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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL
LABORATÓRIO DE CELULOSE E PAPEL

AVALIAÇÃO DA POROSIDADE DO PAPEL ATRAVÉS DE TRÊS DIFERENTES


MÉTODOS NÃO DESTRUTÍVEIS

Rubens Chaves Oliveira


Wendel Pianca Demuner

VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................3

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................................4

2.1 Estrutura e composição química da madeira ............................................................................... 4

2.2 Fibras da madeira e sua influência no tipo de papel produzido ................................................... 7

2.3 Porosidade do papel ..................................................................................................................... 8

2.4 Equipamentos e métodos utilizados na determinação da porosidade do papel ......................... 9

2.4.1 Porosímetro Gurley ............................................................................................................... 9

2.4.2 Porosimetria por intrusão de mercúrio .............................................................................. 11

2.4.3 Microtomografia Computadorizada de raios-X .................................................................. 13

3 ESTUDO DE CASO ...................................................................................................................... 16

3.1 Materiais utilizados ..................................................................................................................... 16

3.1.1 Quanto as amostras utilizadas ............................................................................................ 16

3.1.2 Quanto aos equipamentos.................................................................................................. 16

3.1.3 Quanto as condições do teste............................................................................................. 17

3.2 Resultado e Discussão ................................................................................................................. 17

3.2.1 Teste de permeabilidade de ar ........................................................................................... 17

3.2.2 Método de Porosimetria por intrusão de mercúrio ........................................................... 18

3.2.3 Microtomografia computadorizada de raios-X ................................................................... 20

3.3 Conclusões .................................................................................................................................. 22

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 22


1 INTRODUÇÃO

As características e propriedades do papel são fatores fundamentais na escolha


do tipo de produto pelos consumidores, existindo a necessidade de investimentos em
P&D para desenvolvimento e aperfeiçoamento das propriedades do papel. Com isso, a
indústria papeleira é exigida a se adaptar constantemente de acordo com as
necessidades do mercado (CABRAL & PIRES, 2011).
A avaliação quanto a qualidade da madeira, produto principal na produção de
papel, é feita de forma correta somente quando a sua utilização final é definida.
Existem diversos papéis produzidos para diferentes finalidades, e conhecer quais são
as características do material fibroso para aquele fim é fundamental na sua qualidade.
Em resumo, a qualidade da madeira para produção de celulose e papel tem base na
caracterização morfológica das fibras, densidade e composição química do material
(PUNCHES, 2004).
O processo de refinação é uma etapa muito importante na fabricação de papel,
alterando de forma positiva, ou negativa, as características das fibras, tornando a
estrutura do papel produzido diferenciada. Como importantes modificações pode-se
destacar o aumento da flexibilidade das fibras, redução da sua dimensão e fibrilação,
fazendo que propriedades como drenabilidade, propriedades de resistência, opacidade
e porosidade sofram consequências de acordo com as metas de produção
(BIERMANN, 1996).
Segundo Mark, Habeger & Borch (2001) a avaliação da qualidade do papel é
realizada com base em suas propriedades de resistência (como tração e rasgo), óptica
(como alvura e cor) e físicas (como gramatura e permeância ao ar). O teste de
permeância ao ar é bastante requerido em processos de controle de qualidade do
papel nas indústrias papeleiras, e mede de forma indireta a porosidade do material.
Sua importância se deve a correlação dessa com diversas outras relevantes
propriedades do papel.
2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Estrutura e composição química da madeira

Rowell (2005) define madeira como sendo um material fibroso heterogêneo e


bastante complexo. As células que compõem o lenho podem variar de tamanho e
forma de acordo com a espécie florestal em questão. De maneira geral, as espécies
florestais podem ser agrupadas em dois grupos distintos: as softwoods (ou madeiras
moles de fibras longas) ou hardwood (ou madeiras duras de fibras curtas). Esses
grupos, respectivamente, representam o grupo das gimnospermas (coníferas) e
angiospermas (folhosas). O eucalipto é uma hardwood, enquanto o pinus é uma
softwood.
No Brasil, as fibras da madeira de eucalipto representam a maior fonte ligno
celulósica para a produção de celulose e papel. As condições edafo-climáticas do país
são bastante favoráveis ao plantio da espécie, o que torna o Brasil um potencial
competidor internacional, sendo o maior produtor de celulose de fibra curta branqueada
do mundo (SCOTT, 1995).

