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Ecologia

Aplicada

EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Marcos Filipe Pesquero

Ecologia Aplicada

São Paulo
2018
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL

P564e
Pesquero, Marcos Filipe.
Ecologia aplicada. / Marcos Filipe Pesquero. São Paulo: Cruzeiro
do Sul Educacional. Campus Virtual, 2018.
109 p.

Inclui bibliografia
ISBN: (e-book)

1. Ecologia. 2. Ecologia de populações. I. Cruzeiro do Sul


Educacional. Campus Virtual. II. Título.

CDD 577

Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Autoria: Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica: Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual: Claudio Brites, Selma Aparecida Cesarin

2018 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual.


www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais
Plano de Aula

Ecologia Aplicada

SUMÁRIO
09 Unidade 1 – A Vida e o Ambiente

25 Unidade 2 – Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes

41 Unidade 3 – Ecologia de Populações

57 Unidade 4 – Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes

Unidade 5 – Valores
73 da Vida Natural e os Impactos
da Humanidade

93 Unidade 6 – Ecologia, Sociedade e Conservação


PLANO DE
AULA

Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites
para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará
sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois
irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com
seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem.

6
Objetivos de aprendizagem
A Vida e o Ambiente
Unidade 1

» Apresentar a Ecologia enquanto uma ciência interdisciplinar;


» Relacionar o conhecimento de Ecologia com as características do ambiente físico e da biodiversidade;
» Apresentar as características da biodiversidade, assim como a sua importância e os seus respectivos valores;
» Apresentar as características do ambiente físico assim como os seus principais componentes.

Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes


Unidade 2

» Possibilitar a compreensão do papel da Energia para o funcionamento dos ecossistemas;


» Apresentar o Sol como a principal fonte energética para os seres vivos do planeta Terra;
» Apresentar noções básicas sobre transferência de energia nos ecossistemas;
» Explicar o que são e como funcionam os ciclos biogeoquímicos;
» Introduzir a importância do conhecimento sobre os ciclos biogeoquímicos para a organização da sociedade;
» Apresentar a Teoria de Gaia como uma forma respeitosa e harmônica de vida no planeta.
Unidade 3

Ecologia de Populações
» Possibilitar a compreensão dos componentes envolvidos nas estruturas de populações naturais;
» Identificar os atributos demográficos intrínsecos às populações;
» Ensinar método de estimativa populacional;
» Apresentar os motivos que explicam as distribuições populacionais pelo globo terrestre;
» Explicar o que são e como funcionam os ciclos biogeoquímicos;
» Introduzir o conceito de capacidade suporte;
» Apresentar os diferentes tipos de interações ecológicas existentes nos ecossistemas naturais.

Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes


Unidade 4

» Possibilitar a compreensão sobre os componentes estruturais das comunidades ecológicas;


» Apresentar a teoria da biogeografia de ilhas como um modelo aplicável a estudos sobre a conservação de comunidades;
» Relacionar a influência humana sobre as comunidades ecológicas;
» Explicar como as comunidades evoluem de estados mais simples até níveis extremamente complexos.

7
Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
Unidade 5

» Possibilitar a compreensão sobre os valores diretos e indiretosda biodiversidade;


» Identificar as formas de lidar racionalmente com a natureza paraque os serviços ecossistêmicos continuem atuantes;
» Ensinar formas de minimizar impactos ecológicos;
» Apresentar os motivos que conferem maior durabilidade da vida humana no Planeta ao se prever alterações nos
paradigmas de desenvolvimento atual.

Ecologia, Sociedade e Conservação


Unidade 6

» Possibilitar a compreensão das ações que envolvem a conservação de ecossistemas;


» Identificar os atributos do conceito de biogeografia de ilhas aplicados à fragmentação de habitats;
» Propor o desenvolvimento sustentável como medida de conservação atrelada às questões socioeconômicas
da Humanidade;
» Apresentar as principais características da sustentabilidade;
» Explicar o que é e como se estabelece na prática social a ecologia humana;
» Englobar a ecologia humana como um dos principais aspectos da gestão ambiental.

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1
A Vida e o Ambiente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Cláudio Brites
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
Contextualização

A vida está presente em todo o nosso planeta. Muitas são as questões que buscam compre-
ender a sua origem aqui na Terra. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, no depa-
ramos com pensamentos questionadores sobre a nossa história e nossa origem, bem como a
origem da natureza. Diversos são os questionamentos e encontrar e aprofundar as respostas
tem sido cada vez mais um desafio para as ciências, como a Ecologia.
Quais as condições necessárias para a existência de vida? Como os seres vivos interagem
com o ambiente? Quais as características vitais deste meio para a nossa existência?
Para responder essas perguntas, devemos conhecer melhor sobre os seres vivos que habitam
o globo terrestre e compreender a relação que possuem com o ambiente em que vivem. Para
isso, utilizaremos os conhecimentos da Ecologia e iremos descobrir que naturalmente trazemos
ao longo da história natural do homem uma grande bagagem de conhecimento ecológico.
Portanto, nesta Unidade, você conhecerá as principais características do ambiente onde
ocorre a vida, como os seres vivos interagem com o ambiente a qual pertencem e qual o papel
da biodiversidade na manutenção das relações ecológicas que estruturam todos os ecossistemas
do nosso planeta.

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Ecologia: conceitos e definições

Todos nós, em diversos instantes de nossas vidas, paramos para olhar o mundo a nossa volta.
Apreciamos um belo nascer ou pôr do Sol. Inspiramo-nos com as paisagens, com os morros
e as florestas pulsantes de tanta vida. Buscamos estar em meio a natureza visitando lagos,
rios e cachoeiras para descansar e respirar o ar puro. Encantamo-nos com a grandiosidade
do universo olhando as estrelas e nos percebemos pequenos seres perante tamanha beleza
do mundo o qual habitamos. Momentos como esse estão relacionados com a nossa história
natural de vida, onde originalmente interagíamos harmoniosamente com o meio.
Essa interação que existe entre nós e o ambiente em que vivemos ocorre também com cada
ser vivo durante toda a sua vida. Quando respiramos, bebemos e comemos para nos manter
hidratados e nutridos, estamos consumindo recursos que estão sendo ofertados pelo ambiente
em que vivemos e pelas demais espécies que consumimos.
No início da nossa história, vivíamos em grupos nômades nos alimentando basicamente da
caça rudimentar e da coleta de frutos e vegetais disponíveis a nossa volta. Com o passar do
tempo houve, a partir da observação do mundo e de experiências práticas do dia a dia, um
acúmulo de conhecimento sobre a natureza. Uma das maiores descobertas que significou um
momento de grande mudança para a humanidade foi a capacidade de produzir e manipular
o fogo. A manipulação do fogo nos possibilitou aumentar a capacidade de modificar o nosso
ambiente, conferindo melhores condições de sobrevivência e de domínio de território.
O constante convívio com as forças da natureza, com o passar do tempo, possibilitou aos
pequenos grupos de homens que viviam como nômades em busca de comida a se fixarem
em determinados lugares por períodos prolongados. Esse fato foi possível quando obtivemos
o conhecimento necessário para domesticar animais e cultivar plantas. A partir de então, a
pecuária e a agricultura de subsistência passaram a ser praticadas, essas comunidades nômades
começaram a se configurar como as primeiras sociedades primitivas. Além da agricultura e da
pecuária, os homens foram descobrindo substâncias extraídas de plantas que trouxeram a cura
para diversas doenças e enfermidades.
Após uma longa trajetória histórica onde os humanos puderam experimentar e aprender
na prática sobre os sistemas ecológicos que governam a natureza, surge na Grécia Antiga
obras importantes, como as de Hipócrates e Aristóteles, com textos que continham certo
aprofundamento do conhecimento na área da Ecologia. Mesmo que não houvesse ainda
naquela época a existência desse termo, o conceito ecológico já estava presente na mente
das pessoas.

A palavra ecologia (Ökologie) foi mencionada, pela primeira


Importante!
vez, pelo zoólogo alemão Ernest Haeckel no ano de 1869.
O prefixo “eco” seguido pelo sufixo “logia” originam-se
respectivamente das palavras gregas “oikos”, que significa
ambiente ou casa, e “logos”, ciência (BEGON et al., 2007)
– compreende-se, portanto, a ecologia como a área do
conhecimento que objetiva a estudar o ambiente.

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A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
Sabemos que em nosso planeta há diversos tipos de ambientes e de elementos que os
compõem – florestas, lagos, desertos, oceanos, solos, rios, rochas, cavernas, entre tantos
outros –, que possuem peculiaridades em sua composição biológica, química e física. Cada
um deles possui seu sistema ecológico próprio, estabelecido a partir da interação da variedade
de elementos que o compõem, por exemplo: o clima, o relevo, o tipo de solo de uma
região, e interagindo com as espécies de flora e fauna que ali convivem. Pode-se ainda citar
outros pequenos sistemas ecológicos, como o intestino e a boca de insetos e animais onde
respectivamente vivem vermes e se proliferam bactérias.
Dessa forma, podemos visualizar a enorme variedade de fatores que compõem os
ambientes, e a Ecologia se torna obrigatoriamente uma ciência interdisciplinar, a qual envolve
conhecimentos de Biologia, Geografia, Meteorologia, Genética, Química, Física, entre outras
disciplinas de interesse direto ou indireto no meio ambiente e nos seres vivos.
Tendo por base o ponto de vista ecológico, o nosso planeta é estruturado por sistemas
estabelecidos ao longo do tempo e do espaço entre os seres vivos e o meio ambiente em que
convivem. O conjunto dessas interações ecológicas compõem os ecossistemas. Como esse
conjunto de interações ocorre tanto entre os organismos vivos como entre os organismos e o
ambiente, os ecossistemas são estruturados por dois tipos de componentes (Figura 1).
• Componentes abióticos (não vivos): condições físicas e químicas do ambiente. Ex.:
quantidade de luz, temperatura, água, nutrientes, potencial de hidrogênio, pressão
atmosférica, etc.;
• Componentes bióticos (seres vivos). Ex.: animais, plantas, vírus, bactérias, fungos;

Figura 1 - Exemplo de componentes bióticos e abióticos integrantes de um ecossistema


Fonte: Ricklefs (2012)

Nos ecossistemas, ou seja, em todo o mundo a nossa volta, os componentes abióticos e


bióticos interagem de forma interdependente ao longo do tempo e do espaço geográfico.
Para melhor compreender cada componente do ecossistema e como ocorrem as interações
ecológicas, é necessário aprendermos alguns conceitos.
Primeiramente, devemos ter em mente que a Ecologia subdivide o seu objeto de estudo,
que é a natureza, em cinco partes hierárquicas da organização biológica. O primeiro e menor
sistema ecológico é o organismo que, sendo considerado como o sistema ecológico elementar,
ao longo de sua vida adquire nutrientes provenientes do meio em que vive, transformando-os
em energia e processando em matéria para continuar desenvolvendo suas atividades vitais.
Ao fazer isso, o organismo acaba modificando as condições do ambiente e a disponibilidade
de recursos para outros organismos (RICKLEFS, 2012). Dessa forma, ocorre por meio do
processo de vida natural um fluxo de matéria e energia decorrentes dessa interação.

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Certamente você já ouviu falar em espécie. Para os ecólogos, entende-se como espécie o
conjunto desses organismos semelhantes (em sua forma, função ecossistêmica e bioquímica)
que se reproduzem naturalmente, originando descendentes férteis. Como exemplo de espécie
temos os Homo sapiens, a espécie humana, que pode ser encontrada em todos os continentes
do planeta, ou os Pyrhurra pfrimeri, uma espécie de periquito ameaçado de extinção que vive
nas matas secas do Brasil Central (Figura 2).

Figura 2 - Indivíduos de Pyrrhura pfrimeri em um pé de


Amoreira-branca das matas secas do sudeste do Tocantins
Foto tirada por: Filipe Pesquero. Fazenda Asa-branca, Aurora do Tocantins – TO

O segundo nível hierárquico de organização biológica que a Ecologia estuda é a população.


Qualquer conjunto de indivíduos de uma mesma espécie compartilhando recursos do mesmo
ambiente ao longo do tempo pode ser considerado como população. No Brasil, temos milhares
de populações, e podemos usar de exemplo a belíssima população de Boto-cor-de-rosa que
habita as águas do rio Araguaia, no estado do Tocantins, ou uma população de ratos que
habita as tubulações subterrâneas da cidade do Rio de Janeiro, ou ainda uma população de
bactérias encontradas na boca de uma cobra Jiboia.

O terceiro nível é o conjunto de populações das diferentes espécies que compartilham


recursos de um mesmo ambiente. Por esse conjunto compreende-se a comunidade. Para
exemplificar uma comunidade, podemos citar as populações de animais e vegetais que habitam
algum ambiente, com as florestas ou as águas de um rio, de um lago, até mesmo de uma poça
d’água em brejo, ou ainda os insetos e plantas de um jardim residencial são exemplos de
comunidades biológicas.

Dentro das comunidades, as diferentes populações (componentes bióticos) interagem entre


si e com o ambiente físico-químico (componentes abióticos) formando uma grande e complexa
teia de interações ecológicas. Essa complexa teia de interações ecológicas estabelecidas ao
longo do tempo entre todos os componentes das comunidades é conhecida como ecossistema.
Os sistemas ecológicos, ou ecossistemas, podem ser tão pequenos quanto um organismo ou
tão grandes quanto o nosso planeta. O único fator que delimita a dimensão de um ecossistema
é a escala de observação.

Se formos considerar todas as interações existentes no globo terrestre com todos os


ambientes do nosso planeta, estaremos lidando com a biosfera. Na biosfera, estão incluídas
todas as porções terrestres e aquáticas do globo, como todos os continentes e todos os rios,
lagos, mares e oceanos, além da atmosfera (Figura 3).

13
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1

Figura 3 - Natureza hierárquica dos sistemas ecológicos, do organismo à biosfera


Fonte: Ricklefs (2012)

Em nosso planeta há uma grande variedade de espécies, e muitas delas sequer foram
observadas pelo homem. Isso ocorre, em grande parte, porque cada uma delas possui o seu
próprio habitat e nicho dentro do ecossistema, ou seja, o lugar específico do globo terrestre
onde essa espécie desempenha as suas funções ecológicas, como se fossem respectivamente
o seu “endereço” e “profissão” na natureza.
Devemos sempre levar em consideração que no habitat de uma espécie está representado,
além da área geográfica em que vive, todos os demais fatores ambientais necessários para suprir
as exigências ecológicas que possui. Como exemplo podemos citar os pinguins: em geral, seu
habitat é localizado em ambientes litorâneos onde o clima é frio, ideal para desempenharem
suas atividades metabólicas – além de áreas litorâneas com baixas temperaturas –, para que
sobrevivam, contudo, eles necessitam de outras condições do ambiente. É indispensável que
haja disponibilidade de pequenos peixes para compor a sua base alimentar e também locais
protegidos que servirão tanto de refúgio contra predadores como para reprodução.
Desse modo, podemos afirmar que o nicho fundamental para a sobrevivência dos pinguins
é dado pelo conjunto dessas condições ambientais somado às demais espécies que de alguma
forma interagem com eles.

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Ecossistema e elementos do ambiente físico

Em toda a biosfera ocorre deslocamento de energia e de matéria por meio dos processos
ecossistêmicos desempenhados pelos seres vivos e pelos elementos físico-químicos do ambiente.
Desse modo, diferentes tipos de organismos representam diferentes papéis no funcionamento
dos ecossistemas.
Como exemplo, a transformação da energia da luz do Sol em energia química armazenada
é produto da fotossíntese realizada pelas plantas, algas e algumas bactérias. Essa energia
armazenada em forma biológica é consumida pelos animais e protozoários. É quem
desempenha a importante função de decompor todo esse material biológico e reciclá-lo em
forma de nutrientes no ecossistema são os fungos. Outros processos bioquimicamente mais
específicos, como a assimilação de nitrogênio e o uso de sulfeto de hidrogênio como fonte de
energia, são realizados por algumas espécies de bactérias.
Para que a integridade dos ecossistemas seja mantida, a energia tem de estar fluindo
constantemente entre todos os organismos vivos. Com isso, todos os organismos devem arcar
com esse gasto repondo a energia e a matéria perdida naturalmente através dos processos
ecológicos.
Bom, mas para isso tudo acontecer, é importante que você tenha em mente que há alguns
elementos facilitadores no ambiente que são indispensáveis para a manutenção da vida na
Terra. O principal elemento para tal, bastante abundante sobre a maior parte da superfície do
planeta, é a água.

A água
A água é considerada um meio ideal para os sistemas vivos, sendo que no estado líquido
possui enorme capacidade de atuar como solvente universal.
Suas propriedades permitem rápida condução de calor e resistência a mudanças de
temperatura e de estado físico. Em comparação com o ar, a água é mais densa e proporciona
maior capacidade de flutuação, porém sua viscosidade é maior e, portanto, oferece mais
resistência contra deslocamentos de corpos.
Em todas as águas naturais encontradas no globo terrestre há substâncias dissolvidas que
foram coletadas tanto da atmosfera como dos solos e das rochas através dos quais ela flui. Na
água também ocorre diferentes concentrações de íons de hidrogênio (H+). A variação dessas
concentrações é o fator determinante para indicar a acidez da água, sendo que essa acidez é
expressada em termos de pH (potencial de Hidrogênio). Em geral, águas de rios, cachoeiras e
lagos naturais possuem valores de pH entre 6 (ligeiramente ácida) e 9 (ligeiramente alcalina).
Dentro das funções ecossistêmicas, os seres vivos constantemente interagem com a água.
As plantas, por exemplo, extraem por osmose a água dos solos através das células de suas
raízes. Como a água é um solvente, as plantas mantêm altas concentrações de soluto em suas
células radiculares gerando potenciais osmóticos bem altos. Já os animais tendem a reduzir o
uso de água, para isso eles eliminam o excesso de sais através da urina e de glândulas de sal.

15
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
A radiação solar e os ventos são responsáveis pela evaporação e circulação de vapor de água
na atmosfera e assim pelos padrões globais e sazonais de precipitação. Em escala marinha, as
condições de precipitação são estabelecidas numa escala global através de correntes oceânicas
conduzidas pela ação dos ventos. Essas correntes de ar se deslocam e distribuem o calor
sobre a superfície da Terra, isso acaba exercendo grande força moduladora sobre climas em
nosso planeta. As correntes de ressurgência, causadas pela soma das forças dos ventos, pela
topografia da bacia oceânica e pelas diferenças de densidade da água, estão diretamente
relacionadas com a temperatura e a salinidade das águas marinhas e são elas as responsáveis
em trazer águas frias e ricas em nutrientes para a superfície do mar em determinadas áreas.
A sazonalidade, ou seja, os períodos de chuva nos ambientes terrestres, é causada pela
inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao Sol. Nos trópicos, ocorrem movimentos
de massas de chuva para norte e sul do globo terrestre que, seguindo o movimento solar, acaba
por resultar em estações definidamente chuvosas e secas. Já nas regiões de altas latitudes, as
estações são principalmente expressadas com ciclos anuais de temperatura.
Outros fatores relacionados ao clima e à precipitação levam em consideração as condições
topográficas e geológicas, onde a sobreposição dessas condições provoca variação local nas
condições ambientais. Por exemplo, em uma região montanhosa, onde há grandes elevações
terrestres, as massas de chuva são interceptadas, provocando condensação da água seguida
de precipitação.
Há ainda outras variações climáticas que estão relacionadas com as diferentes quantidades
de luz solar que incidem nas encostas. Além disso, a temperatura também sofre influência
da elevação em relação ao nível do mar, diminuindo cerca de 6 °C para cada 1000 metros
de elevação.

O solo
Você já se perguntou qual importância tem o solo para os sistemas ecológicos da Terra?
Pois bem, os solos são o grande cofre de reserva de nutrientes do nosso planeta, embora suas
características ao longo do espaço geográfico sejam variadas.
A princípio você deve saber que as características do solo são influenciadas pela soma
do material do qual se originou, com o clima e a vegetação que ocorre em sua área. A
intemperização da rocha matriz através de processos naturais como chuvas e ventos resulta
na decomposição de alguns de seus minerais. Esses minerais decompostos da rocha matriz
são incorporados em partículas de argila, que serão misturadas aos detritos orgânicos. Em
seguida, tais detritos penetram no solo a partir do contato direto com a sua superfície. Esses
processos ocorrem em uma escala de tempo muito maior do que a de nossas vidas. Ao longo
de milhares de anos, tais processos de decomposição de rochas e penetração de nutrientes
no solo resultam em horizontes de solo distintos, formando camadas de solo com diferentes
composições e colorações (Figura 4).

