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Sobre o autor

Renato Marcelo Resgala Júnior

Possui graduação em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras


Santa Marcelina - Muriaé (2004). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em
Língua Portuguesa, Literatura e Língua Inglesa. No ano de 2006, ingressou no Pro-
grama de Mestrado em Letras - Teoria da Literatura e Crítica da Cultura, pela Univer-
sidade Federal de São João del-Rey - UFSJ - MG, orientado pela Prof.ª Dr. ª Maria
Ângela de Araújo Resende - Doutora em Estudos Literários - UFMG - Dissertação de
Mestrado defendida em 09/12/2008. Efetivou-se, em 2007, como Professor Efetivo -
Docente I - Governo do Estado do Rio de Janeiro, desde 2008). Desde 2010, é Pro-
fessor da Faculdade Redentor - Itaperuna (cursos de Direito, Administração, EaD). Foi
professor da Fundação São José - Itaperuna (curso de Letras e Pós-graduação em
Estudos Literários e Linguísticos). De 2014 a 2015, atuou como professor temporário
de Língua Portuguesa: Oficina de Leitura e Escrita, pela Universidade Federal Flumi-
nense - UFF - campus de Santo Antônio de Pádua.
Apresentação

Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)!

A disciplina de Estudos Literários - Teoria e Crítica objetiva discutir as funda-


mentações sobre o texto literário e suas correlações com a Cultura, a Sociedade e a
História.

.
.
.
Bons estudos!
Objetivos

Este caderno de estudos tem como objetivo:

 Pretende-se, nesta disciplina, discutir as principais características do


texto literário, as principais correntes da Crítica Literária e os grandes
nomes da arte literária nacional.
Sumário

AULA 1 - QUE É ISTO, LITERATURA?


1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
1.1 Que é isto, literatura? ...................................................................................... 11

AULA 2 - FUNDAMENTAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO


2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 20
2.1 Fundamentação do texto lite3rário ............................................................... 20

AULA 3 - ARTE, CULTURA E SOCIEDADE


3 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 34
3.1 Arte: cultura e sociedade............................................................................... 34

AULA 4 - POESIA: OBRAS ÉPICAS


4 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 50
4.1 A poesia épica ................................................................................................ 54

AULA 5 - GÊNEROS LITERÁRIOS – POESIA – HISTÓRIA E TRADIÇÃO: POESIAS


CONSAGRADAS
5 PARA COMEÇAR ....................................................................................................... 66

AULA 6 - GÊNEROS LITERÁRIOS – POESIA – SÉCULO XX


6 PARA COMEÇAR ....................................................................................................... 80

AULA 7 - GÊNEROS LITERÁRIOS - TEATRO


7 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 99

AULA 8 - GÊNEROS LITERÁRIOS – PROSA – ORIGENS: APROXIMAÇÕES COM A ARTE


POÉTICA
8 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 110

AULA 9 - GÊNEROS LITERÁRIOS – PROSA – VARIAÇÕES HISTÓRICAS


9 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 118
AULA 10 - GÊNEROS LITERÁRIOS – PROSA - NARRATIVAS DA ERA MODERNA PARTE
I
10 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 129
10.1 Capítulo primeiro / Do título ........................................................................ 130
10.2 Capítulo X / Aceito a teoria ........................................................................ 130
10.3 Capítulo XVIII / Um plano ........................................................................... 131
10.4 Capítulo XXXII / Olhos de ressaca ............................................................. 131
10.5 Capítulo LVI / Um seminarista ..................................................................... 132
10.6 Capítulo LIX / Convivas de boa memória ................................................. 132
10.7 Capítulo LXV / A dissimulação ................................................................... 133
10.8 Capítulo LXXV / O desespero ..................................................................... 133
10.9 Capítulo XCVIII / Cinco anos...................................................................... 133
10.10 Capítulo CXVIII / A mão de Sancha ........................................................ 134
10.11 Capítulo CXXIII / Olhos de ressaca.......................................................... 134
10.12 Capítulo CXLV / O regresso ...................................................................... 135
10.13 Capítulo CXLVI / Não houve lepra ........................................................... 136
10.14 Capítulo CXLVIII / E bem, e o resto? ........................................................ 136

AULA 11 - GÊNEROS LITERÁRIOS – PROSA – NARRATIVA DA ERA MODERNA PARTE II


11 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 143

AULA 12 - GRANDES AUTORES DA LÍNGUA PORTUGUESA


12 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 158

AULA 13 - CRÍTICA LITERÁRIA: ORIGEM


13 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 181

AULA 14 - CRÍTICA LITERÁRIA: SÉCULO XIX


14 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 191

AULA 15 - CRÍTICA LITERÁRIA: SÉCULO XX – FORMALISMO RUSSO


15 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 200

AULA 16 - CRÍTICA LITERÁRIA: SÉCULO XX – ESTRUTURALISMO FRANCÊS


16 PARA COMEÇAR ..................................................................................................... 210
Iconografia
Aula 1
Que é isto, Literatura?

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos os principais fundamentos que determinam o que é o


texto literário.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Diferenciar um texto literário de um não literário;


 Diferenciar o que é conotação de denotação.
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1 INTRODUÇÃO

Que é isto, literatura?

Observem o seguinte texto:


COTA ZERO
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
(Carlos Drummond de Andrade)

O que lemos acima? Um texto informativo ou um texto que diz mais do que se apresenta?
Será que poderíamos denominar de literário o texto acima? Será que haveria elementos tex-
tuais que constituiriam a estrutura textual acima como um texto literário, em outras palavras,
constituiriam o texto acima uma poesia?

Obviamente ao analisarmos integralmente o texto, vemos que há uma lingua-


gem diferenciada, sendo, pois, plurissignificativa. Bom, o que é essa plurissignifica-
ção? Podemos defini-la como a marca primordial do texto literário, enquanto uma va-
riabilidade possível em torno das relações significativas das palavras no âmbito da
construção textual, ou seja, uma múltipla significação das próprias palavras, no jogo
da textualidade. E o que seria esse jogo de uma textualidade? O entendimento em
nossas contextualizações e em nossos momentos de vivência: quantas vezes, ao re-
lermos uma passagem, um parágrafo, um bilhete ou carta, entre tantas formas textu-
ais, não relemos com visões interpretativas diferentes da anterior, da que era o primá-
rio encontro? Sempre ao reler, revivemos experiências, isto é, lemos com a contem-
poraneidade que nos molda, com todas as nossas formações que englobam as leitu-
ras de mundo que temos: ler não é somente decodificar, mas ouvir a voz que nos
narra um acontecimento, uma problemática, um dilema a ser pensado ou mesmo a
história do que não foi dito e está, por assim dizer, nas entrelinhas do texto.
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A arte literária é uma das mais antigas formas de expressão do ser humano: a
palavra escrita literária, repensando junto ao filósofo Martin Heidegger (em sua obra
Caminhos da Linguagem), é a morada do nosso ser, portanto, plural, diferenciada co-
notativa.

Vamos a outro exemplo:

Um Apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: - Por que está você
com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma
cousa neste mundo? - Deixe-me, senhora. - Que a deixe? Que a deixe, por
quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e
falarei sempre que me der na cabeça. - Que cabeça, senhora? A senhora não
é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada
qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros. - Mas você é orgulhosa. - Decerto que sou. - Mas por quê? - É boa!
Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os
cose, senão eu? - Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você
ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? - Você fura o pano, nada mais;
eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... - Sim,
mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que
vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando... - Também os batedores
vão adiante do imperador. - Você é imperador? - Não digo isso. Mas a ver-
dade é que você faz um papel subalterno, indo adiante, vai só mostrando o
caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,
ajunto.... Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a
modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou
do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha. E entrou
a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a
melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de
Diana - para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: - Então, senhora
linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costu-
reira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha
a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia nada; ia andando.
Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como
quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo
que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo
silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da
agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia se-
guinte: continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e
ficou esperando o baile. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A cos-
tureira que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama,
e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,
acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe: - Ora, agora,
diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas,
enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o baile das
mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada: mas um
alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agu-
lha: - Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que
vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu,
que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. Contei esta
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história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: -


Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
ASSIS, Machado de Extraído de: <http://www.dominiopublico.gov.br/down-
load/texto/bv000269.pdf.>.

Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira


de Letras, alcunhado de ‘Bruxo do Cosme Velho’, encanta-nos com sua perspicácia
literária. Quem é a agulha? A linha? Ou mesmo o alfinete? Quantos de nós não sere-
mos os ‘professores de melancolia’ no mundo?
Quando lemos esse texto, para que efetuemos uma compreensão lúcida e efi-
ciente, precisamos nos direcionar ao caráter plurissignificativo presente em toda tex-
tualidade do conto, sendo amplamente diferente do texto que se segue:

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista,


cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em
21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro
de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras.
Velho amigo e admirador de José de Alencar, que morrera cerca de vinte
anos antes da fundação da ABL, era natural que Machado escolhesse o nome
do autor de O Guarani para seu patrono. Ocupou por mais de dez anos a
presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de
Machado de Assis. Filho do pintor e dourador Francisco José de Assis e da
açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, perdeu a mãe muito cedo,
pouco mais se conhecendo de sua infância e início da adolescência. Foi cri-
ado no Morro do Livramento. Sem meios para cursos regulares, estudou
como pôde e, em 1854, com 15 anos incompletos, publicou o primeiro traba-
lho literário, o soneto “À Ilma. Sra. D.P.J.A.”, no Periódico dos Pobres, número
datado de 3 de outubro de 1854. Em 1856, entrou para a Imprensa Nacional,
como aprendiz de tipógrafo, e lá conheceu Manuel Antônio de Almeida, que
se tornou seu protetor. Em 1858, era revisor e colaborador no Correio Mer-
cantil e, em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passou a pertencer à re-
dação do Diário do Rio de Janeiro. Escrevia regularmente também para a
revista O Espelho, onde estreou como crítico teatral, a Semana Ilustrada e o
Jornal das Famílias, no qual publicou de preferência contos. O primeiro livro
publicado por Machado de Assis foi a tradução de Queda que as mulheres
têm para os tolos (1861), impresso na tipografia de Paula Brito. Em 1862, era
censor teatral, cargo não remunerado, mas que lhe dava ingresso livre nos
teatros. Começou também a colaborar em O Futuro, órgão dirigido por Faus-
tino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa. Seu primeiro livro de poe-
sias, Crisálidas, saiu em 1864. Em 1867, foi nomeado ajudante do diretor de
publicação do Diário Oficial. Em agosto de 1869, morreu Faustino Xavier de
Novais e, menos de três meses depois (12 de novembro de 1869), Machado
de Assis se casou com a irmã do amigo, Carolina Augusta Xavier de Novais.
Foi companheira perfeita durante 35 anos (...).
Extraído de: <http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia>.
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O texto acima é caracterizado pelo seu valor denotativo, isto é, lite-


ral, em que as palavras seguem um sentido vernacular (real, dicionari-
zado), objetivo e direto, enquanto o conto ‘Um apólogo’ é marcada-
mente conotativo (figurado, adquirindo um significado a cada instante
de leitura), por sua plurissignificação textual.
Resumo

Nesta aula, abordamos:

 O que é a plurissignificação de um texto literário, relacionando com os


conceitos de Denotação e Conotação;
 Efetuamos a leitura e a interpretação de dois textos literários, sendo um
texto poético e um texto narrativo.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf>. Acesso em:
10 jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer. Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib. 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: <http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia>. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: <https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0>. Acesso
em: 01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 1

1) Leia os textos abaixo:


Texto I
O mundo
“Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Co-
lômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha
contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fo-
gueirinhas. — O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não
existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras peque-
nas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem
percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns
fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a
vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar,
e quem chegar perto pega fogo. ”
Eduardo Galeano. O Livro dos Abraços. Extraído de https://www.pensa-
dor.com/frase/NzA1Njk0/.

Texto II
“Mundo - substantivo masculino
1. totalidade dos astros e planetas; firmamento, universo.
o o planeta Terra.
o qualquer outro corpo celeste.
"observava o céu, fantasiando outros m."
2. divisão da Terra em seus hemisférios.
"m. ocidental"
3. totalidade do que existe na Terra.
"o m. inteiro foi atingido pelo terremoto"
o este planeta, ou parte dele, caracterizado por seus habitantes e costumes.
"há, neste m., quem ainda esteja na Idade da Pedra"
o raça humana; totalidade das pessoas; humanidade.
"todo m. procura disfarçar sua própria animalidade"
o população em geral; povo.
"o m. enfim reconheceu o seu talento"
4. p.ext. classe social.
"seu noivo não era do nosso m."
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5. p.met. vida em sociedade; mundanidade.


"homem do m."
6. universo de todas as realidades existentes ou imaginadas.
"interessa-se por todos os assuntos deste m."
o domínio, esfera, universo.
"o m. das letras"
o fig. espaço íntimo, escolhido para certo modo de viver.
"seu m. limita-se àquele quarto"
7. p.metf. algo muito grande, importante e/ou complexo.
"esse laboratório é um m."
8. p.metf. grande quantidade (de algo).
"comprou um m. de coisas para o filho"
9. fil totalidade integrada e coerente na qual habitam todos os objetos ma-
teriais, seres e realidades existentes; universo, cosmos.
10. adjetivo
livre de qualquer sujeira; limpo.
"refinado, o conselheiro só tratava de assuntos m."
Origem: ETIMOLOGIA lat. mundus, i 'o firmamento; a criação; a terra, as na-
ções; o século; o Império Romano; os infernos; o mundo considerado como
Deus'
Adaptado de google.com.

Questão 01:
Após a leitura dos textos acima, qual apresenta um valor DENOTATIVO e qual
apresenta um valor CONOTATIVO? Justifique.

Questão 02:
Após a leitura do Texto I, podemos afirmar que a palavra Mundo entre outras
apresenta-se sobre a ideia de uma plurissignificação? Justifique.
Aula 2
Fundamentação do texto literário

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula abordaremos as funções que determinam o que é o texto literário,


diferenciando os aspectos dionisíacos e apolíneos da linguagem literária, definindo o
que é estilo individual e de época.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Compreender as funções do texto literário;


 Reconhecer o que é um texto literário e suas características;
 Diferenciar o que é o valor dionisíaco e o valor apolíneo na arte literária;
 Distinguir o que é estilo de época e estilo individual;
 Relacionar a arte literária coma representação cultural.
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2 INTRODUÇÃO

Fundamentação do texto literário

Comecemos, então, pela palavra poética:


“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía*.

*soía – forma arcaica que equivale a ‘se deveria’.


Autoria de Luís de Camões. Extraído
de: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v356.txt. Acesso em: 10 jan. 2018.

Quando lemos uma poesia como a acima apresentada, percebemos as dife-


renças existentes entre a linguagem presente e utilizada no texto literário e textos de
outros gêneros, como o jornalístico ou o injuntivo. Qual a resposta? A linguagem lite-
rária tem funções diferentes.

Vamos a elas:
a) Função emotiva ou função expressiva que tem como principal objetivo trans-
mitir as emoções e sentimentos do emissor. Assim, a ênfase é dada ao emissor da
mensagem. Há a subjetividade no discurso, com as marcas de uma pessoalidade no
texto, que está presente em poemas, cartas, autobiografias, narrativas etc.;
b) Função poética é a marca do discurso poético, pois enfatiza os aspectos
rítmicos, os jogos simbólicos e a escolha de um ‘repertório’ semântico. A função poé-
tica está, de fato, presente nos poemas, nas letras de canções, assim como em pro-
pagandas (que muitas das vezes nos sensibilizam e nos emocionam pelo seu desen-
volvimento de seu trabalho artístico).
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Claro que há outras funções da linguagem:


a) Função denotativa ou referencial, presente na linguagem jornalística, pelo
seu caráter informativo;
b) Função conativa ou apelativa, pela sua característica persuasiva e impera-
tiva, presente em textos como autoajuda, horóscopos, discursos políticos etc.;
c) Função fática, que tem como objetivo proporcionar um sistema de comuni-
cação entre emissor e receptor, para iniciar um processo comunicativo-interativo, pre-
sente em conversas, mensagens virtuais, cumprimentos, saudações etc.;
d) Função metalinguística que se volta, em seus objetivos, para o próprio texto,
isto é, uma função direcionada à própria definição e conceituação, presente em dicio-
nários e gramáticas, por exemplo – a metalinguagem também estará presente em
muitos textos literários que procuram tematizar sobre a arte: poemas que falam do
que é a poesia, por exemplo.

Vamos aprender agora a identificar as funções, tendo como referencial o po-


ema de Luís Vaz de Camões.
Aprender a ler poesia se inicia com uma leitura em voz alta, para que possamos
sentir o ritmo da linguagem, por vezes, certa melodia das palavras. Quando assim
procedemos, percebemos que na linguagem literária, especialmente na poesia, o sen-
tido das palavras se combina com os valores sonoros.
Dessa forma, o que podemos inferir? O texto literário possui uma função emo-
tiva e poética, proporcionado pelo trabalho estético da linguagem apresentada.
Se pensarmos em tradicionais definições de literatura, como as que afirmam
que a arte literária é a arte da palavra, a tradução de uma realidade e uma arte que
proporciona prazer estético, estamos pensando na literatura como arte que se deter-
mina no espaço dos sentidos (provenientes do trabalho fonético, da determinação se-
mântica e da escolha lexical), portanto, no espaço da INTERPRETAÇÃO.
Leiamos, mais uma vez, o poema de Camões. Qual o tema tratado nesse texto?
Há ritmo presente no poema? Existe um trabalho formal na elaboração desse poema?
Qual a relação que podemos apontar entre o autor e o texto?
Tais perguntas nos levam para dentro do texto, porque são questões concer-
nentes à literariedade, presente na forma do texto literário. Literariedade é um con-
ceito fundamental para entendermos o valor da arte literária.
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A ciência da literatura, segundo eles, deve estudar a literariedade, isto é, o


que confere a uma obra sua qualidade literária, aquilo que constitui o conjunto
de traços distintivos do objeto literário. Tal princípio fundamental conduziu os
formalistas a definirem os caracteres específicos do fato literário: não procu-
ravam esta especificação no estado de alma, na pessoa do poeta, mas sim
no poema; também não buscaram essa especificação na natureza da expe-
riência humana ou da vivência contidas no poema, nem nas categorias e nos
axiomas de qualquer estética especulativa. A especificação que buscavam,
estava no próprio texto literário, é algo imanente do próprio texto, que deveria
ser tomado como objeto de estudo. Para estabelecerem os caracteres pró-
prios do objeto literário, os formalistas decidiram comparar a série literária
com outra série de fatos que tivesse uma função diferente, mesmo estando
estreitamente ligada com aquela. O caminho seguido foi a comparação entre
a linguagem poética e a linguagem cotidiana.
Extraído de: http://teorialiterariaufrj.blogspot.com.br/2009/06/o-formalismo-russo-em-linhas-
gerais.html. Acesso em: 10 jan. 2018.

Dessa forma, podemos dizer que a linguagem do texto literário, em sua organi-
zação, apresenta as características estéticas que conduzem o nosso entendimento e
leitura de que estamos à frente de um gênero do discurso diferente de outros como
os textos informativos. A linguagem literária traz consigo um trabalho das experiências
da vida e as representações imaginativas, criadas com finalidades estético-emotivas.
Estamos falando de estética da linguagem, mas o que é essa estética? Em
definição, a estética é: “Estética é o mecanismo usado pelo artista para lapidar a pa-
lavra como faz o escultor a um bloco de pedra, com o objetivo de transformá-la numa
joia e proporcionar o efeito emocional, uma sensação de prazer e emoção no receptor.

Extraído de: https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1581094. Acesso em: 10 jan.
2018.

Confira também:
<https://revistacult.uol.com.br/home/estetica-e-literatura/>.

Se a estética na arte referência ao modo como se elabora o texto literário, afir-


mamos, então, que há, neste processo de produção de linguagem, uma FORMA e
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uma ESTRUTURA que determinam e caracterizam o valor da obra enquanto arte literá-
ria. Assim, encontraremos, no estudo da história da literatura (não somente a brasi-
leira, mas as de variadas nações) uma formação cultural artística com PADRÕES que
revelarão as marcas da BELEZA na própria arte.
Alguns estudiosos afirmam que certos padrões se representam num processo
de FLUXO e REFLUXO artístico: o valor DIONÍSIACO e o valor APOLÍNEO na constru-
ção artística. Observemos a figura abaixo:

Figura 1: Escolas literárias e tradições artísticas.

Fonte: WILLIAM (2014)

Os termos Apolíneo e Dionisíaco remetem à mitologia grega e toda carga sim-


bólica que tais mitos representam.
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Confira também: <http://www.afilosofia.com.br/post/apolineo-e-dionisi-


aco/392>.

Quando falamos em Apolíneo, referimo-nos à uma tradição artística coligada à


racionalidade, à razão, a uma estética direcionada ao equilíbrio, OBJETIVIDADE e à
HARMONIA dos sentidos, presente na temática poética.
Quando falamos em Dionisíaco, referimo-nos à uma tradição literária direcio-
nada às práticas poéticas SUBJETIVAS, em que o sentimento humano, a EMOTIVI-
DADE do labor artístico está aflorada e é sempre a marca principal de toda a estrutura
temática do texto literário.
Vamos a alguns exemplos:

Texto I
OS CINCO SENTIDOS
São belas - bem o sei, essas estrelas,
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!

Divina - ai! sim, será a voz que afina


Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!
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Respira - n'aura que entre as flores gira,


Celeste - incenso de perfume agreste,
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!

Formosos - são os pomos saborosos,


É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão..., mas é de beijos,
É só de ti - de ti!

Macia - deve a relva luzidia


Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti! - em ti!

A ti! ai, a ti só os meus sentidos


Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti.
Almeida Garrett. In Folhas Caídas Texto extraído de: http://www.avozdapoe-
sia.com.br/obras_ler.php?obra_id=750&poeta_id=210.

Texto II
O AÇÚCAR (Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
P á g i n a | 26

como beijo da moça, água


na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar de Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola,
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
GULLAR, Ferreira. In: Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

Obviamente, no texto I, acima encontramos todas as marcas da Subjetividade,


da Emotividade e do Sentimentalismo.
Quando lemos o texto II, deparamo-nos com todo um fazer artístico direto, com
uma linguagem objetiva, mas sem excluir de toda temática a BELEZA da estética que
é própria do texto literário.
Portanto, o Texto I é próximo de um valor EMOTIVO (dionisíaco) e o Texto II
mais próximo de um valor RACIONAL (apolíneo). Bom, vamos a outro ponto determi-
nante da fundamentação do texto literário: Estilo de época e Estilo Individual.
O que é Estilo de época? Obviamente, estamos falando de tendências artísticas
afins em determinados períodos e recortes temporais. A História da literatura ocidental
apresenta-se até o século XX essas tendências de modo coerente, se alternando en-
tre valores EMOTIVOS e RACIONAIS (portanto, entrecruzando valores dionisíacos e
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apolíneos) em sua organização diacrônica. Vamos a figura abaixo que retrata essas
tendências históricas da literatura brasileira.

