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Inhumas, ano 2, n. 8, jan.

2014
ISSN 2316-8102

PRISCILLA DAVANZO: A ARTE DE


AVACALHAR COM O CORPO IMACULADO
Tales Frey

Se eu me pintasse de vaca com uma tinta (uma tinta guache ou uma tinta
qualquer), eu seria vaca por um dia, mas se eu me tatuo, se é uma coisa
permanente, eu estou me propondo a ser vaca para sempre. Esta é a diferença:
1
você não está brincando de ser vaca, você está sendo vaca.

Priscilla Davanzo fotografada por Fábia Fuzeti

Apesar de fazer performances, Priscilla Davanzo satiriza o lugar do efêmero quando


“eterniza” a aparência almejada em si. Não há retorno, e o seu corpo construído, com
relação ao original, é irrevogável. E qual corpo não foi transformado? Qual corpo foi

1
DAVANZO, Priscilla. Geotomia. Vídeo. 19’. Marcelo Garcia. São Paulo, 2000. Ver em:
<http://www.youtube.com/watch?v=1AQLzXIMGqE>. Acessado em: 26 de dezembro de 2013.

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resguardado incólume, de forma sagrada, sem nenhuma intervenção, tal e qual o original,
idêntico àquele que veio ao mundo? Provavelmente, não há.
Diversas alterações – mesmo que não tão radicais – são infligidas ao corpo. Desde as
tintas para os cabelos, os bronzeamentos, o uso de modestos ornamentos entre outras
formas de remodelações tão singelas quanto essas, são realizadas por todos. Sempre
fazemos alguma interferência sobre a nossa camada mais externa: desde a mais modesta
até a mais intensa, como é o caso das tatuagens, dos brandings e das escarificações, por
exemplo.

Priscilla Davanzo fotografada por Fábia Fuzeti

Em As Vacas Comem Duas Vezes a Mesma Comida, ação iniciada em março de 2000,
Davanzo evidencia o quanto essas transformações corporais (no caso, a tatuagem)
oferecem o caráter de perpétuo a uma determinada área alterada do corpo, como se essa
parte específica do corpo não se transformasse com o tempo, estabelecendo, então, uma
metáfora da imortalidade, do físico persistente, durável.2

2
Cf. PIRES, Beatriz Ferreira. O corpo como suporte da arte. São Paulo: Editora Senac, 2005, p. 107.

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Priscilla Davanzo fotografada por Fábia Fuzeti

Priscilla Davanzo para Gal Oppido. Making of da série Prata Sobre Pele Sobre Prata

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Priscilla Davanzo para Gal Oppido. Making of da série Prata Sobre Pele Sobre Prata

O título provém da composição Maneiras, de Arnaldo Antunes e David Calderoni, e o


trabalho consiste na ornamentação de todo seu corpo coberto por manchas (tatuagens)
pretas, tais e quais as que vemos nas vacas holandesas, que são malhadas. Ela, com esse
trabalho, quer examinar a condição superficial humana e expressar a sua insatisfação com a
própria espécie e, conforme a própria artista observa, a sua opção pela vaca não é fortuita, é
porque elas digerem duas vezes o mesmo alimento e isso cria uma comparação com o

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humano pouco profundo; “nós não digerimos bem as ideias que recebemos de filmes, livros
e jornais”3.
A body modification realizada por Davanzo difere da body art por permanecer todo o
tempo em exposição no seu corpo; não há separação nunca entre a vida e a obra, entre o
sujeito criador e o objeto criado. “O sujeito é objeto e não deixará de ser,
independentemente do tempo e do espaço em que se encontre.”4 Essa ideia não coincide
com a dos seus outros trabalhos de performance, pois, em As Vacas Comem Duas Vezes a
Mesma Comida, o tempo da apresentação é o período de vida da artista iniciado logo após a
inauguração do trabalho no estúdio de tatuagem.
O seu anseio por abordagens sobre o corpo (o seu próprio e o de outros) como tema
essencial de exploração pode ser visto em todos os seus trabalhos e, dentre eles: Objetos
Animados e Inanimados (2002); Konfekcija (2002); projeto d.n.a. (2002); Etwas ist passiert
(2001/2004); 1/2 Mensch (2002/2004); Achtung (2003/2004); Es war einmal... (2004); pour
être infâme: pour être une femme (2006); Everyday People Everyday Life (2008); Panem et
circenses (2008); pour être plus belle et efficiente – pour être plus beau et efficient
(2005/2011); e Bajo agua (2013).