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Figura 4 - Perfil de solo identificando a posição dos horizontes.
Fonte: Ferreira (2012)

Você já se perguntou o que faz os solos serem mais ou menos férteis? Essa é uma pergunta
fundamental para compreendermos a relação da fertilidade do solo com a existência de vida
vegetal e as suas respectivas interações ecológicas.
O solo é composto por minúsculas partículas que possuem cargas magnéticas. Essas cargas
são negativas nas regiões de superfície do solo. A carga negativa possui a capacidade de
reter cátions que possivelmente entram em contato com as superfícies através da presença de
seres vegetais. É justamente essa capacidade de troca catiônica de um solo que determina a
sua fertilidade.

17
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
Diversidade biológica

A Diversidade Biológica, ou Biodiversidade, é compreendida como toda a variedade de


vida existente no planeta Terra. Devemos ter em mente toda a variedade de espécies vegetais,
animais, de microrganismos, como também as funções ecológicas que cada organismo
desempenha naturalmente estruturando os ecossistemas. Dessa forma, entende-se como
Biodiversidade tanto o número (riqueza) de espécies presentes em uma área, quanto a
abundância dos seus indivíduos nessa mesma região. Sabe-se que nos ecossistemas há grande
variedade de espécies.
Portanto, os ecólogos classificam a diversidade biológica em três tipos, de acordo com
o ponto de vista ecossistêmico: quando observamos um único ecossistema em nível local,
temos a diversidade alfa; ao compararmos a diversidade entre dois ecossistemas, as espécies
diferentes entre um e outro são consideradas como a diversidade beta; e, por último, quando
se observa a variação da diversidade entre grandes paisagens, estamos focando a variabilidade
biológica em termos de diversidade gama.
Portanto, a Biodiversidade inclui a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos
genéticos. Por isso, ela é uma das propriedades fundamentais para a existência da natureza,
sendo responsável tanto pelo equilíbrio quanto pela estabilidade dos ecossistemas. Além disso,
a biodiversidade subsidia imenso potencial de uso econômico através da exploração humana.
Não é difícil notarmos que as atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais são
todas embasadas na exploração da biodiversidade terrestre. Ainda, é na biodiversidade que
se baseiam as estratégias industriais da biotecnologia. Mas não é apenas isso, a diversidade
biológica possui, além de seu valor intrínseco, diversos outros valores relacionados à presença
da humanidade no planeta Terra. São inúmeros exemplos, mas podemos citar os principais
valores, sendo eles de importância ecológica, medicinal, genética, científica, social, educacional,
cultural, religiosa, artística, recreativa, estética e principalmente econômica.
Não deve ser segredo para você que preservar a biodiversidade é a condição básica para
se manter um meio ambiente sadio no planeta. Todos os seres vivos que aqui estão são
interdependentes, conectam-se ecologicamente participando de cadeias alimentares ou
reprodutivas. Quanto maior for a diversidade de espécies numa região, mais cadeias alimentares
e reprodutivas serão estabelecidas nos ecossistemas e mais complexos serão esses sistemas
ecológicos. São justamente esses ecossistemas que contêm grande biodiversidade, e os mais
duráveis e capazes de se adaptarem às possíveis mudanças ambientais.
Em todo o planeta Terra, a humanidade já catalogou quase 1,2 milhão de espécies.
Parece muito? Mas não é! Cientistas biólogos calculam que o número total de
organismos vivos na Terra pode chegar até 8,7 milhões (MORA et al., 2011)!

Mas nem tudo são flores para os seres vivos do globo terrestre. Lamentavelmente, a cada
ano, milhares de espécies são exterminadas para sempre. É uma proporção de extinção tão
elevada que pode atingir 30% das espécies totais do planeta em apenas três décadas. Isso
ocorrerá em breve caso não seja tomada providência drástica alguma visando frear o ritmo
absurdamente alto de queimadas e desmatamentos das florestas tropicais (as mais ricas em
biodiversidade), assim como da poluição das águas e do ar.

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Estamos à beira de uma catástrofe, pois essas espécies resultam de milhões de anos de
evolução no planeta. Perdendo-as, a biosfera ficará drasticamente empobrecida em termos de
diversidade biológica – o que é extremamente perigoso para o sistema de vida como um todo,
pois acabará afetando as relações ecológicas que estruturam a organização da vida na Terra.
Portanto, você não pode esquecer a importância que cada espécie exerce para o planeta.
A nossa própria alimentação, por exemplo, no que diz respeito a espécies selvagens de frutos,
grãos e hortaliças, poderá ser comprometida com a extinção.
Você pode estar pensando que com o uso da tecnologia e da engenharia genética poderemos
reverter essa situação. É aí que você se engana, pois o processo de criar novas variedades
de espécies utilizando cruzamentos ou manipulação genética produz plantas híbridas que são
mais frágeis que as nativas e, dessa forma, são mais suscetíveis a doenças ou ao ataque de
predadores. Por isso, precisamos ter a maior diversidade possível, principalmente das plantas
selvagens ou nativas, pois são elas que fornecerão esse material genético resistente e com
características mais saudáveis para a população.
Além disso, os organismos constituem a fonte original dos princípios ativos contidos em
remédios, mesmo que esses posteriormente sejam produzidos artificialmente em laboratórios.
Um exemplo clássico é o dos antibióticos: esses foram descobertos a partir de fungos que vivem
em matéria orgânica em decomposição. Outro exemplo é a aspirina, que veio originalmente
do chá de uma casca de árvore da Inglaterra.
É por isso que atualmente há grande interesse na biodiversidade. Diversas pesquisas
continuam sendo realizadas dentro das florestas tropicais que ainda existem, ou dos oceanos,
dos quais são realizados mapeamentos genéticos de organismos presentes nesses ambientes.
É nesse ponto que a comunidade científica que estuda o meio ambiente adquire a esperança
de que haja um novo tipo de desenvolvimento.
Ao invés de urbanizar, devastar as áreas florestais e poluir o meio ambiente, como ocorre em
nosso modelo atual de desenvolvimento econômico, devemos preservar os recursos naturais
que ainda não foram extintos. Com isso, poderemos utilizar a biotecnologia para produzir
novas fontes limpas e renováveis de energia, como também poderemos produzir alimentos
em massa a partir de algas marinhas e remédios eficazes contra doenças que matam milhões
de pessoas em todo o mundo a cada ano.
A biodiversidade, desse modo, é também uma fonte potencial de imensas riquezas. Porém,
um grande problema que se coloca é o da conciliação entre os países com a biodiversidade
totalmente devastada, mas que acumulam capital e tecnologia, com os países não totalmente
devastados, mas desprovidos de estrutura tecnológica – como o Brasil, que apesar de todo o
descaso da política ambiental do país, ainda detém grandes reservas de biodiversidade.
A melhor forma de resolvermos essa situação, apesar de estarmos longe disso, seriam as
parcerias entre esses dois tipos de países, onde compartilhando por igual as descobertas e os
benefícios, todos obteriam ganho considerável.

Os países desenvolvidos têm um trunfo na mão: a tecnologia. Por outro lado, alguns
países subdesenvolvidos têm grandes reservas de biodiversidade, que representam
Reflita matéria-prima para o processo de valorização no mundo todo. Imagine que as
autoridades políticas do nosso país não tivessem competência para tomar as corretas
decisões e consultasse você para administrar nossos recursos naturais reflita sobre
quais seriam as principais medidas a tomar, visando a otimizar a exploração da
biodiversidade brasileira sem extinguir essa nossa riqueza biológica.

19
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
Biodiversidade do Brasil

Você já deve ter ouvido falar que o Brasil é o maior dos países que possuem o que chamamos
de megadiversidade. No território brasileiro, contamos com uma estimativa entre 10 e 20% do
número total de espécies do planeta. Somos o país com a flora mais diversa do mundo, sendo
mais de 55.000 espécies vegetais descritas no Brasil – o que representa 22% do total mundial
de espécies vegetais.
Além disso, no território brasileiro se concentra a maior riqueza de espécies de palmeiras
(390 espécies) e de orquídeas (2.300 espécies). Outras diversas espécies de plantas que
possuem relevância econômica mundialmente também são originárias do Brasil – entre elas
destacam-se o abacaxi, o amendoim, a castanha - do - pará, a mandioca, o caju e a carnaúba.
Mas não é apenas em relação a flora que possuímos elevada biodiversidade, os animais
vertebrados são também amplamente diversificados na fauna brasileira. Foram registradas até
hoje no país mais de 524 espécies de mamíferos, 1.677 espécies de aves, 468 espécies de
répteis, 517 espécies de anfíbios e 2.807 espécies de peixes (LEWINSOHN; PRADO, 2002).
Além de toda essa riqueza biológica, o Brasil ainda possui a maior diversidade de espécies de
primatas do planeta: ao todo somam 55 espécies, sendo que dessas, 19 são endêmicas, ou
seja, vivem exclusivamente aqui no Brasil.
A biodiversidade brasileira não é totalmente conhecida e provavelmente nunca conheceremos
com precisão toda a sua complexidade, entretanto, pesquisas realizadas por cientistas
biólogos afirmam que existem mais de dois milhões de diferentes espécies de plantas, animais
e microrganismos no território brasileiro. Além disso, os cientistas ainda são incapazes de
calcular toda a diversidade genética e ecológica existentes no Brasil, devido ao nosso território
possuir dimensões continentais, considerando ainda a imensidão da plataforma marinha
que possuímos.

Biodiversidade da Amazônia
Apesar de ser bastante conhecida, a biodiversidade na Amazônia ainda necessita de
informações mais precisas. Os pressupostos dessa riqueza são, no entanto, válidos, tendo
em vista o processo evolutivo das plantas e dos animais amazônicos. As árvores dominam a
paisagem e a estrutura física da floresta, mas não são os organismos com a maior contribuição
à biodiversidade da região. A biodiversidade não representa apenas os extremos exóticos
da diversificação evolucionária e da variedade excepcional de espécies aproveitadas pelo
ser humano.
A existência de um ecossistema depende da interação entre as plantas e animais que
polinizam as flores e propagam as sementes, por exemplo. Muitas dessas interações são
extremamente específicas e a perda de apenas uma espécie, que é um agente de polinização ou
uma condição obrigatória para a reprodução, pode afetar muitas outras espécies indiretamente.
Essa complexidade tem implicações para o desenvolvimento da região amazônica.

20
Como a biodiversidade é explorada pelo Brasil
Geralmente não paramos para refletir sobre a importância econômica dessa riqueza
biológica que possuímos enquanto nação. Para você ter uma ideia, o Brasil obtém cerca de
40% do seu PIB por meio do setor agroindustrial, 4% do PIB do setor florestal e 1% do PIB
vem do setor pesqueiro. Em relação ao total de produtos que exportamos, 31% é oriundo da
biodiversidade, especialmente de espécies vegetais como o café, a soja e a laranja. Além disso,
somente através das atividades de extrativismo florestal e pesqueiro, três milhões de pessoas
são empregadas.
De alguma forma em toda a sua vida você já deve ter se beneficiado com o imenso
potencial medicinal que nossa biodiversidade disponibiliza para grande parte da população
brasileira. Seja através do uso direto de espécies vegetais, de onde provém chás para vários
tipos de problemas de saúde, ou através de substâncias extraídas de espécies vegetais onde
se manipulam remédios. É muito grande a parte da população brasileira que utiliza de plantas
medicinais na solução de problemas corriqueiros de saúde.
Enquanto consumidor dos recursos naturais, todo cidadão deve ser instruído corretamente
sobre a utilização sustentável da Biodiversidade, de modo que não se deixe extinguir esses
recursos, vindo a comprometer a própria vida humana na Terra. Com o desenvolvimento de
pesquisas e avanço de tecnologias, e com a disponibilidade de matéria prima que temos em
nosso país, ou seja, as fontes de recursos naturais, podemos realizar grandes avanços nos
setores de desenvolvimento farmacológico oriundos da Biodiversidade brasileira. Porém, não
conseguimos ainda sair da fase inicial pois no modelo de desenvolvimento capitalista, o lucro
descaradamente acaba falando mais alto do que as alternativas mais inteligentes e eficazes
para a população.
Apesar de toda a riqueza de espécies nativas que possuímos no território brasileiro, as
nossas atividades econômicas estão baseadas principalmente nas espécies exóticas, ou seja,
aquelas trazidas de outros países – como exemplo é possível citar a agricultura, que está
baseada na cana-de-açúcar proveniente da Nova Guiné, no café da Etiópia, no arroz das
Filipinas, na soja e na laranja da China, no cacau do México, no trigo da Ásia Menor, e por aí
segue a lista. Além disso, a nossa silvicultura, que são as atividades provenientes de florestas de
uma única espécie de árvore artificialmente plantada pelo homem, depende de eucaliptos da
Austrália e de pinheiros vindos de países da América Central. A pecuária, uma das principais
atividades econômicas do país e a que mais provoca degradação ambiental e extinção de
espécies, depende principalmente de espécies de capins vindas da África, de bovinos da Índia,
de equinos da Ásia Central.

21
A Vida e o Ambiente
UNIDADE
1
Material Complementar

Livro:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora
Planta, 2001.

Site:

http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Ecologia

Vídeo:
Discovery na Escola - Elementos de Biologia, Ecossistemas
https://www.youtube.com/watch?v=5WVhItCdm-o

22
Referências

BEGON, M. TOWNSEND, C.R.; HARPER, J.L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

FERREIRA, W.J. Fotos e texto sobre erosão e intemperismo. Professor Wladimir –


Geografia [online]. 2012. Disponível em: http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/02/
texto-sobre-erosao.html. Acesso em: 20 fev. 2015.

LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do


conhecimento. São Paulo: Contexto, 2002.

MORA, C.; TITTENSOR, D.P.; ADL, S.; SIMPSON, A.G.B.; WORM, B. How Many Species
Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biology, v. 9, n. 8, p. 1-8, 2011.

RICKLEFS, R.E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

23
2
Energia e Ciclos Biogeoquímicos
nos Ambientes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Contextualização
Sabemos que para o funcionamento do ecossistema acontecer vários elementos vivos e não
vivos estão envolvidos por um conjunto de interações ecológicas. Esta Unidade te apresentará
quais os principais elementos não vivos e, além disso, como ocorre o ciclo desses elementos
enquanto as interações ecológicas acontecem.
Fora isso, a visão que integra todos os elementos da biosfera como sendo um único
organismo vivo está à sua espera. Nela, você poderá perceber como cada atividade realizada
no planeta interfere de alguma forma no seu funcionamento como um todo. Uma espécie de
“efeito borboleta” fará você perceber que cada elemento está de alguma forma interligado
dentro deste grande organismo vivo chamado planeta Terra.
Atualmente vivenciamos graves problemas ambientais e o que mais tem repercutido é a falta de
água em algumas regiões do país, que é considerado um dos maiores riscos à nossa subsistência.
A seguir, seguem dois links: uma reportagem e um vídeo que tratam do assunto da água.

Navios-tanque traficam água de rios da Amazônia:


http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id=VZlSXRFWwJlUspFUjdEeXJ1aKVVVB1TP

Tecnologia do Futuro! “Chega de usar água para transportar fezes”:


https://youtu.be/RfAy45B8k2k

26
Energia nos ecossistemas

Por meio dos princípios ecológicos você pode compreender que o ecossistema vincula as
relações existentes entre os animais e vegetais aos fatores físicos e químicos do ambiente – tais
como clima, luminosidade, temperatura, umidade, pressão atmosférica, salinidade, pH, entre
outros. Dessa forma, cada organismo inserido no seu contexto ecológico desempenha função
ecossistêmica (Figura 1).

Figura 1. Representação esquemática do fluxo de energia através dos componentes do ecossistema.

Fonte: ib.usp.br

Por exemplo, imagine que uma população de indivíduos de uma espécie qualquer foi
dizimada do ambiente em que estava inserida. As funções ecológicas que eram executadas
pelos indivíduos dessa população deixam de existir. Consequentemente, o ecossistema entra
em desequilíbrio funcional e busca se reordenar de modo a repassar as funções perdidas para
novos organismos. Esses novos organismos surgem para desempenhar as funções ecológicas
antes realizadas pela população que foi extinta, de forma a manter o equilíbrio das demandas
de energia e matéria que fazem funcionar todo o conjunto ecossistêmico. Portanto, para que
se mantenha uma função ecológica, necessita-se da permanência do fluxo de energia entrando
e saindo do ecossistema.

27
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Transformações de Energia
Em nosso planeta podemos dividir a energia em três principais tipos:

Energia térmica: energia em forma de calor;


energia em forma de deslocamento de corpos através de força – como a
Energia mecânica: energia gravitacional;
Energia química: energia obtida através da quebra de ligações moleculares.

Todos esses três tipos de energia existentes em nosso planeta possuem comportamento
regido pelas Leis da física.

As Leis da Termodinâmica

A física diz que o fluxo de energia é sempre um processo unidirecional. A energia entra
no planeta Terra a partir do Sol, que emite energia luminosa através dos raios solares. O Sol
é considerado a fonte de maior produção de calor do nosso planeta, a qual é considerada
indispensável como fonte de energia para existência de vida. Portanto, para que você entenda
como se dá a relação entre a vida e a energia nos processos ecossistêmicos, é importante que
conheça quais as características da energia segundo as Leis da física.

A 1ª Lei da Termodinâmica diz que a energia pode ser convertida de uma forma a outra,
mas em hipótese nenhuma a energia pode ser criada ou destruída – daí vem a célebre frase:
“Nada se cria, tudo se transforma ou se modifica.” Seguindo com os princípios da física, na 2ª
Lei da Termodinâmica, é dito que as transformações de energia sempre resultam em alguma
dissipação de energia, ou seja: sempre quando há transferência de energia de um corpo para o
outro, uma porcentagem dessa energia é liberada para o ambiente. Dessa forma, para manter
a ordem de funcionamento dos ecossistemas, a energia deverá constantemente ser adicionada
ao sistema para compensar a perda de energia resultante das interações ecológicas.

Você deve ter em mente que a energia nos ecossistemas é constante, e dessa forma ela
não é criada e nem destruída por nenhum ser vivo. Porém, as interações ecológicas
são responsáveis pelo fluxo dessa energia entre os mais diversos organismos vivos
Reflita do nosso planeta.

28
Energia
Todos os dias você pode observar que a superfície terrestre recebe radiação solar e em
consequência dela ocorre um fluxo de calor conhecido como radiação térmica. Esses dois
tipos de radiação – a solar e a térmica – contribuem diretamente para a formação do clima. É
importante que você saiba que apenas uma parte da radiação solar que adentra na atmosfera
é captada pelas plantas e algas fotossintetizantes e convertidas em energia potencial biológica.
A luz solar que atinge a Terra pode ter a sua intensidade medida através do aparelho pireliômetro
ou solarímetro. Em dias com condições climáticas favoráveis, a intensidade dessa luz corresponde a
apenas 67% do total que sai do Sol. Conforme os raios solares entram na atmosfera terrestre, eles
têm de atravessar as nuvens, os gases, vapores d’água e as partículas presentes no ar, além da própria
vegetação. Com isso, a distribuição dos raios solares é alterada fazendo com que haja variação do
fluxo de incidência da radiação solar nos diversos ecossistemas.

Essa variação de incidência de luz solar influencia diretamente na distribuição


dos organismos sobre a superfície terrestre, uma vez que será a responsável pela
Importante! estruturação do clima.

Como dito anteriormente, a radiação solar, ao penetrar na atmosfera, é atenuada por


vários fatores, sendo que a camada de ozônio é a responsável por “filtrar” grande parte dos
raios ultravioletas nocivos aos seres vivos. As partículas presentes na atmosfera ainda reduzem
bastante a luz visível e a radiação infravermelha de forma que a energia que chega à superfície
compreende apenas 10% do total de raios ultravioletas emitidos pelo Sol. É importante saber
que dentre todas as radiações, a que menos sofre redução ao entrar na atmosfera terrestre é a
luz visível. Tal fato possibilita que ocorra fotossíntese até mesmo em dias nublados ou embaixo
d’água – até uma determinada profundidade.
Você já deve ter sentido o prazer de estar debaixo de uma sombra fresca, dessas localizadas
em florestas. A boa sensação provocada por essas sombras decorre da absorção da radiação
visível e dos raios infravermelhos através das folhagens presentes nas copas das árvores. A
clorofila absorve feixes de luz, enquanto a água presente nas folhas é responsável por absorver
a energia térmica dos raios infravermelhos. Por isso, um clima fresco e ameno é certamente
percebido pelos nossos sentidos.

Vale ressaltar que o calor que entra na atmosfera é essencial para que haja
as condições favoráveis à vida na Terra. Você já pensou o que seria dos
ecossistemas e da vida em nosso planeta caso a luz do Sol deixasse de chegar
Reflita até nós?

O fluxo de radiação térmica, ou seja, de energia em forma de calor, incide direta e


indiretamente a todo o instante e por todas as direções na superfície terrestre. Já a radiação
solar é direcional e está presente somente no período do dia que faz Sol. É bastante relevante
que você saiba que a radiação térmica é facilmente absorvida pela biomassa, ou seja, pelos
corpos vivos; mas os organismos assimilam apenas a radiação solar.