Figura 2: Cronologia dos períodos literários da literatura brasileira.

Fontes: NAVES (2014)

Quando encontramos os livros didáticos do Ensino Médio vemos uma coerente


sequência temporal na elaboração dos estudos em literatura. Estilo de época é o con-
junto de produções referentes a um período de tempo afim, isto é, produções artísticas
se assemelham (ESTRUTURAL e TEMATICAMENTE). De fato, quando estudarmos a
História da Literatura Brasileira, perceberemos uma afinidade temática, quando for-
mos nos referir, ad exemplum, à estética literária realista, do final do século XIX: uma
gama de obras e produções que se aproximarão tanto na estrutura em prosa quanto
na escolha temática voltada para a crítica do comportamento social e cultural do Brasil
no século XIX.
Estilo de época, portanto, determina-se pela afinidade temática num determi-
nado recorte temporal.
E o que seria o Estilo Individual? A própria palavra já nos indica o que pensar:
seria o estilo específico adotado por determinados autores, caracterizando a obra
desse mesmo autor. Um exemplo: a obra de Camões, autor do poema que abre essa
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Aula 02, marcadamente produziu poemas (sonetos, éclogas, redondilhas etc. – trata-
remos dos tipos de POEMAS em aulas posteriores) que se aproximam em sua escolha
lexical (de palavras), em sua escolha semântica (dos temas) e da escolha estrutural
(forma e estrutura do texto). Há uma linearidade quando estudamos a obra de um
autor, o que não quer dizer que um autor não possa se renovar e se redimensionar
em face ao seu tempo e às transformações histórico-culturais (Camões que produziu
poemas de caráter trovadorescos, específicos de um período medieval, emancipou-
se ao conhecer oduoce stil nuovo do vate italiano Petrarca, o SONETO, marca de sua
melhor poesia).
Resumo

Nesta aula, abordamos:

 As funções do texto literário;


 O que é um texto literário e suas características;
 O que é o valor dionisíaco e o valor apolíneo na arte literária;
 O que é estilo de época e estilo individual
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf>. Acesso em:
10 jan. 2018.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
A FILOSOFIA, Portal. Apolineo e Dionisiaco. Disponível em: <http://www.afi-
losofia.com.br/post/apolineo-e-dionisiaco/392>. Acesso em: 01 jan. 2018.

ALMEIDA Garrett. In Folhas Caídas. Disponível em:


http://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=750&poeta_id=210. Acesso
em: 01 jan. 2018.

CAMÕES, Luís de. Disponível em:


http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v356.txt. Acesso em: 10 jan. 2018.

CULT. Estética e Literatura. Disponível em:


https://revistacult.uol.com.br/home/estetica-e-literatura/. Acesso em: 01 jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

GULLAR, Ferreira. In: TODA POESIA. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.

LIMA, Adalberto. ESTÉTICA (Literatura). Disponível em: https://www.recanto-


dasletras.com.br/teorialiteraria/1581094. Acesso em: 03 jan. 2018.

NAVES, João Vítor. Cronologia dos períodos literários da literatura brasi-


leira. São Paulo: João Vítor Naves, 2014. Color.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.

UFRJ, Teoria Literária. O formalismo russo em linhas gerais. Disponível em:


http://teorialiterariaufrj.blogspot.com/2009/06/o-formalismo-russo-em-linhas-ge-
rais.html. Acesso em: 02 jan. 2018.
P á g i n a | 31

WILLIAM. Escolas literárias e tradições artísticas. São Paulo: William, 2014.


Color.
Exercícios
AULA 2

1) Releia o soneto camoniano:

Mudam-se os tempos, mudam-se as von-


tades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía*.

*soía – forma arcaica que equivale a ‘se deveria’.


Autoria de Luís de Camões. Extraído de: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v356.txt. Acesso
em: 10 jan. 2018.

a) O poema acima apresenta um valor temático dionisíaco ou apolíneo? JUS-


TIFIQUE.
b) Este poema traz as marcas de um estilo de época e de um estilo individual?
Quais são esses estilos?
Aula 3
Arte, cultura e sociedade

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula estudaremos o que é "arte", observando-a brevemente na relação


entre cultura e sociedade e revelada no texto literário. Nesta aula estudaremos o que
é "arte", observando-a brevemente na relação entre cultura e sociedade e revelada no
texto literário.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Compreender que a cultura de uma ou outra maneira impactará e inte-


grará a produção artística;
 Apontar de que maneiras sociedade e cultura se relacionam para produ-
zir arte;
 Perceber a arte emanando do texto literário e em virtude da relação entre
sociedade e cultura.
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3 INTRODUÇÃO

Arte: cultura e sociedade

Embora tenhamos nós alguma noção dos conceitos arte, cultura


e sociedade e de como sociedade e cultura se relacionam produzindo
arte, é interessante refletirmos acerca do que dizem algumas autori-
dades a respeito do assunto.
O poeta Ferreira Gullar entende, por exemplo, que “não há civilização sem arte
e que a arte é uma das expressões mais genuínas de cada povo e de cada cultura”.
Em consonância, a filósofa Marilena Chauí afirma que, “o artista é um ser social
que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia dos outros seres hu-
manos, reflete sobre sociedade, volta-se para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-
la, seja para superá-la”.
Já que tratamos, neste curso, de literatura, interessante pensarmos no que é
dito acerca do autor, do escritor, que é quem produz o texto literário. Este escritor,
segundo Sartre, não o é "por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver deci-
dido dizê-las de determinado modo".

Para melhor compreensão do citado engajamento da arte com a cultura e com a


alteridade, click no link <https://www.youtube.com/watch?v=OqX5TDqkQh0>.

E, assista ao vídeo. Depois, responda:


1) A temática do poema "Contranarciso", de Leminski, o insere em seu contexto
cultural?
2) O poema contempla os interesses da coletividade?
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3) A construção do texto, esse "determinado modo" de dizer faz desse texto


literatura (arte)?

Se você respondeu "sim" às três questões sobre o poema de Leminski, acertou.


Nele, o eu poético deseja comunicar-se com o interesse do outro a ponto de vê-lo em
si mesmo (nos trens, em vagões cheios de gente). Nos ambientes de comunidade, a
poesia deseja fazer ressoar sua voz. Seu som não é seco, não é árido; tem movi-
mento, marca seu próprio tempo, abusa de repetições com classe. Isso é representar
cultura e sociedade com arte: arte literária. Agora, antes de caminharmos na direção
do texto literário, para observarmos como se processa a escrita-arte, veja o que diz o
maior autor da literatura brasileira acerca dessa relação entre o escritor, sua socie-
dade e sua cultura:

Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente,


deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região;
mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que
se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne
homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos
no tempo e no espaço.

Pode-se depreender da reflexão de Machado de Assis que o autor de literatura


sempre dialogará com questões relativas ao contexto cultural no qual está inserido,
mas fará isso por ser membro de sua sociedade. Entretanto, alerta, não será jamais o
escritor, o artista, refém de qualquer modelo. A arte atravessa o artista, passa pelo
braço do autor, por sua caneta, e atinge em cheio a identidade daquele que o lê.

Sobre a relação entre arte (literatura) e sociedade, veja também o res-


peitado professor Antônio Candido: <https://www.you-
tube.com/watch?v=4cpNuVWQ44E>.
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Considere, agora, o poema abaixo do grande Manuel de Bandeira.

O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem

Escrito em 1947, “O bicho” denuncia a precariedade em que sobrevivia grande


parte da população brasileira. Com maestria, o eu poético revela somente no último
verso o miserável "um homem". Faz isso num texto em versos, marcado pela repetição
do “i”, da nasalidade e de rimas internas; fechado de maneira brilhante com o vocativo
"meu Deus" que traz a ideia de súplica e denúncia em concomitância.
Engloba contextualização cultural, engajamento social e um modo de dizer sin-
gular próprios da arte literária.

Arte Literária: modo de dizer


A partir deste momento conversaremos a respeito de algumas particularidades
do texto literário, do modo de dizer que transforma a palavra escrita em arte. Para
iniciar, tomemos por base ainda o poema “O bicho”. Vemos que desde o título a lite-
ratura se faz presente. Todo poema é uma metáfora, já que sabemos que “O bicho”
revela a depreciação da condição humana (ora, é inquestionável que há desumaniza-
ção contra o indivíduo que se vê obrigado a revirar o lixo à procura do que comer, para
si e para seus filhos).

Metáfora (O Bicho = Um Homem)


Sabemos (da educação básica) que a metáfora é uma figura de linguagem.
Uma entre tantas elencáveis. Você deve lembrar-se do pleonasmo, da hipérbole, do
paradoxo, da metonímia entre outras.
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Para recordar melhor, veja:


<http://tudodeconcursosevestibulares.blogspot.com.br/2013/07/figuras-de-linguagem-re-
sumo-com-questoes.html>.
<http://redentor.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788583000310/pa-
ges/633>. (página 633-647), e, também,
<http://redentor.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508091065/pages/21>. (pá-
ginas 21-23).

Válido, ainda, referendar:


<http://redentor.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/8572443274/pages/5>. (A obra
discute questões que interferem na compreensão do texto e, para este momento, interes-
sante que façamos a leitura, ao menos, das páginas 39 a 45.

Você entenderá que é afetado pela leitura do poema de Bandeira por conhecer a reali-
dade (conhecimento enciclopédico) brasileira, por saber que, mesmo hoje, milhares pade-
cem a miserabilidade em nosso país).
Agora que já retomou o conteúdo estudado no ensino médio, passemos ao que, ora, nos
interessa. Não verificaremos uma a uma as figuras de linguagem. Observaremos, em vez
disso, o impacto que sua utilização em momento oportuno produz no leitor.

Clique no link a seguir e escute a canção:


<https://www.youtube.com/watch?v=Neg1hINyIgk>.
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Seja franco: melhorou ou não sua compreensão do vocábulo “saudade”? Tal-


vez você não concorde, mas vou dizer que “a saudade é a arrumar o quarto do filho
que já morreu” é, a meu ver, a metáfora mais doída da literatura brasileira. Digo lite-
ratura porque embora Chico Buarque seja prioritariamente um compositor, também é
autor de romances, foi tratado pelo próprio Drummond como “poeta”, e porque o que
Chico escreve causa espanto. E arte é espanto.
A literatura em prosa também se aproveita exaustivamente de figuras de lin-
guagem para a produção de escrita viva, que mexa com a imaginação e com os sen-
timentos dos leitores. Acompanhe a seguir um excerto de "Diva" do romancista José
de Alencar. Na passagem, a personagem Emília refere-se ao apaixonado Amaral
como “um pé” (metonímia) quando ele, por descuido e afobação, pisa e lhe rasga o
vestido. Perceba o que tal tratamento produz no trovador e como o narrador-persona-
gem o remói.

“—Que foi isto? Quem lhe pôs nesse estado? —Quem?... Um pé!...
Já viste alguma vez, Paulo, amesquinhar assim um homem e esmagá-lo
com uma palavra? Emília atribuía a mim o que lhe acontecera; e não achava
para designar-me, nem o meu nome, nem mesmo a minha qualidade de cri-
atura humana. Era uma cousa, uma parte desprezível do corpo, um pé! Não
sei o que na minha indignação ia responder-lhe, se ela me desse tempo, e
não se afastasse rápida. ”

Você percebe facilmente como a metonímia saindo da boca de Emília trans-


passou Amaral bem do lado esquerdo. Também verifica a capacidade do autor para
aproveitar-se de uma figura de linguagem, para explorar palavras e expressões,
dando à língua (sua ferramenta de trabalho) novas roupagens, reinventando-a. Isso é
produzir arte; isso é fazer literatura.
Por fim, veja o poema este poema de Manoel de Barros.

Há quem receite a palavra ao ponto de osso, de oco;


ao ponto de ninguém e de nuvem.
Sou mais a palavra com febre, decaída, fodida, na sarjeta.
Sou mais a palavra ao ponto de entulho.
Amo arrastar algumas no caco de vidro, envergá-las
P á g i n a | 39

pro chão, corrompê-las


até que padeçam de mim e me sujem de branco.
Sonho exercer com elas o ofício de criado:
usá-las como quem usa brincos.

O poeta cuiabano brinca com as palavras, faz delas o que bem entende. Nesse
poema, isso fica claro quando utiliza o recurso da prosopopeia para dizer: “Sou mais
a palavra com febre, decaída, fodida, na sarjeta”. Declarações que geralmente se-
guem pessoas, na poesia de Manoel de Barros, são adjetivos para “a palavra”. Essa
palavra corrompida que o suja de branco.
Resumo

Nesta aula, abordamos:

 A relação íntima entre cultura, sociedade e arte;


 Como a arte revela seu contexto cultural, podendo, ao mesmo tempo,
transformá-lo;
 O engajamento do autor de literatura, como artista inserido em seu con-
texto sociocultural;
 As figuras de linguagem, o modo de dizer que destaca o texto literário
de outros tipos de textos;
 O impacto produzido por esse modo de dizer próprio e singular de cada
autor de literatura.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.
-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.
Exercícios
AULA 3

1) (UEG 2012) “Não quero que a minha casa seja cer-


cada de muros por todos os lados, nem que minhas janelas se-
jam tapadas. Quero que as culturas de todas as terras sejam
sopradas para dentro de minha casa, o mais livremente possí-
vel. Mas recuso-me a ser desapossado da minha por qualquer outra. ”
GANDHI, M. Relatório do desenvolvimento humano 2004. In: TERRA, Lygia; COELHO,
Marcos de A. Geografia geral. São Paulo: Moderna, 2005. p.137.

Considerando-se as ideias pressupostas, o texto


a) afirma que a globalização aumentou, de modo sem precedente, os contatos
e a união entre os povos e seus valores, reforçando o respeito às diferenças sociocul-
turais.
b) critica a intolerância com relação a outras culturas, gerando assim os confli-
tos comuns neste novo século.
c) indica o reconhecimento à diversidade cultural, além das necessidades de
afirmação e de identidade, seja étnica, seja cultural, seja religiosa.
d) nega a existência da exclusão cultural e ressalta a homogeneização mundial
e a superação/eliminação de fronteiras culturais.

2) (UNESP 2012) Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conheci-
mentos, seus modos de vida, seus erros, suas ilusões. Na nossa atual era planetária,
o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras têm de melhor,
e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada
em sua história não somente segundo os ideais de Liberdade-Igualdade-Fraternidade
promulgados por sua Revolução, mas também segundo o comportamento de uma
potência que, como seus vizinhos europeus, praticou durante séculos a escravidão
em massa, e em sua colonização oprimiu povos e negou suas aspirações à emanci-
pação. Há uma barbárie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitaris-
mos fascistas, nazistas, comunistas. Devemos considerar uma cultura não somente
P á g i n a | 43

segundo seus nobres ideais, mas também segundo sua maneira de camuflar sua bar-
bárie sob esses ideais (Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado).
No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard Morin desenvolve:
a) reflexões elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental
sobre outras culturas.
b) um ponto de vista idealista sobre a expansão dos ideais da Revolução Fran-
cesa na história.
c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteção dos valores
culturais.
d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras cul-
turas na história.
e) uma defesa do caráter absoluto dos valores culturais da Revolução Fran-
cesa.

3) (ENEM-2004).

Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras
de linguagem para
a) condenar a prática de exercícios físicos.
b) valorizar aspectos da vida moderna.
c) desestimular o uso das bicicletas.
d) caracterizar o diálogo entre gerações.
e) criticar a falta de perspectiva do pai.
P á g i n a | 44

4) (ENEM-2004).

Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a:


a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria lin-
guagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção
crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e
objetivo.
e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-
lhes vida.

5) (UERJ – 2012) Sobre a origem da poesia:


A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser
poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais ínti-
mos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso
muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas con-
versas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou tele-
fonemas [...]
No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação
com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte
essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso
sensível mais direto entre nós e o mundo [...]
P á g i n a | 45

Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desa-


pegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a
criação se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis – os poemas – con-
taminando o deserto de referencialidade.

Arnaldo Antunes
No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fa-
zendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja,
à linguagem referencial.
Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o
seguinte traço fundamental:
a) O desgaste da intuição
b) A dissolução da memória
c) A fragmentação da experiência
d) O enfraquecimento da percepção

6) Leia os textos abaixo para responder à questão:


(Texto 1) Descuidar do lixo é sujeira

Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a ge-


rência de uma das filiais do McDonald’s deposita na calçada dezenas de sa-
cos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba
propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali re-
virar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão (Veja
São Paulo, 23-29/12/92).

(Texto 2) O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.
145)
P á g i n a | 46

I. No primeiro texto, publicado por uma revista, a linguagem predominante é a


literária, pois sua principal função é informar o leitor sobre os transtornos causados
pelos detritos.
II. No segundo texto, do escritor Manuel Bandeira, a linguagem não literária é
predominante, pois o poeta faz uso de uma linguagem objetiva para informar o leitor.
III. No texto “Descuidar do lixo é sujeira”, a intenção é informar sobre o lixo que
diariamente é depositado nas calçadas através de uma linguagem objetiva e concisa,
marca dos textos não literários.
IV. O texto “O bicho” é construído em versos e estrofes e apresenta uma lin-
guagem plurissignificativa, isto é, permeada por metáforas e simbologias, traços de-
terminantes da linguagem literária.
Estão corretas as proposições:
a) I, III e IV.
b) III e IV.
c) I, II, III e IV.
d) I e IV.
e) II, III e IV.

7) (PUC-SP)

"...................
da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora."
(Carlos Drummond de Andrade)

Nos fragmentos acima, Carlos Drummond de Andrade constrói, poeticamente,


a aurora.
P á g i n a | 47

O que permite visualizar este momento do dia corresponde:


a) objetos confusos mal redimidos da noite.
b) à garrafa estilhaçada e ao ladrilho sereno.
c) à aproximação suave de dois corpos.
d) ao enlace amoroso de duas cores.
e) ao fluir espesso do sangue sobre o ladrilho.
Gabarito
AULA 3

1) Letra c

2) Letra d

3) Letra e

4) Letra c

5) Letra c

6) Letra b

7) Letra d
Aula 4
Poesia: Obras épicas

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, começaremos a conversar sobre o gênero poesia. Veremos alguns


conceitos, para melhor compreensão do que é poesia, do que é poema e de quem é
o poeta. Depois, passaremos a conversar sobre obras épicas da literatura.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Conhecer o gênero literário poesia;


 Fazer contato com alguns conceitos para poesia, poema e poeta;
 Tocar a poesia épica, sobretudo Os Lusíadas: épico da literatura portu-
guesa.
P á g i n a | 50

4 INTRODUÇÃO

Pra começo de conversa...


Poema --> Texto em versos
Poesia --> A própria forma da arte, que pode comover, despertar
sentimentos.

Nota: Às vezes nos referimos a algum poema como poesia. Não há pro-
blema nisso. Importante, entretanto, compreendermos que a poesia pode
estar nas pessoas, em filmes, em peças teatrais, em canções, no circo, em
qualquer lugar. O que devemos, todos, é treinar os olhos para enxergá-la.

Para melhor compreensão, click no link:


<https://www.youtube.com/watch?v=66s7RBBuoVo>., e assista ao vídeo. Trata-se
de cena do premiadíssimo filme "Beleza Americana".

Você observa da cena que:


1) Trata-se de cinema, não de literatura.
2) O estado contemplativo das personagens é devotado a algo, para muitos,
trivial.
3) O magnetismo captado comunica beleza. Esta pode ser encontrada nas coi-
sas mais simples.
P á g i n a | 51

Nota (2): Relevante aproveitarmo-nos do vídeo para destacarmos o


conceito mimese. Este conceito de origem grega (motivo de debate entre
Platão e Aristóteles) alude à arte como representação da realidade. Ou,
ainda, como representação da captação da realidade. Quer dizer, a cap-
tação seria (ou é) contaminada pela intenção e formação do artista, que
representará a realidade, sujeitando (teoricamente) sua representação a tais contamina-
ções. No recorte, o rapaz, que realizou a filmagem, explica que seu vídeo não representa
com fidelidade a percepção da cena captada na origem. Isso está relacionado à deterio-
ração da quintessência, ocasionada pela reprodutibilidade técnica (que veremos mais à
frente em nosso curso).

Retomando:
1) Poesia é algo maior que o poema.
2) Poesia está em todo lugar: no mundo e na arte.
3) Poesia, por ser arte, é também representação da realidade.

Vejamos, então, o que é o poema.


106 "No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?"

Da estrofe acima (do épico de Camões que investigaremos mais abaixo), to-
mamos alguns caracterizantes estéticos do poema, a saber:
1. Trata-se de texto em versos.
No caso d'Os Lusíadas, são oito versos por estrofes (oitavas).
P á g i n a | 52

2. É marcado pela presença de rimas (geralmente).


Dano/ engano; apercebida/ aborrecida.
3. Seu ritmo, via de regra, é mais acentuado.
Percebe-se que, no poema de Camões, essa marcação dando maior ênfase à
segunda, à sexta e à décima sílaba métrica.
4. Pode apresentar métrica regular.
Neste caso os versos são todos decassílabos (dez sílabas métricas). "No/ mar/
tan/ ta/ tor/ men/ tae/ tan/ toen/ ga/ no." Lembramos que a contagem das sílabas mé-
tricas encerra-se sempre na última tônica.

Nota (3): Adiantamos que algumas das características destacadas


acima são próprias de poemas épicos e clássicos. O modernismo propôs,
como veremos depois, a ruptura com as formas fixas e com sua rigidez. É
necessário, todavia, conhecermos tais formas, que são tradicionais e que em
algum momento tocam a escrita mesmo dos poetas contemporâneos.

Considere, por exemplo, o poema abaixo, de Waly Salomão.

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.


É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela!!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.
Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.
Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
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É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

Veja, você, que, embora o texto esteja estruturado em estrofes e versos, não é
possível observar a presença de rimas, nem de métrica que conduza a leitura em ritmo
de martelo. No entanto, quem está habituado à leitura de poemas percebe na proposta
da escrita o momento certo para as pausas; ou para a impressão de maior velocidade.
Essa capacidade de compreender o ritmo do poema, mesmo do poema moderno ou
contemporâneo, você desenvolverá ao longo de suas leituras, de seu contato com
cada poeta.
No poema acima, por exemplo, onde o eu poético faz como que uma apologia
de si mesmo, somos estimulados a uma leitura mais ágil, mais alterada, talvez.
Tal leitura deve representar como que a voz da criança se defendendo diante
da mãe que lhe aponta culpa por algum malfeito. Aliás, sugiro isto: faça a releitura do
poema em voz alta, pensando que o caso é defender-se de alguma acusação que
julga injusta; e veja como fica.
Vimos até aqui que poema e poesia são conceitos que às vezes se confun-
dem, mas concluímos que poema é estrutura, enquanto poesia é algo maior, que está
presente na arte e na vida. Também vimos que há características próprias que mar-
cam o poema; e que algumas dessas características tiveram que ceder ao longo dos
anos às necessidades de expressão dos poetas. Assim, após o modernismo, obser-
vamos que os poemas deixaram de ser obrigados à rigidez das formas. Mas, se acei-
tamos que os poemas são transformados pelas necessidades de expressão dos poe-
tas, devemos perguntar: o que é um poeta?
Camões, Fernando Pessoa, Castro Alves, Bilac, Florbela, Drummond, Ban-
deira, Manoel de Barros, Cora Coralina, Vinícius, Gullar, Craveirinha.
O que essas pessoas têm em comum? Pouca coisa às vezes. São alguns dos
poetas da língua portuguesa, que a seu tempo deixaram registradas suas impressões
do mundo que os cercava. Tais impressões, devemos entender, afetadas pela perso-
nalidade dos poetas. Segundo Gullar, "quanto mais criadora for essa personalidade,
menos passivamente se comportará".
P á g i n a | 54

Agora, clique nos links para refletirmos junto a alguns desses homens e mu-
lheres acerca do que é ser poeta:
1. <https://www.youtube.com/watch?v=gtvcBodY9nw>.
2. <https://www.youtube.com/watch?v=WDb4mNUfijQ>.

