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111 -112.

A montagem de um aparato burocrático estava também ligado às


dificuldades que experimentava o Estado brasileiro durante da Regência, esforço
necessária para equilibrar as contas públicas, que buscava ser salva pela máquina
arrecadadora.
113. A formação desse corpo de funcionários que integraram o poder de
Guaratinguetá revelam os vínculos entre os funcionários públicos e os grupos que ele
integrava e que passaram a ser por eles favorecido.
115-116. Não havia uma lei estrita ou vigilância que coibisse a elasticidade da
aplicação da lei, cabendo muito mais a vontade individual dos oficiais e suas
vinculações pessoais. Os vínculos do passado acabavam por determinar as ações do
presente.
116. Diferente do que usualmente se imagina sobre a sociedade do café, rica e
suntuosa, a vila de Guaratinguetá em nada de apresentava daquele maneira, mas com
casas simples e ruas mal cuidadas.
117. Por esses motivos, carente de rendas, a prefeitura se via impossibilitada de
fazer as obras, pois os cofres estavam vazios e os órgãos estavam próximos da miséria
completa.
118-119. Os poderes locais buscaram incidir novos impostos que incidiam sobre
a ampla população a partir de ações burocráticas, mas a política financeira do Império
impediu, pois, “na urgência de fornecer meios para o governo central, a forte
concentração das rendas públicas que realizou tornou ainda mais desprovidos os já
parcos cofres municipais. E assim, obstruídas as vias próprias ao modelo de
administração vigente no período imperial, os pobres locais ficaram, de modo
irremediável, trancados em uma pobreza inerte”.
119. As obras da cidade acabaram ficando na dependência de ação dos cidadão
comum ou do servidor público, que colaboravam com as necessidades do município,
como foi por mais de vinte e cinco anos. Os agentes empregavam seus próprios
recursos.
120-121. A falta não era apenas de dinheiro para obras básicas, mas faltavam
também os prédios públicos, ao ponto da documentação registrar de autoridades locais
usarem suas próprias casas como ambiente para função pública.
“E o resultado disso foi que, em lugar do funcionário público tornar-se cada vez
mais um executivo que apenas gere os meios da administração, manteve-se preservada a
situação em que ele detinha sua propriedade. Isto significa, evidentemente, que ele os
podia controlar autonomamente, pois se ele os possuía. Seu, era o dinheiro com que
pagava as obras; seu, o escravo cujos serviços cedia; sua, a casa onde exercia funções
públicas” (121).
122-123. O que ocorre nessa sociedade de Guaratinguetá é uma mistura de
público e privado, fazendo desaparecer seus limites. Ainda que os promotores públicos
admoestassem os funcionários públicos quando estes tomavam dinheiro em proveito
próprio, o costume mantinha a prática se tratar todos os bens como seus. Ou seja, as
regras do Direito cediam diante da prática efetiva no plano da realidade, orientada pelo
costume.
124-125. Quando aberto processos contra o réu, o grupo de depoentes, próximos
daquele, validava suas ações. Como parte de um mesmo grupo, havia a validação da
atitude e o não reconhecimento do crime.
Os próprios delegados de polícia exerciam cargos em outras ocupações, como
lavradores ou comerciantes e não havia treinamento prévio para o trabalho, que era feito
a partir de uma experiência que ia se adquirindo.
126-127. Por essa ausência de capacitação quanto aos procedimentos legais, os
procedimentos jurídicos eram largamente ignorados, como o não envio de convocação
judicial, mas apenas um aviso por particulares, ou o registro capenga dos autos.
128-131. Outro fator notado para o caso da ocupação de cargos públicos era seu
uso em prol de interesses pessoas, seja para coagir e agir contra os adversários pessoais,
seja o inverso, fazendo o uso do cargo público em desfavor de seu ocupante, como
comprovam as acusações feitas no sentido de acusa-los de deixar de cumprir seus
deveres. Tudo isso confirma a condição embaralhada das funções públicas e dos
interesses privados.

131-133. As relações descritas entre Estado e cidadãos acabaram por criar uma
ambiguidade que criava uma visão negativa sobre a atuação do governo central em
Guaratinguetá e colocavam as iniciativas privadas como mais válidas. Os poderes locais
resistiam ao governo central e às suas propostas de inovação, inclusive às tentativas de
implantar o trabalho livre, negando o acesso às terras devolutas, e buscando concentrar
os braços nas terras dos grandes proprietários, ao mesmo tempo em que buscavam se
apropriar das terras. Essa prática ocorreu em toda a região a base de fraudes, dos favores
e da violência.
Assim, o Estado é visto como espaço de exercício de poder por aquele grupo
local que domina a autoridade pública.
“O aparelho governamental nada mais é que parte do sistema de poder desse
grupo, imediatamente submetido à sua influência, um elemento para o qual ele se volta
e utiliza sempre que as circunstâncias o indiquem como o meio adequado. Só nessa
qualidade se legitima a atuação do Estado” (132).
134-135. A essa altura do século XIX, os interesses dos cafeicultores já era visto
como interesse nacional e o progresso do país dependia da prosperidade desse grupos
que, contudo, via as taxações do Estado, necessárias para os investimentos e
melhoramentos, como uma sangria às suas rendas e ao acumulo de sua fortuna. A partir
de 1830, as rendas do país vivia num crônico regime deficitário, apesar do aumento das
rendas.

