Vous êtes sur la page 1sur 3

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2008.04.00.

009024-3/RS
RELATORA : Des. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA
AGRAVANTE : UNIÃO FEDERAL
ADVOGADO : Luis Antonio Alcoba de Freitas
UNAFISCO SINDICAL SINDICATO NACIONAL DOS
AGRAVADO :
AUDITORES FISCAIS DA RECEITA FEDERAL
ADVOGADO : Priscilla Medeiros de Araujo Baccile e outros

DECISÃO

Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que, em ação ordinária


ajuizada pela UNAFISCO SINDICAL - Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais da Receita Federal do Brasil, objetivando ver assegurado o exercício do
direito de greve, sem risco de sanções de qualquer natureza em razão da adesão
de seus filiados à greve, deferiu o pedido de antecipação de tutela, para que a
agravante se abstenha de: a) anotar as faltas no ponto dos grevistas; b) proceder
a desconto salarial relativo aos dias não-trabalhados; c) reduzir a avaliação de
desempenho para o cumprimento das metas de arrecadação; d) prejudicar as
avaliações dos Auditores Fiscais que se encontrem em estágio probatório; e)
suprimir o pagamento de adicionais noturno e de periculosidade; f) instaurar
processo administrativo disciplinar em virtude da adesão à greve; g) alterar
unilateralmente os períodos de férias dos grevistas.

Sustenta a agravante, em síntese, que o STF tem reiteradas vezes, em suspensão


de execução de liminar, autorizado desconto na folha de grevistas, na medida em
que o dispositivo constitucional sobre o direito de greve depende de norma
integrativa e que, como esta não existe, é inviável o exercício do direito de greve
dos servidores públicos. Ademais, assevera o não-cumprimento dos requisitos da
Lei nº 7.783/89, em especial do atendimento de percentual mínimo capaz de
garantir o atendimento de urgência. Aduz, ainda, que o juízo é incompetente e
que se trate de hipótese de substituição processual, não tendo sido juntada a
relação dos filiados ao sindicato.

É o relatório. Decido.

Se a própria agravante reconhece que o art. 109, §2º, CF permite a escolha do


foro onde deve ser ajuizada a ação ( seção judiciária do domicílio do autor, local
onde ocorreu fato ou ato, local onde situada a coisa ou o Distrito Federal), a
observância de qualquer das alternativas implica o respeito ao mandamento
constitucional. Afastada, pois, a alegação de incompetência.

No que tange à alegada substituição processual, o STF reconheceu, no RE


214668 ( Informativo 431/STF) que o art. 8º, III, CF assegura ampla
legitimidade ativa ad causam dos sindicatos como substitutos processuais das
categorias que representam na defesa de direitos e interesses coletivos ou
individuais de seus integrantes, sendo desnecessária a juntada da lista dos
sindicalizados ou sua expressa autorização.
Por sua vez, o STF, revendo posicionamento anterior, reconheceu como legítimo
o direito do servidor público ao exercício da greve, estabelecendo, contudo,
como limites, enquanto não advinda regulamentação legal, aqueles que foram
fixados para o exercício do direito na iniciativa privada, nos termos da Lei nº
7.783/89. Ainda que esta lei não estabeleça um percentual mínimo de
atendimento do serviços, de forma a não tida como abusiva, tanto as categorias
profissionais, quanto a jurisprudência, sempre entenderam que deve ser mantida
30% da força de trabalho, estabelecendo-se um sistema de rodízio, de forma a
serem atendidos os serviços essenciais. Neste contexto, cabe à União, ora
agravante, comprovar eventual descumprimento do percentual mínimo de
atendimento do serviços, não bastava sua mera alegação no presente recurso.

Da existência ou não da regulamentação, não decorrem, imediatamente, os


descontos, ou melhor, a supressão do pagamento dos vencimentos no período
em que perdurar o movimento paredista. É o que se conclui de decisão também
do STF ( SS AgReg 2.061-DF, Rel. Min. Marco Aurelio, Informativo 248/STF):

"É de se concluir que, na supressão, embora temporária, da


fonte do sustento do trabalhador e daqueles que dele
dependem, tem-se feroz radicalização, com resultados
previsíveis, porquanto, a partir da força, inviabiliza-se
qualquer movimento, surgindo o paradoxo: de um lado, a
Constituição republicana e democrática de 1988 assegura o
direito à paralisação dos serviços como derradeiro recurso
contra o arbítrio, a exploração do homem pelo homem, a
exploração do homem pelo Estado; de outro, o detentor do
poder o exacerba, desequilibrando, em nefasto procedimento,
a frágil equação apanhada pela greve. Essa impulsiva e
voluntariosa atitude, que leva à reflexão sobre a quadra
vivida pelos brasileiros, acaba por desaguar não na busca do
diálogo, da compreensão, mas em algo muito pior que aquilo
que a ensejou. (...) Em suma, a greve alcança a relação
jurídica tal como vinha sendo mantida, mesmo porque, em
verdadeiro desdobramento, o exercício de um direito
constitucional não pode resultar em prejuízo, justamente, do
beneficiário, daquele a quem visa a socorrer em oportunidade
de ímpar aflição. A gravidade dos acontecimentos afigura-se
ainda maior quando o ato que obsta a satisfação de prestação
alimentícia tem como protagonista o Estado, ente
organizacional que deve fugir a radicalismos. Cabe-lhe, isto
sim, zelar pela preservação da ordem natural das coisas, que
não se compatibiliza com deliberação que tem por finalidade
colocar de joelhos os servidores, ante o fato de a vida
econômica ser impiedosa, nem se coaduna com o rompimento
do vínculo mantido. A greve tem como conseqüência a
suspensão dos serviços, mostrando-se ilógico jungi-la - como
se fosse fenômeno de mão dupla, como se pudesse ser
submetida a uma verdadeira Lei de Talião - ao não-
pagamento dos salários, ao afastamento da obrigação de
dar, de natureza alimentícia, que é a satisfação dos salários
e vencimentos, inconfundível com a obrigação de fazer. (...)
A greve suspende a prestação dos serviços, mas não pode
reverter em procedimento que a inviabilize, ou seja, na
interrupção do pagamento dos salários e vencimentos. A
conseqüência da perda advinda dos dias de paralisação há
de ser definida uma vez cessada a greve. Conta-se, para
tanto, com o mecanismo dos descontos, a elidir eventual
enriquecimento indevido, se é que este, no caso, possa se
configurar."

Tenho, pois, que, neste exame preliminar da situação, há de ser indeferido o


pedido de efeito suspensivo, de forma a manter, durante o período em que se
ocorre o movimento grevista, o pagamento dos servidores, sem qualquer forma
de retaliação, devendo as conseqüências da paralisação serem definidas, pelas
partes, ao final da greve.

Intimem-se as partes, inclusive para fins do art. 527, V, CPC.

Publique-se.

Porto Alegre, 26 de março de 2008.


Des. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA
Relatora

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de


24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-
Brasil, por:
Signatário (a): MARIA LUCIA LUZ LEIRIA
Nº de Série do
42C514F2
Certificado:
Data e Hora: 28/03/2008 19:22:57

Vous aimerez peut-être aussi