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Bons estudos!
Objetivos
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
1 INTRODUÇÃO
O que lemos acima? Um texto informativo ou um texto que diz mais do que se apresenta?
Será que poderíamos denominar de literário o texto acima? Será que haveria elementos tex-
tuais que constituiriam a estrutura textual acima como um texto literário, em outras palavras,
constituiriam o texto acima uma poesia?
A arte literária é uma das mais antigas formas de expressão do ser humano: a
palavra escrita literária, repensando junto ao filósofo Martin Heidegger (em sua obra
Caminhos da Linguagem), é a morada do nosso ser, portanto, plural, diferenciada co-
notativa.
Um Apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: - Por que está você
com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma
cousa neste mundo? - Deixe-me, senhora. - Que a deixe? Que a deixe, por
quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e
falarei sempre que me der na cabeça. - Que cabeça, senhora? A senhora não
é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada
qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros. - Mas você é orgulhosa. - Decerto que sou. - Mas por quê? - É boa!
Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os
cose, senão eu? - Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você
ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? - Você fura o pano, nada mais;
eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... - Sim,
mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que
vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando... - Também os batedores
vão adiante do imperador. - Você é imperador? - Não digo isso. Mas a ver-
dade é que você faz um papel subalterno, indo adiante, vai só mostrando o
caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,
ajunto.... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a
modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou
do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha. E entrou
a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a
melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de
Diana - para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: - Então, senhora
linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costu-
reira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha
a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia nada; ia andando.
Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como
quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo
que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo
silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da
agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia se-
guinte: continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e
ficou esperando o baile. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A cos-
tureira que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama,
e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,
acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe: - Ora, agora,
diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas,
enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o baile das
mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada: mas um
alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agu-
lha: - Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que
vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu,
que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta
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Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: <http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia>. Acesso
em: 01 jan. 2018.
Texto II
“Mundo - substantivo masculino
1. totalidade dos astros e planetas; firmamento, universo.
o o planeta Terra.
o qualquer outro corpo celeste.
"observava o céu, fantasiando outros m."
2. divisão da Terra em seus hemisférios.
"m. ocidental"
3. totalidade do que existe na Terra.
"o m. inteiro foi atingido pelo terremoto"
o este planeta, ou parte dele, caracterizado por seus habitantes e costumes.
"há, neste m., quem ainda esteja na Idade da Pedra"
o raça humana; totalidade das pessoas; humanidade.
"todo m. procura disfarçar sua própria animalidade"
o população em geral; povo.
"o m. enfim reconheceu o seu talento"
4. p.ext. classe social.
"seu noivo não era do nosso m."
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Questão 01:
Após a leitura dos textos acima, qual apresenta um valor DENOTATIVO e qual
apresenta um valor CONOTATIVO? Justifique.
Questão 02:
Após a leitura do Texto I, podemos afirmar que a palavra Mundo entre outras
apresenta-se sobre a ideia de uma plurissignificação? Justifique.
Aula 2
Fundamentação do texto literário
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
2 INTRODUÇÃO
Vamos a elas:
a) Função emotiva ou função expressiva que tem como principal objetivo trans-
mitir as emoções e sentimentos do emissor. Assim, a ênfase é dada ao emissor da
mensagem. Há a subjetividade no discurso, com as marcas de uma pessoalidade no
texto, que está presente em poemas, cartas, autobiografias, narrativas etc.;
b) Função poética é a marca do discurso poético, pois enfatiza os aspectos
rítmicos, os jogos simbólicos e a escolha de um ‘repertório’ semântico. A função poé-
tica está, de fato, presente nos poemas, nas letras de canções, assim como em pro-
pagandas (que muitas das vezes nos sensibilizam e nos emocionam pelo seu desen-
volvimento de seu trabalho artístico).
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Dessa forma, podemos dizer que a linguagem do texto literário, em sua organi-
zação, apresenta as características estéticas que conduzem o nosso entendimento e
leitura de que estamos à frente de um gênero do discurso diferente de outros como
os textos informativos. A linguagem literária traz consigo um trabalho das experiências
da vida e as representações imaginativas, criadas com finalidades estético-emotivas.
Estamos falando de estética da linguagem, mas o que é essa estética? Em
definição, a estética é: “Estética é o mecanismo usado pelo artista para lapidar a pa-
lavra como faz o escultor a um bloco de pedra, com o objetivo de transformá-la numa
joia e proporcionar o efeito emocional, uma sensação de prazer e emoção no receptor.
”
Extraído de: https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1581094. Acesso em: 10 jan.
2018.
Confira também:
<https://revistacult.uol.com.br/home/estetica-e-literatura/>.
uma ESTRUTURA que determinam e caracterizam o valor da obra enquanto arte literá-
ria. Assim, encontraremos, no estudo da história da literatura (não somente a brasi-
leira, mas as de variadas nações) uma formação cultural artística com PADRÕES que
revelarão as marcas da BELEZA na própria arte.
Alguns estudiosos afirmam que certos padrões se representam num processo
de FLUXO e REFLUXO artístico: o valor DIONÍSIACO e o valor APOLÍNEO na constru-
ção artística. Observemos a figura abaixo:
Texto I
OS CINCO SENTIDOS
São belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!
Texto II
O AÇÚCAR (Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
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apolíneos) em sua organização diacrônica. Vamos a figura abaixo que retrata essas
tendências históricas da literatura brasileira.
Aula 02, marcadamente produziu poemas (sonetos, éclogas, redondilhas etc. – trata-
remos dos tipos de POEMAS em aulas posteriores) que se aproximam em sua escolha
lexical (de palavras), em sua escolha semântica (dos temas) e da escolha estrutural
(forma e estrutura do texto). Há uma linearidade quando estudamos a obra de um
autor, o que não quer dizer que um autor não possa se renovar e se redimensionar
em face ao seu tempo e às transformações histórico-culturais (Camões que produziu
poemas de caráter trovadorescos, específicos de um período medieval, emancipou-
se ao conhecer oduoce stil nuovo do vate italiano Petrarca, o SONETO, marca de sua
melhor poesia).
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
A FILOSOFIA, Portal. Apolineo e Dionisiaco. Disponível em: <http://www.afi-
losofia.com.br/post/apolineo-e-dionisiaco/392>. Acesso em: 01 jan. 2018.
GULLAR, Ferreira. In: TODA POESIA. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
3 INTRODUÇÃO
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Você entenderá que é afetado pela leitura do poema de Bandeira por conhecer a reali-
dade (conhecimento enciclopédico) brasileira, por saber que, mesmo hoje, milhares pade-
cem a miserabilidade em nosso país).
Agora que já retomou o conteúdo estudado no ensino médio, passemos ao que, ora, nos
interessa. Não verificaremos uma a uma as figuras de linguagem. Observaremos, em vez
disso, o impacto que sua utilização em momento oportuno produz no leitor.
“—Que foi isto? Quem lhe pôs nesse estado? —Quem?... Um pé!...
Já viste alguma vez, Paulo, amesquinhar assim um homem e esmagá-lo
com uma palavra? Emília atribuía a mim o que lhe acontecera; e não achava
para designar-me, nem o meu nome, nem mesmo a minha qualidade de cri-
atura humana. Era uma cousa, uma parte desprezível do corpo, um pé! Não
sei o que na minha indignação ia responder-lhe, se ela me desse tempo, e
não se afastasse rápida. ”
O poeta cuiabano brinca com as palavras, faz delas o que bem entende. Nesse
poema, isso fica claro quando utiliza o recurso da prosopopeia para dizer: “Sou mais
a palavra com febre, decaída, fodida, na sarjeta”. Declarações que geralmente se-
guem pessoas, na poesia de Manoel de Barros, são adjetivos para “a palavra”. Essa
palavra corrompida que o suja de branco.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.
-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.
SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.
Exercícios
AULA 3
2) (UNESP 2012) Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conheci-
mentos, seus modos de vida, seus erros, suas ilusões. Na nossa atual era planetária,
o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras têm de melhor,
e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada
em sua história não somente segundo os ideais de Liberdade-Igualdade-Fraternidade
promulgados por sua Revolução, mas também segundo o comportamento de uma
potência que, como seus vizinhos europeus, praticou durante séculos a escravidão
em massa, e em sua colonização oprimiu povos e negou suas aspirações à emanci-
pação. Há uma barbárie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitaris-
mos fascistas, nazistas, comunistas. Devemos considerar uma cultura não somente
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segundo seus nobres ideais, mas também segundo sua maneira de camuflar sua bar-
bárie sob esses ideais (Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado).
