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Th o ma s R. S c h r e in e r , Professor de Interpretação
do Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary,
onde ocupa a renom ada cadeira James Buchanan Harrison.
“Corajoso. Real. Direto. Isso é o que você encontrará no livro de Curt Allen
sobre interpretação bíblica. E é disso que precisamos, pois livros vagos,
pesados e abstratos sobre interpretação bíblica não conseguem atingir o
objetivo para o qual foram escritos — ensinar e nos inspirar a ler, interpre-
tar e aplicar a Bíblia. Se for exatamente isso que você deseja, leia este livro.”
Alien, Curtis
Como interpretar a Bíblia: princípios práticos para
entender e aplicar a palavra de Deus / Curtis Allen
Tradução Carlos Lopes. —São Paulo: Vida Nova, 2012 .
ISBN 978-85-275-0508-6
12-10600 C D D - 220.61
l .a edição: 2012
ISBN 978-85-275-0508-6
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Marisa K. A. de Siqueira Lopes
REVISÃO
Rosa Ferreira
Curtis Allen
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Sérgio Siqueira M oura
t r a duçã o
Ca r l o s l o pes REVISÃO DE PROVAS
Ubevaldo G. Sampaio
DIAGRAMAÇÃO
SK Editoração
V id a n o v a
SUMÁRIO
m uito bom p ara ser verdade. N aquela época, quase todo m u n - corpo por ter dorm ido em um a posição desconfortável.
do podia com prar crack, m as todos queriam colocar as mãos Jerry, José e m inha mãe tinham ido embora. Eu estava
em cocaína pura, pois você poderia transform á-la — adicionar meio tonto pela ressaca da m aconha e por não ter dorm ido
outras coisas a ela — ou ainda torná-la mais forte para o u su á- direito. Olhei por toda a sala para ver se havia algo suspeito,
rio, mais desejável nas ruas p o r ser um a coisa especial, ou sim - mas tudo parecia normal. Fui para o quarto dos fundos para
plesm ente m ias rentável a você com o traficante. Eu sabia que, checar se as coisas que eu tinha escondido na noite anterior
se pusesse as m ãos em um quilo, eu a transform aria em outra ainda estavam ali. Estavam. Fiquei aliviado. Então m e lembrei
droga para torná-la o m elhor produto nas ruas. Uma vez que da troca de olhares entre Jerry e José. Comecei a pensar se eu
você conseguisse a reputação de ter aquela “bom ba”, poderia não estava exagerando.
vender gelo para esquimós. Eu não estava.
Enquanto Jerry falava, eu prestava atenção nos m eus cole- A m aior parte da semana seguinte fiquei fora do aparta-
gas. Estava tentado a ler com o eles os estavam lendo, e m e pare- mento, de m odo que não vi Jerry e José, mas soube que eles
cia que Jerry os tin h a nas palm as das mãos. No início suspeitei, estiveram por perto. Uma sem ana se passou. Então, um belo
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dia, eu estava no apartam ento com os outros caras quando Jerry e José se foram, prom etendo voltar às 8h30. Tão logo
Jerry e José apareceram. Desta vez, m inh a mãe não estava com partiram , eu disse a meus amigos que eles eram estúpidos por
eles. Lembro de ter pensado: Uau, não passou nem uma sema- pensar em ir à boate com esses garotos. Por 45 m inutos nós
na para que esses caras aparecessem aqui sozinhos. Eu sabia que discutim os sobre o que pensávam os deles e se realm ente con-
eles tinham um apartam ento no mesmo condom ínio de prédios, fiávamos neles para deixá-los na com panhia de nossa gangue, a
assim parecia evidente que iríamos vê-los com frequência. Gen. Estávamos divididos. As 8h eu saí para trabalhar. Q uando
Estávamos sentados na sala, e decidi não ficar m uito lou - voltei, um a hora depois ou mais, fiquei contente em ver que
co, pois Jerry e José ainda estavam m exendo com m eu sexto ninguém tinha ido à boate.
sentido. Sem o efeito da droga, ficava mais e mais claro para Na m anhã seguinte estávamos todos contentes.
m im que alguma coisa não estava certa com esses caras. Eu M anhã de sábado. A t v de nosso apartamento, como de
sabia que eles não estavam disfarçados, mas achava que fossem costume, estava ligada. Notícia de última hora. C obertura ao
“quentes” — o tipo de pessoa no subm undo do crim e que tende vivo. Reconhecemos a rodovia que passava nas proxim idades de
a cham ar atenção indesejada, por exemplo, da polícia, para si nosso apartamento. Todos os olhos estavam fixos na tela da t v .
mesma. Eu era um crim inoso e, até agora, um crim inoso de A polícia estadual de M aryland tinha recebido um cham a-
sucesso. A últim a coisa que eu queria era ter pessoas a meu do sobre um tapete suspeito enrolado no acostam ento da rodo-
lado que fossem “quentes”. via. Q uando um policial se dirigiu ao local, ele notou cabelo
A tarde se transform ou em noite e Jerry perguntou se gos- hum ano saindo por um a das extrem idades do rolo. Enroladas
taríam os de ir a um a boate com eles. Eu odiava boates, pois no tapete, estavam três mulheres entre 19 e 25 anos. Elas foram
achava que elas eram perda de tem po e dinheiro. Sem m en - assassinadas a tiros, enroladas no tapete e jogadas no acosta-
cionar toda aquela conversa fiada que você teria que ter para m ento da rodovia.
conseguir o telefone de um a garota e tentar arrastá-la para seu Eu já tinha visto um m onte de coisas estúpidas até aquele
apartam ento. Até porque você não consegue conversar com dia. Havia participado de tiroteios, assaltos, tráfico de drogas e
um a garota com o som naquela altura. Se precisasse de um a outros acontecim entos que tenho até vergonha de dizer. A cha-
segunda razão para não ir, era porque eu tinha certeza de que va que nada mais me afetaria. Eu estava errado. Todos nós está-
Jerry e José se constituíam , realmente, num problema. Alguns vamos. Coletivamente, a Gen tinha presenciado tantos males
de m eus amigos disseram que iriam, e achei estupidez da parte que seus participantes tinham dificuldade de dem onstrar suas
deles. Será que eles não percebiam a falsidade na linguagem emoções. Mas definitivam ente com partilham os do horror
corporal de Jerry e José? Esses dois caras eram quentes. A ndar daquele m om ento enquanto assistíamos à t v. N inguém disse
p or aí com eles poderia acabar em prisão ou coisa pior. nada por quase 10 minutos. Eu quebrei o silêncio.
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— Não sei não, cara. Espero que não tenham sido aqueles coisa neles que eu não gostava. Sabia que eles eram problema.
dois que m ataram as garotas — eu disse, balançando a cabeça, Eu apenas não sabia o tipo de problem a.
acreditando que tinham sido eles. Um mês após os assassinatos, a polícia estava fechando o
A resposta foi o silêncio, mas não posso dizer se m eus cerco sobre Jerry e José. Jerry, com m edo de ser preso, matou
amigos concordavam comigo. Talvez estivessem apenas cho - José. Três meses depois, a polícia prendeu Jerry e o acusou do
cados pelo fato do assassinato ter acontecido tão perto de casa. assassinato das três garotas.
Foi quando percebi que a qualquer m om ento a polícia estaria Jerry foi enviado para um a prisão onde o irm ão de uma
vasculhando toda a vizinhança, e não seria apenas um a visita das garotas estava preso. Esse cara era um gângster, e isso sig-
de rotina. nificava apenas um a coisa: para Jerry, colocar os pés naquela
Teríamos que parar de trabalhar. Toda a área estava ferven- prisão era o m esm o que pegar o passaporte para o inferno.
do para que continuássemos vendendo drogas em nosso aparta-
mento. Decidi que tinha que me afastar de todos por alguns dias. A MÁ INTERPRETAÇÃO PODE MATÁ-LO
Segui meus instintos e deixei o apartamento. Alguns dias depois, Até hoje fico pensando sobre o que teria acontecido se eu tives-
fiquei sabendo que Jerry e José eram os autores do assassinato. se ido à boate com Jerry e José. Com certeza não teria partici-
Eles tinham matado as garotas. Jerry contou para m inha mãe pado de tudo que aconteceu naquela noite, mas isso não teria
tudo que acontecera, e m inha mãe nos contou. m uita im portância. Ainda assim eu teria sido cúm plice dos
Eles tinham ido à boate aquela noite, encontraram as três três assassinatos apenas por estar na com panhia daqueles dois
garotas e as levaram para seu apartam ento, o quarto prédio caras. M inha vida seria com pletam ente diferente; facilmente
depois do nosso. Após ter usado drogas e bebida, Jerry quis poderia ter chegado ao fim.
levar um a das garotas para a cama. Ela disse não. Ele tentou Cada vez que penso sobre isso, sou levado àquela troca
inúm eras vezes, e a cada vez ela se recusava de forma veemente. de olhares entre Jerry e José. E, depois, lembro com o interpre-
Pouco depois, as garotas exigiram que eles as levassem de volta tei aquela troca de olhares. Percebi alguma coisa na linguagem
para o clube, para que pudessem pegar seus carros. Eles colo- corporal dos dois que fez com que eu não confiasse neles, e
caram as garotas em um a perua, dirigiram por algum tempo, hoje atribuo totalm ente aquela percepção à soberana m iseri-
saíram por um a estrada deserta e as m ataram . Depois, en ro - córdia de Deus.
laram as três garotas m ortas em um tapete e as jogaram no Se eu não tivesse percebido aquela troca de olhares ou
acostam ento de um a rodovia. a tivesse interpretado de form a inadequada, não teria perce-
Enquanto ouvia a história, eu lembrava dos olhares que bido todas as outras coisas que m e levavam a ser tão caute-
eles trocaram em nosso apartam ento. Sabia que havia algum a loso. Sei que m in h a interpretação sobre quem eram Jerry e
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José salvou m inha vida, e talvez a de alguns de m eus amigos. chorar ou sorrir? Devo dizer sim ou não? Essas são perguntas de
M inha interpretação levou à aplicação — eu me com portei interpretação e aplicação.
de form a diferente devido às m inhas percepções daquilo A interpretação e a aplicação estão sempre ligadas — mas
que era verdade e daquilo que não era. É sem pre assim que nem sempre perfeitamente ligadas. Fazer um a interpretação
acontece. O que você vê, pensa ou sente orienta o que você cuidadosa redunda no m elhor início para fazer a aplicação
faz. Se você achar que descer algum a ru a pode ser perigoso, correta e, quanto mais adequada for sua interpretação, prova-
então sua aplicação provavelm ente será: Eu não descerei essa velmente mais apropriada será sua aplicação. O que significa
rua! A interpretação é um m odo de vida para qualquer um , realm ente a expressão “olhando em retrospecto”? Significa o
a qualquer m om ento. perfeito conhecim ento de um acontecim ento após sua ocor-
Há muitas formas de interpretação. Nós explicamos, expo- rência. É a reinterpretação de um evento com base em um
mos, julgamos, e decifram os todas as coisas ao nosso redor novo conhecim ento — conhecim ento que poderia ter m udado
para tentar dar sentido ao m undo. Interpretam os o choro de nossa aplicação para melhor, se tivéssemos tido o beneficio de
um bebê para saber se é hora de am am entá-lo ou se é hora conhecê-lo antes.
de dorm ir. Interpretam os a linguagem corporal para ver se a Mas é possível — e algumas vezes m uito fácil — fazer uma
pessoa com quem estam os nam orando realm ente gosta de nós. interpretação sólida e, depois, escolher a aplicação inadequada.
Interpretam os o tom de voz para saber se alguém está bravo Essa é a batalha que enfrentam os continuam ente com o cristãos
conosco. Interpretam os e-mails e mensagens de texto com base em um m undo decaído. Baseados na herança que recebemos
na pessoa, no meio de com unicação e no conteúdo. O ponto de de Adão e Eva, tem os em nós a natureza pecam inosa que nos
exclamação pode ser um sinal de que a pessoa está indignada afasta dos processos da correta interpretação seguida da corre-
ou um sinal de alegria, dependendo de com o o interpretarm os. ta aplicação. M esmo quando interpretam os corretam ente Deus
Não podem os viver sem interpretar. Todos nós interpre- e sua Palavra, o pecado nos dom ina, im pedindo que façamos a
tam os e tom am os decisões para agir com base em nossas inter- aplicação esperada por Deus. M uitas vezes evitamos reconhe-
pretações. Tais atos representam nossa aplicação. cer a verdade para depois aplicá-la de form a correta.
