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MODELO ENERGÉTICO DO SER SEGUNDO A VISÃO DOS XAMÃS -

TOLTECAS

"Todas as faculdades, possibilidades e conquistas do xamanismo, da mais simples à mais


espetacular estão no corpo do próprio xamã." Carlos Castaneda
Lembrem-se que todo o aqui escrito é valido para os guerreiros e guerreiras e tão
somente para eles e elas dentro da proposta que aqui desenvolvemos. À elas e eles destino
esse texto e também à Testemunha Silenciosa.
Para os xamãs-guerreiros o ser humano é antes de tudo um conglomerado de vórtices
energéticos aglutinados por uma gigantesca e impessoal força vibratória. Somos seres de
energia. Temos milhares desses vórtices de energia em nosso ser luminoso. Para eles,
somos seres luminosos, centelhas do Sol, fibras luminosas aglomeradas de tal forma que se
assemelham a bolhas de energia. Esse ser luminoso pode apresentar formas, cores e
configurações internas diferenciadas entre si. A visão dos xamãs-guerreiros (1)é algo
diferente, inusitado, que os distingue dos modelos apresentados por outros iniciados de
outras tradições, tal como, por exemplo, entre os iogues. Não é um modelo melhor ou
pior, superior ou inferior, mas simplesmente diferente, assentado em outros paradigmas e
que não se embasa no tonal, ou seja, não é uma réplica assemelhada ou clone de nossa
realidade física. Provavelmente por isso Don Juan evitava ensinar para Castaneda
seguindo esquemas classificatórios ou imagens ilustrativas. Certa feita quando desenhou
um esquema do homem o fez na areia para logo depois apaga-la (ver em Porta para o
Infinito). É uma visão NOVA. É importante dar ênfase nisso: UMA VISÃO NOVA.
Essa talvez seja uma definição possível para xamã: o sustentador de uma nova visão,
de um novo sonho embasado em um conhecimento antigo e vivo, como um contador de
estórias ou um fabulador que possui tal poder pessoal que pode nos abrir as portas do
maravilhoso, contudo, cabe a cada um atravessar o umbral do desconhecido.
Ao nos aproximarmos de um conhecimento novo não podemos avalia-lo a partir do
conhecimento que possuímos, pelo simples fato de tratar-se de um outro paradigma, uma
outra visão de mundo, uma visão nova ao mesmo tempo antiqüíssima, com milhares de
anos e uma tradição dos povos nativos da América, portanto, gerada, feita e desenvolvida
aqui e que ainda assim possui pontos de convergência com determinadas tradições, em
especial o taoísmo.
A ciência nos diz que os nossos índios saíram da Ásia num processo migratório que
data à 45 ou 50 mil anos atrás e que teria tido sua origem na África, como que indicando
que todos tivemos uma mesma origem e depois cada qual percorreu seu caminho ao
espalhar-se pelo planeta. As semelhanças, traços característicos evidenciam-se por si e
também pelo estudo da genética.
Esse conhecimento (xamanismo tolteca) foi gerado e perpetuado em condições
extrema mentes difíceis devido a invasão e domínio de outros povos, um conhecimento
que ao sobreviver prova a sua força e intento revelando-se por isso como o caminho do
guerreiro.
Ao se aproximar desse conhecimento, se, de fato, quisermos entende-lo, devemos
então deixar de lado nosso conhecimento passado e ao mesmo tempo possuir uma fibra
guerreira, tornando-nos sócios de uma nova descrição de mundo afim de corrobora-la por
nós mesmos com o nosso corpo inteiro. Esse conhecimento não nos traz consolo,
conforto,piedade, facilidades. Ele pode nos ser útil e nos tornar pessoas mais fortes,
serenas, equilibradas e alegres, mas se decidirmos enveredar pela trilha dos guerreiros e
não apenas fazer uso de algumas ferramentas do caminho, devemos ter consciência que
nunca mais seremos os mesmos e nos depararemos com a morte à cada passo do caminho.
Então é bom deixar isso claro. Podemos praticar vários ensinamentos da trilha tolteca
apenas para conseguirmos um nível de energia e bem-estar maior ou podemos decidir
enveredar pela trilha e viver o mito do guerreiro tolteca, mas, para ser bem sincero, não sei
onde um termina e o outro começa, essa fronteira não é visível, é sutil e aí pode acontecer
de nos vermos envolvidos em algo infinitamente maior que nós mesmos. Estamos todos
nadando num mar de energia, de ondas, de vibrações, nos dizem os físicos modernos e os
xamãs toltecas, e não sabemos com precisão como certas práticas podem afetar-nos. O
próprio Castaneda ao fazer contato com o mundo xamânico acabou deixando de lado sua
posição de mero cientista social para tornar-se um participante do mundo de Don Juan.
Em verdade, o conhecimento tolteca não nos deixa muita escolha, pois só é possível
compreende-lo, de fato, a partir da ótica de um praticante. O conhecimento tolteca não
pode ser estudado de fora, academicamente ou num nível meramente teórico. Mesmo um
diálogo à respeito desse conhecimento é algo difícil, pois só pode ser feito entre praticantes
que vivenciam experiências comuns a sua própria práxis xamânica.
Assim, no exato momento de ler esse texto, podemos estar sintonizando e sendo
envolvidos pelo afiado intento dos xamãs do México Antigo. Não por esse texto ter algo de
especial, mas pela natureza do assunto que trata, pelo compromisso assumido por quem
escreve, pelo interesse de quem lê e por tudo que é feito com intenção tornar-se
impregnado da energia que lhe é própria. Quem escreve já declarou ao infinito que quer
assumir a responsabilidade de quem está indo morrer, assim, mal ou bem, somos um
canal do espírito, do intento, do nagual. O intento desses xamãs é tão afiado e preciso que
pode afetar à vontade qualquer coisa. Esse é um ponto fundamental para os praticantes,
por ser efetivamente a única coisa com que podem contar no caminho. Esse intento afiado
nada mais é que atenção, consciência e energia desenvolvidos em graus inimagináveis por
essa linhagem guerreira de homens e mulheres.
Como dissemos no princípio: somos seres de energia, seres luminosos conectados na
teia infinita da consciência universal. Ao nos pormos em contato com esse Intento ele nos
molda, nos forja, nos imanta, nos transforma. Energia agindo em energia. Da mesma
forma que o vento, invisível, movimenta os seres e as coisas visíveis, lapidando pedras,
formatando nuvens e dunas de areia, o sopro do intento revela e molda o espírito do
guerreiro.
Para que possamos desenvolver nossa consciência e energia de forma tal a explorar
todas as possibilidades perceptivas do ser humano, precisamos lidar de forma estratégica
com nossa energia pessoal. Surge o conceito de impecabilidade. Impecabilidade nada mais
é que o uso inteligente e adequado de nossa força de vida em função de nosso propósito,
propósito xamânico de liberdade. Assim o conceito de ENERGIA, bem como o conceito de
PERCEPÇÃO são fundamentais nesse conhecimento.
Somos bolhas de luz, ovos luminosos, um conglomerado de vórtices energéticos. Olhemos
para a figura . Temos ali um modelo (uma tentativa de aproximação bem limitada) de
como os toltecas vêem o ser humano ao usar um sistema cognitivo diferente do usual. Essa
bolha de energia é composta por milhares de pequenos vórtices, que giram em forma de
funil no sentido anti-horário, onde seis são considerados os fundamentais :

