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A ALQUIMIA DA RAIVA

22/06/2004

A rigor, o chinês identifica cinco diferentes expressões do TAI CHI – Madeira, Fogo, Terra, Metal e
Água. Em razão desse simbolismo arquetípico, Fígado, Baço-Pâncreas, Pulmão e Rins, expressam
no corpo a dinâmica cósmica, psíquicamente representada por afetos e emoções chaves. Nessa
trama interativa, o Coração – sede do grande SHEN, a síntese do psiquismo – ocupa o topo
hierárquico. E, embora o nível de consciência resulte das interações dos cinco órgãos-sede do
SHEN, se pode falar da atividade do Fígado, representante do movimento germinativo da Fase
Madeira, como uma função relativamente decisiva na condução dos comportamentos.

Na terapia chinesa, este processo de refinamento da consciência inclui necessariamente o corpo,


já que é no corpo que toda a obra se realiza. Assim, todas as práticas corporais chinesas se
norteiam pela fórmula transformar o JING (essência) em CHI (energia vegetativa), e o CHI em
SHEN (espírito). Nesse sentido, a espiritualidade chinesa é radicalmente visceral, já que os órgãos
físicos metabolizam não apenas a energia, mas a própria consciência. E é esta que confere sentido
ao todo sistêmico, a um tempo fechado em si aberto às alterações do externo.
Na psicoterapia somática chinesa, a RAIVA (fígado) é um sentimento tão legítimo como sua
polaridade, o amor, pois ambos são condutores do afeto. O que os distingue é o grau de
sofisticação e lucidez que expressam. Identificar, autenticar e lapidar a raiva original antes que a
frustração a transforme em sentido esvaziado de afeto – o ódio – é o fundamento terapêutico.
Encarregado de dar início aos processos, acionar e coordenar o metabolismo por meio da
agressividade criativa , cuja correspondência fisiológica é a bile, o Fígado tem posição de
comando. Relaciona-se com os olhos – e com a visão física-psicológica-espiritual – a habilidade de
enxergar com clareza para objetivar ação. Berço da alma, cabe a esse oficial do corpo-mente
ordenar os impulsos bombeados pelo espaço interno. Tais impulsos têm como destino o mundo,
mas é no Coração que ganham sentido e são legitimados como expressão amorosa. E quando isto
não ocorre, a frustração será sentida como RAIVA.
É principalmente essa RAIVA cega que irá condicionar o nosso estilo de vida e mesmo a maneira
como morremos. Destituída de sentido, induz o ser à dicotomia que o afasta ainda mais do Paraíso
: a ação sem ponderação, “impaciente ” ou, no outro extremo, a regressividade repressiva e
amendrontada, da prequiça espiritual.
E, como é através dos olhos que o amor atinge o coração, a auto-aceitação – amor por si mesmo –
terá sempre que se contrapor e se complementar com uma certa insatisfação da alma.

Visionário, como todo grande poeta, Kafka disse que nós perdemos o Paraíso por impaciência e
não retornamos a ele por preguiça. Através dessa bem humorada metáfora, descreve com
precisão a dinâmica da patologia humana, polarizada entre os extremos da impulsividade
inconsciente e a compulsão repetitiva do apêgo ao conhecido.

Mas, se a queda do Paraíso é sair da unidade para a polaridade, nossa condição humana é a de
vagar pelo mundo dos opostos em busca da compreensão vivenciada de que os contrários não se
contradizem, mas se complementam e se integram. E, meta suprema, transcender o opressivo
domínio da dualidade fluindo através dele, não negando-o . Pois, como ensinou Hegel, suplantar é
ao mesmo tempo negar e preservar.

MATÉRIA publicada no Jornal Ganesha – Rio de Janeiro – em Março/2004

http://www.taoyin.com.br/artigo/11

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