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Copyright© 2017 Deane Ramos

Copyright© 2017 Spartacus Editora

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
qualquer meio existente sem autorização por escrito dos editores.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
conhecidência.

Produção Editorial: Espartacus Editora


Capa: Murillo Magalhães
Revisão: Andrea Cristina
Copidesque: Margareth Antequera
Criação de e-book: Olivia Nayara
olivialivros@hotmail.com

Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Lingua Portuguesa.


Agradecimentos
Primeiramente, quero agradecer a Deus por ter me cedido o dom da escrita. Segundo,
agradecer ao meu esposo, Alexandre de Souza, e às minhas filhas, Laura e Larissa Ramos, que
sempre me apoiaram e me ajudaram no esforço de cada dia. À minha mãe, Denis Ramos, por suas
orações que sempre me mantiveram em pé. Quero agradecer à todas as minhas leitoras por me
confiarem entrar em suas vidas e me motivarem, dia após dia, em continuar com a escrita. Às
minhas leitoras que se tornaram amigas, Tamiris Santos, Renata Estéfany e Carol Baldo, que me
incentivaram a cada leitura e a cada comentário no Wattpad. Também às minhas amigas que
viraram leitoras, Glauce Vidal, Bárbara Palitos Bezerra e Juliana Barbosa. Aos grupos parceiros e
suas ADM’s; Surpreenda-me (Losângela Nóbrega), Leitoras Insanas (Emillainy dos Anjos e Bianca
Alves), Loucos e Loucas Por Livros (Suelen Lemos), Minha Doce Proteção ( Vivy Keury), Livros em
Mente (Maisa Santos), Blog Virando a Página (Daiane Quinelato) e ao Rêsenhando ( Re Sanrehd). E
quero agradecer em especial à minha dinda literária, Kerollyn Lopes, por todas as divulgações
feitas e por toda a ajuda. Às minhas amigas e autores M. M. Cavalcanti, Lu Muniz, Giovana C.
Soares e Valentina Fernandes pelo apoio. E para finalizar, um agradecimento em especial à todos
aqueles que duvidaram do meu potencial e do meu trabalho, graças a vocês, eu me senti cada vez
mais motivada a continuar. Obrigada,

Deane Ramos.
Dedico este livro ao meu marido, Alexandre, e às minhas filhas, Laura e Larissa, por todo o
apoio dado durante a realização dessa obra.
Prólogo
“Viva cada dia de sua vida como se fosse o último. Você não sabe quanto tempo lhe resta e tudo
pode mudar em frações de segundos.”

- Deane Ramos.

Dezembro, 2014
Eu realmente sou uma garota abençoada por Deus. Sim, eu sou!
Não que eu seja uma garota religiosa, mas como poderia ser?
Cresci ouvindo mamãe me dizer, dia após dia, que Deus nada mais é do que uma pessoa
inventada pelos homens para fazer com que as pessoas fracassadas tenham onde depositar toda
a confiança de que suas frustrantes vidas irão prosperar. E enquanto isso, a vovó Iolanda sempre
fora uma mulher de muita fé, e me dizia que Deus é um ser supremo e que Ele é quem sopra sobre
nós o fôlego de vida todos os dias, e que nada em nossas vidas acontece se não for com a sua
permissão.
É muito lindo quando ouço vovó falar emocionada sobre Deus. É como se ela o conhecesse tão
bem, que quem a ouve falar se emociona. Contanto que a mamãe não descubra a minha
admiração por Ele, ou eu teria que ouvi-la dizer que sou tão tola ou mais que a minha vó, prefiro
mantê-la longe dos meus assuntos com a dona Iolanda, afinal, a convivência entre as duas não é
das melhores. Amo tanto a mamãe quanto a vovó, e mesmo que a convivência das duas seja
insuportável, ainda assim prefiro não tomar partido e fico em cima do muro como forma de
protesto dessa briga declarada entre elas.
Tenho uma família normal, como qualquer outra. Meus pais são maravilhosos e tenho muito
orgulho deles e os amo muito, sem me esquecer de dona Iolanda, minha avó paterna, que é a
minha maior inspiração como pessoa. Mas para evitar longas horas de discussão com a mamãe, eu
não a visito com a frequência que gostaria. Já o meu avô paterno, Gary Thompson, era falecido
quando eu nasci, mas as coisas que vovó e papai sempre me contam sobre ele faz com que eu
tenha muito orgulho dele, mesmo não o tendo conhecido. Às vezes eu me pego pensando como
teria sido a minha vida ao lado dele se eu o tivesse conhecido.
Meus tios, Joseph, irmão de papai, e Margareth, não sei por qual razão, preferem manter
distância da nossa família e por esse motivo, não tenho muito contato com os meus primos, Lucca e
Mia.
Tenho boas lembranças de quando éramos crianças e todos nós íamos passar as férias na casa
de vovó, era muito divertido. Não sei como as nossas vidas tomaram rumos tão diferentes, mas
segui o conselho de papai, que me disse para não me envolver nos assuntos dos adultos.
Claro que, como uma filha obediente que sou, não houve problema algum para atender ao seu
pedido.
Amo muito meus pais, daria minha vida por eles, e não tenho dúvidas de que eles me amam
com a mesma intensidade.
Papai é sempre tão carinhoso e tem sido muito atencioso comigo nos últimos dias, me colocando
em primeiro lugar em tudo na sua vida, e mesmo que muitas vezes eu me sinta sozinha, é como
mamãe sempre diz: “Nem sempre podemos ter tudo o que queremos.”
Mesmo tendo papai sempre por perto, sinto falta da companhia de mamãe, que passa boa
parte do tempo em longas viagens a trabalho e nunca está presente nos momentos em que eu mais
preciso dela. Mas ainda assim, sou muito feliz. Não que eu esteja reclamando, seria injusto da
minha parte se o fizesse porque eu sei o quanto ela e papai amam o trabalho e tenho consciência
de que se sacrificam para dar todo o conforto do qual eu desfruto.
Será que é pedir muito que ela diminua sua carga de trabalho, como papai fizera, e assim
possa passar mais tempo conosco?
Sim.
Para Katherine Thompson, a sua maior paixão é o trabalho.
Muitas vezes penso que o amor que ela sente por seu trabalho é muito maior do que ela diz
sentir por nós.
Estou sendo injusta? Talvez.
Mamãe é uma mulher determinada e sempre vai em busca de seus sonhos. Segundo suas
palavras, seu nome é Katherine, sobrenome, trabalho.
Reviro os olhos mentalmente e um sorriso divertido rola por sobre meus lábios, quando me vem
à mente a sua resposta de todos os questionamentos por ela estar ausente na maior parte do
tempo.
Em nossa última discussão na mesa do café da manhã, ela declarou o seu amor por mim e por
papai, porém, eu tinha que aprender desde cedo que ninguém vive só de amor e que ela precisa
trabalhar para sustentar todos os meus caprichos.
Eu entendo que ela se preocupe com o meu futuro, mas gostaria que ela também pensasse em
como eu me sinto com a sua ausência. Sinto falta de uma conversa apenas de meninas, como a Sra.
Jesse Clark, mãe de uma das pessoas mais importantes da minha vida, e Ane Clark, minha melhor
amiga.
O carro percorre tranquilamente pela avenida, agora pouco movimentada, de Manhattan.
Estamos voltando para Manhattan Resort, onde estamos hospedados, depois de um delicioso e
divertido jantar no K’Midtown, um dos mais sofisticados restaurantes de Manhattan, na adorável
companhia dos meus pais.
Se eles se dessem conta de o quanto momentos como este faz toda a diferença no convívio de
uma família, positivamente falando, desfrutaríamos mais da companhia do outro.
Papai e mamãe estão felizes, o escritório de advocacia Thompson, o que papai e mamãe são
sócios, recentemente assinou um contrato de prestação de serviços milionário com a The New York
Times, e para comemorarmos, viemos passar um fim de semana em um resort maravilhoso em
Manhattan.
Em meio a dezenas de opções de lugares que papai me apresentou me dando a honra de
escolher onde iríamos passar o nosso fim de semana comemorativo, escolhi Manhattan, porque além
de ser o distrito mais povoado de Nova Iorque, o que nos dá a chance de conhecermos pessoas de
culturas diferentes, aqui você encontra restaurantes refinados e butiques elegantes. Mamãe, claro,
ficou enlouquecida com a possibilidade de adquirir mais algumas peças para a sua coleção de
centenas de roupas não usadas, e foi às compras. Enquanto eu me divertia na piscina na
companhia de papai, que estava tão relaxado que não brigou com a mamãe, como das outras
vezes, por ela gastar dinheiro sem necessidade quando ela tem um closet repleto de lindas peças
de roupas que nunca foram usadas.
Conheço Katherine Thompson e se tem algo que a deixa feliz, é sair e voltar com as mãos
repletas de sacolas.
O clima em Manhattan está perfeito!
A brisa refrescante que adentra, através das janelas do carro aberta, desliza sobre o meu
rosto, fazendo com que eu sinta um leve arrepio percorrer o meu corpo.
Desvio os olhos da janela, onde estive imersa por alguns minutos contemplando a imagem das
belíssimas mansões que passam rapidamente acompanhando o movimento do carro, quando a ouço
gargalhar, divertida.
Intencionalmente, sorrio quando volto a minha atenção para mamãe, que sorri lindamente para
o papai, que desvia por alguns segundos a sua atenção da estrada e acaricia o maxilar dela
suavemente com o polegar direito.
Eles formam um lindo casal.
— Tudo bem, querida? — pergunta papai, que me olha através do retrovisor da nossa
Mercedes.
Papai é um grande amante de carros. Ele tem uma pequena coleção composta por uma
Mercedes, BMW, SUV e entre outros que não me recordo o nome, além de ser um ótimo
motorista. Não me lembro de ter ouvido papai mencionar alguma multa que tenha levado por
excesso de velocidade, estacionar em local proibido ou até mesmo dirigir embriagado. Papai é
realmente um homem exemplar.
Volto a minha atenção para o papai, que continua a me fitar enquanto estamos parados no
farol. Sorrio e em seguida assinto com a cabeça.
— Este vestido caiu tão bem em você. — diz mamãe, que agora se vira e me lança o seu mais
lindo sorriso.
— Créditos à Sra. Thompson. — pisco e retribuo o sorriso, vendo um largo sorriso de satisfação
se formar em seus lábios.
— Eu sei que tenho bom gosto, mas convenhamos, se a modelo não possuísse uma beleza
estonteante, sem dúvida o vestido não faria milagres. — pisca de volta, e retorna a sua atenção
para a estrada quando papai coloca o carro em movimento.
— Concordo com a sua mãe, querida. — afirma papai.
Dou de ombros. Eles podem até ter razão, mas que a mamãe tem um bom gosto, não podemos
negar. Ela sempre faz questão de escolher as roupas que eu devo usar em cada evento e não me
incomodo nem um pouco com isso, quando sei que ela adora me produzir e o faz com maestria.
Mamãe sabe como ninguém combinar roupas com sapatos e acessórios, não esquecendo de
mencionar os penteados que ela mesma faz questão de escolher. Mesmo que ela esteja do outro
lado do país, mamãe faz questão de me passar todas as coordenadas de qual roupa eu devo
usar no jantar, que no caso é um vestido azul de renda tomara que caia curto e soltinho com um
lindo detalhe no cinto em cetim que acentua a minha cintura, destacando as minhas curvas.
Simplesmente lindo!
Volto a fitar papai e mamãe que conversam descontraídos, e sem que eu perceba, um sorriso
se forma em meus lábios.
Volto a minha atenção para a paisagem que passa diante dos meus olhos e sou surpreendida
pela brisa gostosa, que entra através da janela do carro, mandando para longe todo o calor
insuportável que assola a cidade.
Observo atentamente o movimento das pessoas que andam tranquilamente nas calçadas
olhando as vitrines das grandes grifes, alguns casais visivelmente apaixonados saindo dos
restaurantes depois de um jantar romântico.
— Queridas, chegamos! — sou desperta do meu devaneio quando ouço a voz suave de papai,
que se prepara para descer do carro depois de ter estacionado em frente ao resort.
Vejo um manobrista se aproximar.
— Em que estava pensando, querida? — pergunta mamãe, envolvendo um dos seus braços na
minha cintura, enquanto papai faz o mesmo do outro lado.
Sinto-me protegida.
— Nada de mais. Só que estou muito feliz por estarmos todos juntos. — eu digo, emocionada.
— Nós também estamos felizes, meu bem. — diz mamãe antes de depositar um beijo em minha
cabeça. Logo, papai repete o gesto.
Caminhamos dessa maneira, abraçados e felizes, assim que papai entrega a chave para o
manobrista.
Despeço-me de papai e mamãe na recepção e sigo para o meu quarto, pois estou exausta,
enquanto eles vão até o bar do restaurante tomar alguns drinques para encerrar a noite. E depois,
prefiro não pensar no que eles irão fazer.
Definitivamente, não quero pensar.
Uma semana depois…
— Quer me deixar dormir, por favor? — digo, irritada, imaginando ser mamãe em seu modo
“carinhoso” de me acordar.
Ainda com os olhos fechados, pego o travesseiro e cubro a cabeça, ignorando a sua presença.
— Bom dia! — ouço a voz meiga e animada de minha amiga, Ane, acompanhada dos seus
passos, e se eu a conheço muito bem, sei que ela está indo para as grandes janelas.
Bingo!
Como eu pensara, Ane abre as cortinas do quarto.
— Ane Clark, me deixe dormir! — digo entre dentes. Sou surpreendida ao sentir o seu corpo
magro, com a sua maneira delicada, saltar sobre o meu, fazendo com que eu solte um gemido alto
de dor quando nossos corpos se chocam. — Está louca? — acabo soltando um gemido.
Ela gargalha, rolando para a cama e se deitando ao meu lado.
— Não, mas ficarei se você não levantar. — pegando-me de surpresa, ela tira o travesseiro
da minha cabeça.
— Já te disseram que você é muito chata? — viro de barriga para cima.
— Você acabou de dizer. — ela sorri, divertida, me fazendo revirar os olhos.
— Vamos, Julha, ou iremos nos atrasar para a aula. Você sabe que o Sr. Johnson não tolera
atrasos. — diz, autoritária, tirando o meu cobertor.
Se fosse alguns dias atrás, eu já estaria de pé e me vestiria em tempo recorde. O Sr. Johnson,
meu professor de Educação Física, um homem de meia-idade, corpo malhado e cabelo grisalho,
pega no meu pé em relação aos atrasos. Consigo ouvi-lo dizer: “Srta. Thompson, você seria o
exemplo de aluna na minha matéria se não fosse os seus constantes atrasos.” O que ele não
entende é que eu não gosto da matéria dele e não faço questão de estar em primeiro lugar na
sua lista de alunas exemplares. — Julha Thompson, vamos logo. Levante dessa cama agora mesmo.
— diz, autoritária.
— Você pode ir. Eu não vou à aula hoje.
— Como é? Você quer ser reprovada esse ano?
— Não me importo. — dou de ombros.
— Claro, você quer entrar atrasada para a faculdade. — sorri, irônica.
— Pouco me importa. Nada mais faz sentido na minha vida.
— Ju, não fale assim. — ela me repreende.
— Ane, você não entende. — um nó se forma em minha garganta e eu engulo em seco,
tentando impedir que as lágrimas que se formam em meus olhos caiam.
Ela respira profundamente demonstrando cansaço e se deita novamente ao meu lado.
— São seus pais novamente? — Ane vira o corpo de lado e descansa a cabeça em sua mão
esquerda, enquanto me fita.
Viro lentamente minha cabeça para o lado e volto a atenção para Ane, que me encara,
esperando uma resposta.
Não quero tocar no assunto que muito me tem machucado esses dias, mas eu nunca escondi
nada da minha amiga e não será agora que irei fazer isso. Assinto com a cabeça e volto a minha
atenção para o porta-retratos que está sobre o criado-mudo com uma das minhas fotos preferidas
da nossa última viagem para o resort. Não consigo controlar as lágrimas que começam a escorrer
em meu rosto. Sinto saudade da paz que tínhamos em nossa casa, de todos os momentos felizes em
que vivemos.
— Nos últimos dias, eles vêm brigando muito. — digo com a voz embargada.
— Amiga, não fique assim. — Ane me toma em seus braços e acaricia o meu cabelo. — É
apenas uma fase. Meus pais também são assim, alguns dias eles estão se matando e no outro se
amando feitos dois adolescentes, chega a dar nojo. — bufa e mesmo que eu não a esteja vendo,
imagino que faz uma careta divertida.
— Mas mamãe e papai não são assim, eles sempre se deram bem. — eu fito Ane. — Quero a
minha vida normal de volta. — ela me abraça.
— Você terá, minha amiga.
— Eu não sei, amiga, há uma semana que voltamos de viagem e tudo tem se tornado um
inferno. É como se uma bruxa de conto de fadas jogasse um feitiço sobre a minha família, que há
uma semana vivia um sonho lindo, e tudo acabou em um curto espaço de tempo. — suspiro.
— Desde quando você acredita em contos de fadas? — ela me fita, confusa.
— Não é que eu acredite, mas foi a única maneira que encontrei de dar um exemplo.
— Tudo bem. — ri, divertida. — Eu vou dispensar meu motorista e vou te fazer companhia. —
diz, se colocando de pé.
— Não precisa, amiga. Não quero te arrumar problemas.
— Não se preocupe. Tome um banho, vista um biquíni e vamos tomar café. Passaremos o dia na
piscina, você precisa se distrair. Eu já volto. Ah, e escolha um biquíni para que eu possa vestir. —
sorrio, assinto com a cabeça, e então Ane sai.
Ane e eu passamos um dia tranquilo. Por algumas horas, eu consigo esquecer os meus
problemas. Mamãe e papai ainda não haviam chegado. Depois de Ane ter ido embora, subo para
o meu quarto, tomo um banho rápido, visto o meu roupão e deito em minha cama, onde adormeço.
Algumas horas depois…
— Eu odeio você! — mamãe?
— Suma da minha casa, da minha vida e da vida da minha filha, sua vadia. — papai?
— Nossa filha! E quer saber? Ela vai ficar comigo!
— Ela não é…
— Não se atreva, Gary Thompson Junior.
Sou desperta com o quarto escuro. A noite havia caído e vozes alteradas vêm do quarto ao
lado. Ouço o barulho de algo se estilhaçando e minha pulsação bate acelerada.
Todos os dias têm sido assim. Mamãe e papai discutem, arremessam objetos contra a parede
depois de muito se ofenderem com palavras grosseiras e vem o estrondo da porta se
fechando. Não tenho forças para levantar, as lágrimas não cessam, meu coração bate
descompassado e tudo o que se ouve são os meus soluços. Com as costas de minhas mãos, seco as
lágrimas do meu rosto, olho o relógio sobre o criado-mudo e noto que já passa das 21horas. Tudo
está em um grande silêncio, não sei por quanto tempo fico deitada em minha cama, imersa em
minha dor, e acabo adormecendo novamente.

[…]

— Julha, Julha, levante. — sou desperta por Ada, que chora descontrolada.
Meu pai.
Sinto uma forte dor em meu peito e naquele exato momento eu sei que o pior aconteceu.
Eu perdi o meu pai brutalmente em um acidente de carro. Não tenho tempo de me despedir,
não tenho tempo de dizer que eu o amo e que ele é o melhor pai do mundo. Dizer adeus dói.

[…]

A despedida me fez sofrer, e hoje, um ano depois, estou aqui, diante do seu túmulo e como um
filme, relembro tudo o que vivemos naqueles dias.
Um ano se passou e muitas coisas em minha vida mudaram, não tenho mais um diálogo saudável
com a mamãe. Um ano que você partiu, pai. Por que você se foi tão cedo? Tudo por causa de uma
maldita briga de casal. Você bebeu e foi imprudente, saiu de carro e eu te perdi. Estou sofrendo,
papai. Ontem, a mamãe trouxe o namorado para dentro da nossa casa. Ela está seguindo em frente, é
como se tudo o que vivemos em tantos anos não fizesse sentido. Eu sei que, mesmo ela estando o
tempo todo distante, nossa família era perfeita, da nossa maneira, mas ainda assim éramos felizes.
Minha vida não tem sido fácil, sinto sua falta, saudade dos seus carinhos, de jogarmos videogame.
Sinto saudade dos nossos momentos. Ela não se importa mais comigo, apenas com esse cara que ela
colocou dentro da nossa casa. Eu não ficarei muito tempo morando com eles, irei para a casa da vovó
assim que me formar. Quero viver longe desse circo que ela transformou a nossa casa.
— Podemos ir? — fito Ane, que aparece com um sorvete nas mãos. Assinto com a cabeça.
Preciso ir, pai, prometo não demorar a voltar. Ah, não esquece, eu te amo.
Levanto-me e caminho até Ane.
— Onde você comprou esse sorvete? — pergunto enquanto caminhamos para fora do
cemitério.
— Na sorveteria que fica ali na frente. Você quer? — nego com a cabeça, enquanto
caminhamos para o estacionamento onde João, o motorista, nos aguarda.
— Amiga, tente não brigar tanto com a sua mãe e com o seu pãodrasto, quero dizer, padrasto.
— reviro os olhos pela maneira que Ane utiliza para se referir a Christopher.
— Desde que ele não se meta em minha vida… — dou de ombros. — A existência dele pouco
me importa.
— Julha, é que…
— Não quero brigar com você por causa daquele idiota, então, por favor, vamos mudar de
assunto. — ela assente com a cabeça em concordância.
Assim que entramos no carro, o motorista fecha a porta, toma o seu lugar na direção e dá
partida no carro. Seguimos todo o trajeto até a minha casa em silêncio. Não vou discutir com Ane
por causa desse relacionamento ridículo da minha mãe.
Se eles pensam que irei facilitar a vida deles, estão completamente enganados. Farei de suas vidas
um inferno.
Capítulo Um
“Todos voltam ao seu estado natural. ”

- Tim Maia.

Junho, 2016
Rapidamente, eu me levanto e esfrego os olhos, que estão com a visão embaçada.
Em passos largos, sigo para o banheiro, me equilibrando enquanto retiro a calça e a blusa do
meu pijama cor-de-rosa, o meu preferido, que ganhei de papai dias antes da sua morte. Entro no
banheiro apenas de calcinha, jogo as roupas no chão e meu corpo se arrepia com a leve brisa da
manhã que adentra pela janela e sopra em minha pele.
Rapidamente, tiro a pequena calcinha e sigo para o box, ligo o chuveiro e deixo a água
quente cair sobre o meu corpo, e como um relaxante natural, sinto toda a tensão do dia anterior,
em que eu emocionalmente fiquei abalada ao visitar o túmulo do meu pai, se dissipar junto com as
partículas de água que deslizam por todo o meu corpo, morrendo no ralo do box.
Eu não sei exatamente por quanto tempo fico imersa em pensamentos, só que é o suficiente
para que os dedos das minhas mãos enruguem.
Hesitante, termino o banho, desligo o chuveiro e saio do box, vestindo o roupão felpudo antes
de fazer a minha higiene. Saindo do banheiro, eu sigo para o closet, visto o meu uniforme, que não
há nada especial: calça vermelha e camisa branca com alguns detalhes em vermelho na gola e por
fim, calço o meu All Star preto com desenhos de pequenas caveiras em branco. Reviro meu longo
cabelo em um perfeito rabo de cavalo, fito a minha imagem abatida através do espelho do closet
e engulo em seco ao mesmo tempo em que uma saudosa lágrima solitária escorre pelo meu rosto.
Por mais que eu me esforce para não chorar, todas as vezes que penso no Sr. Thompson, falho
miseravelmente.
A saudade dói muito mais do que eu poderia imaginar. Seco a lágrima solitária e antes de sair
para me juntar com a mamãe à mesa do café, pego a mochila preta, uma das minhas preferidas,
no closet e sigo para o meu quarto, onde pego o celular que está sobre a escrivaninha e desço as
escadas correndo para enfrentar um dos momentos mais irritantes do meu dia. Compartilhar o café
da manhã. A primeira refeição do dia seria feita em paz, se não fosse o ser mais repugnante que
eu já conhecera em toda a minha vida, o meu padrasto.
— Bom dia. — digo, sem ânimo, ao entrar na sala de jantar, onde a mesa, que Ada lindamente
arruma todas as manhãs, está posta, e me deparo com mamãe e o idiota do seu marido sentados
à mesa do café, onde eles conversam animados.
Seus olhares se voltam para mim.
Ignoro meu padrasto completamente, enquanto caminho em direção à mamãe, que me recebe
com um largo sorriso amistoso nos lábios.
— Bom dia, querida. Como passou a noite? — pergunta mamãe antes de dar uma garfada em
sua salada de frutas. Carinhosamente, eu dou um beijo em sua cabeça, tomo meu lugar ao seu lado
na mesa enquanto acomodo a mochila em outra cadeira.
— Bem! — eu me limito a dizer enquanto guardo o celular na mochila e coloco o guardanapo
sobre o colo, depois me sirvo com um copo de suco de laranja e uma torrada.
Um insuportável silêncio se forma no ambiente, não que isso me incomode, pelo contrário, eu me
encaixo perfeitamente no grupo de pessoas que são desprovidas de assunto pela manhã, e a
presença do meu padrasto colabora ainda mais para isso.
Depois da partida do meu pai, tudo mudou, inclusive os horários das nossas refeições, que
sempre foram regadas com conversas animadas. Hoje, trocamos poucas palavras, na verdade,
conversamos o essencial. É estranho dizer, mas me sinto como se não fizesse mais parte dessa
família.
Tudo está completamente diferente, a cadeira que antes papai ocupava, hoje é ocupada por
um estranho. O que me deixa furiosa, pois não me restam dúvidas que ele quer ocupar o lugar do
meu pai. Mas o que ele não sabe é que jamais, em hipótese alguma, tomara o seu lugar. Ele foi
único e não há ninguém, doce, gentil e carinhoso como ele.
— Claro, meu amor. Se é importante para você, com certeza é importante para mim. — sou
desperta do meu devaneio quando ouço Christopher dizer.
Em silêncio, termino o café, coloco o guardanapo sobre a mesa e me levanto vagarosamente
para não chamar a atenção da mamãe e do meu padrasto, que conversam compenetrados.
Rapidamente, corro meus olhos entre mamãe e Christopher, que ainda não notaram meus
movimentos.
Pego a mochila e sigo para a sala, onde a deixo sobre o sofá e volto para o meu quarto. Vou
ao banheiro, escovo os dentes, depois passo um brilho labial, que naturalmente avermelha.
Os garotos da minha escola disputam para ver qual deles consegue me levar para a cama
primeiro. Até que acho divertido esse assédio, eleva o meu ego, afinal, qual garota não gosta de
ser desejada por muitos garotos?
Mas nenhum deles me fez perder a cabeça ou me convenceu a entregar aquilo que uma
garota, como no meu caso, tem de mais precioso, a virgindade.
Fui uma garota mimada pelo pai, e antes também por minha mãe.
Se não fosse pelo traste que ela escolhera como esposo, tudo seria completamente diferente. Eu
afirmo em dizer que tudo seria perfeito.
Mas nem tudo na vida é como desejamos.
Não posso reclamar, tenho tudo que muitas garotas da minha idade gostariam: um quarto de
princesa, estudo em uma das melhores escolas de Nova Iorque, tenho um motorista que está a
minha disposição para me levar em todos os lugares que eu solicitar e Ane, que é muito mais que
uma simples amiga. Eu a tenho como uma irmã e sei que o sentimento é recíproco.
Mesmo com tudo isso, nada substitui a falta que meu pai me faz.
Trocaria todo o dinheiro que tenho, deixado por ele, claro, que sempre pensara em meu futuro,
para tê-lo aqui comigo.
Sou muito parecida fisicamente com papai e me sinto lisonjeada por isso.
Preciso dizer que sou uma garota bem popular na escola, mas não tenho muitos amigos.
Colegas, sim, amigos, apenas uma, Ane. Ela sempre foi a minha fiel amiga, mas o seu grande erro
foi se apaixonar por Caleb, o garoto mais idiota da escola, que sabendo do amor platônico que
ela nutria por ele se aproveitou da situação, fingindo corresponder aos seus sentimentos para
conseguir com êxito o que almejava: levá-la para a cama.
Lembro-me de como ela ficou feliz por ter se entregado àquele quem ela acreditara ser o
grande amor da sua vida.
Naquele dia, seguimos para a escola como todas as manhãs, mas para a Ane, o dia estava
ainda mais bonito, as flores mais belas, e o sol, com toda a sua grandeza, brilhava ainda mais.
Seria tudo perfeito, se não fosse o idiota do Caleb, aquele quem foi o motivo de fazer o dia
de Ane ainda mais bonito, acabar com tudo no exato momento em que colocamos os pés na escola.
Sou totalmente contra a violência, mas foi ele quem pediu quando espalhou para todos na
escola o que havia acontecido entre ele e Ane.
Canalha.
Fico furiosa cada vez que eu me lembro daquele dia.
Não entendo o porquê de muitos garotos se comportarem como idiotas, tendo atitudes como
essa. Será que eles não entendem que sair falando para os imbecis dos seus amigos coisas íntimas,
que teriam que ficar entre ele e a garota envolvida, não os farão mais homens? Pelo contrário, só
os tornarão ainda mais idiotas.
Sentindo a obrigação de defender a minha amiga, parti para cima do idiota e com todas as
minhas forças, desferi um soco em seu nariz, pegando-o de surpresa. Não imaginei que eu possuía
tanta força, o sangue jorrava de seu nariz sem parar. Parece que ainda sinto meus dedos doerem.
Essa atitude me rendeu uma suspensão de uma semana e meses de dona Katherine
reclamando.
Não me arrependo, faria tudo de novo, quem sabe assim ele aprende a maneira correta de
tratar uma garota.
Babaca.
É por esse motivo que não me entrego para qualquer um. Se um tipinho como Caleb cruza o
meu caminho, eu passo por cima.
Eu sei que idade não define maturidade, mas se for para entregar o coração para alguém,
que seja uma pessoa que valerá a pena, que saberá valorizar cada momento ao seu lado.
Christopher é vinte e dois anos mais novo que mamãe. No início, pensei que ele quisesse dar o
golpe do baú, mas com o tempo, eu notei que ele tem muito mais dinheiro do que papai havia nos
deixado.
É duro admitir, mas o cretino faz a minha mãe feliz, e é só por esse motivo que eu finjo aceitar
este relacionamento ridículo.
Sei que ele é empresário, mas não me pergunte em que ramo atua, nada que diz respeito a
ele me interessa.
Mamãe é linda, realmente não entendo o que ela viu neste homem. Com a sua beleza, ela
poderia conseguir um ator de Hollywood, se assim desejasse.
Eu tenho que admitir que ele é muito bonito. Seu cabelo escuro e liso combina perfeitamente
com seus lindos olhos azuis e com os lábios bem contornados levemente avermelhados e
convidativos. Christopher é dono de uma sensualidade natural. Ele é o tipo de homem que faz com
que qualquer mulher se perca em seus braços.
Ane diz que implico com ele, está bem, concordo que na maioria das vezes eu sou estúpida, até
porque ele não tem culpa do meu pai ter partido tão cedo, mas foi sacanagem da minha mãe
colocar alguém em seu lugar em tão pouco tempo.
Poxa, faz só um ano que meu querido pai se foi e ela me aparece com esse babaca, que se
acha no direito de se meter na minha vida, se portando como se fosse meu pai.
Coitado, ele está longe de chegar perto do que meu pai foi.
Volto para a sala, pego a mochila e vou até a sala de jantar para me despedir da mamãe.
— Tchau, mãe! — eu me aproximo da mamãe e dou um beijo em seu rosto, que é retribuído
com o um lindo sorriso.
Ela fica ainda mais linda quando sorri.
Despeço-me de Ada, que adentra a sala de jantar trazendo algumas panquecas, jogando um
beijo no ar para ela, que retribui o gesto, e saio.
— Tchau, filha, boa aula. Não volte tarde e não se esqueça que temos um jantar muito
importante para mim essa noite. — reviro os olhos enquanto saio e ela descarrega todas as nossas
atividades do dia.
Mamãe sendo mamãe.
Detesto acompanhar a minha mãe e o imbecil do seu marido nesses jantares de negócios. Não
sei o porquê de me obrigarem a participar de assuntos que não me dizem respeito.
Bufo, frustrada.
— Tudo bem. — concordo, fingindo ter ouvido o que ela disse.
De nada adiantaria me negar a ir, já posso até ouvi-la dizer:
“Quem manda aqui sou eu. Você vai e ponto final.”
Estou passando pela sala de estar, quando eu a ouço dizer:
— Julha, não está se esquecendo de nada? — pergunta e eu já sei do que se trata.
Mesmo contrariada, volto a me juntar a eles na sala de jantar. Não suporto quando ela me
obriga a me despedir do seu marido.
— Morra! — digo, me dirigindo a ele com cara de poucos amigos.
— Bom dia para você também, querida. — diz ele com um sorriso irônico nos lábios.
Ele está me provocando.
Idiota!
Ao sair, eu lhe mostro o dedo do meio e o ouço reclamar de algo para a minha mãe. Não
tenho dúvida que se refere ao meu mau comportamento. Quem se importa, ele é um idiota mesmo.
— Bom dia!
— Bom dia!
Logo me junto com a minha amiga em sua limusine e seguimos para a escola.
Ane tagarela como sempre, sem parar, não sei de onde surge tanto assunto a essa hora da
manhã.
Dou um sorriso amarelo, fingindo ouvir o que ela diz, ou ela me dará um longo sermão de que
sou mal-humorada, insensível e por fim, que meu padrasto tem razão quando diz que sou chata,
nos levando a uma briga desnecessária.
Uso apenas o mesmo método que ela utiliza quando não quer conversar: faço cara de
paisagem enquanto ela fala sem parar e por fim, tudo termina bem.
Eu respeito a sua opinião e ela respeita a minha também.
Capítulo Dois
“Por trás de uma lágrima, acredite, você sempre irá encontrar um motivo para sorrir”.

- Deane Ramos.