1 – o vórtice do fígado/vesícula biliar responsável pela ação imediata. Passe possível


recomendado: silêncio interior de Miles e Capa de Auto-Confiança
2 – o vórtice do baço/pâncreas responsável pelos sentimentos. Passe possível
recomendado: afeto pelo corpo energético; quinto movimento da série "redistribuindo a
energia dispersa".
3 – o vórtice dos rins/ supra-renais conhecido também como centro de ação sustentada.
Passe possível recomendado: Intento. A maior parte dos Passes Mágicos fundamentam-se
nesses 3 centros básicos. Os movimentos de tensão, contração, giro, reposição, respiração,
golpes intencionais e visualização se dão nesses centros ou se originam desta região do
ventre, que correspondem a parte central de nosso corpo, importante ponto de equilíbrio.
Os passes recomendados são apenas alguns entre vários outros possíveis.
4 – o vórtice na base do pescoço, conhecido como centro aquoso ou centro das decisões ou
como ponto V. Talvez de todos o ponto mais importante para nós devido ao fato de sua
energia ser responsável pela nossa capacidade de tomar decisões. Esse centro trabalha com
uma energia que lhe é própria, de ordem sutil, agindo como um filtro que retêm apenas o
que é seu, deixando passar a energia que não lhe pertence. Para sair da "manada", para
não ser um escravo da ordem social é necessário reativa o ponto V. Série recomendada: 1ª
das 5 preocupações e o Intento.
5 – o vórtice do útero (só para mulheres). Esse centro é considerado como um segundo
cérebro livre de influências estranhas, a "caixa da percepção", pelo fato de poder processar
diretamente dados sensoriais e interpreta-los diretamente sem a interferência dos
processos de interpretação a que estamos condicionados. Se a função secundária do útero
for ativada, o que implica na liberação do útero de sua função reprodutora (primária), ela
faz do útero o epicentro da evolução em termos da nossa condição de seres de percepção.
Série recomendada: Útero e Código dos Xamãs.
6 – o vórtice do alto da cabeça, o único vórtice que se encontra tomado por uma espécie de
energia estranha à nossa natureza, um ser inorgânico. Os xamãs toltecas o chamam de o
predador ou voador ou sombrios. Trata-se de uma forma de vida inorgânica (conceito
tolteca que identifica seres inteligentes e conscientes que não possuem forma orgânica)
que se alimenta da energia que recobre nosso ser luminoso da mesma forma como nos
alimentamos de outras espécies, da mesma forma, por exemplo, que os massai, tribo
africana, se alimenta do gado ao extrair seu sangue metodicamente. O predador nos
domina, segundo os toltecas, porque somos alimento para ele, possuímos energia de uma
forma tal que permite à eles assenhorar-se dela. A única maneira de expulsar o predador é
realocando a nossa energia de uma forma tal que nos permita projeta-la dos centros vitais
para o sexto centro, realizando assim uma espécie de golpe energético, de baixo para cima,
feito de silêncio e poder pessoal. A humanidade é gado nas mãos do predador e como diz
o cantor e compositor Zé Ramalho.