Figura 1. Representação esquemática da madeira de conífera (A) e folhosa (B).


Barras de escala com comprimento de 300 μm (adaptado de Rowell, 2005).

Conforme pode ser observado na Figura 1, a estrutura microscópica da madeira


de conífera (A) é bem menos complexa que a das folhosas (B). As coníferas são
formadas por células denominadas traqueídeos, que podem estar no plano longitudinal
ou radial de corte e ainda possuem canais resiníferos, não visualizados no plano
transversal da figura. As folhosas possuem vasos, fibras e parênquimas radiais (Walker
et. al., 1993). Já Yasumura (2012) diferencia softwoods e hardwood de acordo com a
função das fibras e traqueídeos, e suas características dimensionais (Tabela 1).

Tabela 1. Análise comparativa das características dimensionais e funções de fibras


(hardwoods) e traqueídeos (softwoods). Adaptado de Yasumura (2012).

Fibras / traqueídeos Hardwood Softwood

Reforço estrutural, porém os


fluidos são conduzidos por Reforço estrutural e
Função
outros elementos (elementos condução de fluidos
de vasos)

1 a 2 (as fibras de eucalipto


Comprimento (mm) 3a5
podem chegar a 0,65mm)

Largura (µm) 20 40

As células que formam a fibra vegetal são formadas por sucessivas subcamadas
estruturais (Revista NOSSO PAPEL, 2011). A lamela média (ML) é a região de contato
entre fibras adjacentes e é formada essencialmente de lignina. A parede primária (P) é
fina (0,1-0,2 µm), relativamente impermeável, de organização irregular e pouco
compacta. A parede secundária é formada pelas camadas S1, S2 e S3, em direção ao
lúmen da fibra. A camada S1 possui uma espessura de 0,1 – 0,5 µm, com microfibrilas
arranjadas em forma de espirais. A camada S2 é a camada mais representativa da
célula vegetal, com espessura de 1 – 5 µm, representando de 70 a 75% do total do
peso da parede celular. A camada S3 é a mais interna e semelhante a camada S1,
com espessura de 0,1 – 0,3 µm (Figura 2-A).
Figura 2. A) Representação esquemática de uma fibra de traqueídeo: lamela
média (ML); parede primária (P) e parede secundária (S1, S2 e S3). B)
Associações químicas que ocorrem na parede celular vegetal: (1) ligações entre
moléculas de celulose, com indicação da sua unidade fundamental (celubiose);
(2) interações entre as cadeias lineares adjacentes de celulose para a formação
da fibrila elementar; (3) cristais de celulose; e (4) seção transversal da
microfibrila, com as moléculas de celulose embebidas em uma matriz de
hemiceluloses e lignina (Ramos, 2003) e. Adaptado da revista NOSSO PAPEL
(2011).

Segundo Moreira (2009), as ligações intramoleculares são responsáveis pela


rigidez da cadeia de celulose enquanto as ligações intermoleculares, agregadas,
formam as micro-fibrilas. As micro-fibrilas se agregam para formar as fibrilas, que se
ordenam para formar as paredes celulares das células das plantas e assim a formação
da fibra vegetal e porção fibrosa da madeira (Figura 2-B).
A proporção entre os componentes químicos da parede celular pode variar de
acordo com a espécie vegetal e também entre as suas camadas de formação. Os
componentes químicos principais da madeira são é a celulose, hemicelulose e lignina.
Segundo Lewin & Goldstein (1991), esses elementos apresentam os seguintes valores:

Celulose: 40 – 45%
Hemiceluloses: 20 – 30%
Lignina: 18 – 25% para folhosas; 25 – 35% para coníferas
Extrativos: 3 – 8%
Cinzas: 0,4%

A seleção da matéria prima utilizada no processo de produção de celulose e


papel depende, de fato, do produto final pretendido. De maneira geral, devido a fatores
químico-físico-mecânicos das fibras, as madeiras de fibras curtas são utilizadas para
produção de papéis de imprimir e escrever e Tissue, enquanto as madeiras de fibras
longas são destinadas a produção de papéis que necessitam de maior resistência,
como os papéis de embalagem (YASUMURA, 2012).

