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1ª Coríntios 14:20-25: Profecia e línguas como sinais do agir de

Deus
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Monday, September 26, 2016

As instruções de Paulo em 1ª Coríntios 14.20-25 são frequentemente desconcertantes, sobretudo porque ele trata
as línguas como um sinal para os descrentes (v.22), mas também porque parecem desencorajar o uso
delas quando estes estiverem presentes (v.23). Semelhantemente, diz que a profecia é para os crentes (v.22), e
assim encoraja o uso da profecia inclusive quando descrentes estiverem presentes (vv. 24-25). O trecho fica ainda
mais complicado pelo fato de Paulo citar no v. 21 o texto de Isaías 28.11, parte de uma passagem muito difícil do
Antigo Testamento.

Os comentários de 1ª Coríntios fornecem uma ampla variedade de resoluções para o problema, sem que um
consenso sobre o assunto seja estabelecido. Alguns comentaristas sugerem que Paulo está falando de dois tipos
de descrentes, ou seja, aqueles que ouviram a Palavra de Deus e a rejeitaram (v.22), e aqueles que estão ouvindo
pela primeira vez ou estão prestes a se tornar crentes (vv. 23-25).

F. Bruce diz que a profecia é para crentes “no sentido de que produz crentes”, fazendo com que a passagem
inteira, na realidade, fale sobre descrentes. H. Conzelmann acrescenta à explícita declaração de Paulo sobre
línguas como um sinal para descrentes sua própria convicção de que línguas também são um sinal para crentes. C.
K. Barrett, por sua vez, enxerga línguas e (o abuso coríntio delas) profecia como sinais de juízo, enquanto R.
Lenski diz que ali “nós vemos Deus usando dois sinais: um de julgamento para descrentes e um de graça para
crentes.”

Talvez alguma ajuda no entendimento da passagem possa ser dada se tentarmos responder três questões
específicas: (1) Qual era o significado das “outras línguas” em Isaías 28.11? (2) Como Paulo usa esta passagem do
AT em relação ao seu sentido original? (3) Em qual sentido profecias e línguas são “sinais”?

1. “Outras línguas” em Isaías 28.11

Isaías 28 9.13, passagem onde se encontra este verso, é notoriamente difícil, mas se começarmos por selecionar o
Texto Massorético tal como está, podemos fazer várias observações, iniciando com a conclusão no v. 13 e
retornando aos versos anteriores. O termo hebraico ləma‘an (a fim de que), no v. 13, deixa claro que, quando a
palavra do Senhor viesse aos samaritanos na forma “şawlaşaw … qawlaqaw”, seria uma palavra de julgamento. “A
palavra do Senhor lhes será şawlaşaw, şawlaşaw, qawlaqaw, qawlaqaw, um pouco aqui, um pouco ali; para
que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, e se enlacem, e sejam presos.” (Is 28.13). A palavra do Senhor
direcionada a eles os levaria a um resultado certo: eles começariam a ir (yê·lə·ḵū) a algum lugar, mas, como um
animal confuso, capturado por caçadores, cairiam e seriam presos. A palavra do Senhor seria, desta forma, uma
palavra de julgamento, simplesmente porque não apontaria uma direção clara. Sem que ninguém os dissesse:
“Este é o caminho, andai nele” (Is 30.21), se tornariam presas fáceis dos seus adversários.

Mas se “ləma‘an” requer este sentido no verso 13, então o estranho “şawlaşaw… qawlaqaw” deve ser um conjunto
de sons que não oferece um significado coerente aos ouvintes. Em vez de serem guiados, estão confusos quanto a
isso. Agora deve ser uma coleção de sílabas sem sentido, sendo mais provável que ṣaw e qaw sejam nomes mais
antigos das letras sucessivas do alfabeto hebraico ‫ צ‬e ‫ק‬. Neste caso, “um pouco aqui, um pouco ali” se refere ao
processo gradual de aprendizado empreendido por alguém que começa a aprender um novo idioma, ou por um
professor ensinando crianças a ler. Em ambos os casos, trata-se de um processo lento, e mensagens cheias de
significado certamente não podem ser comunicadas àqueles que não aprenderam a primeira lição, as letras do
alfabeto. A palavra do Senhor viria aos samaritanos como sons sem significado, como letras do alfabeto de uma
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língua da qual ainda não compreendem nenhuma palavra.