Admirável gado novo

Vocês que fazem parte dessa massa


Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz...

Lá fora faz um tempo confortável


A vigilância cuida do ¨normal¨
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz.....

O povo foge da ignorância


Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Eh! Oh! Oh! Vida de gado<
Povo marcado eh! Povo feliz....

O problema central no xamanismo tolteca é a questão da energia, de termos energia


suficiente para percebermos o universo para além do sistema cognitivo limitante que nos
foi imposto . Essa questão da energia começa a ser acumulada a partir de um corpo físico
extremamente forte, ágil e flexível. Os xamãs toltecas não são seres espirituais, são
práticos, pragmáticos. Para eles ter um corpo físico excelente é uma condição sine qua non
para o processo de acumular energia e para a conquista do silêncio interior, que também é
fruto de um processo cumulativo.
Segundo os toltecas nossa energia é aos poucos desdobrada, dispersa, desalojada de
nossos centros vitais, desde a infância, pelas nossas preocupações, ansiedades, confusão
mental, stress, expectativas, sedentarismo, vícios, medos, dúvidas, racionalismo excessivo
ficando acumulada na periferia de nossa esfera luminosa, formando com o tempo uma
grossa casca, como a casca de um côco voltada para dentro e tendo um acúmulo maior em
sua base que forma uma crosta que nos torna lentos, pesados. Nessa situação o fluxo de
energia a nível interno tende a diminuir , chegando a estagnação que implica em limitação,
doença e morte. Essa visão da condição humana é interessante e nos indica que o ser
humano é, em sua condição ordinária, como um ovo que ainda não vingou, encontra-se
em estado embrionário, e, esse ovo só poderá vingar através de um processo de esforço
pessoal, daí termos que uma das metas do xamanismo guerreiro é fazer-nos seres capazes
de romper a própria casca para podermos viver toda a imensidão que há para além dela.

Talvez conheçam o seguinte conto xamânico, escrito pelo navegante xamânico Nuvem que
Passa:

¨Conta-se que vivia em alto ponto nos Andes um condor fêmea.


Por razões que existem para justificar essa história essa condor estava chocando 11 ovos.
Sim, 11 ovos no mesmo ninho , nas alturas colocado, sob a grande condor protegidos dos
ventos gelados.
Do nada que eram, possibilidades erráticas, começaram os ovos a se tornar sementes,
potenciais seres, os genes misturados, vindos de sua longa estrada traziam consigo o aprendizado de
tantas combinações.
Num certo momento os ovos começaram a ter um contato telepático entre si.
E passaram a conversar.
Sobre o que conversavam?
Ora , falavam sobre coisas de ovos, sobre suas fantasias de estar vivendo, da "realidade" que
criam viver.
Com o passar do tempo os ovos notaram que um estado de limitação, de opressão se estabelecia
entre eles.
Sentiam um certo desconforto e parecia que o desconforto aumentava com o passar do tempo.
Algo os limitava, algo os prendia, mas não sabiam o que.
Não percebiam que estando se desenvolvendo era natural que a casca os fizesse sentirem-se
presos.
Então um entre eles resolveu ser o messias, o que sabia da realidade final das coisas.
- Irmãos, pregava ele, tive uma revelação. Descobri a causa de nosso desconforto, de nossa
crescente ansiedade.
Silêncio! Aquilo era importante.
- O vitelo irmãos, (o alimento que o pássaro vai comendo enquanto está no ovo) é o vitelo que
aumenta nossa tristeza, nossa sensação de desconforto.
- Sentimos desconforto porque estamos nos tornando mais materiais, mais pesados, temos que
nos espiritualizar irmãos, só se nos espiritualizarmos vamos reencontrar a felicidade e leveza
perdidas.
Ora , isso era fato, um pássaro no ovo comendo vitelo vai ficando mais pronto e é claro que
sente mais os limites do ovo.
Mas não sabiam desse fato e a "revelação" do pregador parecia ter total sentido.
Aí criaram o movimento fundamentalista :
"Só comemos vitelo suficiente para não morrer" .
A nova moda era espiritualizar-se para recuperar o estado anterior de maior leveza e
dissolução .
Como o crescimento acabou mais lento acreditavam que o pregador lhes revelara sublime
verdade e logo declararam:
- Alimentar-se é pecado!
- Ficar mais denso é pecado
Crendo nisso viveram por um tempo numa languides, numa indolência, desnutrida
existência, onde a pasmaceira resultante era tida por paz ...
Mas um dos ovos, sempre tem esse um, revoltou-se contra aquilo.
- Ora , pensava, se sempre me alimentei por que vou deixar de fazer isso agora, me sinto fraco,
frágil, vou é comer.
E voltou a comer .
E comendo plenamento sentiu que estava oprimido , é verdade, sentiu limites, mas não deixou
se angustiar por isso e descobriu que sentir os limites de sua condição não era necessariamente
associado a angústia e a exasperação.
Era um condicionamento responder assim.
Foi logicamente excomungado da comunidade, mal exemplo a ser negado.
Ovos não conhecem cores, senão teriam dito que ele era um mago negro! ; )
Aí se ovos tivessem listas de debates iam debater se magia negra é aquela que manda comer o
vitelo e magia branca é o que , em beneficio da espiritualização , manda deixar de comer.
O fato é que ele continuou a se desenvolver enquanto os outros estavam estacionados.
Certo dia foram todos, telepaticamente, pregar para o rebelde.
Reparem que no estado de ovos eles não fazem nada, apenas imaginam que fazem.
Como ovos não há agir, só fantasia de agir, por isso podem se dedicar as doutrinas mais
estapafúrdias e sem nexo e ainda as sustentar por uma vida.
E lá iam pregar, mudar o diferente, o perigoso, o que com seus atos negava o senso comum.
E quem nega com atos é sempre mais perigoso que quem nega em teoria.
Converte-lo, salvar sua alma.
O rebelde foi perdendo a paciência com aquela conversa lamurienta, pois sem comer eles não
conseguiam mais pensar e ficavam repetindo a mesma frase alegando ter sido revelada pelo grande
deus "Ovão" .
Não era um diálogo, era um monólogo repetitivo de frases decoradas contra a argumentação
do rebelde, com suas habilidades plenas por estar bem alimentado.
O rebelde num movimento brusco , com sua parte mais densa ( o bico) quebrou a casca do
ovo.
Para quem viveu no interior escuro do ovo a luz do dia entrando era trevas e no susto
desapareceu do contato telepático com seus irmãos.
Terror, o pregador, aproveitador como todo bom pregador já pregou:
- Estão vendo o que acontece a quem desobedece os sagrados mandamentos? Vamos rezar ao
Ovão irmãos pela alma desse pecador que se perdeu.
Para eles o rebelde havia morrido.
Mas para o mundo aqui fora, para a condor mãe o primeiro dos ovos vingara e ele nascera.
Tudo era novo.
A principio sentiu terror, depois extâse.
E quando contemplou aqueles olhos enormes , aquele ser poderoso, novo medo.
Quem seria?
O diabo a castigá-lo? Deus a puni-lo por ter contrariado o pregador e se alimentado?
Com os dias o medo deu lugar ao assombro e este ao fascínio de estar vivo.
Nem deus nem demônio, só sua mãe.
O azul do céu, o sol, os picos nevados, a Mãe Condor que agora lhe dava alimento. Dormia
muito ainda, pouco notava das saídas e voltas da mãe.
Noite, estrelas, lua, estava extasiado.
Então se lembrou!
Seus irmãos, suas irmãs naquele estado limitado dentro dos ovos, crendo no pregador .
Agora ele sabia que era parte do crescimento sentir desconforto, sentir limites.
Fugir disso era fugir do sair do ovo. Do vir para este mundo, este sim real.
Contou a sua mãe que queria encontrar um meio de falar com seus irmãos e explicar o que
descobrira.
Ela riu.
- Mesmo que pudesse meu filho, como falaria de céu azul? De vento?
Como falaria dos picos nevados? Quer mesmo ajudar, então te aninha quando fores dormir
aqui, junto aos ovos e transmite teu calor, assim podes ajudar que choquem mais rápido.
Mesmo lentamente , um a um, os ovos foram sendo chocados e nasciam .
Ao final de algum tempo todos nasceram, quer dizer quase todos.
O pregador não nasceu, espiritualizou-se tanto que gorou...¨