2.2 Fibras da madeira e sua influência no tipo de papel produzido

O tipo de material fibroso e o processo de fabricação influenciam diretamente a


qualidade, característica e tipo de papel produzido. Em geral, o papel pode ser
produzido a partir de qualquer material fibroso, seja da palha de arroz, bagaço de cana,
algodão, trapos, palha, linho e madeira, sendo esta última a matéria prima mais
utilizada no mundo para esse fim (SENAI, 2006)
Segundo Sanjuan (1997) o comprimento das fibras e espessura da parede
celular, os danos físicos durante a refinação, as alterações químicas durante o
cozimento e a deslignificação são as variáveis que mais influenciam na qualidade e tipo
de papel produzido. Amaral (2005) também ressalta a grande relação das propriedades
morfológicas das fibras às propriedades requeridas do papel produzido.
No Brasil, devido as qualidades associadas, as fibras de Eucalipto são as mais
utilizadas na produção de papéis tissue., As principais propriedades das fibras curtas
que satisfazem as qualidades requeridas desse produto é a baixa população fibrosa,
baixa capacidade de ligação entre fibras, baixa flexibilidade da fibra úmida, baixo teor
de hemiceluloses, fibras de paredes espessas com altos valores de fração parede e
fibras rígidas e cilíndricas. Essas características garantem excelentes propriedades
tanto para papéis tissue quanto papéis de imprimir e escrever, dependendo das
condições de processos atribuídas (RATNIEKS & FOELKEL, 1996).
Já papéis de imprimir e escrever, as principais propriedades requeridas são:
lisura, opacidade, formação (arranjo fibroso da folha de papel), volume específico
(bulk), porosidade, imprimibilidade, resistência, estabilidade dimensional e outras. O
autor ainda ressalta que as fibras de eucalipto fornecem essas propriedades devido
serem estreitas, rígidas e de boa refinabilidade, sendo capazes de se manterem unidas
sem entrarem em colapso, formando uma forte rede fibrosa com boas ligações entre
fibras.
Em geral os papéis de imprimir e escrever exigem propriedades contrárias as de
papéis tissue. Um exemplo é a porosidade do papel, que é influenciada pelo tamanho
dos espaços vazios presentes na folha de papel, sendo influenciada de acordo com a
composição química da fibra e suas características morfológicas. Papéis de imprimir e
escrever exigem folhas com estruturas mais fechadas, contrário para papéis tissue
(RATNIEKS & FOELKEL, 1996).
A estabilidade e uniformização da qualidade dos produtos finais da indústria de
celulose e papel é um fator primordial para atendimento das exigências do mercado
consumidor. Novas metodologias confiáveis na determinação eficiente de propriedades
de relevância do papel, frente a métodos tradicionais, se tornam de interesse da
indústria para atendimento confiável de exigências do consumidor (SAMISTRARO &
MUNIZ, 2009).

2.3 Porosidade do papel

A porosidade é a medida da propriedade do papel de transmitir ar (NBR NM ISO


5636-5, 2001) e é bastante requerida nos diários controle de qualidade em indústrias
papeleiras. Outras propriedades, como a dispersão de luz, propriedades mecânicas,
opacidade e peso específico do papel sofrem influencia da porosidade do material
(VELHO, 2009; KNAUF & DOSHI, 1986). A penetração e espalhamento de líquidos
também sofrem influencia da porosidade (YASUMURA & PARK, 2012). As
características do papel além de serem influenciadas por propriedades e tipo de fibra
utilizada, também podem sofrer forte influencia das condições de processo, tais como o
índice de refino e gramatura (NBR NM ISO 5636-5, 2001).
A porosidade é medida pelo tempo que um certo volume de ar atravessa a
estrutura fibrilar do papel, em condições específicas de diferença de pressão (NBR NM
ISO 5636-5, 2001). Knauf & Doshi (1986) definem porosidade do papel como sendo a
fração de volume dos espaços vazios do seu interior, mas que em teste de permeância
de ar apenas aqueles vazios que possuem canais de ligação para passagem de ar
influenciam o resultado (KNAUF & DOSHI, 1986). Esses testes apenas indicam a
performance do papel para determinados usos finais, mas não podem agregar
informações em relação ao tamanho ou distribuição dos poros (YASUMURA & PARK,
2012).
Algumas vezes o termo porosidade pode erroneamente ser confundido com
permeância ao ar ou resistência ao ar. A permeância ao ar é o contrário de resistência
ao ar, e mede indiretamente a porosidade do papel em relação a passagem de ar sem
o julgar quanto sua estrutura porosa interna. Por exemplo, dois papéis, um com grande
número de poros pequenos e outro com pequena quantidade de poros maiores, podem
apresentar o mesmo valor de permeância ao ar. A permeância de ar é calculada
através da equação (YASUMURA & PARK, 2012):