Priscilla Davanzo, frame de Konfekcija, 2002

3
DAVANZO, Priscilla, apud FELIPPE, Cristiana. “Corpo Animal”. Correio Braziliense, Brasília, 6 de
dezembro de 2000.
4
PIRES, Beatriz Ferreira. O corpo como suporte da arte. São Paulo: Editora Senac, 2005, p. 138-139.

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Notamos facilmente que, além do corpo, Davanzo faz uso recorrente de expressões
estrangeiras como títulos para os seus trabalhos, algo que é confessadamente exposto na
sua série intitulada Dicionário, cujo primeiro, deste conjunto de vídeos, é Jag älskar dig [Je
t'aime] (2003), o qual é sucedido por Od kudj si? [De onde você vem?] (2004). Em Goze-
Gozo, concepção feita em colaboração com Daniele Gomes de Oliveira, nos deparamos com
uma poesia visual/intervenção urbana que tem a palavra como componente basal da
criação. Em Konfekcija (2002), podemos encontrar certa inquietação relativa aos vocábulos
de diferentes idiomas, mas também algumas imagens angustiantes de feridas em fase de
cicatrização, aflitivos cortes na pele de um corpo qualquer, sangue, etc.

Grasiele Sousa & Priscilla Davanzo, frame de Cabelódromo, 2011

Apesar da preocupação logocêntrica, o corpo é que verdadeiramente ocupa lugar


privilegiado na sua pesquisa artística. Cabelódromo (2011) – projeto de Grasiele Sousa a que
Priscilla Davanzo se junta para concretizar uma videoperformance – é mais um exemplo
disso: vemos um corpo enigmático exposto por meio de um rosto feminino velado pelos
próprios cabelos castanhos, quase negros. O vídeo congrega uma série de repetições de

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pequenos fluxos de um mesmo corpo (não muito além de uma cabeça cheia de cabelos),
que, por vezes, é multiplicado na tela. O som salientado a partir de excessivas repetições se
assemelha a ruídos de máquinas, o que dá certa agressividade à obra.
À palavra “cabelo” o título aglutina “dromo” (elemento de composição) – drómos (do
grego) –, que manifesta a noção de espaço destinado a corridas e, também, uma atividade
especial que implica movimento. E vemos mesmo uma firme agitação dos cabelos de uma
mulher nesse trabalho, uma dança fundamentada no emaranhar dos fios capilares, no
trançar em direções variadas para dar o estatuto de pura forma ao corpo, que ali se esconde,
debaixo de uma cabeleira, transformando esse ser em mera configuração imagética.

Priscilla Davanzo em pour être plus belle et efficiente – pour être plus beau et efficient (2005).
Registros fotográficos de Patrícia Cecatti

Por intermédio da dor (destituída de conotação religiosa ou purificadora), Priscilla


Davanzo alude às práticas habituais ligadas ao culto do corpo, como, por exemplo, certos
tratamentos de beleza. Em uma de suas ações, pour être plus belle et efficiente – pour être
plus beau et efficient (2005/2011), que quer dizer “para ser mais bonita/bonito e mais
eficiente”, a artista arrecada flores de um jardim e as cose na própria pele. Sob esse título
em francês, a artista parece fazer menção não apenas à integração corpo e natureza, mas
também a uma árdua perseguição por parte de uma sociedade de consumo em sua busca
desenfreada pelo que a ditadura do corpo propõe como norma a ser seguida e que,
normalmente, implica sofrimento para que possamos alcançar uma estética almejada.
Tratando-se de flores naturais, estas murcham com a mesma rapidez que a moda se
transforma, ou seja, para manter esse corpo sempre ornado e belo, seria necessário refazer
a mesma penosa prática diariamente.