Este conto me foi passado por um xamã quando cheguei na presença dele cheio das
minhas certezas sobre "evoluir" e "espiritualizar" .

Até aqui o conto xamânico. Praticar Tensegridade, uma disciplina física, respiratória e
mental dos xamãs-guerreiros é alimentar-se do "vitelo" ou para além da metáfora, é uma
disciplina que realoca a nossa energia dispersa em seus centros de origem, os centros
vitais, nos permitindo de forma elegante e sóbria ouvir nosso próprio corpo e nos
sintonizarmos com o intento da liberdade total.
A prática de Tensegridade nos dá algo fundamental na trilha tolteca : um corpo em
excelentes condições de preparo físico e mental, dotado de agilidade, força e elegância.
Um preparo físico impecável, excepcional é fundamental para a meta tolteca de lograr o
silêncio interior. Para os xamãs-guerreiros isso é fundamental, níveis excepcionais de bem-
estar físico e mental. Isso implica num suporte físico capaz de acumular e suportar
enormes pressões energéticas. Só um corpo capaz de suportar as pressões energéticas que
as viagens do sonhar provocam pode sobreviver aos embates do desconhecido.
Para os modernos praticantes o uso de planta de poder é descartado . Os modernos
praticantes baseiam sua busca em seu próprio poder pessoal. Fazendo uma analogia com
um conceito ecológico: os modernos praticantes da trilha tolteca buscam um
desenvolvimento sustentado da percepção baseado na auto-disciplina, ou seja, nos
recursos energéticos de seu ser luminoso, assim, disciplinas como a Tensegridade e a
Recapitulação, unidas a longas caminhadas, aos não-fazeres e ao intento contínuo de
silêncio interior, constituem-se em formas de condicionar-se física e energeticamente para
lograr viagens de percepção assentadas no poder pessoal. O uso de plantas de poder
pertence a um outro ciclo da trilha tolteca e mesmo assim feito sob a orientação de um
homem de conhecimento, um nagual, de acordo com certos propósitos e de acordo com a
configuração energética e perfil psicológico do praticante, em situações específicas e
particulares. Mas, é claro, isso diz respeito aos que trilham os caminhos do xamanismo
tolteca que buscam o desenvolvimento da vontade e do poder pessoal direta e
deliberadamente para ingressar na 3ª atenção.
Uma disciplina baseada no poder pessoal ou na impecabilidade demanda não só um
preparo físico invejável, mas uma alimentação adequada, enfim, um modo de vida
coerente com a meta da liberdade total.
Ter enormes quantidades de energia liberada e disponíveis implica em lhe dar de
forma estratégica com outra fonte de energia humana : o sexo. A abstenção sexual é
recomendada para todos os praticantes , podendo ser definitiva ou parcial como forma de
libertar a sexualidade do condicionamento sócio-cultural.
Repetindo: a abstenção sexual é recomendada para todos os praticantes da trilha
tolteca.
Citando uma passagem do capítulo 4 do Fogo Interior :
A consciência se desenvolve desde o momento da concepção - explicou. - Sempre lhe
afirmei que a energia sexual é algo de extrema importância, e que deve ser controlada e
usada com grande cuidado. Mas você sempre se ressentiu com o que eu dizia, porque
pensava que eu estava falando em termos morais; mas sempre falei em termos de
economizar e recanalizar a energia sexual .
Don Juan olhou para Genaro. Genaro balançou a cabeça, em aprovação.
- Genaro vai lhe contar o que o nosso benfeitor, o nagual Julian, costumava dizer
sobre economizar e recanalizar a energia sexual .
- O nagual Julian costumava afirmar que fazer sexo é uma questão de energia -
começou Genaro. - Por exemplo, ele nunca tinha quaisquer problemas em fazer sexo,
porque possuía enormes quantidades de energia. Mas olhou para mim e determinou
imediatamente que meu pinto era apenas para mijar . Disse-me que meus pais estavam
muito aborrecidos e muito cansados quando me fizeram; disse que eu era o resultado de
uma relação muito aborrecida, cojida aburrida . Nasci desse modo, aborrecido e cansado. O
nagual Julian recomendava que pessoas como eu nunca fizessem sexo; dessa maneira
poderíamos acumular a pouca energia que temos .
Ele afirmou a mesma coisa a Silvio Manuel e a Emilito. Ele viu que os outros tinham