No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard Morin desenvolve:
a) reflexões elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental
sobre outras culturas.
b) um ponto de vista idealista sobre a expansão dos ideais da Revolução Fran-
cesa na história.
c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteção dos valores
culturais.
d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras cul-
turas na história.
e) uma defesa do caráter absoluto dos valores culturais da Revolução Fran-
cesa.
3) (ENEM-2004).
Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras
de linguagem para
a) condenar a prática de exercícios físicos.
b) valorizar aspectos da vida moderna.
c) desestimular o uso das bicicletas.
d) caracterizar o diálogo entre gerações.
e) criticar a falta de perspectiva do pai.
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4) (ENEM-2004).
Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
Arnaldo Antunes
No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fa-
zendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja,
à linguagem referencial.
Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o
seguinte traço fundamental:
a) O desgaste da intuição
b) A dissolução da memória
c) A fragmentação da experiência
d) O enfraquecimento da percepção
(Texto 2) O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.
145)
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7) (PUC-SP)
"...................
da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora."
(Carlos Drummond de Andrade)
1) Letra c
2) Letra d
3) Letra e
4) Letra c
5) Letra c
6) Letra b
7) Letra d
Aula 4
Poesia: Obras épicas
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
4 INTRODUÇÃO
Nota: Às vezes nos referimos a algum poema como poesia. Não há pro-
blema nisso. Importante, entretanto, compreendermos que a poesia pode
estar nas pessoas, em filmes, em peças teatrais, em canções, no circo, em
qualquer lugar. O que devemos, todos, é treinar os olhos para enxergá-la.
Retomando:
1) Poesia é algo maior que o poema.
2) Poesia está em todo lugar: no mundo e na arte.
3) Poesia, por ser arte, é também representação da realidade.
Da estrofe acima (do épico de Camões que investigaremos mais abaixo), to-
mamos alguns caracterizantes estéticos do poema, a saber:
1. Trata-se de texto em versos.
No caso d'Os Lusíadas, são oito versos por estrofes (oitavas).
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É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.
Veja, você, que, embora o texto esteja estruturado em estrofes e versos, não é
possível observar a presença de rimas, nem de métrica que conduza a leitura em ritmo
de martelo. No entanto, quem está habituado à leitura de poemas percebe na proposta
da escrita o momento certo para as pausas; ou para a impressão de maior velocidade.
Essa capacidade de compreender o ritmo do poema, mesmo do poema moderno ou
contemporâneo, você desenvolverá ao longo de suas leituras, de seu contato com
cada poeta.
No poema acima, por exemplo, onde o eu poético faz como que uma apologia
de si mesmo, somos estimulados a uma leitura mais ágil, mais alterada, talvez.
Tal leitura deve representar como que a voz da criança se defendendo diante
da mãe que lhe aponta culpa por algum malfeito. Aliás, sugiro isto: faça a releitura do
poema em voz alta, pensando que o caso é defender-se de alguma acusação que
julga injusta; e veja como fica.
Vimos até aqui que poema e poesia são conceitos que às vezes se confun-
dem, mas concluímos que poema é estrutura, enquanto poesia é algo maior, que está
presente na arte e na vida. Também vimos que há características próprias que mar-
cam o poema; e que algumas dessas características tiveram que ceder ao longo dos
anos às necessidades de expressão dos poetas. Assim, após o modernismo, obser-
vamos que os poemas deixaram de ser obrigados à rigidez das formas. Mas, se acei-
tamos que os poemas são transformados pelas necessidades de expressão dos poe-
tas, devemos perguntar: o que é um poeta?
Camões, Fernando Pessoa, Castro Alves, Bilac, Florbela, Drummond, Ban-
deira, Manoel de Barros, Cora Coralina, Vinícius, Gullar, Craveirinha.
O que essas pessoas têm em comum? Pouca coisa às vezes. São alguns dos
poetas da língua portuguesa, que a seu tempo deixaram registradas suas impressões
do mundo que os cercava. Tais impressões, devemos entender, afetadas pela perso-
nalidade dos poetas. Segundo Gullar, "quanto mais criadora for essa personalidade,
menos passivamente se comportará".
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Agora, clique nos links para refletirmos junto a alguns desses homens e mu-
lheres acerca do que é ser poeta:
1. <https://www.youtube.com/watch?v=gtvcBodY9nw>.
2. <https://www.youtube.com/watch?v=WDb4mNUfijQ>.
A poesia épica
Em seu dicionário, Bechara diz que épico se refere a epopeia, a heróis. Tam-
bém que guarda relação com o grandioso, o extraordinário, o fantástico. Sobre epo-
peia, explica o professor tratar-se de um poema extenso, que louva um herói ou fato
notável, ou um conjunto de ações que adquirem caráter de heroísmo.
Veremos que a poesia épica:
1) refere-se a epopeias.
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Click <http://redentor.bv3.digitalpages.com.br/users/publica-
tions/9788582120002/pages/123>. E, faça a leitura, nas páginas 122-124, do tópico
"Gênero épico ou narrativo".
Segue abaixo a relação de alguns épicos da literatura mundial, que você po-
derá, a seu tempo, ler.
1) A Odisseia, de Homero: Poema épico da Grécia antiga, que é em parte se-
quência da Ilíada. Retrata o retorno de Ulisses da Guerra de Troia.
2) Beowulf: De autor desconhecido é um poema épico anglo-saxão. Com 3.182
linhas, é o poema mais longo do pequeno conjunto da literatura anglo-saxã e um
marco da literatura medieval.
3) Ilíada, de Homero: O poema conta pouco mais de 50 dias entre o décimo e
o último ano da Guerra de Troia e versa sobre a ira da Aquiles, o moço do calcanhar
sensível.
4) A Divina Comédia, de Dante Alighieri: É dividida em três partes: inferno,
purgatório e paraíso. Sua visão de inferno, aliás, é considerada uma das mais tene-
brosas da literatura;
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Daqui ao fim da aula, caminharemos pelo mais importante poema épico a nós,
estudiosos da língua portuguesa: "Os Lusíadas", de Camões.
Veremos alguma porção da epopeia lusitana, tendo em mente que, mais à
frente dialogaremos com Camões em outros textos, sobretudo em seus sonetos, que
são magníficos.
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Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=tKglFfJ5ZKo>.
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova aguilar, 2000.
SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
5 PARA COMEÇAR
1 – Camões
Assistam a alguns vídeos sobre o poeta lusitano:
<https://www.youtube.com/watch?v=WMkp3j7Mqxw>.
<https://www.youtube.com/watch?v=5CqmXUURDP0>.
TEXTO I
“A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios
TEXTO II
“Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
3 – Almeida Garrett
Assista ao vídeo sobre o poeta português
<https://www.youtube.com/watch?v=bSHX70M9B5k>.
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4 – Gonçalves Dias
“O amor
Amor! enlevo d'alma, arroubo, encanto Desta existência mísera, onde exis-
tes? Fino sentir ou mágico transporte, (O quer que seja que nos leva a extre-
mos, Aos quais não basta a natureza humana;) Simpática atração d'almas
sinceras Que unidas pelo amor, no amor se apuram, Por quem suspiro, serás
nome apenas? A inútil chama ressecou meus lábios, Mirrou-me o coração da
vida em meio, E à terra fez baixar a mente errada Que entre nuvens, amor,
por ti bradava! Não te pude encontrar! — em vão meus anos No louco intento
esperdicei; gelados, Uns após outros a cair precipites Na urna do passado os
vi; eu triste, Amor, por ti clamava; — e o meu deserto Aos meus acentos re-
boava embalde. Em vão meu coração por ti se fina, Em vão minha alma te
compreende e busca, Em vão meus lábios sôfregos cobiçam Libar a taça que
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5 – Castro Alves
Assistam ao vídeo sobre o poeta baiano:
<https://www.youtube.com/watch?v=s8oeQ3Hg9OQ>.
Horas de saudade
TUDO VEM me lembrar que tu fugiste, Tudo que me rodeia de ti fala. Inda a
almofada, em que pousaste a fronte O teu perfume predileto exala No piano
saudos, à tua espera, Dormem sono de morte as harmonias. E a valsa entre-
aberta mostra a frase A doce frase qu'inda há pouco lias. As horas passam
longas, sonolentas... Desce a tarde no carro vaporoso... D'Ave-Maria o sino,
que soluça, É por ti que soluça mais queixoso. E não Vens te sentar perto,
bem perto Nem derramas ao vento da tardinha, A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha. E, quando ma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma, Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma. É que tudo me lembra que fugiste. Tudo
que me rodeia de ti fala... Como o cristal da essência do oriente Mesmo
vazio a sândalo trescala. No ramo curvo o ninho abandonado Relembra o
pipilar do passarinho. Foi-se a festa de amores e de afagos... Eras — ave do
céu... minh'alma — o ninho! Por onde trilhas — um perfume expande-se. Há
ritmo e cadência no teu passo! És como a estrela, que transpondo as som-
bras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço ... E teu rastro de amor guarda
minh'alma, Estrela que fugiste aos meus anelos! Que levaste-me a vida en-
trelaçada Na sombra sideral de teus cabelos! ...