Por um milagre, as aulas passam mais depressa do que o normal, para delírio de todos os
presentes.
Ane e eu saímos da escola e solicitamos a Dylan, seu motorista, para que nos leve até a
academia, que fica a quatro quarteirões da escola. Com toda essa turbulência que se instalou em
minha vida, a única maneira que encontrei para extravasar o estresse acumulado é malhando.
Exercitamo-nos durante uma hora. Suei a camisa, então vamos para o vestiário, tomo um banho
rápido e seguimos para a casa de Ane, onde um chato trabalho de matemática nos aguarda.
— Como está a convivência com o seu padrasto? — pergunta Ane enquanto beberica o suco
que dividimos dentro da limusine no caminho para a sua casa.
Reviro os olhos. Horrível . Não que seja alguma novidade a nossa péssima convivência. Às
vezes, eu me pergunto se algum dia iremos viver civilizadamente, e não que eu faça questão, mas
mamãe, sem dúvida, agradeceria a paz que reinaria em nosso lar.
— A mesma porcaria de sempre. — bufo e dou de ombros.
Apanho a garrafa de suco das mãos de Ane e tomo um gole generoso.
— Você sabe que eu não gosto de dar palpites sobre o assunto, mas se falo, é pensando em
você e na sua mãe. Vocês se davam tão bem, eu sei que gostaria que ela fosse mais presente, que
você se sente traída por ela ter refeito a vida, mas você sabe que não foi. Eu não sei o porquê de
tanto ódio. Dê uma trégua ao seu padrasto. Se você der uma chance a ele, vai descobrir que ele é
um cara legal, sua mãe ficará feliz e você voltará a se relacionar perfeitamente bem com ela.
Pense nisso. — diz, dando de ombros.
— Ah, deixe-me ver. Será que é pelo simples fato de ele tentar tomar o lugar do meu pai? E
não satisfeito, tirar a minha mãe de mim? — digo, furiosa, fitando-a com os olhos cerrados.
— Amiga, pare já com isso! Você está agindo como uma criança mimada. — ela me repreende
e continua a defesa de Christopher.
Se fosse outra pessoa em meu lugar, mudaria rapidamente de opinião a respeito do meu
padrasto. Reviro os olhos com a comparação.
— Quando sua mãe o conheceu, já havia passado um ano desde que o tio se foi e eu entendo
que você sinta a falta dele, que passe o tempo que passar, você sempre estará de luto, mesmo
sabendo que todos voltam ao seu estado natural. Mas você não pode impedir que a tia Katherine
refaça a vida. Não seja injusta com…
— Ah, okay. Vamos mudar de assunto! — eu a interrompo. — Essa discussão não irá nos levar
a lugar algum. Não quero brigar com você, eu tenho uma opinião e você tem outra, então o melhor
a fazer é encerrarmos esse assunto. — digo e minha voz soa mais ríspida do que pretendia.
— Tudo bem, não precisa ficar irritada. Não está mais aqui quem falou. — diz com as
sobrancelhas arqueadas em surpresa com a minha reação.
— Ótimo! — digo por fim.
Seguimos o restante do percurso em total silêncio. Enquanto estiver na casa de Ane, terei
algumas horas de tranquilidade. Fico imersa em pensamentos enquanto o carro percorre o trânsito
congestionado da cidade.
Em poucos minutos, chegamos à casa de Ane. Saímos do carro e rapidamente seguimos para a
área interna. Ao passarmos pela sala, tudo está em silêncio, então rapidamente subimos para o seu
quarto.
Almoçamos um delicioso bolo de carne ao molho madeira acompanhado de arroz branco,
salada de alface e um maravilhoso suco de tomate com hortelã, que é deliciosamente preparado
por Joana, empregada de Ane.
— Meninas, se alimentaram bem? — a Sra. Clark adentra a sala vestida com um sobretudo
escuro, meias finas pretas e saltos altos. Poe a bolsa na cadeira ao lado e toma seu lugar à mesa,
se juntando a nós.
— Sim, mamãe!
— Estava tudo uma delícia, Sra. Clark. — digo, após dar um generoso gole em meu suco e
depositar o copo sobre a mesa.
— Ah, ótimo, e a escola? Logo vocês terminam os estudos.
Depois que fazermos companhia para a Sra. Clark em seu almoço, eu e Ane voltamos para o
quarto, onde passamos a tarde fazendo o trabalho de matemática. Quando dou por mim, o sol já
está se pondo, então arrumo o material na mochila e descemos para a sala de televisão para
esperar a minha mãe.
Sou desperta do meu devaneio quando ouço o meu aparelho celular tocar. Procuro por ele,
perdido em meio a bagunça dentro da mochila.
— Filha? — diz mamãe quando atendo a ligação.
— Oi, mãe! — ainda que esteja chateada com a mamãe por seu casamento descabido, eu a
atendo com carinho.
— Já terminaram o trabalho?
— Há muito tempo. — ironizo.
— Ótimo. Esteja pronta, Christopher está passando aí para te buscar.
Ah, não, alguém me diz que é mentira.
Que saco!
Será que é tão difícil ela entender que não suporto o seu marido?
— Mãe, sabe que odeio o seu marido. Mande o motorista. — peço, irritada.
— Não posso. Irei precisar dos serviços dele e não seja malcriada, ele está sendo gentil em ir
buscá-la.
— Dispenso gentilezas dele. — digo, frustrada por saber que será em vão todas as minhas
lamentações.
— Quero saber até quando você irá se comportar como uma menininha mimada e sem
educação. Seu pai não iria gostar nada de ver o seu mau comportamento, Julha. Agora estou sem
tempo, mas não pense que vai se livrar de uma boa conversa, mocinha.
Ah, que ótimo!
Não gosto quando ela faz esse jogo sujo, usando exemplos do que meu pai aprovaria ou não
em mim. Se ela não fizesse isso, não seria Katherine Cloney.
— Será que só as minhas atitudes que o deixaria decepcionado, mamãe? — rebato.
Não gosto de brigar com a minha mãe, mas só quero que ela entenda que não sou obrigada a
aceitar esse casamento ridículo. Respeito, mas não aceito, bem diferente.
— Não vou discutir com você por telefone, Julha Thompson. Diferente de você, tenho muito
trabalho para fazer. Falaremos depois. — ela grita e eu afasto o telefone do ouvido para não ter
problemas de audição no futuro.
Encerro a ligação com a minha mãe chateada por nossa breve discussão. Arrumo as minhas
coisas e vou, acompanhada de Ane, para a sala de estar aguardar o chato do meu padrasto.
Ficamos conversando sobre o encontro que Ane terá dentro de alguns dias com um garoto da
escola. Ela está empolgada, e eu preocupada que o garoto não seja mais um babaca como Caleb.
Preocupo-me com a minha amiga, sei que Ane é do tipo de garota sonhadora e romântica.
Sonha em se casar e ter filhos. Ela não tem muita sorte no amor, segundo suas palavras, mas não
desiste de tentar.
Ane é diferente de mim. Eu ainda não havia me apaixonado por um garoto, nem penso nisso.
Até imaginei a hipótese de perder a virgindade com um cara qualquer só para irritar a minha
mãe, mas desisti assim que o babaca do Caleb aprontou com a Ane.
É, pensando bem, essa não é uma forma correta de fazer algo que teria que acontecer com
uma pessoa especial. Alguém por quem eu me apaixonasse perdidamente e que fizesse valer a
pena.
Ouço a buzina do carro de Christopher, pego a mochila, me despeço de Ane e vou a caminho
do carro do meu padrasto.
Tomo meu lugar no banco do passageiro, coloco o cinto de segurança e em poucos minutos o
carro percorre as ruas. Coloco meus fones de ouvido, me aconchego sobre o banco, ignorando a
presença dele.
Ele também me detesta e faz questão de demonstrar isso. Ótimo! Assim nos damos muito bem,
ele não gosta de mim e eu muito menos dele. Sendo assim, é desnecessário trocar falsas gentilezas.
O trânsito fluí bem, não demoramos muito para chegar em casa. Desço do carro antes mesmo
de ele estacionar, bato a porta com tudo porque sei que ele detesta.
— Quebra! Garota insuportável… — grita, saindo do carro.
Claro que não fico por baixo e grito de volta ainda mais alto.
— Eu também gosto de você. — adentro a casa, passo pela sala, tomo o caminho da escada e
sigo para o meu quarto.
Exausta e tomada pela irritação que meu padrasto me causa, entro em meu quarto, tiro o
uniforme, ficando apenas vestida em minha lingerie, que é completamente transparente.
Já estou me preparando para tomar um delicioso banho, quando ouço a porta do quarto
sendo aberta bruscamente.
— Olhe aqui, garota, eu…
Fico estática ao ver Christopher invadir o meu quarto como um furacão. Ficamos nos encarando
por alguns minutos, então me dou conta que estou vestindo apenas a minha pequena lingerie
quando encontro os seus olhos desejosos queimando sobre o meu corpo. Estremeço, e em seguida
corro em busca de algo que possa me salvar do momento constrangedor.
Minhas mãos alcançam a primeira coisa que vejo: o cobertor que está sobre a cama.
Rapidamente, eu o pego e envolvo em meu corpo, que há minutos estava apenas coberto por minha
pequena lingerie, impedindo a visão completa do meu padrasto, que me fita com os olhos famintos.
Merda!
Coro, e acredito que neste momento estou muito mais vermelha do que um tomate maduro,
enquanto ele parece hipnotizado com a imagem que vê à sua frente.
— Com ordem de quem você invade o meu quarto? — pergunto e minha voz soa ríspida.
Ele abre e fecha os lábios, abre mais uma vez e sei que está procurando as palavras corretas
para a sua defesa, mas não diz nada, continua estático, encarando o meu corpo como quem
contempla uma obra de arte.
Estou constrangida!
Que droga!
Por que ele simplesmente não bateu à porta antes?
Engulo em seco quando vejo que ele passa a língua sobre os lábios, em um movimento sexy,
umedecendo-os.
Pela primeira vez desde que casara com a mamãe, Christopher faz com que eu sinta uma
estúpida vergonha. Nunca havia ficado de lingerie na frente de um homem. Não que eu não pense
nisso, mas estar praticamente nua na frente do meu padrasto é algo que, sem dúvidas, nunca havia
passado pela minha cabeça.
Por que ele está me olhando com a mesma cara de um caçador que encontrou a presa?
Ele continua a me encarar, e ver a forma como ele me devora com os olhos faz com que eu
sinta a minha intimidade umedecer.
Uma corrente elétrica percorre o meu corpo, minhas pernas parecem gelatinas, não consigo
esboçar nenhuma reação e fico como ele, estática, fitando-o enquanto seus olhos devoram meu
corpo, agora coberto pelo tecido macio do cobertor. Seus olhos fitam meu rosto e noto a sua
expressão de caçador dar lugar a uma enfurecida.
Ogro estúpido!
Ele pensa que pode me intimidar.
Reviro os olhos e solto uma bufada antes de dizer:
— O que você quer? Não possui mãos? Vai entrando no quarto das pessoas sem bater. Além
de insuportável é também estúpido? — cuspo a palavras.
Ele me fita com as sobrancelhas arqueadas, surpreso com o meu comportamento, mas não
demora muito para a sua expressão dar lugar a um sorriso irônico, que o deixa ainda mais bonito.
Como eu não havia notado o seu lindo sorriso antes?
— Vim aqui lhe dizer algumas verdades, coisa que alguém já deveria ter feito. — rebate, me
despertando do meu devaneio. Sua voz soa ríspida, então me fita com os olhos cerrados.
Arqueio as sobrancelhas, surpresa com a sua audácia.
Como ele pode ser tão idiota?
Com quem ele pensa que está falando para gritar assim?
Gargalho, o que o deixa ainda mais furioso.
Babaca!
Entra no meu quarto sem ser convidado e vem querer me dar lição de moral?
É só o que me faltava.
Se ele pensa que vai me falar um monte de desaforos e eu vou ficar calada ouvindo cada um
deles, está muito enganado.
Caminho em direção à porta, ignorando completamente a sua presença. Passo por meu
padrasto e bato meu ombro com o dele, de propósito, é claro. Ele me segue, eu me viro e o vejo
próximo a mim, muito mais próximo do que deveria estar.
Eu sei que ele está querendo me intimidar!
— Com certeza eu devo ouvir! — paro e fico na ponta dos pés para ficar na mesma altura
que ele. Meus olhos encontram os dele e por um momento eu me perco em suas íris azuis.
Foco, Julha Thompson.
Ele me encara, irritado, e seus olhos me fitam profundamente. Desconfortável, desvio os olhos
dos dele e por fim, digo:
— Posso até concordar com você, mas pode ter certeza que não será de você que irei ouvir
as tais verdades. Agora, saia do meu quarto, Christopher. — grito, furiosa.
Ele fica ainda mais irritado. Mesmo nos odiando, nos alfinetando o tempo todo, ele nunca havia
feito tamanha grosseria ele agarra o meu antebraço, segurando-o com força, em seguida bate a
porta, fazendo as janelas do quarto tremerem.
Esse idiota está indo longe demais.
Eu o encaro com os dentes cerrados.
Se ele pensa que tenho medo dele, está muito enganado.
Ele vai ver do que sou capaz de fazer.
— Me solta! — grito, enfurecida. — Você não é meu pai para falar assim comigo. — continuo
gritando e me debatendo na tentativa frustrada de que ele me solte. Ele aperta ainda mais e sinto
o local onde está a sua mão arder. — Solte-me, seu idiota. Você pensa que é meu pai para falar
assim comigo? — continuo com os insultos, mas ele está decidido a me aplicar uma lição.
Ele me puxa mais para perto, colando seu corpo ao meu, e aproxima seus lábios dos meus,
dizendo:
— Graças a Deus que não sou o seu pai, porque se fosse, já teria dado um jeito em você,
menina mimada, chata, arrogante! — grita e em seus olhos eu vejo o ódio.
Dane-se!
Pouco me importa se ele não morre de amores por mim, ele só tem que entender que não tem o
direito de me agredir.
— Christopher, é melhor me soltar. Minha mãe vai ficar sabendo disso, e pode ter certeza que
não vai gostar nadinha. — eu o ameaço, mas ele parece nem ouvir as palavras que acabo de
pronunciar.
Seus olhos estão grudados nos meus, sua respiração ofegante se mistura com a minha, seu
hálito de menta invade as minhas narinas e por alguns minutos, sinto o meu coração parar.
Mas que porra está acontecendo aqui?
Christopher chacoalha a cabeça como se quisesse afastar para longe pensamentos que o
perturbam, e volta a me encarar com cara de poucos amigos.
— Não me provoque, Julha. Você não sabe do que sou capaz. — rebate com os dentes
cerrados.
Oi?
É isso mesmo?
Ele está me ameaçando?
Cuidado, Christopher Cloney, vou fazer da sua vida um inferno.
Não me importo se ele quer me ver pelas costas, porque da minha parte é recíproco. O que é
dele está guardado. Se ele pensa que pode sair me ameaçando e eu vou ficar sem fazer nada,
pobre homem, ele realmente não conhece quem é Julha Thompson.
— O que vai fazer? Bater-me? — pergunto, desafiadora. — Vá em frente, me bata e eu
acabo com a sua vida, gigolô maldito. Eu te odeio, Christopher Cloney. Eu te odeio! — grito como
uma louca e minha voz soa pelo quarto.
Com o rosto vermelho tomado pelo sentimento de raiva que o consome, ele ergue uma de suas
mãos, preparando para me esbofetear. Instantaneamente, abaixo a cabeça e com os olhos
fechados, espero sua mão vir de encontro ao meu rosto, já imaginando que me deixará marcada.
Com movimentos bruscos, Christopher solta o meu braço e passa as mãos sobre o cabelo,
visivelmente irritado, e caminha de um lado para o outro, acredito eu, pensando na loucura que iria
cometer.
Eu massageio o local atingido por ele e tenho a consciência que na maioria das vezes eu o
provoco, que não lhe dou uma trégua e o ataco um dia sim e outro também. Mas isso não lhe dá o
direito de levantar a mão para me agredir.
Um nó se forma em minha garganta.
Não posso chorar, não na sua frente, não posso me comportar como uma garotinha fraca.
Raiva eu sinto quando falho na tentativa de segurar uma lágrima, que agora rola pelo meu
rosto. Ódio é o sentimento que agora aperta o meu peito. Ódio é o que irei sentir, dia após dia, do
meu padrasto. Se em algum momento ele pensou que nos daríamos bem, o que eu acho pouco
provável, mandou para bem longe esse pensamento no exato momento em que meus olhos o fitam,
odiosos.
Meu desprezo por ele será eterno.
Noto o quanto ele está nervoso, transpirando. Mais uma vez passa as mãos sobre o cabelo e
esse pequeno gesto o deixa tão… Tão… Sexy.
Mas por que você está pensando nisso, Julha?
Seu padrasto?
Sexy?
Reviro os olhos e afasto os malditos pensamentos que agora martelam em minha cabeça. Volto
a atenção para Christopher, que me fita com ódio.
Qual é o problema dele?
Eu que sou agredida e ele quem fica com raiva?
Meu coração bate acelerado e eu tenho a impressão de que a qualquer momento vai sair pela
boca.
Sou despertada do meu devaneio quando a sua voz, rouca e autoritária, o jeito Christopher de
ser, se dirige a mim.
— Você é uma garota que me causa nojo. — diz e eu arqueio as sobrancelhas, surpresa com a
sua declaração escancarada. Não que isso seja novidade, digo, em relação a ele dizer não gostar
de mim, mas sim por dizer com todas as letras o quanto eu o enojo. — Não adianta ter o rostinho e
corpinho bonito e ser tão desprezível como é. Se eu fosse o seu pai, teria vergonha de tê-la como
filha.
Tenho consciência que a nossa discussão não irá nos levar a lugar algum, mas a raiva de ouvir
seus insultos me deixa possessa e não consigo deixar a minha língua quieta dentro da boca.
— Quantas vezes vou ter que repetir que você não é meu pai, que não chega nem aos pés
dele, não, melhor, você não chega aos pés de homem nenhum. Para mim, você é só um merda, um
capacho da minha mãe. Babaca. — grito.
Não consigo controlar as malditas lágrimas que caem constantemente e me odeio por isso.
Ele bufa, revira os olhos e um sorriso irônico se forma em seus lábios.
— Você é só uma patricinha mimada, uma garota idiota que não consegue ficar feliz nem
mesmo com a felicidade da própria mãe. Você vai morrer sozinha, porque, qual seria o ser humano
que, em sã consciência, se envolveria com você? O cara deve sofrer de algum distúrbio, assim como
você. — gargalha e joga a cabeça para trás.
Se tem algo que Christopher e eu fazemos com excelência é discutir. Ele tenta me controlar e eu
quero obrigá-lo a me engolir, e entre nós dois fica a minha mãe, que briga comigo por eu ser tão
mimada e muitas vezes ter um comportamento infantil, e briga com o imbecil do seu marido por
discutir com uma adolescente revoltada, segundo suas palavras.
Não tenho certeza e nunca terei, mas acredito que ela viaje muito por não conseguir conviver
conosco dentro da mesma casa. Culpa dela. Quem mandou se casar com esse idiota?
Ela tem o péssimo hábito de dizer que sou revoltada. Eu não sei de onde ela tirou essa ideia.
Será que ela não vê que o meu comportamento mudou depois que trouxe esse imbecil para morar
conosco. Claro que não. Hoje a minha mãe não se importa tanto comigo como antes. É como se
vivesse em um mundo onde existe apenas ela e Christopher. Ela é jovem e tem todo o direito de
refazer a vida, eu nunca disse que não aprovaria um suposto relacionamento que ela viesse a ter,
mas penso que ela deveria ter esperado mais um pouco e não se casar com o primeiro idiota que
aparecesse.
Christopher me encara com uma expressão que não consigo decifrar ao me ver chorando.
Também não me importo com o que ele pensa de mim, eu o quero fora do meu quarto.
— Odeio você, odeio você, quero que você morra. — grito, descontrolada, dando socos em
seu peito para que ele saia.
Ele segura firme os meus pulsos, me fazendo parar. A minha respiração se torna ofegante, meu
cabelo desgrenhado cai em mechas sobre o meu rosto, me dando a certeza de que a minha
imagem não está nada apresentável.
Com movimentos bruscos, eu puxo os meus pulsos, desequilibro-me e caio e uma fisgada na
bunda me alerta o quão grande foi a queda. Ele ignora a imagem patética diante dos seus olhos e
sai, me deixando caída acompanhada das minhas lágrimas.
Meu sentimento de ódio por ele aumenta a cada dia. Eu sei que não é certo desejar a morte
de alguém, mas em meu momento de fúria, desejo que Christopher Cloney morra e suma para
sempre das nossas vidas.
Eu fico não sei por quanto tempo sentada no chão, enrolada no cobertor, com a companhia das
minhas lágrimas. Por um momento, eu quero que tudo aquilo não passe de um pesadelo, mas não, é
a mais pura realidade. Uma realidade cruel que a cada dia me faz sofrer mais e mais.
Agarro-me ao resto de dignidade que me sobra e me levanto com dificuldade, ainda sentindo
as nádegas doloridas, e caminho lentamente para o banheiro. Coloco em prática o meu plano de
tomar banho antes de ser distraída pelo meu padrasto.
Adentro a minha banheira imersa em pensamentos, quando ouço passos no banheiro. Olho na
direção de onde vem o som e vejo Ada entrando no banheiro acompanhada do aparelho
telefônico sem fio.
— Julha, está tudo bem? — pergunta Ada ao ver meus olhos vermelhos de tanto chorar.
Não gosto de preocupar Ada com os meus problemas, eu sei o quanto ela teme que eu siga
por caminhos errados. As pessoas me veem como uma adolescente revoltada e inconsequente, já
têm essa opinião sobre mim. Mas eu não sou assim. Apenas digo o que penso e isso, às vezes, não
é visto com bons olhos por alguns. Dizer o que se pensa pode parecer rebeldia ou seja lá o que as
pessoas gostam de rotular, mas eu sei que há uma grande diferença entre dizer e se comportar
como uma adolescente inconsequente. Assinto com a cabeça, o que eu menos preciso agora é de
pessoas me enchendo de perguntas.
Ada não é apenas uma pessoa que nos presta serviço e no fim do dia vai embora viver sua
vida, mamãe a tem como uma amiga confidente. Eu não sei exatamente há quanto tempo Ada está
conosco, somente que ela já trabalhava para o papai e mamãe quando eu nasci. E por esse
motivo, ela tem a total confiança da mamãe, que na falta dela, tem toda a liberdade de me dar
broncas e puxar as minhas orelhas se preciso for. Não me incomoda nem um pouco a sua
autoridade sobre mim. Ela cuida de mim porque sei que me ama e me quer bem, e eu a amo
também.
— Sua mãe quer falar com você. — ela estende o telefone em minha direção.
Neste exato momento, tudo que eu não preciso é de uma conversa com a minha mãe, que é a
única culpada por ter se casado com esse homem insuportável que ela colocou dentro da nossa
casa.
Ada me observa atentamente com os olhos cerrados quando nota que me oponho em pegar o
aparelho de suas mãos. Ela insiste, direcionando o aparelho a mim. Reviro os olhos, frustrada, e se
a conheço bem, ela não desistirá enquanto eu não atender à ligação. Rapidamente me passa a
péssima ideia de contar tudo o que houve para ela, mas o melhor a fazer é me manter calada. Ela
se comportaria como sempre, ficando ao lado de Christopher ou dizendo que é apenas a minha
imaginação fértil. Respiro fundo para não deixar que ela note que eu havia chorado, coloco um
falso sorriso nos lábios e pego o aparelho das mãos de Ada, que me fita com uma expressão
serena.
— Mãe. — atendo sem emoção.
— Oi, filha. Quanta demora para atender a um telefone. — bufa. — Está tudo bem? —
pergunta.
Fico intrigada com a possibilidade que ela já tenha conversado com o Christopher e ele tenha
lhe contado tudo.
Não, não havia dado tempo de ele ter dado com a língua nos dentes. Reviro os olhos e encosto
a cabeça na borda da banheira. Se ele não disse nada, não será eu quem irá dizer.
— Sim, está. — minto.
— Que bom. Acredito que não tenha se esquecido do nosso jantar. Liguei para dizer que não
irá dar tempo de ir para casa, então encontrarei você e o Christopher no restaurante. — diz,
autoritária.
— Eu tenho outra escolha? — pergunto, mesmo sabendo qual será a sua resposta.
— Não. — diz, ríspida.
— Não sei por que ainda pergunto. — digo, frustrada.
— Também amo você, querida. — diz sem me dar tempo de recusar.
— Também amo você, mamãe.
Encerro a ligação e entrego o aparelho para Ada, que me fita com um largo sorriso nos lábios.
Eu sorrio sem ânimo com o canto da boca e ela gargalha, divertida, e sai.
Termino o meu banho e saio vestindo o roupão. Começo a me produzir escovando o cabelo, em
seguida, alguns cachos nas pontas.
Faço uma maquiagem leve e passo um batom rosa matte. Sigo até o closet e escolho um vestido
modelo tubinho azul um pouco acima dos joelhos. Calço um par de sandálias preta altíssima, passo
o meu perfume preferido, alguns acessórios, pego a bolsa de mão, também preta, e estou pronta.
Sigo até a sala de estar, onde Christopher deveria me aguardar. Vou em direção ao bar e lá
está ele, sentado de costas para mim tomando alguma bebida, que parece ser uísque. Christopher
se vira para mim assim que percebe minha presença.
Nossa, nossa, nossa!
Fico boquiaberta ao ver como ele está lindo vestindo um terno de risca de giz e cabelo
molhado indicando que acabara de sair do banho. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Ele me
encara de uma forma que não sei bem dizer se está me achando bonita ou feia, ou se me odeia
tanto ao ponto de não suportar me ver à sua frente. Até que meus pensamentos me fazem
recordar de suas palavras de ainda hoje.
“Tenho nojo de você!”
Chacoalho a cabeça, afastando para longe os pensamentos perturbadores da minha discussão
com Christopher e engulo em seco diante do mesmo olhar de caçador que me fitara antes da nossa
discussão constrangedora.
— Estou pronta! — digo, me virando para sair.
— Julha! — paro antes de atravessar a porta ao ouvi-lo pronunciar o meu nome e me viro em
sua direção.
Ele engole em seco e passa uma de suas mãos em seu cabelo, um simples gesto que ele faz
com maestria enquanto fita meus olhos, e diz:
— Quero lhe pedir desculpas. — ele suspira e eu o fito com uma das minhas sobrancelhas
arqueada. — Eu me excedi e… — antes mesmo que ele continue, ignoro o seu pedido de
desculpas.
Pensa que é simples assim, Christopher Cloney?
Fala a merda toda e depois se desculpa? Não!
— Bem, eu já estou acostumada. — digo, ríspida.
Viro-me e sigo para a sala, mas consigo ouvi-lo suspirar antes que seus passos largos me
acompanhem.
— Julha, olha para mim. — pede e sua mão alcança o meu pulso, me fazendo parar.
Estremeço.
Com movimentos bruscos, Christopher me vira, fazendo com que eu fique de frente para ele.
Encaro onde a sua mão toca o meu braço, e ele, por fim, a tira rapidamente e me olha nos olhos.
Digo friamente:
— Vamos nos atrasar. — eu me viro para sair, mas ele me impede mais uma vez e volta a
tocar o meu braço.
— Julha, eu…
— Christopher. — eu o interrompo antes mesmo que ele continue. Puxo meu braço de volta,
fitando meu relógio de pulso e puxo o ar para os pulmões, repetindo:
— Eu já disse que vamos nos atrasar. — saio e caminho para a garagem, mas ainda o ouço
bufar.
Idiota!
Dirigimo-nos para o carro, e antes mesmo que eu faça o gesto de abrir a porta do carro,
Christopher se coloca ao meu lado, passa a mão em volta da minha cintura e me puxa para o lado,
colando o seu corpo ao meu. Nossos olhos se cruzam por alguns instantes e em um gesto de
cavalheirismo, abre a porta para que eu me acomode no banco de couro da sua Ferrari.
Assinto com a cabeça em agradecimento e ele retribui com o seu mais lindo sorriso.
Tão lindo e tão idiota.
Ele tem problemas mentais, com certeza. Há algumas horas, por pouco não me agrediu, e
agora se mostra gentil e educado. Se ele pensa que agindo assim vai mudar a repulsa que tenho
por ele, está muito enganado.
Minutos depois, o carro percorre a avenida. Seguimos em silêncio por todo o caminho. Algumas
vezes, eu vejo Christopher abrir os lábios a procura de algum assunto, mas desiste assim que me
ouve bufar.
Não tenho nada para conversar com esse homem, e antes mesmo que ele puxe assunto e eu
não tenha como me esquivar, disco o número de Ane, que atende no terceiro toque.
— Oi, amiga! Imaginei que já estivesse no jantar com a sua mãe. — diz ao atender.
— Em alguns minutos. O que está fazendo? — pergunto e olho pela janela quando noto os
olhos de Christopher sobre mim.
— Vendo TV e falando com o Bruno.
Sorrio. Ane é realmente decidida quando quer algo, somos muito parecidas em alguns aspectos.
Ela tem um gosto eclético, eu também, eu amo moda e ela também, só não somos parecidas quando
o assunto são coisas do coração.
— Vai rolar quando? — ela já sabe do que se trata a minha pergunta e não precisa que eu
entre em detalhes.
Christopher está ao meu lado e se ele conta para a minha mãe sobre a suposta transa de Ane,
ela vai dar com a língua nos dentes para a Sra. Clark.
Ane está saindo com Bruno e marcaram para transar. Depois que ela perdeu a virgindade com
Caleb e o idiota saiu contando para todos da escola, ela ficou traumatizada e não saiu com
mais ninguém. Agora está dando mais uma chance depois que conheceu Bruno e se apaixonou por
ele.
— No fim de semana! — diz e posso imaginar o sorriso de satisfação em seus lábios.
— Ótimo, vou querer saber de tudo. — noto que já estamos quase chegando, então decido me
despedir de Ane e encerro a ligação.
Estou distraída guardando o celular na bolsa, quando ouço a sua voz rouca com uma pitada
de ironia.
— Não precisava usar a desculpa de falar com a sua amiga para evitar a minha companhia.
— ele diz e me lança um fodido e sexy sorriso irônico.
Insuportável!
— Saiba que gosto disso em você. — ele me fita com as sobrancelhas arqueadas sem nada
entender. Eu também ficaria ao ouvir de alguém tal afirmação que só pronuncia palavras de
ódio. É realmente surpreendente. — Sua capacidade de percepção. — digo e saio do carro assim
que paramos em frente ao restaurante.
— Idiota! — eu o ouço gritar.
Gargalho e jogo a cabeça para trás.
Rapidamente, a minha mãe vem ao nosso encontro, me dá um beijo estalado no rosto seguido
de um beijo quente em Christopher, que eu não sei em qual momento apareceu ao meu lado.
Nós nos juntamos aos convidados de minha mãe, que é um casal acompanhado de um belo
jovem de olhos e cabelo escuros, que não tira os olhos de mim desde o momento em que me vê.
Tenho certeza que a minha mãe havia planejado aquilo tudo de propósito, ela sempre diz que
eu preciso arrumar um namoradinho, me apaixonar e blá blá blá.
Olhando por outro lado, até que o cara é legal, mas isso não quer dizer que estou à procura
de um namorado, e às vezes tenho a impressão de que a minha mãe nunca entenderá isso. Minha
mãe faz as apresentações entre nós e eu descubro que o belo jovem atende pelo nome de
Giovanni.
Logo a minha mãe e Christopher engatam em uma conversa animada com o casal, e eu com
Giovanni, que me parece ser um bom garoto. Ele tem um papo legal e me faz rir de algumas
piadas que conta. Sempre admirei isso nas pessoas, a capacidade de nos fazerem rir, porque em
minha opinião, rir é o melhor remédio para qualquer situação.
Giovanni, além de ser muito gato, é educado, o conjunto perfeito.
Okay, tenho que admitir que o jantar não está tão entediante.
Capítulo Três
“— Pai do céu, me perdoe.”

- Julha Thompson.

Engato em uma conversa aleatória com o Giovanni sob o olhar curioso e gélido do meu
padrasto, que neste momento, volta a sua atenção para nós.
Meus olhos vão de encontro aos dele e meu corpo se arrepia em resposta com a intensidade
com que ele me olha.
Intencionalmente, umedeço meus lábios e a minha pulsação acelera no instante que seus olhos
acompanham os movimentos de minha língua. Sua respiração se encontra alterada, consigo
perceber a intensidade com que seu peito sobe e desce através do terno de grife.
Só me dou conta de que estou mordendo o lábio inferior quando noto um sorriso safado rolar
por seus lábios, seguido de ele dar um generoso gole em seu vinho.
Filho da puta.
Ele está brincando comigo?
Qual é a desse idiota?
Como pode ser tão lindo e tão babaca?
Eu o fito com os olhos cerrados e ele, ao perceber a minha irritação, me lança o sorriso mais
sarcástico que já vi em seus lábios. Reviro os olhos e volto a minha atenção para o Giovanni, que
assiste tudo com uma expressão surpresa no rosto.
Merda!
Tomo um gole de água, evitando contato visual com o Giovanni, que educadamente finge não
notar a minha guerra visual com o Christopher.
— Gosta de dançar? — pergunta Giovanni, me despertando do meu devaneio.
— Sim! — digo, voltando a minha atenção para ele, que me fita com um sorriso amistoso nos
lábios, me fazendo sorrir.
— Ótimo, o que você me diz de irmos até um bar novo que abriu aqui perto? Dizem que é
muito bom, tocam músicas boas por lá.
— Não seria uma má ideia, estou precisando me distrair, sem contar que dançar é relaxante,
mas não sei se a minha mãe irá concordar. — fito Christopher, que agora conversa animado com o
grupo.
Babaca!
— Eu posso falar com ela. — diz e dá de ombros antes de colocar uma de suas mãos sobre a
minha, que descansa na mesa.
Não esperava por essa atitude atrevida dele. Puxo a minha mão de volta mais ríspida do que
pretendia. Volto a atenção para o grupo que conversa animado à nossa frente e percebo um
Christopher enfurecido fitar Giovanni.
Reviro os olhos para Christopher no exato momento em que ele desvia seu olhar de Giovanni
para mim.
— Não precisa, eu me entendo com ela. — digo e volto a encarar o meu padrasto, que nos
observa com cara de poucos amigos.
Dane-se ele.
Eu não me encontro disposta a perder a minha tão preciosa noite de sono, até porque terei
aula logo cedo no dia seguinte, mas pensando por outro lado, não será uma má ideia aceitar o
convite de Giovanni apenas para provocar o Christopher, que se acha no direito de se meter em
minha vida, como se tivesse sobre mim a autoridade do meu pai. Ele vai se opor no mesmo instante
em que me ouvir falar do convite que o meu mais novo amigo acaba de fazer.
Sorrio internamente com a possibilidade de deixar o meu padrasto irritado.
— Mãe!
Os olhos de todos à mesa se voltam para mim.
Ótimo!
Por que todos estão nos encarando se eu chamei apenas a minha mãe?
Sinto as maçãs do meu rosto queimarem.
Limpo a garganta e encaro a minha mãe, que afinal, não é uma pessoa difícil de lidar. Mamãe
trabalha tanto que acaba fazendo tudo o que quero para substituir sua ausência. Se ela ao menos
soubesse que eu prefiro tê-la ao meu lado todos os dias me fazendo cobranças, me dando limites,
a tê-la tão distante, trabalharia menos e me daria mais atenção.
Desperto dos meus pensamentos dolorosos com os olhares curiosos de todos sobre mim. Dou um
sorriso amarelo com o canto da boca e por fim, digo:
— Giovanni me convidou para dançar. Tenho permissão?
— Amanhã você tem aula. — Christopher solta antes mesmo da mamãe me responder.
Bufo, frustrada, e reviro os olhos.
Se ele acha que isso vai ficar assim, está muito enganado.
Eu o encaro com os dentes cerrados. Ele sorri, fazendo o que mais gosta, me provocar.
— Christopher tem razão, querida. — ela o encara e lança um sorriso cúmplice. Ele retribui,
afagando seu queixo. — Marquem para outro dia, meu bem, sei que Giovanni não irá se importar.
— diz, voltando a sua atenção para mim, e logo em seguida, fita Giovanni.
Olho Giovanni, que encara a minha mãe com uma expressão assustada.
Calma, querido, esse é o charme dela.
Fuzilo Christopher com o olhar, que se diverte com isso .
Isso não vai ficar assim.
Ele me paga!
Quando acho que a minha noite terminaria em ter que voltar para casa acompanhada do
casal apaixonado, eu ouço Giovanni dizer:
— Sra. Thompson, sem dúvidas, não farei objeção alguma e entendo sua preocupação com ela.
— Giovanni me encara e eu lhe dou um meio sorriso. — Mas prometo a Julha cedo para casa,
antes mesmo de que sinta falta dela. — Giovanni puxa a minha mão, levando-a aos seus lábios,
dá um beijo estalado seguido de uma piscadela e logo em seguida sorri.
Nossa, e que sorriso!
Gosto da sua atitude, mostra que sabe o que quer e não se dá por vencido facilmente. Gostei
dele .
Minha mãe fita Christopher por alguns instantes e tenho a ligeira impressão de que ela espera
que ele se posicione contra, mas ele está me matando com o olhar para dizer qualquer palavra.
Umedeço os lábios, dou uma leve mordida em meu lábio inferior, reprimindo um riso travesso
que insiste em brincar em meus lábios.
Um silêncio interminável se instala sobre nós. Christopher e eu continuamos a nos fuzilar com o
olhar, ignorando a presença de todos.
— Tudo bem! — diz mamãe, quebrando o silêncio. Fito Giovanni acompanhada de um largo
sorriso. Ele me olha e retribui o sorriso. — Mas… — todos voltam a atenção para a mamãe. —
Não voltem tarde. — ela diz, fitando Giovanni, e logo após dar o seu recado, se vira para mim. —
E Julha, sem bebidas alcoólicas, okay? — assinto de imediato com a cabeça, evitando que ela
comece o discurso de que não cria filha para virar uma alcoólatra, drogada ou uma garota de
programa, que pegará doenças e irá terminar em um hospital e lhe dará trabalho enquanto o que
ela teria que fazer seria aproveitar sua aposentadoria viajando pelo mundo. Sei que mamãe não
fala por mal, ela só as diz para me colocar medo, e eu gosto quando raramente se mostra
preocupada.
Pego a minha bolsa, que está sobre a mesa, e não perco a chance de provocar Christopher. Eu
o encaro com um sorriso sarcástico e balbucio para que só ele ouça: — Idiota! — ele bufa, se
remexendo em sua cadeira.
Sei que sua intenção é me pegar pelo braço e me dar uma lição, como sempre promete fazer,
mas o que ele explicaria a todos ali presentes se o fizesse? Christopher se limita a apenas revirar
os olhos e cerrar os punhos, que estão em cima da mesa sustentando o seu queixo.
Despedimo-nos de todos com um aceno de mãos e seguimos para a calçada da entrada
principal do restaurante. Aguardamos o manobrista lhe entregar o carro que, gentilmente, seu pai
emprestara. Giovanni agradece ao manobrista, que lhe entrega as chaves do carro, e como um
cavalheiro, abre a porta para que eu entre, em seguida ele a fecha e toma o seu lugar no volante.
Logo, ele dá partida no carro e seguimos todo o trajeto, que fica a algumas quadras do
restaurante em que estávamos, em silêncio.
— Chegamos! — diz Giovanni e sua voz rouca, mesmo que intencional, soa sensual.
A viagem do restaurante ao bar foi feita em minutos. Pela janela do carro, vejo um bar de
fachada rústica com um enorme letreiro, que pisca com luzes brancas, indicando que você acaba
de chegar ao Love Drinks. Um nome bem sugestivo para quem tem uma boa relação com bebidas
. Sorrio para mim mesma com o pensamento.
Um homem jovem vestindo uma calça social preta e uma camisa branca abre a porta do carro,
me ajudando a descer.
— Obrigada! — agradeço e segundos depois sinto a mão de Giovanni na base da minha
coluna. Sorrio ao fitá-lo, ele afaga as minhas costas, entrega as chaves ao jovem manobrista e
seguimos para dentro do bar, que é pequeno, de arquitetura rústica, combinando com a fachada,
mas ainda assim aconchegante.
As pequenas mesas em cerejeira ocupadas com alguns casais e outras com grupos de amigos,
dão um perfeito contraste com uma das paredes espelhadas. Nós, mulheres, agradecemos.
Diferente de alguns bares que vi na televisão, ou com Ane, quando saímos escondidas de
nossos pais, esse palco está bem ao centro do salão, onde o som do casal que canta country soa
acústico, dando a leve impressão de que é um show particular para cada cliente que se encontra
ali.
Giovanni pede uma mesa um pouco mais reservada e um garçom nos guia até ela, em seguida
anota os nossos pedidos.
— O que você quer comer? — pergunta gentilmente.
— Nada, obrigada. Acabamos de jantar. — eu agradeço e ele sorri.
— Mas beber você aceita? — pergunta com um largo sorriso nos lábios. Só então noto o
quanto sorrir o deixa mais sexy.
— Não sei, sou um pouco fraca para bebidas.
— Um martini não vai deixar você bêbada, vai? — ele diz, divertido.
Reviro os olhos e franzo o cenho, porque sei que ele está se divertindo com a minha falta de
intimidade com a bebida.
— Tudo bem! Quero um martini. — digo e ele assente com a cabeça, volta a atenção para o
garçom e faz os nossos pedidos. — Eu vou querer uma cerveja e para a minha amiga… — volta
sua atenção para mim. Ele está flertando comigo? — Uma taça de martini. — Giovanni olha para o
garçom, que anota os nossos pedidos, pede licença e sai.
Iniciamos a conversa sobre o meu futuro depois de sair da escola. Animadamente, eu conto o
que pretendo para o meu futuro. Pela primeira vez, alguém se interessa pela minha vida, claro que
a minha amiga Ane não conta, sempre conversamos sobre assuntos do tipo. Minutos depois, o
garçom volta com os nossos pedidos, nos serve e sai. Agradeço, seguindo Giovanni.
— É a minha primeira vez. — digo, me referindo ao martini. Ele arqueia as sobrancelhas,
surpreso.
— Mentira? — assinto com a cabeça. — Então, esse momento merece um brinde. — ergue sua
caneca com a cerveja e eu faço o mesmo com a minha taça, e por fim brindamos à nossa noite e à
grande amizade que possa surgir entre nós.
— Vamos, experimente! — ordena, me fitando com um sorriso divertido.
— Quer me ver bêbada, Giovanni? — brinco.
Ele revira os olhos, em seguida solta uma bufada.
— Qual é? Você não vai ficar bêbada com apenas uma taça. — dou um sorriso divertido e
beberico a famosa bebida. — E então?
— Hum, mais ou menos. — digo sob o seu olhar incrédulo.
— Você está de brincadeira, não está? — em meio à sua pergunta, continuo séria. — Tudo
bem, vamos chamar o garçom para que ele traga outra bebida. — Giovanni já está erguendo a
mão para acenar ao garçom, que passa por nós.
— Não! — seguro sua mão e solto uma gargalhada.
Giovanni me fita com o cenho franzido.
— Estava brincando com você, realmente a bebida é muito boa. — digo e vejo um largo
sorriso surgir em seus lábios.
— Essa me pegou. — ri.
Já estou na minha terceira taça quando olho à minha volta e vejo apenas alguns casais. Sinto a
cabeça zonza, escolher martini não foi uma boa ideia, na verdade, bebida nenhuma será bem
aceita por mim.
— Tenho que ir embora. — digo, olhando em meu relógio de pulso e encaro Giovanni, que me
fita fingindo estar magoado.
— Ah, acabamos de chegar. — insiste, colocando a mão sobre a minha, que está descansando
sobre a mesa.
Giovanni é um garoto bonito, cabelo castanhos escuro, olhos verdes e tem um sorriso de modelo
de comercial de creme dental. Encantador!
Ele é alguns anos mais velho que eu, e pelo pouco que me contou de sua vida, trabalha com o
pai em seu escritório de contabilidade, não por opção, mas o machismo do pai de Giovanni, como
a maioria dos homens, sonha com o nascimento do primeiro filho homem para seguir os próprios
passos, não se importando com o que seus filhos desejam para a vida e não os deixam seguir seus
próprios passos, fazer suas escolhas e seguir o próprio caminho.
Giovanni é um filho bem compreensivo. Se eu estivesse em sua posição, provavelmente seria um
desses bad boys que só dão problemas para os pais. Mas o meu pai era diferente, sei que ele
jamais iria se opor a uma escolha minha, mesmo não concordando.
O papo rola solto. Giovanni, além de bonito e inteligente, tem um grande poder de persuasão.
Engatamos em uma conversa que me distrai do meu pedido de me levar para a casa.
— Giovanni, agora tenho mesmo que ir. — digo com um sorriso amistoso. Ele bufa, frustrado,
revira os olhos, faz sinal com a mão para que o garçom se aproxime e pede a conta. —
Obrigada, foi uma noite agradável! — eu agradeço, sincera, e ele sorri.
— Me ligue quando quiser se distrair, será um prazer te acompanhar. — ele me estende um
cartão e dá uma piscadela. Eu pego, dou um selinho estalado em seu rosto e me levanto.
Giovanni me deixa em casa. Assim que entro, retiro os saltos na sala para não fazer barulho e
acordar a minha mãe, ou já posso imaginar o escândalo que ela irá fazer ao perceber a hora que
cheguei. Nas pontas dos pés, vou atravessando a sala no escuro, seguindo para a escada. Coloco
o pé no primeiro degrau da escada e uma luz, que não sei de onde e nem quem acendeu, faz com
que eu trave e a minha pulsação bata descompassada.
— Caramba, acho que tem fantasmas na casa. — repito para mim mesma e minha voz soa
embaralhada. Ouço a minha própria voz e não consigo controlar uma crise de riso que me toma.
Juro, tentei controlar, mas não deu.
— Muito bem! Isso são horas de estar voltando para a casa? Ainda mais bêbada.
Viro-me com um pouco de dificuldade na direção de onde veio o som da voz rouca de
Christopher, e lá está ele, o gato do meu padrasto. Parado no meio da sala de estar, vestido
apenas com uma calça de moletom preta e com o cabelo bagunçado indicando que acabara de
acordar.
O gato do meu padrasto?
Eu não pensei isso, pensei?
É, eu realmente pensei.
Merda, de onde tirei isso?
Gato?
Pare com isso já, Julha Thompson, está ficando maluca?
O martini afetou o seu cérebro.
Desde sempre ele te odeia, e você a ele, e é assim que tem que ser!
Volto para continuar a minha peregrinação até o quarto, mas paro, me viro para encará-lo e
ele continua lindamente parado no mesmo lugar. Desço um degrau, cravo meus olhos nos dele e
com as mãos nas cinturas, digo:
— Qual. É. O. Seu. Problema? — falo pausadamente e minha voz soa falha. Ele continua me
encarando, sério, e nada diz. — Vai ficar me perseguindo, agora? — arqueio uma das minhas
sobrancelhas. Ele continua sério e quieto, como antes, o que me deixa furiosa. — Cadê a minha
mãe? Você não deveria estar ao lado dela, como um bom marido, dormindo? — digo e minha voz
soa ríspida.
— Você está bêbada e deve ir dormir. — diz, autoritário.
— Cuida da sua vida! — digo e dou um passo em sua direção, mas paro assim que meus olhos
contemplam a beleza que ele possui. Tanto ódio que carrego por Christopher não me deixou ver o
quão bonito ele é.
Meu Deus, ele é incrivelmente perfeito.
Estou assim como ele, parada no centro da sala, estática, apenas deixando fluir o desejo por
ele que emana de mim.
Pare com isso, Julha, ele é seu padrasto!
Droga!
Sacudo a cabeça lentamente, afastando para longe os pensamentos indesejados.
Isso não é nada bom!
Viro-me para seguir para o meu quarto, mas paro quando o ouço dizer:
— Sua mãe já está dormindo, graças a Deus! — diz, visivelmente irritado. Dou de ombros. —
Pense como ela ficaria decepcionada se visse a doce e querida Julha… — diz com desdém, e eu o
fito, séria, com os olhos cerrados. — Bêbada e neste estado. — diz, me fitando lindamente com as
mãos dentro dos bolsos de sua calça, mas eu consigo sentir a repulsa em sua voz.
Olhei-me da altura do colo até meus pés cambaleantes, com ele acompanhando cada
movimento meu, procurando em mim o defeito que ele insinua através do olhar. Dou um sorriso
sarcástico.
— O que tem errado comigo? — pergunto, mas antes mesmo que ele responda, eu continuo. —
Ah, claro, eu deveria estar dormindo! — digo e vejo um leve sorriso vitorioso dançar em seus
lábios.
Não cante vitória antes do tempo, Sr. Cloney.
— Você também não deveria estar dormindo, papai? — eu provoco e o vejo completamente
irritado.
Ele caminha em passos largos em minha direção, e eu sinto uma corrente elétrica percorrer o
meu corpo. A sensação de perigo que sinto rondar o ambiente me excita.
Hora de partir, Julha!
Meu subconsciente me alerta.
Apressadamente, eu me viro para seguir em direção à escada e por fim chegar ao meu
quarto, mas meus pés não colaboram e se entrelaçam, me fazendo desequilibrar, e se não fosse
por Christopher, que está próximo, me tomar em seus braços, estaria ridiculamente esborrachada
no chão.
— Machucou? — pergunta com seus lábios próximos ao lóbulo da minha orelha. Sua voz rouca
em contato com a minha orelha faz com que um maldito arrepio de excitação percorra o meu
corpo, me fazendo engolir em seco.
Julha Thompson, você está passando dos limites!
Ele está apenas sendo gentil, não confunda as coisas.
Fixo meus olhos nos dele e pela primeira vez, desde que Christopher veio morar conosco, eu o
vejo preocupado comigo.
Não o julgo por isso, nunca tivemos uma boa relação, minha mãe bem que tenta, mas as suas
tentativas são em vão. Eu não canso, e Christopher também não, enquanto isso, minha mãe fica no
meio dessa guerra declarada.
Não consigo dizer uma só palavra, minha respiração está pesada e me impede de pronunciar
qualquer coisa.
Por Deus, Julha, controle-se!
Ele fita meus lábios com os seus entre abertos, revelando que sua respiração está ofegante. A
excitação que estamos sentindo um pelo outro é palpável, volto a minha atenção para o seu olhar
e uma mistura de preocupação com desejo é revelado através dele. Errado, sim, eu sei que é
errado, mas neste exato momento a vontade de beijá-lo grita dentro do mim.
Está maluca, Julha?
Saia já do colo dele antes que você faça alguma besteira.
Merda, merda, merda!
Caio em mim e percebo a loucura que estou desejando.
Com movimentos bruscos, me sacudo sobre o seu colo para que ele me coloque no chão. Ele me
aperta em seus braços, tentando me segurar com mais força, eu aumento mais os movimentos, me
debatendo.
— Garota mal-agradecida, estava tentando ajudar. — grita, nervoso.
— Me coloque no chão que já está ajudando! — grito, ainda me debatendo.
Ele solta o meu corpo e um tanto desengonçada, caio de bunda entre o primeiro e o segundo
degrau, e acabo gritando quando sinto a dor me invadir.
— Droga, Christopher, isso dói! — ele ignora as minhas lamúrias, passando por cima de mim e
volta de onde não deveria ter saído, seu quarto. — É ao lado da minha mãe que você tem que
estar, idiota! — digo e logo em seguida, eu o escuto bater a porta do quarto com força.
Babaca!
Cada dia que passa, eu o odeio ainda mais. Sei que desejar a morte de alguém não é uma
atitude louvável, mas, neste momento, não desejaria outra coisa além disso.
Subo a escada com dificuldade e sigo para o meu quarto. Minha cabeça dói, se misturando ao
ácido que se forma em minha garganta. Corro para o banheiro, me esquecendo da dor da queda,
abro a tampa do vaso sanitário e no mesmo instante coloco para fora tudo o que havia comido
durante o dia.
Ouço passos se aproximando e espero que mamãe não tenha despertado com os meus gritos,
ou terei que passar o restante da madrugada me explicando. Volto a deixar no vaso a
alimentação que restara em meu estômago. Sinto fortes mãos segurando meu cabelo
delicadamente, como se estivesse com medo de me machucar. Arqueio a cabeça e a inclino um
pouco para o lado para ver quem é o dono daquelas mãos, e tenho a bela imagem do meu
padrasto atrás de mim com uma expressão amigável em seu rosto. Não tento impedir seu toque,
não tenho condições físicas e nem emocionais para isto. Depois da minha cena deplorável,
Christopher, gentilmente, me ajuda a levantar.
Com uma de suas mãos, ele agarra a minha cintura, e com a outra, lentamente, desce o zíper
do meu vestido. Sua respiração está pesada.
— O que você está fazendo? — pergunto e minha voz soa falha, mas não lhe dou o direito de
reposta e continuo. — Pode ir parando. — digo, dando um tapa em sua mão.
— Julha, você precisa de um banho, mas se prefere tomar de roupa, por mim tanto faz. — diz,
ligando o chuveiro na água fria, e logo em seguida, me colocando debaixo dele.
O contato da água fria com o meu corpo quente me faz perder o fôlego.
— Christopher! — grito, irritada, ao vê-lo se divertir com a minha desgraça.
— Isso, grite mesmo. Sua mãe vai adorar acordar e te ver assim, bêbada. Você só a faz
passar vergonha. — ele está com raiva de mim e está usando essas palavras para me atingir.
— Você não tem nada a ver com isso! — grito de volta.
— Tenho sim, mocinha. Tudo que diz respeito à minha mulher, diz respeito a mim também. —
diz, se encaminhando até o box.
Christopher desliga o chuveiro, e me segurando pelo braço sem me machucar, vamos até a
gaveta onde há algumas toalhas, abre-a, pega uma e joga sobre o meu peito, em seguida
aproxima os lábios dos meus e diz:
— Faça por conta própria! — eu me arrepio.
Droga! Christopher nota o meu desconforto e vejo um sorriso sarcástico em seus lábios.
Christopher se vira para sair, mas o impeço:
— Por que você está sendo gentil? — pergunto com uma de minhas sobrancelhas arqueadas,
enquanto ele me entrega a minha escova de dentes, com pasta. Estou realmente curiosa.
Christopher e eu nunca fomos de trocar gentilezas, o porquê disso tudo agora? Estranho .
Termino de escovar os dentes e minutos depois da minha pergunta, eu o ouço quebrar o
silêncio.
— Porque acho que a sua mãe merece uma filha melhor. — diz, aproximando seu rosto do
meu.
Dou um passo para trás.
Okay, isso foi como um soco em meu estômago.
Quem é ele para dizer o que a minha mãe merece?
Eu o encaro com os dentes cerrados.
Okay, o marido dela, mas dizer que sou uma péssima filha já é demais.
Mas claro, é como a minha mãe sempre diz: “Julha, você tem resposta para tudo”. Não deixo
barato e rebato.
— Pela primeira vez, concordamos em alguma coisa. — digo e ele me fita com uma expressão
surpresa. — Também acho que ela merece algo melhor para a vida, claro que não uma filha, mas
um marido melhor. — ele coloca a mão na cintura e me fita, estático, sem acreditar no que
acabara de ouvir.
Bateu, levou, Sr. Cloney.
— Seu pai?
Não, não, não. Falar do meu pai é golpe baixo.
Um nó se forma em minha garganta. Não vou chorar na frente desse babaca.
Finjo não dar importância à sua pergunta e volto a minha atenção para a toalha que está em
minhas mãos.
— Preste atenção em uma coisa, garota. Ele já não está mais entre nós, ou melhor, entre vocês,
então se contente com o seu novo pai e veja se não me enche o saco. — fico tão irritada que
acabo perdendo a razão e parto para cima de Christopher, distribuindo tapas e socos em seu
tronco.
— Não fale do meu pai! Lave sua boca para falar dele!
— Julha, calma! Pare, Julha! — ele agarra os meus pulsos na tentativa de me parar e um ardor
gostoso percorre quando sinto suas mãos agarrarem meus ombros. Christopher ergue os meus
braços acima da cabeça, os prendendo, e me coloca contra a parede.
Minha pulsação acelera e minha respiração ofega, quando o sinto colar seu corpo contra o
meu.
— Você precisa se acalmar!
— Okay, já estou calma, agora me solte! — digo, me segurando para não lhe dar uma
joelhada no meio das pernas.
— Não antes disso.
Christopher agarra o meu lábio inferior com os dentes, dá uma leve mordida antes de chupá-lo
e sua língua procurar a minha. Tento não cair na tentação de corresponder ao beijo, mas assim que
sinto o seu pau duro feito pedra sobre a minha barriga, cedo e sua língua encontra a minha e a
chupa com desejo. Gemo em excitação.
Meu sexo umedece, já dando sinal de vida. Entregue às investidas do meu padrasto, agarro
uma mecha do seu cabelo na nuca e Christopher solta um gemido sôfrego. Neste momento, tenho a
certeza que ele me deseja assim como eu o desejo. Loucura? Sim, não tenho dúvidas, mas agora só
quero me perder em seus beijos.
Paramos o beijo em busca de ar.
— Meu Deus, o que estou fazendo? — diz Christopher, enquanto arranca minhas mãos do seu
pescoço, me afastando para longe.
O que deu nele?
Eu o fito com o cenho franzido sem nada entender.
— Desculpa… Eu… Eu não deveria… Isso não deveria ter acontecido. — diz Christopher ao
cair em si.
Quando me dou conta, Christopher já saiu. Lembrar da sua pulsação acelerada se misturando
com a minha só me dá a certeza que ele me deseja.
Naquele momento, ele me desejou como eu o desejei, com loucura!
Droga, ele tem razão, o que estávamos fazendo?
Minha mãe não merece isso!
Acompanhada das minhas lágrimas pesarosas, deslizo meu corpo ainda vestido até o chão e
choro a dor de ter traído a pessoa mais importante da minha vida.
Deslizo o dedo em meus lábios ainda sentindo o gosto de hortelã dos lábios que Christopher
deixou impregnado sobre os meus. Um sorriso novo se forma em meus lábios, me fazendo esquecer
por um momento as lágrimas que segundos atrás caíam.
Eu gostei do beijo dele, é doce e cheio de desejo.
Não, Julha, você não gostou, você está bêbada e não sabe o que está falando.
— Pai do céu, me perdoe. — digo, olhando para o céu. Rapidamente, eu me coloco de pé, tiro
as roupas molhadas, me enrolo na toalha e sigo para o quarto, me jogando na cama com os
pensamentos no que acaba de acontecer.
Loucura, uma loucura saborosa!
Com os pensamentos longe, em minutos, eu adormeço.