energia suficiente. Não eram resultado de sexo aborrecido. Disse que poderiam fazer o que
quisessem com sua energia sexual, mas recomendou que se controlassem e compreendem-
se a ordem da Águia de que o sexo é uma doação do brilho da consciência . Todos nós
dissemos ter compreendido .
Um dia, sem qualquer espécie de aviso, ele abriu a cortina do outro mundo com a
ajuda de seu próprio benfeitor, o nagual Elias, e empurrou todos nós para dentro, sem
qualquer espécie de hesitação. Todos, exceto Silvio Manuel, quase morremos ali dentro .
Não tinhamos energia para suportar o impacto do outro mundo. Nenhum de nós, com
exceção de Sílvio Manuel, havia seguido a recomendação do Nagual.
(...)
Tudo o que sei é o que significa para os guerreiros. Eles não ignoram que a única
energia real que possuímos é a energia sexual, que confere vida . Esse conhecimento torna-
os permanentemente conscientes de sua responsabilidade .
Se os guerreiros desejam ter energia suficiente para ver, devem tornar-se avaros com
sua energia sexual. Essa foi a lição que o nagual Julian nos deu. Empurrou-nos para o
desconhecido e todos nós quase morremos. Como cada um de nós deseja ver ,
naturalmente nos abstivemos de desperdiçar nosso brilho da consciência .
Até aqui a passagem do Fogo Interior.
Assim a abstenção sexual é recomendada para todos os praticantes, mesmo para
aqueles que não são resultado de uma concepção sexual energeticamente pobre, pois
mesmos esses ao não guardarem sua energia não terão capacidade para resistir a pressão
do outro mundo, como na situação criada pelo nagual Julian, onde apenas Silvio Manuel
foi capaz de resistir.
Qualquer praticante de Magia Sexual em suas diferentes versões sabe que é
necessário um período de abstenção para acúmulo de energia afim de realizar certas
operações mágicas como sigilos , técnicas de projeção astral, licantropia e etc. No caso da
trilha tolteca o acúmulo de energia se faz necessário para realizar em última instância uma
operação mágica de grande envergadura: alimentar o corpo de energia e queimar-se no
fogo interior para ingressar na 3ª atenção com a totalidade do ser, ou seja, o nível de
exigência da trilha tolteca é tremendamente alto, pois não se trata de acumular energia
para realizar operações mágicas no plano da concretude e sim num nível de abstração que
invade o impensável, a liberdade total. Assim a nossa própria energia sexual deve libertar-
se do mundo, do condicionamento energético imposto pelos papéis sociais ao homem e a
mulher. Eis uma das metas dos praticantes da trilha tolteca.
Ainda com relação a questão sexual temos uma outra possibilidade não devidamente
explicitada nas obras do grupo do novo nagual(3). A utilização da energia sexual através
da interação entre homem e mulher sem desperdício da energia . Conhecido na tradição
thelêmica como método diânico (sem ejaculação) dentro de um trabalho gamma
(heterossexual) ou no tantrismo como Vama Marg ou o caminho da mão esquerda ( em
uma de suas variantes ). É também comum em diferentes tradições xamânicas um período
de reclusão e abstenção sexual por parte dos iniciados ou futuros xamãs. No livro
Shabono, de Florinda Donner, há uma interessante passagem à respeito de uma iniciação
xamânica iticoteri e também encontramos uma descrição de Don Juan em o Presente da
Águia sobre como libertou sua energia sexual do mundo.
A importância da energia sexual ressalta se pensarmos que numa ejaculação o
homem projeta 200 milhões de espermatozóides, e, apenas um fecunda o óvulo, e, na
maior parte das vezes as relações sexuais não visam a reprodução e sim o prazer. Então o
desperdício de energia é enorme. É como gastar uma fortuna para não ter nenhum retorno
em termos de energia. Pensem que em trinta ejaculações há o potencial para repovoar o
planeta inteiro.
Assim o uso de plantas de poder e o uso do sexo exigem grandes quantidades de
energia, quantidades essas necessárias ao trabalho de desenvolvimento da consciência
dentro do xamanismo tolteca. Xamãs toltecas e aprendizes devem ser impecáveis com
relação à ambos em função das metas de sua linhagem.
Outro item consumidor voraz de energia para os xamãs toltecas é a nossa auto-
importância.

