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Desde há algum tempo que se pretende uma renovação da ópera. A ópera deve ser, sem
que o seu conteúdo culinário seja alterado, actualizada em conteúdo e tecnicamente
aperfeiçoada na forma. Como a ópera agrada ao seu público precisamente por ser
retrógrada, dever-se-ia pensar na afluência de novas camadas com novos apetites e é
isso que acontece: pretende-se democratizar, naturalmente sem alterar o carácter da
democracia, que consiste em dar ao “povo” novos direitos, mas não a possibilidade de
os defender. […]
Diz-se: esta ou aquela obra é boa; e com isso pretende dizer-se, mas não se diz: boa para
o aparelho. Mas este aparelho é determinado pela sociedade vigente e absorve apenas o
que o mantém nessa sociedade. Qualquer inovação que não ameaçasse a função social
desse aparelho, nomeadamente o divertimento de serão, poderia ser discutida. O que
não pode ser discutido são aquelas inovações que insistem na mudança da função do
aparelho, projectando-o portanto na sociedade numa perspectiva diferente, querendo
associá-lo, por exemplo, às instituições escolares e aos grandes órgãos de publicação. A
sociedade absorve através do aparelho aquilo de que necessita para se auto-reproduzir.
Portanto, também só pode passar uma “inovação” que conduza à renovação, mas não à
transformação da sociedade vigente – quer essa forma de sociedade seja boa ou má. […]
A arte é uma mercadoria – não pode ser produzida sem meios de produção (aparelhos)!
Uma ópera só pode ser feita para a ópera. […] Mesmo querendo discutir a ópera
enquanto ópera (a sua função) ter-se-ia de fazer uma ópera.
2 Ópera –
[…]
Excertos de Bertolt Brecht, “Anmerkungen zur Oper “Aufstieg und Fall de Stadt Mahagonny” [Notas
sobre a ópera Ascensão e queda da cidade de Mahagonny], in Groβe kommentierte Berliner und
Frankfurter Ausgabe 24, [trad. Vera San Payo de Lemos], Berlin und Weimar, Aufbau-Verlag, Frankfurt
am Main, Suhrkamp Verlag, 1991, pp. 74-84.