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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES II
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
METEDOLOGIA
PROFESSOR DR. MARIO VIANA

Antonio Humberto Magalhães Brito Filho

Os usos e desusos da cultura afro-brasileira no ensino de


história: uma dita história básica.

Fortaleza-CE
2017
Os usos e desusos da cultura afro-brasileira no ensino de história:
uma dita história básica

No ensino de história, principalmente no ensino básico (ensino fundamental e


médio), ainda existem casos de negligência de uma história negra, onde, nas poucas
aparições, só é evidenciado como força de trabalho escravo durante o período de
colonização e na rápida passagem que o livro didático explora a história do continente
africano. Com base nessa reflexão, busco esboçar minhas inquietações, a partir da minha
experiência escolar, sobre esses usos e a ausências da maior parte dessa parcela da
população do Brasil (negros e mestiços), onde o recorte temporal iniciasse no começo do
século XIX e vai até a primeira metade do século XX. Esses afro-brasileiros que muito
foram e, infelizmente, são esquecidos, ou não são prioridade para a formação desses
estudantes do “ensino básico”.

Durante o processo emancipatório do país e diversos conflitos internos e externos


(guerra do Paraguai, revoltas provinciais, lutas abolicionistas etc), temos estudos que
mostram como os negros escravos e libertos participaram desses processos, arriscando
suas vidas em busca de um governo onde fossem livres1. Partindo desses pressupostos,
posso tentar aprofundar essa análise ensaística com base nas escritas sobre uma
perspectiva da história social inglesa, onde a proposta é ver a história desde baixo,
rompendo com as amarras de uma narrativa elitista da história. Como já havia dito, existiu
um intensa participação de negros e mestiços no processos de combates militares, onde
libertos e livres pegaram em armas na defesa de um governo melhor, com políticas de
libertação para os soldados cativos e propostas de programas de libertação gradual, como
a lei do ventre livre, para enfim abolir a escravatura, já que era insustentável para
lideranças revolucionárias tentar manter a escravidão em meio a um processo de
libertação.

Mas como a história não é só grandes eventos, é bastante pertinente observar o


cotidiano dessa população de negros no Brasil. Nos costumes, ou aspectos culturais em
gerais, que muito influenciou e influencia ainda hoje culturas do território brasileiro e em
outros locais do mundo. Sabemos que por mais particular que essas manifestações
culturais já chegaram a ser, durante todos esses anos em convívio com outras sociedades
e costumes, houve uma mistura cultural, ao ponto de duvidarmos de uma possível cultura
pura, partindo de uma teoria de hibridismo cultural, podemos pensar como toda uma
cultura foi absorvida e apropriada por um grupo social mais abastardo. Se pensarmos o
caso do samba brasileiro, veremos como um discurso de negação ao maxixe, gênero que
antecede o samba que conhecemos hoje, foi criminalizado por intelectuais e governantes,
até seu fim, com a aparição do samba do Estácio de Sá (bairro carioca). Samba esse que
foi deixado brotar em um terreno fertilizado pelo movimento modernistas, que tinha como
objetivo a busca de uma identidade artística nacional, deixando de ser criminalizado e
passando a ser comercializado para o povo brasileiro. Durante essa comercialização, era
comum a ida de brancos de classe média nos bairros de sambistas, seja para aprender o
“novo ritmo”, ou até mesmo para comprar as músicas de origem afro-brasileira, se
apropriando de um cultura de tal forma, que a composição musical perdia todos os
resquícios de autoria no âmbito institucional e, assim como fora no período escravocrata,
a produção do negro chegava a ser paga com uma refeição. Esse trato com os
descendentes de africanos nos faz compreender como o racismo ainda estava enraizado
na sociedade brasileira. Também vale lembrar o velho mito de formação de uma classe
operária imigrante e branca, negando toda a participação de negros e negras, ex escravos,
em associações operárias, formando o que identificamos como classe operária na primeira
república.

Partindo dessa historicização sobre a participação do afro-brasileiro na formação


do Brasil, vejo a possibilidade de fazer uma problematização sobre a ausências, em alguns
casos, desse conhecimento na formação do aluno do ensino básico, ou até em como é
feito o uso dessas informações que os docentes em história obtém em sua graduação. O
que me leva a crer na existência de uma possível resistência internalizada pelo racismo
escravista de branquear a história dos países, se atendo a uma visão elitista e branca na
construção do saber histórico. Então, sabendo dessa problemática, quais fatores de
sustentabilidade dessa estrutura podem ser identificados, sendo que existe a lei 10.639/03
que obriga a introdução desse conhecimento já citado no ensino de história? Em meio a
essa problematização, vou buscar respostas na construção social do Brasil, que possui
uma elite extremamente saudosista em relação ao trabalho escravo, onde em dias atuais
projetam leis para um regime de trabalho pago com alimentação e moradia. Esse
saudosismo também é evidente no comportamento da classe média, que tanto bateu
panela quando o governo federal regularizou o trabalho das empregadas domésticas. E
em parte da população pobre, muito influenciada pelas propagandas das mídias que
vendem a visão elitista e europeizada, exaltando o branco de posses e suas características
culturais. Também podemos pensar nas continuidades da formação proposta pelo governo
ditatorial da segunda metade do século XX, já que fora defendido uma história dos
grandes eventos e seus heróis durante o período, valorizando figuras que preenchem os
requisitos elitista para a construção de uma memória histórica.

Quando não excluídos do processo, o que vemos é um mero condicionamento


reducionista de força de trabalho na formação da nação brasileira, negando aos afro-
brasileiros seu espaço na narrativa da história. Cabe a nós, professores de história, propor
um novo modelo de aula, utilizando de outras ferramentas de ensino, para além do livro
didático, levando fontes históricas que legitime os argumentos contrários a esse
pensamento hegemônico que ainda está enraizado na mentalidade dos brasileiros, assim
como os nossos vizinhos latino-americanos. Fontes fonográficas, pinturas artísticas como
as do Portinari e documentos sobre a formação das associações de trabalhadores, podem
ser utilizados nessa disputa da memória, provocando uma conscientização social mais
justa e verossímil na leitura de mundo dos alunos do ensino básico. Se esse conhecimento
ficar preso na academia, só iremos contribuir para a reprodução desse imaginário elitista
e escravista ainda presente.

Notas:
1
Sobre os processos de emancipação, ver ANDREWS, George Reid. América Afro-Latina, 1800-2000. São
Carlos: EdUFSCar, 2014. 318 p.

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