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UMA APLICAÇÃO DA TEORIA DE GRUPOS NA “SOLUÇÃO” DE

EXPRESSÕES NUMÉRICAS SEM SIGNOS DE AGREGAÇÃO

Wilian Francisco de Araujo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Toledo
waraujo@utfpr.edu.br

Renato Francisco Merli


Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Toledo
renatomerli@utfpr.edu.br

Resumo:
As operações fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão) são vistas como
essenciais a qualquer atividade matemática. Nesse contexto, as expressões numéricas servem
como verificação e avaliação do uso dessas operações por parte dos estudantes e dos
professores. Contudo, alguns problemas aparecem quando não existem signos de agregação
(parênteses, colchetes e chaves) nas expressões numéricas e aparecem operações com ordem de
precedência igual a serem resolvidas. Nesse sentido, buscamos fundamentar a importância
desses signos de agregação por meio de um resgate histórico dos mesmos. Quando não for
possível utilizá-los ou não aparecerem numa expressão, apresentaremos nossa proposta de
precedência, utilizando a teoria dos grupos. Mostraremos que a adição e a multiplicação serão as
únicas operações presentes em uma expressão numérica, o que de certa forma, já estabelece a
ordem de precedência.

Palavras-chave: Operações fundamentais. Teoria de grupos. Resolução de problemas.

Introdução

Pesquisadores da educação matemática têm dedicado atenção especial aos


estudos sobre a linguagem, em especial aos relacionados à passagem da linguagem
cotidiana para a linguagem matemática. Nesse aspecto, o processo de algebrização da
aritmética tem um papel fundamental nessas discussões, pois permite estabelecer uma
conexão entre a linguagem abstrata (nesse caso pensada nos processos algébricos) e a
linguagem coloquial1 (nesse caso os processos aritméticos).

1
Entendemos aqui que os processos aritméticos não são de fato uma linguagem coloquial, já que números
são tão abstratos quanto letras. O termo foi usado para denotar que a linguagem matemática mais comum
entre os não matemáticos é a aritmética.
XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática
Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014
ISSN 2175 - 2044

Conforme apontam Lins e Gimenez (2007, p. 9), na comunidade da educação


matemática, muitos acreditam que “aprender aritmética deve vir antes do aprendizado
da álgebra”. Nossa discussão nesse texto não será a defender o ensino de álgebra antes
da aritmética ou vice-versa, mas será de levantar uma discussão sobre a necessidade de
que os professores tenham compreensão da teoria de grupos, de modo que tenham em
mãos mais uma ferramenta no auxílio do uso dos signos matemáticos e das regras
utilizadas nas operações fundamentais das expressões numéricas.
Também não defendemos a ideia de uma modernização - no sentido de
algebrização -, da matemática, pois essa ideia já foi posta em prática em tempos
anteriores e se mostrou pouco fecunda. Pelo contrário, sabemos da importância do uso
de problemas do cotidiano, buscando a contextualização. Contudo, procuramos um
meio termo, como apontam Lins e Gimenez (2007, p. 23) quando propõem que a escola:

[...] é, sim, lugar de tematizações, de formalizações. Esse é um papel


importante que ela deva cumprir, o de introduzir as crianças em
sistemas de significados que constituem o que Vygotsky chamou de
conceitos científicos e, que correspondem a um corpo de noções
sistematizadas (LINS; GIMENEZ, 2007, p. 23, grifo nosso).
Nesse sentido, tratamos neste trabalho apenas de discutir a validade do método,
o ato de resolver uma expressão numérica recorrendo apenas às regras impostas ou
invocadas pelo individuo e, quando, elas não estão postas às claras, como no caso dos
signos de agregação. Alinhamo-nos à ideia de Brandemberg (2009, p. 161) ao afirmar
que “não podemos querer que a construção do „pensamento‟ matemático, de milhares de
anos, simplesmente, seja apresentada baseada em abstrações complexas e características
do período moderno”, portanto, não basta ensinar álgebra antes da aritmética aos nossos
alunos. Até porque pesquisas sobre a chamada Early Álgebra2 já vem sendo
desenvolvidas no intuito de compreender a relação entre a aritmética e álgebra em séries
iniciais.
Para ter claro o uso dos signos e das operações fundamentais, faz-se necessária
uma breve retomada histórica da origem de tais signos, das operações e de suas
propriedades. Assim, neste texto, apresentamos um pequeno histórico da aritmética e de
seus signos, a origem da teoria dos conjuntos e alguns de seus conceitos, mostrando
alguns “problemas” que aparecem na resolução expressões numéricas por causa do mau

2
Para maiores informações acesse http://ase.tufts.edu/education/earlyalgebra/about.asp.
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entendimento e do mau uso das operações e, quando não há a presença de signos de


agregação.