A tradução mantida por algumas bíblias, “preceito sobre preceito… linha por linha” é muito improvável porque (i)
uma repetição simples e clara dos preceitos de Deus, indubitavelmente, não faria o povo “cair para trás (de
costas) … e ser preso” (v. 13); (ii) ṣaw é simplesmente uma palavra desconhecida e nunca é usada como
“comando de Deus” (Os 5.11 é a outra ocorrência. Aqui, ṣaw traz juízo); (iii) enquanto qaw, que normalmente
significa “trena”, é usado metaforicamente para falar de Deus construindo um reino de retidão e justiça (Is 28.17).
Nunca é usado para falar especificamente de um padrão pelo qual os homens devem guiar sua conduta. Assim,
isto também demanda um sentido sem precedente.

A evidência adicional de que ṣaw e qaw não são palavras significativas está no fato de que em nenhum lugar da
tradição escrita judaica alguém fez uma interpretação correta dos termos. Os tradutores da LXX pensaram
que ṣaw significava “tribulação, aflição” e traduziram como θλ ψις, e pensaram que ‫ וַק‬estava relacionado
com “esperança”, então traduziram como elpiV. O Targum de Isaías entende ‫ וַצ‬como “mandamento”, mas lança o
termo em um discurso sobre os que caminham guiados por seus próprios desejos e subestimam o santuário de
Deus. O rolo de Isaías do Qumran (I Q Isª) possui ‫( יצל יצ יצל יצ‬trocando vav por iod), nos versos 10 e 13, indicando
que o escriba aparentemente não tinha ideia do que a frase significava.

Então, isolando Isaías 28.13, encontramos duas interpretações possíveis de “saw” e “qaw”. Podem ser nomes
antigos das letras do alfabeto, ou podem ser sílabas sem sentido repetidas de maneira zombeteira e monótona.
Não importa realmente o que são, pois em qualquer caso funcionam para os ouvintes como sons que não
carregam nenhum significado e, assim, levam a juízo e destruição.

Agora podemos examinar mais de perto os versos 11-12: “Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a
este povo. Ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram
ouvir.” Isaías deve ser o falante aqui, porque se faz referência ao “povo” na terceira pessoa. Desta forma, o sujeito
não especificado em “Falará” e “Disse” deve ser o Senhor. No passado (note os tempos perfeitos ‫ רַמאָ‬e ‫ )אוּבאָ‬o
Senhor falou palavras claras e confortantes ao povo, mas este resistiu teimosamente à palavra de Iavé. Então,
como resultado, Isaías diz que o Senhor não falará claramente no futuro (será por “por lábios gaguejantes, e “por
outra língua”) como uma punição pela dureza de coração. Este discurso futuro de punição é, desta forma, a mesma
coisa que a palavra do Senhor no verso 13, “saw lasaw . . .”, que leva os ouvintes à destruição. Então as palavras
“şawlaşaw … qawlaqaw” são utilizadas por Isaías para representar o discursos dos invasores estrangeiros
(assírios), cujos ouvintes samaritanos não compreenderiam.

Os versos 9 e 10 permanecem com suas dificuldades. Eles representam as palavras dos ouvintes de Isaías, que
zombam (cf. v.22) e arremedam suas mensagens como se fossem lições para crianças? Ou são a questão retórica
feita por Isaías a si mesmo: “A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender doutrina?
Ao desmamado do leite, e ao arrancado dos seios? Porque é şaw laşaw…? A interpretação anterior requer menos
para ser lida no contexto, e é preferível. Tal visão permite que Derek Kidner parafraseie 9-13 e

“Faça com que o sentido de Deus não tenha sentido, e obterá seu preenchimento desde a Assíria.” Neste ponto de
vista, os vv. 9-10 simplesmente funcionam como prólogo para introduzir os vv. 11-13, cujo significado é o
mesmo. Assim, as “outras línguas” em Isaías 28.11 são a predição do profeta acerca do discurso estrangeiro que o
Senhor traria aos samaritanos como forma de punição.

2. O uso de Isaías 28.11 por Paulo

A citação de Paulo deste verso é ligeiramente livre, porém não é estranha ao contexto. Ele escreve em 1ª Coríntios
14.21-22:

ν τ νόμ γέγραπται τι ν τερογλώσσοις, κα ν χείλεσιν τέρων λαλήσω τ λα τούτ κα ο δ’ ο τως


ε σακούσονταί μου λέγει Κύριος. στε α γλ σσαι ε ς σημε όν ε σιν ο το ς πιστεύουσιν λλ το ς πίστοις;

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δ προφητεία, ο το ς πίστοις, λλ το ς πιστεύουσιν.