6 – Olavo Bilac
Assistam ao vídeo sobre o Príncipe dos poetas:
<https://www.youtube.com/watch?v=icFXlOfuuBc>.
Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac), jornalista, poeta, ins-
petor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865,
e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundado-
res da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº. 15, que tem como
patrono Gonçalves Dias.
Eram seus pais o Dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira
dos Guimarães Bilac. Após os estudos primários e secundários, matriculou-
se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano.
Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do pri-
meiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa
participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi
em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou
menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “A Semana”
da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante
anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira.
Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos persegui-
dos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando
frequentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi
preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do
Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposen-
tou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomá-
ticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou
a Liga de Defesa Nacional.
Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de
1880 a sua fase mais fecunda. Embora não tenha sido o primeiro a caracte-
rizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac
tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de
Oliveira e Raimundo Correia.
Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu pre-
ferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas pri-
meiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decora-
dos e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na
época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de Via Láctea e a
“Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue
pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade
como resultado do lavor.
Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é ex-
pressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilu-
são e a morte do bandeirante Fernão Dias Paes. Bilac foi, no seu tempo, um
dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito
o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-Fon lan-
çou em 1º. de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos
seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra
a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como
P á g i n a | 74
Nel mezzo del camin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste
e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos
povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos,
presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar con-
tinha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos ume-
dece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.
Príncipe dos Poetas foi a alcunha dada a Olavo Bilac. Em toda a sua poética,
não há sequer algum desvio da norma culta da língua, nem ambiguidades que tornem
a compreensão um problema. Olavo Bilac é um poeta parnasiano, isto é, do final do
século XIX e começo do século XX. Participou da Academia Brasileira de Letras e
produziu consideravelmente publicando em jornais da época. Sua poesia traz a Razão
como uma das marcas. No texto acima, o sentimento do fim do amor e do reencontro
demonstram as distâncias pelas quais muitos casais (melhor, ex-casais) perpassam
em suas experiências.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
6 PARA COMEÇAR
1 – Oswald de Andrade
<https://www.youtube.com/watch?v=SaPPNx63WG8>.
“Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
“Amor
P á g i n a | 82
Humor”
Irreverente e único, Oswald de Andrade pode ser considerado um dos gran-
des nomes da literatura brasileira no século XX. Sua poesia, de um lirismo
diferenciado e cômico, traz as marcas do movimento modernista brasileiro:
introdução das culturas minoritárias (o primeiro poema representa a lingua-
gem popular, das classes baixas), um diálogo com a tradição literária de um
modo inovador (que vemos no segundo poema, em que referencia ao clás-
sico de Gonçalves Dias, “Canção do exílio”, só que representando a urbani-
dade da cidade de São Paulo) e o humor único proveniente dos chama-
dos poemas-pílulas que, de um modo bem direto, apresentam uma releitura
da tradição (afinal, quantos poemas de amor não foram feitos pelos grandes
escritores?! Para Oswald, bastaria uma palavra: para se dar e se ter todo
amor tem que se ter muito humor!)
2 – Manuel Bandeira
“Nascido no Recife em 19 de abril de 1886, Manuel Bandeira é considerado
um dos maiores poetas da língua portuguesa, tendo se destacado também como cro-
nista, professor, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e de artes plásticas. Estreou
em 1917 com A cinza das horas, seguido de dezenas de outros livros essenciais da
poesia brasileira, como Libertinagem, Estrela da manhã, Estrela da tarde e outros.
Bandeira residiu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Amigo de vários
participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, principalmente de Mário de An-
drade e Ribeiro Couto, manteve com alguns deles uma vasta correspondência, como
se vê em seu livro Itinerário de Pasárgada. Em 1940, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras, instituição que atualmente preserva sua biblioteca pessoal. Seus
documentos pessoais, como cartas e fotos, encontram-se sob a guarda do Arquivo-
Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa. O poeta faleceria
no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1968. ”
“Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
“Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
<https:/ /www.youtube.com/watch?v=acWHzVBs394>.
Manuel Bandeira consagrou-se pela sua poesia livre – trouxe para o Brasil as
marcas da mudança e da ruptura poética que adentravam a Europa no começo do
século XX. Com uma poesia que ultrapassa as barreiras das formas tradicionais, Ban-
deira teve seu poema ‘Os Sapos’ lido na Semana de Arte Moderna, uma crítica con-
siderável aos poetas parnasianos da época. Já em Poética, o poeta pernambucano
demonstra o que pretende desenvolver como arte, i.e., a liberdade de criação.
Em ‘Vou-me embora para Pasárgada’, o lugar imaginário e fictício é o símbolo
da busca pelos sentimentos e pela liberdade.
3 – Mário de Andrade
<https://www.youtube.com/watch?v=BYhXMQYLRs4>.
Mário Raul Morais Andrade foi um revolucionário das artes. Poeta, roman-
cista, crítico de arte, folclorista, musicólogo e ensaísta, ele nasceu, viveu e
morreu em São Paulo. Ajudou a fundar o movimento modernista brasileiro.
Participou da famosa Semana de Arte Moderna de 1922. Chocou a burguesia
paulistana do início do século passado. E teve em vida todo o reconhecimento
merecido.
Mario de Andrade nasceu no dia nove de outubro de 1893, filho de Carlos
Augusto de Morais e Maria Luiza Leite Morais Andrade. Estreou no mundo
literário, em 1917, com “Há uma gota de sangue em cada poema”, feito sob
P á g i n a | 86
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.
“Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar… — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”
Poeta que foi o cérebro da Semana de Arte Moderna de 1922, junto a Oswald,
Mário de Andrade foi um artista completo: músico, poeta, romancista e único na lite-
ratura brasileira.
Nos poemas, encontramos uma crítica de Mário de Andrade à tradicional famí-
lia burguesa do começo do século passado. Essa crítica direciona-se a todos os mem-
bros de uma família e o clímax da estrutura está quando se refere ao pai, o plutocrata
sem consciência, que explora e desestrutura as outras famílias da sociedade. No se-
gundo poema, Ode ao burguês, o título já traz as marcas da ironia, posto que uma
P á g i n a | 88
ode é um poema de elogio, de bem-dizer e o que vemos é uma severa crítica às elites
econômicas da época.
4 – Cecília Meireles
Assista também:
<https://www.youtube.com/watch?v=QKYnGDtlm1s>.
Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=QMsVYzNkUmU>.
7 – Vinicius de Moraes
Assista ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=2LC1U3gxXC0>.
8 – Ferreira Gullar
Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=Xl9gvcLKgKA>.
<https://www.youtube.com/watch?v=zXxnRxSQEz4>.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
1) SENHOR FEUDAL
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia.
Oswald de Andrade
O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade Média. Nele, assim como
nas cantigas de amor, a ideia de poder retoma o conceito de
a) fé religiosa.
b) relação de vassalagem.
c) idealização do amor.
d) saudade de um ente distante.
e) igualdade entre as pessoas.
2)
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade
II. O poema critica a maneira de falar do povo brasileiro, sobretudo das classes
incultas que desconhecem o nível formal da língua.
III. Para ele, os falantes que dizem “mio”, “mió”, “pió”, “teia”, “teiado”, de certa
forma, constroem um “telhado”, ou seja, criam novas formas de pronúncia que se so-
bressaem, em muitos casos, à norma culta.
IV. A palavra “vício”, encontrada no título do poema, denota certo preconceito
linguístico do autor, que julga a norma culta superior ao coloquialismo presente na fala
das pessoas menos esclarecidas.
a) Todas estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) II e III estão corretas.
3)
“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento moder-
nista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que represen-
tam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
4)
Estão, entre as principais características da linguagem poética de Cecília Mei-
reles:
a) Sua linguagem é marcada pelo experimentalismo e bastante influenciada
pela linguagem popular. Buscou a recriação da linguagem a partir do contato com os
falares regionais, defendendo os “erros” gramaticais como expressão maior de nossa
brasilidade.
b) Sua escrita é direta e simples, quase prosaica, muito embora tenha tido
grande conhecimento das formas clássicas de estruturação de poemas, elementos
que também podem ser encontrados em sua obra.
c) O cuidado com a seleção vocabular e a inclinação para a musicalidade, para
o verso curto e para os paralelismos estão entre as principais características da poesia
de Cecília Meireles.
d) Por meio de uma linguagem debochada, irônica e crítica, Cecília Meireles
satirizava os meios acadêmicos e também a burguesia, estabelecendo uma profunda
ruptura em relação à cultura do passado.