Breve Histórico das Expressões Numéricas e Algébricas

O nosso modo de viver atual só foi possível graças ao domínio matemático que o
homem estabeleceu. Esse domínio foi e vem sendo construído ao longo dos séculos, de
forma gradual e cada vez mais complexa. Foi a partir do desenvolvimento da
linguagem, que vemos uma evolução significativa da matemática. Boyer e Merzbach
(2012, p. 25) apontam para isso, quando afirmam que o:

[...] desenvolvimento da linguagem foi essencial para que surgisse o


pensamento matemático abstrato; no entanto, palavras que exprimem
ideias numéricas apareceram lentamente. Sinais para números
provavelmente precederam as palavras para números, pois é mais
fácil fazer incisões em um bastão do que estabelecer uma frase bem
modulada para identificar um número (grifos do autor).
Com o advento da linguagem e, consequentemente do uso de sinais para
representar os números, a realização de diversas operações foi possível. Por exemplo,
Boyer e Merzbach (2012, p. 32) ponderam que a “operação aritmética fundamental no
Egito era adição, e nossas operações de multiplicação e divisão eram efetuadas no
tempo de Ahmes por sucessivas „duplicações‟”.
Além disso, mudanças nos sistemas numéricos também permitiram evoluir e
desenvolver novos conceitos, por exemplo, o “sistema decimal posicional, utilizado por
nós até hoje com algumas alterações, representou para a Aritmética o que o alfabeto foi
para a escrita: a democratização” (NETO, 2005, p. 15).
Essa democratização parece acontecer de fato, apenas quando sabemos utilizar
os signos que conhecemos, “é preciso conhecer sua sintaxe para a composição de
expressões e fórmulas” (NETO, 2005, p. 44). Assim, quando nos referirmos a símbolo e
signo, usaremos a distinção que utiliza Piaget, como aponta Neto (2005, p. 33):

[...] símbolos são sinais que sugerem fortemente o significado. Por


exemplo: ||||| significando cinco. Ele contém a própria quantidade
cinco. Ele representa a sua classe de conjuntos cinco elementos
porque ele mesmo é um elemento da classe. Os símbolos podem ser
criados pelas crianças, e dão alguma informação sobre o tipo de
esquema de ação que estão representando. Os signos são
convencionais como o cinco, 5, five, V, etc. Os signos são
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conhecimentos sociais e exigem um trabalho especial de construção


(NETO, 2005, p. 33).
Para Cajori (1993, p. 342, tradução nossa) “na álgebra retórica e sincopada, a
agregação dos termos foi indicada por palavras. Portanto, a necessidade de símbolos
para agregação não era urgente. Até antes dos séculos quinze e dezesseis a conveniência
e a necessidade para tais signos não foi definitivamente evocada3”.
Até o estabelecimento dos principais signos de agregação que utilizamos
atualmente na resolução de expressões numéricas ou algébricas, muitos outros foram
utilizados e testados, como barras horizontais sobre os números, o uso de abreviações de
palavras e, ainda pontos e vírgulas. Como sugere D‟ Amore (2007, p. 249) “parece
então que a língua da Matemática seja influenciada pela língua comum, muito mais do
que poderia parecer à primeira vista”.
Esse uso, de abreviações de palavras, entretanto não prevaleceu, mas sim, dos
parênteses, dos colchetes e das chaves que foram historicamente firmados,
principalmente por razões tipográficas (CAJORI, 1993, p. 342).
O aparecimento dos parênteses, por exemplo, é relatada por Cajori (1993, p.
134), “Clauvius é um dos primeiros que você vê usar os parênteses redondos para
expressar uma agregação4” (tradução nossa). Isso pode ser verificado na Figura 1. Trata-
se de uma página da obra Algebra, de Clavius, publicada em Roma, no ano de 1608.
Figura 1 - Aparecimento dos Parênteses

Fonte: CAJORI, 1993, p. 135.