A mim, se me perguntam, digo que o poeta é um inventor de espantos. Segundo


o romancista José de Alencar, "o poeta é o cidadão do Belo e da Arte". É o operário
esmerilando a palavra, como o apresenta Bilac, e também o homem capaz de enten-
der a beleza na noite infinita daquele, transido de frio, sapo-cururu da beira do rio.
Evanildo Bechara, em seu dicionário, diz que poeta é "quem escreve poesia", mas
não para por aí. Segundo o professor, poeta é "quem é sonhador ou imaginativo".
A poeta Adélia Prado chama-o "alvissareiro", "cantor das multidões".
Agora que chegamos à compreensão do quão difícil é conceituar o termo poeta
(definir é impossível), passaremos a ver poeta sob a perspectiva de sua produção.
Essa figura emblemática e paradoxal desenvolve-se em sua escrita.
Nesta aula, veremos apenas alguma coisa da poesia épica.
Passaremos por suas características e depois nos deteremos no texto de Ca-
mões, o inventor da língua portuguesa, como a conhecemos hoje.

A poesia épica

Em seu dicionário, Bechara diz que épico se refere a epopeia, a heróis. Tam-
bém que guarda relação com o grandioso, o extraordinário, o fantástico. Sobre epo-
peia, explica o professor tratar-se de um poema extenso, que louva um herói ou fato
notável, ou um conjunto de ações que adquirem caráter de heroísmo.
Veremos que a poesia épica:
1) refere-se a epopeias.
P á g i n a | 55

2) faz menção a heróis ou a atos heroicos.


3) ocupa-se do grande; do maravilhoso.
4) revela-se em poemas extensos.
5) estrutura-se em versos.
6) dá espaço à ficção.
7) dialoga com mitos.
8) abusa das formas fixas (estrofes, métrica, rima).
9) é uma narrativa, só que em versos.

Click <http://redentor.bv3.digitalpages.com.br/users/publica-
tions/9788582120002/pages/123>. E, faça a leitura, nas páginas 122-124, do tópico
"Gênero épico ou narrativo".

Segue abaixo a relação de alguns épicos da literatura mundial, que você po-
derá, a seu tempo, ler.
1) A Odisseia, de Homero: Poema épico da Grécia antiga, que é em parte se-
quência da Ilíada. Retrata o retorno de Ulisses da Guerra de Troia.
2) Beowulf: De autor desconhecido é um poema épico anglo-saxão. Com 3.182
linhas, é o poema mais longo do pequeno conjunto da literatura anglo-saxã e um
marco da literatura medieval.
3) Ilíada, de Homero: O poema conta pouco mais de 50 dias entre o décimo e
o último ano da Guerra de Troia e versa sobre a ira da Aquiles, o moço do calcanhar
sensível.
4) A Divina Comédia, de Dante Alighieri: É dividida em três partes: inferno,
purgatório e paraíso. Sua visão de inferno, aliás, é considerada uma das mais tene-
brosas da literatura;
P á g i n a | 56

5) Paraíso Perdido, de John Milton: O poema descreve a história cristã da


"queda do homem", através da tentação de Adão e Eva por Satanás e a sua expulsão
do Jardim do Éden.
6) Os Contos de Canterbury, de Geoffrey Chaucer: Na obra, cada conto é
narrado por um peregrino de um grupo que realiza uma viagem desde Southwark
(Londres) à Catedral de Cantuária para visitar o túmulo de São Thomas Becket. A
estrutura geral é inspirada no Decamerão, de Boccaccio.
7) Eneida, de Virgílio: Poema épico latino, narra a saga de Eneias que é salvo
dos gregos em Troia, e então viaja errante pelo mediterrâneo até chegar à Itália.
8) A epopeia de Gilgamesh: Milagrosamente preservados em tabletes de ar-
gila decifrado apenas no século passado, o ciclo de poemas reunidos em torno do
caráter de Gilgamesh, o grande rei de Ukruk, diz de sua longa e árdua jornada para a
Fonte da Juventude, de seus encontros com monstros e deuses e de sua amizade
com Enkidu, o homem selvagem das montanhas.
9) Metamorfoses, de Ovídio: A estrutura de Metamorfoses constitui-se de 15
livros escritos em hexâmetro dactílico com cerca de 250 narrativas em doze mil versos
compostos em latim, e que discorrem poeticamente sobre a cosmologia e a história
do mundo, confundindo deliberadamente ficção e realidade.
10) Kalevala, de Elias Lönnrot: Epopeia da Finlândia, que para a escrever,
Lönnrot reuniu uma extensa coleção de antigas canções populares que permanece-
ram vivas na tradição oral das populações finlandesas, sobretudo no distrito de Ar-
canjo na Carélia. O grande feito de Lönnrot foi conseguir costurar todas estas canções
tradicionais numa única narrativa épica de considerável consistência.

Daqui ao fim da aula, caminharemos pelo mais importante poema épico a nós,
estudiosos da língua portuguesa: "Os Lusíadas", de Camões.
Veremos alguma porção da epopeia lusitana, tendo em mente que, mais à
frente dialogaremos com Camões em outros textos, sobretudo em seus sonetos, que
são magníficos.
P á g i n a | 57

Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=tKglFfJ5ZKo>.

Sobre Luís Vaz de Camões:


1) Nasceu, provavelmente, em 1524.
2) Seu local de nascimento é incerto; provável que Coimbra ou Lisboa.
3) Ingressou no exército português em 1547.
4) Combateu os Celtas.
5) Participou da noite portuguesa tanto entre nobres quanto com a plebe.
6) Foi preso após briga com serviçal da realeza.

("Os bons vi sempre passar


No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.")

7) Em 1556 rumou em expedição para a China, e de lá voltou com os manus-


critos de "Os Lusíadas".
8) Diz a lenda que, em episódio de naufrágio, Camões teve que escolher entre
Dinamene, uma de suas amantes, e sua obra prima. A obra salvou-se, e para a jovem
restou o soneto que segue:

("Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
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Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.").

9) Foi o maior representante do classicismo português.


10) Luís Vaz de Camões morreu em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580,
em absoluta pobreza.

Sobre "Os Lusíadas"


1) Lusíadas: lusitanos, portugueses.
2) É claro o desejo de Camões de cantar um herói coletivo: a própria pátria
portuguesa.
3) O poema está dividido em dez cantos, compreendendo 1102 oitavas.
4) Os narradores principais são o próprio poeta e Vasco da Gama.
5) Na abertura:
a. Tradição clássica (canto às armas e aos varões gloriosos).
b. Invocação às ninfas do Tejo.
c. Dedicatória ao rei D. Sebastião.

1 As armas e os Barões assinalados


Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;

2 E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
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Se vão da lei da morte libertando:


Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3 Cessem do sábio Grego e do Troiano


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

8 Vós, poderoso Rei, cujo alto Império


O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:

9 Inclinai por um pouco a majestade


Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.")

6) Na oitava 19 começa a ação em si (navegação pelo índico e concílio dos


deuses). Baco sem opõe, mas Vênus apoia os portugueses.
7) A intervenção das divindades segue por todo o poema.
P á g i n a | 60

8 Na partida da frota, o episódio do Velho do Restelo simboliza a oposição do


espírito agrário feudal ao aventureirismo moderno. Pontuam-se erros da política ultra-
marina portuguesa e critica-se a ambição humana.
9) No canto V são descritas as navegações pela costa africana.
10) A figura do Gigante Adamastor surge como porta-voz profético do futuro
infausto das navegações em pontos tormentosos. Trata-se de representação do preço
a ser pago pela imortalidade à Natureza e aos deuses.
11) Descreve-se o flagelo do escorbuto.
12) Camões passa a refletir de forma sentenciosa e quase proverbial acerca
das fraquezas e dos vícios humanos.
13) No retorno, os portugueses chegam à Ilha dos Amores.
14) Dá-se o casamento simbólico entre Vasco da Gama e Tétis (ninfa do mar).
15. Tétis leva Vasco da Gama para contemplar a "Máquina do Mundo".
("80 Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assim foi do Saber alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfície tão limada,
É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.")

16) A esquadra alcança finalmente a foz do Tejo, e o poeta conclui o último


canto com uma série de reflexões morais.
17) "A fusão do maravilhoso pagão com o cristianismo, o enciclopédico cabedal
de conhecimentos espalhados por toda a obra, o próprio tema da grande expansão
marítima faz d'Os Lusíadas a epopeia por excelência da Renascença clássica e pré-
barroca" (Alexei Bueno).
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 Poesia, poema e poeta;


 Gênero épico;
 Características próprias da poesia épica;
 Grandes épicos da literatura mundial;
 Camões, e Os Lusíadas.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. -7. ed. – São Paulo
: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson).
Exercícios
AULA 4

1) Sobre a poesia, é correto afirmar:


a) A poesia é um gênero literário com características bem
definidas, portanto, é facilmente possível identificá-la na litera-
tura.
b) A poesia é exclusividade da literatura e não pode ser encontrada em outras
manifestações artísticas, como a pintura ou a música.
c) A poesia apresenta forma fixa e não admite variações em sua estrutura. Os
moldes clássicos obedecem aos princípios hedonistas de que a poesia deve sempre
contemplar aquilo que é belo e agradável.
d) A poesia pode ser encontrada em diversas manifestações artísticas, como
na música, na literatura, na fotografia e até mesmo em situações corriqueiras de nosso
cotidiano.

2) Sobre a linguagem poética, é incorreto afirmar:


a) A linguagem poética faz uso de diversos recursos estilísticos, entre eles, as
figuras de linguagem.
b) As figuras de linguagem em um poema têm como objetivo despertar sensa-
ções no leitor e impactá-lo, possibilitando que ele crie imagens a partir desse impacto.
c) A linguagem poética é estritamente autobiográfica: é impossível desvencilhar
o poeta de sua criação.
d) A linguagem poética não possui compromisso com a objetividade: ela pode
ser subjetiva e ambígua, oferecendo ao leitor diferentes possibilidades de interpreta-
ção.

3) (MACKENZIE-SP) Sobre o poema Os Lusíadas, é incorreto afirmar que:


a) quando a ação do poema começa, as naus portuguesas estão navegando
em pleno Oceano Índico, portanto no meio da viagem;
b) na Invocação, o poeta se dirige às Tágides, ninfas do rio Tejo;
c) na ilha dos Amores, após o banquete, Tétis conduz o capitão ao ponto mais
alto da ilha, onde lhe desvenda a “máquina do mundo”;
P á g i n a | 64

d) tem como núcleo narrativo a viagem de Vasco da Gama, a fim de estabelecer


contato marítimo com as Índias;
e) é composto em sonetos decassílabos, mantendo em 1.102 estrofes o mesmo
esquema de rimas.

4) (PUC-PR) Sobre o narrador ou narradores de os Lusíadas, é lícito afirmar


que:
a) existe um narrador épico no poema: o próprio Camões;
b) existem dois narradores no poema: O eu-épico, Camões fala através dele, e
o outro, Vasco da Gama, que é quem dá conta de toda a História de Portugal.
c) o narrador de Os Lusíadas é Luiz Vaz de Camões;
d) o narrador de os Lusíadas é o Velho do Restelo;
e) o narrador de Os Lusíadas é o próprio povo português.

5) A epopeia é uma extensa narrativa de feitos grandiosos. Em língua portu-


guesa, a grande epopeia em versos é "Os Lusíadas", de Camões. Nela, destacam-se
os atos heroicos:
a) do Gigante Adamastor.
b) do Velho do Restelo.
c) de Vasco da Gama.
d) do Povo Português.
e) das ninfas do Tejo.
Aula 5
Gêneros literários – Poesia – História e
tradição: poesias consagradas

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, continuaremos a conversar sobre o gênero poesia. Veremos alguns


poemas da nossa clássica literatura em língua portuguesa, passando por obras da
tradição lusitana a poemas da literatura brasileira

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar alguns poemas clássicos de escritores da literatura portu-


guesa e brasileira;
 Definir determinados conceitos relativos à poética e as características da
poesia em língua portuguesa.
P á g i n a | 66

5 PARA COMEÇAR

Como todos estudaram na aula anterior, a literatura possui um his-


tórico. Sendo assim, a arte literária faz parte de um processo, apresen-
tando mudanças, adaptações, renovações, questionamentos etc.
Nesta aula, vamos ler sobre alguns poetas significativos da litera-
tura em língua portuguesa.

1 – Camões
Assistam a alguns vídeos sobre o poeta lusitano:
<https://www.youtube.com/watch?v=WMkp3j7Mqxw>.
<https://www.youtube.com/watch?v=5CqmXUURDP0>.

Indubitavelmente, a poesia de Camões é viva no século XXI.


Vejamos a mais conhecida:

“Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? ”
P á g i n a | 67

Como não perceber a atualidade desse poema? O sentimento humano é com-


plexo e uma das funções da arte é fazer falar essa essência, comum a todos.
Como soneto, esse poema é rico em figuras de linguagem, em sonoridade, em
ritmo e profundidade temática. Marcado pelas antíteses e paradoxos e com um final
indagador, o soneto camoniano acima é a representação maior da grandeza da poé-
tica em língua portuguesa.

Vamos a outros grandes da literatura:


2 – Bocage
Assista ao vídeo sobre o poeta lusitano:
<https://www.youtube.com/watch?v=TyN0ZdAk3mM>.

Bocage ficou conhecido pela sua riqueza enquanto sonetista.


Leitor de Camões, Bocage é um dos grandes nomes da literatura árcade lusi-
tana. Vamos a alguns textos consagrados desse poeta:

TEXTO I
“A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios

Camões, grande Camões, quão semelhante


Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante


Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:
P á g i n a | 68

Lubíbrio, como tu, da sorte dura,


Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és..., Mas, ó tristeza!...


Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza. ”

TEXTO II
“Quantas vezes, Amor, me tens ferido?

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,


Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,


Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;


É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida. “

No primeiro texto, temos a incrível habilidade de referenciar ao mestre Ca-


mões. A comparação com a vida de Camões, dada aos fados históricos comuns, so-
bressai-se ao final. Já no segundo texto, vemos a equivalência com a poética camo-
niana: o amor colocado entre a Razão e a Emoção, a busca pelo equilíbrio nas expe-
riências de vida e os paradoxos comuns a esse sentimento.

3 – Almeida Garrett
Assista ao vídeo sobre o poeta português
<https://www.youtube.com/watch?v=bSHX70M9B5k>.
P á g i n a | 69

Almeida Garrett (1799-1854) foi um poeta, prosador e dramaturgo português,


teve um papel importante como introdutor das ideias do Romantismo em Por-
tugal.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garret (1799-1859) nasceu na cidade
do Porto, Portugal, no dia 04 de fevereiro de 1799. Acompanhou a família na
mudança para os Açores, durante a invasão francesa. Passou a adolescência
na ilha Terceira. Desde cedo manifestava inclinação pela literatura e pela po-
lítica.
Extraído de: https://www.ebiografia.com/almeida_garrett/.

Vamos ao poema de Almeida Garrett


TEXTO I
“Não te amo

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.


E eu n'alma --- tenho a calma,
A calma --- do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.


E a vida --- nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero


De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.


Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,


De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto


Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.”

Vemos na poesia de Garrett uma nova forma de representar os sentimentos: o


amor romântico possui suas marcas temáticas: idolatria, exagerado e sentimental, a
poesia romântica tem seus encantos.
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4 – Gonçalves Dias

Gonçalves Dias (Antônio Gonçalves Dias), poeta, professor, crítico de histó-


ria, etnólogo, nasceu em Caxias, MA, em 10 de agosto de 1823, e faleceu em
naufrágio, no Maixio dos Atins, MA, em 3 de novembro de 1864. É o patrono
da cadeira n. 15, por escolha do fundador Olavo Bilac.
Era filho natural de João Manuel Gonçalves Dias, comerciante português, na-
tural de Trás-os-Montes, e de Vicência Ferreira, mestiça. Perseguido pelas
exaltações nativistas, o pai refugiara-se com a companheira perto de Caxias,
onde nasceu o futuro poeta. Casado em 1825 com outra mulher, o pai levou-
o consigo, deu-lhe instrução e trabalho e matriculou-o no curso de Latim,
Francês e Filosofia do Prof. Ricardo Leão Sabino. Em 1838 Gonçalves Dias
embarcaria para Portugal, para prosseguir nos estudos, quando lhe faleceu o
pai. Com a ajuda da madrasta pôde viajar e matricular-se no curso de Direito
em Coimbra. A situação financeira da família tornou-se difícil em Caxias, por
efeito da Balaiada, e a madrasta pediu-lhe que voltasse, mas ele prosseguiu
nos estudos graças ao auxílio de colegas, formando-se em 1845. Em Coim-
bra, ligou-se Gonçalves Dias ao grupo dos poetas que Fidelino de Figueiredo
chamou de “medievalistas”. À influência dos portugueses virá juntar-se a dos
românticos franceses, ingleses, espanhóis e alemães. Em 1843 surge a “Can-
ção do exílio”, uma das mais conhecidas poesias da língua portuguesa.
Extraído de: <http://www.academia.org.br/academicos/goncalves-dias/biografia>.

Assista ao vídeo sobre o poeta brasileiro


<https://www.youtube.com/watch?v=onB90MRMwps>.

“O amor

Amare amabam. S. Agostinho

Amor! enlevo d'alma, arroubo, encanto Desta existência mísera, onde exis-
tes? Fino sentir ou mágico transporte, (O quer que seja que nos leva a extre-
mos, Aos quais não basta a natureza humana;) Simpática atração d'almas
sinceras Que unidas pelo amor, no amor se apuram, Por quem suspiro, serás
nome apenas? A inútil chama ressecou meus lábios, Mirrou-me o coração da
vida em meio, E à terra fez baixar a mente errada Que entre nuvens, amor,
por ti bradava! Não te pude encontrar! — em vão meus anos No louco intento
esperdicei; gelados, Uns após outros a cair precipites Na urna do passado os
vi; eu triste, Amor, por ti clamava; — e o meu deserto Aos meus acentos re-
boava embalde. Em vão meu coração por ti se fina, Em vão minha alma te
compreende e busca, Em vão meus lábios sôfregos cobiçam Libar a taça que
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aos mortais ofereces! Dizem-na funda, inesgotável, meiga; Enquanto a vejo


rasa, amarga e dura! Dizem-na bálsamo, eu veneno a sorvo: Prazer, doçura,
— eu dor e fel encontro! Dobrei-me às duras leis que me impuseste, Curvei
ao jugo teu meu colo humilde, Feri-me ao seus ardentes passadores, Prendi-
me aos teus grilhões, rojei por terra... E o lucro?... foram lágrimas perdidas,
Foi roxa cicatriz qu'inda conservo, Desbotada a ilusão e a vida exausta! Ce-
leste emanação, gratos eflúvios Das roseiras do céu; bater macio Das asas
auribrancas dalgum anjo, Que roça em noite amiga a nossa esfera, Centelha
e luz do sol que nunca morre; És tudo, e mais qu'isto: — és luz e vida, Per-
fume, e vôo d'anjo mal sentido, Peregrinas essências trescalando!... Também
passas veloz, — breve te apagas, Como duma ave a sombra fugitiva, Des-
garrada voando à flor de um lago!

Um dos maiores nomes da poesia brasileira, cujos versos de “Canção do Exílio”


ecoam no hino nacional, Gonçalves Dias foi o grande nome da poesia brasileira no
século XIX, levando o nome do movimento romântico a um patamar elevado de arte
poética.
No poema acima, percebemos a sutileza na descrição dos sentimentos e da
figura amada: o excessivo uso de adjetivos marca a poética de Dias e as metáforas
(perfumes, luz do sol, roxa cicatriz etc.) são relevantes para criar novas imagens sim-
bólicas dentro do poema.

5 – Castro Alves
Assistam ao vídeo sobre o poeta baiano:
<https://www.youtube.com/watch?v=s8oeQ3Hg9OQ>.

Castro Alves (Antônio Frederico), nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março


de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da
cadeira n. 7, por escolha do fundador Valentim Magalhães.
Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade
de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando
o poeta tinha 12 anos, e, por esta, neto de um dos grandes heróis da Inde-
pendência da Bahia. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a
capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaú-
bas, onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e
precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os
preparatórios e, depois de duas vezes reprovado, matriculou-se finalmente
na Faculdade de Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 1865, na mesma turma
que Tobias Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e admirado
graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos amores que dos estudos.
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Em 1866, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou apaixonada ligação amorosa


com atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que desempe-
nhou importante papel em sua lírica e em sua vida.
Extraído de: <http://www.academia.org.br/academicos/castro-alves/biografia>.

Horas de saudade
TUDO VEM me lembrar que tu fugiste, Tudo que me rodeia de ti fala. Inda a
almofada, em que pousaste a fronte O teu perfume predileto exala No piano
saudos, à tua espera, Dormem sono de morte as harmonias. E a valsa entre-
aberta mostra a frase A doce frase qu'inda há pouco lias. As horas passam
longas, sonolentas... Desce a tarde no carro vaporoso... D'Ave-Maria o sino,
que soluça, É por ti que soluça mais queixoso. E não Vens te sentar perto,
bem perto Nem derramas ao vento da tardinha, A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha. E, quando ma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma, Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma. É que tudo me lembra que fugiste. Tudo
que me rodeia de ti fala... Como o cristal da essência do oriente Mesmo
vazio a sândalo trescala. No ramo curvo o ninho abandonado Relembra o
pipilar do passarinho. Foi-se a festa de amores e de afagos... Eras — ave do
céu... minh'alma — o ninho! Por onde trilhas — um perfume expande-se. Há
ritmo e cadência no teu passo! És como a estrela, que transpondo as som-
bras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço ... E teu rastro de amor guarda
minh'alma, Estrela que fugiste aos meus anelos! Que levaste-me a vida en-
trelaçada Na sombra sideral de teus cabelos! ...

Castro Alves, o Poeta dos Escravos, é um dos maiores escritos da literatura


brasileira. Responsável por uma das maiores obras-primas da literatura, “Navio Ne-
greiro”, em que descreve com a beleza e o encantamento das palavras exatas, Castro
Alves participou ativamente da história nacional (no momento das disputas abolicio-
nistas no século XIX). No poema acima, vemos as marcas de literatura única e singu-
lar: feito em quartetos, o eu-lírico sofre pelo distanciamento do amor verdadeiro, te-
mática comum a toda poética em língua portuguesa.