[…]

Acordo como todas as manhãs, às seis horas, com o meu despertador tocando a todo vapor.
Coloco-me de pé e sigo para o banheiro, faço minha higiene, prendo meu longo cabelo em um
rabo de cavalo no alto da cabeça, visto meu uniforme, passo um pouco de gloss nos lábios, calço
meu par de tênis, vou até o espelho e pronto. Sinto-me mais bonita, mais mulher, acho que é o
efeito pós-Christopher.
Pego a minha mochila, que está sobre a escrivaninha, em seguida o meu celular, e desço a
escada, correndo. Ao chegar à cozinha, paro ao ver a minha mãe aos beijos com Christopher. Sinto
algo como nojo e arrependimento, e meu estômago se revira. No mesmo instante que me viro para
tomar o meu caminho de volta, sou impedida pela voz de mamãe, que notou a minha presença:
— Filha?
Capítulo Quatro
“Vê-la feliz me incomoda, de certa forma. Eu tenho a consciência que não deveria me sentir assim,
mas é inevitável, não é nada planejado.”

- Julha Thompson.

Giro meu corpo sobre os calcanhares, ficando de frente para o casal apaixonado.
Rapidamente, cravo os olhos em Christopher, que me fita com uma expressão indecifrável antes de
fixar seus olhos em mamãe, que me encara com um largo sorriso de satisfação nos lábios.
— Bom dia. — digo sem humor.
— Bom dia, querida. — diz, se desvencilha dos braços de Christopher, e ambos tomam os seus
respectivos lugares à mesa.
— Venha, meu bem, sente-se conosco. — convida-me mamãe ao mesmo tempo em que se serve
de uma xícara de chá e duas torradas.
Ela está feliz essa manhã, isso é sinal que o idiota do meu padrasto conseguiu controlar sua
língua grande dentro da boca e não contou sobre o estado deplorável em que eu me encontrava
na noite passada.
Vê-la feliz me incomoda, de certa forma. Eu tenho a consciência que não deveria me sentir
assim, mas é inevitável.
Apenas sinto.
— Estou atrasada. — minto. — Vou comendo uma maçã no caminho. Combinei com a Ane de
pegá-la em sua casa e não quero deixá-la esperando. — finjo um sorriso animado.
Fugir de Christopher não é uma atitude adulta, até porque não tem como evitar encontrá-lo
pelos cômodos da casa quando vivemos sob o mesmo teto. Para ser franca, não estou fugindo do
meu padrasto, e sim da minha mãe. Sinto-me culpada com o que aconteceu comigo e meu padrasto
na noite passada. Mesmo sabendo que foi ele quem me beijou, tenho uma parcela de culpa por ter
correspondido.
Eu não sei como pude ser tão canalha com ela.
Em certos momentos, penso que Christopher tem razão quando diz que sou uma péssima filha.
Qual é a filha que, em sã consciência, se sente atraída pelo marido de sua mãe?
Logo eu, que sempre repudiei traições, ou qualquer relação comparada ao que eu senti por
meu padrasto, quando o outro ser envolvido é comprometido.
— Tudo bem! — sou desperta do meu devaneio no instante em que a sua voz aveludada me
autorizando rompe o silêncio, que só agora percebo ter se formado no ambiente.
Assinto com a cabeça e dou um largo sorriso, aliviada por mamãe não me obrigar, ao menos
desta vez, fazer a minha refeição na companhia do meu padrasto.
Christopher se mantém calado, concentrado em seu prato com ovos mexidos. Ele está me
evitando.
Isso é o mais sensato a se fazer, e eu devo fazer o mesmo.
Fito Christopher de soslaio e pego uma maçã, que está em cima da fruteira, dou uma mordida,
e antes mesmo que eu tome caminho para sair daquela cena de tortura, ouço mamãe mais uma vez
pronunciar o meu nome.
Volto a fitá-la, atenta, antes de revirar os olhos e ouvi-la dizer:
— Hoje eu vou viajar a trabalho, ficarei fora durante trinta dias e peço a colaboração dos
dois. — mamãe fita Christopher antes de voltar a sua atenção para mim. — Principalmente a sua,
filha. Quero voltar e encontrar, de preferência, os dois sãos e salvos. — diz, brincalhona, enquanto
dá uma mordida em uma de suas torradas.
Impossível, Sra. Cloney.
Assinto com a cabeça e dou um sorriso irônico, depois digo dizer em alto e bom som:
— Não se preocupe. Quando a senhora voltar, estarei te esperando. Tenha uma boa viagem,
mamãe. — rio e saio, mas ainda consigo ouvi-la me repreender.
— Julha!
— Amo você! — digo, divertida.
Depois do que houve na noite passada, tudo o que eu menos preciso agora é ficar na
presença da minha mamãe e do meu padrasto.
Não sei o porquê de ainda estar pensando em um assunto que já deveria ter esquecido.
Estou dentro da limusine a caminho da casa de Ane. Olho o dia ensolarado através da janela
do carro e sou arremessada, sem aviso, para o que houve na noite passada.
Eu sei que não deveria gostar, mas gostei do beijo dele. Ainda posso sentir o doce e
refrescante sabor de hortelã de seus lábios sobre os meus. Ainda sinto o cheiro do seu perfume
amadeirado. Sou desperta dos meus pensamentos ao notar que já estamos em frente à casa de
Ane e logo a vejo adentrar, animada, no carro.
— Hei, ainda está dormindo? Acorda! — diz com um largo sorriso.
Ane toma o seu lugar ao meu lado, antes de depositar um beijo estalado em meu rosto. Reviro
os olhos e solto uma bufada.
— Nossa que mau humor. O que houve? — pergunta enquanto o carro percorre as ruas
movimentadas de Nova Iorque.
Não quero contar a Ane o que rolou entre mim e Christopher, não porque não confio nela, mas
por vergonha de admitir que gostei de ser beijada pelo meu padrasto.
— Não é nada. A minha mãe irá viajar hoje, e você sabe como fico chateada com isso.
— Entendo. Quer dizer que a bebê não quer ficar sem a mamãe. — diz e sua voz soa
sarcástica.
Mostro a língua em resposta, e ela gargalha.
— Não é isso, você sabe que não me dou muito bem com Christopher e… — ela me interrompe
antes mesmo que eu continue.
— Se quiser, posso trocar de lugar com você. — ri seguido de dar uma piscadela.
Christopher faz sucesso entre as mulheres. Eu tenho muitas colegas que adoram ir à minha casa
e ficar babando em cima dele, que não dá a mínima para as oferecidas. Reviro os olhos. Às vezes,
Ane leva tudo na brincadeira, e isso me irrita muito.
Na verdade, a minha maior preocupação é o que pode acontecer sem a mamãe por perto.
Seguimos o restante do trajeto em silêncio, cada uma perdida em seus pensamentos. Sou
desperta dos meus no instante em que o carro para em frente à escola. Adentramos
sorrateiramente, evitando chamar atenção e seguimos para nossos respectivos lugares.
Em passos largos, Ane e eu seguimos em direção à nossa sala, pois temos o primeiro horário
juntas, hoje. Paramos na porta e me dou conta que estamos mais atrasadas do que imaginávamos,
quando nos deparamos com a imagem de Daniel, o professor de matemática, concentrado em
passar algum recado importante para os alunos, que o ouvem atentamente.
Sento-me no meu lugar e Ane se faz o mesmo ao meu lado.
Não demora muito e vejo um garoto, que acredito ser nosso colega de classe, uma vez que não
me recordo de tê-lo visto antes, se aproxima, acomodando-se em uma carteira desocupada ao
lado de Ane, que me fita de soslaio assim que ouço o garoto convidá-la para um passeio depois
da aula.
— Quem é? — pergunto assim que ele sai.
Ane me fita dando uma leve mordida em seu lábio inferior.
Não posso acreditar! É aquele carinha que ela havia me contado que sairia.
— Bruno. — Ane diz, fitando a lousa fingindo prestar atenção na matéria que o professor
passa.
— Vocês ficaram? — pergunto sem tirar os olhos do professor, que agora explica a matéria.
Minha curiosidade está em alta para saber mais sobre esse tal Bruno. Eu sei que não devo
perguntar mais nada, pois tirará a nossa concentração, então levaremos uma bronca do professor
e por fim, acabaremos na diretoria.
— Ainda não. — diz, tímida.
Até que ele é bonitinho, e não aparenta ser babaca como Caleb.
Volto a me concentrar na aula.
O sinal do intervalo toca e logo Ane sai correndo, me puxando pela mão, indo para a cantina.
Fazemos os nossos pedidos e nos juntamos com algumas colegas de classe que estão em uma mesa
próxima. O papo rola solto e divertido.
Acabo me afastando do grupo quando ouço o meu celular tocar no bolso da calça. Pego e
vejo o nome da minha mãe na tela.
— Oi, mãe, tudo bem?
— Oi, meu amor, está tudo bem, sim. Estou ligando apenas para me despedir, e pedir mais uma
vez que faça um esforço para se dar bem com Christopher enquanto eu estiver fora. Por favor,
Julha. — pede e sua voz soa como uma súplica.
Depois de tudo o que havia acontecido entre mim e o meu padrasto, ouvir um pedido da minha
mãe com tanto carinho, só me faz sentir pior e concordar. Penso que é uma forma de me redimir do
meu erro.
— Tudo bem, mãe, não se preocupe. — digo para tranquilizá-la, pois sei o quanto é
importante para ela que eu me de bem com o meu padrasto.
— Obrigada, querida. — agradece e percebo que sua voz soa um pouco mais tranquila.
Despeço de mamãe, que está a caminho do aeroporto, e volto para o grupo, que agora tem
mais um integrante.
Um garoto bonito. Olhos castanhos, corpo definido, nada em exagero. Ele é realmente muito
bonito .
Nossos olhos se cruzam e meu corpo se arrepia.
Bruno gentilmente nos apresenta, e se eu não me engano, seu nome é Felipe. Isso… Felipe .
Marcamos de ir ao cinema essa noite, eu, Ane, Bruno e Felipe. Confesso que não estou muito a fim
de ir, mas não há outra escolha, ou irei, ou terei que aturar o Christopher.

[…]

Logo que a aula acaba, nós seguimos para a casa. Eu deixo Ane na dela e vou para a minha.
Entro, passando pela sala e nem sinal de Christopher, então subo correndo para o meu quarto
e tranco a porta.
Tomo um banho rápido, coloco um short jeans curto customizado, visto uma blusinha regata em
algodão preta, calço meus chinelos e em seguida prendo meu cabelo em um coque.
Saio do meu quarto e passo pelo quarto da minha mãe, a porta está aberta, até penso em
entrar, mas desisto ao me recordar de que ela não está em casa.
Desço para a cozinha, encontro Ada, que está concentrada em seus afazeres, e dou um beijo
estalado em seu rosto.
Almoço uma deliciosa lasanha acompanhada de um copo de refrigerante, e depois me sirvo de
uma maravilhosa sobremesa.
Tudo deliciosamente preparado por Ada.
Seria injusto da minha parte escolher apenas um prato predileto em meio a dezenas que Ada
prepara perfeitamente bem. Mas lasanha é o meu ponto fraco.
Corro para a sala de TV e fecho as cortinas, deixando um tremendo escuro e ligo a TV para
assistir ao filme indicado por algumas colegas de classe, Um Amor Para Recordar. Não é um tipo de
filme que costumo ver, mas já que as românticas da minha sala me recomendaram tanto, decidi
matar a curiosidade.
Não tenho a mínima ideia em que parte do filme está, quando sinto alguém se aproximando, e
juro que se estivesse vendo um filme de terror, já teria gritado.
— Assustei você? — pergunta Christopher, que está encostado no batente da porta.
Meus olhos percorrem o seu corpo, e engulo em seco ao constatar que ele está perfeitamente
lindo em um terno preto risca giz.
Droga! Mais uma vez aquele arrepio toma conta do meu corpo.
Agora vai ser isso toda vez que eu estiver diante dele?
Nossos olhos se cruzam.
— Posso falar com você um minuto? — ele diz e eu engulo em seco.
Minha real vontade é sair correndo dali, me trancar no quarto e só sair quando a minha mãe
voltar da sua viagem, mas essa atitude só confirmaria o que ele sempre diz: “Garota mimada.”
— Estou no meio de um filme. — digo na tentativa de fazê-lo desistir. Não tenho a mínima ideia
do que se trata o assunto, mas com certeza não estou nem um pouco a fim de conversar com ele.
— Eu espero. — ele diz, se aproximando.
Eu o fito com o canto do olho e o vejo se sentar ao meu lado antes de começar a prestar
atenção no filme.
Ah, legal, agora esse idiota vai ficar aqui, ao meu lado.
Eu apenas bufo, frustrada, e continuo assistindo ao filme.
Capítulo Cinco
“O temor que percorre o meu corpo é simplesmente maravilhoso.”

- Julha Thompson.

Ele, sentado ao meu lado feito dois de paus, já está me irritando. Num impulso, inclino meu
corpo para a frente, pego o controle sobre a mesa de centro e desligo a TV. Ele se vira para mim,
visivelmente irritado, e diz:
— Garota mal-educada, por que desligou a TV? — Christopher me fita com uma expressão
dura.
— Porque eu quis. — rebato, irônica.
— Você é insuportável, garota mimada. Idiota, você merece levar umas palmadas. — continua
ainda mais irritado.
— Você não me achou mimada, idiota, e muito menos insuportável ontem, quando me beijou. —
ironizo.
Ele me fita com os olhos em chamas e vejo o arrependimento estampado neles.
— É sobre isso que eu quero falar — ele para por um momento, como se estivesse em uma
guerra interna. — Aquele beijo foi um erro, nunca deveria ter acontecido. Mas já que aconteceu,
vamos esquecer. — diz, gesticulando com as mãos, antes de colocar um dos seus joelhos sobre o
sofá, se virando para ficar de frente para mim.
Por mais que eu odeie admitir, Christopher tem toda razão.
Foi um erro. Uma porcaria de um erro que eu gostei pra cacete.
Apenas dou de ombros, não vou lhe dar o prazer de admitir que está coberto de razão.
— Não me lembrava mais do beijo. — digo, fingindo indiferença.
Seus lindos olhos azuis me fitam atentamente como se pudessem ver o meu interior. Engulo em
seco assim que ele se aproxima, ficando muito perto.
— Primeiro, quero pedir desculpa pelo o que aconteceu ontem. Não sei onde estava com a
cabeça quando tomei aquela atitude de beijá-la. Mesmo que você não goste de mim, ainda assim
tenho um carinho por você de um pai para com a sua filha.
Pai não beija a filha com o desejo que você me beijou.
— Amo a sua mãe e não quero magoá-la e…
— Já chega dessa palhaçada! — eu o interrompo antes mesmo que ele continue. — Não sei
do que você está falando. — digo, fitando-o com o cenho franzido. — Isso jamais voltará a
acontecer, e quero deixar bem claro que você não é o meu pai. Será que dá para entender isso?
— ele me encara com uma expressão surpresa ao contemplar a minha irritação.
Por um breve momento, Christopher ergue uma de suas mãos para tocar o meu rosto, mas logo
retoma a consciência e se coloca de pé, me olhando com suas mãos já dentro dos bolsos de sua
calça.
— Ótimo, que bom que você já esqueceu. Jamais farei isso de novo, até porque, você não faz
o meu tipo. Gosto de mulheres experientes e você não passa de uma pirralha. — eu o encaro com
indiferença e Christopher me fita com um largo sorriso nos lábios, saindo logo em seguida.
Pirralha?
Eu não ouvi isso dele. Reviro os olhos e solto uma bufada.
Sim, Julha, você ouviu!
Posso não fazer o tipo dele, mas me chamar de pirralha é golpe baixo.
Jogo o meu corpo sobre o sofá e uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto.
É isso mesmo?
Estou com o meu sentimento ferido por ouvir Christopher dizer que eu não faço o tipo dele?
Estou apaixonada pelo meu padrasto? Não, não é possível, ou é?
Droga!
Não, Julha, você não pode estar apaixonada por ele, isso é coisa da sua cabeça.
Que porra!
Seco minhas lágrimas e com a cabeça atordoada pelas palavras de Christopher, tento voltar
ao filme, em vão, já que não consigo me concentrar. As palavras dele martelam em minha cabeça.
Sou desperta do meu devaneio com o soar do telefone que toca na sala, e a luz vermelha
acende, indicando que a ligação é para a sala de TV, ou seja, para mim.
— Alô? — atendo sem ânimo.
— Oi, linda, tudo bem por aí? Já matou o seu padrasto? — diz Ane assim que atendo ao
telefone, e pelo tom da sua voz, está bem animada.
— Oi, gata. Falta pouco. — digo, brincalhona, tentando disfarçar para que ela não note a
tristeza em minha voz.
— Liguei para saber se está de pé o nosso programa de hoje?
Por um momento, eu havia me esquecido .
— Não vejo a hora. — digo, fingindo estar empolgada.
— Mudamos de ideia. Os meninos querem nos levar em uma festa, então vamos ao cinema
outro dia. Tudo bem para você, certo? — já que não tenho escolha, só me resta concordar.
— Tudo bem!
Ane e eu conversamos mais um pouco. Desligo a ligação depois de me despedir dela, vou em
direção à cozinha tomar um leite com chocolate. Acabo encontrando Christopher comendo um
pedaço de bolo. Ignoro a sua presença, afinal, ele tem razão. Aquele maldito beijo nunca deveria
ter acontecido. Parece que neste momento, eu o odeio ainda mais.
Ada não está em casa, então eu resolvo preparar o meu leite sob os olhos de Christopher, que
me fitam minuciosamente. Sinto meu rosto queimar e não tenho dúvidas de que estou vermelha.
Merda! O que ele está querendo?
Primeiro me diz que sou uma pirralha e que eu não faço o seu tipo, agora não tira os lindos
olhos de cima de mim. Isso já está me incomodando. Disfarço, fingindo não ver, mas ele faz questão
de que eu perceba.
Quando já estou tomando caminho de volta para a sala de TV, ele me impede, agarrando em
meu braço e fazendo o leite quente balançar e cair em mim.
— Merda, olha o que você fez, Christopher! — grito, sacudindo as mãos sobre o local como se
pudesse amenizar o ardor que o leite quente está me causando.
Seus olhos me fitam, preocupados.
— Acha que eu fiz de propósito? — ele me encara com uma expressão endurecida.
Ficamos nos olhando por alguns minutos, e por um breve momento, havia me esquecido do
ardor. Christopher desvia o olhar, voltando a atenção para a minha blusa molhada pelo leite, pega
a minha mão direita e em silêncio, me leva até a pia.
— O que você está fazendo? — pergunto, incrédula.
— Vamos dar um jeito nisso. Não quero que diga para a sua mãe que se machucou e eu não
cuidei de você. — diz e noto um sorriso malicioso rolar pelos seus lábios.
Christopher pega um copo, coloca um pouco de água, e com uma de suas mãos, joga a água,
evitando aproximação com a minha pele.
Minha blusa fica ainda mais molhada e noto que Christopher fita meus seios, que estão
enrijecidos por conta do contato com a água fria, ou por ele estar tão próximo a mim, me fazendo
ter pensamentos eróticos.
Merda!
Engulo em seco e Christopher umedece os lábios com a língua. Meu corpo estremece, uma de
suas mãos vem em direção ao meu rosto, me lembro da nossa conversa de minutos atrás e uma
irritação toma conta de mim.
Sou uma pirralha, seu idiota, não faço o seu tipo.
— Já estou melhor. — digo, saindo correndo.
Subo a escada com as pernas trêmulas, em passos largos, adentro o meu quarto e fecho a
porta atrás de mim. Sem conseguir dar mais nenhum passo, deslizo o corpo pela porta e me sento
no chão. Minha pulsação está acelerada, minha respiração se torna ofegante, se misturando ao
desejo que sinto por entre as minhas pernas.
Pela primeira vez em toda minha vida, sinto meu sexo úmido. O tremor que percorre o meu
corpo é simplesmente maravilhoso.
Tenho desejos pelo meu padrasto… Não, isso não pode ser.
Repito para mim mesma enquanto dou tapas em minha cabeça na tentativa de afastar
qualquer pensamento que possa surgir de qualquer tipo de relação entre mim e Christopher.
Sou desperta do meu devaneio pelo meu telefone, que acaba de tocar. Puxo o ar para os
pulmões, me levanto e em passos largos, vou até ele e o atendo.
— Pronto! — digo ao atender e minha voz soa falha.
— Filha? — sinto um enorme alívio ao ouvir a voz de minha mãe.
— Mãe, sou eu! Que saudade, quando a senhora volta? — pergunto e minha voz soa aflita.
Escuto o som da sua risada do outro lado da linha.
— Querida, acabei de sair daí. Por que está tão aflita? Você sabe que ficarei fora durante
trinta dias. Vai passar rápido, você vai ver. — ela me tranquiliza.
— Tudo bem, mãe, estou apenas com saudade. — digo, sincera.
— Eu também, querida. Christopher me disse que você se machucou, mas que não foi nada
grave. Promete que vai se cuidar?
Amo quando ela se mostra preocupada.
— Tá bom, mãe, prometo! — digo, concordando para não deixá-la preocupada.
— Assim ficarei mais tranquila. Agora me conta quais são os seus planos para os dias em que
eu estiver fora?
Matar o seu marido!
Engato uma conversa animada com a mamãe e minutos depois me despeço dela, que promete
me ligar no dia seguinte.
Já passa das oito da noite quando vou tomar banho. Escovo meu longo cabelo negro e passo
uma maquiagem um pouco mais forte do que costumo usar.
A verdade é que depois que papai partiu, não me importo tanto com assuntos relacionados à
beleza, mas não dá para sair na companhia de um garoto sem a boa e velha técnica da
maquiagem.
Sigo até o closet para escolher que roupa usar, quando ouço alguém bater à porta.
— Só um momento. — digo, vestindo minha lingerie vermelha seguido do meu roupão.
Ao abrir a porta, eu me deparo com aquele deus grego parado diante de mim vestindo uma
calça de moletom escura, sem camisa, deixando à mostra os gominhos do seu tanquinho
perfeitamente definido.
Ele fica parado por alguns minutos, me encarando.
— O que você quer? — digo de maneira ríspida.
— Saber se você está bem, mas pela patada e pela maquiagem, vai sair, e isso é sinal que
está perfeitamente bem. — diz com o rosto endurecido.
— Ótimo. Já que matou a curiosidade, agora preciso terminar de me arrumar. — com a
pulsação acelerada, fecho a porta atrás de mim sem nem mesmo pedir licença.
Depois de retomar meu fôlego roubado pelo meu padrasto, volto a terminar de me arrumar.
Graças a Deus, meus seios não queimaram com chocolate quente, então opto por usar uma
blusa ciganinha preta, uma saia godê de estampa animal print, calço meu par de sapato, um salto
não tão alto, pois eu posso beber além da conta e não quero dar vexame.
Termino de me arrumar, passo um batom vermelho fogo, alguns acessórios e pronto.
Olho-me no espelho e… Uau!
Capítulo Seis
“— Eu não vou pra casa com você.”

- Julha Thompson.

Depois de pronta, disco o número da garagem e peço ao motorista para que ele vá tirando o
carro. A festa irá começar às dez horas, olho em meu celular e constato que já estou atrasada uma
hora.
Pego a minha bolsa, que está sobre a minha cama, e em passos largos, saio do quarto. Meus
olhos traidores vão em direção ao quarto de mamãe, e eu respiro aliviada ao encontrar a porta
fechada.
Desço e vou direto para a limusine, passo o papel com o endereço para o motorista e em
seguida meu celular anuncia que há uma nova mensagem na caixa de entrada. Ao desbloquear a
tela do celular, vejo que a mensagem é de Ane.

Oi, amiga! Desistiu da festa?

Oi, gata. Estou a caminho, já chego aí. Beijos.

Guardo o celular na bolsa e pela janela fico admirando a linda noite que faz. Meia hora
depois, chego à casa onde rola a festa, não me perguntem o nome do dono da festa, só sei que a
maioria da galera da escola virá e que Bruno e Felipe havia convidado a mim e a Ane.
Eu me despeço do motorista e digo que voltarei de carona, e que não precisa esperar a minha
ligação.
A festa está lotada e a casa é puro luxo. Do outro lado da casa, próximos a uma imensa
piscina, vejo Ane acompanhada de seu ficante, Bruno, e o moreno gato, Felipe. Ane acena para
que eu me aproxime.
— Caramba, pensei que alguém tinha barrado a sua saída. — diz, tirando uma com a minha
cara e me fazendo gargalhar.
— Até parece. — dou um beijo em Ane, Bruno e no Felipe.
Ficamos batendo um papo e logo os meninos saem para buscar algumas bebidas.
— Está sério o seu caso com o Bruno. — brinco.
— Ele é um fofo, acho que estou apaixonada. — reviro os olhos.
— Essa doçura toda acaba se ele descobrir isso.
— Descobrir o quê?
— Cacete, como você é tapada! Se ele descobrir que você está apaixonada por ele. — bufo.
— Bom, vamos mudar de assunto, eles estão vindo aí.
Mudamos de assunto e falamos um pouco sobre o pessoal da escola, um pouco sobre filmes e
séries, e várias vezes somos interrompidos pela galera da escola, que ao perceber que estamos
ali, param para conversar e acabamos tomando uma bebida juntos.
Até aquele momento, eu não consegui ficar sozinha com Felipe, sempre vem alguém para
atrapalhar, apesar de que eu não estou tão a fim dele. Ele até que é um garoto legal, mas estou
sentindo algo por uma pessoa que me vê como filha, e o pior de tudo, é o marido da minha mãe.
Para fugir dos meus pensamentos, que mais uma vez levam a Christopher, chamo Felipe para
dançar.
Pela primeira vez, conseguimos ficar sozinhos, então dançamos algumas músicas, mas logo em
seguida o DJ solta uma mais calma. Felipe passa os braços em volta da minha cintura e eu passo
os meus em volta do seu pescoço. Penso em Christopher, isso mesmo, penso no marido da minha
mãe. Acha que isso não dói? Por mais que eu não tenha um bom relacionamento com a minha mãe,
eu não posso me apaixonar por ele.
Que merda! Por que ele me beijou naquela noite?
Sou desperta dos meus pensamentos por Felipe, que acaricia o meu rosto com o seu nariz. Ele
fita meus olhos, minha respiração está ofegante, engulo em seco e quando menos espero, estou
envolvida pelos lábios de Felipe. Ele tem um beijo suave, tranquilo, mas sinto firmeza, é decidido.
Com as nossas mãos entrelaçadas, ele me puxa para a área da piscina. Estremeço ao ver
Christopher num canto conversando com alguns homens.
O que ele faz aqui?
— O quê disse, gata? — pergunta, pegando em meu queixo.
Nesse momento, meu padrasto já havia notado a minha presença ali. Eu o fito com o canto do
olho e ele não tira a sua atenção de mim e Felipe.
— Nada, só pensei alto. — dou um sorriso largo.
— Linda. — Felipe me dá um beijo quente. Seu corpo é perfeito, me faz desejar algo mais.
Sem soltar os meus lábios, Felipe me leva contra a parede e me dá um beijo quente, cheio de
desejo. Seu sexo já havia dado sinal de vida, e eu o provoco ainda mais agarrando uma mecha
do seu cabelo e o fazendo gemer entre os beijos. Eu me afasto de Felipe e olho na direção em
que Christopher estava, mas ele não se encontra no mesmo lugar.
Fico entristecida, mesmo depois de tudo o que ele havia dito mais cedo, eu não consigo odiá-lo,
não mais, e mesmo sabendo que é uma loucura eu ter me apaixonado pelo marido da minha mãe,
nada foi planejado. Jamais faria algo para fazê-la sofrer, mas me impedir de sentir tudo isso,
ninguém tem esse direito.
— Está tudo bem? — sou desperta do meu devaneio ao ouvir a voz de Felipe sussurrando no
lóbulo da minha orelha.
Fecho os olhos, inalando seu hálito de menta que invade minhas narinas e engulo em seco ao
sentir meu corpo se arrepiar em excitação.
— Está tudo bem. — digo com um fio de voz seguido de um sorriso amarelo com o canto da
boca.
— Que bom. Eu pensei que você estivesse com algum problema.
— Nada com o que você precise se preocupar. — dou-lhe uma piscadela em sinal de
cumplicidade. Ele sorri. — Olha, a Ane o Bruno ali, vamos até eles. — digo e seguimos em passos
largos até os nossos amigos, que estão acompanhados de suas cervejas.
Felipe nos serve de uma cerveja. Conversamos não sei exatamente por quanto tempo sobre
assuntos aleatórios até eu noto que não estou em meu estado normal de lucidez.
— Eu acho que bebi demais. — digo, sentindo a língua adormecida.
— Você ainda acha? — diz Bruno, brincalhão, eu gargalho e jogo a cabeça para trás.
— Ane, controle o seu namorado. — volto a atenção para minha amiga, que está me fitando
com as sobrancelhas arqueadas.
Pálida, ela olha por cima do meu ombro, e eu me viro e olho na mesma direção em que ela.
Minha boca se abre em um formato de “o” ao me deparar com Christopher próximo a mim,
estupidamente lindo vestindo uma calça jeans de lavagem clara, uma camisa pólo branca e
calçado com um bonito par de tênis.
A visão perfeita do paraíso.
Ele nota a minha expressão embasbacada e me lança um sorriso irônico, que faz com que
qualquer mulher tenha os mais insanos pensamentos com aquela boca.
— Papai. — digo, irônica. — Que surpresa boa, o que faz aqui? — provoco ao ver a irritação
estampada no seu rosto.
— Estou aqui para te levar para a casa. — diz, ríspido.
— Não precisava se dar ao trabalho, papai. — dou mais um gole em minha bebida verde e
doce de nome desconhecido por mim, e digo em seguida. — Eu não vou pra casa com você. — ele
bufa e revira de olhos, deixando-o ainda mais lindo.
— Você não tem escolha. Está sob a minha responsabilidade, então facilita, garota. Sua mãe
não vai gostar nada de saber que eu a encontrei neste estado. — seus olhos percorrem meu corpo
com desprezo, em seguida ele agarra o meu braço sem machucar.
— Ela também não vai gostar de saber que você esteve em uma festa sem ela, papai. — dou
um sorriso sarcástico, e em seguida, Christopher gargalha, o que o deixa ainda mais lindo.
— Não se preocupe. Sua mãe sabe que eu estou na casa dos meus tios, e diferente de você,
não escondo nada dela. — Pow! Foi como um soco em minha cara. Foi isso que senti.
Não esconde nada dela?
Isso se refere também ao beijo que ele me deu e eu retribuí?
Ótimo, se ele contar tudo, é agora que a minha mãe vai me odiar para o resto da vida.
— Se despeça dos seus amigos e vamos logo embora, já passou da hora. — ele se dirige a
mim como se eu tivesse dez anos, e eu odeio isso nele.
Convido Ane, Bruno e Felipe para irem almoçar em casa no dia seguinte e aproveitarmos para
tomar um banho de piscina, e eles aceitam na hora. Dou um beijo no rosto de Ane e Bruno, e em
seguida sou surpreendida por Felipe, que segura o meu rosto entre as mãos e me dá um beijo de
tirar o fôlego, que logo é interrompido por Christopher, que me arranca dos braços de Felipe e me
puxa em direção ao carro.
— Hei, calma aí! — digo, me divertindo com a sua irritação.
— Não tenho todo o tempo do mundo para você. — diz, bufando.
— Irritado, papai? — digo em um tom de provocação.
— Não me provoque, Julha. — diz, apertando ainda mais o meu braço.
Eu sinto um arrepio percorrer por todo o meu corpo. Penso em avançar o sinal e roubar um
beijo, mas ao me lembrar das suas palavras de mais cedo, acho melhor me manter calada. Ele está
muito irritado e se eu disser ou fizer algo que ele não goste, posso até ganhar aquelas palmadas
que ele tanto ameaça me dar.
Capítulo Sete
“Eu sei que tenho um belo corpo, um belo rosto, mas eu quero que as pessoas me enxerguem além
disso.”

- Julha Thompson.

Sigo todo o trajeto em silêncio e às vezes eu o fito com o canto do olho sem deixar Christopher
notar. Ele é tão lindo, tão sexy.
Que merda que você pensa que está fazendo? Pare já com isso!
De tanto rodarmos com o carro, sinto meu estômago revirar, um ácido subir por minha garganta
e por sorte, já estamos estacionando na garagem de casa. Assim que o carro para, saio correndo
com as mãos na boca sem olhar para trás.
— Julha? — ouço Christopher gritar o meu nome, mas não dou importância.
Entro na casa e subo a escada com dificuldade, já que estou bêbada e com ânsia de vômito.
Vou em direção ao meu quarto e entro, batendo a porta com violência, passo pelo closet e chego
ao banheiro.
Ufa!
Finalmente alcanço o vaso sanitário.
Como foi difícil e longo, o caminho até aqui.
Ajoelho-me e coloco para fora tudo o que comi durante o dia. Algum tempo depois, escuto
passos vindo em minha direção. As suas mãos macias seguram o meu cabelo e eu vomito mais uma,
não, duas… Três vezes.
Muito sem graça, eu me coloco de pé com a ajuda de Christopher, que me fita sem dizer nada.
Eu tenho certeza que ele vai correr contar para a minha mãe.
Resolvo fazer a arrependida, e o fito com um olhar doce e um sorriso amarelo com o canto da
boca, e por fim digo:
— É… Desculpe-me. — ele ainda está com a expressão fria, distante. Isso me incomoda.
Christopher me coloca debaixo do chuveiro de roupa e tudo, e logo em seguida sai do
banheiro para que eu possa me trocar.
Visto-me em minha camisola em seda branca um pouco curta, porém confortável. Volto para o
quarto e nele não vejo vestígios de Christopher, ligo a TV e o ar-condicionado. Jogo-me na cama e
logo Christopher adentra o quarto segurando uma xícara de café.
— Trouxe para você. — ele me entrega a xícara, visivelmente irritado.
Levanto-me para pegar a xícara de suas mãos, e percebo Christopher percorrer seus olhos
pelo meu corpo.
Christopher sai do quarto sem nada dizer, tomo o café horrível e logo depois adormeço.

[…]

— Acorda, gostosa! — sou desperta com Ane pulando em cima de mim.