Citando um outro texto do Fogo Interior:

Capítulo 2 , Fogo Interior , Carlos Castaneda – Fragmentos

"A vaidade é o nosso maior inimigo, pense sobre isso...o que nos enfraquece é nos
sentirmos ofendidos pelos feitos e desfeitas de nossos semelhantes . Nossa vaidade faz
com que passemos a maior parte de nossas vidas ofendidos por alguém .
Os novos videntes recomendavam que todo o esforço devia ser feito para erradicar a
vaidade da vida dos guerreiros. Eu segui aquela recomendação, e muitos dos meus
esforços com você tem sido dirigidos a mostrar-lhe que, sem vaidade, somos invulneráveis
.
A vaidade não pode ser combatida com delicadeza .
Os videntes antigos e novos são divididos em duas categorias. A primeira é composta
por aqueles que se dispõem a exercitar o autocontrole e são capazes de canalizar suas
atividades para metas pragmáticas, que iriam beneficiar outros videntes e o homem em
geral .
A vaidade não é algo simples ou ingênuo . Dê um lado, é o núcleo de tudo que é bom
em nós e , por outro lado , o núcleo de tudo que não presta . Livrar-se da vaidade que não
presta requer prodígios de estratégia. Através dos tempos, os videntes renderam
homenagens àqueles que conseguiram .
Os guerreiros combatem a vaidade por uma questão de estratégia e não de princípios
.
A impecabilidade não é nada mais do que o uso apropriado da energia . As minhas
afirmações não tem um pingo de moralidade. Economizei energia, e isso me torna
impecável.
Dom Juan disse então que, nas listas estratégicas dos guerreiros, a vaidade figura
como atividade que consome a maior quantidade de energia, daí seu esforço para
erradica-la .
Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela energia para poder
encarar o desconhecido com ela. A ação de recanalizar aquela energia é a impecabilidade ".
Temos então a exigência de um corpo físico em excelentes condições, uma mente
sadia e treinada no pleno uso do pensar, capaz de parar o diálogo interno à vontade, uma
sexualidade baseada num processo de economia e recanalização da energia e num
trabalho para quebrar o espelho da auto-reflexão (auto-importância)
como elementos geradores de energia, num processo de desenvolvimento auto-
sustentado da consciência que leva à plena capacidade de manipular o ponto de
aglutinação ou a percepção.
Eis o nível de exigência que envolve a formação de um guerreiro(a) tolteca .
Cabe perguntar: É esse o caminho do nosso coração? Pois, de fato, para percorre-lo é
necessário um coração de guerreiro.
Ou será que estaremos nos enganando, vivendo uma fantasia de guerreiro? Só você
poderá responder. E a resposta só pode ser feita por atos.
E, o melhor de tudo, é que após tanto esforço a meta pode não ser alcançada.
Esse é o estoicismo yaqui, diriam alguns. Mas o que temos aqui é um conjunto de
técnicas, premissas e princípios testados ao longo de gerações de homens e mulheres em
busca da liberdade total. Não é uma fé, não é uma religião, não é uma moral, é uma
ciência-arte da percepção profundamente exigente, mas que nada tem a ver com dor e
infelicidade, sacrifícios e renúncias terríveis. Os guerreiros trazem em si a marca do
humor, da alegria, da irreverência e de um gozo inexplicável, pelo viver, pelo mistério e
pela consciência. Não são moralmente inflexíveis, nem são insensíveis como os estóicos
greco-romanos, nem frios mas antes apaixonados pelo conhecimento. São homens e
mulheres dispostos a pagar o preço da busca pela liberdade total.
Há um outro conceito fundamental no conhecimento da linhagem de Don Juan :
Intento.
Intento não é Deus. Para os toltecas não há deus, não há a idéia de reverenciarmos ou
cultuarmos seres superiores, tal atitude apenas espelha nossa auto-importância.
Intento é uma força, uma força gigantesca e consciente que permeia todas as coisas e
todos os seres e que pode ser manipulada pelo xamã. Enquanto o crente pede à Deus, o
xamã-guerreiro comanda o Intento e transforma a sua ordem na ordem da Águia, do
Espírito .
Uma força para a qual podemos acenar, nos tornarmos seus amigos e sermos unos
com Ela.
Intento ! Intento ! Intento !
Raphael Guerreiro Coyote