Leiam também o poema “Vozes d’África”


<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000010.pdf>.
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6 – Olavo Bilac
Assistam ao vídeo sobre o Príncipe dos poetas:
<https://www.youtube.com/watch?v=icFXlOfuuBc>.

Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac), jornalista, poeta, ins-
petor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865,
e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundado-
res da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº. 15, que tem como
patrono Gonçalves Dias.
Eram seus pais o Dr. Braz Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira
dos Guimarães Bilac. Após os estudos primários e secundários, matriculou-
se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano.
Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do pri-
meiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa
participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi
em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou
menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “A Semana”
da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante
anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira.
Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos persegui-
dos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando
frequentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi
preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do
Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposen-
tou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomá-
ticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou
a Liga de Defesa Nacional.
Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de
1880 a sua fase mais fecunda. Embora não tenha sido o primeiro a caracte-
rizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac
tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de
Oliveira e Raimundo Correia.
Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu pre-
ferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas pri-
meiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decora-
dos e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na
época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de Via Láctea e a
“Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue
pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade
como resultado do lavor.
Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é ex-
pressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilu-
são e a morte do bandeirante Fernão Dias Paes. Bilac foi, no seu tempo, um
dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito
o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-Fon lan-
çou em 1º. de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos
seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra
a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como
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dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável


conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e
produziu também contos e crônicas.
Extraído de: http://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/biografia.

Nel mezzo del camin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste
e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos
povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos,
presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar con-
tinha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos ume-
dece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.

Príncipe dos Poetas foi a alcunha dada a Olavo Bilac. Em toda a sua poética,
não há sequer algum desvio da norma culta da língua, nem ambiguidades que tornem
a compreensão um problema. Olavo Bilac é um poeta parnasiano, isto é, do final do
século XIX e começo do século XX. Participou da Academia Brasileira de Letras e
produziu consideravelmente publicando em jornais da época. Sua poesia traz a Razão
como uma das marcas. No texto acima, o sentimento do fim do amor e do reencontro
demonstram as distâncias pelas quais muitos casais (melhor, ex-casais) perpassam
em suas experiências.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 Poesia, poema e poeta;


 Poetas clássicos da literatura em Língua Portuguesa;
 Alguns grandes autores da literatura portuguesa e brasileira;
 Indicamos aspectos biográficos desses autores.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: <https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0>. Acesso
em: 01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 5

Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac

O poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac, apresenta características que po-


dem ser imediatamente associadas ao:
a) Romantismo.
b) Arcadismo.
c) Realismo.
d) Concretismo.
e) Parnasianismo.

2) Releia o poema de Almeida Garrett, “Não te amo”:


a) No primeiro verso o eu lírico estabelece uma oposição que irá desenvolver
ao longo do poema. Que oposição é essa?
> Pelo tema do poema, é possível fazer uma imagem do interlocutor a quem o
eu lírico se dirige. Que interlocutor seria esse? Explique.

b) Ao longo do poema, o eu lírico utiliza diferentes imagens para definir o amor.


Quais são elas?
> Que argumento é apresentado, na primeira estrofe, como demonstração de
que o sentimento do eu lírico não pode ser identificado como amor?
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c)Também o querer é associado a imagens diversas, ao longo do poema. Quais


são elas?
> Qual é o sentido básico dessas imagens? Por quê?

d) Podemos identificar, ao longo do poema, a história de um drama individual,


de gosto bem romântico. Que drama seria esse?
> Por que a oposição amor x querer ajuda a reforçar a ideia do amor como um
dos principais valores românticos?

3) Assinale a incorreta sobre Bocage:


a) Foi fundador da Escola Arcádia Lusitana, em 1756, e pertenceu à Nova Ar-
cádia, mas rompeu com as duas agremiações.
b) À semelhança de Camões, teve vida atribulada: viveu no Oriente, conheceu
a miséria e a prisão.
c) À semelhança de Gregório de Matos, notabilizou-se como poeta satírico e
como poeta lírico.
d) A lírica bocagiana evoluiu do Arcadismo convencional para o egocentrismo
pré-romântico.
e) A tensão entre o racionalismo neoclássico e o individualismo pré-romântico
é um dos eixos temáticos de sua obra.
Aula 6
Gêneros literários – Poesia – Século XX

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, começaremos a conversar sobre o gênero poesia. Veremos alguns


poemas da nossa literatura brasileira do século XX, focando em Oswald de Andrade,
Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Cecília Meireles.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar algumas poesias e poetas contemporâneos da literatura bra-


sileira;
 Definir determinados conceitos relativos à poética.
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6 PARA COMEÇAR

Como todos estudaram na aula anterior, a literatura possui um histórico. Sendo


assim, a arte literária faz parte de um processo, apresentando mudanças, adaptações,
renovações, questionamentos etc. Nesta aula, vamos ler sobre alguns poetas signifi-
cativos da literatura em língua portuguesa do século XX.

1 – Oswald de Andrade
<https://www.youtube.com/watch?v=SaPPNx63WG8>.

Oswald de Andrade (1890-1954) foi escritor e dramaturgo brasileiro. Fun-


dou junto com Tarsila o "Movimento Antropófago". Foi uma das personalida-
des mais polêmicas do Modernismo. Era irônico e gozador, teve uma vida
atribulada, foi militante político, foi o idealizador dos principais manifestos mo-
dernistas. Ao lado da pintora Anita Malfatti, do escritor Mário de Andrade e de
outros intelectuais organizou a Semana de Arte Moderna de 1922.
Oswald de Andrade (1890-1954) nasceu em São Paulo, no dia 11 de janeiro
de 1890. Filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês Henriqueta
Inglês de Souza Andrade. Estudou Ciências e Letras no Ginásio de São
Bento, onde ouviu de um professor que ia ser escritor. Passou a comprar
livros e a escrever.
Em 1909, O Diário Popular publicou seu primeiro artigo “Penando”, uma re-
portagem da excursão do presidente Afonso Pena aos Estados do Paraná e
Santa Catarina. Em 1911, fundou a revista semanal “O Pirralho”, que ele
mesmo dirigiu, junto com Alcântara Machado e Juó Bananère. O semanário
contava, entre outros colaboradores, com o pintor Di Cavalcanti.
Em 1912 fez sua primeira viagem à Europa. A estada em Paris, além das
ideias futuristas, deu-lhe uma companheira, Kainá, mãe de seu primeiro filho
nascido em 1914. De volta a São Paulo, alugou um apartamento na Rua Lí-
bero Badaró. O local era frequentado por muitos intelectuais, entre eles: Mon-
teiro Lobato, Guilherme de Almeida e Mário de Andrade. Nessa época, con-
viveu com Maria de Lourdes Olzani. Em 1917 sua revista foi fechada. Nesse
mesmo ano, em sua coluna no Jornal do Comércio defende Anita Malfatti das
críticas de Monteiro Lobato.
Em 1919 formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo. Foi o orador do
Centro Acadêmico 11 de Agosto. Nunca advogou. Continuou jornalista, tor-
nou-se o principal divulgador da renovação literária no Brasil. Foi muito im-
portante o seu papel na Semana de Arte Moderna de 22 e nos anos de afir-
mação modernista.
Nesse mesmo ano, faz sua segunda viagem à Europa. Em Paris, na Sor-
bonne, dá a conferência “O Esforço Intelectual do Brasil Contemporâneo”.
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Oswald de Andrade lançou em 18 de março de 1924, um dos mais importan-


tes manifestos do Modernismo "Manifesto Pau-Brasil", publicado no Correio
da Manhã. Explicando o nome do manifesto, o autor diz "Pensei em fazer
uma poesia de exportação. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira
exportada, denominei o movimento Pau-Brasil".
Em 1925 Oswald de Andrade lançou o livro de poemas "Pau-Brasil", em que
põe em prática os princípios propostos no manifesto. O livro Pau-Brasil foi
ilustrado por Tarsila do Amaral e apresenta uma literatura extremamente vin-
culada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil.
Em 1926 casa-se com a pintora Tarsila do Amaral. Dois anos depois, radica-
lizando o movimento nativista, o seu "Manifesto Antropofágico" propõe que o
Brasil devore a cultura estrangeira e crie uma cultura revolucionária própria.
Nessa época, rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral
e casa-se com a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu.
Em 1944, mais um casamento, com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem
teve duas filhas e permaneceu casado até o fim de sua vida.
José Oswald de Sousa Andrade morreu em São Paulo, no dia 22 de outubro
de 1954.
Extraído de: https://www.ebiografia.com/oswald_andrade/.

Vamos a alguns poemas do grande nome do modernismo brasileiro:

“Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco


Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro”

“Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas


E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas


Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 115
E o progresso de São Paulo”

“Amor
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Humor”
Irreverente e único, Oswald de Andrade pode ser considerado um dos gran-
des nomes da literatura brasileira no século XX. Sua poesia, de um lirismo
diferenciado e cômico, traz as marcas do movimento modernista brasileiro:
introdução das culturas minoritárias (o primeiro poema representa a lingua-
gem popular, das classes baixas), um diálogo com a tradição literária de um
modo inovador (que vemos no segundo poema, em que referencia ao clás-
sico de Gonçalves Dias, “Canção do exílio”, só que representando a urbani-
dade da cidade de São Paulo) e o humor único proveniente dos chama-
dos poemas-pílulas que, de um modo bem direto, apresentam uma releitura
da tradição (afinal, quantos poemas de amor não foram feitos pelos grandes
escritores?! Para Oswald, bastaria uma palavra: para se dar e se ter todo
amor tem que se ter muito humor!)

2 – Manuel Bandeira
“Nascido no Recife em 19 de abril de 1886, Manuel Bandeira é considerado
um dos maiores poetas da língua portuguesa, tendo se destacado também como cro-
nista, professor, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e de artes plásticas. Estreou
em 1917 com A cinza das horas, seguido de dezenas de outros livros essenciais da
poesia brasileira, como Libertinagem, Estrela da manhã, Estrela da tarde e outros.
Bandeira residiu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Amigo de vários
participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, principalmente de Mário de An-
drade e Ribeiro Couto, manteve com alguns deles uma vasta correspondência, como
se vê em seu livro Itinerário de Pasárgada. Em 1940, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras, instituição que atualmente preserva sua biblioteca pessoal. Seus
documentos pessoais, como cartas e fotos, encontram-se sob a guarda do Arquivo-
Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa. O poeta faleceria
no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1968. ”

Para saber mais confira:


<http://globaleditora.com.br/autores/biografia/?id=1272>.
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Vamos a alguns dos melhores poemas de Bandeira:

“Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica


Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo


É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste


Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada. ”

“Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,


Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
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— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo


Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom


Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos


Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

“Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. ”


P á g i n a | 85

<https:/ /www.youtube.com/watch?v=acWHzVBs394>.

Manuel Bandeira consagrou-se pela sua poesia livre – trouxe para o Brasil as
marcas da mudança e da ruptura poética que adentravam a Europa no começo do
século XX. Com uma poesia que ultrapassa as barreiras das formas tradicionais, Ban-
deira teve seu poema ‘Os Sapos’ lido na Semana de Arte Moderna, uma crítica con-
siderável aos poetas parnasianos da época. Já em Poética, o poeta pernambucano
demonstra o que pretende desenvolver como arte, i.e., a liberdade de criação.
Em ‘Vou-me embora para Pasárgada’, o lugar imaginário e fictício é o símbolo
da busca pelos sentimentos e pela liberdade.

3 – Mário de Andrade
<https://www.youtube.com/watch?v=BYhXMQYLRs4>.

Mário Raul Morais Andrade foi um revolucionário das artes. Poeta, roman-
cista, crítico de arte, folclorista, musicólogo e ensaísta, ele nasceu, viveu e
morreu em São Paulo. Ajudou a fundar o movimento modernista brasileiro.
Participou da famosa Semana de Arte Moderna de 1922. Chocou a burguesia
paulistana do início do século passado. E teve em vida todo o reconhecimento
merecido.
Mario de Andrade nasceu no dia nove de outubro de 1893, filho de Carlos
Augusto de Morais e Maria Luiza Leite Morais Andrade. Estreou no mundo
literário, em 1917, com “Há uma gota de sangue em cada poema”, feito sob
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o impacto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas que trouxe poucas


novidades em termos de estilo.
Mas foi nesse mesmo ano (1917), que ele teve seu primeiro contato com a
modernidade, visitando a exposição de Anita Malfatti. Empolgado, se juntou,
em 1920, ao grupo modernista que nascia em São Paulo. No ano seguinte,
esteve presente no lançamento do movimento no banquete realizado no Tri-
anon. E, em 1922, participou ativamente da Semana de Arte Moderna.
Com “Paulicéia desvairada”, lançado em 1922, dá largada aos poemas mo-
dernistas no Brasil. Nele, faz uma análise da cidade de São Paulo e seu pro-
vincianismo. Deixou a elite paulistana de cabelo em pé com “Amar verbo in-
transitivo” (1927), que conta a história de Carlos um adolescente de família
tradicional iniciado no sexo por uma alemã contratada por seu pai, um rico
industrial, para essa tarefa.
Sua obra mais marcante, porém, foi “Macunaíma” (1928). De fundo roma-
nesco e satírico, o livro foi escrito durante umas férias em Araraquara (SP).
Nele, Mario de Andrade retrata, segundo ele próprio, o brasileiro comum.
Trata-se de uma epopéia cheia de lirismo, onde são misturados o folclore e a
mitologia, a história e o linguajar popular.
Depois de romper com Oswald de Andrade, em 1930, Mário apoiou a “Revo-
lução de 1930”, movimento armado liderado pelos estados de Minas Gerais
e Rio Grande do Sul, e que culminou com a deposição do presidente paulista
Washington Luís.
Morreu de enfarte, no dia 25 de fevereiro de 1945, em São Paulo.
Extraído de: http://escritores.folha.com.br/mario_andrade-biografia.html.

Vamos a alguns poemas de Mário de Andrade:


Moça Linda Bem Tratada

Moça linda bem tratada,


Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,


De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência…

Plutocrata sem consciência,


Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba”

“Ode ao Burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel


o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!


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Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!


Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar… — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!


Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!


Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês! …

Poeta que foi o cérebro da Semana de Arte Moderna de 1922, junto a Oswald,
Mário de Andrade foi um artista completo: músico, poeta, romancista e único na lite-
ratura brasileira.
Nos poemas, encontramos uma crítica de Mário de Andrade à tradicional famí-
lia burguesa do começo do século passado. Essa crítica direciona-se a todos os mem-
bros de uma família e o clímax da estrutura está quando se refere ao pai, o plutocrata
sem consciência, que explora e desestrutura as outras famílias da sociedade. No se-
gundo poema, Ode ao burguês, o título já traz as marcas da ironia, posto que uma
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ode é um poema de elogio, de bem-dizer e o que vemos é uma severa crítica às elites
econômicas da época.

4 – Cecília Meireles

Cecília Meireles, nossa poeta maior, nasceu no dia 7 de novembro de 1901,


no Rio de Janeiro. Aos 3 anos de idade perdeu a mãe e não chegou a conhe-
cer o pai, que morreu antes de seu nascimento. Órfã, foi criada pela avó ma-
terna, Jacinta Garcia Benevides. Casou-se em 1922 com Fernando Correia
Dias, artista plástico com quem teve três filhas. O marido cometeu suicídio
em 1935 em razão da depressão. Viúva, casou-se novamente em 1940 com
Heitor Vinícius da Silveira Grilo, professor e engenheiro agrônomo. Faleceu
no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1964.
Foi poeta, ensaísta, cronista, folclorista, tradutora e educadora. Em 1919, a
autora publica seu primeiro livro de poemas intitulado Espectros. Em 1934,
Cecília Meireles organiza a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro. Em
1939, é agraciada com o Prêmio de Poesia Olavo Bilac concedido pela Aca-
demia Brasileira de Letras pelo livro Viagem. Entre os prêmios que recebeu,
estão ainda: Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista
de Críticos de Arte, em 1962; e, no ano seguinte, ganhou o Prêmio Jabuti de
Tradução de Obra Literária, pelo livro Poemas de Israel, concedido pela Câ-
mara Brasileira do Livro; no ano de sua morte, recebeu ainda o Jabuti de po-
esia pelo livro Solombra; e em 1965, o Prêmio Machado de Assis, da Acade-
mia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.
Sua poesia foi traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão,
húngaro, hindi e urdu, e musicada por Alceu Bocchino, Luis Cosme, Letícia
Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine
Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner.
Extraído de: http://globaleditora.com.br/autores/biografia/?id=4124.

Vamos a alguns textos da ‘poeta’ Cecília Meireles:


Motivo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou
alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não
sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um
dia sei que estarei mudo: — mais nada.

Romance XXI ou das ideias – extraído de ‘Romanceiro da Inconfidência’

A vastidão desses campos. A alta muralha das serras. As lavras inchadas de


ouro. Os diamantes entre as pedras. Negros, índios e mulatos. Almocrafes e
gamelas.
Os rios todos virados. Toda revirada, a terra. Capitães, governadores, padres
intendentes, poetas. Carros, liteiras douradas, cavalos de crina aberta. A
água a transbordar das fontes. Altares cheios de velas. Cavalhadas. Luminá-
rias. Sinos, procissões, promessas. Anjos e santos nascendo em mãos de
gangrena e lepra. Finas músicas broslando as alfaias das capelas. Todos os
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sonhos barrocos deslizando pelas pedras. Pátios de seixos. Escadas. Boti-


cas. Pontes. Conversas. Ente que chega e que passa. E as ideias.
Amplas casas. Longos muros. Vida de sombras inquietas. Pelos cantos das
alcovas, histerias de donzelas. Lamparinas, oratórios, bálsamos, pílulas, re-
zas. Orgulhosos sobrenomes. Intrincada parentela. No batuque das mulatas,
a prosápia degenera: pelas portas dos fidalgos, na lã das noites secretas,
meninos recém-nascidos como mendigos esperam. Bastardias. Desavenças.
Emboscadas pela treva. Sesmarias, salteadores. Emaranhadas invejas. O
clero. A nobreza. O povo. E as ideias.
E as mobílias de cabiúna. E as cortinas amarelas. Dom José. Dona Maria.
Fogos. Mascaradas. Festas. Nascimentos. Batizados. Palavras que se inter-
pretam nos discursos, nas saúdes… Visitas. Sermões de exéquias. Os estu-
dantes que partem. Os doutores que regressam. (Em redor das grandes lu-
zes, há sempre sombras perversas. Sinistros corvos espreitam pelas doura-
das janelas.) E há mocidade! E há prestígio. E as ideias.
As esposas preguiçosas na rede embalando as sestas. Negras de peitos ro-
bustos que os claros meninos cevam. Arapongas, papagaios, passarinhos da
floresta. Essa lassidão do tempo entre imbaúbas, quaresmas, cana, milho,
bananeiras e a brisa que o riacho encrespa. Os rumores familiares que a lenta
vida atravessam: elefantíase; partos; sarna; torceduras; quedas; sezões; pi-
cadas de cobras; sarampos e erisipelas… Candombeiros. Feiticeiros. Un-
guentos. Emplastos. Ervas. Senzalas. Tronco. Chibata. Congos. Angolas.
Benguelas. Ó imenso tumulto humano! E as ideias.
Banquetes. Gamão. Notícias. Livros. Gazetas. Querelas. Alvarás. Decretos.
Cartas. A Europa a ferver em guerras. Portugal todo de luto: triste Rainha o
governa! Ouro! Ouro! Pedem mais ouro! E sugestões indiscretas: Tão longe
o trono se encontra! Quem no Brasil o tivera! Ah, se Dom José II põe a coroa
na testa! Uns poucos de americanos, por umas praias desertas, já libertaram
seu povo da prepotente Inglaterra! Washington. Jefferson. Franklin. (Palpita
a noite, repleta de fantasmas, de presságios…) E as ideias.
Doces invenções da Arcádia! Delicada primavera: pastoras, sonetos, liras, —
entre as ameaças austeras de mais impostos e taxas que uns protelam e
outros negam. Casamentos impossíveis. Calúnias. Sátiras. Essa paixão da
mediocridade que na sombra se exaspera. E os versos de asas douradas,
que amor trazem e amor levam… Anarda. Nise. Marília… As verdades e as
quimeras. Outras leis, outras pessoas. Novo mundo que começa. Nova raça.
Outro destino. Planos de melhores eras. E os inimigos atentos, que, de olhos
sinistros, velam. E os aleives. E as denúncias. E as ideias.

Confira outros grandes poemas de Cecília Meireles em:


<http://www.letras.ufmg.br/padrao_cms/documentos/profs/sergioalcides/ceciliavaga1.pdf>.
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‘Motivo’ é indubitavelmente uma das poesias da literatura brasileira, sempre


cobrada em vestibulares do país todo. Metalinguístico, este poema fala de um dos leit-
motivs (temáticas primordiais) da arte poética, o ‘a difícil tarefa de se fazer poesia’, e
traz as dualidades existenciais comuns à escritura de Cecília.
No segundo poema, deparamo-nos com um dos mais grandiosos trechos de
‘Romanceiro da Inconfidência’, o capítulo sobre o surgimento das ideias revolucioná-
rias em meio ao cenário da Inconfidência Mineira.
Vale belo rebuscado trabalho e pela sonoridade expressa.

Assista também:
<https://www.youtube.com/watch?v=QKYnGDtlm1s>.

Há outros grandes escritores também na nossa literatura.


Vale conferir sobre a vida e a obra de:
5 – Adélia Prado

Adélia Luzia Prado de Freitas (Divinópolis MG 1935). Poeta, romancista, con-


tista e autora de histórias infantis. Filha do ferroviário João do Prado Filho e
da dona de casa Ana Clotilde Corrêa, ingressa em 1942 no Grupo Escolar
Padre Matias Lobato, na cidade natal, onde se alfabetiza. Escreve os primei-
ros versos em 1950, aos 15 anos, após a morte da mãe. Nesse mesmo ano,
termina os estudos no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração, en-
trando, em seguida, para o magistério na Escola Normal Mário Casassanta,
que conclui dois anos depois, em 1953. Começa a dar aulas em 1955, vol-
tando a estudar dez anos mais tarde: de 1965 a 1973, em companhia do ma-
rido, gradua-se em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Divinópolis. Embora tenha publicado em 1969 os versos A Lapinha de Jesus,
em parceria com o escritor Lázaro Barreto (1934), considera sua estreia efe-
tiva o livro Bagagem (1976), editado pela Imago por iniciativa de Affonso Ro-
mano de Sant'Anna (1937) e sugestão de Carlos Drummond de Andrade
(1902 - 1987). Publica ainda um título de poemas, O Coração Dispa-
rado (1978), antes de lançar-se na prosa, com os contos Solte os Cachor-
ros (1979) e o romance Cacos para um Vitral (1980). Na Prefeitura de Divinó-
polis, atua, entre 1983 e 1988, como chefe da Divisão Cultural e, entre 1993
e 1996, integra a equipe de orientação pedagógica. Sem deixar de dar conti-
nuidade aos seus escritos em prosa e verso, publica, em 2006, Quando Eu
Era Pequena, primeiro trabalho dedicado ao público infantojuvenil.
Extraído de: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3596/adelia-prado
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Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=QMsVYzNkUmU>.