3
In a rhetorical or syncopated algebra, the aggregation of terms could be indicated in words. Hence the
need for symbols of aggregation was not urgent. Not until the fifteenth and sixteenth centuries did the
convenience and need for such signs definitely present itself.
4
Clavius is one of the very first you see round parentheses to express aggregation.
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Em outro momento do mesmo texto, Cajori (1993, p. 139) chama a atenção para

o uso dos parênteses que Clavius utiliza “note que significa √ vezes x2, não
√ ; o é um sinal de separação de fatores5” (CAJORI, 1993, p. 139, tradução
nossa).
Esses são os primeiros usos dos parênteses, contudo, como a maioria dos signos
matemáticos, eles também evoluíram. Na Figura 2, podemos verificar suas mudanças
simbólicas, conforme os anos foram passando.

Figura 2 - Evolução dos Parênteses

Fonte: CAJORI, 1993, p. 552.

Em seguida, Cajori traz que o uso de colchetes foi inicialmente utilizado por
Jean Buteon, em sua obra Arithmetica, em 1559, para representar a igualdade. Um
exemplo apresentado pelo autor pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 - Uso Inicial dos Colchetes

Fonte: CAJORI, 1993, p. 159.

Com relação ao uso das chaves, ela foi usada em 1593 por Vietè e depois em
1637 por Descartes, para indicar a soma dos coeficientes ou fatores de uma dada coluna,
conforme podemos verificar na Figura 4.

5
Notice that means √ times x2, not √ ; the is a sign of separation of factors.
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Figura 4 - Uso Inicial das Chaves

Fonte: CAJORI, 1993, p. 159.

Historicamente, além dos signos de agregação foi necessário estabelecer a ordem


com que as operações fundamentais de uma expressão numérica devem acontecer. No
site do professor Jeff Miller6, ele elabora uma linha do tempo sobre o aparecimento da
ordem de precedência das operações fundamentais. Segundo Miller (2010), em 1892,
um dos primeiros a tratar sobre o assunto foi o texto American Mental Arithmetic, de
Middlesex Alfred Bailey, no qual o autor aconselha a evitar expressões que contenham
tanto ÷ e ×. Em 1898, no livro texto sobre Álgebra, de Fisher e Schwatt, eles indicam
que as expressões que aparecem na forma a ÷ b × b devem ser interpretadas como
(a ÷ b) × b.
Já no século XX, outros autores sugerem que as multiplicações devam ser
executadas em primeiro lugar; em seguida, à medida que ocorrem as divisões, da
esquerda para a direita e por fim, todas as adições e subtrações, também da esquerda
para a direita.
No livro Second Course in Algebra, Wells e Hart (1913, p. 4) definem que:

[...] em uma sequência de operações fundamentais sobre números, fica


acordado que, as operações sob sinais radicais ou com símbolos de
agrupamento, devem ser realizadas antes de todas as outras; que, de
outro modo, todas as multiplicações e divisões serão realizadas
primeiro, procedendo da esquerda para a direita, e depois todas as
adições e subtrações, procedendo novamente da esquerda para a
direita7” (tradução nossa).
Percebemos nesses pequenos trechos, que não há um acordo geral, ou uma
convergência histórica para a ordem de precedência das operações, nem mesmo dos
signos de agregação. Isso também pode ser visto no comentário de Cajori (1993, p. 274,
tradução nossa) ao afirmar que “se um termo aritmético ou algébrico contém ÷ e ×, não

6
Disponível em: http://jeff560.tripod.com/mathsym.html. Acesso em: 07 abr. 2014.
7
In a sequence of the fundamental operations on numbers, it is agreed that operations under radical signs
or within symbols of grouping shall be performed before all others; that, otherwise, all multiplications and
divisions shall be performed first, proceeding from left to right, and afterwards all additions and
subtractions, proceeding again from left to right.
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existe atualmente nenhum acordo a respeito de qual sinal será usado pela primeira
vez8”.
Portanto, nossa proposta é utilizar a teoria de grupos para apresentar uma
justificativa para a ordem de precedência das operações fundamentais nas expressões
numéricas, quando estas não virem com algum signo de agrupamento e/ou não
estiverem em sua forma contextualizada. Dessa forma, na seção seguinte, apresentamos
um breve histórico da teoria dos grupos para em seguida, justificar seu uso.

