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O tema da fugacidade, da ilusão da vida e das coisas mundanas ocupa um lugar central na
literatura barroca. As motivações religiosas deste tema são bem evidentes: trata-se de lembrar
ao gomem que tudo é vão e efémero à superfície da terra, que a vida carnal é uma passagem e
que é necessário procurar uma realidade suprema isenta de mentira e de imperfeição.
Os estudos temáticos passam pela investigação dos temas num texto ou na obra de
determinado autor, ou seja, apresenta-se uma abordagem sincrónica; por outro lado, os
estudos tematológicos investigam o trajeto de um tema através da obra de vários autores
apresentando uma abordagem diacrónica.
No século XIX, a escola francesa interessa-se pelos temas como instrumento de edificação de
uma história literária e, paralelamente, de uma história nacional. Por outro lado, a escola
americana, nos anos 60 do século XX, desaprecia o estudo dos temas encarados como
ingrediente extraliterário e crítica os repertórios temáticos tradicionais. Ao contrário da escola
francesa, não se preocupa tanto com os temas e são vistos com aspetos secundários. O aspeto
principal, segundo a escola americana, são as formas literárias. Atualmente, o regresso ao
tema e o a perspetiva multicultural do Comparatismo tomou uma via de indagação de
semelhanças e diferenças entre posturas culturais distintas, fora de interesses de afirmação
nacionalista e político-ideológica e como via de diálogo intercultural.
Para identificar o tema central de um texto é necessário ver o tema como um produto textual,
isto é, dependente de mecanismos formais e redundância textual; o tema não está no texto,
mas apresenta uma construção sintático-semântica, ou seja, é construído através de
ingredientes gramaticais. Por sua vez, o tema como produto extratextual decorre da
construção hermenêutica dos leitores e das diferentes intencionalidades das comunidades
interpretativas.
Tripla vinculação dos temas: com o mundo/a História (extraliterária); com o universo
literário (intraliterária); com o texto específico que o desenvolve (intraliterária).
O tema é indissociável de uma gramática concreta: não é apenas “o que diz” o texto
(um conteúdo) mas “aquilo com o qual” o diz (uma estrutura, uma sintaxe).
Tipologias temáticas: temas espaciais (ex.: o jardim, a cidade, a viagem); temas de
situação, típicos de um género (ex: a descida aos infernos); temas de personagem (ex.:
temas de heróis: Ulisses, os Lusíadas); temas cromáticos (ex: o azul); etc.
Motivo:
Ex.: a morte aparente, o príncipe metamorfoseado; motivos líricos: noite, olhos, túmulo, lua,…
Leitmotiv (pl. Leitmotive): motivo condutor ou central que se repete ao longo de um texto ou
da obra de um autor.
Topos (pl. Topoi): motivo proveniente da literatura antiga e codificado pela tradição cultural,
convertendo-se num lugar-comum, numa fórmula fixa e estereotipada, recorrente ao longo de
gerações. Ex.: locus amoenus, locus horrendus, vanitas, anagnórise ou o reconhecimento do
herói, …
Relação entre o tema e os contextos históricos: o mesmo tema em contextos diferentes reflete
diferentes motivações e produz diferentes significados; os temas pressupõem sempre a
dialética temporal da permanência/variação, fixidez/invenção.
Longues durées (F. Braudel): perduram, com transformações, ao longo dos séculos;
Moyennes durées (F. Braudel): caraterísticos de certos períodos históricos;
Temas de duração breve: caraterísticos de um autor ou de um grupo/geração
literários.