caso: entrevista com Instituto GEA e Bispo Catador

5.2.1 CONTEXTO E LEGISLAÇÃO

Um dos maiores marcos legais do Brasil em direção à sustentabilidade dos Resíduos


vem através da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Esta foi instituída em 2010,
pela lei A Lei Federal n° 12.305, de 02 de agosto de 2010, e determina que fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletroeletrônicos estruturem e
implementem sistemas de Logística Reversa (BRASIL, 2010 apud OLIVEIRA, 2016).

Os municípios de pequeno porte, abaixo de 20 mil habitantes, possuem tratamento


específico na lei, sendo facultada a elaboração de planos simplificados de gestão integrada
de resíduos sólidos. Além disto, o Governo Federal estimula a criação de consórcios públicos,
como forma de tornar viável a gestão integrada de resíduos sólidos para esses municípios
(MMA, 2014). Em 2013, o Ministério do Meio Ambiente publicou um guia de Orientações para
elaboração de Plano Simplificado de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PSGIRS para
municípios com população inferior a 20 mil habitantes, disponível no link a seguir:
http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80115/Orientacoes-MMA_PSGIRS_rev_18-12-
13_sem_Logo.pdf. Neste plano, na página 17, é citado o artigo 33 da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, que menciona a obrigação da Logística Reversa para ‘[...] II. Pilhas e
baterias; V. Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e VI.
Produtos eletroeletrônicos e seus componentes” Com isso, fica manifesto (apesar do
subentendimento da hierarquia legislativa, onde leis de maior esfera administrativa devem
ser obedecidas pelas administrações menores, e uma vez a PNRS é Federal, todas as
divisões abaixo da Federação devem cumpri-la) que municípios pequenos, ainda que
considerados de baixo impacto, não estão isentos do encargo de implantação de Logística
Reversa para Equipamentos Eletroeletrônicos.

A Logística Reversa se desenvolveu e se tornou uma questão de sobrevivência e


estratégia em um mercado globalizado, onde os consumidores estão cada vez mais
exigentes, não somente em relação à qualidade e preço dos produtos e serviços, mas
também sobre todo seu processo produtivo e os impactos que causam ao meio ambiente
(AVILA, 2013).

66
Entre os principais objetivos da PNRS, destacam-se:
• Não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos,
bem como disposição final adequada dos rejeitos;
• Estímulos à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e
serviços (racionalização de recursos na produção);
• Aumento da reciclagem;
• Redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
• Inclusão social, geração de emprego e renda para catadores;
• Disposição final adequada dos rejeitos;
• Aquisições e contratações governamentais, reciclados e recicláveis, e bens,
serviços e obras com padrões ambientalmente sustentáveis.
(ARAUJO, 2013)
O volume de resíduos determina a factibilidade da coleta seletiva, da reciclagem, da
construção de aterros sanitários e, essencialmente, da operacionalização e manutenção do
sistema de gestão dos resíduos sólidos, incumbências que, não deve-se esquecer: são muito
caras para as administrações dos pequenos municípios (MMA, 2014).De acordo com os
artigos 61 e 62 do decreto 6.514/08, que regulamenta a lei de crimes ambientais, quem
causar poluição que possa resultar em danos à saúde humana ou ao meio ambiente,
incluindo a disposição inadequada de resíduos sólidos, estará sujeito à multa de R$ 5 mil a
R$ 50 milhões (MMA,2014). A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece como
condicionante para o acesso a recursos da União ou por ela controlados, a elaboração de
planos de gestão de resíduos sólidos. Então o município que optar por soluções consorciadas
para a gestão dos resíduos sólidos e/ou que implantar a coleta seletiva com a participação
de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis poderá ser priorizado. (MMA, 2014)
Com isso, a Tabela 13 mostra as principais mudanças observadas após a
implementação da PNRS no Brasil.

67
Tabela 13 - Mudanças principais para cada ator, anterior e posterior à implementação da PNRS do Brasil
ANTES DEPOIS
• Exploração por atravessadores e riscos à • Catadores reduzem riscos à saúde e aumentam renda em
saúde cooperativas
• Informalidade • Cooperativas são contratadas pelos municípios para coleta
CATADORES

• Problemas de qualidade e quantidade dos e reciclagem


materiais • Aumenta a quantidade e melhora a qualidade da matéria
• Falta de qualificação e visão de mercado prima reciclada
• Trabalhadores são treinados e capacitados para ampliar
produção
• Inexistência de lei nacional para nortear os • Marco legal estimulará ações empresariais
• Novos instrumentos financeiros impulsionarão a reciclagem
INICIATIVA

investimentos das empresas


PRIVADA

• Falta de incentivos financeiros • Mais produtos retornarão à indústria após o uso do


• Baixo retorno de produtos eletroeletrônicos consumidor
pós consumo • Reciclagem avançará e gerará mais negócios com impacto
• Desperdício econômico sem a reciclagem na geração de renda
• Não separação do lixo reciclável nas • Consumidor fará separação mais criteriosa nas residências
CONSUMIDOR

residências • Campanhas educativas mobilizarão moradores


• Falta de informação • Coleta seletiva aprimorada para recolher mais resíduos
• Falhas no atendimento da coleta municipal • Cidadão exercerá seus direitos juntos aos governantes
• Pouca reivindicação junto às autoridades

• Falta de prioridade para o lixo urbano • Municípios farão plano de metas sobre resíduos com
• Existência de lixões na maioria dos municípios participação dos catadores
PÚBLICO
PODER

• Resíduo orgânico sem aproveitamento • Os lixões precisam ser erradicados em 4 anos


• Coleta seletiva cara e ineficiente • Prefeituras passam a fazer compostagem
• É obrigatório controlar custos e medir a qualidade do
serviço

Fonte: Fonte: (CEMPRE, 2010)


A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não estabelece prazo para a
implantação dos sistemas de Logística Reversa. Logística Reversa são procedimentos que
visam regulamentar as atividades de coleta e retorno dos produtos descartados aos
fabricantes e importadores (por meio dos comerciantes e distribuidores) para a reintrodução
na cadeia produtiva ou sua destinação final ambientalmente adequada (MMA, 2014).

Há cinco cadeias de Logística Reversa sendo implantadas no Brasil, dentre elas:


c) Produtos Eletroeletrônicos e seus Resíduos – Foram apresentadas dez propostas,
já analisadas pelo MMA, e estão fase de negociação com os proponentes.
É acerca deste tópico (Logística Reversa) que tratará o capítulo 3.3
Uma das formas de categorizar os Equipamentos Eletroeletrônicos é separá-los por
linhas (dentro da variedade de produtos de uso doméstico), no Brasil, as classes utilizadas e
exemplos (Figura 28) são (ABINEE,2017):
• Linha Verde - desktops, notebooks, impressoras, aparelhos celulares
• Linha Marrom - televisor tubo/monitor, televisor plasma/LCD/monitor, DVD/VHS,
produtos de áudio
• Linha Branca - fogões, lava-roupas, congeladores, geladeiras, refrigeradores, ar-
condicionado;

68
• Linha Azul - batedeiras, liquidificadores, ferros elétricos e furadeiras.
(BRASIL, 2014)

Figura 14 - Linhas dos Produtos Eletrônicos - Verde, Marrom, Branca e Azul.


Fonte: ABDI, 2013 apud ABINEE, 2017.

Com isso, a legislação pioneira em escala nacional que legisla em matéria de


Resíduos Eletroeletrônicos nomeadamente é a lei n°12.305, de 2 de agosto de 2010. (PNRS)
Política Nacional de Resíduos Sólidos. Nela, são estabelecidos deveres e obrigações como:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de


Logística Reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza
urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes de: (...) II - pilhas e
baterias; (...) V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio
e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
§ 3o (...) cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V e VI ou
dos produtos e embalagens a que se referem os incisos I e IV do caput
e o § 1o tomar todas as medidas necessárias para assegurar a
implementação e operacionalização do sistema de Logística Reversa
sob seu encargo, consoante o estabelecido neste artigo, podendo,
entre outras medidas: I - implantar procedimentos de compra de
produtos ou embalagens usados; II - disponibilizar postos de entrega
de resíduos reutilizáveis e recicláveis; III - atuar em parceria com
cooperativas ou outras formas de associação de catadores de
materiais reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o § 1o.
§ 4o Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso,
69
aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens a
que se referem os incisos I a VI do caput, e de outros produtos ou
embalagens objeto de Logística Reversa, na forma do § 1o.
§ 5o Os comerciantes e distribuidores deverão efetuar a
devolução aos fabricantes ou aos importadores dos produtos e
embalagens reunidos ou devolvidos na forma dos §§ 3o e 4o.
§ 6o Os fabricantes e os importadores darão destinação
ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou
devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a disposição final
ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão
competente do Sisnama e, se houver, pelo plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos.
o
§ 8 Com exceção dos consumidores, todos os participantes dos
sistemas de Logística Reversa manterão atualizadas e disponíveis ao
órgão municipal competente e a outras autoridades informações
completas sobre a realização das ações sob sua
responsabilidade. (Lei Federal 12.305/2010)

Na primeira etapa dos SLR, o consumidor realiza a segregação na fonte (normalmente


suas próprias residências) e entrega os produtos pós-consumo para os sistemas. Portanto,
teoricamente, a adesão da população deve garantir que o sistema tenha quantidade de
material suficiente para gerar economia de escala (COUTO, 2017).
A elaboração e execução de soluções adequadas para a gestão de resíduos é
responsável pela movimentação de uma parcela razoável da economia do orçamento público
e assegura um princípio fundamental da nossa Constituição Federal, garantindo a todos o
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (ABRELPE, 2018).
Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010), os governos municipais e estaduais
têm prazo de dois anos para elaborar um plano de resíduos sólidos, com diagnóstico da
situação lixo e metas para redução e reciclagem, além de dar um fim aos lixões e buscar
soluções consorciadas com outros municípios (ou seja, até 2012) (CEMPRE, 2010).

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) sugere que o Brasil


perde anualmente R$ 8 bilhões por descartar e destinar inadequadamente materiais
recicláveis que poderiam retornar à produção industrial. Além dos aspectos econômicos, a
reciclagem economiza recursos naturais, como a água, além proporcionar o uso racional de
energia e menor emissão de gases do efeito estufa (CEMPRE, 2010).

Apesar da PNRS ter sido publicada e entrar em vigor em 2010, até 2014 ainda não
existia nenhum sistema de Logística Reversa de Eletroeletrônicos implantado (FERREIRA,
2014).

70
“No caso dos eletroeletrônicos, uma porta de grande entrada de
produtos ilegais no Brasil se dá pelo Paraguai, principalmente através de
comerciantes brasileiros que atravessam a fronteira com sacolas cheias de
mercadorias para revenderem em pequenas lojas, comércio e barracas de
comerciantes de rua, conhecidos como ‘camelôs’. De acordo, com
representante da indústria os principais produtos que passam pela fronteira
desta forma são secadores de cabelo, chapinhas, produtos eletrônicos de
beleza em geral” (FERREIRA, 2014).