5)
Reinvenção
A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas ... Ah! tudo bolhas que vêm de
fundas piscinas de ilusionismo ... - mais nada. Mas a vida, a vida, a vida a vida só é
possível reinventada. […]
Cecília Meireles
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
7 INTRODUÇÃO
Vamos a um exemplo:
A esplanada.
HORÁCIO: Já? Não ouvi; então não falta muito para que o fantasma volte a aparecer-nos.
HAMLET: O rei está acordado e dá banquete. Bebe a valer, rodando tudo em torno. Cada gole de
Reno é por trombetas e timbales marcado, que o triunfo do brinde lhe proclamam.
HORÁCIO: É costume?
HAMLET: É, de fato. Mas a meu ver - embora aqui eu tivesse o berço e a educação - é um desses
hábitos cuja quebra honra mais do que a observância. Essas orgias torpes nos difamam de leste a
oeste, junto aos outros povos. Só nos chamam de bêbedos, alcunha que nos deprime, por privar os
nossos empreendimentos, ainda os mais brilhantes, da essência medular de nosso mérito. Isso acon-
tece às vezes noutros meios: se nasce alguém com algum defeito ingênito - do que não é culpado,
porque a origem para si não escolhe a natureza, pelo excesso de sangue, que, por vezes, os fortes
da razão e os diques rompem, ou somente por hábito, que estraga a moral cotidiana - esse coitado,
que leva pela vida tal defeito, seja mancha do acaso ou vestimenta da natureza, embora suas virtu-
des sejam tão puras quanto graça e em número infinito, no máximo de nossa capacidade, perde no
conceito geral por essa falha. A massa nobre se torna recalcada e diminuída pelo grão do defeito.
(Entra o Fantasma.)
HAMLET: Anjos do céu, correi em nosso auxílio! Quer sejas um bom gênio ou alma penada, quer tra-
gas ar do céu ou sopro infecto, quer tenhas intenções ruins ou amoráveis, tão duvidosa é a forma que
assumiste, que resolvo falar-te. Dou-te o nome de Hamlet, rei, meu pai, régio Danês! Não me deixes
em trevas; dize a causa de teus ossos, que a morte já guardara, terem rompido o invólucro; o motivo
de te haver o sepulcro, em que te vimos recolhido, lançado de suas fortes mandíbulas de mármore.
Que pode significar vestires assim de aço, para o luar de novo visitares, tornando a noite hedionda, e
a nós, ludíbrio da criação, abalares deste modo com pensamentos que ultrapassam muito o âmbito
limitado de nossa alma? Fala; que é isso? A causa? Que faremos?
HORÁCIO: Faz-vos sinal para irde-vos com ele, como se pretendesse algo dizer-vos sem testemu-
nhas.
P á g i n a | 101
MARCELO: Vede o gesto cortês com que ele indica que em lugar apartado quer falar-vos. Não deveis
atender.
HAMLET: De que posso temer-me? Minha vida? Não vale um alfinete. Quanto a minha alma, em
nada
há de ofendê-la, por ser algo imortal como ele próprio. Acena-me de novo; vou segui-lo.
HORÁCIO: E se vos arrastar para a água, príncipe, ou para o pico horrendo do rochedo que no mar
se
acha a prumo de sua base, para assumir, então, forma espantosa e privar da razão a Vossa Alteza,
levando-vos à insânia? Refleti. Sem outra qualquer causa, o simples fato do lugar, faz nascer
desesperadas fantasias em todo e qualquer cérebro que de tão grande altura o mar contemple e o
ouça em baixo rugir.
HAMLET: Soltai-me.
HAMLET: Meu destino me chama; é ele que deixa as menores artérias do meu corpo com a mesma
resistência que a dos músculos do leão de Neméia.
(O Fantasma acena.)
Outro sinal!
Largai-me!
(Desvencilha-se.)
Ou, pelo céu, faço um fantasma do primeiro que ousar ainda deter-me. Caminha, digo; irei aonde tu
fores.
MARCELO: Acompanhemo-lo.
(Saem.)
Extraído de: https://williamshakespearewilliam.blogspot.com/2009/02/hamlet-ato-i-cena-
iv.html.
P á g i n a | 102
Claro que, no século XX, com as transformações advindas dos muitos movi-
mentos modernistas, as estruturas clássicas do texto dramático sofreram alterações,
mudanças e adaptações.
Confira:
<https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4839756>.
<https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2650/3/131-143.pdf>.
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
II.
"Canta, ó Musa, a ira de Aquiles, filho de Peleu,
que incontáveis males trouxe às hostes dos aqueus.
Muitas almas de heróis desceram à casa de Hades
e seus corpos foram presa dos cães e das aves de rapina,
enquanto se fazia a vontade de Zeus,
a partir do dia em que se desavieram o filho de Atreu,
rei dos homens, e Aquiles, semelhante aos deuses.”
A ilíada, de Homero
III.
DESDÊMONA - Quem está aí? Otelo?
OTELO - Sim, Desdêmona.
DESDÊMONA - Não vindes para o leito, meu senhor?
OTELO - Desdêmona, rezastes esta noite?
DESDÊMONA - Oh, decerto, senhor!
OTELO - Se vos lembrardes de alguma falta não perdoada ainda pelo céu e
sua graça, cuidai logo de tê-la redimida.
DESDÊMONA - O meu senhor! Que pretendeis dizer com isso?
OTELO - Bem; fazei o que vos disse e sede breve. Passarei nesse em meio;
não desejo trucidar-vos o espírito manchado. Não pelo céu! Não vos matarei a alma.
Otelo, William Shakespeare.
P á g i n a | 108
IV.
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava
na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal
da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia com esse saco aí
atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que
ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia.
A velhinha contrabandista, Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
8 PARA COMEÇAR
TEXTO II
Canto I
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
O que é prosa;
Origens etimológicas e históricas da prosa;
As aproximações da narrativa com a poesia.
Referências Bibliográficas
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
2) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra mo-
lécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e
havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo
jamais começou.
[...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da
pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, pas-
sará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo
o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas
nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual –
há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência
de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora
mesma em que sou lido. Só não início pelo fim que justificaria o começo – como a
morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
P á g i n a | 116
APRESENTAÇÃO DA AULA
Nesta aula, vamos analisar algumas variações históricas da prosa, focando nas
narrativas de língua portuguesa.
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
9 PARA COMEÇAR
uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma
salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos.
Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava
do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com
as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio
no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas
e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não
de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana,
morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas so-
bre a mesa, e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
- E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...
- A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez
das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas;
baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou
a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
- As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-
lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro;
ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela;
ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de
Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas
e fechou-as na gaveta.
- A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por
cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
- Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como
se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à
cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas,
começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que
desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar par-
ticular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
- Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer
mandar buscar?
- Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante
fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
- Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
senhor. Vá, vá, tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando,
com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada
que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava acima,
cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava
livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu
estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou
pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos
e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que
eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negó-
cio grave e gravíssimo.
- Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer causa; pa-
rece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à an-
tiga assiduidade.... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as pala-
vras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o es-
tado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O
P á g i n a | 122
presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e continuas, que as
velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o
com as unhas de ferro. s vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;
mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação:
- Vá, vá, ragazzo inflamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida,
lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os
antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes
de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para
o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço
infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do
jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e
mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
- Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram
para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de ter-
ror: - ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela
pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Extraído de:
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/acarto-
mante.htm.
Figura 3: Capítulo 2.
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
TEXTO I
DOIS E DOIS: QUATRO (Ferreira Gullar)
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro E a liberdade pequena
TEXTO II
PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ (Bertold Brecht) Quem construiu
a Tebas das sete portas? Nos livros constam os nomes dos reis. Os reis ar-
rastaram os blocos de pedra? E a Babilônia tantas vezes destruída Quem a
ergueu outras tantas? Em que casas da Lima radiante de ouro Moravam os
construtores? Para onde foram os pedreiros Na noite em que ficou pronta a
Muralha da China? A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os
levantou? Sobre quem triunfaram os césares? A decantada de Bizâncio só
tinha palácios Para seus habitantes? Mesmo na legendária Atlântida, Na noite
P á g i n a | 127
TEXTO III
TECENDO A MANHÃ (João Cabral de Melo Neto)
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre se outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que
apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
2. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem
todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de
armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo Que, tecido, se eleva por
si: luz balão.
TEXTO IV
O AÇÚCAR (Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi
produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo da moça, água na pele, flor que
se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim.
Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono
da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar de Pernambuco ou
no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por
acaso no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não
sabem ler e morrem aos vinte e sete anos plantaram e colheram a cana que
viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar
branco e puro com que adoço meu café́ esta manhã em Ipanema.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
10 PARA COMEÇAR
Confiram:
<http://www.omarrare.uerj.br/numero13/pdfs/alfarrabios.pdf>.
<https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/machado-de-assis-publicou-
critica-dura-de-o-primo-basilio-e-disse-que-eca-de-queiros-imitou-zola%C2%B9-59991/>.
Outra grande narrativa é Dom Casmurro de Machado de Assis. Para falarmos dessa obra,
vamos assistir aos vídeos:
<https://www.youtube.com/watch?v=R183O1jb_L0\>.
<https://www.youtube.com/watch?v=cgEDCx6yq10>.
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão,
mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia,
para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei me-
lhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este
mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pe-
queno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que ape-
nas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimi-
lhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à
definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor..., Mas não
adiantemos; vamos à primeira parte, em que eu vim a saber que já cantava, porque a
denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que
ele me denunciou.
Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já idéias atrevidas, muito menos
que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se
hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos salti-
nhos.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblí-
qua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria
ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o
que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas
conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento;
imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos,
constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos
e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o
que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem que-
bra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de
ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido miste-
rioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da
praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizi-
nhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão de-
pressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura,
ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.
P á g i n a | 132
(...)minha mãe, dizendo tio Cosme que ainda queria ver com que mão havia eu
de abençoar o povo à missa, contou que, dias antes, estando a falar de moças que se
casam cedo, Capitu lhe dissera: "Pois a mim quem me há de casar há de ser o padre
Bentinho, eu espero que ele se ordene!" Tio Cosme riu da graça, José Dias não des-
sorriu, só prima Justina é que franziu a testa, e olhou para mim interrogativamente.
Eu, que havia olhado para todos, não pude resistir ao gesto da prima, e tratei de co-
mer. Mas comi mal, estava tão contente com aquela grande dissimulação de Capitu
que não vi mais nada, e, logo que almocei, corri a referir-lhe a conversa e a louvar-lhe
a astúcia. Capitu sorriu de agradecida.
—Você tem razão, Capitu, concluí eu; vamos enganar toda esta gente.
—Não é? disse ela com ingenuidade.
Escapei ao agregado, escapei a minha mãe não indo ao quarto dela, mas não
escapei a mim mesmo. Corri ao meu quarto, e entrei atrás de mim. Eu falava-me, eu
perseguia-me, eu atirava-me à cama, e rolava comigo, e chorava, e abafava os solu-
ços com a ponta do lençol. Jurei não ir ver Capitu aquela tarde, nem nunca mais, e
fazer-me padre de uma vez. Via-me já ordenado, diante dela, que choraria de arre-
pendimento e me pediria perdão, mas eu, frio e sereno, não teria mais que desprezo,
muito desprezo; voltava-lhe as costas. Chamava-lhe perversa. Duas vezes dei por
mim mordendo os dentes, como se a tivesse entre eles.
Da cama ouvi a voz dela, que viera passar o resto da tarde com minha mãe, e
naturalmente comigo, como das outras vezes; mas, por maior que fosse o abalo que
me deu, não me fez sair do quarto e Capitu ria alto, falava alto, como se me avisasse;
eu continuei surdo, a sós comigo e o meu desprezo. A vontade que me dava era cra-
var-lhe as unhas no pescoço, enterrá-las bem, até ver-lhe sair a vida com o sangue...
A separação não nos esfriou. Ele [Escobar] foi o terceiro na troca das cartas
entre mim e Capitu. Desde que a viu animou-me muito no nosso amor. As relações
P á g i n a | 134
que travou com o pai de Sancha estreitaram as que já trazia com Capitu, e fê-lo servir
a ambos nós, como amigo. A princípio, custou-lhe a ela aceitá-lo, preferia José Dias,
mas José Dias repugnava-me por um resto de respeito de criança. Venceu Escobar
posto que vexada, Capitu entregou-lhe a primeira carta, que foi mãe e avó das outras.
Nem depois de casado suspendeu ele o obséquio.... Que ele casou, —adivinha com
quem, — casou com a boa Sancha a amiga de Capitu, quase irmã dela, tanto que
alguma vez, escrevendo-me, chamava a esta a “sua cunhadinha. ” Assim se formam
as afeições e os parentescos, as aventuras e os livros
Quando saímos, tornei a falar com os olhos à dona da casa. A mão dela apertou
muito a minha, e demorou-se mais que de costume. (...). Senti ainda os dedos de
Sancha entre os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de
pecado. Passou depressa no relógio do tempo; quando cheguei o relógio ao ouvido,
trabalhavam só os minutos da virtude e da razão.
O retrato de Escobar, que eu tinha ali, ao pé do de minha mãe, falou-me como
se fosse a própria pessoa. Combati sinceramente os impulsos que trazia do Flamengo,
rejeitei a figura da mulher do meu amigo, e chamei-me desleal. Demais, quem me
afirmava que houvesse alguma intenção daquela espécie no gesto da despedida e
nos anteriores? Tudo podia ligar-se ao interesse da nossa viagem. Sancha e Capitu
eram tão amigas que seria um prazer mais para elas irem juntas. Quando houvesse
alguma intenção sexual, quem me provaria que não era mais que uma sensação ful-
gurante, destinada a morrer com a noite e o sono? Há remorsos que não nascem de
outro pecado, nem têm maior duração. Agarrei-me a esta hipótese que se conciliava
com a mão de Sancha, que eu sentia de memória dentro da minha mão, quente e
demorada, apertada e apertando...
palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse
tragar também o nadador da manhã.
Não fui logo, logo; fi-lo esperar uns dez ou quinze minutos na sala. Só depois é
que me lembrou que cumpria ter certo alvoroço e correr, abraçá-lo, falar-lhe na mãe.
A mãe, —creio que ainda não disse que estava morta e enterrada. Estava; lá repousa
na velha Suíça. Acabei de vestir-me às pressas. Quando saí do quarto tomei ares de
pai, um pai entre manso e crespo, metade Dom Casmurro. Ao entrar na sala, dei com
um rapaz, de costas, mirando o busto de Massinissa, pintado na parede.
Vim cauteloso, e não fiz rumor. Não obstante, ouviu-me os passos, e voltou-se
depressa. Conheceu-me pelos retratos e correu para mim. Não me mexi; era nem mas
nem menos o meu antigo jovem companheiro do seminário de José, um pouco mais
baixo, menos cheio de corpo e, salvo as cores que eram vivas, o mesmo rosto do meu
amigo. Trajava à moderna naturalmente, e as maneiras eram diferentes, mas o as-
pecto geral reproduzia a pessoa morta. Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar.
Era o meu comborço; era o filho de seu pai. Vestia de luto pela mãe; eu também estava
de preto. Sentamo-nos.
—Papai não faz diferença dos últimos retratos, disse-me ele
A voz era a mesma de Escobar, o sotaque era afrancesado. Expliquei-lhe que
realmente pouco diferia do que era, e comecei um interrogatório para ter menos que
falar e dominar assim a minha emoção. Mas isto mesmo dava animação à cara dele,
e o meu colega do seminário ia ressurgindo cada vez mais do cemitério. Ei-lo aqui.
diante de mim, com igual riso e maior respeito; total, o mesmo obséquio e a mesma
graça. Ansiava por ver-me. A mãe falava muito em mim, louvando-me extraordinaria-
mente, como o homem mais puro do mundo, o mais digno de ser querido.
— Morreu bonita, concluiu.
—Vamos almoçar.
(...) Ao cabo de seis meses, Ezequiel falou-me em uma viagem à Grécia, ao
Egito, e à Palestina, viagem científica, promessa feita a alguns amigos.
—De que sexo? perguntei rindo.
Sorria vexado, e respondeu-me que as mulheres eram criaturas tão da moda e
do dia que nunca haviam de entender uma ruína de trinta séculos. Eram dous colegas
P á g i n a | 136
Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas
ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado
nas imediações de Jerusalém, onde os dous amigos da universidade lhe levantaram
um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: “Tu eras perfeito
nos teus caminhos.” Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da
sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo
para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato,
mas tinha ainda um complemento: “Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia
da tua criação. ” Parei e perguntei calado: "Quando seria o dia da criação de Eze-
quiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste
mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a pri-
meira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de
ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propria-
mente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava
dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum
caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciú-
mes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mu-
lher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de
ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da
Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a
fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas,
ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior
amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que
acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à
“História dos Subúrbios.
Extraído de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdf.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
1) Explique o que a personagem quer exprimir com a pergunta para quê? Feita
a si mesma.
2) Como se pode caracterizar o comportamento de Basílio, visto por dois ângu-
los, o do narrador e o da personagem feminina?