A vida, de certo m odo, é simples assim. Somos criaturas Essa é um a batalha invisível, e é por isso que precisam os
que interpretam tudo e, depois, agimos de um m odo que repre- de um livro que nos fale sobre ela. Neste livro, espero fornecer
senta a resposta a essa interpretação. Esse é o motivo pelo qual um a perspectiva útil e inspiradora de como interpretar e apli-
frequentem ente odiam os ficar confusos. Q uando você está car a Escritura. Pode ser um a perspectiva sobre a qual você
confuso, não pode interpretar os acontecimentos com clareza e, nunca tenha ouvido falar.
assim, não sabe o que fazer. Será que devo ficar ou correr? Devo
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
INTERPRETAÇÃO COMO IMITAÇÃO um dom particular de sabedoria e discernim ento. Mas gostaria
Para m uitos cristãos a palavra “interpretação”, quando aplicada de argum entar que a interpretação bíblica não está ligada em
à Bíblia, pode ter um a conotação negativa. Não é isso que o prim eiro lugar a um a boa instrução ou a algum dom especial.
pastor fa z antes de pregar? Não é o que fa zem os comentaristas E, para fazê-lo, gostaria de m ostrar como podem os aprender
antes de escrever? Não são m uitos que dizem, mas é com um sobre a interpretação bíblica com a pessoa mais óbvia, que
pensar que isso não é para você, que esse negócio de interpre- nunca aparece na lista dos nossos melhores intérpretes.
tar é reservado para os poucos que ascenderam às alturas da Quase sem pre nos esquecemos de mencioná-lo: Jesus.
clareza de pensam ento. O restante de nós está restrito a um O m aior intérprete da Palavra de Deus é Jesus, o Cristo —
lugarzinho na terra dos limitados, tentando apenas ter meia e ele convida todos aqueles que nele creem a imitá-lo.
hora de reflexão silenciosa. Com o cristãos, percebemos que se espera que im itemos
G ostaríam os de saber o que essas pessoas sabem e as nosso Salvador (Ef 5.1). Mas com o seria essa imitação? Sabe-
adm iram os por seu conhecim ento bíblico. Ficamos im pressio- mos que não podem os im itar sua m orte pelos pecados. M orrer
nados com sua busca árdua por instrução e im aginam os que na cruz seria algo muito doloroso para nós. Jesus foi capaz de
não tem os tem po nem desejo de fazer o que elas fazem. expiar nossos pecados por nunca ter pecado, de m odo que reti-
É exatamente esse o problema. A interpretação bíblica ramos isso da lista. Além dessa exceção óbvia, pode-se dizer
tornou-se algo m uito exclusivo. que somos cham ados a im itar C risto em quase tudo — só que
Q uais personagens aparecem em sua m ente quando você de uma forma diferente, pois não somos m em bros da T rinda-
pensa nos grandes intérpretes bíblicos? Será que aparecem as de. Vamos dar dois rápidos exemplos.
imagens dos pais da igreja, de Crisóstom o e Agostinho? Talvez A realização de milagres. Jesus fez m uitos milagres
as de Lutero, Calvino e Spurgeon? Alguns intérpretes contem - extraordinários. Isto é, ele interferiu na realidade, m udando
porâneos como Piper, Sproul, Carson e Keller definitivam ente um a condição para outra. Ele m udou a condição de Lázaro de
serão os prim eiros da lista. Você pode ir ainda mais fundo e m orto para vivo. Transform ou a água em vinho. Transform ou
dizer: o apóstolo Paulo — boa escolha. um a assustadora tem pestade em um belo dia para se navegar
Devo observar um a coisa aqui. Q uando pensam os nos de barco.
“intérpretes bíblicos”, em que realm ente pensamos? Em inte- Por meio de nós, o tem po todo, algumas vezes de m aneira
ligência brilhante e treinam ento. M esmo sem estar conscien- grandiosa, outras vezes de forma sutil, Deus m uda as coisas do
tes disso, enxergamos a interpretação com o algo associado a m undo para melhor. Ocasionalmente, algo que um cristão faz
um a excelente educação, a um a inteligência fora do com um e a em Cristo ou por meio dele poderia ser cham ado de milagre,
mas na m aioria das vezes é cham ado somente de vida — um a
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vida na qual Deus está ativamente envolvido. Assim, é desse forma da G rande Comissão. É por isso que todos os fiéis, para
jeito simples que podem os imitá-lo. im itarem a Deus, são cham ados a evangelizar e discipular, pois,
A resistência a Satanás. Jesus ficou cara a cara com Satanás em últim a análise, essa foi a vida de Jesus.
no deserto, lutando para resistir à tentação. Q uando você e eu No entanto, há m uito mais.
resistimos à tentação, essa resistência parece quase um a épica O evangelismo e o discipulado são o início e o fim do
batalha cósmica. Espero nunca encontrar o dem ônio pessoal- m inistério de Jesus. O que estava no meio? O que quero dizer é:
m ente e espero que você tam bém não o encontre, mas lutar Quais foram os meios que produziram o fim? A resposta pode
contra o pecado é outra área na qual som os cham ados, de for- ser mais simples do que você imagina.
ma clara, a im itar Jesus. A interpretação da Palavra de Deus, falada e aplicada, foi
Podem os dizer o mesm o em relação a como Jesus con - o principal meio utilizado por Jesus. Foi assim que ele evan-
fiou no Pai, como era devotado à oração, com o seu com porta- gelizou e foi assim que ele discipulou. Se reduzirm os todos os
m ento sem pre glorificou o Pai e com o fez muitas outras coisas. milagres e ensinam entos de Jesus à sua essência, nós o encon-
Devemos im itar Jesus em todas essas áreas. Mas nessa grande e trarem os interpretando a Palavra de Deus e aplicando esse
complexa questão da imitação, vamos analisar as coisas de um a ensinam ento à vida real. Nesse processo, ele nos deu algu-
m aneira um pouco diferente. mas ideias claras de como as pessoas, especialm ente aquelas
Jesus é o único m ediador entre Deus e o homem. Por causa que nele creem, devem interpretar a Escritura. Ele nos deixou
disso, você pode dizer que Jesus enfrenta dois cam inhos ao m es- algumas trilhas para seguirmos. Mas m uitos se perdem pelo
mo tempo: o cam inho em direção a Deus Pai, no lugar do ser cam inho — para esses, a interpretação das Escrituras está mais
humano, e o cam inho em direção ao ser humano, para nos apro- relacionada à instrução do que à imitação.
ximar de Deus Pai. D urante seu m inistério terreno, em todas as A m aioria dos cristãos se satisfaz deixando a interpreta-
coisas que fez com sua face “de hom em ” (os milagres, a vida de ção para seu pastor ou para os com entaristas. Não há n en h u -
oração constante, o ensino e tudo o mais), Jesus concentrou real- ma dúvida de que os com entários podem ser ferram entas úteis.
mente sua atenção em duas coisas: evangelismo e discipulado. Eu os uso e os aprecio, mas, quando leio com entários, às vezes
Jesus passou a m aior parte de seus três anos de m inistério penso: eu jam ais extrairia o que eles extraíram dessas palavras.
público, com o está registrado nos Evangelhos, pedindo às pes- Esses com entaristas são m uito inteligentes e, às vezes, podem
soas para que cressem nele — evangelizando — e ensinando aos ser até m esm o intimidantes.
novos fiéis como viver — discipulando. Na verdade, tudo que Q uerem os entender a Escritura corretam ente, e os com en-
Jesus fez em seu m inistério público serviu para um desses dois tários podem nos ajudar a fazê-lo, mas essa é a questão. Será
objetivos básicos — os m esm os objetivos que ele nos deixou na que um diplom a de uma boa escola bíblica ou um curso de pós-
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graduação em um bom sem inário são os únicos cam inhos para resultou em m aluquices e tolices lamentáveis. Por um lado,
interpretar corretam ente a Escritura? Você realm ente acredita Cam ping espalhou cartazes de rua alertando sobre o fim do
que foi isso que Deus determ inou? E nós, será que ficaremos mundo, e m uitos de seus seguidores deixaram seus empregos,
paralisados até lerm os os com entários de alguns estudiosos? abandonaram suas posses e acabaram ficando seriam ente desi-
Acho que não. Pelo m enos não de acordo com Jesus. Entre as
ludidos em relação à sua fé quando o Dia do Juízo não acon-
coisas que Jesus espera que façamos está imitá-lo na correta
teceu. Por outro lado, os não-cristãos, tirando proveito desse
interpretação da Bíblia. espetáculo, passaram a ter mais razões para zom bar do cristia-
Sejamos im itadores de D eus — sejam os intérpretes,
nismo. Eu não posso culpá-los.
com o Jesus. Nada disso teria acontecido sem um a interpretação equi-
Em bora a tarefa não seja fácil, m inha esperança é que você vocada associada a um a crença não expressa entre m uitos cris-
possa encontrar neste pequeno livro um bom início. Precisamos
tãos de que a interpretação bíblica é tarefa apenas de alguns.
de algum auxílio, pois teremos de lidar não apenas com as nossas
inseguranças sobre a interpretação correta da Bíblia, mas tam - ANTES DE CONTINUARMOS
bém estaremos cercados por um a cultura de má interpretação.
Para começar, deixe-me tentar esclarecer alguns potenciais
Análises políticas, financeiras, metereológicas e esportivas
pontos de confusão. Não estou tentando dizer que analisar a
regularmente exemplificam más interpretações das inform a-
interpretação e a aplicação que alguém faz da Escritura é uma
ções disponíveis. E um sinal dos tempos o fato de que muitos
coisa simples. H á todos os tipos de motivações pecam inosas
norm alm ente podem estar errados e não ficam nem um p ou -
ligadas a com o fazemos o que fazemos. N enhum desses peca-
co embaraçados em relação a isso. Com o sociedade, parecemos
dos e erros são novidade:
estar m uito mais interessados na confiante declaração de uma
opinião do que em saber se tal opinião está correta. Adoramos as
• Podem os aceitar a má interpretação por ignorância,
declarações vazias e pretensiosas de políticos, astros do cinema,
confusão, m á compreensão, ensino inadequado ou sim -
colunistas, ativistas e de todos aqueles que gostam de aparecer.
plesm ente por suprim ir nossa consciência.
Em 2011, algumas pessoas que pareciam ser genuina-
• Podem os interpretar mais ou m enos corretam ente e
m ente cristãs acreditaram com sinceridade que o m undo iria
depois fazer a aplicação de form a incorreta.
acabar. Elas chegaram a essa conclusão por terem confiado
na interpretação da Escritura de um biblista cham ado H arold • Em geral aderim os a um tipo de interpretação sem
Cam ping. Esse hom em , que trabalhou no rádio durante mais sequer refletir. Apenas reagimos com base no quanto
de cinquenta anos, fez um a aplicação de sua interpretação que ficamos entusiasm ados com aquilo.
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• Podem os até m esm o escolher a antiga rebelião e sim - e confiamos a outros essa responsabilidade. C ertam ente o ensi-
plesm ente rejeitar a autoridade da Bíblia, mas m esm o no contínuo das Escrituras na igreja por parte dos que foram
essa opção é um tipo de má interpretação, pois, quando cham ados e capacitados a fazê-lo é absolutam ente fundam en-
rejeito a Escritura, ponho m eu próprio julgam ento aci- tal. Na verdade, tal ensino faz parte do exemplo que Jesus nos
ma da autoridade da Palavra de Deus. deixou. Além disso, a instrução pode ser útil e não deve ser
m inim izada nem desvalorizada. Estou simplesmente dizendo
Tam bém não estou dizendo que fazer a interpretação cor- que o pêndulo foi longe demais, o que teve implicações sérias
reta seja a resposta para todas as coisas, ou que a interpreta- e negativas para a vida cotidiana dos fiéis. Todo cristão deveria
ção correta é o propósito central da Escritura, ou que podem os ser capaz de interpretar a m aior parte da Palavra de Deus sim -
reduzir a fé cristã ao fato de estarm os lendo determ inada pas- plesmente seguindo o modelo que Jesus nos deixou.
sagem de form a precisa. Mas estou dizendo duas coisas: Contudo, antes de chegarmos a esse ponto, devem os ver o
quanto é com um e o quanto é realm ente prejudicial a má inter-
1. Sem um a boa interpretação com o parte im portante de pretação. Ela é a adversária que espera por nós.
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
A ORIGEM DA MÁ INTERPRETAÇÃO
A má interpretação, de um a m aneira ou de outra, pode ser vista
em todos os atos de desobediência à Palavra de Deus. E, como
todas as outras coisas na criação, a má interpretação teve seu iní-
cio. Na verdade, ela é tão antiga quanto a humanidade. Desde o
No filme O livro de Eli, Denzel Washington representa o papel
início da Bíblia somos apresentados à má interpretação. No final
de Eli, um nômade misterioso e solitário em um m undo devas-
da Bíblia, temos um a visão de com o será quando todos os traços
tado pela guerra nuclear. Parece que a Eli foi dado um livro, e ele
da má interpretação forem removidos e, finalmente, veremos e
o tran sp o rta do que sobrou de todo o território dos Estados
conheceremos a Deus como ele realmente é. Entre o início e o
U nidos para um destino que somente ele conhece. Em determ i-
final, a Bíblia se ocupa de confrontar e corrigir a má interpreta-
nado ponto, o livro é roubado, e Eli e um a jovem com panhei-
ção e, em seguida, de tentar identificar e aplicar de forma ade-
ra fazem de tudo para recuperá-lo (ele abre mão de sua solidão
quada a boa interpretação. Poderíamos dizer que seguir a Deus
por um tempo, pois a garota realmente é m uito bonita). D urante
em seu projeto de boa interpretação e boa aplicação é a tarefa de
um a intensa cena de ação, Eli arrisca sua vida para salvar a garo-
vida de todo cristão. Os riscos são altos. De Adão e Eva a Harold
ta. A essa altura todo m undo sabe que o livro misterioso carre-
Camping, as consequências da m á interpretação têm sido catas-
gado por Eli é a Bíblia. Q uando a garota lhe pergunta por que
tróficas. A Escritura nos fornece detalhes explícitos da catástro-
ele tinha salvado sua vida, ele responde com aquilo que tinha
fe, com evidências suficientes para julgarmos a má interpretação
aprendido na Bíblia. “Você deve fazer pelos outros aquilo que
por toda a vida. O pior desses atos é o primeiro deles — o maior
quer que eles façam por você. Pelo menos, foi isso que aprendi.”
e mais trágico erro de interpretação da humanidade.
