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Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação e Formação Humana da
Universidade do Estado de Minas Gerais e orientanda do Prof. Dr. José Eustáquio de Brito. E-mail:
alessandra@medicina.ufmg.br.
INTRODUÇÃO
Este texto vem apresentar uma reflexão acerca da relação entre a Ética e Moral
pensando a Escola, a Educação e a Cultura ao evidenciar o paradoxo que se exprime
nestas relações entre o espaço e o indivíduo, num contexto de afirmação de identidade
em que a formação docente deve ser considerada como mediadora de combate ao
preconceito e a discriminação na garantia do direito à igualdade.
A ética de responsabilidade pode ser compreendida como sendo aquela que leva
o ser humano a orientar suas condutas, refletindo sobre as possíveis repercussões de
suas atitudes em determinado contexto social. Nesta dimensão o indivíduo é visto como
um homem político e não somente homem comum, pois é levado a reflexão acerca da
relação meio-fins, sendo chamado a sua responsabilidade de projetar o que pode
decorrer de suas decisões, ou seja, o sujeito social molda seus atos e age reflexivamente
sempre levando em consideração o outro, imprimindo intencionalidade a suas ações.
A segunda dimensão ética leva o homem a agir de acordo com seus sentimento e
valores, em consonância com o conceito de homem comum, implicando ações que não
levam em conta as consequências e nem tampouco a coerência e adequação dos meios
para obtenção dos resultados, refletindo a noção de eficácia e não o caráter da própria
ética. Considerando este aspecto, pode-se dizer que a ética serve para fundamentar uma
moral, sem ser em si mesma normativa ou preceptiva, ou seja, a ética não é a moral,
portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições. A ética aparece
como uma reflexão crítica a respeito da moral, conforme explicita Vázquez (1980). A
moral surge como um conjunto de determinações e comportamentos aceitos em uma
determinada época e sociedade, equivalente a regras que vão restringir a liberdade
individual, estabelecendo os valores que dizem respeito ao bem e ao mal, ao que é
desejável e o que não é, em termos comportamentais, de cada indivíduo.
Baseando-se nesta premissa, podemos afirmar que a dimensão ética, agora ancorada ao
ponto de vista educacional, contribui para formação e construção do indivíduo,
permitindo-lhe a percepção de inclusão como membro de um grupo social. Por
conseguinte, acaba assumindo um caráter eminentemente coletivo e não individual.
De acordo com a afirmação da filosofia grega, de que o homem não existe só,
portanto, o ser humano é essencialmente um ser social, a dimensão ética do existir
humano é resultado da condição que reafirma que o homem é um ser de relações e estas
relações implicam nos valores que determinam a qualidade de sua interação. O estudo
do conceito de cultura, então, surge através da preocupação com o outro, nos remetendo
ao entendimento mais abrangente do termo cultura.
A cultura, como aponta Marilena Chauí (1994, p.295) “é a maneira pela qual os
humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica,
política, religiosa, intelectual e artística”.
Na esteira do que foi dito, o indivíduo para se adaptar a qualquer ambiente, deve
procurar respeitar as regras de convivência. Neste contexto, subentende-se que educação
seja uma atividade básica de todas as sociedades humanas porque sua sobrevivência
depende da transmissão de sua herança cultural, ou seja, o modo de ver o mundo, os
diferentes comportamentos sociais e as diversas apreciações de ordem moral e
valorativas. Portanto, estudar cultura é estudar um sistema de símbolos, um sistema de
regras e, para socializar é necessário o aprendizado das regras de comportamento do
grupo.
Não existe educação que não esteja imersa na cultura da humanidade. Não se
pode conceber uma experiência pedagógica externa à referencial cultura, pois, as
práticas educativas devem ser desenvolvidas com base nas articulações com as
necessidades da vida política, social, individual e coletiva. Nesse viés, podemos traçar a
importância do estudo da natureza social do processo educativo, das relações existentes
entre a escola, a sociedade e a importância da educação e formação do educador.
Neste momento nos reportamos a identidade cultural. Esta pode ser definida
como conjunto de características comuns pelas quais grupos sociais constroem sentido
de pertencimento, e, ou, o conjunto de valores através dos quais se manifestam as
relações entre indivíduos de um mesmo grupo que partilham patrimônios comuns como
a cultura, a língua, a religião, os costumes, dentre outros. Por intermédio da identidade
cultural um indivíduo se identifica com um determinado grupo favorecendo assim, a
coesão da sociedade. A identidade cultural pode enfatizar aspectos relacionados ao
sentimento de pertencimento a uma determinada cultura étnica, racial, linguística,
religiosa, regional e/ou nacional.