Seu λαλήσω τ λα τούτ (falarei a este povo) se alinha ao Texto Massorético (onde o Senhor é claramente o
falante), mas não à LXX, que diz τι λαλήσουσιν τ λα τούτ (por isso falarão a este povo). Ele omite “Ao qual
disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério”, e então muda o tempo verbal de “Eles
não ouviriam” para o futuro “Eles não ouvirão”. Por conseguinte, não faz referência à teimosia passada, mas a uma
recusa futura em ouvir o discurso em línguas estranhas. Paulo se afasta da LXX que usou κούειν para ‫שׁ‬ ְ‫מ‬
ֹֽ ‫ ַעו‬e
também se afasta da LXX, quando usa ε σακούσονταί. A nuance é diferente, pois ε σακούw significa “ouvir e
responder; obedecer; prestar atenção a”. ο δ’ ο τως aqui significa “nem assim”, “nem mesmo nesse caso” ou
“nem mesmo depois” (cf. Mc 14.59; BL-D., §455,2): nem mesmo quando ouvirem falar em línguas estranhas, eles
obedecerão ao Senhor. Podemos traduzir: ” ‘Por outras línguas e por outros lábios falarei a este povo, e mesmo
assim não me obedecerão.’, diz o Senhor”.

Paulo compreende muito bem que quando Deus fala numa língua incompreensível, é uma forma de punição pela
incredulidade. Um discurso incompreensível não guiará, mas confundirá e levará à destruição. Esta é uma das
últimas repreensões, contudo nenhuma destas produziu o arrependimento e a obediência desejados (“Nem mesmo
nesse caso me obedecerão”). Então Derek Kidner, comentando Isaías 28, pode dizer: “A citação do verso 11
em 1ªCo 14.21 é, desta forma, uma lembrança, verdadeira neste contexto, de que línguas estranhas não são uma
saudação divina a uma congregação crente, mas sua repreensão a uma congregação obstinadamente incrédula.”

3. Profecia e línguas como sinais

Paulo interpreta sua citação de Isaías 28.11: “Por isso ( στε), línguas não são um sinal para os crentes” (v.22). Não
é preciso traduzir α γλ σσαι ε ς σημε όν ε σιν como “línguas são dadas por um sinal” (KJV, NASB), ou ainda
“línguas pretendem ser como um sinal” (NEB), porque ε ς + acusativo, frequentemente substitui um predicado
nominativo com nenhuma mudança real no significado. Paulo simplesmente diz: “Línguas são um sinal.”

A segunda metade do v. 22 poderia ser traduzida: “mas a profecia é um sinal, não para os descrentes, mas para os
crentes”, devido às seguintes razões: (i) O claro paralelismo presente no verso, torna esta leitura mais natural,
então aquilo que o leitor automaticamente completa é: ε ς σημε όν ε σιν ο το ς πιστεύουσιν λλ το ς
πίστοις; δ προφητεία, ο το ς πίστοις, λλ το ς πιστεύουσιν.

(ii) Nesta visão, a partícula δ tem uma função adversativa muito clara, e as duas condições formam um balanço
simétrico de ideias iguais, mas contrastantes. Com a grande visão alternativa, compreendendo os dativos como
simples dativos de vantagem sem um ε ς σημε όν elíptico, as sentenças lidam com dois temas bastante distintos:
na primeira parte, Paulo discute sinais, no entanto, na parte dois, discute os beneficiários mais adequados de um
dom particular. (Então a KJV traduz “Desse modo, as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os
incrédulos. A profecia, entretanto, não é um sinal para os não crentes, mas para todos os cristãos.”, enquanto a
NEB traduz: “Claramente, então estas “línguas estranhas” não pretendem ser um sinal para os crentes, mas para
os incrédulos, ao passo que a profecia não se destina para os incrédulos, mas para os que seguem a fé.”)

É necessário importar alguma ideia para a segunda metade do verso, essencialmente a mais natural, e a que provê
o contraste mais natural, isto é, a ideia de “sinal” que fica tão perto na primeira metade do versículo.