Teoria de Grupos

A teoria de grupos surgiu na tentativa de resolver um problema de solubilidade


de equações algébricas. Após a descoberta das fórmulas para encontrar as raízes de
equações de grau três e quatro nos anos de 1500, um problema que ficou em aberto por
quase 300 anos foi “será que toda equação algébrica é solúvel por radicais?”, ou seja, de
modo que a solução utilize apenas operações aritméticas fundamentais e de potenciação
e radiciação.
Em 1800, Paolo Ruffini afirmou que não existia uma fórmula para equações de
grau maior ou igual a cinco, mas sua prova não foi aceita por ter algumas lacunas. Em
1824, Niels Henrik Abel provou que não existia fórmula para resolver equações de grau
cinco, como as fórmulas para graus dois, três e quatro, usando certas funções racionais
introduzidas por Joseph-Louis Lagrange em 1770.
Conforme aponta Domingues e Iezzi (2003, p. 138), uma pergunta ainda
permaneceria em pé “já que as equações de grau maior ou igual a 5 não são de modo
geral, resolúveis por radicais, mais algum tipo o são, como já se sabia bem antes de
Abel, o que caracteriza matematicamente estas últimas?”.
Essa pergunta, mais tarde respondida (não diretamente, mas por meio do
desenvolvimento de uma teoria) por Galois, utilizaria os chamados grupos de
permutações para provar sua existência.
De fato, a teoria dos grupos permitiu um pensar matemático voltado para a
construção de estruturas matemáticas, refinando ainda mais sua simbologia e sua
significação. Para compreender um pouco sobre essa construção de estruturas,

8
If an arithmetical or algebrical term contains ÷ and ×, there is at present no agreement as to which sign
shall be used first.
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apresentamos a seguir, algumas definições que julgamos essenciais para o seu


entendimento.
Dado um conjunto G, não vazio e, uma operação binária *, dizemos que o par
(G, *) é um grupo se forem satisfeitas as seguintes condições:
1) para todo
2) Existe um elemento tal que para todo
3) Para todo existe um elemento tal que .
Se além dessas condições ainda tivermos que para todo ,
então (G,*) é um grupo abeliano. Os principais grupos estudados são
( e( .
Enfim, com essa pequena inserção da teoria dos grupos, podemos nos perguntar:
é possível esperar o quê para as expressões numéricas? De que maneira ela pode nos
ajudar a compreender as regras de utilização dos signos de agregação e as operações
fundamentais da aritmética?
Na próxima seção fazemos algumas discussões sobre isso.

Discussões

Antes de começarmos a discutir, façamos o seguinte esforço. Esqueçamo-nos de


todas as regras de precedência de resolução de uma expressão numérica e tentemos
resolver

Qual o resultado obtido? 13, 36 ou 7?


Se usarmos nossa ordem normal das operações; primeiro operamos todas as
divisões e multiplicações, da esquerda para a direita, em seguida, todas as adições e
subtrações, da esquerda para a direita, temos o seguinte resultado:
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Se por outro lado, decidíssemos que a adição e a subtração deveriam ser


operadas por primeiro, e depois a divisão e a multiplicação, seria possível obter:

E poderíamos ainda operar conforme nossa leitura escrita, ou seja, resolvendo


todas as operações como elas aparecem, a partir da esquerda para a direita, sem
precedência dada a qualquer coisa. Assim, encontraríamos:

7
Como podemos ver, a necessidade do estabelecimento de regras universais é
importante quando os problemas que aparecem não fazem menção a uma
contextualização ou não apresentam um signo de agregação. E nesse caso, a simbologia
e o uso de regras é uma parte importantíssima nesse contexto, “embora, em essência, ela
seja apenas um conjunto de convenções em grande parte arbitrárias, seu adequado
estabelecimento tornou mais fácil e prático entender, aprender e trabalhar com conceitos
matemáticos cada vez mais sofisticados” (GARBI, 2009, p. 432).
Nesse âmbito, a “aritmética escolar, hoje, embora plenamente justificada do
ponto de vista dos significados matemáticos, parece não levar em conta necessidades da
rua, embora muitas vezes diga que sim” (LINS; GIMENEZ, 2007, p. 16).
Por outro lado, professores e pesquisadores têm buscado contextualizar tais
expressões, vejamos, por exemplo, o relato de Parmegiani (2011, p. 1), sobre a
contextualização do ensino das expressões numéricas. Ela utiliza o problema “Qual foi a
mesada do menino Jean, se sua mãe lhe deu uma nota de R$ 10,00 e seu pai lhe deu 4
notas de R$ 5,00?” para construir uma expressão numérica; que nesse caso, pode ser
representada por . Nesse caso, a regra para operar segue do problema, ou
seja, fazemos a multiplicação e, em seguida, o resultado é adicionado a 10, resultando
em 30. Conforme aponta a autora,
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[...] se a mesma expressão matemática estivesse desvinculada de um