Um dos maiores problemas da fiscalização encontra-se na desarticulação das ações do


setor público em diversas esferas. A desarticulação é identificada nas frequentes disputas
pela condução de Programas, na concorrência de competências, na falta de clareza da
aplicação de recursos e na inexistência de sistemas de informações ambientais integrados
(GUIMARÃES et al, 1997 apud FERREIRA, 2014). Os custos dos produtos ilegais
(comumente chamados de órfãos) é um assunto complexo já que o setor privado não
concorda em arcar com os custos, por ser uma questão de fiscalização que compete ao poder
público (FERRREIRA, 2014).
A PNRS também traz alguns princípios e objetivos essenciais para o gerenciamento
sustentável de Resíduos Sólidos (não geração, redução e reutilização de RS, padrões
sustentáveis de produção e consumo etc), e portanto, a compreensão do consumidor não
deve ser somente relativa à logística em si, mas também aos paradigmas de mudanças
comportamentais e culturais.
A responsabilidade compartilhada é um desses princípios da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, o que significa que devem haver ações individualizadas e encadeadas dos
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. (FERREIRA,
2014).
O consumidor na responsabilidade compartilhada, segundo o princípio de usuário-
pagador17, será onerado pelos custos de recolhimento e destinação final, que em

17 “A Constituição Federal faz referência expressa ao poluidor-pagador nos § 2° e 3° do art. 225. Com
efeito, ao passo em que o princípio do poluidor-pagador busca evitar a degradação dos bens tutelados,
o princípio do usuário-pagador visa evitar a escassez dos bens tutelados. A concepção do usuário-
pagador, assim como a do poluidor-pagador, retira seu fundamento de validade do art. 4o da Lei no
6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) que em seu inciso VII estabelece "à imposição, ao
poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos" (HUPFFER et al., 2011). O
princípio do poluidor-pagador se diferencia da responsabilidade tradicional, pois busca afastar o ônus
do custo econômico da coletividade e dirigi-lo diretamente ao utilizador dos recursos ambientais. Logo
ele não está fundado no princípio da responsabilidade (DERANI, 2008), mas sim na solidariedade social

71
contrapartida, poderá alterar os padrões de comportamento de consumo, levando-o a
repensar suas escolhas de compra, privilegiando produtos ecológicos (ecodesign),
embalagens reutilizáveis, produtos com maior durabilidade etc. (FERREIRA, 2014).
Pelos artigos 31 e 32 da PNRS fica definida a responsabilidade estendida dos
produtores, importadores, distribuidores e comerciantes, responsabilizando-os por: (I)
Desenvolvimento de produtos aptos à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de
destinação ambientalmente adequada; (II) Divulgação de informações; (III) Recolhimento dos
produtos e resíduos após uso, e destinação ambientalmente adequada; (IV) Participação das
ações dos planos municipais de gestão RSU; (V) Embalagens fabricadas com materiais que
propiciem a reutilização e reciclagem (responsabilidade do fabricante de embalagem ou
fornecedor do material para fabricação de embalagens, ou aquele que coloca em circulação
esses materiais em qualquer fase da cadeia de comércio). (ARAUJO,2013)

“Cabe ainda aos fabricantes, importadores, distribuidores e


comerciantes tomar todas as medidas necessárias para assegurar a
implementação e operacionalização do sistema de Logística Reversa
podendo, entre outras medidas:
1. Implantar procedimentos de compra de produtos ou embalagens
usados; 2. Disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e
recicláveis; 3. Atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.”
(ABDI, 2013)
O consumidor devolve os produtos e embalagens aos comerciantes, que devolvem
aos fabricantes e importadores, que devem dar a destinação adequada aos manufaturados.
(ABDI, 2013). O principal objetivo identificado em relação aos REEEs na Lei 12.305/2010 é
o incentivo à indústria da reciclagem por meio do estímulo ao uso de matérias-primas e
insumos derivados de materiais recicláveis e de reciclados. O que decorre disso pode ser
reconhecido como bem econômico e de valor social, gerador de renda e promotor da
cidadania (Artigo 6º, VIII) (SANTANA, 2017).
Após a implementação da PNRS, foram criados Grupos Técnicos Temáticos (GTTs)
do Comitê Orientador para Implementação de Sistemas de Logística Reversa, com a
finalidade de fazer estudos de viabilidade técnica e econômica, elaborar propostas de
modelagem da Logística Reversa e dar subsídios para o edital de chamamento dos Acordos
Setoriais. Entre esses grupos, está o GTT04 – especificamente para eletroeletrônicos. O

e na prevenção mediante a imposição da carga pelos custos ambientais nos produtores e consumidores
(ANTUNES, 2002).” (FERREIRA, 2014)

72
GTT04 é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e
deveria, no ano de 2013, definir como seria a relação entre os diversos atores envolvidos na
gestão dos REEE, especificando suas responsabilidades (ARAUJO, 2013).
A PNRS define acordo setorial (AS) como sendo um ato de natureza contratual
firmado entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes,
tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto
(Lei 12.305 de 2010 Art. 3° Inciso I). O objetivo de um AS é reunir todos os atores
responsáveis, quais sejam fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes,
consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos, pelo fornecimento de matéria prima, fabricação, comercialização, consumo e
destinação final de um ou mais determinados produtos, para que todos possam encontrar
soluções socioambientais adequadas, contribuindo assim para um sistema de produção e
consumo sustentável, instaurando assim a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos, de forma encadeada e individualizada. (SANTANA, 2017)
Para produtos eletroeletrônicos pós-consumo, a ABDI (2012) destaca que a adesão
dos usuários está condicionada à facilidade no descarte dos equipamentos. Por exemplo, o
consumidor só vai descartar sua geladeira usada quando a nova estiver a ponto de ser
instalada. Diferentes portes de equipamentos sugerem sistemas diferenciados de descarte,
como retirada na residência do consumidor, para equipamentos de grande porte, ou pontos
de entrega voluntária, para equipamentos menores (COUTO, 2017).
O procedimento para o estabelecimento da Logística Reversa através de Acordo
Setorial pode ser realizado tanto pelo setor público quanto pelo setor privado. Os acordos
setoriais coordenados pelo Governo Federal, são encabeçados pelos editais de chamamentos
públicos. Enquanto isso, outros atores envolvidos (fabricantes, importadores, distribuidores
ou comerciantes dos produtos e embalagens) também podem tomar a iniciativa de elaborar
um acordo setorial, desde que apresentem uma proposta formal ao Ministério do Meio
Ambiente (MMA) (Art. 20 do Decreto nº 7.404/2010) (SANTANA, 2017).

5.2.2 ESTATÍSTICAS DA GERAÇÃO DE REEEs

O Brasil é o 8º maior gerador de Resíduos Eletroeletrônicos do mundo, com mais de


1,1 milhão de tonelada gerada em 2014 e possuindo uma geração per capita de 7,0
kg/hab/ano (OLIVEIRA, 2016). E há, atualmente, mais de 1,5 milhão de tonelada de Resíduos
Eletroeletrônicos sem tratamento (OLIVEIRA, 2016).

73
De acordo com a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), em 2013, o
número de aparelhos telefônicos era de 315 milhões de aparelhos. 53,1% do volume total
coletado se concentra na região sudeste do país, seguido por 22% no Nordeste, 10,8% no
Sul, 8% no Centro Oeste, e 6,1% no Norte (ARAÚJO, 2013). “Menos de 3% são reciclados,

Tabela 14 - Visão Geral das informações relacionadas aos REEEs no Brasil.


ASSUNTO UNIDADE ANO QUANTIDADE FONTE
TOTAL DE 2012 196.53 IMF WEO
POPULAÇÃO HABITANTES EM
MILHÃO
PODER DE USD POR 2012 12.038 IMF WEO
COMPRA HABITANTE
KG POR 2012 9.3 UNU-IAS SCYCLE (2015)
EEE COLOCADO HABITANTE
NO MERCADO TOTAL EM KT 2012 1.850 UNU-IAS SCYCLE (2015)
(KILOTONELADA)
KG POR 2014 7 UNU-IAS SCYCLE (2015)
HABITANTE
REEE GERADO
TOTAL EM KT 2014 1.412 UNU-IAS SCYCLE (2015)
(KILOTONELADA)
Fonte: STEP (2018)

nesse balanço causando impacto ambiental, social e de saúde pública” (FIESP, 2017)

A gestão de resíduos sólidos no Brasil quase inexiste, pois o cenário predominante


consiste no envio dos resíduos para aterros, e isso inclui os Resíduos Eletroeletrônicos. Nas
grandes cidades, apenas alguns dos aterros possuem condições apropriadas e podem ser
classificados como aterros sanitários (ARAÚJO, 2013). Entretanto, de acordo com a
ABRELPE (2018), em 2009 somente 47% dos RSU18 coletados foram dispostos em aterros
sanitários, sendo que o restante foi para lixões ou aterros não controlados.

O crescimento do PIB e a aquisição de Equipamentos Eletroeletrônicos estão


diretamente ligados, de forma que o crescimento do PIB sinaliza um aumento no poder de
compra da população, que começa a adquirir, de mais em mais, dentre outros produtos, EEEs.
Essa correspondência pode ser observada na figura 15:

18
Resíduos Sólidos Urbanos
74
Até 2030, segundo o Banco Mundial, 3 bilhões de pessoas passarão a ter padrões de
consumo de classe média e haverá, portanto, muita pressão sobre os recursos naturais

Figura 15 - Correlação entre o PIB e a aquisição de EEEs.


Fonte: Oliveira (2016)

(FIESP, 2017). O consumo dos eletroeletrônicos tem aumentado principalmente nos países
em desenvolvimento, pois para movimentar a economia, os governos incentivam o consumo
por meio de políticas de redução dos impostos sobre produtos industrializados (IPI), como é
o caso do Brasil, por exemplo (FERREIRA, 2014).

Por conta da quantidade de substâncias diferentes, e muitas vezes pouco conhecidas,


a implantação de uma organização geral para o fluxo de retorno por meio de Logística Reversa
(como estabelecido pela PNRS) é dificultado (OLIVEIRA. 2016). Há poucas empresas que
processam os Resíduos Eletroeletrônicos de forma integrada, utilizando diversos processos
para recuperação de vários materiais diferentes e, principalmente, dos metais preciosos como
ouro, platina, prata e as “terras raras”. Essas empresas utilizam, após a etapa de moagem19,
processos pirometalúrgicos, através do qual os resíduos são elevados a altas temperaturas e
fundidos, com os controles adequados de emissões. Além disso, são utilizados processos
hidrometalúrgicos, onde diferentes metais são recuperados. Essas fundições integradas de
metais necessitam de investimentos da ordem de US$ 1 bilhão para um volume de centenas
de milhares de toneladas de material por ano (UNEP, 2009 apud ARAUJO, 2013).

Assim sendo, a presença de indústrias que atuam com reciclagem de Resíduos


Eletroeletrônicos no Brasil é muito restrita, mesmo com o potencial mercado que existe para

19“Após a desmontagem, o material é enviado para a moagem, que é uma etapa problemática,
pois substâncias perigosas podem ser dispersas no material moído, se os componentes que as contém
não forem devidamente separados (EEA, 2003). Após a moagem o material é separado por tipo, e.g.
metais ferrosos, não ferrosos; plásticos, e outros; e enviado para processos de reciclagem específicos.
Dependendo do REEE a rota tecnológica pode ser mais simples, como o tratamento mecânico (CUI &
FORSSBERG, 2003) indicado para linha branca para produtos que tem volume grande, e poucos
componentes, com predomínio de ferro.” (ARAUJO, 2013)
75
esses produtos. E os empreendimentos existentes estão concentrados nas regiões sudeste e
sul do país.

RODRIGUES (2007) reporta, por exemplo, uma recicladora na cidade de São Paulo
que coleta placas de circuito impresso e, após a moagem, essas são exportadas para
posterior tratamento e recuperação de materiais em outros países (ARAÚJO, 2013). Este é
o cenário que ilustra a maior parte da situação brasileira na reciclagem de REEEs, onde
esses equipamentos são desmontados, as partes são separadas de acordo com os materiais,
que são posteriormente moídos. O material final é enviado para algumas indústrias para
reuso como matéria-prima secundária ou dispostos em aterros industriais (RODRIGUES,
2007 apud ARAÚJO, 2013).

Figura 16 - Geração de REEEs grandes e pequenos no Brasil.


Fonte: ABDI (2012).

O estudo da ABDI (2012) apresenta uma análise sobre o domínio da reciclagem de


REEEs no Brasil, explicando que este sofre de instabilidade no fornecimento de materiais,
ocasionada pela alta informalidade da coleta e da logística relacionada aos catadores
individuais e à falta de dados. Devido à pouca expressividade, o setor não possui condições
de investir em tecnologias de ponta. Por esse motivo, em termos de separação e tratamento
de insumos de Resíduos Eletroeletrônicos, o Brasil tem baixa eficiência no processo quando
comparado com tecnologias existentes em outros países (SANTANA, 2017).
Então, parte considerável dos REEE gerados no país acabam sendo exportados para
o devido tratamento, existindo no Brasil empresas cuja operação local se limita a separação
e moagem do material, que posteriormente será processado na Ásia (SANTANA, 2017).
Segundo a iniciativa STEP (Solving the E-waste Problem), o Brasil possui 49
instrumentos regulatórios mencionando lixo eletrônico, incluindo legislações da esfera
Federal, Estadual, Municipal etc. Porém destas 49 normas, apenas 34 estão em vigor e as
outras 15 estão estacionadas nos trâmites legais. Na Tabela 14, podemos observar quantas
dessas normas são Federais (8) e quantas estão sendo aplicadas efetivamente (2):

76
Tabela 15 - Instrumentos Regulatórios brasileiros em esfera Federal que mencionam o Resíduos
Eletroeletrônicos e correspondente situação no trâmite jurídico.