Onde U é a permeância de ar, q é o fluxo de ar (m3/s), A é a área analizada (m2)


e ΔP é a diferença de pressão (Pa) entre os dois lados do papel.
Em geral, os métodos mais populares são calculados em função da
permeabilidade ou resistência ao ar através da amostra de papel e seguem o princípio
da equação citada. Os métodos Bendtsen e Gurley são bastante apreciados para tal
finalidade. O método de porosimetria por intrusão de mercúrio e microtomografia
computadorizada são exemplos eficazes para determinações mais precisas quanto o
interior fibroso do papel (YASUMURA & PARK, 2012).

2.4 Equipamentos e métodos utilizados na determinação da porosidade do


papel

2.4.1 Porosímetro Gurley


O método de Gurley quantifica a capacidade que o papel tem em se deixar
atravessar pelo ar e pode ser definido como teste de resistência ao ar ou permeância
ao ar, sendo um contrário ao outro. Assim, é medido o tempo necessário para um certo
volume de ar atravessar, sob pressão constante, uma determinada área de papel
(BARROTI & BERGMAN, 1988).

Segundo a REGMED (2013) o método pode ser aplicado a papéis e derivados


que permitem a passagem de ar dentro do intervalo de 2 a 1800 segundos. A variável
“tempo”, em segundos, é a principal variável no teste, e baseia-se na quantidade de ar
(de 50 a 300 ml) que atravessa a amostra pela superfície delimitada pelos discos (6,45
cm2).

A Norma Brasileira ISO 5636-5 (2001) estabelece que o teste Gurley pode ser
realizado tanto para papel quanto para cartões, desde que especificados em uma
variação de resistência ao ar entre 0,1 µm/(Pa⋅s) e 100 µm/(Pa⋅s). É importante
salientar que o teste é inadequado para materiais com superfícies irregulares, pois
pode haver vazamento de ar se as amostras não forem fixadas nos discos de forma
segura.

Figura 3. Porosímetro Gurley REGMED (LCP – UFV) (Fonte: o autor).


2.4.2 Porosimetria por intrusão de mercúrio

Em 1921, Washburn dedicou sua atenção em como poderia se obter uma


distribuição do tamanho de poros pela penetração do mercúrio em um meio poroso, em
função da pressão aplicada por incrementos sucessivos. Após duas décadas, os
cientistas Drake & Ritter publicaram os primeiros trabalhos relacionados a porosimetria
de mercúrio sendo estes a base de todos trabalhos desenvolvidos posteriormente
(MATA, 1998).

A operação básica dos porosímetros de mercúruo consiste no princípio físico em


que o mercúrio apenas penetra os poros de menores diâmetros a medida que a
pressão do sistema é elevada forçando assim o líquido entrar no material poroso
(QUANTACHROME, 2013). As variações de volume são detectadas sob a forma de
variações de condutância, feita uma calibração adequada do contetor de amostras,
denominado por penetrômetro (MATA, 1998).

A técnica de porosimetria de mercúrio (ou intrusão de mercúrio) tem como base


o comportamento do mercúrio como um fuido não-molhante em relação a outras
substâncias, e por consequência, não penetra pequenos poros ou fissuras da estrutura
do papel sem que se aplique determinada pressão (Figura 4). A relação entre a
pressão aplicada e o diâmetro do poro que o mercúrio vai penetrar é mostrada pela
equação de Washburn, permitindo assim a determinação do volume e tamanho dos
poros (QUANTACHROME, 2013).