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Priscilla Davanzo em pour être une seductrice (2005). Registro fotográfico de Luciana Freire

Priscilla Davanzo em pour être infâme : pour être une femme (2006).
Registro fotográfico de Thamyris Salgueiro

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Essa mesma ideia está implícita também em pour être une seductrice (2005/2012),
performance em que a artista costura, em seu próprio corpo, um par de meias do tipo 7/8,
que é fixado diretamente nas suas coxas, ou ainda em pour être infâme: pour être une
femme (2006), performance em que Davanzo, usando fios de sutura, acopla um par de
bojos aos seus seios reais, fazendo alusão aos cada vez mais comuns implantes de silicone,
algo tão presente na nossa cultura cada vez mais obsessiva em satisfazer um protótipo
antinatural de beleza.

Priscilla Davanzo em Everyday People Everyday Life II (2008). Registro fotográfico de Malva

Para ser lançado a uma situação visceral, o corpo de Priscilla Davanzo não precisa
necessariamente ser atravessado por agulhas, tingido com pigmentos sob forma de
tatuagem ou flagelado com alguma queimadura; o risco – apesar de haver também deboche
– em Everyday People Everyday Life II (2008) é enorme. Ela pode ser literalmente pisoteada
por uma multidão de uma só vez em qualquer casa noturna que venha a executar essa
performance, na qual estende seu corpo em lugares de trânsito, atrapalhando o caminho
das pessoas.

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Priscilla Davanzo em Etwas ist passiert (2001/2004). Trabalho pertencente à série 4 Procedimentos para
um Mesmo Corpo. Registros de Amanda Berndt e Leyla Misono

Priscilla Davanzo em Achtung (2003/2004). Trabalho pertencente à série 4 Procedimentos para um Mesmo
Corpo. Registros de Amanda Berndt e Leyla Misono

Muitas referências e associações podem insurgir a partir da trajetória dessa artista


que vive e trabalha principalmente na cidade de São Paulo. Dessins au sang (1997), da
artista francesa Orlan, pode vir à tona quando vemos as impressões de sangue sobre papel
na obra projeto d.n.a. (2002), de Priscilla Davanzo, bem como os vestígios sanguinolentos
da passarela que Franko B percorre em I Miss You! (2000), ou, ainda, os resquícios gerados a
partir de muitas das ações do acionista vienense Herman Nitsch. Apreendemos, também,
afinidades na obra de Davanzo com ideias impressas em palavras de Le Breton, naquilo que
ele denomina “extremo contemporâneo”5, na noção de corpo obsoleto das concepções de
Stelarc, na radicalidade de Ron Athey e de Erik Sprague. Podemos lembrar, é claro, nomes
célebres ligados à body art, como Gina Pane e Chris Burden, mas também a inscrição “Made

5
Ideia bastante discutida em LE BRETON, David. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade.
Campinas: Papirus, 2003.

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in Brasil” costurada na sola do pé de Letícia Parente em seu vídeo Marca Registrada (1975),
e o azul de Yves Klein carimbado por corpos femininos sobre telas brancas, quando vemos a
ação Etwas ist passiert (2001/2004), de Priscilla Davanzo.

Priscilla Davanzo para Gal Oppido. Fotos pertencentes à série Prata Sobre Pele Sobre Prata

A trajetória artística de Priscilla Davanzo não está nem completamente amparada na


body art e na body modification nem pode, igualmente, ser rotulada como pertencente a

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alguém de um grupo de primitivos modernos. Não há uma relação rigorosa com a dor
libertadora nem com o mero ornamento corporal; é uma pesquisa mais conceitual, em que a
técnica aplicada sobre o corpo é encarada como em qualquer outro meio artístico, por
exemplo, o óleo sobre a tela na pintura.
O corpo “despojado de valor, tornado insípido e suscetível de todos os
emparelhamentos tecnológicos ou de todas as experiências extremas para ampliar suas
possibilidades, suprimi-lo ou convertê-lo em simples suporte”6 é alvo de discussão em
grande parte das ações de Priscilla Davanzo e isso é, possivelmente, o que prova que essa
artista está extremamente atenta ao tempo em que vivemos; uma era voltada para o
espelho acima de tudo, momento histórico em que a autoimagem ganha lugar de extrema
relevância.