Esfera Ementa e Código/Número da Lei/Norma/Projeto Situação


Brasil Obriga as empresas fabricantes de aparelhos de telefonia móvel a Aguardando
instalar pontos de coleta em todo território nacional, e dá outras
providências. PL 6700/2016
Brasil Institui normas para o gerenciamento e destinação final do lixo Aguardando
eletrônico. PL 2940/2015
Brasil Chamamento para a Elaboração de Acordo Setorial para a Em vigor
Implantação de Sistema de Logística Reversa de Produtos
Eletroeletrônicos e seus Componentes EDITAL Nº 01/2013
Brasil Institui, normas e procedimentos para a coleta, a reciclagem, o Aguardando
gerenciamento e a destinação final de lixo tecnológico e dá outras
providências. PL 5860/2009
Brasil Dispõe sobre a coleta e a destinação ambientalmente adequada de Aguardando
resíduos tecnológicos PL 2045/2011
Brasil Dispõe sobre a coleta, a reciclagem e a destinação final de aparelhos Aguardando
eletrodomésticos e eletroeletrônicos inservíveis. PL 2061/2007
Brasil Torna obrigatória a utilização de materiais reciclados em produtos Aguardando
eletroeletrônicos e eletrodomésticos PL 3472/2012
Brasil ABNT NBR 16156:2013 Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos Em vigor
– Requisitos para atividade de manufatura reversa
Fonte: STEP (2018).

O comportamento dos consumidores é uma das primeiras etapas para desenvolver


um sistema sustentável de qualquer domínio. Observe, então, os principais hábitos da
população frente ao descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos na Figura 17:

Figura 17 - Comportamento dos Consumidores com o Descarte de Lixo Eletrônico.


Fonte: Relatório GIA - Global Intelligence Alliance, 2011 apud ABINEE, 2018.

Segundo DIAS (1994), consciência ecológica significa o consumo somente do que


se pode produzir, evitando prejuízos ao ambiente, utilizando os recursos ambientais da
melhor forma possível (forma sustentável); os indivíduos que possuem consciência
ecológica/ambiental verificam seus desperdícios, reconhecem sua parcela de
responsabilidade nos problemas ambientais e procuram formas de encontrar soluções e
alternativas mais adequadas ao uso de recursos ambientais (ROSA, 2016). Guardar os
77
Equipamentos Eletroeletrônicos indica, de certa forma, uma consciência ambiental, pois
significa que uma parcela da população reconhece que o descarte incorreto desse tipo de
produto pode acarretar em consequências nocivas e sérias. Isso aponta que o próximo passo
é justamente divulgar e instruir como a população deve proceder em relação a este tipo de
resíduo, para que a iniciativa de não descartá-lo avance para o descarte correto.
“Os REEE são compostos por materiais diversos: plásticos, vidros,
componentes eletrônicos, mais de vinte tipos de metais pesados e outros.
Estes materiais estão frequentemente dispostos em camadas e
subcomponentes afixados por solda ou cola. Alguns equipamentos ainda
recebem jatos de substâncias químicas específicas para finalidades
diversas como proteção contra corrosão ou retardamento de chamas. A
concentração de cada material pode ser microscópica ou de grande escala.
A extração de cada um deles exige um procedimento diferenciado. Deste
modo, sua separação para processamento e eventual reciclagem tem uma
complexidade, um custo e um impacto muito maiores do que aqueles
exemplos mais conhecidos de recolhimento e tratamento de resíduos, como
é o caso das latas de alumínio, garrafas de vidro e outros” (ABDI, 2013)

5.2.3. LOGÍSTICA REVERSA

O objetivo da logística é planejar e coordenar atividades imprescindíveis para alcançar


níveis desejáveis de serviços e qualidade ao menor custo possível (CHRISTOPHER, 2001
apud FERREIRA, 2014). Dentro da definição tradição de logística, surgem novas tendências,
onde as organizações passam a buscar formas de alinhar seus objetivos estratégicos às
práticas ambientalmente corretas exigidas pela sociedade. Surge então, como resposta ao
paradigma entre desenvolvimento e sustentabilidade econômica, a moderna: Logística
Reversa (LR) (FERREIRA, 2014).
A definição de Logística Reversa é similar à definição da logística tradicional, porém
ela dedica-se também ao fluxo no sentido inverso, iniciando-se no ponto de consumo de um
determinado produto e voltando ao seu ponto de origem, com vistas a reaproveitar valor ou

78
Figura 18 - Diferença entre o gerenciamento da cadeia de suprimentos direta vs reversa.
Fonte: GUARNIERI et al (2006) apud SOUZA (2017).

destinar adequadamente os resíduos provenientes de seu consumo (SRIVASTAVA, 2007


apud SOUZA, 2017). A definição de Logística Reversa, segundo LEITE (2014) é:
“[...] a área da logística empresarial que fecha o ciclo dos fluxos logísticos empresariais
tradicionais da chamada logística direta: de suprimentos, internos à organização e de
distribuição de mercadorias na direção do mercado, ocupando-se com os diversos fluxos de
retorno de mercadorias, sob a forma de produtos de pós-venda ou de pós-consumo“.
O esquema da Figura 18 ilustra a diferença das etapas da Logística Direta e da
Logística Reversa. “O papel da logística reversa diz respeito ao retorno de produtos, redução
na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos e
reforma, reparação e remanufatura” (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998, apud FERREIRA,
2014). As organizações e empresas estão de mais em mais buscando formas de minimizar
impactos ambientais e reduzir custos em seus processos internos, tornando-se mais
competitivas. A alternativa encontrada, na maioria das vezes, é a Logística Reversa: tornar a
empresa mais sustentável, atendendo as legislações ambientais vigentes e ao mesmo tempo
conquistando o mercado consumidor, cada vez mais exigente e preocupado com o meio
ambiente (BARROS et. al.; 2013 apud ROSA, 2016). Os estudos realizados sobre Sistemas
de Logística Reversa fornecem, em sua grande maioria, soluções práticas para as empresas
no enfrentamento dos desafios da implementação de fluxos reversos e destacam os ganhos
econômicos e ambientais advindos dessa prática (COUTO, 2017).
Surge, então, a necessidade de rever todo o ciclo de vida desses produtos, ficando
notório então, que, além dos custos de compra de matéria-prima, de produção, de
armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também outros custos que
estão relacionados a todo o gerenciamento do seu fluxo reverso (AVILA, 2013). Contudo,
79
apesar dos custos adicionais, as empresas que fornecem produtos ecologicamente corretos
podem conquistar clientes conscientizados ecologicamente, o que acabam se tornando uma
vantagem competitiva diante de concorrentes que não possuem estratégias ambientais
(BERTOLINI e POSSAMAI, 2006 apud ROSA, 2016). A motivação ambiental, então, se
concretiza quando observa-se uma vantagem competitiva por meio da criação de uma
imagem verde para os produtos e serviços oferecidos no mercado (SROUFE et al.,2000;
KLASSEN, 2000 apud COUTO, 2017).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) impõe que distribuidores,


comerciantes, fabricantes, e até mesmo importadores de produtos eletroeletrônicos
organizem e implementem sistemas de Logística Reversa (OLIVEIRA, 2016). A Logística
Reversa é, então, um dos instrumentos introduzidos pela PNRS para a aplicação da
Responsabilidade Compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (SANTANA, 2017). Os
consumidores são, portanto, obrigados pelo §4°, a devolver os produtos após o uso/consumo
para seus comerciantes e distribuidores. Em relação aos REEE, os objetivos são direcionados
ao estímulo do reaproveitamento dos resíduos recicláveis, os reinserindo no ciclo produtivo
do próprio produto ou por outros (SANTANA, 2017). Após 3 anos da instituição da PNRS, é
lançado o Edital 01/2013 do Ministério do Meio Ambiente (MMA) – Chamamento para a
Elaboração de 21 Acordo Setorial para a Implantação de Sistema de Logística Reversa de
Produtos Eletroeletrônicos e seus Componentes, o qual estabelece metas de longo prazo
para o tratamento dos Resíduos Eletroeletrônicos (MMA, 2013; GOLDEMBERG; CORTEZ,
2014 apud OLIVEIRA, 2016).

“A Logística Reversa pode contribuir para a sustentabilidade ambiental, visto que ela
é entendida como um instrumento de desenvolvimento econômico e social destinado a
viabilizar: a coleta, a triagem, o recondicionamento, a remanufatura, a reciclagem e a
consequente restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento em
seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, bem como para outra destinação final
ambientalmente adequada” (LEITE, 2009; LAVEZ; SOUZA; LEITE, 2011; LAMBERT;
RIOPEL; ABDUL-KADER, 2011; CNI, 2014; RUBIO; JIMÉNEZ-PARRA, 2014; VALLE;
SOUZA, 2014 apud OLIVEIRA 2016).

“Com o objetivo de regulamentar o processo de implantação da


logística reversa (LR), foi aprovado o Decreto n° 7.404/2010, o qual instituiu
o Comitê Orientador para Implantação de Sistemas de Logística Reversa
(CORI), que tem a função de mediar os encaminhamentos para a
implantação dos sistemas de logística reversa. Em fevereiro de 2011 foi
realizada a primeira reunião ordinária do CORI, onde foi decidido que os
80
encaminhamentos para implantação da LR seriam discutidos através de
Grupo de Trabalhos Temáticos (GTT’s) específicos e que seriam
convidados representantes da sociedade detentores de conhecimento sobre
o assunto a tratar ou representantes elegidos pelos setores envolvidos.
Cabe ressaltar, que existe uma crítica quanto ao critério de seleção da
participação nestas reuniões, pois apenas as entidades convidadas
puderam contribuir com as discussões, portanto torna-se um processo
seletivo que não corrobora para uma gestão participativa.” (FERREIRA,
2014)

A Logística Reversa pode acontecer em dois momentos: pós-venda (Logística Reversa


de pós-venda) e pós- consumo (Logística Reversa de pós-consumo):

I. Pós-venda:

Figura 19 - Fluxo de Logística Reversa de pós-venda.


Fonte: Leite (2009) apud ROSA (2016)

Logística, cujo retorno dos bens pode acontecer devido a um dos motivos:

a) Retorno por problemas relacionados a qualidade ou por garantia: recall e devolução;


b) Redistribuição de produtos: prazo de validade próximo ao vencimento e sazonalidade de
venda;
c) Retorno de produtos obsoletos para substituição por novos do mesmo ramo;
d) Liberação de espaço físico em área de uma loja: limpeza de estoques nos canais de
distribuição para retornar de volta para o fabricante. (RODRIGUES, 2002 apud ROSA, 2016)
O canal de distribuição reverso de pós-venda se caracteriza pelo retorno de produtos
com pouco ou nenhum uso que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante
ou distribuidor ou, ainda, por insatisfação do consumidor com os produtos (AVILA, 2013).

81
II. Pós-consumo

Figura 20 - Fluxo de Logística Reversa de pós-consumo


Fonte: (LEITE, 2009 apud ROSA, 2016).

Logística, cujo retorno dos bens pode acontecer devido a um dos motivos:

a) Reciclagem e reaproveitamento de materiais ou componentes provenientes de um produto


ou o próprio produto;
b) O cliente pode ser incentivado à aquisição de um produto novo mediante proposta da troca
pelo seu produto usado;
c) A imagem da empresa é promovida devido à demonstração perante clientes da
responsabilidade ética com o meio ambiente, que busca um destino final adequado aos seus
produtos. (RODRIGUES, 2002 apud ROSA, 2016)
O canal de distribuição reverso de pós-consumo se caracteriza por produtos oriundos
de descarte após uso e que podem ser reaproveitados de alguma forma e, somente em último
caso, descartados (AVILA, 2013). A LR possibilita às organizações uma nova visão sobre os
processos produtivos, otimizando a utilização dos insumos e criando condições para que
materiais sejam reintegrados ao ciclo produtivo, por meio de sistemas de reciclagem, reuso
ou reaproveitamento, agregando valor econômico aos bens de pós-consumo que substituem
matérias-primas novas (LEITE, 2003 apud AVILA, 2013).

O fator econômico da LR refere-se aos lucros de ações de recuperação de produtos,


ou parte deles, que proporcionam a redução de gastos, a redução do uso de materiais e a
economia de valiosas peças de reposição. Há uma motivação financeira para atividades de
reutilização, quando, por exemplo, um equipamento chega a uma empresa no final de sua
vida útil e suas peças podem ser usadas como peças sobressalentes ou vendidas em
mercado secundário a um percentual do custo do uso de produtos originais na sua reparação
(GARCÍA-RODRÍGUEZ; CASTILLA-GUTIÉRREZ; BUSTOS-FLORES, 2013 apud COUTO,

82
2017). A implantação deste sistema irá refletir em vantagens competitivas para as empresas,
ao nível de menores custos e melhoria de serviço ao consumidor (AVILA, 2013).