6 – Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos maiores poetas bra-
sileiros do século XX. Pertenceu à segunda geração do Modernismo brasi-
leiro.
Nasceu em 31 de outubro de 1902 na cidade de Itabira de Mato Dentro, inte-
rior de Minas Gerais. Filho de proprietários rurais, durante sua adolescência
foi encaminhado para estudar em colégios internos em Belo Horizonte e tam-
bém em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
Após concluir os estudos, regressou à Belo Horizonte e iniciou sua carreira
de escritor publicando artigos no Diário de Minas em 1921.
Já no ano seguinte foi vencedor do “Concurso Novela Mineira” com o conto
“Joaquim do Telhado”.
Sua família fazia questão que ele conquistasse formação acadêmica, motivo
pelo qual ingressou no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Far-
mácia de Belo Horizonte, concluindo-o em 1925.
No mesmo ano casou-se com Dolores Dutra de Morais e fundou com outros
escritores “A Revista”, veículo com publicações que consolidaram o Moder-
nismo mineiro.
Durante os anos seguintes, Drummond lecionou em Itabira e depois se mu-
dou para Belo Horizonte, trabalhando como redator no Diário de Minas.
(...)
O estilo poético de Carlos Drummond de Andrade ficou caracterizado por ob-
servações do cotidiano misturadas a traços de ironia, pessimismo e humor.
Várias de suas obras foram traduzidas para diversos idiomas, sendo também
tradutor de autores como Balzac, Federico Garcia Lorca e Molière.
O poeta faleceu em 17 de agosto de 1987 no Rio de Janeiro, dias após a
morte de sua única filha, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
P á g i n a | 92

Para saber mais confira: <https://www.infoescola.com/lite-


ratura/carlos-drummond-de-andrade/>.

Assista ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=j_OGlOlx4JU>.

7 – Vinicius de Moraes
Assista ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=2LC1U3gxXC0>.

8 – Ferreira Gullar
Assista ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=Xl9gvcLKgKA>.
<https://www.youtube.com/watch?v=zXxnRxSQEz4>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

A biografia de alguns dos principais nomes da literatura em língua brasileira do


século XX; lemos poemas expressivos da cultura em língua portuguesa; interpretamos
alguns poemas de modo a denotar o valor da literatura em língua portuguesa no sé-
culo XX.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 6

1) SENHOR FEUDAL
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia.
Oswald de Andrade

O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade Média. Nele, assim como
nas cantigas de amor, a ideia de poder retoma o conceito de
a) fé religiosa.
b) relação de vassalagem.
c) idealização do amor.
d) saudade de um ente distante.
e) igualdade entre as pessoas.

2)
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade

Sobre o poema de Oswald de Andrade, julgue as seguintes proposições:


I. O poema de Oswald de Andrade volta-se contra o preconceito linguístico e
nos chama a atenção para a necessidade de uma espécie de ética linguística pautada
na diferença entre as línguas, nesse caso em uma única língua.
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II. O poema critica a maneira de falar do povo brasileiro, sobretudo das classes
incultas que desconhecem o nível formal da língua.
III. Para ele, os falantes que dizem “mio”, “mió”, “pió”, “teia”, “teiado”, de certa
forma, constroem um “telhado”, ou seja, criam novas formas de pronúncia que se so-
bressaem, em muitos casos, à norma culta.
IV. A palavra “vício”, encontrada no título do poema, denota certo preconceito
linguístico do autor, que julga a norma culta superior ao coloquialismo presente na fala
das pessoas menos esclarecidas.
a) Todas estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) II e III estão corretas.

3)
“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento moder-
nista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que represen-
tam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:


a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
P á g i n a | 97

4)
Estão, entre as principais características da linguagem poética de Cecília Mei-
reles:
a) Sua linguagem é marcada pelo experimentalismo e bastante influenciada
pela linguagem popular. Buscou a recriação da linguagem a partir do contato com os
falares regionais, defendendo os “erros” gramaticais como expressão maior de nossa
brasilidade.
b) Sua escrita é direta e simples, quase prosaica, muito embora tenha tido
grande conhecimento das formas clássicas de estruturação de poemas, elementos
que também podem ser encontrados em sua obra.
c) O cuidado com a seleção vocabular e a inclinação para a musicalidade, para
o verso curto e para os paralelismos estão entre as principais características da poesia
de Cecília Meireles.
d) Por meio de uma linguagem debochada, irônica e crítica, Cecília Meireles
satirizava os meios acadêmicos e também a burguesia, estabelecendo uma profunda
ruptura em relação à cultura do passado.

5)
Reinvenção
A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas ... Ah! tudo bolhas que vêm de
fundas piscinas de ilusionismo ... - mais nada. Mas a vida, a vida, a vida a vida só é
possível reinventada. […]
Cecília Meireles

Podemos dizer que, nesse trecho de um poema de Cecília Meireles, encontra-


mos traços de seu estilo:
a) sempre marcado pelo momento histórico.
b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.
c) inspirado em temas genuinamente brasileiros.
d) vinculado à estética simbolista.
e) de caráter épico, com inspiração camoniana.
Aula 7
Gêneros Literários - Teatro

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, começaremos a conversar sobre o gênero dramático na literatura.


Veremos alguns trechos de peças teatrais relativamente importantes da nossa litera-
tura em língua portuguesa.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar alguns dos principais dramaturgos da literatura em língua


portuguesa;
 Definir determinados conceitos relativos ao gênero dramático;
 Apresentar as características do teatro clássico;
 Apontar as principais peças teatrais da cultura ocidental.
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7 INTRODUÇÃO

A arte literária teve como seu berço simbólico o teatro. A palavra


drama vem do grego, δρ?ω, que significa ‘ação, e é referente às dra-
matizações da cultura helênica, com grandes nomes consagrados hoje
pela história, como os de Sófocles e Ésquilo, autores de obras como
Édipo Rei e Prometeu Acorrentado, respectivamente. A principal característica do
texto dramático é que ele é uma estrutura textual especificamente para a dramatiza-
ção, para a encenação. Não há, portanto, narradores que relatam e conduzem a es-
trutura narrativa do texto, posto que o enredo é apresentado por meio das falas de
todos os personagens, que perpassam pela trama (a história principal do enredo).
Dessa forma, os diálogos são fundamentais para o entendimento da narrativa.
Os primeiros textos dramatúrgicos eram escritos tanto em versos quanto em
formato de prosa, além disso, muitos são os outros elementos que complementam a
estrutura do texto dramático, principalmente na contemporaneidade: cenário, música,
iluminação, figurino. Vale lembrar que o texto dramático apresenta em sua forma as
chamadas rubricas oudidascálias: indicações cênicas que orientam o ator no pro-
cesso da peça.
No texto de uma peça teatral, há a divisão entre Atos e Cenas, sendo o primeiro
a mudança de ambiente (cenário) e o segundo marcado pela entrada e saída de per-
sonagens. Há ainda as marcações dos nomes dos personagens antes de iniciarem os
diálogos diretos e as indicações dos ambientes, dos movimentos e do que se sucederá
no decorrer do ato ou cena.
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Vamos a um exemplo:

7.1.1 Hamlet, Ato I, Cena IV

A esplanada.

Entram Hamlet, Horácio e Marcelo.

HAMLET: Que vento forte! O frio é insuportável.

HORÁCIO: E o ar cortante e agitado.

HAMLET: Que horas são?

HORÁCIO: Penso que falta pouco para as doze.

HAMLET: Não; já bateram.

HORÁCIO: Já? Não ouvi; então não falta muito para que o fantasma volte a aparecer-nos.

(Toque de trombetas e tiros de canhão atrás da cena.)

Que significa esse barulho, príncipe?

HAMLET: O rei está acordado e dá banquete. Bebe a valer, rodando tudo em torno. Cada gole de
Reno é por trombetas e timbales marcado, que o triunfo do brinde lhe proclamam.

HORÁCIO: É costume?

HAMLET: É, de fato. Mas a meu ver - embora aqui eu tivesse o berço e a educação - é um desses
hábitos cuja quebra honra mais do que a observância. Essas orgias torpes nos difamam de leste a
oeste, junto aos outros povos. Só nos chamam de bêbedos, alcunha que nos deprime, por privar os
nossos empreendimentos, ainda os mais brilhantes, da essência medular de nosso mérito. Isso acon-
tece às vezes noutros meios: se nasce alguém com algum defeito ingênito - do que não é culpado,
porque a origem para si não escolhe a natureza, pelo excesso de sangue, que, por vezes, os fortes
da razão e os diques rompem, ou somente por hábito, que estraga a moral cotidiana - esse coitado,
que leva pela vida tal defeito, seja mancha do acaso ou vestimenta da natureza, embora suas virtu-
des sejam tão puras quanto graça e em número infinito, no máximo de nossa capacidade, perde no
conceito geral por essa falha. A massa nobre se torna recalcada e diminuída pelo grão do defeito.

(Entra o Fantasma.)

HORÁCIO: Ei-lo, meu príncipe!

HAMLET: Anjos do céu, correi em nosso auxílio! Quer sejas um bom gênio ou alma penada, quer tra-
gas ar do céu ou sopro infecto, quer tenhas intenções ruins ou amoráveis, tão duvidosa é a forma que
assumiste, que resolvo falar-te. Dou-te o nome de Hamlet, rei, meu pai, régio Danês! Não me deixes
em trevas; dize a causa de teus ossos, que a morte já guardara, terem rompido o invólucro; o motivo
de te haver o sepulcro, em que te vimos recolhido, lançado de suas fortes mandíbulas de mármore.
Que pode significar vestires assim de aço, para o luar de novo visitares, tornando a noite hedionda, e
a nós, ludíbrio da criação, abalares deste modo com pensamentos que ultrapassam muito o âmbito
limitado de nossa alma? Fala; que é isso? A causa? Que faremos?

(O Fantasma faz sinal a Hamlet.)

HORÁCIO: Faz-vos sinal para irde-vos com ele, como se pretendesse algo dizer-vos sem testemu-
nhas.
P á g i n a | 101

MARCELO: Vede o gesto cortês com que ele indica que em lugar apartado quer falar-vos. Não deveis
atender.

HORÁCIO: De forma alguma.

HAMLET: Assim, não falará; bem, segui-lo-ei.

HORÁCIO: Ficai, senhor!

HAMLET: De que posso temer-me? Minha vida? Não vale um alfinete. Quanto a minha alma, em
nada
há de ofendê-la, por ser algo imortal como ele próprio. Acena-me de novo; vou segui-lo.

HORÁCIO: E se vos arrastar para a água, príncipe, ou para o pico horrendo do rochedo que no mar
se
acha a prumo de sua base, para assumir, então, forma espantosa e privar da razão a Vossa Alteza,
levando-vos à insânia? Refleti. Sem outra qualquer causa, o simples fato do lugar, faz nascer
desesperadas fantasias em todo e qualquer cérebro que de tão grande altura o mar contemple e o
ouça em baixo rugir.

HAMLET: De novo acena-me. Caminha! Já te sigo.

MARCELO: Não deveis ir, meu príncipe.

HAMLET: Soltai-me.

HORÁCIO: Sede razoável, príncipe: ficai.

HAMLET: Meu destino me chama; é ele que deixa as menores artérias do meu corpo com a mesma
resistência que a dos músculos do leão de Neméia.

(O Fantasma acena.)

Outro sinal!

Largai-me!

(Desvencilha-se.)

Ou, pelo céu, faço um fantasma do primeiro que ousar ainda deter-me. Caminha, digo; irei aonde tu
fores.

(Saem o Fantasma e Hamlet.)

HORÁCIO: O delírio o conduz ao desespero.

MARCELO: Não devíamos ter-lhe obedecido.

HORÁCIO: Sigamo-lo. Que fim vai ter tudo isso?

MARCELO: Algo está a apodrecer na Dinamarca.

HORÁCIO: O céu dará remédio.

MARCELO: Acompanhemo-lo.

(Saem.)
Extraído de: https://williamshakespearewilliam.blogspot.com/2009/02/hamlet-ato-i-cena-
iv.html.
P á g i n a | 102

Para saber mais, confira:


<https://www.youtube.com/watch?v=9bqXXBap3Fw>.
<https://www.youtube.com/watch?v=QflaXxw0lcY>.

Observemos as marcações específicas do texto clássico dramático:


a) A indicação do ATO e CENA para o acompanhamento do enredo, já que não
há a subdivisão em capítulos como nas narrativas modernas;
b) Marcação espacial dos personagens, indicando a entrada na cena, os esta-
dos psíquico-corporais etc.
c) Presença dos nomes dos personagens, abrindo os específicos diálogos de
forma DIRETA.

Claro que, no século XX, com as transformações advindas dos muitos movi-
mentos modernistas, as estruturas clássicas do texto dramático sofreram alterações,
mudanças e adaptações.

Confira:
<https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4839756>.
<https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2650/3/131-143.pdf>.

Principais peças do teatro ocidental:


<http://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=945303>.
<http://cultura.culturamix.com/eventos/teatro/as-pecas-de-teatro-mais-famosas-do-mundo-
intelectual>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 O que é o gênero dramático;


 As estruturas do texto dramático;
 Clássicos do gênero dramático.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer. Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib. 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 7

1) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como


intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem
do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois,
uma composição literária destinada à apresentação por atores
em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela
atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracte-
rizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos
outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos
dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do
efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e
desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas,
sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor
(dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. (Adaptado.)

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo


teatral, conclui-se que:
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem
individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo
cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho inter-
pretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como
contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais,
entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto
que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a
trajetória do teatro até os dias atuais.
P á g i n a | 106

e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de


produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas dife-
rentes, agregadas posteriormente à cena teatral.

2) Leia o poema narrativo de Manuel Bandeira:


POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava
no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e
morreu afogado.

De acordo com as suas características, o poema pode ser classificado como


um texto:
a) lírico.
b) épico
c) narrativo.
d) dramático.

3) São características do gênero dramático:


I. Representa sentimentos e emoções a partir da expressão individual e subje-
tiva. Nos textos dramáticos há a predominância de pronomes e verbos na 1ª pessoa
e a exploração da musicalidade das palavras.
II. Nos textos dramáticos o poeta despoja-se do seu “eu” sentimental para ati-
rar-se na direção dos acontecimentos que o rodeiam. O amor é uma temática, mas na
narrativa dramática ele é abordado em episódios isolados.
III. Os textos dramáticos são produzidos para serem representados, pois a voz
narrativa está entregue às personagens, que contam a história por meio de diálogos
ou monólogos sem mediação do narrador.
IV. O auto, a comédia, a tragédia, a tragicomédia e a farsa integram-se ao gê-
nero dramático.
a) III e IV estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) I e II estão corretas.
d) I e IV estão corretas.
P á g i n a | 107

e) II, III e IV estão corretas.

4) Leia os fragmentos a seguir para responder à questão:


I.
De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Soneto de fidelidade, Vinícius de Moraes

II.
"Canta, ó Musa, a ira de Aquiles, filho de Peleu,
que incontáveis males trouxe às hostes dos aqueus.
Muitas almas de heróis desceram à casa de Hades
e seus corpos foram presa dos cães e das aves de rapina,
enquanto se fazia a vontade de Zeus,
a partir do dia em que se desavieram o filho de Atreu,
rei dos homens, e Aquiles, semelhante aos deuses.”
A ilíada, de Homero

III.
DESDÊMONA - Quem está aí? Otelo?
OTELO - Sim, Desdêmona.
DESDÊMONA - Não vindes para o leito, meu senhor?
OTELO - Desdêmona, rezastes esta noite?
DESDÊMONA - Oh, decerto, senhor!
OTELO - Se vos lembrardes de alguma falta não perdoada ainda pelo céu e
sua graça, cuidai logo de tê-la redimida.
DESDÊMONA - O meu senhor! Que pretendeis dizer com isso?
OTELO - Bem; fazei o que vos disse e sede breve. Passarei nesse em meio;
não desejo trucidar-vos o espírito manchado. Não pelo céu! Não vos matarei a alma.
Otelo, William Shakespeare.
P á g i n a | 108

IV.
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava
na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal
da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia com esse saco aí
atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que
ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia.
A velhinha contrabandista, Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta.

Os fragmentos acima representam, respectivamente, os seguintes gêneros:


a) épico – lírico – dramático – narrativo.
b) lírico – épico – dramático – narrativo.
c) narrativo – dramático – épico – lírico.
d) lírico – épico – narrativo – dramático.
e) dramático – narrativo – lírico – épico
Aula 8
Gêneros Literários – Prosa – origens:
aproximações com a arte poética

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, vamos analisar as origens da PROSA, perpassando pela cultura


helênica até a Idade Moderna e apontando os grandes autores desse gênero.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar o conceito de Prosa;


 Apresentar as principais características da Prosa clássica;
 Apontar os principais autores.
P á g i n a | 110

8 PARA COMEÇAR

Para falarmos sobre este gênero que é a PROSA, precisamos


voltar à cultura grega. Como falado na aula anterior, em que apresen-
tamos o gênero dramático, a literatura não surgiu já pronta, mas, se
tivéssemos que a dar uma origem ontológica, primária, essa seria a de
uma arte com marcas plurais, que perpassa pela memória da humanidade (quantas
narrativas populares, causos e histórias não se tornariam, mais tarde, enredos que
embelezam a cultura de um povo – vejamos o caso da mitologia grega), pelo contato
com outras habilidades humanas com o aparecimento do caráter interdisciplinar (há
muitas relações entre a música, o canto, o teatro, as artes plásticas etc. com a litera-
tura, com a palavra artisticamente projetada) e pela representatividade com a cultura
de um povo (nação) em seu circuito histórico. Portanto, a literatura nasce sob o signo
da representação do homem em seu meio.
Muitas dessas representações se tornaram narrativas – hoje, entendidas como
clássicas – que, condensadas e compiladas no decorrer da história, chegaram até
nossa época como relatos e enredos que trazem os símbolos do imaginário cultural
de outros momentos do ocidente. As histórias mitológicas, como os feitos heroicos de
Aquiles e Ulisses, por exemplo, são lembradas em muitos livros contemporâneos e
admirados nas telas dos cinemas.
O homem conta sua vida, produz estórias à sua história.
A palavra PROSA origina-se do latim e referia-se aos fatos narrados em acon-
tecimentos sociais, à argumentação e às habilidades narrativas.
Vamos então a uma diferença estrutural: o texto poético é aquele que possui
ritmo, rimas, escritos em versos e estrofes; o texto em prosa é aquele escrito em pa-
rágrafos, nos quais sobressaem os diálogos, as narrações de ambiente, situações etc.
Quando pensamos na literatura, vemos que as narrativas históricas, por sua
vez, tiveram sua estrutura em forma poética (vale lembrar de clássicos da narrativa
literária ocidental como Odisseia e Ilíada do poeta grego Homero, ou de A Divina Co-
média do vate italiano Dante Alighieri e Os Lusíadas do mestre Camões, todas elas
narrativas que se apresentam sob a estrutura poética).
P á g i n a | 111

Vejamos alguns trechos:


TEXTO I
Sós na lide os mortais, de parte a parte
Ígneo furor aqui e ali se ateia;
Nos dois campos graniza, arremessada
Entre o Símois e o Xanto, ênea procela.
Ajax, da Grécia muro, escala a Tróica
Falange, e livra os seus do Eussório Acamas,
Dos Traces o maior, mais formidável:
Dardo pelo cocar de espessa crina
O osso varou da testa, e em feral treva
Os lumes lhe apagou. — Diomedes rende
O Teutrânida Axilo, que opulento
Na grandiosa Arisba, humano em casa,
Da estrada à beira agasalhava a todos:
Mas nenhum lhe acorreu no transe amaro,
Nem ao pajem Calésio, então cocheiro;
Que ao reino de Sumano ambos desceram.
Prostra Euríalo a Dreso e Oféltio; assalta
Pédaso com Esepo, que houve gêmeos
Bucolion da náiada Abarbárea:
Vero Bucolion de Laomedonte
Primogênito filho, inda que espúrio,
Ovelhas pastorava, e em doce amplexo
Concebeu-os a ninfa: os pulcros membros
Lhes dissolve e os despoja o Mecisteide.
Extraído de: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf.

Nesse trecho, da Parte V da Ilíada de Homero, narrativa da Guerra de Troia,


vemos a narrativa da luta de Ajax frente às falanges troianas.
A poesia se imiscui na prosa, dando à narrativa o ritmo de um embelezamento
artístico (o que denominamos de estética).

TEXTO II
Canto I
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
P á g i n a | 112

Cessem do sábio Grego e do Troiano


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Extraído de: http://www.citi.pt/ciberforma/ana_paulos/ficheiros/lusiadas.pdf.

Na abertura de um dos mais importantes livros da literatura de língua portu-


guesa, Camões apresenta a história de um dos heróis do ocidente, Vasco da Gama.
Observemos que a narrativa, em poesia, marcada pelos versos e estrofes (todo o texto
é escrito em oitavas, estrofes de oito versos), é simbólica, lírica, com ritmo e rimas
que aproximam a narratividade das características poéticas.
As narrativas com suas marcas (personagens, enredo, tempo, ambiente) aden-
tram a história da cultura humana.

Para saber mais confira:


<http://www.academia.org.br/abl/media/Revista%20Brasileira%2075%20-%20PROSA.pdf>.
<https://www.youtube.com/watch?v=muzX9kbvrP0>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 O que é prosa;
 Origens etimológicas e históricas da prosa;
 As aproximações da narrativa com a poesia.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 8

1) Sobre as características da prosa, é correto afirmar:


a) Texto composto em versos e estrofes, podendo dele fa-
zer parte a rima e a métrica. Conforme a disposição dos versos
e dos outros elementos estruturais, recebe classificações ou no-
mes específicos, como soneto, epopeia, haicai, entre outros.
b) Forma de escrita de um texto em parágrafos, apresentando discurso direto
e livre. Nele há predomínio da linguagem denotativa, contudo, a conotação pode ser
utilizada para finalizar o texto. Não há preocupação com ritmo, métrica e rimas.
c) Apresenta estrutura maior do que o conto e menor do que o romance. Suas
principais características são a pluralidade dramática, o foco narrativo e a relação
tempo-espaço.
d) A prosa é uma narrativa breve e fictícia, apresentando um número reduzido
de personagens e enredo enxuto, uma vez que entre suas características está a eco-
nomia de recursos narrativos.

2) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra mo-
lécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e
havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo
jamais começou.
[...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.
Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da
pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, pas-
sará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo
o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas
nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual –
há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência
de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora
mesma em que sou lido. Só não início pelo fim que justificaria o começo – como a
morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
P á g i n a | 116

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de


Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da
escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indife-
rente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que
levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a cons-
trução do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade
para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns
na narrativa de ficção.

3) Assista ao vídeo abaixo:


https://www.youtube.com/watch?v=xIzqg5YKhnY.