contexto, poderia gerar uma resposta absurda, 70, caso fosse efetuada
a adição antes da multiplicação, ou seja, 10 + 4 = 14 e 14 · 5 = 70.
Sendo assim, o conhecimento do contexto em que uma expressão está
inserida facilita, em muito, a sua resolução (PARMEGIANI, 2011, p.
2).
Para esclarecer esse ponto, vamos tomar o exemplo de uma criança e de um
matemático que dizem ambos, que “2 + 3 = 3 + 2”. Visto apenas do ponto de vista da
afirmação, devemos dizer que ambos compartilham um conhecimento, mas, quando
examinamos os significados em cada caso, vamos descobrir que, para a criança, “2 + 3
= 3 + 2” porque “tanto faz como você coloca os dedos: se põe três dedos e dois dedos
vão ser sempre cinco dedos”, ao passo que o matemático vai possivelmente falar uma
propriedade dos números reais (LINS; GIMENEZ, 2007, p. 26).
Fica claro, que o uso de contextos é importante e pode ajudar no estabelecimento
das regras. Nesse sentido, muitas vezes, estabelecer uma linguagem ingênua sobre
matemática, se torna mais cômoda (D‟AMORE, 2007, p. 51), contudo, a matemática:

[...] possui uma linguagem específica (ou até mesmo, é uma


linguagem específica); um dos objetivos principais de quem ensina é o
de fazer com que os alunos aprendam, não apenas entendam, mas
também de que se apropriem dessa linguagem especializada; por isso,
não é possível evitar que os estudantes entrem em contato com essa
linguagem específica, mais ainda, ao contrário, é necessário apresenta-
la (impô-la?) para que dela se apropriem (D‟AMORE, 2007, p. 249-
250).
Assim, temos claro que não adianta também utilizar as visões do passado sobre o
ensino de matemática como algo extremamente formal ou simplesmente manipulativo,
pois nos esquecemos de que a aritmética inclui também:

a) representações e significações diversas (pontos de referência e


núcleo que ampliam a ideia simples do manipulativo); b) análise do
porquê dos algoritmos e divisibilidades (elementos conceituais); c)
uso adequado e racional de regras (técnicas, destrezas e habilidades); e
d) descobertas ou “teoremas” (descobertas, elaboração de conjecturas
e processos de raciocínio) (LINS; GIMENEZ, 2007, p. 33).
Diante dessa análise, voltemos aos nossos problemas de ordem e precedência.
Imaginemos a seguinte expressão a ser resolvida Qual será o resultado? 9?
1? Qual a regra a ser utilizada agora? Ou ainda, pensemos nessa outra expressão mais
simples, . Qual o resultado? 3? 1? Outro?
Em ambos os casos, não há uma regra específica a ser seguida, já que falamos da
mesma ordem de precedência. No primeiro caso temos apenas multiplicação e divisão e,
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no segundo, apenas adição e subtração. Nos dois casos, escolher por uma operação em
relação à outra significa obter resultados diferentes.
Assim, a primeira coisa a se pensar é qual o conjunto em que estamos
trabalhando? . Sabendo disto, começa a nossa discussão. Pensando na
teoria de grupos, a subtração no conjunto dos números naturais não seria uma operação
binária, pois , mas podemos definir
quando
Quando estamos trabalhando no conjunto dos números inteiros a operação de
subtração é uma operação binária, porém não possui todas as propriedades de um grupo
abeliano, como por exemplo, a comutatividade e a associatividade. Há um grande
problema, quando estamos no conjunto dos números inteiros, pois temos dois
significados para o símbolo , pois podemos a) estar apenas fazendo uma operação de
subtração, significando que é uma operação. Assim, por exemplo, , significa
que estamos subtraindo 2 do número 4 ou, b) fazendo uma adição, significando que é
um sinal. Assim, teríamos , e, nesse caso, não temos nenhum problema, pois a
adição é comutativa e associativa. Assim, parece fazer mais sentido operar da esquerda
para a direita. Outro detalhe importante é quando o símbolo – aparece à extrema
esquerda, sem nenhum outro número antes. Nesse caso, esse símbolo significa
necessariamente um sinal e não uma operação.
O mesmo ocorre com a operação de divisão, ela só é uma operação binária no
conjunto dos números racionais, e mais uma vez, essa operação não é comutativa e nem
associativa. Aqui também temos o problema de interpretação quando escrevemos .

