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s textos “Relações do Egito com o resto da África” por Abd El Hamid Zayed com a
O
colaboração de J. Devisse e “O Império de Kush: Napata e Méroe” de J. Leclant trabalham a
relação do Egito com a região do Meroé, em tempos remotos, ainda reforçando o Egito negro
e africano e sua historicidade. Para tal, ambos pesquisadores trabalham com materiais que
possam comprovar esse contato e ainda com outras partes da África.
Ao citar a estátua de Osíris e a estátua gravada com o cartucho de Tutmés III, associadas a
região da Gana atual, Zayed reitera que a influência - comprovada - não é uma prova de
contatos antigos. Ao longo do texto ele demonstra-se contraditório em suas palavras mesmo
com os materiais apresentados, ele assinala hipóteses e teorias. A segunda observação feita
por ele é: “parece haver uma considerável discrepância cronológica e tecnológica entre este
último e as civilizações periféricas”, além de que esses periféricos eram concentrados na
região do baixo vale do Nilo e assim mantinham contato com os egípcios, mas a relação não
era imóvel, onde um só sempre mandou.
A teoria inicial é sobre os vizinhos do ocidente: No Saara há influências do Egito, isso é
comprovado mas não há mais detalhes além da hipótese de intercâmbio humano. Sendo o
povo saariano basicamente os líbios, estes que foram pressionados ininterruptamente à
periferia devido ao hostil deserto. A partir da XIX dinastia que dá-se essa negociação de mão
de obra humana e de soldados para o Egito; a intenção era evitar conflitos devido a invasão
desse povo e no governo Ramsés III eles participam intensamente na segurança dessa região.
Os líbios chegam até mesmo a governar o Egito na XXII e a XXIII dinastias, o que gerou,
finalmente, conflitos e em resposta os núbios - sudaneses- instalam uma dinastia Etíope.
Criando um longo parênteses agora, para depois retornarmos as teorias acerca de outras
regiões da África, com o intuito de aprofundarmos mais um pouco a dinastia Etíope, Império
de Kush por Leclant. Esse reino, também denominado de Kerma, tem como primeiro regente
a ser estudado o Peye (Piankhy) - pois não sabe-se quem foram os primeiros reis -
responsável pela inscrição mais detalhada e extensa do antigo Egito que descreve seus
discursos, as deliberações do rei, sua campanha, a supremacia do deus Âmon e a índole
federativa do Império de Cuxe. Em seguida, seu irmão Shabaka - este sim considerado por
muitos o fundador da XXV dinastia - torna-se rei e conquista todo o vale do Nilo até o Delta.
“Na região tebana ele erigiu colunatas nos quatro pontos cardeais do templo
de Carnac e construiu grande número de pequenas capelas, onde se
associavam os cultos de Âmon e de Osíris. Há evidências de sua presença
também em Mênfis e no Delta. Abandonando a tradicional necrópole de
el-Kurru, Taharqa construiu em Nuri o que parece ser um cenotáfio
comparável ao Osireion de Abidos; em Sedinga descobriu-se um túmulo
inscrito com alguns de seus títulos e distinções. Várias estátuas de
excepcional qualidade, em granito esplendidamente esculpido e realçado por
ornamentos de ouro, representam o monarca a caminhar em passos firmes,
revelando-nos seus traços: a face é pesada; o nariz carnudo dilata-se sobre
a boca larga, de lábios grossos; o queixo curto e forte sublinha o
extraordinário vigor do rosto”.
Nessa dupla monarquia vale ressaltar que houve uma mistura entre as culturas: os
sudaneses absorvem do comportamento (atitudes e vestimentas) egípcio e estes utilizavam de
ornamentos do Sudão, entre outras; e também a inclusão feminina em seu império.
Após a derrota para os assírios, o domínio sobre o Egito acabou e os cuxitas
direcionaram-se para o sul (tornam-se os vizinhos do Sul). Concentraram-se em Napata -
onde foi encontrado cemitérios que provam essa similaridade com os faraós -, onde houve a
deterioração da influência egípcia em sua cultura, mas seu contato não termina aí: o império
(591 a.C) foi invadido por uma expedição egípcia e Kush teve que mover-se novamente,
desta vez em direção a Méroe por motivos econômicos e climáticos. Em sua língua, meroíta,
tem base alguns hieróglifos de seus vizinhos do Norte, porém tem suas diferenciações como a
leitura feita de forma inversa e seu sistema gráfico; ainda sim a tradução é irrealizável o que
impossibilita à novas descobertas.
Novamente por questões conflituosas com vizinhos e invasões, a capital de Meroé cai
assim como sua antecessora. Finalizando o autor ressalta a importância de Méroe: a
exploração de ferro local difundiu-se no continente africano e a transmissão de influência
egípcia para o interior da África através de Méroe.
No restante da África ele cita a expedição de Necau II - possível responsável pela
construção canal talvez ligasse o Mediterrâneo (ou Nilo) ao mar Vermelho - pela costa da
África em busca de produtos que necessitavam e não havia em seu território:
Ele termina salientando a necessidade de junção dos materiais dado pelos africanos e com
as dos pesquisadores estrangeiros, fomentando e estudando teorias com a ajuda dos diversos
equipamentos científicos.
