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A temática do Barroco

Na literatura barroca, a expressão da beleza alcança um fulgor, um engenhoso requinte e uma


exuberante riqueza que a poesia renascentista está longe de oferecer. A beleza natural,
segundo a estética barroca, necessita de ser corrigida, complementada e exaltada pelos
primores e artifícios da arte. Porém, a literatura barroca cultivou com frequência uma estética
do feio e do grotesco, do horrível e do macabro. O escritor barroco pode buscar, através da
notação humorística ou sarcástica do real, através da caricatura e da sátira, tornar mais
notárias, mais cómicas ou mais repulsivas, a imperfeição e a disformidade existentes na
natureza e, sobretudo, na natureza humana. Assim, os poetas barrocos, afastando-se da
tradição poética petrarquista e renascentista, cantam mulheres muito diferentes, na sua
fisionomia, na sua condição social e na sua compleição moral. As tensões do barroco
exprimem-se frequentemente através das antinomias entre o espírito e a carne, os gozos
celestes e os prazeres mundanos, a fruição terrenal e a renúncia ascética, bem como através
da descrição e da análise do pecado, do arrependimento e da penitência, do êxtase e da
beatitude interiores. O homem é um animal religioso. Como animal, irrompe em forças
contidas, em paixão, vida, movimento, impulso para o alto e para baixo, característicos das
formas de expressão barrocas. Com efeito, a expressão de religiosidade, na literatura barroca,
está intimamente associada a motivos eróticos. O erotismo ocupa um lugar muito importante
na temática barroca: a mulher deixa de ser conceituada como um ser idealizado e
aristocraticamente distante, passando a ser visto como um ser de carne e osso, sedutora e
apetecível na sua carnalidade.

O tema da fugacidade, da ilusão da vida e das coisas mundanas ocupa um lugar central na
literatura barroca. As motivações religiosas deste tema são bem evidentes: trata-se de lembrar
ao gomem que tudo é vão e efémero à superfície da terra, que a vida carnal é uma passagem e
que é necessário procurar uma realidade suprema isenta de mentira e de imperfeição.

O barroco ama a metamorfose e a inconstância. Para exprimir esta mundividência, a literatura


barroca utiliza um vasto conjunto de símbolos em que figuram elementos evanescentes,
instáveis e efémeros, ondeantes e fugidios como, por exemplo, a água. A metamorfose e a
inconstância transformam-se em motivos de profunda e religiosa meditação e ganham um
significado fúnebre. A morte, expressão suprema da efemeridade, constitui assim um tema
maior do barroco. A morte está escondida em tudo o que vive, em tudo o que é frescor e
beleza, e o artista barroco sente a ânsia, e também o amargo deleite, de constantemente o
recordar. A morte transforma-se num espetáculo formidando e o poeta, algumas vezes, sob o
fascínio do horror, visiona o seu próprio fim. Por outro lado, o barroco exprime um universo de
ostentação e de sumptuosidade, de glória e de magnificente aparato; traduz o gosto da
decoração rica, da luz profusa, do espetáculo faustoso. O barroco é um arte de exuberância e
de intenso poder expressivo, apta a traduzir as glórias do céu e as pompas da terra, destinada
a impressionar fortemente os sentidos, embora o espírito possa permanecer, muitas vezes,
desconfiado e cético.

A mundividência, a sensibilidade e a temático do barroco exprimem-se através de uma poética


e uma estilística próprias. A literatura barroca caracteriza-se pela fuga à expressão singela e
imediata, às estruturas formais simples e lineares. O barroco é necessariamente uma literatura
de fortes tensões vocabulares, de polivalências significativas, de estruturas complexas e
surpreendentemente inéditas. Estas formas nascem do artifício da arte, isto é, uma condição
fundamental da beleza artística. A poética barroca busca constantemente suscitar no leitor a
surpresa e a maravilha.
A metáfora é o elemento fulcral desta poética. A metáfora barroca é muitas vezes prejudicada
pelo pendor hiperbólico e pelo gosto da obscuridade, consequência da agudeza de engenho,
mas oferece também, com muita frequência, uma beleza sortílega, uma densidade de
significação fantástica e uma ousadia que só encontram paralelo na poesia simbolista. A
hipérbole, a repetição, o hipérbato, a anáfora, a antítese são outros tantos traços estilísticos
que caracterizam a literatura barroca.

Estudos temáticos e tematológicos

Os estudos temáticos passam pela investigação dos temas num texto ou na obra de
determinado autor, ou seja, apresenta-se uma abordagem sincrónica; por outro lado, os
estudos tematológicos investigam o trajeto de um tema através da obra de vários autores
apresentando uma abordagem diacrónica.

