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Estado Ampliado de Gramsci
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Supera a ideia Marxista - não separa economia e sociedade, tudo funciona na mesma lógica (desbarada a ascensão do discurso econômico)
Superestrutura e infraestrutura se perpassam e se determinam uma a outra + conceito de Hegemonia em Gramsci
Não é possível fazer a revolução quando ainda se predomina um pensamento hegemônico o qual se quer superar
Quando os dominados querem ser o dominador, isso não é a superação/revolução
Crítica anti hegemônica para pensar politica pública (tida como paleativo social)
Coleção
PERSPECTIVAS DO HOMEM ANTONIO GRAMSCI
Volume 35
Série Política

Maquiavel,
a Política
e o Estado Moderno

6~ Edição
Tradução de
LUIZ MÁRIO GAZZANEO

1

civilização
I brasileira

II
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• ••
O Príncipe é escrito por Maquiavel no contexto da estrutura feudal italiana
Estado absoluto é visto como um Estado limitado pelo direito
Pré-História e História do Estado de Direito (Pietro Costa)
Jacobinos eram a encarnação teórica do Príncipe de Maquiavel - inútil apelar-se à constituição quando no estado de exceção legitima o
rompimento da legalidade em nome dos valores republicanos
Para Gramsci o Moderno Príncipe são grupos sociais (imprensa, partidos) - hoje há outras organizações sociais complexas que à época não
existiam
O partido político seria o organizador de uma reforma intelectual e moral (vinculada a economia)
Gramsci - grupo elitista e não-elitista; governante e governado; dirigentes e dirigidos
Weber - dominante e dominador
Partido - Interesse Estatal - Maximização de Interesses coordenados com os interesses dos grupos dominantes/dominados numa constante
superação de desequilíbrios

o Moderno Príncipe

Notas sobre a polltica de Maquiavel. O caráter fundamen-


taI do Príncipe consiste em que ele não é um ttllbaDio sJS!e-
mático~ mas um livro "vivo" em que a ideologia
> política e a
ciência política fundem-se na forma dramática do "mito", En-
tre a utopia e o tratado escolástico, as formas através das quais
se configurava a ci~oIftica até Maquiavel, este deu à sua
. concepção a forma fantástica e artística, pela qual o elemento
doutrinaI e racional incorpora-se num condottiero, que repre-
senta plasticamente e "antropomorficamente" o símbolo da "von-
tade coletiva", O processo de formacão de uma determinada
vontade coletiva, para um determinado fim 01 ico, é represen-
o nao a rav s e 1 lSIÇoeSe c aSSlcações pedantescas de
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princípios e critérios de um método de ação, mas como quali-
obra mais ainda como aquele elemento que lança a sua ver-
dades, traços característicos, deveres, necessidades de uma peSsOa
dadeira luz sobre' toda a obra e faz dela um "manifesto político",
cÕl1creta, tudo o quê faz trabalhar a fantasIa arhshca de quem
sé quer convencer e dar forma mais concreta às paixões políticas,' Pode-se estudar como Sorel, a partir da concepção da
O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma ' ideologia-mito, não tenha alcançado a com:pr~ensão do, p~rtido
político, ficando apenas na concepção do smdlcato profiSSional.
exemplificação histórica do "mito" soreliano, isto é, de uma I
ideologia política que se apresenta não como fria utopia, nem Na verdade, para Sorel O "mito" n~o e,:contrava a sua expres-
como raciocínio doutrinário, mas como uma criação' da fantasia
concreta que atua sobre um povo disperso e pulvenzado para
I são maior no sindicato como orgamzaçao de uma vontade co-
letiva mas na ação prática do sindicato e de uma vonta~e
coleti~a já atuante, ação prática cuja maior realização deve~la
despertar e organizar a sua vontade coletiva. O caráter utó.
ser a greve geral, isto é, uma Hatividade passiva", ~?r aSSIm
'plc6 do Prlnclpe consiste em que O Príncipe não existia na
dizer, de caráter negativo e preliminar (o cará~er poslllvo só ,é
realidade histórica, não se apresentava ao povo italiano com
características de imediatismo objetivo, mas era uma pura dado pelo acordo alc~nçado nas vo~ta~es "as7ocladas), um~ a,~I'
vidade que não preve uma fase propna atl~a e construtiva, '
abstração doutrinária, o símbolo do chefe, do condol/iero ideal;
Em' Sorel, portanto, chocavam-se duas necessidades: a do mIto
mas os elementos passionais, míticos, contidos em todo o livro,
e a da crítica do mito, na medida em que "cada plano preesta.
com ação dramática de grande efeito, juntam-se e tornam"se
belecido é utópico e reacionário", A solução era abandonada
reais na conclusão, na invocação de um príncipe "realmente
ao impulso do irracional, do "arbitrário" (no sentido bergso-
existente", Em todo o livro, Maquiavel mostra como deve ser
niano de uimp'ulsovital"), da "espontaneidade".1
o Príncipe para levar um povo à fundação do novo Estado, e
o desenvolvimento é conduzido com rigor lógico, com relevo Mas, pode um mito ser "não-construtiyo'\ p.ode-se imagi-
científico; na conclusão, o próprio Maquiavel faz-se povo, con. nar na ordem de intuições de Sorel, que seja efetivamente pro-
funde-se com o povo, mas não com um povo "genericamente" dutivo um instrumento que deixa a vontade coletiva na sua fase
entendido, mas com o povo que Maquiavel convenceu ,com o primitiva e elementar de mera formação, por distinção (por
seu desenvolvimento anterior, do qual ele se torna e se sente "cisão"), embora com violência, isto é, destruindo a,s relaç~es
consciência e expressão, com o qual éle sente-se identificado: morais e jurídicas existentes? Mas esta vontade coletiva, a~sl!U
ce ue todo o trabalho "Ió 'co" não passa de uma reflexão formada elementarmenle não deixará imediatamente de eXIstir,
o povo, um raclOcInÍo interior que se ma es a na ' li pulverizando-se numa huinidade de v~nta~es individuais, que
popu a a num gn o ' a o, Imediato, parx o, em virtude da fase positiva seguem dlreçoes diversas e c<:n-
aê rãciocmlo sobre Si mesma, transforma..se em Uafeto", febre, trastantes? Além do que, não pode existir destruição, negaç~o,
fanatismo de ação. Eis por que o epilogo do Príncipe não é sem uma implícita construção, afirmação, e não em sentido
qualquer coisa de extrínseco, de "impingido" de fora, de re-
1 Nota-se aqui uma contradiçlio implícita do modo com o qual Croce
tÓTico, mas deve ser explicado como elemento necessário da
apresenta o seu problema de Hist6ria e ant!;His~óriaco~. ou~~osmodos
de pensar de erace: a sua aversfo r.elos partidos pohticos e o ~e:t
1 Verificar entre os escritores politicos anteriores a Maquiavel se exis~ modo de apresentar a questão da 'previsibilidade" dos fatos ~oclals
tem textos configurados como o Príncipe. Também O final do Príncipe (cf. Conversaziont crlticne, primeira série, págs . .150.1,52, r,ecensao ,do
está ligado a este caráter "mítico" do livro; depoIs de ter representado livro de LUDOVICO LIMENTANI, La previsione d~1 jattJ sOCt~lí, Tun~,
o condottiero ideal, Maquiavel, num trecho de grande eficácia artística, Bocca, 1907): se os fatos sociais são imrrevisívels e o própno con~elto
invoca o condottiero real que o personifique historicamente: esta invo- de previsão é um puro som) o irraci?n~ n~o pode de!~ar de d.o~.l.n~r,
cação apaixonada reflete-se em todo o livro, conferindo-lhe exatamente e cada or~anização de homens é anti~hist6nca, é um preconceIto, ..Ó
o caráter dramático. Em Prolegornenl de L. Russo, Maquiavel é de-- resta resolver um a um, e com critérios imediatos, os pr?blemas práti-
nominado o ~ e uma vez aparece, inclusive, a expres~ cos colocados pelo desenvolvimento histórico. ( Cf. o artIgo de CROCE,
são "mito", mas não preCIsamente com o sentido acima indicado. II parltto come"gtudizio e come pregiudizio, em Cultura e vila morale.)
Assim, O oportunismo torna-se a única linha possivel.
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I
"
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"metafísico", J?las praticamente, isto é, poHticamente, como pro-
grama de partIdo. Neste caso, supõe-se por trás da espontanei- la novamente e fortalecê-Ia, e não que se deva criar uma von-
dade um .puro mecanicismo, por trás da liberdade (arbítrio- tade coletiv~ e~ novo, original, e orientá.la para metas con-
Impulso vItal) um máximo de determinismo, por trás do idea- cretas e raCIOnaIS,mas de uma concreção e racionalidade ainda
lismo um materialismo absoluto. não verificadas e criticadas por uma experiência histórica efe-
tiva e universalmente conhecida,
<;> moderno. príncipe, o mito-príncipe, não pode ser uma O caráter "abstrato" da concepção soreliana do Hmito"
pe~soa real, um mdlVJduo concreto; s6 ,gõde ser Um organismo; deriva da aversão (que aSSUme a forma passional de uma re-
um elemento com lexo de sociedade no -qual á tenha se Imeia- pulsa ética) pelos jacobinos, que certamente-"'1õrãm uma
o a coneretizaç o e uma von a e co etIva recon eel a e _ "encarnação categórica" do Príncipe de Maqu(avel. Om leJi"" -
aamentada patcfalmeute na açao. ESte organismo Já é deter- ".0 :,:íncipe, deve ter uma parte dedicada ao \jacobinismo (no ~
mi,nad.o pelo desenvolvImento h1Sfõrico, é o partido político: a SlgnrfICado mtegral que esta noção teve historidamente deve !.J\'tSl
pnmelra célula na qual se aglomeram ermes de vontade cole-"
)iva ue en em a se tornar umversllls
moderno, Suma
IS. o mundo
açao IS rIco-polftica imediata e iminente
'\
,\pJJ.V\
cara~terizada pela necessidade de um procedimento rápido ~ NI~ .-rfI' \ A""<P"~ 0JP
ter conceitualmente), para exemplificar como se formou concre-
tamente e. atuou uma vontade coletiva que, pelo menos por I
N\o
alguns asp,eetos, foi criação ex novo, original. lL'p'reciso tam-~~ fII''tor1'
'r:
í1""-

bém definIr a vontade coletiva e a vontade política em geral ~


fulmmante, pode-se encarnar mlticamente num indivíduo con. \ \ , :.'1 U' .~o{! \"'.~ no sentidõ moderno; a vontade como consclencla atuante da
ereto; a raplde~ s.ó pode tornar-se ~ecessária em virtude de um f-,~- ~ . ',r necessi fi3e ' lst'rica, como orotagOI!lsta . e um drama hIst .
grande pengo Immente, grande perIgo que efetivamente leve a ". # !]-f'" \ rico real e efetivo. .
um despertar fulminante das paixões e do fanatismo, aniquilan- ~ ~ \0<.P) Oma das primeiras partes deveria precisamente ser dedica-
do o senso crítico e a corrosividade irônica que podem destruir nMl }- da à "vontade coletiva", apresentando a questão deste modo:
o caráter "carismático" do condol/iero (o que ocorreu na aven- \ ""'\ ifJ
"Quando ~ possível dizer 'lue existem as condicões para que)
lura de Boulanger) . Mas uma ação imediata de tal gênero nao o ¥ .j,,~~() \ possa surlQr e desenvolver-se uma vontade coletiva nacional-
po~e ser, pela sua própri.a natureza, ampla e de caráter orgânico: bl-\1"'-, . pop.!!lar?" Portanto, uma análise histórica (econômica) da es-
sera. quase s~mpre de tIpo restauração e reorganização, e não I:.(jO ,,\(\Jl" trutura social de um determinado país e uma representação
de tIpo p~cu~ar à fu~~ação de novos Estados e. de novas estm. f"" \ .~t.:flJ" "dramática" das t~ntativas feitas através dos séculos para suscitar
luras nacIOnaISe socIaIs (como no caso do Príncipe de Maquia- W" <J}'l"- .:l.S» esta vontade e as razões dos sucessivos fracassos. Por que não
vel, em que o aspecto de restauração era s6 um elemento "If'J'-- houve a monarquia absolutista na Itália no tempo de Maquia-
retórico, isto é, ligado ao conceito literário da Itália descendente ~ ~(r-. vel? :e, necessário remontar ao Império Romano (questão da
de Roma, que devia restaurar a ordem e a potência de Roma)'. ~\};(.(r'
língua, dos intelectuais, etc,), compreender a função das co-
Será de tipo ud:à~o'~ e não criador original,em que se 8U- \
mu~as medievais, o significado do catolicismo. etc,; deve-se,
põe que uma von oletiva já existente tenha-se enfraque- enfIm, fazer um bosquejo de toda a história italiana, sintético
cido, disseminado, sofrido um colapso perigoso e ameaçador mas exato.
mas não decisivo e catastrófico que torne necessário concentrá-
A razão dos sucessivos fracassos das tentativas de criar
un;a vo~tade coletiva nacional-popular deve ser procurada na
1, Além do modelo exemplar dado pelas grandes monarquias absolú.• eXIstênCIade determinados grupos sociais que se' formam a par-
llst?~da França e da Espanha, Maquiavel foi levado à SUB concepção
pohtJca da necessidade de um Estado unitário italiano pela evocação
do. p~ssado de Roma. Deve-se ressaltar, porém, que nem por isso Ma•. rece, se colocado I'"Jxatamenteno clima do Humanismo e do Renasci-
qmavel deve ser confundido com 8 tradição literária-ret6rica. Inclusive mento. No Livro VII da Arte della guerra lê-se: "Esta província (8
porqu~ este elemento não é exclusivo e nem ao menos dominante, e I~á]ja) parece ter nascido para ressuscitar as coisas mortas, como se
a necessidade de um grande Estado nacional não é deduzida dele. E VIU pela poesia, pela pintura e pela escultura" porque então não ne.
também porque o pr6prio apelo a Roma é menos abstrato do que pa- cessitatia a virtude mHftar?", etc. Reagrupar' as outras citações do
mesmo gênero para estabelecer o. seu caráter exato,
I
, 6
7
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tir da dissolução da burguesia comunal, no caráter particular J!.lterior da vontade coletiva nacional-popular no sentido de
de outros grupos que refletem a função internacional da Itália -alcançar uIíla funhá supenor e toLãl de clv1Í1iaçád moderna.
Como sedc da Igreja e depositária do Sagrado Império Romano, , ontos fundamentaIS: ormaçao e ma vonta.)
etc, Esta função e a posição conseqüente determinam uma de coletiva naclOna - opu ar, a ua o mo erno nnclpc C ao
situação interna que pode ser chamada "econômico-corporati- O empo O .orgamza or e a expressão aliva e a uan e, e
va", isto é, politicamentc, a pior das formas dc sociedade feudal, refórma mtelectual c morã!, aevenam constitUir a estrutura do
,., a forma menos progressista e mais estagnante, Faltou sempre, trabalho, Os pontos programáticos concretos devem ser incor-
\ _~ f não podia constituir-se, uma força jacobina eficiente, exata. poradl>s na primeira parte, isto é, deveriam, "dram'atlcamente",
í'
..,"" • <,c-- mente a forç,a que ~as outras naçoes suscito,! e organizou a resultar do discurso, não ser uma fria e pedante exposição de
,()'- vontade coleliva nacIOnal-popular e fundou os Estados moder- argumentos,
~~-v! . ....nos. Finalmente, existem as condIçoes para esta vontade,' ou Pode haver reforma cultural, elevação civil das camadas
1\ Séfa, qual é a relação atual entre estas condições e as forças mais baixas da sociedade, sem uma precedente reforma econô--
que se opõem a ela? Tradicionalmente, as forças oponcntes fo- mica e uma modificação na posição social e no mundo econô-
ram a aristocracia latifundiária e, em geral, o latifúndio no scu mico? Eis por que uma reforma intelectual e moral não pode
conjunto, com o seu traço característico italiano: uma "bur. deixar de estar ligada a um programa de reforma econômica,
guesia rural" especial, herança de parasitismo legada aos tcm. E mais, o ro ama de reforma econômica é exatamente o mo-
pos modernos pela ruína, como classe, da burguesia comuna) do concreto através do qual se a resen a o a e o n e ec-
(as cem cidades, as cidades do silêncio). As condições positivas t mora . mo erno nnclpe desenvolvendo-se subverte
devem ser localizadas na existência de grugos sociais urbanos todo o sistema de relações intelectuai rais na medid
convenientemente desenvolvidos no cam o' a rodu ão indus- qü~ o seu aesenvo vlmento Slgni 'ca de fato que cada ato é con-
tna, ue can aram um determma o vel de cultura histórico- bê iao como uhI ou' prejudicial, como virtuoso ou criminoso;
PO Itica, A formaçao e uma von a e co e va naclOn -popular ma I a e IefeIência o
é impossível se as grandes massas dos camponeses cultivadorcs pr m erno Príncipe e serve ara acentuar o se er ou
não irrompcm simultaneamente na vida polltiea, Maquiavel' con ras - O, r nClpe toma co sciências da divin-
pretendia isto através da reforma' da milícia, como os jacobinos a e ou o Im e a IVOcatégórico, torna-se a base de um laicis-
o fizeram na Revolução Francesa. Deve-se .identificar nesta mo mo emo e e uma alclza ao com leta e t a a VI a c e
compreensão um jacobinismo precoce de Maquiavel, o germe to as as re açoes de costume.
(mais ou menos fecundo) da sua concepção da revolução na-
cional. Toda a His' , de 1815, mostra o esfor o das
classes tradicionais ara im edir a orma ao e uma vontadc I ncia da política A inovacão fundamental introduzida
co e Iva ênero ara mantcr o o er econOlnJco-cor o- \..n pela s 18 na ciência da política e da Hist6da é a
rativ " ist ma internaclOna de equilí no aSSlVO, L,~~a', demonstração de que não existe uma "natureza humana" abstra-
Uma parte importante do mo erno ríncipe erá ser 1~~,~1I'"
\1'\a, ,fixa e imutável (concedo que certamente denva do pensa.
i
dedicada ,à questão de uma reforma inw,lectual e moral isto é, oi' ',? .Jnénto religioso e da iranscendência); mas que a natureza hu-
~ questãQ rehgiOsa ou de uma coocepç Q do mundQ. hambém •• 1 ~ \ mana .u t das rela ões sociais historicamente determi-
neste campo encontramos na tradição ausência de jacobinismo J'lW na~a~ isto é, um fato hist nco comprov ve, entro e certos
e medo do jacobinismo (a última expressão filosófica de tal ltmltes, através dos métodos da filologia e da crítica, Portanto,
medo é a atitude malthusiana de B, Croce em relação à reli. a c' ên ' •, , cebida no seu conteúdo concreto
gião). O moderno Príncipe deve e não ode deixar de ser o (e tam m na sua formulação I gJca como um or~anlsmo cm
propagandista e or e uma re orma lOte ectua e desenvolvimento. Todavia, deve-se observar que aorma dada
m~ O que slgnilíca cnar o terreno para um desenvolvimento por Maquiavel à questão da política (isto é, a afirmação implí.

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cita nos seus escritos de que a olític no-
é verdadeira abstratamente. O pr6prio Maquiavel nota que as
ma, com seus . cí ias e leis' ... _rsos"da~"dlj.moral--~ coisas que ele escreve são aplicadas, e foram sempre aplicadas,
rclrgtao .9POSiÇllll-Qlle .. ellHlm gran e a cance I os ICO,Põi~
pelos maiores homens da Hist6ria. Por isso, não parece que
i"'!f'l1cttamentc inovã-loda a concepção do mundo) é ainda hoje
ctíScutida e contraditada, não conseguiu tomar-se "senso co- ele queira sugerir' a quem já sabe, nem o seu estilo é aquele
mum". Qual o significado disto? Apenas que a revolução inte- de uma desinteressada atividade científica; nem sc pode pensar
lectual e moral, cujos elementos estão .contidos in nuce no pen- que ele tenha chegado às suas teses sobre ciência política atra-
samento de Maquiavel, ainda não se efetivou, não se tomou vés de especulações filos6ficas, o que no caso desta particular
forma pública e manifesta da cultura nacional? Ou será que matéria seria algo milagroso no seu tempo, já que, inclusive,
só tem um mero significado político atual, serve para indicar hoje ela encontra tanto contraste e oposição.
apenas a separação existente entre governantes e governados, Pode-se, portanto. supor que Maquiayel tem em vista
para indicar qnc existem duas culturas: a dos governantes e a " uem não sabe" u nde educar ohticamente" uem
dos governados; e que a classe dirigente, como a Igreja, tem não s . Educação política não-negativa, dos que odeiam
uma atitude sua em relação aos simples, ditada pela necessi- tiranos, como parecia entender Foscolo, mas positiva, de quem
dade de não afastar-se deles, de um lado; e, de outro, de man-
deve reconhecer como necessários determinados meios, mesmo
tê-Ias na convicção de que Maquiavel nada mais é do que uma
aparição diabólica? s ar ue ese)a e ermma os ms. Quem
nasceu na tradição dos homens e governo, absorvendo todo o
Coloca-se, assim, o problema do significado que Maquiavel
complexo da educação do ambiente familiar, no qual predomi-
tcve no seu tempo e dos fins que ele se propunha escrevendo
os seus livros, especialmente o Príncipe. A doutrina de Maquia- nam os interesses dinásticos ou patrimoniais, adquire quase que
automaticamente as características do político realista. Quem,
vel não era, no seu tempo, Uma coisa puramente "livresca", um
monopólio de pensadores isolados, um livro secreto que circula portanto, "não sabe"? A classc revolucionária da época" o
entre iniciados. O esmo de Mnquiavel não é o de um tratadista 15090" e a "nuçfto' ttaUana, a demociaeta urbãílã qUe se ex-
sistemático como os tinha a Idade Média e o Humanismo, abso- prime atraves dós Savonarola e dos Pler SOdenm e não dos
lutamente; é estilo de homem de ação, de quem quer impulsio- Castruccio e dos Valentino, Pode-se deduzir que Maquiavel
nar a ação; é estIlo de ftiânlfustó de parhdo. Cêrtâmente, a pretende persuadir estas forças da necessidade de ter um "chefe"
mtcrpre!açao 'morabsÍtca" dada por Foscolo é errada; todavia, que saiba aquilo que quer e como obtê-lo, e de aceitá-lo com
é vcrdade que Maquiavel revela algnma coisa, e não s6 teorizou entusiasmo, mesmo se as suas ações possam estar ou parecer
sobre o real. Mas, qual era o objetivo da revelação? Um obje- em contradição com a ideologia difundida na época: a religião,
tivo moralístico ou político? Costuma-se dizer que as normas 'a osi ão olítica de Maquiavel repete-sc na filosofia da
de Maquiavd para a atividade pOlítica "são aplicadas, mas não p.!ªXiS. e e e..se a neceSSl a e. e ser an lm~qUlavélic:o'" de ..
são ditas"; os grandes políticos - diz-se _ começam maldi- senvolvendo uma teoria e uma t mca po ticas ue assam ser-
zcndo Maquiavel, declarando-se antimaquiavélicos, exatamente
para poderem aplicar as suas normas "santamente". Não teria
Vlf suas pares em u a, em ra crem-se que e as termina-
rão ar seMr es eClãImente à arte ue "não sabia", arque
I
sido Maquiavel pouco maquiavélico, um daqueles que "conhe- ne a ue se conSl era eX1SIr a orça ro esslsta a IS na.
cem o jogo" c estiJltamente o ensinam, enquanto o maquiave- Efetivamente, obtém-sc de ime lato um resultado: romper a

I
lismo vulgar ensina a fazer o contrário? A afirmação de Croce unidade baseada na IdeolOgia tradicional sem cuja ru tUTa a
de que, scndo O maquiavelismo uma ciência, serve tanto aos orça nova não aderia ad umr conSCiência da r ria er-
reacionários como aos democratas, como a arte da esgrima ser- SOn 'dade independente. maqwave smo servIU para me-
ve aos nobres e aos bandoleiros, para defender-se e assassinar, lliorar a técnica polÍtica tradicional dos grupos dirigentes con-
e que neste sentido é que se deve entender o juízo de Foscolo, servadores, assim como a política da filosofia da praxis; isto I
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não deve mascarar o seu caráter essencialmenterevolucionário e não "metaflsicamente"? Crítica da posição de Croce, para o
que inclusivehoje é sentido e explica todo o antimaquiavelismo' qual, no final da polêmica, a estrutura torna-se um "deus as-
coso", um "número" em contraposição às "aparências" da su.
daquele dos jesuítas àquele pietista de Paquale Villari. ' perestrutura. "Aparências" em sentido metafórico e positivo.
Por que, "historicamente", e como linguagem, falou-se de
"aparências"?
A política como ciên~ia autônoma', A questão inicial que
deve ser colocada e resolvIda num trabalho sobre Maquiavel é
.s interessante registrar como Croce, partindo desta con-
a questão da política como ciência autônoma, isto é, do lugar cepção geral, extraiu a sua doutrina particular do erro e da
origem prática do erro. Para Croce o erro tem origem numa
q.ue a c~enclapohuca ocupa, ou deve ocupar, numa concepção "paíxão" imediata, de caráter individual ou de grupo; mas o
slstemáhca (coerente e conseqüente) do mundo numa filosofia que produzirá a "paixão" de alcance histórico mais amplo, a
da praxis. ' paixão 'como "categoria"? A paixão~interes.~e imediato, que é
. O progresso proporcion~do por Croce, a 'cste prop6sito, aos
estudos sobre Maquiavel e sobre a ciência política, consiste pre- origem do "erro", é o momento denominado schmutzig-jüdisch
cIpuamente (como em outros campos da atividade crftica ero- em Glosse ai Feuerbach: mas como a paixão-interesse schmutzig-
ciana) na dissolução de uma série de problemas falsos, incAis- ;üdisch determina o erro imediato, assim a paixão do grupo
tentes ou mal formulados. Croce baseou-se na sua distinção dos social mais vasto determina o "erro" filosófico (intermédio o
~omentos do e~~írito e na afirmação de um momento da prá- erro-ideologia, que Croce trata em separado). O importante
t~ca, de .um espmto prático, autônomo e independente, embora nesta série "egoísmo (erro imediato) - ideologia-filosofia"é o
h~a?o cIrcularmente a toda a realidade pela dialética dos con- teimo comum "erro", ligado aos diversos graus de paixão, e t
trarlOs. Numa filosofia d. praxis, a distinção certamente não que deve ser entendido não no significado moralístico ou dou-
será edntreos momentos do Espírito absoluto, mas entre os /1 trinário, mas no sentido puramente "histórico" e dialético "da- 1i
quilo que é historicamente caduco e digno de cair", no sentido
gra~s_ a ~up~restrutur~,.tratando-se, portanto, de estabelecer a da "não-definitividade" de cada filosofia, da "morte-vida", "ser- ~
poslçao dIalética da atiVidadepolítica (e da ciência correspon- não-ser", isto é, do termo dialético a superar no desenvolvi-
d~nte) como. de~erminado grau ~upe:estrutural. Poder-se-á
~lzer, como. pOIDelra aceno e aprOXImacaQ, Que. a atividade PQ.. mento.
O termo "aparente", uaparência", significa exatamente isto,
hhca é efehvamente O primeiro momento ou primeiro grau, o e nada mais que isto, e se justifica contra o dogmatismo: é a
momento em que a superestrutura está ainda na fa . , afirmação da caducidade de todo sistema ideológico, paralela-
de mera a Irmaçao vo un na, m Istmta e e cmentar,
Em que sentido pode-se IdenhÍ1car a ponhCa a História e mente à afirmação de uma validez histórica de todo sistema, c
da necessidade dele. ("No terreno ideológico o homem adquire
e, I:'0rtanto,toda a vida e a política? Como, em vista disso, todo consciência das relações sociais": dizer isto não é afirmar a
o slstem~das superestruturas pode ser concebido como distinções necessidade e a validez <Ias"aparências"?)
d~ pollhca e, po:ranto, justifique a introdução do conceito de A concepção de Croce ,da política-paixão exclui os partidos,
dlstinçao numa fdosofia da praxis? Mas pode-se falar de dia- já que não se pode pensar numa "paixão" organizada e perma-
lética dos contrários? 'Como se pode ent:nder o conceito de cír- nente: a paixão permanente é uma condição de orgasmo c de
culo entre os graus da superestrutura? Conceito de "bloco hiS'J)' espasmo, que determina incapacidade de execução. Exclui os
tórico", isto é, unidade entre a natureza e o espírito (estrutura partidos e exclui todo "plano" de ação concertado preventiva-
e supetestrutura), unidade dos contrários e dos distintos. mente. Todavia, os partidos existem, e planos de ação são ela-
Pode-se introduzir o critério de distinção também na es- borados, aplicados e muitas vezes realizados em medida notá-
trutura? Como se deverá entcnder a estrutura? Como no siste.
ma das relações sociaís será possível distinguir os elementos vel: há, portanto, um "vício" na concepção de Croce. Nem é
"técnica", "trabalho", uclasse", .etc.; entendidos historicamente,
preciso dizer que, se os partidos existem, isto não tem grandd

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importância "teórica", já que no momento da ação o "partido" Ao lado dos méritos do moderno "maquiavelismo", deri-
que alua não é o mesmo "partido" que existia antes. Em parte, vado de Croce, deve-se assinalar também os "exageros" e os
isto pode ser verdadeiro, todavia entre os dois "partidos" as
desvios a que deu lugar: Criou-se o hábito de considerar muito
coincidências são tantas que, na realidade, pode-se dizer que Maquiavel como o ."polltico em geral", como O "cientista da
se trata do mesmo organismo.
política", atual em todos os tempos.
Mas a concepção, para scr válida, deveria aplicar-se tam. :e necessário considerar mais Ma uiavc! como expressão
bém à "guerra" e, portanto, explicar a existência dos exércitos necessária o seu tempo c estreitamente I a o as con IÇ
permanentes, das academias militares, dos eorpos de oficiais. à XI sua poca, que resultam: 1) das utas mIem as
Também o ato da guerra é "paixão", a mais intensa e febril, é darepu Ica , ru u a rticular do Estado que
um momento da vida política, é a continuação, sob outras for. não sabia libertar-se dos resíduos comunais-municipais, isto é,
mas, de uma determinada política; é necessário, pois, explicar de uma forma estorvante de feudalismo; 2) das lutas entre os
como a "paixão" pode-se tomar "dever" moral, e não dever
Estados italianos por um equilíbrio no âmbito italiano, que er~
de moral politica, mas de ética.
dificultado pela existência do Papado e dos outros resíduos
Sobre os "planos políticos" ligados aos partidos como for- feudais, municipalistas, da forma estatal urbana c não territo-
mações permanentes, lembrar aquilo que Moltke dizia dos pIa- rial; 3) das lutas dos Estados italianos mais ou menos solidá-
nos militares: que eles não podem ser elaborados e fixados rios por um equilíbrio europeu, ou seja, das contradições entre
precedentemente em todos os seus detalhes, mas só no seu nú- as necessidades de um equilíbrio interno italiano e as exigên.
cleo e rasgo central, porque as particularidades da ação depen- cias dos Estados europeus em luta pela hegemonia.
dcm, cm certa medida, dos movimentos do adversário. A paixão
manifesta-se exatamente nos particulares, mas não parece que Atua sobre Maquiavel o exemplo da França e da Espanha,
que alcançaram uma poderosa unidade estatal territorial; Ma-
o principio de Moltke sej~ tal que justifique a concepção de
quiavel faz uma "comparação elítica" (para usar a expressão
Croce. Em qualquer caso, restaria por explicar o gênero de
crociana) e deduz as regras para um Estado forte em gcral e
"paixão" do Estado-Maior que elaborou o plano fria e "de-
sapaixonadamente" . italiano em particular. Ma uiavel é inteiramente um homem
da sua é oca; e a sua ClenCla o lttca represen a a I oso ia do