29
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Para se ter uma ideia do total de energia solar que adentra a biosfera, apenas 0,8% é
utilizado pelas plantas para realizar a fotossíntese e converter energia luminosa em energia
bioquímica. Dos 99,2% restantes, 23,2% são dissipados por processos naturais de evaporação,
precipitação, correntes de vento e das ondas do mar, 46% dessa energia é diretamente
convertida em calor e os 30% restantes são simplesmente refletidos para fora da atmosfera.
Mesmo sendo ínfima a porção de luz solar que é assimilada pela fotossíntese e convertida
em energia em forma de alimento pelas plantas, os demais processos são extremamente
relevantes para gerar condições favoráveis à vida nos mais variados ambientes da Terra como,
por exemplo, o controle da temperatura e dos climas globais interferindo diretamente no ciclo
da água e nos fenômenos meteorológicos.

Os ecossistemas e os tipos de energia


Além de haver algumas variações entre os ecossistemas naturais e em como eles obtêm
energia do ambiente para funcionarem, surge em nosso planeta, em decorrência da
industrialização, novos sistemas que funcionam através de fontes alternativas de energia, os
quais têm provocado grandes transformações ambientais. A seguir estão exemplificados os
ecossistemas naturais e artificiais encontrados na biosfera de hoje em dia:

» Ecossistemas naturais dependentes exclusivamente da energia solar. Por exemplo: os


oceanos abertos e as florestas de altitude;
» Ecossistemas naturais dependentes de energia solar e subsídios ambientais. Por
exemplo: os estuários de marés e algumas florestas úmidas;
» Ecossistemas artificiais dependentes da energia solar e de subsídios antropogênicos.
Por exemplo: agricultura e aquicultura;
» Sistemas urbano-industriais dependentes de combustível. Por exemplo: as cidades, os
bairros e as zonas industriais.

Pirâmide de Energia
A pirâmide de energia expressa a quantidade de energia acumulada em cada nível da cadeia
alimentar. O fluxo decrescente de energia da cadeia alimentar justifica o fato de a pirâmide
apresentar o vértice voltado para cima. O comprimento do retângulo (tamanho das palavras)
indica o conteúdo energético presente em cada elo da cadeia (Figura 2).

Figura 2. Pirâmide energética indicando três níveis tróficos representando os produtores, consumidores primários e secundários.

Criança 8,3 kcal


Bezerro 1.190 kcal
Alfafa 14.900 kcal

30
As estimativas científicas apontam que cada nível trófico transfere apenas 10% da energia
que possui para o nível trófico seguinte. Consequentemente, a pirâmide de energia quase
nunca apresentará mais do que cinco níveis tróficos. Para exemplificar, imagine uma plantação
de milho capaz de alimentar 100 pessoas durante um ano. Caso essa mesma plantação seja
destruída e transformada em pasto, o qual servirá somente para engorda de bovinos de corte, o
número de gado que a área poderá suportar será tão pequeno que não será possível alimentar
mais do que cinco pessoas durante o mesmo período de um ano.
Dessa forma, podemos compreender que a quantidade de energia que se perdeu de um nível
trófico para outro foi muito grande. Ou seja, numa mesma área onde tínhamos seres vivos
produtores de energia, como a plantação de milho, teremos uma enorme perda energética
após a substituição por gado, onde poderemos contemplar apenas uma ínfima parte da
população humana a alimentando com carne. Assim, podemos concluir que os produtores
possuem muito mais carga energética que os demais níveis tróficos da pirâmide de energia.
Infelizmente é muito grande o território brasileiro onde se pratica a pecuária, que inclusive
exporta enormes quantidades de carne, enquanto se poderia potencializar a capacidade de
alimentar mais pessoas incentivando a agricultura.

Recursos energéticos
Assim como nos ecossistemas naturais, nós seres humanos, também necessitamos de
energia para desenvolver nossas atividades vitais. Nossa alimentação é a essencial fonte de
energia para que nossos sistemas respiratórios, circulatórios, digestivos, entre outros continuem
funcionando normalmente e assim permaneçamos vivos. Mas acontece que a sociedade criou
uma série de atividades industriais e domiciliares que demandam muito mais energia do que
de fato precisamos para viver.
Essa demanda de energia que a sociedade precisa para desenvolver suas atividades
é suprida por meio da exploração dos Recursos Energéticos oferecidos pelo nosso
planeta. Os recursos energéticos são o conjunto de meios com que os países do mundo
exploram para atender às suas demandas na cadeia produtiva de bens de consumo materiais.
São diversas as fontes energéticas exploradas pelo homem, mas as mais utilizadas são:
petróleo, gás natural e carvão.
Você pode observar que a quantidade de veículos tem aumentado drasticamente nas cidades.
Dessa forma, o petróleo cru e o gás natural são encontrados em quantidades comerciais em
mais de 50 países de todos os continentes do planeta. As maiores e mais da metade das jazidas
de petróleo se encontram no Oriente e quase um terço das reservas já descobertas de gás
natural também estão lá.
O carvão é um termo genérico que se refere a uma grande variedade de materiais sólidos
que possuem alto conteúdo de carbono. Esses materiais são queimados em centrais térmicas
que geram vapor d’água destinado a impulsionar geradores de energia. O grande problema
desse combustível é a queima excessiva de madeira, a falta de fiscalização favorece grandes
desmatamentos de áreas naturais, sem contar com a imensa quantidade de gás carbônico que
é lançada na atmosfera.

31
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Por outro lado, a energia solar não é apenas uma tecnologia energética, mas também um termo
que se aplica a diversas tecnologias de energias renováveis. Sua característica comum é que, ao
contrário de quase todas as demais, é inesgotável, totalmente limpa e segura. No Brasil, infelizmente,
falta percepção do Governo para as potencialidades dessa fonte inesgotável que não prejudica o
meio ambiente e nem impõe riscos de contaminação ou de doenças para os humanos.

Fontes de Energia

Atualmente, as pesquisas científicas estão preocupadas em desenvolver novas fontes de


energia, as quais possam substituir os combustíveis não renováveis e poluidores do meio
ambiente – como o petróleo e o carvão mineral. Vamos conhecer um pouco mais sobre as
fontes de energia.

Energia hidrelétrica
É a energia gerada pela força da água. Provoca-se represamento de grande área alagada
através de uma interrupção com barragem no curso de um rio. A água irá cair para um nível
inferior da barragem, provocando assim a movimentação de turbinas geradoras de energia.
Essa energia provoca impacto ambiental principalmente na construção dessas barragens, pois
grandes áreas naturais acabam sendo alagadas. O rio perde o seu potencial turístico ou de
lazer e as populações ribeirinhas são desabrigadas.

Álcool
O álcool vem sendo usado em substituição à gasolina e outros combustíveis derivados
do petróleo. No Brasil, a cana-de-açúcar tornou-se a principal fonte de produção de álcool
hidratado. Para tanto, muitas usinas foram implantadas em vários estados brasileiros.

A principal vantagem do uso do álcool como combustível é a redução de consumo do


petróleo pela população. No entanto, a utilização desse combustível traz também algumas
desvantagens: grandes áreas, antes reservadas à produção de alimentos e de preservação da
biodiversidade, estão agora sendo convertidas em enormes latifúndios de cana-de-açúcar.

Além disso, a produção de álcool causa drásticos desequilíbrios nos ecossistemas, interferindo
na qualidade dos rios e demais corpos d’água. Grandes quantidades de resíduos altamente
tóxicos, como o vinhoto, são pulverizados nas plantações de cana, e esses elementos químicos
acabam contaminando mais do que o solo, mas também os rios, lagos e inclusive o lençol
freático, tornando a água altamente cancerígena para o consumo a longo prazo.

32
Energia nuclear
É a energia liberada durante a fissão ou fusão de núcleos atômicos. Uma fonte inesgotável
de energia, onde enormes quantidades podem ser obtidas mediante processos nucleares de
alguns átomos específicos. A energia nuclear supera em muito as demais fontes de energia,
e uma vez que se tenha total controle sobre a manipulação dessa fonte, ela é considerada
totalmente eficaz e limpa.

Energia solar
Energia inesgotável produzida pelo Sol. Os raios solares chegam à atmosfera terrestre
através dos fótons, os quais interagem com a atmosfera e a superfície terrestre.
Na atmosfera, nos oceanos e nas plantas ocorre a absorção natural de energia solar, mas a
energia solar pode ser obtida artificialmente através de dispositivos denominados de coletores
solares. A energia solar, uma vez absorvida, pode ser convertida em energia elétrica sem
nenhum dispositivo mecânico intermediário.

Os Ciclos Biogeoquímicos

Os ciclos biogeoquímicos são processos naturais que, por diversas formas, promovem reciclagem
de importantes elementos ou de compostos químicos do meio ambiente para os organismos, e
vice-versa. Ou seja, é através dos ciclos biogeoquímicos que ocorre o fluxo cíclico dos elementos
químicos importantes tanto para a vida quanto para os ecossistemas existentes na biosfera. Portanto,
elementos como a água, o carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e cálcio percorrem esses ciclos,
unindo todos os componentes vivos e não vivos da Terra.
Você já deve ter em mente que a Terra é um sistema dinâmico que está constantemente
em evolução, portanto, qualquer alteração dos ciclos biogeoquímicos acaba afetando todos os
demais processos físicos e biológicos.

Os elementos químicos da natureza são constantemente transformados durante os


processos de composição e decomposição da matéria orgânica, sendo que todos eles
Importante! estarão sempre contidos na biosfera sendo, portanto, recicláveis.

Para que fique claro, os ciclos biogeoquímicos que acontecem a todo instante em nosso dia
a dia podem ser entendidos como o movimento ou o percurso de um determinado elemento
ou molécula química através de um ou vários meios como a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera
da Terra. Desse modo, os ciclos estão intimamente relacionados com processos geológicos,
hidrológicos e biológicos.

33
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
O estudo desses ciclos se torna cada vez mais importante, como, por exemplo, para avaliar
o impacto ecossistêmico que a exploração de um recurso natural possa vir a causar no meio
ambiente e nos seres vivos que dependem direta ou indiretamente desse meio para garantir a
sua sobrevivência.
Um triste exemplo tem sido a falta de água na região metropolitana de São Paulo. Tanto a
população humana quanto a fauna e flora têm sofrido com a escassez desse recurso nessa região.
Uma vez que os rios e lagos estão sendo poluídos e altamente consumidos principalmente por
indústrias e plantações agrícolas, os rios e os demais mananciais de água potável tem sido
contaminados pelo despejo de resíduos cancerígenos (metais pesados) e superexplorados por
conta da irrigação de latifúndios de cana-de-açúcar.

Em síntese:
Como dito anteriormente, qualquer matéria pode ser constantemente reaproveitada
na natureza. Por exemplo, quando uma planta ou um animal morre, as bactérias e
os fungos existentes no solo dão início à decomposição da matéria que compunha
seus corpos. É justamente através da decomposição que se devolve ao solo os sais
minerais, a água e os demais elementos – como sódio (Na), potássio (K), fósforo
(P) e nitrogênio (N). A partir da decomposição desses elementos, eles estarão
novamente disponíveis no solo, no ar ou na água, onde o processo todo se reinicia
como se fosse uma grande engrenagem do mundo natural.
Algumas atividades cíclicas ligadas aos elementos biogeoquímicos podem ser
exemplificadas. O nitrogênio, por exemplo, que naturalmente é encontrado no ar
que respiramos, é absorvido por algumas bactérias que vivem aglomeradas nas raízes
de algumas plantas (Figura 3). Já o fósforo que está presente no solo é novamente
incorporado pelos seres vivos a partir das plantas para compor os fosfolipídios.

Figura 3. Raízes de leguminosas com nódulos contendo bactérias fixadoras de nitrogênio.

Fonte: Xavier et al. (2015)

34
O ciclo da água
Você já deve saber que a água pode ser encontrada naturalmente em três estados físicos:
sólido, líquido e gasoso. Nos oceanos e mares temos aproximadamente 97% de toda a água
do nosso planeta. Dos 3% restantes, 2,25% está em forma de gelo nas geleiras e nos polos
norte e sul, e apenas 0,75% está presente nos rios, lagos e lençóis freáticos que a população
humana tem de dividir com os demais animais terrestres.
A quantidade de água na forma de vapor que se encontra na atmosfera é extremamente inferior
quando comparada às grandes quantidades de água encontradas nos demais estados físicos. Porém,
apesar dessa quantidade ser ínfima, a presença de vapor de água no ar é vital para os seres vivos e
fundamental para que se estabeleça as condições climáticas do nosso planeta.
Esse vapor de água que se encontra na atmosfera é proveniente da evapotranspiração que
ocorre de forma natural na biosfera. A evapotranspiração nada mais é do que a própria
transpiração realizada pelos seres vivos e a evaporação da água líquida por conta do aquecimento
pelo Sol. Portanto, você já deve ter imaginado que a evapotranspiração exige certa quantidade
de energia para ser realizada. A água gasosa evaporada para atmosfera pela radiação térmica
solar se condensa na atmosfera por perda de calor e se precipita em forma de chuva (líquida),
ou por um resfriamento excessivo na forma sólida (neve ou granizo).
Como a maior parte da água em nosso planeta se concentra nos oceanos, a quantidade de
evapotranspiração é bem maior do que a precipitação nas áreas oceânicas. Por outro lado,
nos continentes e nas ilhas ocorre o inverso: a água evapora em menor quantidade e chove
em maior proporção. Essa inversão possibilita nos continentes a formação de rios, lagos e
lençóis freáticos.
Então, como a chuva ocorre de forma mais pronunciada nos continentes do que nos
oceanos, poderemos pensar que a tendência do nível de água nos oceanos seria diminuir ao
longo do tempo. Entretanto, vemos que isso não tem acontecido. Você sabe por quê? Bom,
esse processo dos oceanos secarem não ocorre devido ao acúmulo de água dos continentes
ser transportado de volta aos mares e oceanos através dos rios.
Figura 4. Esquema ilustrativo do ciclo da água.
É muito importante que você observe
que todo o movimento realizado pela
água em nosso planeta acontece de forma
cíclica. Desse modo, a água evaporada
pelo Sol e transpirada pelos animais
percorre seu trajeto, seja ele na terra
ou na atmosfera, cumprindo todas suas
funções, até que ocorra a precipitação,
quando ela voltará a estar disponível para
recomeçar o seu ciclo na natureza. Veja o
ciclo completo na Figura 4 (ao lado).
Fonte: ga.water.usgs.gov

35
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Teoria de Gaia

Olhando o ecossistema como um todo, podemos observar que a população é extremamente


ampla e ainda em constante crescimento. Além disso, observamos vários pontos negativos
para a qualidade do ambiente, como a degradação das áreas de matas, o esgotamento dos
recursos naturais, o acúmulo de resíduos de todos os tipos de lixo transformados em poluição
de rios, solo e ar, além da mudança climática e a destruição da biodiversidade em todas as suas
formas. Todas essas situações provocadas pela humanidade constituem juntas uma ameaça
ao bem-estar do próprio ser humano – ameaça essa que até então era desconhecida pelas
gerações anteriores.

Dessa forma, é extremamente fácil perceber que precisamos restabelecer o equilíbrio em


nosso planeta, e isso depende essencialmente do ser humano voltar a respeitar a natureza da
forma como ela merece. É nesse contexto que surge a Teoria de Gaia, a qual foi proposta para
mostrar à humanidade o que temos feito com nosso planeta, e que a necessidade de equilibrar
o meio ambiente é urgente, tendo em vista que a existência de vida está comprometida pelo
nosso grande descaso.

Analisando a Terra do seu interior, cientistas descobriram que ela é quase totalmente
constituída de rocha fundida e metal. Sendo a Terra um planeta do universo que pulsa vida por
toda a sua porção externa, a Teoria de Gaia considera, portanto, que o nosso planeta funciona
como um imenso sistema fisiológico dinâmico, o qual se tornou apto para a vida há mais
de três bilhões de anos. Dessa forma, Gaia pode ser entendida como um sistema fisiológico
“vivo” que regula as condições climáticas e químicas para que sejam ideais para a vida.

O cerne dos problemas que afligem Gaia está na falta de controle populacional humano,
onde atualmente o número de habitantes ultrapassa as sete bilhões de pessoas e torna
insustentável a vida nos próximos anos. Com o atual modelo de desenvolvimento capitalista,
onde a superexploração dos recursos naturais provoca a destruição maciça de ecossistemas,
polui o globo terrestre e ameaça o clima, o nosso compromisso agora é controlar o crescimento
populacional de modo a sermos condizentes em número de pessoas com aquilo que a
capacidade de Gaia suporta para alimentar-nos a longo prazo.

Para que isso ocorra, é nosso dever para com o planeta alterarmos a ordem dos nossos
valores enquanto sociedade, dando prioridade para o controle populacional, à limpeza das
águas, proteção do solo e ao cuidado com as árvores e animais.

Como dito anteriormente, a própria Gaia é quem regula sua temperatura de modo a ser
ideal para qualquer tipo de vida que a esteja habitando, contudo, a emissão de gases de efeito
estufa, como o CO2, faz com que a nossa atmosfera aqueça o bastante a ponto de derreter
imensos blocos de gelo da Groenlândia e de parte da Antártida ocidental (Figura 5). Aos
nossos oceanos será então acrescentada água suficiente para que os níveis do mar se elevem
e ocasionem êxodo do litoral para as regiões interioranas e mais altas dos continentes.

36
Figura 5. Imagem de satélite do iceberg B-15A de 160 Km de comprimento
O aquecimento da atmosfera, em termos de na Antártida desprendido por causa do aquecimento global.
Gaia, em pouco tempo será excessivo para a flora,
fauna e muitas outras formas microbianas de vida.
Esse impacto climático é provocado pela nossa civi-
lização industrial, a qual vem aquecendo Gaia mais
rapidamente do que os processos naturais. Sabe-
mos que Gaia já sobreviveu com sucesso a enormes
catástrofes em seus primeiros milhões de anos de
vida (Figura 6) mas, contudo, caso continuemos a
deixar as coisas como estão, nossa espécie poderá
nunca mais desfrutar deste planeta repleto de vida Fonte: www.apolo11.com

– assim como já perdemos inúmeras belezas naturais verdejantes e cênicas, que existiam há
pouco mais de cinquenta anos e hoje já não existem mais.

Figura 6. O estabelecimento da vida na Terra e sua relação com as chuvas meteoríticas esterilizantes.

Fonte: Damineli e Damineli (2007)

Neste momento, você deve estar pensando que é muito difícil tomarmos medidas de ação
em prol de nosso planeta e de nós mesmos, mas é mais simples do que se imagina. Basta
rompermos com a economia que enriquece poucos e manter a maior parte da população
mundial com pouco dinheiro, transformaremos toda essa situação que antecede o caos apenas
tornando a nossa economia ecológica.
Para isso, nossa matriz energética, por exemplo, deverá se basear em fontes renováveis já
descobertas, tais como a energia eólica e a solar (Tabela 1). Ainda, poderemos substituir os
combustíveis fósseis poluidores, como o carvão mineral e o petróleo, por aqueles de origem
vegetal, como o etanol e o biodiesel. Outra fonte energética seria a proveniente de energia
nuclear que, apesar de ser defendida por diversos intelectuais de gestão ambiental como a

37
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
solução de crises ambientais, tem sido repensada pela sociedade atual após alguns acidentes –
embora tenhamos tecnologia suficiente para manter níveis seguros de uso dessa fonte.
Tabela 1. Empreendimentos de geração de energia em ação no Brasil em 2014.
Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %
CGH 469 288.349 0,22
EOL 178 3.847.529 2,89
PCH 467 4.713.134 3,57
UFV 164 16.287 0,01
UHE 197 86.625.945 63,17
UTE 1.866 39.325.279 28,61
UTN 2 1.990.000 1,52
Total 3.343 136.806.523 100
Fonte: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm

Este assunto acaba entrando no âmbito da sustentabilidade, a qual representa ações


economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas (FIALHO et al.,
2007). Esse conceito vem crescendo e atingindo mais pessoas graças a ações individuais
e de organizações civis não governamentais que possuem visão holística da natureza e da
economia, que perceberam os problemas socioambientais relacionados ao mau planejamento
de governar a população mundial.
Quanto mais conhecimento obtemos, mais clara fica a percepção que Gaia foi e está sendo
bruscamente alterada em razão do desenvolvimento da vida humana sobre ela. À medida
que ocupamos áreas verdes transformando-as em áreas urbanas, alteramos a composição do
ambiente – como a sua temperatura, natureza química e toda a estrutura de vida na superfície da
Terra. O que vêm ocorrendo é que Gaia está em luta contra todas as perturbações provocadas
pela humanidade em função da manutenção de suas formas de vida. Entretanto, os seres
humanos tentam governar a Terra para seu próprio conforto e conveniência. Como resposta,
em analogia aos cuidados maternos, o grande ecossistema Gaia age como uma mãe que
acalenta seus filhos quando esses lhe dão o devido respeito, mas, por outro lado, pune os que
a desrespeitam, sendo que o castigo pode muitas vezes significar a impossibilidade de vida até
mesmo dos que a respeitam.
Com isso, para evitarmos que todos paguem pelo mau comportamento de uma grande
parcela da população, precisamos divulgar o que acontece de verdade com nosso planeta
para todas as pessoas, pois há riscos para todos, tanto para nossas vidas quanto às gerações
futuras. Apenas educando as pessoas de como viver de um modo sustentável, a população se
mobilizará de forma espontânea e generosa com os ecossistemas, adotando uma postura de
vida em harmonia com Gaia.
Comumente, cada um de nós prioriza uma vida boa pensando em um futuro imediato. Por conta
disso, preferimos então protelar a solução dos problemas esquecendo os pensamentos desagradáveis
que uma possível catástrofe provocará no futuro. Dessa forma, nós, seres humanos, nunca nos
responsabilizamos por nossos atos de desrespeito ao planeta, uma vez que as consequências ocorrem
a longo prazo e caem sobre as costas das gerações futuras.

