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Bertolt Brecht

Notas sobre a ópera „Ascensão e queda da cidade de Mahagonny”

1 Ópera – mas com inovações!

Desde há algum tempo que se pretende uma renovação da ópera. A ópera deve ser, sem
que o seu conteúdo culinário seja alterado, actualizada em conteúdo e tecnicamente
aperfeiçoada na forma. Como a ópera agrada ao seu público precisamente por ser
retrógrada, dever-se-ia pensar na afluência de novas camadas com novos apetites e é
isso que acontece: pretende-se democratizar, naturalmente sem alterar o carácter da
democracia, que consiste em dar ao “povo” novos direitos, mas não a possibilidade de
os defender. […]
Diz-se: esta ou aquela obra é boa; e com isso pretende dizer-se, mas não se diz: boa para
o aparelho. Mas este aparelho é determinado pela sociedade vigente e absorve apenas o
que o mantém nessa sociedade. Qualquer inovação que não ameaçasse a função social
desse aparelho, nomeadamente o divertimento de serão, poderia ser discutida. O que
não pode ser discutido são aquelas inovações que insistem na mudança da função do
aparelho, projectando-o portanto na sociedade numa perspectiva diferente, querendo
associá-lo, por exemplo, às instituições escolares e aos grandes órgãos de publicação. A
sociedade absorve através do aparelho aquilo de que necessita para se auto-reproduzir.
Portanto, também só pode passar uma “inovação” que conduza à renovação, mas não à
transformação da sociedade vigente – quer essa forma de sociedade seja boa ou má. […]
A arte é uma mercadoria – não pode ser produzida sem meios de produção (aparelhos)!
Uma ópera só pode ser feita para a ópera. […] Mesmo querendo discutir a ópera
enquanto ópera (a sua função) ter-se-ia de fazer uma ópera.

2 Ópera –

[…]

3 – mas com inovações!

Tinha de se colocar a ópera ao nível técnico do teatro moderno. O teatro moderno é o


teatro épico. O esquema seguinte apresenta algumas deslocações fulcrais do teatro
dramático para o teatro épico.
Nota: Este esquema não apresenta oposições absolutas, mas apenas deslocações de acentuação. Assim,
num processo de comunicação pode dar-se mais relevo ao que é emocionalmente sugestivo ou ao que é
apenas racionalmente persuasivo.

Teatro de forma dramática Teatro de forma épica

A cena representa uma acção narra-a


envolve o espectador faz do espectador um observador,
numa acção cénica e mas
consome a sua actividade desperta a sua actividade
proporciona-lhe emoções exige-lhe tomadas de posição
transmite-lhe vivências transmite-lhe conhecimentos
o espectador é colocado dentro de uma acção é confrontado com uma acção
trabalha-se com a sugestão trabalha-se com argumentos
as sensações são conservadas são levadas ao nível do
reconhecimento
considera-se o homem um dado conhecido o homem é objecto de análise
o homem imutável o homem transformável e
transformador
tensão em relação ao desfecho tensão em relação ao decurso
uma cena em função da outra cada cena por si
os acontecimentos decorrem de forma linear às curvas
natura non facit saltus facit saltus
o mundo tal como é o mundo como se está a tornar
o que homem deve ser o que o homem tem de fazer
os seus impulsos as suas motivações
o pensamento determina o ser o aspecto social do ser
determina o pensamento

A irrupção dos métodos do teatro épico na ópera conduz principalmente a uma


separação radical dos elementos. A grande luta pela supremacia entre a palavra, a
música e a representação (em que se coloca sempre a questão, qual dos elementos serve
de pretexto ao outro – a música como pretexto para a acção cénica ou a acção cénica
como pretexto para a música, etc.) pode ser simplesmente solucionada pela separação
radical dos elementos. Enquanto a “obra de arte total” significar que a totalidade é uma
salsada, enquanto se pretender portanto “fundir” as artes, os elementos são
necessariamente degradados por igual, servindo cada um apenas como deixa para o
outro. O processo de fusão estende-se ao espectador que também se funde e representa
uma parte passiva (sofredora) da obra de arte total. Tal magia deve ser naturalmente
combatida. Tem de se acabar com tudo o que represente qualquer tentativa de
hipnotização, criando situações pouco dignas de inebriamento, toldando os sentidos.

Música, palavra e imagem tiveram de se tornar mais independentes.

Excertos de Bertolt Brecht, “Anmerkungen zur Oper “Aufstieg und Fall de Stadt Mahagonny” [Notas
sobre a ópera Ascensão e queda da cidade de Mahagonny], in Groβe kommentierte Berliner und
Frankfurter Ausgabe 24, [trad. Vera San Payo de Lemos], Berlin und Weimar, Aufbau-Verlag, Frankfurt
am Main, Suhrkamp Verlag, 1991, pp. 74-84.

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