Quais são as principais características da PROSA?


Aula 9
Gêneros Literários – Prosa –
Variações históricas

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, vamos analisar algumas variações históricas da prosa, focando nas
narrativas de língua portuguesa.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Apresentar um histórico das produções em prosa em língua portuguesa;


 Diferenciar os movimentos históricos na literatura em língua portuguesa;
 Analisar alguns textos fundamentais escritos em prosa.
P á g i n a | 118

9 PARA COMEÇAR

Quando olhamos para a história da cultura literária em língua por-


tuguesa, percebemos variações temáticas, estruturais e linguísticas:
resultado das transformações histórico-culturais.

Para saber mais confira:


<https://www.youtube.com/watch?v=xboj9E5Zkho>.

Na literatura portuguesa e brasileira, encontraremos, por exemplo, as seguintes


escolas literárias:
P á g i n a | 119

Quadro 1: Escolas Literárias em Portugal e no Brasil.

Extraído de: <http://adicionandoideias.blogspot.com/2014/08/quadro-demonstrativo-das-es-


colas.html>.

Em cada época, encontramos variações temáticas, cíclicas, porque veremos


um movimento dialético entre Razão e Emoção, o que alguns teóricos da literatura,
embasados por uma crítica nietzschiana da arte, reconhecem como o fluxo e refluxo
apolíneo e dionisíaco: Apolo representa o deus das artes – essas que tendem a re-
presentar a essência do Ideal, em outras palavras, tinham que ser o objeto da perfei-
ção provinda da criatividade humana – e da lírica (por isso, muitas imagens trazem
Apolo empunhando uma Lira, numa mão e, na outra, o Sol); Dionísios era a represen-
tação da divindade que tinha o segredo da embriaguez e de elevar as intensidades
dos sentimentos.
P á g i n a | 120

Para saber mais confira


<https://ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/existenciaearte/Edicoes/4_Edicao/viviani.pdf>.

Vamos a um exemplo do quadro anterior: no século XIX, o movimento Român-


tico foi a expressão dos sentidos, sentimentos, a emotividade, a fé, uma moldada von-
tade de vida (mesmo que, por vezes, burguesa e estereotipada), sendo, portanto, pró-
ximo à arte de valor dionisíaco; já o Realismo, movimento que sucedeu ao romântico,
observa a verdade, aquilo que se determina como o que está na realidade e, por con-
seguinte, de valor apolíneo.

Vamos a alguns exemplos:


No final dA Cartamonte, de Machado de Assis, o misticismo era uma válvula
de escape, para o medo de serem, os amantes, descobertos:
(...) Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era
grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fan-
tasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O co-
cheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir por outro caminho; ele res-
pondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa.... Depois
fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao
longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e
tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas,
mais perto, fazendo uns giros concêntricos.... Na rua, gritavam os homens,
safando a carroça:
- Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava
em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras
da carta: "Vem, já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa
olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante
de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cou-
sas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a
mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas
no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se.…?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e
rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus
comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada.
Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era
tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tor-
nou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante.
Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por
P á g i n a | 121

uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma
salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos.
Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava
do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com
as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio
no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas
e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não
de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana,
morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas so-
bre a mesa, e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
- E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...
- A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez
das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas;
baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou
a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
- As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-
lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro;
ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela;
ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de
Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas
e fechou-as na gaveta.
- A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por
cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
- Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como
se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à
cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas,
começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que
desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar par-
ticular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
- Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer
mandar buscar?
- Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante
fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
- Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
senhor. Vá, vá, tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando,
com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada
que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava acima,
cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava
livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu
estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou
pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos
e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que
eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negó-
cio grave e gravíssimo.
- Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer causa; pa-
rece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à an-
tiga assiduidade.... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as pala-
vras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o es-
tado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O
P á g i n a | 122

presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e continuas, que as
velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o
com as unhas de ferro. s vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;
mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação:
- Vá, vá, ragazzo inflamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida,
lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os
antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes
de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para
o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço
infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do
jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e
mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
- Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram
para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de ter-
ror: - ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela
pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Extraído de:
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/acarto-
mante.htm.

A realidade e a racionalidade parecem dar uma resposta ao desespero senti-


mental. Destacamos que o texto acima é do realismo brasileiro.
Abaixo, veremos o trecho inicial de Iracema de José Alencar, denotando toda
uma narratividade lírica, amorosa, suave (mesmo que soe como uma idealização do
bem, in casu, a nação indígena), aproximando-se da expressão dos sentimentos.
P á g i n a | 123

Figura 3: Capítulo 2.

Extraído de: <https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/07/Iracema-pt-pt.pdf>.


Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 Movimentos apolíneos e dionisíacos;


 Ciclos de variação temática na literatura.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer. Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib. 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de. 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 9

Considerações iniciais para as questões:


 Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de ma-
neiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo” (11a Tese
sobre Feuerbach – Karl Marx)
 Poemas – arte da palavra sonora, volátil, lírica, emotiva, subjetiva e, ao
mesmo tempo para a totalidade.
 Espírito da RAZÃO (Valorização Apolínea) X Espírito da EMOÇÃO (Valori-
zação Dionisíaca)
 Arte poética – primitiva, pela oralidade e musicalidade, num histórico da
prática literária, porém, múltipla, diversa e questionadora de tempos vários.

TEXTO I
DOIS E DOIS: QUATRO (Ferreira Gullar)
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro E a liberdade pequena

Como teus olhos são claros


E a tua pele, morena
Como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria


Por trás do terror me acena

E a noite carrega o dia


No seu colo de açucena
_sei que dois e dois são quatro

Sei que a vida vale a pena


Mesmo que o pão seja caro
E a liberdade, pequena

TEXTO II
PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ (Bertold Brecht) Quem construiu
a Tebas das sete portas? Nos livros constam os nomes dos reis. Os reis ar-
rastaram os blocos de pedra? E a Babilônia tantas vezes destruída Quem a
ergueu outras tantas? Em que casas da Lima radiante de ouro Moravam os
construtores? Para onde foram os pedreiros Na noite em que ficou pronta a
Muralha da China? A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os
levantou? Sobre quem triunfaram os césares? A decantada de Bizâncio só
tinha palácios Para seus habitantes? Mesmo na legendária Atlântida, Na noite
P á g i n a | 127

em que o mar a engoliu, Os que se afogavam gritavam pelos seus escravos.


O jovem Alexandre conquistou a Índia. Ele sozinho? César bateu os gaule-
ses. Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo? Felipe da Espanha chorou
quando sua Armada naufragou. Ninguém mais chorou? Frederico II venceu a
Guerra dos Sete Anos. Quem venceu, além dele? Uma vitória em cada
página. Quem cozinhava os banquetes da vitória? Um grande homem a cada
dez anos. Quem pagava suas despesas? Tantos relatos. Tantas perguntas.

TEXTO III
TECENDO A MANHÃ (João Cabral de Melo Neto)
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre se outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que
apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
2. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem
todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de
armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo Que, tecido, se eleva por
si: luz balão.

TEXTO IV
O AÇÚCAR (Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi
produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo da moça, água na pele, flor que
se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim.
Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono
da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar de Pernambuco ou
no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por
acaso no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não
sabem ler e morrem aos vinte e sete anos plantaram e colheram a cana que
viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar
branco e puro com que adoço meu café́ esta manhã em Ipanema.

1) Qual a temática dos textos I a IV?

2) Se tivesse que classificá-los enquanto DIONISÍACO ou APOLÍNEO, como


você faria?
Aula 10
Gêneros Literários – Prosa - Narrativas
da era Moderna Parte I

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos algumas obras fundamentais da prosa em língua


portuguesa e discutiremos as temática e estruturas teóricas.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Analisar alguns textos fundamentais em prosa;


 Comparar as temáticas e discussões em narrativas da literatura portu-
guesa e brasileira.
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10 PARA COMEÇAR

Poderíamos iniciar esta aula falando de grandes obras que,


mesmo escritas em versos, são narrativas-chave da história literária,
como a própria Odisseia ou Os Lusíadas. Até mesmo caberiam aqui
as Cartas Chilenas, de autoria de Tomás Antônio Gonzaga, Memórias
de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Possuem toda
a estrutura que se espera de uma narrativa.
Retomemos antes as características fundamentais da gênero narrativo: há o
ambiente, sendo real ou imaginário (fictício); personagens (protagonistas, antagonis-
tas ou secundários, quanto à posição na sequência da narrativa; planos ou esféricos,
com relação ao comportamento, que se refere à atuação e ao desempenho na se-
quência do enredo); tempo cronológico (sequencial) em oposição ao psicológico (com-
portamental); diálogos diretos, com a utilização da pontuação necessária ou a marca-
ção na alternância de fala, indiretos, narrados em terceira pessoa, e os indiretos livres,
em que ocorre a mescla do discurso direto e indireto, recorrente estilo de muitos es-
critores da contemporaneidade; por fim, o foco narrativo que é referente ao olhar que
conduz a narrativa, sendo 1ª pessoa o narrador-personagem, o narrador em 3ª pessoa
onisciente (articula reflexões e considerações acerca do desenrolar da trama) e o de
3ª pessoa observador (que relata a sequência textual).
Para retomarmos, vamos à leitura do capítulo VI, dO Primo Basílio, romance
realista que gira em torno de um adultério. Nesse capítulo, descreve-se a descoberta
de Juliana, a empregada de Luíza (a protagonista): as provas do ato, as cartas. A
partir daí todo o enredo se direciona a uma discussão da condição humana: vaidade
e inveja se dialogam.
Aqui: https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/10/O-Primo-Bas%C3%ADlio.pdf.

Esta obra tornou-se emblemática no circuito literário da época. Uma narrativa


densa sob o pano artístico da visão realista.
P á g i n a | 130

Confiram também sobre a biografia de eça de queirós


<https://www.youtube.com/watch?v=LcNdHcke4KQ>.

Confiram:
<http://www.omarrare.uerj.br/numero13/pdfs/alfarrabios.pdf>.
<https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/machado-de-assis-publicou-
critica-dura-de-o-primo-basilio-e-disse-que-eca-de-queiros-imitou-zola%C2%B9-59991/>.

Outra grande narrativa é Dom Casmurro de Machado de Assis. Para falarmos dessa obra,
vamos assistir aos vídeos:
<https://www.youtube.com/watch?v=R183O1jb_L0\>.
<https://www.youtube.com/watch?v=cgEDCx6yq10>.

Indubitavelmente, esta narrativa machadiana é sua obra mais polêmica. A su-


posta traição de Capitu determina o caminho da trama. Essa personagem feminina
icônica da cultura literária nacional é descrita numa visão polarizada, pelos olhos do
narrador personagem, Bentinho, seu marido. Leiamos a seguir algumas passagens.

Capítulo primeiro / Do título

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão,
mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia,
para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei me-
lhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este
mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pe-
queno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que ape-
nas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

Capítulo X / Aceito a teoria

Que é demasiada metafísica para um só tenor, não há dúvida; mas a perda da


voz explica tudo, e há filósofos que são, em resumo, tenores desempregados.
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Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimi-
lhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à
definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor..., Mas não
adiantemos; vamos à primeira parte, em que eu vim a saber que já cantava, porque a
denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que
ele me denunciou.

Capítulo XVIII / Um plano

Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já idéias atrevidas, muito menos
que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se
hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos salti-
nhos.

Capítulo XXXII / Olhos de ressaca

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblí-
qua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria
ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o
que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas
conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento;
imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos,
constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos
e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o
que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem que-
bra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de
ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido miste-
rioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da
praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizi-
nhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão de-
pressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura,
ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.
P á g i n a | 132

Capítulo LVI / Um seminarista

Eis aqui outro seminarista. Chamava-se Ezequiel de Sousa Escobar era um


rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a
fala, como tudo. Quem não estivesse acostumado com ele podia acaso sentir-se mal,
não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido
as mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar delas, por que os dedos,
sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha
nada. (...). Quando ele entrou na minha intimidade pedia-me frequentemente explica-
ções e repetições miúdas, e tinha memória para guardá-las todas, até as palavras.
Talvez esta faculdade prejudicasse alguma outra.

Capítulo LIX / Convivas de boa memória

Não, não, a minha memória não é boa. Ao contrário, é comparável a alguém


que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras nem nomes, e so-
mente raras circunstancias. A quem passe a vida na mesma casa de família, com os
seus eternos móveis e costumes, pessoas e afeições, é que se lhe grava tudo pela
continuidade e repetição. Como eu invejo os que não esqueceram a cor das primeiras
calças que vestiram! Eu não atino com a das que enfiei ontem Juro só que não eram
amarelas porque execro essa cor; mas isso mesmo pode ser olvido e confusão.
E antes seja olvido que confusão; explico-me. Nada se emenda bem nos livros
confusos, mas tudo se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum desta
outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e
evocar todas as cousas que não achei nele. Quantas ideias finas me acodem então!
Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas
lidas, todos me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares,
e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as
notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista que tudo se
acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim
podes também preencher as minhas.
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Capítulo LXV / A dissimulação

(...)minha mãe, dizendo tio Cosme que ainda queria ver com que mão havia eu
de abençoar o povo à missa, contou que, dias antes, estando a falar de moças que se
casam cedo, Capitu lhe dissera: "Pois a mim quem me há de casar há de ser o padre
Bentinho, eu espero que ele se ordene!" Tio Cosme riu da graça, José Dias não des-
sorriu, só prima Justina é que franziu a testa, e olhou para mim interrogativamente.
Eu, que havia olhado para todos, não pude resistir ao gesto da prima, e tratei de co-
mer. Mas comi mal, estava tão contente com aquela grande dissimulação de Capitu
que não vi mais nada, e, logo que almocei, corri a referir-lhe a conversa e a louvar-lhe
a astúcia. Capitu sorriu de agradecida.
—Você tem razão, Capitu, concluí eu; vamos enganar toda esta gente.
—Não é? disse ela com ingenuidade.

Capítulo LXXV / O desespero

Escapei ao agregado, escapei a minha mãe não indo ao quarto dela, mas não
escapei a mim mesmo. Corri ao meu quarto, e entrei atrás de mim. Eu falava-me, eu
perseguia-me, eu atirava-me à cama, e rolava comigo, e chorava, e abafava os solu-
ços com a ponta do lençol. Jurei não ir ver Capitu aquela tarde, nem nunca mais, e
fazer-me padre de uma vez. Via-me já ordenado, diante dela, que choraria de arre-
pendimento e me pediria perdão, mas eu, frio e sereno, não teria mais que desprezo,
muito desprezo; voltava-lhe as costas. Chamava-lhe perversa. Duas vezes dei por
mim mordendo os dentes, como se a tivesse entre eles.
Da cama ouvi a voz dela, que viera passar o resto da tarde com minha mãe, e
naturalmente comigo, como das outras vezes; mas, por maior que fosse o abalo que
me deu, não me fez sair do quarto e Capitu ria alto, falava alto, como se me avisasse;
eu continuei surdo, a sós comigo e o meu desprezo. A vontade que me dava era cra-
var-lhe as unhas no pescoço, enterrá-las bem, até ver-lhe sair a vida com o sangue...

Capítulo XCVIII / Cinco anos

A separação não nos esfriou. Ele [Escobar] foi o terceiro na troca das cartas
entre mim e Capitu. Desde que a viu animou-me muito no nosso amor. As relações
P á g i n a | 134

que travou com o pai de Sancha estreitaram as que já trazia com Capitu, e fê-lo servir
a ambos nós, como amigo. A princípio, custou-lhe a ela aceitá-lo, preferia José Dias,
mas José Dias repugnava-me por um resto de respeito de criança. Venceu Escobar
posto que vexada, Capitu entregou-lhe a primeira carta, que foi mãe e avó das outras.
Nem depois de casado suspendeu ele o obséquio.... Que ele casou, —adivinha com
quem, — casou com a boa Sancha a amiga de Capitu, quase irmã dela, tanto que
alguma vez, escrevendo-me, chamava a esta a “sua cunhadinha. ” Assim se formam
as afeições e os parentescos, as aventuras e os livros

Capítulo CXVIII / A mão de Sancha

Quando saímos, tornei a falar com os olhos à dona da casa. A mão dela apertou
muito a minha, e demorou-se mais que de costume. (...). Senti ainda os dedos de
Sancha entre os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de
pecado. Passou depressa no relógio do tempo; quando cheguei o relógio ao ouvido,
trabalhavam só os minutos da virtude e da razão.
O retrato de Escobar, que eu tinha ali, ao pé do de minha mãe, falou-me como
se fosse a própria pessoa. Combati sinceramente os impulsos que trazia do Flamengo,
rejeitei a figura da mulher do meu amigo, e chamei-me desleal. Demais, quem me
afirmava que houvesse alguma intenção daquela espécie no gesto da despedida e
nos anteriores? Tudo podia ligar-se ao interesse da nossa viagem. Sancha e Capitu
eram tão amigas que seria um prazer mais para elas irem juntas. Quando houvesse
alguma intenção sexual, quem me provaria que não era mais que uma sensação ful-
gurante, destinada a morrer com a noite e o sono? Há remorsos que não nascem de
outro pecado, nem têm maior duração. Agarrei-me a esta hipótese que se conciliava
com a mão de Sancha, que eu sentia de memória dentro da minha mão, quente e
demorada, apertada e apertando...

Capítulo CXXIII / Olhos de ressaca

As minhas [lágrimas] cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as


depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para
a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve
em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem
P á g i n a | 135

palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse
tragar também o nadador da manhã.

Capítulo CXLV / O regresso

Não fui logo, logo; fi-lo esperar uns dez ou quinze minutos na sala. Só depois é
que me lembrou que cumpria ter certo alvoroço e correr, abraçá-lo, falar-lhe na mãe.
A mãe, —creio que ainda não disse que estava morta e enterrada. Estava; lá repousa
na velha Suíça. Acabei de vestir-me às pressas. Quando saí do quarto tomei ares de
pai, um pai entre manso e crespo, metade Dom Casmurro. Ao entrar na sala, dei com
um rapaz, de costas, mirando o busto de Massinissa, pintado na parede.
Vim cauteloso, e não fiz rumor. Não obstante, ouviu-me os passos, e voltou-se
depressa. Conheceu-me pelos retratos e correu para mim. Não me mexi; era nem mas
nem menos o meu antigo jovem companheiro do seminário de José, um pouco mais
baixo, menos cheio de corpo e, salvo as cores que eram vivas, o mesmo rosto do meu
amigo. Trajava à moderna naturalmente, e as maneiras eram diferentes, mas o as-
pecto geral reproduzia a pessoa morta. Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar.
Era o meu comborço; era o filho de seu pai. Vestia de luto pela mãe; eu também estava
de preto. Sentamo-nos.
—Papai não faz diferença dos últimos retratos, disse-me ele
A voz era a mesma de Escobar, o sotaque era afrancesado. Expliquei-lhe que
realmente pouco diferia do que era, e comecei um interrogatório para ter menos que
falar e dominar assim a minha emoção. Mas isto mesmo dava animação à cara dele,
e o meu colega do seminário ia ressurgindo cada vez mais do cemitério. Ei-lo aqui.
diante de mim, com igual riso e maior respeito; total, o mesmo obséquio e a mesma
graça. Ansiava por ver-me. A mãe falava muito em mim, louvando-me extraordinaria-
mente, como o homem mais puro do mundo, o mais digno de ser querido.
— Morreu bonita, concluiu.
—Vamos almoçar.
(...) Ao cabo de seis meses, Ezequiel falou-me em uma viagem à Grécia, ao
Egito, e à Palestina, viagem científica, promessa feita a alguns amigos.
—De que sexo? perguntei rindo.
Sorria vexado, e respondeu-me que as mulheres eram criaturas tão da moda e
do dia que nunca haviam de entender uma ruína de trinta séculos. Eram dous colegas
P á g i n a | 136

da universidade. Prometi-lhe recursos, e dei-lhe logo os primeiros dinheiros precisos.


Como disse que uma das consequências dos amores furtivos do pai era pagar eu as
arqueologias do filho; antes lhe pagasse a lepra.... Quando esta ideia me atravessou
o cérebro, senti-me tão cruel e perverso que peguei no rapaz e quis apertá-lo ao co-
ração, mas recuei; encarei-o depois, como se faz a um filho de verdade; os olhos que
ele me deitou foram ternos e agradecidos.

Capítulo CXLVI / Não houve lepra

Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas
ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado
nas imediações de Jerusalém, onde os dous amigos da universidade lhe levantaram
um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: “Tu eras perfeito
nos teus caminhos.” Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da
sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo
para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato,
mas tinha ainda um complemento: “Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia
da tua criação. ” Parei e perguntei calado: "Quando seria o dia da criação de Eze-
quiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste
mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.

Capítulo CXLVIII / E bem, e o resto?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a pri-
meira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de
ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propria-
mente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava
dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum
caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciú-
mes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mu-
lher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de
ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da
Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a
fruta dentro da casca.
E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas,
ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior
amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que
acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à
“História dos Subúrbios.
Extraído de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdf.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 Dois grandes autores da literatura em língua portuguesa;


 Duas obras fundamentais da literatura em língua portuguesa.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 10

Leia o texto seguinte para responder às questões de 1 a 5

Luísa, ao voltar para casa, veio a refletir


naquela “cena”. Não – pensava - já não era a pri-
meira
vez que ele mostrava um desprendimento
muito seco por ela, pela sua reputação, pela sua
saúde! Queria-a ali todos os dias, egoistamente.
Que as más línguas falassem, que as soalheiras a
matassem, que lhe importava? E para quê?... Porque
enfim, saltava aos olhos, ele amava-a menos...
as suas palavras, os seus beijos arrefeciam cada
dia, mais e mais!... Já não tinha aqueles arrebatamentos
do desejo em que a envolvia toda numa
carícia palpitante, nem aquela abundância de sensação
que o fazia cair de joelhos com as mãos trêmulas
como as de um velho!... Já se não arremessava
para ela, mal ela aparecia à porta, como sobre
uma presa estremecida!... Já não havia aquelas
conversas pueris, cheia de risos, divagadas e tontas,
em que se abandonavam, se esqueciam, depois
da hora ardente e física, quando ela ficava numa
lassitude doce, com o sangue fresco, a cabeça deitada
sobre os braços nus! – Agora! Trocando o
último beijo, acendia o charuto, como num restaurante
ao fim do jantas! E ia logo a um espelho pequeno
que havia sobre o lavatório dar uma penteadela
no cabelo com um pentezinho de algibeira.
(O que ela odiava o pentezinho!) Às vezes até olhava
o relógio!... E enquanto ela se arranjava não
vinha, como nos primeiros tempos, ajudá-la, pôrlhe
o colarinho, picar-se nos seus alfinetes, rir em
volta dela, despedir-se com beijos apressados da
nudez dos sues ombros antes que o vestido se apertasse.
Ia rufar nos vidros, - ou sentado, com um
ar macambúzio, bamboleava a perna.
E, depois, positivamente não a respeitava,
não a considerava... Trata-a por cima do ombro,
P á g i n a | 140

como uma burguesinha, pouco educada e estreita,


que apenas conhece o seu bairro. E um modo de
passear, fumando, com a cabeça alta, falando no
“espírito de madame de tal”, nas toilettes da “condessa
de tal”! Como se ela fosse estúpida, e os seus
vestidos fossem trapos! Ah, era secante! E parecia,
Deus me perdoe, parecia que lhe fazia uma honra,
uma grande honra em a possuir... Imediatamente
lembrava-se de Jorge, Jorge que a amava com tanto
respeito! Jorge, para quem ela era decerto a mais
linda, a mais elegante, a mais inteligente, a mais
cativante!... E já pensava um pouco que sacrificaria
a sua tranqüilidade tão feliz a um amor bem incerto!
Extraído de: https://www.vestibulandoweb.com.br/analise_obra/resumo-
primo-basilio.pdf.