I
Se o conceito crociano da paixão como momento da polí.
seu-teniJ29; que teif e orgamzaçao as monarqUias naCIOnais
tica choca-se com a dificuldade de explicar e justificar as for-
absolutistas, a forma política que permite e facilita um desen-
mações políticas permanentes, como os partidos e mais ainda
volvimento das forças produtivas burguesas. Pode-se descobrir
os exércitos nacionais e os Estados-Maiores, uma vez que não
se pode conceber uma paixão organizada permanentemente sem
in nucc em l",faquja"el a separação dos poderes e o parlamCR-
tarismo (o regjme repre~tati¥o): a sua ferocidade dirige-se
que ela se torne racionalidade e reflexão ponderada, isto é, não
contra os resíduos do mundo feudal, não contra as classes pro-
mais paixão. a solução só pode ser encontrada na identidade
entre política e economia. A política é ação permanente e dá ~essistas. O Príncipe deve acabar. com a. anarquia feudal: e isto
é o que faz Valentino na Romanha, apoiando-sc nas classes
origem a organizações permanentes, na medida em que efetiva-
produtoras, mercadores e camooneses. Em virtude dó caráter
mente se identifica com a economia. Mas esta também tem sua
militar-ditatorial do chefe do Estado, como se requer num pe-
distinção, e por isso pode-se falar separadamente de economia
ríodo de luta para 3 fundação e a consolidacão de um novo
e de política e pode-se falar da "paixão política" como .um
poder, a indicação de classe contida na A r/e del/a guerra deve
impuiso imediato à ação, que nasce no terreno "permanente e
ser entendida também para a estrutura do Estado cm geral: sc
orgânico" da vida econômica, mas supera-o, fazendd entrar em
as classes urbanas pretendem terminar com a desordem interna
jogo sentimentos e aspirações em cuja atmosfera incandescente
e a anarqUia externa devem C!poiar-sc nos camponeses como
o próprio cálculo da vida humana individual obedece a leis
massa, constituindo uma força armada sep;ura e fiel de tino
diversas daquelas do proveito individual, etc.
.inteiramente diferente daquelas de ocasião. Pode-se dizer que a
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/5
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concepção essencialmente política é de tal forma dominante em ponto dc vista do interesse nacional, de um equilibrio interno
Maquiavel que o leva a cometer erros de caráter militar: ele das classes, de modo que a hegemonia pert~nça ao Terceiro
pensa especialmente na infantaria, cujas massas podem ser ar- Estado através do monarca. Parece-me evid~nte que classificar
roladas com uma ação política e por isso desconhece o signifi- Bodin entre os "antimaquiavélicos" seja questão absolutamente
cado da artilharia. extrínseca e superficial. Bodin funda a ciência política na
Russo (em Pro/egomeni a Machiavelli) observa justamen- França num terreno muito mais avançado e complexo do que
te que a Arte della guerra integra o Príncipe, mas não extrai aquole oferecido pela Itália a Maquiavcl. Para Bodin, não se
todas as conclusões da su~ observação. Também na Arte della trata de fundar o Estado unitário-territorial (nacional), isto é,
guer~a Maquiavel deve ser considerado como um político que de retornar à época de Luís XI, mas de equilibrar as forças
precisa ocupar-se da arte militar: o seu unilateralismo (com sociais em luta dcntro desse Estado já forte e enraizado; não
outras "curiosidades", como a teoria da falange, que dão lugar é o momento da força que interessa a Bodin, mas o do consen.
a fáceis chalaças como aquela mais difundida extraída de Ban- 50. A monarquia absolutista te.nde a se desenvolver com Bodin:
delIo) depende do fato de que a questão técnico-militar não O Terceiro Estado tem tal consciência da sua força e da sua
constitui o centro do seu interesse e do seu 'le dignidade, sabe tão bem que a sorte da monarquia absoluta
tra a e a a enas na me Ida em que é necessária para a sua está ligada à sua própria sorte e ao seu próprio desenvolvimen-
constryç.ão-!,ohtIca. as nos r e e a guer!9 deve ser to~ que impõe condições para o seu consentimento, apresenta
11gãda ao PuÍJrcipe; também Isto,,' iórennhB, qüe deve efetiva .. exigências, tende a limitar o absolutismo. Na França, Maquia.
mentc servir para uma análise das con lções reais italianas e vel já servia .u reação, pois podia ser utilizado para justificar
européias das quais derivam as exigências imediatas contidas que se mantivesse o mundo no "berço" (segundo a expressão
no. Príncipe. de Bertrando Spavcnta); portanto, era necessário ser "pokm;.
De uma concepção de Maquiavel mais aderente aos tem- camente" anti maquiavélico .
pos deriva, subordinadamente, uma avaliação mais historicista Deve-se notar que na Itália estudada por Maquiavel não
dos chamados "antimaquiavélicos", ou, pelo menos, dos mais existiam instituições representativas já desenvolvidas e signifi-
"ingênuos" entre eles. Na realidade, não trata de antima~ cativas para a vida nacional como as dos Estados Gerais na
q~i~vélicos, mas de olítIcos que expnmem exigências a su França. Quando, modernamente, se observa. de modo tenden-
época ou de condlçoes Iversas a ue as ue lU re cioso, que as instituições parlamentares na Itália foram impor.
Ma lave: a arma po emlca e uro aCI ente ,terário. O exem- tadas do exterior, não se leva cm conta que isto reflete apenas
pICO es es an ImaqUlav cos parece-me Jean Bodin uma condição de atraso e estagnação da história política e social
(1530-1596), que foi deputado dos Estados Gerais de Blois, italiana de I 500 a I 700; condição que se devia em grande
em 1576, e levou o Terceiro Estado a recusar os subsídios so- parte à predominância das relações internacionais sobre as re.
licitados para a guerra civil.' lações internas, paralisadas e entorpecidas. O fato de que a
estrutura est~tal italiana, em virtude da predominância estran-
Durante as guerras civis na França, Bodin é o expoente do
terceiro partido, denominado dos "políticos", que defende o geira, tenha permanecido na fase' semifeudal de um objeto de
suzeraineté estrangeira, seria talvez "originalidade" nacional
1 Obras de BODJN: Methodus ad faellem histor;oNJm cognitlonom destrurda pela importação da, formas parlamentares que, ao
(15tH'), onde assinala a influência do clima sobre n forma dos Estados contrário dão uma forma ao processo de libertação nacional?
acc:n:\ para um~_ idéi:l de progresso, etc.j RJpublique (1576), ond~ 'E à passagem ao Estado territorial moderno (independente c
expnme as opimoE:'s do Terceiro Estado sobre a monarquia absoluta e naciona!)? No mais, especialmente no Sul e na Sicília, existiram
115 su:!s relações com o povo; Heptaplomere$ (inédito até a época mo-
derna), em que examina todas as religiões' o justifica.as como expres- instituições representativas, mas Com caráter muito mais restrito
sões diversas das reli~lões naturais, as únicas razoáveis, e todas igual- do que na França, em virtude do pequeno desenvolvimento do
mente dignas de respeito e de tolerincia. Terceiro Estado nestas regiões. Isto levava a que os Parlamen-
16 17
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tos fossem utilizados como instrumentos para manter a anar- ticas boseia - neste fato rimordial, irreduzivel (cm certas
quia dos barõcs contra as tcntativas inovadoras da monarquia, n 'çoes gcrais). As origens este a o eonstituem um pro.
a qual devia apoiar-se nos "maltrapilhos", na ausência de uma blema cm si, que deverá ser cstudado em si (pelo menos podcr-
burguesia,' S compreensivcl que o programa e a tendência a se-á e dever-se-á estudar como atenuor c eliminar o fato, modi-
ligar a cidadc ao campo pudessem ter apenas uma expressão ficando certas condições identificáveis como atuontcs neste sen-
mililar, sabendo-sc que O jacobinismo francês seria inexplicável tido), mas permanece o fato de que existem dirigentes c dirigi-
sem o pressuposlo da cultura fisioerática, com a sua demons- dos, governantes e governados. Em virtu"de...disto,--resta ver a
tração da importância econÔmica e cultural do agricultor. As possibilidade de como diri ' odo mais cficaz.(dadõS'Cer-
teorias econÔmicas dc Maquiavel foram estudadas por Gino tos ~s, e ,como prepar~r_~E!h_o_r~aneira~çs di~i~.n!~s
Arias (cm Annali d'Economia da Universidade Bocconi), mas tC--ri,sto rcc,samente .cons,ste a nme.lra seção -da ciencl9 e
é preciso verificar se MAqlliavel teve teorias econômicas. Tra- ar e po ,lIcas , e co a !ll$ de
Ia-se de ver se a linguagem essencialmente polftiea de Maquia- ITleTl nela ou tOcl0Áois lora alc:mçar a obcdiênci2-dos
vcl pode ser traduzida em termos econÔmicos, e a qual sistema diTlWUos ou g2ver.!!.ados. O or - e o diri ente, é funda-
ceonÔmico pode ser reduzida. Ver se Maquiavel •. que viveu no mentai a premissa' nde.se ue xistam sem r os
período mercantilista, pOliticamente precedeu os tempos e an- e n es ou retende-se criar as cond' õe e 1 a
tecipou algumas exigências que posteriormente cncontraram sua necess, a c ess' Isto é, p~se_da...prjl-
cxprcssão nos fisiocratas." mIssa a 'VIsão perpétua do gênero humano,-oil crê-sequc.cla
E/ementar de nolltica. Devc-sc dizer que os primeiros ele- ê apenas um talo Iilslónco,. corresponaente. a certas condições?
mentos a serem esquccidos foram exatamcnte os primeiros ele- EíítrclantÕ;-devc~ever -claiáiTiente que aé:livisão entre gover.
mentos, as coisas mais elementares; estas, por outro lado, re- nados e governantes, embora, em IÍltima análise, refira-se a uma
petindo-sc infinitas vezes, transformam-se nOs pilares da política divisão de grupos sociais, todavia existe, em virtude da forma
e de qualquer aç!o coletiva, como as coisas são, também no seio do mesmo grupo, inclusive
Pnmello elemento é a 'xif'ência-Iea! de go,YCmados e socialmente homogêneo; pode-se dizer, em certo sentido ue
esta divisão é uma cria ão a
governantes, dtrlgent~igidos.
1
----- Toda a ciência e 8riêjiõlf-
~-
H('conlaf o estudo de ANTONIO PANELLA, ClI antimachiavelllci. pu.
hlicIH10 no Marzocco de 1927 (ou tomb~m em 2A?, em onze nrtil{os);
técnico. Espeeu am so re esta coexistência de motivos todos
orqiíe vêem em tudo apenas "técnica", neeessidade "técnica",
etc., para não propor-se o problema fundamental,
ohservnr como Panclla ju]~a Bodin em confronto co.m Maquiavel e
como o problema do antimnquinvcllsmo é apresentado em geral. (Os
Dado que no mesmo grupo existe a divisão entre gover-
primeiro!; trê~ nrti~os foram publicndos em 1926, os outros em 1927. nantes e governados, é necessário fixar alguns principios inder-
-~.cI.) rogáveis. Exatamente neste terreno oeorrem os "erros" mais
:z Housseml teriu sldu posslvel sem n cultura Eblocmtlen? N8.o mo PQ~ graves, isto é, manifestam-se B~ incapacidades mais criminosas,
rr'C{, justo afirmar que os fisiocrntas tenham representado meros intq-
mais difieeis de endireitar, Crê-se que, éstabrlecido o principio
n'sscs ngrico!a!: c C'Juc s6 com n economia dósslca aftrmem~se os, {ote ..
rl'sses do capitalismo urhnno, Os fisiocrntns representam a ruptura do mesmo grupo, a obediência deva ser automática, deva ocor-
C'Olllo mercantilismo c com o re~ime das corporações e constituem uma rer sem necessidade não s6 de uma demonstração de "necessi-
[nsc pnm se chc~ar Õ. ~conomla c1ósslca, Mas. exatamente por Isso. pa- dade" e racíonalidode, mas seja indiscutível (alguns pensam, c
TPcc-mc que eles rC'prescntam uma sociedade futum muito mais com- isto é o pior, que a obediência "virá" sem ser solicitada, sem
Jlle~n do que aquela contm o qual combatem e do que aquela que
rC'snltn,imcdlatamente das suas afinnaç6es. A sua lfnJtUn~em está bllS" que seja indicado o caminho a seguir). Assim, é dificil extirpar
tllnle hgndn à ~pocn e exprime a .contradição imediata entre cidade e O, cadQmismo dos djrigentes. isto é. a C9DyjcçâÕ de que uma
c:'tmpa. mas faz prever um alargamento do capitalismo na direçft.o da eOisa selá feita porque o di . sidera justo e racional
a~rlculturo. A fórmula do "deixar fazer, deixar passar", isto é, da J1~ que e 1 I. e uao é feita, "a culpa ançada sobrc
berdade industrial c de iniciativa, não estll cerbmente li~ada a inte-
reSses ap;n\rlos, quem "deveria lazê-Ia", etc. Desse modo, torna-se dificil extir-

18 19

\
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p~r o hábito criminoso do desleixo em evitar os sacrifícios inú- pressupõe cada ato como o momento de um processo complexo,
tels. Entretanto, o senso comum mostra que a maior parte já iniciado e que continuará. A responsabilidade deste processo,
dos desast~es coletivos (políticos) ocorrem por não ter-se pro- de ser ator deste processo, a solidariedade para com forças
curado eVItar o sacrifício inútil, ou porque se mostrou não materialmentc "ignotas", mas que apesa~ disso revelam-se ope-
l~var em cont~ o sacrifício dos putros, jogando-se com as .sua~ rantes e ativas e que são levadas em conta eomo se foss~m
vIdas. Todos Já ouviram oficiais que estiveram nas trincheiras "materiais" e presentes corporalmente, é o que se denomma
contar ~omo real~ente os soldados arriscavam a vida quando exatamente, em certos casos, "espírito estatal". É evidente que
era maIS nece~sárlO. Mas como, ao contrário, se rebelavam tal consciência do "tempo" deve ser concreta, e não abstrata,
quando se sent~a~ aban~onados. Por exemplo: uma companhia em certo sentido, não deve ultrapassar determinados limites.
er.a cap~z de Jejuar mUItos. dias quando sabia que os víveres Admitamos que os limites mais estreitos ~ejam uma ger.ação
nao pod!am chegar por motIvo de força maior; mas amotinava-. precedente e uma geração futura, o que nao é poueo, PO's as
se ~e nao recebesse -apenas uma refeição por desleíxo buro- gerações serno avaliadas, não a contar u!: trinta anos antes c
cratIsmo, etc. ' trinta anos depois de hoje, mas orgânicamente, em senti~o. his-
tórico, o que em relação ao passado, pelo menos, é faclI ~e
. ~~te pri~cípio estende-se a todas as ações que exigem compreender. Sentimo-nos solidários com os homens que hOJe
sacn!lclOs. EIs por que antes de tudo é sempre necessário,
são velhíssimos e que para nós representam o "passado" que
d~~OlS de q?alquer revés, examinar as responsabilidades dos
ainda vive entre nós, que deve ser conhecido e examinado, pois
~mgent~s" e ISto num sentido restrito (por exemplo: .uma frente é ele um dos elementos do presente e das premissas do futuro;
e conslItUlda de muitas seções, e cada seção tem os seus diri- e com as crianças, com as gerações que estão nascendo e cres-
gent,:s: E possível que os responsáveis por uma derrota sejam
cendo, pelas quais somos responsáveis. (t outro o "culto" ~a
os dIrIgentes de uma seção, mas trata-se de mais e de menos
"tradição" que tem um valor tendencioso. implica uma opçao
porém jamais de exclusão de responsabilidades para qualque; e um obj~tivo determinado, baseia-se numa ideologia.) Mas,
um) .
se se pode afirmar que um "espírito estatal" rlssim compreen~
. Estabelecido o rincí ia de que existem diri .dose diri- dido está em tudo, é necessário lutar permanentementewntra
gentes, governantes e governa os ven Ica-se ue os "partidos" deformações ou desvios que nele se manifestam.
maIS a.Q.~quadop.!ruw elcoa.r os m-
O "gesto pelo gesto", a luta pela luta, etc., e especialmente
~ntes e a capael a e de diresªº_ (os partidos podem-se apre-
sen!àr ~oll os nomes maIs diversos, mesmo sob o nome de o individualism6 estreito e mesquinho, que não passa de uma
antlpartido e de "negação dos partidos"; na realidade até os satisfação capriehosa de impulsos momentâneos. etc. (Na rea.
chama.dos "ind!,vidualistas" são homens de partido, só ~ue pre- Iidade, O ponto é sempre aquele do "apolitiei,mo" ita~ia~o,. que
tende~,~m ser chefes de partido" pela graça de Deus uu pela assume esla:s várias formas pitorescas e bizarras.) O mdIvldua-
ImbecIlIdade dos que os seguem) . lismo é apenas apoliticismo animalesco, o sectarismo é "apoli-
ticismo". Efetivamente, se se observar bem, o seetarismo é uma
" pesenvolvi~ento do conceito geral contido na expressão
esp!nto :stat~l . Esta expressão tem um significado bastante forma de "clientela" pessoal na medida em que cstá ausente o
pr~clSO, hlStoncamente determinado. Mas, surge o problema:
eXIste alg<;>semelh~~te ao qu; se .denomina "espírito estatal"
espírito de partido, elemento fundamental do "espírito estatal".
Demonstrar que o espírito de partido é o elemento fundamental
do espírito estata! é um dos argumentos mais elevados a serem .
Y
~u~ . mov.lmento seno, que nao seja .a expressão arbitrária de
mdlVlduabsmos mais ou menos justificados? Contudo o "espírito sustentaâos e da maior importância; vice-versa, o "individua-
estatal" pressupõe a continuidade, tanto no que s~ refere ao lismo" é u~ elemento animalesco, "apreciado pelos forastciros'\
passado, à tradição, como no que se refere ao futuro. Isto é: como os atos dos habitantes de um jardim zoológieo.

20 21

___ e
' .••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
. -apur!ido polilico .• Afirmou-se que o prota onista do novo
a nenhuma das frações, mas opera como se fosse uma força
Pnnelpe n~o poder!a ser, na época moderna, um her I pess a,
~nas o partido político. Isto é: sempre e nas diferentes relações dirigente superior aos partidos e às vezes reconhecida eomo tal
Internas das diversas nações, áquele deiermlllado partido que pelo público ,. Esta função pode ser estudada com maior pre-
pJ!tendc (e está raCIOnale histoncamente destinado a este fim) cisão se se parte do ponto de vista de ue um jornal (ou um
lunêlãt Um)lOVOtipo de Estado. grupo de 'ornais uma revista ou um ru o e revistas , sao
tam m e es "partido n 11 - es de artido" ou "fun£~ e
- £ n~c~ssãflo o?se~var como nos regimes totalitários a fun- um determmado partido". Veja.se a unçao o Times na ln-
çao tradICional do msUtuto da Coroa é, na realidade absorvida
por um determinado partido, que é totalitário exatat'nente por. gIaterra, a que teve o Corriere de/la Sera na Itália, c também
que assume tal função. Embora cada partido seja a expressão a função da chamada "imprensa de informação", supostamente
de um ru soci~l _e de um s6 giupo soclãl, ocorre que, em "ap~lltica", e até a função da Imprensa esporÚva e da Imprensa
defernnDa as condJçoes, {' eimtfi'D.d~~laos representam .Jum técnIca. De resto, o fenÔmeno apresenta aspectos interes-
gr~pO social .na mCdldã em que exercem uma funSão de equilí- santes nos países onde existe um partido único e totali-
bno e de arbitragem entre os interesses do seu grupo e os outros tário de governo; pois tal partido não desemi'enha mais
funções simplesmente políticas, mas s6 técnicas, de propaganda,
~p~ e na medu!a em qUMmscam-fazerCOm que o desenvol-
Vlmen o do 8.rupo representado se lfr.Q::Coemom o consentjmen .• de polícia, de influênciá moral e cultural. A função política é
indireta, poia se não existem outros partidos legais, existem
to ~ ~m a ajuda dos grupos aliados, e muitas vezes .c!QL8I1!pos
de.clclidamcnte Immlgos. A formula conslttucional do rei ou do sempre outros partidos de fato e tendências legalmente incoer-
pre'rtcl~nt.e.Clã republica que "reina mas não governa" é a f6r- cíveis, contra os quais a polêmica e a luta é travada como se
num jogo de cabra-eega. De qualquer modo, é certo que em
mula !ufldlca qu~ exprime. est~ fu~Ção de arbitragem e a preo-
cupaça~ dos par!ldos conslltuclonBlS de não "descobrir" a eoroa tais partidos. as funções culturais predominam, dando lugar a i
ou presIdente; as f6rmulas sobre a não-responsabilidade para os uma linguagem política de jargão: isto é,. as questõe~ pol!tic~s
ato~ .governa':"~ntai.s do .chefe de Estado, mas sobre a respon- revestem-se de formas culturais e como tal se tornam Insoluve,s.
sablhdade mlnlstc:.naJ, sao. a easuística do princípio geral de Mas um partido tradicional tem um caráter essencial "indi.
tutela da concepçao da umdade estatal e do consentimento dos reto": apresenta-se explicitamente como puramente "educativo"
(lucus, etc.), moralista, de cultura (sic). E. o movimento li.
governados à ação estatal, qualquer que seja o pessoal imediato
do governo e o seu partido. bertário. Inclusive a ehllmada ação direta (terrorista) é con.
cebida como "propagarida" através do exemplo. A partir' dai
No. ~aso do partido totalitário, estas f6rmulas perdem o
seu slgnl~cado, levando à minimização do papel das instituições
é possível ainda reforçar a opinião d~ que o movimento l~ber.
tário não é autÔnomo, mas vive à margem dos outros parhdos,
que !unclO~avam segundo as referidas f6rmulas; mas a pr6pria
"para educá-los". Pode-se falar de um "libertarismo" inerente
funçao é Illcorporada pelo partido, que exaltará o C9)1c,ito
a cada partido org6nico. (O que são os "Hbcrt~rios intelectnai5:
abstr~to de "Estadp" e procurará de várias maneiras dar a lID-
ou cerebrajs" se não um aspecto desse "marginalismo" em rela..
p~essao de que a função de "força imparcial" eontinua ativa e
efiCaz. ção aos grandes partidos dos grupos sociais dominantes?) A
pr6pria "seita dos economistas" era um aspecto hist6rico deste
Será necessária a ação política (no scntido estrilo) para fenÔmeno.
que se possa falar de "p.artido político"? Observa-se que no
Portanto, apresentam-se duas formas de "partido" que,
mundo mo?erno,. e.m. mUitos países, os partidos orgãnicos e como tal, ao que parece, fazem abstração da a âo olíf . e-
fundamentBls s: diVIdrram, por necessidade de luta ou por qual-
diata: o artido constituído ma . ,te e homens de cultura,
qu~r o~tra r~zao, em fra.ÇÕe~que assumiram o nome de "parti- que têm a n o e trIglf o , da
do e, mcluslve,. de .partldo mdependente. Por isso, muitas ve-
i Oogla ger um an e m n ar 1 os a I rea.
zes o Estado-MBlor Illtelectual do partido orgânico não pertence
li e, aç es de um mesmo parh no P~IO o
22
23
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mais recente, O partido de não-élile, mas de massas, que .como partido terá maior ou menor significado e pcso na medida em
massas não têm alilra ftmçãa l'oHtica que a de uma fidelidade que a sua atividade particular pese mais 011 menos na determi-
gen nem ar, a u I e I1visi- nação da hist6ria de um país.
-Y£!.jJreqüentemente O cen r o mecanismo de coman-
do de forças que não desejam mostrar-se a plena luz, mas ape- Dessa forma, chegamos à conclusão de que do modo de
nas operar indiretamente por interposta pessoa e por "inter- escrever a hist6ria de-um partido resulta o conceIto que se tem
posta ideologia"), A massa é simplesmente de "manobra" e é . daqUilo que é e deva .•er um partido, O sectáno exaltariõs
"conquistada" com pregaçoes moraIS, estímulos sentimentais, pequenos fatos internos, que terão para ele um significado eso-
mitos messiânicos de expectativa de idades fabulosas, nas quais térico, impregnando-o de um entusiasmo místico; o historiador,
todas as contradições e misérias do presente serão automatica- mesmo. dando a cada coisa a importância que tem no quadro
mente resolvidas e sanadas. geral, acentuará sobretudo a eficiência real do partido, a sua
Para se escrever a hist6ria de um partido político, é neces- força determinante; positiva c negativa, a sua contribuição para
sário enfrentar toda uma série de problemas muito menos sim- criar um acontecimento e também para impedir que outros
ples do que pensa, por exemplo, Roberto Michels, considerado acontecimentos se verifiquem.
um especialista no assunto. O que é a hist6ria de um partido? O desejo de saber exatamente quando um partido se for-
Será a mera narração da vida interna de uma organização polí- mou, isto é, quando assuiniu uma missão precisa e permanente,
tica? Como nasce, os primeiros grupos que a constituem, as dá lugar a muitas discussões e freqüentemente gera também uma
polêmicas ideol6gicas através das quais se elabora o seu pro- forma de baz6fil! que não é menos ridieula e perigosa do que a
grama e a sua concepção do mundo e da vida? Tratar-se-ia, "baz6fia das nações", à qual Vicose refere. Na verdade ode-
neste caso, da hist6ria de grupos intelectuais restritos, e algumas se dizer ue um artido 'amais se com Ie _
vezes da biografia política de um individuo. Logo, a moldura ti_o e que cada desenvolvimento cria novas misii.gese en>MgOS
do quadro deverá ser mais vasta e compreensiva. e no- senbao de que, para determinados partidos, é verdadeiro
Dever-se-á escrever a hist6ria de uma detenninada massa
de homens que segniu os promotores, amparou-os com a sua
o" palad~o de ire e~essó se completam e S.e !or';llam Quando
deixam e eXls Ir, IS o é, uando a sua eXIstencla se tornou
confiança, com a sua lealdade, com a sua disciplina, ou que os lüs Orl e mu. SSlm, como ca a par I o nao mais
criticou "realisticamente", dispersando-se ou pennanecendo que uma nomenclatura de classe é eVidente ue, ara o aruoo
passiva diante de algumas iniciativas. Mas, será esta massa cons- que se prop e anular a divisão em classes, a sua perfeição e
tuida apenas pelos adeptos do partido? Será suficiente acompa- acabamento consIste e - " a's ar ue 'á não existem
nhar os congressos, as votações, etc., isto é, todo o conjunto c asses e, portanto, a sua expressão. Mas, no caso presente, re-
de atividades e de modos de existir através dos quais uma massa fenmo-nos a um momento particular deste processo dc desen-
de partido manifesta a sua vontade? Evidentemente, será neces- volvimento: ao momento posterior àquele em que um fato pode
sário levar em conta o grupo social do qual o partido é expressão existir e pode não existir, no sentido de que a necessidade da
e setor mais avançado. Logo, a histÓria de um ~a~do não po- sua existência ainda não se tornou "peremptória", mas depende
derá deixar de ser a história de lJm-detet:m-iD-adô grupo S0.Q31. em "grande parte" da existência de pessoas de extraordinário
Mas este grupo não é isolado; tem amigos, afins, adversários, poder volitivo e de extraordinária vontade.
inimigos. S6 do uadro complexo de todo o. conjunto ~ocial e Em que momento um partido torna-se historicamente "ne-
estatal. (e ire üentemen e . aIs re- cessário"? No momento em que as condições do seu "triunfo",
su tar a 'st6ria de um eterminado-PlU'ti o, --e da sua infalível transfonnação. em Estado estão, pelo menos,
aizer que escrever a história de um partido significa exatamente em vias. de formação e levam a prever nórmalmente o seu de-
'Bcrever a históna eral de um ais de um onto de. vista senvolvimento ulterior. Mas quando é .possível dizer, em tais
monogr ico, destacando um seu, aspecto caraclenstico. m condições, que um partido não pode ser destruído por meios
24 25
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
j.i.i.~.
"

norma}s! Para responder a isto é necessário desenvolver um


segundo elemento não existe, todo raciocínio é vazio), mesmo
r~cJOclm~,Para que um partido exista é obri2Atória a conflnên-
dispersas, os outros dois inevitavelmente devem-se formar; o
cla de tres elementos fundamentais (três gOlpes de elementos)'
primeiro, que obrigatoriamente forma o terceiro como continua-
. ~. ym elemento difuso, de bomens comuns, médios,. cuj~ ção dele e seu meio de expressão.
, . é oferecida ela disci r
partlclpaçao "- ao Para que isto ocorra é preciso que se tenha criado a con.
~e la ar e a tamente organ ',Lativo, Sem eles o par- vicção férrea de que uma determinada solução dos problemas
t~do nao eXIStina, é vcrdade; mas também é verdade que o par- vitais torna-se necessária. Sem esta convicção não se formará
tIdo também não existiria "somente" com eles. Eles constituem o segundo elemento, cuja destruição é mais fácil em virtude do
um~ força. n~ O?edida em que existc algo quc os centraliza, ar. seu número escasso; mas é necessário que este segundo elemen-
ga~lza e dlsclph,na; mas na ausência dessa força eles se disper- to, se destruIdo, deixe como berança um fermento a partir do
sanam c anularIam numa poeira impotente. Não se nega que qual volte a se formar. E este fermento subsistirá melbor, e
cada UJ12desses elementos pode-se transformar numa das forças'
ainda melhor se formará, no primeiro e no terceiro elementos,
d~ coes~o; ma~ fala~os deles exatamente no .momento em que que se homogenizam mais com o segundo. Em virtude disso,
nao o ,sao e nao .estao eO? condições de sê-lo, e se o são é só a atividade do segundo elemento para constituir este elemento
num cuculo restnto, pohllcamente ineficiente e inconseqilente. é fundame!)tal. O critério para se julgar este segundo elemento
'2 . O elemento de coeslle pRReipal, que centraliza no deve ser procurado: 1) naquilo que realmente faz; 2) naquilo
campo naCIonal, que torna ef!ciente e poderoso um conjunto de
forças qu~, abandonadas a SI mesmas, representariam zeró ou
que prepara na hipótese da sua destruição. e difícil dizer qual
entre os dois fatos é o mais importante. Já que na luta deve-se
pou~o maIs; es!e elementu é dotado de 'uma fôrça altamente sempre prever a derrota, n preparação dos próprios sucessores
~oesl~a ce~trahzadQra e djscjplinadora e, também, talvez por é um elemento tão importante quanto tudo o que se faz para
ISto, mvenllva. (se se .entende "inventiva" em' certo sentido, se.
vencer,
gundo determmad~s hnhas de força, determinadas perspectivas,
e também _determm~das pre~issas), ~ verdade que, só, este A propósito da "bazófia" do partido, pode-se dizer que
cle:nento nao for~an~ o partIdo, embora servisse para formá-lo ela é pior do que a "bazófia das nações", à qual Vico se refere.
~a!s do que o l?nmeuo elemento considerado." Fala-se de ca-, Por quê? Porque uma nação nAo pode não existir, e no fato
plt~e~ sem exérCIto, mas, na realidade, é mais fácil formar um de que ela existe é sempre possível, mesmo recorrendo à boa
~xerc~to do que capitães. Tanto isto é verdade que um exército vontade e 'solicitando os textos, achar que a existência é plena
J~ e~lstente é destruído se faltam os capitães, enquanto a exis. de destino e de significação. Um \'artido, ao contrário, Jlãl1
tenCla de .um grupo de capitães, unidos, de aCOrdo entre eles, pode existir por força própria. ]anuns devemos ignorar quc, na
c?m obJetIVOscomuns, não demora a formar um exército, inclu- luta entre as nações, cada uma delas tem interesse em que, a
sive onde ele não existe. . outra se enfraqueça através das lutas internas e que os partidos
3. Um elemento médio, que articule o primeiro com o são exatamente os elementos das lutas internas. Portanto, no que
segundo ele~:ntoJ colocando_os em contato não s6 Cifísico", se refere aos partidos é sempre posslvel perguntar se oles exis-
mas moral e mtelectual. Na realidade, para cada partido exis- tem por força própria, como necessidade intrínseca, ou se exis-
tcm i:p~?p~rçocs definidas" entre estes elementos, e o máximo tem apenas em virtude de interesses outros (efetivamente, nas
d~ eflcl~ncla é alcançado quando tais "p"'porções definidas" polêmicas, este ponto jamais é esquecido; ao contrário, é moti.
sao reahzadas. vo de insistência, especialmente quando a resposta não é dúbia,
_ Dadas estas considerações, pode-se dizer que um partido o que significa gue é levado em conta e suscita dúvidas). :£
nao pode scr destruido por meios normais quando, existindo claro que quem se deixasse torturar por essa dúvid~ seria um
necessana~en~e o segund~ elemento, cujo nascim~nto está liga- tolo. Politicamente, a questão só tem um relevo momentaneo.
do à eXlstencla das condIções materiais objetivas (e, se este Na história do chamado princípio de -nacionalidade, as inter:
venções estrangeiras a favor dos partidos nacionais que pertur-
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_____________________________ ...L _
••••••••••••••••••••••••• ••••••••••••••••••••••• 1