38
Material Complementar

Vídeos:
Discovery na Escola - Elementos de Biologia, Ecossistemas
https://youtu.be/5WVhItCdm-o

Biologia - ciclos biogeoquímicos


https://goo.gl/9GtFU7

Teoria gaia de James Lovelock


https://youtu.be/GzhidMRxBuQ

Livros:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora Planta. 2001.

ROSA, R. S.; MESSIAS, R. A.; AMBROZINI, B. Importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos
para o desenvolvimento sustentável. Coord. Maria Olímpia de O. Rezende. Instituto de Química de
São Carlos, Universidade de São Paulo. 2003.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia26.php
https://www.biologiatotal.com.br/areas-da-biologia/ecologia/
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia6.php

39
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
2
Referências

DAMINELI, A.; DAMINELI, D.S.C. Origens da vida. Estudos Avançados, 21 (59): 263-
284, 2007.

FIALHO, F.A.P. et al. Empreendedorismo na era do conhecimento. Florianópolis: Visual


Books, 2007.

LOVELOCK, J. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006. Tradução Ivo Korytowski.

XAVIER, G.R.; RUMJANEK, N.G.; GUEDES, R.E. Fixação Biológica de Nitrogênio.


Embrapa. Agência Embrapa de Informação Tecnológica - Ageitec. Disponível em: http://www.
agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/feijao-caupi/arvore/CONTAG01_24_510200683536.
html. Acesso em: 10 mar. 2015.

USGS. Water cycle. Departhment of the interior. United States Geological Surveys. 2015.
Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23 mar. 2015.

USGS. Water cycle. Departhment of the interior. United States Geological Surveys. 2015.
Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23/03/2015.

40
3
Ecologia de Populações

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Prof . Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Contextualização

Que as populações estão presentes em todo lugar do planeta Terra e são constituídas por
uma enorme diversidade de espécies não é mais novidade para você, não é mesmo? Com isso,
o conteúdo presente abordará o que de fato estrutura as populações em termos demográficos
e o que promove a distribuição dessas populações pelo nosso globo terrestre. Você já imaginou
no que o conhecimento sobre as populações pode contribuir para uma pessoa que pretende
gerir ambientalmente uma determinada área? Informações a esse respeito, bem como os
detalhes que estão relacionados com os processos de crescimento e declínio populacional
aguardam por você nesta Unidade.
Além do conteúdo teórico, dois vídeos irão permitir que se familiarize com a Ecologia de
populações e aprofunde seu conhecimento sobre esta entidade ecológica tão comum em
nosso dia a dia.

Interações Ecológicas (resumo) - Ecologia de Populações-CESAD/UFS:


https://www.youtube.com/watch?v=PMw20is8D14

Como os lobos mudam os rios (legendado):


https://youtu.be/nW5ztScNCYk

42
Conceitos de Ecologia de populações

Você aprendeu que população é um dos conceitos da Ecologia. Agora responda


mentalmente para si a seguinte pergunta: o que é uma população?
A partir de sua resposta, reflita sobre os motivos que levam cientistas a produzirem milhares
de pesquisas que são frutos de intensos esforços intelectuais sobre o que chamamos de
Ecologia de populações.
Para direcioná-lo, para direcioná-lo à leitura deste conteúdo, gostaríamos que você
internaliza-se a definição de população como sendo nada mais do que um conjunto de
organismos da mesma espécie convivendo em um determinado ambiente, onde todos os
indivíduos compartilham uma determinada função em comum dentro do ecossistema.
Estudar a Ecologia das populações pode nos trazer importantes conhecimentos sobre
como ocorrem as formas de interação entre os seres vivos e o ambiente, e o que subsidia o
conhecimento sobre a utilização de recursos naturais por diferentes populações de diferentes
espécies. Podemos compreender desde populações de formigas até populações humanas por
meio do conhecimento sobre Ecologia de populações.
Possuir informações sobre Ecologia de populações é primordial para que se saiba como
realizar a conservação da própria espécie que se estuda – inclusive, entre as espécies estudadas,
encontra-se a Homo sapiens, mais conhecida como a atual espécie humana. Vejamos a seguir
alguns dos principais atributos de populações.

43
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Atributos demográficos de uma população

Natalidade
Você já deve ter ouvido esta palavra naturalmente em sua vida. Natalidade é um termo
que expressa a quantidade de novos indivíduos de uma população em um dado período de
tempo. A produção desses novos indivíduos ocorre por meio de processos naturais como
nascimentos, postura de ovos ou fissão celular.

Fertilidade
No estudo de Ecologia de populações, entende-se por fertilidade a produção real de uma
população, sendo essa resultante do número de nascimentos bem sucedidos. Naturalmente
essas estimativas irão resultar em diferentes taxas de acordo com o organismo avaliado. Por
exemplo, uma ostra pode produzir de 55 a 114 milhões de ovos durante toda sua vida; os
peixes produzem milhares de ovos; anfíbios podem produzir centenas de novos indivíduos;
as aves botam de 1 a 20 ovos; e, por fim, dentro do grupo dos mamíferos, há fêmeas que
produzem de 1 a 10 indivíduos por ciclo reprodutivo.

Mortalidade
Primeiramente você deve saber que nem todo indivíduo chega ao fim de sua vida de forma
senescente, ou seja, nem todos morrem por processo natural de envelhecimento e morte.
Portanto, entende-se como mortalidade o número de indivíduos que morrem em um dado
período de tempo. Para tal, devemos considerar as mortes por predação, doenças e até mesmo
catástrofes naturais. É importante saber que uma simples área alagada por empreendimento
hidrelétrico pode aniquilar de uma só vez populações inteiras de diversas espécies.

Na reportagem a seguir, uma matéria elucida o impacto causado em uma população


de aproximadamente 1600 pessoas de Jaci Paraná, Rondônia, que viviam e
mantinham suas tradições às margens do Rio da Madeira.
http://pt.globalvoicesonline.org/2013/04/16/brasil-ribeirinhos-removidos-pela-usina-de-jirau-lutam-para-ganhar-a-vida/

Estudos realizados sobre a população humana indicam grandes variações nas expectativas
de vida. Analisando a idade média que as mulheres atingem em suas respectivas populações,
a variação é bastante considerada. Por exemplo, as mulheres da Roma antiga morriam com
aproximadamente 21 anos, enquanto as da Inglaterra no final do século XVIII não passavam
de 39 anos; já as mulheres norte americanas, da década de sessenta, viviam em média até
os 73 anos.

44
Imigração e Emigração
Outros fatores diretamente relacionados com o tamanho populacional também devem ser
considerados. Dentre eles, você deve se lembrar das taxas de imigração e emigração que
exercem influência direta sobre o tamanho da população. Por imigração entende-se a taxa
daqueles indivíduos que foram acrescidos à população, ou seja, indivíduos que vieram de outras
populações. Já por emigração, entende-se a taxa daqueles indivíduos que estão deixando a
população de origem.

Densidade
Um fator importante e que diz muito sobre a relação entre a quantidade de indivíduos e a
área de vida do ambiente que irá suportar a população é a densidade. A densidade nada mais
é do que o número total de indivíduos por unidade de área. O Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) disponibiliza dados sobre a densidade demográfica da população brasileira
entre os anos de 1872 a 2010.

Confira o link e tenha acesso à pesquisa: Densidade demográfica segundo as Grandes


Regiões e as Unidades da Federação – De 1872 à 2010, disponibilizada pelo IBGE:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=10&uf=00

45
Ecologia de Populações
UNIDADE
3

Dinâmica populacional

De acordo com os conceitos inerentes à Ecologia de populações, você pode perceber que
existem inúmeros fatores relacionado às dinâmicas populacionais. Dentre esses fatores, a
distribuição dos indivíduos em um dado espaço geográfico possui destaque nas investigações
científicas.

Você até aqui aprendeu que o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie em uma
mesma área geográfica forma uma população, a qual faz dessa área o seu habitat adequado. O
tamanho dessa população varia principalmente de acordo com a disponibilidade de alimento,
presença e quantidade de predadores e disponibilidade de recursos reprodutivos.

Observando as paisagens e buscando por diferentes populações, vemos que seus respectivos
habitats estão distribuídos como mosaicos. Podemos visualizar ambientes mais abertos, outros
com matas mais fechadas e maior umidade do ar, ambientes alagados entre tantos outros.
Cada um desses habitats na paisagem está distribuído em forma de mancha, onde nelas estão
contidas as populações. Para exemplificar, imagine como
se você estivesse navegando pelo Google Earth visualizando
todo o território brasileiro, deslizando o navegador você
poderá encontrar diversas manchas urbanas na paisagem,
representadas pelas cidades, ou seja, populações humanas.
Da mesma forma ocorre com as populações das demais
espécies, onde cada uma se distribui na paisagem naqueles
locais que de alguma forma subsidiam recursos alimentares
e reprodutivos para seus indivíduos.
Reprodução Google Earth

Sendo assim, evidencia-se que a distribuição de áreas geográficas abundantes em


recursos que servirão como habitat para as populações é o que influencia a distribuição
geográfica também das próprias populações. Em outras palavras, a distribuição nada
mais é do que a abrangência geográfica de uma população que foi determinada pela
presença de um habitat adequado.

Porém, por outro lado, quando um habitat sofre degradação, a população pode chegar
a desocupar tal área da paisagem em busca de uma nova área mais promissora. A seguir, a
Figura 1 mostra a distribuição geográfica de um periquito - de - cauda -longa ameaçado de
extinção, que é endêmico das matas secas da bacia do rio Paranã, no Brasil Central. Repare
que de todo o território mundial, somente uma pequena porção de área distribuída em algumas
cidades de Goiás e Tocantins é adequada para ser ocupada por essa espécie.

46
Figura 1. Distribuição geográfica de populações de Tiriba – de Pfrimer (Pyrrhura pfrimeri) no Brasil Central.

Fonte: Foto do site loromania.com e mapa de distribuição contido na dissertação de mestrado de Marcos Filipe Pesquero.

É importante que você saiba que para delimitar a distribuição geográfica de uma população,
deve-se considerar todas as áreas que são utilizadas pelos seus indivíduos. Na natureza, as
populações estão distribuídas de acordo com três tipos: distribuição agrupada, distribuição
aleatória e distribuição homogênea (Figura 2).

Figura 2. Padrões de distribuição populacional. No exemplo, três diferentes populações de pinheiros.

Agrupadas Aleatória Homogêneas

47
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Método para estimar tamanho populacional
Você deve saber que para levantar dados sobre os tamanhos populacionais, na maioria
dos casos, não é possível contar um por um todos os indivíduos de uma população. Isso
ocorre tanto pelo fato de muitas vezes essa contagem significar um trabalho extremamente
exaustivo e pouco eficaz – uma vez que, ao contar animais, por exemplo, esses deslocam-se
pela área durante a contagem – e, além disso, por conta das populações serem muito grandes
e demandarem um enorme esforço coletivo, até certo ponto irreal.
Sendo assim, estimativas são realizadas através da coleta de amostras representativas da
população que se deseja contabilizar os indivíduos. Veja a seguir detalhadamente como isso
funciona no caso da estimativa populacional de animais.

Método de captura e recaptura


Esse método é bem simples e útil para estimar o tamanho populacional de uma única
espécie de animal. Como dito anteriormente, precisamos coletar amostras da população em
seu habitat natural. Portanto, seleciona-se dentro do habitat da espécie uma área onde
serão procurados os indivíduos e, quando encontrados, esses serão capturados, marcados
para que possam ser identificados posteriormente e devolvidos ao local de origem. Após
um determinado período, volta-se ao habitat da espécie e uma segunda amostra é tomada
da população. Como os indivíduos coletados na primeira amostra foram marcados, deve-se
contabilizar na segunda amostra o número de recapturados que possuem as marcações.
Através desses dados será possível obter a proporção de indivíduos recapturados em relação
ao total da segunda amostra. Essa proporção é a mesma que existe entre o conjunto dos
indivíduos marcados na primeira amostra e a população inteira que se deseja quantificar. Desse
modo, pode-se construir uma regra de proporcionalidade:

nº total ind. marcados nº ind. recapturados


total da população = total 2ª amostra

Sendo que o total da população é o dado que se deseja conhecer.


Você pode estar se perguntando neste momento sobre como é realizada essa marcação nos
indivíduos. Para marcá-los, para marcá-los, existem vários métodos, sendo que eles são propostos
de acordo com a espécie animal que se deseja quantificar a população. Essas podem ser feitas com
tintas não tóxicas, pequenas placas coladas no corpo do indivíduo ou até mesmo colares.

As marcações devem levar em consideração que se trata de uma vida e, portanto,


não devem alterar em nada o comportamento dos indivíduos marcados. Caso
a marcação não seja adequadamente realizada, o indivíduo marcado pode ser
predado ou não conseguir capturar uma presa por chamar demais atenção e
Atenção! atrapalhar sua camuflagem, ou até mesmo ser rejeitado do grupo por falta de
identificação entre seus semelhantes.

48
Estruturas populacionais

Para que se compreenda a estrutura de uma população, faz-se necessário levar em


consideração as taxas de crescimento populacional, entender como a população varia seu
tamanho ao longo do tempo e, por fim, identificar todas as demais espécies que de alguma
forma interagem com a população estudada.
Alguns pressupostos são tomados no momento em que se pretende estudar a dinâmica
populacional de uma espécie. Entre eles, assumir que as probabilidades de nascimento e morte
dos indivíduos da população é constante e que o crescimento da população é limitado pela
capacidade de suporte do ambiente, ou seja, pela quantidade de indivíduos que o ambiente
suporta em termos de recursos disponíveis.
Ao analisarmos o crescimento da população mundial humana, podemos perceber que o
número de pessoas que se mantinha no mundo era menor do que um bilhão. A partir da
Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, começa a ocorrer um acelerado
aumento no número de pessoas, promovendo um fenômeno conhecido na Ecologia de
populações como crescimento exponencial.
O número de habitantes que havia na Terra até meados de 1860 começa a crescer
disparadamente, aumentando a população para 7 bilhões de pessoas em apenas 150 anos. O
gráfico da Figura 3 ilustra perfeitamente as extremas proporções em que os humanos têm se
multiplicado no planeta. De acordo com os conhecimentos de Ecologia de populações, esse
acelerado crescimento tende a diminuir em poucos anos, quando começar a faltar recursos no
ambiente para as pessoas do mundo viverem.
Figura 3. Gráfico de crescimento da população mundial.
11
10
9
8
Bilhões de pessoas

7
6
II Guerra Mundial
Revolução Agrícola 5
Revolução Medicina 4
Revolução Transportes
Revolução Industrial 3
Surgimento Mercantilismo 2
Queda Surgimento Início das
de Roma do islamismo Cruzadas Peste bubônica
1
0
Ano 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000

49
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Extinções de populações

Você certamente já deve ter ouvido falar em extinção. Ela ocorre quando uma população
reduz muito o seu número de indivíduos, entrando em um estado de susceptibilidade a deixar
de existir. Portanto, é possível saber se uma população está ou não em processo de extinção
antes que ela de fato seja extinta. Para que possamos prever extinções naturais de populações,
ou seja, sem levar em consideração catástrofes ambientais, devemos obter dados ecológicos
referentes ao número de indivíduos dessas populações.
Além disso, é bastante importante que se conheça a proporção de machos e fêmeas e a
disponibilidade de recursos tanto alimentares quanto reprodutivos. Em geral, a taxa de extinção
é influenciada diretamente pelo número de indivíduos e pela disponibilidade desses recursos
ao longo do habitat. Em nosso planeta, muitas espécies foram perdendo aos poucos suas
populações e acabaram extintas do globo terrestre.

50
Interações ecológicas

Desde a primeira Unidade, foi comentado com você o papel das interações ecológicas
para o funcionamento dos ecossistemas. Agora chegou o momento de aprofundarmos mais
esse conceito. Iremos começar com a definição. Entende-se por interação ecológica a
situação onde um organismo qualquer, em um dado momento, faz parte da vida do outro.

Quando os organismos com quem se interage pertencem à mesma espécie, o


tipo de interação que ocorre é intraespecífica. Já quando um organismo interage
com organismos de outras espécies, o tipo de interação é interespecífica.

Basicamente, o que faz os organismos interagirem uns com os outros é a própria necessidade
de manterem-se vivos. Assim como de alguma forma nós, humanos, disputamos espaço para
nos inserirmos no aclamado mercado de trabalho, o que depois nos possibilitará comprar os
recursos essenciais para a nossa vida, os demais organismos também disputam diretamente
tais recursos, que devem suprir suas exigências alimentares e reprodutivas.
Por sua vez, todos os recursos em geral podem ser classificados em dois tipos: recursos
renováveis e não renováveis. Os recursos renováveis são aqueles que realizam seu ciclo
de composição e decomposição em curto espaço de tempo. Já os recursos não renováveis
são aqueles que demandam um longo prazo de tempo, em escalas superiores a milhares de
anos, para completarem seus ciclos.
Na Figura 4, exemplificamos duas situações contrastantes e divergentes. Ambas as fotos
representam interações ecológicas entre duas espécies, portanto, relações interespecíficas. Na
foto (A), um indivíduo da espécie de periquito (Pyrrhura pfrimeri) ameaçada de extinção se
alimenta de frutos disponibilizados por um indivíduo de outra espécie conhecida popularmente
como mangueira (Mangifera indica), fazendo um uso sustentável desse recurso. Por outro lado,
a foto (B) representa interações entre seres humanos e tubarões. Uma prática insustentável
que vem ameaçando essa espécie de extinção.
Figura 4. Comparação entre interação sustentável e insustentável. (A) Indivíduo de Pyrrhura pfrimeri se alimentando de manga.
(B) Barbatanas de tubarão cortadas para alimentação humana.

Fonte: foto (A) tirada por Marcos Filipe Pesquero (arquivo pessoal) e foto (B) por Creative Commons.

Leia a matéria a seguir, disponível no site G1, intitulada “Pescadores retiram


barbatanas de tubarões e descartam o resto do peixe”, e entenda mais sobre uso
sustentável e insustentável dos recursos ambientais.
https://goo.gl/Ddu9nD

51
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Tipos de interações interespecíficas

Como mostrado na figura anterior, é possível perceber que existem diferentes tipos de
interações ecológicas. A seguir, iremos abordar cada um deles e explicar como ocorrem dentro
dos ecossistemas.

Predação
Entende-se por predação o ato pelo qual um indivíduo mata e se alimenta de outro indivíduo,
no caso, a presa. Os predadores têm um papel fundamental no equilíbrio de populações.
São considerados peças-chave para o controle populacional, evitando que haja desequilíbrios
causados por espécies que venham crescer exorbitantemente em número de indivíduos.

Para isso, predadores em geral dispõem de uma ágil mobilidade e sentidos aguçados
de audição, olfato e visão. Além disso, possuem fortes a afiados dentes, garras, ou bicos,
adaptados à caça.

Um exemplo fácil sobre o papel de regulação populacional promovido por predadores seria
o caso dos ratos que vivem nos esgotos das cidades. Em seu habitat natural, nas matas, muitas
espécies de gaviões, felinos, caninos e répteis são predadores naturais dos ratos (Figura 5).
Como nas áreas urbanas dificilmente se encontra essas espécies predadoras, as populações de
ratos crescem e tomam proporções extremas.
Figura 5. Coruja-das-torres (Tyto alba) predando um rato.

