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De acordo com Tourinho Filho, o ônus deve ser entendido como “um imperativo
que a lei estabelece em função do próprio interesse daquele a quem é imposto.”
É o encargo (opção ou faculdade) que a parte tem, por meio legalmente admitido
de provar a veracidade dos fatos. Temos dois tipos de ônus:
Infelizmente, o nosso Código de Processo Penal não trata da questão com maior
rigor. A temática relativa ao ônus da prova é reduzida ao texto do artigo 156, ao
dispor que a prova da alegação incumbirá a quem a fizer.
Da leitura do mencionado artigo é fácil constatar certa incoerência com
a Constituição Federal, mais especificamente, em relação à presunção de
inocência preconizada em seu artigo 5º, inciso LVII. De fato, é contraditório
imputar o ônus da prova a quem é presumidamente inocente.
Em razão desse aparente conflito com o texto constitucional, são crescentes as
discussões no âmbito doutrinário.
De um lado, entendem os doutrinadores que incumbe à acusação provar tudo o
que alegar, de forma ampla, incluindo o que o réu fez (crime praticado), bem
como a inexistência de qualquer causa excludente de tipicidade, ilicitude ou
culpabilidade, em nome do princípio da presunção de inocência. De outro lado,
estão os que entendem ser dever da acusação provar somente a existência do
delito e sua autoria, estando dispensada de demonstrar a inocorrência de
qualquer excludente.
Em que pese a previsão constitucional do estado de inocência do réu, o
pensamento majoritário é aquele segundo o qual incumbe à acusação provar
apenas os fatos constitutivos da pretensão punitiva (tipicidade e autoria),
cabendo à defesa a prova quanto aos eventuais fatos impeditivos ou extintivos.
Isso porque, segundo afirmam os defensores dessa corrente, “o contrário
transformaria a produção de prova judicial em algo interminável, já que todas as
causas de diminuição e todas as atenuantes deveriam ser igualmente rechaçadas
pela acusação.”
Dentre aqueles que defendem a perfeita compatibilidade do artigo 156
supracitado com a Constituição, está Pacelli, que assim aponta: “O nosso processo
penal, por qualquer ângulo que se lhe examine, deve estar atento à exigência
constitucional da inocência do réu, como valor fundante do sistema de provas.
Afirmar que ninguém poderá ser considerado culpado senão após o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória implica e deve implicar a transferência
de todo o ônus probatório ao órgão da acusação. A este caberá provar a
existência de um crime, bem como a sua autoria.(...) Cabe, assim, à acusação,
diante do princípio da inocência, a prova quanto à materialidade do fato (sua
existência) e de sua autoria, não se impondo o ônus de demonstrar a inexistência
de qualquer situação excludente da ilicitude ou mesmo da culpabilidade. Por isso,
é perfeitamente aceitável a disposição do art. 156 do CPP, segundo a qual a
prova da alegação incumbirá a quem a fizer.”
Assim, pode-se afirmar que transferir o ônus da prova para o réu é, no mínimo,
incoerente, visto que sua inocência é presumida. Cabe à acusação romper com
essa presunção, fazendo prova de que ele é realmente autor do delito e que não
agiu sob qualquer causa excludente.
“1) o réu não tem o dever de provar sua inocência; cabe ao acusador comprovar
sua culpa; 2) para condenar o acusado, o juiz deve ter a convicção de que ele é o
responsável pelo delito, bastando, para a absolvição, a dúvida a respeito da sua
culpa (in dubio pro reo)” (MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal, 12ª edição,
São Paulo: Atlas, 2001, p. 41/42).
Por todo o exposto, conclui-se que a previsão constitucional de que ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória
vem sendo distorcida no que concerne ao ônus da prova no processo penal.
É sobre a acusação que recai o ônus da prova. A ela cabe demonstrar que o
acusado é autor de fato típico, antijurídico e culpável. Isso não significa, todavia,
que a acusação precisa fazer prova negativa de todas as circunstâncias
suscitadas, como se possuísse o ônus de evidenciar o fato típico, associado à
inexistência de qualquer excludente. Na realidade, a acusação está incumbida de
provar a prática do crime e, caso seja alegada alguma excludente, fica também
incumbida de demonstrar ao juízo a sua inocorrência, fragilidade ou
inconsistência. Afinal, havendo dúvida, deve imperar a absolvição do acusado.