bavam a ordem interna dos Estados antagonistas são numero- cionária: progressista quando tende a manter na órbita da lega-
sas, tanto que quando se fala, por exemplo, da polftica "orien- lidade as forças reacionárias alijadas do poder e a elevar ao
tal" de Cavour, pergunta-se se se tratava de uma "política", nível da nova legalidade as massas atrasadas. E reacionária
isto é, de uma linha de ação permanente, ou de um estratage- quando tende a comprimir as forças vivas da História e a man- i
ma momentâneo para enfraquecer a Áustria, tendo em vista ter uma legalidade ultrapassada, anti-histórica, tomada extrín- ,
1859 e 1866. Assij11, nos movimentos mazinianos de 1870 seca. De resto, o funcionamento de um determinado partido
(exemplo, o fato Barsanti) vê-se a intervenção de Bismarck fornece critérios discriminantes: quando o partido é progressista
que, em virtude da guerra com a França e do perigo de uma funciona "democraticamente" (no sentido de um centralismo
aliança !talo-francesa, pensava enfraquecer a Itália com con- democrático); quando o partido é reacionário funciona "buro-
flitos internos. Também nos acontecimentos de 1914, alcuns craticamente" (no sentido de um centralismo burocrático). No
vêem a intervenção do Estado-Maior austríaco, preocupado ~om segundo caso, o partido é pUTOexecutor, não deliberante: então
a guerra que estava para vir. Como se vê, os casos são nu- é tecnicamente um órgão de polícia, e o seu nome de "partido
merosos, e é necessário ter idéias claras a .respeito. Admitindo- político" é uma pura metáfora de caráter mitológico.
se que, quando se faz qualquer coisa, sempre se faz o jogo de
alguém, o importante é procurar de todos os modos fazer bem
o próprio jogo, isto é, vencer completamente. De qualquer for- Industriais e agricultores. Têm os grandes industriais um
ma, é necessário desprezar a "bazófia" do partido e substituí-la partido político permanente próprio? Na minha opinião, a res-
por fatos concretos. Quem substitui os fatos concretos pela posta deve ser negativa. 0urandes industriais utilizam alter-
bazófia, ou faz a política da bazófia, deve ser indubitavelmente nadamente todos os artidos extstentes, mas n o te UL.p.ar-
suspeito de pouca seriedade. Não é necessário acrescentar que, ti o pr no . ar isso eles não ao lutamente "a . s"
no que se r~fere aos partidos, é preciso evitar também a aparên- Oli a o ticos : o seu interesse é um e uilíbrio determinado,
cia "justificada". de que se esteja fazendo o jogo de alguém, a me e refor ando com os seus meios, alterna-
especialmente se este alguém é um Estado estrangeiro; se de- damente, este ou agude parll o o a u el po t lCO exce-
pois ainda se especular sobre isso, ninguém pode evitá-lo. ção, entenda-se, do (mico parlldo antagonIsta, CUIareforça menta
E difícil afirmar que um partido político (dos grupos do- não pode ser ajudado nem mesmo por manobra tática). En-
minantes, e também de grupos subalternos) não exerce funções tretanto, se é verdade que isto ocorre na vida "normal", nos
de polícia, isto é, de tutela de uma determinada ordem política casos extremos, que afinal são aqueles que contam (como a
e legal. Se isto fosse demonstrado taxativamente, a questão d~- guerra na vida nacional), o partido dos industriais é o mesmo
veria ser colocada em outros termos: sobre os modos e as dire- dos agricultores, os quais, ao contrário, têm um partido perma-
ções através dos quais se exerce essa função. O sentido é re- nente. Poue-se exemplificar esta nota com a Inglaterra, onde
pressivo ou difusivo, isto é, reacionário ou progressista? Um O Partido Conservador absorveu o Partido Liberal, tradicional-
determinado partido exerce a sua função de polícia para con. mente considerado como o partido dos industriais.
servar uma ordem externa, exirínseca, cadeia das forças vivas
da História, ou a exerce num sentido que tende a levar o povo A situação inglesa, com as suas grandes Trade Unions,
a um novo nível de civilização, da qual a ordem política e legal explica éste fato. Na Inglaterra não existe formalmente um
é uma expressão programática? Efetivamente, uma lei en. partido adversário dos industriais em grande estilo, é certo; mas
contra quem a infringe: 1) entre os elementos sociais reacio- existem as organizações operárias de massas, e viu-se como elas,
nários que a lei destronou; 2) entre os elementos progressistas nos momentos decisivos, transformaram-se constitucionalmente
que a lei comprime; 3) entre os elementos que não alcançaram de baixo para cima, rompendo o invólucro burocrático (exem-
o nível de civilização que a lei pode representar, Portanto, a plos, em 1919 e 1926). Além do mais, existem estreitos inte-
função de polícia de um partido pode ser progressL.ta ou rea. resses permanentes entre agricultores e industriais (especialmen-

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I •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

le agora que o protecionismo se tornou geral, agrícola e Indus-


determinados movim tos c si mesmos a enas com~~'uis-J
trial); e é inegável que os agricultores são "politicamente"
muito melhor organizados do que os industriais, atraem mais. os
margmais: pressupõem um movimento princtpa no qua se in- ':!.
serem para reformar determmados males, pretensos ou verda-
intelectuais, são mais "permanentes" nas suas diretrizes, etc. A deiros; ISto é, sao mOVImentos puramente refQmlI~S.
sorte dos partidos "industriais" tradicionais, como o "liberal-
radical" inglês e o radical francês (que sempre se diferenciou Este princípio tem importância política porque a verdade \
muito do primeiro), é interessante (da mesma forma que o teórica de que cada classe possui apenas um partido é demons-
"radical iialiano'~, de boa memória). O que representavam eles? trada, nos momentos decisivos, pela união em bloco de agrupa-
Um conjunto de classes, grandes e pequenas, e não apenas uma mentos diversos que se apresentavam como partidos "indepen-
classe, Daí surgirem e desaparecerem freqUentemente. A dentes". A multiplicidade existente antes era apenas de caráter
"reformista", referia-se a que~tões parçiais. Em ('erto sentido,
massa de "manobra" era fornecida pela classe menor, que sem-
pre se manteve em condições diversas no conjunto, até trans- era uma divisão do trabalho político (úlil nos seus limites),
formar-se completamente. Hoje ela fornece a massa aos "par- mas uma parte pressupunha a outra, tanto que nos momentos
tidos demagógicos", o que se compreende. decisivos, quando as questões principais foram colocadas em
jogo, formou-se a unidade, criou-se o bloco. Daí a conclusão
Em geral, pode-se dizer que, nesta história dos partidos, a
comparação entre os vários países é das mais instrutivas e de- de que, na construção do partido, é necessário se basear num
cisivas para se localizar a origem das causas de transformação. caráter "monolítico", e não em questões.secundárias: daí.a ne-
O que vale também para as polêmicas entre os partidos. dos cessidade de se prestar atenção à existência de homogeneidade
entre dirigentes e dirigidos, entre chefes e massa. Se, nos mo-
países "tradicionais", onde estão representados "retalhos" de
todo o "catálogo" histórico. mentos decisivos, os chefes passam ao seu "verdadeiro partido",
as massas ficam desamparadas, inertes e sem eficácia. Pode-se
Eis um critério primordial de julgamento tanto para as
dizer que nenhum movimento real adquire consciênc' a
concepções do mundo, como, e especialmente, para as atitudes
totalidade de um e, or ex e t ncia sucessiva' isto
práticas: a concepção do mundo ou o ato prático pode ser.
concebido "isolado", ."independente" e assumindo toda a res~ é, quando perce e através dos fatos que nada do que lhe é
próprio é natural (no sentido extravagante da palavra), mas
ponsabilidade da vida coletiva; ou isto é impossível, e a con-
existe porque surgem determinadas condições cujo desapareci-
cepção do mundo ou o ato prático pode ser concebido como
mento não permanece sem conseqüências. Assim, o movimento
"integração", aperfeiçoamento, contrapeso, etc., de outra con ..
se aperfeiçoa, perde os elementos de arbitrariedade, de. "sim-
cepção do mundo ou atitude prática. Refletindo-se, percebe-se
biose" e torna-se verdadeiramente independente na medida em
que este critério é decisivo para um julgamento ideal sobre os
que, para obter determinadas conseqiiências. cria as premissa,
impulsos ideais e os impulsos práticos; percebe-se também que necessárias. Mais ainda, empenha todas as suas forças na cria,
seu alcance prático não é pequeno.
ção dessas premissas.
Uma das criações mais comuns é aquela que acredita ser
"natural" que tudo O que existe deve existir, não pode deixar
de existir, e que as próprias tentativas ,de reforma. por pior que Alguns aspectos teóricos e práticos do "economismo".
andem, não interromperão a vida; as forças tradicionais pros- Economismo - movime.nto teórico pela livre troca - sindica-
seguirão atuando, e a vida continuará. e claro que neste modo lismo teórico. Deve-se ver em que meaida o sindicalismo te6-
dc pensar há algo de justo; e ai se não fosse' assim! Entretanto, rico se originou da teoria da praxis e em que medida derivou
a partir de um determinado limite, este mbdo de pensar toma- das doutrinas econômicas da livre troca, do liberalismo. Por
se perigoso (certos casos da polftiea do pior) e, de qualquer . isso .é necessário ver se o economismo, na sua forma mais acaba-
modo, como se disse, subsiste o critério de julgamento filosó- da, não passa de uma filiação direta do liberalismo, tendo mlm-
fico, político e histórico, Na realidade, se se observa a fundQ~ tido, inclusive na sua origem, bem poucas relações com a filo-
30
31
...................... ,;~~
••••••••••••••••••••••• .Â.- #W-et.adJ.- WtJ-r.£

sofia da praxis; relações de qualquer modo apenas extrínsecas míco-corporativa para alcançar a fase de hegemonia ético-polí-
e puramente verbais. ' tica na sociedade civil e dominante no Estado. No que se refere
A partir deste ponto de vista é que se deve encarar a po- ao liberalismo, há o caso de uma fração do grupo dirigente que
lêmica Einaudi-Croce,' sugerida pelo novo prefácio (1917) ao pretende modificar não a estrutura do Estado, mas apenas a
livro sobre o Materialismo S/orico. A exigência, projetada por orientação governamental; que pretende reformar a legislação
Einaudi, de levar em conta a literatura de hist6ria econômica comercial e s6 indiretamente a industrial (pois é inegável que o
suscitada pela economia clássicainglesa, pode ser satisfeita neste protecionismo, especialmente nos países de mercado pobre e
sentido: tal literatura, através de uma contaminação superfi- restrito, límita a liberdade de iniciativa industrial e favorece o
cial com a filosofia da praxis, originou o economismo; .por isso, surgimento-de' monop6lios): trata-se de rotação dos partidos
quando Einaudi critica' (na verdade, de modo impreciso) algu- dirigentes no governo, não de fundação e organização de uma
mas degenerações economistas, não faz mais do que atirar pe- nova sociedade civil. A questão apresenta-se Com maior com-
dras num pombal. O nexo entre ideologias da livre troca e sin- plexidade no movimento do sindicalismoteórico; é inegável que
dicalismo te6rico é especialmenteevidente na Itália, onde é co- nele a independência e a autonomia do grupo subalterno que
nhecida a admiração devotada a Pareto por sindicalistas como diz exprimir são sacrificadas à hegemonia intelectual do grupo
Lanzillo e C. Entretanto, o significado destas duas tendências dominante, pois o sindicalismo te6rico não passa de um aspecto
é bastante diverso: o primeiro é pr6prio de um grupo social do liberalismo, justificado com algumas afirmações mutiladas,
dominante e dirigente; o segundo, de um grupo ainda subal- e por isso banalizadas da filosofia da praxis. Por que e COmose
terno, que não adquiriu consciência da sua força e das suas verifica este "sacrifício"? Exclui-se a transformação do grupo
possibilidades e. modos de se desenvolver e por isso não sabe subordinado em dominante, seja porque o problema nem ao
superar a fase de primitivismo. r. menos é formulado (fabianismo, De Man, parte notável do
.•.- A formulação do movinlento da livre trocall2aseia-se num ~ laborismo), ou porque é apresentado sob formas incoerentes e
erro te6rico do qual não é difícil identificar a origem prática: ineficazes (tendências social-democratas em geral) ou porque
a o entre " dade' . a sociedade civil,' ue de defende-se o salto imediato do regime dos grupos ao regime da
distmçao métodica sc transforma e é apresentada como StlO- perfeita igualdade e da economia sindical.
sao organica. ASSim, anrma-se que a atividade econômica é
própna da sociedade civil e que o Estado não deve íntervir na E pelo menos estranha a atitude do economismo em re-
sua regulamentação. Mas, como na realidade fatual sociedade .J.. lação às expressões de vontade, de ação e de iniciativa política
-civil e Estado se identificam, deve-se eonsldérãt que também '1\ e intelectual, como se estas não fossem uma emanação orgânica
ó liberalismo é uma "regulamentação" de caráter estatal, intro- de necessidades econômicas e, mais, a única expressão eficiente
duzida e mantida por caminhos legislativos e coercitivos: é um da economia; assim, é incoerente que a formulação concreta da
fato de vontade consciente dos pr6prios fins, e não a expressão questão hegemônica seja interpretada como um fato que subor-
espontânea, automática, do fato econômico. Portanto, o libe- dina o grupo licgemônico. o fato da hegemonia pressupõe indu-
ralismo é um programa político, destinado a modificar, quando bitavelmente que se deve levar em conta os interesses e as
triunfa, os dirigentes de um Estado e o programa econômico do tendências dos grupos sobre os quais a hegemonia será exercida;
pr6prio Estado; isto é, a modificar a distribuição da renda na- que se forme certo equilfurio de compromisso, isto é, que o
cional. .grupo dirigente faça sacrifícios de ordem econômico-corpora-
tl diferente o caso do sindicalismo te6rico, quando se re- tiva. Mas também é indubitável que os sacrifícios e o compro-
fere a um grupo subalterno. Através desta teoria de é inlpedido misso não se relacionam com o essencial, pois se a hegemonia
de se tornar dominante, de se desenvolver além da fase econô- é ético-política também é econômica; não pode deixar de se
fundamentar na função decisiva que o grupo dirigente exerce
, Cf. a Riforma Sociale, julho-agosto 1918, pág. 415. (N .e.1.) no núcleo decisivo da atividade econômica.

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oc'conomismo apresenta-se sob muitas outras formas, além Em várias ocasiões afirmou-se nestas notas' que a filosofia
do liberalismo c do sindicalismo teórico. Pertencem a ele todas da praxis está m'uito mais difundida do que se pensa. A afir-
as formas de a~stencionismo eleitoral (~xemplo tfpieo é o abs- mação é exata desde que se entenda como difundido o econo-
tencionismo dos cleneals italianos depois de 1870, que foi mismo histórico, que é como o Prof. Loria denomina agora as
atenuando-se a partir de 1900, até 1919 e à formaçAo do Parti- suas concepções mais ou menos desconjuntadas, e que, portanto,
do Popular. A distinção orgânica que os clericais faziam entre o ambiente cultural modificou-se completamente desde o tempo
Itália real e Itália legal era uma reprodução da distinção
entre mundo econÔmico e mundo polftico-Iegal), que são
a
, em que filosofia da praxis iniciou.a sua luta; poder-se-ia qizcr,
com terminologia crociana, que 'a maior heresia surgida no seio
muitas desde que se admita o semi-abstencionismo, um quarto, da "religião da liberdade" sofreu, também ela, como a religião
etc. Ao abstencionismo está li ada a órmula do "uanto . , ortodoxa, uma degeneração.' Difundiu-se como "superstição",
melhor c tam m rmula da chamada "intranslg neia" par- isto é, entrou em combinação com o liberalismo e produziu o
lamentar de algumas trllÇOes de deputados. Nem sempre o eeonomismo. Embora a religião ortodoxa tenha se estiolado de-
economlsmo eeontrAno à ação polftiea e ao partido. polftico, finitivamente, é preciso ver se a superstição herética não ni~nteve
considerado porém um mero organismo educador de tipo sinai. sempre um fermento que a fará renascer como religião superior,
cal. Ponto de referência para o estudo do eeonomismo e para
compreender as relaeõ~ ;~estrutura e superestruturas é o
se as escórias de superstição nao serão facilmente liquida~ tl"'/ Á. 0<-""-
trecho da \Miséria da iUosOiía onde se afirma que um.a fase Alguns pontos caracterlsticos do e",-onomismo histórieQ; 1) <><-O

importante no desenvolvimento de um grupo social é aquela em na busca dos nexos históricos não se õlstingue aqUIlo que é
que os membros de um sindicato não lutam só pelos seus inte- "relativamente permanente" daquilo que é flutuação ocasional;
resses econÔmicos, mas na defesa e pelo desenvolvimento da entende-se como fato econÔmico o interesse pessoal oU de um
própria organização.' Deve-se recordar também a afirmacão de. pequeno grupo, num sentido imediato e "sordidamente judaico".
Engels de que a economIa só em Ulbma anal li a Nao se leva em conta as formações de classe econÔmica, com
suas cartas sobre a ilosofia da raxis ublieadas todas as relações inerentes a elas, mas assume-se o interesse mes-
iam m em Ita lano a ua se Iga Iretamente ao trecho do quinho e usurário, especialmente quando coincide com formas
prerácio à Crítica da Economia O ,tlca, on C se IZ ue os delituosas contempladas nos códigos criminais; 2) a doutrina
I c se vert lcam no segundo a qual o desenvolvimento econÔmico é reduzido à su-
mundo econÔmico no terreno das ideologias. cessão de modificações técnicas nos instrumentos de trabalho.
O Prof. Loria fez uma exposição brilhantissima desta doutrina
aplicada no artigo sobre a influência social do aeroplano, ~u-
I Ver n afirmação exata; a Misdrla da FllosofUz é um momento blicado na Rassegno Contemporanea de 1912; 3) a ,doutnna
essencial da formação da filosofia da praxisi pode ser considera- segundo a qual o desenvolvimento econÔmico e histórico depen-
da como o desenvolvJmento das Tesos subre Fetlerbach, enquanto a cJe ime'dlatamente das' mudanças n\lm determinado elemento
Sa/{rada Famflía é uma fase intennediária indistinta e de origem oca- importante da produção, da descooerta de uma nova matéria-
sional, como dão a entender os trechos dedicados a Proudhon e espe-
cialmente ao materialismo francês. O trecho sobre o materialismo mn. prima, de um novo combustlvel, etc., que trazem consigo a
CI!S é mais um capítulo de história da cultura que uma elaboração te{). aplicação de novos métodos na construção e no acionamento das
ricil, como (> ~erolmentc Interpretadoi e como história da cultura IJ máquinas. Ultimamente apareceu toda uma literatura sobre o
ndl1lirável. Recordar a observação que n critica contida na Mlsdrla da petróleo: pode-se considerar como tlpico um artigo de Antonio
Filosofia contra Proudhon e a sua Interpretação da dialética he~ellana
pode ser válida para Giobertl e paro o he,e:elhmtsmo dos liberais mo-
(\crndos italianos em ~crnl:. O paralelo Proudhon.Cfoberti, nlio obstante 1 Vela-s. CI\AMSct, 11 materialismo $Wrú:o e la f/wlJOf/a di B. Cracc
des representarem fase hist6rico-poHticas não homogêneas. mas exata. (ed. brasil.lra, A Conccpç6o Dlolélic<l da Histório, trnd. de Carlos
mente por isto, pode ser interessante e fecundo. Nelson Coutlnho, Ed. Clvll1zaçlio Brasileira, 1966. N. do T.)
34 35
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Laviosa publicado na Nuova Antologia de 16 de maio de 1929. em poucas linhas, uma grande parte dos elementos mais banais
A descoberta de novos combustíveis e de novas energias mO- de polêmica contra a filosofia da praxis,. mas, na realidade, a
trizes, assim como de novas matérias-primas, tem certamente polêmica é contra o economismo desconjuntado de tipo loriano.
grande importância porque pode modificar a posição dos Es- Além do mais, o escritor não é muito entendido na matéria,
lados, mas não determina o movimento histórico, etc. inclusive por outros aspectos: ele não compreende que as "pai-
xões" podem ser simplesmente um sinônimo dos interesses eco-
Muitas vezes acontece que se combate o economismo his~
tórico pensando combater o materialismo histórico. Por exem- ) nômicos e que é difícil sustentar que a atividade política possa
pio, é este o caso de um artigo do A venir de Paris, de 10 de ser um estado permanente de exasperação e de espasmo; exata-
outubro de 1930 (transcrito na Rassegna Setlimanale della mente a política francesa é apresentada como de uma "racio-
Stampa Estera, de 21 de outubro de 1930, págs. 2303-2304), nalidade" sistemática e eoerente, isto é, depurada .de todos os
que transcrevemos como típico: "Dizemos há muito tempo, mas elementos passionais, etc.
sobretlllio de.pois do guerra, que aS"questões de interesse domi- Na sua forma mais difundida de superstição economista, ."
nam os povos e fazem o mundo avançar. Foram os marxistas a filosofia da praxis perde uma grande parte da sua expansivi- J
que inventaram esta tese, sob o apelativo um pouco doutrinário dade cultural na esfera superior do grupo intelectual, tanto
de "materialismo histórico". No marxismo puro, os homens quanto adquire entre as massas populares e entre os intelectuais
tomados em conjunto não obedecem às paixões, mas às neces- medianos, que não pretendem cansar o cérebro, ma~ pretendem
sidades econômicas. A política é uma paixão. A pátria é uma parecer sabidíssimos, etc. Como disse Engels, é comodo para
paixão. Estas duas idéias exigentes s6 des<:mpenham na Hist6- muitos acreditar que podem ter a baixo preço e sem nenhum
ria uma função de aparência, porque na realidade a vida dos esforço, ao alcance da mão, toda a História e todo. o saber
povos, no curso dos séculos, é explicada através de um jogo político e filos6fico concentrados em algumas formulazmh .. A
cambiante e sempre renovado de causas de ordem material. ignorância de que a tese segundo a. qual o omcns .adqulf(;m
A economia é tudo. Muitos filósofos e economistas "burgueses" consciência dos conflitos fundamentaIs no terreno das Ideologias
retomaram este estribilho. Eles assumem certo ar para explicar- não é de caráter psicol6gico ou moralista, mas tem um caráter
nos através do curso do trigo, do petróleo ou da borracha, a orgânico gnosio16gico, criou a forma mentis de considerar a po-
grande política internacional. Esmeram-se em demonstrar-nos lítica e, portanto, a História, como um c.o~t~nuo_marché .de
que toda a diplomacia é comandada por questões de tarifas dupes, um jogo de ilusionismos e de preslJdlgltaç~o. A .atiVI-
alfandegárias e de preços de custo. Estas explicações estão dade "crítica" reduziu-se a revelar truques, a SUSCItar escanda-
muito na moda. Têm uma pequena aparência científica e pro- los, a tratar das miudezas dos homens representativos.
cedem de uma espécie de ceticismo superior com pretensões a Olvidou-se assim que, sendo ou presumindo ser, também
passar por uma elegância suprema. A paixão em política ex- O "economismo" um cânone objetivo de interpretação (objetivo-
terna? O sentimento em questões nacionais? Qual o quê? Esta científico) a pesquisa no sentido dos interesses imediatos de-
mercadoria é boa para a gente comum. Os grandes espíritos, veria ser ~álida para toclos os aspectos da Hist6ria, tanto para
os iniciados sabem que tudo é dominado pelo dar e pelo receber .• os homens que representam a "tese" como para aqueles que
Ora, esta é uma pseudoverdade absoluta. £ completamente falso representam a "antítese". Ignorou-se ainda outra proposição da
que os povos s6 se deixam guiar por considerações de interesse filosofia da praxis: aquela segundo a qual as "crenças popula-
e é completamente verdadeiro que eles obedecem sobretudo a res" ou as crenças do tipo das crenças populares têm a validade
considerações ditadas por um desejo e por uma fé ardente de
. das forças materiais. Os erros de interpretação no sentido das

'(5
prestígio. Quem não compreende isto não compreende nada." pesquisas dos interesses "sordidamente judaicos" foram algumas

I
A continuação do artigo (intitulado La mania dei prestigio)
exemplifica. com a política alemã e italiana, que seria de "pres-
tígio"; e não ditada por interesses materiais. O artigo engloba, , ,.,U',
vezes grosseiros e cômicos, de modo a reagir negativamente sobre
d. doo."" ";,, •• 1. ,,,",, ,=",",
é

36
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
\,~ '
?jl o Iecon~mismo não s6 ~a teoria da historiografia, mas também
e especIalmente na teona e na prática políticas. Neste. campo,
3) qual o significado poIítico e social das reivindicações que os
dirigentes apresentam e que logo encontram apoio? a que exi-
a luta ode e deve ser conduzida desenvolvendo ~ onceito de gências efetivas correspondem? 4) exame da conformidade dos
~emonia..a ma orma como OI conduzida praticamente meios ao fim proposto; 5) s6 em última auálise, e apresentada
no ~esenvolvlmento da teoria do partido político e no desen- sob forma política e não moralista, desenha-se a hipótese de
volvlmt>nto ráhcõ da vIda de determinado .cos que tal movimento necessariamente será desnaturado e servirá
(a uta contra a teona a c amada revolução permanente, à a outros fins que não aqueles que as multidões de seguidores
qual se contrapunha o conceito de ditadura democrático-revolu- esperam. Ao contrário, esta hip6tese é afirmada preventiva-
c.io~ária, a importância que teve o apoio dado às ideologias cons- mente, quando nenhum elemento concreto (que se apresente
tlt~I~:es, et~). Poder-s~-ia realizar uma pesquisa sobre as como tal através da evidência do senso comum, e não graças
opmlOes emItidas à medIda que se desenvolviam determinados a uma análise "científica" esotérica) existe ainda para sufragá-
movimentos políticos, tomando como tipo o movimento boulan- la, de modo que ela se manifesta como uma acusação moralista
gista (de 1886 a 1890), o processo Dreyfus, ou então o golpe de dubiedade e má-fé, ou de falta de sagacidade, d. estupidez
de Estado de 2 de dezembro (uma análise do livro clássico (para os seguidores). A luta política transforma-se, assim,
sobre o 2 de dezembro,' para estudar a importância relativa do numa série de choques pessoais entre os espertalhões, que guar-
fator econ~~ico i~e~iato e. o lugar que ocupa O estudo con- dam o diabo na ampola, e os que não são levados a sério pelos
creto das IdeologJas). DIante destes acontecimentos, o eco- pr6prios dirigentes e recusam-se a se convencér em virtude da
nomlsmo se pergunta: a quem interessa imediatamente a inicia- sua tolice. Além do mais, enquanto estes movimentos não
tiva em questão?, e responde com um racioc!nio tão simplista alGançarem o poder, pode-se sempre pensar que falirão, e alguns
quanto paralogístico. Favorece de imediato a Uma determinada efetivamente faliram (o pr6prio boulangismo, que faliu como
fração do grupo dominante, e, para não errar, esta escolha recai tal e posteriormente foi esmagado pelo movimento dreyfusard;
sobr~ aquela fração que evidentemente tem uma função pro- o movimento de George Valois e o movimento do general
gresSISta e de controle sobre o conjunto das forças econÔmicas. Gayda); logo, a pesquisa orienta-se no sentido da identificação
Pode-s.e estar seguro de não errar, porque necessarIamente, se dos elementos de força, mas também dos elementos de fraqueza
o movlll~ento analisado chegar ao poder, cedo ou tarde a fração que eles contêm no seu interior: a hip6tese "economista" afirma
progressista do grupo dominante acabará controlando o novo um elemento imediato de força; isto é, a disponibilidade de um~
governo e o transformará num instrumento para utilizar o apa- determinada quota financeira direta ou indireta (um grande
relho estatal em seu benefício. jornal que ap6ie o movimento, é também de uma contribuição
financeira indireta), e basta. Muito pouco. Também neste caso
~rata-se,_ portanto, .d.e uma in.falibilidade muito grosseira a a 'se diversos aus de relação de for as s6 de culmi-
que nao s6 nao tem slgmflcado te6nco, mas possui escassfssimo nar na esfera da hegemoma e as re a ões tleo-po ticas.
a~cance pOl.ítico e eficácia prática. No geral, s6 produz prega- m e emen o que eve ser acrescenta O como exemplifi..
çoes morahstas e contendas pessoais intermináveis. Quando se cação das teorias chamadas de intransigência é aquole referente
verifica um movimento boulangista, a' análise deveria ser con. à rígida aversão de princípio aos .chamados compromissos, que
duzlda reabsticamente segundo esta linha: I) conteúdo social têm como manifestação subordinada aquela que pode ser inti.
da massa que adere. ~o .movimento; 2) que papel desempenhava tulada . o "medo dos perigos". ];: evidente que a aversão de

Ú esta massa no equJllbno de forças, que vai-se transformando


como o novo movimento demonstra através do seu nascimento?