Mais adiante no filme, percebem os que Eli tinha m em o -
rizado toda a Bíblia. Assim, depois de decorar 800 mil pala-
Ora, a serpente era o mais astuto de todos os anim ais do cam -
vras, m uitas delas relacionadas à ideia de um Deus soberano e
po que o S e n h o r Deus havia feito. E e la disse à m ulher: Foi
transcendente — que executa seu plano para redim ir a h u m a-
assim que D eus disse: Não com ereis de nen h um a árvore do
nidade de um destino que faria a devastação nuclear parecer a
D isneylândia sem aquelas filas enorm es e com um a com ida 30
DO JARDIM PARA A SEARA
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Satanás também eleva a aposta ao oferecer o poder da inter- própria habilidade de escolher entre um a e outra interpretação.
pretação independente. Q uando Satanás disse: “sereis com o Na verdade, antes de Eva pegar o fruto, o hom em já tinha assu-
Deus, conhecendo o bem e o m al”, ele ofereceu a Adão e Eva m ido autoridade “como a de D eus” para escolher entre o certo
um falso poder de interpretação. Em português claro, ele os e o errado.
enganou. Ofereceu a eles um a horrível interpretação de Deus,
sabendo que, no m ínim o, as consequências seriam graves. QUEM PODE ESCOLHER?
Não fica claro se Satanás sabia o que aconteceria se eles
O primeiro pecado foi a arrogância na interpretação. Desde
com essem do fruto. Mas fica claro que ele conhecia Deus. Ele
então, a hum anidade tem sofrido da constante praga da arrogân-
sabia que Deus faz o que ele diz, no entanto ofereceu a Adão e
cia — a arrogância de agir com base em sua própria visão do que
Eva um a m á interpretação do C riador e do papel deles com o
é certo e do que não é. Adão e Eva escolheram assumir um a falsa
criaturas. O que é realm ente im pressiona é que ele ofereceu a
autoridade para interpretar e separar o certo do errado. Você e
Adão e Eva tudo o que eles já tinham . Eles já eram como Deus
eu geralmente escolhemos agir com base nessa mesma autori-
(pois ele os tinha criado à sua imagem, Gn 1.26) e já tinham
dade falsa. De certo modo, nós realmente nos tornam os como
tudo de que precisavam para saber sobre o bem e o mal.
Deus, mas isso não passa de uma imitação barata e ordinária.
Você se recorda do que Deus disse repetidas vezes sobre a
Essa questão da autoridade — o que é bom e o que é mau
criação? Ele tinha declarado que a criação era boa. No jardim ,
e quem pode decidir a respeito disso — é uma questão perigosa.
estava claro que Deus era bom , que sua criação era boa e que
Em últim a análise, o que está em jogo é um a com preensão ver-
obedecer a ele era bom. Tudo que estivesse fora desse círculo
dadeira ou falsa da Palavra de Deus. Sempre que acrescenta-
não era bom; era mau.
mos algo ou desconsideram os a Palavra de Deus, estamos em
Assim, Satanás tentou Adão e Eva servindo-se de um a
essência dizendo que temos autoridade sobre o próprio Deus e
dupla interpretação do que Deus tinha dito: ele questionou a
que somos os únicos árbitros da verdade.
justiça de Deus e a suficiência de sua definição de bem e mal,
N orm alm ente, todos nós fazemos interpretações e aplica-
de certo e errado.
ções em nosso próprio benefício (esse é o m otivo de sempre
Há um a lição, aqui, que se aplica a muitos exemplos de
haver três lados de um a m esm a história: o seu lado, o m eu lado
interpretação. Adão e Eva confiaram não apenas na interpreta-
e o lado de Deus). Q uando nos beneficiam os de nossa própria
ção que a serpente fez (das palavras de Deus), mas tam bém na
interpretação, é difícil mudar. Não que a m udança seja difícil.
própria interpretação que fizeram (das alegações de Satanás).
A m udança em si não é difícil. O desejo de m udar é que é difícil.
Eles tinham de confiar em si m esm os para determ inar que a
A maioria das pessoas não deseja interpretar as coisas de forma
serpente estivesse certa e Deus, errado. Eles confiaram em sua
diferente. Elas não querem m udar — se acreditarem que são
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
beneficiadas por um a interpretação equivocada. Com o Eva, como rei, preferindo alguém que pudessem ver. O povo queria
acreditam os na distorção criada pela serpente. Acreditamos que um rei que se parecesse mais com os reis das nações vizinhas do
as consequências de nossas ações pecaminosas não serão assim que ser governado pelo Rei que criara todas aquelas nações.
tão ruins como Deus disse que seriam. Esse é e sempre será basi- Deus atende a seu pedido e, por meio do profeta Samuel,
camente o mesmo engano e a mesma m á interpretação. escolhe Saul. Mas a obediência de Saul im itaria a arrogância de
Nossa interpretação define nossa realidade prática. C om o Adão. O fato de Saul cair da graça revela sua má interpretação
intérprete, Deus definiu a realidade para Adão e Eva bem antes do conceito de graça.
da Queda. Sem paixões concorrentes, sem propósitos confli- Depois de Saul ter sido escolhido rei, Samuel lhe diz estas
tantes. Mas esse padrão interpretativo não desapareceu junto palavras: “Tu descerás antes de m im para Gilgal, e eu descerei
com a inocência de Adão e Eva. Ele ainda existe, ainda se aplica ao teu encontro para oferecer holocaustos e sacrifícios de ofer-
e ainda afeta fundam entalm ente quem somos nós hoje. Esse tas pacíficas. Esperarás sete dias, até que eu chegue e te declare
m odo de interpretação perfeito não é m uito fácil de discer- o que deverás fazer” (ISm 10.8). Essas instruções foram dadas
nir, mas ainda é a Verdade. Com o verem os mais adiante neste no contexto de outros acontecim entos que, juntos, provavam
livro, esse foi o motivo de Jesus ter ensinado a interpretação e a que Saul tinha sido escolhido por Deus para ser o rei de Israel e
aplicação corretas da Palavra de Deus com o principal meio de que Deus estava usando Samuel com o seu porta-voz.
com pletar sua missão de salvar. Por um determ inado período, tudo correu bem. Saul
começou a ter grandes vitórias militares contra os mais tem i-
VARIAÇÕES SOBRE O TEMA dos inimigos de Israel. No capítulo 13, Saul e seu filho Jônatas
Vamos aprender a partir de alguns exemplos de má interpre- reuniram um pequeno grupo de soldados e se dirigiram para o
tação. Prim eiro observarem os como Saul cedeu sob pressão. acam pam ento dos filisteus, atacando-os e derrotando-os com
Depois veremos com o Satanás é especialista em interpretar a facilidade. A nação de Israel celebrou a vitória, reunindo-se ao
Palavra de Deus fora de seu contexto. Finalmente, vamos m os- redor de Saul enquanto ele tocava a trom beta em triunfo. Mas,
trar o que há de m elhor no assunto, os super-heróis vestidos quando os filisteus reuniram um grande exército para se vin-
com a capa da má interpretação, a Liga dos Extraordinários gar de Israel, os israelitas entraram em pânico e se espalharam,
Enganadores — isso mesmo, os fariseus. ficando cada um por si.
Seguindo as instruções de Samuel, Saul se dirigiu a Gilgal.
O rei Saul Ali, como lhe fora dito, ele esperou sete dias por Samuel. Mas o
sétimo dia veio e se foi, e o que Saul esperava que acontecesse
Os capítulos 10 a 15 de 1Samuel m ostram a realidade da má
não aconteceu: Samuel não apareceu para oferecer holocaustos
interpretação e suas consequências. Os israelitas rejeitam a Deus
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
e ofertas pacíficas a D eus em nom e de Saul. Implícitas nessas faria estava mais certo do que errado. Ele teve de convencer a
ofertas estariam às bênçãos de Deus sobre Saul e sobre a nação si mesmo que tin h a um a “boa razão” para o que estava prestes
de Israel em tem pos de crise, mas Samuel não pôde ser encon- a fazer, em bora o fizesse contrariando as instruções de Deus.
trado em lugar nenhum , e o exército dos filisteus se aproxi- Nós não sabemos exatam ente o que Saul pensou. Não
mava em grande núm ero, com o o da “areia que está à beira do sabemos detalhes de seu conflito interior. Mas sabem os que
m ar” (ISm 13.5). forçou a si m esm o a fazer algo que, a princípio, parecia real-
Saul ficou apavorado. Ele procurou relem brar tudo aqui- m ente um a m á ideia. Saul chegou a um a interpretação da Pala-
lo que o profeta Samuel o tinha instruído a fazer. O lhou ao vra de Deus que abriria a porta para que ele a desobedecesse.
redor de form a frenética, esperando que Samuel aparecesse. A natureza exata do pecado de Saul não fica m uito clara.
Os segundos pareciam horas. Os filisteus estavam prontos para Alguns estudiosos dizem que está relacionada a 1Samuel 10.8
atacar os judeus; já estavam tão perto, que Saul podia até sentir e ao fato de que apenas os sacerdotes tinham autoridade para
o cheiro deles. A confiança de Israel estava desm oronando, e oferecer sacrifícios a Deus. O utros acreditam que tem a ver
foi assim que Saul decidiu agir. com outra ordem não registrada na Bíblia. As duas hipóteses
Saul tomou as ofertas e apresentou-as a Deus. Quando ter- são possíveis. Em ambos os casos, a decisão de Saul de desobe-
minou, Samuel se aproximou, parecendo não estar nada satisfeito. decer à ordem de Samuel para esperá-lo foi ruim — tão ruim
que lhe custaria seu reinado.
Samuel perguntou: Q ue fizeste? Saul respondeu: Vi que o exér- Por trás de cada pecado há um a interpretação equivocada
cito estava me abandonando e se dispersando, e que tu não da Palavra de Deus. E essa interpretação equivocada levou Saul
chegavas no tem po determ inado, e que os filisteus já estavam a pecar contra Deus. Mais tarde voltaremos a Saul, mas agora
reunidos em M icm ás, então eu disse: Agora os filisteus m e ata- vamos considerar outro exemplo de má interpretação.
carão em Gilgal, e eu ainda não busquei o favor do S e n h o r .
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Bíblia ainda nem foi traduzida. E eu lhe garanto que a co m - Aqui, Satanás relembra a Jesus a Escritura, ao citá-la sem
preensão que ele tem dela é m uito m aior e mais p ro fun da levar em conta todo o conselho de Deus. Jesus não se im pres-
que a do personagem Eli, de D enzel W ashington, recitando siona, para dizer o m ínim o. M esmo depois de 40 dias no deser-
a Regra de Ouro. to sem alim ento e água, ele é sábio o bastante para saber que
Satanás conhece extrem am ente bem a Bíblia, não por Satanás está sendo desonesto.
reverência a Deus, mas por querer nos confundir, assim com o Com o Jesus conhecia todo o conselho de Deus, ele expõe
tentou fazer com Jesus no deserto. Satanás é mestre na arte de a interpretação de Satanás pelo que ela realmente é: “Também
nos tentar com a m á interpretação da Palavra de Deus e, em está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4.7). O reló-
Mateus 4, podem os ver como ele faz isso. gio marca as doze badaladas. O jogo acabou. Apenas o diabo
Essa cena é bem irônica, se levarm os em consideração não sabe disso.
quem está falando com quem. Satanás usa a Palavra de Deus A interpretação equivocada pode ser encontrada por toda
para tentar aquele que é a própria Palavra de Deus! Parece lo u- a Escritura, mas Adão, Eva, Saul e Satanás são apenas alguns dos
cura, mas isso m ostra o quanto nosso inimigo pode ser “p ira- culpados. Há m uito mais espaço no trem da má interpretação, e
do” de vez em quando. os fariseus andam por seus corredores, recolhendo as passagens.
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
a Escritura, de m odo que o israelita típico entendia a Bíblia seguir a Palavra de Deus. Eles foram capazes de construir um
com o sendo algo totalm ente voltado para o legalismo. sistema que os exaltava, oprim ia o povo, interpretava Deus de
A m esm a tendência de olhar para a Bíblia, interpretá-la forma equivocada e im pedia qualquer possibilidade de oposi-
erroneam ente e depois voltar e olhar para as Escrituras à luz da ção. Não foi à toa que Jesus os expôs.
própria interpretação falsa encontra-se no centro do legalismo Não é de surpreender, dado o papel dos fariseus como
que assolou o povo de Deus desde o princípio. supostos guardiões da Verdade, que os conflitos que Jesus teve
A lei de Moisés foi dada por D eus para revelar a incapa- com eles tenham sido fundam entalm ente sobre interpretação.
cidade da hum anidade de obedecer a Deus. O m odo com o os As ações fluem do entendim ento. A aplicação flui da interpre-
israelitas, por toda a sua história, se afastaram de Deus em vez tação. Os fariseus sabiam disso tão bem quanto Jesus. Assim, o
de se converterem a ele, foi evidência de um d n a espiritual que conflito fundam ental entre eles era que os fariseus esperavam
prova sua culpa. A rebelião se tornou a identidade dos israeli- que Jesus agisse mais como eles e Jesus esperava que os fariseus
tas. O juízo, sua condição diária. agissem mais com o Deus.