D = (- 4 γ cos θ) / P (Equação de Washburn)

Onde: P é a pressão aplicada no sistema; D é o diâmetro do poro; γ é a tensão


superfícial do mercúrio (480 dyne cm -1) e θ é o ângulo de contato entre a parede do
poro e o mercúrio (QUANTACHROME, 2013).. Normalmente o ângulo de contato entre
a parede do poro e o mercúrio (θ) considerado é de 140º (QUANTACHROME, 2013),
mas outros valores podem ser encontrados na literatura, como 117º – 130º e 135º
(MATA, 1998).
Figura 4. O mercúrio por ser um fluido não molhante, não penetra os poros da
amostra de papel pela ação de capilaridade sem a aplicação de forças
mecanicamente aplicadas (MICROMETITICS, 2013).

Segundo Mata (1998), o método de intrusão de mercúrio acontece em dois


passos. O primeiro passo é denominado “intrusão”, onde o meio poroso (material de
estudo) é evacuado e depois imerso em mercúrio. Em seguida, aumenta-se a pressão
gradualmente e mede-se o volume injetado na amostra. O segundo passo é
denominado “extrusão”, onde a pressão é diminuída gradativamente até a pressão
atmosférica, fazendo que certa quantidade de mercúrio saia do meio e outra parte
permaneça (Figura 5).
Figura 5. Resultados experimentais de porosimetria de mercúrio de um zeólito
(MATA, 1998).

Embora rápido e confiável, os resultados obtidos por porosimetria de mercúrio


se limitam por três fatores: a pressão máxima, que limita o volume de espaços porosos
preenchidos por mercúrio; a pressão mínima, que limita o diâmetro máximo do poro
detectado; e o tamanho da amostra, que normalmente é pequeno em relação ao lote
de onde foi tirada. Outros fatores como as propriedades geométricas da amostra,
destruição da amostra devido alta pressão atingida pelo mercúrio, compressibilidade do
penetrômetro, ponto de leitura dos valores de pressão, compressibilidade da amostra e
grau de pureza do mercúrio podem alterar / comprometer os resultados obtidos (MATA,
1998).

2.4.3 Microtomografia Computadorizada de raios-X

O método de microtomografia computadorizada de raios-X (micro-CT), ou


tomografia computadorizada de alta resolução, é uma técnica não destrutiva para
análise morfológica do material para obtenção das propriedades topológicas da rede
fibrosa em escala micro (LASSO, VAZ & NAIME, 2008).

A micro-CT permite a quantificação automatizada da área e/ou volume da


amostra bem como permite a análise de centenas de seções microtomográficas e sua
visualização tridimensional interna (Duliu, 1999). Essa técnica possui o mesmo
princípio da técnica de tomografia, porém com foco na determinação de
microestruturas, sendo o diferencial o tamanho do foco do tubo de raios-X e a
resolução do detector (MACHADO, 2012).

O funcionamento do equipamento se da pela projeção sucessiva de múltiplos


raios sobre o corpo de prova, em vários ângulos de um mesmo plano, fornecendo uma
imagem 3D do objeto com o auxílio de um computador com programa de reconstrução
de imagens (NOGUEIRA, 2008). Segundo Andreucci (2003), a aquisição de uma micro-
CT é praticamente composto por uma fonte de raios-X, com foco de dimensão
micrométrica e um feixe cônico; mesa com movimento de precisão rotacional (δ) e
translacional (direções X, Y e Z) para fixação da amostra; e um detector de radiação
(SILVA, 2009; ANDREUCCI, 2003) (Figura 6).

Figura 6. Esquema do sistema tomográfico (ANDREUCCI, 2003).

O incremento angular δ através de rotações da mesa é fundamental na


obtenção das análise morfométrica da amostra de papel, sendo que a cada incremento
angular é gerada uma média de projeções (por exemplo, se δ = 1o, n=360) (SILVA,
2009).

Dentre as utilizações mais difundidas, a técnica de tomografia de raios-X tem


sido de maior impacto na área médica, tanto que, em 1979, seus criadores receberam
o Prêmio Nobel de Medicina (LASSO, VAZ & NAIME, 2008). Diversas outras áreas
podem ser beneficiadas, como na Geologia (Porosidade percolação, fósseis e
microfósseis, gemologia, estrutura de solos), odontologia (implantodontia,
osteointegração, prótese), ciência dos materiais (compósitos, cerâmicas, espumas
metálicas e poliméricas, fibras de carbono e de vidro), agronomia (estrutura de solos,
sistema radicular, madeiras, sementes), engenharia (visualização de problemas sem
destruir nem desmontar o conjunto) e outras (INSTRUTECNICA, 2013).