1 o Dezoito Brumário de Luis Bonaparte de Marx (edição brásileira


princípio aos compromissos e~tá.estreitamente vinculada ao eco-
nomismo. Quanto à concepção sobre a qual se baseia esta
aversão, ela reside indubitavelmente na convicção férrea de que
existem leis objetivas para o desenvolvimento hist6rico, com o
Editorial Vitória, 1961 - Marx e EnO'cls Obras Escolhidas 10 volume'
(N.doT.) "' ". mesmo caráter das leis naturais, acrescentada da persuasão de

38 39
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
um finalismo fatalista semelhante ao fatalismo religioso. Já "

que as condições favoráveis fatalmente surgirão e, determinarão, " Previsão e perspectiva. Outro ponto a ser fixado e desen-
.,
~
volvido é o da "dupla perspectiva" na ação política e na vida
de modo um tanto misterioso, acontecimentos revigorantes, não
só se revelará inútil, mas danosa, qualquer iniciativa voluntária
, estatal. Vários são os graus através dos quais pode-se apresen-
tendente a predispor estas situações segundo um plano. Ao tah dupla perspectiva, dos mais elementares aos mais com-
lado destas convicções fatalistas manifesta-se a tendência a con- plexos. Mas eles podem-se reduzir teoricamente ª dois gra"s
fiar "em seguida", cegamente e sem qualquer critério, na vir- fundamentais, correspondentes à nafureza dúplice do Centauro I
tude reguladora das armas, o que não deixa de ter certa lógica maqUIavélico, ferina e humana: da força e do consentimento, da \
e coerência, pois acredita-se que a intervenção da vontade é autoridade e da' hegemonia, da Via nCla e , do )
útil para a destruição, não para a reconstrução (já em processo m I ua e o momento universal (da "Igreja" e do
no exato momento da destruição). A destruição é concebida "Bstado"), da agitação e da propaganda, da tática e da estra-
mecanicamente, não como destruição-reconstrução. tégia, etc. Alguns reduziram a teoria da "dupla perspectiva" a
uma. coisa mesquinha e banal, a nada mais que duas formas de.
Nestas maneiras de pensar não se leva em cnnta Q fator "imediatismo" a se sucederem mecanicamente no tempo com
"tempo" e, em última análise. a própria "economia" DO sentjdo maior ou menor "proximidade". Ao contrário, pode ocorrer
de não se compreender que os movimentos ideol6&jcQs de mas- que quanto mais a primeira '''perspectiva'' é "imediatfssima",
sa estao sempre atrasados em re ... ecos econÔmi_ elementar/ssima, tanto mais a segunda deve ser "distante" (não
cos e massa e e que, portanto, em determinados momentos, no tempo, mas, como relação dialética), complexa, elevada.
impulso automático dévt<lo ao fator éeofiOIhico é ãfrouxado, Assim como na vida humana, em que quanto mais um indivíduo
t va o ou a e es rUI momen a r e ementos 1 e _ é obrigado a defender a própria existência física imediata, tanto
ló icos tra IClOnais; e que po ISSO eve haver uta consciente mais se coloca ao lado e defende o ponto de vista de todos os
e determma a a 1m e que se "compreenda" as exigências da complexos e mais elevados valores da civilização e da humani-
posição econômica de massa que pode estar em contradição com dade.
as diretivas dos chefes tradicionais. Uma iniciativa política apro-
:£ verdade que prever significa apenas ver bem o presente
priada é sempre necessária para libertar o impulso econômico e o passado como movimento: ver bem, isto é, identificar com
dos entraves da política tradicional, para modificar a direção
exatidão os elementos fundamentais e permanentes do processo.
política de determinadas forças que devem ser absorvidas para Mas é' absurdo pensar numa previsão puramente "objetiva".
criar um bloco histórico econômico-político novo, homogêneo, Quem prevê, na re~lidade tem um "programa" que quer ver
sem contradições internas. Já que duas forças "semelhantes" só triunfar, e a previsão é exatamente um elemento de tal triunfo.
podem fundir-se num organismo novo através de uma série de Isto não significa que a previsão deve ser sempre arbitrária e
compromissos ou pela força das armas, unindo-se num plano gratuita ou puramente tendenciosa. Ao contrário, pode-sc dizer \
de, ~liança, ou subordinando uma a outra pelo coerção, a ques~ que só na medida em que o aspecto objetivo da previsão está
tão é saber se existe esta força e se é "proveitoso" empregá-la. ligado a um programa, esse aspecto adquire objetividade: I) .
Se a união de duas forças é necessária para derrotar uma ter- porque só a paixão aguça o intelecto e colabora para a intuição \
ceira, o recurso às armas e à coerção (desde que haja disponi- mais clara; 2) porque sendo a realidade o resultado de uma
bilidade) é uma pura hipótese de método, e a única possibili- aplicação da vontade humana à sociedade das coisaS (do maqui-
dade concreta é o compromisso, já que a força pode ser em- nista à máquina), prescindir de todo elemento voluntário, ou
pregada contra os inimigos, não contra uma parte de si mesmos, calcular apenas a intervenção de vontades outras como ele-
que Se quer assimilar rapidamente c do qual se requer o entu- mento objetivo do jogo geral mutila a própria realidade. Só
j siasmo e a "boa vontade". quem deseja fortemente identifica os elementos necessários à
i
realização da sua vontade.
f
40
41
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
j
. ~s~im, constit.ui um erro de fatuidade grosseira.e de su- ser enten<lido em sentido moralista sim, a questão não deve .
perficIalIdade .consIderar que uma determinada concepção do
mundo ~ da vIda guarda em si mesma uma superior capacidade
d.e previsão. :£ claro que uma concepção do mundo está implí-
I . nes es termos, é mais eomplexa: trata-se de eon-
siderar se o "dever ser" é um ato arbitrário ou necessário, é.
vontade concreta, ou 'veleidade, desejo, sonho. O . e
cIta em q,ualquer previs~o; portanto, o fato de que ela seja uma ação é um criador, um suseitador' as não eria ada nem I
desconexao ?: ato~ arbltrári~s do pe~same"to ou uma rigorosa
a re
azlO r I o
e atu . Mas, O que
seus dese'os e
.esta realidade fatual? :£
- e~
e coerente v!sao nao. é sem ImportâncIa. Mas, por isso mesmo,
ela s6 .a~qU1r~.essa Importância no cérebro vivo de quem faz vez algo de est tico e imóvel, ou não é antes uma relação de
a prevlsao! vlVlficando-a com a sua vontade forte. Isto pode forças em continuo movimento e mudança de equilfbrio? Apli-
ser percebIdo através das previsões feitas pelos "desapaixona- car a vontade à criação de um novo equilfbrio das for~s real-
dos": ~Ias est~o ple~as de "ociosidade", de minúcias sutis, de mente existentes e atuantes, baseando-se numa determinada
elegânCIas CODJcturnlS. Só Q cxistencio no uprcvisor" de Um força que se considera progressista, fortalecendo-a para levá-la
programa a ser realizado faz com que ele atenha-se ao essencial ao. triunfo, é sempre mover-se no terr.eno da realidade falual,
a?~ ~lementos q~e, sendo "organizáveis", suscetíveis de sere~ mas para dominá-Ia e superá-la (ou contribuir para isso). \
dmgldos. ou desvIados, são os únicos que, na realidadc, podem Portanto o" er 5" con '. .. , 'ca in- )
ser prev!stos. Geral.mente se acre<lita que cada ato de previsão terpretação' re sta e s OOCIS a1idade, é história em açao
p~essupoe a determmação de leis de regularidade do tipo das e
e IDõSófia em açao, unlcamefite poutica.
lel~ que regula":, as ciências naturais. Mas como estas leis não ". epesição Sawüatola-MaqUlaveJ não é a oposição entre
eXIstem no senlido absoluto ou mecânico que se supõe, não se ser e dever ser (todo o parágrafo de Russo sobre este ponto
levam em cont~. as vontades outras e não se "prevê" a sua aplica- é puro beletrismo), más entre dois "dever ser": o abstrato e
ção. ~go, edlÍlca-sc sobre uma hipótese arbitrária e não sobre obscuro de Savonarola e o realista de Maquia¥el, realismo, mes-
a realidade. ' mo não tendo se tomado realidade imediata, pois não se pode
O "excessiv " nto su ficial e mecânico) Iismo pretender que um indivfduo ou um livro modifiquem a reali-
[ o eva muitas vezes à afirmaçao
s evc
e ue o orne
ar no mito. a fea I a e atual" não se
e dade; eles só a .interpretam e indicam a linha posslve! da ação.
O limite e a estreiteza de Maquiave! consistem apenas no fato
essar com o "de.ver ser mas
I de ter sido ele uma "pessoa privada", um escritor, e não o
la chefe de um Estado ou de' um exército, que também é apenas
a em .0 tamanho do seu nariz Este erro levou Paolo Treves uma pessoa, mas tendo à sua <lisposição as forças de. um EstA-
~ .conslderar Guicciardini, e não Maquiavel, O "verdadeiro po- do ou de um exército, e não somente exércitos de palavras.
htlco" . Nem por isso se pode dizer que Maquiavel tenha sido um
.. M~isdo qu~entre Cldiplomata" e upnlít.ico'\ é necessário "profeta desarmado": seria um gracejo muito barato. Maquia 0

dlstIngu,r entre CIentista da olftica e polllico prático. O diplo- ve! jamais diz que pensa ou sc propõe ele mesmo a mudar a
mata na~ !Xl e elxar e se mover 5 na rea I ade fatual, pois .realidade; O que faz é mostrar concretamente como deveriam
a sua atIVIdade específica não é a de criar novos equilfbrios atuar' as forças históricas para se tomarem eficientes.
mas A ~'; conse,:,ar dentro de determinados quadros jurídico;
um eqUlhbno ex,stente:. Assim, também Q Cientista deve mo-
ver-se. a ena~ na realIdade fatual como mero CIentista. Mas
lI,1aqu!avel nao .é _um mero cienlista; e e um ornem (le parti-
c'paçao,. de P3lxoes p~derosas, um 110lftico prático. que pre-
Andlises das situações. Relações de força. O estuuo sobre

..u
tende CrIar novas relaçoes de força e ue por isso mesmo não
po c clxar e se ocupar com o "deyer ser", que nao eve
, como se deve analisar as "situações", isto é, de como se r::em ')
42
•••• •••••••••••••••••••• ••••••••••••••••••••••• .;

estabelecer os djversos graus de re1açãe de forças, pode-se pres- a rev~luçãO italiana tecnicamente impossfvell). A partir ..desta
f:lr a uma exposição elementar sobre ciência e arte políticas, série de fatos, pode-se chegar à con,:lusão ~e ~ue, fre.quente-
entendidas como um con' '99.,
mente o chamado "partido estrangeiro" nao e propnamente
ti e a ticu ares úteis ara des ertar o interess~ aquel~ que vulgarmente é apontado como tal,. mas exatamente
pe a realidade fatual e sus . s
, artido nacionalista, qne, na realidade, mais do ue re ,.!':
~ vigorosas. o mesmo tempo, é preciso expor o que se deve o 1 te re-senta a sua lpa~.
entender em política por estraté~ia e tática. por "plano estra- .
lJ sentar as _ d cões
ç. Q e a 's~~I~ao econôm,ca s naçoes ou a um grupo e n':.~
téglco, por pro a anda e a ita ão r' - 'ênc'a.
or amzaçao e da administra - 'hegemôD1c . .
Os elementos e o servação empírica que comumente são - :a O problema das relações entre estrutura e su erest~tura
apresentados desordenadamente nos tratados de ciência política ne eve ser Si a o com exa ao e resolvido para assim se
(pode-se tomar como exemplar a obra de G. Mosca, E/ementi ,
q, .
clegax a UIfia
lusta anãlise das forças que atuam na h,st~n!
e'a o eu re Co •
di scienza política) deveriam, na medida em que não são ques- M de ma detexilitlladOpenúdo e e .. í' 1
tões abstratas on apanhadas ao acaso, sitnar-se nos vários graus ! "I . o movimentar-se no âmbito de dOIS nnc P'os: .
da relação de forças, a começar pela relação das forças interna- ti n o e uma sociedade assu .u a s u-
cionais (em que se localizariam as notas escritas sobre o que i \ fJ . a nao eXistam as condiç~s. necessárias ..e sufiCientes, ou
é uma grande potência, sobre os agrupamentos de Estados em
ç lo QUv o.l1!1-.-----a-
v menos fi o.... --;.l em vias de aparecer e se desenvol-
~::m:: anl d
sistemas hegemônicos e, por conseguinte, sobre o conceito de \:) . ..t;, p~ o' e que- íiiii'_uina SOCiedade se dissolve e po e s;:~'
independência e soberania no qne se refere às pequenas e mé- siíbsÚfuioa antes de desenvolver e completar todas as 10rllJ.as
dias potências'), passando em seguida às relações sociais objc-
tivas, ao gran de desenvolvimento das fdtças rodnhvas as re-
'-de)'r:;;im
'lIols cones
pbCll:nas suas relações 2 Da. rel1exao so:
po e-se chegar ao desenvolVImento de t a u':la
estes

laç es e o 'c, e par, o sistemas he e 9 '. série de outros principias de metodologia hist6rica. TodaVIa,
d ro o ta o e s re aç es po I Icas Imediatas (ou seja, deve-se distinguir no estudo de uma estrutura os
_Põtenclalmefile mut!ares). or cos re a vamen e ermanentes) dos elementos ue 0-
As relações Internacionais precedem ou ~~em
mente) as lelaçoes SOCiaiS fundamentais? Seguem,
(logica-
indublfáve:t:
rOda Inovação orgânica na estrutura modifica organicamente as
.
em ser
ocaSlODalS,
ri
enominados "de conJun ura
I' que se apresentam como
unedlalOs quase aCll2ênta s '.. T a~ bé III os !ebome-
e conjuntura epen em, claro, e movlment?s o; mç1
â' os

relações absolutas e relativas no campo internacional, através , '; mas seu Sigo Iça o n o tem um amp o a cance Ist6nc~: e ~s
das suas expressões técnico-militares. Inclusive a posição geo- dão lugar a uma crlbca pobnca miMa, do ma-a-dla, que mves e
gráfica de um Estado não precede, mas segue (logicamente) as
inovações estruturais, mesmo reagindo sobre elas numa certa . I 1 "reprp:ssivo" rl:~~ener-
medida (exatamente na medida .em que as superestruturas rea- 1 Uma. rofc:r~ncdia a este e
gias internas ~
1
~dnto~:t=~::so;ublicad~~
e ser encon a a na de 1932
ó'"
por G. VOLPE

gem sobre a estrutura, a política sobre a economia, etc.). Além


do mais, as relações internacionais reagem positiva e. ativamente
no Comere ~lla _Sera 1i 22~e, 2~rec~~~~~ d: se t~rem desenvolvido
"Uma formaçao dso~a nao Pelação às quais ela ainda é suficiente
:.li
sobre as relações políticas (de hegemonia dos parti4.os). Quan- todas as forças pro ~ vas em J
du ão não tenham tomado o seu
to mais a vida econômica imediata de uma nação se subordina e novas e rot altas d~~s
ma~e~~sd~existência destas últimas não
às relações internacionais, mais um partido determinado repre~
senta esta situação e explora-a para impedir o predominio dos
:~~~ :rc:;' in~ub:d~nn~ próprioi:;O e~~.r~~~"q~~Cj:J:d~~d~orr;;~l~er~
humanidade ass~me sempre aque á m re à conclusão de
partidos adversários (veja-se o famoso discurso de Nitti sobre se se observa com mais ÓKUdeza, c~:ga:;se~ncll~
materiais para a

, Ver págs. 138, 162 e seguintes. ~ s~lu~P~O


e:::~~Oo:
pe~en~~est~em processo de surgimento".
(MAror, lntkdução à Critica da EconomUl Polltlca.)
44 45
••••• ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• ••••
os pequenos grupos dirigentes e as personalidades imediata-
à uelas em qúe se verifica uma estagn'aç'lto das força~ produtl-
mente responsáveis pelo poder. Os fenômenos orgânicOlLdáo.-
mar em à crítica hist6ric.o,social _ ue.' -os' andes- ._. vàs. O nexo dialético entre as duas ordens de movI'!lento e,
pdrtanto, de pesquisa, dificilmente pode ser estab~lecl~o e~a-
p~mentos, aCIma as pessoas imediatamente responsáveis_-HCi •. tamente; e, se o erro é grave no que se refere à hlStonografla,
!!Lado pessoal dmgenle, A ImportâncIa dessa grande diferen- m~is grave ainda se torna na arte olítica, uando se trata não
ciação surge quando se estuda um período hlst6rico, Verifica- d T re . .. ssada mas de constrUir a IS
se umirr:cri~~ ue, às vezes, prolonga-se or dezenas de anqs'~on' pC: sent f tuca'! Os pr6prios desejos e paixões ~eteriorantes
Esta d raçao excepclOna quer Izer que se reve aram amaau~ G . é Imediatos constituem a causa' do 'erro na medida em que
receram con ra lçoés msan vel ura e que as for as 1 s ,bstituem a análise objetiva e imparcial. E isto se verifica não
olíticas que atuam oSll1vamen e ar r e e ende' S cbmo "meio" consciente para estimular à ação, mas c~mo auto-
W . na es rotura .esfor am.-se para san - a en ro e certó~ 'fi ~ 1ngano, Também neste caso a cobra morde o charlatao: o de;
Imlte~ e 811 erá-Ias. . SOl cverantes~
ngogo .é n primeir~_.'i!i~a da sWLdemagogia_
o,s nen uma forma social 'amais confessar que 01 supera-
Estes critérios metodol6gicos podem adquirir visível e di-
da) ormam o erreno ocasional" sobre o qu se or amzam. s
daticamente todo o seu significado quando aplicados ao exame
or as a oms as, ue ten em a emons rar emonstração
de fatos hist6ricos concretos. O que se poderia fazer com utili-
ue, em última an ise, s6 se realiza e é "verdadeira' uan o
dade em relação aos acontecimentos' que se verificaram .na
torna nova r uan o as or as anta onistas triunfam;
França de 1789 a 1870. Parece-me que para ma}or clareza, da
1)1as'lme la amente desenvolve-se uma série de po emlcas Ideo-
exposição seja necessário abranger todo este penodo. Efel1va-
lÓgIcas, relIgIOsas, fIlosóficas, políticas. jurídicas etc; cuja con ..
mente ~6 em 1870-1871, com a tentativa da Comuna, esgotam-
cr.::çao pode ser avalIada pela medida em que conseguem con-
se hisioricameilte todos os germes' nascidos em 1789. Não s6
tenc7r e deslocam o preeXIstente dispositivo de forças sociais)
a nova classe que luta pelo poder derrota os rc:p:,:sentantes da
sue ]..-exístem as condições necessárias e suficientes para que
velha sociêdade que não quer confessar-se defmll1vamente su-
determmados encargos possam e, por conseguinte devam ser
resolvidos historicamente, (e evem, porque qua'quer vaCIla- perada, mas derrota também os grupos n?ví~simos que acre~i-
tam já ultrapassada a nova estrutura surgtda da .tra~sformaçao
ção em cumprir o dever hist6rico aumenta a desordem necéssá-.
ria e prepara catástrofes mais graves), .' .. ~ iniciada em. 1789. Assim,. ela demonstra a sua VItalIdade tanto
., VJ em relação ao velho como em relação ao novíssimo. Além do
Nas análiscs hist6rico-políticas, freqUentemente incorj'é'-se .AviJtff'
no erro de não saber encontrar a justa relação entre o que é v --O (
# 1 O fato de não se ter considerado o momento imediato das "relações

!
orgânico e o que é ocasional. Assim, ou se apresentam como de força" estA ligado a resíduos da concepção liberal vulg~r, da qual
imediatamente atuantes causas que, ao contrário, atuam media- rfiJN' o sindicalismo é uma manifestação que acreditava ser ma~s avançada
tamente, ou se afirma que as causas imediatas ~ão as únicas quando, na realidade, rcprcsentnvn um passo lltr6.Sl. Efetivlln'lp.ntp.;. A.
concepção liberal vulgar dando Importância à relação das forças poli-
causas eficientes. Num caso, manifesta-se o exagero de "eélt-
nomismo" oli de doutrinarismo pedantesco; no outro, o excesso
de "ideologismo". Num caso, superestimam-se as causas mecâ-
ticas organizadas nas diversas foqnas de partido (leitores de j~mai5.
eleições parlamentares e locais, -organizações de massa dos partidos. e
dos sindicatos num sentido estrito), era mais avançada do que o SIn-
I
I
nicas; no outro, exalta-se' o elemento voluntarista e individual. dicalismo que dava importância primordial à relação fundamental cco~ ~
A distinção entre (movimentos" e fatos ..orgânjcos e movimentos J nômico.s~cial, e s6 a ela. A concepção liberal vulgar também levava
em conta impltcitamente esta r~la~ão (como transparec~ através de
e fa(<l.~_c!.~
:'cQI}.i!J.!!!)J_~a"~_.o_u
ocasionais deve ser aplicada a todos muitos sinais), mas insistia priontanamente sobre a relaçao das forças 1
os tIPOS oe situação: não s6 àquelas em que se verifica um 1
políticas que era uma expressão da outra e, na realidade, englobava.a.
processo regressivo ou de crise aguda, mas àquelas em que se l£stes re~fduos da concepção liberal vulgar podem ser encontrados em I
verifica um desenvolvimento progressista ou de prosperidade e toda uma série de trabalhos que se dizem ligados à filosofia d. pr.xl,
e deram lugar a fonnas infantis de otimismo e a asneiras.
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.. - ---
I!
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47 i
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••••••••••••••••••••••••• •••••••••••••••••••••••
mais, em virtude dos acontecimentos de .1870-1871, perde Cfi,,"
cácia o conjunto de princípios de estratégia e tática política nas-
i
i
Um aspecto do mesmo problema é a chamada '1.uestão das
relações de orça. Lê-se com freqüência nas nam(çoes hlslo
cidos praticamente em 1789 e desenvolvidos ideologicamente , as a expressa0: "relações de forças favoráveis, desfavoráveis
em torno de 1848 (aqueles que se sintetizam na fórmula da a esta ou aquela tendência." Assim, abstratamente, esta fornlU-
"revolução permanente".' Seria interessante estudar os elemen- lação não explica nada ou quase nada, pois o que se faz é
tos desta fórmula que se manifestaram na estratégia maziniana repetir o fato que se deve explicar, apresentando-o uma vez
- por exemplo, a insurreição de 1853 em Milão - e se isto como fato e outra como lei abstrata e como explicação. Por-
ocorreu conscientemente) . Um elemento que demonstra a jus- tanto, o erro tcórico consiste em a resentar um elemento e
teza deste ponto de vista é o fato' de que os historiadores de pesqui e mterpretaçao como causa hist nca
modo nenhum concordam (e é impossível que concordem) ao a re ecess no 10 Ir 'versos mo-
fixar os limites daquela série de acontecimentos que constitui a mento u grau~ que no fundamental são estes:
Revolução Francesa. Para alguns (Salvemini, por exemplo), a .-- 1) Uma rela ão d for ociais estreitamente ligada à
Revolução' se completa em Valmy: a França criou o novo estrutura, ob' eliva in e endente da vontade os om
Estado e soube organizar a força político-militar que o sustenta ser me ida Com os sistemas das CI nClas atas o cas
e defende a sua soberania territorial. Para outros, a Revolução base do au de esenvo vlmento das forças materiais de
continua até TermidQr; mais ainda, eles falam de muitas revo- pro ução estruturam-se os a u amentos SOCiaIS,ca a um os
luções (o lO de agosto seria uma revolução em si, etc.).' A quais represen a uma unçao e ocupa uma pOSição e er I a
maneira de interpretar Termidor e a obra de Napoleão apre- na próduçao. Esta relaçaó é a que f!, uma realiàadc tebelde:
senta as mais agudas contradições: trata-se de revolução ou "'niflguém pode modificar o número das fazendas e dos seus
de contra-revolução? Para outros, a Revolução continua até agregados, o número das cidades com as suas populações de.
1830, 1848, 1870 e inclusive até a guerra mundial de'1914. terminadas, etc. Este dispositivo fundamental permite verificar
Em todas e~tas maneiras de ver há uma parte de verdade. ~ sociedad;=.. eXistem as cQIldições, necessárjas e suficientes
Realmente, as contradições internas da estrutura francesa, que ra a sua transformação; ermite controlar o grau de reahsmb
se desenvolvem depois de 1789, só encontram uma relativa com- ('e de vIa 1I ade das !Versas I eo ogias que e a gerou ura
posição com a Terceira República. E a França. goza sessenta o seu curso.
anos de vida poHtica equilibrada depois de oitenta anos de trans- ~ momento se inte é areia ão das for as olíticas:
formações em ondas cada vez maiores: 1789,1794,1799,1804, a avalia ão o au e omogeneidade, de autoconsclencla e
1815, 1830, 1848, 1870. :£ exatamente o estudo dessas "ondas" amzação a can o os ru os sociais. Por sua
de diferentes oscilações que permite reconstruir as relações en- vez, este momento ode ser analisado e diferenciado em vários
tre estrutura e superstruturas, de um lado, e, de outro, as relações graus, ue correspon em aos diversos en o .a
entre o curso do movimento orgânico e o curso do movimento .-.E01 C e 1 , orno se manifestaram na Histórin
de conjuntura da estrutura. Assim, pode-se dizer que a medi- ate agora. O rImeI e ementar o eco
ção dialética entre os dois princlpios metodológicos enunciados . : um comercIante sente eve ser so I ário com outro
comerciante, etc., mas o comerciante não se sente ainda SOlidá-
no início desta nota localiza-se na fórmula político-histórica da
rio com o fabricante. Assim, sente-se a unidade nomogenea do
revolução permanente.
grupo profissional e o dever de organizá-Ia, mas não ainda a
unidade do grupo social mais amplo. Um sell!!ndo .
1 Gramsci usa o termo revolução permanente para indicar a interpre~ aque m ue se adquire a consciência dã . aried
lação errada de Trotsld (uma transformação política levada a cabo por
uma minoria sem o apoio das grandes mAssas) à. fórmula de Karl Marx.. teresses entre to s membros so . 1 mas ainda no
Por isso o autor a coloca entre aspas. (N. e I.) campo n e econ mIco. Ne coloca a
, Cf. La Réoolution trançoise de A. MATRlEZ. na coleção A. Colin. que - sta o, mas apenas visando a alcançar uma Ig!!!\l'

48 49

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~

J cretas. Uma ideologia nascida num país desenvolvido difunde-


dade político-jurídica com os grupos dominantes: reb1adi;a sc...
se em países menos desenvolvidos, incindindo no jogo loeal das
õãírêito de articipar da legIslaçao e da administração e. talvez
eQmbinações.'
(t I 'c - as, m - s, ma ros fu aIS Esta relação entre forças internacionais e forças nacionais
J aueee ueseadue ainda é complicada pela existência, no interior de cada Estado,
a consclen e 'ue os róprios interess IVOS.no seu
de diversas seções territoriais com estruturas diferentes e dife-
desenvolvimento atua e uturo su c!rculo co ora
rentes relações de força em todos os gr~us (a Vandéia era alia.
cfe eramente econ mico, e dem e d -se os
da das forças reacionárias internacionais e representava-as no
in ses pos su or ma os. Esta é a fase mais seio da unidade territorial francesa; bião, na Revolução Fran-
abertamente polltlca ue assmala a passagem nítida da estru- cesa, representava um nó particular de 'relações, etc.).
,tura para a es era das su ere ru uras exas; a ase e
u . ina n erlor rans ormam em 3) O terceiro momento é o da relação das forças militares,
"'r ,entram em eho ue e lutam até que uma de as ou imediatamente decisiva e esen-)
pelo menos uma ma ao e as en e a p , vo V.lmen o 18 rJ,co oscilo. con't1nuamente entre n primeiro e o.
1m ,ase I mt a a área SOCla, o m terceiro momento, com a medlaçao dO segundo). Mas es>~
a 1 os n mleos e p eos, também a uni- momento nAo é algo maIs tinto e que possa ser identificado ime.
dade inteleeluãI e ilroral Colgea todas as queStões em tbrnõ<iãS diatamente de forma esquemática. Também nele podem-se
qÚBlSse acende aJiíta não num plano ,corporativo mas num distinguir dois graus: o militar, num sentido estrito ou
a?o "universal". criando, assim.. a hegemonia de' um grupo técnico-militar. óe o grau que pode ser denominado de político-
soc,al fundamental sobre uma séne de' grupos sDbOldlliãdos. O ií1iIitãi. No curso da História estes dois graus se apresen-
é conce , o como e um grupo es- iàram com uma grande variedade de combinações. Um exem-
r as con ,õe v áveis à ex ansã es- plo ((pico; que pode servir como demonstração-limite, é o da
relação de opressão militar de um Estado sobre uma nação que
1
e as este desenvolvimento e esta expansão são con- I
ce?, os e apresentados como a força motriz de uma expansão procura alcançar a sua independência estatal. A relação não
I
universal, de um desenvolvimento de todas as energias "nacio- é puramente militar. mas político-militar. Efetivamente, tal tipo !
de opressão seria inexplicável se não existisse o estado de de-
nais", O grupo dominante coordena-se concretamente com os
interesses gcrais dos grupos subordinados, e a, vida estatal é sagregação social do povo oprimido e a passividade da sua I
concebida como uma contínua formação e superação de equil!- maioria. Portanto. a independência não poderá ser alcançada
brios instáveis (no âmbito da lei) entre os interesses do grupo apenas com forças puramente militares, mas com forças milita-
fundamental e os 'interesses dos grupos subordinados; equilfbrios res e político-militares. Se a nação oprimida. para iniciar' a,
em que os interesses do grupo dominante prevalecem até um .luta da independência, tivesse de esperar a permissão do Esta-
determinado ponto, excluindo o interesse econÔmico-corpora-
tivo estreito. 1 A I"f"Jlgião.
por exemplo. sempre foi uma fonte dessas combinações
ideológico-polltfcas nacionais e internacionais; c, com a religião, as ou.
Na história real estes momentos se confundem reciproca- tras fOrmaçõesinternacionais: a maçonaria, o Rotary Clube. os judeus, .
mente, por assim dizer horizontal e verticalmente, segundo as a diplomacia de carreira, qu~ sugerem expedientes polltlcos d. origem
atividades econômicas sociais (horizontais) e segundo os terri- histórica diferente e levam-nas a triunfar em determinados países, .fun- \
tórios (vcrticais), combinando-se e dividindo-se alternadamen- cfonando como partido poUtfco n em-
co :m emaci nais S. U
te. Cada uma destas combinações pode ser representadâ por otary, etc. s na
uma expressão orgânica própria. econÔmica e política, Tam- --.... soe a os _ a s.J' cu nção, em escala intemaciono., ~ a de
bém é necessário levar em conta que. com estas relações inter- meêitar os extremos, socializar"'as inovações técnicas que pcnnftem o
nas de um Estado-Nação, entrelaçam-se as relações internacio- funcionamento de toda atividade de direção, de excoj:!;itnr compromissos
e saldas enlre' ""luç6es extremas. '
nais, criando novas combinações originais e historicamente con-
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50
I)
;
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, do dominante para organizar o seu exército no sentido estrito rupturas do equilibrio social, afirma que, por volta de 1789, a
e técnico da palavra, deveria aguardar bastante ,telJlpo (pode situação econômica era mais do que boa, pelo que não se pode
ocorrer que a reivindicaçãoseja concedida pela nação donlinan- dizer que a catástrofe do Estado absoluto tenha sido motivada
te, mas isto siguifica que uma grande parte da luta já foi tra- por uma crise de empobrecimento. Deve-se observar que o
vada e vencida no terreno político-militar). Logo, a nação Estado estava às voltas com uma crise financeira mortal e devia
oprimida oporá inicialmente à fôrça militar hegemônica uma optar sobre qual das três ordens sociais privilegiadas deveriam
força que é apen'\s "político-militar"; isto é, oporá uma forma recair os sacrifícios e o peso,destinados a reordenar as finanças
de ação política com a virtude de <ieterminarreflexos de cará- estatais e reais. Além do mais, se a posição econômica da bur-
ter nlilitar no sentido de que: 1) seja capaz de desagregar inti- guesia era próspera, certamente não era boa a situação das clas-
mamente a eficiência bélica da nação dominante; 2) obrigue a ses populares das cidades e do campo, especialmenteestas, ator-
força militar donlinante a diluir-se e dispersar-se num grande mentadas pela miséria endêmica. De qualquer modo, a ruptura
territ6rio, anulando grande parte da sua eficiência bélica. No do equilIôrio entre as forças não se verificou em virtude ?e
Risare/menta italiano pode-se notar a aus8ncia dc!,astcosa de causas mecânicas imediatas de empobrecimento do grupo SOCIal
uma direção político-militar, especialmente no Partido da Ação interessado em romper o equilíbrio, e que de fato rompeu; mas
(por incapacidade congênita), mas também no partido piemon-