Fonte: iStock/Getty Images

Como existe uma relação direta entre tamanho populacional de presas e de predadores, um
modelo que explica essa relação foi desenvolvido para facilitar a compreensão das flutuações
populacionais. O modelo é denominado Lotka-Volterra, como forma de homenagear os
cientistas que o desenvolveram. Ele prevê oscilações populacionais, bem como taxas de
crescimentos entre presa e predador. Ao observarmos a Figura 6, percebemos que quando
o número de predadores é elevado, o de presas tende a cair; e de forma inversa, quando o
número de predadores é baixo, o número de presas tende a aumentar.

52
Figura 6. Ilustração do modelo de Lotka-Volterra. Flutuações inversamente proporcional entre tamanho populacional de presa e predador.

• Predador
• Presa

Tamanho
Populacional

tempo

A partir dessa relação predador-presa, podemos visualizar que existe um nível mínimo
capaz de suportar o crescimento populacional das espécies de predadores e que existe um teto
limite para o número de predadores que a população de presas pode sustentar.

Mutualismo
O termo mutualismo advém do conceito da palavra mútua, e significa uma interação entre
duas espécies onde ambas se beneficiam. As relações mutualísticas ocorrem naturalmente
e assumem diversas formas, mas, de forma geral, os indivíduos envolvidos em interações
mutualísticas tendem a suprir aqueles recursos ou serviços complementares de forma mútua.
Para exemplificar essa interação, existem vários exemplos: imagine os insetos que polinizam
as plantas e em troca consomem o néctar ou o pólen ofertado pelas flores; ou então, lembre
das bactérias que vivem nas raízes das plantas, proporcionando o nitrogênio em troca de
moléculas de carbono; ainda, lembre dos mamíferos ruminantes, como os bovinos, esses
mantêm bactérias em regiões específicas de seus estômagos, as quais promovem a digestão
da celulose contida no capim que eles não são capazes de digerir. Outra interação mutualística
envolvendo os bovinos, é a interação com a conhecida Garça-vaqueira (Bubulcus ibis), a qual
se alimenta e protege o gado contra os carrapatos parasitas (Figura 7).
Figura 7. Interação mutualística entre indivíduo de Garça-vaqueira (Bubulcus ibis), interessada em carrapatos de uma vaca a pastar.

Foto: acervo pessoal Marcos Filipe Pesquero.

53
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Parasitismo
Como no exemplo anterior, já foi citado os carrapatos como parasitas do gado, você já deve
ter percebido que esse tipo de interação ocorre quando um indivíduo de uma espécie consome
do indivíduo da espécie hospedeira aquele recurso necessário para sua vida.

Todo parasita tende a consumir seu recurso do hospedeiro


de forma a não sugá-lo totalmente a ponto de causar sua
morte. Caso assim o fizesse, com a morte do hospedeiro, o
Importante! parasita tenderia a morrer junto, uma vez que lhe faltará os
recursos que o hospedeiro possui.

54
Material Complementar

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


Livros:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora Planta,
2001.
BEGON, M., M. MORTIMER e D.J. THOMPSON. Population ecology. 3. ed. Oxford:
Blackwell, 1996.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia16.php
https://biomania.com.br/

“Aprender exige o esforço de não sentir-se acomodado.”

55
Ecologia de Populações
UNIDADE
3
Referências

BEGON, M. C. R.; TOWNSEND, J. L. H. Ecologia de Indivíduos a Ecossistemas. 4. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

RICKLEFS, R. E. Ecology. 3. ed. W.H. Freeman, 1990.

RICKLEFS, R.E. A Economia da Natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara


Koogan, 2010.

PRIMACK, R. B. E. R. Biologia da Conservação. Londrina: Ed. Planta, 2006.

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4
Energia e Ciclos Biogeoquímicos
nos Ambientes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Profª. Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Profª. Me. Selma Aparecida Cesarin
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Contextualização

As comunidades ecológicas estão tão próximas de nós quanto a nossa necessidade de


morar e de se alimentar. Fazemos parte e atuamos inclusive no processo de desenvolvimento
que transforma as comunidades ao diminuir ou aumentar seus graus de complexidade. Uma
comunidade ecológica nada mais é do que uma rede de interações que interliga indivíduos
de diferentes espécies por meio de uma malha estabelecida pela transferência de matéria e
energia em um dado período de tempo e espaço.
Quanto mais espécies interagindo dentro do equilíbrio ecológico, mais complexa se torna a
comunidade. E isso quer dizer que a extinção de espécies torna as comunidades mais vulneráveis
a acabarem devido à perda de subsídio energético e material que mantém vivos os organismos.
Porém, as comunidades possuem características evolutivas que as permitem responder ao
processo de extinção pela substituição de espécies. Este processo de substituição tende a
tornar as comunidades cada vez mais complexas por meio do que chamamos de sucessão
ecológica.
Além disso, cada comunidade se comporta de maneira específica quando ocorrem fatores
externos, como, por exemplo, o fogo, onde elas podem ser totalmente destruídas ou podem
se regenerar após uma queimada.
Para você se interar mais do assunto desta Unidade, indico alguns vídeos bem legais e rápidos
de serem assistidos. Com estes vídeos, você compreenderá importantes fatores ecológicos que
irão auxiliar as práticas de gestão ambiental. Confira:

Vídeos:
Sucessão Ecológica – Ecologia – Professor Paulo Jubilut:
https://www.youtube.com/watch?v=RPvTbMyfpok
Biogeografia de Ilhas:
https://www.youtube.com/watch?v=4zbzeqJHDcs

58
Ecologia de Comunidades

Conceitualmente, sabemos que as comunidades são agrupamentos de populações de todas


as espécies que vivem em determinado habitat, desde as bactérias e fungos decompositores
até os grandes predadores. Entretanto, os ecólogos têm reduzido seus estudos a agrupamentos
de apenas algumas espécies, ou seja, pequenas comunidades.
Por exemplo, um ornitólogo pode estar interessado em estudar uma comunidade de aves
frugívoras e as plantas que produzem os frutos que são consumidos pelas aves. Mas sabemos
que as aves são presas de outras espécies de animais, tais como cobras, répteis, felinos e até
mesmo de outras aves, assim como as plantas dependem dos decompositores para fornecer
nutrientes e que elas também são consumidas por animais herbívoros tais como gafanhotos,
formigas cortadeiras, lagartas e muitos mamíferos.
Essa limitação de estudos sobre as comunidades ocorre devido à grande quantidade de
grupos taxonômicos presentes nas comunidades e às diversificadas relações que as espécies
estabelecem entre si e em variados graus de intensidade, tais como simbiose, polinização,
dispersão, predação, competição, parasitismo, herbivoria, etc. Seria humanamente impossível,
para um mesmo pesquisador, adquirir tanto conhecimento sobre a dinâmica das interações
negativas e positivas entre as espécies que habitam o bioma Cerrado, por exemplo, que
somente em relação às aves abrigam aproximadamente 700 espécies.
Dessa forma, algumas espécies, seja de planta, animal ou outra qualquer, acabam sendo
mais estudadas do que outras devido à sua importância dentro das comunidades. Essas espécies
são conhecidas como “espécies-chave”.
Experimentos realizados por Robert Paine em costões rochosos no litoral da América do
Norte demonstraram que um predador, a estrela-do-mar Pisaster ochraceus, é responsável
por manter uma comunidade mais rica em número de espécies. A estrela-do-mar reduz a
população de uma espécie preferencial de presa, o mexilhão Mytilus californicus. Esse
mexilhão é um competidor superior das outras espécies de presas consumidas em menor
quantidade pela estrela-do-mar e também serve de alimento para uma espécie de gastrópode
do gênero Thais (Figura 1).
Dessa forma, tanto a predação de Thais como a competição com o mexilhão poderão
reduzir as populações das outras espécies dessa comunidade a níveis muito baixos ou até
mesmo levá-las à extinção local caso a estrela-do-mar desapareça desse habitat.

59
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Figura 1. Representação de uma comunidade estruturada por uma espécie-chave.

Adaptado de Rodrigues (2014)

A estreita relação que as espécies estabelecem entre si foi considerada pelo botânico norte-
americano Frederic Edward Clements (*1874 - †1945) uma força motriz capaz de manter as
comunidades organizadas funcionalmente de tal modo a ponto de poderem ser consideradas
superorganismos.
Tal qual a importância das engrenagens para o perfeito funcionamento de um relógio,
as espécies, na visão do botânico, são peças que mantêm as comunidades estruturadas e a
ausência de uma delas pode significar o colapso de todo o sistema. Durante suas expedições
a diferentes biomas, ele notou que a distribuição geográfica de uma espécie era a mesma das
demais espécies e chamou de ecótono a zona de transição entre duas diferentes comunidades
(Figura 2).

Figura 2. Esquema de comunidades interligadas por zonas de transição (ecótonos). As


curvas representam as distribuições de abundâncias das diferentes espécies.
comunidade
ecótono
Abundância

Gradiente geográfico
Adaptado de Ricklefs (2003)

60
Por que estudamos as comunidades?
Estudos sobre comunidades podem ser realizados em diversas escalas espaciais e temporais
dependendo do enfoque do pesquisador, e quase sempre se destinam à generalização de padrões
em testes de teorias ecológicas, as quais deveriam subsidiar ações públicas de conservação dos
biomas e de áreas prioritárias à biodiversidade. Mas falaremos dessas teorias mais adiante, em
Biogeografia de Ilhas e Metapopulação.
Agora vamos explorar os métodos que os ecólogos utilizam para descrever as comunidades
e a estrutura que as mantêm. A primeira característica que nos ajuda a conhecer uma
comunidade tem caráter qualitativo e diz respeito à composição de espécies, ou seja, quais
as espécies identificadas naquela determinada comunidade.
Esse é um trabalho árduo, feito por taxonomistas, que visa nomear as espécies segundo a
classificação binomial lineana.

Algumas espécies são bem conhecidas até pela população mais leiga e sua presença
na lista de espécies pode dizer muito sobre o ambiente em questão. Por exemplo,
se na lista houver o nome científico do Lobo-guará, Chrysocyon brachyurus,
podemos deduzir que se trata de uma comunidade localizada no bioma Cerrado,
assim como deveria se tratar da Floresta Amazônica caso houvesse na lista o
nome da ave Uirapuru, Cyphorhinus arada. Essas espécies são conhecidas como
endêmicas, ou seja, apresentam distribuição restrita a um bioma ou habitat.

A partir daqui, para entendermos a estrutura das comunidades precisaremos de uma


calculadora. Mas existem muitos programas de computador que realizam os cálculos para
nós, tais como o R, PAST, DivEs, EstimateS, Biodiversity Pro, entre outros, muitos deles
gratuitos. Vale a pena conferir!
Por meio da identificação taxonômica, obtemos outro parâmetro que ajuda os ecólogos
a descreverem as comunidades que é a riqueza de espécies (S). Trata-se de uma variável
quantitativa que nada mais é do que o número de espécies identificadas em uma comunidade.
São vários os fatores que influenciam a riqueza de espécies de uma comunidade, mas
podemos atribuir grande responsabilidade à estabilidade do clima regional. Biomas terrestres
localizados mais próximos à linha do equador, tais como as florestas tropicais úmidas, têm
menor variação climática, comparados aos biomas subtropicais e polares (Figura 3).
As mudanças extremas e frequentes do clima nas regiões mais próximas dos polos limitam
a vida e a biodiversidade. Adaptações variadas e sinérgicas, tais como pele com acúmulo
de gordura e cobertura de pelos lanosos, além da hibernação e migração, são comuns em
mamíferos que conseguem sobreviver em biomas de baixa latitude como as geleiras e as
tundras, por exemplo. Por outro lado, os ambientes de climas estáveis e úmidos são atrativos
à vida e promovem grande biodiversidade.
Entretanto, esse acúmulo de espécies resulta em uma intricada rede trófica em que a
competição e a predação emergem como fatores limitantes à biodiversidade, muito importantes
nos trópicos.

61
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Figura 3. Variação da temperatura do ar segundo o gradiente latitudinal do planeta.

Riclkefs (1996)

Outro parâmetro quantitativo que descreve as comunidades é a abundância relativa


das espécies (Pi, Equação 1), ou seja, a contribuição de cada espécie em relação ao número
total de indivíduos de todas as espécies presentes na comunidade. Dessa forma, as espécies
poderão ser classificadas, grosso modo, como raras, comuns ou dominantes.

Equação 1

ni
Pi=
N
onde:

ni = é abundância da i’ésima espécie ;

N = é o número total de indivíduos de todas as espécies da


comunidade.

A quantidade de espécies raras, comuns e abundantes determina outro parâmetro descritor


de comunidades, denominado equidade (J).
Esse parâmetro varia de quase zero até um (1), sendo que baixos valores de J indicam
uma comunidade composta por poucas espécies muito abundantes (dominantes) e as espécies
restantes (comuns e raras) apresentam poucos indivíduos.
Por outro lado, altos valores de J indicam uma comunidade composta por espécies com
abundâncias semelhantes, sendo, dessa forma, todas dominantes. Segundo a fórmula de J
(Equação 2), veremos que esse parâmetro se relaciona positivamente com outro descritor de
comunidade conhecido como índice de Shannon (H’).

62
Equação 2

H'
J=
H'máximo

onde:

H’máximo = ln S, ou seja, é o logarítmo natural da riqueza de espécies.

O índice de Shannon leva em consideração tanto a riqueza de espécies como a abundância


relativa de cada espécie para calcular a diversidade que uma comunidade apresenta, sendo que
esse parâmetro é calculado segundo a Equação 3.

Equação 3

H'= -Σ Pi In Pi
onde:
∑ representa o somatório.

E, finalmente, mas não o último dos descritores de comunidades conhecidos, o índice de


Simpson (D) mede a dominância de uma comunidade, ou seja, aproximadamente quantas
espécies são consideradas dominantes dentro de uma comunidade. Esse índice é calculado por
meio da Equação 4.

Equação 4

1
D=
Σ (Pi)2

Esses parâmetros matemáticos vistos até agora são úteis aos ecólogos, pois são fáceis de
calcular e permitem apresentar, de forma resumida, características importantes à avaliação da
estrutura das comunidades.
Dessa maneira, utilizando tais parâmetros, podemos facilmente comparar duas ou mais
comunidades que estejam sob suspeita de influência de um efeito qualquer. Por exemplo,
podemos testar o efeito da urbanização sobre a estrutura de comunidades de formigas.
De modo geral, a diversidade (H’) das comunidades apresenta relação positiva com a
equidade (J) e a dominância (D). Em outras palavras, comunidades com altos valores de J
e D terão H’ também alto. Para exemplificar essas relações, tomemos como base quatro
comunidades hipotéticas representadas na Tabela 1.

63
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Embora essas comunidades apresentem as mesmas espécies (A, B, C, D, E) e, portanto,
as mesmas riquezas, ou seja, cinco espécies, os índices de diversidades (H’) podem ser muito
diferentes entre si, variando basicamente em função da distribuição das abundâncias relativas
(Pi) das espécies, ou seja, da equidade (J).
Podemos observar que à medida que a equidade (J) aumenta da Comunidade 1 para a
Comunidade 4, os valores dos índices D e H’ também aumentam, enquanto as riquezas de
espécies (S) permanecem constantes.

Tabela 1. Comparação da estrutura de quatro comunidades hipotéticas. Os valores sublinhados de Pi indicam as espécies dominantes.
S = riqueza de espécies. J = equidade. D = dominância. H’ = diversidade.
Comunidades Abundância Relativa (Pi) das Espécies Descritores de Comunidades
A B C D E S J D H’
1 0,64 0,20 0,10 0,05 0,01 5 0,64 1,57 1,03
2 0,45 0,40 0,05 0,05 0,05 5 0,73 2,27 1,17
3 0,35 0,20 0,20 0,20 0,05 5 0,92 4,11 1,48
4 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 5 1,00 5,00 1,61

Nós vimos antes que a riqueza de espécies depende da latitude, ou seja, da posição geográfica
em que a comunidade está localizada em relação à linha do Equador.
Entretanto, as observações dos naturalistas norte-americanos MacArthur e Wilson (1967)
(Figura 4) trouxeram ao mundo da ciência uma nova abordagem sobre a estrutura das
comunidades que seria utilizada para fins conservacionistas até a atualidade.

Figura 4. Naturalistas norte-americanos responsáveis pela teoria da biogeografia de ilhas.


Jim Harrison/Wikimedia Commons
Wikimedia Commons

Robert Helmer MacArthur Edward Osborne Wilson

Eles notaram três fatos importantes que sustentariam o que chamaram de teoria da
biogeografia de ilhas:

1) As comunidades insulares são mais 2) A riqueza de espécies aumenta com o 3) A riqueza de espécies diminui com o
pobres em espécies do que as comunidades tamanho da ilha; aumento do isolamento da ilha (Figura 5).
continentais equivalentes;

Essas riquezas são relativamente constantes, mas determinadas por um equilíbrio dinâmico
entre extinção e colonização das espécies.

64
Figura 5. Esquema da teoria de biogeografia de ilhas de MacArthur e Wilson. Sc e S acompanhados de
comparações par a par, que representam as riquezas de espécies no continente e nas ilhas, respectivamente.
S1 > S3

S3 S1

S3 > S4 S1 > S2 Sc

S4 S2

S2 > S4

Dessa forma, entre duas ilhas de tamanhos diferentes, mas situadas à mesma distância
do continente (S1 e S2, S3 e S4), a teoria prevê maior riqueza de espécies na ilha maior (S1
e S3). Isso ocorre porque ilhas menores abrigam populações de pequeno tamanho que têm
maior probabilidade de extinção. Por outro lado, entre duas ilhas de mesmo tamanho, mas
situadas em diferentes distâncias do continente (S1 e S3, S2 e S4) a teoria prevê maior riqueza
de espécies na ilha mais próxima do continente (S1 e S2). Isso ocorre porque a proximidade do
continente aumenta a probabilidade de colonização.
Dois anos após a publicação da teoria da biogeografia de ilhas, Levins (1969) descreveu um
modelo matemático para explicar a dinâmica populacional de insetos-praga em sistemas de
cultivos, que ele chamou de metapopulação.
Esse modelo tem parâmetros e premissas muito semelhantes à teoria da biogeografia
de ilhas e tem sido amplamente utilizado na biologia da conservação frente às ameaças da
fragmentação dos biomas devido à expansão do agronegócio (MARINI-FILHO; MARTINS,
2000). Mas trataremos desse assunto mais profundamente nas Unidades seguintes.

No Brasil, o Cerrado, localizado na região central do país, é o


bioma que mais apresenta áreas de transição com os outros biomas
(Figura 6). Este fato justifica os altos índices de diversidade para
esta região do Brasil, vez que está sujeito à colonização de espécies
Você sabia? oriundas dos demais biomas brasileiros, com exceção apenas dos
Pampas.

65
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Figura 6. Distribuição geográfica dos biomas brasileiros.

greenstyle.com.br

Sucessão Ecológica

A sucessão ecológica pode ser definida como um processo de substituição lenta e gradual
de uma comunidade por outra até atingir um estágio final de “amadurecimento” conhecido
como clímax (Figura 7).
Quando o local a ser inicialmente colonizado não foi previamente ocupado por organismos,
por exemplo, um solo recém-coberto por um derrame de lava vulcânica, a sucessão é
classificada como primária. Mas, se o local era habitado por uma comunidade, por exemplo,
uma clareira na Floresta Amazônica aberta pela queda de algumas árvores, a sucessão é
considerada secundária e a diferença básica entre os dois tipos é a presença de matéria
orgânica.

Figura 7. Esquema representativo de sucessão ecológica.

Alterações nas condições


ambientais
Estabilização da
Substrato Organismos Novos organismos
comunidade e das
aberto se estabelecem se estabelecem
condições do meio
Pioneira Sere(s) Clímax

Variabilidade das condições ambientais

Complexidade estrutural e funcional do ecossistema

Adaptado de USP (2015)

66
Para qualquer um dos tipos de sucessão, os estágios iniciais são caracterizados por grande
oscilação meso e microclimáticas. Dessa forma, as espécies características dessa fase,
conhecidas como pioneiras, devem estar adaptadas às grandes oscilações de temperatura
e umidade, além da baixa taxa de produção e reciclagem de matéria orgânica, típicos de
ambientes abertos.
As espécies vegetais predominantes são pouco exigentes em relação à qualidade ambiental,
têm ciclo anual e pequeno porte. A ocupação dos substratos e a produção de biomassa pelas
espécies pioneiras promovem mudanças necessárias ao estabelecimento de novas espécies
cada vez mais exigentes. Essas fases intermediárias da sucessão ecológica são conhecidas
como seres e precedem a fase final ou clímax.
A fase de clímax, como o próprio nome sugere, é caracterizada pela estabilidade das variáveis
meso e microclimáticas, resultante do aumento da complexidade estrutural da comunidade
(riqueza de espécies, estratificação vertical da vegetação, acúmulo de serapilheira), que confere
proteção do solo contra a perda de água e nutrientes e serve de barreira à ação dos ventos e
da luz solar.
As espécies vegetais presentes nessa fase são exigentes, têm grande porte e ciclo de vida
perene. As características gerais das fases da sucessão ecológica podem ser conferidas no
Quadro 1.