Na tabela 16, elaborada por ROSA (2016), verifica-se as vantagens e desvantagens


da Logística Reversa:
Tabela 16 - Vantagens e desvantagens da Logística Reversa (ROSA, 2016).
Fatores da Logística Vantagens Desvantagens
Reversa

Estar de acordo com padrões internacionais de


Atingir padrões
qualidade ambiental, podem atrair clientes,
internacionais de qualidade
fornecedores e novas parcerias
Nenhuma
ambiental
organizacionais.

Redução de resíduos gerados tanto no


processo produtivo, como no pós-venda e pós-
Reduzir impactos ambientais
consumo. Conscientização Ambiental. Redução
Nenhuma
de custos.

Trabalhos de marketing e divulgação de


Demonstração de
responsabilidade ambiental atraem clientes
responsabilidade
com conscientização ambiental o que
empresarial, estabelecendo Nenhuma
proporciona um diferencial competitivo.
princípios de
Integrar logística com marketing.
sustentabilidade ambiental
Desenvolvimento sustentável.

Podem aumentar o estoque e


Agiliza o atendimento ao cliente, obtendo
Tempo de Ciclo reduzidos atrasar retorno de caixa de
assim maiores níveis de vendas.
investimentos.

Controle sobre produtos. Rastreamento dos


produtos do início até o destino final. Gera Dificuldade de realização e se
Rede Logística Planejada redes de distribuição reversa competitivas. mau planejado gera prejuízos á
Gerir bons controles de entrada. Processos organização.
padronizados e mapeados.

Relações colaborativas entre Aumenta a interação entre a organização e os


Nenhuma
organização e clientes clientes, podendo criar uma fidelização destes.

Dificuldade na realização do
Retorno de material aumenta caixa da empresa
controle e retorno de materiais,
Reduzir custos internos e e reduz custos com matéria-prima. Eliminação
podendo gerar grandes
desperdícios de resíduos nos processos produtivos reduz
estoques e conseqüentemente
custos de fabricação.
custos adicionais.

Estar de acordo com as legislações vigentes,


Exigências legais além da possibilidade de antecipação à Nenhuma
legislações futuras.

Retorno de materiais causa


Fluxos de movimentação e
aumento de custo por motivos
transporte interno e externo Nenhuma
de logística e transporte interno
de materiais
e externo.

Retorno de materiais causa


Armazenagem e estoque.
Nenhuma aumento proporcional de
Espaços adicionais.
estoque.

83
Sistemas informatizados, com dados
alimentados periodicamente. Informações Necessita de grande
Sistemas de comunicação e
sobre ciclos do produto, saída e retorno. investimento financeiro, além da
informação
Comunicação efetiva com parceiros da rede de dependência de terceiros.
Logística Reversa.

Pode ocorrer retornos de


materiais indevidamente por
Retorno de materiais de
Nenhuma falta de controle nos processos
forma indevida
de garantia e recall. Produtos
retornados não identificados.

Novos produtos podem ser desenvolvidos a


partir de resíduos realimentados na cadeia
produtiva além de reduzir impactos ao meio Necessita de grande
Novos nichos de mercado
ambiente e facilitar o ciclo reverso do pós- investimento inicial.
consumo. Atingir um nível de serviço
diferenciado.

Necessita de grande
Desenvolvimento de novas Desenvolvimento de novas tecnologias limpas investimento inicial em
tecnologias além de gerar registros de patente adquirida. tecnologia e Pesquisa e
Desenvolvimento.

Aumento da mão de obra em


função das atividades de
controle e rastreamento de
Mão de obra adicional Nenhuma
produtos e materiais,
reutilização, reciclagem ou
destinação adequada.

Auto investimento inicial.


Necessita de grande
Retorno financeiro a longo prazo. Os custos são
planejamento, com controle
Investimento inicial em reduzidos com aquisição de matéria-prima e
total do ciclo de vida do
Logística Reversa eliminação de resíduos nos processos
produto, equipes e parceiros
produtivos
envolvidos, o que torna difícil á
aplicação desta atividade.

Dificuldade de formação de
Necessária a formação de novas equipes e
parceiros para auxiliar no
parceiros para realização do controle do ciclo
Equipes e parceiros controle logístico reverso do
de vida e fluxo de movimentação e retorno do
produto. Aumenta a
produto.
dependência de terceiros.

A PNRS por si só, tem sido incapaz de motivar a implementação dos sistemas de
Logística Reversa dos REEEs no Brasil (SANT’ANNA, 2014 apud OLIVEIRA, 2016).

Em 2013, foi divulgado o Edital 01/2013 – Elaboração de Acordo Setorial para Implantação
de Sistema de Logística Reversa (SLR) dos Produtos Eletroeletrônicos e seus componentes,
incluindo fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, sendo que o acordo
deveria contemplar os seguintes pontos essenciais:
• até o quinto ano após a assinatura do acordo setorial, 100% dos municípios com mais
de 80.000 habitantes devem ser atingidos pelo SLR, neles devendo haver a destinação
final ambientalmente adequada de 100% dos resíduos recebidos;
• pelo menos um ponto de recolhimento para cada 25 mil habitantes em cada cidade;
84
• até o quinto ano após a assinatura do acordo setorial, deve haver o recolhimento (e a
respectiva destinação final ambientalmente adequada) de 17%, em peso, dos produtos
eletroeletrônicos objeto do SLR que foram colocados no mercado nacional no ano
anterior ao da assinatura do acordo setorial. (FERREIRA, 2014).

Porém, até a metade do ano seguinte (2014), o Acordo Setorial ainda não havia sido
assinado. Uma questão mencionada por cooperativas é exatamente a exclusão dos catadores
nos debates para implantação da Logística Reversa. Essa alegação é consolidada
observando a negação das propostas enviadas por representantes das cooperativas ao poder
público com relação aos encaminhamentos do Acordo Setorial. O Governo alegou que a
categoria “cooperativas” não estava dentro do escopo do Edital, e por isso suas propostas
não seriam consideradas (FERREIRA, 2014).
Após a publicação da PNRS em 2010, uma série de normas envolvendo EEE foram
publicadas. Ao pesquisar no site da ABNT (abnr.org.br) por normas mencionando o termo
eletroeletrônicos, aparecem os seguintes resultados:

Figura 21 - Pesquisa com a palavra-chave "eletroeletrônicos" no site da ABNT.


Fonte: http://www.abnt.org.br/pesquisas/?searchword=manufatura+reversa&x=0&y=0

A norma ABNT NBR 16156:2013 – Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos –


Requisitos para atividade de manufatura reversa – é a mais primordial para a implantação do
SLR e seu objetivo é assegurar a qualidade dos processos, sem causar danos aos
trabalhadores, garantindo a segurança dos dados e a propriedade intelectual dos
equipamentos (BRASIL, 2013). “A nova norma da ABNT estabelece requisitos para proteção
ao meio ambiente e para o controle dos riscos de segurança e saúde no trabalho na atividade
de manufatura reversa de resíduos eletroeletrônicos. Além disso, instaura requisitos
específicos relacionados à responsabilidade por substâncias perigosas; à rastreabilidade dos
resíduos recebidos; e ao balanço de massa até a disposição” (BRASIL, 2013). A Logística
Reversa agrega valor econômico, ecológico, legal e de localização ao planejar as redes

85
reversas e as respectivas informações e ao operacionalizar o fluxo desde a coleta dos bens
de pós-consumo ou de pós-venda. Isto se dá por meio dos processos logísticos de
consolidação, separação e seleção, até a reintegração ao ciclo (AVILA, 2013).
Com a revalorização logística garantida pela fluxo de retorno dos equipamentos
usados até as consolidações em centros de distribuição reversos especializados, a
revalorização econômica e tecnológica por meio do reuso de equipamentos e componentes
significam também uma revalorização ecológica, reduzindo o impacto dos produtos no meio
ambiente (AVILA, 2013). Porém, a implementação de redes de distribuição reversa constitui
um grande desafio pelos fatores logísticos, tecnológicos e econômicos envolvidos para
recuperar bens, transportá-los e reutilizá-los (ROSA, 2016).

Estudos realizados por Richey et al. (2005) e Autry (2005) indicam que existe elevado
grau de inovação em SLR, em termos de criação de sistemas e procedimentos, bem como na
busca de soluções para lidar com produtos e materiais devolvidos. A diversidade de produtos
e materiais requer um grau de gerenciamento desenvolvido, e exige a participação de diversas
empresas de tratamento e disposição final de resíduos (SHEU, 2007 apud COUTO, 2017).
Na abordagem da Logística Reversa, são levados em consideração os mesmos componentes
encontrados na logística tradicional, que são: armazenagem; estoques; transportes; fluxos de
movimentação interno e externo de materiais; tipos de serviços e níveis envolvidos; sistemas
de informações e comunicações; etc. (SOUZA e FONSECA, 2008 apud ROSA, 2016).
Entretanto, a Logística Reversa é traduzida em uma sucessão de etapas onde os produtos
não somente sejam descartados de forma a reduzir o impacto ambiental, mas também
fornecendo subsídios para a competitividade da empresa (AVILA, 2013), tornando o processo
economicamente viável.

86
O potencial de agregação de
valor aos REEEs é correspondido
(em primeira instância) pelo valor de
mercado das peças segregadas
manualmente na triagem, e depois,
pelo valor de mercado das
substâncias e recursos extraídos
dessas peças no processo de
reciclagem em si, onde cada tipo de
matéria-prima é separado, seja por
densidade, por granulometria etc. Na
Figura 23 são contemplados alguns Figura 22 - Preços Médios de alguns materiais/peças de
REEEs por kg de resíduo. Fonte: EcoEletro. Disponível em:
valores de peças facilmente <http://ecoeletrofase2.com.br/ecoeletro2/comercio-de-
sucata-eletronica/>. Acesso em 20 nov. 2018.
desmembráveis e sua cotação.

Quanto mais afunilado o nível


de segregação dos materiais, mais
refinado o produto fica, e mais valor
é agregado ao resíduo. Infelizmente,
essa segregação normalmente
Figura 23 - Preços Médios de alguns materiais/peças de REEEs
demanda tecnologias de ponta e/ou por kg de resíduo. Fonte: EcoEletro. Disponível em:
<http://ecoeletrofase2.com.br/ecoeletro2/comercio-de-sucata-
mão de obra especializada, e ambas eletronica/>. Acesso em 20 nov. 2018.
estas propriedades significam despesa. Por este motivo, existe uma limitação de valor que
pode ser agregado ao resíduo em cada realidade. Porém, no caso do Brasil, sequer o nível
mínimo de separação manual é realizado, já que na maioria das cooperativas (e recicladores
individuais) não há conhecimento sobre a manipulação desses materiais e eles são, portanto,
vendidos inteiros (deixando de gerar maior renda para as cooperativas) ou ficam guardados
nos estoques da associação (problemática que ocorre também nos domicílios).
A Logística Reversa demanda grande planejamento e controle de todo o ciclo de vida
do produto, além de um grande investimento financeiro, que envolve custos adicionais com
estoque e pessoal, investimento em sistemas de comunicação e informação, investimento em
tecnologias, relações colaborativas entre organização e clientes e formação de novas
parcerias com outras empresas. Como se trata de um planejamento a longo prazo e um
grande investimento, o retorno financeiro também é a longo prazo, porém é real, pois a
redução de custos, principalmente de matéria-prima é um fator determinante que torna viável
a Logística Reversa (ROSA, 2016).