t
verificou-seno quadro de conflitos acima do mundo econômico
tês-moderado, tanto antes como depois de 1848. Isto ocorreu imediato, ligados ao "prestígio" de classe (interesses econômicos
não por incapacidade, mas por "malthusianismo econômico-O futuros), a uma ebsperação do sentimento de independência,
político", porque não se pretendeu nem ao menos acenar com de autonomia e de poder. A questão particular do mal-estar ou
a possibilidade de uma reforma agrária e porque ,não se queria do bem-estar econômico como causa de novas realidades his-
a convocação de uma assembléia nacional constituinte. S6 se t6ricas é um aspecto parcial da questão das relações dc força
queria que a monarquia piemontesa, sem condições ou limitações nos seus vários graus. Podem-se verificar novidades, tanto por-
de origem popular, se estendesse a tôda a Itália com a simples que uma situação de bem-estar é ameaçada pelo egoísmo mes-
sanção de plebiscitos regionais. quinho de um grupo adversário, como porque o mal-estar se
Outra questão ligada às precedentes é a de se ver se as tornou intolerável c não se perccbe na velha sociedade nenhuma
crises h' . fundamentais são determinad . iatamente força que seja capaz de minorá-lô e de restabelecer a normali-
~ as crises econônlicas. A respos a questão está implIcita- dade através de medidas legais. Portanto, pode-se dizer que
mente contIda nos parágrafos anteriores, onde as questões tra- todos estes elementos são a manifestação concreta das flutua-
tadas constituem outro modo de apresentar o problema ao qual ções de conjuntura do conjunto das relações sociais de força,
nos referimos agora. Todavia é sempre necessário, por motivos sobre cujo terreno verifica-se a passagem destas relações para
didáticos devidos ao público particular, examinar cada modo relações políticas de força, culminando na relação militar de-
sob o qual se apresenta uma mesma questão, como se fosse cisiva.
um problema independente e novo. In.!£ialmente, pode-se excluir Interrompendo-se este processo de desenvolvimentode um
que, de er si as crises econômicas imediatas roduzam aco - momento para outro, e ele é essencialmente um processo que
cImentos fundamentais'~ podem criar um emino fav!'- tem como atores os homens e a vontade e a capacidade nos
r vel difusão e deternlinadas maneIras de pensar, ae'formu- homens, a situação mantém-se inerte, podendo dar lugar a con-
ja e reso ve s uestões q clusões contradit6rias: a velha sociedade resiste e assegura um
.da vida estatal. De resto, t as as a rmações referentes a peno- período .de "alívio", exterminando fisicamente a élite adversá,
ãos ae crIse ou de prosperidade podem dar margem a juizos ria e aterrorizando as massas de reserva; ou então verifica-se a
unilaterais. No seu compêndio de História da Revolução Fran. destruição recíproca das forças em Juta com a instauração da
cesa, Mathiez, opondo-se à história vulgar tradicional, que aprio- paz dos cemitérios, talvez sob a vigilância de um sentinela es-
risticamente "acha" uma crise para coincidr com as grandes trangeiro.
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I
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,Mas a observa ão mais importante a ser feita a pro ósi o parlamentar, organização jornalística)' refletem-se em todo o
de ua quer an ise concre , esta: tais organismo estatal, reforçando a posição relativa do poder da
an ISCSna esm e burocracia (civil e militar), da alta finança, da Igreja e em
es'C~e?a um capítUlo da história do passado), mas só 'adquirem geral de todos os organismos relativamente independentes das
um slglllúcado se servem para justificar uma atividade práti , flutuações da opinião pública? O processo é diferente em cada
unta-iAiGiattva e. as 1D lcam quaIs sao os pontos país, embora o conteúdo seja o mesmo. E o <jI}teúdo é a
deIs ISenela onde a força da vontade pode ser aplicada crise de he emonia classe diri ente ue ocorre ou or ue a
mais frutIferamente, sugerem as operações táticas imediatas, c asse dirigente faliu em determinado grande empreen ,mento
indicam a melhor maneira de empreender uma campanha de político pelo ual ediu ou imôs .. ela .for a o cons mo
agitação política, a linguagem que será melhor compreendida a an como a guerra), ou porque amplas m'!,s-
pelas multidões, etc. O elemento decisivo de cada situação é a cialmente de cam oneses e de péquenos bur eses 10-
força permanente organizada e antecipadamente predisposta, telectuais assaram e repen e a passlvl a e o tlea a ce -
que se pode fazer avançar quando se manifestar uma. situação ta- ahvi a e e apresen aram relVln Icaçoes que, no seu COlll-
favorável (e só ~ favorável na medida em que esta força exista plexo desorganIZado. constituem uma Jtvoluç1to. Fala-se de cri-
e esteja carregada de ardor combativo). Por isso, a tarefa esseo. se de autoridade", mas, na realidade, o que se verifica é a
cial consiste em cuidar sistemática e pacientemente da forma. gjse de hegemonia, ou crise do Estado no seu conjunto.
ção, do desenvolvimento, da unidade compactlr e consciente de
si mesma, desta força. Comprova-se isto na história militar e .A crise cria situações imediatas perigosas, pois as diver-
sas camadas da população não possuem a mesma capacidade
no cuidado com que, sempre, os exércitos mostraram-se predis.
postos a iniciar uma guerra em qualquer momento. Os grandes de orientar.se rapidamente e de se reorganizar com o mesmo
Estados eram grandes Estados exatamente porque sempre esta- ritmo. A classe dirigente tradicional, que tem um numeroso
vam preparados para se inserir eficazmente nas conjunturas in- pessoal preparado, muda homens c programas e retoma o
ternacionais favoráveis, e o eram porque havia a possibilidade controle que lhe fugia, com uma- rapidez maior do que a que
concreta de inserirem-se eficazmente nelas. se verifica entre as classes subalternas. Talvez faça sacrifícios,
exponha-se a um futuro sombrio com promessas demagógicas,
mas mantém o poder, reforça-o momentaneamente e serve-se
Observações sobre alguns aspectos da eStrutura dos par- dele para esmagar o adversário e desbaratar os seus dirigentes,
tidos pollticos nos períodos de crise orglJnica. Num determi. que não podem ser muito~ e adequadamente preparados. A
uriificação das tropas de muitos. partidos sob a bandeira de um !
nado momento da sua . , os sociaIS se afas.

iI
ta1l1 eus isto é, os partidos tradi- partido único, que representa melhor e encarna as necessidades
,'cionais com uma determinada forma de organização, com de- de toda a classe, é um fenômeno orgânico e normal, mesmo se
o seu ritmo for muito rápido e fulminante em relação aos tem-
o. terminados homens que os constituem, representam e dirigem,
pos tranqililos: representa a fusão de todo um grupo social sob
não são mais reconheci,dos como expressão própria da sua
uma só direção, considerada li única capaz de resolver um pro-
classe ou' fração de classe. Quando se verificam estas crises, blema existencial dominante e afastar um perigo mortal. Quan-
a situação imediata torna-se delicada e erigosa, ois o do a crise não encontra esta solução orgânica, mas a solução
cam osso u oes e or a al1vidade e res ocultos re- do chefe carismático, isto significa que existe um equilíbrio \
.J1 e entados los homens rovidenciais caris . estático (cujos fatores podem ser despropositados, mas nos
Como se formam estas situações de contraste entre "re- quais prevalece a imaturidade das forças progressistas); signi-
presentados e represenl11Dtes", que do terreno dos partidos (or- fica que nenhum grupo, nem o conservador nem o progressis-
ganizações d,e partido num sentido estrito, campo eleitoral-

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,i •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

ta, dispõe da força para vencer e que também o grupo conser- cito, de nãó fazê-lo sair da constitucionalidade, de não levar
vador tem necessidade de um patrão'. a política aos quartéis, como se diz, para manter a homoge-
Esta ordem de fenômenos está ligada a uma das ques- neidade entre oficiais e soldados num terreno de aparente neu-
tões mais importantes, concernentes ao partido político: isto tralidade e superioridade sobre as facções; porém, é o exérci-
é, à capacidade de reação do partido contra o espírito consue- to, isto é, o Estado-Maior e, a oficialidade, quem determina a
tudinário, contra as tendências.mumificadoras e anacronísticas. nova situação e a domina. P2r outro lado, não é verdade 9,u.o
Os partidos nascem e se constituem em organizações para di- o exército se undo as ConstitUIoes, ]am31Sdeve fazer pohtl-
rigir a .situação em momentos historicamente vitais para as suas
classes; mas nem sempre eles sabem adaptar-se às novas tare- arma S
-
ca', o exército deveria exa amente e en er a ons I ulçao. a
InStitUI oes conexas; ISSO, a
fas e às novas épocas, nem sempre sabem desenvolver-se de c amada neutralidade significa apenas a aio a arte re rogra-
acordo com o desenvolvimento do conjunto das relações de .da. m aIS SItuações, orn - necess rio colocar a ao
força (portanto, a posição relativa das classes que represen- dessa maneira para impedir que se reprodnza no exército a
tam) no país a que pertencem ou no campo internacional. Ao divisão do país, e que desapareça, através da desagreg.açãodo
analisar-se o desenvolvimento dos partidos é necessário dis- instrumento militar,.o poder determinante do Estado-Maior. Na
tinguir: o grupo social, a massa partidária, a burocracia e o verdade todos estes elementos de observação não são abso-
~,í\.Estado-Maior do partido._~ burocracia é a força consuetudi- lutos; o' seu peso é muito diferente nos diversos momentos his-
W w,ria e conservadora mai-rperigosa; se ela chéja a constituir t6ricos e nos vários países.
vJY solidãno, voltado para si e independente da massa,
um corpo

