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Introdução
Ao abordarmos a temática do futebol avaliamos quase que exclusivamente as relações do
homem com este esporte. Apesar do crescimento do futebol feminino no Brasil, ainda é tímida a
presença da mulher neste campo, seja como atleta, dirigente ou torcedora.
Em Porto Alegre, no entanto, existe, há pouco mais de quatro anos, um grupo de mulheres
que se reúne regularmente no complexo do estádio Olímpico Monumental, de propriedade do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, para tratar de futebol, entre outras questões. Unidas em torno de
um sentimento de amor pelo clube, o Núcleo de Mulheres Gremistas caracteriza-se pela promoção
de diferentes atividades sociais em prol do Grêmio e da sociedade gaúcha em geral. Isto sem contar
o apoio ao time nas arquibancadas, embora as integrantes façam questão de não se deixar confundir
com uma torcida organizada.
Fundado em maio de 2004, em meio a uma das mais graves crises por que passou o Grêmio,
devido ao rebaixamento para a segunda divisão do futebol profissional do país, o Núcleo de
Mulheres Gremistas desde o início estabeleceu como meta a ajuda incondicional ao clube. Segundo
Rosa Foresti, uma das atuais coordenadoras do Núcleo, em entrevista por mim realizada no dia
14/06/2007, o grupo “busca ainda uma efetiva participação da mulher na vida política, social e
desportiva do clube”. Iniciando suas atividades com um número aproximado de 20 mulheres, o
Núcleo de Mulheres Gremistas registra atualmente, em seu cadastro, cerca de 1500 integrantes.
Cabe à coordenação distribuir tarefas entre as participantes, quando das reuniões mensais e
extraordinárias.
A investigação sobre o referido grupo está sendo realizada a partir de uma etnografia. De
acordo com Geertz (1989), este modelo de estudo implica uma “descrição densa” dos dados de
pesquisados, sendo o texto antropológico, de certo modo, uma ficção, no sentido de que é uma
construção essencialmente interpretativa.
Velho (2004, p.123), avaliando os aspectos qualitativos da pesquisa antropológica, diz que
“a observação participante, a entrevista aberta, o contato direto, pessoal, com o universo investigado
constituem sua marca registrada”. Para o autor (2004), esta metodologia possibilita a percepção de
aspectos culturais não explicitados em entrevistas objetivas, o que exige do pesquisador um maior
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esforço, inclusive no que diz respeito à análise dos dados produzidos em campo. Da Matta (1987),
por sua vez, observa que é preciso aproximar a experiência pessoal do pesquisador das teorias
correntes, num processo dialético entre o conhecimento concreto e os campos teóricos ensinados
nas universidades.
Stigger (2002, p.5) justifica a opção pela etnografia por entender que desta forma é possível
desenvolver “[...] a busca do conhecimento sustentado na observação direta dos acontecimentos
sociais, os quais ocorrem a partir da relação de comunicação entre o investigador e aqueles que são
os protagonistas do contexto cultural que se pretende conhecer”. Para o referido autor (2002), a
etnografia exige do pesquisador um trabalho de interpretação das representações que os pesquisados
fazem de si próprios.
Por fim, Magnani (2001) afirma que é preciso contemplar, numa pesquisa etnográfica, os
fatores extra discursivos, o que, no contexto do meu Doutoramento, implica observar as relações
sociais construídas entre o Núcleo de Mulheres Gremistas e diferentes grupos ligados ou não ao
universo do futebol.
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