87
5.2.4 ESTUDO DE CASO E ENTREVISTAS (INSTITUTO GEA)

Na maior parte das cidades brasileiras, são realizadas atividades de coleta de RSU20
totalmente desconectadas dos sistemas públicos: atividades organizadas por sucateiros,
proprietários de depósitos de materiais recicláveis que concentram seus negócios em aparas
de papel, papelão, latinhas de alumínio, embalagens de polietileno tereftalato (PET) etc.
Geralmente, trata-se de materiais de alto valor agregado 21 (COUTO, 2017).
A participação do setor informal é característica marcante na GRSU22 dos países do
BRICS, notando-se, portanto, a necessidade de integração do setor informal ao sistema
formal de coleta destes resíduos (GONÇALVES, 2018). Organizados em cooperativas, os
catadores foram reconhecidos pela nova lei brasileira como agentes da gestão do lixo.
(CEMPRE, 2018). Por este motivo, eles devem ser incluídos e levados em conta no
planejamento e gestão de resíduos urbanos. Os catadores atuam tanto na coleta seletiva em
residências e empresas como na triagem dos resíduos para revenda/reciclagem.
Terão prioridade às fontes financeiras do governo federal os municípios que
implantarem coleta seletiva com participação de cooperativas de catadores (CEMPRE, 2010.)
Na base desse fluxo estão os catadores autônomos e informais, sujeitos à exploração por
intermediários que repassam os materiais recicláveis para sucateiros de maior porte ou
revendem para a indústria, para serem utilizados como matéria-prima. No final dessa cadeia,
o preço pode ser quatro vezes superior ao inicialmente pago aos carroceiros
(CEMPRE,2010). Este repasse de valores é injusto, uma vez que os catadores fazem o
trabalho físico mais custoso, que é a garimpagem dessas peças pelas ruas (diferentemente
dos casos onde as empresas estão acordadas com algumas cooperativas e entregam o
material direto no local para que seja triado e destinado).
As operações de coleta pelos depósitos de reciclagem são feitas diretamente nas
grandes fontes geradoras dos resíduos, quando estes são homogêneos (como resíduos
provenientes de empresas e indústrias); em pontos de concentração dos resíduos, coletados
individualmente por catadores de materiais recicláveis a eles vinculados informalmente; ou
ainda em pequenos sucateiros que atuam como atravessadores dos materiais recicláveis
garimpados por catadores nas ruas das cidades (COUTO, 2017).
Apenas 10% dos catadores estão melhor organizados (galpões de reciclagem,
cooperativas etc), i.e sem a relação com intermediários. Nesses casos, vários catadores
trabalham buscando melhorar a qualidade, aumentar a quantidade e agregar valores aos

20
Resíduos Sólidos Urbanos
21 “[...] parcela de valor que é acrescentada no processo social de produção, em que se transformam e
criam mercadorias” (FARIA, 1983).
22 Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

88
materiais separados do lixo. (CEMPRE, 2010). Portanto, conseguem angariar mais fundos
para a organização e viver de forma mais justa. Além disso, uma vez estabelecidos em grupos
de cooperados, essas pessoas reúnem maior quantidade de um mesmo tipo de material, o
que facilita a revenda direta para fábricas e indústrias, já que a grande maioria dos
compradores só adquire mercadorias a partir de um peso ou unidades mínimos.
“Na década de 1990, começou a ganhar repercussão pública a
situação precária de milhares de pessoas, inclusive crianças, que
sobreviviam da cata de materiais em lixões. Diante dessa situação de
calamidade em vários lixões do país, em 1998 foi criado o Fórum Nacional
Lixo e Cidadania (FNLC) por uma iniciativa do United Nations Children's
Fund (UNICEF) com os seguintes objetivos: erradicar o trabalho de crianças
e adolescentes em lixões; estimular a inserção social e econômica de
catadores em programas de coleta seletiva; e mudar a forma de destinação
do resíduo no país, eliminando os lixões e adotando aterros sanitários. O
FNLC e o MNCR Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis
demandavam do poder público nas diferentes esferas de governo,
sobretudo na federal, o reconhecimento e a construção de políticas públicas
voltadas à inserção de catadores em programas de coleta seletiva e à
eliminação dos lixões no país.” (FERREIRA, 2014)
A PNRS prevê a participação e inclusão das cooperativas de catadores, em
intersecção com outras ações de âmbito federal (Decreto 7.405/10), que institui o Programa
Pró-Catador e o Comitê Interministerial para a Inclusão Social e Econômica dos Catadores de
Materiais Reutilizáveis e Recicláveis, e tem algumas metas como
I. Expansão da coleta seletiva
II. Melhoria das condições de trabalho
III. Ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica dos
trabalhadores etc.
Contudo, a exclusão das cooperativas no Edital de Chamamento, mostra que, talvez,
a articulação de apoio não seja tão homogênea dentre os diversos Ministérios do Governo,
gerando uma contradição entre intenções da Lei e ações práticas (FERREIRA, 2014). O
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) realizou um
levantamento sobre o arranjo desses trabalhadores no Brasil, em 2006. Nessa sondagem, é
verificado que 72% dos catadores se enquadram na categoria “Desorganizado (atuando nas
ruas ou lixões):

89
Tabela 17 - Diagnóstico da situação dos catadores, realizado pelo MNCR. Fonte: BESEN (2011) apud
FERREIRA (2014).

NÚMERO DE
SITUAÇÃO % CARACTERÍSTICAS
MEMBROS
EQUIPAMENTOS E GALPÕES PRÓPRIOS, E
FORMALMENTE
1381 4 CAPACIDADE DE IMPLANTAR UNIDADES DE
ORGANIZADOS (A)
RECICLAGEM
ALGUNS EQUIPAMENTOS PRÓPRIOS, PRECISAM
FORMALMENTE
2753 8 DE APOIO PARA A COMPRA DE EQUIPAMENTOS
ORGANIZADOS (B)
E/OU CONSTRUÇÃO DE GALPÕES
POUCOS EQUIPAMENTOS, PRECISAM DE APOIO
EM ORGANIZAÇÃO 5720 16 PARA A AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E DE
GALPÕES
DESORGANIZADO NÃO POSSUEM EQUIPAMENTOS, CONDIÇÕES DE
(ATUANDO NAS 25783 72 TRABALHO PRECÁRIAS, E VENDA PARA
RUAS OU LIXÕES) ATRAVESSADORES E DEPÓSITOS DE SUCATA
TOTAL 35637 100 -

“O comércio e indústria não negam a inclusão das cooperativas, mas existe dificuldade
em incluí-las como unidade gestora na LR, pois as cooperativas, em geral, não apresentam
estrutura e documentação legal exigidas para conveniar com outros setores envolvidos na
LR” (FERREIRA, 2014).
Os números dessas atividades são praticamente desconhecidos no Brasil, uma vez
que não há, em geral, fiscalização e controle por parte das prefeituras. A atuação desses
depósitos e catadores é a responsável pelos bons números da reciclagem de materiais de
alto valor agregado no Brasil, como, por exemplo, as latinhas de alumínio. Assim, os SLR
precisam considerar esse sistema (atualmente informal) de movimentação de materiais
recicláveis (COUTO, 2017).
Os REEEs, especificamente, possuem grande potencial de agregação de valor a partir
do desmantelamento do material em qualquer nível, principalmente os produtos da chamada
linha verde (desktops, notebooks, impressoras, aparelhos celulares etc). A placa de circuito
impresso (PCI), pertencente de produtos típicos da linha verde, é um dos itens de maior
interesse para reciclagem, pois apresentam metais preciosos. Segundo HAGELUKEN
(2006), a composição de uma PCI é: 20% Cu, 7% Fe, 5% Al, 3% Sn, 1.5% Pb, 1% Ni e 25 %
de compostos orgânicos e em ppm: 1.000 Ag, 250 Au e 100 Pd. (ARAUJO, 2013).
Os catadores individuais, por trabalharem sozinhos, garimpam materiais certeiros,
com ciência do valor agregado. As cooperativas, muitas vezes recebem materiais em massa
das empresas, extremamente volumoso e sem nenhuma triagem. Por isso, diversas vezes
os recicladores individuais dispõem de matéria com melhor qualidade do que as cooperativas.

90
A maior parte da coleta é feita por catadores, autônomos ou associados em
cooperativas, que retiram dos RSU, os materiais de mais alto valor, em condições de trabalho
precárias e com baixa remuneração (IBGE 2012 apud COUTO 2017).
Os catadores particulares - e não somente os associados às cooperativas - precisam,
então, estar inseridos nos sistemas de Logística Reversa, uma vez que eles sempre existirão,
e seus materiais de coleta terão sempre melhor qualidade do que os materiais que chegam
à porta das cooperativas deixados pelas organizações. Estes recicladores individuais devem
receber capacitação para que coletem e manuseiem corretamente os produtos.
Surgem, então, algumas iniciativas que integram a sociedade (tanto para a população
consumidora como para os catadores) ao descarte tecnológico. Esses projetos foram
fundamentais para guiar a materialização da PNRS, e para promover a consciência ambiental
em diversas esferas, porém, não são projetos que fazem parte da realidade organizacional
do Brasil. Por este motivo, é fundamental focar em propostas que abrangem o real cenário
brasileiro e que podem concretizar a própria execução da PNRS. Neste caso, englobando o
trabalho dos catadores de materiais recicláveis, como a própria Política Nacional de Resíduos
Sólidos prevê (FERREIRA, 2014). Um exemplo de projeto que visa nivelar a participação
das cooperativas nas decisões sobre a Logística Reversa de Eletroeletrônicos é o EcoEletro,
noticiado pelo governo em 2012 no link: http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-
ambiente/2012/04/projeto-capacita-catadores-de-53-cooperativas-a-separar-o-lixo-
eletronico
O projeto EcoEletro, patrocinado pela Petrobras, levou dez catadores por mês para
os bancos da Poli-USP, onde estes aprenderam como lidar de forma segura e mais rentável
com o lixo eletrônico (BRASIL, 2012). A realização foi feita pelo Instituto GEA, uma OSCIP
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), cuja finalidade principal é desenvolver
a cidadania e a educação ambiental, assim como assessorar a população a implantar
programas de coleta seletiva de lixo e reciclagem (GEA, 2018).
“Nas duas campanhas de esclarecimento e conscientização dos consumidores para
o descarte correto do lixo eletrônico, promovidas pela secretaria, foram coletadas quase 12
toneladas de resíduos eletroeletrônicos. Em relação aos cuidados que a população deve ter
em relação a esses materiais, o superintendente recomendou que devem procurar empresas
de reciclagem que comprem resíduos eletroeletrônicos e tenham como garantir a destinação
correta desses materiais. Outra alternativa, disse, ‘é guardar em casa até a montagem de
uma Logística Reversa ou entrar em contato com o fabricante do produto e saber se ele tem
uma solução” (BRASIL, 2012).
Com estes cursos de capacitação é possível impulsionar a Logística Reversa de
Eletroeletrônicos, ao permitir que os produtos incorretamente descartados pela população,

91
sejam coletados pelos recicladores; isso, somado às campanhas de conscientização e
iniciativas que estimulam os consumidores a reduzir compras desnecessárias e entregar os
REEEs, guardados em casa, aos pontos de coleta disponibilizados e bem divulgados,
fecharia a conta dos EEEs que são vendidos vs os que são recolhidos. Pois a população
consciente faz a entrega, e a população não-consciente é contemplada pela coleta dos
catadores/recicladores que recuperam os produtos antes de serem enviados aos aterros e
lixões.
Além de complementar a eficácia do sistema, essa dinâmica traz renda aos catadores,
se tornando uma decisão de importantíssimo cunho social.
Foram entrevistados:
I. Wagner Akio, do Instituto GEA - realizador do projeto EcoEletro fase 1 e fase
2 (patrocínio Petrobrás): http://ecoeletrofase2.com.br/ecoeletro2/ e do
Descarte Legal (patrocínio Caixa):
http://www.institutogea.org.br/projetos/projeto-descarte-legal-caixa/.
II. Catador Bispo – participante do projeto Descarte Legal, e que agora tem sua
renda baseada no garimpo de eletroeletrônicos

I. Akio relata que os cursos de capacitação de Eletroeletrônicos para catadores


realizados pelo Instituto GEA possuem, na verdade, foco na linha verde dos EEEs.
Pois são os produtos com maior potencial de agregar valor com seu desmonte, além
de serem a linha que mais cresce no mercado. Os cursos são dinâmicos e bastante
visuais, por conta do público específico, que são os recicladores – a maior parte deles
tem nenhuma ou pouca escolaridade, e estes são, diversas vezes, analfabetos -. As
iniciativas são voltadas para catadores que estejam já vinculados às cooperativas,
devido à real aplicabilidade do aprendizado (para venda do material desmontado e
triado, é necessário um volume e/ou peso mínimo, e com isso, é mais palpável que
o processo funcione quando há mais pessoas, chegando mais rapidamente à
quantidade mínima para comercialização).
As oficinas acontecem em universidades e ONGs que concordam em receber o
projeto, e várias pessoas vinculadas ao Instituto participam das dinâmicas (estagiários,
funcionários etc). Nestes cursos são ensinadas a desmontagem (desmantelamento) e a
triagem (separação) dos materiais em 3 principais categorias:
• Plástico (e ramificação de acordo com alguns tipos de plásticos facilmente
identificáveis com manuseio)
• Ferro

92
• Placas (de vários tipos, cada um vendido – normalmente – a um consumidor
diferente), por exemplo:

Figura 24 - Diferentes tipos de placas provenientes do desmantelamento de EEEs da linha verde.