O surpreendente é que os fariseus não conseguiam enten - Esses conflitos específicos que Jesus teve com os fariseus
der isso. Aqueles que receberam a tarefa de interpretar o Antigo podem parecer distantes de nós, pois não pertencem os à cul-
Testamento ao povo para quem ele fora escrito não consegui- tura do judaísm o do segundo templo. Em certos casos, eu não
ram entender o argum ento fundam ental nele contido. (O que, tinha a m enor ideia sobre o que Jesus e os fariseus discutiam . E
ironicam ente, apenas com prova ainda mais esse argum ento.) difícil relatar os detalhes de suas discussões, mas é fácil relatar
Os fariseus não apenas acreditavam ser possível obedecer a batalha que está por trás da interpretação.
à Lei, eles pensavam que era um ato de fidelidade a Deus acres- Mateus 12.1-14 contém dois grandes exemplos. Nos dois
centar mais regras a ela! O que é pior, esses hom ens tinham casos, a questão da interpretação implica o que é e o que não é
o incrível talento de dizer aos outros o que fazer, quando eles lícito fazer no sábado. Mas a verdadeira questão é quem tem auto-
m esm os não o faziam. Aliada à sua má interpretação da lei ridade para interpretar a Escritura, como e por quê. Fica óbvio,
mosaica, os fariseus deram um passo além e fingiram que outras nessa passagem, que Jesus está dando oportunidade aos fariseus
partes da lei não existiam. A m á interpretação com binada à de defenderem o ponto de vista do legalismo, de m odo que ele
observação e à aplicação seletivas fazia desses hom ens verda- possa reverter a situação e trazer à tona a verdade sobre o assunto.
deiros hipócritas. Q uando Jesus veio, olhou para eles e decidiu Duas questões são abordadas nessa passagem:
convidá-los para participar de um novo jogo. Ele não apenas
m udou as regras, mas alterou todo o jogo. • Se você estiver cam inhando por um cam po de cereais
Ali estava um grupo de hom ens responsáveis p or dizer no sábado, a lei de Moisés perm ite que colha algumas
ao povo escolhido de Deus como deveriam ler, interpretar e espigas e as coma enquanto caminha?
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DO JARDIM PARA A SEARA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
• Se alguém estiver sofrendo fisicamente e for sábado, a lei fariseus se apresentam de tal m odo que podem os concluir um a
de Moisés lhe dá permissão para tentar curar a pessoa? coisa: não somos m uito diferentes deles.
Interpretação é como vivemos a vida a cada m om en-
Os fariseus acreditavam que a resposta para as duas p e r-
to de cada dia. O mais im portante tipo de interpretação é o
guntas fosse não. Mas eles não baseavam suas respostas às p er-
que entendem os ser o conteúdo, a autoridade e o propósito
guntas naquilo que a lei de Moisés de fato dizia especificamente
da Bíblia e, portanto, quem entendem os ser Deus. Mas, como
sobre o sábado ou naquilo que ela ensinava em geral sobre a
os fariseus, todos nós podemos tender a confiar mais em nossa
natureza e o propósito do sábado. Jesus, porém , baseava-se na
interpretação dessas coisas do que na própria Bíblia.
Lei. Ele m enciona algumas passagens do Antigo Testamento
Interpretar não é o mesmo que saber o que está escrito na
e lança um a bom ba falando sobre com o ele tem toda a auto-
Bíblia. Com o parte de seu treinamento, os fariseus decoravam a
ridade sobre o sábado. Jesus é o grande intérprete. Ele vai ao
maior parte do Antigo Testamento e, mesmo assim, eles o enten-
coração da Palavra de Deus.
diam de um a forma totalmente equivocada. Por não consegui-
Mas isso não era bom o suficiente para os fariseus. Talvez
rem entender corretamente o Antigo Testamento, os fariseus
a preocupação deles fosse a de não falhar miseravelm ente em
também não conseguiam entender a Deus corretam ente — e
cum prir a lei de Deus ou talvez eles realm ente pensassem que
isso, em ultima análise, é o grande perigo da má interpretação.
entendiam m elhor a lei de Deus do que qualquer pessoa, e por
Com o o meteorologista ou o hom em do tem po da t v
isso faziam listas que “explicavam” o que as pessoas deveriam
erram constantem ente em suas previsões, mas continuam a
ou não fazer para ser piedosas. A interpretação dos fariseus, na
fazê-las todos os dias com confiança e um grande sorriso no
verdade, tornava-se a “palavra de Deus”, pois as pessoas acre-
rosto, podem os agir com a segurança de verdadeiros idiotas
ditavam que era isso que Deus queria que fizessem, enquanto a
sobre nossa interpretação da Escritura. Mas não precisamos
verdadeira Palavra de Deus era colocada de lado.
mais agir dessa maneira. A despeito de toda m á interpreta-
ção que nos cerca, há lugar para regozijo. O Filho de Deus,
PREPARANDO-SE PARA ENCONTRAR
OINTÉRPRETE o intérprete por excelência, chegou e nos ensina a interpretar
sua Palavra corretam ente. Não precisam os viver na escuridão
Você algum a vez já parou para pensar sobre o motivo de os
teológica sobre a Bíblia. A estrutura interpretativa perdida no
Evangelhos darem tanta atenção aos fariseus? Será que não é
jardim do Éden ainda está disponível para nós. Deus Filho veio
para que nós, cristãos, sem pre que nos reunim os, possam os
para que pudéssem os recuperar um correto entendim ento de
falar com o eles eram m aus sem correr o risco de fazer fofo-
Deus, um correto relacionam ento com Deus e a correta inter-
ca? Não acredito nisso. As lições do Novo Testamento sobre os
pretação de sua santa Palavra.
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
a possibilidade de falsa interpretação, oposição consciente, Assim, você poderia dizer que João 1 é simplesmente a
recusa, rebelião e rejeição. Diferentem ente de todo o restante melhor metade de Gênesis 1. É um a eterna repetição, uma
do m undo natural, Deus concedeu o livre-arbítrio ao hom em , representação da verdade e outra chance para a hum anidade
e livre-arbítrio requer a habilidade de interpretar, avaliar, pesar interpretar a Palavra de Deus de form a correta e agir em con-
e escolher — não apenas responder de acordo com as leis n atu - formidade com ela. Gênesis coloca em ação uma série de acon-
rais ou com o instinto. tecimentos que resultariam na lei de Moisés, mas João 1 revisa
esses m esm os princípios para revelar C risto neles, resultando
INTÉRPRETES DO ALFA E ÔMEGA
em algo bem m elhor: a salvação através de Jesus, a Palavra.
Nós fomos criados à imagem de Deus. Fomos criados para João nos m ostra o grande pacote no qual o plano de Deus
pensar e interpretar. Somos as únicas criaturas da face da Terra estava contido: Jesus, a Palavra, o princípio e o fim da criação,
que interpretam a Palavra de Deus. Nós a ouvimos, refletimos o prim eiro e o últim o.
sobre seu significado e agimos com base em nossos pensam en-
tos e conclusões. JESUS, INTÉRPRETE E OBJETO DA ESCRITURA
Isso é crítico p ara o entendim ento de Jesus como Logos ou Jesus é o principal intérprete da Escritura, pois é o principal
Palavra, na passagem de João 1. Somos intérpretes por desígnio objeto da Escritura. Somente Jesus sabe o que a Escritura quer
de Deus, de m odo q u e os atos mais sublimes e significativos de dizer, pois ela fala sobre ele. Q uando esteve na terra, Jesus pre-
interpretação em q u e nos engajamos são nossas próprias inter- gava um a mensagem para que as pessoas se arrependessem e
pretações da Palavra de Deus. Na época do Novo Testamento, cressem nele. Ele não era tím ido nem vago a respeito de quem
isso coloca Jesus — o Verbo de Deus — com o nosso principal era, do que estava fazendo ou do motivo de fazê-lo.
objeto de interpretação. Nós interpretam os quem é Jesus, o que Como mencionei no capítulo 1, poderíamos dizer que o
ele disse e o que suas palavras significam e, então, determ ina- foco da vida de Jesus estava no evangelismo e no discipulado, os
mos com o reagirem os à interpretação que fizemos. quais ele levou adiante ao com unicar a interpretação correta e
Antes da encarnação, o principal foco de interpretação era ao fazer a correta aplicação da Palavra de Deus. Essa realidade é
a Palavra de Deus escrita e falada. Em Gênesis 3, essa Palavra frequentemente descartada quando se trata de imitar aquilo que
foi mal in terp retad a e mal aplicada. Isso trouxe o pecado para Jesus fez, mas, por incrível que pareça, muitas das coisas mais
o m undo. Hoje, a P alavra de Deus corretam ente interpretada e surpreendentes registradas na Escritura não são os milagres, e
aplicada é a única co isa que levará os pecadores em segurança sim as ocasiões em que Deus explica sua própria Palavra para o
para fora deste m u n d o . povo e, a seguir, m ostra a ele como aplicá-la. Esse é o padrão do
discipulado cristão e um a das principais maneiras pelas quais
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
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0 que torna alguma coisa ilegal no sábado? Nessa passagem, Jesus basicamente diz: "Q uer dizer que
vocês dão grande importância à santificação da adoração no
O u não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no tem plo templo? Então tenho novidades para vocês"’ A expressão que
infringem o sábado e ficam sem culpa? (M t 12.5) Jesus usa — aqui está quem é m aior do que o templo — a p o n -
ta para ele mesmo. Seu argum ento era que, se os regulamentos
A segunda interpretação de Jesus nessa passagem enfatiza relacionados ao templo podiam ser colocados de lado em casos
novam ente a im portância da interpretação correta da Palavra de necessidade, quanto mais poderiam ser colocados de lado
de Deus. Ele começa com a m esm a pergunta: “O u não lestes?”. na presença de alguém muito maior do que o templo?
Dessa vez, Jesus está se referindo aos deveres dos sacerdotes Assim, Jesus começa a corrigir a visão que os fariseus
relativos ao sábado. (Com “infringem o sábado”, ele se referia tinham de Deus. Não fica claro se eles entenderam que Jesus
às ações devotadas àquilo que não era sagrado ou bíblico, ações estava se referindo a si m esm o como sendo "maior do que o
que são mais seculares do que religiosas.) templo”. Talvez eles não tenham dado importância ao que Jesus
D evido ao fato de, no sábado, as ofertas serem dob rad as disse. De qualquer modo, com essa declaração Jesus começa a
(v. N m 28.9,10), esse era, de longe, o dia em que os sacerd o - m udar a teologia. Kle começa discutindo as regras relativas ao
tes m ais trabalhavam — um dia que não chegava nem p erto sábado, mas agora volta sua atenção para o Senhor do sábado.
de um dia de descanso. E o trabalho que eles estavam fazen -
Jesus abordará a visão que os lariseus têm tíc Deus declarando
do era, na verdade, o m odo com o ganhavam a vida. T ecni-
a realidade de que ele c Deus. Mais uma vez, ele expõe a aplica
cam ente, portanto, os sacerdotes desrespeitavam a lei todos
ção da interpretação equivocada (a má teologia) simplesmente
os sábados! C ontudo, da perspectiva de Deus, a adoração
ao interpretar, de forma correta, a Escritura.
no tem plo tin h a precedência, lição que é a m esm a dada em
Jesus corrige a interpretação que os lariseus iaziam da
1 Sam uel 21. Os sacerdotes descum p riam a lei, no en tan to
Palavra de Deus, pois era ali que o erro deles começava, levan-
estavam isentos de culpa, pois servir ao povo é m ais im p o r-
do a um a má aplicação. Mas tam bém podem os ver que a inter-
tante do que regras rituais.
pretação e a aplicação que os fariseus Iaziam moldavam tudo
Qual seria a visão correta de Deus em aquilo que eles pensavam sobre Deus. Por serem os fariseus,
relação ao sábado? os mestres de sua época, a visão que tinham de Deus tendia a
se tornar a visão que o povo tinha de Deus, e ela estava longe
M as eu vos dig o que aq ui está q u em é m a io r do q u e o da verdade. Assim como nos dias de hoje, quando as pessoas
te m p lo (Mt 12.6). esperam que os pastores interpretem as Escrituras para elas e
aceitam sua aplicação sem m esm o refletir sobre as Escrituras,
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os fariseus carregavam em seus om bros u m a grande responsa- Desde o princípio, é possível ver claram ente a m isericór-
bilidade e não a d esem penhavam bem. dia de Deus. Ele poupou Adão e Eva da com pleta e imediata
Foi por esse motivo que Jesus prosseguiu, fazendo u m a aplicação de sua ira, dando a eles e a todos nós a oportunidade
declaração impactante sobre quem Deus cie fato era. de nos converterm os a ele e serm os salvos. Na verdade, a res-
posta de D eus ao prim eiro pecado é um ato de m isericórdia e
m
: mi e a reiacao cte i$ems a bondade: “E o Se n h o r Deus fez roupas de peles para Adão e
sua mulher, e os vestiu” (Gn 3.21).