No século XIX, a escola francesa interessa-se pelos temas como instrumento de edificação de
uma história literária e, paralelamente, de uma história nacional. Por outro lado, a escola
americana, nos anos 60 do século XX, desaprecia o estudo dos temas encarados como
ingrediente extraliterário e crítica os repertórios temáticos tradicionais. Ao contrário da escola
francesa, não se preocupa tanto com os temas e são vistos com aspetos secundários. O aspeto
principal, segundo a escola americana, são as formas literárias. Atualmente, o regresso ao
tema e o a perspetiva multicultural do Comparatismo tomou uma via de indagação de
semelhanças e diferenças entre posturas culturais distintas, fora de interesses de afirmação
nacionalista e político-ideológica e como via de diálogo intercultural.

Para identificar o tema central de um texto é necessário ver o tema como um produto textual,
isto é, dependente de mecanismos formais e redundância textual; o tema não está no texto,
mas apresenta uma construção sintático-semântica, ou seja, é construído através de
ingredientes gramaticais. Por sua vez, o tema como produto extratextual decorre da
construção hermenêutica dos leitores e das diferentes intencionalidades das comunidades
interpretativas.

Comparar as temáticas de diferentes autores e entre artes permite-nos conhecer as poéticas


pessoais específicas de cada autor; um imaginário coletivo característico de uma determinada
época e de um determinado espaço geográfico-cultural e, ainda, a existência de conjuntos
temáticos supranacionais, de um imaginário humano universal. Porém, existem dificuldades de
vária ordem no paradoxo dos estudos temáticos, tais como: problemas na determinação do
tema de um texto; a negação da noção de tema enquanto “ideia prévia” acerca da qual se
escreve um texto pelas recentes teorias textuais da desconstrução e as ambiguidades
terminológicas e concetuais.

Assunto: argumento fornecido por fontes diversas, literárias ou extraliterárias (crónicas,


diários, biografias, jornais, etc.) ou inteiramente inventado pelo autor; implica um conteúdo
narrativo, i.e., acontecimentos situados num tempo e num espaço e presença de
figuras/atores (cf.thema aristotélico).

Mito: a) esquema narrativo de base, estrutura geral e simplificada da ação


independentemente do modo como esta é cristalizada e amplificada num argumento; fábula
(cf. mythos aristotélico).
b) narrativa resultante da imaginação coletiva, com significado antropológico, tendente ao
estabelecimento de correspondências entre o mundo humano e o não humano; é objeto de
estudo da mitografia e da mitocrítica.

Tema: ideia/conteúdo central e sintaticamente redundante, em torno do qual se constrói o


argumento; desempenha uma função “utilitária” de coesão estrutural, sendo sumariamente
traduzível numa só palavra ou em poucas palavras (nota: não confundir com “título”). Ex.:
amor, morte, mar,…

 Tripla vinculação dos temas: com o mundo/a História (extraliterária); com o universo
literário (intraliterária); com o texto específico que o desenvolve (intraliterária).
 O tema é indissociável de uma gramática concreta: não é apenas “o que diz” o texto
(um conteúdo) mas “aquilo com o qual” o diz (uma estrutura, uma sintaxe).
 Tipologias temáticas: temas espaciais (ex.: o jardim, a cidade, a viagem); temas de
situação, típicos de um género (ex: a descida aos infernos); temas de personagem (ex.:
temas de heróis: Ulisses, os Lusíadas); temas cromáticos (ex: o azul); etc.

Motivo:

a) aceção restrita: unidade mínima de conteúdo representando uma situação, imagem ou


figura típicas que reaparecem em diferentes textos; possibilita o desenvolvimento do
tema/assunto que o contém ou, pelo contrário, constitui-se como “motivo cego”.

Ex.: a morte aparente, o príncipe metamorfoseado; motivos líricos: noite, olhos, túmulo, lua,…

b) aceção ampla: esquema narrativo, equivalente a mito/mythos aristotélico.

Leitmotiv (pl. Leitmotive): motivo condutor ou central que se repete ao longo de um texto ou
da obra de um autor.

Topos (pl. Topoi): motivo proveniente da literatura antiga e codificado pela tradição cultural,
convertendo-se num lugar-comum, numa fórmula fixa e estereotipada, recorrente ao longo de
gerações. Ex.: locus amoenus, locus horrendus, vanitas, anagnórise ou o reconhecimento do
herói, …

Durabilidade dos temas e as constantes temáticas. Tema e variação

Relação entre o tema e os contextos históricos: o mesmo tema em contextos diferentes reflete
diferentes motivações e produz diferentes significados; os temas pressupõem sempre a
dialética temporal da permanência/variação, fixidez/invenção.

Os universais temáticos reaparecem em todas as épocas e em todos os espaços culturais;


representam redes de constantes que apontam para um “reservatório” do imaginário coletivo.

Durabilidade dos temas:

 Longues durées (F. Braudel): perduram, com transformações, ao longo dos séculos;
 Moyennes durées (F. Braudel): caraterísticos de certos períodos históricos;
 Temas de duração breve: caraterísticos de um autor ou de um grupo/geração
literários.

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