Estamos fazendo a operação 6 dividindo por 2? Ou estamos multiplicando

Quando estamos multiplicando, gozamos das propriedades comutativa e associativa, e


dessa forma, quando estamos somente operando a multiplicação faz mais sentido operar
da esquerda para a direita.
Como podemos ver, a ordem de precedência está ligada à existência da
operação, ou melhor, do grupo. E para os dois casos, as operações que se fecham no
grupo serão a adição e a multiplicação, enquanto que os símbolos e serão vistos
não como operações de subtração e divisão, pois não estão definidas nos grupos. O que
teremos são sinais, indicando apenas com quais elementos temos que operar. Por
exemplo, no nosso caso , poderia ser escrito na notação de grupo da seguinte
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forma , onde o indica a operação de adição e os símbolos


concatenados aos números indicam os elementos.
Portanto, seguindo nossa proposta, nos dois casos que apresentamos
e os resultados seriam respectivamente, 9 e 3, pois tomaríamos apenas as
operações de multiplicação e adição, que são as operações que encerram os grupos
.

Conclusões

Neste trabalho, estabelecemos a proposta de mostrar que a teoria dos grupos


pode auxiliar a resolver o problema de ordem e procedência nas expressões numéricas
em que não há o aparecimento de signos de agregação. Para dar conta disso,
inicialmente fizemos um breve retrospecto histórico sobre as origens dos signos de
agregação, posteriormente apresentamos sucintamente a teoria dos grupos e em seguida,
fizemos uma discussão sobre os problemas que podem aparecer na resolução de
algumas expressões numéricas que não possuem os signos de agregação.
Vale destacar, que o pano de fundo para os problemas apresentados, está no uso
da linguagem e nas suas idas e vindas, da natural (do cotidiano) para a formal (da
matemática), ou vice-versa. Quando a formal está atrelada à natural, as expressões
numéricas não têm problemas de ordem e precedência, já que o próprio contexto faz
esse papel. Contudo, quando não há o contexto, no uso da linguagem, estão implícitas
regras que muitas vezes não estão claras ou que não sabemos como utilizá-las. E então
aparecem os problemas.
Para minimizar tais problemas oriundos da forma como as expressões são
apresentadas, partimos de uma abordagem com uma perspectiva histórica, buscando
“um direcionamento do processo, ao considerarmos: as transformações, a
epistemologia, a evolução do conhecimento e o interesse do alunado”
(BRANDEMBERG, 2009, p. 161).
Ao abordarmos historicamente a evolução dos signos de agregação bem como
das operações fundamentais, vimos que não há uma clareza sobre as regras, sendo
necessário, portanto, propor alguns usos.
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Mostramos também que o uso de metodologias que possibilitam a


contextualização dos conteúdos relacionados às expressões numéricas permite uma
melhoria na formalização das regras, como pudemos ver no relato “Contextualizando o
Ensino das Expressões Numéricas no Ensino Fundamental” (PARMEGIANI, 2011, p.
1) e como também pode ser visto no “Bingo das Expressões Numéricas” (OLIVEIRA,
2013, p. 1).
Por fim, discutimos as características da teoria dos grupos que podem propiciar
ao professor um entendimento maior das regras de utilização das operações
fundamentais, bem como de suas ordens de precedência, quando não há signos de
agregação, de modo a apresentar um exemplo de aplicabilidade dessa teoria para
auxiliar no entendimento da resolução de expressões numéricas.

Referências

BOYER, Carl B; MERZBACH, Uta C. História da Matemática. Tradução Helena de


Castro. São Paulo: Blucher, 2012.

BRANDEMBERG, João Cláudio. Uma análise histórico-epistemológica do conceito


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WELLS, Webster; HART, Walter. Second Course in Algebra. New York: D. C. Heath
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