Fonte: TR sucatas. Disponível em: <http://www.trsucatas.com.br/sucata-de-informatica>. Acesso em 20 nov.
2018.
• Demais peças que possuem valor agregado ao serem vendidas separadamente,
como HDs, fonte de alimentação etc

Akio ressalta, também, que a relação de comunicação com os catadores é parte


essencial do projeto, e consiste em uma abordagem complexa e delicada. Os catadores são
estigmatizados em sua rotina, e frequentemente enganados por atravessadores, como já
citado neste trabalho. Por este motivo, são pessoas com perfil introvertido e fechado. O que
torna o processo complicado, muitas vezes, já que para aprender é necessário tirar dúvidas
e sentir-se inserido no sistema. Com isso, é possível ver a importância do enquadramento
formal deste setor na Logística Reversa; uma vez vistos como integrantes do fluxo de
resíduos, serão menos julgados pela sociedade, e buscarão mais abertamente a
profissionalização de seus serviços. Para agilizar este processo, também é necessário
trabalhar com a consciência ecológica e social da população geral, o que por si só, já deve
reduzir o estigma que recai sobre os recicladores informais.

93
Infelizmente, a realização destes projetos só
é possível com patrocínio, e por isso o fomento
financeiro do governo ou demais instituições
patrocinadoras é essencial para a continuidade de
alguns e a criação de outros. Estas propostas,
segundo AKIO (2018), possuem, no mínimo, os
seguintes custos:
• Pagamento de pessoal envolvido no
trabalho (não são voluntários, são
convidados para cada projeto)
• Subsídio de transporte, alimentação e
compensação de trabalho ausente (pois,
durante o período do curso, os recicladores
não atuam na cooperativa de origem, e
deixam de gerar renda, então, há uma
compensação econômica para suprir os dias
de ausência).
Figura 25 - Resultados dos Projetos
Os resultados (Figura 25) mostram que realizados pelo Instituto GEA em parceria com
a Petrobras (EcoEletro, fase 1 e fase 2).
somente o desmantelamento em nível manual e Fonte: EcoEletro. Disponível em:
<http://ecoeletrofase2.com.br/ecoeletro2/>.
relativamente superficial (pois não há desmontagem Acesso em 20 nov. 2018.
de material fino e nem separação de substâncias, somente segregação de peças) já é capaz
de agregar valor ao resíduo. Com isso, vê-se a factibilidade do repasse destes conhecimentos
e o ganho real que é possível obter com essas informações nas mãos corretas.

II. O catador Bispo participou de um dos projetos realizados pelo Instituto GEA, neste
caso, o projeto Descarte Legal. Sempre foi ligado à internet e redes sociais,
divulgando os projetos dos quais participa e aberto a conhecer outros. Através deste
curso, Bispo - que já carregava muito conhecimento sobre Logística Reversa,
conceitos como valor agregado e Economia Circular, além de estar ciente de diversas
leis ambientais e estatísticas sobre geração de resíduos - aprendeu como o
desmonte de REEEs pode gerar renda mais rapidamente do que a reciclagem de
outros materiais.
Ele aponta que, desde que percebeu o potencial de arrecadação de dividendos, tem
focado no garimpo dos Eletroeletrônicos, principalmente da linha verde.
Segundo Bispo, há muitos recicladores que não fazem ideia do valor agregado que
esses componentes tecnológicos possuem, embora a maioria deles saiba, superficialmente,

94
que existem substâncias nocivas presentes em algumas partes desses produtos. Além disso,
Bispo recupera um ponto importante sobre a reciclagem de REEEs (e serve pra outros
materiais também): as peças e objetos garimpados pelos catadores possuem sempre melhor
qualidade do que as peças que chegam em aglomerados na cooperativa, doados por
empresas que querem dar destinação final aos seus produtos, seja por pressão de estoque
ocupado, seja por consciência ambiental.

5.3 COMPARAÇÕES, ORIENTAÇÕES E SUGESTÕES

As principais barreiras ao GRS enfrentadas por países em desenvolvimento estão


diretamente relacionadas à falta de recursos financeiros, infraestrutura local adequada,
planejamento, dados de quantidade, tipos de resíduos gerados e definição de
responsabilidades dos agentes envolvidos no processo (GONÇALVES, 2018).
A implementação de medidas de planejamento de longo prazo que incentivem a
redução de geração, separação na fonte, reciclagem, compostagem e redução do volume de
aterros sanitários são algumas ações que podem ser tomadas por estes países para melhorar
o sistema de gerenciamento de resíduos sólidos (GONÇALVES, 2018).
A legislação referente aos REEE é discutida - particularmente as diretivas Europeias,
que serviram de inspiração para a legislação de resíduos brasileira - no contexto da aplicação
do conceito de responsabilidade estendida do produtor, no qual esse passa a ser responsável
pela coleta e tratamento adequado dos seus produtos na fase do pós-consumo. Esse
tratamento deve seguir uma ordem de preferência estipulada pela hierarquia de gestão de
resíduos, pela qual deve-se prioritariamente nessa ordem, prevenir a geração, reusar,
reciclar, tratar e finalmente dispor adequadamente em aterro, o que não puder ser
aproveitado nas etapas anteriores (ARAUJO, 2013).
A criação e desenvolvimento de novas unidades gestoras privadas e cooperativas é
uma necessidade para absorver o volume de resíduos que serão coletados a partir da
aprovação dos sistemas de Logística Reversa. A capacitação dos catadores de materiais
recicláveis é um importante fator social, que vai gerar renda e auxiliar várias famílias, e deve
ser considerada, pois está prevista na PNRS e em outros Programas federais, como é o caso
do programa Pró- Catador (ARAÚJO, 2013).
“Os setores envolvidos no processo de implantação de Logística Reversa de
eletroeletrônicos não chegaram há um consenso para a assinatura do Acordo Setorial, até o
final de julho de 2014, tendo como principal justificativa do setor privado, a omissão e
morosidade do governo em solucionar questões. Em contrapartida, para o poder público, a
complexidade de assuntos legais que envolvem a implantação da Logística Reversa, retarda
95
o processo, pois dependem de decisões de múltiplos Ministérios” (ARAÚJO, 2013). No Brasil,
existem alguns desafios a serem superados para que se realize com êxito o Acordo Setorial
em direção à implementação da Logística Reversa de Eletroeletrônicos:
• O reconhecimento da não periculosidade dos produtos eletroeletrônicos pós-
consumo enquanto não haja alteração das suas características físico-químicas;
• Criação de norma legal que discipline a renúncia da titularidade do REEE
descartado;
• Envolvimento vinculante de todos os atores do ciclo de vida dos produtos
eletroeletrônicos não signatários do acordo setorial;
• Criação de documento auto declaratório de transporte com validade em território
nacional, de forma a documentar a natureza e origem da carga, dispensando quaisquer outros
documentos para sua movimentação;
• Em estudo, a participação pecuniária do consumidor para custeio da Logística
Reversa, destacada do preço do produto e isenta de tributação, bem como instrumentos e
mecanismos de compensação e custeio para produtos órfãos.
SARAIVA (2014)
A legislação brasileira define que a responsabilidade pelo gerenciamento dos Resíduos
Sólidos Urbanos é compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores,
comerciantes, setor público e consumidor, enquanto na União Europeia (incluso França) a
responsabilidade do fabricante é estendida, alargada, integral. Esse diferencial, que na
Europa coloca o consumidor como coadjuvante importante, faz com que no Brasil ele tenha
que ser tratado como protagonista (COUTO, 2017), e com isso, a responsabilidade da
ineficiência do SLR recai sobre a população geral. Isto acontece ainda que a legislação não
esteja sendo aplicada, e o Acordo Setorial não esteja sendo cumprido (além de não ter sido
assinado por todos os atores que estão envolvidos no sistema atual). Independente de todos
os atores reconhecerem a inaplicabilidade da legislação por diversos motivos, o descrédito
comum e a culpa recaem sobre os cidadãos em geral, que não investigam sobre o descarte
dos seus produtos e acabam conservando-os em suas residências.
Ao tomar como exemplar a gestão francesa de REEE’s, apresenta-se na tabela 18,
então, uma síntese da diferença dos procedimentos em cada etapa do fluxo de REEE na
França e no Brasil.
Tabela 18 - Comparativo França e Brasil para cada etapa do fluxo dos Resíduos Eletroeletrônicos..
Coleta Tratamento Processamento Final
Brasil Sucateiros e recicladores Nos depósitos e nas cooperativas, Reuso: leilões, Casas
individuais recolhem os os materiais são triados de acordo André Luiz, revenda
aparatos deixados pela com o gênero de comprador. Por de móveis – doações
população em alguns locais exemplo, se há um comprador para de móveis usados e
placa-mãe pesada, todas as placas- consertados e

96
públicos, sem ponto específico mãe pesadas são separadas das revitalizados para
formal de coleta. outras; se há um comprador para fios reutilização e busca
Para alguns produtos específicos de cobre, todos os fios de cobre são gerar fundos para as
como pilhas e baterias, há pontos separados. instituições ou é
de coleta relativamente bem Não há um desmantelamento fino aplicado para fins
divulgados (farmácias, (a nível de resistores, componentes sociais de
mercados, universidades, lojas pequenos e matérias-primas aprendizado (oficinas,
parceiras etc). A população deve específicas como ouro) pois para escolas, cursos de
levar até estes pontos e depois, isso é necessária mão-de-obra informática).
teoricamente, esse material é qualificada. Destinação final:
levado para um centro de (grande maioria) –
reciclagem (não há retorno ao aterros e lixões
fabricante, pois são de muitas
fabricantes diferentes). Porém,
não se sabe ao certo a
destinação destes insumos após
a entrega nos pontos. Enquanto
para outros REEEs não há
instrução clara de descarte e a
população deixa nas calçadas,
aguardando um “carreto”
(informal) que passa e recolhe.
Principalmente para aparelhos de
grande porte como a geladeira,
isto é um problema. E para
televisão também, por conta dos
materiais perigosos presentes.
França Com muitos pontos de coleta Os resíduos coletados são, ou Reuso: Emmaüs e
espalhados pela cidade e com enviados para os Eco-organismos Envie - revenda para
informações divulgadas em que os triam e os enviam para cada público por preços
folhetos nas caixas de correio tipo de prestador, ou já são menores (ANEXOS A
residenciais, os residentes recolhidos por esses prestadores e D)
também devem fazer a entrega estabelecidos (como o caso da Reciclagem - feita até
em mãos, voluntariamente. Corepile, que já recolhe as pilhas o nível da matéria
Isso pode ser feito nas casas diretamente da Déchèterie em prima
Emmaüs, nos pontos de coleta Vannes). Destinação final –
espalhados pelas ruas (há Cada prestador é responsável pelo parcela mínima:
muitos), ou diretamente nas tratamento do REEE atribuído, e o valorização
unidades físicas dos Eco- faz da forma mais conveniente energética
organismos, que estão bem possível. (incineração) ou
localizados e a população em As partes não reaproveitáveis ou enterrado e
geral sabe apontar onde fica o não-consertáveis consertáveis são monitorado por dez
mais próximo. desconstruídas e desmanteladas até anos
Não há sucateiros. o nível da matéria prima, que então é
vendida para algum manufaturador
que a utiliza em seus produtos. As
porções não separáveis e portanto
não vendíveis (ou que não possuem
um mercado cujo valor da matéria
reutilizada compense o valor da
nova) são enterrados nos aterros
sanitários.
Fonte: elaborado pelo autor.
Quanto à participação de catadores de materiais reaproveitáveis nos Sistemas de
Logística Reversa de embalagens, por exemplo, estima-se a criação de 128.217 novos
postos de trabalho em todo o território nacional (COUTO, 2017). Ao considerar os REEEs
como uma categoria de material que ainda não dispõe de nenhum tipo de organização,
97
devemos lembrar que muitos mais postos de trabalho seriam criados se um SLR eficiente
fosse estabelecido para esta cadeia, além de movimentar grandes montantes devido ao valor
agregado que está associado aos Resíduos Eletroeletrônicos.
Por isso, esta discussão final é um rol de orientações e sugestões, (baseadas no fluxo
de resíduos da França) que devem ser consideradas na implantação de um sistema de
Logística Reversa de Eletroeletrônicos, visando melhorar o gerenciamento de Resíduos
Sólidos Eletroeletrônicos no Brasil:

I. Em matéria de suporte:

Foram escolhidos 5 conceitos indispensáveis que devem ser prioritariamente


reiterados durante as decisões envolvidas na implantação de um sistema de reciclagem e
reaproveitamento de resíduos sólidos, e mais aplicadamente, dos REEEs, são estes:

Conceitos:
Avaliação do Ciclo de vida
A Avaliação do Ciclo de vida foi padronizada pela International Organization for
Standardization (ISO), que elaborou a ISO 14040 sobre a Avaliação do Ciclo de Vida,
publicada no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT. Conforme
a própria ISO 14040 (2006), a Avaliação do Ciclo de Vida é a compilação e avaliação das
entradas, das saídas e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao
longo do seu ciclo de vida (WILLERS, 2013). Para identificar as estratégias de melhoria mais
eficazes e evitar o deslocamento da carga de um impacto ambiental para outro, todos os
impactos que ocorrem através da cadeia produtiva (cadeia de suprimentos mais as fases de
uso e descarte) devem ser contabilizados (HELLWEG, 2014).