— Me deixe dormir, sua chata. — resmungo, puxando o cobertor.
— Você é uma péssima anfitriã, sabia? — diz ela, se colocando debaixo do cobertor comigo.
— Oi? — não tenho a mínima ideia do que Ane fala.
— Logo vi que está de ressaca. Você nos convidou para almoçar e tomar banho de piscina. —
retiro um pouco a coberta, só deixando a cabeça com o cabelo bagunçado de fora.
— Merda! — sussurro. Eu realmente havia me esquecido.
— Quer que eu ligue para os meninos e marcamos para outro dia? — dá de ombros.
— Não, eu vou tomar um banho rápido. — digo, já me colocando de pé.
Vejo que Ane está vestida em um biquíni amarelo por baixo de um short jeans branco e uma
regata amarela. Está perfeita! O tom de pele dela favorece muito.
— Cachorra. — ela me encara com as sobrancelhas erguidas.
— Está gostosa! — gargalhamos.
Sigo para o banheiro, faço minha higiene, tomo um banho, lavo o meu cabelo e passo um creme
protetor nos fios, contra o sol e o cloro da piscina. Visto um biquíni de franjas preto, que combina
com o tom da minha pele.
Passo apenas corretivo para esconder as olheiras da noite mal dormida e coloco uma camisa
grande, deixando apenas o último botão aberto.
— Caramba, garota! Tem como você ser menos gostosa? — escuto Ane dizer e logo
gargalhamos juntas.
Ane e eu saímos do meu quarto e descemos a escada. Olho ao redor e não encontro
Christopher em lugar nenhum.
Ótimo, só assim evitaria olhar para ele.
Chegamos à cozinha e a mesa do café já está posta. Ane me faz companhia. Comemos cereais
e conversamos sobre a noite anterior.
— Quero te perguntar algo. — Ane me confessa.
— Manda!
— Eu nem sei por onde começar.
Isso já está me deixando nervosa. Eu a fito com o rosto endurecido, e ela, me conhecendo muito
bem, resolve abrir o jogo.
— O que está acontecendo entre você e Christopher?
Cuspo o cereal que está em minha boca, sujando toda a mesa.
Ane me fita, assustada.
— O quê? Não está acontecendo nada! Você está maluca? De onde tirou isso? — digo,
visivelmente irritada.
Levanto-me e vou em busca de um pano com a intenção de limpar a sujeira que havia
acabado de fazer.
— Hei, só te fiz uma pergunta, okay? É que ele ficou estranho ontem quando viu você e o
Felipe, achei que… — antes mesmo que ela continue, eu a interrompo.
— Pode parar! Não tem nada entre mim e ele, até porque ele é o marido da minha mãe e só
estava fazendo o seu trabalho de me “vigiar”. — digo, fazendo sinal de aspas com os dedos.
— Okay, me desculpe, não precisa ficar irritada.
Meu Deus, se Ane está desconfiada, ele também já deve ter percebido o que causa em mim.
Sou desperta do meu devaneio assim que ouço a campainha tocar e em passos largos, sigo até
a porta. Ao abri-la, me deparo com a imagem de Felipe e Bruno.
Eu os convido para entrar e se juntar a mim e Ane à mesa do café. Assim que terminamos,
informo Ada o que vamos querer para o almoço, pegamos algumas bebidas e seguimos para a
piscina.
Logo Ane e Bruno se jogam na água, enquanto Felipe e eu ficamos tomando sol sobre uma
espreguiçadeira, conversando.
Tiro o camisão, ficando apenas de biquíni sob os olhos de Felipe, Bruno, e agora, Christopher,
que sinceramente, não sei de onde surgiu. Eu sei que tenho um belo corpo e um belo rosto, mas
quero que as pessoas me enxerguem além disso. Sou uma garota um pouco rebelde, eu sei, sempre
faço a forte, a mais madura das meninas da minha idade, mas eu também tenho os meus medos,
meus desejos, meus sonhos. Às vezes, eu me pergunto se tenho culpa pelas pessoas pensarem que
sou forte, que suporto tudo, que sou uma rocha. Eu só quero que eles percebam que eu também
preciso de carinho, de alguém que se preocupe em saber como estou e que não me procure só
pela minha beleza, minha condição financeira ou por me trazerem seus problemas para que eu
possa lhes escutar e dar conselhos.
Sinto falta do meu pai, era ele quem fazia o papel que a minha mãe deveria fazer. Ele é quem
me colocava em seu colo e passava horas a fio me fazendo cafuné, que me escutava quando eu
brigava com Ane, que estava ao meu lado quando eu me apaixonava inúmeras vezes na mesma
semana por um garoto diferente.
Sou desperta dos meus pensamentos por Christopher, que vem caminhando em minha direção
visivelmente irritado, e diz:
— Você não deveria estar na escola, mocinha? — ele me olha tão profundamente que me
deixa arrepiada.
Felipe fita meus braços e noto que meus pelos estão todos em pé. Engulo em seco.
— Perdi a hora, pai. — ironizo. Nesse momento, Christopher se encontra com o rosto
endurecido.
— Sua mãe saberá disso.
Isso foi uma ameaça? Filho da puta lindo!
Que vontade de discutir com ele e mandá-lo à merda, e logo em seguida agarrar os seus
lábios.
Se controle, Julha!
Mas meus amigos não são obrigados a presenciar essa cena.
— Faça o que achar melhor. — digo com raiva.
Logo estou com o corpo em chamas em uma mistura de raiva com excitação. Jogo-me na
piscina e sou seguida por Felipe, que vem em minha direção e se junta a mim.
Felipe e eu ficamos ali aos beijos, e também conversamos com Ane e Bruno. Meus pensamentos
me traem algumas vezes, trazendo a imagem de Christopher em minha cabeça. Preciso focar na
companhia de Felipe. Aproximo-me dele, agarrando o seu lábio inferior, o que o faz soltar um
gemido.
Você pode até dizer que estou usando-o, mas eu não vejo assim, estou simplesmente tentando
ser feliz de uma forma normal, sem desejar o impossível. Meu padrasto.
Capítulo Oito
“O que ele fez com minha amiga?”

- Julha Thompson.

Ada nos avisa que o almoço está servido. Seguimos para a sala de jantar, onde a mesa está
posta, e fico surpresa no instante que adentro o local e encontro Christopher almoçando.
— Com sua licença, Sr. Cloney. — diz Bruno educadamente.
Christopher assente com a cabeça sem desviar o olhar do seu prato.
Cretino.
Bruno se acomoda em uma cadeira ao lado de Ane, seguido de Felipe, que se acomoda em
uma cadeira ao meu lado. Com cara de poucos amigos, Christopher termina o seu almoço, e sem
ao menos pedir licença, sai.
Babaca.

[…]

Depois do almoço, seguimos para a sala de jogos. Ane e eu jogamos sinuca, enquanto
conversamos assuntos aleatórios, e Bruno e Felipe se divertem jogando videogame.
Confesso que não sou tão boa com jogos, enquanto Ane, sempre me vence facilmente.
Estou pronta para dar uma tacada, encaçapar a bola e assim empatar o jogo que Ane lidera
o placar há muito tempo, mas sou impedida quando sinto duas mãos na minha cintura, seguido de
um beijo em minhas costas. Meu corpo se arrepia em resposta.
Viro-me e encontro Felipe com um sorriso malicioso nos lábios.
— Eu atrapalho? — pergunta e sua voz soa irônica.
— Por mim, tudo bem, eu venceria o jogo de qualquer maneira. — diz Ane, me provocando.
Eu reviro os olhos, seguido de lhe mostrar a língua em resposta à sua provocação.
— Ótimo, eu tenho planos melhores para nós dois. — diz Felipe, envolvendo os braços em
minha cintura e puxando meu corpo para perto do seu. Envolvo meus braços em volta do seu
pescoço e nossos lábios se juntam em um beijo urgente.
— Arg! Desculpem-me, mas não sou obrigada a presenciar esta cena. — sorrio entre beijos,
quando ouço Ane se pronunciar.
— Você é tão linda! — Felipe dá uma leve mordida em meu lábio inferior e depois o puxa.
Sorrio com o elogio.
Não sei por quanto tempo exatamente ficamos perdidos entre os beijos, mas fora o suficiente
para olhar à minha volta e não encontrar Ane e Bruno.
Onde esses dois se meteram?
— Você não viu para onde Ane e Bruno foram? — volto a minha atenção para Felipe.
— Não, eu estava concentrado em algo bem melhor. — sorri, tomando a minha nuca em sua
mão.
Aproximo nossos lábios em um beijo intenso. Com movimentos bruscos, Felipe me guia até o
canto da sala e encosta o meu corpo contra a parede fria.
— Hum! Um gemido escapa por entre meus lábios ao sentir a pele fina das minhas costas em
contato com a parede.
Com uma de suas mãos, Felipe dá um leve aperto em minha cintura, e com a outra agarra meu
cabelo na nuca, me fazendo arrepiar com o misto de dor e prazer que me toma. Abro meus lábios,
ofegante em excitação. Meu corpo estremece e o desejo de senti-lo me possuir me consome. Seu
membro enrijecido roça sobre a minha barriga e antes mesmo que eu não consiga controlar o
desejo de me entregar, espalmo as mãos em seu peito, afastando-o para longe.
— Me desculpe… Eu… Eu, não estou preparada. — gaguejo.
Ele me fita com uma expressão frustrada e passa as mãos por entre seu cabelo, visivelmente
irritado.
— Tudo bem, meu anjo, eu espero o seu tempo. — sorri, sincero.
Lentamente se aproxima, envolve seus braços em volta da minha cintura e deposita um beijo
estalado em minha testa.
— Obrigada!
Eu me aninho em seu peito levemente definido e suas mãos acariciam as minhas costas em um
gesto carinhoso. Felipe está quieto, então ergo a minha cabeça para fitá-lo, mas desvio o olhar e
sigo o dele em direção à entrada da minha casa e fico confusa com a imagem de Christopher e
Ane saindo de dentro dela. Eu me afasto dos braços de Felipe e, em passos largos, sigo em na
direção deles.
— Onde está Bruno? — pergunta Felipe, e só então percebo que havia me acompanhado.
Ane nos fita com uma expressão confusa. Corro meus olhos dela para Christopher, que me fita
com um sorriso sarcástico nos lábios. Eu não acredito que Ane e Christopher… Balanço lentamente
a cabeça, afastando para longe os pensamentos que insiste em me castigar.
— Ane? — eu a chamo, fazendo com que ela desperte do seu devaneio.
Ela me fita com um sorriso amarelo nos lábios.
— Nós… É… Bom. Nós brigamos. — eu a encaro com o cenho franzido.
Não estou entendendo mais nada.
— Brigaram? — eu a fito, desconfiada.
— Brigamos e ele foi embora. Vou pra casa, amanhã nos falamos. — diz, ainda gaguejando
antes de fitar Christopher, que lhe lança um sorriso malicioso. Ane entra em casa novamente.
Que merda está acontecendo aqui?
Eu apenas observo e controlo a vontade de pular no pescoço de Christopher e arrancar
aquele risinho safado dos lábios, na unha.
Depois de alguns minutos dentro da minha casa, Ane sai carregando as suas coisas, e ao
passar por mim para brevemente.
— Depois eu te ligo. — deposita um beijo rápido em meu rosto, me pegando de surpresa e
acena com a mão rapidamente para Felipe, abaixa a cabeça e sai.
Não posso dizer com cem por cento de certeza, mas senti que esse beijo de Ane foi um pedido
de desculpas. Mas, por quê?
Ela está se comportando estranhamente. Ane tem muito que me explicar. Eu quero saber o que
ela estava fazendo a sós com Christopher dentro da minha casa.
Um carro se aproxima e noto que se trata do seu motorista. Ele acena com a mão em minha
direção, retribuo acenando de volta enquanto ele abre a porta do carro para Ane.
Em poucos minutos, o motorista coloca o carro em movimento e o vejo sumir pelas ruas
movimentadas.
Estou confusa.
Em que momento Ane havia ligado para o motorista?
Qual ou quem foi o motivo da briga entre Ane e Bruno?
E por que ele foi embora sem se despedir?
O que Christopher fez com a minha amiga?
— Está tudo bem? — sou desperta do meu devaneio no exato momento em que ouço Felipe
sussurrar no lóbulo da minha orelha.
— Sim… Está — eu me viro para ficar de frente para ele e sorrio, sincera.
— Vamos voltar para a piscina. — ele me puxa pela mão sem me dar a chance de recusar.
Meus músculos se contraem com os pensamentos que invadem a minha mente sem aviso. Mesmo
que seja delicioso estar na companhia de Felipe, ainda assim não consigo arrancar o cretino dos
meus pensamentos. Logo que a noite cai, Felipe vai embora.
Deito-me sobre a borda da piscina e não sei por quanto tempo fico imersa em pensamentos.
Imaginar a possibilidade que pode ter acontecido algo entre Ane e Christopher me deixa furiosa.
Afasto para longe os pensamentos que não me levam para lugar algum e sigo para dentro de
casa. Passo pela sala de estar e nada de Christopher, então continuo minha peregrinação até meu
quarto. Chegando lá, sigo rapidamente para o banheiro, onde tiro o biquíni que já havia secado
em meu corpo. Entro no box, ligo o chuveiro e deixo a água morna escorrer pelo meu corpo.
Saio do banho vestida em meu roupão e vou para o closet, passo um creme corporal e visto um
vestido florido e curto de alcinhas. Gosto muito deste vestido, ele fica perfeito sobre as minhas
curvas e realça meus seios. Escovo meu cabelo e sigo para o meu quarto em busca do celular, que
anuncia uma nova mensagem na caixa de entrada. Pego o aparelho sobre a cama, deslizo a tela
de bloqueio e vejo que a mensagem pertence a Ane.

Oi, gata!
Eu quero te pedir desculpas por ter saído da sua casa daquele jeito. Adorei o dia que passamos
juntas e fico muito feliz em ver que você e o Felipe estão se entendendo bem.
Nos falamos amanhã.
Beijos, amo você!

Respondo sua mensagem assim que termino de ler as últimas palavras.

Oi, amor!
Realmente, eu não sei o que deu em você, mas tudo bem, sei que você brigou com Bruno e não se
sentia bem, acho que se houvesse acontecido algo, teria me contado, não é mesmo?
Estou curtindo ficar com o Felipe, ele é um fofo. Nos falamos amanhã.
Eu também amo você!

Envio a mensagem para Ane e aguardo alguns minutos, mas ela não responde.
Deixo o celular sobre a escrivaninha, saio do quarto e sigo para a cozinha. Tudo está em
perfeito silêncio. Pelo jeito, estou sozinha em casa.
Ótimo, a casa só para mim!
Pego o telefone sem fio, que está sobre a bancada da cozinha, disco o número da minha mãe,
mas chama até cair na caixa de mensagem, então desisto. Vou até a geladeira e preparo um
lanche natural, pego um copo e coloco suco de maracujá.
Estou de costas para a bancada quando sinto Christopher se aproximar no mesmo instante em
que pego o prato com o meu lanche e o meu suco, e viro para seguir para a sala de TV.
Passo por ele e sinto seus olhos sobre mim. Evito contato visual e sigo para o meu destino, mas
ainda o ouço gargalhar.
— Idiota . — sussurro para mim mesma.

[…]
Uma semana depois…
Não falo pessoalmente com Ane há uma semana, durante esse tempo, ela havia viajado com a
sua família para a casa de uma tia que estava doente. Nós nos falamos todos os dias ao telefone,
mas ainda posso notar em seu tom de voz que ela esconde algo.
Minha mãe também me ligou todos os dias, não vejo a hora de ela voltar, está insuportável
conviver com Christopher dentro dessa casa.
Eu e Felipe estamos ficando com mais frequência, ele sempre está na minha casa ou eu na casa
dele. Se transamos? Não! Só ficamos nos beijos e quando esquenta, eu jogo um balde de água fria
nele, o que o deixa frustrado. Sei que ele fica com outras garotas, mas não posso exigir nada
dele.
Bom, Christopher e eu mal nos falávamos. Eu acho estranho quando ele vem me convidar para
ir a uma festa na casa de seus pais. No início, não aceito, mas depois mudo de ideia. Vai ser legal,
conheço a sobrinha de Christopher, a Larissa, e nos dávamos muito bem.
Estou escolhendo a roupa para a festa, quando Christopher entra no quarto. Vestido em um
terno de grife escuro que destaca a cor de seus olhos, ele está simplesmente deslumbrante.
— Oi. Vai demorar muito? — percebo seus olhos passeando pelo meu corpo coberto pelo meu
roupão. Eu coro.
— Vou colocar a roupa. — digo e minha voz falha ridiculamente. Ele assente com a cabeça e
sai.
Esse homem tem o poder de mexer com todos os meus sentidos. Volto a minha atenção para a
roupa, e por se tratar de uma festa de gala, visto um vestido longo de cetim azul e faço um
penteado, finalizando com alguns cachos. Calço meu par de sandálias preta com salto alto, e por
fim, me olho no espelho do closet, gostando do que vejo. Estou à altura da festa.
Desço lentamente a escada e vejo Christopher de costas andando ansioso de um lado para o
outro, como um noivo que espera noiva no altar.
Ao notar a minha presença, ele se vira e seus olhos percorrem o meu corpo emoldurado pelo
vestido. Ele me fita, erguendo uma de suas sobrancelhas. Pela reação, acho que ele gosta do que
vê.
— Uau! — por sua expressão, deduzo que, na verdade, ele havia pensado alto, e percebendo
que falou demais, trata de colocar o copo de uísque sobre a mesinha de centro. — Vamos? —
assinto com a cabeça.
Ele me encara e logo em seguida coloca uma de suas mãos sobre a base da minha coluna.
Estremeço com a nossa proximidade. Não sei se fora uma boa ideia aceitar o convite de
Christopher para ir a essa festa, mas já que decidi ir, vou aproveitar ao máximo.
Capítulo Nove
“Neste movimento, meu coração perde uma batida, minhas respiração se torna ofegante e eu não
consigo acompanhá-la.”

- Julha Thompson.

Caminho ao seu lado ainda sentindo o peso de suas mãos sobre meu corpo. Atravessamos a
sala de estar e seguimos até uma porta reservada que dá acesso para a garagem.
Meu coração perde uma batida, quando ouço o bip do alarme do carro sendo acionado. Eu
não deveria estar me sentindo tão incomoda com a sua presença, não dessa forma, mas é
incontrolável, por mais que eu não queira admitir, Christopher é um homem atraente.
— Por favor! — sou desperta do meu devaneio ao ouvir sua voz rouca sussurrar no lóbulo da
minha orelha.
Dou um pequeno passo para trás com o susto e engulo em seco ao sentir meu corpo bater
contra o seu peito definido. Fito seu rosto e vejo um sorriso irônico rolar em seus lábios.
— Me desculpe. — peço, envergonhada.
Ele assente com a cabeça sem abandonar o sorriso dos lábios.
— Pode tomar seu lugar. — olho em direção de onde ele fez um pequeno gesto com a cabeça,
a porta do carro já está aberta.
Volto a fitá-lo e aceno com a cabeça em concordância. Tomo meu lugar com um ponto de
interrogação pulsando em minha cabeça.
Christopher sendo cavalheiro? Por qual motivo?
Ao me sentar no banco escuro de couro, passo o cinto de segurança, enquanto Christopher
toma seu lugar no banco do motorista. Ele coloca a chave na ignição com seus olhos me fitando
minuciosamente, liga o carro, volta a atenção para o portão da garagem, que se abre logo após
acionar o controle remoto, arruma o retrovisor para facilitar sua visão e dá partida.
O carro percorre livremente pela Fifth Avenue, enquanto nós seguimos o trajeto em um silêncio
fatigante. Também, não poderia ser diferente, quando a minha relação com o meu padrasto é
regada com discussões e alfinetadas. Reviro os olhos mentalmente com o breve filme de nossas
brigas que passa em minha cabeça desde a sua chegada à nossa casa.
— Chegamos. — diz Christopher, me despertando do meu devaneio ao mesmo tempo em que
estaciona o carro em frente à mansão dos Cloneys.
Concordo com a cabeça e volto a atenção para a luxuosa casa que está diante de mim. Eu
estive algumas vezes na mansão dos pais de Christopher na companhia de mamãe, e em todas elas
não me canso de admirar sua arquitetura e decoração rústica com um toque de modernidade.
— Não vai descer? — a imagem de Christopher surge diante dos meus olhos. Ele já está fora
do carro com as mãos sobre os joelhos, com o corpo inclinado um pouco para melhor me fitar
através da janela do carro.
— Sim, senhor. — rio, irônica, e reviro os olhos em seguida.
Ao sair do carro, eu noto que muitos convidados já se fazem presentes. A música está alta e
pessoas paradas próximas ao lindo jardim conversam animadas.
Eu não sou de frequentar muito a casa da família do meu padrasto, mas em todas as vezes
que eu e mamãe somos convidadas para algum evento que os Cloneys promovem, eu sempre dou
uma desculpa para não participar. Não que eu tenha problema com algum deles, com exceção de
Christopher, sou muito bem recebida por todos. Mas o que eu puder fazer para manter distância
dele, eu farei.
— Vamos. — ele caminha com passos largos à minha frente.
Idiota!
Rapidamente, eu saio do carro e sigo Christopher, que está a alguns passos à minha frente, mas
ele para bruscamente, fazendo meu corpo se chocar contra o dele ao ver um grupo de garotos me
olhando com desejo e pronunciando palavras maliciosas
— Ai! — espalmo minhas mãos em suas costas definidas.
Ele vira seu corpo bruscamente, ficando de frente para mim. Seus olhos me fitam
profundamente por alguns segundos e minhas pernas fraquejam. Ao perceber que minhas pernas
falharam, ele rapidamente envolve o braço em minha cintura em um gesto possessivo e puxa o meu
corpo mais próximo do dele, e com um sorriso malicioso nos lábios, volta a sua atenção para o
grupo de garotos, que agora nos fita com expressões de espanto em seus rostos.
— Boa noite! — Christopher os cumprimenta com um breve aceno de cabeça e os olhos
cerrados. Os garotos retribuem o cumprimento e saem.
— Vamos entrar. — ordena e me guia para a entrada da mansão.
Sorrio, largo, na tentativa de disfarçar o incomodo que é ter Christopher tão próximo de mim,
quando vejo o Sr. e a Sra. Cloney vindo em nossa direção.
— Julha querida. — a Sra. Cloney, muito simpática, se aproxima, obrigando Christopher a
retirar a mão do meu corpo, deixando um vazio enorme.
— Boa noite, Kris. — nos cumprimentamos com um beijo amistoso em cada lado do rosto.
— Fico feliz por você ter comparecido, mesmo que a sua mãe não tenha vindo.
— Não poderia deixar de prestigiar a sua festa, que é sempre muito solicitada por todos. —
digo, simpática.
— Você está tão linda, querida.
Coro ao ouvir o elogio. Como qualquer outra pessoa, eu gosto de receber elogios, mas vindo
de uma senhora tão elegante como a Sra. Cloney, que lindamente está vestida em um vestido longo
na cor pêssego com detalhes em pedrarias na parte do busto até as mangas curtas, combinando
com seus saltos e a bela maquiagem destacando os lindos olhos, que mais parecem duas
esmeraldas, eu me sinto lisonjeada.
— Obrigada, Sra. Cloney. — sorrio, tímida.
— Será que posso ter um minuto da atenção da minha mãe só pra mim? — Christopher se
aproxima da Sra. Cloney como uma criança mimada que tem atenção da sua mãe roubada por
outra criança.
Reviro os olhos para o seu comportamento.
— Não seja infantil, meu querido. — ela o adverte com um sorriso divertido nos lábios,
enquanto o envolve em seus braços como uma leoa protege seu filhote.
— Srta. Thompson.
— Sr. Cloney. — ele me cumprimenta com um breve beijo mão.
— Você está divina esta noite.
— Obrigada, Sr. Cloney. O senhor também está muito elegante. — digo, sincera, enquanto
corro os olhos por seu corpo esguio coberto pelo seu smoking.
— Não agradeça, querida. Kris tem razão. Você está realmente muito bonita.
Iniciamos uma conversa onde o assunto principal é a ausência de mamãe.
Não posso deixar de notar o quanto o Sr. e a Sra. Cloney nutrem uma grande admiração por
mamãe. Christopher parece um lutador de boxe que se exibe com um largo sorriso nos lábios
por ter ganhado o tão almejado cinturão. É notável a sua felicidade por ter escolhido a esposa
perfeita para passar o resto da vida. Eu tenho muito orgulho de mamãe e sei o quanto ela vem se
esforçando para cuidar de mim, mesmo que seja da sua maneira. Ela me ama, assim como eu a
amo. E não poderia ser diferente, foi ela quem me deu a vida, e abdica da sua para me dar o
melhor.
Enquanto o assunto flui entre pais e filhos, percorro os meus olhos por toda a área da piscina
em busca de Larissa, a única sobrinha de Christopher, filha do seu irmão Alexander Cloney e sua
esposa, Chloe Cloney, mas não há vestígios dela. Por um momento, volto a atenção para o meu
padrasto, que está na companhia dos pais e continuam falando sobre o mesmo assunto que nunca
em minha vida pensei que me incomodaria, Katherine Cloney. Ele percebe o quanto estou
desconfortável e se aproxima discretamente, seus lábios tocam o lóbulo da minha orelha fazendo
todo meu corpo se arrepiar.
— Tem algo a incomodando, Srta. Thompson? — um sorriso irônico rola em seus lábios.
— Não seja idiota, Sr. Cloney. — digo entredentes e ele gargalha.
— Vamos entrando, queridos. — Kris educadamente nos indica a entrada da casa que dá
acesso para a grande sala de estar onde alguns grupos de pessoas conversam animados,
enquanto outros estão sendo servidos pelos garçons que desfilam por entre eles carregando
bandejas com bebidas.
— Você está com fome? — volta a sussurrar no lóbulo da minha orelha. Engulo em seco,
enquanto tento dizer algumas simples palavras como: Sim, estou faminta. Mas nada consigo
pronunciar, apenas aceno com a cabeça.
Ele me encara com um sorriso malicioso nos lábios e volta a fitar os pais, que conversam entre si
animadamente.
— Vamos comer alguma coisa. — diz Christopher olhando do seu pai para a sua mãe, seguido
de colocar a mão sobre a base da minha coluna.
— Não, querido. — ela nos fita com uma expressão desconfiada. — Alguns convidados ainda
não chegaram e nós vamos recebê-los, mas vocês podem ir. Nos encontraremos depois. — sorri de
mim para Christopher.
— Está bem. — ele volta a sua atenção para mim. — Vamos. — isso não foi um convite.
Adentramos a sala e cumprimentamos alguns convidados que conheço de alguns eventos que
vou com a mamãe e que ela faz questão de me apresentar aos que possuem primogênitos, como
se eu fosse um objeto a ser leiloado.
Christopher acena para o Alexander, que está mais à frente acompanhado de alguns homens
que conversam, sem dúvida, sobre negócios. Ótimo. Pensei que passaria a noite inteira com
Christopher no meu encalço.
— Vou conversar com o meu irmão e espero que você se comporte enquanto eu estiver longe.
— ele diz, fitando em um ponto fixo.
— Sim, senhor. — digo, irônica. Seus olhos me fitam com fúria.
— Não me provoca, Julha, ou eu não respondo por mim. — ergo as mãos em sinal de rendição
e antes que eu use o meu poder de persuasão para me defender, somos interrompidos por um
furação de cabelo longo escuro invadindo a sala.
Uma garota, que eu não consigo ver o rosto, vestida em um curto vestido vermelho contornando
suas belas curvas. Ela vai de encontro ao safado do meu padrasto, que está com um lindo e
enorme riso no rosto, e joga os braços em volta do pescoço dele, envolvendo-o em um forte
abraço, retribuído com o aperto do safado.
— Uau, calminha aí, mocinha. — fico irritada quando vejo o sorriso lindo e sexy em seus lábios,
e perplexa com a tamanha cara de pau dele.
A garota oferecida ainda está com os braços em volta do seu pescoço, enquanto ele acaricia
as suas costas, fazendo a minha irritação crescer.
Que falta de respeito com a minha mãe. Quem ele pensa que é para se comportar como se
fosse um homem solteiro. Ah, que se dane. Não sou babá de ninguém e se a mamãe quiser, ela que
participe dos eventos com o seu marido. Desvio os olhos da cena à minha frente por alguns minutos,
mas não por muito tempo. Volto a fitar a oferecida ainda agarrada ao pescoço do Christopher, e
a vontade que eu tenho é de tirá-la dos braços dele pelo cabelo, depois olhar dentro dos olhos
dela antes de arrancá-los fora e dizer:
Olha aqui, queridinha, quem você está pensando que é para estar grudada dessa maneira nele?
Vai largando, anda!
Mas que merda estou pensando?
Com que direito eu faria isso?
Eu não tenho nenhum parentesco com Christopher, ele nada mais é do que o marido da minha
mãe, e se tem alguém que deve tomar conta do que é seu, esse alguém não sou eu.
— Julha, que bom que você veio. — sou desperta do meu devaneio bruscamente pela dona
dos braços que envolviam o pescoço do pervetido do meu padrasto minutos atrás e agora me
pega de surpresa.
Fico estática sem saber como reagir à demonstração de carinho de alguém que mal conheço,
ou conheço? Esta situação me deixa confusa. A garota oferecida me afasta do abraço e não
contenho o sorriso largo que se forma em meus lábios. Não sei exatamente se é porque a garota
que o tempo todo chamei de oferecida é Lari, a sobrinha de Christopher, e não uma qualquer
dando em cima dele, ou por ela salvar a minha noite. Ter que ficar ao lado de Christopher,
enquanto ele fala de negócios com esses homens pervertidos que me despem com os olhos, é um
martírio.
Larissa e eu nunca fomos amigas intímas, temos alguns gostos em comum, o que facilita a nossa
convivência. As poucas vezes que participo de algum evento que os Cloneys promovem é ela quem
me salva das conversas exaustivas de negócios, que essa família só sabe conversar.
— Olá, Lari. — sorrio, tímida.
— Tudo bem? Faz tempo que não nos vemos.
— Verdade. Estou com alguns trabalhos da escola para concluir, e fico a maior parte do tempo
estudando. — minto.
Não por Lari, mas, quanto mais longe eu puder me manter da família do meu padrasto, melhor
para a minha sanidade mental será. Christopher me fita com os olhos cerrados, ele sabe que estou
mentindo. Reviro os olhos apenas para que ele veja, seguido de dar de ombros. Não me preocupo
com o que ele pensa a meu respeito, ele é apenas um coadjuvante naquela casa.
— Eu sei bem como é. Eu também estou atolada de trabalhos, então só por isso, você esta
perdoada. — ela olha de Christopher para mim com um perfeito sorriso nos lábios.
— Fico grata. — digo, irônica.
— Tio, me perdoe, mas vou roubar a Julha de você por alguns minutos. — diz, me puxando
pela mão e tomando caminho para sair, mas somos impedidas por Christopher, que agarra o meu
antebraço, nos fazendo parar bruscamente.
— Ai! — Lari exclama enquanto se equilibra para não cair. Meus olhos encontram os dele, que
me fitam intensamente.
Meu corpo estremece com o contato de sua mão contra a minha pele. Nossas respirações se
tornam pesadas e vejo um misto de desejo e raiva em seus olhos.
— Espero que você saiba se comportar, Julha. Que eu não precise ir embora mais cedo por
sua causa. — sua mão abandona o meu braço, deixando um enorme vazio dentro de mim.
— Sim, senhor. — eu lhe dou uma piscadela em provocação.
Ele torna a pegar em meu braço, agora com um pouco mais de força, fazendo os pelos do meu
corpo se arrepiarem. Ele nota os pelos do meu braço ouriçados e rapidamente o solta. Sinto as
maçãs do meu rosto queimarem.
— Eu… Eu não estou brincando, Julha. — ele gagueja, visivelmente nervoso.
Ficamos em silêncio nos encarando por alguns minutos. Seu olhar tem o poder de alcançar a
minha alma.
— Pode ficar tranquilo, tio, eu vou ficar de olho nela. — ela sai me puxando pela mão.
Christopher continua me encarando até que eu desapareço pela porta que dá acesso à
piscina.
— Não ligue para o que meu tio diz, ele não é tão mal assim. Na verdade, eu nem sei por que
ele se comporta dessa maneira com você. — ela para bruscamente, fazendo o meu corpo se
chocar contra com o dela. — Ou será que eu sei? — ela me fita com o cenho franzido.
— Do que você está falando? — pergunto, confusa.
— Esquece. Vem, eu quero te apresentar para alguns amigos. — ela me guia para a área
próxima à piscina onde um DJ toca e luzes coloridas dançam pelo salão.
— Por onde você andava? — pergunta uma das garotas que está acompanhada de um lindo
garoto que tem mais ou menos a minha idade. Eles formam um belo casal. Ela é negra e tem o
cabelo médio cacheado e ele, loiro de cabelo arrepiado e olhos azuis como os de Christopher.
— Estava a procura da Julha, e aqui está ela. — ela aponta a mão para mim, fazendo com
que eu dê um sorriso amarelo, envergonhada.
— Oi. — digo com um fio de voz.
— Não sejam mal-educados, cumprimentem a minha amiga.
— Oi, Julha. — diz o garoto de olhos azuis, que só depois que Lari gentilmente me apresenta,
eu descubro o seu nome. As garotas são, Polyana e Chloe, que estão acompanhadas de seus
namorados Pietro e Tyler, que foram bastante receptivos.
Não demoro a me enturmar com os amigos de Lari, a conversa é animada, gostei do grupo,
diferente do que se espera de um bando de adolescentes. Um garçom passa nos servindo e
lamentamos quando notamos que não nos oferecem nada além de refrigerantes. Eu não sei dizer
exatamente por quanto tempo estamos conversando animados, mas o jantar está muito melhor do
que eu esperava.
— Queremos saber o motivo de tanta graça. — ouço uma voz rouca soar atrás de mim.
Viro-me na direção de onde veio a voz e me deparo com a imagem de dois garotos bonitos
que parecem ter dezoito anos. Eles se aproximam com um sorriso divertido nos lábios.
— Você, my love. — Lari diz e sua voz soa manhosa no exato momento em que o moreno de
olhos pretos vestido em um belíssimo smoking se aproxima dela e envolve a sua cintura com as
mãos, em seguida rouba um beijo. Sussurros são ouvidos, enquanto o casal troca um beijo
apaixonado.
— Ah, qual é? Vão procurar um quarto. — diz o outro garoto, se juntando a nós.
— Ah, não seja estraga-prazeres. — provoca o acompanhante de Lari, que se chama Stefan e
Lari me apresenta como o seu “amigo colorido”.
Contenho um sorriso divertido que insiste em sair, quando Lari anuncia, em alto e bom som
juntamente com um sorriso divertido, o título que ela deu para o seu acompanhante, que agora a
fita com cara de poucos amigos.
— Então é assim que você me intitula? Amigo Colorido? — faz sinal de aspas com as mãos,
fingindo irritação.
— Não se irrite. — ela pede, manhosa, envolve as mãos na cintura dele e o abraça em um
gesto carinhoso. Ele franze o cenho, fazendo uma careta e arrancando gargalhadas de todos.
— Vocês me dão náuseas. — provoca o garoto, que só após Lari fazer as apresentações me
dou conta de quem se trata.
— Esse babaca que lhes fala é o meu primo, Dchek. — diz brincalhona.
— Prazer, pessoal. — cumprimenta todos com um breve aceno de mão, seguido de voltar a sua
atenção para Lari. — Eu também amo você, priminha. — sorri, irônico, fazendo com que ela revire
os olhos.
Dchek faz questão de cumprimentar pessoalmente cada um. Os garotos com um aperto de mão
e as meninas com um beijo no rosto. Ele vem em minha direção, segura uma de minhas mãos, leva
até seus lábios e, por fim, deposita um beijo estalado.
— Prazer, princesa. — ele diz após o beijo e, em seguida, todos riem do seu comportamento
tão antiquado. — Qual é? Estou apenas sendo gentil! — se defende.
— Claro, como se eu não te conhecesse, Dchek. — rebate Lari, fitando-o com os olhos
semicerrados.
Eu nunca pensei que poderia me divertir tanto nesse jantar. Todos são muito receptivos comigo e
Dchek, além de divertido, é muito bonito, e bastante parecido com Christopher, fisicamente falando,
mas se Christopher só tem Alexander de irmão, quem são os pais de Dchek?
Em uma de suas histórias, ele nos conta como era a sua estratégia para a conquista das
garotas alvo em Londres, onde esteve morando nos últimos meses. Dchek é muito gentil ao me fazer
companhia enquanto os casais seguem para a pista de dança.
— Quer beber alguma coisa?
— Talvez? — dou de ombros.
Dchek assente com a cabeça em concordância e faz um sinal para um garçom, que não
demora a se aproximar carregando uma bandeja.
— Obrigado! — ele agradece após pegar uma taça com um líquido borbulhante, que parece
ser champanhe, e um copo de uísque. O garçom sorri, solícito, e sai para continuar o seu trabalho.
— Essa noite merece um brinde. — sorri de um jeito sexy.
— Eu não tenho o costume de beber.
— Eu também não tenho, mas acho que não tem problema apenas um gole para brindarmos.—
insiste, me oferecendo a taça.
— E ao que brindaremos? — pergunto enquanto pego a taça.
— Brindaremos à vida, família, amigos e nossa amizade que se inicia hoje.
— Okay, acho justo. — ele ergue a taça para bater com a minha. — Só essa taça! — então
levanta a mão livre em sinal de rendição.
Depois de fazermos o brinde, eu bebo um gole generoso do delicioso espumante.
— Nada mal. — digo enquanto ergo a taça, fazendo um comentário sobre bebida.
— Eu tinha certeza que você iria gostar.
Eu lhe dou um sorriso amistoso. Ele se aproxima ainda mais de mim para depositar em meu
rosto, acredito que essa seja sua real intenção, mas por um deslize, o seu beijo acaba sendo no
canto da minha boca, me pegando de surpresa.
Não que eu não tenha gostado, mas não esperava por isso e me sinto um pouco envergonhada.
— Julha, eu… — ele tenta mais uma aproximção, mas desiste ao ver o grupo voltar a se
aproximar, então se afasta.
— Vocês perderam. A pista estava cheia, até vovó e vovô se juntaram a nós. — sorrio para
Lari, que fala animada.
— Depois nós vamos, não é mesmo?
— Ah, sim, claro. — concordo.
Lari nos fita com o cenho franzido, desconfiada. Ela não é boba, deve ter notado o meu
desconforto, mas não toca no assunto.
— Meu tio estava a sua procura. — diz após bebericar a bebida que acabou de pegar na
bandeja de um garçom que passava.
— Tio Christopher e você? Oh não! — diz Dchek, enojado.
— Não, não é o que você está pensando. — reviro os olhos e dou mais um gole no espumante,
e logo em seguida deposito a taça já vazia na bandeja de outro garçom e pego uma cheia. —
Obrigada! — agradeço, ele assente com a cabeça e sai.
— Você esqueceu que o tio Christopher se casou?
— Claro, como poderia ter me esquecido. Ela se chama, hã, Katl…
— Katherine. — eu o corrijo.
— Exatamente! Katherine.
— Minha mãe. — ergo o dedo indicador.
— Me desculpe, eu não sabia que meu tio é seu padrasto, mas é que… — ele para,
envergonhado.
— Ele tem idade para ser filho da minha mãe.
— Me desculpe, Julha, mas…
— Não precisa se desculpar. Eu penso como você e a maioria das pessoas dessa cidade, mas
como a minha opinião nunca foi algo que valesse dentro daquela casa, ao menos para a minha
mãe, eu finjo não ver nada. — dou de ombros e sinto o gosto amargo do ciúme que tenho da
minha mãe com o meu padrasto.
— Vamos parar com esse assunto chato. Eu disse que você estava no banheiro. Se ele
descobre que você está na companhia do gatão aqui. — bate com a mão sobre o ombro de
Dchek, que faz uma careta, fingindo dor. — Ele caparia o meu priminho. — todos riem, menos eu,
que me sinto em um reality show sendo vigiada 24 horas por dia por Christopher. — Vamos dançar!
— Lari sugere.
As pessoas na pista de dança estão animadas. Eu já havia perdido as contas de quantas
músicas nós já haviamos dançado, até perceber que sinto saudade dos meus amigos Ane, Bruno e
Felipe. Não que estar na companhia desse grupo esteja desagradável, mas sabe, quando você
está acostumada com a sua turma? Mesmo que maluca, é a minha turma e por mais que haja
desavenças entre nós, eles são os meus melhores amigos e nada e ninguém irá destruir o amor que
sentimos um pelo outro.
— Vou fazer uma ligação. — digo, perto do ouvido de Dchek para que ele possa ouvir, uma
vez que a música está alta. Peço licença a todos, que agora dançam em círculos, e me afasto,
seguindo até o jardim e indo para longe da música alta.
Deposito a taça vazia em um canteiro de flores, pego o meu aparelho celular, disco o número
de Ane, que no segundo toque atende a ligação.
— Alô?
— Oi, amor, tudo bem? O que você está fazendo?
— Julha?
— Claro que sou eu! Está esperando a ligação de mais alguém, cara pálida?
— Claro que não. Eu atendi a ligação sem ver o número, foi isso. E respondendo a sua
pergunta, estou assistindo a um filme com Bruno, e você?
— Em uma festa na casa dos Cloneys.
— Ih… — ela apenas diz, mas noto em seu tom de voz que ela ficou apreensiva.
— Então, você já voltou de viagem? E a sua tia? Como está?
— Sim, cheguei faz uma hora. Minha tia teve um AVC, mas agora já está um pouco melhor. Eu
ia ligar para você depois. — diz na tentativa de se redimir, mas depois daquele banho de piscina
lá em casa, Ane não é a mesma, está estranha.
— Tudo bem. — digo para ela não se sentir pressionada. — Você e Bruno fizeram as pazes?
— Sim, fizemos.
— Ótimo, fico feliz que tudo tenha se resolvido.
— Vamos marcar alguma coisa para amanhã? — ela sugere.
— Com os meninos?
— Não, só as meninas, como nos velhos tempos.
Você é um idiota, cara. Oi, gatinha!
— Quem é? — pergunta, curiosa.
— Alguns garotos que acabaram de passar aqui. Almoço no Shopping?
— Combinado.
— Okay, eu te ligo amanhã, beijos.
— Tudo bem! — ela para por um momento, e como fosse um pedido de desculpas, diz: — Eu
amo você! — meus olhos marejam e com a voz embargada, digo:
— Eu também te amo! — encerro a ligação e em seguida disco o número de Felipe, que não
atende.
Insisto mais algumas vezes sem sucesso, então desisto. Ele deve ter saído com alguns amigos, já
que não ficaríamos juntos essa noite. Guardo o celular na bolsa, viro para me juntar ao grupo e
me assusto ao me chocar em um muro de músculos.
— AI! — grito com o susto.
— Sou tão feio assim que assustei você? — Dchek sorri.
Meu Deus, e que sorriso!
— Magina, só estava distraída. — dou um sorriso amarelo com o canto da boca.
— Você estava demorando, por isso vim te procurar. Trouxe pra você. — diz, me estendendo
uma taça com uma bebida que eu não faço ideia do que é, mas muito bonita e é cor-de-rosa, uma
das minhas cores preferidas.
— Obrigada, você é muito gentil! — digo, sincera. — Lamentável tem que bebê-la, é tão linda.
— sorrio.
— Realmente, ela é muito bonita, se parece com você. — sinto meu rosto queimar.
Dou um generoso gole em minha bebida, que é de tutti-frutti com um forte teor alcoólico.
— Nossa, desceu queimando.
— Vamos lá, não é tão ruim assim.
— Não disse que é. — eu lhe dou uma piscadela e ele sorri seguido de dar uma leve mordida
sexy em seu lábio inferior. Ele está confundindo as coisas. — Vamos voltar? — digo e noto uma
resistência de sua parte, mas, mesmo assim, saio rápido sem esperar sua resposta. Ele não gosta,
resmunga algo inintelegível, mas me segue.
Voltamos para a pista de dança e nos juntamos novamente ao grupo. Um pouco mais à frente,
vejo Christopher conversando bem descontraíndo com um grupo de homens, mas logo em seguida
sua atenção se volta para mim e Dchek. Nossos olhos se encontram e ele faz cara de poucos
amigos.
Será que está com ciúmes?
Não, não é do perfil de Christopher.
Mas ele não tira os seus lindos olhos de nós.
Eu inicio um jogo de provocação, uma hora coloco as mãos sobre o peito de Dchek, e ele com a
mão na minha cintura, dançamos descontraídos.
O DJ então troca a música eletrônica por uma mais calma.
Dchek e eu dançamos colados, enquanto Christopher não tira os olhos de nós, por um momento,
tenho a impressão que ele morde seu lábio. Meu corpo se arrepia com a imagem. Logo, estou
dançando com Dchek no meio de uma roda enorme que havia formado ao redor de nós.
Paramos a dança e quando a música acaba, se ouve aplausos.
Envolvido pelo calor do momento, Dchek vem em minha direção para me beijar, porém, eu
desvio.
Não quero que ele confuda as coisas.
Isso me irrita muito nos garotos!
Por que os homens não podem ser amigos das mulheres sem ter segundas intenções?
Saio da pista de dança e sigo em passos largos até a escada, indo em busca do banheiro.
Sigo por um longo corredor, onde há muitas portas, perdida com os meus pensamentos em
Christopher.
A forma com que ele me olhava era um misto de raiva e desejo.
Será que ele realmente havia mordido o lábio ou estou vendo coisas?
— Pare com isso, Julha! — repito para mim mesma.
Sinto uma forte mão tocar em meu braço, me viro para ver a quem pertence e dou de cara
com Christopher, que tem um sorriso safado nos lábios. Puxo meu braço de sua mão.
— Isso dói! — digo, massageando o local que ele havia tocado.
— Você dança bem.
— Obrigada! — digo fingindo não me importar com o seu comentário.
Viro-me e continuo a andar em busca de um banheiro, mas não demora para que Christopher
me alcance novamente, pegando em meu braço com mais força aiinda, porém, sem me machucar.
Ele abre a primeira porta que está à nossa frente e me joga dentro do cômodo, que só depois de
passar o susto, percebo ser um quarto de hóspedes.
Christopher fecha a porta atrás de si e dá um passo para a frente, vindo em minha direção, eu
recuo. Neste momento, meu coração perde uma batida, minha respiração se torna ofegante e eu
não consigo acompanhá-la.
Capítulo Dez
“— Sabemos disso, então por que começou?”