Quadro 1. Principais caraterísticas da sucessão ecológica segundo as fases intermediárias e clímax.


ATRIBUTOS Fases intermediárias Clímax
CONDIÇÕES AMBIENTAIS variáveis e imprevisíveis constantes ou previsíveis
POPULAÇÕES
Mecanismos de determinação de tamanho populacional abióticos, independentes de bióticos, dependentes de
densidade densidade
Tamanho do indivíduo pequeno grande
Ciclo de vida curto/simples longo/complexo
Crescimento rápido, alta mortalidade lento, maior capacidade de
sobrevivência competitiva
Produção quantidade qualidade
Flutuações + pronunciadas - pronunciadas
COMUNIDADE
Estratificação (heterogeneidade espacial) pouca muita
Riqueza de espécies baixa alta
Diversidade de espécies baixa alta
Matéria orgânica total pouca muita
Cadeia alimentar linear (simples) em rede (complexa)
NUTRIENTES
Ciclo de minerais aberto fechado
Nutrientes inorgânicos extrabióticos intrabióticos
Troca de nutrientes entre organismos e ambiente rápida lenta
Papel dos detritos na regeneração de nutrientes não importante importante
Fonte: Modificado de USP (2015).

67
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Assim como os organismos e as populações, as comunidades surgem e desaparecem
devido a eventos naturais ou antrópicos. O surgimento de uma comunidade e suas fases de
desenvolvimento são estudados para fins conservacionistas. Os botânicos Frederic Edward
Clements (*1874 - †1945) e Henry Allan Gleason (*1882 - †1975) muito contribuíram para
o que hoje conhecemos sobre esse importante assunto dentro da Ecologia (Figura 8).
Na visão holística de Clements, devido à estreita relação de dependência entre as espécies,
um processo de sucessão resultaria em uma comunidade previsível (sucessão monoclímax).
Já no entendimento de Gleason, o tipo de comunidade resultante da sucessão ecológica
dependerá de processos aleatórios de colonização (sucessão policlímax), vez que ele considerava
as comunidades como associações casuais de espécies.

Figura 8. Botânicos que prestaram grande conhecimento às comunidades vegetais.


Wikimedia Commons

people.wku.edu

Henry Allan Gleason Frederic Edward Clements

68
Resistência e Resiliência

As comunidades são sistemas biológicos com características individualizadas, umas diferindo


das outras em seus parâmetros básicos, tais como a composição, a riqueza e a abundância
das espécies. Essas características biológicas, associadas às qualidades abióticas do meio, tais
como solo, hidrografia, relevo e clima, podem resultar em variados graus de resistência e
resiliência das comunidades.
O interesse pela resistência e resiliência dos corpos surgiu na área da Física, tendo
o cientista inglês Thomas Young como um de seus precursores no início do século XIX.
Em Ecologia, a resistência representa o quanto uma comunidade neutraliza ou suporta
determinado efeito externo sem alterar suas características fundamentais. Tomemos como
exemplo uma comunidade localizada na Floresta Amazônica. Esse bioma pertence à categoria
das florestas pluviais tropicais, cujas caraterísticas principais são o alto índice de pluviosidade
anual e Sol o ano inteiro (Figura 9).
Além disso, o solo fica inundado durante grande parte do ano. Agora pensemos em uma
comunidade dentro do bioma Cerrado, cujo clima é sazonal com uma estação seca bem definida
(Figura 9) e o solo bem desenvolvido e com boa capacidade de drenagem. Se considerarmos
o fogo como um fator externo, é intuitivo imaginarmos que a comunidade mais resistente ao
início e propagação de um incêndio será aquela da Floresta Amazônica.

Figura 9. Biomas da Terra segundo a temperatura e precipitação.

Ricklefs (2003)

A resiliência ecológica é considerada a capacidade de uma comunidade de retornar às


suas características originais após sofrer influência de algum fator externo. Voltemos às duas
comunidades consideradas há pouco. Historicamente, por meio de registros fósseis, sabemos
que o evento fogo foi mais frequente no bioma Cerrado do que na Floresta Amazônica.

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Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Esse fenômeno impôs limitações às espécies vegetais do Cerrado e muitas delas desenvolveram
adaptações, tais como troncos revestidos por grossa camada de suberina (cortiça) e caule
subterrâneo (xilopódio) (Figura 10).

Figura 10A. Tronco de Cagaita coberto Figura 10B Representação de um


com cortiça. caule subterrâneo.

paisagismodigital.com

iStock/Getty Images

Dessa forma, a evolução das espécies de plantas do Cerrado em relação ao fogo permitiu
que a comunidade se reestabelecesse após os incêndios, assim que as primeiras chuvas
começassem a cair. Mas, as espécies da Floresta Amazônica não teriam tal sorte se esse
fenômeno se tornasse comum. Uma seca prolongada nessa floresta traria consequências
desastrosas para o Brasil e o clima do Planeta devido à sua tamanha imensidão territorial de
importância ecológica.

Há um vídeo sobre a importância do bioma Cerrado e sua relação


com a disponibilidade de água para grande parte das bacias
hidrográficas do Brasil. Assista ao vídeo a seguir e aprenda mais
sobre este bioma com incrível capacidade de resiliência:
Assista ao vídeo: https://youtu.be/LxDiIGFRuwc

70
Material Complementar

Livros:
RICKLEFS, R. E. 2010. A Economia da Natureza. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. 2007. Ecologia de Indivíduos a Ecossistemas. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005

Leituras:
Ecologia de Populações e Comunidades
https://goo.gl/QdjbNW;

Vídeos:
Sucessão Ecológica – Ecologia – Professor Paulo Jubilut:
https://www.youtube.com/watch?v=RPvTbMyfpok
Biogeografia de Ilhas:
https://www.youtube.com/watch?v=4zbzeqJHDcs

Amplie seus horizontes. O conhecimento é o caminho mais curto!


“Seja crítico, informe-se e questione porque lhe obrigam a aceitar calado.”
Bons Estudos!

71
Energia e Ciclos Biogeoquímicos nos Ambientes
UNIDADE
4
Referências

BRASIL. IBGE. Mapa de Biomas e de Vegetação. Disponível em: <http://www.ibge.gov.


br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em: 11 abr. 2015.

MACARTHUR, R. H.; WILSON, E. O. The theory of island biogeography. Princeton:


Princeton Univ. Press Ed., 1967.

MARINI-FILHO, O. J.; MARTINS, R. P. Teoria da metapopulação: novos princípios da biologia


da conservação. Ciência Hoje, 27(160): 22-29, 2000.

LEVINS, R. Some demographic and genetic consequences of environmental heterogeneity


for biological control. Bulletin of the Entomological Society of America, 15: 237-240,
1969.

RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.


A., 1996.

______. A economia da natureza. 53.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 2003.

RODRIGUES, R. Ecossistemas. Aula 10. Publicado em 05/05/2014. Disponível em:


<http://pt.slideshare.net/rigorodrigues7/aula10-34279984>. Acesso em: 8 abr. 2015.

UNIVERSIDADE de Michigan. Millennium Project. Disponível em: <http://um2017.org/


faculty-history/faculty/henry-gleason>. Acesso em: 11 abr. 2015.

USP. Universidade de São Paulo. Instituto Biociências. Sucessão ecológica. Disponível em:
<http://www.ib.usp.br/ecologia/sucessao_ecologica_print.htm>. Acesso em: 12 abr. 2015.

WIKIPEDIA. The free encyclopedia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Main_


Page>. Acesso em: 9 abr. 2015.

WIKIPEDIA & PEOPLE. BIOGRAFI TOKOH EKOLOGI TUMBUHAN. Disponível em:


<http://biografiektum.blogspot.com.br/2011/12/frederic-edward-clements.html>. Acesso
em: 11 abr. 2015.

72
5
Valores da Vida Natural e os
Impactos da Humanidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Prof ª. Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Prof.a Me. Selma Aparecida Cesarin
Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Contextualização
Diversos são os valores atribuídos à biodiversidade no contexto atual da Humanidade.
Desempenham importante papel no comércio internacional, nacional e inclusive local. Mas
não é apenas econômico o valor que a biodiversidade possui. Diversos serviços ecossistêmicos
são desempenhados gratuitamente a todo instante, sem que sequer precisemos desembolsar
dinheiro para custeá-los. Mas o fato de não pagarmos por este serviço, não quer dizer que
ele não possua um valor. Se fôssemos calcular todos os benefícios que a biodiversidade nos
proporciona, nossa dívida para com o Planeta estaria ainda mais elevada.
Com isso, o presente conteúdo irá abordar a quê de fato atribuímos valor e o que deixamos
de valorizar no que se refere à biodiversidade.
Você já imaginou que o conhecimento sobre estes valores poderá nos fazer repensarmos
muitas de nossas atitudes? Pois bem, informações a este respeito serão providenciais para a sua
vida pessoal e para a sua profissão.
Além do conteúdo teórico, vídeos e matérias escritas irão permitir que se familiarize com os
valores da vida natural e os impactos causados pela Humanidade:
» Meio Ambiente por Inteiro - Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU;
» O que são serviços ambientais: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais;
» Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670.

74
Valores Econômicos Diretos e Indiretos da Biodiversidade

Você certamente já está bastante familiarizado com a expressão recurso natural. Não
só apenas pelas disciplinas relacionadas às ciências ambientais, mas também pelas próprias
questões elementares da sua vida, é impossível o contato com os recursos naturais passar
despercebido. Mas o que você talvez ainda não saiba é que grande variedade destes recursos,
como o ar puro, a água limpa, o solo saudável, as espécies raras e até mesmo as paisagens são
considerados recursos de propriedade comum e pertencem a toda a sociedade.

Contudo, estes recursos são muitas vezes utilizados e danificados por pessoas, governo e
indústrias que simplesmente não pagam nada por isso ou, quando pagam, nada mais é do que
um valor mínimo, quase simbólico.

Esta falta de decoro para com nossos recursos e desrespeito para com os demais cidadãos
da Sociedade já foram colocados em evidência no passado e hoje têm sido cada vez mais
denunciado pela população.

No ano de 1968, Hardin G. publicou um artigo na revista Science, cujo título tratava este
tipo de atitude desrespeitosa para com os recursos naturais como a tragédia dos comuns.

Como os problemas ligados aos recursos naturais estão relacionados ao uso irresponsável
e à respectiva degradação destes recursos,uma vez que os custos são baixíssimos, quando as
pessoas, órgão governamentais e empresas efetivamente estiverem pagando o preço justo em
função do estrago que têm feito, certamente o ambiente deixará de ser danificado, recebendo
tratamentos mais cautelosos.

Se os reais valores fossem embutidos nos custos do impacto ambiental causado, por exemplo,
pelos produtos derivados de combustíveis fósseis, implementação e uso ineficaz de energia,
poluição e irresponsabilidade com o lixo, as taxas a serem pagas seriam extremamente mais
elevadas e as indústrias tomariam mais cuidado com o nosso mundo natural.

Desta forma, a economia ambiental surge com o objetivo de agregar valores aos componentes
da biodiversidade. Esta é uma medida tão justa quanto nos responsabilizarmos pelo próprio
lixo que geramos diariamente em nossas casas, não é mesmo?

Como primeiro passo para agregar tais valores aos recursos biológicos, um pesquisador chamado
McNeely, em 1988, desenvolveu algumas abordagens visando atribuir valores econômicos
aos recursos naturais, como a variabilidade genética, as espécies, as comunidades e, por fim,
os ecossistemas. Nesta obra, McNeely dividiu economicamente a biodiversidade em valores
econômicos diretos e indiretos. Vejamos a seguir cada um deles de forma exemplificada.

75
Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Valores Econômicos Diretos
Os valores econômicos diretos foram atribuídos àqueles recursos naturais que são retirados
da natureza e consumidos diretamente pelas pessoas. Desta forma, atribui-se a tais recursos
dois valores principais.
O valor de consumo se refere aos recursos extraídos da natureza e consumidos
internamente pela população direto das mãos de quem os retirou do ambiente e o valor
produtivo se refere aos recursos naturais transformados em mercadoria, que são vendidas
em supermercados. Veja alguns exemplos a seguir.

Valor de Consumo
Este tipo de valor pode ser atribuído aos recursos naturais como a lenha, animais oriundos
de caça, frutos e vegetais colhidos direto das matas e consumidos pelas populações locais, sem
chegar a ser vendidos em estabelecimentos comerciais.
Esse tipo de consumo acontece muito nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que ainda
possuem áreas preservadas nas quais as pessoas extraem tais recursos e os consomem sem
visar o lucro, apenas para subsistência da comunidade local. Desta forma, o PIB nacional não
os leva em consideração.
Um dado bastante interessante a respeito do valor de consumo a ser considerado em
nossos recursos naturais é que aproximadamente 80% da população mundial ainda consome
medicamentos oriundos de plantas e animais como a principal forma de tratamento médico
(FARNSWORTH, 1988). Somente na região amazônica, aproximadamente 2000 espécies de
animais e plantas subsidiam recursos para tratamentos medicinais.
Nossos recursos possuem muito valor agregado e o consumo ainda é maior do que podemos
imaginar. Então, como atribuir valor a estes recursos de modo a evitar o consumo degradante
e insustentável?
Uma forma é considerar a quantidade de pessoas que os consomem e que assim teriam de
pagar por tal produto caso as fontes se esgotassem e tivessem de começar a comprá-los em
supermercados.

Valor Produtivo
Como mencionado anteriormente, o valor produtivo é considerado o valor direto dado
àqueles recursos que foram extraídos da natureza e conduzidos a supermercados para serem
vendidos nacional e internacionalmente.
Diferente do valor de consumo, o valor produtivo é estabelecido pelo preço pago no
primeiro ponto de venda, ao invés do seu custo final no varejo. Desta forma, os padrões
econômicos aplicados a estes recursos naturais são camuflados, dando a impressão inicial
de menor importância a produtos que logo depois podem ser industrializados agregando
valores bem maiores.

76
Para exemplificar, a castanha-do-pará rende inicialmente aos catadores do Norte do
país cerca de 50 centavos por quilo. Ao ser industrializada e ir parar nas prateleiras dos
supermercados da Região Sudeste, o valor produtivo desta mesma castanha passar ser cerca
de 18 reais o quilo.
É muito importante que você tenha noção a respeito da enorme quantidade de produtos
brasileiros que são extraídos de forma ilegal da natureza e muitas vezes quase escravagista
devido à exploração de mão de obra.
Esses extrativistas retiram ilegalmente os recursos ambientais e são ainda por cima muito
mal pagos, sendo que os produtos irão posteriormente ser vendidos a preços bem mais
elevados no mercado.
Os produtos mais explorados são a madeira, proveniente de desmatamentos ilegais, sendo utilizada
para construção civil e produção de móveis, os peixes, tanto de água doce como de água salgada,
muitos animais silvestres dos quais se utilizam tanto a carne como a pele para confecção de roupas
de grife, além de diversas espécies de plantas medicinais, frutas e vegetais.

Um dos recursos naturais mais explorados ilegalmente no mundo cujo cenário


no Brasil é drasticamente impactante é a madeira e sua extração ilegal. A seguir,
um matéria publicada em O Eco, em janeiro de 2015, alerta a população para o
desmatamento ilegal que acontece diariamente há muitos anos no Brasil, abrindo
Você sabia? a público o quanto estamos atrasados e não demonstramos preocupações efetivas
para combater esta situação. Ainda na mesma reportagem, denunciam o aumento
de até 467% de áreas desmatadas: https://goo.gl/iZETYP.

A grande parte da floresta desmatada ilegalmente, além de render muito lucro para o
mercado madeireiro, no qual uma única árvore de mogno chega a ser vendida por 10 mil
reais, as áreas devastadas darão lugar para pastagens para gado de corte a ser exportado para
países europeus e norte-americanos. Ou seja, estamos perdendo um enorme bem de valor,
que são as florestas e, ainda por cima, lucrando com a criação de gado que sequer alimentará
famílias brasileiras. Um crime atrás de outro, ilustrados na Figura 1.
Figura 1. Desmatamento ilegal e queimada criminosa da Amazônia.

Fonte: iStock/Getty Images

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Valores Econômicos Indiretos
O que diferencia os valores econômicos indiretos dos diretamente relacionados aos
recursos naturais é a ausência de um produto e a presença de um serviço ecossistêmico
promovido por processos ambientais, que de alguma forma rendem benefícios econômicos
sem que haja extração ou destruição da natureza durante o uso.
Em outras palavras, se não houver mais biodiversidade, os serviços ecossistêmicos
responsáveis por controlar erosões, promover manutenção de água potável, purificar o ar e
subsidiar locais de lazer deverão ser feitos artificialmente por tecnologias que sequer existem
em longa escala. Portanto, as consequências do desmatamento e a extinção dos recursos
naturais causadas pelo nosso uso inconsequente, além de significar uma afronta contra a
existência de vida saudável, forçam a sociedade a desenvolver tecnologias extremamente caras
e inacessíveis a toda a população.
Entre os valores econômicos indiretos, existem dois diferentes tipos: valor não consumista e
valor de existência.

Valor não consumista


Entende-se por valor econômico não consumista todo um enorme conjunto de serviços ambientais
que os ecossistemas prestam gratuitamente para a vida em nosso Planeta e, consequentemente,
para a sociedade. Como um grande exemplo destes serviços nos quais facilmente se pode calcular
o valor monetário, temos os trabalhos de polinização promovidos pelos insetos por exemplo.
Existem milhares de plantações das mais diversas espécies, como o abacate, o maracujá,
o figo, entre outras, que dependem de insetos para produzirem seus frutos. Para calcular
estes valores, simplesmente fazemos as contas de quanto um destes produtores gastaria, por
exemplo, se tivesse de pagar aluguel aos apicultores para disponibilizarem suas colmeias de
abelhas que promoverão a polinização das flores de sua agricultura.
Além destes tipos de benefícios, diversos outros serviços prestados pela biodiversidade estão
muito presentes em nossas vidas, sem que sequer percebamos estes serviços, até mesmo pela
falta de interesse da mídia, dos governos e de grandes corporações que controlam nossa
Economia mundial. A seguir, você irá ver detalhadamente cada um deles.

Produtividade Ecossistêmica
Este serviço se refere à atividade natural na qual as plantas e as algas convertem a energia
luminosa proveniente do Sol em energia fixada nos tecidos vivos que os compõem. Uma
porção significativa desta energia armazenada pelos vegetais os seres humanos consomem
diretamente, utilizando-as para a alimentação, e das plantas de porte arbóreo, utilizando a
madeira como lenha a ser queimada para produzir calor.

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Você deve saber que se não fosse a atividade natural das plantas e algas que realizam
fotossíntese, a energia solar não seria convertida em tecidos vivos e, desta forma, esta energia
seria impossível para alimentar os animais e fungos decompositores. Resumidamente,
Importante! estes seres produtores de energia são quem sustentam toda a demanda energética exigida
por cada ser vivo que estrutura o funcionamento dos ecossistemas.

Proteção da Água e do Solo


São também os seres vivos, ao compor a biodiversidade presente nas matas ciliares, que
promovem a proteção de bacias hidrográficas, controlando os ecossistemas em ocasiões de
enchentes ou secas e ainda garantindo a boa qualidade da água para que esta seja consumida
pelos seres vivos.

Mas não é somente pela água que a biodiversidade é importante, também existem diversos
benefícios gratuitamente fornecidos para o solo pelas áreas preservadas ambientalmente.
Impedindo que o solo seja atingido diretamente pela queda da água da chuva, as plantas, com
suas folhagens, inclusive as folhas mortas caídas, promovem proteção contra este atrito que
compacta o solo e o torna duro demais para que ocorra o crescimento de vegetação.

Ainda, as raízes e os organismos como formigas, cupins e minhocas, que vivem


subterraneamente, promovem a aeração do solo, facilitando a entrada de água e ar. Deste
modo, com a facilidade da água de penetrar o solo, ela fica retida nele após intensos períodos de
chuva, impedindo que haja inundações catastróficas, tão comuns em grandes centros urbanos,
nos quais as áreas verdes foram desmatadas e o solo impermeabilizado pelo concreto e asfalto.
Além disso, o desmatamento provoca condições favoráveis para formação de erosões e até
mesmo grandes deslizamentos em áreas de encosta (Figura 2).

Figura 2. Fotografias de enchente (à esquerda) e deslizamento de terra (à direita), provocados pelo desmatamento e impermeabilização do solo.

Fonte: iStock/Getty Images

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
A seguir, segue link para você explorar mais sobre os assuntos não divulgados pelos
principais veículos de comunicação. O link noticia sobre acidentes provocados
pelo desmatamento e a intensa prática de agricultura criminosa no oeste da Bahia,
onde toda a área do topo da Serra Geral foi desmatada e tem desprendido enormes
quantidades de pedra e terra, que deslizam para os estados que fazem divisa, Goiás
e Tocantins, causando enorme impacto ambiental:;
» https://goo.gl/i68HcD.