Sc, poroni, soubésseis o que signilica: Quero misericórdia, e Até m esm o na Lei, com todos os seus regulamentos, Deus
não sacriíícios, não condenaríeis os inocentes. Porque o Pilho ainda arrum a meios de m ostrar sua m isericórdia para todos
do hom em é Senhor do sábado (Mt 12.7,8). aqueles que não conseguem cum prir a Lei — o Dia da Expia-
ção, em Levítico 16. Esse é um Deus misericordioso. Ele não
Os lariscus Itmdameníalnieriíe acreditavam que Deus era é como os fariseus: legalistas, duros, hipócritas e implacáveis.
como eles. No seu rígido legalisnio, acreditavam que estavam Esse Senhor m isericordioso entrou em cena para confrontar os
agindo de lorma consislente com a vontade e o caráter de fariseus e seu impiedoso legalismo.
Deus. Assim, Jesus mais uma ve/ apela para a Palavra de Deus Jesus encerra essa seção descrevendo a si mesmo, no ver-
a í ini de reinterprclar para eles quem realmente 6 Deus. uQue- sículo 8, com o o Senhor do sábado. A expressão “Aqui está
ro misericórdia, e não sacrilícios” é uma citação de Oseias 6.6. quem”, no versículo 6, como sendo m aior que o tem plo aponta
Hssas referencias à I scritlira podem parecer misteriosas para para alguém. É com o se houvesse vários degraus a percorrer
nós, mas jesus sabe o quanto cias signif icavam para os lariscus. na apresentação que Jesus faz de si mesm o aos fariseus, e agora
Sempre que Jesus cita o Antigo Testamento para os fari- tivéssemos chegado ao últim o degrau.
seus, ele está m o stra n d o onde eles falham na interpretação Q uando Jesus diz aos fariseus que “o Filho do H om em é o
e aplicação que (azem da lei. Aqui, ele essencialmente esta Senhor do sábado”, não fica claro se eles entenderam seu argu-
dizendo: “Vocês pensam que Deus é com o vocês, mas estão mento. Em bora haja vários níveis nessa declaração de Jesus,
errados; Deus e misericordioso e, portanto, coloca os atos de para nosso propósito im ediato enfatizarei apenas este: Jesus
misericórdia acima dos atos de sacrifício. Deus quer que a q u e - está dizendo que Deus não está preso a nenhum a interpretação
les que estão famintos comam, e não que passem fome. Deus hum ana da Lei e certam ente tam bém não está preso à inter-
não condena os inocentes. Para entender a Deus e para aplicar pretação dos fariseus. Jesus interpreta e aplica a lei referente
esse entendimento, é preciso m ostrar misericórdia para com ao sábado de acordo consigo mesmo. Ele não é lim itado pelo
os outros”.
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JESUS, 0 INTÉRPRETE COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
sábado, pois está acima do sábado. Som ente ele sabe o que o Deus não é um m ero fazedor de regras, mas um guia m iseri-
sábado significa e com o deve ser aplicado. cordioso, protetor e redentor. O Salvador faz m uito mais do
que apenas explicar quem Deus é e o que ele significa: ele nos
PRIMEIRO AS COISAS MAIS IMPORTANTES m ostra com o viver de acordo com um a interpretação correta
Por todo o capítulo de Mateus 12 podem os começar a ver o de Deus. Você não pode im itar alguém que não entende. Jesus
padrão da estrutura interpretativa de Jesus. Jesus conhece todo o está se certificando de que nós o entendam os. E, já que ele faz
conselho de Deus. Ele sabe como tudo se conecta. Esse conheci- isso, devemos imitá-lo.
m ento é a lente pela qual todos os fiéis devem aprender a inter-
pretar a Palavra de Deus. Novamente afirmo que isso não requer
um treinam ento formal. O foco de Jesus não é o estudioso. Ele
não corrige a interpretação dos fariseus dando a eles dicas de
estudo ou repreensões por não se esforçarem o suficiente.
Em vez disso, Jesus corrige a incapacidade dos fariseus de
crer. A interpretação deles sobre Deus afeta toda a obediência
da nação a Deus. M ilhões de pessoas tinham sido afetadas pela
m á aplicação devido à m á interpretação que eles faziam. C o n -
tudo, em meio a tudo isso, ainda havia aqueles que tinham fé
em Deus. Pelas evidências do Novo Testamento, parece que a
m aioria dessas pessoas não tinha educação formal.
A educação nunca foi a norm a. C ertam ente ela não é irre-
levante, mas o testem unho das Escrituras é que a educação não
é tão im portante quanto a imitação de Deus. Apenas quando
educação e im itação estão relacionadas de forma apropriada
podem os avançar para a aplicação. A aplicação correta vem
da interpretação correta, e no capítulo seguinte verem os isso
dem onstrado na vida de Jesus.
A m elhor e mais significativa interpretação feita p o r Jesus,
a Palavra, foi sua interpretação de Deus. Ele nos m ostrou que
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
A pergunta que fizeram não foi baseada na curiosidade, e de ter sido im pactado em ocionalmente pela maneira como Deus
sim na anim osidade. Os dem ais judeus presentes na sinagoga usa a ovelha como um a metáfora na Escritura. Lembro-me de
provavelmente prenderam a respiração e, temerosos, olharam ter pensado em Jesus como o Cordeiro de Deus. Também me
uns para os outros. passou pela cabeça que todos nós somos meras ovelhas e que
Mais cedo, naquele m esm o dia, Jesus, refutara verbalm en- os lobos algumas vezes aparecem para tentar nos destroçar. Não
te a interpretação farisaica da lei sabática; agora, ele aplica cor- consigo transform ar em palavras a emoção daquele momento,
retam ente essa m esm a lei. Apelando a um a situação não m uito mas essa em oção teve um profundo impacto sobre mim.
com um no sábado, ele expõe a m á exegese ou m á interpretação M inha outra impressão foi m enos filosófica. Eu me lem -
dos fariseus. bro de como a ovelha era grande. N em todas as ovelhas ficavam
daquele tam anho, mas essa pesava tranquilam ente uns cento e
A LEI DA MISERICÓRDIA trinta quilos. As ovelhas pareciam bolas sujas de algodão cor-
rendo pelo pasto. Um hom em se aproxim ou e perguntou se
E ele lhes disse: Q uem de vós é o hom em que, se tiver u m a só eu queria segurar um a delas, e olhei para ele com o se ele esti-
ovelha e num sábado ela cair num buraco, não a pegará e a vesse me pedindo dinheiro em prestado. Mesmo com a im a-
tirará de lá? (M t 12.11). gem do Salvador como um cordeiro, ou ovelha, ainda fresca na
m inha m em ória, eu não era assim tão sentim ental a ponto de
A pergunta de Jesus revela a hipocrisia dos fariseus. Eles pegar um a delas. Sem m encionar que a ovelha que o hom em
fariam o que consideravam ilegal no sábado se fosse um de me apontou não parecia uma ovelha, mas um búfalo. Aquela
seus animais que caísse num buraco. Mais preocupante é que era bem grande! Talvez o pobre hom em tenha pensado que,
a interpretação que os fariseus faziam do sábado os levava a por eu tam bém ser um cara grande, poderia lidar com a ove-
pensar que os anim ais eram mais im portantes que pessoas. (As lha. Mas im ediatam ente pensei naquele program a de televisão
associações em defesa dos animais devem ter um a dívida de When Animais Attack (Q uando os anim ais atacam). Tudo que
gratidão com os fariseus nesse ponto.) podia im aginar era esse program a sendo apresentado por todo
A pergunta de Jesus começa a deixar claro que esses vir- o m undo m ostrando a ovelha acabando comigo. Não senhor!
tuosos líderes religiosos agiam como se a cura de um hom em Prefiro adm irá-las só de longe.
no sábado glorificasse m enos a Deus do que socorrer um a ove- Portanto, se a ovelha à qual Jesus se referiu fosse do tam a-
lha que tivesse caído num buraco. nho daquelas que vi naquele dia, então definitivam ente daria
Devo confessar que sou totalmente urbano. Somente uma um enorm e trabalho retirá-la de um buraco.
vez estive perto de um a ovelha, e me lembro apenas de duas coisas A hipocrisia dos fariseus era óbvia. D aria m uito mais tra -
sobre essa experiência. Eu já era cristão na ocasião; assim, lembro balho retirar um a ovelha de um buraco do que Jesus curar a
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DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
m ão de um hom em . M esmo assim, a quantidade de trabalho só as batidas de seu próprio coração, mas a pergunta de Jesus
não era a principal preocupação de Jesus. Em vez disso, ele aos fariseus ecoando por toda a sinagoga, e até os animais se
queria m ostrar o valor comparativo da criatura socorrida. alim entando a poucos quilôm etros dali.
“Q uanto mais vale um hom em do que um a ovelha!”, dis- Esses fariseus ficaram perplexos ou eram demasiado tei-
se Jesus no versículo 12. “Portanto, é perm itido fazer o bem no mosos para reconhecer que Jesus estava certo. Você pode ver
sábado.” O principal argum ento que Jesus queria defender é que por que Jesus ficou zangado com eles? Eles criaram um rígido
a conduta ética é sempre mais im portante do que a obediên- conjunto de regras hipócritas e, ainda por cima, acreditavam
cia cerimonial. Era difícil para os fariseus entenderem isso. Na que Deus era exatamente como eles. Não foi à toa que não reco-
interpretação e aplicação que os fariseus faziam da Lei, os rituais nheceram Jesus! Estavam procurando por um Messias que fosse
tinham se tornado maiores que a misericórdia e o amor. Eles duro, hipócrita e que odiasse o pecador — alguém que honrasse
ficaram tão presos a sua m á interpretação, que há muito tinham sua religiosidade e expulsasse do templo qualquer um que fos-
perdido a clareza do que realmente significava honrar o Senhor. se indigno de ali adorar. Eles estavam errados, e o pecado deles
Vamos dar um a olhada naquele m om ento, no final do ver- nos serve de lição: a má interpretação resulta em m á aplicação.
sículo 12, quando Jesus já tinha parado de falar, mas ainda não Se eles tivessem prestado atenção em Jesus, teriam aprendido a
tinha agido. Qual você acha que foi a resposta ao argum ento de interpretar corretam ente a Escritura, o que os teria levado a agir
Jesus sobre o valor de um hom em em com paração com um a de forma correta. Eles teriam entendido o que é misericórdia.
ovelha? Acredito que Jesus falou e depois parou, olhou para
os fariseus por alguns segundos, apenas esperando. E acho MISERICÓRDIA APLICADA
que seu olhar foi seguido por um longo e em baraçoso silêncio,
enquanto os presentes olhavam de um lado para outro, para Então, Jesus disse àquele hom em : Estende a mão. E ele a esten-
Jesus e para os fariseus. deu, e foi restaurada com o a o utra (Mt 12.13).
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DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
tação dos fariseus da lei sabática, pois tudo que fez foi dizer ao propósito do sábado — lem brar-se de agradecer a D eus como
hom em : “Estende a m ão”. provedor de todas as coisas — e o substituíram po r um medo
C ontudo, quando Jesus falou, a realidade foi alterada, constante de desobedecer à regra 37... ou seria à regra 19?
assim com o na criação. A mão do hom em foi m ilagrosam ente As ações de Jesus em M ateus 12 representam a aplicação
curada. Acredito que Jesus teve a intenção de fazer tudo isso. correta baseada na interpretação correta, especialm ente do
Os fariseus estavam acusando Jesus de desrespeitar a lei; assim, quarto m andam ento, aquele referente ao sábado. Vamos olhar
Jesus — o Senhor do sábado — curou o hom em de um a m anei- novam ente duas passagens-chave do Antigo Testamento que
ra que só Deus poderia fazer. Com o todos os demais milagres estabelecem o m andam ento do sábado:
de Jesus, esse foi mais um a prova de sua alegação de ser ele
o Filho de Deus. M ediante essa m ostra sobrenatural de m ise- Lem bra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trab a-
ricórdia, a glória de D eus deveria ser com em orada por todos lharás e farás o teu trabalho; m as o sétim o dia é o sábado do
aqueles que testem unharam o acontecimento. S e n h o r teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum , nem
A cura na sinagoga foi claram ente realizada por Deus. tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva,
Também foi um a indiscutível evidência de que o Filho do nem teu anim al, nem o estrangeiro que vive contigo. Porque
H om em é o Senhor do sábado. Todos, incluindo os fariseus, o S e n h o r fez em seis dias o céu e a terra, o m ar e tudo o que
deveriam se alegrar ao ver Deus agindo em seu meio. Infeliz- neles há, e no sétim o dia descansou. Por isso, o S e n h o r aben-
mente, os fariseus não podiam enxergar além daquilo em que çoou o dia de sábado e o santificou (Éx 20.8-11).
acreditavam: para eles, o que Jesus estava fazendo não era cor-
reto. Tivessem eles se interessado mais pela Escritura e m enos G uarda o dia do sábado, para o santificar, com o te ordenou
por regras que adicionaram a ela, poderiam ter visto que Jesus o S e n h o r teu Deus; seis dias trabalharás e farás todo o teu
estava dem onstrando com o Deus realm ente é. trabalho; m as o sétimo dia é o sábado do S e n h o r , teu Deus.
Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem
INTERPRETANDO O DESCANSO DO SÁBADO tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu
Você se lembra de que, no capítulo 2, aprendem os que os fari- jum ento, nem qualquer animal teu, nem o estrangeiro que vive
seus faziam listas de verificação para a lei de Deus? Eles tinham em tuas cidades; para que teu servo e tua serva descansem como
um a lista com 39 atividades que alegavam ser proibidas no tu. Lem bra-te de que foste escravo na terra do Egito e que o
sábado. M ateus 12.1-14 m ostra atividades perm itidas pela lei S e n h o r , teu Deus, te tirou dali com m ão forte e braço estendido.
mosaica, mas proibidas pela má interpretação que os fariseus Por isso, o S e n h o r , teu Deus, te ordenou que guardasses o dia
faziam da Lei. Por ensinarem essas regras de forma regular e do sábado (D t 5.12-15).
bem rígida, os israelitas acabaram perdendo com pletam ente o
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DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
O sábado se relaciona com o descanso. Desde o princípio, Q uando Deus descansou, em Gênesis 2.1,2, ele descansou de
Deus criou a hum anidade para espelhar sua misericórdia, bon- sua obra, após ver que o que tinha feito era bom. Então, ele
dade e fidelidade. Em bora o pecado obviamente tenha alterado separou um dia para que o hom em , que ele criaria à sua im a-
nossa habilidade de fazê-lo com perfeição, isso nunca m udou a gem, pudesse refletir sobre tudo aquilo que era bom.
intenção de Deus. Teologicamente falando, o descanso é parte de D euteronôm io 5 indica que Israel deveria usar o sábado
como Deus nos ajuda a fazer o que ele nos criou para fazer; ele para refletir sobre sua libertação da escravidão no Egito. Não
representa uma reversão da caótica infiltração do pecado. Em um era um dia de inatividade, mas um dia de adoração e reflexão
grau significativo, o descanso sabático está relacionado a um retor- sobre o Deus de sua salvação. M esmo hoje, nós, com o povo de
no ao jardim do Éden, a um estado de paz. Esse tipo de repouso é Deus, precisamos dessa reflexão. Em toda essa frenética ativi-
um destino — o objetivo final para todo o povo de Deus que crê. dade da vida m oderna, é fácil nos esquecerm os de Deus. É fácil
Q uando Deus escolheu Israel para ser seu povo, ele disse ficarmos entretidos com várias outras coisas e acabarm os não
que iriam deixar o Egito em direção a Canaã para que recebes- lendo a Bíblia nem m editando em com o Deus foi bom ao nos
sem descanso. Para eles, o sábado estava relacionado à im itação salvar pela sua graça.
de Deus, que descansou de sua obra no sétim o dia. Sempre que Os fariseus interpretaram as referências ao trabalho nes-
eles pensavam no sábado, pensavam no descanso. No sábado, sas passagens com o se significassem que deveríamos cessar
toda a nação deveria descansar. todas as nossas atividades. Entretanto, em nenhum a passa-
Os fariseus interpretaram erroneam ente o descanso sabá- gem da Escritura você encontra Deus inativo dessa maneira.
tico com o se significasse evitar quase todo tipo de atividade. Da perspectiva de Deus, o descanso não é a falta de atividade.
Eles viam o descanso como todo adolescente vê — como não Deus sustenta todas as coisas pela palavra de seu poder (Hb 1.3);
fazer nada. Mas parece que a lei sabática tinha em mente um tipo assim, se Deus descansasse de toda atividade no sétim o dia,
específico de atividade que constituía o verdadeiro descanso. tudo deixaria de existir a cada semana! Teríamos seis dias de
O lhe aten tam en te p ara o trab alh o a que Êxodo 20 se atividade e depois, nada. Deus teria de criar tudo a cada sete
refere. O versículo 9 fala sobre fazer “o teu trabalho” seis dias dias, e a m esm a sem ana de criação se repetiria para sempre.
por semana. A seguir, o versículo 10 nom eia categorias dife- Deus claram ente não é fã da inatividade. Foi ele que
rentes de pessoas e animais que não deveriam trabalhar no estabeleceu o trabalho como a tarefa principal do ser hu m a-
sábado. Esses versículos apontam para um tipo específico de no, mesmo antes da queda (v. Gn 2.15). Assim, a preguiça é
trabalho — o trabalho assalariado. O principal foco, aqui, é desprezada na Escritura (v. Pv 19.24). Paulo censurava aqueles
qualquer trabalho para ganhar a vida. na igreja que se recusavam a trabalhar (2Ts 3.6-12). E, apesar
O sábado é o único dia em que os judeus deveriam des- dessa passagem não estar relacionada ao sábado, ela enfatiza a
cansar de seu trabalho para se lem brarem do Deus que provê. conexão entre trabalhar e glorificar a Deus.
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DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Assim, o sábado não está relacionado à inatividade, m as a C orretam ente interpretada, toda a Escritura leva a Jesus.
um tipo de atividade diferente da que fazemos no restante da Toda a página da Bíblia aponta para ele. Ele é o Messias p ro -
semana. A atividade proibida é aquela que produz prosperida- metido, m esm o antes de Adão e Eva serem banidos do jardim .
de m aterial, é a aquisição de coisas legítimas de que precisam os Ele é o Salvador que viveu um a vida santa e foi pendurado na
para viver, mas que podem facilmente tornar-se ídolos. Mas cruz para pagar o preço dos nossos pecados. E ele é o Senhor
nada no m andam ento de descanso sabático proíbe a obra do que retornará no fim. O descanso em Deus, que foi perdido em
amor. A Escritura diz que você deve descansar de seu trabalho, Gênesis 3, está sendo devolvido a nós e será plenam ente devol-
mas nunca diz que você deve descansar da obra de Deus. vido na pessoa e obra de Jesus Cristo.
Essa é a reinterpretação da Palavra de Deus que Jesus Se os fariseus tivessem prestado atenção, poderiam ter
apresenta aos fariseus. Depois, ele exemplifica sua aplicação. começado a perceber isso, antes m esm o de toda a questão a
O descanso não é a falta total de atividade. Descanso é a busca respeito da alim entação e da cura no sábado. Pois, pouco antes
de se fazer aquilo que é bom. Isso é o que Jesus estava fazendo desses encontros, Jesus deixou isso bem claro publicamente:
na sinagoga, diante dos olhos dos fariseus, lançando luz sobre
seu papel como o Senhor do sábado. Jesus tem a autoridade de Vinde a m im , todos os que estais cansados e sobrecarregados,
interpretar a lei corretam ente e tem a habilidade de usar a lei de e eu vos aliviarei.
maneira a dar descanso para seu povo. A Escritura interpretada Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou m an-
de form a apropriada faz justam ente isso — auxilia-nos a enten - so e hum ilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.
der e, portanto, a descansar em Deus. Porque o m eu jugo é suave, e o m eu fardo é leve (Mt 11.28-30).
O DESCANSO É UMA PESSOA Jesus está dizendo que, se aprenderm os com ele e fizermos
a obra que ele faz (“tom ai sobre vós o m eu jugo”), conhecere-
O descanso com o um a categoria teológica se encontra p o r
m os descanso. O descanso não é produzido pela inatividade.
toda a Escritura. D escansar totalm ente em Deus é precisa-
E produzido pelo trabalho, mas o tipo de trabalho correto, o
m ente o que foi perd ido no jardim do Éden; assim, a recu -
trabalho que im ita aquele que é, em si mesmo, nosso descanso.
peração gradual do estado de perfeito descanso bíblico, que
Descansar é tom ar sobre si o jugo da graça, em vez do jugo da
culm ina na volta de Jesus e na instituição do novo céu e da
Lei (o jugo dos fariseus). O cam inho do descanso é o cam inho
nova terra, é central para tudo o que D eus está fazendo hoje
da imitação de Cristo, quando procuram os ser com o ele, que
e tud o o que ele tem feito desde a queda. Toda obra de Deus
sempre confiou com perfeição no Pai para todas as coisas.
através dos tem pos aponta para Jesus com o a plena in terp re-
Em M ateus 11.29, Jesus cita Jeremias 6.16: “Assim diz o
tação de Deus.
Se n h o r : Ide às ruas, olhai e perguntai pelos cam inhos antigos,
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DA INTERPRETAÇAO A APLICAÇAO COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
qual é o bom cam inho, e andai por ele; e achareis descanso para m isericórdia uns para com os outros em palavras e obras. Em
vós”. Descansar é andar pelas veredas que são boas. O descanso todas essas coisas, nós im itam os e obedecem os ao nosso Deus
para nossas almas não resulta da ausência de atividade, m as da trino. Em M ateus 12, Jesus interpretou o sábado corretam ente
presença em fazer aquilo que é bom. Ser m isericordioso, até após os fariseus p o r m uito tem po o terem interpretado de for-
mesm o no sábado, é im itar Jesus. m a equivocada. Jesus podia interpretar a palavra corretam ente
Esse é o motivo de no Novo Testamento não serm os ape- por ser o objeto da Palavra de Deus. Jesus é verdadeiram ente
nas cham ados a descansar em um dia. Somos cham ados a des- o Senhor do sábado. Tudo é sobre ele, portanto ele constante-
cansar em uma pessoa. Descansamos no bem do evangelho. m ente está explicando o que a Escritura quer dizer, e sua inter-
Descansamos em Jesus. O sábado não é para ficar na cam a pretação está sem pre correta.
descansando de todas as coisas. Nós cam inham os e descansa- E im portante que percebamos isso. Em Mateus 12, Jesus faz
mos no bem do sacrifício de Cristo. Nós o fazemos sabendo muito mais do que corrigir a interpretação dos fariseus. Ele faz
que, até m esm o quando falhamos, ele é gentil e humilde. m uito mais do que interpretar a Escritura corretam ente. Ele
A graça e o perdão dos pecados são o jugo de Jesus. E, quan- estabelece a base para a interpretação correta. C om o veremos
do descansamos como cristãos, devemos obedecer à ordem de no próximo capítulo, há aqui algumas pistas para seguirmos.
Deus para nos lem brarm os de que fomos salvos da escravidão do E essas pistas não são extraídas de livros acadêmicos. Nós as
pecado. Nosso Egito não é um país concreto do qual fomos res- encontram os ao analisarmos, de form a cuidadosa, com o Jesus
gatados. Nosso Egito é a poderosa escravidão do pecado. Deve- interpreta a Escritura. Não é tão difícil assim. Não é preciso
mos refletir sobre isso quando descansamos em Deus. É isso que muita inteligência.
significa o sábado. Nós não somos mais chamados a descansar Deus usa os tolos para envergonhar os sábios. Os tolos
em um dia. Somos cham ados a descansar em uma pessoa. podem fazer diferença. Se algum a vez já se sentiu arrasado
Não estou querendo ensinar com o exatamente os cristãos pelos brilhantes intelectuais que conhece, se alguma vez já sen-
deveriam guardar o sábado. Estou apenas dizendo que praticar tiu que deveria estar entre os mais idiotas dos idiotas, você não
o descanso do m odo que Deus deseja para nós, seja no sábado, está sozinho: bem -vindo ao clube!”.
seja em qualquer outro dia, é refletir sobre a bondade de Deus Milhões de cristãos se sentem assim. A pergunta que faço
na criação e na salvação. O m andam ento para o descanso foi é: E agora, o que fazer?
dado coletivamente para a nação de Israel, e acredito que deve-
ria ser um a prática coletiva para a igreja.