- Julha Thompson.

Ele dá mais um passo em minha direção e eu me mantenho no mesmo lugar, desisto de tentar
fugir, até porque seria impossível. Ele, sem dúvida, é muito mais rápido do que eu.
Fico séria com o semblante endurecido, fingindo uma falsa irritação.
Quem estou querendo enganar?
A presença de Christopher tem me afetado como nunca antes.
Seus olhos me fitam minuciosamente e por um momento, surge o pensamento de que seria uma
loucura pular em seus braços, sentir seu beijo só mais uma vez e me entregar para a vontade
insana que é sentir suas mãos sobre o meu corpo. Mas não da forma que ele costuma me tocar,
como um pai que está repreendendo sua filha, pelo menos eu imagino que ele me toca dessa
maneira, mas com anseio de um homem para com a sua mulher, pois é assim que eu o desejo.
Os seus lindos olhos agora percorrem o meu corpo minuciosamente, como se quisesse gravar em
sua mente cada parte dele. Engulo em seco ao sentir seu perfume amadeirado invadir as minhas
narinas com a sua aproximação. Vagarosamente, como um caçador que encontra a sua presa, ele
caminha ao meu redor com suas apaixonantes íris azuis sobre mim, fazendo o meu corpo inteiro se
arrepiar de excitação.
Estar na companhia do meu padrasto me impede de raciocinar direito. Ele nota o meu total
descontrole com a sua aproximação e vejo um sorriso safado, que por sinal é lindo, rolar por seus
lábios.
— O-o que você quer, Christopher? — pergunto, gaguejando ridiculamente. Ele sorri, irônico, e
todos os pelos do meu corpo se arrepiam em resposta.
— Você não está em condições de perguntar nada, Srta. Thompson. — para diante de mim e
nossos olhos se encontram.
Seu rosto, que há poucos minutos carregava uma expressão divertida ao perceber o meu total
descontrole diante de sua presença, agora dá lugar a uma expressão fria que me dá arrepios.
— E posso saber por quê? — pergunto entre dentes.
Ele gargalha como se eu houvesse lhe contado a mais engraçada piada, mas sei apenas que
está se divertindo com a expressão fingida que completa o meu rosto.
Bufo acompanhada de uma revirada de olhos. Rapidamente, eu me movimento para sair da
sua presença e retomar o caminho de onde parei em busca do banheiro para esvaziar a minha
bexiga que grita por alívio.
— Eu ainda não terminei. — ele segura em meu antebraço sem machucar, me fazendo parar
bruscamente.
— Christopher, me solta! — puxo o meu braço de volta e ele não hesita em atender o meu
pedido, libertando-o.
Seu olhar está enfurecido, visivelmente irritado, mas não o quanto eu estou com a sua atitude
estúpida.
Quem ele pensa que é para me tratar dessa forma?
Nem meu pai, no auge de toda a sua ira, me tratava dessa maneira.
— Com que direito você segura o meu braço com essa grosseria? — massageio o local
atingido, dando ênfase na dor mais do que eu realmente sinto.
— O que você pensa que está fazendo? — com o cenho franzido, volto a minha atenção, que
antes estava em meu braço, para ele.
— Do que você está falando? — pergunto, confusa.
— Não se faça de idiota, Julha, porque de idiota, você não tem nada. — reviro os olhos.
— Idiota eu não sou, concordo com você, mas realmente não sei do que você está falando. Eu
estou sendo acusada injustamente. — ele sorri com escárnio.
— Você pensa que eu não vi? Você estava se esfregando com aquele bastardo do Dchek.
Todos viram. — ele caminha, exasperado, de um lado para outro.
— E o que você tem a ver com isso? Eu não lhe devo satisfação da minha vida. — Christopher
para e segura fortemente em meu braço.
— Você quer ir para a cama com ele? — eu o fito com o cenho franzido, sem compreender a
pergunta.
— Mas… Que merda você está falando? — rio, irônica.
— Dchek. — segura em meus ombros, dando uma leve chacoalhada. — Eu estou falando de
Dchek e o fato de você querer ir para a cama com ele!
Mas que loucura é essa?
De onde ele tirou isso?
— Você é louco? De onde tirou isso? — digo, saindo, mas ele me impede mais uma vez,
segurando em meu braço. Meu corpo estremece.
Isso está ficando chato!
— Eu te fiz uma pergunta. — diz entre dentes com suas irís azuis cravadas nos meus olhos.
— Eu não sou obrigada a responder e não vou, até porque o que diz respeito a minha vida
não é de dominío público. — digo com uma falsa irritação e puxo meu braço mais uma vez.
Eu lhe dou as costas enquanto acaricio o local atingido. Meu desejo neste exato momento é que
alguém me tire desta situação embaraçosa.
Ficar tão próxima de Christopher é um verdadeiro teste de resistência.
Sinto-me em um campo de batalha, onde Christopher lança seu olhar desejoso que recai como
uma bomba em mim, estremecendo todo o meu corpo.
Por Deus! Não posso trair a confiança da minha mãe, ela não merece, e eu não mereço
carregar a culpa de ter me envolvido com o seu marido pelo resto da minha vida.
Mas que porra, como é difícil!
— Responda! Você quer dar para ele?
Eu estou em um verdadeiro inferno. E Christopher? Ah, sem dúvidas ele é como o diabo,
umedecendo os seus lábios com a língua, me tentando, e eu não posso ver, apenas sentir.
— E, eu quer… — antes mesmo que eu encontre as palavras que fugiram e responda, o
homem lindamente perfeito se coloca diante de mim, e me pegando de surpresa, envolve os braços
em volta da minha cintura.
O choque do contato dos nossos corpos faz com que as minhas pernas fraquejem. A sensação
de ter mais uma vez o seu corpo colado ao meu faz com que o meu sexo formigue em excitação.
— O que… O que você esá fazendo? — falo com as sobrancelhas arqueadas e minha voz
soa falha. — Christopher. — manhosa, chamo por seu nome ao sentir sua respiração pesada sobre
a fina pele do meu percoço.
Por mais que eu queira afastá-lo, por mais que tente demonstrar que ele não me afeta, não
consigo. Seus lábios percorrem meu pescoço, despositando beijos suaves. Completamente entregue,
fecho os olhos e jogo a cabeça levemente para trás, abrindo passagem. Entreabro os lábios em
busca de ar e solto um gemido ao ser pega de supresa quando sinto seus lábios tocarem os meus
com urgência.
Sua língua desliza sobre os meus lábios pedindo passagem, e eu concedo. Nossas línguas
iniciam uma dança sensual, um beijo selvagem com cobiça.
Com uma de suas mãos habilidosas, toma meu cabelo na nuca e meu corpo se arrepia, me
fazendo inclinar a cabeça para o seu deleite. Christopher suga a minha língua com veemência.
— Hum! — solto um gemido entre o beijo, levando as minhas mãos dos seus ombros largos até
o seu cabelo.
Deslizo meus dedos por entre os fios macios e os puxos suavemente, arrancando grunhidos que
vêm involuntariamente do fundo de sua garganta.
Minha boceta umedece ao sentir o seu pau duro sobre a minha barriga. Eu sei que ele também
me deseja, que também me quer do mesmo jeito que eu o quero.
Quero me entregar a ele, eu sei que vou me arrepender amargamente amanhã, me deixar
sucumbir por um desejo da carne, mas como pensar no inferno de um amanhã, se hoje estou nos
braços de um homem fascinante.
Tomo uma atitude atrevida, deslizo uma de minhas mãos pelo meu corpo, persuadindo o seu
pau pulsante por cima da calça. Um grunhido escapa por entre seus lábios, mas acho que ele cai
em si. Rudemente, Christopher retira a minha mão atrevida e me afasta para longe.
— O que houve? — pergunto, confusa com a sua atitude.
Será que fiz algo de errado?
Ele não gostou do meu beijo?
Ele está acostumado com mulheres experientes, e eu? Bom, sou só uma garota tola que está saindo
da adolescência para entrar na fase adulta. E o que eu sei sobre homens e sexo? Nada.
Ele detestou o meu beijo, meu toque, como fui idiota em acreditar que um homem como Christopher
poderia se envolver com uma garota como eu?
— Julha, me desculpe, nós… Er… Nós não podemos. — diz, se afastando de mim. Eu me sinto
péssima com a sua atitude. É como se eu tivesse com alguma doença contagiosa. Engulo em seco,
impedindo que as lágrimas que se formam em meus olhos caiam.
Ele passa as mãos em seu cabelo sedoso, visivelmente nervoso.
Eu sei que ele quis esse beijo tanto quanto eu. Eu sinto isso.
— Eu não sei onde estava com a cabeça, Julha, e… — ele me fita com uma expressão de
desculpas estampada no rosto.
Respiro profundamente, me recompondo e digo de uma maneira que pareça descontraída.
— Depende de qual cabeça você fala… — ele me fita com os olhos arregalados. — Fui loge
demais, eu sei.
— Isso aqui é sério, garota. Por que está rindo? Não tem graça! — exclama e se aproxima de
mim, me pega pelos ombros e me chacoalha mais uma vez.
Arregalo os olhos diante da sua atitude indelicada. Meu corpo ardente anseia por seu toque
preciso. Meus lábios desejam se deliciar com os dele.
Mas que droga estou pensando? Segundos atrás fui rejeitada por este homem que se mostrou
atraído por mim e em pouco tempo demonstrou o quanto me despreza.
Será que sou tão desprezível?
Como eu posso sentir desejo por alguém como Christopher?
Meu Deus, ele tem razão! Onde estou com a cabeça, que deixei sumir a linha imaginaria que criei
para nos manter distantes?
Dou um passo para trás, me afastando de suas mãos. Não consigo raciocinar com ele tão perto
de mim.
— Julha, o que aconteceu aqui não deveria ter acontecido em hipótese alguma. — diz,
impaciente.
— Sabemos disso, então por que começou?
Qual é o seu joguinho?
Primeiro me beija, excita e depois não podemos?
Ah, vai se ferrar.
É o que eu tenho vontade de jogar na sua cara, mas apenas me calo, afinal, ele tem razão. Isso
nunca deveria ter acontecido.
— Porque… Porque… — ele gagueja, visivelmente irritado, enquanto caminha de um lado
para o outro.
Fico ansiosa por sua resposta que não vem.
Bruscamente, Christopher para por um momento, volta a me fitar, abre a boca para se
pronunciar, mas não sei o que o faz desistir. Eu só sei que, por mais que tente de alguma forma
esconder, ele também sente o mesmo por mim.
— Me desculpe. — evitando contato visual, ele vai até a porta, a abre e sai. Fico estática com
a cena que acabara de presenciar.
Idiota!
E eu que sou a infantil?
Reviro os olhos e saio a caça de Larissa, com quem eu havia deixado a minha bolsa.
Ao descer as escadas, vejo Lari acompanhada de seu grupo inseparável.
Eu sei que a atitude que irei tomar irá me colocar no mesmo grau de infantilidade que ele.
— Hei, aonde você estava? — Lari se afasta de um dos meninos e vem em minha direção.
— E-eu estava no banheiro. — gaguejo, desviando rapidamente meus olhos dos dela.
— Ah, meu tio passou por aqui. — estremeço quando ela diz isso e a possibilidade de que
alguém tenha percebido alguma coisa me aflige, então sorrio. — Acho melhor você ir falar com
ele. Você sabe que ele se preocupa com você. — diz, estendendo sua mão que segura a minha
bolsa.
— Obrigada! — balbucio. Ela me dá uma piscadela.
Conversamos por alguns minutos, quando, por fim, decido me despedir de todos e ir embora
sob os protestos de Lari, que me promete não contar nada para Christopher.
— Você promete me ligar assim que chegar em casa?
— Eu prometo! — dou-lhe um beijo no rosto, aceno para o restante do grupo e saio.
Capítulo Onze
“Você não teve culpa. Eu que não deveria ter vindo embora a essa hora da noite sozinha.”

- Julha Thompson.

Em passos largos, sigo em direção ao jardim, caminhando por uma trilha de pedras até a
saída.
Corro por entre os muitos carros estacionados, apressando os passos em sair da casa no exato
momento em que vejo Christopher conversando com um grupo de homens, todos muito bem vestidos
em seus ternos caros, distraídos.
Idiotas!
Aproveito e dou uma pequena corrida até a entrada principal da casa, até porque, não
poderia apertar o passo, meu saltos não permitiriam tal ato.
Eu me aproximo do grande portão da entrada da mansão, onde um dos homens grandalhões
vestido de preto e segurando um rádio, faz a segurança da casa.
— Boa noite! — digo ao me aproximar com a voz falha pela breve corrida.
— Boa noite, senhorita! — ele me fita, desconfiado, mas logo abre um sorriso gentil.
— A senhorita quer que eu chame um táxi? — diz, enquanto abre o grande portão de ferro.
— Não há necessidade. Meu pai está vindo me buscar. — minto, mas por dentro, eu gostaria
disso. Que o meu pai estivesse aqui, me esperando sair de mais uma festa.
— Tudo bem, senhorita.
— Mais uma vez, obrigada. — assinto com a cabeça em sinal de agradecimento e saio.
Caminho com passos lentos pela calçada, contemplando as belíssimas mansões à minha volta. Eu
sei que é loucura sair sozinha no meio da noite, em uma rua deserta, mas essa foi a única maneira
que encontrei para ficar longe do meu padrasto. Não tenho condições psicológicas para continuar
no mesmo lugar que Christopher. Não depois de tudo o que houve entre a gente.
Eu não sei por quanto tempo exatamente estou caminhando por essas ruas desertas, mas é
tempo suficiente para o medo e o arrependimento por minha atitude infantil chicotear o meu corpo,
avisando-me que fui imprudente ao deixar a mansão dos Cloneys.
Dane-se! Agora é tarde e continuarei a minha caminhada, eu só preciso chegar em casa em
segurança e me preparar psicologicamente para suportar a repreensão do meu querido padrasto,
que virá amanhã com toda fúria para cima de mim.
Já que ele, provavelmente, dormirá na casa de seus pais, terei a casa só para mim e saberei
aproveitá-la bem.
Pego o celular dentro da bolsa e constato através do relógio que estou caminhando há uns dez
minutos, pouco tempo para o tanto que o meu corpo protesta. Sou desperta do meu devaneio no
mesmo instante em que ouço o som de um carro se aproximando. Neste exato momento, me
arrependo de não estar na companhia de Christopher, mesmo que ele seja um babaca, ainda assim
eu estaria segura.
A cada passo que dou, sinto minha garganta se fechando, me impedindo de respirar. Minhas
mãos transpiram, a sensação de que a morte se aproxima assola o meu corpo.
Num ato desesperado, viro-me e vejo um Audi preto de vidros escuros ao meu lado,
acompanhando os meus passos. Impulsivamente, eu paro de um jeito brusco, e o carro faz o
mesmo.
— Não se aproxime. — grito de um jeito autoritário. — Eu tenho uma arma! — minto, indicando
a bolsa.
Viro-me na tentativa de conseguir ver quem é o motorista que me persegue. Por alguns minutos,
uma onda de alívio percorre o meu corpo assim que meus olhos contemplam a imagem do vidro do
carro aberto e Dchek lá dentro. Ele dá uma gargalhada e joga a cabeça para trás. É nítido que
ele está se divertindo com o meu desespero.
Com as mãos na minha cabeça, dou alguns passos até a calçada de uma das mansões que está
atrás de mim e me sento para não correr o risco de cair ao sentir minhas pernas fraquejarem.
Ao ver que estou realmente aflita e não estou brincando, rapidamente ele corre em minha
direção, se ajoelha à minha frente, e em um gesto de carinho, toma meu rosto entre as mãos,
erguendo o meu queixo e fazendo com que eu o olhe nos olhos.Por fim, ele diz com um tom de voz
amistoso:
— Hei, me desculpe. — seus olhos estão cravados nos meus. — Não foi a minha intenção te
assustar, era só uma brincadeira.
Carinhosamente, ele se senta ao meu lado e puxa o meu corpo de encontro ao seu, apoiando a
minha cabeça carinhosamente em seu peito.
— Você não teve culpa. Eu que não deveria estar indo embora a essa hora da noite sozinha.
— digo e minha voz soa falha.
— Eu sou um idiota. Não deveria ter brincado com você dessa maneira.
— Não se culpe.
Um silêncio se instala entre nós depois de trocarmos algumas palavras. Suas mãos deslizam em
meu longo cabelo em um gesto carinhoso. Seus lábios vão ao encontro do topo da minha
cabeça, depositando um selinho estalado. Sua respiração se torna pesada, indicando que essa
aproximação nos levará a um caminho que eu possa vir a me arrepender amanhã.
— Me leva para casa? — peço, me afastando do seu abraço.
— Não quer voltar para a festa? — ele tira uma mecha do meu cabelo que caíra em meu
rosto e coloca atrás da minha orelha. Puxo o ar para os pulmões e nego com a cabeça. Eu até
gostaria de voltar para a festa, estava muito divertido, mas não é sensato a se fazer depois do
que rolou entre mim e Christopher. — Não gostou da festa? — sua mão afaga meu cabelo.
— Não é isso. Eu só… Só estou cansada e com um pouco de dor de cabeça. — minto.
— Como quiser, princesa. — ele se coloca de pé, estende as mãos, me ajudando a levantar. —
Vamos? — sorri, solícito.
— Vamos! — assinto com a cabeça.
Ele passa o braço em volta da minha cintura, e eu cruzo os meus na altura do abdômen no
exato momento em que Dchek pega a minha bolsa. Eu deito a minha cabeça em seu ombro e
caminhamos até onde o carro está parado. Gentilmente, ele abre a porta do lado do passageiro
para que eu me acomode e assim o faço.
Acompanhado de um largo sorriso, ele me entrega a minha bolsa, fecha a porta, dando a volta
no carro e tomando seu lugar no banco do motorista. Coloco o cinto e aguardo Dchek, que faz o
mesmo e dá a partida no carro.
Capítulo Doze
“Sinto lhe informar, mas você não me amedronta, Christopher Cloney “

- Julha Thompson.

Após lhe passar o endereço da minha casa, seguimos o curto trajeto conversando sobre
assuntos aleatórios. Falamos sobre nossas vidas, o que gostamos de fazer, de comer, e para a
nossa surpresa, descobrimos que temos muito mais coisas em comum do que imaginávamos. Eu
esperei acontecer de tudo nesse jantar, menos conhecer Dchek, já que não me recordo de tê-lo
visto antes.
— Em que está pensando? — por um breve momento, ele desvia o olhar da estrada, voltando-
o para mim.
Volto a fitá-lo e meu corpo se arrepia ao notar um sorrisinho sacana rolar em seus lábios. Ele
volta a atenção para a estrada, onde o carro percorre tranquilamente.
— Você chama o Christopher de tio, mas não me lembro de ter alguém comentando sobre o
Christopher ter mais um irmão além de Alex. — dou de ombros um pouco envergonhada por estar
sendo bisbilhoteira.
— Ele não é irmão do meu pai. — sorri, divertido. — Estou impressionado que você nunca
tenha ouvido falar de César Monterrey, um dos melhores amigos de Alex Cloney. — franzo o cenho
e em seguida faço sinal de negação com a cabeça. Não me surpreende em nada que eu não
saiba muito da vida de Christopher, afinal, nunca fiz questão de saber. — O tio Alex e meu pai
foram colegas de faculdade, e desde então se tornaram grandes amigos. — Dchek me conta
sobre o relacionamento dos Cloneys com os Monterreys.
— Chegamos! — digo no mesmo instante em que Dchek estaciona o carro na frente de casa.
— Uau! Um castelo digno de uma princesa. — diz Dchek, enquanto abaixa um pouco a cabeça
para olhar a minha casa através da janela do carro, encantado. Isso não me espanta muito, ele
não é o primeiro e acredito que não será o último a se comportar dessa forma.
— Muito me espanta sua direção quando se é quase um Cloney. — digo enquanto tiro o cinto
de segurança.
— Nada comparado aos Thompsons. — ele afaga o meu queixo quando volto a encará-lo,
antes de lançar uma piscadela para mim, fazendo com que eu dê um sorriso, tímida.
— Vamos descer?
— Eu não sei, é que… — volta a sua atenção para a rua.
— Hum, já sei. Tem compromisso melhor do que ficar conversando com uma adolescente
entrando na fase adulta um tanto revoltada. — brinco com um sorriso amarelo no canto da boca.
— Eu não disse isso. — ele fala, sério, voltando a atenção para mim. — Eu acho que a sua
mãe pode não aprovar se me encontrar com você aí.
— Se esse é o problema, não se preocupe. Mamãe está no Japão a trabalho e não volta hoje.
— sorrio.
— Eu não quero te arrumar problemas.
— Não se preocupe com isso.
— Sendo assim. — sorri, animado. Ele coloca o carro em movimento e pisca o farol alto três
vezes, que é um código que todos em casa usam para se comunicar com os seguranças. É uma
forma de dizer que pertencemos a casa quando esquecemos o controle do portão. Ele adentra a
garagem, estaciona o carro e seguimos para dentro da casa.
Ao chegarmos na sala, tiro os sapatos, que estão me matando, deixando em um canto qualquer.
— Quer comer algo? — pergunto, puxando-o pela mão até a cozinha.
— O quê? Além de linda sabe cozinha? — ele me provoca.
— Não se engane com esse rostinho lindo. — dou-lhe uma piscadela.
— Senta aí. — digo, enquanto vou até a geladeira em busca de algo para preparar uma das
minhas especialidades, lanche.
— Me fale de você. — ele pede.
— O que você quer saber, exatamente?
— Tudo o que você quiser me contar.
— Ótimo, porque eu não quero contar nada. — brinco e dou uma mordida no queijo e em
seguida volto a me concentrar em preparar o lanche com pão integral, queijo de búfala, tomate
seco e alface.
Ele ri, divertido, então se aproxima e me abraça por trás, depositando um beijo em meu
pescoço e me deixando arrepiada.
Fazemos dois lanches naturais, um para cada, e enquanto eu pego uma garrafa de suco de
laranja na geladeira, ele arruma a mesa.
— Isso está muito bom! — diz, dando uma generosa mordida em seu lanche.
— Eu sei. — dou-lhe uma piscadela.
— Convencida. — rimos.
Terminamos o nosso lanche, enquanto Dchek me conta como era a sua vida em Londres.
— Já passa de uma hora da madrugada, é melhor eu ir embora. — diz assim que verifica o
horário em seu relógio de pulso.
— Ah, mas já? Eu ia te convidar para assistir a um filme comigo. — digo, fingindo estar
desapontada e fazendo um biquinho.
— Bom, já que você insiste tanto. — diz, divertido.
Fazemos pipoca, pegamos duas latas de refrigerante e subimos as escadas em direção ao meu
quarto.
— Vou tomar um banho rápido. Os filmes estão ali. — aponto para a mesa do computador,
onde há alguns filmes que assisto muitas vezes sozinha.
— Quer ajuda? — eu o fito com o cenho franzido, sem entender. — Você quer ajuda no
banho? — reviro os olhos e sigo para o banheiro.
— Eu já volto. — digo, enquanto fecho a porta.
Tomo um banho rápido, vou até o closet, visto um baby doll rosa, passo hidratante corporal,
escovo o cabelo, prendendo-o em um coque frouxo, e volto para o quarto.
— Você já escolheu o filme? — pergunto, adentrando o meu quarto.
— Eu estava pensando em um filme de ação, o que me diz? — faço uma careta para a sua
opção. Ele me encara por alguns segundos sem dizer nada.
— Para, não me olha assim, eu fico sem graça! — digo, já sentindo o meu rosto esquentar.
— Desculpe, mas estou sem graça diante da sua beleza. — reviro os olhos.
— Vamos lá, Dchek, escolha o filme. — sigo até a escrivaninha, pego o controle do ar-
condicionado e ligo o aparelho.
Deito-me na cama e Dchek se junta a mim, agora vestindo apenas a calça social.
— Escolhi um de ficção científica. — diz, rindo.
— Eu não gosto. — bufo.
— Do que você gosta, hein, mocinha? — pergunta, iniciando o filme.
— Comédia.
— Mas hoje vamos ver esse filme, eu ainda não vi. — diz, quando os meus olhos contemplam a
imagem do filme que eu já havia assistido três ou quatro vezes, e em todas elas me emocionado. A
Culpa é das Estrelas.
Já estou em lágrimas quando sinto as mãos de Dchek me puxarem mais para perto. Deito a
cabeça em seu peito.
— Meninas… — sussurra, zombeteiro.
Essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes de cair no sono.
Não sei por quanto tempo eu dormi, e nem se Dchek havia adormecido. Sou desperta por
gritos, que demoro para compreender a quem pertence a voz, já que ainda estou sonolenta.
— Que porra é essa, Julha? — em um sobressalto, Dchek e eu levantamos rapidamente e nos
sentando na cama.
Christopher.
Meu coração bate descompassado com o susto.
— Calma, tio, não… Não é o que você está pensando. — eu me coloco de pé sob os olhos de
Dchek e Christopher, que me fitam como se tivesse nascido um terceiro olho em mim.
Mas que porra ele está fazendo aqui?
Ele não deveria estar na casa dos pais?
Sou desperta do meu devaneio quando ouço Christopher gritar descontroladamente com Dchek,
enquanto o mesmo tenta convencê-lo de que não estávamos fazendo nada de mais.
— Para, Dchek! Não devemos explicações a ele. — grito, chamando a atenção dos dois para
mim.
Christopher me olha enfurecido, como se estivesse soltando fogo pela boca. Seus olhos me
fuzilam e tenho a certeza que ele quer me estrangular.
— Você. — aponta o dedo indicador para Dchek. — Vai embora, agora! — e em seguida
volta a atenção para mim. — E você, mocinha, tem muito o que explicar para a sua mãe. — em
passos largos vem em minha direção e segura em meu braço, apertando-o.
— Me solta, seu idiota. Eu odeio você, e Dchek não vai a lugar nenhum que ele não queira. —
grito com os olhos marejados e puxo o meu braço de sua mão, mas ele não me dá ouvidos e
aperta ainda mais.
— Tio, solta ela. — Dchek se aproxima, mas Christopher, descontrolado, larga o meu braço e
como um moleque de rua, parte para cima de Dchek, desferindo um soco, que o faz cair sentado
no chão. Rapidamente, vou até Dchek, que está com os lábios sangrando.
— Como você está? Meu Deus, me desculpe, Dchek, esse idiota é um louco. Vem, não vá
embora, vou cuidar de você. — digo a ele, estendendo a mão e o ajudando a se levantar. Mas sou
impedida por Christopher, que enlaça meu cabelo em sua mão e me ergue do chão, em seguida me
joga na cama. Uma forte dor na cabeça me atinge.
Em questão de segundos, Christopher agarra Dchek pelo cabelo e o arrasta para fora do
quarto.
Mas o que deu nele?
— Christopher, solte-o, solte-o agora! — grito enquanto Christopher me fita com um sorriso
irônico nos lábios e sai arrastando Dchek, que ainda tem os lábios sangrando.
Dchek apenas se deixa levar sem questionar o comportamento do seu “tio”. Ouço o barulho da
chave trancando a porta.
Com os olhos marejados, corro até a janela e espero que eles apareçam no meu campo de
visão, então vejo Dchek saindo.
Ele foi embora depois de toda a humilhação que Christopher o fez passar.
Ódio é o que eu sinto de Christopher nesse momento, ele não tem o direito de tratá-lo dessa
maneira.
Por que ele fez isso?
Pobre Dchek.
Sou desperta dos meus pensamentos com a porta do quarto sendo aberta, e em seguida,
fechada bruscamente.
— Agora somos só nós dois. — diz entredentes antes de trancar a porta.
Eu não me deixo intimidar, estou furiosa com ele. Eu o fuzilo com os olhos, mas ele parece não
se importar, dá um sorriso irônico com o canto da boca. Minha raiva faz com que eu derrame as
lágrimas que tanto me esforcei para que ele não visse.
Eu te odeio, Christopher Cloney!
Ele não tem o direito de tratar nenhum convidado meu dessa maneira.
Meu Deus, o que deu nesse homem?
Por que tratou Dchek dessa forma tão estúpida?
Com o susto causado pelo barulho da porta, corro até a minha cama. Christopher me fita,
visivelmente furioso, e pela primeira vez, eu sinto medo do meu padrasto. Encolho-me perto da
cabeceira, mas sustento o olhar.
Eu me esforço para que ele não note o quanto me sinto amedrontada, não tenho dúvidas que,
da maneira que ele me olha, os meus olhos me denunciam. Engulo em seco.
Como um caçador em busca da sua presa, Christopher caminha a passos lentos em minha
direção. Recuo a cada passo seu, mas paro quando sinto minhas costas baterem contra a parede
fria, que me impede de continuar.
— Agora somos só eu e você, querida filha. — diz entre dentes num tom ameaçador, enquanto
está cada vez mais perto.
A ideia de ter Christopher tão próximo a mim, como ocorrera anteriormente, faz com que eu
sinta como se meu corpo inteiro estivesse sido acometido por dezenas de formigas passeando por
sobre ele.
Eu o encaro com os olhos cerrados, mas ele parece não se importar com a minha irritação.
Sorrindo, ironicamente, ele para ao lado da cama, quando a mesma impede que ele continue.
— Você sabe que está encrencada, não sabe? — diz com as suas íris azuis cravadas em mim,
junto com um sorriso safado em seus lábios.
Bastardo!
Ele está se divertindo ao ver o efeito devastador que causa em mim.
Por mais sedutor que ele seja, eu não posso me deixar seduzir.
Eu não posso me tornar vulnerável a Christopher.
Imediatamente, mudo a minha expressão amedrontada para uma falsa irritação. Minha
respiração se torna ofegante, quando o seu perfume amadeirado invade as minhas narinas.
O sorriso de Christopher se alarga, iluminando por completo o seu rosto quando ele nota o meu
peito descer e subir enquanto tento, e falhando ridiculamente, controlar a respiração ofegante.
— Está com medo, Julha? — sua voz rouca soa pelo quarto, me deixando atordoada e por um
momento, sinto o meu coração perder uma batida.
— Eu… Eu não tenho medo de você. — digo, mas a minha voz falha ridiculamente, revelando o
contrário. Ele gargalha, joga a cabeça para trás e volta a me fitar, sério.
— Mas deveria. — sorri, irônico.
Idiota!
— Sinto lhe informar, mas você não me amedronta, Christopher Cloney. — minto.
— Será que não mesmo, Julha? — provoca.
Lágrimas que eu me esforcei durante muito tempo para não derramar diante de sua presença,
vêm à tona.
Eu te odeio, Christopher!
Por um momento, tenho a impressão de ter visto compaixão em seus lindos olhos azuis. Eu odeio
ser o motivo de piedade de um homem por quem me sinto completamente atraída.
— O que Dchek fazia deitado em sua cama? — pergunta entre dentes.
— Nada que você precise saber. — digo e me arrependo profundamente ao ver os braços de
Christopher soltos o lado do seu corpo com seus punhos cerrados. Ele respira pesadamente e eu sei
que está tentando manter o controle e não me enforcar.
— Eu preciso, quero e devo saber, Julha. — avança, mas para ao encontrar a cama como uma
barreira à sua frente. — Sua mãe a deixou sob a minha responsabilidade, garota idiota. —
assusto-me e me encolho ainda mais na cama.
— Eu não preciso que ninguém cuide de mim, agora saia. Fora! Fora do meu quarto! — grito
ainda mais irritada e fico de pé em cima da cama para estar em uma altura considerável para
encará-lo.
Eu não preciso da sua piedade, preciso que se mantenha longe de mim.
Ele me fita com as sobrancelhas arqueadas, não esperava que eu fosse reagir, mas não se
deixa intimidar. Ele jamais se deixaria intimidar por qualquer pessoa.
Continuamos nos encarando por alguns segundos e seus olhos, agora com um tom de azul mais
forte, me fitam minuciosamente, em alerta, dizendo que não irá desistir.
— Você transou com ele? Fale para mim, Julha, ou eu arranco de você à força. — grita,
assustando-me.
O rosto de Christopher tomado de um vermelho vivo, por incrível que pareça, o deixa ainda
mais lindo.
— Isso não lhe diz a respeito! — exclamo.
— Você não respondeu a minha pergunta. — diz entre dentes seguido de dar um passo em
minha direção. Recuo um passo.
— Eu não vou responder!
— Garota, não brinque comigo.
— Por que, Christopher, o que você vai fazer? — ele passa as mãos sobre o seu cabelo sedoso
e caminha de um lado para o outro dentro do grande cômodo, que acaba se tornando um
pequeno espaço para ele.
— Você trepou com ele, Julha? Me diz, você transou com aquele filho da puta? — diz, parando
bruscamente.
Ele me fita com cara de poucos amigos. Sua expressão me amedronta. Eu poderia dizer a
verdade, mas penso que o melhor a fazer é deixar a dúvida torturá-lo. Estou me divertindo com o
jogo de gato e rato. Intencionalmente, um sorriso irônico brota em meus lábios.
Christopher pula sobre a cama, mas não me alcança e na mesma velocidade e no mesmo
momento, pulo para fora dela.
— Eu tenho o direito de saber. — vem em minha direção, eu desvio para o outro lado do
quarto.
— Não tem não. — rebato.
— Tenho sim! — ele insiste.
— Não tem! Sua mulher se chama Katherine Cloney. Ela sim lhe deve explicações e não eu.
— Você trepou com ele, não é mesmo? — dou de ombros.
Caminho de volta para a minha cama e dou um sorriso contido ao ver o quanto Christopher se
sente incomodado com a possibilidade de Dchek e eu termos transado.
Babaca!
— Você está ciente que a sua mãe saberá o que houve aqui, certo? — dou de ombros.
Pouco me importa. Katherine não se interessa por assuntos que dizem respeito a mim, não mais.
— Corre lá, liga para ela. Vamos, Christopher! Dê a notícia a ela em primeira mão. — eu o
provoco.
— Você é tão frustrante. — caminha até a minha cama, parando em frente a ela, depois
coloca as suas mãos na cintura e me fita com ódio. Ele é lindo, e eu não tenho dúvidas dos meus
sentimentos por ele.
Não viaja, Julha, você o odeia, nunca se esqueça disso.
— Você não pode ter transado com ele, não pode, Julha. — diz e sua voz soa com desespero.
Ele está com ciúmes?
Eu o fito com o cenho franzido.
Mentira, não pode ser!
O meu pãodastro com ciúmes de mim?
Meu coração pulsa de felicidade.
Christopher Cloney com ciúmes de mim?
Realmente, por essa eu nunca esperava.
Mordo o lábio inferior, reprimindo um sorriso que insiste em sair quando me vem à mente a
ideia de provocá-lo. Respiro pesadamente e reviro os olhos.
— O que eu faço da minha vida, não diz respeito a ninguém a não ser a mim e a pessoa
envolvida, portanto, não tenho nada a declarar. — reprimo um sorriso que insiste em sair.
— Você não entende. Eu preciso saber, porra! — grita, passando as mãos em seu cabelo.
Ele está descontrolado!
— Okay, Christopher Cloney, quem não está entendendo é você. Peço, encarecidamente, que
saia do meu quarto agora. Como eu já lhe disse, a minha vida não é de domínio público e, muito
menos, da sua conta. Por que você quer saber? Você não manda na minha vida, eu não lhe devo
satisfações. — digo, firme.
Estremeço ao vê-lo pular na cama, se juntando a mim. Tento pular para fora da cama
novamente, mas dessa vez Christopher é mais rápido e me impede, segurando em meu antebraço.
Nossa respiração se torna ofegante com a nossa proximidade. Ele me encara com os olhos
vermelhos de raiva e eu estremeço quando sinto o seu perfume amadeirado invadir as minhas
narinas.
— Não é da minha conta? — umedece seus lábios e seus olhos percorrem o meu corpo.
— Não, Christopher, não é da sua conta. — exclamo.
Sua respiração pesada mistura-se com a minha e ele fecha os olhos como se quisesse se
controlar, engole em seco e volta a abri-los, agora com as pupilas dilatadas, revelando o desejo
que exala do seu corpo. Por um breve momento, ele solta o meu braço e passa as mãos em seu
cabelo, exasperado. Ao constatar a sua expressão aflita, eu me sinto angustiada.
Droga, Christopher, não faz isso!
Volto a fitá-lo com um nó na garganta, tentando segurar o choro que insiste em sair.
— Se saber disso o deixará mais tranquilo… — dou de ombros. — Não aconteceu nada, mas
poderia ter acontecido. — provoco, lhe dou as costas e saio, mas sou impedida quando sinto suas
mãos envolvendo a minha cintura, colando nossos corpos. Meu coração perde uma batida.
O seu desejo por mim é nítido quando sinto o seu membro enrijecido pressionado contra as
minhas costas. Minhas pernas fraquejam. Com as suas mãos na minha cintura, ele dá um leve
aperto e um grunhido de excitação escapa dos meus lábios, deixando claro o desejo que eu
também sinto por ele. Seu nariz desliza em meu cabelo, inalando o perfume de cereja do meu
xampu, e com a sua voz rouca, sussurra:
— Ele te causa essa mesma sensação, Julha? Hum? Ele desperta em você essa excitação que
está sentindo? — enfia a mão por entre as minhas pernas, me fazendo fechar os olhos e gemer
com a respiração ofegante. — Ele te faz ficar excitada assim como eu? Diz, Julha, quero saber. —
ainda de olhos fechados, eu sinto uma corrente elétrica percorrer o meu corpo.
— Ele é bem melhor que você e trate de me soltar. — digo com a voz trêmula na tentativa que
ele o faça. Com movimentos bruscos, ele me vira de frente para ele, colando nossos corpos e
dissipando qualquer espaço que haja entre nós.
— Veremos!
— Christopher, o que você vai… — ele me interrompe antes que eu continue, mordiscando o
meu lábio inferior seguido de uma puxada, me fazendo arrepiar em excitação. Não posso cometer
essa loucura, tenho que conseguir me desvencilhar de suas mãos ágeis antes que o pior aconteça.
— Não, Christopher, não podemos, minha mãe…
Espalmo as mãos em seu peito, afastando-o para longe, mas sou calada com os seus lábios
sobre os meus em um beijo quente e cheio de desejo. Com as mãos, ele agarra a minha bunda e
me puxa para o seu colo. Completamente entregue às suas investidas, eu entrelaço as pernas em
volta da sua cintura e enfio meus dedos em seu cabelo sedoso. Christopher aperta a minha bunda
com uma mão, enquanto a outra desliza em minhas costas, alcançando a nuca e imobilizando a
minha cabeça, me beijando com urgência. O seu beijo tem uma mistura doce com álcool, é sedutor.
— Desejo você, Julha, quero você, preciso de você. — diz, sugando a minha língua com ânsia.
Soltando um gemido entre os beijos, eu me sinto pronta para me entregar a Christopher. Ainda
entrelaçada em sua cintura, ele caminha lentamente na direção da minha cama e me deita sobre o
lençol de seda macio.
— Não, Christopher, não deveríamos… — digo e minha voz falha.
Ele me fita com uma expressão amável no rosto, coisa que eu nunca tinha visto antes.
Droga!
Um sorriso malicioso surge em seus lábios, seu nariz percorre a fina pele do meu pescoço,
causando arrepios.
— Eu sei que você me quer assim como eu a quero, então não resista, Julha, é bobagem. — as
palavras me faltam, então só resta me entregar.
Christopher deita seu másculo corpo sobre o meu, se posicionando por entre as minhas pernas,
e por um momento ele para, me olhando como se quisesse gravar em sua memória cada parte do
meu corpo. Minha pulsação bate descompassada, meu corpo clama por ele, preciso senti-lo o
quanto antes, necessito dele dentro de mim.
Deslizo as mãos por suas costas definidas cobertas com o belo blazer, e com a sua ajuda eu o
tiro, deixando mais visível os seus músculos através da camisa de mangas curtas escura.
— Você é tão linda, Julha. Eu te desejo muito, é loucura, eu sei, mas não consigo me controlar,
não consigo controlar o meu pau. Todas as vezes que sinto o seu perfume, o meu pau fica duro
como uma barra de ferro.
Solto um gemido alto, entrelaçando os dedos em seu macio cabelo, puxo a sua cabeça mais
para perto da minha e nossas respirações se misturam. Christopher toma os meus lábios dando
beijos lascivos, brincando com a minha língua, fazendo com que um fogo se ascenda por entre as
minhas pernas. Estou quente como quem está febril, meu sexo pulsa, meus pulmões ardem,
clamando por ar.
Capítulo Treze
“Você sabe por quanto tempo eu fiquei imaginando esse momento? Desde o primeiro dia em que
coloquei os meus olhos sobre você.”

- Christopher Cloney.

Ainda com os nossos lábios colados, ele chupa a minha língua com desejo, enquanto uma de
suas mãos macias desliza com carinho por minha cintura.
Dezenas de vezes Christopher me tocou e não me recordo em nenhuma delas sentir suas mãos
tão macias.
Sou desperta do meu devaneio por sua mão deslizando sobre a minha coxa, minha pulsação se
torna irregular ao senti-la na barriga definida graças a academia, onde antes minha presença era
constante.
— Hum! — solto um gemido ao sentir a mão alcançar o meu seio por cima do baby doll em
seda.
Meu corpo estremece em resposta no exato momento em que seus dedos habilidosos acariciam
meu seio, fazendo movimentos circulares em meu mamilo já enrijecido seguido de dar leves puxões,
me fazendo soltar um grunhido em excitação.
— Você me deixa louco, menina. — sorri com o canto da boca ainda com os nossos lábios
colados. Ouvir dele que eu lhe causo o mesmo efeito que ele causa em mim é música para os meus
ouvidos. Com as nossas testas coladas e respiração ainda ofegante, porém, já controlada, me
ajuda a pensar no que é certo a se fazer. Por mais que eu queira estar com Christopher, me
entregar a ele não é certo.
— Não podemos, Christopher, alguém vai sair machucado nessa história. — ele se afasta e me
fita com o cenho franzido, confuso.
Não me olhe assim, Sr. Cloney, eu também estou confusa.
Sustento o olhar, e o silêncio que se instala entre nós por alguns minutos é quebrado pela voz
dele carregada de um tom autoritário.
— Tarde demais para voltar atrás, Srta. Thompson. — sorri com malícia seguido de depositar
um selinho demorado em meus lábios.
Meu nome soa incrivelmente sexy em seus lábios, despertando ainda mais a minha libido. Esse
homem é atraente pra cacete. Seus lábios percorrem a fina pele do meu pescoço.
— Christopher, por favor! — imploro para que ele me deixe partir. Não sei por quanto tempo
irei resistir, não quero que amanhã o arrependimento venha com tudo e jogue na minha cara a
péssima filha que tenho me tornado.
Sem desistir do seu propósito de me possuir, ele me coloca entre suas pernas e fica de joelhos
sobre a cama. Suas mãos deslizam pela barra da minha blusa, tirando-a por cima da minha
cabeça. Coro e rapidamente cubro os meus seios medianos com as mãos.
— Não faça isso. — umedece os lábios com os lindos olhos cravados em mim, como se estivesse
contemplando a imagem da sua comida predileta. — Não cubra os seios, Julha. — ele retira
lentamente as minhas mãos que cobrem os meus seios uma de cada vez e deposita um selinho
demorado neles, me fazendo suspirar. — Você é magnífica, minha menina. — percorre a língua
quente e úmida em meu pescoço, em seguida a penetra em minha orelha.
— Por Deus, Christopher. — gemo alto, arqueando as costas sobre o macio lençol da minha
cama e aproximando a minha boceta do seu pau duro feito pedra. Não dá mais para esconder
o meu desejo por ele, que arranca um sorriso safado quando os seus dois dedos invadem a minha
intimidade e sente o quanto eu o desejo.
— Você é a minha ruína.
Seus dedos deslizam entre os lábios da minha vagina, que é acometida por uma corrente
elétrica quando fazem leves movimentos circulatórios, deixando o meu corpo trêmulo. Os seus
lábios se juntam aos meus em um beijo com desejo, e ao mesmo tempo, com movimentos bruscos,
entrelaça uma mecha do meu cabelo em sua mão. Seus lábios descem para chupar o meu pescoço,
em seguida para o meu colo, e param nos meus mamilos, onde a ponta da sua língua habilidosa
faz movimentos circulares antes dos seus lábios chupá-los. Arqueio as costas ao sentir seus lábios
sugarem os meus seios como um louco.
Impossível raciocinar com esse homem em cima de mim.
Christopher liberta um dos meus pulsos ao mesmo tempo em que sinto seus beijos molhados
percorrendo o meu corpo. Seus lábios macios alcançam o meu abdômen e distribui beijos,
chupadas e mordidinhas, que provavelmente deixarão marcas.
Minhas mãos livres da sua, vão de encontro ao seu cabelo onde entrelaço os meus dedos,
enquanto suas mãos seguem para o cós do meu shorts, deslizando-o lentamente pelas minhas coxas
e dando leves apertos antes de abri-las, deixando o meu sexo exposto para o seu deleite.
— Hum! — um gemido fraco escapa por entre os meus lábios, revelando que estou
completamente vulnerável às suas investidas.
Vou ao delírio quando os seus lábios alcançam os meus pés e chupa o meu dedão, me fazendo
gemer alto em excitação. Os seus lábios abandonam o meu pé e a ponta da sua língua faz uma
trilha sobre a minha perna, chegando ao meu sexo pulsante. Sua língua percorre o meu clitóris,
fazendo por diversas vezes movimentos lentos de baixo para cima seguida de movimentos
circulatórios, me levando à loucura.
— Ah, Christopher! — deslizo a mão no seu cabelo e agarro uma mecha, puxo a sua cabeça
ao encontro do meu sexo, colando ainda mais seus lábios em minha intimidade. Ele suga o meu sexo
com ânsia, eu não sei se irei conseguir segurar por muito tempo, estou quase chegando ao clímax.
Meu corpo estremece em suas mãos, ele afasta os lábios, deixando um enorme vazio. —
Maldito! — minha voz soa como um sussurro ao notar um sorriso safado em seus lábios.
Seus lábios percorrem o meu corpo fazendo o caminho inverso, depositando selinhos estalados.
— Por que está me torturando dessa forma? — fecho os olhos no exato momento em que o
meu corpo se arrepia ao ouvi-lo sussurrar no lóbulo da minha orelha.
— Você é gostosa, Julha. Doce, perfeita. Nunca em minha vida estive com alguém como você.
Quando diz “alguém”, ele também inclui a minha mãe?
Ele está me comparando a ela?
Que indelicado de sua parte, Sr. Cloney.
Você já deveria saber que em hipótese alguma se compara uma mulher a outra.
E aquilo que ele fez questão de dizer: “Prefiro as mais experientes.” Mudou de ideia?
Pare de pensar e aproveite o momento, Julha!
Um sorriso de satisfação rola em meus lábios com a sua declaração. Ouvir de um homem
experiente como Christopher que mulher nenhuma foi tão boa quanto eu, eleva o meu ego ao nível
máximo.
Seus lábios invadem aos meus em um beijo urgente. Não sei em que momento Christopher tirou
a roupa, quando dou por mim, ele já está nu com o seu sexo duro vindo em minha direção. Uma
mistura de desejo com medo é o que sinto no momento. Eu ainda sou virgem e não tinha me
preparado para esse momento. Christopher não é o tipo de homem com quem eu sonhei para
este momento, mas não dá para negar a excitação que sinto apenas com o seu olhar.
— Por Favor, Christopher, não. — digo quase como súplica para que pare, mas ele parece não
dar ouvidos ao meu pedido e continua a caminhar em minha direção.
— Não faça isso comigo. — engulo em seco. — Você sabe por quanto tempo eu fiquei
imaginando esse momento? Desde o primeiro dia em que coloquei os meus olhos em você. — diz
entre os beijos.
Oi? Como assim, desde o primeiro dia em que me viu?
De novo pensando, Julha Thompson?
Eu quero me entregar a ele, mas estou com medo. Meu medo não é devido a dor que ter
Christopher dentro de mim me causará, mas sim do arrependimento que possa surgir no dia
seguinte. Sou desperta do meu devaneio por seus lábios sugando meus seios avermelhados por
conta das chupadas.
Minha respiração se torna ofegante. Christopher para por um momento e me olha nos olhos.
Não sei se foi impressão minha, mas pude ver em seus olhos que além do desejo, há sentimento.
— Eu quero você.
— Mas, e a minha mãe?
— Esqueça a sua mãe. Eu sei que você quer assim como eu. — engulo em seco e o encaro,
seguido de baixar os olhos, não de vergonha, mas de medo. — Você está com medo? — assinto
com a cabeça sem o fitar. — Então quer dizer que você é…
Não, ele não está me fazendo essa pergunta.
Por que ele simplesmente não me possui e deixa para descobrir pessoalmente.
— Julha, olhe para mim. — pega em meu queixo e ergue para que eu possa encará-lo. —
Não precisa ficar com vergonha, não de mim. — assinto com a cabeça e sinto as bochechas
corarem.
Noto que há uma expressão de satisfação em seu rosto, talvez por ser o primeiro. Ele é como a
maioria dos homens, seu prazer sempre vem em primeiro lugar.
— Não se preocupe, vou fazer com carinho, você não sentirá muita dor. — diz e me dá um
beijo intenso.
Ele se levanta por um breve momento, pega o preservativo que está em sua carteira, rasga o
papel laminado com o dente e o pega, envolvendo-o no seu membro grosso e enrijecido.
Fico sem ar ao vê-lo se juntar a mim lentamente.
— Você irá sentir um pouco de dor, mas o prazer será maior. — sussurra no lóbulo da minha
orelha.
Lentamente ele me penetra e sinto uma dor aguda que parece me rasgar ao meio. Eu gemo,
mas não demoro a me acostumar com o seu pau duro dentro de mim.
— Por Deus! — ele geme com o membro por completo dentro de mim. Christopher me fita,
inquiridor, então assinto com a cabeça, dando-lhe a liberdade de continuar.
Christopher inicia lentamente um movimento de vai e vem, e a dor vai dando lugar ao prazer.
Agarro uma mecha do seu cabelo e gemo alto, enquanto ele captura o meu lábio inferior, chupa e
de dá leves mordidas. As paredes do meu sexo se contraem em resposta às suas investidas.
— Porra, você é tão gostosa! — diz entre os beijos, aumentando a velocidade das suas
estocadas.
— Christopher! — gemo, chamando seu nome.
— Você é minha, Julha.
— Ah, sou sua, somente sua, Christopher.
— Minha, apenas minha.
— Oh, merda! Sua. — digo, enquanto estremeço ao chegar ao orgasmo seguido dele.
Christopher descansa o corpo molhado de suor sobre o meu e deposita um selinho sobre os
meus lábios.
— Machuquei você? — nego com a cabeça.
— Não, só está doendo um pouco, acho que é normal. — dou de ombros.
Ele me olha nos olhos e lança o sorriso mais lindo que eu já vi em toda minha vida. Eu o quero
como nunca quis ninguém.
Ficamos não sei exatamente por quanto tempo abraçados inalando o perfume um do outro.
Nossas respirações ofegantes se misturam com as pulsações que batem descontroladas, mas é
tempo o suficiente para deixar gravado em minha memória cada minuto que vivemos juntos.
Trocamos o lençol da minha cama, que havia uma pequena mancha de sangue, tomamos banho
juntos e depois voltamos para a minha cama, deitamos e logo em seguida, Christopher me envolve
em seus braços em um abraço carinhoso.
Eu nunca imaginei que um dia estaria em seus braços. Sorrio ao recordar de todas as nossas
discussões, e olha onde nós acabamos. Eu sei que nada vai mudar depois do que houve entre nós,
mas também não quero que mude, amo a minha mãe e abrirei mão de tudo pela felicidade dela.
Ele deposita um selinho estalado no topo da minha cabeça. Adormeço perdida em pensamentos
nos braços do meu padrasto.

[…]

Sou desperta do meu tranquilo sono ao som insistente do aparelho telefônico, que toca em meu
quarto sem cessar.
Lentamente, eu abro os olhos, tombo a cabeça para o lado da cama em que horas atrás
Christopher dormira, mas ele já não está mais lá. Apenas o seu perfume gostoso está impregnado
no meu lençol, não deixando dúvidas de que esteve por algumas horas ali. Mesmo que um enorme
vazio invada o meu peito por sua ausência, não vou negar que foi perfeito cada momento que
estive ao seu lado. Sou desperta do meu devaneio com o insistente toque do telefone.
Espreguiço-me, e bruscamente, me viro saindo da cama para atendê-lo, mas paro ao sentir um
incômodo por entre as pernas acompanhado de uma dor aguda, me fazendo recordar da minha
noite passada.
Deus, o que foi que eu fiz?
Deslizo as mãos em meu rosto no exato momento em que sinto o peso da culpa sobre meus
ombros.
Onde estará Christopher?
Precisamos conversar, esclarecer tudo o que houve entre nós na noite passada.
Eu sou mais uma vez desperta do meu devaneio pelo insistente toque do telefone.
Em passos lentos, caminho até a escrivaninha, tiro o telefone do gancho e o atendendo.
— Alô?
— Filha?! — estremeço ao ouvir a voz da minha mãe do outro lado da linha. — Oi, filha!
Ainda estava dormindo? — sua voz soa em reprovação.
Não acredito que ela irá começar com o discurso logo cedo.
Olho para o relógio digital que está na escrivaninha e constato que não é tão cedo quanto eu
imaginava. Havia adormecido mais do que deveria. Já passa das 16 horas.
— Oi, mãe, estou bem, e você? — digo, irônica, tentando fazê-la mudar de assunto.
— Sim, meu amor, estou com saudade. Christopher já está a caminho do Japão e me disse que
você não quis acompanhá-lo.
Como assim, está a caminho do Japão?
— Posso saber o motivo, Julha?
— Porque eu tenho aula? — digo, atordoada. Não escuto muito do que minha mãe fala,
apenas fico imersa em meus pensamentos com o que eu acabei de ouvir. Christopher no Japão. —
Tudo bem, querida. Ada ficará com você e espero que se comporte, voltaremos logo. — encerro a
ligação sem conversar muito com a mamãe e coloco o telefone do gancho com a dor do
arrependimento de ter me entregado a um homem que acreditei ser diferente de todos os outros.
Mas não, estive enganada todo esse tempo. Christopher é igual aos outros.
Mas o que eu esperava?
Flores no dia seguinte?
Café da manhã?
Burra!
Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto junto com uma dor de me sentir usada, enquanto
caminho lentamente até a minha cama, onde me deito e choro agarrada ao travesseiro.
Esse é o preço que estou pagando pelo meu erro.
Como ele pôde?
Como eu pude ser tão burra?
Ele só queria ter o prazer de ser o primeiro a me foder. Que ódio!
Em lágrimas, saio da cama e sigo para o banheiro, faço a minha higiene e tomo um banho
demorado. Deixo a água escorrer sobre o meu corpo, levando consigo a dor de ter sido
enganada. Para a dor do peito, não há remédio, só o tempo. Mas para a dor física, recorrerei ao
auxílio de Ada, que tem sempre um medicamento à disposição.
Saio do box, visto o meu roupão, enrolo o cabelo em uma toalha e sigo para o meu closet.
Opto por ficar de pijama o dia inteiro, não tenho estrutura física e nem emocional para sair de
casa. Visto um baby doll confortável de ursinho que ganhei da vovó em uma das poucas visitas que
lhe fiz. Escovo o meu cabelo até que ouço alguém bater à porta.
— Entre! — eu me viro para a entrada do meu closet e encontro Ane encostada no batente
com os braços cruzados.
Dou um sorriso amarelo e corro em sua direção, dando-lhe um abraço. Não sei o que houve
com a Ane, mas senti muita falta dela.
— O que aconteceu? — pergunta Ane, se afastando do meu abraço e tomando o meu rosto
em suas mãos.
— Senti a sua falta, você não veio mais aqui. — algo aconteceu, posso sentir isso. Ela respira
pesadamente, tomando coragem para colocar para fora o que tanto a aflige.
— Venha aqui, Julha, precisamos conversar. — diz, me puxando pela mão.
Nós nos acomodamos na cama, e por um momento ela me observa, acho que tomando coragem
para falar algo que, com certeza, eu não vou gostar de ouvir.
— Fala logo, está me deixando nervosa! — sei que ela está nervosa, mas eu também estou.
Ela me encara com um olhar entristecido, depois abaixa a cabeça, envergonhada.
— Vou direto ao assunto. Lembra do dia em que estávamos na piscina, eu, você, o Bruno e o
Felipe?
— Sim, o que tem?
— Bom, você e o Felipe estavam juntos, então o Bruno foi ao banheiro e como ele estava
demorando para voltar, fui procurá-lo. Quando eu entrei na sala, Christopher estava lá, sentado no
sofá lendo o jornal, revista, ou algo assim. — ela agora aparenta estar mais nervosa. — Perguntei
a ele se havia visto Bruno e ele veio ao meu encontro e disse que não, mas me ajudaria a procurar
e quando eu menos esperei… Ele me agarrou pela cintura e me beijou. Julha, eu sei que brinco
com o fato de ele ser bonito, mas jamais desrespeitaria a sua casa, a sua mãe e muito menos você.
Eu a encaro, enquanto o meu cérebro processa a informação.
Christopher havia beijado a minha melhor amiga.
Capítulo Quatorze
“— Eu pensei que você fosse ficar brava comigo pelo beijo.”

- Ane Clark.

Burra! Idiota!
Repito para mim mesma diversas vezes. O meu mundo está desmoronando. Eu não acredito que
ele teve a coragem de beijar a minha melhor amiga. Lágrimas de insatisfação escorrem pelo meu
rosto. Dói saber que, em algum momento, estive envolvida por Christopher.
— MERDA! — grito, apoiando a cabeça em minhas mãos e fitando os meus pés. Ane me
observa com uma expressão assustada. Eu não me importo, estou muito irritada.
Com movimentos bruscos, eu me levanto e em passos largos caminho até a janela, onde fico
olhando algumas folhas que cobrem o chão do jardim, tentando entender o que levou Christopher
a tomar uma atitude como essa. Não, isso não é só um pesadelo, por um momento eu achei que…
Ah, deixa para lá, isso só me mostra que eu sempre tive razão com o fato de ele ser um canalha.
— Julha?! — eu havia me esquecido completamente de Ane. Rapidamente, volto a minha
atenção para ela, que me fita com uma expressão aflita. — Eu quero me desculpar. — sua voz
soa falha e visivelmente entristecida. Eu a fito, confusa, com o cenho franzido. — Eu fui uma vadia,
Julha, e me sinto péssima por tudo isso. Esse foi o motivo pelo qual eu me afastei. — ela baixa a
sua cabeça, olhando seus dedos que brincam entre si. — Eu não me senti digna da sua amizade e
frequentar a sua casa, eu… — antes mesmo que ela continue, eu a interrompo.
— Ane, não se desculpe. — eu me aproximo dela.
Sinto a tensão que emana de seu corpo com a minha aproximação e tomo as suas mãos
trêmulas entre as minhas. Ela ergue a cabeça e me olha com uma expressão surpresa.
— Você não está com raiva de mim? — pergunta, me fitando de soslaio.
— Por que eu estaria? — dou de ombros.
De você eu não estou com raiva, mas se eu pudesse iria matar aquele cretino do meu padrasto.
— Eu pensei que você fosse ficar brava comigo pelo beijo. — dá um sorriso amarelo.
— Eu a conheço muito bem e sei que não teve culpa. — digo, sendo sincera.
— Fico aliviada em ouvir isso de você. Eu fiquei com tanto medo que não entendesse.
— Você só foi mais uma vítima. — solto as suas mãos e me sento na cama ao lado dela.
— Eu não entendi. — ela me fita com o cenho franzido. — Julha, do que você está falando?
— respiro pesadamente.
— Nós transamos! — eu me viro para ela e cuspo as palavras.
Ane congela com a minha revelação e abre os lábios na intenção de se pronunciar diante das
minhas palavras, mas desiste e volta a fechá-los. Penso que, para o que aconteceu entre mim e
Christopher, não tem o que dizer. Não a julgo por isso, afinal, qual pessoa em sã consciência iria
para a cama com o próprio padrasto?
Oh, Deus! Que merda eu tenho feito da minha vida?
— Vocês? — pergunta, surpresa.
Faço sinal de concordância com a cabeça.
— Sim, nós transamos.
— Meu Deus, Julha, eu não sei o que dizer.
— Pode dizer, Ane, estou preparada para ouvir. Não irei julgá-la se você estiver me vendo
como uma vadia.
— Hei, não diga isso! Sei que o que você fez não foi correto, mas acredito que tenha se
entregado por talvez estar apaixonada. — assinto com a cabeça com lágrimas escorrendo pelo
meu rosto.
— Eu estou muito, muito arrependida. Fui fraca, eu sei, deveria ter negado, mas foi mais forte
que eu. — coloco as mãos sobre o meu rosto, envergonhada.
— Não fique assim. — Ane me envolve em seus braços em um abraço reconfortante. —
Aconteceu, Julha, e olha, não se preocupe, isso ficará entre mim e você, okay? — assinto com a
cabeça. — Ele é sedutor, qualquer mulher se renderia aos seus encantos, poderia acontecer com
qualquer uma. — diz, tentando amenizar a minha culpa.
Impossível, apenas o tempo ajudará a amenizar a dor do sofrimento.
— Mas eu não poderia. Eu não sou qualquer outra, Ane. Eu traí a minha mãe! Ela não merece
isso. — fungo e volto a encará-la.
— Amiga… — ela toma o meu rosto em suas mãos. — Você não teve culpa. — desliza seus
polegares em cada lado do meu rosto, secando as minhas lágrimas. — Venha, deite aqui, você
precisa descansar. — ela pega a minha mão e me puxa até alcançarmos os travesseiros.
Eu me deito e Ane faz o mesmo, depois me envolve em um dos seus braços, enquanto a outra
mão afaga o meu cabelo.
— Dói tanto! — choro por tudo o que aconteceu, por ter sido fraca, por ele ter ido ao
encontro da minha mãe e por ele ter beijado Ane.
— Eu sei que dói, querida. — ela me consola.
Eu me apaixonar por ele é o que não poderia ter acontecido, mas aconteceu.
Não, Julha, você não está apaixonada por ele.
Depois de passar algum tempo chorando nos braços da minha amiga, eu adormeço
tranquilamente.

[…]

Acordo quando a noite já havia caído e constato o horário no relógio que está sobre o criado-
mudo ao lado da cama. Já passa das 19horas, e mais uma vez eu havia adormecido mais do que
pretendia. Olho para o lado em que Ane estava e não a encontro. Sem ter a mínima ideia de onde
ela possa ter ido, eu vou até o banheiro e prendo o meu cabelo desgrenhado em um coque frouxo.
Olho a minha imagem através do espelho e vejo que estou horrível. Se alguém me vir assim, não
terá dúvidas de que passei horas a fio em lágrimas.
Fico alguns minutos olhando a minha deprimente imagem no espelho e pensando em tudo o que
havia acontecido, então, escolho não sofrer. Escolho esquecê-lo e fazer de conta que não houve
nada entre nós, tudo irá voltar a ser como sempre foi, nos odiando como nunca deveria deixar de
ser. Vai ser melhor para todo mundo.
Encaminho-me para o box após tirar o baby doll, e fica evidente o que houve entre mim e
Christopher quando sinto o incômodo no meio das minhas pernas.
Meu sexo está dolorido e só então me dou conta de que preciso de um comprimido para aliviar
a dor. Tomo um banho rápido, visto o roupão, calço as minhas pantufas preferidas e saio do
quarto. Em passos lentos, desço as escadas, atravesso a sala de jantar e sigo até a cozinha a
procura de Ada.
— Ada! — chamo por ela.
Adentro a cozinha e a encontro junto com Ane, que preparam algo no fogão.
— Oi, meu amor. — ela se vira para me fitar melhor. — Como você está? Ane me disse que
você adormeceu porque estava indisposta e com um pouco de dor de cabeça. — diz Ada ao me
ver aproximar.
— É, acho que é gripe. — digo sob os olhos de Ane, que acabara de me dar uma piscadela
em sinal de cumplicidade. Eu me sento no banco que fica na bancada.
— Então está bem, querida, vou lhe dar um remédio para que melhore. — ela se dirige para
a última parte do armário, pega uma maleta de primeiros socorros e de lá retira uma cartela com
quatro comprimidos. Ane pega um copo com água e vem na minha direção.
— Pronto, querida, isto aqui irá aliviar a sua dor. — engulo o comprimido que Ada me dera e
em seguida bebo um pouco da água do copo.
— Obrigada! — agradeço e lhe entrego o copo.
— Não agradeça, meu bem, esse remédio lhe fará bem. Foi o doutor Fernandez que passou
para você quando veio visitá-la naquela noite horrível. — menciona, quando eu desmaiei na noite
em que perdi papai. Assim que recobrei a consciência aquele dia, uma forte enxaqueca me atingiu,
então o doutor Fernandez me receitou esse comprimido.
— Se a dor persistir, vamos ao médico. — Ada diz.
— Concordo com Ada. Não é seguro ficar se medicando em casa. — concorda Ane.
— Não vou precisar ir ao médico, esse remédio será suficiente. — eu digo para não deixar
Ada ainda mais preocupada. — Bom, estou faminta. O que vocês estão fazendo? — pergunto,
enquanto fico de joelhos sobre o banco, tentando ver o que elas estão fazendo.
— Seu prato predileto. — diz Ane, e logo um largo sorriso de satisfação se forma em meus
lábios. Fico observando as duas prepararem o X-Burger com batata-frita.
Depois de prontos, eu e Ane levamos os nossos lanches para o meu quarto e colocamos um
filme de comédia para assistirmos. Confesso que até queria ver um de romance, mas Ane se
recusou, disse que por um bom tempo não veríamos filmes desse gênero.
Algum tempo depois do filme ter começado, o meu celular começa a tocar, me desconcentrando.
Eu pego o aparelho no criado-mudo, deslizo a tela e vejo o nome de Felipe. Penso que o melhor a
fazer é não atender, não estou em condições de falar com ninguém.
Sei que também tenho que ligar para Dchek. Preciso saber como ele está, afinal, toda a
confusão se deu por minha culpa. Ele não queria entrar, eu insisti. Mas como poderia imaginar que
o estúpido do meu padrasto teria uma atitude como aquela.
Está decidido, amanhã ligarei para Dchek e irei me desculpar.
Eu e Ane já tínhamos assistido a uns três filmes e passava das duas horas da madrugada,
quando decidimos descer e fazer algum doce.
Ane é uma grande amiga. Ela deixou de sair com Bruno para me fazer companhia, e depois
ligou para os pais dizendo que iria dormir comigo. Fizemos a maior bagunça na cozinha, tenho
certeza que Ada ficará uma fera amanhã. Depois de nos deliciarmos, voltamos para o meu quarto
e dormimos.
Capítulo Quinze
“ Você é louco, eu odeio Christopher, mas tenho que concordar com ele, você é um moleque. Passar
bem.”

- Julha Thompson.

— Droga! — esbravejo no exato momento em que o meu despertador toca.


Depois de tudo o que havia acontecido no dia anterior, eu tinha me esquecido de desligá-lo. E
lá está ele, sem falhar, todos os dias da semana, às seis horas da manhã, me recordando das
minhas obrigações.
Em um sobressalto, eu me coloco para fora da cama e ainda com os olhos embaçados,
cambaleio até o criado-mudo que está do lado em que Ane dorme.
Agradeço mentalmente aos céus por minha amiga estar em um sono profundo, ou teria que
passar boa parte do dia ouvindo-a reclamar do som irritante do despertador. Sorrio com o meu
pensamento, enquanto sigo para o banheiro.
Faço a minha higiene matinal, tomo um banho rápido, saio do box vestindo o meu roupão
felpudo rosa, pego uma toalha e enrolo em meu longo cabelo. Por um momento, eu paro diante do
espelho, fito a minha imagem, e pela primeira vez em todos esses anos, eu me vejo de uma
maneira diferente. Não sei exatamente como, mas sinto que algo dentro de mim mudou.
Eu sou uma garota de 17 anos, perto de atingir a maioridade, que tem uma vida inteira pela
frente repleta de sonhos para serem realizados. Não quero me envolver com alguém e parar a
minha vida, ou deixar os meus sonhos em segundo plano por causa de uma transa maravilhosa com
um babaca que não se importa.
Respiro pesadamente no exato momento em que os pensamentos da noite passada invadem a
minha mente.
Deus, que homem é esse?
Christopher é o tipo de homem que se você tiver a oportunidade de ser possuída por ele, passe
o tempo que passar, jamais esquecerá. Meu corpo incendeia ao me recordar de suas fortes mãos
deslizando por ele. Minha boceta umedece com a recordação.
Foi insano me entregar a ele?
Sim, foi, mas mesmo que ele tenha fugido de mim como um covarde, ainda assim eu não vou
negar que gostei de estar entre os seus braços. Assim, como ele, eu também quis muito que
acontecesse, mas ele me pegou de surpresa com a sua atitude. Eu não imaginaria que ele fosse
sair sem ao menos se despedir.
Pensando bem, acredito que tenha sido melhor assim. Mesmo que ele não fosse casado com a
minha mãe, não daríamos certo. Não por conta da nossa diferença de idade, eu pouco me importo
com isso, mas pelo fato de nos detestarmos, pelo menos era isso que eu imaginava.
— Droga! — sussurro, cansada e espalmo as mãos sobre a bancada de mármore da pia.
Ficar lamentando o que aconteceu não ajudará em nada a resolver os meus problemas. Eu
tenho que seguir em frente e esquecer, isso é o melhor a fazer.
Da minha maneira, escovo o meu cabelo e o prendo em um rabo de cavalo no alto da cabeça.
Em passos largos, sigo para o closet, analiso pela última vez a minha imagem através do espelho,
que não é das melhores, mas que melhorou muito. Vou até a gaveta das minhas lingeries, escolho
para vestir uma calcinha modelo línea algodão e um sutiã do mesmo material, rosa bebê, jovial,
como eu sou. Gostaria de escolher uma vermelha, fatal, se neste momento eu me sentisse como uma
mulher fatal, ou preta, em luto, ao sentimento que não sei em que momento cresceu dentro de mim
por Christopher, caso eu o tivesse matado. Mas nenhuma dessas opções se encaixa no meu estado
de espírito neste momento, com exceção, é claro, do rosa bebê.
Em poucos passos, estou na parte onde ficam pendurados todos os meus vestidos e não demoro
a escolher um tubinho estampado. Vou até a sapateira e pego um par de sapatilha na cor gelo,
passo o meu perfume preferido com aroma de cereja e faço uma maquiagem simples para
esconder as olheiras, pó, lápis, delineador e gloss.
Olho-me através dos grandes espelhos da porta do closet e gosto do que vejo. Para uma
garota da minha idade que não se importa, ou importava, com maquiagens, não está nada mal. Eu
nunca fui assim. Antes da morte de papai, eu era bastante vaidosa, claro que nada exagerado
como a dona Katherine, mas depois da sua partida, eu não via mais motivos para me maquiar, ir às
festas, eu evitava fazer tudo o que ele gostava em mim. Essa foi a única maneira que encontrei
para amenizar a dor da falta que sinto dele. Rapidamente, eu seco uma lágrima pesarosa que
escorre pelo meu rosto.
Agora estou aqui, voltei a fazer tudo que nesse um ano da sua partida eu não fazia. Hoje é
diferente, não quero impressionar meu pai para que tenha orgulho de mim, para que me ache a
garota mais bonita do mundo, mas eu quero impressionar alguém que eu odiava até pouco tempo
atrás.
Meu Deus, isso é loucura.
Levemente, eu chacoalho a cabeça, afastando para longe os meus pensamentos, enquanto
termino de fechar as portas do closet e saio, sem fazer barulho para não acordar Ane.
Saio do meu quarto, fechando vagarosamente a porta atrás de mim, desço as escadas e sigo
para a sala de TV, muito bem decorada por mamãe. Adentro a sala e pego o controle da
televisão, que está na mesinha de centro, me jogo no sofá e por um momento, eu me pego
novamente perdida em pensamentos.
Acredito realmente que os opostos se atraem. Papai nunca foi um homem ambicioso, nunca ligou
para móveis, viagens caras, roupas. Mesmo tendo nascido em uma família bem-sucedida, papai
sempre teve em sua mente que família é o mais importante. Diferente de mamãe, que sempre quer
os lançamentos, seja de roupas, sapatos, joias, carros, tudo, antes mesmo de irem para as lojas.
Papai não reclamava, mas acredito que isso não o deixava feliz. Eles se amavam e papai sempre
cedia aos caprichos dela por amá-la muito.
— Julha? — sou desperta do meu devaneio ao fitar Ada à minha frente com o cenho franzido.
— Oi, Adinha. — dou-lhe um sorriso amarelo com o canto da boca.
— Está tudo bem? Você está melhor, querida?
— Melhor? — eu a fito, confusa.
Do que ela está falando?
— Sim, Julha, ontem eu lhe dei um comprimido… — eu a interrompo ao me recordar da noite
passada.
— Ah, sim, eu… Eu estou. — gaguejo. Ela ainda me fita intrigada.
— Tudo bem, eu vou colocar o café na mesa. — sorri.
— Eu vou ficar por aqui assistindo a um filme, então, quando Ane acordar nós vamos tomar
café juntas.
— Como quiser querida. — ela diz, saindo, mas para quando se recorda de algo e volta a me
olhar. — Ah, eu já ia me esquecendo. Ontem de manhã, o Sr. Cloney foi para o Japão encontrar a
sua mãe. Ele não disse quando iria voltar.
— Estou sabendo. Quem se importa. — digo, desanimada, dando de ombros, fingindo não me
importar, mas a quem eu quero enganar?
— Julhinha, não seja mal-educada. Até quando você irá se comportar dessa forma?
— Até que eu consiga fazer com quem a minha mãe se separe dele. — rio, irônica.
— Menina, não diga isso. Você deveria estar feliz pela sua mãe.Saiba que ela fica entristecida
com a forma que você trata o Sr. Cloney.
— Só retribuo o carinho com que ele me trata.
— Já vi que não adianta discutir com você. Você parece o seu pai, cabeça dura.
— Eu também amo você, Ada. — provoco, brincalhona.
— Ah, só mais uma coisa. Ontem, um rapaz chamado Felipe ligou para você. Ele disse que era
um amigo seu. — ela dá de ombros. — Pediu para que você retornasse a ligação assim que
possível.
— Depois eu ligo para ele. Obrigada, fofinha! — ela me fita com os olhos cerrados, fingindo
uma falsa irritação. Eu gargalho. — Eu te amo! — grito, enquanto ela sai.
— Eu também amo você, querida. — eu a ouço dizer.
Depois de alguns minutos escolhendo o filme que eu quero ver, por fim acabo decidindo por um
de terror. A Casa de Cera. Ainda não vi esse filme, mas segui a sugestão das minhas amigas que já
assistiram e recomendaram.
Concentro-me no filme que acabou de começar, mas eu o pauso quando escuto o aparelho
telefônico tocar. Estendo a mão até a pequena mesa onde fica o telefone, ao lado do sofá, eu
pego o telefone sem fio, sem olhar para o identificador de chamadas.
— Alô?
— Julha? — a voz levemente rouca do outro lado da linha diz.
— Quem deseja? — pergunto e não confirmo que sou eu. Não sei quem é, então o melhor é
manter o anonimato.
— Sou eu, Dchek. Graças a Deus! — respira fundo. — Você está viva. — reviro os olhos para
o seu comentário.
O que o faz acreditar que eu não estaria?
— Não deveria estar?
— Não é que não deveria, mas a forma como o meu tio… — ele diz a palavra tio com um
leve ranger de dentes. — Me tratou, pensei que ele tivesse feito algo a você.
— Não se preocupe, estou bem. Agora me fale de você. Como se sente? Eu sinto muito por
tudo.
— Não se preocupe. Meu rosto ainda está roxo, mas vou ficar bem. Para os meus pais, eu disse
que foi uma briga de rua, acho que acreditaram, pois desistiram da ideia de fazer uma denúncia
contra o homem, que não existe, que tive que descrever.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, você não teve culpa. E ele, onde está?
— Foi para o Japão ao encontro da minha mãe. Graças a Deus. Não suporto ficar muito tempo
no mesmo ambiente que esse homem.
— Bom, eu sei que o que vou perguntar pode parecer estranho, mas é que a atitude do meu
tio me deixou com um ponto de interrogação.
— Não sei aonde você quer chegar.
— Julha, você e meu tio têm algo?
— O quê? — falo mais alto do que realmente pretendia. Será que é tão evidente? — Você é
louco? De onde tirou isso?
— Me desculpe, mas é que o comportamento dele em relação a você…
— Você é louco. Eu odeio Christopher, mas tenho que concordar com ele. Você é um moleque.
Passar bem. — digo, desligando o telefone.
Fico alguns minutos parada tentando digerir o que Dchek acabou de dizer.
Será que ficou tão evidente o que sinto por ele?
Então foi por isso que Christopher fugiu?
Afasto para longe os pensamentos, pego o controle, aperto play e o filme volta a passar.

[…]

Após o término do filme, sinto a minha barriga avisar que eu não havia comido nada ainda,
mas então me lembro de que tenho que ligar para o Felipe, que atende no segundo toque.
— Oi, gata. Senti a sua falta. — diz ao atender.
— Como sabe que sou eu? — pergunto com um largo sorriso de satisfação nos lábios de
satisfação.
— Porque faz exatamente… — para por um momento como se tivesse se certificando de algo
e continua. — Uma hora que estou ao lado do telefone esperando ansioso a sua ligação. Ah, claro,
como eu poderia me esquecer, o seu número está gravado no meu coração e no telefone de casa.
— meu peito se contrai de felicidade ao ouvir as palavras de carinho.
Felipe é bonito, gentil e carinhoso, completamente diferente, tirando a parte do bonito,
obviamente, do homem por quem estou ridiculamente apaixonada.
— Desculpe-me por tê-lo feito esperar tanto. Eu estava assistindo a um filme.
— Está desculpada.
— Obrigada pela compreensão. — digo, irônica.
— Disponha. — é como se eu pudesse vê-lo sorrir.
— Como você está? E o que você me conta de novo?
— Bom, respondendo à sua pergunta de como estou: estou com saudades de você, e
respondendo a outra sobre novidades, além de estar loucamente apaixonado por você, não tenho
nada de novo, e você? Tem algo a me dizer? — sou pega de surpresa com a sua declaração.
Felipe é muito maduro para a sua idade, e eu estaria muito feliz com a sua declaração se já
não estivesse envolvida pelo idiota do meu padrasto.
— Ju, você ainda está aí? — sou desperta do meu devaneio ao ouvir a sua voz levemente
rouca me chamando para a realidade.
— Sim, e-eu estou. — gaguejo. — Eu não tenho nenhuma novidade para contar. — minto.
— Impossível que uma garota de presença tão requisitada em festas não tenha o que me
contar. Mas tudo bem, não quero parecer chato, insistindo. Vamos almoçar no shopping? Depois
podemos ir ao cinema, e talvez, para fechar o dia, a um parque de diversão que chegou à
cidade. O que acha?
— Tô dentro! — aceito o convite sem nem pensar. Vai ser bom me distrair um pouco, ficar em
casa me martirizando pelo o que houve entre mim e Christopher não vai me fazer bem.
Encerro a ligação logo depois de acertar os detalhes com Felipe sobre o nosso passeio.
Levanto-me e sigo para a cozinha, mas paro no exato momento em que vejo a minha amiga
descendo as escadas com os olhos inchados de tanto dormir.
— Bom dia! — digo, dando um beijo estalado em seu rosto quando ela se aproxima,
envolvendo os seus braços em volta da minha cintura.
— Bom dia, gata. De pé logo cedo? — pergunta, passando o seu braço em volta do meu.
Assinto com a cabeça enquanto seguimos para a cozinha.
— Como se sente? Melhorou da gripe? — pergunta com um sorriso sarcástico nos lábios.
Eu a fito com uma jogada de cabeça para o lado. Penso em rebater a sua provocação, mas
desisto, não por me dar por vencida, mas sim pensando em lhe dar uma trégua.
— Bom dia, meninas! — Ada nos cumprimenta com o seu habitual sorriso nos lábios.
— Bom dia, Adinha! — Ane a cumprimenta.
Um silêncio se forma no ambiente enquanto eu me sirvo de algumas panquecas com mel, suco
de fruta natural e Ane passa manteiga em sua torrada.
Olho para Ane, que me fita com um olhar solícito, enquanto dou uma garfada em minha
deliciosa panqueca. Ela me conhece bem, sabe que estou me sentindo usada. Mas não posso
deixar uma foda mudar a minha vida.
— O que você vai fazer hoje? — pergunto, bebericando o meu suco.
— Vou almoçar na casa da minha tia Lorraine. Quer ir? — faço uma careta em negação.
Ela sorri, divertida. Eu sei que Ane está me convidando apenas por educação, já que, assim
como eu, Ane não simpatiza muito com a tia. Ela sempre faz questão de enfatizar que a filha,
Caroline, é melhor que Ane em tudo, e isso às vezes a deixa irritada, e foi o motivo de muitas
discussões com os seus pais.
— Obrigada pelo convite, mas já marquei de almoçar com o Felipe. — rapidamente ela
levanta o rosto e me fita minuciosamente.
Ane arqueia as sobrancelhas com um largo sorriso nos lábios.
— Isso ainda vai acabar em namoro. — diz, irônica. Eu mostro a língua e franzo a testa em
reprovação ao seu comentário.
— Estamos apenas nos conhecendo. Você e a sua mania de apressar as coisas. — ela ri alto,
chamando a atenção de Ada, que acaba de entrar na cozinha. Eu nem sei em que momento ela
havia saído.
— Posso saber da piada? Quero rir também. — diz, seguindo para a pia.
— São bobagens de Ane, Ada, não dê ouvidos. — Ane me fita e aproveitando que Ada está
virada para a pia, me mostra o dedo do meio. Agora é a minha vez de gargalhar.
Logo após o nosso café, que foi regado com divertidas histórias de Ada em sua adolescência,
Ane e eu nos levantamos, seguimos para a pia e colocamos a louça que havíamos usado para ser
lavada. Dou um abraço em Ada, que retribui o carinho me dando um beijo no rosto.
— Ah, Adinha, não precisa fazer almoço. Vou comer no shopping com um amigo. — já estou
preparada para ouvir as suas broncas. Ela me encara com os olhos cerrados e coloca as mãos na
cintura.
— Por que vocês, jovens, têm essa mania de comer fora de casa? — antes que eu use o meu
argumento de defesa, ela continua. — Olha, Julha, toma cuidado com o que você anda comendo
por aí. Estou te achando muito magrinha e não se alimenta corretamente, isso pode causar uma
anemia profunda. — reviro os olhos com o seu exagero.
Ane, claro, sarrista como ela só, não iria perder a oportunidade de me zoar.
— Que nada, Adinha, olha como a menina está gorda. — diz, fazendo com que Ada me olhe
minuciosamente. Coitada de Ada, sem entender nada, dá de ombros. — Sabe o que é isso? Eu te
digo, minha querida Ada. São os efeitos das porcarias que ela come na rua. — sem pensar duas
vezes, dou um tapa em seu ombro em reprovação. Filha da mãe. Dizer essas coisas só faz com que
Ada fique ainda mais no meu pé. Preciso reverter logo essa situação.
— Rá rá rá, muito engraçado, Srta. Ane. — digo e a encaro com os olhos cerrados. Ela
comprime os lábios, impedindo que um riso divertido saia.
— Olha aqui, Julhinha, Ane tem razão. Se você não começar a se alimentar direito, vou ter uma
conversa séria com a sua mãe. — diz, autoritária.
Ah, ótimo, levar uma bronca da minha mãe é tudo do que eu não preciso agora. Estou me
sentindo uma criança no jardim de infância.
— Prometo que a partir de amanhã eu começo uma alimentação saudável.
— É o que eu espero! — diz, ríspida.
Dou um beijo em seu rosto e puxo Ane pelo braço para sair, arrastando-a dali antes que ela
continue dando com a língua nos dentes.
Despeço-me de Ane, que foi para o seu almoço em família, e subo subir para o meu quarto.
Decido não trocar de roupa, apenas dou alguns retoques na minha make, pego o meu celular e
guardo dentro da bolsa. Dou uma última olhada no espelho. Sou desperta do meu devaneio
quando ouço Ada adentrando o meu quarto me informando que Felipe já está me esperando.
Capítulo Dezesseis
“— Claro, vamos. Eu tenho grandes planos para nós no dia de hoje.”

- Felipe.

Pego a minha bolsa de alças finas, passo pelo pescoço colocando-a de lado, dou um beijo
rápido em Ada, que me fita com os olhos cerrados, e desço as escadas para me juntar a Felipe,
que ao notar a minha aproximação, rapidamente se coloca de pé acompanhado de um sorriso nos
lábios.
— Bom dia! Você está linda. — diz, vindo ao meu encontro. Ele me cumprimenta com um beijo
no rosto, seu perfume me inebriando.
Não posso deixar de notar o quão bonito ele está. Vestido em uma camisa branca, bermuda
jeans branca, calçado em seu tênis de grife e na cabeça um boné de uma marca famosa.
— Bom dia e obrigada! — sorrio. — Você… — percorro os olhos por todo o seu corpo. —
Está muito bonito. — volto a minha atenção para o seu rosto, que me fita atentamente.
— Obrigado! — sua mão vem de encontro ao meu rosto e o polegar desliza por minha
mandíbula em um gesto carinhoso. Fecho os olhos e sinto o toque macio sobre a minha pele.
Eu estou ciente dos sentimentos que Felipe nutre por mim, gostaria de poder correspondê-los na
mesma proporção, mas infelizmente meu coração fez a escolha errada.
Rapidamente, eu me afasto do seu toque quando a imagem da minha noite ao lado de
Christopher vem à minha mente.
— Er… Eu estou pronta, quando quiser podemos ir. — dou um passo para trás e Felipe me
fita, confuso e com o cenho franzido, mas nada diz, apenas assente com a cabeça.
— Claro, vamos. Eu tenho grandes planos para nós no dia de hoje. — ele se aproxima de mim,
passa o braço em volta da minha cintura e saímos a caminho do seu carro estacionado em frente à
minha casa.
— Belo carro. — digo ao notar a sua Ferrari estacionada ali.
— Obrigado! — sorri e dá um leve aperto em minha cintura. Engulo em seco. — Meu pai é
muito generoso. — ele diz enquanto abre a porta do carro para que eu tome meu lugar no banco
do passageiro. Coloco o cinto.
— Realmente, ele é muito generoso. Dar uma Ferrari de presente não é para qualquer um. O
que você fez para conseguir? — rio, irônica.
— Vamos mudar de assunto, eu não quero aborrecer você com isso. — ele me fita com um
largo sorriso nos lábios, mas não deixo de notar seu olhar triste. Ele volta a atenção para a
estrada.
Não levamos muito tempo para chegar ao shopping. Após deixar o carro no estacionamento,
Felipe entrelaça a sua mão na minha, o que me deixa um pouco incomodada, mas não digo nada,
apenas aceito e seguimos para dentro do shopping.
Andamos por alguns minutos apenas observando as vitrines de algumas lojas, o que me faz
recordar de papai, que algumas vezes me acompanhava em um desses passeios onde nos
divertíamos muito.
Seguimos para a praça de alimentação, onde almoçamos, e logo em seguida vamos para o
cinema, e por sorte conseguimos pegar uma sessão que começa em vinte minutos. Um filme de
comédia não estava nos nossos planos, mas para que tudo saia como Felipe havia planejado,
assistimos ao filme.
Eu não nutro por Felipe o mesmo sentimento que ele tem por mim, mas gosto dele, da sua
companhia. Além de possuir uma beleza invejável, Felipe é carinhoso, divertido e seria a pessoa
ideal para eu me relacionar, claro, se eu já não estivesse envolvida por meu padrasto, que é
completamente diferente dele.
Mas o que eu posso fazer se meu coração resolveu escolher a pessoa errada?
Quando saímos do cinema, a noite já havia caído. Seguimos a caminho do parque de diversões,
que não fica longe dali. As luzes dos brinquedos estão todas acessas, as pessoas animadas.
— Faz tanto tempo que não venho a um parque de diversões. Já não me recordava de como
poderia ser divertido. — rio enquanto os meus olhos percorrem todo o parque.
— Que bom que acertei no passeio. — dá uma piscadela em sinal de cumplicidade.
Por muita insistência de Felipe, brincamos em alguns das dezenas de brinquedos que há no
parque. Roda-gigante, montanha-russa, e depois comemos maçã do amor, algodão doce e pipoca.
Recordar os momentos da minha infância vivida em um parque de diversões com meu pai me
faz muito feliz. Olhar algumas crianças correndo felizes com seus pais me faz sentir inveja, claro,
uma inveja saudável dessa minha época.
Papai era tão vívido. Corria atrás de mim todas as vezes que me informava que o carrossel
era o meu último brinquedo e que depois iríamos embora, e eu me negava. Sempre queria mais,
mais e mais.
Andando pelo parque, aquele mesmo vento que cortava o meu rosto e jogava o meu longo
cabelo para trás quando eu tinha apenas seis anos de idade se faz presente, mas com uma única
e dolorosa diferença, papai não está mais entre nós.
— Está tudo bem? — a voz rouca de Felipe me tira do meu devaneio.
Rapidamente, eu seco uma lágrima que eu nem sabia que estava segurando. Volto a minha
atenção para ele, que me fita atentamente, e assinto com a cabeça.
— Sim, estou. — rio e volto a fitar as crianças se divertindo com as suas famílias.
Eu era muito feliz, sim, era. Mesmo que a maior parte do tempo mamãe e papai passavam
trabalhando, os poucos, e não menos importantes, momentos que tivemos juntos como uma família
normal, eu fui feliz.
Sinto saudade de tudo, até mesmo quando Ada implicava com a minha alimentação. Sempre foi
assim, desde quando eu era pequena e papai vinha ao meu socorro.
Um largo sorriso se forma em meus lábios ao me recordar do que Ada havia dito mais cedo.
Ela continua a mesma Ada, mandona e superprotetora de sempre.
— Daria o mundo para saber quem é o motivo desse sorriso. — sou desperta do meu
devaneio ao sentir um braço envolver a minha cintura. Felipe.
Com uma de suas mãos macias, ele toca suavemente o meu queixo, e me pegando de surpresa,
vira o meu rosto em direção ao seu para melhor me fitar e rouba um selinho estalado.
Rio, tímida, com a sua atitude e desvio meu olhar do seu, envergonhada. Sinto as minhas
bochechas queimarem e sei que que devo estar parecendo um verdadeiro tomate maduro.
Encaro o saco de pipoca em minhas mãos, evitando olhar para ele.
— Ju?! — chama a minha atenção para si.
— Ah, claro, me desculpe. — dou um sorriso amarelo com o canto da boca.
Droga, estou constrangida. Ele me olha, esperando uma resposta. Eu poderia mentir para
afastar essas lembranças para longe, mas se estou disposta a dar uma chance para mim e Felipe,
a mentira não é a melhor maneira.
— Ah, não é nada. — digo enquanto caminho lentamente pelo parque. Ele me segue. — Eu só
estava me lembrando do que Ada havia me dito hoje pela manhã, antes de você passar em
minha casa para me pegar. — jogo uma pipoca em minha boca e volto a fitá-lo. A sua expressão
confusa, misturada com as mãos nos bolsos de sua bermuda descolada o deixa ainda mais lindo.
— Ela reclamou que eu não tenho me alimentado corretamente. — reviro os olhos. Ada me trata
como se eu ainda tivesse seis anos de idade. Ele está rindo…
Ele está rindo de mim?!
É óbvio, não é mesmo, Julha?
Você está contando para um garoto como a sua eterna babá ainda a trata.
— Se ela estivesse me vendo comer todas essas bobagens, você não estaria rindo neste
momento. — jogo outra pipoca na boca.
O seu sorriso morre e sou eu quem rio da sua expressão assustada. Felipe bate levemente o
ombro no meu.
— Não tem a menor graça.
— Você estava se divertindo, pelo que eu saiba. — ele aperta levemente a minha cintura entre
o polegar e o indicador, me fazendo cócegas. — Pare já com isso. — digo, séria, fingindo uma
falsa irritação.
— Quer dizer que eu levo você para o mau caminho? — diz, acompanhado de um sorriso
irônico.
Pegando-me de surpresa, enlaça a minha cintura e me envolve em seus braços. Damos um, dois,
três passos e sinto minhas costas contra uma madeira firme e sei que se trata de uma árvore.
— Ada acredita que sim, mas ela é uma senhora exagerada, não leve para o lado pessoal. —
passo os braços em volta do seu pescoço.
— Isso é ruim? Me diga, porque se for, darei um jeito de mudar. Eu só não posso e não quero
te perder. — Deus! Felipe estava mais envolvido do que eu imaginava. Ele coloca a perna por
entre as minhas coxas, aproximando mais os nossos corpos.
— Não se preocupe, desde que você cumpra as ordens de Ada. — rio.
Seus olhos estão sobre os meus e vejo um brilho diferente neles. Desejo? Carinho? Amor, talvez?
Engulo em seco com a possibilidade de Felipe nutrir por mim um sentimento maior do que eu
sinto por ele. Eu não o amo, meu coração já possui um dono do qual eu devo manter total
distância. Eu gosto da companhia de Felipe, gosto de ficar com ele. É uma forma errada de mudar
o que sinto pelo meu padrasto? Sim, é. Mas continuar alimentando um sentimento que me levará à
ruína é loucura. Lutar por alguém que jamais deveria passar em meus pensamentos é insano.
— Eu gosto muito de você, Julha. — diz, aproximando os lábios dos meus.
— Felipe, eu…
— Shhii… Não diga nada. — ele pousa o dedo indicador sobre os meus lábios como quem
está pedindo silêncio.
Felipe aproxima os lábios dos meus em um beijo calmo, explorando minuciosamente cada canto
da minha boca. Seu beijo é um misto de desejo e paixão. Foi por causa desse beijo que prometi a
mim mesma que daria uma chance para nós, uma chance de fazer o que é correto. Talvez, Deus
tenha me dado a chance de consertar a burrada que fiz e farei como tem que ser.
Seu beijo é gostoso, não tanto quanto o de Christopher, mas ainda assim tem um beijo quente e
envolvente.
— Vamos embora? — peço quando paramos o beijo.
— Claro, minha linda. Como você quiser. — acaricia a minha mandíbula.
Seguimos para o carro estacionado do outro lado da rua. Ele gentilmente, mais uma vez, abre
a porta de sua Ferrari para mim.
— Obrigada!
— Disponha.
Aconchego-me no banco do passageiro seguido de ele tomar seu lugar no banco do motorista.
Felipe coloca o carro em movimento a caminho da minha casa em uma conversa animada sobre
o meu último ano na escola e o que pretendemos para um futuro não muito distante.
Olho os movimentos de Felipe, que conversa animado, e é assim que tem que ser, Felipe e eu
juntos, temos tudo a ver. Temos a mesma idade, não que eu tenha algum tipo de preconceito com
idade, cor, religião, ou algo assim, mas por Christopher ser o homem por quem a minha mãe é
apaixonada.
Deus, onde eu estava com a cabeça?
Vejo a imagem de tudo o que aconteceu entre mim e Christopher passar como um filme em
câmera lenta em meus pensamentos, até que sou desperta do meu devaneio pelo toque estridente
do meu celular, que eu nunca me lembro de baixar o volume. Felipe desvia a atenção da estrada
por um momento e me fita com o cenho franzido.
— Me desculpa.
Ele sorri e assente com a cabeça, voltando a atenção para a estrada, enquanto resgato o meu
celular de dentro da bolsa. Deslizo a tela e estremeço ao ver o nome do meu padrasto.
Christopher chamando…
Por um momento tento ignorar a ligação.
Depois de tudo o que houve, ele ainda tem a audácia de me ligar?
Para o meu alívio, a ligação cai, mas não demora a voltar a me importunar.
O que ele quer comigo?
Ele é a última pessoa com quem eu pretendo falar nesse momento.
Ignoro a sua chamada mais uma vez.
Coloco o celular dentro da bolsa novamente e volto a minha atenção para Felipe, que me conta
sobre um bonito cachorro que acabou de ver na rua.
Christopher é insistente.
— Não vai atender? — pergunta com a atenção voltada para a estrada.
— Em casa eu retorno. — dou um sorriso amarelo com o canto da boca.
Ele assente com a cabeça e por sorte, Felipe não nota o meu desconforto com a ligação. Ignoro
o meu celular, que mais uma vez insiste em tocar.
— O que vai fazer quando terminar a escola? — pergunta enquanto estaciona o carro, e só
então me dou conta que estamos em frente à minha casa. O celular para de tocar.
— Ainda não sei. — dou de ombros.
Solto o cinto de segurança e suas mãos me puxam pela cintura, fazendo com que eu grite com
o susto. Felipe me senta em seu colo e roça o nariz por entre meu cabelo, inalando o perfume antes
de agarrar os meus lábios, dando beijos lascivos de tirar o fôlego. Espalmo as mãos sobre o seu
peito definido, afastando-o para longe em busca de ar.
— Você não me respondeu. — diz com um sorriso irônico em seus lábios e me aperta entre os
braços.
— Você não me deu chance. — digo, divertida, arqueando uma das minhas sobrancelhas.
Ficamos conversando por alguns minutos dentro do carro entre beijos e carinhos, quando
decido convidá-lo para entrar e ele aceita de imediato.
Passamos de braços dados pela sala, onde não há ninguém. Ótimo, assim não tenho que me
explicar para Ada, já que a minha mãe está em uma de suas convenções e o idiota do seu marido
foi ao seu encontro.
Subimos para o meu quarto sem fazer muito barulho. Tomo um banho rápido enquanto deixo
Felipe colocando um CD do Bon Jovi para tocar.
Minutos depois, volto para o quarto vestida em minha camisola em seda azul, cabelo lavado e
escovado e me junto a Felipe, que está sentado em minha cama. Assim que ele me vê, fica por
alguns segundos parado apenas me observando.
Ele engole em seco e noto que a sua respiração se torna ofegante. Vejo através da sua camisa
que o seu peito sobe e desce rapidamente.
— Você fez de propósito? — diz, umedecendo os lábios com a língua.
Dou de ombros. Não que eu tenha feito de propósito, mas ver nos olhos de Felipe que ele está
bastante desconfortável ao me ver só de camisola é prazeroso.
Ele caminha em minha direção sem tirar os olhos de mim e meu corpo se arrepia com a
intensidade com que ele me olha. Dou um passo para trás, ele dá mais um e me alcança. Eu não
tenho mais para onde fugir. Estou encurralada contra a porta do meu quarto, e ele, sem pensar
duas vezes, me agarra pela cintura. O simples ato de Felipe encostar os lábios nos meus desperta
reações físicas e químicas em todo o meu corpo, me excitando.
Seu beijo é molhado e ativa a química da sedução em meu corpo. Suas mãos deslizam em
minha cintura por cima da camisola seguido de dar leves apertos. Um grunhido em excitação vindo
do fundo da garganta escapa dos meus lábios.
Por um breve momento, abro os olhos e a imagem de Christopher surge à minha frente. Ele me
fita com um sorriso irônico nos lábios. Como eu amo o seu sorriso. Suas íris azuis me fitam
desejosamente e entre seus braços eu me sinto livre, pelo menos, neste momento, estou livre para
viver o meu grande amor.
— Eu quero você, Julha. — sou desperta do meu devaneio ao ouvir a sua voz rouca em
excitação, e só então me dou conta que não se trata de Christopher e sim Felipe que desperta o
meu desejo. Eu deveria pará-lo, mas apenas me permito sentir.
Quando dou por mim, eu já estou no seu colo com as pernas ao redor da sua cintura, enquanto
uma de suas mãos habilidosas toca suavemente o meu mamilo enrijecido por cima da fina seda. Ele
espalma a mão, fazendo movimentos circulares e o meu corpo é acometido por uma forte corrente
elétrica, me fazendo tomar uma atitude insana. Arranco a sua camisa e ele tira o par de tênis com
a ajuda dos pés, enquanto suas mãos apertam a minha bunda.
Afasto nossos lábios, parando o beijo e olho dentro dos seus olhos, dizendo: — Hoje estou aqui
e hoje eu sou sua.
As minhas palavras fazem com que Felipe volte a me beijar intensamente. Com um pouco de
dificuldade, Felipe desabotoa a bermuda e a tira, deixando o seu pau duro pular para fora da
cueca. Depois, com movimentos bruscos, tira a minha camisola e agarra os meus seios com os lábios
macios dando leves chupões seguido de mordidas. Sua língua faz movimentos circulares em um dos
mamilos, depois dá atenção ao outro.
— Hum! Felipe. — gemo, excitada.
— Você é tão… — uma de suas mãos desliza pela minha bunda, alcançando a minha pequena
calcinha de renda por trás. Seus dedos trêmulos puxam o fino tecido para o lado e ele penetra
dois dedos dentro de mim. — Gostosa! — ele geme entre os beijos, enquanto faz movimentos de
entra e sai, me levando à loucura. — Quero você, Julha, só você. — entrelaça o meu cabelo em
volta de uma de suas mãos, puxa a minha cabeça para trás e seus lábios invadem o meu pescoço
com beijos libidinoso. Meu corpo estremece em suas mãos.
— Me foda, Felipe, me foda. — peço enquanto me remexo em seu colo.
— Seu pedido é uma ordem, princesa.
Comigo em seus braços, Felipe caminha até a cama e deita o meu corpo sobre o lençol em
seda. Rapidamente, ele pega o papel laminado no bolso da sua bermuda no chão e o rasga, em
seguida desliza o preservativo em seu pau. Seus lábios voltam a dar atenção ao meu corpo
trêmulo ansiando por ele.
Felipe coloca o corpo sobre o meu e me penetra fundo, provocando a mesma dor que
Christopher havia me feito sentir há dois dias .
— Oh meu Deus!
Felipe faz movimentos de entra e sai lentamente e eu gemo alto. Cada vez mais ele se coloca
dentro de mim, aumentando a velocidade das estocadas.
De repente, Felipe sai de dentro de mim e seus lábios deslizam pela minha barriga, dando
selinhos estalados. A sua língua percorre a minha virilha, enquanto as mãos agarram as minhas
coxas, me fazendo apoiar os pés na cama com as pernas abertas, completamente exposta para o
seu deleite.
Sua língua percorre os lábios da minha boceta acompanhada de chupadas, depois, com a
ponta dela, ele faz movimentos circulares e chupa o meu clitóris, me fazendo arquear as costas ao
sentir a minha boceta formigar. Chego ao orgasmo seguido de Felipe. Ele larga o corpo sobre a
cama ao meu lado. Depois tomamos um delicioso banho, colocamos um filme e deitamos nus, como
viemos ao mundo.
Ele se afasta por um momento, pega a carteira e retira um papel laminado, rasga com o dente
e envolve o preservativo em seu pau grosso. Depois deita o corpo sobre o meu, e então sussurra
em meu ouvido:
— Você é tão gostosa, Julha. Simplesmente perfeita. — diz, acariciando o meu rosto.
Meu corpo se arrepia em excitação enquanto ele dá estocadas violentas. Seus lábios vêm ao
encontro dos meus seios medianos, segurando-os com voracidade e me fazendo gemer alto.
Tento ser o mais natural possível com Felipe e não me lembrar de Christopher.
Adormeço em meio aos pensamentos direcionados àquele por quem eu deveria manter
distância, o dono dos olhos mais lindos que já vi em toda a minha vida, o dono do sorriso que
seduz a mais segura das mulheres. Christopher Cloney, meu padrasto, que a essa altura está indo
ao encontro dos braços de onde nunca deveria ter saído, minha mãe.
Capítulo Dezessete
“Se for essa guerra, eu estou aqui, Felipe, me possua.”

- Julha Thompson.

Sou desperta do meu precioso sono por Felipe, que insistentemente me chama.
— Julha, acorda!
— Hum. — gemo.
Relutante, abro os olhos e procuro por Felipe ao meu lado na cama, mas ele não se encontra.
Olho o relógio no criado-mudo e constato que já passa das duas da madrugada.
Eu havia dormido em que momento? Felipe, onde está?
Num sobressalto, eu me sento na cama com a intenção de sair para encontrá-lo, mas paro e
rapidamente puxo o lençol para cobrir o meu corpo nu quando sinto uma leve brisa fria percorrer
sobre ele, fazendo os meus pelos se arrepiarem.
Coro quando a sua imagem despojada surge de pé diante dos meus olhos embaçados. Ele já
está devidamente vestido com as suas roupas e cabelo desgrenhado indicando que acabara de
acordar. Ele me fita com cobiça, acompanhado de um sorriso afetuoso. Felipe é lindo.
— O que houve? — pergunto com um tom de voz mais preocupado do que queria enquanto
sinto as minhas bochechas queimarem.
Eu sei que a minha atitude está sendo um tanto infantil depois de tudo o que houve entre nós na
noite passada. Vergonha é o que eu menos deveria sentir neste momento.
— Eu conheço cada parte do seu delicioso corpo, Julha. — sou despertada do meu devaneio e
volto a fitá-lo.
Ótimo, ele notou o meu embaraço.
Com um sorriso nos lábios, Felipe dá uma piscadela provocativa.
— Não tenha vergonha, você é linda. — engulo em seco.
Dessa maneira, você não está ajudando em nada, Felipe, só me deixa ainda mais constrangida.
Dou um sorriso amarelo com o canto da boca.
— Você não respondeu a minha pergunta. — digo, chamando a sua atenção para outro ponto
da conversa que não seja a transa insana que tivemos. Felipe não é tão experiente quanto o
Christopher, mas ainda assim foi uma transa gostosa.
— Não me culpe, baby. Você desviou a minha atenção. — seus olhos desejosos percorrem o
meu corpo coberto pelo fino lençol em seda branco.
Homens. Só pensam em sexo.
Continuo a fitá-lo e ele percebe que está me encarando mais do que deveria. No exato
momento em que os nossos olhos se cruzam, ele enrubesce.
Felipe encabulado?
Reprimo um risinho divertido, que insiste em sair, quando vejo o seu lindo rosto levemente
avermelhado.
— Ah, claro. Mas eu não acredito que você me acordou para dizer somente isso. — eu o fito
com os olhos cerrados fingindo uma falsa irritação.
— Oh, não, me desculpe. — retira uma de suas mãos que estava no bolso de sua bermuda e
bate com ela na testa, brincalhão. — Como eu pude me esquecer de dizer algo tão importante? —
ele me lança uma piscadela, divertido.
Felipe se aproxima, ficando a dois passos de mim.
Estamos travando uma guerra visual. Pela rigidez que emana do seu corpo, eu sei que a sua
guerra também é interna.
Mas, por quê?
Com o que ele está brigando?
Sua guerra é contra o desejo de me possuir?
Se for essa guerra, estou aqui, Felipe, me possua.
— Eu tenho que ir embora. — ele me desperta do meu devaneio.
Felipe respira fundo, exasperado, e coloca uma mão na maçã do meu rosto em um gesto de
carinho. Um pequeno sorriso se forma em meus lábios em uma linha fina. Assinto com a cabeça em
concordância.
— Eu tenho um compromisso com o meu pai logo pela manhã, antes de ir para a escola, e se
eu dormir aqui, não irei acordar, ou melhor… — provocante, morde o lábio inferior enquanto seus
olhos percorrem o meu corpo com cobiça, que estremece em excitação. — Não irei dormir. — ele
se aproxima de mim, senta ao meu lado e me puxa para o seu colo, me fazendo sentar
desajeitada sobre as suas pernas.
Um grito fino escapa por entre os meus lábios acompanhado de uma gargalhada nervosa de
susto.
— Felipe! — eu o repreendo, divertida, por sua atitude travessa.
Seus lábios deslizam por sobre meus ombros nus, distribuindo selinhos estalados.
— Hum! — um grunhido em excitação vem do fundo da minha garganta e escapa dos meus
lábios entreabertos.
— Você me proporcionou a melhor noite da minha vida, Julha. — seus lábios, que antes
deslizavam beijos por sobre os meus ombros, sussurram ao lóbulo da minha orelha. — Você é tão
perfeita. — deslizo a minha língua em meus lábios, umedecendo-os.
— Você também foi ótimo. — digo, sincera.
Felipe não tem o mesmo poder de sedução que Christopher, mas ainda assim é inevitável não
sentir o perfume erótico que exala de seu corpo, me deixando excitada.
Meu Deus, Julha. Em qual momento você se tornou especialista no assunto?
— Não tanto quanto você. — seus dentes levemente mordiscam o lóbulo da minha orelha e a
ponta da língua macia invade a concha da minha orelha e a penetra. Os pelos do meu corpo se
eriçam em resposta.
— Aaahhh… — gemo. — Gentileza sua. — minha voz soa entrecortada.
Sua mão agarra o meu seio, dando leves apertos por cima do lençol, enquanto a outra me
puxa mais para perto, colando os nossos corpos.
— Eu não sou tão gentil quanto pareço, Srta. Thompson. — diz, ameaçador.
Com movimentos bruscos, toma a minha cintura entre as suas mãos e vira o meu corpo para
ficar de frente para o dele, em seguida, ele me senta de pernas abertas sobre o seu colo. Sinto o
volume da sua ereção através da bermuda em contato com a minha boceta úmida, ansiosa para
senti-lo.
— Ah, Julha. Eu te quero muito. — com um golpe certeiro, as suas firmes mãos envolvem o meu
cabelo, fazendo com que a minha cabeça tombe levemente para trás, deixando a pele do meu
pescoço exposto para o seu deleite.
Remexo suavemente no seu colo, pressionando a minha boceta sobre o seu pau rígido.
— Não seja má, Ju. — diz entredentes.
Felipe fecha os olhos e agarra a minha bunda, depois aperta com um pouco mais de força. Um
ardor gostoso percorre por todo o meu corpo.
Mordo o meu lábio inferior em contentamento. Suas mãos vêm ao encontro do meu rosto, uma
de cada lado, e seus lábios se aproximam dos meus em um selinho estalado.
— Adoraria meter fundo e te ver gemer e gozar com o meu pau enterrado em você. — suga
o meu lábio inferior seguido de dar uma leve mordida. — Mas agora eu não posso. — desliza a
mão sobre a minha bunda, dando leves apertos. — Infelizmente, eu tenho que ir, mas antes disso…
Sua língua pede passagem e iniciamos um beijo quente cheio de desejo até pararmos em busca
de ar.
— Podemos continuar essa conversa em outra hora. — deposita um selinho casto em meus
lábios.
Eu faço bico em reprovação e Felipe dá uma leve mordida acompanhado do mais lindo sorriso.
— Como quiser. — retribuo o beijo.
— Agora eu preciso ir, antes que o seu padrasto chegue e nos pegue.
— Não se preocupe. Neste exato momento, ele está indo encontrar a minha mãe. — minha voz
soa decepcionada. — Somos só nós aqui. — digo e um sorriso de satisfação aparece ao imaginar
a reação de Christopher me flagrando nua na cama com Felipe. Seria divertido se não fosse
trágico.
— Eu venho te pegar para ir à escola. Fique pronta.
— Sim, senhor. — digo, brincalhona.
Coloco-me de pé com o lençol em volta do meu corpo e sigo para o closet em busca do meu
robe azul e dos meus chinelos.
— Gosto mais do look anterior. — diz, divertido, ao me ver voltar para o quarto vestida
apenas em meu robe de seda.
— Ah, claro, os vizinhos adorariam me ver tão à vontade.
— Pensando por este lado. — envolve as mãos na minha cintura e me rouba um beijo.
Em passos lentos para que Ada não nos veja, acompanho Felipe até a porta.
— Até logo, linda! — aproxima os lábios dos meus, iniciando um beijo calmo.
— Obrigada pela adorável companhia.
— Eu que agradeço a bela noite que você me proporcionou. — ele me dá um selinho casto.
Abro a porta e com ela vem a fria brisa da madrugada cortando a minha pele. Aperto o meu
robe, envolvo os braços em minha cintura e me despeço de Felipe. Eu o observo entrar em seu
carro e sumir pela estrada.
Tranco a porta ao voltar para dentro de casa. Está tudo calmo. Ada e os outros empregados
ainda estão dormindo, então decido ir até a cozinha em busca de algo que me ajude a voltar a
dormir.
Vou até a grande geladeira duplex de inox pegar uma garrafa de leite, depois sigo para o
armário onde encontro um copo de vidro para me servir de uma boa quantidade do líquido. Em
seguida, eu o coloco no micro-ondas para aquecer.
Tomo todo o leite quente, como papai sempre fazia quando eu era criança e tinha pesadelos.
O seu leite quente era um calmante para mim.
Afastando para longe os pensamentos que me machucam, vou até a pia, lavo o utensílio
utilizado, seco e o guardo.
Dobro o pano de prato e o coloco sobre a bancada de mármore. Ao me virar para tomar o
caminho de volta para o meu quarto, eu paro bruscamente.
— Puta merda! — eu dou um passo para trás e solto um palavrão quando a imagem do meu
lindo padrasto surge diante dos meus olhos. — Christopher.
Capítulo Dezoito
“— Eu é quem te pergunto, Julha. O que você pensa que estava fazendo quando trouxe aquele
moleque?”

- Christopher Cloney.

Minha respiração se torna ofegante e minha pulsação bate acelerada. Minha cabeça é uma
confusão só.
O que ele está fazendo aqui?
Ele deveria estar no Japão!
Nossos olhares se cruzam e por um breve momento acredito ter visto um brilho de fascínio.
Engano meu, o seu olhar revela que está furioso.
— Bom dia, Julha. — diz entredentes com uma expressão séria. Sua voz rouca me faz arrepiar.
Engulo em seco, apreensiva.
Eu me esforço para ignorar a sua presença, mas como um inferno se isso fosse possível. Seu
olhar indagador é perturbador. Eu tenho que ficar distante dele.
— Você me assustou. — digo, fingindo possuir uma calma que não tenho neste momento.
Seus olhos descem até o nó do meu robe, que eu aperto, inquieta.
Em passos largos, tomo caminho para sair da sua presença e voltar para o meu refúgio, o
quarto, mas sou impedida por ele ao agarrar o meu antebraço, me fazendo parar bruscamente.
— O que você pensa que está fazendo? — pergunto, fitando-o com o cenho franzido.
Confuso, ele coloca as mãos no bolso de sua calça.
— Eu é que te pergunto, Julha. O que você pensa que estava fazendo quando trouxe aquele
moleque? — levanta a mão fazendo sinal com o polegar esquerdo por cima do ombro em direção
à porta em que Felipe saiu alguns minutos atrás. Ele viu Felipe sair daqui. — É só virar as costas
para você enfiar qualquer um aqui dentro. — diz entre dentes. — Você deveria respeitar a casa
da sua mãe, que dá um duro danado para satisfazer os seus caprichos. É dessa forma que você
retribui? — atropela as palavras.
Fico irritada com a maneira que ele fala, mas não discuto, afinal, ele tem razão em tudo o que
disse. Mas não seria dele que eu teria que ouvir todas essas coisas, não depois de ele ter se
comportado de um modo infantil ao fugir de mim depois de tudo o que houve entre nós.
Com movimentos bruscos, puxo o meu braço, pegando-o de surpresa.
— Isso não é da sua conta. — rebato. — A propósito. — dou-lhe as costas e caminho para
longe, mas paro e volto a fitá-lo com um olhar inquiridor. — Você não estava a caminho do Japão
para encontrar a minha mãe? Ela está a sua espera. — digo com um sorriso irônico nos lábios.
Em passos lentos, tomo o caminho de volta para a geladeira, pego uma garrafa pequena de
água com gás que está na porta, abro e bebo no gargalo.
— Não me dê as costas quando eu estiver falando com você. — não sei em que momento ele
ficou tão próximo.
Minhas costas se chocam contra o seu peito definido. Sinto arrepios pelo corpo quando o nariz
invade a curva do meu pescoço. Suspiro. Maldito Christopher. Fecho os olhos em uma tentativa de
me controlar.
— Eu estou ouvindo. — vacilo ridiculamente quando a minha voz soa falha.
— Não tente mudar a ordem natural das coisas, Julha. Você é quem me deve satisfação, não o
contrário. — sussurra no lóbulo da minha orelha e uma corrente elétrica percorre o meu corpo.
Rapidamente, eu recuo um passo. Suas palavras me invadem como se eu levasse um tapa na
cara. Ele deixou claro que para ele eu não passo de uma enteada marrenta e mal-educada.
Engulo em seco, impedindo que as lágrimas escorram pelo meu rosto. Com cara de poucos amigos,
eu me viro para olhar para ele e nossos olhares se cruzam, onde eu vejo um resquício de carinho
neles. Eu dou um passo para longe e ele me olha com o cenho franzido.
Será que ele não consegue ver que não é isso que eu quero?
Não quero que ele cuide de mim como um pai.
Ah meu Deus, o que estou dizendo?
— Julha, eu acho que…
— Eu não lhe devo satisfação, Sr. Cloney. — digo, fingindo estar segura de mim. — Na minha
casa, todos os meus convidados serão bem-vindos. Espero que você entenda de uma vez por todas
que você não passa de um intruso nessa casa. — dou alguns passos, abandono a garrafa de
água na bancada e tomo caminho para voltar ao meu quarto quando ainda o ouço dizer.
— Convidado? — ele gargalha, debochado. Volto a minha atenção para ele, que ainda ri com
a cabeça jogada para trás. — Você realmente quer que eu acredite que aquele moleque metido
a homem seja realmente o seu “convidado”? — faz sinal de aspas com os dedos no ar. — Você
acredita que ele tem boas intenções com você? — gargalha, seguido de voltar a atenção para
mim. — Você quer transformar a casa da sua mãe num bordel? — diz com escárnio. Ele se
aproxima lentamente e eu estremeço.
— Disso você entende bem. — as palavras saltam da minha boca. — Você é um cafetão
cretino filho da puta, que para ter qualquer mulher em sua cama, chega ao mais baixo nível que
um ser humano pode conseguir. Você me dá nojo, Christopher Cloney. — grito, me afastando para
longe, mas sou impedida por suas fortes mãos que agarram o meu antebraço. — Não se atreva a
tocar em mim. — digo entredentes puxando o meu braço de volta.
Saio em direção ao meu quarto com ele me seguindo. Assim que entro no quarto, eu me viro
para fechar a porta, mas nem sequer tenho a chance quando ele o invade.
— Qual é o seu problema? — pergunta.
— Você quer mesmo saber? — ele me olha com os olhos cerrados e eu sustento o olhar. —
Okay, meu problema é você. Isso mesmo, Christopher! Você tem o prazer de tratar todos os meus
convidados mal. Você tem o prazer de me irritar e tirar toda a minha paz. Christopher, entenda de
uma vez por todas que eu te odeio. Eu odeio você com todas as minhas forças. Por que você não
continuou com a sua viagem? Por que não vai lá com a minha mãe, hein? Volta lá, ela precisa de
você. — grito e ele agarra o meu braço sem machucar.
— Porque diferente de você, eu tenho responsabilidade. Eu trabalho, tenho algo de útil para
fazer na vida. — nossos lábios estão próximos. — Diferente de você, Srta. Thompson, que só
pensa em ir para a cama com garotos idiotas. — seu corpo tensiona e ele aperta um pouco mais o
meu braço.
Por que ele está tão incomodado?
Foda-se, se ele quer guerra, vai ter.
— Você tem razão, mas olha para mim. — puxo o meu braço de volta e faço sinal com a mão
para que ele me olhe de cima a baixo. — Sou jovem, tenho uma vida inteira pela frente e Felipe
também. Sentimos desejo um pelo o outro! Não vejo problema algum nisso. — digo, dando de
ombros junto com um sorriso irônico nos lábios.
— Vadia.
Ele se aproxima e me pega de surpresa ao soltar a minha mão sobre o meu rosto. Caio no
chão com a mão no local atingido e sinto um misto de ardor com um leve gosto metálico de
sangue. Eu o fito e vejo Christopher passar as mãos no seu cabelo, visivelmente irritado.
— Julha, me desculpe, eu perdi a cabeça. — ele dá um passo em minha direção, mas eu recuo,
me arrastando pelo chão.
— Eu odeio você, Christopher, odeio você. — grito com lágrimas nos olhos.
— Julha, me ouça, eu só estava…
— Fora do meu quarto agora! — ele me fita com um olhar triste por alguns segundos, abaixa
a cabeça e sai, fechando a porta atrás de si.
Ainda com a mão sobre o meu rosto onde Christopher havia atingido, corro até a cama, me
deito e choro toda a minha dor abafando o som enquanto mordo o travesseiro.
Droga! Por que eu tinha que provocar a ira dele? Não era assim que as coisas deviam
terminar.
Envolvo-me no meu cobertor e com os pensamentos em tudo o que aconteceu entre mim e
Christopher, eu adormeço.
Capítulo Dezenove
“— Precisamos conversar, Julha.”

- Christopher Cloney.

Uma semana já havia se passado desde a minha última discussão com Christopher. A partir
daquele dia, eu não o vi, ou melhor, evitava estar no mesmo lugar que ele.
Todos os dias eu me levanto mais cedo do que o horário habitual para ir à escola para evitar
encontrar o Sr. Cloney na mesa do café e volto para casa à noite, quando ele já está dormindo.
Algumas vezes eu o vejo adormecido no sofá da sala de estar, acredito que esteja me
esperando para conversarmos ou questionar os horários em que chego em casa, mas eu não lhe
dou essa oportunidade. Eu quero continuar mantendo distância dele.
Lembro-me de ter ouvido minutos após ele me bater e sair do meu quarto barulho de algumas
coisas sendo quebradas vindo do quarto dele acompanhado de alguns palavrões. Eu deveria ter
ficado amedrontada, mas não me importei, sou eu quem deveria estar com raiva. Eu fui agredida
por aquele cretino e estou magoada.
Pelo o que mamãe havia me dito quando foi viajar, faltam apenas duas semanas para que ela
volte para a casa, quero tê-la de volta o quanto antes. Nos últimos dias em que eu fujo de
Christopher, eu me abrigo na casa de Ane e outros dias na casa de Felipe, onde sou sempre muito
bem recebida pelos pais deles.
Para Ane, eu disse a verdade, afinal, nunca escondia nada da minha amiga, mas para Felipe
eu só disse que não gostava do meu padrasto e que queria manter distância para evitar
maiores discussões. Ele não entenderia de forma alguma o meu relacionamento com o meu
padrasto.
Felipe e eu estamos nos entendendo, a nossa amizade colorida está progredindo. Ane e Bruno
sempre brincam conosco dizendo que acabaremos em um relacionamento mais sério, mas eu e
Felipe temos outros planos, e um relacionamento sério não está incluído neles, não agora.
Mais um dia que passo fora de casa. Todas as manhãs, enquanto tomo café, eu ouço a Ada
reclamar que eu passo muito tempo fora de casa. Eu tenho que concordar com ela, mas essa é a
única maneira que encontrei para manter distância do insuportável do meu padrasto. Se ela
soubesse tudo o que aconteceu, me aconselharia a ir embora. Ela me apoiaria na decisão de
manter distância dele.
Depois de tudo o que aconteceu, estou pensando em ir para a faculdade em Las Vegas. Passar
um tempo com a vovó será bom tanto para mim quanto para ela, já que ela vive reclamando que
eu não a visito com tanta frequência. Será uma boa ideia ficar com ela e lhe fazer companhia.
Estou voltando para a casa e são exatas três da manhã. Passo pela sala de estar, que está
escura e silenciosa. Em passos lentos, eu alcanço o interruptor e vou direto para a cozinha. Caminho
até a geladeira com a intenção de beber água para matar a minha sede, mas paro ao notar uma
mensagem que Ada deixou presa ao imã da geladeira. Corro os olhos pelo bilhete e não consigo
impedir que uma lágrima role pelo meu rosto.
Querida, Julha.
Não sei o que está acontecendo com você, minha querida, mas seja o que for, não esqueça que
tem pessoas que a amam muito e sentem a sua falta.
Tem bolo de cenoura com cobertura de chocolate no forno.
Sinto saudades!
Amo você, pequena.