Controle do Clima
A presença da biodiversidade é extremamente importante na modelagem dos climas em
nível local, regional e até mesmo global. A presença de árvores promove diversos benefícios
gratuitos apenas por estarem vivas. Os benefícios são incalculáveis como, por exemplo,
a diminuição da temperatura por meio do sombreamento realizado pela vegetação, pela
respiração foliar, as plantas e árvores liberam oxigênio, que é vital para nós, e também
vapor de água, aumentando a umidade do ar e promovendo a sensação de frescor. E, pelo
crescimento, os indivíduos vegetais, principalmente as árvores, resgatam da atmosfera o
gás carbono que contribui para o superaquecimento global e o armazenam em seus troncos
compondo sua própria estrutura. Portanto, os benefícios de áreas verdes são inúmeros e
atingem positivamente todos os seres vivos (Figura 3).

Figura 3. Mulher realizando leitura tranquila em sombra de árvores no parque do Ibirapuera.

Fonte: iStock/Getty Images

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Depuração de Dejetos
Você já imaginou que a própria diversidade biológica por si só é capaz de degradar poluentes
e reter metais pesados nocivos à saúde humana? Pois saiba que este é mais um dos muitos
benefícios desempenhados pela nossa biodiversidade.

Agentes cancerígenos, como metais pesados presentes em agrotóxicos e esgoto industrial


são imobilizados pela ação de fungos e bactérias que vivem em áreas preservadas, ambiental-
mente falando. Quando ocorre a degradação dos ecossistemas, estes organismos deixam de
agir e então, para que haja o controle deste tipo de poluição, mecanismos caríssimos são uti-
lizados para substituí-los.

O caso do rio Tietê é um exemplo infelizmente escancarado à população, e irei citá-lo para
que possamos entender como funciona este processo ecossistêmico de despoluição natural.
Atualmente, o rio Tietê é um esgoto a céu aberto na região metropolitana da maior cidade
brasileira. Este rio, que nasce na cidade de Salesópolis, a 100 quilômetros de São Paulo,
possui um total de 1150 quilômetros de extensão, cortando exatamente ao meio todo o
estado paulista (Figura 4).
Figura 4. Região poluída do rio Tietê. Somente na região da capital do estado,
em um segundo de tempo, aproximadamente
30 mil litros de esgoto e mais 7 mil litros
de resíduos diversos são despejados no que
antes era o rio Tietê. Essa enorme carga de
poluição reduz a zero a taxa de oxigênio e
com isso elimina qualquer possibilidade de
vida, até mesmo das resistentes bactérias e
fungos que promovem a depuração natural
da água. Porém, seguindo o curso do rio
Fonte: iStock/Getty Images
Tietê, distanciando aproximadamente
200 quilômetros da cidade de São Paulo,
a quantidade de oxigênio na água volta a ser razoável possibilitando a vida destes agentes
naturais que realizam a despoluição gratuita deste recurso destruído pela população humana.

Para que você tenha uma ideia do quanto se gasta para despoluir os recursos hídricos, o
governo do estado de São Paulo investiu há anos aproximadamente 900 milhões de dólares
no tratamento de esgoto. É claro que quem paga essa conta são os contribuintes, ou seja, este
gasto exorbitante é oriundo do dinheiro público.

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Recreação e Ecoturismo

Diversas são as opções de lazer quando se trata de ecossistemas naturais. E um dos lados
mais positivos desta opção de lazer é dispensar a economia opressora e exploratória, e se
dispor de uma forma de prazer não consumista. Ou seja, você já deve ter aproveitado
momentos únicos da sua vida, onde o contato com a natureza foi a sua principal fonte de
satisfação pessoal. Seja por meio de um banho de cachoeira, de rio ou de lago, ou ainda uma
ida ao litoral para curtir a praia, o mar e o luar. Dispomos destas opções, que muitas vezes são
gratuitas ou, se não, custa apenas uma contribuição para manutenção e preservação.

Fazer trilhas em áreas naturais preservadas; desfrutar de momentos de inspiração e planos


de vida ao contemplar uma bela paisagem; mergulhar, correr, escalar, nadar, compor, meditar,
pintar, escrever, filmar, ouvir e consumir ar e água livres de poluição são prazeres únicos e que
têm sido cada vez mais difícil de acessar.

Além disso, momentos na natureza, não importa qual seja a atividade, estão contempladas
pelo direito do livre arbítrio que cada um de nós possui. Porém, a degradação destes ambientes
naturais ocorre devido à falta de interesse não só do governo, mas também de grande parte da
sociedade que mantém ideologias consumistas e não reconhecem os ecossistemas como vital
não só para sobrevivência, mas, como também, para a saúde do corpo e da mente.

Assim, cabe iniciarmos um processo educacional, uma desconstrução de valores consumistas


e uma construção individual de pensamento em longo prazo, tornando possível a existência
de sociedades humanas saudáveis na Terra por meio de uma relação sustentável sem destruir
os ecossistemas.

Além destes poucos exemplos de valores ecossistêmicos apresentados aqui, tantos outros
ainda serão percebidos pela Humanidade. Cabe a nós reconhecermos em nosso dia a dia o
quanto a ciência e a educação estão repletas de livros, documentários, programas de televisão
e filmes com fins educacionais se amparando nos recursos e processos dos ecossistemas.
Além disto, inúmeras publicações em revistas científicas têm apresentado riquíssimo
conhecimento sobre o complexo funcionamento dos ecossistemas. Tais informações são
oriundas de criteriosas pesquisas realizadas diariamente por profissionais do mundo todo.
Um exemplo bastante prático é podermos avaliar a qualidade ambiental utilizando como
controle de qualidade a presença ou ausência de espécies que são comprovadamente
consideradas bioindicadoras ambientais.

82
Valor de Existência

O valor de existência é um valor natural advindo do direito de cada ser vivo em viver. Em
outras palavras, toda espécie tem direito de existir, simplesmente por que existem. As vidas
representam mais que uma possibilidade de a Humanidade obter recursos naturais delas. Elas
estão presentes em nosso Planeta há milhares de anos e desempenham função ecossistêmica,
realizando processos naturais ecológicos pelos quais estruturam todo o funcionamento e
permanência da vida na Terra.
Todas as espécies têm direito de existir, mas, infelizmente, nem todas possuem capacidade
de reivindicar sua própria existência em decorrência da super exploração da vida, realizada em
detrimento de avanço econômico muito insustentável. Contudo, podemos ainda utilizar como
exemplo os países desenvolvidos, que gastam milhões ou até mesmo bilhões de dólares por
ano em projetos de conservação de espécies, consequentemente, preservando os processos
ecossistêmicos por elas desempenhados garantem à Humanidade a possibilidade de continuar
dispondo daqueles recursos naturais oriundos destes ecossistemas preservados.
Cabem, portanto, investirmos na manutenção da integridade de área naturais, evitando
assim que espécies sejam extintas e ecossistemas sejam degradados. Caso contrário, teremos,
num futuro próximo, de correr atrás para tentar recuperar todos os prejuízos, sendo que não
será possível recuperar o ecossistema tornando-o idêntico ao que era originalmente antes de
ser degradado.

Pegada Ecológica

Em 1990, os cientistas canadenses Mathis Wackernagel e William Rees criaram o termo


pegada ecológica. Atualmente, este termo é reconhecido no mundo todo e inclusive está
sendo utilizado como método para se calcular o quanto a Humanidade consome dos recursos
naturais do planeta Terra.
O contexto atual sociopolítico de exploração do nosso ecossistema apresenta enorme
desgaste ambiental e ecológico. A permanência desta exacerbada exploração representa um
colapso em escala global em um futuro próximo.
Com a população crescendo exorbitantemente, os recursos tendem a ficar cada vez mais
escassos. Além disso, vivemos em um regime capitalista no qual as pessoas recebem milhares
de propagandas por dia e são induzidas a adotarem uma visão de mundo consumista. Desta
forma, a vida de cada pessoa passa a se resumir em doar as horas do seu dia trabalhando como
empregado do sistema de consumo para, no final das contas, conquistar aumento em seu
poder de compra, alimentando ainda mais o consumo de bens materiais e, consequentemente,
dos recursos naturais.

83
Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
O objetivo de vida de cada cidadão, então, passa a se basear no acúmulo de bens materiais
causando um fenômeno de competitividade social entre os indivíduos.

O ritmo de vida acelera e se torna cada vez mais dedicado em função do trabalho. Com isso,
as pessoas dormem menos e possuem menos tempo para cuidar da alimentação. Alimentos
industrializados ganham cada vez mais espaço na dieta da população e o tempo para cuidar
da saúde se restringe a remediar ao invés de prevenir.

Todo este contexto vem causando estresses desnecessários que prejudicam a própria saúde
da população. Muitas vezes o conjunto de todos estes fatores inerentes ao cotidiano de uma
pessoa diminui a sua autoestima e causa sentimento de incompetência perante o mercado de
trabalho, podendo desencadear até mesmo quadros de depressão.

Preocupada com a saúde humana e ambiental, a Pegada Ecológica (Figura 5) visa a


reduzir o impacto humano na Terra e se relaciona intimamente ao modelo de desenvolvimento
que leva a Humanidade ao resgate do pensar coletivo.

Este pensamento sugere um estilo de vida mais duradouro, que leve à união das pessoas e
não estimule a disputa, mas sim, estimule o cooperativismo no uso racional e socialmente justo
dos recursos naturais disponíveis em nosso Planeta.

Figura 5. Representação da pegada ecológica, simbolizada pela marca de uma pisada humana impactando o planeta Terra.

Fonte: iStock/Getty Images

Deste modo, a pegada ecológica calcula o impacto de todas as atividades que realizamos,
como indivíduo e em termos de sociedade. Inúmeras são as atividades calculadas, como por
exemplo, o valor de áreas que ocupamos ao construirmos prédios, casas, indústrias, rodovias,
usinas, shoppings, lavouras agrícolas, entre outros.

84
É importante que você saiba, também, que o cálculo da pegada inclui o desgaste e a poluição
da água, do solo, do ar, bem como também de todos os demais componentes bióticos e
abióticos presentes nos ecossistemas da Terra.

Os dados obtidos ao se calcular a pegada ecológica nos dão informações sobre o estilo
de vida e os hábitos de consumo utilizados por um indivíduo ou pela população de
uma cidade ou país. Com estas informações, é possível comparar a utilização dos
recursos naturais com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. Infelizmente,
Você sabia? os dados recentes têm apontado que estamos consumindo em média 50% a mais
do que a capacidade que o planeta possui de reposição. Conclui-se, então, que para
mantermos nossos padrões de vida atual precisamos de um Planeta e meio.

Como minimizar a pegada?


Sabemos que precisamos repensar e readequar nossos hábitos, tanto individual como
socialmente. No entanto, apesar das dificuldades, isso é possível de se realizar. Necessitamos
que cada indivíduo pense no contexto global e não se coloque como sendo o centro do Universo.
Precisamos agir e pensar coletivamente e, além disso, principalmente, exigir readequação de
postura política dos nossos governantes e das empresas privadas.
Para que você possa compreender algumas importantes medidas a serem tomadas, seguem
algumas sugestões que levam a minimizar o nosso impacto no Planeta, ou seja, a nossa
pegada ecológica.

Hábitos Consumistas
Uma medida de melhora bastante eficiente é evitar hábitos consumistas. As mercadorias
surgem no mercado com a intenção de desgastarem rapidamente ou serem ultrapassadas
tecnologicamente, justamente para que se mantenha a venda. Esta estratégia dos empresários
é denominada obsolescência programada.
Deste modo, diversos modelos de equipamentos eletrônicos como, por exemplo, os celulares
e laptops são lançados no mercado com muita frequência. Esses produtos tecnológicos
demandam enormes quantidades de recursos naturais que não são renováveis, gastam muita
energia para sua produção e liberam rejeitos tóxicos, como os cancerígenos metais pesados.
Uma alternativa de redução seria avaliar seus objetivos de compra e adquirir tais produtos
somente em caso de real necessidade.

Uma música que trata sobre o assunto da obsolescência programada foi composta
pelo artista Humberto Gessinger, do grupo musical Engenheiros do Hawaii. Ouça a
música e acompanhe a letra no link a seguir:
» https://youtu.be/LeE3NtDUnN4

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Reduzir. Reutilizar. Reciclar.
Para reverter a situação de superexploração do Planeta, diminuir a quantidade de lixo se
torna uma atitude extremamente fundamental. E, além de diminuir o consumo, cooperar
com a reciclagem separando o lixo orgânico do lixo seco é uma iniciativa que incentiva tanto
os catadores como facilita o processo de dar uma nova utilidade aos objetos ao invés de
simplesmente enterrá-los ou lançá-los aos terrenos baldios, em áreas verdes, rios e oceanos.
Adote uma postura de vida sustentável, organizando-se junto aos moradores ao seu redor,
exigindo da prefeitura a coleta seletiva e o incentivo para instalações de usinas de reciclagem,
como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (ver link: http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-
de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos).

Antes de descartar um plástico, uma embalagem, ou qualquer outro objeto que você tenha
comprado, admita sua responsabilidade sobre o seu lixo nesse processo, reduzindo o consumo,
reutilizando o que for possível e destine à reciclagem, ao invés de mandar para lixões ou
aterros sanitários. Assim, você estará diminuindo sua conivência com o mal do lixo no Planeta.

ENERGIA LIMPA
Você precisa ter em mente que no mundo todo vivenciamos a realidade energética do
petróleo. O interesse de poucos grupos empresariais se sobressai imperativamente sobre as
novas alternativas energéticas sustentáveis e economicamente viáveis para toda a população
mundial que soma hoje mais de sete bilhões de pessoas.
Precisamos exigir de nossos governantes a elaboração e consolidação de matrizes
energéticas limpas e renováveis, sem agredir o nosso meio ambiente. Estas alternativas
energéticas já existem como, por exemplo, a energia eólica (energia dos ventos), a energia
eletrovoltaica (energia solar), a energia biodigestora (oriunda da decomposição de dejetos de
animais domésticos, restos agrícolas, esgoto doméstico) e a maré-motriz (força motriz presente
no movimento das marés).

O petróleo, além de provocar guerras entre países pelo mundo, já poluiu


acidentalmente bilhões e bilhões de litros de água potável. Recentemente, um caso
pouco divulgado aconteceu na capital do estado de Goiás, na cidade de Goiânia,
onde um vazamento contaminou o principal rio que corta o município. Veja matéria
no link a seguir
» https://goo.gl/4Juc54

Calculadora Pegada Ecológica


Calcule a sua pegada ecológica no link a seguir e descubra o tamanho do impacto
que você causa no Planeta em decorrência do estilo de vida que leva:
» https://goo.gl/F9XktA.

86
Pegada Hídrica

Como você pode perceber, no nosso dia a dia, utilizamos elevado volume de água. Seja
para nossa hidratação vital, como também para tomar banho, despejar urina, fezes e demais
excreções fisiológicas. Além disso, por meio das atividades domésticas de cozinhar e lavar,
consumimos diariamente um excessivo volume de água.
A Tabela a seguir é bastante interessante para que você se informe melhor sobre a utilização
de água intrínseca à produção de produtos diariamente consumidos pela população (Tabela 1).

Tabela 1. Volume de água, em litros, necessários para a produção de itens consumidos diariamente pela população.

Quantidade de água necessária para a produção (litros)


1 quilo batatas fritas 1000
1 quilo de macarrão 1800
1 quilo de leite em pó 4750
1 quilo de açúcar 1800
1 barra de chocolate (100g) 1700
1 quilo de carne de galinha 4300
1 quilo de carne bovina 15.400
1 quilo de carne de porco 6.000
1 litro de etanol (combustível) 2100
1 camisa de algodão 2500
1 calça jeans 8000
1 quilo de couro bovino 17000

Mas não é somente o consumo individual de água que tem afetado a disponibilidade deste
recurso. A produção de alimentos, de celulose para fazer papel, de algodão para confecção
de roupas, entre outros demais processos industriais, pecuários e agrícolas são os que mais
consomem água em nosso Planeta.
Portanto, obrigatoriamente, a pegada hídrica serve como indicador do consumo da
água que considera a utilização direta e a indireta, ou seja, tanto os consumidores quanto os
produtores. (Figura 6).

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
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Figura 6. Foto aérea mostrando o elevado uso de água para irrigação de grandes lavouras de monocultura.

Fonte: iStock/Getty Images

Para que você internalize o conceito e a relevância imprescindível deste assunto para a
Humanidade, define-se pegada hídrica como sendo o volume total de água doce que foi
utilizada na produção de bens materiais e nos demais serviços consumidos pelo indivíduo ou
pela comunidade, além do gasto total utilizado na produção das indústrias e no quanto de água
elas poluem liberando seus rejeitos nos rios e córregos próximos a elas.
O conceito da pegada hídrica foi proposto pelo professor Arjen Y. Hoeskstra. Este
homem percebeu os impactos humanos sobre os sistemas de água doce do nosso Planeta,
que tem levado à escassez e à poluição destes recursos. Ele aponta que os problemas da água
estão intimamente relacionados às cadeias de produção e à estrutura da Economia global.
Diversos países que já extrapolaram significativamente suas pegadas hídricas aqui na Terra,
agora importam, inclusive ilegalmente, quantidades imensas de água doce de outros países.
Este fato pressiona os países exportadores (muitas vezes doadores ilegais), subvertendo os
mecanismos racionais de governar e conservar os recursos hídricos.
A Amazônia, bioma abundante em água, tem sofrido com o tráfico de água doce. Lá, vários
navios petroleiros reabastecem seus reservatórios no Rio Amazonas antes de deixarem as águas
nacionais. Este caso de hidropirataria, inclusive, tem tido avanços tecnológicos nos quais se utilizam
enormes bolsões com capacidade bem superior a dos navios superpetroleiros ( Figura 7).

Figura 7. Navio transatlântico puxando imenso bolsão de água doce.

Fonte: iStock/Getty Images

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Para concluir, é importante que você saiba que cabe não somente aos nossos governos, mas
também aos consumidores, as empresas e as comunidades da sociedade civil, desempenharem
atitudes visando melhorar a gestão dos recursos hídricos.

Calculadora Pegada Hídrica


Calcule a sua pegada hídrica no link a seguir e descubra o volume de água que você
consome em decorrência do estilo de vida que leva:
» https://goo.gl/vuCvsD

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Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade
UNIDADE
5
Material Complementar
Vídeos:
Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670;
Meio Ambiente por Inteiro – Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU.

Livros:
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001.
ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. Serviços ecossistêmicos e sua importância para o sistema
econômico e o bem-estar humano. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 155, fev. 2009.

Sites:

http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


“Não se acomodar com o que incomoda.”
O teatro mágico.

90
Referências

FARNSWORTH, N. R. Screening plants for new medicines. In: E. O. Wilson; PETER, F. M.


(eds.). Biodiversity. National Academic Press, Washington, USA, 1988.

HARDIN, G. The tragedy of the commons. Science 162: 1243-1248, 1968.

HOEKSTRA, A. Y., CHAPAGAIN, A. K., ALDAYA, M. M.; MEKONNEN, M. M. Manual de


Avaliação da Pegada Hídrica Globalização da Água. Londres: Earthscan, 2011.

INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Cartilha Pegada Ecológica. Disponível em:
<http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20
-%20web.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2015.

JACOBI, P. R.; EMPINOTTI, V. Pegada hídrica: inovação, corresponsabilização e os


desafios de sua aplicação. São Paulo: Anna Blume, 2013.

MCNEELY, J. A. Economics and biological diversity: developing a using economic


incentives to conserve biological resources. Gland: IUCN, 1988.

PEGADA Hídrica. Water Footprint. Disponível em: <http://www.pegadahidrica.


org/?page=files/home>. Acesso em: 13 abr. 2015.

PRIMACK, R. B.; Rodrigues E. Biologia da Conservação. Londrina: Planta, 2001

REES, W. E. Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics
leaves out. Environment and Urbanization 4 (2): 121–130, 1992.

WACKERNAGEL, M.. Ecological Footprint and Appropriated Carrying Capacity: A


Tool for Planning Toward Sustainability. PhD thesis. Vancouver, Canada: School of
Community and Regional Planning. The University of British Columbia. 1994.