TALES FREY: O corpo é objeto de extraordinária consideração nas suas criações, e


as intervenções feitas sobre ele são constantes; isso é obvio. Apesar de perceber uma
abordagem crítica, vejo traços modais também, ou seja, uma construção imagética que
segue, em certa medida, uma categoria de fashion. Como você relaciona arte e moda nos
seus trabalhos? Como você relaciona dor e moda no que você propõe como arte?

PRISCILLA DAVANZO: Eu acho superinteressante a pergunta, porque, apesar de


não ser um discurso muito forte no meu trabalho, a questão da moda e o corpo perfeito
desenhado para a moda estão presentes na minha pesquisa, no geral. Para começar, alguns
trabalhos meus que abordam muito, de certa forma, o assunto da moda são,
principalmente, os da série 6 Procedimentos para um Novo Corpo7, que foi desenvolvida no
mestrado, onde acabei entrando nessas discussões. Desde as questões de como o corpo se
porta na sociedade, de como a sociedade pede que esse corpo se porte, se apresente, e
quanto a gente se sujeita às imposições.

6
LE BRETON, David. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003, p. 52.
7
6 Procedimentos para um Novo Corpo agrupa performances com títulos em francês, enquanto 4
Procedimentos para um Novo Corpo reúne as ações com títulos em alemão. Ao todo, foram dez
performances desenvolvidas por Priscilla Davanzo durante o mestrado em Artes Visuais na Unesp, em São
Paulo.

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Uma das coisas que eu acredito de verdade é que a modificação corporal é uma coisa
basicamente inerente ao ser humano. Desde que o ser humano é ser humano, ele modifica o
corpo de alguma forma. Por quê? Porque colocar uma roupa ou cortar o cabelo, usar uma
maquiagem, enfim, tudo isso é modificação que a gente faz no corpo.
Então, desde o homem da caverna (com as peles) e o momento em que o humano
começa a cortar o cabelo, a cortar a barba, o momento em que começa a se vestir – seja para
se proteger do frio ou o que quer que seja –, é interessante pensar como isso tudo afeta ou
não, de uma certa forma, até a própria forma fisiológica humana, com o passar do tempo
desde o início das civilizações. É interessante pensar na ideia de vestir-se, e vestir-se de
uma maneira específica, com as questões associadas à civilidade. Bem, se isso não é a
moda, é uma das coisas mais inerentes ao assunto.
E, claro, a moda não é feita só para o humano vestir-se, mas é a maneira como o seu
corpo se porta também. Então, as questões dos padrões de beleza estão vinculadas a isso e
os padrões mudam de tempos em tempos. Coisas diferentes são valorizadas nos corpos,
tanto no corpo feminino quanto no corpo masculino. O tipo de roupa e, inclusive,
procedimentos de moldar o corpo. Pode ser um espartilho ou um sapato de salto, ou ainda,
os pés das chinesas, que os amarram diariamente para mantê-los extremamente pequenos,
como já foi um padrão de beleza num período não tão distante. Nós cumprimos essa
exigência de um tipo padrão todo o tempo: por meio dos tratamentos de pele, cabelos,
bronzeamento artificial ou natural, da cirurgia plástica e, logicamente, da tatuagem, do
piercing, tudo.
Fazemos alguns sacrifícios também em nome de um padrão, pelas roupas que
escolhemos, e o corpo se molda por meio das roupas que vestimos. Mesmo que a gente não
use mais, por exemplo, o espartilho, que, a priori, parece muito brutal, não supera, talvez,
algumas coisas que, sim, são muito brutais ao corpo, como um sapato de salto muito alto
para andar em calçadas inapropriadas, mas que, ainda assim, é artefato básico para grande
parte das mulheres, mesmo as que andam de transporte público e pegam metrô.
Então, de certa forma, tudo isso tem certa relação sim com o que eu faço e, em
alguns trabalhos, isso fica mais ou menos claro na discussão. pour être une seductrice é um
trabalho em que estou vinculando a questão da roupa com a ideia de sedução, que é uma
condição taxada à mulher. Então tem aí outras discussões vinculadas ao gênero também.
Mas há também um jogo com a ideia de “ser”, algo existente em As Vacas Comem Duas