1) Explique o que a personagem quer exprimir com a pergunta para quê? Feita
a si mesma.
2) Como se pode caracterizar o comportamento de Basílio, visto por dois ângu-
los, o do narrador e o da personagem feminina?
3) Tente explicar que sentindo pode ter a frase “O que ela odiava o pentezinho”
4) Quais os elementos do texto que concorrem para que nós o classifiquemos
de antirromântico?
5) Analise estas duas afirmações estritamente relativas ao texto: a) Luísa per-
cebe, enfim, que ama verdadeiramente não a Basílio, mas a Jorge. b) Luísa definiti-
vamente se arrepende de ter começado aquela relação amorosa.

Leia o trecho para responder à questão:


O meu plano foi esperar o café, dissolver nele a droga e ingeri-la. Até lá, não
tendo esquecido de todo a minha história romana, lembrou-me que Catão,
antes de se matar, leu e releu um livro de Platão. Não tinha Platão comigo;
mas um tomo truncado de Plutarco. (...) O copeiro trouxe o café. Ergui-me,
guardei o livro e fui para a mesa onde ficara a xícara. Já a casa estava em
rumores; era tempo de acabar comigo. A mão tremeu-me ao abrir o papel em
que trazia a droga embrulhada. Ainda assim tive ânimo de despejar a subs-
tância na xícara, e comecei a mexer o café, os olhos vagos, a memória em
Desdêmona inocente; o espetáculo da véspera vinha intrometer-se na reali-
dade da manhã. Mas a fotografia de Escobar deu-me o ânimo que me ia fal-
tando; lá estava ele, com a mão nas costas da cadeira, a olhar ao longe... —
Acabemos com isto, pensei. Quando ia beber, cogitei se não seria melhor
esperar que Capitu e o filho saíssem para a missa; beberia depois; era me-
lhor. Assim disposto, entrei a passear pelo gabinete. Ouvi a voz de Ezequiel
P á g i n a | 141

no corredor, vi-o entrar e correr a mim bradando: — Papai! Papai! Leitor,


houve aqui um gesto que eu não descrevo por havê-lo inteiramente esque-
cido, mas crê que foi belo e trágico. Efetivamente a figura do pequeno fez-me
recuar até dar de costas na estante. Ezequiel abraçou-me os joelhos, esticou-
-se na ponta dos pés, como querendo subir e dar-me o beijo do costume; e
repetia, puxando-me: — Papai! Papai!
Extraído de: http://sites.aticascipione.com.br/machado/atividades/atividades_dom_cas-
murro.pdf.

6) Tendo em vista a fábula de Dom Casmurro, o trecho acima refere-se:


a) ao desejo da personagem Bentinho de dar cabo à própria vida, por estar
ciente de que uma angústia visceral, que o acompanhava desde a infância, aniquilava-
o cada vez mais.
b) à tentativa de Bentinho em causar em sua mulher, Capitu, um remorso sufo-
cante pelo fato de ela tê-lo traído com Escobar, seu melhor amigo.
c) à recusa de viver da personagem Bentinho, já sufocado pelos muitos desen-
contros entre seus desejos e a concretização deles.
d) ao empenho da personagem Bentinho em pôr um fim à vida, convencido de
que sua mulher, Capitu, traiu-o com Escobar, seu melhor amigo.
e) à certeza de Bentinho quanto aos seus desajustes e desequilíbrios e quanto
à dificuldade em transmitir afeto a Ezequiel, seu filho.

7) A respeito de Capitu, personagem do romance Dom Casmurro, de Machado


de Assis, é correto afirmar que:
a) é a figura central da trama narrativa porque se envolve em uma situação de
adultério que leva à destruição de seu casamento com Bentinho.
b) tem um papel secundário e insignificante na ordem do enredo, já que todas
as ações da narrativa convergem para um desfecho do qual ela não participa.
c) é caracterizada pelo agregado José Dias como cigana oblíqua e dissimulada
e sobre ela incide ainda a metáfora de “olhos de ressaca”, que lhe é atribuída por
Bentinho.
d) deixa transparecer uma relação clandestina com Escobar, explicitada nas
lágrimas dela no momento da encomendação e partida do corpo do nadador da ma-
nhã.
e) recaem sobre ela incriminações de ordem moral que a fazem merecedora
das desconfianças dos amigos e do fim trágico a que chegou.
Aula 11
Gêneros Literários – Prosa – Narra-
tiva da era Moderna Parte II

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nessa aula, apresentaremos algumas obras fundamentais da prosa em língua


portuguesa e discutiremos as temáticas e estruturas teóricas.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Analisar alguns textos fundamentais em prosa.


 Comparar as temáticas e discussões em narrativas da literatura portu-
guesa e brasileira.
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11 PARA COMEÇAR

Na aula anterior, lemos trechos de dois grandes gigantes da lite-


ratura, Eça de Queirós e Machado de Assis. Nesta aula, apontaremos
as obras de escritores como Lima Barreto, Graciliano Ramos, Gui-
marães Rosa, Clarice Lispector entre outros.
Lima Barreto: A narrativa de Afonso Henriques de LIMA BARRETO
é singular na história da literatura brasileira, tanto por ser marcada pelas variações
entre contos, romances e novela, quanto pela estrutura temática proposta (Lima Bar-
reto deu voz às camadas mais populares no começo do século XX, tirando do centro
do protagonismo de sua escrita as classes econômicas e culturais favorecidas).

Para saber mais sobre a biografia de lima barreto, confiram o capítulo i da


dissertação abaixo:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000408.pdf>.
Sua obra mais conhecida é Triste fim de Policarpo Quaresma, obra que sati-
riza os discursos fundacionais políticos e imaginários que cercam o surgi-
mento de uma nação:
<https://www.youtube.com/watch?v=msstpfhl3j0>.

Mas vale também lembrar do excelente trabalho de contista que Lima Barreto
exercia: o relato das ações, o detalhe dos ambientes, a criatividade imaginativa, os
diálogos diretos e as personagens sempre próximas da nossa condição humana con-
duzem a narrativa barretiana a um dos mais altos patamares da literatura nacional.
Vejamos abaixo o conto Nova Califórnia, uma das obras em que se baseou Aguinaldo
Silva na criação da telenovela contemporânea Fera ferida.
Clique aqui e leia o conto de Lima Barreto:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000151.pdf.
P á g i n a | 144

a) Graciliano Ramos
A obra Vidas Secas de Graciliano Ramos é única na nossa literatura: 5 perso-
nagens, representantes de um tempo de miséria e fome no sertão, Fabiano, Sinha
Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e Baleia, a cachorra.
Retrato de uma vida de miséria, Vidas Secas é a representação de um período
da história nacional e de uma região marcada pela pobreza e pela servidão humana:
a ausência de diálogos substanciosos, de reflexões dos personagens, as imagens da
secura do ambiente e das relações, a exploração injusta da força de trabalho são
algumas das configurações que encontramos nesse romance.

Confiram também sobre a biografia de Graciliano Ramos


<https://www.youtube.com/watch?v=JlqbVfhydz0>.

Assistam ao filme vidas secas


<https://www.youtube.com/watch?v=m5fsDcFOdwQ>.

Abaixo, confiram o capítulo em que se descreve a morte de Baleia, a cachorra.


O mais intrigante dessa narrativa que reproduz a miserável condição humana é que a
cachorra possui um nome no romance, um processo de antropomorfização, enquanto
os próprios meninos são designados como ‘o mais novo’ e ‘o mais velho’, já que nada
diziam, apenas seguiam os instintos, num processo de zoomorfização.

Capítulo IX – Baleia
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe
em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas
escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e
a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por isso Fabiano
imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe
no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre
de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaci-
ente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a
cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma
cauda de cascavel. Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda
de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la
bem para a cachorra não sofrer muito. Sinha Vitória fechou-se na camarinha,
rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se can-
savam de repetir a mesma pergunta: - Vão bulir com a Baleia? Tinham visto
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o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes


a suspeita de que Baleia corria perigo. Ela era como uma pessoa da família:
brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na
areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro
das cabras. Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas Sinha Vitória
levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ou-
vidos prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos
nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tra-
tou de subjugá-los, resmungando com energia. Ela também tinha o coração
pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessá-
ria e justa. Pobre da Baleia. Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derra-
mava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou.
Coitadinha da Baleia. Os meninos começaram a gritar e a espernear. E como
Sinha Vitória tinha relaxado os músculos, deixou escapar o mais taludo e sol-
tou uma praga: - Capeta excomungado. Na luta que travou para segurar de
novo o filho rebelde, zangou-se de verdade. Safadinho. Atirou um cocorote
ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia de ramagens. Pouco a
pouco a cólera diminuiu, e Sinha Vitória, embalando as crianças, enjoou-se
da cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, ba-
bão. Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia
que estava sendo severa demais, achava difícil Baleia endoidecer e lamen-
tava que o marido não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente
a execução era indispensável. Nesse momento Fabiano andava no copiar,
batendo castanholas com os dedos. Sinha Vitória encolheu o pescoço e ten-
tou encostar os ombros às orelhas. Como isto era impossível, levantou os,
braços e, sem largar o filho, conseguiu ocultar um pedaço da cabeça. Fabiano
percorreu o alpendre, olhando a baraúna e as porteiras, açulando um cão
invisível contra animais invisíveis: - Eco! eco! Em seguida entrou na sala,
atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o ter-
reiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco, levou a
espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no
tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca,
mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano
saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mou-
rão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de
frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao
chegar as catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcan-
çou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir
desesperadamente. Ouvindo o tiro e os latidos, Sinha Vitória pegou-se à Vir-
gem Maria e os meninos rolaram na cama, chorando alto. Fabiano recolheu-
se. E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da
esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por
um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao
copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das ca-
bras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem des-
tino, aos pulos. Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, per-
dendo muito sangue, andou como gente, em dois pés, arrastando com difi-
culdade a parte posterior do corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do
carro, mas teve medo da roda. Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de
um deles havia uma barroca macia e funda. Gostava de espojar-se ali: cobria-
se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos, e quando se levantava, tinha
folhas secas e gravetos colados as feridas, era um bicho diferente dos outros.
Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se, endireitou a
cabeça e estirou as pernas dianteiras, mas o resto do corpo ficou deitado de
banda. Nesta posição torcida, mexeu-se a custo, ralando as patas, cravando
as unhas no chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal esmoreceu e aqui-
etou-se junto as pedras onde os meninos jogavam cobras mortas. Uma sede
horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu:
um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano.
Realmente não latia: uivava baixinho, e os uivos iam diminuindo, tornavam-
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se quase imperceptíveis. Como o sol a encandeasse, conseguiu adiantar-se


umas polegadas e escondeu-se numa nesga de sombra que ladeava a pedra.
Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engros-
sava e aproximava-se. Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro,
mas o cheiro vinha, fraco e havia nele partículas de outros viventes. Parecia
que o morro se tinha distanciado muito. Arregaçou o focinho, aspirou o ar
lentamente, com vontade de subir a ladeira e perseguir os preás, que pula-
vam e corriam em liberdade. Começou a arquejar penosamente, fingindo la-
drar. Passou a língua pelos beiços torrados e não experimentou nenhum pra-
zer. O olfato cada vez mais se embotava: certamente os preás tinham fugido.
Esqueceu-os e de novo lhe veio o desejo de morder Fabiano, que lhe apare-
ceu diante dos olhos meio vidrados, com um objeto esquisito na mão. Não
conhecia o objeto, mas pôs-se a tremer, convencida de que ele encerrava
surpresas desagradáveis. Fez um esforço para desviar-se daquilo e encolher
o rabo. Cerrou as pálpebras pesadas e julgou que o rabo estava encolhido.
Não poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa camarinha, sob
a cama de varas, e consumira a existência em submissão, ladrando para jun-
tar o gado quando o vaqueiro batia palmas. O objeto desconhecido continu-
ava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo
por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois sossegou.
Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido. Abriu os olhos a custo. Agora
havia uma grande escuridão, com certeza o sol desaparecera. Os chocalhos
das cabras tilintaram para os lados do rio, o fartum do chiqueiro espalhou-se
pela vizinhança. Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de
noite? A obrigação dela era levantar-se, conduzi-los ao bebedouro. Franziu
as ventas, procurando distinguir os meninos. Estranhou a ausência deles.
Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atri-
buía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que es-
tava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno cora-
ção. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam
andar pelas ribanceiras, rondar. as moitas afastadas. Felizmente os meninos
dormiam na esteira, por baixo do caritó onde Sinha Vitória guardava o ca-
chimbo. Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. Si-
lêncio completo, nenhum sinal de vida nos arredores. O galo velho não can-
tava no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons não in-
teressavam Baleia, mas quando o galo batia as asas e Fabiano se virava,
emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora parecia que a
fazenda se tinha despovoado. Baleia respirava depressa, a boca aberta, os
queixos desgovernados, a língua pendente e insensível. Não sabia o que ti-
nha sucedido. O estrondo, a pancada que recebera no quarto e a viagem
difícil do barreiro ao fim do pátio desvaneciam-se no seu espírito. Provavel-
mente estava na cozinha, entre as pedras que serviam de trempe. Antes de
se deitar, Sinha Vitória retirava dali os carvões e a cinza, varria com um molho
de vassourinha o chão queimado, e aquilo ficava um bom lugar para cachorro
descansar. O calor afugentava as pulgas, a terra se amaciava. E, findos os
cochilos, numerosos preás corriam e saltavam, um formigueiro de preás in-
vadia a cozinha. A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de
Baleia. Do peito para trás era tudo insensibilidade e esquecimento. Mas o
resto do corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru penetravam na carne
meio comida pela doença. Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra.
A pedra estava fria, certamente Sinha Vitória tinha deixado o fogo apagar-se
muito cedo. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.
E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espoja-
riam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O
mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
Extraído de: http://www.portalentretextos.com.br/download/livros-online/vidas_secas.pdf.
P á g i n a | 147

c) Guimarães Rosa
Célebre mineiro de Cordisburgo, João Guimarães Rosa era médico, escritor e
diplomata. Ocupou a cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras, escreveu obras
inigualáveis como Grande Sertão: Veredas, ultrapassando as fronteiras, sendo tradu-
zida para vários idiomas. Sua literatura reflete o universo sertanejo, entre personagens
típicos, ambientes realistas, diálogos sobre a vida e a sua existência, dos percalços e
desencantos, às alegrias e à expressividade, presentes em Tutameia, Sagarana entre
outros contos, romances.

Confiram também sobre a biografia de Guimarães Rosa


<https://www.youtube.com/watch?v=r43Eksb3Reg>.

Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=ysqtc8VUtIc>.

A seguir, vamos a um conto fantástico de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio, que
traz as reflexões sobre a vida humana e a busca de si mesmo:
Acesse:
<http://www.aedi.ufpa.br/parfor/letras/images/documentos/ativ-a-dist-jan-fev2014/CASTA-
NHAL/castanhal-2010-010/guimaraes%20rosa%20-%20a_terceira_margem_do_rio-3.pdf>.

d) Clarice Lispector
Mesmo não nascida nas terras tupiniquins, Clarice Lispector foi uma das maio-
res escritoras do Brasil. Vamos ao que disse o grande Moacyr Scliar:

Não sei se existe uma Bolsa de Valores literária, mas, se existisse, as cota-
ções variariam nela tão amplamente quanto variam na Bolsa propriamente
dita. Coisa que podemos facilmente constatar: existem autores hoje escassa-
mente lembrados mas que, em sua época, faziam enorme sucesso, de pú-
blico e/ou de crítica. Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos
(1968) foi um best-seller fantástico, mas hoje, quando se pergunta aos jovens
sobre esse livro, constata-se que muitos não sabem do que se trata. Fernão
Capelo Gaivota, de Richard Bach, vendeu 40 milhões de cópias em 70 paí-
ses, mas, de novo, é escassamente lembrado.
P á g i n a | 148

Por outro lado, existem escritores que só aos poucos, e lentamente, vão
sendo descobertos. Tomem o caso de Franz Kafka. Na sua curta vida, o es-
critor tcheco era muito pouco lido — e, também, muito pouco compreendido,
tanto que, no leito de morte, pediu ao amigo Max Brod que destruísse seus
originais — a maioria de sua obra. Brod não atendeu a esse pedido e só assim
pudemos ter acesso a um trabalho notável, que antecipava os totalitarismos
do século 20, o nazismo e o stalinismo, e exatamente por isso não era com-
preendido.
No Brasil temos uma autora que, sem chegar a esse extremo, tem com ele
muitos pontos em comum. Como Kafka, Clarice Lispector era judia e euro-
peia; como Kafka, sua literatura é, não raro, enigmática, deixando leitores
perplexos. Mas Clarice veio para o Brasil, e aqui, com muita dificuldade, con-
seguiu desenvolver uma carreira literária, coisa que Kafka, advogado de pro-
fissão, nunca chegou a fazer.
Isso não quer dizer que Clarice tenha sido imediatamente reconhecida ou
prestigiada. Ao contrário, precisou enfrentar vários obstáculos. Em primeiro
lugar, era mulher e, durante muito tempo, literatura no Brasil era coisa de
homem. Foi esposa de diplomata e passou muitos anos no exterior. Sua fic-
ção tem um componente filosófico não pequeno, o que se constitui num de-
safio para o leitor comum. Por último, mas não menos importante, desenvol-
veu boa parte de sua obra num período muito tumultuado da história brasi-
leira, um período de agravamento de conflitos sociais e políticos e no qual a
literatura engajada de um Jorge Amado ou de um Graciliano Ramos desem-
penhavam papel importante.
Clarice nunca foi, como esses autores, militante esquerdista; por isso, era por
muitos considerada “alienada”, ou, no mínimo, “intimista”. É verdade que após
o golpe de 1964 participou em manifestações contra a ditadura, mas isso não
foi suficiente para reverter sua imagem. De qualquer modo, formou um pú-
blico de leitores fiéis que adoravam seus contos, muitos deles publicados na
revista Senhor, numa época a publicação mais sofisticada do país. O diretor
artístico era meu primo, o artista plástico Carlos Scliar, e foi ele quem me leu
o notável Uma galinha. Até hoje lembro o espanto de que eu, então um ga-
roto, fui possuído: como era possível alguém escrever tão bem? Escusado
dizer que não perdi mais nada do que Clarice escrevia. A hora da estrela foi
o digno coroamento dessa bela carreira, uma novela em que Clarice conse-
gue, através da personagem Macabéa, falar do drama nordestino, do sofri-
mento judaico e da condição feminina em geral (...).
Extraído de: http://www.academia.org.br/artigos/o-triunfo-de-clarice.

As personagens femininas de Clarice Lispector são icônicas: retratos da desi-


gualdade e da opressão de uma sociedade masculina, nomes representativos da mu-
lher na sociedade emergem como os de Lóri (de Uma Aprendizagem ou o Livro dos
Prazeres) e de Macabéa (A Hora da Estrela), personagens que superam as barreiras
de uma sociedade exclusivista; daí, pois, que a busca do espaço da mulher é o grande
mote da obra de Clarice. Abaixo, leiamos um conto magistral da escritora, intitulado
Felicidade Clandestina, narrativa que abre o livro homônimo.
P á g i n a | 149

Felicidade Clandestina
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio
arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos acha-
tadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do
busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histó-
rias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo
menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da
loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde moráva-
mos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadís-
sima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando
balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos im-
perdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exer-
ceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem
notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe em-
prestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma
tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-
me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não
vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num
sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem
para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e
que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas
em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a
andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife.
Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os
dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me
esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria
era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa,
com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte”
com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefi-
nido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já come-
çara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas,
adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer
esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às
vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio
de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada
a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e
silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a
aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explica-
ções a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras
pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não
estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e
com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e
você nem quis ler!
P á g i n a | 150

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser
a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a
potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé
à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora
mesmo.
E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem?
Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que
uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro
na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando
como sempre. Saí andando bem devagar.
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o
peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu
peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois
ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fe-
chei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com
manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por
alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clan-
destina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim.
Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e
pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo,
sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Extraído de: https://veele.files.wordpress.com/2010/02/clarice_lispector_-_felicidade_clandes-
tina_e_outros_contos.pdf.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 Grandes autores da literatura em língua portuguesa;


 Obras fundamentais da literatura em língua portuguesa.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 - Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 11

1 - Texto I
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que
o segurava era a família. Vivia preso como um novi-
lho amarrado ao mourão, suportando ferro quente.
Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pi-
sava o pé não (...). Tinha aqueles cambões pendu-
rados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los?
Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos,
como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível,
seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo
(Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75).

Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não
há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo
da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graci-
liano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura roma-
nesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam,
mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para
a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de apare-
cer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de
segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiada-
mente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento
da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que
essas pessoas seriam plenamente capazes
(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n. º
2, 2001, p. 254.).

No texto II, verifica-se que o autor utiliza


a) linguagem predominantemente formal para problematizar, na composição de
Vidas Secas, a relação entre o escritor e o personagem popular.
b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a linguagem formal, dirige-
se diretamente ao leitor.
c) linguagem coloquial para narrar coerentemente uma história que apresenta
o roceiro pobre de forma pitoresca.
d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do texto literário em prosa
para analisar determinado momento da literatura brasileira.
e) linguagem regionalista para transmitir informações sobre literatura, valendo-
se de coloquialismo para facilitar o entendimento do texto.
P á g i n a | 154

2) Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que


nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui,
risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘an-
gola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu
gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas,
mesmo digo. Eu dou proteção. [...]. Essa não faltou também à minha mãe, quando eu
era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos
dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, mi-
nha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde
o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe. ”
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desi-


gualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de ter-
ras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-
se essa relação porque o personagem-narrador
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca dis-
posição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua
força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agre-
gado — em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que
pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua
dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de
proprietário de terras.