142-143. A lógica da fazenda, “algo de intermediário entre uma família e um


reino” passou à gerencia dos bens públicos. As suas vontades se cruzavam com aqueles
que os circundavam, homens dispostos a mostrar sua valentia em prol de uma
sobrevivência que se fazia em aceitar as ordens do patrão.
147. O poder desfrutado pelos homens de boa condição garantiu a eles os mais
altos postos, como o do exercício da justiça e a ocupação dos postos públicos, postos
que reforçavam os interesses pessoais.
O rico fazendeiro e o pobre homem livre partilhavam os mesmos padrões de
moralidade, dos quais não estavam excluídos a violência e valentia.

Desclassificados do ouro

13. Objetivo de estudar os desclassificados, considerando que se há uma


classificação social, existe o reverso da moeda, ou seja, a desclassificação. Só existe um
desclassificado em caso de existir seu oposto, o classificado.
“O desclassificado social é um homem livre pobre – frequentemente miserável –
, o que, numa sociedade escravista, não chega a apresentar grandes vantagens com
relação ao escravo” (14).
16. O ouro dominou todo o século XVIII, com raízes no século XVII e ainda
permanecendo até o XIX.
18. Dentro dessa temporalidade, a autora optou por fazer um recorte nas Minas
do século XVIII brasileiro.

91-92. Muitos buscaram construir fortuna no Brasil e retornar a Portugal, onde


iam comprando patrimônio. A maior parte da fortuna construída com o Império
Colonial era empregada na compra de casas, terras e na formação de morgados em
Portugal.
96-97. A cobiça despertada pelas minas nos homens e no Estado exigia uma
administração ao mesmo tempo dura e complacente, presente, mas não demasiada
autoritária, que desse espaço para certa autônoma.
“Havia, pois, que fazer sentir a presença do Estado e, ao mesmo tempo, evitar
que ela se tornasse importuna e odiosa, pois as distâncias e a morosidade do aparelho
administrativo colocavam a Metrópole em situação delicada. Tudo deveria ser feito de
modo a que o mando se revestisse de brandura, passando quase despercebido e, se
possível, introjetando-se nas consciências a ponto de se tornar uma necessidade
profunda” (97-98).
99. Em Minas, a administração funcionava de modo contraditório. Para cobrar o
imposto, o Estado deveria ser firme e incisivo, mas se fosse presente demais, provocaria
descontentamento e, por consequência, atrapalharia a cobrança. Do governador de
Minas era necessária subordinação a Lisboa, mas a distância e a complexidade da
administração local iam dissolvendo as relações entre Colônia e Metrópole.
100. A preocupação organizadora da Coroa fez com que, em Minas, a
organização do aparelho administrativo precedesse a urbanização. Nesse processo, os
marginais e facínoras, os desclassificados, foram muitas vezes usados pelo Estado em
momentos iniciais. Caudilhos passaram a ocupar a terra, o que também interessava a
Coroa.
101. “Na aventura aurifica detecta-se, assim, um movimento contraditório:
investidos de poder, os caudilhos [...] se lançaram à procura das riquezas minerais
almejando a premiação com que lhes acenava a Coroa; uma vez encontrado o minério, a
recompensa vinha mas logo se desencadeava a ruptura entre as duas partes, fruto da
necessidade de consolidação do Estado fiscalista” (101).
Fala do caso dos irmãos Leme, naturais de São Paulo, mas que foram a Minas
para explorar as terras e o ouro.
102. Depois, esses irmãos acabaram por ser punidos (Usar se a opção for optar
pela cultura paulista). Conflito entre paulistas e emboabas.
104-105. Com o crescimento populacional e a urbanização, o maior número de
pessoas vivendo em um mesmo espaço favoreceu os conflitos, que precisavam ser
controlados para que não atrapalhassem a extração aurifica e, por consequência, os
lucros visados pela Coroa.
Sobre os governadores de Minas: “sempre atentos ao perigo latente que a
população de escravos, índios, forros e mestiços representava para a Coroa – situação
característica de um contexto absolutista em que o Estado nada tem de representativo,
descolando-se muitas vezes da maioria dos súditos para se investir em defensor dos
interesses de uma camada restrita” (105).
106-110. Temendo as revoltas na região de Minas, os governadores,
representantes do poder central, buscavam controlar a população de todo modo, sempre
temendo seu espirito rebelde. Relatavam que os mestiços eram os mais odiosos e
insolentes, por acharem que sua mistura que sua parte de nascimento branco lhes
garantia algum privilégio, ao passo que os escravos gozavam de amplas margens de
liberdade, o que não condizia com sua condição. (lembrar que em Minas os escravos
não eram trancafiados como em outros lugares).
Buscava-se evitar associações entre os grupos sociais e as formas de organização
de seus elementos, a fim de coibir revoltas e as armas de fogo eram proibidas para o
grosso da população, mas toleradas aos brancos.
A Coroa buscava controlar os âmbitos sociais, incluindo o modo de vida, desde
as brigas entre vizinhos às relações ilícitas, exortando as camaradas minicipais a
fazerem o mesmo e correndo à Igreja para a vigia e coerção dos hábitos.
Aos vigias que efetuavam as vontades da Coroa, eram garantidos cargos e acesso
à riqueza.
112-113. O que se via era uma prática normalizadora por parte dos habitantes de
maior estrato social. A partir do poder político-administrativo e dos cargos na câmara,
enviavam representações à Metrópole para coibir os quilombos, criminosos e infratores
de modo geral. Parram a exigir um juiz de fora para a região que, distante dos órgãos de
justiça e vigilância, se via entregue aos crimes.
“Ao contrário do que sugere a visão da sociedade colonial nucleada na família,
esta foi, nos tempos coloniais, exceção: os elementos que para cá se dirigiram eram
solteiros e desenraizados, e muitos se ressentiram da falta de mulher branca. Aos
poucos, foram se formando famílias ilegais, à margem do vínculo do matrimônio.
Contra a difusão do concubinato, muito se bateu a Igreja, conforme refletem as
Devassas eclesiásticas” (113-114).
115. Havendo a necessidade de braços para povoar a região, carentes no
Império, no final do período minerador a Coroa chegou a cogitar premiar os casados e
punir os transgressores. A ideia era de que os solteiros não deixavam filhos e pouco se
importavam em criar relações duradouras, ainda poderiam aumentar o problema da
mestiçagem e da marginalização.