Para a m aioria de nós, é isso que alcançamos nas reuniões
dominicais. Reunim os-nos coletivamente, como um corpo
local de fiéis, para cantar, celebrar, refletir e expressar am or e
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Devemos perm anecer em relativa ignorância bíblica por toda As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi profeta, po d e-
a vida? Ora, Jesus não disse que precisam os ir para um a escola roso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como
para entender as Escrituras, então com o podem os nos aperfei- os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram
çoar no entendim ento da Bíblia? para ser condenado à m orte e o crucificaram. Nós esperávamos
que fosse ele o que traria a redenção a Israel. Além disso, já faz
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
três dias que essas coisas aconteceram. Também é verdade que • A Bíblia não trata de Israel nem da igreja.
algumas m ulheres do nosso meio nos encheram de espanto; pois • A Bíblia não trata da teologia reformada ou da arminiana.
foram de m adrugada ao sepulcro dele e, não achando o corpo, • A Bíblia não trata do dispensacionalism o ou da teologia
voltaram, afirm ando ter tido um a visão de anjos que diziam que da aliança.
ele está vivo. Alguns dos que estavam conosco foram ao sepul-
cro e confirm aram o que as m ulheres haviam falado, m as não
Não estou dizendo que essas coisas são irrelevantes para o
o viram. Então ele lhes disse: Ó tolos, que demorais a crer no
cristianismo. Essas e muitas outras questões secundárias podem
coração em tudo que os profetas disseram! Acaso o Cristo não
contribuir para o nosso entendim ento da Escritura e da vida
tinha de sofrer essas coisas e entrar na sua glória? E, começando
cristã. Mas todas essas questões não são tão im portantes quanto
por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a seu o Salvador. Tudo na Bíblia que não falar sobre Jesus serve como
respeito em todas as Escrituras (Lc 24.13-27). um elo em um a cadeia de ideias que leva a Jesus. A Bíblia toda,
cada página, fala sobre Jesus. Isso não significa que essas outras
Jesus interpretou as Escrituras dem onstrando que elas questões não tenham importância; significa apenas que sua
falavam sobre ele, aqui e em qualquer outra passagem. O p ro - im portância é secundária.
cesso de revelar com o a Escritura fala sobre o Filho foi fu n d a- Mais um a vez, só para ficar claro:
m ental durante a vida terrena de Jesus. Sua vida e seu ensino
dem onstravam que a Escritura falava sobre ele. E, com a ajuda • A Bíblia não trata dos achados arqueológicos
do Espírito Santo — o mesmo Espírito Santo que nos ajuda
• O u de quem escreveu seus livros
hoje —, os discípulos passaram então a im itar Jesus e a explicar
• O u se a hom ossexualidade e a hospitalidade são a ques-
aos outros que as Escrituras falavam sobre ele. Esse fato tran s-
form ou o mundo. E ainda o está transform ando. tão central da história de Sodom a e G om orra
A Bíblia é um a grande flecha lum inosa que aponta d ireta- • O u se o inferno é um destino perm anente de form a real
m ente para Jesus. Todos os fiéis deveriam ler a Bíblia sabendo ou literal
que Jesus é o cum prim ento das profecias do Antigo Testam en-
to e a garantia das promessas do Novo Testamento. Toda pági- Será que essas questões são im portantes? É claro que são.
na da Escritura fala sobre Jesus. Todas essas questões são im portantes. É m uito bom ser capaz
de rebater argum entos que rejeitam ou deturpam a Palavra de
• A Bíblia não trata de Abraão ou Davi nem de qualquer Deus. Mas, em algum m om ento, nós, como igreja, devemos
outro simples personagem hum ano. levar a conversa de volta ao tem a central da Bíblia. E esse tema
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
é Jesus. Se as pessoas não estão vendo isso, é p orque m uitas aplicando-as da form a correta. Jesus, o principal assunto das
vezes falham os em fazê-lo. É nossa responsabilidade a p re n - Escrituras e seu principal intérprete, deixou-nos esse exemplo
d er a in terp reta r as E scrituras da m an eira que Jesus in te r- interpretativo para que seguíssemos.
pretava, em vez de nos d istrairm o s com m ilhares de o u tras Entretanto, m inha preocupação é que, quando os cristãos
coisas. E podem os p erfeitam en te fazer isso. desejam entender o que a Bíblia ensina, procuram qualquer
Podem os fazê-lo porque, em Lucas 24, Jesus dá um curso outra coisa que não seja a Bíblia. Procuram livros em vez de
de herm enêutica com o nenhum outro, isto é, ele nos ensina a procurar O Livro. Navegamos na internet para descobrir o que
interpretar nossa Bíblia sem nenhum treinam ento formal. nosso pregador favorito tem a dizer sobre determ inada passa-
Isso tom a tem po e requer esforço, m as vale à pena. Mais gem ou assunto.
im portante ainda, D eus espera que façamos isso. Às vezes me pergunto: C om o as pessoas interpretavam e
aplicavam a Bíblia antes de existirem os com entários? Com o os
UTILIZANDO A ESCRITURA COMO OS DISCÍPULOS
antigos pais da igreja sabiam o que dizer e fazer? A resposta mais
A igreja é cham ada para o evangelismo e o discipulado. Ambas simples é que eles liam suas Bíblias, m editavam nelas, oravam
as tarefas exigem interpretação e aplicação cuidadosas. sobre elas e as aplicavam. Com o tempo, o conhecim ento to r-
Evangelismo. Leia atentam ente o livro de Atos. Seja no nou-se sabedoria. Com grande paciência e cuidadosa in stru -
caso de P edro (At 2 e 3), Estêvão (At 7), Filipe (At 8) ou ção, a inform ação realmente torna-se aplicação.
Paulo (At 13), cada um a das quatro apresentações do evange- Q uando lemos e estudam os nossas Bíblias, devemos cons-
lho interpreta a Bíblia com o algo que fala de Jesus e é n o rm a l- tantem ente perguntar: “Com o essa parte da Escritura aponta
m ente seguida de um incentivo para aplicar as Escrituras por para Jesus?”. Você nem sempre enxergará a conexão direta, e
m eio do arrependim ento. não quer forçá-la para não perder de vista a intenção origi-
Discipulado. As Epístolas nos ensinam e nos exortam a nal do autor. Mas temos de aprender a ler nossas Bíblias de
aplicar as Escrituras, para que vivamos para a glória de Deus. m aneira contextuai e cristológica: ler cada passagem à luz do
Elas fazem isso por meio da interpretação e da aplicação, sen - que estava acontecendo quando o autor a escreveu e à luz de
do cada ensinam ento e cada exortação baseados no evangelho, quem Cristo é, um a vez que ele cum priu toda a Escritura. Os
que, por sua vez, é baseado na pessoa e na obra de Jesus. fiéis podem e devem ler suas Bíblias com a total confiança de
Não deveríamos aprender com esses exemplos? Por que a que toda a Escritura fala sobre Jesus.
interpretação da Bíblia deveria ser diferente para nós, nos dias Em várias passagens, de várias m aneiras e da perspectiva
de hoje? Nosso cham ado é o mesmo que o dos prim eiros discí- de diferentes pontos na história, a Bíblia nos diz quem Jesus é,
pulos: im itar a Jesus através do evangelismo e do discipulado. E o que ele fez, o que ele fará e o que ele está fazendo:
fazemos isso interpretando as Escrituras corretamente e, depois,
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
• Algum as vezes, as Escrituras estão nos preparando podem ter um enorm e im pacto negativo sobre nossa interpre-
para a vinda de Jesus (como em Êxodo, Levítico, Isaías tação e aplicação da Palavra de Deus. Ou, em outras palavras,
e Jeremias). nossa eu-logia se coloca no cam inho de nossa teologia.
• Algum as vezes, elas nos m ostram que ele já está aqui
(v. Mateus, M arcos, Lucas e João). A eu-logia, parte 1: expectativas egoístas
• Algumas vezes, elas nos explicam a im portância de Os fariseus odiavam Jesus. Eles o odiavam de form a consis-
quem ele é e do que ele fez (como em Efésios e Hebreus). tente, previsível e colérica. Eles o odiavam por envergonhá-los.
• Algumas vezes, elas nos m ostram com o viver por causa Eles o odiavam p o r reinterpretar suas regras opressoras. Eles o
odiavam por ensinar os outros a interpretar a Escritura corre-
dele (como em Tiago, 1Pedro e ljoão).
tamente. Eles o odiavam por sua forma de interpretar as Escri-
• E algumas vezes, as Escrituras nos dizem que ele está
turas e de aplicá-las em relação a eles.
voltando (como em ITessalonicenses e Apocalipse).
Jesus interpretava com palavras e obras. Sua explicação
norm alm ente levava a uma ilustração, que resultava em frus-
Nossa responsabilidade como fiéis é interpretar a Bíblia de tração para os fariseus. Os fariseus nunca se saíam bem qu an -
form a correta. Essa é tam bém a principal m aneira de im itar- do discutiam com Jesus! Eles o odiavam!
m os a Deus. Se você com eça e perm anece com a ideia de que a O mesmo acontece conosco, se formos honestos. Quando
Bíblia fala sobre Jesus, dificilmente errará. Jesus interpreta sua Palavra para nós, podem os odiá-lo também.
Porém, se você se afasta dessa ideia, correrá o risco de errar. Com o os fariseus, somos propensos a pensar que nossa
interpretação da Palavra de Deus é a interpretação correta da
A EU-LOGIA OU A TEOLOGIA DO EU E OS
Palavra de Deus. Lemos um a passagem, refletimos sobre ela,
OBSTÁCULOS À INTERPRETAÇÃO
fazemos nossa interpretação, fazemos a aplicação com base em
Enquanto lemos a Bíblia, deveríamos nos perguntar o que a nossa interpretação e seguimos em frente. Em m uitos casos,
passagem diante de nós está dizendo sobre Jesus ou com o ela essa é um a boa m aneira de interagirm os com nossa Bíblia,
aponta para Jesus. Parece simples, certo? Infelizmente, não é. especialmente com relação aos im perativos — passagens que
Dois principais obstáculos — as expectativas falsas e o peca- nos dizem o que fazer e o que não fazer. Mas isso não funciona
do — colocam-se no cam inho de nossa habilidade de fazer tão bem quando chegamos a algumas promessas da Escritura.
isso consistentemente. Em bora esses dois obstáculos estejam Na verdade, essa é a área em que mais im itam os os fariseus.
estreitam ente relacionados e com frequência entrelaçados, vale Lemos umas das muitas promessas maravilhosas na Bíblia,
a pena discuti-los separadam ente. Juntos ou separados, eles interpretam os essa promessa da m aneira que achamos mais
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
desejável e esperam os que Deus aja de acordo com nossa inter- como os fariseus. Esperamos que Deus se alinhe às nossa inter-
pretação. Fazemos com que as prom essas signifiquem aquilo pretações e faça “com que todas as coisas concorram para o
que querem os que elas signifiquem e, então, im aginam os que nosso bem”. É claro que o nosso “bem” não é, com frequência,
Deus nos apoiará, perm itindo que os eventos aconteçam da o mesmo que o de Deus. Aquilo que esperam os que aconteça
m aneira que pensam os que eles devem acontecer. em muitos casos não acontecerá. Por quê? Porque, na verdade,
Tome por exemplo um dos versículos mais apreciados em o soberano é Deus.
toda a Escritura (pelo m enos no meio que frequento) e aquele Deus não nos revela as especificidades de sua vontade para
que eu mesmo regularm ente utilizava de forma correta e de a nossa vida. A Bíblia nos dá um a imagem clara do plano e do
form a incorreta. Rom anos 8.28 diz: “Sabemos que Deus faz propósito mais amplos de Deus no evangelho, mas a parte espe-
com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o cífica que cada um de nós desem penha nesse plano permanece
am am , dos que são cham ados segundo o seu propósito”. Esse um grande mistério. No entanto, de alguma forma, muitas vezes
versículo tornou-se para m uitas pessoas um cheque em branco colocamos nossa esperança nos detalhes de nossa interpretação,
da soberania divina, garantindo que tudo será fácil. Q uando a em vez de colocá-la na bondade e misericórdia de nosso sobe-
dificuldade aparece, rapidam ente lem bram os uns aos outros: rano e amado Deus. Q uando isso acontece, esperamos ansio-
“D eus é soberano”, e ele realmente é. Assim, proferim os a samente que Deus cum pra sua “promessa” em relação a nós
expressão e apontam os para Romanos 8.28, mas quantas vezes —quando, na verdade, aquilo não passa da nossa preferência.
ficamos com a im pressão — e quantas vezes tentam os dar a Há um a diferença entre o que pedim os em oração e o que
im pressão — de que isso significa que tudo acontecerá de acor- Deus prom eteu. A oração muitas vezes está relacionada com o
do com nossas preferências? que querem os que Deus nos dê, mas as promessas se relacio-
Já ouvi Romanos 8.28 ser utilizado para dizer às pessoas que nam com o que Deus nos diz que já nos deu em Cristo. Todas
seus filhos irão se arrepender e crer no evangelho. Isso pode até essas promessas serão nossas, mas muitas delas não experi-
acontecer, mas o versículo não prom ete isso. m entarem os nesta vida. É por isso que temos esperança na
Já vi Romanos 8.28 ser utilizado para oferecer conforto próxim a vida.
de que alguém seria curado, conseguiria casar ou conseguiria É bem mais fácil para nós depositarmos nossa esperança
o em prego que deseja. Novamente, essas coisas podem vir a no que pensamos que a soberania significa em determinada cir-
acontecer, mas não há nada em nenhum a passagem da Bíblia e cunstância do que no simples fato de que Deus é soberano, fiel e
certam ente nada em Romanos 8.28 que garanta isso! bom. Quando insistimos em ver as promessas de Deus cum pri-
Se tom arm os Romanos 8.28 ou algumas das outras p ro - das nesta vida, de acordo com o tem po da nossa teologia do eu e
messas como base (mal interpretada), podem os agir exatamente com os resultados desejados, podem os bem depressa ficar indig-
nados com Deus por elas não se cum prirem. Ficamos irados,
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
A eu-logia, parte 2: atenção seletiva Eu liderava pequenos grupos de estudo e utilizava porções
A o utra m aneira pela qual a m á interpretação acontece é q u an - pequenas da Bíblia para tentar ajudar as pessoas a com preen-
do escolhemos ler a Bíblia de m odo seletivo. Somente lemos der um Deus grande — um Deus que nem m esm o eu conse-
aquilo que cremos ser relevante para nós no momento. O peca- guia enxergar. M inha leitura bíblica era indolente e na maioria
do tenta nos convencer de que a Bíblia trata de nós e, portanto, das vezes egoísta. Eu lia a Bíblia apenas para benefício pessoal.
de que não precisam os nos preocupar com aquelas partes da Se tivesse lido mais cedo certas partes do Antigo Testamento,
Bíblia que achamos não ter nada a ver conosco. Se você não poderia ter aprendido com hom ens como Saul.
pode aplicar essa passagem, negue-a. Esse tipo de pensam ento Em Samuel 15, na triste história do prim eiro rei de Israel,
im pede que sejamos capazes de entender a Palavra de Deus que já discutim os antes neste livro, podem os encontrar outro
com o deveríamos. Mas essa é mais um a form a da eu-logia, e exemplo de com o não se deve interpretar a Palavra de Deus.
não da verdadeira teologia. Q uando decido que algumas partes
da Bíblia são benéficas para m im e outras não é porque cheguei Samuel disse a Saul: O S e n h o r me enviou para te ungir rei
à beira de um perigoso precipício. Lá embaixo me aguardam sobre seu povo Israel. Ouve agora as palavras do S e n h o r .
pedras afiadas, um a m aré baixa e a im inente m orte espiritual, Assim diz o S e n h o r dos Exércitos:
caso eu resolva saltar. A m aioria de nós é esperta o suficiente Castigarei os am alequitas p or terem atacado Israel quando
para não saltar, mas estúpida o suficiente para tentar descer. saía do Egito. Vai agora, ataca os am alequitas e os destrói total-
Isto é, nós não negam os a fé saltando do precipício, mas nos m ente com tudo o que tiverem. Nada poupes; m atarás hom ens
arrastam os precipício abaixo em um a interpretação egocêntri- e m ulheres, m eninos e crianças de peito, bois e ovelhas, cam e-
ca da Escritura e, antes mesm o que possam os perceber, estare- los e jum entos (ISm 15.1-3).
m os m uito distantes de Deus.