Por fim, não podemos confundir o ônus da prova com interesse em provar
determinada alegação, assim como leciona Gustavo Henrique Righi Ivahy
Badaró:
“Por fim, não pode confundir o ônus da prova com interesse em provar
determinado fato. O acusado não tem o ônus de provar a existência da excludente
de ilicitude, nem mesmo o ônus de gerar dúvida, mas tem interesse em provar a
sua ocorrência. Sendo o ônus da prova uma regra de julgamento, que somente
deve ser utilizado no momento decisório, ante a dúvida do juiz sobre fato
relevante, é evidente que o acusado tem interesse em provar que a excludente
efetivamente acorreu. Demonstrou a existência da excludente, a sentença será
absolutória, não sendo sequer necessário recorrer às regras sobre ônus da prova.
Este interesse, contudo, não se confunde com ônus de provar. Se o acusado,
embora interessado em provar plenamente a ocorrência da excludente, não
consegue levar ao juiz a certeza de sua ocorrência, mesmo assim, se surgir a
dúvida sobre sua ocorrência – o que significa que o acusador não conseguiu
desincumbir-se do seu ônus de provar plenamente a inocorrência da excludente -
, a conseqüência será absolvição. Em tal caso, fica claro, portanto, que o acusado
tinha interesse em provar, por exemplo, a legitima defesa, mas isto não significa
que tivesse o ônus de demonstrar a ocorrência da excludente de ilicitude.”
(BADARÓ, 2003, p. 324)
Desta forma, a primeira parte do art. 156 do CPP, deve ser lida à luz da
garantia constitucional da inocência. O dispositivo determina que a prova
da alegação incumbirá a quem fizer. Mas a primeira (e principal) alegação
feita é a que consta na denúncia e aponta para autoria e a materialidade;
logo, incumbe ao MP o ônus total e intransferível de provar existência do
delito. (LOPES JR., 2008, p.504)
DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA DE ACORDO COM A DOUTRINA
CLÁSSICA
Segundo a Doutrina Clássica menciona que o ÔNUS DE PROVAR DA:
ACUSAÇÃO:
O fato típico;
A autoria e a participação;
O nexo de causalidade; e o
Elemento subjetivo.
DEFESA:
Causas de excludentes da ilicitude,
Causas de excludentes da culpabilidade e
Causas extintivas de punibilidade.
OBSERVE: Para a doutrina Moderna (Auri Lopez, Lenio Streck), o ônus de provar
integralmente da acusação, não havendo se quer em distribuição do ônus da
prova. “A defesa não tem que provar nada.”
ÔNUS DA PROVA: CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS
A prova no processo penal tem como finalidade a reconstrução dos fatos que
guardam vínculo com o fato criminoso, influindo no convencimento do juiz. Mas,
a quem incumbe o ônus de provar?
Assim, do caput do artigo tem-se que o ônus da prova incumbe a quem alega. A
nova redação do art. 156 (modificado pela Lei n. 11.690/08 de 09 de junho de
2008) não alterou a regra sobre ônus da prova, ao contrário, manteve “a regra de
que o ônus de se provar o alegado compete a quem fizer a alegação. Trata-se de
regra em perfeita sintonia com os princípios gerais de direito, como a boa-fé, a
obrigação de dizer a verdade, o esforço para buscar a verdade real, entre outros”
(SILVA, 2008, p. 64). Todavia, o entendimento de que o ônus de provar o alegado
compete a quem fizer a alegação não é unânime na doutrina.
Para que se possa responder a esta e outras perguntas que surgirão no decorrer
do presente trabalho será necessário, primeiro, entender o conceito de ônus da
prova.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da Prova no Processo Penal. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
BARROS, Marco Antonio de. A busca da verdade no processo penal, São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011;
BRITO, Alexis Couto de; FABRETTI, Humberto Barrionuevo; LIMA, Marco Antônio
Ferreira. Processo Penal Brasileiro, São Paulo: Editora Atlas S. A., 2012;
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
GOMES, Luiz Flávio. A prova no processo penal (comentários à Lei n.º 11.690-
2008). São Paulo: Premier Máxima, 2008.
GOMES, Luiz Flávio, A prova no processo penal: comentários à Lei nº 11.690/08,
São Paulo: Editora Premier Máxima, 2008;
KARAM, Maria Lúcia. Liberdade, presunção de inocência e direito à defesa, Rio de
Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009;
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal, 12ª edição, São Paulo: Atlas, 2001;
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, 13. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal, 9. Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2008.
TASSE, Adel El; MILÉO, Eduardo Zanoncini; PIASECKI, Patrícia Regina. O Novo
Sistema de Provas no Processo Penal – comentários à Lei 11.690/08, Curitiba:
Editora Juruá, 2009;
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal – volume III, São Paulo:
Editora Saraiva, 2011.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, 31. Ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.