116-117. A justiça era dominada pelos membros dos estratos sociais mais altos,
que a usavam de maneira punitiva, fazendo recair seu peso sobre os pobres e
marginalizados. Esse viés buscava garantir e consolidar o poder das camadas sociais
mais altas, portanto, a justiça era instrumentalizada em causa própria.
119. Para prender negros, forros ou mestiços que eram suspeitos de mineração
clandestina, cercavam-se casas e senzalas e prendia-se todos que os representantes da
autoridade achassem suspeitos, assim como os instrumentos de mineração. Sob a
alegação de evitar a desordem, as penas eram aplicadas de todas as formas, desde o
aprisionamento em pequenas celas abarrotadas de presos ao envio para cumprir penas
prestando serviços em locais distantes, chegando mesmo à morte.

130-133. O fisco foi o de extrema importância para a fazenda de Portugal e o


esforço para taxar e coibir fraudes nas empresas de ouro e diamantes foi imensa.
Contudo, acabava por recair pesadamente sobre os homens livres, taxados de acordo
com o número de escravos empregados na mineração, enquanto as grandes autoridades
eram isentas. Esse tipo de relação gerou embates constantes entre a população
marginalizada e o poder central, fazendo surgir as fraudes, algumas delas
protagonizadas pelos homes importantes – acobertados por seus iguais –, mas em
grande medida pelos miseráveis, buscando fugir das pressões do sistema. Com uma
autoridade judicial comprometida, por vezes uma simples suspeita bastava para
aprisionar um suposto fraudador.
(região das Minas cobriria os atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás).
136. Homens livres pobres eram constantemente perseguidos pelas suspeitas de
mineração clandestina de ouro e diamante.
137. “Extremamente forte em muitos pontos da colônia, o papel desempenhado
pelos potentados e pelos oligarcas foi, nas Minas, tênue. A presença marcante do
Estado, os olhos vigilantes do fisco, a violência da justiça colocaram, de certa forma, os
poderosos num respeitoso segundo plano” (137).
138. Alguns poucos poderosos se estabeleceram na região antes da instalação
dos aparelhos de poder ou, se contemporâneos, habitavam o serão, longe dos homens do
governo. Seu prestígio foi tolerado até o ponto em que não ameaçassem os interesses da
Coroa, embora, como em outras partes do Brasil, esses elementos da sociedade tinham
sua polícia pessoal, formada pelos desclassificados, chegando a exercer a justiça e a
violência paralelamente ao governo, mesmo aí compunham harmoniosamente com a
rede de poder de Minas, perseguindo negros fugitivos e matando por conta própria.
“Esta situação peculiar à zona mineira teve seus desdobramentos. Em primeiro
lugar, uma dependência maior da população ante o Estado, pois não há poder que
intermediasse essa relação. Além disso, a fragilidade dos laços paternalistas, que se
fizeram fortes em outros pontos da colônia. Aqui, o Estado é o Pai-Patrão todo-
poderoso, o defensor e algoz que dispõe livremente da sorte da arraia miúda” (139).
139-140. Retomar

74. A mão de obra dos desclassificados era usada das mais diversas formas, a
entradas no sertão; guarda, defesa e manutenção dos presídios; corpos da guarda e
polícia privada; milícia formada para fins diversos; povoamento de áreas novas, de
fronteira; obras públicas, lavouras,

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