Por muitos anos eu fiz isso. Li a Bíblia de form a ego- Deus deu a Saul um a clara responsabilidade, por inter-
cêntrica, afastando-m e das melhores partes porque, naquele médio de Samuel, que parecia relativamente simples, em bora
m om ento, “elas não m e beneficiavam”. Eu era um verdadeiro possa soar estranha aos nossos ouvidos hoje (mas esse é um
teólogo da eu-logia. M inha leitura lim itada da Bíblia me levava assunto diferente para um a época diferente): destrua Amale-
a um Deus limitado. M inha leitura era lim itada e m inha crença que, todo o povo e todos os animais.
mais lim itada ainda. Cheguei até a pensar e a defender que o Saul, um m ilitar que sabia bem com o receber e dar
D eus do Antigo Testamento era um Deus irado e que o Deus ordens, reu niu um exército de 200 mil hom ens valentes e foi
do Novo Testamento era um Deus bom. Eu não tinha a m enor à guerra con tra os am alequitas. Eis o registro da Escritura
compreensão de como todas as partes da Bíblia são interligadas. sobre o que aconteceu:
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Então Saul feriu os am alequitas, desde Havilá até chegar a destruím os o resto totalm ente”. D eus tinha claramente “consa-
Sur, que está defronte do Egito. E capturou vivo Agague, rei grado à destruição” (“consagrem ao Senhor para destruição”,
n v i) todo hom em e animal dos am alequitas, e a tarefa de Saul
dos am alequitas, m as destruiu todo o povo ao fio da espada.
Entretanto, Saul e o povo pouparam Agague, com o tam bém o
era cum prir a ordem de Deus, destruindo tudo. Absolutam ente
m elhor das ovelhas, dos bois e dos anim ais gordos, os cordeiros
tudo. Mas essa passagem dem onstra que os próprios ouvidos
de Samuel tiveram a prova de que Saul ignorou a ordem de
e tudo o que era bom ; eles não os quiseram destruir to talm en -
Deus. Para entender como isso é sério, precisamos saber o que
te, m as destruíram p o r com pleto tud o o que era inútil e d es-
“consagrado à destruição” significa para Deus:
prezível. Então a palavra do S e n h o r veio a Samuel, dizendo:
A rrependo-m e de ter posto Saul com o rei, pois deixou de m e
Entretanto, daquilo que alguém possui, nenhum a coisa consa-
seguir e não executou as m inhas palavras. Então Samuel ficou
grada ao S e n h o r será vendida ou resgatada, seja hom em , seja
indignado e clam ou ao S e n h o r a noite toda (ISm 1 5 .7 - 1 1 ) .
anim al, seja propriedade da sua família; toda coisa consagrada
será santíssim a ao S e n h o r . N enh u m hom em que foi consagra-
Nessa passagem, as duas palavras que obviamente se
do poderá ser resgatado; certam ente será m orto (Lv 27.28,29).
encontram fora do lugar são vivo e pouparam. Mas o que será
que aconteceu aqui? C om o Saul passou de “nada poupes” para
Da perspectiva de Deus, nada consagrado à destruição
“eles não os quiseram destruir totalm ente”? Ele fez exatamente
pode ser resgatado. Nada pode ser poupado. Seu destino é a
o oposto do que lhe fora ordenado!
destruição, e Deus diz que certam ente deverá m orrer. O que
Nós sabemos que a razão disso foi o pecado, mas vamos
Saul fez foi m uito mais sério do que ele percebeu. Foi um a
exam inar de forma mais detida como o pecado está agindo.
desobediência a Deus e à sua Lei. Q uando Samuel confrontou
Após Saul deixar o campo de batalha, Samuel, o profeta, vai ao
Saul, os pecados ocultos se tornaram evidentes. Saul quis suge-
seu encontro e Saul im ediatamente diz: “Já executei a palavra
rir que seu principal pecado foi o tem or do homem: “Pequei,
do Se n h o r ” (ISm 15.13). Mas Deus já havia dito a Samuel que
pois transgredi a ordem do Se n h o r e as tuas palavras; porque
Saul tinha desobedecido à sua ordem. Além disso, Samuel ouvia
temi o povo e dei ouvidos à sua voz” (ISm 15.24). Mas ficou
perfeitam ente bem. Assim, ele diz a Saul: “Que quer dizer este
claro para Samuel (v. versículo 23) que Saul tam bém era culpa-
balido de ovelhas que me chega aos ouvidos e o mugido de bois
do de presunção, rebelião e idolatria.
que ouço?” (ISm 15.14).
A grande tenda na qual os pecados de Saul se congregavam
M esmo assim, Saul conta um a verdade parcial: “Trouxe-
era a tenda da adoração de si mesmo. Diante de um a ordem
ram dos amalequitas, porque o exército guardou o m elhor das
inequívoca, Saul confiou em si m esm o e obedeceu a si mesmo,
ovelhas e dos bois para oferecer ao Se n h o r , teu Deus; porém
e não a Deus. Ele deu atenção seletiva às claras ordenanças de
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Deus. A visão de Saul da Palavra de D eus foi egocêntrica, um a Q uando chegam os a esse ponto, a leitura da Palavra de
questão da teologia do eu, e não da verdadeira teologia; assim,
Deus passa a ter tudo a ver com im pacto pessoal, e não com
sua interpretação da Palavra de Deus transform ou obediên-
relacionam ento pessoal. C om eçam os a crer que a Bíblia fala
cia em conveniência. Para ele o que Deus ordenara tornou-se de um Deus que vem ao encontro de nossas necessidades, e
opcional. Ele passou do ter que fazer para o poder fazer.
não de um D eus que nos perm ite ir ao encontro de seu Filho.
A reinterpretação pela eu-logia é um a das principais m anei-
O pecado coloca o eu acima de Deus, po rtan to faz todo o sen-
ras de o pecado afetar nossa interpretação e aplicação da Palavra tido o pecado tentar-nos a buscar a nós m esm os na Palavra de
de Deus. Podemos pensar: “O que esta passagem faz por m im ?”,
Deus, evitando as partes que nos pareçam irrelevantes. Qual
e não: “O que esta passagem diz sobre Deus?” O pecado diz: “A
foi a últim a vez que você leu Levítico, 2Crônicas, Sofonias
leitura da Bíblia está relacionada ao fato de como posso cres- ou M alaquias? Por que não lê esses livros? Eles nos ensinam
cer como pessoa; assim, voltarei m inha atenção para as partes coisas m aravilhosas sobre Jesus. Se exam inarm os a nós m es-
que mais me auxiliam nessa questão”. O pecado diz: “Fixe-se nos
mos, podem os descobrir que esses livros não nos atraem por
provérbios e salmos que realmente falem com você”; “fixe-se nos
acharm os que eles não nos são benéficos. Precisam os parar
Evangelhos e nas cartas com os mandam entos que lhe ensinam a de colocar o foco sobre nós m esm os quando abordarm os a
viver”; “leia somente aquilo que você possa aplicar”. Assim, fica-
Palavra de Deus.
mos preguiçosos e nos queixamos das partes da Escritura que
parecem não ter nenhum a relação com nossa vida. Se a Bíblia E AGORA? APLICAÇÃO
não apela aos nossos sentimentos, não ficamos motivados a lê-
A verdade é que, na maioria das páginas da Bíblia, nós, você
la, mas achamos que está tudo bem.
e eu, não aparecemos. Mas Deus está em cada sílaba delas.
Isso limita nossa habilidade de saber quem Deus é, pois
Vamos ler a Escritura na sua totalidade, pois nós verdadeira-
nossa visão de Deus estará diretam ente ligada ao que lemos e
mente cremos que tudo nela foi inspirado por Deus. Cada p ar-
aplicamos de sua Palavra. Se nossa leitura bíblica for lim itada,
te dela nos revela a natureza, o caráter e as ações do Deus que
nossa habilidade de interpretá-la tam bém será. É dessa m anei-
adoramos, de m odo que não podem os ver nenhum a de suas
ra que tiram os a Escritura de seu contexto. A Escritura inter-
passagens com o inútil ou irrelevante. Não podem os lim itar a
preta a Escritura: você deve ler um a parte para entender outra
Bíblia a algo que seja simplesmente “bom para nós”. A Bíblia é
parte. Assim, se não lerm os a Escritura, não interpretarem os a
bem mais do que isso. Ela é a própria Palavra de Deus.
Palavra de Deus corretam ente e, se não interpretarm os a Palavra
Uma m aneira pela qual podem os lutar contra a tentação
de Deus corretam ente, nossa aplicação tam bém poderá não ser
de ler a Bíblia egoisticamente é nos com prom etendo a ler e a
a correta. Q uando nossa interpretação e aplicação não forem
entender cada um de seus livros. Leva tempo. Exige esforço.
corretas, nossa visão de D eus tam bém não será correta.
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É preciso o auxílio do Espírito. Mas isso m udará sua visão de Q uando estiver lendo, lembre-se, antes de tudo, de que
Deus e de sua Palavra. Jesus é o principal intérprete da Palavra de Deus. Assim, siga o
Vamos aprender a ler as genealogias e as localidades onde exemplo de Jesus, lendo claramente a Bíblia no conhecimento de
as tribos se estabeleceram na Terra Prometida. Vamos ler as que tudo nela é sobre ele. Ele é o assunto, o objeto da Escritura.
profecias obscuras e difíceis, que podem nos parecer tão irrele- Podem os fazer isso. Na verdade, devemos fazer isso, se qui-
vantes quanto as galáxias mais distantes. Vamos ler não apenas sermos ser bons discípulos de Jesus. É difícil, mas não im possí-
as passagens que pensam os que podem “nos ajudar”. Vamos ler vel. Deus nos deu seu Espírito para nos guiar em toda verdade.
aquilo que Deus nos deu, sabendo, confiando e crendo que cada C onhecem os a estrutura das Escrituras porque conhecem os
passagem é um presente bom e perfeito. Se assim fizermos, esse seu Objeto e Intérprete.
tipo de leitura afetará nossa interpretação e nossa aplicação da Portanto, vá com Deus!
Palavra de Deus. Nós realmente temos tudo que é preciso para
interpretar corretamente a Palavra de Deus, pois Jesus, o Verbo
de Deus, nos concedeu seu Espírito. Podemos e devemos ter con-
fiança em que a leitura abrangente e profunda da Escritura esti-
mulará nossa capacidade de interpretar corretamente a Palavra
de Deus, de modo que possamos aplicá-la de forma correta. E,
quando falharmos — o que certamente acontecerá —, a leitura
abrangente e profunda da Escritura ajudará a nos lembrar de que
Jesus deu sua vida pelos mom entos em que falhamos com ele.
Jesus é o Intérprete, e todo cristão é um interprete. A im i-
tação está acima da educação.
Repito novam ente que a educação não é algo ruim . Eu o
encorajo a buscá-la, se você puder. Ela fará um a grande dife-
rença, ajudando-o a interpretar a Escritura. Não estou incenti-
vando um m ovim ento contra as escolas bíblicas dom inicais ou
os seminários. Se você se sente cham ado para esse tipo de ins-
trução, vá! Mas, se não puder ir, você tam bém pode crescer na
leitura, interpretação e aplicação corretas da Palavra de Deus,
pois, se é cristão, não há nada que o im peça de fazê-lo.
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Este livro mostra que interpretar a Bíblia pode ser algo
incrivelm ente prático e claro, pois fornece ao leitor
princípios básicos para a compreensão da Palavra de Deus.
Entre esses princípios o autor enfatiza três pontos importantes: