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,
22,3 x 15,8 em. ISBN 85-326-1963-0.
Dois anos depois de concluída a meiro volume francês (na edição bra-
publicação em francês, a Ed. Loyola sileira colocado no início, como guia
completa a edição brasileira da volu- de leitura) não corresponde totalmen-
mosa "leitura" do Quarto Evangelho te às divisões adotadas ulteriormente.
produzido pelo emérito professor X. Mas isso não tira o valor da obra como
Léon-Dufour, pela publicação do um todo (c. 1850 p. na edição
volume IV. Considerando a obra em francesa). É um exemplo único de
seu conjunto, percebem-se algumas "leitura" do Quarto Evangelho - leitura,
"correções de percurso". Inclusive, o e não apenas exegese ou explicação
esquema apresentado no fim do pri- do sentido verbal do texto.
Por isso, cada capítulo termina muito apropriado para iluminar essa
numa "abertura", uma "desclausura" abordagem. Oferece também ensejo
hermenêutica para nosso horizonte para aprofundar a intenção do autor
atual. (20,30-31.) Com sempre deve-se
observar o princípio da leitura em
Léon-Dufour cita amplamente a dois tempos, o tempo da narrativa e
literatura exegética sobre João, o tempo do leitor original, a ser com-
sobre-tudo a partir do comentário pletada com a perspectiva herme-
epocal de R. Bultmann (1941), nêutica, ou seja, a abertura de senti-
passando pelas obras de C.H. Dodd, do para nós hoje.
R. Schnackenburg e R. E. Brown.
Percebe-se sensibilidade especial "No fim de nossa leitura [... ]
pelo contexto semítico/hebraico do convém jogar um olhar no Liminar da
evangelho joaneu, de acordo com as obra" (p. 219). No "Posfácio", L.-D. olha
freqüentes citações dos estudos de para trás para esclarecer post factum
G. Reim e a obra mais recente de F. seu procedimento, anunciado no
Manns, e mostra-se influenciado "Liminar" que abria o primeiro volume.
tam-bém pela obra de M. Hengel Neste sentido, fornece uma visão de
sobre "a questão joanéia". conjunto sobre o personagem do
Discípulo Amado, as eventuais
o último volume, que temos diante influências do dualismo e do
dos olhos, trata de Jo 18-21. Entre as gnosticismo e a dimensão simbólica da
coisas que chamam a atenção: a leitura proposta. L.-D. realça que sua
divisão da história da Paixão: 18,1-27; leitura é fundamentalmente sincrônica,
18,18-19,22(não 19,16a,como em deixando de lado a investigação das
muitos comentários); e 19,23-42. Digno fontes e procurando re-conhecer a
de nota é também o senso de unidade estrutura dos significantes no texto
com que é tratado o capo20. O capo 21 como está diante de nós. Isso não
é chamado não apêndice, mas epílogo exclui a consideração das tradições
(cf. J. Zumstein), o que acentua o laço assumidas e reinterpretadas pelo autor
orgânico com os capítulos anteriores. do evangelho, nem das diversas
Quanto ao autor deste capítulo, é "retomadas" deste evangelho que se
lembrada a hipótese de uma "escola interpreta a si mesmo, por exemplo, no
joanina". Jo 21 mostra uma fase ulterior "segundo discurso de despedida" e nas
da reflexão da comunidade joanéia, já à freqüentes observações reflexivas do
luz do evangelho joaneu, sobre a próprio autor. De toda maneira, L.-D.
tradição e a identidade desta se mantém longe das análises de J.
comunidade no conjunto da "grande Becker, G. Richter ou M.-E. Boismard,
Igreja", representada pelo nome de para não falar do hipotético "evangelho
Pedro. dos sinais" de R. Fortna e outros! É
confesso defensor da unidade literária
Como nos volumes anteriores, é
do Quarto Evangelho.
realçada a leitura "simbólica": para
Léon-Dufour, a narrativa, mesma
quando baseada em informação his- "Outra opção fundamental é a lei-
tórica, mostra apenas uma parte, cer- tura simbólica do escrito joanino"(p.
tamente "significativa", do sentido. É 220). A sobredeterminação do senti-
preciso compreender mais do que se do, própria do simbolismo, tem di-
lê. O capo20, com suas referências à versos níveis. Pode ser contemporâ-
dialética de ver e crer (20,8.29), é nea do enunciado original, levando
em consideração os pressupostos gnosticismo", mas fazer depender
culturais (o simbolismo conhecido João da gnose é impossível; o con-
nas tradições judaicas); ou pode sur- trário, em parte, sim. Se João se
gir numa compreensão ulterior, por mostra sensível às aspirações à "sal-
exemplo, passando do tempo de Je- vação" vivas no seu ambiente pré-
sus para o tempo da comunidade gnóstico, sua resposta é bem
joanéia. Realista, Leon-Dufour reco- diferente da gnose.
nhece o entrelaçamento das duas
leituras simbólicas, por exemplo, no Este último volume da obra de
caso do pão da vida: "Não há duas Léon-Dufour é completada por um
leituras, mas uma só" (p. 221). O extenso índice temático (16p.).Abran-
assunto é depois aprofundado em gendo os quatro volumes, este índio ce
algumas páginas que valem a pena aumenta consideravelmente o valor e a
ler. manuseabilidade da obra, ao
proporcionar visão sintética dos temas
Outro assunto do Posfácio é a que, como numa fuga musical,
questão do Discípulo Amado e do aparecem, desaparecem e reaparecem
autor do evangelho. Inclina-se para no decorrer do evangelho, podendo ser
hipótese de que o Discípulo amado apreendidos apenas na sua evolução.
tenha sido o "presbítero" João men- O índice inclui também alguns tópicos
cionado por Papias (d. M. Hengel). mais objetivos (geográficos etc.) ou
Embora esse "Discípulo do Senhor" metodológicos.
seja apresentado em Jo 21,24como
o "autor" do evangelho, convém A edição brasileira acrescenta ao
interpretar que ele é o responsável último volume a leitura de "Jesus e a
pelo "testemunho" apresentado no adúltera" (Jo 7,53-8,12),que no origi-
nal francês tinha sido deslocada de
quarto Evangelho. Mas isso não
seu lugar canânico para o fim do
exclui a participação de sua
capo 8 (no vol. I). Creio que a opção
comunidade ("nós sabemos", 21,24). da edição brasileira é mais lógica,
Assim surge a seguinte genealogia: por se tratar de um texto não-joaneu,
o discípulo-testemunha, o inserido em diversos lugares do NT,
evangelista-escritor, o redator- conforme mostra a história do texto
compositor (sobretudo no capo 21). do Novo Testamento; a opção da
edição brasileira corresponde ao lu-
Outro tema do Posfácio é "João e gar que o texto ocupa no códex mio
a gnose", tratado com consideração núsculo 1 (do séc. XII).
dos "judaísmos diferentes" que se
manifestam, entre outros, nos escri-
tos de Qumran. De fato, as fronteiras
entre as tendências dualistas e os Johan Konings
judaísmos do primeiro século torna-
se menos radical. João pode ter co-
nhecido (e combatido) certo "pré-
KUSCHEL, karl-Josef: 1m Spiegel der Dichter. Mensch , Gott und Jesus in der
Literatur des 20. Jahrhunderts. Düsseldorf: Patmos, 1997. 460 pp. 21,3 x 13,6.
ISBN 3-491-72378-7.