WACKERNAGEL, M.; REES, W. E. Our Ecological Footprint. Local: New Society


Press,1996

91
6
Ecologia, Sociedade e Conservação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero

Revisão Técnica:
Profª. Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Profª. Me. Selma Aparecida Cesarin
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Contextualização

A conservação da natureza é um assunto bastante pertinente à área de gestão ambiental. São


os gestores os grandes responsáveis por aplicarem o conhecimento ecológico na manutenção
dos serviços ecossistêmicos, que estruturam as organizações sociopolíticas globais.
Estamos preocupados com a duração da nossa existência no Planeta, assim como com a
manutenção de uma qualidade de vida saudável. Porém, os caminhos atuais nos levam para
um futuro totalmente oposto. O caos ambiental compromete não apenas a saúde humana e a
nossa existência, como também a saúde do Planeta.
Além do conteúdo teórico, dois vídeos irão permitir que se familiarize com este contexto
global atual de forma a aprofundar seu conhecimento sobre ações que convertam este futuro
sombrio em uma sociedade saudável e duradoura:
» A ilha das flores: https://youtu.be/e7sD6mdXUyg;
» A história das coisas: https://youtu.be/MWUHurprTVA.

94
Conservação de Ecossistemas
Aprendemos durante o curso que a vida no Planeta pode ser classificada em diferentes
níveis de organização biológica. Os ecossistemas são sistemas complexos que devem ser
analisados em grande escala geográfica (regional, continental e global) via transferência de
matéria e energia entre os elementos biológicos (populações e comunidades) sob as influências
dos elementos físicos (clima, relevo, solo, etc.). Portanto, conhecer e entender a estrutura e
organização dos ecossistemas é fundamental para a sua conservação, conservação do Planeta
e sobrevivência da própria Humanidade.
Antes de discutirmos as teorias da conservação, falaremos das alterações ambientais
resultantes das ações antrópicas e suas principais consequências para a biodiversidade. Assim
como para qualquer espécie, o ambiente impõe um limite ao crescimento da população,
conhecido como capacidade limite ou suporte do ambiente (k) (Figura 1).
De modo geral, o crescimento da população tem se comportado como se estivesse abaixo
desse limiar k, prevendo um longo crescimento para o futuro (Figura 2).
Atualmente, somos mais de sete bilhões de habitantes e deveremos atingir a casa dos nove
bilhões e seiscentos milhões em 2050 (ONUBR, 2013).
Figura 1. Crescimento populacional logístico dependente da densidade. Figura 2. Flutuação do tamanho da população humana ao longo do tempo.
Número de indivíduos

Curva do potencial
biótico da espécie
Capacidade

Limite do meio

Curva S

Tempo
Resistência do ambiente

Fonte: Adaptado Mundo Vestibular (2007).

A crescente demanda por alimento tem transformado os ecossistemas naturais do mundo


em sistemas de cultivos de larga escala geográfica, os latifúndios.
No Brasil, as regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste juntas já desmataram 46% da sua vegetação
nativa (BRASIL, 2007). Tomando o bioma Cerrado como exemplo, 49,11% já foram dizimados e
a maior parte da vegetação nativa restante encontra-se alterada (17,45%) ou fortemente alterada
(16,72%), e apenas 16,77% de Cerrado inalterado (MACHADO et al., 2004).
Além da redução e fragmentação dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa,
principalmente o CO2, tem provocado mudanças climáticas em todo o Planeta, com graves
consequências sobre a biodiversidade e a própria Humanidade.

95
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
O site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) aborda de forma
interativa e clara os aspectos atmosféricos relacionados à mudança climática que
estamos vivendo em nosso Planeta. Explore o site e entenda melhor a situação do
nosso clima atualmente: http://mag.ccst.inpe.br/abertura.html

E há de se falar ainda nos resíduos tóxicos, tais como os despejos propositados de muitas
indústrias e os grandes vazamentos acidentais de óleo e radiação que contaminam o ar, os
solos, as águas continentais e marinhas e dizimam populações e espécies.
Segundo Dirzo et al. (2014), a Terra passa pelo 6° período de extinção em massa de animais,
sendo que 322 espécies de vertebrados tornaram-se extintas desde 1500 e 25% das espécies
restantes encontram-se em declínio populacional. Não discutiremos aqui o polêmico assunto
do controle de natalidade, como já vem sendo adotado por algumas nações, mas falaremos das
teorias que embasam os métodos de conservação das populações, comunidades e ecossistemas.
Os estudos sobre biogeografia de Ilhas de MacArthur e Wilson (1967) representaram um
grande avanço na Biologia da Conservação, pois teorizavam sobre os processos que mantêm
a riqueza de espécies dentro das comunidades.
Levins (1969) utilizou as mesmas premissas para modelar a dinâmica metapopulacional em
ambiente continental. Esse modelo prevê um estado dinâmico de equilíbrio para as populações
que vivem em ecossistemas fragmentados, em que os processos básicos considerados são a
colonização e a extinção locais (Figura 3).

Figura 3. Esquema de uma metapopulação indicando as colonizações


por meio das setas e as extinções populacionais pelas cruzes vermelhas.

A

A

A
A


A

A letra A indica a presença da espécie de estudo naquele fragmento de ecossistema.


A dinâmica metapopulacional é determinada pelo balanço entre os “nascimentos e mortes”
das populações (Equação 1).

96
Equação 1

dp
= bp(1 − p) − ep
dt
Onde dp/dt é a variação do tamanho da metapopulação num intervalo de tempo, b é
a taxa de dispersão da espécie, e é a taxa de extinção da espécie e p é a proporção de
fragmentos ocupados pela espécie.

Esse modelo é bastante simples, pois não considera:

O efeito da distância quanto maior a distância entre os fragmentos de ecossistemas,


menor deverá ser a taxa de colonização;

O efeito do tamanho quanto menor o fragmento, menor o tamanho da população e


maior será a probabilidade de extinção;

O efeito de borda fragmentos com grande relação entre perímetro e área estão mais
susceptíveis às influências dos ambientes externos adjacentes. Esse é
um modelo bastante simples, mas à medida que as variáveis distância,
tamanho e forma dos fragmentos de ecossistemas são consideradas,
os modelos se tornam mais realistas (Figura 4).

Figura 4. Efeitos da fragmentação de ecossistemas.

Fonte: Primack; Rodrigues. Biologia da conservação.

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Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Abordagens mais amplas da conservação, envolvendo não apenas uma ou poucas espécies,
mas todo o ecossistema ou grande parte dele, exigem vontade política e conscientização dos
proprietários rurais.

O governo federal tem utilizado algumas ferramentas a favor desse objetivo, tais como a
criação de Unidades de Conservação nos diferentes biomas brasileiros e a adoção de políticas
públicas de incentivo à agricultura familiar (BRASIL, 2013).

Segundo Primack e Rodrigues:

As principais questões de manejo de ecossistemas compreendem:

1. Buscar as conexões entre todos os níveis e escalas da hierarquia do ecossistema,


Por exemplo, de um indivíduo à espécie, à comunidade, até do ecossistema;

2. Manejar na escala apropriada, não apenas em conformidade com as


fronteiras políticas artificiais e com as prioridades administrativas estabelecidas
pelos governos. O objetivo do manejo regional deve ser o de assegurar
populações viáveis de todas as espécies, exemplos representativos de todas
as comunidades biológicas e dos estágios de sucessão e das funções de um
ecossistema saudável,

3. Monitorar os componentes significativos do ecossistema (números de


espécimes de espécies significativas, cobertura vegetal, qualidade da água,
etc.), reunir os dados necessários e então usar os resultados para ajustar as
práticas de manejo de uma forma adequada,

4. Alterar as rígidas políticas e práticas dos órgãos responsáveis pelo manejo


de áreas que, muitas vezes, resultam em uma abordagem fragmentada. Ao
invés disso, a integração e a cooperação inter-órgãos nos níveis local, regional,
nacional e internacional e a cooperação entre órgãos públicos e organizações
privadas devem ser incentivadas,

5. Reconhecer que o ser humano faz parte dos ecossistemas e que os valores
humanos influenciam os objetivos relativos a manejo (PRIMACK; RODRIGUES,
2001, p.249).

Desenvolvimento Sustentável
Em decorrência da crise ambiental oriunda do modelo agrícola implantado mundialmente
após o ano de 1950, diversos pesquisadores, entidades não governamentais e governamentais,
além de grande parcela da população conscientizada e informada se mobilizaram objetivamente
para buscar novas formas de desenvolvimento dos países.

98
Esta grande parcela da população mundial está interessada em preservar os recursos
naturais e recuperar de forma gradativa e racional as áreas naturais degradadas. O foco desta
nova postura socioeconômica é tornar sustentável, mais saudável e duradoura a vida humana
em nosso Planeta.
É importante que você saiba que essa nova postura proposta está preocupada, além da
preservação dos recursos naturais, com um modelo de produção durável em longo prazo,
mantendo as características socioeconômicas populacionais. Portanto, sabendo que a
compreensão sobre a disponibilidade dos recursos naturais é dada por meio do conhecimento
sobre os processos cíclicos de energia e matéria, é imprescindível absorvermos o conhecimento
sobre ecologia dos ecossistemas, nos quais as informações sobre a produtividade ecológica
irão nortear este novo modelo de desenvolvimento (Figura 5).

Figura 5. Esquema ilustrativo da sustentabilidade integrando


simultaneamente sociedade, economia e ecologia.

Ecológico

Suportável Viável

Sustentável

Social Economia
Equitativo

Fonte: Instituto Ethos

Com a Figura 5, evidencia-se que desenvolvimento sustentável é uma relação direta entre
Sociedade, Economia e Ecologia. Mas o que você deve ter em mente é que a união destes três
setores é fundamentada nos critérios de evolução da vida humana, em que haja desenvolvimento
cultural sem que os efeitos das atividades humanas excedam os limites ecossistêmicos.
Além disso, esta interação entre o sistema financeiro, social e ecológico preza tanto pela
manutenção da biodiversidade quanto pela conservação da complexidade ecológica dos
ambientes terrestres.
Mesmo havendo, desde a década de 50, alguma clareza sobre esta relação Sociedade,
Economia e Ecologia, foi a partir de 1980 que a ideia de sustentabilidade foi divulgada
globalmente em um documento de grande alcance intitulado “World Conservation Strategy”.
Em 1987, houve ainda divulgação do Relatório Brundtland, por meio do qual todo o
mundo, inclusive o Brasil, adotou posicionamento favorável às definições de estratégias
objetivadas em promover a sustentabilidade.

99
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Estas estratégias são elaboradas para que alcancemos, como sociedade, a sustentabilidade,
confrontando diretamente com a instabilidade ecológica do mundo atual, oriunda dos modelos
governamentais ainda desatualizados perante tais questões. Deste modo, diversas organizações
independentes e não governamentais (ONGs) têm contribuído ao promover além de campanhas
de conscientização da população, a tomada de atitudes práticas visando à minimização de
impactos ambientais.

Além disso, estas ONGs e outras organizações sociais independentes de gestões


governamentais, produzem materiais teóricos que propõem em seus conteúdos a preservação
e o desenvolvimento cultural e artístico da população.

Tais atitudes tendem a reforçar a existência de uma real e orgânica integração entre cada
cidadão com a sua comunidade, bem como com o seu próprio meio ambiente ecológico.

A seguir, conheça algumas destas ONGs brasileiras que vêm desenvolvendo


e financiando pesquisas, ações de conscientização, preservação e educação
ambiental (Figura 6). Acesse o link e analise o trabalho que tem sido feito pela
sustentabilidade em nosso país por intermédio destas ONGs brasileiras:
» https://goo.gl/zjuvWu

Figura 6. Logos de algumas ONGs brasileiras que desenvolvem atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável em nosso Planeta.

100
Século XX: Integração entre Economistas, Políticos, Cientistas,
Naturalistas e Organizações Civis
Diversos foram os momentos nos quais reuniões, conferências, acordos e tratados foram
realizados na história mundial com a finalidade de discutir a sustentabilidade como um modelo
de desenvolvimento a ser adotado pelos países. Para que você tenha conhecimento, a seguir
estão os principais encontros mundiais:

» 1968 – Clube de Roma: foi caracterizado por um encontro entre políticos, economistas
e cientistas. Resultou em um livro intitulado “Limites do Crescimento” (MEADOWS
et al., 1972) que trata de assuntos relacionados aos temas de energia, poluição,
saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional;
» 1972 – Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente (Estocolmo/ONU): esta
conferência foi promovida pela Organização das Nações Unidas e aconteceu em
Estocolmo, na Suécia. Os temas discutidos foram poluição do ar e sustentabilidade;
» 1987 – Relatório Brundtland (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento/ONU): esta
comissão produziu relatório tratando de assuntos relacionados a limitar o crescimento
populacional para garantir a alimentação da população mundial em longo prazo,
preservar a biodiversidade e os ecossistemas, diminuir o consumo de energia e
promover fontes renováveis, controlar a urbanização selvagem promovendo integração
entre campo e cidades menores.

A partir de 1987, um ciclo de Conferências Mundiais sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, promovido pela ONU, começa a ocorrer com maior frequência de realizações.
Em 1988, aconteceu a edição do Canadá; 1990, na Suécia; em 1992, foi a vez de o Brasil
sediar a última conferência antes do estabelecimento do Protocolo de Quioto, no Japão, no
ano de 1997. O compromisso principal deste Protocolo de Quioto era redução da emissão de
gases de efeito estufa até o ano 2012.
Portanto, um novo encontro aconteceu em 2012, na cidade do Rio de Janeiro, conhecido
como Rio+20. Nesta edição brasileira, o foco era a renovação do compromisso com o
desenvolvimento sustentável para o século XXI, por meio do estabelecimento de uma agenda
global intitulada Agenda 21.
Nesta Agenda 21, foi definido que o papel da Ciência passa a ser o de produzir
conhecimento que fundamente a formulação das políticas de desenvolvimento sustentável.
Para isto, definiram-se medidas de ampliação da pesquisa científica nas áreas de meio ambiente
e desenvolvimento e o aumento da cooperação entre cientistas por meio da promoção de
atividades e programas interdisciplinares de pesquisa.
Vale lembrar que a conferência do Rio, em 1992, apontou claramente a grande relevância
que os ecossistemas e os ambientes possuem em relação aos anseios inteligentes de uso dos
recursos naturais. Foi após esta conferência no Rio que a percepção sobre as diversas variáveis
relacionadas à sustentabilidade obteve maior alcance de público. Após esta houve também a
Conferência do Cairo, em 1994, na qual se tratou de assuntos especialmente demográficos
no que diz respeito à disponibilidade e uso dos recursos naturais em relação ao número de
habitantes no Planeta.

101
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Para que você possa ter claro na mente, é importante saber que as discussões em torno
da sustentabilidade, por abranger diversos aspectos da sociedade, são bastante complexas e
profundas. Porém, a mensagem principal é que a nossa atual realidade social está ameaçada
pela desarmônica relação entre sociedade e natureza.
O ponto chave para mudarmos o rumo da população mundial é sempre fazermos uma
análise crítica entre a produção e o consumo. Não aceitar que sejamos manipulados pelo
sistema a nos tornar meros consumidores que abrem mão da qualidade de vida para ter o
poder de compra garantindo o lucro de poucos grandes empresários.

Ecologia Humana
Em resposta ao conflito existente entre a atitude humana e a preservação dos recursos
naturais, conceitos foram elaborados com o objetivo de incentivar as pessoas na busca pela
harmonia entre a atividade humana e a natureza. Neste contexto é que surge a Ecologia
Humana, com a função de gerir os recursos naturais, visando a manutenção dos ecossistemas
e com isso a permanência da vida humana na Terra (Figura 7).

Figura 7. O papel da Ecologia Humana simbolizado pelo


trabalho conjunto das pessoas sustentando o Planeta Terra.

Fonte: iStock/Getty Images

A ecologia humana é representada na sociedade, na prática, pela área de Gestão Ambiental.


Normalmente, esta gestão ambiental ocorre por meio de procedimentos e ações realizadas por
meio de instituições, tanto privadas quanto públicas ou ainda pelo terceiro setor organizado.
No que diz respeito às instituições públicas, a gestão ambiental realiza diversos e importantes
papéis para promover o desenvolvimento sustentável.

102
Para exemplificar as ações e medidas tomadas exclusivamente pela gestão ambiental pública,
temos: o planejamento territorial, que se preocupa com as unidades de conservação; o
zoneamento econômico ecológico, que delimita áreas geográficas de importância ambiental
e econômica; questões relacionadas à legislação ambiental, que elabora e fiscaliza leis e
normas ambientais, além de implementar políticas públicas ambientais.

No âmbito das empresas privadas, a gestão ambiental se incumbe de: elaborar e implementar
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA); adequar normas e procedimentos de certificação
empresarial, como, por exemplo, dar selos de ISO, FSC, BSA, etc.; realizar ações diretas para
a sociedade, como promover a postura de responsabilidade socioambiental por meio de ações
de educação ambiental.

Por fim, o terceiro setor abrange um leque extremamente amplo que varia desde a
execução de projetos de gestão ambiental para empresas, até a criação e gestão de unidades
de conservação.

Podemos concluir, pelas áreas de atuação, que a gestão ambiental é incumbida por gerir
o ambiente, administrando o uso e a exploração de áreas geográficas e de recursos naturais.
Molina et al. definem a gestão ambiental resumidamente como sendo a:

[...] gestão dos ecossistemas naturais e sociais em que se insere o


homem, individual e socialmente, num processo de interação entre as
atividades que exerce, buscando a preservação dos recursos naturais
e das características essenciais do entorno de acordo com padrões
de qualidade. O objetivo último é estabelecer, recuperar ou manter o
equilíbrio entre natureza e homem (MOLINA et al., 2007).

Há grande relevância da gestão ambiental que ocorre em escala local, independente


do governo e de instituições formais. A gestão ambiental que é exercida por posturas
de vida tomadas pelo indivíduo, por grupos familiares, ou comunitários, mas que de
alguma forma age diretamente na gestão do ambiente de maneira prática, imediata e
cotidiana. Um exemplo bastante difundido e que trata da questão do lixo é a adoção
Você sabia? da composta doméstica (Figura 8). Com ela, tanto o lixo reciclável se torna lixo seco
e apropriado à reciclagem, como o lixo orgânico é destinado à adubagem de jardins
e hortas. Para saber mais sobre como lidar com o lixo doméstico, acesse o link:
https://goo.gl/7E9Roj

103
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Figura 8. Incentivo à separação do lixo doméstico por meio do método fácil e prático de compostagem doméstica.

Fonte: voluntariosonline.org

Devemos evidenciar este tipo de abrangência mais pontual, em escala local na sociedade,
que olha para a postura de cada indivíduo. Este papel desempenhado por pessoas e grupos
familiares em nível local é a base de uma sociedade sustentável. Mas é claro que deve haver
incentivo partindo das gestões governamentais e educacionais, de forma a orientar e formar
cidadãos cada vez mais cientes da necessidade da sustentabilidade.

Nesse contexto, entra o conhecimento da Ecologia Aplicada voltada para as relações


ecológicas humanas. Diversos são os referenciais teóricos e metodológicos oriundos dos
estudos ecológicos que se aplicam à área de gestão ambiental. Ou seja, as teorias e métodos
de Ecologia aplicados aos ecossistemas em que a Humanidade se relaciona diretamente se
tornam extremamente relevantes para adotar ações de gestão ambiental.

Cabe lembrar que as recíprocas interações entre o ambiente e a sociedade são responsáveis
pela conformação dos ecossistemas por meio das alterações promovidas na paisagem. Deste
modo, ao compreender o papel da Humanidade nos processos ecológicos, a ecologia humana
subsidia informações que auxiliam a compreensão dos níveis mais complexos de alterações da
paisagem causadas pelo nosso sistema de organização social.

Um exemplo de trabalho realizado cautelosamente atrelando princípios de ecologia


humana às atividades de gestão ambiental é a obra da Arena Pernambuco, construída
para sediar os jogos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014. Este estádio possui
infraestrutura que permite fazer o reaproveitamento de água da chuva, usar materiais
de baixo impacto ambiental e ainda conta com a instalação de uma usina de energia
solar (Figura 9).

104
Figura 9. Modificação da paisagem natural pela ocupação por atividades humanas.
Complexo esportivo Arena Pernambuco, no município de São Lourenço da Mata.

Fonte: Portal da Copa/Wikimedia Commons

105
Ecologia, Sociedade e Conservação
UNIDADE
6
Material Complementar

Vídeos:
A ilha das flores: https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg;
A história das coisas: https://www.youtube.com/watch?v=MWUHurprTVA.

Livros:
BATES, D. G.; TUCKER, J. Human Ecology. Contemporary Research and Practice. Local:
Springer, 2010.

Sites:
http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/7493/conservacao-dos-ecossistemas;
http://www.brasilescola.com/brasil/unidades-conservacao-brasileiras.htm.

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


“A economia não sabe aonde ela quer chegar. Enquanto isso, os bilionários a usam como
poder para controlar o futuro da população mundial.”

106
Referências

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desigualdade de renda no Brasil. Brasília: Ipea, 2007.

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seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=1&op=0&vcodigo=AGRO03&t=utilizacao-
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26-31 January 1992. Dublin, Ireland.

108
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