3) Tente explicar que sentindo pode ter a frase “O que ela odiava o pentezinho”
4) Quais os elementos do texto que concorrem para que nós o classifiquemos
de antirromântico?
5) Analise estas duas afirmações estritamente relativas ao texto: a) Luísa per-
cebe, enfim, que ama verdadeiramente não a Basílio, mas a Jorge. b) Luísa definiti-
vamente se arrepende de ter começado aquela relação amorosa.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
11 PARA COMEÇAR
Mas vale também lembrar do excelente trabalho de contista que Lima Barreto
exercia: o relato das ações, o detalhe dos ambientes, a criatividade imaginativa, os
diálogos diretos e as personagens sempre próximas da nossa condição humana con-
duzem a narrativa barretiana a um dos mais altos patamares da literatura nacional.
Vejamos abaixo o conto Nova Califórnia, uma das obras em que se baseou Aguinaldo
Silva na criação da telenovela contemporânea Fera ferida.
Clique aqui e leia o conto de Lima Barreto:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000151.pdf.
P á g i n a | 144
a) Graciliano Ramos
A obra Vidas Secas de Graciliano Ramos é única na nossa literatura: 5 perso-
nagens, representantes de um tempo de miséria e fome no sertão, Fabiano, Sinha
Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e Baleia, a cachorra.
Retrato de uma vida de miséria, Vidas Secas é a representação de um período
da história nacional e de uma região marcada pela pobreza e pela servidão humana:
a ausência de diálogos substanciosos, de reflexões dos personagens, as imagens da
secura do ambiente e das relações, a exploração injusta da força de trabalho são
algumas das configurações que encontramos nesse romance.
Capítulo IX – Baleia
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe
em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas
escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e
a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por isso Fabiano
imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe
no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre
de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaci-
ente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a
cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma
cauda de cascavel. Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda
de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la
bem para a cachorra não sofrer muito. Sinha Vitória fechou-se na camarinha,
rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se can-
savam de repetir a mesma pergunta: - Vão bulir com a Baleia? Tinham visto
P á g i n a | 145
c) Guimarães Rosa
Célebre mineiro de Cordisburgo, João Guimarães Rosa era médico, escritor e
diplomata. Ocupou a cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras, escreveu obras
inigualáveis como Grande Sertão: Veredas, ultrapassando as fronteiras, sendo tradu-
zida para vários idiomas. Sua literatura reflete o universo sertanejo, entre personagens
típicos, ambientes realistas, diálogos sobre a vida e a sua existência, dos percalços e
desencantos, às alegrias e à expressividade, presentes em Tutameia, Sagarana entre
outros contos, romances.
Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=ysqtc8VUtIc>.
A seguir, vamos a um conto fantástico de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio, que
traz as reflexões sobre a vida humana e a busca de si mesmo:
Acesse:
<http://www.aedi.ufpa.br/parfor/letras/images/documentos/ativ-a-dist-jan-fev2014/CASTA-
NHAL/castanhal-2010-010/guimaraes%20rosa%20-%20a_terceira_margem_do_rio-3.pdf>.
d) Clarice Lispector
Mesmo não nascida nas terras tupiniquins, Clarice Lispector foi uma das maio-
res escritoras do Brasil. Vamos ao que disse o grande Moacyr Scliar:
Não sei se existe uma Bolsa de Valores literária, mas, se existisse, as cota-
ções variariam nela tão amplamente quanto variam na Bolsa propriamente
dita. Coisa que podemos facilmente constatar: existem autores hoje escassa-
mente lembrados mas que, em sua época, faziam enorme sucesso, de pú-
blico e/ou de crítica. Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos
(1968) foi um best-seller fantástico, mas hoje, quando se pergunta aos jovens
sobre esse livro, constata-se que muitos não sabem do que se trata. Fernão
Capelo Gaivota, de Richard Bach, vendeu 40 milhões de cópias em 70 paí-
ses, mas, de novo, é escassamente lembrado.
P á g i n a | 148
Por outro lado, existem escritores que só aos poucos, e lentamente, vão
sendo descobertos. Tomem o caso de Franz Kafka. Na sua curta vida, o es-
critor tcheco era muito pouco lido — e, também, muito pouco compreendido,
tanto que, no leito de morte, pediu ao amigo Max Brod que destruísse seus
originais — a maioria de sua obra. Brod não atendeu a esse pedido e só assim
pudemos ter acesso a um trabalho notável, que antecipava os totalitarismos
do século 20, o nazismo e o stalinismo, e exatamente por isso não era com-
preendido.
No Brasil temos uma autora que, sem chegar a esse extremo, tem com ele
muitos pontos em comum. Como Kafka, Clarice Lispector era judia e euro-
peia; como Kafka, sua literatura é, não raro, enigmática, deixando leitores
perplexos. Mas Clarice veio para o Brasil, e aqui, com muita dificuldade, con-
seguiu desenvolver uma carreira literária, coisa que Kafka, advogado de pro-
fissão, nunca chegou a fazer.
Isso não quer dizer que Clarice tenha sido imediatamente reconhecida ou
prestigiada. Ao contrário, precisou enfrentar vários obstáculos. Em primeiro
lugar, era mulher e, durante muito tempo, literatura no Brasil era coisa de
homem. Foi esposa de diplomata e passou muitos anos no exterior. Sua fic-
ção tem um componente filosófico não pequeno, o que se constitui num de-
safio para o leitor comum. Por último, mas não menos importante, desenvol-
veu boa parte de sua obra num período muito tumultuado da história brasi-
leira, um período de agravamento de conflitos sociais e políticos e no qual a
literatura engajada de um Jorge Amado ou de um Graciliano Ramos desem-
penhavam papel importante.
Clarice nunca foi, como esses autores, militante esquerdista; por isso, era por
muitos considerada “alienada”, ou, no mínimo, “intimista”. É verdade que após
o golpe de 1964 participou em manifestações contra a ditadura, mas isso não
foi suficiente para reverter sua imagem. De qualquer modo, formou um pú-
blico de leitores fiéis que adoravam seus contos, muitos deles publicados na
revista Senhor, numa época a publicação mais sofisticada do país. O diretor
artístico era meu primo, o artista plástico Carlos Scliar, e foi ele quem me leu
o notável Uma galinha. Até hoje lembro o espanto de que eu, então um ga-
roto, fui possuído: como era possível alguém escrever tão bem? Escusado
dizer que não perdi mais nada do que Clarice escrevia. A hora da estrela foi
o digno coroamento dessa bela carreira, uma novela em que Clarice conse-
gue, através da personagem Macabéa, falar do drama nordestino, do sofri-
mento judaico e da condição feminina em geral (...).
Extraído de: http://www.academia.org.br/artigos/o-triunfo-de-clarice.
Felicidade Clandestina
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio
arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos acha-
tadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do
busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histó-
rias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo
menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da
loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde moráva-
mos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadís-
sima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando
balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos im-
perdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exer-
ceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem
notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe em-
prestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma
tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-
me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não
vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem
para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e
que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas
em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a
andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife.
Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os
dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me
esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria
era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa,
com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte”
com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefi-
nido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já come-
çara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas,
adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer
esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às
vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio
de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada
a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e
silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a
aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explica-
ções a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras
pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não
estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e
com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e
você nem quis ler!
P á g i n a | 150
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser
a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a
potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé
à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora
mesmo.
E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem?
Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que
uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro
na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando
como sempre. Saí andando bem devagar.
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o
peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu
peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois
ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fe-
chei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com
manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por
alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clan-
destina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim.
Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e
pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo,
sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Extraído de: https://veele.files.wordpress.com/2010/02/clarice_lispector_-_felicidade_clandes-
tina_e_outros_contos.pdf.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
1 - Texto I
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que
o segurava era a família. Vivia preso como um novi-
lho amarrado ao mourão, suportando ferro quente.
Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pi-
sava o pé não (...). Tinha aqueles cambões pendu-
rados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los?
Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos,
como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível,
seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo
(Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75).
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não
há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo
da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graci-
liano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura roma-
nesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam,
mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para
a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de apare-
cer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de
segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiada-
mente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento
da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que
essas pessoas seriam plenamente capazes
(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n. º
2, 2001, p. 254.).
(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém
excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva
uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se
conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância,
uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de
sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade. (...)”
(de “Os obedientes”)
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Feli-
cidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato
narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos
fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior,
própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
II. O aspecto metalinguístico está presente no primeiro fragmento.
III. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e
a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver
num mundo incompreensível.
IV. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consci-
ência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de
novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento per-
verso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.