(iii) Dizer que a profecia (KJV e NEB) é projetada para crentes e não para descrentes, não explica adequadamente
o “Por essa razão” com o qual Paulo introduz os vv. 23-25. Nestes versículos Paulo argumenta especificamente
que a profecia tem uma função positiva para os descrentes, mas esta leitura faz o argumento de Paulo se tornar o
seguinte:

(a) Profecia não é designada para descrentes, mas para crentes;

(b) Por conseguinte, você deveria profetizar para descrentes. Tal raciocínio simplesmente não faz sentido, e uma
solução melhor é requerida.
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(iv) O significado da LXX para σημε όν encaixa perfeitamente a ideia de que as línguas são um sinal para
descrentes, mas a profecia é um sinal para crentes e tal visão é confirmada pelo verso 25. A fim de demonstrar que
isto é correto, nós agora mudamos para um exame do termo σημε όν na LXX.

Na LXX, σημε όν pode frequentemente significar “uma indicação do agir de Deus”. Estas indicações são tanto
positivas quanto negativas: positivas quando favoráveis àqueles creem e obedecem a Deus, mas negativas para
aqueles que não creem e o desobedecem. Muitos sinais são inteiramente positivos: o arco-íris (Gn 9.12,13,14), o
sangue nos umbrais (Ex 12.13) , o convite dos filisteus (1ªReis [1ª Samuel] 14.10), a marca na testa (Ez 9.4-6) ou
qualquer outro sinal buscado pelo povo que se sente esquecido pelo SENHOR (Sl 73 [74].9, 85 [86].17) (cf.
também Gn 17.11, LXX Est 10.3, 2ª Macabeus 6.13).

Outros sinais são totalmente negativos pois mostram a desaprovação e aviso de julgamento da parte de Deus a
não ser que o arrependimento esteja para bem breve: Corá, Datã e Abirão (Nm 26:10), os incensários de bronze
destes homens (Nm 16:38 (17.3) ; cf. vs. 40), a vara de Arão (Nm 17.10 [25]), as maldições cumpridas (Dt 28:46),
a derrota do faraó Hofra (Jr 51 [44] .29) e o muro de ferro de Ezequiel (Ez 4.3) (cf. também Sl 64 [65].8, Is 20.3 B, 2
Mac. 15.35). Mas por vezes o termo pode ser usado em sinais que são positivos e negativos, indicando a
aprovação e a benção de Deus sobre seu povo e sua desaprovação e julgamento em direção àqueles que estão a
desobedecer. Isto é especialmente verdade nos eventos do Êxodo: quando Deus enviou uma praga de moscas
sobre os Egípcios mas as manteve fora da terra de Goshen, era um sinal (σημε όν Ex 5.23a; Hb [vs.19] ) de
benção para Israel mas desaprovação e aviso para os egípcios. Os mesmos sinais e maravilhas podem ser sinais
negativos para o Faraó (Ex 10.1-2, 11.9-10; Dt. 6.22, 11.3; Ne 9.10) mas sinais positivos para Israel (Dt 4.34-35,
6.22, 7.19, 26.8; cf. também Nm 14.11, Dt 29.3; [2] na recusa de Israel em crer nestes sinais positivos) (cf. Ex 7.3,
Dt 34.11, Js 24.5a, Sl 77 (78).43, 104 (105).27, 134 (135).9, Jr 39 (32).20-21, Sab 10.16, Eclo 45.3, Bar 2.11).

Assim σημε όν quando usado para significar “uma indicação da atitude de Deus,” pode ter um sentido tanto
positivo quanto negativo. Também σημε όν pode significar “uma indicação da aprovação e benção de Deus” (At
2.22, 43, 4.30, 5.12, 6.8, 8.6 [cf. vs.8], 15.12, Lc 2.34, Jo 2.11, 4.54, 9.16; cf. Barn 4.14, Cl 51.5) ou “uma indicação
da desaprovação e um aviso de julgamento” (Lc 11.30, 21.11, 25, At 2.19; talvez Mt 12.39 [cf. vs. 41], 16.4; cf. 1ª Co
11.2). Então, quando Paulo diz que “linguas são um sinal não para crentes mas para descrentes” ele está
usando σημε όν em um sentido familiar e bem estabelecido. Em direção àqueles que descreem, sinais como
indicação da atitude de Deus no VT são sempre negativos. Eles indicam a desaprovação e trazem um aviso de
julgamento. Isto foi precisamente a função das “outras línguas” em Is 28:11 e Paulo muito naturalmente aplica o
termo σημε όν para eles.