~7 artido acaba se tornando anacrônico. e nos momentos de


crise aguda esvazIa o o seu '
como que solto no ar, Veja-se o que está ocorrendo com uma
série de partidos alemães, em virtude da expansão do hitleris-
A primeira indagação que se deve fazer é esta: existe num
determinado país uma camada social ampla para a qual a c~r.
reira burocrática, civil e militar, constitui um elemento mUIto
importante de vida econômica e afirmação política (participa-
ção efetiva no poder, mesmo indiretamente, pela "chantagem")?
mo. Os partidos fianceses constituem um terreno rico para tais Na Europa moderna esta camada pode ser localizada na pe-
investigações: estão todos mumificados e são anacrônicos; não
passam de documentos hist6ricos-políticosdas diversas fases da quena e média burguesia rural, que é mais ou menos nume-
hist6ria passada francesa, da qual repetem a terminologia en- rosa nos diversos países de acordo com o desenvolvimentodas
velhecida; a sua crise pode-se tomar mais catastr6fica do que forças industriais, de um lado, e da reforma agrária, de outro~
a dos partidos alemães. :e claro que a carreira burocrática (civil e militar) não é um
. Ao examinar-se esta ordem de acontecimentos, é comum monop6lio desta camada social: todavia, ela lhe é particular-
deixar de colocar no seu devido lugar o elemento burocrático, mente apta em virtude da função social que esta cama~a rea-
civil e militar; e também não se leva em conta que em tais liza e das tendências psieol6gicas que a função determma ou
favorece. Estes dois elementos dão ao conjuntu do grupo so~
Análises não devem entrar apenas os elementos militares e bu-
rocráticos existentes, mas as camadas sociais entre. as quais, cial certa homogeneidade e energia para dirigir, e, portanto,
nos diferentes complexos estatais, a burocracia é tradicional- um valor político e uma função muitas vezes decisiva n.? âm-
mente recrutada. Um movimento político pode ser de caráter bito do organismo social. Os elementos deste grupo estao ha.
abertamente militar, mesmo se o exército como tal não parti- bituados a comandar diretamente núcleos de homens, mesmo
exíguos, e a comandar Upo~lticamente", não "economicamente";
cipa abertamente dele: um governo pode ser de caráter militar,
mesmo se o exército não participa dele. Em determinadas si- na sua arte de comando não existe a disposição de ordenar
tuações pode-se dar a conveniência de não "descobrir" o exér- as "coisas", de "ordenar homens e coisas" num todo orgânico,
como ocorre na produção industrial, pois este grupo não tem
, Cf. O Dezoito Brumário de Luls Bonaparte. funções econômicas no sentido moderno da palavra. Ele tem
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~
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uma renda porque jundicamente é proprietário de uma parte deve ser entendida neste sentido, e não em sentido absoluto; o
do solo nacional, e a sua função consiste em impedir "pohti- que não é poucoI. Deve-se notar como este caráter "militar"
camente" o camponês cultivador de melhorar' a sua existência, do grupo social em questão, que era tradicionalmente um re.
pois qualquer melhoria da posição relativa do camponês seria flexo espontâneo de determinadas condições de. existência, é
catastrófica para a sua posição social. A miséria crônica e o agora conscientemente educado e predisposto organicamente.
trábalho prolongado do camponês, com o conseqüente embru- Enquadram-se neste movimento consciente os e~forços siste-
tecimento, representam para ele uma necessidade primordial. máticos para criar e manter permanentemente dIversas as~o-
Por isso emprega a máxima energia na resistência e no contra- ciações de militares reformados e de ex-combatentes dos várIOS
ataque à mínima tentativa de organização autônoma do tra- corpos e armas, ligadas aos Esta?os-Maior~s ~ capazcs d.e se-
balho camponês e a qualquer movimento cultural camponês rem mobilizadas quando necessárIo. Isto eVlta~18. a n.ecessldade
que ultrapasse os limites da religião oficial. Os limites deste de mobilizar o exército regular, que mantena, aSSIm,o seu
grupo social e as razões da sua fraqueza íntima situam-se na caráter de reserva em estado de alerta, reforçada e imune à
sua dispersão territorial e na "não-homogeneidade" mlimamen- decomposição política destas forças "privadas" que não pode-
te ligada a esta dispersão. Isto também explica outras caraete- riam deixar de influir sobre o seu "morar', sustentando-o e
risticas: a volubilidade, a multiplicidade dos sistemas ideoló' fortalecendo-o. Pode-se dizer que ocorre um movimento d.o
gicos a que adercm, o próprio exotismo das ideologias algumas tipo "cossaco", não em formações escalonadas dentro dos li-
vezes encampadas. A vontade está decididamente orientada pa- mites da nacionalidade, como se Verificava com os cossacos
ra um fim, mas é vagarosa e freqüentemente necessita de um czaristas mas dentro dos "limites" de grupo social. Portanto,
longo processo para centralizar.se orgânica e pohticamente. O em toda uma série de palses, a influência do elemento militar ,
•••
processo se acelera quando a "vontade" específica desse grupo na vida estatal não significa apenas influência e peso do ele-
coincide com a vontade e os interesses imediatos da classe alta; mento técnico militar, mas influência e peso da camada social
não só o processo se acelera, como manifesta-se repentinamen- fundamental de origem do elemento técnico-militar (especial-
te a "força militar" dessa camada, que algumas vêzes, depois mente .os oficiais subalternos). Esta série de observações é
de se organizar, dita leis à classe alta, se não pelo conteúdo, indispensável para a análise do aspecto mais íntimo daquela
pelo menos no que se refere à "forma" da solução. Observa-se determinada forma política que se convencionou chamar de
neste caso o funcionamento das mesmas leis que se configu- cesarismo ou bonapartismo; para distingui-la de outras. formas
raram nas relações cidade-campo no tocante às classes snbal- em que o elemento técnico-militar como. tal predomma sob
ternas: a força da cidade automaticamente se transforma em formas talvez ainda mais destacadas e exclusivas.
força do campo. Mas, em virtude de qne no campo os confli- A Espanha. e a Gr,écia oferecem dois exemplos típicos,
tos logo assumem uma forma aguda e "pessoal", dada a ansên- com aspectos semelhantes c diversos. Na Espanha é preciso le-
cia de margens econômicas e a normalmente mais pesada pres- var em conta algumas particularidades: tama~ho do territóri.o
são de cima para baixo, assim, no campo, os contra-ataqnes c baixa densidade da população rural. Não eXiste,cntr~ o IOll-
devem ser mais rápidos e decisivos. Este grupo compreende e fundiário nobre e o camponês, uma numerosa burgueSIarural;
vê que a origem das suas preocupações está nas cidades, na
força das cidades, e por isso entende de "dever" ditar a solução 1 Pode~sever um reflexo deste ~rupo na atividade ideol6gica dos in- \
às classes altas nrbanas, a fim de que o foco seja apagado, tAlectuais conservadores de direita. O livro de CAETANO MOSCA, Teo- t
mesmo se isto não for da conveniência imediata das classes al-
tas urbanas, seja porque mnito dispendioso, ou porque perigoso
a lougo prazo (estas classes vêem ciclos mais amplos de desen-
rica dei govemi • governo par/"metI/ar. (segunda edição de 1925, pri-
meim edição de 1883) é exemplar o este respeito; lá em 1883 Mosca
se ate~rorizava com um possível contato entre cidade e campo. Mosca,
pela sua posição defensiva (de eontra-ata~ue). compreendia melhor em
I
volvimento nos quais é possível manobrar, e não apenas o in- 1883 a técnica da politlca das classes subalternas do que a comRreen~
deram. mesmo nl~ns decênios' depois. os representantes destas furças
teresse "físico" imediato). A função dirigente desta camada subalternas. inclusive urbanas. t
58 Sff
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portanto, era escassa a importância da .oficialidade subalterna. se desagregue horizontalmente (permanecerá n:utro até cert?
como f<;rça em. ~i .(ao contrário, tioba certa importância de ponto, entenda-se). Em lugar dele, ~ntra .e~ açao a classe mI-
antagomsta a oflclahdade das armas especializadas artilharia e litar burocrática, que, utilizando melOs. nulit~res, sufoca o mo-
engen~aria, de origem burguesa urbana, que se.' opunha aos 2.
vimento no campo (de imediato o maIs pe!!g.oso Nest,a. luta,
generaIs ~ 'procur~va ter uma política própria). Assim, os. go- o movimento no campo registra certa U?lflCaçao pohllca. e
vernos mlhtares sao governos de '.'grandes" generais. Passivi- ideol6gica, encontra aliados nas classes médIas urbanas. (médIas
dade das m~ssas c.a~ponesas como população e qomo tropa. no sentido. italiano) reforçadas pelos estudantes de on?:m r~-
Se ?o exé~clto v,:mflca-se desagregação política, é em sentido raI que vivem nas cidades, impõe os s~us métodos. pohtlcos ~s
v.erllcal,. nao honzontal, fruto da ,competição entre as cama- classes altas, as quais devem fazer mUItas C0t;'-cessoese permI-
nlhas dmgentes: a tropa se. divide para seguir os chefes em tir uma determinada legislação favorável. Enfim, consegue, até
luta entre si.. O. gov~rno militar é um. parêntese entre dois go- um determinado ponto, permear o Estado de acordo. ~om o~
vernos constitucIOnaIs; o elemento Iluhtar é a reserva perma- seus interesses e substituir" uma parte dos quadros dtTJgentes,
nente da ordem e do conservadorismo, é uma força política continuando a se manter armado no desarmamento geral, de-
que atua "publicamentc" quando a "legalidade" está em peri- senha a .possibilidade de uma guerra civil entre os seus adep-
?
g.o. mesmo ocorre na Grécia, com a diferença de que o ter, tos armados e o exército regular, no caso de a elass.e alt~ mos-
nl6no grego se espalha num sistema de ilhas e de que uma trar muita disposição de resistência. E,st.as observaçoes nao de-
parte da população mais enérgica e ativa está sempre' no mar, vem ser concebidas como esquema~ n~dos, ma~. apenas comO
o que ~orna mais fácil a intriga e a conspiração militar. O critérios práticos de interpretação hlst6nca. e P?IillCa~Nas aná-
campones ~ego é passivo como o espanhol; mas, no quadro lises concretas de fatos reais, as formas hlst6ncas sao c~racte-
da ,p~pulaça~ total, quando, por ser marinheiro, o grego mais rfsticas e quase. "únicas". César representa um~ co~bmação
ene,r?ICOe allvo. ~stá quase sempre longe do seu centro de. vida de circunstâncias reais bastante diversa da com.bmaçao r.epre-
polItlca, a passIvIdade geral deve ser analisada diversamente sentada por Napoleão I, da mesma forma que Pnmo de Rlvera,
e a solução do problema não pode ser a mesma (o fuzilamen:
to dos membros dc um governo derrubado, há alguns anos, Zivkovich, etc.
provavelmente deve ser explicado como uma explosão de có. Na análise do terceiro grau ou momento do sistema das
lera deste .el;mento enérgico e ativo, que pretendeu dar uma relações de força existentes numa de~erminada sit.~aç~o, pode-
sangre?t~ IIçao). O que se deve observar especialmente é que, se recorrer proveitosamente ao conceIto que na .clencl~ mllIt~r
n~ Grecla e na Espanha, a experiência do governo militar não é conhecido por "conjuntura estratégica", ou sela, maIs precI-
cno,u .uma ideologia política c social permanente e formalmente samente, ao grau de preparação .est.ratégica d~ teatro da luta,
orgamca, como sucede nos pafses potencialmente bonapa.rtis- do. qual um dos clementos princIpaIs é forneCIdo pelas condI-
t.::lS, pa~a ~sar a_expressão. Mas as condições históricos gerais ções qualitativas do pess?al .diril;ente ~as f<;rças atIvas que po~
dos dOIS tIPOS ~ao as mesmas: equilfbrio dos grupos urbanos dem ser chamadas de pnmelta hnha (mclUldas nestas as fo~<;"s
em luta,. o que I~ped~ o .i0go da democracia "normal", o par. de assalto). O grau de preparação estratégica 'p0?e dar a vl~6-
lamentansmo; a mfluencla do campo neste equilfbrio, entre- ria a forças "aparentemente" (isto é, quantltallvamente) 10-
tanto, é diferent~. Nos pa~ses como a Espanha, o campo, com- feriores às do adversário. Pode-se dizer que a preparaçao es-
p!et~mente . paSSIVO,permltc aos generais da nobreza latifun- tratégica tende a reduzir a zero os chamados "fatores Impo~-
dlána . ser~ltem-se ~olIti~amente d~ exército para restabelecer deráveis", as reações instântaneas de surp~~sa, num d~terml-
o eqUllfbr~o em pengo, IStO é, o tnunfd dos grupos altos. Em nado momento, adotadas por forças. tradICIOnalmente mertes
o~tros palses .0 campo não. é passivo, mas o seu movimento e passivas. Devem ser computados entre os elementos da pre-
nao está pohtlcamente coordenado com .0 urbano: o exército paração de uma conjuntura. estratégic~ ~av~rável aquele~ co~-
deve permanecer neutro, pois é possfvel que de outro modo ele siderados nas observações sobre a eXlstencta e a orgamzaçao
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1 _ _ J
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dc uma. camada militar ao lado do organismo técnico do exc'r- recebida com disciplina intelectual e como meio para promo-
CIto naclOnaP.
ver formas de juízo não discordantes e uniformidade de lin.
cho dOutdr?Selementos pO.dem ser elaborados a partir deste tre- guagem, de modo a permitir a todos que compreendam e se
o Iscurso pronuncIado no Senado em 19 d . d façam compreender. Se, às vezes, a unidade doutrinária amea.
1932 I M" ,e maIO e
re deil~~~ra .;~~~o d~a G~er~a:, Gene~al G~z.er~ (cf. Corrie- çou . degenerar em esquematismo, a reação foi imediata, im-
exército constitu' h'
od - laJe,
maIO) , °
rcg.'me dIscIplInar do nosso
graças ao faSCIsmo, uma diretiva para
primindo à tática, inclusive através dos progressos da técnica,
uma rápida renovação. Portanto, esta regulamentação não é
I, l~ a fnaçao, Outros cxércitos tivcram e ainda têm uma dis estática, não é tradicional, como alguns crêem. A tradição é
ClPma ormal c ríoõda Nó t - considerada apenas como força, e os regulamentos estão sem.
. d "'.' s cmos sempre presente o princí-
pIO e que o cxérclto é feito para a guerra e pre em curso de revisão, não por desejo de mudança, mas
deveci~e.Pf~parar; portanto, a disciplina de paz de~U~et:;am:~~ para podê-los adequar à realidade". (Um exemplo de "prepa-
ma ISClPma do tempo de guerra, que no tempo de a d ração da conjuntura estratégica" pode ser encontrado nas Me.
e";contrar o se~ fundamento espiritual. A nossa disciEli~a ~:e mórias de Churchill, no trecho em que fala da batalha da J u-
~elts: no espír;to de coes~o entre chefes e gregários, coesão qu; tlândia. )
ma~~Jic:~e~~~an~~r:n~e slstem~ seguido, Este sistema resistiu
vitória' é mérit~ do reoi um~ o~ga e duríssima gUerra, até à
't r ' . ..,me asclsta ter levado a todo o povo o cesarismo. César, Napoleão I, Napoleão 111, CromwelI,
~ adlano Uma tradIção, ~isciplinar tão insigne. Da disciplina de e outros. Compilar um catálogo dos eventos históricos que
r:çtesu~át~:Isen~e o eXlto da. concepç.ão estratégica e das ope- culminaram numa grande personalidade "heróica",
há . - guerra ensmou mUItas coisas, inclusive que Pode-se afirmar que o cesarismo exprime uma situação
reali~m: s~paraçao profunda entre a preparação de paz e a em que as forças em luta se equilibram de modo catastrófico,
_ a e a guerra. ~ claro que, qualquer que se'a a re a
raçao, as operações iniciais da campanha coIocari os 6eUP - isto é, equilibram-se de tal forma que a continuação da luta só
rantes diante de problemas novos qu d- I ge- pode levar à destruição recíproca. Quando a força progres.
de uma parte d . e ao ugar a surpresas sista A luta contra a força reacionária B, não só pode ocorrer
cI - d e _e out:~, Por ISSO,não se deve chegar à con- que A vença B ou B vença A, mas também pode suceder que
usao e que nao é ulIl formular uma conce ão "
nem A nem B vençam, porém se aniquilem mutuamente, e
~~~c~:;hu~ ~nsi~almento pode s~r extraído da P~lerr~ :;~~;~a~ uma terceira força, C, intervenha de fora submetendo o que
ex ralr e a uma doutrina de guerra, que deve ser resta de A e de ~, Na Itália, depois da morte do Magnífico,
sucedeu exatamente isto.
1 A prop6sito da "cnmada militar" é .
TITTONJ, Qm Rícordi 6rso, 1 ' ~nteressante o Que l."ll;creve T. Mas o cesarismo, se exprime sempre a «arbitral",
1-16 de abril de 1929: Con~:sa
que, para reunir a for a úbl"
d~d;~~:'~~r
ínred:ta'd Nuobva Antologia.
me a o re o fato de
50
SOlUÇa0
confiada a uma grande personalidade, de uma situação histó-
didos numa locaJidad: c~a nl~~es~~c?ss~rin a. enfrentar os tumultos edo- rico-política caracterizada por um equilíbrio de forças de pers-
rante n Semana Vermeiha de unho dO esl'tllam~ceroutr~s regiões. Du- pectiva catastrófica, não tem sempre o mesmo significado his'
Rnvennn pera reprimir os mo~ d C 1914, fOI necess{mo desguarnecer tórico. Pode haver um cesarismo progressista e um cesarismo
força pública. o prefeito de Ran:enncntAncona. Em se,guida. privado da
nbandonando a cidade aos revoltoso ~''M?e
se trancar na prefeitura,
reacionátio; mas em última análise, o significado exato de cada
forma de cesarismo só pode ser reconstruído pela história con-
mesmo o quo poderia fazer o ov' s. U1tas Vezes perguntei fi mim
vesse eclodido simultancamente ~mc~~ se um. movl~ent? de revolta ti-
gOn.:rno a criação dos "voluntários d la a pe?,,"sula . TJttonf propôs ao
creta, e não por um esquema sociológico. ° cesarismo é pro'
gressista quando a sua intervenção ajuda a força progressista
por oficiais reformados, O projeto deR
comiucrução, mas não teve seqüência.
TI~~er:'.
ex~comhatentes diri~idos
001 parece que obteve nl~lIma
a triunfar, mesmo com certos compromissos e medidas que
limitam a vitória; é reacionário quando a sua intervenção aju.
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da a força reacionária a triunfar, também neste caso com de- campo a mesma situação examinada a propósito da fórmula
terminados compromissos e limitações que têm um valor,. um
alcance e um significado diversos, opostos aos do caso prece-
d.ente. César e Napoleão I são exemplos de cesarismo progres-
slsta. Napoleão 111e Bismarck de cesarismo reacionário.
jacobino-revolucionária da chamada "revolução permanente"'.
A técnica política moderna mudou completamente depois
1848,.depOISda expansãOdo parlamentarismo, do regime as-
de!
'socilltivo1irnllcãl e partidário, da formação de amplãSbmo-
Trata-se de ver se na dialética "revolução-restauração" 6 cracias-estatl!ise"nvadãS"""J:P.õllllco-p'nvadas, parbdãi'iãS"J
? elemento ~cvoluçãoou o elemento restauração 'lue prevalece, siiIdicals e as transformações que se verificaram na política
Já que é certo que no movimento hist6rico jamais se volta atrás num sentido maIs largº, Isto éJIiãõSôõo serviç~ªl Oes-
e não existem restaurações in toto. De resto, o cesarismo é um~ tinadOã repressão da delin liência, mas do conjunto das for.
f6rmula polêmico-ideoI6gica, e não um cânone de interpre- ças or amzadas elo Estado e elos a cu u e at
tação Jús\órica. :e possivel haver uma soluçA0 cesarlsta mesmo . ,. olítico---e "econômico Irl teso este
se~ um César, sem. uma personalidade "her6ica" e represen- sentido. ~ntejros partidos "polítjcos" e outras organizações eco-
tativa. Também o sIstema parlamentar criou um mecanismo nômicas ou de outro gênero. devem ser considerados organis-
para tais soluções de compromisso. Os governos "trabalhistas" mos de poliCIapolitlca, e de caráler mvestigativo e preventivo.
de MacDonald. eram, num determinado grau, soluções dessa O-esquema genérico das forças A e B em luta com uma pers-
natureza; o grau de cesarismo elevou-se quando foi formado o pectiva catastr6fica, isto é, com a perspectiva de que nem A
governo com MacDonald na presidência e uma maioria con- nem B vençam na luta para constituir (ou reconstituir) um
servadora. Da mesma forma na Itália, em outubro de 1922, equilf1:1rio
orgânico, da qual nasce (pode nascer) o cesarismo,
até o afastamento dos "populares", e depois, gradualmente até é precisamente uma hipótese genérica, um esquema socioló-
3 de janeiro de 1925, e ainda até 8 de novembro de 1'926 gico (conveniente para a arte política). A hipótese pode-se
verificou-se um movimento hist6rico-poUtico em que diversa~ tornar sempre mais concreta, pode ser levada a um grau sem-
gradações de cesarism.ose sucederam até uma forma mais pura pre maior de aproximação da realidade histórica concreta, o
e permanente, embora também esta não im6vel e estática. Ca- que pode ser obtido determinando alguns elementos funda-
da governo. de coalizão é um grau inicial de cesarismo, que mentais.
pode o~ nao ~e.?esenvolver até graus mais significativos (ao Assim, falando de A e de B só se disse que elas são uma
contráno, a 0plmao vulgar é a de que os governos dc coalizão força genericamente progressista e umá. força genericamente
constituem o mais "sólido baluarte" contra o cesarismo). No reãcionãiia. Pode-se precisar de que tipo de forças progres-
mundo moderno, com as suas. grandes coalizões de caráter e
sistas reacionárias se trata e, desse modo, alcançar maiores
econômico-sindical e político partidário, o mecanismo do fe- aproximações. Nos casos de César e Napoleão pode-se dizer
nôweno cesarisla é muito diferente do que foi até Napoleão que A. e B,' mesmo sendo distintas e contrastantes. não eram
II! .. No período que culminou com Napoleão m, as fôrças forças tais que não pudessem "absolutamente" chegar' a uma
tnIlitares regulares ou de filejra constituíam um elemento de- fusão e assimilação recíproca depois de um processo molecular:
cisivo para o advento do cesarismo, que. se verificava através o que de fato .ocorreu, pelo menos em certa medida (todavia
de golpes de Estado precisos, de ações militares, etc. No mun- suficiente para os objetivos histórico-políticos da cessação da
do moderno, as forças sindicais e políticas,coJIl os meios fi- luta orgânica fundamental e, portànto, para a superação da
nan<7iros_incalculá~eis de que podem dispor pequenos grupos fase catastrófica). Este é um elemento de maior aproximação.
~e CIdadaos,~on:rplicamo pro?lema. Os funcionários dos par- Outro elemento é o seguinte: a fase catastrófica pode emergir
tidos ~ dos smdlcatos econôtnlcos podem ser corrompidos ou em virtude de uma deficiência política "momentânea" da força
aterronzados. sem que haja necessidade de ações militares em dominante tradicional, e não agora em virtude de uma defi-
grande estilo, tipo César ou 18 Brumário. Reproduz-se neste 1 Ver nota na pág. 42. (N. do T.)
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c!ência organica Il<:~~ssariamente msuperável. Foi o que se ve- to progressistas como reacionários ou de caráter intermediá..
nflcou no caso de Napoleão lU. A força dominante na Fran. rio episódico, qualquer novo fenômeno histórico derive do equi.
ça de 1815 a 1848 dividira-se politicamente (sediciosamente) líbrio entre as forças "fundamentais"; também é necessário
em q.uatro.frações: . a legitimista, a Or1eanista,a bonapartista examinar as relações supervenientes entre os grupos principais
e a Jacobmo-repubhcana. As lutas internas entre. as facções (de gênero diferente, social-econômico e técnico-econômico)
eram de tal ordem que tornavam possfvel o avanço da força das classes fundamentais e as forças auxiliares guiadas ou sub-
antagon!sta B (progressista) de forma "precoce"; mas a for. metidas à influência hegemônica. Desse modo não se compre-
ma SOCialexistente ainda não exaurira as suas possibilidades enderia o golpe de Estado de 2 de dezembro sem se estudar a
de desenvolvimento,como a História em seguida provou abun- função dos grupos militares e dos camponeses franceses.
dantemente. Napoleão IH representou (à sua maneira, de acor. Um episódio histórico muito importante desse ponto de
do com a estatur~ do homem, que era grande) estas possibili- vista é o chamado movimento provocado pelo caso Dreyfus
dades latentes e Imanentes: o seu cesarismo assim tem um na França; também ele deve ser considerado nesta série de
colorido pa~ticul~r. O cesarismo de ~sar ~ d~ N~poleão I observações, não porque tenha levado ao "cesarismo", mas
fOI, por assIm dizer, de caráter quantItatiYll-qyalltativo repre- exatamente pelo contrário: porque impediu a ocorrência de
sentou a...fa~e histórica de .passageJD.....de_ª!!.L!!I'o
de' Est~. um cesarismo de caráter Oltidamente reacionário, que estava
para outro, uma passall"In_.t'-11! que as inovaç~s. Joram tantas em gestação. O movimento Dreyfus é característico, porque
e de tal otde~ que representaram uma transforniiçI!L..Cõjjj;--.' são elementos do mesmo bloco social dominante que frustram
. pleta. O cesallSmo de Napoleão IH foi só e limitadamente o cesarismo da sua parte mais reacionária, apoiando-se. não
quantitativo, não se verificou a passagem de um tipo de Estado nos camponeses, no campo, mas nos elementos subordinados
~ara ~u~ro, mas só "evolução" do mesmo tipo, segundo uma da cidade, guiados pelo reformismo socialista (e também na
linha mmterrupta. parte mais avançada das massas camponesas). Encontramos
No mundo modcrno, os fenômenos de cesarismo são in. outros movimentos histórico-politicos modernos do tipo Drey-
teiramente diversos, tllDto daqueles do tipo progressista César-. fus que não são, certamente, revoluções, mas também não são
Napoleão I, co~o também daqueles do .tipo Napoleão 111, inteiramente reacionários, tendo em vista que rompem crista-
embora se aproxImem deste últImo. No mundo moderno o f lizações sufocantes no campo dominante e inserem na vida do
equilíbrio com perspectiVas catastróficas não. se verifica e~tre Estado e nas atividades sociais um pessoal diferente e mais
forças que, em última análise, poderiam fundir-se e unificar.se numeroso do que o precedente. Inclusive estes movimentos po-
mesmo depoi~ de um processo fatigante.e sangrento, mas en: dem ter um conteúdo relativamente "progressista" na medida
tre forças cUJo contraste é insanável historicamente e que se em que assinalam a existência, na velha sociedade, de forças
aprofunda com o advento de formas de cesarism~ Todavia atuantes latentes não desfrutadas pelos velhos dirigentes; mes-
o cesarismo no mundo moderno ainda encontra um~ margem' mo sendo "forças marginais", não são absolutamente progres-
maior ou menor, de acordo Com os países e o seu peso rela: sistas, pois não podem "marcar época". Tornam-se historica-
tivo na e.st~tura mundi~,)á que uma forma social "sel)lpre" mente eficientes em virtude da debilidade construtiva do anta-
tem posslblhdades margmals de desenvolvimento ulterior e de gonista, não .de uma força própria interior, fato que as liga a
sistematização organizativa.. Ela pode contar especialmente com uma situação determinada de equilíbrio das forças em luta,
a fraqueza relativa da força progressista antagonista, devida ambas incapazes de exprimir uma vontade construtiva peculiar
à sua naturez~ e ao se~ modo de vida particular, fraqueza que no seu próprio campo.
deve ser mantida: por ISSOafirmou-se que o cesarismo moder-
no mais do que militar é policial.
Seria um erro de método (um aspecto do mecanicismo Luta polltica e guerra militar. Na guerra militar, alcan-
sociológico) considerar que, nos fenômenos de cesarismo, tan. çado o objetivo estratégico - destruição do exército inimigo

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fi"
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e ocupação do seu território - chega-se à paz. Além do mais, Tratamento à parte deve ser dado à questão dos comi/agi bal-
deve-se observar que, para que a guerra termine, é bastante cânicos, que estão ligados a condições particulares do ambiente
que o obje:ivo estratégico seja alcançado apenas potencialmen- físico-geográficoregional, à formação das classes rurais e tam-
te: é suflclent.enão haver mais dúvidas de que um exército bém à eficiência real dos governos. O mesmo se deve fazer em
nao pode m~ls•. lut~r. e. de que o exé~cito vitorioso "pode" relação aos grupos irlandeses, cuja forma de guerra e de or-
ocupar o terntono llllmIgo. A luta poUtica é muitíssimo mais ganização se vinculava à estrutura social irlandesa. Os comi-
complexa: em certo sentido pode ser comparada às guerras tagi, os irlandeses e as outras formas de guerra de guerrilhas
C?lom~ls.ou às velhas guerras de conquista, quando o exér- devem ser separadas da questão do arltitismo, embora pareçam
Citovltonoso ocupa ou se propõe ocupar permanentemente to- ter pontos de contato com ele. Estas formas de luta são pró-
do ~u un,ta parte do território conquistado. Então, o exército prias de minorias débeis, mas exasperadas, contra maiorias
vencido e desarmado e dissolvido, mas a luta continua no llem organizadas; enquanto que o arditismo moderno pres-
terreno ,?olíticoe da "preparação" militar. supõe uma grande reserva, imobilizada por várias razões, mas
Assim a luta política da India contra os ingleses (e em potencialmente eficiente, que o sustenta e alimenta com con.
ce;ta medida, a luta da Alemanha contra a França ou da Hun- tribuições individuais. .
gna contra. a Pequena Entente) conhece três formas de guer- A relação existente em 1917-18 entre as' formações de
r~: de movlm~nto, de posicão e subterrânea, A resistência pas- assalto e o exército no seu complexo pode levar e já levou os
siva de Gandhl é uma erra de osi ão ue em determinados dirigentes políticos a errôneas formulações de planos de luta.
momen os se 3ns arma em guerra de movimento e, em ou os, Esquece-se: 1) que os grupos de assalto (arditi) são simples
as_ formações táticas e pressupõem um exército pouco eficiente,
S S o erras e movimento, a prepara o c an estina de mas não completamente inerte: pois se a discipliQae o espíri-
armas e e ementos COmativos e ass o. guerra su err ea. to militar relaxaram até ao ponto de aconselhar uma nova dis-
Hfruíiia fOrma dê ardltzsmo,' mas ela é empregada com multá posição tática, em certa medida não deixaram de existir, pois
po,:deração. Se os ingleses estivessem convencidos da prepa- a nova disposição tática corresponde exatamente à disciplina e
raçao de um grande movimento insurrecional destinado a es- ao espírito militar; de outro modo, seria a derrota total e a
magar a sua atual superioridade estratégica (que consiste em .fuga; 2) que 'não é necessário considerar o arditismo como
certo sentido, na sua possibilidade de manobrar através de li- um sinal da combatividade geral da massa militar, mas vice-
nhas internas e de concentrar as suas forças no ponto "espo- versa, como um sinal da sua passividade e da sua relativa des-
radicamente" mais perigoso) com um levante em massa _ moralização. Isto deve ser compreendido através do critério
isto é,. obrigando-os a dispersar forças num teatro bélico tor- geral de que. as comparações entre a arte militar e a política de-
n.adosimultaneamentegeral - a eles conviria provocar a inicia- vem ser 'sempre estabelecidas cum grano salis, isto é, apenas
tiV~ premat~ra das forças indianas para identificá-las e des- como estímulos ao pensamento e como termos simplificativos
truir o ~o~lment~ ger~I. Da mesma forma conviria à França ad absurdum. Efetivamente, na militância política não existe
que a drrelta n~clOnalistaalemã se envolvesse num golpe de a sanção penal implacável para quem. erra ou não obedece
Estado. aventureiro .que levasse a organização militar ilegal pontualmente, falta o julgamento marcial, além de que o dis-
presumIda a se manifestar prematuramente, permitindo uma in- positivo político não se compara nem de longe ao dispositivo
tervenção tempestiva do ponto de vista francês. Assim, nestas militar.
formas de luta mistas, de caráter militar fundamental e de ca.
ráter político preponderante (mas cada luta política tem sempre Na luta política, além das guerras de movimento, de
um substrato ~iIita~), o ~~prego dos ~pos de assalto exige cerco ou de posição, existem outras formas. O verdadeiro ardi-
u!?a .formulaçao tática onglOal, para cUJa concepção a expe- tismo, o arditismo moderno, é próprio da guerra de posição,
nencla da guerra só pode dar um estimulo, não um modelo. como se viu em 1914.18. Também a guerra de movimento e

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a, guerra de cerco dos períodos anteriores tinham os seus ardi-
função político-militar: como função de arma especia\, o ardi-
11, em certo sentido; a cavalaría ligeira e pesada os bersaglieri
etc" ,as armas ligeiras cm geral desempenhavam' em parte um~
tismo foi aplicado por todos os exércitos na guerra mundial;
como função politico-militar verificou-se nos países pohtica-
funçao d~ grupos de assalto. Na arte de organizar as patru-
me:nte não-homogêneos e enfraquecidos, cuja expressão era
lhas m"n~festava-se o embrião do arditismo moderno. Embrião
um exército nacional pouco combativo e um Estado-Maior bu-
que surgia co,? mais viga: na guerra de cerco do que na
rocratizado e fossilizado na carreira.
guc~ra de movimento: serYlço de patrulhas mais amplo e es-
A propósito das comparações entre os conceitos de guer-
pecialmente arte de orgamzar sortidas imprevistas e imprevis-
ra de movimento e de guerra de posição na arte militar e os
tos assaltos com elementos escolhidos
, . 'conceitos relativos na arte política, deve-se recordar o opús-
• ,Outr? elemento a <e levar em conta é o seguinte: na luta culo de Rosa', traduzido para o italiano em 1919 por C. Ales-
poli~ca nao é neces~ário imitar os métodos de luta das classes sandri (traduzido do francês).
dO~l1nantes, sem ,c,alr em emboscadas fáceis. Nas lutas atuais No opúsculo teoriza-se um pouco apressadamente e tam.
mUItas v~~es verIfica-se este fenômeno: uma organização cs- bém superficialmente sobre as experiências históricas de 1905:
tat~1 debIlitada é como um exército enfraquecido; entram em efetivamente, Rosa desprezou os elementos "voluntários" e ar-
açao os grup?S de assalt.o, ,isto é, as organizações' armadas pri- ganizativos, muito mais difundidos e eficientes naqueles acon.
vadas, que tem duas mlssoes: usar a ilegalidade, enquanto o tecimentos do que ela pudesse crer em virtude de certo pre-
Est~do parece p.ermanecer na legalidade, como meio para reor- H
! conceito "economista" e espontaneista. Todavia, este opús-
g~mzar o, própr~o Estado. Acreditar que se possa opor à ati~ culo (e outros ensaios do mesmo autor) é um dos documentos
vldade prIvada Ilegal outra atividade semelhante isto é com- 01 is significativos da teorização da guerra de movimento apli-
b~ter o arditismo com o arditismo, é uma tolice;' signific~ acre, ca à arte política.. O elemento econÔmico imediato (crises,
dlt~r que o Estado permaneça eternamente inerte, o que ja- etc. é. considerado como a artilharia de campo que na guer-
mais ocorre, além das outras condições diversas, O caráter de ra a e a brecha na defesa inimiga, brecha suficiente para que
classe leva ,a ~ma diferença fundamental: uma classe que deve as tro as irrompam e obtenham um sucesso definitivo (estra-
trabal!Jar ,diarIamente num horário determinado não pode ter tégico), ou pelo menos um sucesso importante no .sentido da
o:gamzaçoes de, assalto permanentes e especializadas, como linha estratégica. Naturalmente, na ciência histórica a eficá-
uma classe que desfruta de amplas possibilidades financeÍl'as cia do el~ento econÔmico imediato era considerada muito
e, não está ligada, por todos os seus mem'bros, a um trabalho mais comple~a do que a da artilharia pesada na guerra de mo-
fiXO, Em qua.lq~er ~lOra do dia:e da noite estas organizações, vimento, pois este elemento era concebido como tendo um
tornadas profiSSIOnaiS, podem vibrar golpes decisivos e atacar duplo efeito: 1) abrir a brecha na defesa inimiga, depois de
de imprevisto. Porta~to, a tática dos grupos de assalto não po- ter desbaratado e levado as suas fileiras a perder a fé em si,
de ter, para determmadas classes, a mesma importância que nas suas forças e no seu futuro; 2) organizar rapidamente as
para. outras; para. _de!e~mina~as. cll\sseLLneces.s-ª!i~L.P0rque suas tropas, criar os quadros, ou, pelo menos, colocar os qua-
próprIa, a glJ~.mL_âe movlmentoe. de ma1!0bra, qu~, noesse dros existentes (criados até então pelo processo histórico ge-
da luta política, pode-se combinar com um útil e talvez - ii1dis' ral) com rapidez no posto que lhes cabia no enquadramento
pensável uso da tática dos grupos de assalto, Mas fixar-seria das tropas disseminadas; 3) criar imediatamente a concentra-
modelo ~i1itar é tolice: a política deve, também neste caso, ção ideológica da identidade do fim a ser alcançado. Era uma
ser <uperIor à parte militar, e só a politica cria a possibilidade forma de férreo dctcrminismo economista, com a agravante
da manobra e do movimento. de que os efeitos eram concebidos como rapidíssimos no tem-
De tudo o que se disse, resulta que no fenÔmeno do ardi-