4) A produção literária de Lima Barreto foi marcada pela investigação das desi-
gualdades sociais. Houve, por parte do escritor, uma leitura crítica sobre os homens
e suas relações em uma sociedade provinciana e hipócrita. De acordo com essas
P á g i n a | 156
afirmações, é correto dizer que Lima Barreto filiou-se à corrente literária denominada
Pré-Modernismo, cujas principais características eram:
a) desencadeada tardiamente nos anos 20, foi fortemente influenciada pelas
vanguardas europeias e possuiu amplo espectro cultural, cujo ápice foi a realização
da Semana Nacional de Arte Moderna, em 1922.
b) movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do
século XIX, suas principais características foram a abordagem de temas sociais, ex-
pondo as mazelas do homem e sua sociedade, além da retratação do homem através
de uma visão objetiva.
c) Situada aproximadamente nas duas primeiras décadas do século XX, não é
associada a nenhuma escola literária, visto que não correspondia às estéticas propa-
gadas à época. Apresentou novas vertentes estilísticas e novas temáticas em nossa
literatura.
d) Importante corrente de vanguarda iniciada em 1956, rompeu drasticamente
com os padrões da arte tradicional ao apresentar uma literatura de caráter agressivo
e experimental, influenciando poetas, artistas plásticos e músicos.
e) Influenciada pelos estudos da Biologia, Psicologia e Sociologia, propôs-se a
analisar o comportamento humano e social, ocupando-se de temas obscuros relacio-
nados com a alma humana sob uma perspectiva biológica (patologia).
Aula 12
Grandes autores da Língua
Portuguesa
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
12 PARA COMEÇAR
linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele,
lendo-as, sinta exactamente o uqe eu senti. E como este outrem é, por hipótese de
arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é co-
mum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus senti-
mentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza
daquilo que senti.
Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil para ele a
atenção de quem o leia. Darei, por isso, um exemplo simples, em que as abstracções
que formei se concretizarão. Suponha-se que, por um motivo qualquer, que pode ser
o cansaço de fazer contas ou o tédio de não ter que fazer, cai sobre mim uma tristeza
vaga da vida, uma angústia de mim que me perturba e inquieta. Se vou traduzir esta
emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou
como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comu-
nicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem escrever.
Suponha-se, porém, que desejo comunicá-la a outros, isto é, fazer dela arte,
pois a arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles; sem o
que nem há comunicação nem necessidade de o fazer. Procuro qual será a emoção
humana vulgar que tenha o tom, o tipo, a forma desta emoção em que estou agora,
pelas razões inumanas e particulares de ser um guarda-livros cansado ou um lisboeta
aborrecido. E verifico uqe o tipo de emoção vulgar que produz, na alma vulgar, esta
mesma emoção é a saudade da infância perdida.
Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância
perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da
velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser
livre por não saber pensar nem sentir - e esta evocação, se for bem-feita como prosa
e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada
tinha com a infância.
Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea, e
nasce da vontade de estar a sonhar, é tão-somente a noção da existência real dos
outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se não pode
conformar a ela.
A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos
servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em
P á g i n a | 163
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=a1IBpsuCI14>.
<https://www.youtube.com/watch?v=iXuKZFarmP4>.
b) José Saramago
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga,
província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo
oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram
para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte
da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da
idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas
na aldeia natal.
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades económi-
cas, não pôde prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro me-
cânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário
da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu
primeiro livro, um romance, Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois
P á g i n a | 170
largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa edi-
tora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou
como crítico literário na revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da
redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo tam-
bém coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele
vespertino.
Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e foi,
de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa
de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do jornal Di-
ário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu tra-
balho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar
del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a
sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das
Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.
Extraído: https://www.josesaramago.org/biografia-jose-saramago/.
cado nas linhas de ir e voltar, carris de pé descalço e mal calçado, entre tor-
rões ou mato, entre restolho ou flor brava, entre o muro e o deserto. Tanta
paisagem. Um homem pode andar por cá uma vida toda e nunca se achar,
se nasceu perdido. E tanto lhe fará morrer, chegada a hora. Não é coelho ou
gineto para apodrecer ao sol, mas imaginando que a fome, ou o frio, ou o
calor o deitem a terra onde não deram por ele, ou uma doença daquelas que
não dão sequer o tempo de pensar nisso, menos ainda de chamar alguém,
mesmo tarde o hão-de achar. De guerra e outras pestes se morreu muito
neste e mais lugares da paisagem, e no entanto quanto por aqui se vai vendo
são vivos: há quem defenda que só por mistério insondável, mas as razões
verdadeiras são as deste chão, deste latifúndio que por corcova de cima e
plaino de baixo se alonga, aonde os olhos chegam. E se deste não é, doutro
há-de ser, que a diferença só a ambos importa, pacificado o teu e o meu: tudo
em tempo devido e conveniente se registou na matriz, confrontações a norte
e a sul, a nascente e a poente, como se tal houvesse sido decidido desde o
princípio do mundo, quando tudo era paisagem, com alguns bichos grandes
e poucos homens de longe em longe, e todos assustados. Por esse tempo, e
depois, se resolveu o que o futuro haveria de ser, por que vias retorcidas da
mão, este presente agora de terra talhada entre donos do cutelo e consoante
o tamanho e o ferro ou gume do cutelo. Por exemplo: senhor rei ou duque,
ou duque depois real senhor, bispo ou mestre da ordem, filho direito ou de
saborosa bastardia, ou fruto de concubinato, nódoa assim lavada e honrada,
compadre por filha manceba, e também o outro condestável, meio remo por
contado, e algumas vezes amigos meus esta é a minha terra, tomai-a, povoai-
-a para meu serviço e vosso prol, guardada de infiéis e outras inconforma-
ções. Livro de santíssimas horas, magníficas, e de sacratíssimas contas tra-
zidas ao paço e ao mosteiro, rezadas nos térreos palácios ou torres de segu-
rança, cada moeda um padre-nosso, às dez ave-maria, chegando a cem
salve-rainha, maria é rei. Profundas arcas, tulhas abissais, celeiros como
naus da Índia, dornas e tonéis, arcas senhora minha, tudo isto medido em
côvados, varas e alqueires, em almudes, moios e canadas, cada terra com
seu uso. Correram assim os rios, quatro estações pontuais por ano, que es-
sas estão certas, mesmo variando. A grande paciência do tempo, e outra, não
menor, do dinheiro, que, tirante o homem, é a mais constante de todas as
medidas, mesmo como as estações variando. De cada vez, sabemos, foi o
homem comprado e vendido. Cada século teve o seu dinheiro, cada reino o
seu homem para comprar e vender por morabitinos, marcos de ouro e prata,
reais, dobras, cruzados, réis, e dobrões, e florins de fora. Volátil metal vário,
aéreo como o espírito da flor ou o espírito do vinho: o dinheiro sobe, só para
subir tem asas, não para descer. O lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar
onde os santos mudam de nome quando vem a ter de ser, mas o latifúndio
não. Madre de tetas grossas, para grandes e ávidas bocas, matriz, terra divi-
dida do maior para o grande, ou mais de gosto ajuntada do grande para o
maior, por compra dizemos ou aliança, ou de roubo esperto, ou crime es-
treme, herança dos avós e meu bom pai, em glória estejam. Levou séculos
para chegar a isto, quem duvidará de que assim vai ficar até à consumação
dos séculos? E esta outra gente quem é, solta e miúda, que veio com a terra,
embora não registada na escritura, almas mortas, ou ainda vivas? A sabedo-
ria de Deus, amados filhos, é infinita: aí está a terra e quem a há -de trabalhar,
crescei e multiplicai-vos. Crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio. Mas tudo
isto pode ser contado doutra maneira.
Extraído de: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13539.pdf.
P á g i n a | 172
Nesta obra, Saramago utiliza de uma escrita tematizada sob o pano do realismo
fantástico em proporções catastróficas: imaginemos uma sociedade que perpassará
por uma pandemia: uma cegueira branca. Como as pessoas se relacionariam, como
as estruturas da vida em comunidade se dariam e como se comportariam em tempos
de incerteza, entrincheirados pela impossibilidade de ver para entender são os cami-
nhos críticos que perfilarão essa narrativa.
Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=Wt8qVW2xlzU>.
<https://www.youtube.com/watch?v=k36uq02_fVY>.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
II.
“(...) Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim (...)”.
III.
“(...) Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...”.
IV.
“(...) Será que em seu movimento
A brisa lembre a partida,
Ou que a largueza do vento
Lembre o ar livre da ida?
Não sei, mas subitamente
P á g i n a | 176
( ) Bernardo Soares.
( ) Álvaro de Campos.
( ) Alberto Caeiro.
( ) Ricardo Reis.
2) Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
Para José Saramago seria o caos. Em seu livro Ensaio sobre a Cegueira, o
mundo praticamente acaba enquanto a humanidade vai perdendo a visão.