Figura 7. Tomografia aplicada a área médica na avaliação de um pulmão


humano (INSTRUTECNICA, 2013).

Atualmente, muitas Universidades e empresas privadas possuem microtógrafos


de raios-X em seus laboratórios. No Brasil, a Petrobrás e a Unicamp possuem este
equipamento, porém em nenhum dos casos para finalidade de aplicação nas áreas
agrárias e biológicas. Depois de duas décadas de pesquisa, a Embrapa
Instrumentação Agropecuária desenvolveu um tomógrafo de raios-X com resolução
micrométrica específico nessas duas áreas, agrária e biológica (LASSO, VAZ &
NAIME, 2008).

3 ESTUDO DE CASO
YASUMURA, P. K. & PARK, S. W. Comparison of methods for paper roughness
and porosity assessment. Proceesings of the ABTCP 2012 + VII CIADICYP. The
45th ABTCP international Pulp and Paper Congress and VII IberoAmerican
Congress on Pulp and Paper Research. Outubro, 9 -11. São Paulo. São Paulo.
2012.

3.1 Materiais utilizados

3.1.1 Quanto as amostras utilizadas

Total de amostras: 5 (cinco);


Identificação das amostras:

(G) Glassine paper;


(C) Coated paper;
(D) Paper for digital printing;
(N) Newspaper;
(R) Recycled paper for digital printing.

Formato das amostras: circular (mesmo tamanho do suporte segurador);


Diâmetro da amostra: 4 cm;
Peso / amostra: 0,04 g.

3.1.2 Quanto aos equipamentos

Gurley Model PGH da Regmed (teste de resistência a passagem de ar);


Bendysen Model 166 da Lorentzen & Wettre (teste de rugosidade);
Porosímetro de mercúrio Autopore IV 9500 da Micomeritics (teste de
porosidade);
P: 19000 a 60000 psia;
No de pontos medidos: 25;
Tempo de estabilização / ponto: 10 s;
Ângulo de contato: 130o.
MicroXCT-400 da Xradia (análise de micro-CT):
Distância entre a fonte de raios-X e amostra: 52 mm;
Distância entre detector e amostra: 15 mm;
Voltagem da fonte de raios-X: 80 kV;
Tempo de teste / amostra: 20s.

3.1.3 Quanto as condições do teste

Condicionamento das amostras (Em sala climatizada)


Temperatura: 23oC;
UR: 50%;
Tempo: 8 horas (no mínimo).

3.2 Resultado e Discussão

3.2.1 Teste de permeabilidade de ar

Figura 8. Passagem de ar medida pelo Gurley e Bendtsen (Mm/Pa.s)


O teste de permeabilidade do ar foi realizado por dois métodos tradicionais e
indiretos, o Gurley e o Bendtsen. Os resultados mostram que eles são comparáveis nas
medições realizadas, podendo-se optar por um ou outro.

Figura 9. Volume específico das amostras de papel (cm3/g)

Os métodos usados mostraram que a porosidade do papel está relacionada com


o seu volume específico, apresentando a mesma tendência. Contudo, o volume
específico não pôde predizer similar correlação para as amostras N e R.

3.2.2 Método de Porosimetria por intrusão de mercúrio

Tabela 2. Porosidade e intrusão de mercúrio na estrutura da amostra.


Amostra Volume de intrusão de mercúrio (mL/g) Porosidade (%)

G 0.0795 20.03
C 0.2955 22.34
D 0.4822 37.21
N 0.6165 37.79
R 0.4574 37.79

Embora os resultados indiquem relação entre a porosidade medida pelo método


de intrusão de mercúrio e o volume específico medido pelo método tradicional, eles não
podem ser equiparados. Conforme justificativa, a medição da permeabilidade do ar
pelos métodos tradicionais (Gurley e Bendtsen) sofre influencia direta das
características superficiais da amostra, mais ainda do que sua porosidade interna.
O incremento da intrusão de mercúrio, bem como a intrusão acumulativa de
mercúrio, determina o diâmetro dos poros de acordo com a elevação gradual da
pressão no sistema (Figuras 10 e 11).