1 ROSA DE. LUXEMBURGO, Lo sciopero generale - íl partito e i sinda-
lismo militar é necessário distinguir entre função técnica e cati, S. E. "Avanlil", Milão, 1919.. (N. c I.)

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po e no espaço; por isso constituía um verdadeiro misticismo ser riscado da ciência; mas que, nas guerras entre os Est~dos
histórico, a expectativa de uma espécie de fulguração milagrosa. mais avançados civil e industrialme~te, ele deve-se re~uzlr a
A observação do General Krasnov (no seu romance)l funções táticas mais do que estratégrcas, deve ser :olls,derado
de que a Entente (que não queria uma vitória da Rússia im- na mesma posição que a guerra de cerco em relaçao à guerra
perial, para que não se resolvesse definitivamente a favor do de manobra.
czarismo a questão oriental) impÔs ao Estado-Maior russo a A mesma redução deve-se verificar na arte e ':la ciência
guerra de trincheira (absurda, em virtude da extensão da. fren- politica, pelo menos no que se refere aos Estados ma,s avança-
te - do Báltico ao Mar Negro e com grandes zonas pantano- dos onde a "sociedade civil" transformou-se numa e~trutura
sas e boscosas), enquanto que a única possível era a guerra multo complexa e resistente às "irrupções" catastróficas do
de movimento, é uma tolice. Na realidade, n exército russo ten w elemento econômico imediato (crises. depressõe~, etc.): .!!L¥'-
tou a guerra de movimento e de penetração, especialmente no perestruturas da sociedade civil são como o sistema de tnn-
setor austríaco (mas também na Prússia Oriental) e alcan. cheiras na erra a. Da mesma. for~a que .ocorna na
çou êxitos brilhantes, embora efêmeros; A verdade é. que não erra, quan o um nutrido fogo de artilhan~ parecia ter de~-
se pode escolher a forma de guerra que se quer, a menos que tnúdo todo o sistema defensivo do adversáno, mas, na real!-
se tenha uma superioridade esmagadora sobre o IOlO1lgO,e é dade, só o atingira na sua superffde externa, e no ~omento
sabido quantas peraas custou a obstlOaçao aos EStaaos-Maio- do ataque os assaltantes defrontavam-se com .uma. linha de-
res em não quererem reconhecer que a guerra de posição era fensiva ainda eficiente, assim ocorre na polillca durante .as
"imposta" pela relação geral das forças em choque. Efetiva- grandes crises econÔmicas; nem as tropas atacantes, em vir.
mente, a guerra de posição não é determinada apenas pela luta tude da crise, organizam-se rapidamente: no temp? e no espaço,
de trincheira, mas por todo o dispositivo organizativo e indus- nem muito' menos adquirem um espinto agressivo; reciproca-
trÍlil que suporta o exército combatente: e é imposta especial- mente, os atacados não se desmoralizam, nem a~andonam as
o mente pelo tiro rápido dos canhões, das metralhadoras, dos defesas, mesmo entre ruínas, nem perde~ a co.nftança na sua
mosquetões, pela concentração das armas num determinado força e no seu futuro. :e claro que as cOisas nao permanece~
ponto, além de que pela abundância do fornecimento, que per. tais como eram, mas também é certo que o ~Iement.o.da raJ:l'
mite a substituição rápida do material perdido depois de uma dez, do tempo acelerado, da marcha progressista deflmt.,va nao
penetração e de um recuo. Outro elemento é a grande massa aparecerão de acordo com o que esperavam os estrategrstas do
de homens que participam do dispositivo, de valor muito de. cadornismo politico.
sigual e que só podem operar como massa .. Vê-se como na O último fato desta natureza na história política foram os
frente oriental uma coisa era irromper no setor alem~o, e ou- acontecImentos de 1917. Xl1csassinalaram uma reviravolta de-
tra no setor austríaco, e como num setor austríaco reforçado.
cisiva na história da arte e da ciência politicas. Portanto,..Á
por tropas escolhidas alemãs e comandado por alemães a tá-
necessário estudar com "rofundidade" uais são os elementos
tica do irrompimento acabava em desastre. Verificou-se ames. a sacie a e Civil que correspon em aos sIStemas de defesa
ma coisa na guerra polonesa de 1920, quando o avanço que
na guerra e I o. Igo c e IOtenclonaI-
parecia irresistível foi detido às portas de Varsóvia pelo Ge.
men e, pOIS e es foram estudados, mas a pa;tir de pontos ~e
neral Weygand na linha comandada por oficiais franceses. Os
vista superficiais e banais, como certo~ ~StU~IOSOS do vestuáno
próprios técnicos militares que se fixaram definitivamente na
estudam as curiosidades da moda femlOlOa, ISto é, c0!O a per.
guerra de posição, como antes se fixavam na guerra de ma-
suasão de que certos fenÔmenos são destruídos depo!s de cx-
nobra, de modo algum sustentam que o tipo precedente deva plicados "realisticamente", como se fossem superstiçoes popu'
lares (que, de resto, também não se destroem ao serem ex.
, PlOrn KRASNOV, Dall'aqulla lmperlale alla bandlera rossa, Florença
Salanl, 1928. (N. e 1.) plicadas) .
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Deve-se examinar se a famosa teoria de Bronstein sÔbre mentos de sociedade civil, etc. No Oriente, o Estado era tudo,
a permanência' do movimento não é reflexo político da teoria a sociedade civil era rimordiaf e elatinosa' no Ocidente ha-
da guerra manobrada (recordar a observação do general dos vIa en e o sta 'v'1 uma 'usta rela ão e em
coss~cos Krasnov), em última análise o reflexo das condições qualquer abalo do Estado jmediatamente descobria-se uma 12(}o
geraIs eco~Ômicas-culturais-sociaisde um pais em que os qua- derosa estrutura da sociedade civil. O Estado era apenas uma
dros da VIda nacional são embrionários e relaxados e não se trmchetra avançada, por trás da qual se sItuava uma. robusta
P?dem tomar "trin,cheiraou fortaleza". Neste caso poder-se.ia cadela de fortalezas e casamatas; em medIda dlvers e Estac
dIZer que Bronstem, que aparece como um "ocidentalista" par mente ISto exi .a um acur o
e~a, ao contrário~um cosmopolita, isto é, superficialmente na: re n eClmento do caráter nacio
clOnal~ superfiCIalmenteocidentalista ou europeu. I1ich,' ao A teoria de Bronstein pode ser comparada à teoria de
contráno, era profundamente nacional e profundamente euro- certos sindicalistas franceses sobre a greve geral e à teoria de
peu, Rosa no _opúsculo traduzido por Alessandri: os opúsculos de
Bro~tein recorda nas suas memórias terem-lhe dito que Rosa e a teoria de Bronstein, além do mais, influenciaram os
a sua te~na se revelara boa quinze anos. " depois, e respon. sindicalistas franceses, como se depreende de determinados ar-
~e ao epIgrama com outro epigrama, Na realidade, a sua teo- tigos de Rosmer sobre a Alemanha em Vie Ouvriere (primeira
na, como tal" não era boa nem quinze anos antes, nem quin- série em fascículos), Eles, em parte, também dependem da
ze anos depOIS: como sucede com os obstinados dos -quais teoria da espontaneidade,
f~l~ Guicc.iardiui,.ele adivinhou em grosso, teve ~ão na pre-
vlsao prá~lca mats geral; da mesma forma que se _prevê que
uma me~Ina de quatro anos se tomará mãe, e quando isto o conceito revo/II ão ssiva conceito de "revo.
ocorre, VInte anos depois, se diz "adivinhei", esquecendo po- lução passIva e ~uz-serfi or~~ ~ ~is princípios fun-
rém que quando a menina tinha quatro anos se tentara estu- damentais de ciência polltka: ejihÚma formação social de-
prá-Ia, certo de que se tomaria mãe. Parece-me que llich com- sa arece en an rodutivas ue nela se desenvol.
preendeu 9ue se ~eri.ficarauma modificação da guerra mano- vera -encontrarem lu ar ara um ulterior movimento ro es-
brada, aphca~a_vltonosamen~ no Oriente em 1917,. pará a sis a; SOCled assume com romissos ara cu'a so.
guerra de poslçao, que era a uuica possível no Ocidente, onde, luç o -atn a nã __ c 58 as etc.
como ob~erva ~a~no~, ;oum espaço estreito po~am acumu- SSlm, evem ser reportados à descrição dos três momentos
lar ,~uantldades Indlsc~1JIl1nadasde munição, -onde os quadros fundamentais que podem distinguir uma "situação" ou um equi-
SOClatSe~a~ ?e, per SI ainda capazes de se tomarem trinchei- líbrio de forças com o máximo de valoriza ão do ..ID.Q,.
ras mumc,ad,sstmas, Pareee-me que esta seja a fórmula da --meuo ou e r a •. '~~~.íllillI'nt'h. do
"frente única", que corresponde à concepção de uma úniea erceuo momento ou eq:uilíbrio polítjco:-.militarv)
frente da Entente sob o comando único de Fech, Observa-se que Pisacane, nos seup Saggi. preocupa-se com
Só que llich não teve tempo de aprofundar a sua fórmula, este terceiro momento: ele compreende, diferentemente de Maz-
mesmo levando em conta que ele podia aprofundá-Ia teorica- zini, toda a importância da presença na -Itália de um aguer-
mente apenas, desde que a missão fundamentá! era nacional rido exército austríaco, sempre pronto a intervir em qualquer
exigia um reconhecimento do terreno e uma fixação dos ele: ponto da península, e que, além do mais, tem atrás de si toda
mentos de trincheira e de fortaleza representados pelos ele. a potência militar do império dos Absburgo, uma matriz sem-
pre pronta a formar novos exércitos de reforço, Outro ele-
1 A teoria d. "revolução penuanente" de Trotski, (N, e I. ) mento histórico a ser citado é o desenvolvimento do cristia-
1 UIÚD.(N.eI.) nismo no seio do Império Romano, assim como o fenômeno
2 Na Rússia. (N. e I.)
atual do gandhismo na Jndia e a teoria da não-resistência ao
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políticas. Pode-se a licar ao conceito de volu ão assiva (do.
mal, de Tolstoi, que tanto se aproximam da primeira fase do isorgimento italiano) o critériS'JnJP:p,e-
cristianismo (antes do édito de Milão). O gandhismo e o tols- tativo das. modifica ões moleculares ue, na --realidade, modi-
toísmo são teorizações jngênuas e com tintura reHgiosa da
cam progressivamente ...a_.c.~riIposlçaoprece ente as or a~ e,
~revolução passiva". Também devem ser citados alguns movi- ,. rm m~se__ em .._ma 1Z e noya;s. mo 1 lcaçoes.
mentos chamados "liquidacionistas" e as reações que susci- ASSim, no RisorgimenlO italiano viu-se como a passagem .11.0
taraih, em relação com os tempos e as formas de determinadas cavourismo (depois de 1848) de novos eleme~t~s do Partido
situações (especialmente do terceiro momento). O ponto de de Ação modificou progressivamente a composlçao das forças
partida para o estudo é o trabalho de Vincenzo Cuoco; mas moderadas, liquidando o neoguelfismo, de um lado, e, de outro,
é evidente que a expressão de Cuoco a respeito da revolução empobrecendo () movi.me~to mazzin!ano. (a este processo per.
napolitana de 1799 não passa de uma alusão, pois o conceito tencem também as oscl1açoe. de GanbaldI, etc.). Logo, este el,:'
está completamente modificado e enriquecido.
mento é a fase originária daquele fen?m,:no que se ch~mou .mal~1
O conceito de "revQlução passiva", atribuído por Vin- tarde "transformismo", cuja importancla, parece, nao fO! a:e
cenzo Cuoco ao primeiro período do Risorgimento ítaliano,r,> agora dimensionada devidamente como forma de desenvolVI-
pode ser relacionado com o conceito de" erra de o '''.
mento hit6rico.
e onto com ..a. guerra. mano ra a Ts10 , estes conceitos' Insistir no aprofundamento d<;>,:onceito d~. qu.e, e~quanto
surgiram depois da Revolução Fraiiêesà, e o binÔmio Prou- Cavour tinha consciência da sua mlssao e consclencla cnltca da
dhon-Gioberti pode ser justificado com O pânico criado pelo missão de Mazzini, este, em virtude de não ter quase o.u ne-
terror de 1793, como o sorelianismo com o 'P.âníco que se nhuma consciência da missão de ~avour, estava~ na reahdadc,
seguiu aos massacres de Paris em 1871? Existe uma identida- pouco consciente da sua própria missão. ?ai .den~aram as suas
de absoluta entre guerra de posição e revõlüção' passiva? Exis- vacilações (em Milão, no período postenoras Cmco JornadllJ
te, pelo menos,. ou põôe. ser concebido' lodo um perl9l1.O.lliS~: e em outrás ocasiões) e as suas iniciativas fora de. te.mpo, que
t6rico em que os dois conceítos devem-se identificaratf..JIue ..a._. por isso configuravam-se apenas eom<;>elementos utels à poU-
guerra 3~1'.~sJçãó f se __
tran~orme ~e!I!":gjifua:::'
riiá:Q.9!l.r.ãeJ
..••.
a?'-- __ ticá piemontesa. Eis um ex!,mplo..~!l6tlC9.sob~e. ~omod~vla ~e:
""-'E necessário orrnUlar. um juízo "dinâmico" sobre as "res- compreendida a .9i-ª,é.tica apresentada.~m aM.sma .da F.loso/lG.
taurações", que constituiriam uma "astúcia da providência" em e-cada mWJ:lula.oposição ..de.ve.pr.ocurar ser mtegralmenle
sentido vichiano. Um problema existe: na luta Cavour-Mazzi- .~ mesmo e lanear na .M.a Jo ..dªs .as suas "reservas" políticas e
ni, em que Cavour é o expoente da revolução passiva-guerra de morais, e ~_!!9_a~SÍ1n.se-cons.egu.eJma.J;uperaçã() real, n~d.a
posição e Mazzini da iniciativa popular-guerra manobrada, não
serão ambos indispensáveis na mesma medida? Todavia, é ne-
cessário levar em conta que, enquanto Cavour tinha consciêricia
'''disso era compreendido nem p<Jr.Prou.d1:lon,nem por ~aZZlnl.
Direse-á que"ncnr"Groõerli"e'nem os te6ricos da reyoluc~o pas-
siva ou "revolu âo.restaura ãO"l. ender~~ o fenome~~:
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da sua missão (pelo menos em certa medida), enquanto com- mas a ques a e so se mo lfica:: neles! a mcom~ree~~ao
preendia a missão de Mazzini, este parece que não tinha cons- te6rica era a expressão prática das neceSSIdades da ~es~ de
ciência da sua e da missão de Cavour; se, ao contrário, Mazzirii desenvolver-se integralmen:e, até o ponto de_ conse~lr lD~or.
tivesse adquirido esta consciência, isto é, se fosse um político porar uma parte da pr6pna antítese, para nao se deixar su-
realista, e não um ap6stolo iluminado (se não tivesse sido Mazzi- perar". Isto é, na oposição dialética s6 a tese desenvolve, na
ni) o equilíbrio resultante da confluência das duas atividades se-
ria diferente, mais favorável ao mazzinianismo: o Estado italiano
ter-se-ia constituído sobre bases menos atrasadas e mais mo-. .1 Consultar a literatura política sobre 1848, de autoria de estudio~os
da fUosona da praxis. Mas não me parece que se possa esperar mU1tO
demas. E já que em cada acontecimento histórico verificam-se neste sentido. Os acontecimentos italianos, por exemplo, s6 foram exa-
quase sempre siutações semelhantes, deve-se ver se não é pos- minados sob o An~lo dos livros de Bolton King, etc.
sível extrair daí alguns princípios gerais de ~ncia e de arte
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realidade, todas as suas possibilidades de luta, até atrair para ram a plataforma de uma nova polftica orgânica, não obstante
si os chamados representantes da antítese: exatamente nessa o pr6prio Mazzini ter reconhecido ,!ue Pis~cane .for.mulara uma
formulação consiste a revolução passiva ou revolução-restau- "concepção estratégica" da revoluçao nacIOnal ItalIana.
ração. Nest~. ponto ~eve-se eonJ!ider.ar_a qu:stão da passagem A relação "revolução passiva-guerra de posição" no Ri-
da luta polIllea de guerra manobraaa--pãra "guerra ae pô- sorgimento italiano também pode ser estudada sob out~os as-
sição",' o que-na"Europa-'0"CorreudepoiS-de1'84'8, e que 'não pectos. Dois são importantíssimos: o que pode denommar-se
foi eõmpreendido por Mazzini c pelos mazzinianos como o do "pessoal" e o da "reunião revolucionária", O do upesso~l"
foi por outros. A mesma passagem verificou-se depois de 1871, pode ser comparado com o que se. verifico? .n~ guerra mundIal,
etc. Homens como Mazzini tinham dificuldades de compre- na relação entre oficiais de carretra c of,clals da reserva, de
ender, então, a questão, dado que as guerras militares não ha. , um lado, e entre soldados das fileiras e voluntários-arditi, de
viam fornecido o modelo; ao contrário, as doutrinas milital'es outro. Os oficiais de cl:irreÍra corresponderam, no I!-,~org~,"ento.
desenvolviam-se no sentido da guerra de movimento. :e preci- aos partidos polfticos regulares, organizados, tr~dlc,onals, ctc.,
so ver se Pisaeane, te6rico militar do mazzinianismo, refere-se que no momento da ação (1848) revelaram-se maptos ou qua.
à questão.
se e foram em 1848-49, suplantados pela onda popular maz-
Pisacane deve ser estudado porque foI o único que ten- zi~iano-den\ocrática, onda ca6tica, desordenada, "extemporâ-
tou dar ao Partido de Ação um conteúdo não s6 forma!, mas nea" por assim dizer, mas que, todavia, Iid~'fada por chefes
sut>,taneial: de antitese superadora das posições tradicionais. iihprovisados ou quase (de qualquer m~do nao pertencentes a
Não se pode dizer que para obter. estes resultados hit6ricos formações constituídas como. era o partido mod.erado) obteve
fosse necessária a insurreição popular armada, como acredi- sucessos indubitavelmente maIOres do que os obtIdos pelos mo,
tava Mazzini obsessivamente, isto é, não realIsticamente, mas derados: a República romana e Veneza revelaram uma for~a
como missionário religioso. A intervenção popular, que não foi de resistência notável. No período posterior a 1848, a relaçao
possív:l na forma concentrada e simultânea da insurreição, não entre as duas forças, a regular e a "carismática", organizou.se
s: v~f1f~counem mesmo na forma "difusa" e capilar da pres- em torno de Cavour e de Garibaldi, c deu o máximo resultado,
sao mdtreta, o que era possível e talvez fosse a premissa in- embora posteriormente '[os.e aproveitada por Cavour.
dispensável para a primeira forma. A forma concentrada ou Este aspecto está ligado ao outro, da "reunião". Deve-se
simultânea tornara-se impossível em virtude da técnica militar observar que a dificuldade técnica contra a qual sempre se
da época, ma.s s6 em parte. Isto é, a impossibilidade existiu chocavam as iniciativas mazzinianas foi exatamente aquela da
na medIda em que a forma concentrada e simultânea não foi "reunião revolucionária". Seria interessante, a partir deste pon-
prec"dida de uma preparação poUtiea e ideol6gica de longo to de vista estudar a tentativa de invasão da Sav6ia efetua-
fôlego, organicamente predispo.ta A de.pertar as paixões po- da pelo O~ncral Ramorino, pelos irmãos Dandicra, por Pisn-
pulare. e tornar possível a concentração e a eclosão simul- cane, etc., comparando-a com as situações que se .ofereceram a
tânea do movimento.
Mazzini em 1848. em Milão, e em 1849, em Roma, e que
Depois de 1848, s6 os moderados fizeram a critica do! de não teve capacidade de organizar. Essas tentativas de al-
mé:"do.. que precederam ao fracasso. Efetivamente , todo o guns poucos não podiam deixar de ser esmaga?as ~o nas-
movImento moderado se renovou, o neoguelfismo foi liquida- cedouro, pois seria maravilhoso que as f~rças reaclO~ánas, q~e
do, homens novos ascenderam aos principais cargos de direção. estavam concentradas e podiam .operar IIvremen~e (Ista é, nao
No mazzinianismo, ao contrário, nenhuma autoerftica, ou en-, encontravam\ nenhuma oposição em amplos movImentos da po-
tão autocrítica Iiquidacionista no sentido de que muitos ele- pulação), não pudessem esmagar as iniciativ~s do tip~ Ramo-
mentos abandonaram Mazzini e organizaram a ala esquerda rino, Pisacane, Bandiera, mesmo que elas ltvessem SIdo pre-
do partido ~iemontês; única tentativa "ortodoxa", interna, fo- paradas melhor do que o foram na realidade. No segundo pc-
ram os ensaios de Pisaeane, que, entretanto, jamais se toma- dodo (1859-Í860), a "reunião revolucionária", como aquela
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dos Mil. d~ Garibaldi, tornou-se possível graças ao fato d "clareza" intelectual dos termos da luta dev el.
que: pnmelro, G~baldi apoiava-se nas forças estatais Pie~ as es c areza é um valor olltico uando se torna aixão
~onte~as, e, depoIs, que a frota. inglesa 'protegeu de fato o ~enera 1Z a e cons I UI a premissa e uma vonta e orte. os
erm arque ;~ Marsala,. a tomada de' Palermo e esterilizou ultimos tempos, em muitas publicações sobre o Risorgimento,
a rota bourb?D1ca. Em MIlão, depois das Cinco Jornadas e na "revelou-se" que existiam personalidades que viam claro, etc.
Roma repubhcana, Mazzini teria podido constituir praças de (veja-se a valorização de Ornato feita por Piero Gobetti); mas
armas para re~niões organ!zadas; mas não se propõs fazê-Io, estas -'revelações" destroem-se por ~imesmas, exatamente por
daí o ~:u ç0!1flito com Ganbaldi em Roma e a sua inutilização serem revelações; elas demonstram que se tratava de elucubra-
em MIlao, dIante de Cattaneo e do grupo democrático milanês ções individuais, \ que hoje representam uma forma do "scnso
De qualquer form~, o curso do processo do Risorgiment(,' a posteriori", Efetivamente, jamais se fundiram com a reali.
se ~ro~,xeà luz a importância enorme do "movimento Hdema: dade tatual, jamais se tornaram conscIencia pupular-nacional
g6gtco de Jl?assa, co~ chefes surgidos ao acaso, improvisados geral e atuante. Qual dos do.is, o Partido de Ação ou o Partido
e~c:, n~ reahdade f0.1 absorvido pelas' forças organizadas tra: Moderado, representou as "torças subjetivas" efetivas do Ri-
dlclonals! pelo~ partIdos formados ao longo do tempo com so;gimento? r; claro que o Partido Moderado, e exatamente
elaboray~o racIonal dos chefes, etc. Em todos os aconteclmen- porque teve consciência inclusive da missão do Partido de
t?S pohticos do mesmo tipo o resultado .sempre foi igual (as- Ação. Em virtude dessa consciência, a sua "subjetividade" era
SIm em 1830, na França, a predominância dos orleanistas SO de uma qualidade superior e mais decisiva. Na expressão de Vi.
bre as forças p~pulares radicais deinocráticas, e assim, no fun: t6rio Emanuel 1I:"0 Partido de Ação n6s o temos no bôl~o",
do, na Re".ol~çao Fra.ncesa de 1789, em que Napoleão repre- há mais sentido hist6rico-polltico do que em tôda a obra de
s~nta, em ullJma anáhse, o triunfo das forças. burguesas. Or a- Mazzini.
mzadas contra as forças pequeno-burguesas' Jacobinas).: ~a
Jl?e~, forma. na guerra mundial, o predomínio dos velhos ofi-
Sobre a burocracia. O fato de que no de.senvolvimenlo
CIaIS e carrelr~ sobre os oficiais da reserva, etc. Em qual uer
nco rmas pollticás e econômicas viesse se formando
caso, . a ~usêncla. e~tre as forças .radicais-populares de . ~ma
nClon tiO e re arado
consc~ênc!a da mlssao. da outra parte, impediu-as de ter plena
conscIênCIa da. sua pr6pria missão e portant d a o buroc (civil e militar), tem um. signi-
'Ilb' f al ,o, e pesar no ca or la na ciência política e na história das formas
ellul no. m das forças' em relação ao seu efetivo poder de
estatais. Tratou-se de uma necessidade ou de uma de enera ão
Intl:rve:lçao e, fi!1almente, de determinar um resultado mais em. rela ão ao . como preten.
avança O. num sentid~ de maior p~ogresso e mais moderno.
dem os livre-cambistas "PUros,i? :£ verdade que cada forma so-
Se~pre Q' prop6SIto dO"concclto de Hrevoltição passiva" cial e estatal teve um seu problema dos funcionários, um mo-
ou de.. _re~olução-.Iestauração::..no Rjsorgimento Italjªno é
do seu de apresentá-lo e resolvê-lo, um sistema 'Particular de
cessán9;. c.ol~ar...com ..exatidãO_olLPmb1ç.l!lL-'Iill' em algu;::;
tendênCIas hlstono8!:áficas seleção, um tipo pr6prio de funcionário a educar. Reveste.se
d' _ ... b' ., ." . ..... , o'é den omma
. d o.. d as .relaçoes
,_._- - .."-.
entre de capital importância reconstruir o desenvolvimento de todos
~on IÇ"!,,So Jeijvas. e condiçé)es .subjetivas.:do evento hist6rico
estes elementos. O problema dos funcionários coincide, em
.arece que. ~s cOn?i~ões subjetivas existem' Sempie-CjueeXis~'
parte, com o problema dos mte!ectuals. Mas, se é verdade que
t~rem con?,!\'C~ objelJvas, isto na medida em que se trata de
SImples dlsltnçao de caráter didático: logo a discussão pod cada nova forma socla! teve. necessidade de um novo tipo de
versar sobre o grau e a intensidade das fo~~.. sub' ti
bre a relaç- d' léti' •..•• Je vas, so-
e ! funcionário, também é vcrdade que os nOvos grupos .dirigentes
jamais puderam rescindir, pelo menos dUrante certo tempo,
~o . la. ca entre as forças subjetivas contrastantes.
a a Iça0 e os mteresses éOnsmuidos, IStO é, das lorma.
••. Ir; precls.o eVItar que a questão seja colocada em termos
mte ectualísticos", .e. não hisl6rico-polítlcos. :£ pacífico que a ções de funcionários já existentes e pré-constituídas quando dõ

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,
"

,.scu a.dvcnto (especialmente nas esferas eclesiástica e militar)


ram precisamente uma critica unilateral e de intelectuais à
A umdade do trabalho manual e intelectual e uma ligação mai~
cslmla enlre. ° P.oder I:egislativo e o Poder Executivo (pela desordem e à dispersão de forças,
Entretanto, é preciso distinguir nas teorias do centralis-
q~al os fu~clOnános eleitos, além dc controlar, se interessam
pelos negóelOS de Estado) podem ser motivos inspiradores tan- mo orgânico entre aquelas que ocultam um programa preciso
to para. uma onentação nova na solução do problema dos in- de predomínio real de uma parte sobre o todo (seja a parte
telectUaIS, como para o problema dos funcionários. constituída por uma camada como a dos intelectuais, seja a
parte constituída por um grupo territorial "privilegiado) e aque-
_ 2)" ':.inc~Jada à uestão da burocracia e da sua or ani- las que representam uma pura posição unilateral de sectários e
zaçao ótima, est a dlscuss rc os chamados "centra. fanáticos, e que mesmo podendo esconder um programa de
ll,mo orgahJco" e "centralismo democrático" (que, além. do predomínio (em geral de uma individualidade, como a do Pa.
maiS, nao tem ~a.da que ver com a democracia abstrata, 'tanto pa infalfvel que levou o catolicismo a se translomar numa
que a Revoluçao francesa e a 'I ercelra República desenvol espécie de culto do pontífice), imediatamente não parece ocul.
veram form~s de centralismo orgânico não conhecidas nem pe: tar tal programa como fato polftico consciente, O nome mais
la monarquia absoluta e nem por Napoleão I) De
Procuradas
.
. d . vem ser
e examma as as relações econômicas e polfticas
exato seria o de centralismo burocrático, A "organicidade" s6
pode ser do centraItsmo democráhco, que eum centraItsmo
I,
~~aIS_ ue encontram ~ su~ forma de organização, a sua arti- em movimento, ISto ,uma con nua a e u o i.
êCi açao e a Sua unclOnahdade nas Iversas mam estaçoes de' zãÇão ao. movImento rea, um modo de tem erar os impu sos I
c~itrallsmo ótgâlUco e democrahco em todos os campos: na a ase com o coman o a cu u a, um msertmen o con InUO
vld" es~atal (umtansmo, federação, união de Estados federados, dos e emen os ue ro am o mais fundo da massa na corri"a :1
federaça~ de Estados ou Estado federal, etc.); na vida interes- s6lida do a arei o e Ire o con mUi e
talal (ah~nças, .formas várias. de "constelação" polftica inter- a acumulação regular das ex eriências '" " or-
naclO~al), na VIda das associações polfticas e culturais (ma- que eva em conta o mOVImento ue é o odo or ânico de re.
ç(onar!~, Rotary Clube, Igreja católica); sindicais econômicas ~elar:e Da reaIlda e 18 rIca, e não se enriíece mecanicamen"
cartelS, trustes); num mesmo país, em diversos países etc te ll1I llúl'1lcrácla e, ao mesmo tem o leva em conta o ue é
.. Polêmicas s~r~iram n.? passado (antes de 1914 'a ~o. !áVel ç e~maIiente? ou que QelQ menos, move-se. ?uwa di-
posllo do pred~~mlo. alemao. na vida da alta cultura e) de II . re il!ô facII dê rever' e c ilsíê J;jêffientode estabIlidade no
mas .r~rças p.ohlJcas mternaclOnais: era, de fato, r~este p~_ Esta o encarna-se no desenvolvimento or ânico do nú c n-
d?mmlO, ou ~m que. c?nsistia ele? Pode-se dizer:" à) nenhum t e ma orma ue sucede em escala
vmculo .orgâmco e dISCIplinar estabelecia essa supre acia que mal a na vt a os pa os, pre omm nCla o centra.
portanto, era u~ mero fenômeno d~'nfluência culturaí abs~ Ilsmo burocráltco no Estado' ica ue e está
tr~1tae, de, prestígio bastante instável;' b) sta influência cultural sa ura o, transformando-se num corrilho estreito ue ten e' a
nao atmgla em ~ada a ativ~dade fa ,que, vice-versa, era r os seus mes um os nvt os co 'n,
desagregada, I?cahsta, sem onentação de conjuntq, Não se po- c USI ocan o, o sur mento de for ontrastantes mes.
de falar, ,Por ISSO,dc nenhum centralismo, nem orgânico nem mo se es as Orças se con n em com os interesses dominan.
democrá.lJco e ~em .de outro gênero ou misto. A influência tes fundamentaIs (por exemPlo. nos sistemas neidawente pro..
cra ~enlJda de Imedtato por escassos grupos intelectuais sem tectomsfas . fi luta com o liberalismo econômico), Nos parti.
hga~ao :om as m~ssas populares; e exatamente esta ausência d(ls que representam grupos socialmente subalternos, o ele.
de hgaç.ao caractertzava a situação, Todavia, tal estado de coi- meno e esa II e e sse rar a e mo-
sas é digno de exame p~rque facilita explicar o processo que nia nao a grupos nVI egia os, mas aos elementos ro essistas,
levou a formular as teortas do centralismo orgânico, que fo- or am arnen e ro s I s e o a outras or as lUS e
alia as, mas conciliadoras e oscilantes •.
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83
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De qualquer modo, deve-se destacar que as mat:lifestações Wor esquemático e metaRSrico, isto é, não pode ser aplicado
deformantes de centralismo burocrático ocorreràm em virtu e mecanicamente, '(}orquenos agregados humanos o elemento qua-
,e e clenCla e 101C1atlvae e res onsa a e na base 'st litativo (ou de êáPãcidade técnjca e intelectual de cada um..dos
" o pnnu VI ncas inclusive seus componentes) tem um - .' nte, enqua.nto
qua~ o e as são da mesma natureza do grupo temtorial hege- nao e I o matematicamente. Por ISSO,pode-se dIZer
mÔmco (fenômeno do piemontesismo nos primeiros decênios da que cada aglomerado humano tem um rincí ia 6t' . ar
~nidade. itali.ana). ~ existência de tais situações nos organismos de pro orçoes e s.
Illt~rnaciOmus (SQcledade das Nações) pode ser prejudicial e peCl ente a ciência da organização pode recorrer com
pengosa. utilidade a este teorema, e isto ~anifesta.se com clareza no
O centralismo ,democrático oferece uma fórmula elástica, exército. Mas cada forma de SOCiedadetem um tipo de ex.ér-
que se presta a mUitas encarnações; ela vIve en uanto é inter- cito, e, cada tipo de exército tem um princípio de proporçoes
pre a e, a ap a a con uamen e s necessl a es. Ela consiste definidas particular, que, de resto, também muda de a~otdo com
na pesqwsa êiltica de tUdo que é I ãI na a arente disforrnidade, as diversas armas ou especialidades. Há uma d~t~rrmna~a. rela.
e e e m u os o na aparente uniformidade para ção entre homens de tropa, graduados, subofiClals, ofiCiaiS ~u.
orgmar e ligar estreitamente rudo o que e semelhante, mas baltemos, oficiais superiores, Estados-Maiores, Esta~o~MaiOr
de môdo ue a ar amza ao e a conexão areçarn uma necessi- Geral, etc. Há uma relação entre as várias armas e especI~hdades,
a e prática e m utiva", ex eriment e n o o resu a' e etc. cada modificação ,numa parte determina a neceSSidade de
?'li processo raCionalista, e utivo, abstrato, isto é, pr prio os um equilfbrio com o todo, etc.
lIltêlecfuaJSpuros (ou uros asnos . Este trabalho conanuo £ara , Politicamente, o teorema pode ser aplicado nos partid~s,
se eClo ar mternacional" 'e "umtáiiO" na reaIra e nos sindicatos, nas fábricas, para se ver como cada grupo SOCial
naciOnal e local é, na realidade, a ação olftica concreta, a tem uma lei de proporçães definidas pró ria, que vana de acor-
c na ora e ,progresso st nco. se a o o com o ve e a, e m e en enCla men a, e es mto
requer uma um a r amca en eona e pr ca, en eca- e 101C1ava e e senso e res onsa a e e e SCI a dos
mãilas mtelectu81s e massas pop ares, entre iP"Cmantes' e go- seus mem ros m81S atrasa os .
vemados. As fórmUlas de unidade e federação perdem grande s prol1orções é sintetizada da seguinte forma por
pãrte do seu significado deste ponto de vista, enquanto conser- Pantaleone, em Prmcipi di economia pura: ":.. Os. ~orpos
vam o ~eu veneno na concepção burocrática, pela qual a uni- .se combinam uirnicamente a enas em ro ar es deflDldas e
dade deIXa de existir e se transforma como que num pântano ca a uan a e e um e ementa, que supere a uantidade cxi-
de águas estagnadas, superficialmente calmo e "mudo" e a fe- tilda para uma combina o co o e e. e te e
deração num "saco de batatas", isto é, na justaposição ;"edinica quan I a e8 definidas fica livre' se a uantidade de um elemen-
de "unidades" individuais sem nexo entre elas. to e ciente em relação quantidade de outros e!ementos
presentes, a combma ia s6 se verifica na medida em que é
sufli:ten e a quantidade do elemento que es esen e em quan.
trorema das proporções defini . Este teorema pode tida e menor o ue . na poss ve servJ[-se meta 0-
serempr .. ra tomar mais claros e de um ricarnen e esta ei ara com reender como um ' mo to"
esquematismo mais evidente muitos raciocínios relacionados com ou tendência de o inioes se toma a
a ciência da oreanjzação (o estudo do aparelho administrativo' e ciente o ponto de vista do exercicio do pOlier overnamen .
da composiçã~ demo~áflca! etc.) e também c,om a polftic~ e .'. I e a orou no seu interior)
geral (na análise das sltuaçoes, das relações de forças, no pro-
blema dos intelectuais, etc.). Deve-se recordar sempre, é claro, 1 MAFPBO PANTALEONE,Princlpl di economia pura, Milão, 1931, parág.
que o recurso ao teorema das proporções definidas tem um 5, pág. 112. (N. e 1,)

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j
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,

diri entes de vários graus e na. medida em que esses dirigentes do uma época de "eVOlução" "natural", que a sociedade tivesse
adquinram e ermma as capacI a es. encontrado os seus fundamentos definitivos, porque racionais,
O "automatismo" hist6rieo de determinadas premissas (a ete. Eis ue a sociedade pode ser estudada elos métodos das
existência de determinadas condições objetivas) é potenciado ciências naturais. 10 o reCImen o o conceito e s a o em
polIticamente pelos partidos e pelos homens capazes: a sua con e neta e ta visão. Se ciênCIa .• cia

I
ausência ou deficiência (quantitativa e qualitativa) toma estéril do sta o, e sta o to O O com lexo de atividades práticas e)
o próprio "automatismo" (que, portanto, não é automatismo). te ncas com as quais a c asse dirigente JUs I Ica e ,man m ~ao ~
s6 O seu ClOmihlõ, mas eof1segtie obter o consentimento a IVO t
s.f-.o.d..z,
_
As premissas existem abstratamente, mas as conseqüências não
se verificam porque falta o fator humano. Por isso pode-se , as as uestoes essenciais da _ -
dizer que os partidos têm a missão de criar diri ntes Cll llZCS SOCIO ogI n passa questoes a Clenela po ItIca. e
são a função e massa ue s multi' S um res!duo, esse .so pOde ser de falsos problemas, isto é, de
dm necess nos para que um grupo social definido (que problemas ociosos. Portanto, a questão que se impunha ao au-
éuma quanhdade "fixa", na medida em que se pode estabelecer tor de Saggio popo/are' era a de determinar em que relações
quantos são os componentes de cada grupo social) se artieule podia ser colocada a ciência política com a filosofia da praxis;
C de caos tumultuado, transfoniJe-se em ex6n:ito poUticq orga ...
I
se entre as duas existe identidade (coisa não sustentável, ou
nIeamente predisposto. Quando em eleições sucessivas do mes- sustentável apenas do ponto de vista do mais grosseiro positi-
mo grau ou de grau diferente (por exemplo, na Alemanha antes vismo), ou se a ciência política é o conjunto de princfpios em-
de Hitler: eleições para a presidência da Repúbliea, para o píricos ou práticos que se deduzem de uma concepção mais
Reichstag, para as dietas dos Liinder, para os conselhos comu- vasta do mundo ou filosofia propriamente dita, ou se esta filo-
nais, e assim até os comitês de fazenda) um partido oscila na sofia é só a ciência dos conceitos ou categorias gerais que nas-
sua massa de sufrágios de máximos a mínimos que parecem cem da ciência política, etc.
estranhos e arbitrários, pode-se deduzir que os seus quadros Se é verdade que o homem s6 pode ser concebido como
são deficientes em quantidade e qualidade, ou em quantidade e homem historicamente determinado, isto é, que se desenvolveu
não em qualidade (relativamente), ou em qualidade e não em e vive em determinadas condições, num determinado complexo
quantidade. Um partido que obtém muitos votos nas eleições social ou conjunu> de relações sociais, pode-se conceber a so.
locais c menos naquelas de maior importância política, certa- ciologia apenas como estudo destas condições e das leis que
mente é deficiente qualitativamente na sua direção central: regulam o seu desenvolvimento? Já que não se pode prescindir
possui muitos subalternos ou, pelo menos, em número suficien- da vontade e da iniciativa dos próprios homens, este conceito
te, mas não possui um Estado-Maior adequado ao pais e à sua só pode ser falso. Saber o que é a própria "ciência", eis um