Mas para a ciência as coisas poderiam tomar um caminho diferente. “Há vá-
rias tecnologias que ajudariam: bengalas ultrassônicas que poderiam indicar
se há objetos pela frente ou até robôs que atuariam como cães guias”, diz o
especialista em robótica Darwin Caldwell, diretor do Instituto Italiano de Tec-
nologia. Além disso, precisaríamos de coisas como carros que andassem so-
zinhos e máquinas capazes de substituir médicos em cirurgias. Mas como
esses carros-robôs e outros aparelhos seriam construídos sem ninguém para
ver que peça apertar? Fábricas totalmente automatizadas também não estão
longe de ser realidade. “Robôs seriam capazes de se autoconstruir”, diz Ken
Young, presidente da Associação Britânica de Automação e Robótica. Ou
P á g i n a | 178
TEXTO II
Teríamos que aprender novas maneiras de lidar com computador, por exem-
plo. Seria algo como tocar um instrumento musical tendo o som como a res-
posta para cada ação na máquina” diz o engenheiro Ken Goldberg, da Uni-
versidade de Berkeley, nos EUA. Impossível? Os cegos que usam computa-
dor hoje, com uma mãozinha de softwares de reconhecimento de voz e de
programas que leem o que aparece na tela, provam que não. E as tecnologias
que existem, ou que estão nascendo, também (In: Revista Superinteressante,
264/abr., 2009).
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
13 PARA COMEÇAR
Antes de pensarmos qual o papel da crítica, se o crítico teria seu lugar no âmbito da cultura
literária e qual seria seu valor para a própria cultura, vamos ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=0vYP5eDewVo&feature=youtu.be>.
A crítica literária não tem como função definir quem é o melhor autor, a melhor
obra de uma nação ou mesmo quais os personagens são símbolos de uma cultura. É
antes de tudo um trabalho de diálogo com as estruturas da vida em sociedade, com o
tempo e espaço das transformações culturais locais e internacionais, numa busca pelo
entendimento das experiências da vida humana. Entender qual o valor de uma obra
para uma sociedade é proporcionar a aprendizagem que a arte tem a oferecer a uma
determinada cultura. A crítica literária surgiu há tempos, podemos dizer, exemplifi-
cando, que desde os séculos XV e XVI em que peças teatrais eram estudadas (por
vezes hostilizadas, como é o caso de Willian Shakespeare, em seu tempo, já que
despertara a inveja de outros dramaturgos com formação acadêmica). No século XIX,
a crítica atinge outros patamares tanto na Europa quanto nas Américas.
Não achamos que um bom crítico é aquele que só critica (no sentido negativo
da palavra), um crítico que apenas vê falhas nos textos (baseado quase sem-
pre em mitos sem valor), um crítico que só busca ditar o que é um "texto
perfeito" (será que existe um texto perfeito? Ou melhor, será que um autor,
quando coloca seus sentimentos num papel, está preocupado em ser per-
feito?).
A opinião que defendemos é a de que um bom crítico (não pretendendo ditar,
mas apenas verificando qual análise é mais importante para uma obra de
arte) é aquele que vê o texto como um todo significativo, tentando descobrir
o que ele significa, como, por quê, com quais elementos etc.”
Extraído de: https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/949072.
Confiram também:
<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/critica.htm>.
<https://blog.saraiva.com.br/dez-criticos-literarios-brasileiros-que-fizeram-historia/>.
<http://www.academia.org.br/eventos/critica-literaria-no-brasil-hoje>.
Assistam também:
<https://www.youtube.com/watch?v=Z0M9A7Bzebc>.
Resumo
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
b)
Jaime Ovalle, poeta, homem triste,
Faz treze anos que tu partiste
Para Londres imensa e triste.
c)
Minha terra tem palmares
Onde não canta o mar.
P á g i n a | 187
d)
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
e)
Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa.
Texto B -
"O inventor das máquinas que mudam a vida da terra
trabalha na bruta sala de cimento armado.
Tantos dínamos, êmbolos, cilindros mexem naquela cabeça
que ele não escuta o barulho macio
das almas penadas
esbarrando nos móveis."
Texto C -
"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
P á g i n a | 189
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."
Soma ( )
Aula 14
Crítica Literária: século XIX
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
14 PARA COMEÇAR
A crítica literária no Brasil nasce sob o signo das muitas faces do condiciona-
mento e das transformações de nossa história, perpassando pela nossa colonização,
pelas transformações sociais, pelas relações culturais e pelos condicionantes biográ-
ficos dos autores. Por vezes, a conduta pessoal dos escritores de literatura era tam-
bém objeto de apreciação por parte de muitos críticos. No século XIX, a crítica conju-
gava vida e obra dos autores, numa busca da IDENTIDADE da cultura nacional.
Machado de Assis também produzira crítica, dentre elas, uma se destaca: INS-
TINTO DE NACIONALIDADE, na qual analisa a condição da arte na virada do século
XIX para o XX.
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/355080/mod_resource/content/1/ma-
chado.%20instinto%20de%20nacionalidade.pdf>.
Confiram também:
<https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestletras/DISSERTACOES_2/argu-
mentos.pdf>.
<http://e-revista.unioeste.br/index.php/temasematizes/article/view/540/451>.
Assistam também:
<https://www.youtube.com/watch?v=U0HJm-VwkeE>.
Resumo
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ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
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em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
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15 PARA COMEÇAR
Em seguida, podemos falar ainda da utilização interna, num jogo formal, que
determina os valores e a temática. Observem novamente:
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
palavras e coisas na sociedade: o que canta, clama, chora e geme? Que sentidos têm
das partes de um dia? Vemos aí a possibilidade do que está no texto literário: a plu-
rissignificação, o salto para fora do óbvio das palavras. Por detrás desse poema, ve-
mos a simbologia da passagem da própria vida humana.
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo QUELHA de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.
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em: 01 jan. 2018.
APRESENTAÇÃO DA AULA
OBJETIVOS DA AULA
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16 PARA COMEÇAR
TEXTO I
“Cântico Negro – José Régio
TEXTO II
“Ultimatum – Fernando Pessoa (adaptação de Maria Bethânia)
Mandato de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
minha Loucura! / Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, / E sinto espuma,
e sangue, e cânticos nos lábios...”; já no texto II, Fernando Pessoa joga com os ele-
mentos da história da cultura portuguesa para determinar sua crítica às variações po-
líticas.
d) Eixo paradigmático e sintagmático: sob a ótica desses eixos, podemos ler
os textos sob uma mesma estruturação paradigmática, em que se harmonizam e se
aproximam as temáticas, criando as possibilidades de interpretação dentro de um
campo semântico.
Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
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em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Da Nação Brasileira
Me dá um cigarro”
Os passarinhos daqui
Eu quero tudo de lá
Andarei de bicicleta
Subirei no pau-de-sebo
É outra civilização
De impedir a concepção
Vontade de me matar
Saem da penumbra,
A luz os deslumbra.
Berra o sapo-boi:
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
É bem martelado.
Em comer os hiatos!
Os termos cognatos.
Consoantes de apoio.
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Abaixo os puristas
Político
Raquítico
Sifilítico
fora de si mesmo
P á g i n a | 222
Um amor.
Grã-fino do despudor,
Um coió.
Paciência…
Uma bomba”
o burguês-burguês!
O homem-curva! O homem-nádegas!
Eu insulto o burguês-funesto!
Morte à gordura!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Após a leitura dos poemas acima, empreenda uma análise estruturalista de to-
dos, num texto em no máximo 03 páginas, nas quais sejam compreendidas as obser-
vações das dicotomias abaixo:
2) Sim, porque quando lemos podemos interpretar pelo jogo dos sentidos pre-
sentes na narrativa sobre a história da viagem de um homem que sobe aos céus e
depois, ao voltar, relata o que viu.
Gabarito
AULA 2
1) Letra d
2) Letra c
3) Letra e
4) Letra b
5) Letra d
Gabarito
AULA 5
1) Letra e
3) Letra a
Gabarito
AULA 6
1) Letra b
2) Letra b
3) Letra e
4) Letra c
5) Letra d
Gabarito
AULA 7
1) Letra c
2) Letra d
3) Letra a
4) Letra b
Gabarito
AULA 8
1) Letra b
2) Letra c
6) Letra d
7) Letra c
Gabarito
AULA 11
1) Letra a
2) Letra d
3) Letra c
4) Letra c
Gabarito
AULA 12
1) Letra a
2) Letra b
3) Letra c
4) Letra a
5) Letra b
6) Letra e
Gabarito
AULA 13
1) Letra d
2) Letra a
3) V V F F
4) 2+8=10
Gabarito
AULA 16