Pela conjectura de estreita ligação existente entre as questões culturais e a
identidade, evidencia-se que as identidades culturais não são rígidas ou imutáveis
porque estão sempre em processos de identificação e transformação. Assim,
"identidades são, pois, identificações em curso"(SANTOS, 1997, p. 135). “o que define
a escola (...) é precisamente o fato de ser um ambiente formativo de identidades”
(SILVA, J. M., 1996, p. 47). A escola consequentemente deve ser vista como local de
acolhimento, de respeito à diversidade, a democracia e seus valores.
Partindo desta premissa, pode-se afirmar que para o exercício da cidadania se faz
necessário a compreensão dos direitos humanos em uma concepção de respeito, onde
somente é considerado, de fato, cidadão, o sujeito que conhece e usufrui de seus
direitos, todavia, respeitando os deveres advindos destes.
Corroborando com esta ideia, Lima (2002, p.71) afirma que “a educação escolar
para a cidadania só é possível através de práticas educativas democráticas, desta forma,
promove valores, organiza e regula um contexto social em que se socializa e se é
socializado”.
Portanto, a cidadania não é exterior a pessoa e sim faz parte e começa na relação
do próprio sujeito consigo mesmo, para posteriormente, se expandir para seus pares e a
sociedade como um todo. É neste contexto, que a formação docente dentro dos
princípios básicos dos direitos humanos, da responsabilidade pessoal e coletiva, do
respeito, dentre outros valores, é uma possibilidade privilegiada para o exercício da
cidadania, ao possibilitar a formação das bases necessárias para a atuação dos diversos
sujeitos dentro da escola e consequentemente da sociedade.
Diante desta proposta de diversidade no ensino, no dia 09 de janeiro de 2003,
como instrumento de conscientização e de combate à discriminação e ao racismo, a Lei
10.639/03, foi sancionada e posteriormente, a Lei 11. 645 (que enfatiza a mesma
temática indígena) vêm acrescentar à LDB 9.394, a obrigatoriedade nos
estabelecimentos de ensino básico, públicos ou particulares do ensino de História da
África, dos africanos, da cultura negra brasileira, na luta dos negros no Brasil, bem
como sua contribuição para a formação da sociedade nacional, valorizando assim, a
participação do povo negro nas áreas social, política e econômica, “verbis: Artigo 25: §
4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
indígena, africana e européia”.
Esta temática, pela lei, passa então, deve ser trabalhada no âmbito de todo o
currículo escolar, com maior ênfase nas disciplinas de História, Literatura e Educação
Artística, restringindo a elaboração de ações voltadas para Educação das Relações
Étnico-Raciais a docência.
Desta maneira, tais ações que visam à superação de desigualdades históricas que
atingiram determinados grupos da sociedade e que fazem parte da Política Nacional de
Promoção da Igualdade Racial, estabelecida pelo SEPPIR em 2003, buscarão pelo
reconhecimento e afirmação do caráter pluriétnico da sociedade brasileira.
Sendo assim, a luz do ensino e da diversidade cultural garantida, estas políticas
de promoção da igualdade racial são expressões que designam a equiparação dos
direitos e liberdades fundamentais de distintos grupos sociais de forma temporária, ou
seja, até que a situação seja revertida totalmente. Adotado pela ONU em 1966, o termo
medidas especiais, têm seus princípios estabelecidos pela Convenção Internacional
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, onde foi tratado o
comprometimento da adoção de políticas de eliminação da discriminação, desigualdade
racial enraizada no Brasil pela hierarquização. Ainda hoje se encontra, de forma velada,
uma forte discriminação racial - iniciada no período da escravidão - onde a ideia de que
as questões de raça são motivos de conflitos e discriminação, influenciando portanto, no
desenvolver deste sujeito quanto ao seus valores e reconhecimentos culturais.
REFERENCIAL:
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. 1°. ed.13° reimpr. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos. 2008.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para Uma Pedagogia do Conflito. In: SILVA, Luiz H.
et Allii (orgs.) Novos Mapas Culturais – Novas Perspectivas Educacionais. Porto
Alegre: Editora Sulina, 1996.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-
modernidade. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
SILVA, Jair Militão da. A autonomia da escola pública: a re-humanização da escola.
Campinas: Papirus, 1996.