UNIDADE III
O tráfico árabe-muçulmano deu-se anteriormente ao tráfico europeu, ou tráfico atlântico, e
serviu de base para seu sucessor ao transferir sua visão, suas crenças e seus preconceitos. É
importante salientar que apesar de não haver números exatos da quantidade de escravos, há
especulações, é indiscutível que não foi algo pequeno; porém tem-se duvidas que tenha sido
menos danoso que a exploração dos europeus, mesmo com as práticas diferentes.
Realizou-se através do Saara e do oceano índico, inicialmente, o primeiro eixo do tráfico
Árabe ligava a costa oriental da África com a Arábia; além do tráfico humano, era praticado o
comércio de marfim para Índia e a China. Os negros não eram os únicos escravos presentes
ali, havia persas e europeus, mais adiante entenderemos o por quê do negro ser considerado
mais importante.
Após a pregação do profeta Muhammad, que também teve africanos como companheiros,
e a expansão Árabe - com o surgimento do califado, a expansão militar e religiosa (e o Islã) -
a estrutura do tráfico muda e torna-se mais maciça e intensa. A escravatura era legitimada
durante a guerra santa, todos que eram capturados - os idólatras - viravam escravos, bem
como a necessidade domésticas, econômicas e militares fortaleceram-se dessa exploração.
O eixo comercial também foi modificado, o primeiro era do “país dos zandj” (países
situados ao sul da Abissínia, em especial, com a costa oriental da África - onde tudo foi
organizado - e o povo bantu) para península Arábica. No século VII era do Egito a Núbia
(onde mulheres serviam como concubinas) e a terceira era a rota transaariana (ligava o
Ifriqiya e o Magreb a parte do Sudão - transformado em reservatório de escravos).
A utilização dos africanos dependia das necessidades locais, no mundo muçulmano eles
são geralmente postos em três situações: nas atividades domésticas; na segurança, onde eram
vistos com bons olhos devido a sua à sua coragem e ao mesmo tempo com olhares temerosos
exatamente pelo mesmo motivo; e no trabalho (preferencialmente agrícola) também chamado
de escravatura produtiva. Eunucos (não só negros) valiam mais por sua condição, porém
devido ao grau de degradação dos negros escravos, o que levava a sua docilidade, eles eram
menos perigosos que os escravos brancos temidos por seus donos. As mulheres
desempenhavam serviços domésticos e eram cobiçadas nas famílias árabes. Vale ressaltar que
o número de africanos nessas condições passada da casa dos milhares.
Mas, como dito os escravos negros não foram tão desumanizados como no tráfico
atlântico:
“Os fatímidas do Egito (909-1171) deram-lhes um papel oficial na
organização dos grandes servidores do Estado, colocando-os
imediatamente após os emires e organizando-os em corpo estruturado
e hierarquizado.” (Pag. 226)
1. “... a economia não desenvolvida é aquela que não possui, nem as estruturas do
desenvolvimento, nem tampouco aquelas do subdesenvolvimento e que permanece,
portanto, livre para facilmente tomar tal ou qual direção, em função do tipo de
oportunidade apresentada.” (Pág. 97);
2. “Por economia desenvolvida, entende-se uma economia que possui sólidas ligações
internas, estruturais e setoriais, apoiando-se em uma técnica evoluída e em estruturas
sociopolíticas as quais permitem um crescimento autônomo” (Pág. 97);
3. “A expressão “economia subdesenvolvida e dependente” significa, por sua vez, uma
economia privada de articulações estruturais e setoriais, em função da existência de
certas estruturas internas, herdadas de relações internacionais anteriores cuja natureza
torna extremamente difícil, senão impossível, a implementação de uma técnica
evoluída e de sólidas ligações internas, setoriais e estruturais, gerando assim uma
situação na qual a expansão ou a contração da economia depende inteiramente do
exterior”. (Pág. 97).
Como já dito, no primeiro período não havia estruturas necessárias para o pleno funcionamento de
seu mercado para além de sua região, que repetindo, teve seu crescimento. As riquezas da zona
africana não tinha o devido valor devido que o tráfico escravo ampliava-se, então o metal e o ouro
provinham principalmente das colônias da América espanhola, sendo o outro utilizado como moeda
de troca impulsionando o processo de comercialização nas atividades econômicas. Torna-se claro o
que seria um processo de dependência entre as regiões.:
No segundo período, para superar a crises (XVII), envolveu-se principalmente das
atividades agrícolas de plantação. Enquanto as Antilhas e a América Latina produzia o
açúcar, os norte-americanos produziam tabaco e algodão, fez-se necessário um aumento de
mão-de-obra escrava e por assim um repovoamento - feito pela população negra retirada de
seu lar - desta região que ampliou gradativamente o lucro Europeu. Também, desenvolveu
nesta região a criação de empregos e a volta do crescimento demográfico, o surgimento de
mais inovações num contexto de revolução industrial.
Em todo a exploração realizada, além da retirada de riquezas naturais de cada país - hoje
subdesenvolvido - houve o despovoamento na África que foi crucial para o atraso no avanço
da produção comercial, principalmente em relação a países que também foram devastados
pelas mãos europeias. Na América Latina e nas Antilhas as razões foram: “A pequena
densidade populacional, em amplas zonas da América pré-colombiana, prejudicou o
desenvolvimento das trocas e a divisão do trabalho. Ademais, o fato de as regiões mais
povoadas serem afastadas, umas das outras, e separadas das regiões pouco povoadas por
densas florestas, montanhas e vales profundos, o que dificultava as comunicações, limitando
o comércio intra-americano”. Hoje ainda vemos reflexos dessa relações desiguais que
aconteceram nessa época.