Observações
(1) -também, auto-intitulados, toltecas, não por serem parte apenas da civilização tolteca, mas por
tolteca para eles significar "homem de conhecimento", um homem capaz de ver a energia no
universo diretamente sem o obstáculo de nosso sistema de interpretação ou sistema cognitivo
limitado, baseado tão somente no intelecto e em crenças a priori.
(2) - As séries recomendadas são todas aquelas que nos levam ao Silêncio Interior, incluso as séries
longas que pela saturação de movimentos nos induz ao silêncio interior ao estimular a memória
cinestésica. Nota-se que a série do Intento é uma das séries mais completas da Tensegridade.
(3) - Lembremos que o conhecimento apresentado pelo novo nagual é apenas parte (fragmentos) de
um conhecimento maior e mais complexo. O nagual por suas obras apresentou apenas alguns (seis)
cernes abstratos de um total de 21, deixando muita coisa ainda para ser descoberta por quem tiver
atrevimento e coragem para tal.

Canção da Paixão
Adiante,
quem quer que esteja
tocando as portas da alma .
Adiante,
que quero que veja como estou chorando de amarga dor .
É tão difícil sentir tanta amargura
que não me importa terminar na loucura.
Se já morreu meu velho amor , agora te digo :
se já não tenho valor,
se já não tenho valor ,
de nada sirvo.
Adiante,
quem quer que esteja
que está tocando as portas da alma .
Adiante,
que quero que veja como estou sofrendo,
como estou morrendo pelo meu velho amor .
Esta canção está dedicada a algo abstrato, o velho amor que o bruxo sente por
navegar : a paixão do guerreiro .
Todos sabemos que isso é o único que temos .
Faz muitíssimos anos que o homem interrompeu sua viagem ao infinito que é o único
que queremos .
Estamos envoltos nesta vida que nos rouba tudo o que podemos ser .
Temos que lutar para apagar o eu pessoal .