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Vezes a Mesma Comida. Tem aí uma coisa de “ser” e não de “se vestir de”, “se portar
como”. É a ideia de “ser” a sedutora com as meias presas à carne.
Obviamente, não sei se a dor é algo tão importante no meu trabalho, mas é algo
muito percebido pelo público, então não posso deixá-la de lado, mesmo que, a priori, ela
não tenha sido o conceito principal; eu não posso ignorá-la, porque é o que o público vê
antes de tudo. Então, é um ponto que acaba sendo de suma importância e vincular a dor a
essas questões da moda acaba sim sendo uma discussão interessante, porque a gente se
sujeita muito a esses padrões e, consequentemente, à dor. Muitas vezes, é uma coisa
simples, como, por exemplo, usar um sapato, mesmo que baixo, que machuca o pé. Existem
diversos produtos, inclusive para calos, e diversos machucados que ocorrem devido ao uso
cotidiano de sapatos desconfortáveis. Tem uma cena de um filme da Miranda July em que
ela fala a um personagem de um vendedor de sapatos que ela tem o tornozelo baixo e que
todos os sapatos machucam seu pé. Aí ele diz que ela não precisa sentir dor para sempre e
que ela tem como mudar isso. Muitas pessoas não pensam que isso seja possível.
pour être infâme: pour être une femme retoma a questão da cirurgia plástica, da
cirurgia estética. Talvez não seja a ideia do silicone em si, mas da cirurgia que engloba tanto
a redução como o reposicionamento. O reposicionamento é como se redesenhar o seio para
que ele fique numa forma que é aceita pela sociedade.
A cirurgia plástica acaba sendo muito comum, muito recorrente e, ao mesmo tempo,
muito brutal, em muitos casos, para o corpo, como a lipoescultura, que, ainda assim, é algo
muito desejado por muitas pessoas. E é como se ser bonita tivesse um preço. Aí eu fico
imaginando aqueles concursos como o Miss Venezuela, em que quase nenhuma
concorrente está isenta de cirurgia plástica. Quase todas fizeram duas ou três alterações na
forma natural do corpo. De certa forma, meu trabalho discute isso sim.
Temos, ainda, uma série de pessoas transgêneros, transexuais que fizeram
aplicações de silicone caseiras ou em clínicas precárias e acabaram tendo problemas com
rejeição, absorção errada, etc. Qual é o preço dessas modificações de verdade? A gente vive
num mundo que é muito preso à moda e, então, obviamente, discutir o quanto do seu corpo
é seu e não de uma cultura de massa que está sendo disseminada por uma indústria da
moda é algo natural. Se você pensar quem são as modelos que determinam os padrões, elas
são meninas de aproximadamente quinze anos, esqueléticas, que nem menstruaram e que

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provavelmente não menstruarão. É uma coisa superbizarra, porque elas não têm nada a ver
com as pessoas comuns.
Quanto à questão da roupa, observo no Brasil que, com a mestiçagem, tem muitos
corpos diferentes, mas as roupas são feitas a partir da modelagem francesa e, obviamente,
não fornece ajuste apropriado aos seios e bundas das brasileiras, que, muitas vezes, são
afrodescendentes.
Eu, particularmente, não trabalho especificamente com moda, mas tenho
curiosidade sobre o assunto, porque aborda o corpo. Minha grande pesquisa está
relacionada ao corpo e às modificações que o ser humano faz sobre o corpo.
Não tem como separar o corpo de uma cultura; ele está dentro das regras da moda.
Ele está sujeito às regras da cultura. Obviamente isso muda com o tempo e com a cultura e
com o local geográfico. Mas, sim, é uma questão que eu discuto.

PARA CITAR ESTE TEXTO


FREY, Tales. “Priscilla Davanzo: A Arte de Avacalhar com o Corpo Imaculado”. eRevista
Performatus, Inhumas, ano 2, n. 8, jan. 2014. ISSN: 2316-8102.

Revisão ortográfica de Marcio Honorio de Godoy


© 2014 eRevista Performatus e o autor

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