Mas sinais para os que creem e obedecem a Deus no VT são geralmente positivos. Eles indicam a presença e
poder do Senhor entre o seu povo para os abençoar. Assim Paulo pode muito facilmente aplicar este termo à
profecia em um sentido positivo: profecia é uma indicação da aprovação e benção de Deus na congregação
pois demonstra que Deus está ativamente presente na igreja reunida. (Grifo do editor).

Isto significa que o ο ν (“portanto”) no v.23 é bastante natural. Podemos parafrasear o pensamento de Paulo como
se segue: “Quando Deus fala às pessoas em uma língua que elas não podem entender, significa sua ira e resulta
num afastamento ainda maior deles. Portanto (ο ν, v. 23) se os de fora ou descrentes chegam e vocês falam em
uma língua que eles não entendem, vocês simplesmente os afastarão. Este é o resultado inevitável de um discurso
incompreensível. Para além disso, na vossa atitude infantil vocês estarão dando um “sinal” para os descrentes que
está completamente errado pois a dureza dos seus corações ainda não chegou ao ponto de merecerem o sinal
severo de julgamento. Assim quando vocês se juntam (v.26), se alguém fala em uma língua, certifiquem-se que
outrem interpreta (v.27); caso contrário, quem fala em línguas deve estar calado na igreja (v.29).”

Semelhantemente com a profecia, vv. 24-25 seguem muito facilmente da declaração no v. 22 que a profecia é um
sinal para crentes. Mais uma vez parafraseamos: “Profecia é uma indicação da presença de Deus entre a
congregação para a abençoá-la (v.22). Portanto (ο ν, v. 23) se alguém de fora entra e todos profetizam (v.24),
vocês estarão falando acerca dos segredos do seu coração que ele pensava que ninguém conhecia. Ele entenderá
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que estas profecias devem ser o resultado da operação de Deus, e ele cairá sobre seu rosto e declarará,
‘Verdadeiramente Deus está entre vós’ (v.25). Deste modo a profecia será um seguro sinal para vós que Deus está
realmente operando no vosso meio.”

Poderá ser contestado que esta interpretação faz πίστος significar “descrente endurecido” no v. 22 mas
“descrente interessado” nos vv. 23-24. Esta objeção não está realmente correta, porque πίστος deve
simplesmente significar “descrente” (de qualquer tipo) em ambos os lugares. De fato, se não se referisse a todos
os descrentes no v. 22, o argumento de Paulo não se manteria firme. Nos vv. 21-22 ele argumenta que quando as
línguas foram usadas contra descrentes elas foram uma severíssima e talvez final indicação do desprazer de Deus,
que resulta em um maior afastamento do Senhor. Na base desse exemplo histórico, Paulo então alerta os Coríntios
a não usarem línguas na presença de descrentes, para que o mesmo não suceda (v. 23). Neste sentido, Paulo está
dizendo que contra até mesmo crentes interessados, línguas funcionariam como uma indicação da desaprovação
de Deus e trariam castigo. Línguas, de acordo com o v.23, seriam um σημε όν το ς πίστος, não apenas para
descrentes endurecidos mas também para visitantes da igreja de Corinto, e como tal, seria tão errado usá-las que
Paulo alertou cuidadosamente contra elas. Portanto, πίστος no v. 22 deve referir-se a descrentes em geral, ainda
que o exemplo especifico no v. 21 lide com descrentes endurecidos em particular.

Deve também ser notado aqui que a reação de Paulo a este reconhecimento da função do sinal das línguas não é
de proibi-las na adoração pública, mas de regular seu uso a fim de que possam sempre ser interpretadas quando
faladas em público (vv. 27-28).

Esta parece ser uma resposta muito apropriada, pois são apenas línguas incompreensíveis que têm esta função
negativa em direção a descrentes, tanto em Is 28.11 e em 1ªCo 14.23. Quando um discurso em línguas é
interpretado, não é mais incompreensível e não mantém mais esta ameaçadora função de sinal.

