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Felipe Freitas
Introdução
1
Sigla para ‘Ensino Coletivo de Instrumento Musical”
“A proposta de produção didática deverá ser feita por meio de um texto
descritivo, analítico e reflexivo sobre aspectos práticos e/ou teóricos de produtos
didáticos inéditos, produzidos para o Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais.”
(Chamada de trabalhos do VII ENECIM) Atendendo a uma exigência do evento, trago um
trabalho que visa contribuir para o aumento e fortalecimento da produção bibliográfica a
respeito da guitarra e do ECIM.
A partir de então, farei um apanhado breve sobre a pesquisa acerca do ECIM,
bem como uma sucinta demonstração do panorama da produção didática a respeito da
guitarra e finalmente demonstrarei algumas idéias pedagógicas para a sala de aula no
referido contexto.
Por ser relativamente recente a prática do ECIM no Brasil, várias questões não
estão padronizadas, dando total autonomia ao professor para a condução do trabalho de
forma deliberada. Constatamos isso no registro de Tourinho sobre a metodologia de
Mario Ulloa, professor de violão da UFBA:
Mario Ulloa usa uma técnica de trabalho pouco usual: a porta da sala é
aberta a quem desejar assistir as aulas dos colegas e ele frequentemente
interage com a "platéia", formada geralmente por alunos da graduação
de violão, demonstrando, questionando, pedindo sugestões, em estilo
master-class, embora sem essa conotação. O resultado é que os
estudantes se ajudam mutuamente e é muito comum assistir, fora da
sala, um colega tocando para outro (TOURINHO, 2007, p.263).
Observamos no texto acima mais uma vez o aparecimento dos valores sociais de
interação, além da perda da timidez perante um determinado público e a atividade do
senso crítico, observando os colegas e aprimorando o seu processo evolutivo através
disso.
Mas, assim como a guitarra no cenário acadêmico brasileiro, o ECIM, apesar de
todos os benefícios comprovados tanto para professores como para alunos, ainda sofre
algumas barreiras sustentadas na desconfiança de alguns professores como nos mostra
Souza (2014). Essa desconfiança acontece quando se sugere a utilização do ensino
coletivo para a formação de performers e não somente como ferramenta de iniciação ao
estudo de algum instrumento musical. Vejamos: “Apesar de todo pré-conceito que existe
na área e o ceticismo com relação ao aprendizado do performer através de aulas
coletivas, aos poucos vão surgindo trabalhos que evidenciam o interesse de alguns
professores por essa abordagem” (SOUZA, s/p. 2014). O autor ainda afirma:
Podemos com isso observar que ainda é muito cedo para apontar um padrão. A
produção científica a cerca da guitarra elétrica é pequena, porém excessivamente
diversificada. De fato se mostra oportuno esse dado devido à sua relevância: “A pesquisa
em educação musical – e, de modo mais amplo, em música – tem sido feita,
prioritariamente, no âmbito da pós-graduação, em diversas áreas do conhecimento, mas,
especialmente, nos programas de pós-graduação em música.”‖ (DEL-BEN, 2010, p. 26). No
entanto, o processo de ensino aprendizagem da guitarra elétrica em momento algum foi
pensado de forma coletiva. Quando uma subárea do conhecimento musical tem pouca
produção, pode se dizer que ― “ou os conhecimentos das outras subáreas têm sido
pouco inspiradores ou os pesquisadores têm se voltado pouco para esse tipo de produção
[...]” (DEL-BEN, 2010. p. 29).