Figura 10. Incremento de intrusão de mercúrio vs. Diâmetro dos poros.

Podemos tirar algumas conclusões a partir da Figura 10. Por exemplo, a amostra
G possui a maior quantidade de poros entre 1 µm e 0,3 µm, com um pico em 0,4 µm. A
amostra C possui poros também nesse intervalo, mas com poros de diâmetro acima de
1 µm. As demais amostras possuem poros significativos com diâmetro acima de 1 µm.
Figura 11. Intrusão acumulativa de mercúrio vs Diâmetro dos poros.

A Figura 11 mostra que a amostra N possui os poros mais largos dentre as


amostras consideradas; as amostras D e R possuem relativamente similar distribuição
de poros; a amostra G possui pequenos poros menores que 1 µm; e por fim, para curva
da amostra C deve ser feita duas avaliações, primeiramente que a intrusão de mercúrio
se inicia por volta do diâmetro de 5 µm e que a partir do diâmetro de 1 µm a taxa de
intrusão de mercúrio é relativamente constante.

3.2.3 Microtomografia computadorizada de raios-X

Foram obtidas imagens microtomográficas individuais das 5 amostras a fim de


observar a distribuição dos poros no decorrer da espessura dos papéis (Figura 12).
Figura 12. Imagem de microtomografias das 5 amostras de papel.

Apesar de a amostra G ter uma superfície bastante fechada e influenciar


diretamente o método Gurley (que apresentou baixa permeância ao ar) a foto
microtomográfica indica que o seu interior estrutural apresenta poros bastante largos,
inclusive poros de diâmetros maiores que 100 µm. Contudo, esses poros são isolados
e não tem conexão com outros poros/cavidades, influenciando também os resultados
do método de intrusão de mercúrio.

A estrutura interna da amostra C assemelha-se com a da amostra D, com


presença de minerais (pontos brancos) e um grande número de pequenos vazios.
Podemos inferir que a camada superficial da amostra C é responsável pela alta
resistência ao ar e baixa porosidade.

As amostras D e R são comparáveis considerando a presença de minerais,


espaços vazios e presença de fibras não colapsadas.

A amostra R é mais heterogênea, com estruturas mais largas, com fibras


curvadas e de diferentes tamanhos (fibras longas e fibras oriundas de processo
mecânico), o que pode dificultar a interligação entre os espaços vazios no interior da
amostra. Assim, pode-se explicar a menor permeância do ao ar na amostra R em
relação a amostra D.

Pode-se observar que na imagem da amostra N as fibras não estão colapsadas,


suas paredes estão preservadas e seus tamanhos são diferentes das demais
amostras. Essa característica contribui para maior adentramento do mercúrio na
estrutura, assim, maior porosidade pelo teste de intrusão de mercúrio. Não foi
visualizada presença de cargas minerais na amostra N, bem como na amostra G.

As amostras N e R possuem a mesma porosidade, pelo método de intrusão de


mercúrio, porém completa diferença da estrutura interna visualizado pela
microtomografia computadorizada de raios-X.

3.3 Conclusões

O método Gurley é o de mais fácil operação e o de menor custo. Porém, seus


resultados fornecem apenas uma avaliação indireta da porosidade do papel e é
dependente do tratamento da superfície da amostra e rugosidade;
A elevada pressão que pode comprimir os poros e os acessos limitados aos
poros através de canais muito pequenos torna o método de intrusão de mercúrio
não capaz de estimar com precisão a estrutura interna do papel;
A porosimetria de mercúrio pode fornecer mais informações sobre a distribuição
dos tamanhos dos poros do papel, mas é influenciado pelo tratamento da
superfície do papel (por exemplo, calandragem);
A real porosidade interna do papel só pode ser observada por microtomografia
computadorizada de raios-X;
A micro-CT é capaz de visualizar a estrutura interna do papel com razoável
resolução e fornece importantes informações sobre a estrutura responsável
pelas diferenças de porosidade avaliadas pelos outros métodos. Os fatores
limitantes desse método são o elevado custo e tempo de scanning do teste;
O método utilizado para medição da porosidade depende do nível de
informações requeridas ou do custo-benefício da análise.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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