Conferência de Taisha Abelar - México 1996

A paixão é um dos fundamentos do caminho do guerreiro . Sem paixão não somos


nada . Não é uma das premissas principais, mas é um centro que pode unificar os
diferentes postulados do caminho do guerreiro . O caminho do guerreiro é um postulado
filosófico . A força coesiva desses princípios é a paixão .
Dom Juan falou de outra força coesiva, a força vibratória que mantêm as coisas juntas
. Dizia que os seres humanos estão formados por muitos conjuntos de energia que a força
vibratória mantêm junta, já que sem ela tudo se desintegra . Esta força mantêm tudo
unido, não apenas o que tem vida, mas também as rochas, as galáxias, etc... Os bruxos
chamaram a esta força de "força aglutinante vibratória". Os bruxos demoraram a
compreender esta força e quiseram controla-la, porém não puderam, apenas puderam usa-
la como modelo para explicar o caminho do guerreiro, porém agregaram um elemento que
fez possível a coesão do conceito : A PAIXÃO .
A paixão pode destruir aos bruxos . Os bruxos podem passar através de tudo, exceto
por esse centro que é a paixão, quando a encontram se desmantelam, chegando a
desmembrar-se . A paixão pode cortar qualquer coisa . A paixão não tem que ser sagrada
para destruir . Quando o bruxo fala de paixão não é de algo sagrado e sim de um
sentimento engendrado com um propósito, é uma fixação contínua .
Não é a ira, a cólera ou a vingança, que são explosões momentâneas de emoções no
ser humano que duram apenas um instante . A verdadeira paixão não pode vir seguida de
remorsos e nunca pede desculpas . É bom que estas explosões de paixão não sejam tão
comuns, já que se vão seguidas de importância pessoal tornam-se destruidoras . Todos os
recursos dos bruxos estão voltados para que a paixão não se misture com a importância
pessoal . Os bruxos querem usar a paixão para romper com o habitual . O máximo esforço
está em permitir que a força da paixão permita ao bruxo viajar, viajar com uma força que
não tem definição . A paixão é uma amálgama, uma mescla de sentimentos : curiosidade,
alegria por conhecer...
O velho nagual estabelecia qualquer tarefa para que seus discípulos alcançassem a
paixão . O romance com o conhecimento é uma forma de acercar-se da paixão .
Transa aborrecida
Para noventa e nove por cento das pessoas é muito difícil sentir paixão .
Se não fomos concebidos com paixão como vamos chegar a senti-la ?
A condição prévia para a paixão é não ter ego, para isso, o primeiro passo é cuidar de
algo ou de alguém .
No caso de Castaneda, Dom Juan o encarregou de cuidar de uma criança de 5
semanas de vida até os cinco anos . Então a família real do menino foi à sua procura e o
levou . Castaneda lutou para ter o menino como ele, encontrava-se desolado, e perdeu a
batalha legal pela posse do menino . O velho nagual disse que era inútil lutar contra
possibilidades avassaladoras . Disse que Carlos havia conseguido sua tarefa por que o
menino havia forjado nele o fogo da paixão . Este fogo estaria presente para sempre, já que
é perene, nunca se extingue .
Taisha foi incumbida de estabelecer amizade com objetos . Para fixar a paixão com
objetos inanimados não há limites . Ela sentia paixão por seu pequeno quarto aonde
ninguém podia entrar se ela não estava . Também com seu rádio e com sua televisão, que
cuidava e conversava, não permitindo veicular programas desagradáveis ou ruins, via
apenas programas agradáveis . A televisão só funcionava para ela, apenas quando pedia
por favor é que a tv punha-se a funcionar para outra pessoa .
Em uma ocasião emprestou-a a uma amiga pedindo-lhe que funcionasse, porém a
usou outra pessoa e ela não funcionou ; esta pessoa, pensando que a tv encontrava-se
escangalhada, jogou-a no lixo, onde Taisha a encontrou . Ela sentiu uma pena muito
grande ao ver sua tv no lixo, a recolheu, a limpou , e sua tv voltou a funcionar. Mais
adiante a tv foi roubada e Taisha foi lamentar-se com Dom Juan pela sua má sorte . Dom
Juan lhe disse que ela apenas poderia fazer uma coisa por sua tv : dizer-lhe em voz alta
que onde estivesse , funcionasse .
O propósito da linhagem de Dom Juan era reconstruir algo do nada . Os bruxos, à
princípio, eram apenas lixo humano, porém pelo intento e pela paixão vão reconstruindo a
si mesmos . Dom Juan reconstruiu a seus discípulos guiado pela paixão do guerreiro e
logo os deixou livres . Tal como Taisha fez com sua tv . Antes de deixa-los ir, lhes disse :
Vão, recordem o que construíram e façam o melhor que puderem .
Da paixão pelos objetos, Taisha passou a paixão pelos seres humanos e então
entendeu por que a paixão pode destruir uma pessoa, por que pode converte-la em cinzas.
Dom Juan começou a falar da arte da espreita, para Taisha, explicando antes que a
arte do sonhar está relacionada como uma configuração energética específica . A arte da
espreita é a capacidade de fixar o ponto de aglutinação em uma nova posição dentro do
ovo luminoso . Se o ponto de encaixe não está fixo, a percepção no sonhar não é coerente,
podem haver flashs porém não há coerência .
O treinamento do espreitador começa através da personificação de papéis . Dom Juan
chamava isto de atuar no teatro do real. Não é o trabalho de um ator, e sim do bruxo que não
tem para onde ir, já que qualquer lugar é sua casa . Personificar o papel até o limite produz
paixão, porque a espreita fixa o ponto de encaixe em uma posição distinta, que é a da
paixão, qualquer que seja esta posição aonde o ponto de encaixe se fixe .
Taisha conta a estória da espreita de Ricky . Seu mal comportamento com o dono de
uma casa em que vivia fez com que o mesmo adoecesse. O homem havia tratado-o sempre
muito bem, apesar da impertinência e arrogância de Ricky , porém como o homem era
amável e gentil, por natureza, o permitiu . Taisha estava tranqüila porque pensava que
esse senhor era do grupo de Dom Juan e ela era apenas um pequeno tirano . Quando o
senhor adoeceu, ela se deu conta de que não era bem assim e de que, em realidade, existe
gente boa ,de fato . Ela não esteve atenta ao que se passava, não espreitou ao senhor, do
contrário, haveria evitado a sua enfermidade .
Na paixão o tempo não conta, só existe o momento . Os bruxos se preparam para
sentir paixão para a viagem definitiva .
A história de um guerreiro não é de auto-compaixão. A auto-compaixão nos debilita,
nos adoece , nos dissipa. A história dos guerreiros são histórias de ação, de mudança e
realização . A mudança não sucede , de repente, tem-se que lutar a cada momento .
A história de Ricky é um símbolo que se aplica . Sempre existe alguém que nos ajuda
livremente, sem interesses, com o benfeitor de Ricky . No caminho do guerreiro tudo são
símbolos que se aplicam a nós mesmos . Qualquer um pode vender as "ferramentas" do
nagual, se não estamos vigilantes, assim como Taisha vendeu as ferramentas do seu
benfeitor . Atuamos por interesse pessoal, conforto, descuido, covardia, desejo de ser
amado, porém quando se vê o infinito frente à frente se entende que essas razões são
inúteis.
Todos temos o infinito diante de nós, mas não o percebemos, necessitamos valentia,
valor para seguir adiante . A canção recorda como somos inúteis . Se não temos paixão
então para nada servimos .

transcrito do seminário do México em 1996 - T.A.

EXTRAÍDO DE UMA CONFERÊNCIA DE FLORINDA DONNER- GRAU / MÉXICO 1996

Os poetas prestam homenagem à morte


Eles a glorificam em suas canções.
Mas digo-lhe que a morte é negligência.
É ignorância. A vigilância é imortalidade.
A morte é um tigre que espreita o mato.
Nós criamos filhos para a morte
Mas ela não pode devorar o homem
Que sacudiu o seu pó.
Ela nada pode fazer contra a eternidade.
O vento, a vida ambos fluem a partir do infinito.
A Lua bebe o sopro da vida,
O Sol bebe a Lua e o infinito bebe o Sol.
O Homem sábio voa entre os mundos.
Quando seu corpo é destruído e nenhum traço
dele existe mais, então a morte
É destruída e ele contempla o
Infinito...
Mahabaratha

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