Para concluir esse ponto, concordo com Cruvinel quando diz que:
Nesse sentido, o momento atual é o de “clarificar” os aspectos didático
pedagógicos, históricos, psicológicos e sociais referentes ao ECIM, a
partir das discussões e bibliografias existentes sobre o tema, apontando
as concepções e os enfoques metodológicos de forma sistematizada,
fortalecendo a área. (CRUVINEL, 2005 p. 7)
Atividades Pedagógicas
Nesse momento do texto é válido sugerir que para essas atividades que serão
expostas aqui, o professor necessite agir em “três níveis: 1) explicação verbal desta
habilidade; 2) demonstração desta habilidade executando-a no instrumento; 3)
assistência manual, tocando o aluno, de modo a auxiliá-lo na execução” (CRUVINEL, 2005,
p.77).
A escala utilizada nos exemplos a seguir é a pentatônica menor. Ela foi escolhida
porque “em estudos sobre escalas para os aspirantes a guitarristas, existe aquela que é
muito utilizada, talvez a mais utilizada, que é a Escala Pentatônica.” (VANZELA, p. 52,
2014)
Atividade 01
Atividade 02
2
Termo utilizando para designar a reprodução repetitiva de um fragmento musical. Essa reprodução é feita
por meio eletrônico e existem pedais de efeitos para guitarra com essa função para auxiliar o estudo da
harmonia e da improvisação.
Novamente sobre a pentatônica, aplique a ideia da assinatura musical: O aluno
toca uma frase e todos repetem, o próximo toca uma frase diferente e todos repetem a
frase atual e a anterior. Assim prossegue até todos tocarem juntos, todas as frases de
todos os alunos.
Atividade 03
Escolha uma nota da pentatônica e peça para que a turma crie um padrão
rítmico. Depois solte um playback na tonalidade em questão e os induza a criar frases
completamente diferentes do que foi criado anteriormente, enquanto eles ouvem a
primeira idéia sendo tocada pelo professor ou por outro colega de classe. Essa prática
pode envolver mais de um padrão. Distribuir os diferentes shapes3 da pentatônica entre
os alunos, limitando os mesmos a serem criativos em uma região específica do braço da
guitarra é uma excelente variação. Nessa atividade serão trabalhados a noção de tocar
em grupo, consciência rítmica, compasso e conhecimento da geografia do braço do
instrumento.
Conclusão
De acordo com a reflexão feita até aqui, concluo que o ensino coletivo
ou em grupo de instrumentos musicais é uma abordagem de ensino que
visa a construção da aprendizagem musical através da relação do
indivíduo com o professor, os colegas e o ambiente de aprendizagem,
acreditando que as metodologias são criadas e adequadas de acordo
com os objetivos específicos de cada etapa da aprendizagem do
instrumento musical. (SOUZA, p. 7, 2014)
3
Termo utilizado entre os guitarristas para designar fôrma, desenho, disposição padrão dos dedos para a
digitação das escalas, arpejos e acordes.
os variados processos de ensino-aprendizagem do ECIM” (CRUVINEL, p. 9, 2005). Concluo
assim destacando que o ensino coletivo pode e tende a ser uma grande porta de acesso
para a consolidação da guitarra elétrica no cenário acadêmico nacional. Devido à
popularidade da guitarra elétrica e ao fato de seu repertório se confundir com os mais
variados estilos e manifestações da cultura pop, o instrumento pode estar mais próximo
da realidade escolar. Esse elemento pode quebrar a resistência sobre a educação musical
como disciplina no ensino regular, fomentando assim não apenas a guitarra elétrica nas
pesquisas acadêmicas, como também o ensino coletivo de instrumento e sua importância
para a educação musical.
Referências
MEDEIROS FILHO, João Barreto de. Guitarra Elétrica: Um Método Para o Estudo do
Aspecto Criativo de Melodias Aplicadas as Escalas Modais de Improvisação Jazzística.
Dissertação. (Mestrado em Artes) Unicamp, Campinas, 2002.
OLIVEIRA, Liliane de Camargo Polis; ALBERDA, Josélia Vieira; SOUZA, Marcelo Silva de. A
teoria de aprendizagem cooperativa no ensino coletivo de piano/teclado: uma
experiência na escola. Congresso da ABEM XXII, 2015, Natal/RN.