Economia Circular
Como uma estratégia sustentável, regenerativa e restaurativa, cujo objetivo é manter
produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo
(ARAÚJO, 2017).

Logística Reversa
É a área da logística empresarial que fecha o ciclo dos fluxos logísticos empresariais
tradicionais da chamada logística direta: de suprimentos, internos à organização e de
distribuição de mercadorias na direção do mercado, ocupando-se com os diversos fluxos de

98
retorno de mercadorias, sob a forma de produtos de pós-venda ou de pós-consumo. (LEITE,
2014)

Responsabilidade Estendida do Produtor


Uma política ambiental amplamente utilizada pelos países desenvolvidos. A REP é um amplo
conjunto de políticas ambientais que incentivam os fabricantes a aceitar as responsabilidades
de seus produtos para a fase pós-consumo (OECD, 2001; 2014 apud OLIVEIRA, 2016).

Ecodesign
O Ecodesign é executado através da definição criteriosa dos materiais a serem utilizados e
do desempenho ambiental do processo de fabricação, da correta manutenção do produto, da
prática da Logística Reversa, da reutilização, desmontagem, remanufatura, reciclagem e
disposição final do produto. Valendo-se destas técnicas em todas as etapas do ciclo de vida
do produto, é possível alcançar produtos e processos ambientalmente sustentáveis
(GONTIJO, 2010). O Ecodesign pode agregar sustentabilidade às estratégias de projeto e à
gestão de operações (BORCHARDT, 2010).

II. Sugestões de conduta e práticas gerais


II.1 Descentralização de funções
A descentralização dos serviços do Gerenciamento de Resíudos Sólidos Urbanos
(GRSU), juntamente com definições de papéis e responsabilidades claras para os setores
público e privado, em cooperação com a população, é apontada como uma medida
necessária para a criação de um gerenciamento eficiente. Essa descentralização pode
favorecer o sistema de gerenciamento à medida que ele começa a considerar as
características típicas de cada localidade ao longo do planejamento do sistema de
gerenciamento. A gestão inadequada de Resíduos Sólidos Urbanos, em termos de
tecnologias de tratamento, reciclagem, disposição final e estratégia de gestão, leva a perdas
econômicas, ao mesmo tempo em que representa uma ameaça à saúde pública e aos
recursos naturais (GONÇALVES, 2018).
Isso significa separar, razoavelmente, as funções para serem executadas por
diferentes setores do mercado, o que está então vinculado à orientação 3.1.
É preciso então:
• Definir o início e o limite da área de responsabilidade de cada setor (indústria,
comércio, cooperativas, poder público etc), incluindo responsabilidades conjuntas

99
• Definir os procedimentos para resolver e responsabilizar os casos de exceção (i.e
casos que não se enquadram nas atribuições pré-definidas)

II.2 Inclusão social


Não somente os catadores e cooperativas - que no caso brasileiro (e dos países em
desenvolvimento) atuam apenas em uma etapa do ciclo de vida dos Resíduos
Eletroeletrônicos (o transporte para a central e a preparação/separação para venda) -, mas
também outros setores vulneráveis da população podem e devem ser inseridos nos negócios
sustentáveis do Gerenciamento de Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos.
É importante destacar o papel significativo do setor informal nas etapas de coleta e
separação dos Resíduos Sólidos Urbanos. Os catadores e recicladores informais devem ser
levados em conta sempre pois eles já fazem grande parte do trabalho sobre os RSU. No
entanto, é evidente que o setor informal não está integrado ao sistema de gestão formal e
essa integração é necessária para aumentar a eficiência do Gerenciamento de Resíduos
Sólidos (GONÇALVES, 2018). Com relação ao processo de integração, isso pode ocorrer por
meio da capacitação profissional, bem como pela legalização do trabalho desses catadores,
que levam ao aumento da quantidade de resíduos recicláveis coletados e,
consequentemente, facilitam as etapas de tratamento e disposição final. Nesse sentido,
ganhos econômicos, ambientais e sociais são gerados (GONÇALVES, 2018).
Alguns postos de trabalho potenciais para este mercado informal, no sentido
de torna-lo então formal, adaptado à realidade brasileira são:
• (I) Coleta de material eletrônico de diversas escalas e em diversos estados, feito
já por catadores individuais e cooperativas
• (II) Trabalhadores já capacitados, frutos da reinserção legal, podem trabalhar nas
cooperativas, fazendo esse desmantelamento, e inclusive SEGREGAR o que
PODE ou NÃO ser consertado por um outro (III) capacitado.
• Este (III) capacitado pode reunir as peças com potencial de reutilização (quando
houver) e promover consertos em aparelhos que possuem míseros defeitos,
fomentando ainda a tentativa de prolongar o ciclo de vida do produto.
• Com isto, os aparelhos consertados pelo (III) podem ser vendidos em
funcionamento pelo (IV) vulnerável em questão, em um local de revenda; e neste
caso, esse tipo de equipamento (aquele que está em funcionamento) possui o
maior valor agregado possível.
• Este local de trabalho pode tornar-se também um ponto de coleta solidário, que
incentiva as pessoas a doarem os materiais diretamente para estes trabalhadores,
uma vez cientes de que eles tratarão nobremente seus equipamentos (tentarão,

100
sem outra brecha, dar a destinação correta para todos os componentes); e isto
não somente pelo ambiente mas sim porque é a principal fonte de renda para os
mesmos.

Os setores vulneráveis da sociedade que podem ser incluídos neste postos, gerando
renda e segurança social para os mesmos, são:
❖ Ex-presidiários
❖ Deficientes desalocados no mercado de trabalho
❖ Imigrantes em situação de irregularidade
❖ Idosos
❖ Catadores (já executam sua função dentro dessa logística)

II.3 Implementação do EcoDesign e Desenvolvimento de técnicas para melhorar


a rastreabilidade dos produtos

Ecodesign é uma concepção baseada em questionamentos com um objetivo


integrado e único de melhorar os aspectos ambientais de produtos, processos e serviços.
Esse aprimoramento não deve se limitar apenas à quantificação e minimização dos
impactos ambientais diretos no ecossistema, mas considera também a otimização do
desempenho ambiental através de ações articuladas como (GIUDICE, et al., 2006;
MACKENZIE, D., 1991 apud GONTIJO, 2010):

• Redução de desperdícios e redução na geração de resíduos;

• Utilização adequada de materiais em função do desempenho exigido, da sua recuperação


e da redução de poluentes tóxicos;

• Otimização do processo de produção, consistindo no planejamento de processos que são


energeticamente eficientes e com emissões reduzidas e;

• Melhor aproveitamento do produto na fase de utilização, visando sobretudo a redução de


recursos para sua produção ou a necessidade de recursos adicionais durante o seu
funcionamento

O Ecodesign é concretizado pela avaliação criteriosa dos materiais a serem


utilizados e do desempenho ambiental do processo de fabricação, da correta manutenção
do produto, da prática da Logística Reversa, da reutilização, desmontagem, remanufatura,
reciclagem e disposição final do produto. Utilizando estes mecanismos em todas as fases do
ciclo de vida do produto, é possível obter informações e resultados que permitirão obter
101
produtos e processos ambientalmente sustentáveis (GONTIJO, 2010). É necessário criar
designs que possibilitem posterior utilização de componentes, ou utilizando componentes
que permitam ser substituídos para prolongar a vida útil dos restantes no produto (ARAUJO,
2013).

“A caracterização dos equipamentos qualitativa e quantitativa é necessária para a


desmontagem e a devida separação dos componentes com substâncias perigosas. Com
isso, evita-se também o envio desses componentes para rota tecnológica não indicada, e.g.,
incineração de componentes que contenham mercúrio ou que formem dioxinas e furanos,
substância de grande impacto ambiental (CUI & FORSSBERG, 2003).” (ARAÚJO, 2013)

“Algumas tecnologias de rastreabilidade podem contribuir para a melhoria do


desempenho da gestão dos Resíduos Eletroeletrônicos no Brasil. Por exemplo, as
tecnologias de identificação de produtos, como a Radio Frequency Identification (RFID) e o
Código de Barras, podem viabilizar as práticas de Logística Reversa dos REEE” (XAVIER et
al., 2010; HEWLETT PACKARD (HP), 2011; BOSE; YAN, 2011; PANDINI, 2012; ANGELES,
2013; OHDE, 2013; OLIVEIRA; MARINS; MUNIZ JÚNIOR, 2014; CARVALHO; XAVIER,
2014; DEPA, 2015; RFID-CoE, 2015; RFID JOURNAL, 2015; ABDI, 2015a; GS1 BRASIL,
2015; VINÍCIUS et al., 2015 apud OLIVEIRA, 2016).

Pesquisadores ressaltam as limitações de procedimentos automáticos devido a


diversidade de formatos e configurações dos equipamentos, necessitando-se assim de
trabalho manual com maior intensidade da desmontagem para devida separação de materiais,
o que pode torná-lo um processo caro, inviabilizando o reuso do equipamento (NNOROM et
al.,2007 apud ARAUJO, 2013). Com informações específicas sobre essas configurações,
substâncias presentes, montagem e desmontagem etc, providas pelos próprios fabricantes,
esse valor do trabalho de desmantelamento pode ser reduzido graças à simplificação do
processo promovida pela disponibilização dessas informações no produto, e com isso,
encorajar tanto o reuso quanto a reciclagem desses artefatos. A rastreabilidade permite
disponibilizar essas informações para todos.

“Retornos de produtos e materiais devem ser evitados antes de qualquer aplicação de


Logística Reversa. Algumas medidas para evitar retornos indevidos podem ser tomadas,
como controles de qualidade mais rígidos, atendimentos de call center junto aos clientes,
controles de políticas de retorno com os distribuidores” (SOUZA e FONSECA, 2008 apud
ROSA, 2016). A rastreabilidade associada à uma boa comunicação entre todos os atores
envolvidos na LR de EEEs possibilita que os recursos sejam poupados de forma eficaz.

102
Portanto o Ecodesign deve ser incentivado, por exemplo, através de isenções fiscais
e tributárias para os produtores que estiverem sempre aprimorando seus produtos.

III. Alguns dos princípios necessários para desenvolver uma boa política de REEEs:

“A efetividade da implantação do sistema de Logística Reversa


depende da participação e envolvimento do consumidor, pois se ele não der
o destino correto ao eletroeletrônico em locais pré-estabelecidos a Logística
Reversa não acontece. Um dos representantes do governo federal disse que
existe a preocupação de comunicar o consumidor, e que já existem
campanhas midiáticas de âmbito nacional prontas, para que, no momento
em que iniciar o processo de implantação da logística, as campanhas
possam ser veiculadas.” (FERREIRA, 2014)

• Campanhas de Conscientização adequadas e específicas


• Assegurar o acesso confiável às matérias-primas
• Eficiência no processo de recuperação
• Estimular a criação de gestão de REEEs e infraestruturas para sua reciclagem
• Reconhecer o princípio da Responsabilidade Extendida do Produtor (EPR)
(STEP, 2015)
• Encorajar o Acordo Setorial de forma durável, útil e honesta (ver item 3.2)
• Solidificar uma base de dados sobre os REEEs colocados no mercado e
processados, para que as informações sejam acessíveis e permitam a
aprimoração contínua da LR

IV. Proposta para os atores envolvidos atualmente

IV.1 Definição explícita dos papeis de cada ator


As principais barreiras ao Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos enfrentadas
por esses países estão diretamente relacionadas à falta de recursos financeiros,
infraestrutura local adequada, planejamento, dados de quantidade, tipos de resíduos gerados
e definição de responsabilidades dos agentes envolvidos no processo (GONÇALVES, 2018).
É necessária a implementação de medidas de planejamento de longo prazo que incentivem
a redução de geração, separação na fonte, reciclagem, compostagem e redução do volume
de aterros sanitários são algumas ações que podem ser tomadas por esses países para
melhorar o sistema USWM (GONÇALVES, 2018).