— Sentimos a sua falta!


Eu engulo em seco e meu coração perde uma batida por alguns segundos ao escutar a voz
rouca que tanto mexe comigo soando atrás de mim, me despertando do meu devaneio.
Ainda parada de costas para o homem que desperta a minha libido, sinto o meu corpo entrar
em um colapso de sensações. Minha respiração torna-se ofegante, meu coração para por alguns
segundos, incrivelmente me mantendo viva.
Eu me viro para poder dar uma olhada melhor nele. Desistindo do bolo, eu fecho a porta da
geladeira com mais força do que pretendia, pego a minha mochila que está sobre a mesa e saio,
seguindo para o meu quarto, mas sou impedida quando ele agarra o meu antebraço sem apertar.
— Precisamos conversar, Julha. — diz com os lindos olhos azuis da cor do céu cravados em
mim.
Se não fosse pela dor que sinto, não resistiria em tê-lo tão perto. A dor ainda é muito forte,
não a física, mas a das palavras que rasgaram o meu peito como uma adaga.
— Não temos nada para conversar. — digo, puxo o meu braço de volta e saio rapidamente.
Em passos largos, ele me alcança na escada, me agarrando pela cintura no corredor que dá
acesso aos quartos. Colocando o meu corpo contra a parede, ele aproxima os seus lábios dos meus
com a sua respiração ofegante se misturando à minha. Com a pulsação acelerada, ficamos
parados encarando um ao outro, então Christopher umedece os seus lábios secos com a língua,
seguido de engolir em seco.
— Me deixe sair, Christopher! — peço, nervosa com a sua aproximação. — Você pode fazer o
que quiser comigo, mas me deixe sair daqui. — grito, me debatendo por entre os seus braços, que
agora seguram os meus pulsos acima da cabeça, me prendendo.
— Não posso! Sou louco por você, Julha. — diz e suas palavras são músicas para os meus
ouvidos.
— Não, eu…
— Shhii, Julha, me ouça. Eu sei que fui um covarde ao fugir e também sei que você está
magoada com isso. Perdoe-me, meu anjo. Eu fiquei enlouquecido ao vê-la dormindo nua e aquele
moleque de cueca no seu quarto quando fui até lá. — diz e se afasta por um momento com os
olhos fechados.
Aquilo realmente o machuca muito e por um momento sinto uma pontada em meu peito.
Christopher volta a se aproximar de mim e roça os lábios nos meus, me excitando.
— Por favor, Christopher! — peço como uma súplica.
— Eu sei que você me quer do mesmo jeito que eu a quero, Julha. — suas mãos deslizam por
minhas costas em um gesto carinhoso.
— Pare, Christopher! Eu não posso, não podemos.
— Não me peça o que eu não posso fazer. — ele me fita com um sorriso sarcástico. Aproveito
o seu deslize de soltar os meus pulsos, que caem ao lado do meu corpo, e me afasto dele.
Tentada pelo diabo de um homem lindo, é assim que eu me sinto diante de Christopher.
— Por que você está fugindo de mim? — sua voz, que carrega agora um tom calmo, ressoa às
minhas costas.
— Eu não quero falar sobre o assunto. — eu me abraço.
— Me diz qual é o seu problema? — grita, agarrando o meu braço e me virando para ficar
de frente para ele.
— Você realmente quer saber? — puxo o meu braço de volta. — Então vamos lá. — digo sem
deixá-lo responder. — Sabe como eu fiquei ao acordar na minha cama e você não estar mais lá?
— Christopher me fita com as sobrancelhas arqueadas. — Você sabe como eu me senti ao ouvir a
minha mãe me ligar e dizer que você havia ido ao encontro dela pois estava com saudade depois
de tudo o que aconteceu entre a gente? Você sabe como eu me senti ao saber que você beijou a
minha melhor amiga? Minha melhor amiga? Sério? Não, Christopher, você não sabe. Eu me senti
usada, me senti o pior dos seres humanos da face dessa terra. Eu te odiei, desejei a sua morte.
Sabe o que é isso? Você me causou sentimentos que nunca havia desejado para alguém e eu
desejei para você. — meus olhos marejam. — O que você quer, Christopher? — pergunto e a
minha voz soa embargada.
— Eu quero você, Julha. A garota que virou a minha cabeça. A menina que me faz sentir o
mais puro dos sentimentos. — um sentimento estranho, que ainda não tinha encontrado a palavra
correta para discernir, invade o meu peito. — Eu quero você, Julha. — ele caminha lentamente em
minha direção. — Eu a desejo mais do que você pode imaginar. — envolve as mãos em volta da
minha cintura, fazendo o meu corpo se arrepiar. Seus dentes agarram o meu lábio inferior e o
mordisca, fazendo o meu corpo se arrepiar antes de sentir um ardor gostoso percorrê-lo.
— Eu sou sua, Christopher, somente sua. — iniciamos um beijo urgente.
Suas habilidosas mãos agarram a minha bunda, e rapidamente ele me ergue, me encaixando
no seu colo. Entrelaço as pernas na sua cintura, enquanto arrepios de excitação percorrerem o meu
corpo.
Solto os meus braços, que antes estavam nos seus ombros definidos, um de cada vez, deixando
a minha mochila cair no chão.
— Senti a sua falta. — sussurra entre os beijos.
Eu entrelaço os meus dedos no seu cabelo sedoso e puxo a sua cabeça para perto da minha,
colando os nossos lábios.
Ainda em seu colo, ele me leva até o meu quarto, onde desliza as mãos sob a blusa do meu
uniforme, arrancando-a. Em seguida, ele me deita na minha cama com os olhos fixos nos meus, me
excitando. Carinhosamente, desliza o dedo indicador pelo meu rosto, depositando um selinho
estalado em meus lábios, seguido do meu colo, os meus seios, que estão cobertos com o sutiã de
renda rosa.
— Você é perfeita! — sussurra com um sorriso nos lábios. Seu toque em minha pele é como
fogo.
— Eu não sei se… — tento pará-lo.
— Você pode não ter certeza se devemos transar, mas eu tenho. — sua mão desliza em meu
seio, dando atenção a ele com leves apertos.
— Eu quero você, Christopher. — peço como uma súplica.
— Sim, eu tenho certeza que quer. — sussurra no lóbulo da minha orelha, enquanto uma de
suas mãos invadem a minha calça jeans, alcançando a calcinha que está encharcada. — Por Deus,
Julha, você está pronta para mim, apenas para mim. — ele dá uma leve mordida em seu lábio
inferior e eu arqueio as costas enquanto dois dedos invadem a minha calcinha e fazem movimentos
de vai e vem, pressionando o meu clitóris enrijecido.
— Eu preciso de você agora. — suplico.
Christopher me coloca entre as suas pernas e faz trilha de beijos no meu corpo até alcançar o
botão da minha calça, que é aberto por ele com facilidade. Desce a minha calça, enquanto
arqueio os quadris para facilitar o seu trabalho, e em poucos minutos ela desliza por meus pés.
Seus olhos se voltam para a minha intimidade coberta por um pequeno pano em renda.
Meu rosto esquenta, não me deixando dúvidas de que estou corada. Por mais que eu me sinta
atraída por Christopher, ainda assim tenho vergonha de ficar nua na sua presença. Ele é um
homem que carrega em seu currículo belíssimas mulheres experientes, diferentes de mim, que devo
parecer uma adolescente sem sal e sem açúcar.
Cubro os seios com as mãos e ele me olha com os olhos cerrados em reprovação.
— Não tenha vergonha de mim, querida. Conheço cada parte do seu corpo, baby, não me
impeça de degustá-lo. — engulo em seco.
Christopher faz trilhas em meu corpo com selinhos estalados com uma mão de cada lado da
minha coxa, em seguida afasta as minhas pernas. Seus lábios alcançam a minha boceta úmida,
onde dá selinhos estalados por cima da lingerie. Um grunhido, que vem do fundo da garganta,
escapa por entre os meus lábios.
Dois dedos dele tocam de leve o elástico da minha calcinha, seguido de afastá-lo para o lado.
Seus dedos me penetram enquanto sua língua faz movimentos circulares sobre o meu clitóris.
— Você é tão doce, Julha. — minha boceta formiga com Christopher sugando o meu sexo com
veemência.
— Christopher… — gemo, chamando o seu nome.
— Goza na minha boca, gostosa. Goza. — sussurra com os lábios colados na minha boceta. A
sensação de ter o meu sexo envolta em seus lábios me leva à loucura. Sua língua penetra em minha
boceta em uma incansável masturbação e não leva muito tempo para Christopher me fazer chegar
ao orgasmo. — Você é doce. — diz enquanto suga todo o meu mel e eu estremeço entre os seus
braços.
Christopher deita o seu corpo sobre o meu e seus lábios colam aos meus em um beijo lascivo,
cheio de desejo enquanto a sua mão acaricia os meus mamilos enrijecidos, dando leves puxões
seguido de apertos.
— Christopher, ande logo com essa droga. — digo entre os beijos. Tenho a ligeira impressão
de que um sorriso divertido escapa por entre seus lábios.
— O que você quer, Srta. Thompson?
— Que me foda. Forte e duro. — digo, ofegante.
— Seu pedido é uma ordem, querida. — ele se posiciona e me penetra fundo.
— Oh, Deus! Christopher. — gemo, entregue, e vou ao delírio no exato momento em que ele faz
movimentos de entra e sai lentamente.
— Você é minha, apenas minha. — sua língua desliza pelo meu pescoço seguido de chupá-lo
enquanto dá estocadas violentas, me fazendo chegar ao segundo orgasmo seguido dele, que logo
em seguida deita o corpo suado sobre o meu. — Você é perfeita. — ele dá um selinho estalado
em meus lábios.
Escorregando ao meu lado na cama, nós ficamos deitados nos fitando, não sei exatamente por
quanto tempo, mas foi o suficiente para Christopher adormecer.
Em silêncio, eu me coloco de pé, ainda nua, me enrolo no lençol e em passos lentos, sigo para o
banheiro. Deixo o lençol no chão e sigo até o box. Ligo o chuveiro e deixo a água quente cair
sobre o meu corpo, perdida em pensamentos em tudo o que aconteceu entre mim e Christopher. Um
sorriso novo de satisfação rola em meus lábios.
— Espero que eu seja o causador desse sorriso.
Não demora muito para que Christopher se junte a mim. Ele envolve os braços em volta da
minha cintura e eu suspiro com a sua aproximação.
— Você me assustou, sabia? — sinto o seu pau ganhando vida nas minhas costas.
— Desculpe, essa não era a minha intenção. — roça o nariz por entre o meu cabelo.
Viro-me para ficar de frente para ele e dou um grito de susto quando ele agarra a minha
bunda e me faz sentar no seu sexo duro, me penetrando fundo. Ele me coloca contra a parede fria
e inicia os movimentos, se remexendo lentamente dentro de mim, seguido de dar estocadas
violentas, me fazendo estremecer.
— Você é minha, Julha, só minha. — diz, me dando um beijo quente enquanto uma de suas
mãos agarra alguns fios do meu cabelo na nuca, imobilizando a minha cabeça.
— Eu… Eu amo você.
Merda!
Eu disse mais do que deveria. Ele para por um momento e me fita nos olhos, confuso com o que
acabou de ouvir. Eu quero me desculpar, eu não deveria dizer essas palavras, mas elas saltaram
da minha boca muito antes do que eu imaginei.
— Sou louco por você, completamente maluco por você. — ele me beija com carinho.
Ele tem se mostrado um Christopher diferente do que eu estava acostumada a lidar. Vamos
para a cama e ele me possui novamente, como se fosse a última vez, como se precisasse de mim
para sobreviver, como se dependesse disso para continuar respirando. Depois de chegarmos a
mais um orgasmo, ele deita a minha cabeça em seu peito e acaricia o meu cabelo em um gesto
carinhoso. Fico parada por um momento, imaginando como será quando a minha mãe voltar para a
casa.
Meu peito se contrai em angústia e uma dor misturada com desejo, paixão, amor e loucura.
— Em que você está pensando? — diz, passeando os dedos sobre os meus lábios.
Eu viro a cabeça para vê-lo melhor. Não que eu queira discutir com ele esse assunto, mas tenho
que ser sincera, dizer toda a verdade mesmo que isso custe a minha felicidade.
— Como será daqui pra frente?
— Está com medo? — dou de ombros. — Vamos viver o momento, deixar para pensar nisso
depois. As coisas vão se acertar.
— Será que tem como ajeitar uma merda que está fadada ao fracasso? — ele me fita com o
cenho franzido. — Não deveríamos, Christopher. Nós, definitivamente, não deveríamos.
— Hei, calma! Não vamos acabar com o clima. — ele me envolve em seus braços e deposita
um beijo carinhoso em minha cabeça. — Vou ter uma conversa com Katherine. Não se preocupe,
meu bem, ela irá entender.
— Impossível. Ela te ama muito e não quero que ela me odeie. — digo com os olhos marejados.
— Meu anjo. — toma o meu rosto entre suas mãos. — Sabemos que não tem como alguém não
sair machucado nessa história. Eu sei que foi um erro, não deveria ter acontecido, mas agora é
tarde e já estou envolvido. Não dá para voltar atrás. — diz, aproximando nossos lábios e me
beijando.
— Minha mãe ama você e… E eu… E eu também. — declaro.
Ele me envolveu em seus braços com carinho e não demoro a adormecer.
[…]

Eu desperto e Christopher já não está mais aqui. Olho no relógio e ainda me resta uma hora
para dormir. Ouço um barulho na porta do quarto e vejo Christopher adentrando com uma
bandeja de café da manhã acompanhada de um botão de rosa vermelha.
Como não amar esse homem?
Eu o olho dando uma leve mordida em meu lábio inferior. Ele coloca a bandeja no meio da
cama e me puxa para ele, me dando um beijo quente.
— Você é linda até quando está dormindo. — rio.
— Estava me vigiando enquanto dormia, Sr. Cloney? — eu me viro para fitá-lo com os olhos
cerrados, fingindo uma falsa irritação.
— Não resisti, princesa. — ele me dá um selinho estalado.
Christopher, logo em seguida, tem que ir para o trabalho, então me despeço dele e vou me
arrumar para ir para a escola. Passo na casa de Anne, que já está à minha espera, e seguimos
para a escola. Quando chego, encontro Felipe no portão. Eu tento agir naturalmente lhe dando um
beijo e seguindo junto para a sala, mas está na cara que algo está acontecendo comigo. Sinto o
meu celular vibrar e ao abrir vejo uma nova mensagem de Christopher, o homem que me deixa
completamente fora do meu estado normal.

Meu anjo,
Me espere na hora da saída, irei te buscar.
Beijo, Boa aula.

Penso em responder, mas sou impedida pelo professor, que da sua mesa me olha com cara de
poucos amigos.
Logo bate o sinal para o intervalo, então vou até a cantina e peço um lanche e um
refrigerante. Volto a me juntar com um grupo que conversa animado.
— O que acha, amor? — Felipe pergunta algo que eu não tenho a menor ideia do que se
trata.
— Por mim tudo bem. — todos riem, e só então percebo que eles estão falando sobre sexo.
Coro.
— Deixem-na em paz. — diz Felipe, me agarrando pela cintura e se divertindo com a situação.
Dou um selinho em seu ombro e passamos o intervalo inteiro assim, rindo e fazendo piadas. Por
um momento, eu me perco na conversa quando ouço o meu celular avisar que há uma nova
mensagem na caixa de entrada. Christopher.

Há necessidade desse garoto idiota ficar colado em você? Não gosto disso.
Minha vontade é de te arrancar dos braços dele, te levar para casa e te possuir pelo resto do dia.

Estremeço. Desde aquele dia em que ele me levou para a cama, é assim que o meu corpo
reage. Uma aproximação dele e pronto, meu corpo entra em um colapso de sensações. Olho em
volta à sua procura e meus olhos não gostam do que veem. Christopher está do outro lado do
pátio conversando com a minha diretora gostosa. Um sentimento de fúria percorre o meu corpo e
sem pensar duas vezes, caminho até eles.
— O que está fazendo aqui? — digo ao me aproximar.
Noto um riso irônico em seus lábios. Ele está se divertindo com a minha cena ridícula de ciúme.
— Bom dia para você também, Srta. Thompson.
Ele está me provocando?
A minha diretora fica nos encarando sem entender nada.
— Não respondeu a minha pergunta. — eu o fito com os olhos cerrados.
— Julha, que comportamento é esse? É assim que você fala com o seu pai?
Ah, não, mais essa ainda!
— Ele não é o meu pai. — resmungo e o filha da puta do Christopher se diverte com a
situação.
— O Sr. Cloney veio me avisar que você vai se ausentar durante uma semana. Ele precisa
viajar a trabalho e a sua mãe pediu para que ele a levasse junto. Por mim, tudo bem, mas você
sabe que vai ter que pegar as matérias com os seus amigos.
Eu engulo em seco e me viro para fitá-lo melhor.
O que ele está planejando?
Como assim, vamos viajar?
Eu o encaro com o rosto endurecido e saio batendo os pés ao ouvir o sinal tocar.
— Oi, amor. Onde você estava? — diz Felipe, me agarrando por trás.
Paro e de longe vejo Christopher nos olhar com cara de poucos amigos.
Ele quer provocar?
Então vamos ver quem pode mais.
Passo os braços em volta do seu pescoço e lhe dou um beijo de tirar o fôlego. O sexo de Felipe
já está dando sinal de vida quando eu me afasto. Christopher está vermelho de raiva, então
abraço Felipe, e o olho por cima do ombro dele e lhe dou um sorriso irônico. Ele passa as suas
mãos pelo cabelo, visivelmente irritado. Logo Ane e Bruno se juntam a nós.
— Vou ter que me ausentar durante uma semana da escola. — digo sob os olhos dos meus
amigos, que me fitam sem entender nada.
— Como assim? — Felipe pergunta, me fitando com uma expressão triste.
Eu explico o que havia acontecido e ele se vira para olhar Christopher. Ane me fita,
desconfiada, e me dá um sorriso irônico pela minha história. Eu me despeço dos meus amigos e vou
até o meu armário para pegar o livro de Química. Ao fechar, esbarro em Christopher, que está
atrás de mim. Ele me encurrala contra o armário e rapidamente eu olho em volta para ver se há
alguém, e por sorte, todos já haviam ido para as suas salas.
— Christopher, você está louco?
— Por você! — ele cola o corpo ao meu e minha respiração instantaneamente se torna
ofegante. Seus lábios estão cada vez mais próximos dos meus.
— Alguém pode ver. — digo, passando por baixo do seu braço. Ele, mais rápido que eu,
agarra o meu antebraço, me fazendo virar em sua direção.
— Você está namorando aquele idiota?
— Que história é essa de viagem? Você não me disse nada. — pergunto, tentando mudar o
foco da conversa.
— Surpresa!
Reviro os olhos e continuo.
— Minha mãe sabe disso? — pergunto e ele assente com a cabeça.
O que ele havia falado a ela?
Deus, espero que ele não tenha aberto o jogo, ela vai me odiar pelo resto da sua vida.
Pegando-me de surpresa, ele captura os meus lábios e me dá um beijo doce entre gemidos. Eu
me desvencilho de Christopher e saio correndo para a minha sala, onde o professor já está
passando a matéria na lousa.
— Está atrasada, Srta. Thompson!
— Não diga… — digo, revirando os olhos. Eu o detesto, e ainda mais a sua matéria.

[…]

Saio da escola na companhia do meu padrasto. Seguimos por um caminho que eu não conheço.
Não sei qual é a sua intenção, mas de que isso importa? Ele vai me dizer só o que quer que eu
saiba. Chegamos em casa até que rápido . Sou desperta do meu devaneio com o soar estridente
do meu aparelho celular.
Alcanço-o dentro da minha bolsa, eu o pego e deslizo o polegar sobre a tela, desbloqueando-
o. Meu corpo estremece com o nome que eu vejo. O nome que dá sentido à minha vida. A dona de
todo o meu amor, carinho e respeito.
Capítulo Vinte
“— Muito engraçado, Sra. Cloney.”

- Christopher Cloney.

Mamãe chamando.

Engulo em seco. Não consigo mover um músculo do meu corpo, o único som que se ouve é o da
minha respiração ofegante.
Toda a segurança que eu imaginei possuir para estar diante de mamãe e lhe contar toda a
verdade, se vai no exato momento em que o seu nome aparece na tela do meu celular. Eu não
estou pronta como imaginei que estaria.
— Julha? — sou desperta do meu devaneio com um par de olhos azuis me fitando,
preocupado.
— Ah, oi! — rio, tímida. — Me desculpe, eu… É… Eu estava com os pensamentos longe. — dou
de ombros. — Não notei que estava me chamando. — volto a minha atenção para o celular, que
continua a tocar.
— Eu notei. — sorri, divertido. — Você conhece bem a sua mãe. — olho na direção do celular,
que continua a tocar em minhas mãos. — Ela não vai desistir. — sorri em sinal de cumplicidade, em
seguida coloca a mão na maçã do meu rosto em um gesto carinhoso.
— É, eu sei. — respiro pesadamente, me dando por vencida.
Christopher tem razão. Mamãe não é daquelas pessoas que desistem facilmente. Ele assente
com a cabeça em sinal de cumplicidade, e um simples gesto como esse me dá forças para
enfrentar as dificuldades.
— Oi, mãe! — digo ao atender. Minha voz soa falha, insegura.
— Julha, por Deus. Onde você está? Com tanto trabalho que eu tenho aqui, me preocupar com
o que você anda fazendo do outro lado do mundo não é o que eu preciso. — diz, ríspida. Bem-
vinda, Katherine.
— Olá, dona Katherine. Eu estou bem, obrigada por perguntar . — rio com ironia fitando a
unha de uma das minhas mãos livres.
— Oh, querida, me desculpe. Julha, eu fiquei muito aflita por você não estar atendendo às
minhas ligações. Tantas coisas ruins passaram em minha cabeça que…
— Está tudo bem, mãe, eu estou bem .
— Você não imagina o quanto as suas palavras me deixam aliviada.
— Eu sei que sim, mãe. — digo não muito segura das palavras que saem da minha boca.
— Não seja ingrata, Julha. Tudo o que eu e o seu falecido pai fizemos durante toda as nossas
vidas foi, e é por você.
— Eu não disse o contrário, mãe.
— Ótimo, então me ouça, Julha. Eu sei que você e Christopher não possuem afinidade, mas ele
gentilmente me pediu autorização para levá-la nessa a viagem. Ele estava vindo para cá quando
recebeu uma ligação de um cliente importante e precisou voltar.
Volto a minha atenção para Christopher, que coloca uma uva em sua boca e passa a língua
sobre os lábios, impedindo que o suco da pequena fruta escorra.
Puta merda! Como pode ser tão sexy com um simples gesto?
Engulo em seco e ele nota que estou embasbacada fitando o seu lindo rosto, então me lança
uma piscadela sedutora, que faz todo o meu corpo estremecer.
— Julha, você ainda está aí?
— Oi, mãe, sim, eu estou.
— Ótimo! Como eu ia dizendo. Quero que você me prometa que vai se comportar na viagem?
Por favor?
Christopher ri, convencido de que já conseguiu o que queria, mas eu não vou facilitar para ele.
— Mas, mãe, eu não posso ficar perdendo aula, além do mais, Ada vai estar em casa e… Ai!
— solto um gemido de dor acompanhado de um sorriso divertido ao sentir a mão dele puxar
levemente o meu coque malfeito antes de ele cravar os dentes na pele fina do meu pescoço.
— Entendo, querida . — ela respira fundo. — Mas ainda assim eu prefiro que você o
acompanhe. Sabe como são as mulheres quando veem um bom partido desacompanhado.
— Você está me enviando como um bode expiatório para o seu marido? — pergunto e a
minha voz sai mais ríspida do que eu queria.
— Querida, não fique brava com a sua mãe. Quando você se apaixonar por alguém, vai
entender o que estou dizendo. — reviro os olhos para Christopher, que assiste a tudo, se divertindo
com as minhas caras e bocas. — Não se preocupe com a escola, Christopher conversou com a
diretora. Desculpe-me, querida, eu preciso desligar, vou entrar em uma reunião agora. Amo você.
— Eu também amo você.
Faz muito tempo que a minha mãe não é tão gentil comigo, muito menos carinhosa, e isso só me
faz sentir culpada pelo o que está acontecendo. Nunca, em toda a minha vida, pensei em me
apaixonar por Christopher. Um nó se forma em minha garganta e eu respiro fundo, impedindo que
uma lágrima escorra pelo meu rosto.
— Okay, você venceu! — digo ao encerrar a ligação e colocar o celular no criado-mudo.
— Eu sabia que você não ia me negar o prazer da sua companhia. — ele envolve os braços
em volta da minha cintura e deposita um selinho estalado no meu cabelo. O meu corpo se arrepia
em resposta.
— Meu Deus, Christopher, estamos indo longe demais. — respiro pesadamente.
— Hei! — com um golpe certeiro, ele me vira para que eu fique de frente para ele. Engulo em
seco quando os meus olhos percorrem seus lábios apetitosos. — Vamos esquecer tudo isso por essa
semana e aproveitar o momento que será só nosso. Quando voltarmos, iremos resolver tudo isso,
está bem? — ele não me dá a chance de responder, e ataca os meus lábios em um beijo gostoso
com sabor de hortelã.
Christopher desliza a língua para dentro da minha boca, pedindo passagem, que eu concedo
completamente excitada. Sugo a sua língua e um rosnado de excitação escapa por entre os seus
lábios, quando ele gentilmente força a língua mais para dentro. Espalmo as mãos em seu peito,
afastando-o para longe quando meus pulmões clamam por ar.
Seus lindos olhos azuis me fitam com desejo acompanhados de um sorriso safado nos lábios.
— Que horas vamos sair? — pergunto, tomando uma distância considerável dele. Sento-me na
cama sobre as minhas pernas, feliz como uma criança que vai fazer a viagem dos seus sonhos. —
O que eu devo levar? — pergunto, eufórica. Ele sorri, divertido.
— Calma, mocinha. — senta ao meu lado na cama e me puxa para o seu colo. — Sairemos em
uma hora. — fala, passando a língua em minha orelha.
— Hum! — gemo em excitação, quando sinto o seu pau rígido pressionar a minha bunda.
— Leve apenas duas trocas de roupa. — eu me afasto dele para fitá-lo melhor. — Uma você
estará vestida para nós irmos e a outra para voltarmos. — ri, safado e mordisca o lóbulo da
minha orelha. Fico ofegante e o meu corpo estremece.
— Muito engraçado, Sr. Cloney. — levanto-me do seu colo.
— Ah, menina malvada. — sorri, malicioso. — Deixarei que você arrume as suas coisas. —
habilidoso, Christopher dá alguns passos em minha direção, envolve os braços na minha cintura
seguido de roçar o membro enrijecido na minha bunda. — Olha como você me deixa. — sussurra
entre meu cabelo. — Mas teremos muito tempo só para nós dois. Eu e você. — ele me vira de
frente para ele, me dá um beijo casto e sai em seguida, me deixando excitada no quarto. — Não
demore, querida. Sairemos em breve!
Um sorriso rola em meus lábios. Pensar que ficaremos só nós dois por uma semana, faz com que
eu me sinta como se estivesse vivendo um sonho. Ane não vai acreditar quando eu lhe contar. Pego
o celular no criado-mudo e disco o seu número.

[…]

Quatro horas exaustivas de voo é o tempo que levamos até chegar ao nosso destino. Austin, no
Texas.
Ao chegarmos à área externa do aeroporto, o calor insuportável e a umidade do ar nos
recepcionam.
— Está um calor insuportável. — digo, já sentindo a garganta seca.
— Austin sendo Austin. — ele me fita com uma linha fina de sorriso nos lábios.
— Eu não sei como essas pessoas suportam tanto calor. — seco uma gota de suor que se
formou na minha testa.
— Eles estão acostumados. — Christopher me olha com desdém. Reviro os olhos e solto uma
bufada. — Está cansada? — pergunta enquanto caminhamos a passos largos para o
estacionamento do aeroporto.
— Se estou cansada? — ele ri, divertido com o meu tom de voz dramático. — Não sinto o meu
corpo. — respiro pesadamente.
Ele ri de novo e para bruscamente, me fazendo bater o meu corpo contra as suas costas. Volta
a sua atenção para mim, pega a nécessaire de uma marca famosa em uma de suas mãos e com
a outra me pega de surpresa ao entrelaçar os seus dedos nos meus. Eu o fito com o cenho
franzido, seguido de encarar a minha pequena mão envolta na sua.
— Algum problema? — pergunta com um sorriso sacana nos lábios.
— Se não há problemas para você que nos vejam de mãos dadas como um casal normal… —
dou de ombros. — Para mim está tudo bem. — acompanho o seu sorriso irônico. Ele sorri, divertido
com o tom de ironia que carrego na voz.
— Somos um casal. — meneia a cabeça. — Não tão normal, mas nós somos. — ele dá uma
piscadela. — Um casal. — diz, divertido, me fazendo revirar os olhos.
Eu sei que não deveria me comportar como uma adolescente boba e apaixonada, e estar me
sentindo ridiculamente feliz com as suas palavras. Sim, elas no fundo me afetam. Estou me iludindo
quando eu sei qual é a minha situação com o Christopher, mas estar ao lado dele já me faz feliz, e
eu não posso evitar.
Em que momento você deixou se envolver, Julha Thompson?
Acusa-me o meu subconsciente.
— Sr. Cloney?
— Jason!
Sou desperta do meu devaneio juntamente com um vazio no peito quando Christopher solta a
minha mão para cumprimentar um homem alto com o cabelo grisalho, moreno de sol, com mais ou
menos 50 anos de idade. Vestido em uma camiseta xadrez nas cores verde e branco, calça jeans
de lavagem escura emoldurando as coxas definidas e um chapéu na cor creme em sua cabeça. Ele
está encostado na caminhonete cabine dupla cor preta, dando-lhe um ar rústico, o que chama a
atenção de algumas mulheres que passam por ali.
— Eu já ia me esquecendo. — ele se vira para me fitar. — Está é Julha, a minha “filha”. — ele
nos apresenta fazendo sinal de aspas com os dedos.
Filha?
Uau, por esta eu não esperava.
— Prazer! — estendo a mão em um cumprimento mascarando a minha decepção com um
sorriso amarelo no canto da boca.
— Julha, este é o Jason. Nós temos a honra de tê-lo conosco como amigo da família há anos.
— A honra é minha, Sr. Cloney. — diz o homem me fitando minuciosamente com uma expressão
desconfiada. — Eu sou muito grato por tudo o que a sua família fez por mim todos esses anos,
senhor.
— Imagine, Jason. — ele dá dois tapas no ombro do homem. — Vamos deixar as formalidades
de lado, só retribuímos a sua fidelidade.
Fidelidade?
O que será que ele quis dizer com isso?
Eu preciso de um bom banho e algumas horas de sono, depois tentarei descobrir o que torna
esta fidelidade de Jason tão louvável.
Jason passa algumas instruções para o Christopher sobre a fazenda e em seguida adentramos
a caminhonete e seguimos mais meia hora de viagem, saindo da cidade e tomando o caminho por
uma estrada de terra vermelha e pedras, que batem contra o carro, até chegarmos a um enorme
portão em madeira escuro.
— Chegamos! — o carro percorre o caminho de terra por entre um grande campo verde. A
grama bem cortada nos dá a visão ao longe de um grande tapete verde.
— Uau! Isso aqui é lindo!
— Você precisa ver… — Christopher aponta com o dedo indicador na direção da casa. — Lá
dentro. — sorri lindamente.
— Estou esperando que você me mostre. — eu lhe dou uma piscadela provocativa, fazendo-o
rir com o meu atrevimento.
— Se comporte, você é uma criança, Julha. — ele ri e balança a cabeça em sinal de
reprovação, seguido de uma leve mordida em seu lábio inferior.
— Sério, isso? — pego em seu braço, fazendo-o me fitar.
— O quê? O fato de eu ter lhe chamado de criança? — diz ainda divertido, enquanto eu me
controlo para não encher o seu lindo rosto de tapas. Apenas aceno com a cabeça e tento, com um
pouco de dignidade que me resta, controlar as lágrimas que insistem em cair. — Não sei por que o
espanto. Você é uma criança, Julha, ao menos pra mim. — diz, sério, fazendo o meu mundo
desabar. Como uma brasa que queima em contato com a pele, é assim que sinto o seu braço sobre
a minha mão.
Qual foi o momento que ele mudou tanto de humor?
Criança?
Por essa eu realmente não esperava.
Uma raiva misturada com tristeza é o que eu sinto. Raiva por ter deixado mais uma vez me
iludir em acreditar que ele nutria, por pequeno que fosse, algum sentimento por mim. E tristeza por
saber que este sentimento que carrego no peito por ele só me trouxe, e trará ainda mais,
sofrimento.
Canalha.
— Não foi o que você disse quando estávamos na cama. — vejo o seu olhar por um breve
momento, mas não demora e ele coloca a máscara do padrasto insuportável.
— Eu sou homem, Julha. — diz, ríspido, enquanto nos aproximamos da mansão.
— Pedofilia não é o seu forte, Sr. Cloney? — provoco.
— Eu não vou discutir com você, Julha. Não aqui. — diz ao estacionar o carro.
Guardo a minha raiva em uma caixinha e jogo no fundo do meu subconsciente no exato
momento em que os meus olhos admiram a linda imagem da grande mansão. A arquitetura colonial
é exuberante.
— Então, o que me diz? Gostou?
— Você tem razão, isso aqui é um sonho.
— Eu disse que você ia gostar. — desvia os olhos por alguns segundos da casa e me fita com
uma expressão amistosa, mas eu não retribuo o sorriso.
— Eu quero tomar um banho. — abro a porta do carro e saio covardemente diante dos seus
olhos.
— Amanhã pela manhã eu a levarei para dar um passeio a cavalo. Tem um lugar que eu
quero que você conheça.
— Você não veio aqui para trabalhar? Eu não quero ser uma criança causadora de
problemas. — seus olhos cerrados me fitam.
— Você é o meu trabalho. — sorri, irônico.
Ao perceber que ele vem em minha direção, eu caminho a passos largos até uma linda fonte
onde um anjo nu feito em pedra de quartzo jorra uma água cristalina de um cântaro.
Fecho os olhos e por um momento eu me perco no ar fresco que lambe o meu rosto, me
refrescando em meio ao calor escaldante do fim de tarde. Não sei por quanto tempo fico assim,
sendo abraçada pelo vento e agraciada pelo barulho relaxante das águas da fonte.
— Vamos entrar? Você precisa descansar. — suas mãos tocam o meu ombro e minha pele
rapidamente reconhece o seu toque, se se arrepiando em resposta.
— Você tem razão, estou mesmo precisando de um banho e um pouco de descanso.
Ajudo Christopher a pegar as malas e levar para dentro da casa.
— O que você trouxe aqui? — pergunta, fazendo uma careta com o peso da minha mala.
É, acho que exagerei.
— Trouxe a geladeira. Fiquei preocupada de não ter uma aqui. — revira os olhos e me dá um
sorriso irônico. — Claro que são roupas.
— Muito engraçado, Sra. Cloney. — arqueio as sobrancelhas surpresa com o que eu acabo de
ouvir. — Durante essa semana você será só minha. — solta as malas no chão e, com
movimentos bruscos, ele me agarra pela cintura e deposita um selinho estalado em meu pescoço.
— Isso aqui é maravilhoso. — digo, me afastando dele para não cair em tentação.
Estou muito chateada com o que ele disse. Christopher bufa, frustrado, enquanto eu caminho a
passos lentos pela sala, olhando todos os detalhes da decoração.
— Sim, eu sei que é.
O interior da casa é lindo. Uma edificação térrea e ampla, com muita luz e iluminação natural.
Uma bela vista panorâmica. A ampla varanda integra as áreas sociais e de lazer. A sala de estar
em sua linda decoração rústica e sofisticada, revela o bom gosto da família Cloney.
— O que achou da surpresa? — pergunta, vindo em minha direção.
Eu recuo e Christopher para bruscamente, me fitando com cara de poucos amigos. Eu não me
importo, quero que ele sinta o gosto amargo do desprezo.
— Era para ser uma surpresa? Eu pensei que você estaria aqui a trabalho. — eu o fito com
uma das sobrancelhas arqueadas ironicamente. Ele revira os olhos.
— Podemos aproveitar a semana sem brigas? — minha boca se abre em um formato de “o”.
Depois a maluca sou eu.
— A criança aqui promete se comportar. — provoco sob o seu olhar, que me fuzila.
— Julha. — ele me adverte e o seu tom soa ríspido.
— Você poderia me dizer onde fica o meu quarto? — pergunto, ignorando seus lindos olhos
azuis sobre mim, que me fazem cair em tentação. Ele revira os olhos, reprovando a minha atitude.
Antes mesmo que ele responda a minha pergunta, ouço o meu aparelho celular tocar. Eu o
pego no bolso de trás da minha calça, deslizo o polegar sobre a tela e desbloqueio.
Um sorriso vitorioso dança em meus lábios quando os meus olhos contemplam o nome de Felipe.
Eu sei o quanto Christopher o detesta, e eu, claro, como uma menina má, trato de ser mais
carinhosa do que normalmente sou.
— Só um momento. — peço enquanto ele me fita, desconfiado. Dou alguns passos para longe
dele e atendo. — Alô?
— Alô? Oi, Ju, tudo bem? — a ligação está falhando.
— Oi, amor. Sem contar a saudade que já sinto de você, está tudo bem. — fito o meu
padrasto, que me olha com cara de poucos amigos.
— Quando você volta? Também estou com saudade, meu amor. Eu já não sei mais viver longe
de você. — ele é tão lindo.
Você vai para o inferno, Julha.
O meu subconsciente me acusa ao reprovar a minha atitude ao usar Felipe. Ele não merece.
— Eu adoro você. Voltarei o quanto antes e também estou com saudade… — digo, sincera.
Antes mesmo que eu termine a frase, Christopher, que se aproximou de mim sem que eu percebesse,
com movimentos bruscos pega o meu celular e o arremessa contra a parede. — O que você fez?
— é só o que consigo dizer enquanto ele agarra o meu braço, me encarando com os olhos
vermelhos, irritados.

Continua…
Playlist
Ego – Beyoncé
I Kissed a Girl – Katy Perry
Flashlight – Jessie J
Mirrors – Justin Timberlake
Try – Pink
Not About Angels – Birdy
Deixa ela Saber – Henrique e Juliano Summertime Sadness – Lana Del Rey
When I Was Your Man – Bruno Mars
My Everything – Ariana Grande
Não perca a continuação dessa obra incrível!
O Padrasto
II
Capítulo Um

— Qual é o seu problema, garota? — grita, visivelmente irritado.


Eu estremeço, amedrontada com o seu tom de voz alterado.
Em alguns momentos, Christopher me causa medo. Ergo o queixo em um gesto imponente,
impedindo que ele note o quanto fraca eu fico diante da sua presença.
— Qual é o meu problema? — rio com ironia. Viro de costas para ele. — Você acabou de
destruir o celular que o papai me deu antes de partir… — digo com lágrimas nos olhos. —
Jogando-o contra a parede e ainda tem a cara de pau de perguntar qual é o meu problema? —
digo, desolada, ao ver os pequenos fragmentos do meu celular espalhados pelo chão.
Ele evita contato visual.
Com movimentos bruscos, Christopher solta o meu braço. Eu passo a mão sobre o local
atingindo, onde sinto uma ardência se misturando com as marcas vermelhas deixadas pelos seus
dedos na minha pele branca.
Seus olhos deslizam pelo meu braço marcado por sua ira e o vejo espremer seus lábios entre
os dentes.
— Você me tira do sério. — bufa.
Em passos largos, ele caminha, irritado, dentro do cômodo de um lado para o outro. Eu tenho a
consciência de que muitas vezes eu o faço perder a cabeça, mas nada que justifique sua atitude.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Você me faz perder a cabeça, Julha.
— Eu só estava…
— Não quero saber o que você estava pretendendo quando atendeu à ligação daquele
moleque idiota. — ele me interrompe. Seu tom de voz me causa medo, mas eu não deixo que ele
perceba. — Você está aqui comigo. — grita. Dou um passo para trás com o susto. Em passos
lentos, ele se aproxima. — Você não pode fazer isso quando estiver comigo. — gesticula com as
mãos. Dou mais um passo para trás.
— Ele é o meu namorado. — engulo em seco e seus olhos, que agora carregam um tom
acinzentado, me fuzilam. — Eu não vou deixar de falar com ele apenas porque eu sei que você…
Ai! — solto um grito com o susto ao sentir suas mãos me pegarem de surpresa e me colocar contra
a parede, prendendo meus pulsos acima da cabeça.
Nossos rostos estão próximos e eu consigo sentir a sua respiração ofegante e o hálito de
hortelã. Engulo em seco em excitação.
O meu padrasto é a minha tentação. Sua língua desliza por sobre os seus lábios, umedecendo-
os e despertando a minha libido.
— Entenda uma coisa, Julha Thompson. — umedece mais uma vez seus lábios e dá uma leve
mordida no lábio inferior seguido dos seus olhos queimarem meu corpo. — Quando você estiver
comigo, sua atenção deve se voltar apenas e unicamente para mim. — cola ainda mais o seu corpo
ao meu, me fazendo sentir o seu pau enrijecido roçar na minha virilha. Um gemido em excitação
vindo do fundo da minha garganta escapa por entre os meus lábios.
Um sorriso malicioso dança em seus lábios seguido de sua boca possuir a minha, com urgência.
Continua…

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