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1 – A aposta biográfica
Pág 225- A autora inicia o texto abordando a imprecisão que sempre marcou a
fronteira que separa a biografia da história. Porém ela ressalta uma mudança radical
nesse ponto: após um longo período dedicado apenas aos interesses pelos destinos
coletivos, o individuo voltou a ocupar hoje um lugar central na preocupação dos
historiadores.
“A redescoberta da biografia remete principalmente a experiências no campo da
história atentas ao ‘cotidiano’, a ‘subjetividades outras’: por exemplo, a história oral, os
estudos sobre cultura popular e a história das mulheres. O desejo de estender o campo
da história, de trazer para o primeiro plano os excluídos da memória, reabriu o debate
sobre o valor do método biográfico.”
Pág 226 e 227 – A autora mostra como a crise do modelo de análise histórico
estrutural, ou seja, a análise marxista, possibilitou o deslocamento do interesse, antes
focado exclusivamente na atividade econômica e política do camponês ( ou do
operário) para sua subjetividade.
Porém, o novo furor biográfico, foi visto por muitos historiadores com alguma
reserva. Temia-se o abandono da “história problema” e a volta de uma história
cronológica, narrativa.
Mesmo entre os partidários da biografia, prevaleceu uma “visão resignada,
minimalista, baseada na estranha convicção de que é menos complexo e menos difícil
debruçar-se sobre o personagem –homem do que sobre as estruturas sociais” (p.228).
Pág 228 e 229 – A autora volta ao tempo, de forma a lembrar os altos e baixos
do gênero biográfico.
É colocado que a própria antiguidade foi marcada pela distinção entre história e
biografia. Plutarco aqui, é apontado pela autora, como o grande defensor da biografia.
O debate perdurou entre os historiadores modernos. Houve por um lado, um
desprezo pela biografia, como o exemplo do historiador John Hayward, que em sua obra
intitulada Life and reigne of king Henry III (1599) “recomendava que não se
confundisse ‘o governo das grandes potencias’ com a vida e os feitos dos homens
ilustres”(p229).
Porém, essa separação entre história e biografia não foi aceita de forma unânime
na época moderna. Muitos historiadores no século XVIII acreditavam sim “que o
destino individual dos homens ilustres permitia compreender as escolhas de uma
nação”(p.229).
Pág 230 – A autora mostra que no século XIX, entre os filósofos, ocorreu um
aprofundamento do fosso entre biografia e história, devido a busca destes pelo sentido
da história empírica na história filosófica.
Passou-se a adotar uma visão providencial da história (onde se acreditava que os
indivíduos cumpriam algo que nem mesmo eles poderiam compreender), fazendo assim,
com que se perdesse ainda mais o interesse pela dimensão biográfica.
Pág 231 e 232 – Essa nova visão filosófica da história foi compartilhada
principalmente pelos historiadores positivistas: “Para os historiadores positivistas, as
qualidades pessoais, inclusive as dos grandes homens, não bastavam para explicar o
curso dos acontecimentos, e era preciso levar em consideração as instituições e o meio
(a raça, a nação, a geração e etc.)” (p.231). Segundo a autora, essa atitude teve uma
outra conseqüência conceitual que foi a de purificar o passado, uma vez que no enfoque
evolucionista era indispensável renunciar as variações, as diferenças.
Porém, as particularidades pessoais e principalmente as especificidades
nacionais ainda eram afirmadas pela maioria dos historiadores do século XIX. É citado
como exemplo os trabalhos de Leopold Von Ranke, Barthold Niebuhr, Thomas
Babington Macaulay ( “que acreditava que o espírito de uma época ou de uma
civilização não podia ser entendido a não ser por intermédio da realização pessoal dos
grandes protagonistas”; p.232), entre outros.
3 – O herói
Pág 233 – A autora mostra que na metade do século XIX as tonalidades heróicas
tornaram-se particularmente vivas. Indo em oposição a concepção positivista da
história, ocorreu por parte dos historiadores uma valorização das capacidades e ações
individuais. Porém, não era todo o individuo que merecia um tratamento particular, mas
apenas “o homem que faz a história”.
Pág 234 e 235 – É colocado que a biografia foi uma forma encontrada por alguns
historiadores de não cair na armadilha da “história historizante”, da história cronológica,
que pregava que os fatos falavam por si.
4- O homem patológico
5 – O homem-partícula
Pág 243 – É mostrado, como no inicio do século XX, alguns desses pontos
analisados das obras de Burckhardt e Taine foram retomados e aprofundados pelos
historiadores prosopógrafos e outros estudiosos. Entre os estudiosos citados estão:
Lewis Namier, Freud entre outros.
6 – Norma e possibilidade
Pág 244 – Sabrina Loriga mostra que desde então a crise do heroísmo chegou a
um ponto extremo. Porém a morte do herói não eliminou a possibilidade de se estudar o
individuo. Ocorreu apenas uma mudança de foco. Se antes se estudava o “grande
homem” hoje a aposta é no estudo do homem comum.
Entre os trabalhos que marcaram esses novos estudos encontram-se os de
Edward P. Thompson, Carlo Ginzburg, entre outros.
Pág 246 – A autora aponta que o grande problema na produção biográfica é que
muitas vezes se busca ( ou força-se) uma coerência, uma unidade de sentido, entre o
meio ( o contexto) e a vida de determinado individuo.
Pág 247 a 249 – Isso se deve muitas vezes a regra do oficio, que impõe a
contextualização da pessoa em seu ambiente; regra essa que faz com que se difira a
biografia histórica da biografia como gênero literário. Porém, esse princípio
fundamental foi muitas vezes confundido com o da representatividade, onde se busca no
estudo da existência uma certa normalidade, uma conformidade com o todo social.
Porém a autora mostra, que estudos realizados nos últimos anos pela micro-
história têm contribuído para mudar essa perspectiva. Assim, já “não é necessário que o
individuo represente um caso típico, ao contrário, vidas que se afastam da média levam
talvez a refletir melhor sobre o equilíbrio entre a especificidade do destino pessoal e o
conjunto do sistema social”. (p.248)