103
“A criação e desenvolvimento de novas unidades gestoras privadas e
cooperativas é uma necessidade para absorver o volume de resíduos que
serão coletados a partir da aprovação dos sistemas de Logística Reversa. A
capacitação dos catadores de materiais recicláveis é um importante fator
social, que vai gerar renda e auxiliar várias famílias, e deve ser considerada,
pois está prevista na PNRS e em outros Programas federais, como é o caso
do programa Pró- Catador.” (FERREIRA, 2014)

Na Europa, uma vez que a responsabilidade de gerenciar os REEEs recai sobre os


próprios produtores, importadores, fabricantes etc, estes precisam arcar com os custos desse
processo continuamente dentro da legislação. Por isso, buscam elaborar métodos e arranjos
da forma mais economicamente viável e ambientalmente sustentável. Esse êxito só se dá
porque a legislação é extremamente clara em relação ao envolvimento e compromisso de
cada ator para com todas as categorias de resíduo.
Além disso, uma vez que a primeira fase de um SLR - como propõe a legislação
brasileira - depende do retorno feito pela população dos produtos pós-consumo, na gestão da
manutenção desse sistema deve ser estimado como ocorrerá a participação da população e
devem ser previstos canais de comunicação que estimulem essa participação contínua
(COUTO, 2017).
Os papeis de cada ator devem ser bem definidos para que exista a possibilidade de
monitorar e punir aqueles que não arcam com suas atribuições. No papel do poder público
(válido para todas as esferas administrativas), é necessário então que, por exemplo, dentre
outras ações:

• Incentive a criação de gestoras privadas através de isenções fiscais e outros


instrumentos econômicos e de desburocratização de processo
• Incentive a criação de cooperativas, criando editais e dedicando parte da verba
pública ao financiamento e subsídio de projetos com cunhos sociais de inclusão de
catadores e recicladores
• Promova projetos de capacitação tanto para catadores individuais, quanto para
cooperativas, através de alianças com universidades e ONGs, de forma a habilitá-
los seguramente para a execução de reciclagens mais complexas, como dos
REEEs
• Reconheça e regule as documentações necessárias para registrar os volumes que
passam em cada etapa do fluxo de resíduos

104
• Crie, se necessário, algum tipo de certificação (como o WEEELABEX) de
destinação correta para que todos os setores e agentes da sociedade confiem no
sistema de Logística Reversa implantado, estimulando assim, os primeiros passos
a serem trabalhados no fluxo dos Resíduos Eletroeletrônicos no Brasil: I. a
devolução do produto pelo consumidor aos fabricantes e II. a entrega desse
material pelos setores responsáveis pelo recebimento deste, aos recicladores
organizados
• Consiga gerir e identificar os ônus e bônus presentes na Logística Reversa para
cada setor da sociedade, para que os acordos setoriais e as políticas de incentivo
estejam sempre regulando em consonância aos interesses de todos os atores
envolvidos, mantendo a eficácia do SLR. (Pois por exemplo, representantes do
setor do comércio e indústria frequentemente mencionam que ficariam em
desvantagem total com alguns sistemas de LR, já que teriam que arcar com custos
da destinação, por exemplo, de produtos pirateados, que não foram produzidos e
vendidos por eles.)
• Legisle de forma clara e não ambígua ao responsabilizar os atores por diferentes
processos e serviços, e divulgue midiaticamente em linguagem popular e acessível
sobre essas atribuições
• Oriente a mudança de cultura do consumidor, do comerciante e de suas equipes
quanto ao manuseio e à segregação adequada e a posterior devolução dos
resíduos (COUTO, 2017), além de divulgar e informar aos habitantes como
proceder com todos os resíduos, e tornar os pontos de coleta local de
solidariedade, convivência social e atrativo para o público, “desestigmatizando” a
impressão do lixo como algo sujo, inferior, isolado. (ANEXOS B e C)

IV.2 Acordos setoriais devem ser feitos e cumpridos


Segundo representantes da indústria, para a inclusão dos catadores na Logística
Reversa, é necessária uma reorganização da estrutura das cooperativas, uma vez que a
indústria é corresponsável pelo resíduo eletroeletrônico enviado às cooperativas. Com isso,
se um dano ambiental ocorre, a culpa pode recair sobre a indústria que enviou o material, por
isso é necessário haver alguma segurança; se não houver, os resíduos serão enviados para
uma entidade gestora devidamente estruturada e regulamentada, e não às cooperativas
(FERREIRA, 2014).
“Em alguns países, as regras de operação dos programas de coleta e
tratamento de REEE são bastante detalhadas. Ocorrem diversas situações
aonde é necessário um acordo entre as partes, como por exemplo, produtos

105
orfãos, caroneiros, alocação dos custos de tratamento entre os produtores
participantes do programa e outros.” (ARAUJO, 2013).

Com o estudo de caso francês, fica claro que todo o processo só funciona graças à
cooperação entre todos os atores, incluindo consumidores, Eco-organismos,
produtores/fabricantes etc. Portanto, os acordos setoriais devem:
• Ser detalhados ao máximo, mencionando documentos de segurança que devem
ser requeridos e emitidos por cada parte, recibos, estatísticas de monitoramento,
metas etc
• Satisfazer de forma razoável todos os setores da sociedade, de forma a ser
realmente assinado por todos, sem exceção
• Serem regulamentados por um órgão fiscalizador maior para que os
procedimentos sejam controlados

IV.3 Subsídios ou políticas incentivadoras


“Há evidências de que existe um mercado de reuso de Equipamentos
Eletroeletrônicos no Brasil, mas o tamanho desse mercado não é facilmente mensurável, pois
o uso em cascata é muito comum, com a doação ou venda dos equipamentos para pessoas
de poder aquisitivo inferior, resultando assim, em um prolongamento da vida útil dos produtos,
mas com grande variação regional.” (ARAÚJO, 2013)
Alguns estudos associam as altas taxas de reciclagem à existência de incentivos
econômicos formais (BOHR, 2007, apud ABDI, 2012 apud SANTANA, 2017). Esse fato é
atribuído à proporcionalidade do custo da reciclagem em relação à sua eficiência, ou seja,
quanto mais se busca uma alta taxa de reciclagem (gerando uma menor quantidade de
rejeitos), mais caro fica o processo (SANTANA, 2017).
Hoje, o REEE não recebe qualquer tipo de isenção de impostos para que se
transforme em insumo reinserido no processo industrial novamente. Ainda pior: em alguns
Estados brasileiros, a matéria-prima de origem reciclada passa por bitributação – ou seja, é
duplamente taxada. Na prática, a questão fiscal não está presente nem na forma de
incentivos, nem com isonomia de tributos entre matéria-prima virgem e reciclada. Esse seria
o primeiro passo para o Brasil avançar na viabilidade econômica da reciclagem de
eletroeletrônicos. (ABINEE, 2017)

• Devem haver políticas incentivadoras para que o mercado de reuso de


equipamentos também seja contemplado, igual ou ainda mais do que o mercado
da reciclagem - o reuso pode ser tanto do produto, quanto de seus componentes,
separadamente, mas é necessário avaliar-se antes da desmontagem desse, se o
106
equipamento como um todo, pode atender as necessidades de algum outro
proprietário. (ARAUJO, 2013)
• Subsídios e financiamentos devem estar disponíveis para viabilizar a aquisição de
tecnologias de ponta, ao menos para a fase da separação/triagem do material
(RMAI, 2018; SANTANA, 2017)
• Patrocínios para projetos que visam capacitar recicladores, tanto individuais
quanto os associados às cooperativas, devem ser frequentes e devem ser
apoiados pelo poder público (quando não providos pelo próprio)
• Isenção de tributação da atividade de LR (COUTO, 2017)

IV.4 Legislação
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, municípios acima de 20 mil
habitantes devem possuir Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, e abaixo deste
porte, devem elaborar um Plano Simplificado de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
(PSGIRS). Ou seja, todas as administrações devem metodizar a coordenação dos seus
resíduos em alguma medida, sem exceções, e este desígnio deve ser alcançado o mais
rápido possível levando em consideração o precário cenário brasileiro em relação à produção
de resíduos. Este é o primeiro passo a ser seguido para a sustentabilidade na gestão dos
resíduos em geral.
Não obstante, esforços devem ser feitos também sobre as categorias de resíduos
emergentes, incluindo os REEEs. Portanto, por exemplo, as prefeituras devem:
I. Legislar em suas normas, de forma específica e clara, sobre a temática dos
Resíduos Eletroeletrônicos;
II. Declarar metas para esses sistemas;
III. Instituir formas de monitoramento;
IV. Criar bancos de dados integrados com outras administrações para
compartilhar resultados e permitir o diagnóstico acerca das falhas e êxitos
dessas políticas governamentais;
V. Designar exatamente como devem proceder todos os atores com poder de
ação em matéria de Resíduos nessa esfera administrativa (municipal);
VI. Estabelecer, quando necessário, concessões e acordo setoriais que
possibilitem um bom desempenho na execução dessas políticas;
VII. Considerar a importância de divulgar, aos habitantes, esses
conhecimentos/procedimentos sobre resíduos e acerca da legislação da
cidade;

107
VIII. Reiterar o interesse e mérito do sucesso da Gestão de Resíduos Sólidos como
parte da performance das políticas de saneamento básico da cidade
IX. Evocar a magnitude da “pequena atitude municipal” ao não contribuir com o
despejo e venda informal de lixo eletrônico, sem alimentar, portanto, a situação
precária de crianças e outros vulneráveis envolvidos na reciclagem informal
da exportação de REEEs
X. Reformular sua política sempre que houver sugestão cabível ao
aprimoramento da gestão de resíduos sólidos da cidade, independente da
categoria destes.

5.4 CONCLUSÕES

Diante da clara comparação entre os cenários Brasil e França, pôde-se concluir que
ambos são equiparáveis no âmbito legal, o que é uma constatação justificável uma vez que
a legislação brasileira em matéria de REEEs foi baseada exatamente nas Diretivas Europeias
citadas neste trabalho. A principal diferença entre os dois países são as tecnologias
disponíveis para o processamento desses resíduos, e a eficiência na aplicação e fiscalização
dessas normas.
Desse modo, os esforços dos atores envolvidos no processo são diferentes e isso traz
resultados ruins para o caso brasileiro. Existe a necessidade de considerar a atual situação
do país para que uma solução adequada seja encontrada, e isso inclui, essencialmente, a
inclusão e capacitação dos catadores de material reciclável, além da solidificação burocrática
de cada responsável pela cadeia (como a assinatura do Acordo Setorial, por exemplo).
A sustentabilidade é negligenciada em um país tão próspero quanto o Brasil, e cada
passo em direção à resolução deste problema, deve ser dado, independente de sua
magnitude. “O maior de todos os erros é não fazer nada só porque se pode fazer pouco. Faça
o que lhe for possível”. – Sydney Smith

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<https://siteresources.worldbank.org/INTURBANDEVELOPMENT/Resources/336387-
1334852610766/What_a_Waste2012_Final.pdf>. Acesso em 26 out. 2018.

116
WWF (2018). Pegada Ecológica. Disponível em:
<https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/>. Acesso em 7 dez. 2018.

ANEXOS

ANEXO A – FOLHETO DE COMPRA SOLIDÁRIA POR PREÇOS ACESSÍVEIS PARA


REEEs RECUPERADOS E CONSERTADOS

117
ANEXO B – FOLHETO DE INSTRUÇÃO: ONDE SE INFORMAR PARA TRIAR OS
RESÍDUOS

118
119
ANEXO C – FOLHETO EDUCATIVO DE TRIAGEM, O QUE SEPARAR E O QUE PODE
SER DESCARTADO NA DÉCHÈTERIE

120
ANEXO D – EMMAÜS VANNES, PARTE DA RÉCYCLERIE (RECICLARIA) - LOCAL DE
TRABALHO DE LUDOVIC

Local de trabalho de Ludovic, que


recebe aparelhos de diversos
portes, principalmente
eletromésticos, como ventiladores,
climatizadores, batedeiras,
aspiradores de pó, fogões e
geladeiras. Os que não são
consertados ali para serem vendidos
na salle de ventes, são enviados à
Lorient para desmantelamento total
e extração de matérias primas.

121
ANEXO E – DÉCHÈTERIE VANNES – JEAN FRANÇOIS RESPONSÁVEL PELA
ORGANIZAÇÃO DIÁRIA DO LOCAL

122
Caixa de coleta da Corepile, Eco-organismo responsável, desde 2010, pela coleta e
reciclagem das pilhas por toda a França.

123
Depósito de resíduos
têxteis, onde a população
deve colocar roupas e
sapatos. Estas podem ir para
doação e alimentar
instituições de economia
solidária como a Emmaüs (55%), ser reciclada (35%) ou energeticamente valorizada (10%).

124
Caçamba da
Déchèterie destinada aos
resíduos não valorizáveis, que
são enviados ao Centro de
enterro.

125

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