posição no mundo, etc. problema que deve ser colocado, Não é a CIPnC'a, em Eí m8S~
ma "atividade olítica" e pensamento politico, na medida em
que trans orma os omens, orna-os I eren es o que eram
antes'/ se tudo é 'pollhca", é preciso, para não cair num fra-
oci%gia e ciência o . . A fortuna da sociologia. rela- seado' tautológico e enfadonho, distinguir com eonceitos novos
dona- a neia do concejto de ciência poUtica e a política que corresponde àquela ciência que tradicionalmente
de arte política que se venficou no. século XIX (com mais exa- se chama "filosofia" da política, ciência política num sentido
tidão na segunda metade, com o êxito das doutrinas evolucio- estrito. Se a ciência é "descoberta" de realidade ignorada antes,
nistas e positivistas). Tudo o que há de impo[lante na socio- não é esta realIdade, em ceno sentido, .concebida como trans-
logia não passa dc ciênCia ~olítica. "pollticaWtoma-se sinônimo
ecfu!M!el Não se pode pensar que amda eXlsfe algo de "igno-
de pollhca parlamentar ou e corrilhos pessoais. Convencimen-
to de que com as constituições e os parlamentos tivesse começa- I Bukhanln. (N. I.)
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.~
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to" e, portanto, de transcendente? Além do mais o.canc.ei!lLPe '!fitIeioDais" que não ,podem deixar de prevalecer quando se tra-
ciência como "cria ão" não tem o mesmo si iflcado de' oU. ta de induzir a vontade nacional num sentido mais do que nou-
:rudo ~nsist~, ~~"ver se se trata de cnação ar Itr a" tro. "Desgraçadamente", o indivf~uo é levado a confundir ~ seu
ou racIOnal, Isto é, uhl aos _homens para ampliar o seu con- "partIcular" com o interesse nacIOnal. e, portanto, achar hor-
ceito da vida, para tOQlauuperior-{-desen¥Q! 'a vida.' nvel", etc., que a decisão caiba à "lei do número"; na verdade,
__-O.-nt.mero e a qualidade nos regimes representalivo m é melhor se tomar élite por decreto. Logo, não se trata de que!? ~
dosu. - .. n osiste- "tem muito" intelectualmente sentjr-se redUZIdo a? mvel !lo O~I-
.mo analfabeto, mas d~ quem presume: ter mUlto e _pr~ten .e
~ ma eleitoral de formação dos órgãos estatais é o de que "néle
<-./- o numero é .lei suprema" e que as "opinões de um imbecil qual- arre a 1-

quer, que s£ubo.escrever (c inclusive de um analfabeto, em de-


estm~ de pdder que êle possui para eCI Ir so re o curso aa
t~~m1Dadospaíses) vale, para efeito de determinar' o curso po- VIda etatãI. .
Da crftica (de origem oligárquica, e não de élile) ao re me
htlco do Estado, tanto quanto as opiniões de quem dedica à
parlamenlansta (é estranho ue éle não seja criticado e o . o
nação as suas melhores forças". etc." Mas a verdade é que de
ae ue a racionali e IstonclS o consen Imento .nu o
modo nenhum o número constitui a "lei su rema" nem o •eso
slstemahcamente falsific . . 'queza), estas
a o ml o de cada eleitor é exa amente I .' s n meros,
afirma es banais se J'<~nd:r:: Qlm:ouer ~istema represeõ=
mesmo n,:s e caso. s o um sunp es v or mstromental, qúe dão
tiffiVo, mesmo não. Da;I'!.!!1~!!!~~Iª !l...jljO Jorjado segundo os
uma medida e uma relação, e nada mais. E depois, o que 6
que se mede? Mede-se exatamente a eficácia e a capacidade de c emocracia formal. O ue a
es s re mes o c sentimento n - ento
expansão e de persuasão das o mlões de ãl ns, das minotias
do vo o uma ai ao tr" u - consentimento
, as I es, as vanguar as etc. sto a sua caClon -
permanentemente ativo até o onto e!1l que aquêles ue con.
da~e ~u hlslonCldade ou lúncloAAlidade concretã. O que não
quer dizer que o -eso das o ioiõcs cada um seja "eXauunen- sentem poderiam ser consl era os como nClon o~ O -
r 18 ajo S 1 las e as opimões nlo "nascem" espontâneamente tailo C aS eIelsoes um modo de recrutamento voluntáno de t\jtt-
ciõnãiios estãtãlS de um ~le!1!ill!:adoupo. gue em certo senligo
nz cer:ro de cada. ind!viduo; tiveram um centro de formação, pê5lIcna assemelhar-se (em d1VêíSQS p1ãíl~s5 BO se~yemment.
dI: ~rrr~çao, de .dl~s.ao ~e persuasão. um grupo de homens Baseando-se as eleições não em prouamas lIenéncos e vagos,
ou mc uSlve uma mdivldualidade ue as elaborou e a resentou
mas em ro.,. mas de traba .' uem con.
so orma po ca e atualidade. A numeração dos ' o os" sen empenha-se em fazer âillº mais do gue O cidadão leg,aI
~-a nIa~Slaçdo fmal de um longo rocesso em que a mwor comum para realizá-los isto é, em ser uma van uarda de a.
exa amen e ue es ue e lcam sUldo ti o a lVO e res ons' ve . c e1llento voluntBriedade" n.3
_ me ores orças quan o sao IS.
imcIa va no. as mal~
prêtenso grnpo de grandes, apeSilLdJlS:::tõrcas materiais extra- amp as multidões, e quando. estas não são formadas de cidadãos
ordinárias ue . ~ obtém o consentimento da maioria amodos, mas de elementos produtivos qualificados, p~de-se
deve ser J gado ou inepto ou não-representan os mteress~ compreen er a importância que pode ter a maDlfestaçao do
I A P1'Op6sito
do Sogg/o P'1"lore e do .eu apêndJce, Teoria e protlc6,
vcl~-sena "Nuova Antolo~a' de 16 de março de 1933 a resenha filo-
sófica de ARMANDo CARLINJ, da qual resulta que a equaçfi.o: '-reoriB:
-
volo."
1 A1~fi.oao sistema soviético do contrble permanente dos eleitores stibre l'
prática= matem!tica pura: matemática aplicadã" foi enunciada por um os eleito.; (N. e!.)
2 Estas observações poderiam ser desenvolvidas mais ampla c orgaDlca.
.
inglês (parece-me qua Whitaker). .
'. As fOrmulações.fio muitas, alw=.. Inclusive mais felizes do qua a mente, destacando também outras diferenças entre os diversostipcs dc
Citada,que é de MAmO nE Sn.VA, na Crll~o F/l!iClSUJ de 15 de agOsto eleição,de acilrdo com •• modificaçõesnas relações~erals sociais e pc-
de 1932, mas o. conteúdo é sempre Igual. UtiC8ll:relação entre funclonmos eletivose funclonAriasde carreira, etc.

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A proposição ~e que "a sociedade não coloca diante de si e de modificação no peso relativo qüe os elementos das velhas
probl~~~~ para cUJa solução ainda não' existam as premissas ideologias possuíam: tudo (, que éra sec?n~ário e subordinado,
~atefl8lS . £ o problema da formação de uma vontade cole- ou inclusive incidental, é considerado prmclpal~ to~na-se o nú-
llva, que depen~c, imediatamente desta proposição, Analisar cleo de um novo complexo ideológico e doutnnáno, A v~lha
cfllIcamente o slgwficado d~ proposição, implica indagar como vontade coletiva desagrega-se nos seus elementos contradItó-
se formam as. vontad~s, colellvas permanentes, e como tais von- rios, já que os elem~mtos subordinados contidos nestes elementos
tades se propoem obJellvos Imediatos e media tos concretos isto se desenvolvem SOCIalmente,etc, . "
é, u~a linha d~ ação coletiva, Trata-se de processos de d~sen- Depois da formação do regime dos partIdos, fase h.!stóflca
~o,lvlm,ent~,,?als o~ menos longos, e raramente de explosões ligada à estandardização de grandes massas da populaçao (co-
sl~t,élIcas ImprevIstas, Também as "explosões" sintéticas se municações jornais, grandes cidades, etc,), os processos mo-
verificam, mas, ~bserv,ando de perto, vê-se que nestes casos leculares s~ manifestam com mais rapidez do que no passado,
trata-se de ~estrUJr m8ls do que reconstruir, de remover obstá- etc,
culos ,mecâmcos exte,~~s ao desenvolvimento original e espon-
tâneo: ,as Vésperas slclli~nas podem ser consideradas um exem.
pIo IIplcO dessas explosoes, . Questão do "homem coletivo" ou do "contorn;ismo SOclal"'~
,Seria PO,ssíve,1estudar concretamente a forma ão e um Missão educativa e formativa do Estado, cUJO fIm é sempre
movImento hlstónc elIvo, ana Isando-o em tàdas as suas criar novos e mais elevados tipos de civilização, adequar a "ci.
as~s moleculares, o que habitualmente não se faz porque torJ vilização" e a moralidade ?as mais a~plas massas populares às
narla pesado q?a.lque! trabalho: ,em vez disso, utilizam-se as necessidades do desenvolvImento contmuado do aparelho eco-
correntes de opmlão Já constituídas em tomo de um grupo (lU nômico de produção, portanto elaborar também fIsicamente
de uma personalidade dominante. £ o problema que modcrna- tipos novos de humanidade, Mas, como cada individuo canse'
men,te Se expressa em termos de partido ou de coalizão de guirá incorporar-se no homem coletivo e como se ve~ificará a
partIdos afms: como se inicia a Or aniza ão de um' artido pressão educativa sobre cada um com o seu consenllmento. e
como se desen ve a sua or a or colaboração transformando em "liberdade" a necessidade e a
, I'
~~ . a-se e um processo molecular, mjudfssimo de aná~ coerção? Questã ""'" ' e a_ la-
hse extrema, capilar, cuja documentação é constitufda por lima do, inc um o ne e a ue as atiVl ades ue ho'e são com r •.e~dl:.._.
9:uanhdade IDcnvel de lIvros. opí1sculos. artigos de revistas e de u 1D I eren e u dica" omulJo da -
J~rnals, de conversaçôcs e debates verbais que se repetem infi- e CIVl ue a na sem san 5es" e sem "abri ções" -tá;;----
U

DItas vezes e que no seu con'unto 'anlesco re resentam este a lvas, mas e nem so exerce uma ressao co e va e
o o u cc uma vontade co euva com um etermi- esu ta os o e;:ti'VOS de ela çio costumes n~'
na O au de homogeneidade, grau que necess lO e su IClene mo os _U_~;llr J"
p r determmar uma a O coor ena a e sunu t nea no tempo ..---- el o po .tICO da chamada "revolução permanente.
e no cspaco L:",agráficoem Que o fato hlstonco se ven Ica, surgido antes l1:e J 848, Como expressa0 cientificamente elábora.
, Importâncl~ das utopias e das ideologias confusas e racio- da das experiências jacobinas de 1789 em Termidor, A fórmula
nahstas na fase mlclal dos racessos históricos de forma ão das é própria de um período histórico em que não existiam amda
v a es e )vas: as utoPI8S, o raCIOnaIsmo abstrato têm a
mesma importância das velhas conce ções do mundo 'historiea-
os fri1es
econ miCOS,
e:~dOS p:á~oS
soCi <:te a~"damass: :
esc v,
0; ~r:~~:
01 1
:~cat~s
£1, 10

me e e o s or ac SSIvas a o e UI ez so mUI o : m8l0r a raso o campo


O uc , orta a crítica é
ual ~ste com lexo ideoló 'co e m nop lO quase completo da eficiência político-estatal em
s~bmetido elo tes ISt6- poucas cidades ou numa s6 (Paris para a ~rança); apa~elho
r~a , trav s desta crítica obtém-se um processo de distinção estatal relativamente pouco desenvolvido e. maIor autonomia da
90 91

ti
••••••••••••••••••••••••• •••••••••••••••••••••••
sociedade civil em relação à aI' .d d .
ma das forças militare d IVIa e estatal; determinado siste- "natureza humana" nos dois é diferente. Na "natureza humana"
nomia das economias ~a~iO~ai~r~~~ent~na~ional; m.aior auto- de Maquiavel está incluído o "homem europeu", e este homem,
micas do mercado mundial etc No u~ r~d as rela?oes econÔ- na França e na Espanha, superou fatualmente a fa"" feudal de-
sagregada na monarquia absoluta: logo, não é a "natureza h,:,-
::=e da expansão.col~nial.eu~ to~:~b~':m~:2; mana" que se opõe ao surgimento, na Itália, de uma monarqUIa
~ba1 cam, as relacoes de organização internas e jotem absoluta unitária, mas condiçõestransitórias que a vontade pode
CIn S ao Estado tomam-se mais co ~exa . a,
fPrmWa jacobino-revolUCIOnária da "r~1 ã~aC!ÇJl~p superar. Maquiavel é "pessimista" .(ou. melhor, "re.al!sta")
.ea orada e superada na ciênCiaJl vo uç O permanente" é quando considera. os homens e as dlreçoes de sua atIVIdade;
J10ma ~iVil" Vefi!ica-se na arte ~Olrti:~\~~rmuja ~ •• ege- Guicciardini não é pessimista, mas cético e estreito. Paolo Tre-
arte militar: a ll!'erra de mov'Clo que ~rre na ves1 comete muitos erros ao analisar Guicciardini e Maquiave!;
rtlalS em gue êfi '. _ unento transforma-se cnda -vez não distingue bem "política" de "diplomacia", mas exatamente
~ence rra e poslçao, podendo-se dizer que um Estado nesta não-distinção reside a causa da, suas apreciações erradas.
uma erra uando a re ara . --.-~~~
no tempo e paz. a estrutura d Ollnuc sa e tecU1~amente Efetivamente, na política o elemento vo~itivoteI!' uma jmpor-
demas - . e massa das democracias mo- tância muito maior do que na diplomacia. A dIplomaCIasano
A I 1l' UlIllU ~ or¥8ntzacões estatais-CDIDo Q c6rnll"e:>::::";r.;
ciona e tende a conservar as situações criadas pelo choque das
.oc aç es na VIdaCIvil n' ~: " "",-",.e. as-
ue as trincheiras" e as fortifi. e olftica o mesmo polltices estatais; é criadora apenas por metáfora ou por çon-
na guerra ca oes ermanentes a ente venção filosófica (toda a atividade humana é criadora). Ag
I e poslçao: "elas fazem com que seJa apenas i ar' 1" relações internacionaisestabelecemum equillbrio de forças sobre
. ote ornemo do movImentoque nntes constitUia "íoda" a pguCla O qual cada elemento estatal pode influir muito debilmente:
eco _erra,
Florença podia influir reforçando a si mesma, por exemplo, mas
A questão relaciona-se com o Estad d
os países atrasados e as colônias ' d ~ ~o <:mo, não com este reforçamento, mesmo que tivesse melhorado a sua posição
que nos outros já foram superad ' on e aIO a VIgoramformas no equilíbrio italiano e europeu, não poderia ser visto como
Também a questão do Yalord ?S e se. tomaram anacrônicas. decisivo para subverter O conjunto do próprio equillbrio. Por
da polêmica Malagodi-Croce Ias IdeOlOgIas(como se deprecnde isso o diplomata, por causa do hábito profissional, é levado ao
s6bre o "mito" so )' ) - com as observações de CrQce ceticismo e à estreiteza conservadora.
xão" _ deve ser ::t~:~a que podem ser ~ntr~postas à "pai- , Nas relações internas de um Estado, a situação é incom-
num tratado de CIênCIapolftica.
paravelmente mais favorável à iniciativa central, a uma vontade
de comando, da forma como a compreendia' Maquiavel. A
. ~Fase econômica corporativa do E I d G" . opini~o de De Sanctis sobre Guicciardini é muito mais realista
stJlala um passo atrás na ciência ]f . s a ? ulc.clart!mf as- do que Treves julga. Daí a pergunta: por que De Sanctis estava
a maior "pessimismo" de Guicci '::;. ~ca6dIante de Maqulave!. melhor preparado do que Treves para dar esta opinião histórica
Guicciardini,retoma a um ensaa 101 s !C~ um significado. e cienilficamentemais exata? De Sanctis participou de um mo-
liano, 'enquanto Maquiavel ~Icanmenta político puramente ita. mento criador da história política italiana, de um momento em
Não se compreende Maquiave! ;ala ãum persamento europeu. que a eficiência da vontade polltica, empenhada em suscitar
e
ele supera a experiência italiana n an o ~ ~va em conta que fôrças novas e originais e não s6 em estribar-se naquelas tra-
nacional naquela época) ''v expenênela européia (inter- dicionais, concebidas cOmo impossíveis de se desenvolvereme
, : a sua ontad" . 6'
experiência européia. Em virtud d' e sena ut PIca sem a reorganizarem (ceticismo polltico guicciardiniano), mostrara
e ISSO,a mesma concepção da
I Ver Croce' ConverSQ%1one crltlche '
(N. e r.) , , ••rie IV, Bari, 1932, pág •. 143-146. 1 Cf. 11realismo l'aUtlco di Francesea Gu/ec/ard/n/, in Nu_ Rlvlsta
SWrlca, novembro-dezembro de 1930.
'92
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toda ~ sua potencialidade não só na arte de fundar um Estado' Os escritos de Guicciardini são mais um sinal ,dos, tcmpos
a part,lr de u~a a,ção interna, mas também de dominar as rela- do que ciência política, e este ~ o íur~~ d~ De S~nclls; smal dos
ções mternaclonros, reformulando os métodos profissionais c tempos, e não ensaio de históna da ClenClapolfllca é o trabalho
costumeiros da ,diplomacia (com Cavour), A atmosfera cul. de Paolo Treves.
lura! era pr?píc,a a uma concepção mais compreensivamente
rcahsta da c,ência e da arte polfticas, Mas mesmo sem esta
a~osfcra, teria sido impossível a De Sancti; compreender Ma. Hegemoni'f (sociedade civil) e divi~ão dos podere;.,~
q~lavel? A atmos~era do momento histÓrico enriquecc os en- divisão dos podéfeS, "Aja "gis •.Qi~ã "ae"}" 08ur a sua efct~.
S~IOS~e De Sa~ctis de um palhos sentimental que torna mais vação e o dogmatismo jurídico denya~o do s:u. advcnto, cons-
s~mpátlco ,c aplllXonante o assunto, mais artistIcamente cxpres', tituem o resultado da luta e .' VIIe a soc,eda<l.e
slva ,e c~tIvant~ " exposição científica, mas ° conteúdo lógico I'0lflica e u dete inad erlodo hlst6nco com certo e UI'
da c',êncla política poderia ser formulado inclusive nos períodos h no 'n 'vel entrc a " a uc
de p,or, reação. Não é talvez a reação, também ela, um ato) algumas categorias de jntelectuais. ~a servjço dlrc!o do Est~do,
construtIvo de vontade? E não é ato voluntário a conservação? . es ecialmcnte burocracia civil e mlhtar aInda estao mUito h . a-
Por que en,tão ~c.ria "utópica" a vontade de Maquiavel: or d n es. cn c~-se, aS,~lm,~o lUtenor
que reVOlUCIOnáriae não utópica a vontade de quem prete~de da sociedade, aquilo que Croce define como. o confhto pcrpé-
~on~ervar o cxistente e impedir o surgimento e a organização tuo entre I e' tado" no. ual a Igreja é tomada comO "
c ,o~ças novas, que perturbariam, e subverteriam o equilíbrio
tr~dlclOnal? A CIência política abstrai o elemento "vontade"
reprcsentante da sociedade CIVI no seu conjun o enquan o, a
reãlídade, não passa de um elemento. gradualmente, menos .'10-
portantc) e o Estado como autor de todas as tentaltvas destma;
I
nat.? leya em ço?ta O fim 80 qual \ima "enfade determinada:
a hcada, O atnbuto de "utópico" não é ró rio da vontade
fo. tIca e~ eral, mas as von a es a C a es ue n o sa m
das a cristalizar ermanentemente um determmado cstáglo de
senvo v,men o, uma e ermma a SIuaçao. .es e sen I o ,a
i
"A
(
I ar o meio ao 'lo e, portanto, não são nem mesmo vontade própna Igreja pode-se tor~a.r I!~tado, e. '? cvnfhto pode man!-
mas vc el a es, o' ) festar-se entre sociedade cml laIca e lalclzante e Estado-Igreja
(quando a Igreja se tornou uma parte integrant.e do Estado, d,a
, O ceticismo de Guicciardinl (não pessimismo da inteli n-* sociedade política monopolizada por um determmado grupo pn-
Cla,.que pode ser unido . , e nos ppJí- vilegiado que se agrega à Igreja para m~!ho~ dcfcnd~r, ~ seu
t" " as ativos tem diversas origens: 1) o hábito diplo- monopólio com o apoio daquela zona da SOCIedadeCIV'! que
má~,co, IstO é,. de uma atividade subalterna subordinada, exe-
ela representa). . . . • '
CutIvo-burocr,ática, que deve aceitar uma vontade estranha ImJ10rtância essencial dL<!lvlsao_ dos odere;; ara o ltbe-
(nq~ela política ~o próprio governo ou prlncipe) às convicções
partIculares do dlplomala (que pode é verdade sentir aquela
ralismo o llCOe econ _'_ a l eolo~a hberal, ~o~ ~.
suas orças e as suas fraquezas, pode ser e~fe,xada n~ prmClPiO
v?n~ade como sua, na mcdida em qu~ corresponde às suas COn- da divisão dos poderes, o que revela a fonte da deblh~~de do
v~cçoes, mas também pode não senti-la. O fato de a diploma- liberalismo: a burocracia, a cristalização do. pess~al diligente,
cIa ter-se tornado necessariamente uma profissão especializada que exerce o oder coercitivo e ue, nu,:,!,deterrnmado o~to,
levou a esta conseqUência: pode afastar o diplomata da polftic; se rans orma em casta, Daí a remn Icaçao popular da cleglbl-
dos. go~ernos mutáveis, etc.), portanto, ceticismo, e, na. eIabo: lidade ara todos os car os "vindica ao ue é stmultanea-
raçao .c,e.ntl~c~, preconceitos extracientlficos; 2) as convicções n e o liberalismo extremo e a sua dissolução pnnc pIO da
~e G,ulc,c,ardlO', que. era con~crvador, no quadro geral da poU- Const:tumle permaneote, etc.; nas republicas! a el.eição tempt;
tica, I~aliana,.c por Isto teonza sobre as suas opiniões a sua rária do chefe do Estado dá uma satisfação ilus6na a esta rCI"
pOSlçao polftIca, ctc. '
vindicação popular elementar).
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.
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/

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Unidade do Estado na distinção dos poderes: o Parlamen- nitiva, de alcance moral, e não a enas um 'uízo de erieulosi- )
to mais ligado à socIedade cIVIl,O Poder J udlcláno entre ~?r- a e gen nea, Irei O o as ecto re ressivo e ne ativo_~e_.
no e Perlamento, lcptesenta a conunwdade da lei escrit (in.. a a a IV! a e..CIV a ese~ a eo sa
elus,ve contra o governo), Naturalmente os três poderes são evenam ser me nee ão do dir . e j
tan~ õrgãg d'U,egcT2ma polluca:.. mas em Ó1versa me<lícIil: as a IVI a es " remiadoras" de indivíduos de gru os etc.'
I) -Parlamento; 1.) magIstratura; 3) governo, Deve-se notar premia-se a atividade louvave e la como se u~~ a- -
como impressiona mal ao público as incorreções da administra- 'd sa e punc-sc de modo original, permitindo a
ção da justiça: o aparelho hegemônico é mais sensível neste VI , ' " • d a)
intervenção da "opinião publtca como sancIOna or ,
setor, ao qual podem-se reduzir também os arbítrios da polícia
e da administração pública. . .
Política e direito constitucional. A Nuava Ant%gia, de
16 de dezembro de 1929, publica uma resenha de um certo
~ÇãO do d~ Uma concepção do direito essencial- M, .Azzalini, La política, scienza ed arte di Stato, que pode ser
m<en'te-rcrruvadota nao pode ser encontrada, integralmente, em interessante como apr~entação dos elementos em que se de-
nenhuma doutrina preexistente (nem mesmo na doutrina da bate o esquematismo cientifico,
chamada escola positiva, e particularmente na doutrina de Ferri) , Azzalini começa afirmando que foi glória "~ulgidíssim-":',~;
Se cada Estado tende a criar e a manter certo ti o de civiliza- Maquiavel "ter ele circunscrito ao Estado o âmbito da polltlca .
çao e e CI a ao ,. e convIvencIa e de relaçães Nilo é fácil eompreender o que o Sr. Azzalini 9ui~ di7.~r'. Ele
In I J U81S , tende a azer
transcreve o seguinte período do cap, 111 do P"nc'pe: Dizen-
'os e a I un ,r outros, o Irelto será o instrumento para do-me o cardeal de Roano que os italianos não entendiam ~~
es e. I~ _(ao lado di\_~s_coa_e. I guerra, respondi que os franceses não e~tendiam d.~ Estado,,'
c eve ser e a ora o e mo O ue. es e a conforme ao fim e 'lJª- I
e sobre esta única citação baseia a afirmaçao d~ que, port':lll~,
I az ao..m X'lIIo.c ..cna or_ e_xes ta Os...pOSltivOS~
para Maquiavel "a política devia ser entendIda como Clenc'a,
A concepção do direito deverá ser libertada de tQdo-res(~. e como ciência 'de Estado, e que foi sua glória, etc. (o termo
duo de transcendência e de absoluto; embora a mim pareça "ciência de Estado" para "política" teria sido adotado, no se~
que nao se pode parhr do ponto de \iisia de que o Estado não correto significado moderno, antes de Ma9uiavel, só po: .Mar,,-
"pune" (reduzindo-se este termo ao seu significado humano), lia da Padova). Azzalini é bastante leViano e superílc!al: A
mas luta apenas contra a "periculosidade" social. Na realidade, anedota do Cardeal de Roano, isolada no texto, não s'gJ1lfic!ll
o Estado deve ser con"cebido como c~~r" JI.esdCLill:!Lten- nada, No contexto, assume um significado que não se presta
~. de a criar um novo tipo QU níyel de clViJizãçã~. Em virtude do a deduções científicas: trata-se, evidentemente, de uma frase
iato ele que se atua essencialmente sobre as forças econômicas, de espírito, de uma réplica imediata. O Cardeal de .Roano
reorganiza-se e desenvolve-se o aparelho de produção econômica, afirmara que os italianos não entendem de guerra; replteandn,
inova-se a estrutura, não se deve concluir que os elementos de Maquiavel responde que os francescs não entendem d.o Estado,
superestrutura devam ser abandonados a si mesmos, ao seu de outro modo não teriam permitido ao Papa ampliar o sou
desenvolvimento espontâneo, a uma germinação casual e espo- poder na Itália, o que era contra os interesses do Estado Ira:,-
rádica. O Estado, inclusive. neste eampo, é um instrumento de cês. Maquiavel, de modo algum, pensava q?e os franceses nao
"racionaliza t. e e e ay or1Z8çao, a ua ..se -do entendessem do Estado, inclusive ele admIrava o modo pelo
~IJIPano, preSSIOna, m, , , pOIS, ena as as qual a monarquia (LuIs XI) realizara a unidade estatal da
c~(11£6e$ elíl ~Ue...Um .deteliIJtfia~o mOdo de Vida é "possível". França e fazia das ações da França, no. terreno do Estado, um
a açao ou om,ssao enmmosa" evem receõer uma sanção pu- exemplo para a Itália. Naquele seu diálogo com o Cardeal de
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!, •
Roano, ele fez "política" práliea, c não "ciência políliea'" ' mação de Estados fortes na Itália, intervindo na vida interna
S,egunfdoele. se o reforçamento do Papa era prcJ'udichl a! pPOoll~,
• dos-povos por ele não dominados temporalmente, em defesa de
tJca ranccsa era mais . d' . 1 . f J-
interna italia~a, preJu leIa amda em relação à polítiea interesses que não eram os dos Estados C que por isso eram
perturbadores e desagregadores) .
afirm~ ~~ri?,so é que, par,lindo de tão infeliz cilação, Azzalini Pode-se encontrar em Maquiavel a confirmação de tudo o
Estado, d~.s;~s~~ :;~~~f,~ndo~se q.ue ~quela eiê,ncia esluda o que notei em outras partos: que a burguesia italiana medi~val
porque não se ' d' çao (,?) .mtelramente Imprecisa (!) não soube sair da fase corporativa para ingressar na fase polí-
, mica com que cnténo se deve observar b' tica por não ter sabido libertar-se completamente da concepção
~fê:~an;ri~i~~S Ee~ i,:~~rei~ãO é ,absolut~, ~ado que t~d~s J:; medieval eosmopolita representada pelo Papa, o clero c, inclu-
referem-se indiretamen~e e' dirc~a~~~lio àPubll'co em partieular, sive, os intelectuais leigos (humanistas), isto é, não soube criar
O q d' c 'quc e clemento" um Estado, autônomo, permanecendo na moldura medieval,
de nada' u:o~~:r_ IZCrtudo isto, em relação a 'Maquiavel? 'Nada feudal e cosmopolita, .
política imediat~~On~ental. t12..qujavel escreveu Ii.vros de "ação Azzalini acenlua que "basta" apenas a definição de Ulpia-
, , ao escreveu uma utopia em q=----'-- ~
JU CÓfi<htUldo,com todas as f _ ue um estaao no e, melhor ainda, os seus exemplos, publicados no Diges/o,
constitutivos, fosse almejado s~~ unçoes be os seus eleme~~os para ressaltar a identidade extrínseca (c então?) do objeto das
do presente, ele exprimiu e~nceit seu tra, alho, na sua entlca duas ciências. "/IIS pllblicllm ad statll/um rei (p"blicae) rOllla-
apresentam sob forma aforlstica os ger?IS, qu~, portanto, se nae spectal, - Publicum ius, in sacris, in sacerdotibus, in ma.
uma concepção do mu . .' e nao SIstemática, e, exprimit; gis/ratiblls cO/lsistit," "Verifica-se, portanto, uma identidade de
objeto no direito público e na ciancia política, mas não substan-
dlda ae~omo I osofia da praxis" ou "neo-h~::;an~C::~,a ~~r ~::
cial, porque os critérios com os quais uma e outra ciência rela-
ncntes c~ucsc~~~ recOnhece elementos transcendentes 'õU1ii1a- cionam a mesma matéria são inteiramente diversos, Efetiva.
ação co~crea oi õo~%ab~~o),mas baseia-se Inteiramente no mente, diversas são as esferas da ordem jurídica e da ordem
• as, política, Na realidade, enquanto a primeira observa o organis-
acreditar Azzalini que Maquiav I a~ é verdade, como parece mo público, de um ponto de vista estático, como o produto
o "direito COI1slit~cional" E te d n o t~nha levado em conta natural de uma determinada evolução histórica, a segunda obser-
contram-se esparso "(' m o a a o ra de Maquiavel en- va o mesmo organismo, de um ponto de vista dinâmico, como
c ele afirma, com sbf::~~t~IO~ gerais de direi,to constitucional, um produto que pode ser avaliado nas suas qualidades e nos
ESlaiT'odom,"c s lel ptlll ' IC a,;za, a neceSSIdade de 9ue. no seus defeitos e que, conseqüentemente, deve ser modificado de
M I ,"lV OSuXos segundo os quo' s 'd acordo com as novas exigências e as ulteriores evoluções". Logo,
uaos v i (dtiSiJs possam atunc scgu d .1_ OS CI 8-
golpes do arbítrio, M' ros e quo: nao calrao sob os pode-se-ia dizer que "a ordem jurfdica é ontológica e analítica,
à polítiea isto é à aetas'dlustamente, MaqUlavel reeonduz tudo pois estuda e analisa os diversos institutos públicos no seu ser
, , C e governar os homens d real". enquanto a "ordem política é deontológica e critica, por-
seu consentimento permanente d fu d ,e procurar o
~~sn~~ta:r~s'~~;;~: ~~o:da; q;e ,;aq'::"iaee~r~~~~f~ g~"'t~~: que estuda os vários institutos não como são, mas como deve.
riam ser, isto é, com critérios de avaliação e julgamentos de
p~rque lhes faltava, além deR~~u~~~:o ele~ ~6s~essão Comunal, oportunidades que não são nem podem ser juridicos",
çao cap~z de ser a base de uma for a ~I, no, uma po~~la- E tal sabichão pensa que é um admirador de Maquiavel,
uma pohtica internacional autônom'a' Çelml!i~r que permItIsse um seu discípulo e, O que é mais, um aperfeiçoadorl
com o Papado, perdurava uma situ~ ãoc senl:a que na Itália, "Daí se deduz que à identidade formal acima descrita opõe-
ela perduraria 'enquanto a religião nã~ se ~e nao-~~tado, e"que se uma substancial diversidade tão profunda c notável de modo
Estado e deixasse de ser polil' d P mass~ pol~bca do a não permitir, talvez, a opinião expressa de um dos maiores
IC8 o apa para Impedir a for.
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publicistas contemporáneos, que considerava difícil, se não imo no qual predomina a atividade teórica, ~og~osclhva, existe _o
pos~ível, cri~r u.ma ciência política completallJ.Cnte diferente do~ artista, no qual predomina a atividade teonca mtu!~lva. Isto n}'o
dtrel~o constitucIOnal. Parece-nos que este raciOcínio s6 é vef- exaure inteiramente a esfera de aç~o da arte poht!c.a que, alem
dad,elro se a análise d_oaspecto jurídico e do aspecto político se de ser observada através do estadIsta que~ n~ prahca d~s f?n-
detem neste po~to; nao o será se for além, especificando aqflc).- ções do governo, exterioriza a repr~sentaçao mte~na do mtUlto,
le ~~mpo ultenor ~ue é de competência exclusiva .da ciência' pode ser avaliada através ~o es:ntor, ':lue reahza no mundo
pol~lCa. Esta, efehvamente, não se limita a estudar a organi- ' externo (!) a verdade intUlda nao pratlcand~ at?s de poder,
~açao .do Estado COm um critério deontológico e crítico, e por mas criando obras e escritos que traduzem o mtUlto do autor.
lS~O,dIferente daq~lele usado para O mesmo objeto pelo direito 1:0 o caso do indiano Kamandaki (século lI! D. C .) .• de Petrar-
pubh~o, mas a,!,pha a sua esfera a um campo que lhe é próprio, ca no Traltatello pei Carraresi, de Botero na Ra?t,?~,d, 510..1 °.
defml?do as lets que regulam o surgimento, a consolidação e o e sob certos aspectos, de Maquiavel e de Maz~m\. Azzall~1
uedfmo dos, Est.adoS, Ne?, é válido afirmar que este é um n'ão sabe orientar-se nem na filosofia, nem na CIência da poli-
estudo da Hlst6na (entendida no seu significado geral (!) por- tica. Mas procurei utilizar-me de todas estas notas para tentar
que mesmo admitindo que a pesquisa das causas, dos efeitos desembaraçar o novélo e ver se chego a conceltOs claros ~or
dos vínculos mútuos, d~ independência das leis naturais que go~ minha conta. Deve-se esclarecer, por exe...mp},o, Duque 'p.ode. slg.
vemam o ser e o eXlshr :I0s ,Estados s.eja investigação hist6rica, nificar "intuição" na política e a expressa0 arte pohtlca,. e~~.
permanec~rá s,empre no, a~~lto exclUSivamente político, portan- Recordar, ao mesmo tempo. alguns pontos ~e Bergson: A
to nem h,st6nco nem Jund,co, a pesquisa dos meios idôneos inteligência s6 nos oferece uma .tr~d~ção da v!da (a reahdade
capa:es de presid!r, na prática, à orientação geral política, A em movimertto) em térmos da ,"ercla. Ela !l!ra em t?r_no de
funçao que !"laqUlavel se propunha realizar e sintetizava dizen- tudo, apanhando de fora ? maior número posslvel de vlsoes do
do: ~rovarel ,co~o estes principados podem ser governados e objeto que aproxima de SI, ~m v~z de pe.netrar nele. M~s é a
n:an~ld?s \PrlllClpe, cap, II), é de tal ordem pela sua impor- intuição que nos levará ao mtenor da VIda: pretendo dIzer o
tancla ,mtnnseca, ~ como argumento, que não só legitima a au- instinto que se tornou desinteressado." "O nosso olho p~rcebe
tono'!'la da poht~ca, mas permite, pelo menos sob o aspecto os traços do ser vivo, mas aproximados um do .outro, n~o or-
antenormente dehneado, uma distinção inclusive formal entre a anizados entre si. A intenção da vida. o movimento simples
política e o direito público," ~ue corre através das linhas, que li~a um~ a outra e d~-Ihes um

I
Eis o que. Azzalini entende por autonomia da política! significado. escapa a "Ie, e é esta mtença? que o artista tend~
Mas - aftrma o autor - além de uma ciência existe uma a apanhar, colOCando-se no interior do objeto com u,!,a ~spécw
arte pol.ític~,_ "Existem h~mens que apreendem o~ apreende- de simpatia superando através de um esforço de mtulçao a
ram da mtUlçao pessoal a Visão das necessidades e dos interesses barreira qu~ cf espaço coloca entre éle e. o. n:'0del~; "M~S, n.a
do país govemauo, que na sua obra de governo aplicaram no verdade a intuição estética só abrange o md1V1dual. A m~eli-
gência é caracterizada por uma incompreensão na;ural da ~Ida, I
mun~o externo a visão, a intuição pessoal. Não queremos dizer
com !S~O,é claro, q~e a atividade intuitiva, e por isso artística, já que ela representa claramente apenas o descontmuo e a Imo- •" !
é a umca e predommante no estadista; queremos apenas dizer bilidade. '" ,. .. - ,
que nele, .a~ lado das atividades .F.ráticas, econômicas e morais, Portanto separação da intuição pohhca da mtmçao este-
deve subslshr também aquela atiVIdade te6rica acima indicada tica ou 1frica: ou artística: s6 por metá~ora fala-se. de arte po- "
ta~to, sob o aspecto su~jetivo da intuição como sob o aspect~ lítica, A intuição eo1ftica não se expnme !1O a~.tlsta, n:'as no
o~Jetlvo (!) ,d~ expressa0, e que, na ausência desses requisitos, "chefe", ê por "mtmçaº" deve~se entender nao o conhecllneõTõ
nao pode eXistIr o governante e muito menos (!) o estadista dÕS individuais", mas a rapidez em hgar fatos aparentemente
~ujo fastígio se caracteriza exatamente por aquela faculdad~
mata (?), Logo, também no campo político, além do cientista , 1 BERCSON, t..:évolution créatrice, Paris, 19~ passim. (N. e .. ~.)

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estranhos entre si e em conceber os meios ade uados ao fim


.eara SIuar os mteresses em Jogo, suscItar as palxõcs os ho. ...,
me~,s,c ,?~!e~tá.!?s para uma detcrmmada açao, A expre3sao" ~
••
I
do c le c a. açao, em, senl1 o POSIIVOou negativo, deseo.
.,-~ ,-.
,-

-..r
~a~ear uma ~çao, ou I~pedlr que se verifique uma dcterminada
açao, convemente ~u mconveniente ao fim que se quer alcan. ~'
,
çar), Além do maIS, em polftica o "chefe" pode ser um indi. ~
vlduo, mas ~a~bém um corpo político mais ou menos nume.
raso: ,ne~t~ ull1mo caso a unidade de intenções será sintetizada ,\
num mdlVld~o ,O? num pequeno grupo interno, e no pequeno
gr~dPOnUm mdlVlduo que pode mIJei.,. permanecendo o grupo
um o e coerente n~ prosseguimento da sua obra, 2 ,I
" Para, se" traduzIr em linguagem política moderna a noção
I de p,rinclpe" da forma, como ela se aprcsenta no livro de "

JI:1a~~lavel,~erla necessáno fazer uma série de distinções: "Prin.


clpe podena ser um chefe de Estado um chefe de governo Roberto Michels e os
mas também uI}l líder poUtico que. preiende conquistar 'UfI Es~
tado ou fundar um novo tipo de E,

ntl'do r
em 'u.-
J
Partidos Políticos
U U O e u.e.rínci eU aderia se ç" '_
do ~o ICO,li a rea 1 a e e o os os stados, o "chefe do
•• "EStá o , Islã é. ~ elemento equilibrador dos diversos interesses
em luta contra o mteresse predominante, mas não e~chu:iuo DUm

Sêntldo absoluto, é exatamente o "partido.polftico'" eJe orém


ao contráno d , ,, "co stit~ a :
clon" e º;rerna 'uridicamen' der
U

e fato, ex!,rce a funçao hegemônica e, portanto e ni.


Jlbradora de IOteresses diversos. na Usocjedade r.ivil". m: de

\
tal modo esta ••.
e entrelaça de fato com a sociedad~;oJ(ti;;~
todos os cldadaos sentem qne ele reina e
ne
g;w:;';;;
~obre ~ta LB PARTIpolilique - escreve Michels - ne saurail elre
reabdade uc "S~ movimenta ão se pode criar etymologiquemenl el iogiquement qu'une parlie de rensemble des
um onst,tuclOna do tipo tradicional mas s6 ' rltO'J'eru, organiséc sur. Te terraln tÜ la pollttque. T..e parti n'l!s/
de' a dane -qu'une fraction. pars 'pro toio'''.l Segundo Max Weber,2
f ' ct ~ ele se origina de duas e<pécies de causas: seria especialmente uma
~ o s~u desaparecImento, a reabsorção da sociedade polftica
I,
"'I,¥"ela SOCIedadecivil. associação espontânea de propaganda e de agitação. que tende
ao poder para permitir, assim, aos seus adeptos otivos (militantes)
possibilidades morais e materiais para alcançar metas objetivas
ou vantagens .pessoais ou, ainda, as duas coisas juntas. A orien-

, R, M,CHJ!LS, r.e. parti. pa/i!jque. et la eontralnt. soe/ale, Mereu,"


d. France, 1.0 de mala de 1928, polgs, 513-535,
2 Wlrt.sehafl und Gesell.sehafl. GlUndm. der Sa%lallJkanom/k, m, 2.'
ed., Tublngen. 1925, polgs. 167, 169.
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