Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
esta me escapa, o que seria aborto. De uma forma bem simplista, aborto é a remoção ou
expulsão prematura de um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo
por esta causada. Isto pode ocorrer de forma espontânea ou artificial, provocando-se o
fim da gestação, e conseqüentemente o fim da vida do feto, mediante
técnicas médicas, cirúrgicas entre outras.
O aborto, como crime, está positivado nos artigos 124, 125, 126. Por definição
doutrinária o aborto é um crime plurissubisistente. Isto é composto de vários atos, que
integram a conduta, existindo fases que podem ser separadas, fracionando-se o crime.
Portanto, admitem a tentativa e constituem a maioria dos delitos. Essas fases são
chamadas pela doutrina de Iter Criminis. Que constituem cogitação, atos preparatórios,
execução e consumação.
A tipificação do crime de aborto, por sua vez, protege o bem jurídico vida intra-
uterina, ou seja, o feto ainda em gestação no útero da mãe. Então, se alguém tenta
abortar, é porque quer violar o bem jurídico vida intra-uterina. Diferentemente do
homicídio ou do infanticídio, que protegem o bem jurídico vida extra-uterina. Que são
bens jurídicos de mesmo gênero e de espécie diferentes.
Nelson Hungria foi o grande mentor do Código Penal de 1940 e foi quem
introduziu o artigo 127 no Código Penal. O artigo 127, no entanto, existe nesse artigo
uma impropriedade técnica, pois as causas descritas são majorantes e não
qualificadoras. Todavia, se o artigo foi mantido ipsis literis, mesmo com a reforma de
1984, é evidente que deve ser aplicado. Pois, por definição legal, a qualificadora tem
que ser causada por dolo do agente
Em suma, seria uma saída de interpretação, pois não se pode jogar fora o artigo
127, sendo uma questão naturalística e não normativa. É naturalística, pois parte da
doutrina quer colocar como homicídio culposo combinado com tentativa de aborto.
Como Damásio de Jesus. Ora, se o homicídio culposo advém de uma conduta culposa,
não poderá jamais advir de uma conduta dolosa como é o caso da tentativa de aborto.
Por fim, foi para sanar essa dúvida que Nelson Hungria e o legislador de 1940
criou os arts. 127, 258 e 223 do Código Penal. Deve-se, portanto, evitar a parcimônia da
doutrina que insiste em qualificar como homicídio culposo, pois devemos prezar pela
justiça e pela equidade sempre, pois o simples homicídio culposo não revela a gravidade
do ato que foi cometido.