Portanto, é importante compreender que em 1ª Co 14.20-23 Paulo não está falando acerca da função das línguas
em geral mas apenas acerca do resultado negativo de um particular abuso delas, ou seja, o abuso de falar em
público sem um intérprete (e provavelmente falando mais do que um por vez [cf. vv. 23,27]) de modo que tudo se
torna uma confusão não edificante. Em relação à apropriada função pública do uso das línguas mais interpretação,
ou à apropriada função privada do falar em línguas, Paulo é todavia bastante positivo (12.10-11, 21-22, 14.4, 5, 18,
26-28, 39). Então usar a discussão de Paulo sobre o abuso de línguas em 14.20-23 como base para uma polêmica
geral contra todos os outros (aceitáveis) usos das línguas e bastante contrário a todo contexto de 1ª Co 12-14.

Retornando agora a uma consideração de profecia, estamos em uma posição de entender os vv. 24-25 mais
claramente. “Se todos vós profetizarem” no verso 24 é provavelmente para ser entendido como uma situação
hipotética que Paulo não precisaria ter pensado que viesse realmente acontecer (μ πάντες προφ ται, 12.29). No
entanto, se diversas pessoas profetizarem, logo, o visitante incrédulo é “convencido” ( λέγχεται) de pecado e
“chamado a prestar contas” ( νακρίνεται) por diferentes pessoas (v. 24), presumivelmente de diversas formas ou
em relação a diferentes assuntos. Desta forma os pecados secretos do seu coração são “revelados” (φανερ
γίνεται, v. 25). Embora o v.24 possa significar que o de fora ouve alguma profecia ou pregação geral e é
interiormente convencido do seu pecado, v.25 deve significar que uma menção especifica de um ou mais de seus
particulares pecados individuais é feita nas profecias (embora os profetas e a congregação possam falar ou não
para quem as suas palavras se aplicam; cf. 1ª Pe 1.11, At 2.30, 21.11). Isto é verdade porque (i) φανερóς (18
vezes) e φανερó (49 vezes) no NT sempre se referem a uma pública manifestação externa e nunca são usadas
para uma privativa ou secreta comunicação de informação ou da operação interna de Deus na mente ou coração
de uma pessoa, e (ii) a reação do de fora — “Caindo sobre seu rosto ele adorará a Deus, ‘Verdadeiramente Deus
está entre vós’” — Não é normalmente algo que acompanhe até mesmo uma boa pregação, mas Paulo parece
bastante seguro que isso acontecerá. Agora o apóstolo poderá ter pensado que ocorreria ocasionalmente com uma
menção de tipos gerais de pecado, mas sua declaração (se se aplica a todas as situações como esta) é mais
compreensível se ele pensava que as profecias conteriam algo bastante impressionante e comum, tal como
menção especifica dos pecados do visitante. O visitante pensaria que estes cristãos sabem coisas que lhes podiam

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ser reveladas apenas por Deus: eles conhecem os segredos de seu coração. Parece ser fato que o conhecimento
adquirido por meios “sobrenaturais” significa, não apenas a convicção de pecado que efetivamente convence o
incrédulo da presença de Deus.

É por isto que é a profecia (em vez de um outro dom) que Paulo chama de “sinal para crentes.” A distinção
da profecia é que esta deve ser baseada em uma revelação (1ªCo 14.29), e uma revelação
( ποκαλυφις) como ela funciona na profecia é sempre algo que, segundo Paulo, vem espontaneamente
(como em 1ª Co 14.29) e procede unicamente da parte de Deus. Onde está a profecia, está então, um
inconfundível sinal ou indicação da presença e benção de Deus na congregação — é um “sinal para
crentes” — e até mesmo um visitante de fora conseguirá reconhecer isto. (Grifo do editor)

Se a análise anterior está correta, 1ª Co 14.20-25 pode ser entendida como uma razoável e consistente declaração
de Paulo: Línguas não interpretadas são um sinal para descrentes, que denunciam o desprazer de Deus e seu
iminente julgamento (vv. 21-22a); e Paulo, não querendo que os Corintios dessem aos descrentes este sinal,
desencoraja o infantil (v.20) uso das línguas não interpretadas na reunião da igreja de Corinto (v.23). Profecia, no
entanto, é um claro sinal da presença e benção de Deus com e sobre os crentes (v. 22b), e assim Paulo
naturalmente encoraja seu uso quando descrentes estão presentes, de forma que eles vejam este sinal e assim
cheguem à fé Cristã (vv. 24-25).

Título original: 1 Corinthians 14:20-25: Prophecy and Tongues as signs of God’s attitude. Westminster Theological
Journal 41:2. primavera de 1979, pp. 381-396

Tradução: Thiago Fidelis e Ângelo Lima

Comentários
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