3) “(...) As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modi-


ficam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter
dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito
de tantos fios que posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de
que uma história é feita de muitas histórias. (...)”
(de “Os desastres de Sofia”)
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(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém
excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva
uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se
conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância,
uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de
sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade. (...)”
(de “Os obedientes”)

Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Feli-
cidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato
narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos
fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior,
própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
II. O aspecto metalinguístico está presente no primeiro fragmento.
III. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e
a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver
num mundo incompreensível.
IV. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consci-
ência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de
novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento per-
verso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 3, 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

4) A produção literária de Lima Barreto foi marcada pela investigação das desi-
gualdades sociais. Houve, por parte do escritor, uma leitura crítica sobre os homens
e suas relações em uma sociedade provinciana e hipócrita. De acordo com essas
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afirmações, é correto dizer que Lima Barreto filiou-se à corrente literária denominada
Pré-Modernismo, cujas principais características eram:
a) desencadeada tardiamente nos anos 20, foi fortemente influenciada pelas
vanguardas europeias e possuiu amplo espectro cultural, cujo ápice foi a realização
da Semana Nacional de Arte Moderna, em 1922.
b) movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do
século XIX, suas principais características foram a abordagem de temas sociais, ex-
pondo as mazelas do homem e sua sociedade, além da retratação do homem através
de uma visão objetiva.
c) Situada aproximadamente nas duas primeiras décadas do século XX, não é
associada a nenhuma escola literária, visto que não correspondia às estéticas propa-
gadas à época. Apresentou novas vertentes estilísticas e novas temáticas em nossa
literatura.
d) Importante corrente de vanguarda iniciada em 1956, rompeu drasticamente
com os padrões da arte tradicional ao apresentar uma literatura de caráter agressivo
e experimental, influenciando poetas, artistas plásticos e músicos.
e) Influenciada pelos estudos da Biologia, Psicologia e Sociologia, propôs-se a
analisar o comportamento humano e social, ocupando-se de temas obscuros relacio-
nados com a alma humana sob uma perspectiva biológica (patologia).
Aula 12
Grandes autores da Língua
Portuguesa

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos algumas obras fundamentais da prosa e poesia


em língua portuguesa e discutiremos as temática e estruturas teóricas.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Analisar alguns textos fundamentais em prosa e poesia;


 Apresentar a obra de Fernando Pessoa e José Saramago, dois dos gran-
des autores da literatura portuguesa do século XX.
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12 PARA COMEÇAR

Nesta aula, apresentaremos outros grandes escritores da Literatura em língua


portuguesa. Falaremos de Fernando Pessoa e José Saramago.
a) Fernando Pessoa
Uma vida singular no campo das artes literárias: eis o que podemos dizer a
priori sobre Fernando Pessoa. Criador de inúmeros heterônimos, Fernando Pessoa é
um poeta português, um dos nomes do MODERNISMO lusitano, junto a José Régio e
Mário de Sá-Carneiro.

Sobre heteronímia, confira:


<https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/viewFile/2175-
7968.2014v3nespp160/27931>.
Confiram também:
<https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=335>. e <https://www.escri-
tas.org/pt/bio/mario-de-sa-carneiro>.

Sua poética é transgressora, mutável e densa, sob os nomes de Alberto Caeiro


(o mestre de todos os heterônimos), Ricardo Reis (o poeta neoclássico), Álvaro de
Campos (o futurista e irrequieto) e Bernardo Soares (o reflexivo e observador da cul-
tura).
Vamos a alguns poemas fundamentais:
“AUTOPSICOGRAFIA – Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,


Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
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E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. ”

“V- Há metafísica bastante em não pensar em nada. – Alberto Caeiro

Há metafísica bastante em não pensar em nada


O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?


Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!


O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores


A de serem verdes e copadas e de terem ramos
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E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,


A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

«Constituição íntima das coisas»...


«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das coisas


É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das coisas


É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.


Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos


De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores


E os montes e sol e o luar,
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Então acredito nele,


Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores


E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,


(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,

E amo-o sem pensar nele,

E penso-o vendo e ouvindo,

E ando com ele a toda a hora. ”

“Trecho 230, Livro do Desassossego, Bernardo Soares


A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar
deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que
sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e
quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois,
possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na
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linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele,
lendo-as, sinta exactamente o uqe eu senti. E como este outrem é, por hipótese de
arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é co-
mum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus senti-
mentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza
daquilo que senti.
Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil para ele a
atenção de quem o leia. Darei, por isso, um exemplo simples, em que as abstracções
que formei se concretizarão. Suponha-se que, por um motivo qualquer, que pode ser
o cansaço de fazer contas ou o tédio de não ter que fazer, cai sobre mim uma tristeza
vaga da vida, uma angústia de mim que me perturba e inquieta. Se vou traduzir esta
emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou
como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comu-
nicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem escrever.
Suponha-se, porém, que desejo comunicá-la a outros, isto é, fazer dela arte,
pois a arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles; sem o
que nem há comunicação nem necessidade de o fazer. Procuro qual será a emoção
humana vulgar que tenha o tom, o tipo, a forma desta emoção em que estou agora,
pelas razões inumanas e particulares de ser um guarda-livros cansado ou um lisboeta
aborrecido. E verifico uqe o tipo de emoção vulgar que produz, na alma vulgar, esta
mesma emoção é a saudade da infância perdida.
Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância
perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da
velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser
livre por não saber pensar nem sentir - e esta evocação, se for bem-feita como prosa
e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada
tinha com a infância.
Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea, e
nasce da vontade de estar a sonhar, é tão-somente a noção da existência real dos
outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se não pode
conformar a ela.
A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos
servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em
P á g i n a | 163

linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensa-


mento, que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servi-
mos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a ver-
dade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas de arte - uma que
se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa alma atenta.
A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na
própria estrutura; a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dar-
nos a verdade por meio de linhas variadamente regradas, que mentem à inerência da
fala; outra pretende dar-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem
que nunca houve.
Fingir é amar. Nem vejo nunca um lindo sorriso ou um olhar significativo que
não medite, de repente, e seja de quem for o olhar ou o sorriso, qual é, no fundo da
alma em cujo rosto se sorri ou olha, o estadista que nos quer comprar ou a prostituta
que quer que a compremos. Mas o estadista que nos compra amou, ao menos, o
comprar-nos; e a prostituta, a quem compremos, amou, ao menos, o comprarmo-la.
Não fingimos, por mais que queiramos, à fraternidade universal. Amamo-nos todos
uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos. ”

“Tabacaria – Álvaro de Campos


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,


Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
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Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.


Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.


Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?


Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe? nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
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Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo


Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede
sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;


Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
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Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!


Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei


A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,


Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,


E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
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(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube


E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,


Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.


Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
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Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente


Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como
tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,


Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)


E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los


E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira


E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira


Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
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Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu. ”

“Para ser grande, sê inteiro – Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro: nada


Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive. ”

Mais do que meros pseudônimos, os heterônimos de Fernando Pessoa se di-


ferenciam em suas biografias, em sua escrita, em sua qualidade estrutural e nas te-
máticas desenvolvidas, o que aponta a genialidade da poética de Pessoa.

Confiram também sobre a biografia de Fernando Pessoa:


<https://www.youtube.com/watch?v=kxEjhpzQz7s>.

Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=a1IBpsuCI14>.
<https://www.youtube.com/watch?v=iXuKZFarmP4>.

b) José Saramago
Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga,
província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo
oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram
para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte
da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da
idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas
na aldeia natal.
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades económi-
cas, não pôde prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro me-
cânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário
da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu
primeiro livro, um romance, Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois
P á g i n a | 170

largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa edi-
tora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou
como crítico literário na revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da
redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo tam-
bém coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele
vespertino.
Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e foi,
de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa
de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do jornal Di-
ário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu tra-
balho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar
del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a
sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das
Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.
Extraído: https://www.josesaramago.org/biografia-jose-saramago/.

Um dos maiores nomes da literatura ocidental, José Saramago é consagrado


no meio literário. Escreveu obras singulares como Levantado do Chão, O Evangelho
segundo Jesus Cristo, A Caverna e Ensaio sobre a cegueira, que trazem inúmeras
reflexões sobre a vida humana no século XX, questionando os comportamentos, as
desigualdades, a história e o futuro da sociedade. Abaixo, vamos a alguns trechos
desse grande autor:
Trecho de abertura de Levantado do chão:
O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a pai-
sagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica,
porquanto a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de
tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem
épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho,
ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue
sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda
não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente,
e só vem a morrer porque chegou o seu último fi m. Não é tal o caso do trigo,
que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobrei ro, que vivíssimo, em-
bora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos. Não
faltam cores a esta paisagem. Porém, nem só de cores. Há dias tão duros
como o frio deles, outros em que se não sabe de ar para tanto calor: o mundo
nunca está contente, se o estará alguma vez, tão certa tem a morte. E não
faltam ao mundo cheiros, nem sequer a esta terra, parte que dele é e servida
de paisagem. Se no mato morreu animal de pouco, certo que cheirará ao
podre do que morto está. Quando calha estar quieto o vento, ninguém dá por
nada, mesmo passando perto. Depois os ossos ficam limpos, tanto lhes faz,
de chuva lavados, de sol cozidos, e se era pequeno o bicho nem a tal chega
porque vieram os vermes e os insectos coveiros e enterraram-no. É uma terra
ainda assim grande, se formos comparar, primeiro em corcovas, alguma água
de ribeira, que a do céu tanto lhe dá para faltar como para sobejar, e para
baixo desmaia-se em terra fita, lisa como a palma de qualquer mão, ainda
que muitas destas, por fado de vida, tendam com o tempo a fechar-se, feitas
ao cabo da enxada e da foice ou gadanha. A terra. Também como palma de
mão coberta de linhas e caminhos, suas estradas reais, mais tarde nacionais,
senão só da senhora câmara, e três manifestas são elas aqui porque três é
número poético, mágico e de igreja, e todo o mais deste destino está expli-
P á g i n a | 171

cado nas linhas de ir e voltar, carris de pé descalço e mal calçado, entre tor-
rões ou mato, entre restolho ou flor brava, entre o muro e o deserto. Tanta
paisagem. Um homem pode andar por cá uma vida toda e nunca se achar,
se nasceu perdido. E tanto lhe fará morrer, chegada a hora. Não é coelho ou
gineto para apodrecer ao sol, mas imaginando que a fome, ou o frio, ou o
calor o deitem a terra onde não deram por ele, ou uma doença daquelas que
não dão sequer o tempo de pensar nisso, menos ainda de chamar alguém,
mesmo tarde o hão-de achar. De guerra e outras pestes se morreu muito
neste e mais lugares da paisagem, e no entanto quanto por aqui se vai vendo
são vivos: há quem defenda que só por mistério insondável, mas as razões
verdadeiras são as deste chão, deste latifúndio que por corcova de cima e
plaino de baixo se alonga, aonde os olhos chegam. E se deste não é, doutro
há-de ser, que a diferença só a ambos importa, pacificado o teu e o meu: tudo
em tempo devido e conveniente se registou na matriz, confrontações a norte
e a sul, a nascente e a poente, como se tal houvesse sido decidido desde o
princípio do mundo, quando tudo era paisagem, com alguns bichos grandes
e poucos homens de longe em longe, e todos assustados. Por esse tempo, e
depois, se resolveu o que o futuro haveria de ser, por que vias retorcidas da
mão, este presente agora de terra talhada entre donos do cutelo e consoante
o tamanho e o ferro ou gume do cutelo. Por exemplo: senhor rei ou duque,
ou duque depois real senhor, bispo ou mestre da ordem, filho direito ou de
saborosa bastardia, ou fruto de concubinato, nódoa assim lavada e honrada,
compadre por filha manceba, e também o outro condestável, meio remo por
contado, e algumas vezes amigos meus esta é a minha terra, tomai-a, povoai-
-a para meu serviço e vosso prol, guardada de infiéis e outras inconforma-
ções. Livro de santíssimas horas, magníficas, e de sacratíssimas contas tra-
zidas ao paço e ao mosteiro, rezadas nos térreos palácios ou torres de segu-
rança, cada moeda um padre-nosso, às dez ave-maria, chegando a cem
salve-rainha, maria é rei. Profundas arcas, tulhas abissais, celeiros como
naus da Índia, dornas e tonéis, arcas senhora minha, tudo isto medido em
côvados, varas e alqueires, em almudes, moios e canadas, cada terra com
seu uso. Correram assim os rios, quatro estações pontuais por ano, que es-
sas estão certas, mesmo variando. A grande paciência do tempo, e outra, não
menor, do dinheiro, que, tirante o homem, é a mais constante de todas as
medidas, mesmo como as estações variando. De cada vez, sabemos, foi o
homem comprado e vendido. Cada século teve o seu dinheiro, cada reino o
seu homem para comprar e vender por morabitinos, marcos de ouro e prata,
reais, dobras, cruzados, réis, e dobrões, e florins de fora. Volátil metal vário,
aéreo como o espírito da flor ou o espírito do vinho: o dinheiro sobe, só para
subir tem asas, não para descer. O lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar
onde os santos mudam de nome quando vem a ter de ser, mas o latifúndio
não. Madre de tetas grossas, para grandes e ávidas bocas, matriz, terra divi-
dida do maior para o grande, ou mais de gosto ajuntada do grande para o
maior, por compra dizemos ou aliança, ou de roubo esperto, ou crime es-
treme, herança dos avós e meu bom pai, em glória estejam. Levou séculos
para chegar a isto, quem duvidará de que assim vai ficar até à consumação
dos séculos? E esta outra gente quem é, solta e miúda, que veio com a terra,
embora não registada na escritura, almas mortas, ou ainda vivas? A sabedo-
ria de Deus, amados filhos, é infinita: aí está a terra e quem a há -de trabalhar,
crescei e multiplicai-vos. Crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio. Mas tudo
isto pode ser contado doutra maneira.
Extraído de: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13539.pdf.
P á g i n a | 172

Nesta obra encontramos uma crítica à desigualdade numa época de carências,


uma narrativa que se passa numa região de extrema desigualdade e pobreza em Por-
tugal. O enredo que retratará as gerações da família dos Mau-Tempo é pano de fundo
para discutir a própria história portuguesa no século XX.

A seguir, confiram o livro Ensaio sobre a cegueira:


<http://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_ensaio_so-
bre_a_cegueira.pdf>.

Nesta obra, Saramago utiliza de uma escrita tematizada sob o pano do realismo
fantástico em proporções catastróficas: imaginemos uma sociedade que perpassará
por uma pandemia: uma cegueira branca. Como as pessoas se relacionariam, como
as estruturas da vida em comunidade se dariam e como se comportariam em tempos
de incerteza, entrincheirados pela impossibilidade de ver para entender são os cami-
nhos críticos que perfilarão essa narrativa.

Confiram também sobre a biografia de José Saramago:


<https://www.youtube.com/watch?v=9WB8zZUHwyQ>.

Assistam também
<https://www.youtube.com/watch?v=Wt8qVW2xlzU>.
<https://www.youtube.com/watch?v=k36uq02_fVY>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 A obra de Fernando Pessoa;


 A narrativa de José Saramago.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 12

1) Relacione os fragmentos a seguir de acordo com as características dos he-


terônimos de Fernando Pessoa:
I.
“(...) Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam. ”

II.
“(...) Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim (...)”.

III.
“(...) Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...”.

IV.
“(...) Será que em seu movimento
A brisa lembre a partida,
Ou que a largueza do vento
Lembre o ar livre da ida?
Não sei, mas subitamente
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Sinto a tristeza de estar


O sonho triste que há rente
Entre sonhar e sonhar. ”

( ) Bernardo Soares.
( ) Álvaro de Campos.
( ) Alberto Caeiro.
( ) Ricardo Reis.

a) IV, II, III e I.


b) I, II, IV e III.
c) III, I, IV e II.
d) II, IV, I e III.

2) Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa

A palavra título indica que:


a) o texto apresentará a visão do eu lírico sobre os outros com quem convive.
b) o poema tecerá considerações sobre a subjetividade do próprio eu lírico.
c) o texto discutirá a formação do leitor.
d) o poema dialogará com os leitores em potencial.
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e) o poema tecerá considerações sobre o amor.

3) Sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos, é incorreto afirmar:


a) Foi um dos principais representantes do modernismo português, ao lado de
nomes como Mário de Sá-Carneiro, Luiz de Montalvor e Ronald de Carvalho.
b) Cada um dos heterônimos criados por Fernando Pessoa apresenta estilos e
biografias distintos, compondo um interessante processo de fragmentação psicológica
sem igual na história da literatura.
c) Fernando Pessoa escreveu grande parte de sua obra em língua portuguesa,
embora tenha sido alfabetizado na língua inglesa enquanto viveu em Durban, na África
do Sul.
d) O fenômeno da heteronímia é a principal característica da obra de Fernando
Pessoa. As principais personalidades literárias criadas pelo poeta foram Alberto Ca-
eiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares.

4) “Multiplique-me, para me sentir,


Para sentir-me, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”

Nos versos acima podemos concluir que o poeta refere-se:


a) aos seus heterônimos
b) aos seus poemas
c) aos seus livros
d) aos seus sentimentos

5 – TEXTO I - E se todo mundo ficasse cego?

Para José Saramago seria o caos. Em seu livro Ensaio sobre a Cegueira, o
mundo praticamente acaba enquanto a humanidade vai perdendo a visão.
Mas para a ciência as coisas poderiam tomar um caminho diferente. “Há vá-
rias tecnologias que ajudariam: bengalas ultrassônicas que poderiam indicar
se há objetos pela frente ou até robôs que atuariam como cães guias”, diz o
especialista em robótica Darwin Caldwell, diretor do Instituto Italiano de Tec-
nologia. Além disso, precisaríamos de coisas como carros que andassem so-
zinhos e máquinas capazes de substituir médicos em cirurgias. Mas como
esses carros-robôs e outros aparelhos seriam construídos sem ninguém para
ver que peça apertar? Fábricas totalmente automatizadas também não estão
longe de ser realidade. “Robôs seriam capazes de se autoconstruir”, diz Ken
Young, presidente da Associação Britânica de Automação e Robótica. Ou
P á g i n a | 178

seja: se a cegueira generalizada se espalhasse devagar, daria para a gente


remodelar o mundo – mudando tudo para que nada mude. Com algumas
adaptações, claro.

TEXTO II

Teríamos que aprender novas maneiras de lidar com computador, por exem-
plo. Seria algo como tocar um instrumento musical tendo o som como a res-
posta para cada ação na máquina” diz o engenheiro Ken Goldberg, da Uni-
versidade de Berkeley, nos EUA. Impossível? Os cegos que usam computa-
dor hoje, com uma mãozinha de softwares de reconhecimento de voz e de
programas que leem o que aparece na tela, provam que não. E as tecnologias
que existem, ou que estão nascendo, também (In: Revista Superinteressante,
264/abr., 2009).

5) Generalizada a cegueira entre os seres humanos, não haveria tantos proble-


mas, é o que já afirma a tecnologia da atualidade, e seria necessário:
a) a criação de programas sociais, buscando envolvimento em melhorias, vi-
sando a melhores condições de vida.
b) algumas adaptações, propiciando mudanças necessárias para se conviver
nessa sociedade.
c) a criação de fábricas totalmente robotizadas, nas quais ninguém encontraria
emprego, e, assim, não haveria nenhum tipo de problema.
d) a ideia de que, generalizada a perda do sentido da visão, a sociedade hu-
mana já poderia antever o seu fim e o começo de outra.
e) a implantação de modernos sistemas de comunicação e interação que prio-
rizassem a visão, assim sendo, a generalização da cegueira teria efeito sobre essa
sociedade.

6) Com a generalização da cegueira, a constante modernização de equipamen-


tos eletrônicos e cibernéticos proporcionaria para o ser humano, além da manutenção
das interações sociais:
a) a reconstrução de outros sistemas de interação computadorizada mais par-
ticipativa.
b) a construção de combate ao preconceito e exclusão social.
c) a definição de novos parâmetros de inclusão digital que certamente inicia-
riam novos direcionamentos para a humanidade sem visão.
d) a criação de hardwares que seriam aplicados aos PCs mais automatizados,
facilitando os serviços.
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e) a criação de softwares que seriam verdadeiros olhos, pois manobrariam ve-


ículos, leriam semáforos, e, portanto, não teríamos acidentes, além de reservar vagas
nos estacionamentos.
Aula 13
Crítica Literária: origem

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos o que é a crítica literária e sua função

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar o que é a crítica literária na cultura ocidental.


P á g i n a | 181

13 PARA COMEÇAR

Antes de pensarmos qual o papel da crítica, se o crítico teria seu lugar no âmbito da cultura
literária e qual seria seu valor para a própria cultura, vamos ao vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=0vYP5eDewVo&feature=youtu.be>.

A crítica literária não tem como função definir quem é o melhor autor, a melhor
obra de uma nação ou mesmo quais os personagens são símbolos de uma cultura. É
antes de tudo um trabalho de diálogo com as estruturas da vida em sociedade, com o
tempo e espaço das transformações culturais locais e internacionais, numa busca pelo
entendimento das experiências da vida humana. Entender qual o valor de uma obra
para uma sociedade é proporcionar a aprendizagem que a arte tem a oferecer a uma
determinada cultura. A crítica literária surgiu há tempos, podemos dizer, exemplifi-
cando, que desde os séculos XV e XVI em que peças teatrais eram estudadas (por
vezes hostilizadas, como é o caso de Willian Shakespeare, em seu tempo, já que
despertara a inveja de outros dramaturgos com formação acadêmica). No século XIX,
a crítica atinge outros patamares tanto na Europa quanto nas Américas.

Vejamos o que podemos afirmar ser a Crítica:


“Um crítico literário consciente deve primeiro buscar conhecer o que é o seu
objeto de estudo, ou seja, a literatura. Uma tarefa que pode parecer fácil, mas
não é, uma vez que esta é uma expressão artística que trabalha com a lin-
guagem verbal (uma das coisas mais heterogêneas quando se fala em cultura
ou sociedade). Esse conhecimento só se efetua no contato com textos literá-
rios, de todos os tipos, de todas as épocas, de todos os gêneros e estilos.
Depois, é necessário que se busque uma teoria.... Ler muito sobre a literatura.
Saber o que estudiosos renomados falaram sobre esta arte, qual o posicio-
namento deles sobre os textos, como se dá sua abordagem. Ler o que cada
corrente teórica apregoa (o Formalismo Russo, a Semiótica, a Estilística, a
Crítica Biográfica, a Historiografia, etc.), para depois escolher qual destas cor-
rentes norteará seus estudos, ou, utilizar elementos de todas (o que parece
ser o mais sensato). Em seguida, já amadurecido teoricamente, o crítico volta
ao texto, tentando aos olhos dessas teorias, buscar a essência do texto. O
último passo, é verificar cada elemento encontrado dentro do todo da obra,
de modo a encontrar o porquê de sua utilização, qual sua importância para o
todo do texto, etc.
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Não achamos que um bom crítico é aquele que só critica (no sentido negativo
da palavra), um crítico que apenas vê falhas nos textos (baseado quase sem-
pre em mitos sem valor), um crítico que só busca ditar o que é um "texto
perfeito" (será que existe um texto perfeito? Ou melhor, será que um autor,
quando coloca seus sentimentos num papel, está preocupado em ser per-
feito?).
A opinião que defendemos é a de que um bom crítico (não pretendendo ditar,
mas apenas verificando qual análise é mais importante para uma obra de
arte) é aquele que vê o texto como um todo significativo, tentando descobrir
o que ele significa, como, por quê, com quais elementos etc.”
Extraído de: https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/949072.

Afrânio Coutinho, um dos grandes teóricos da literatura do século XX, assim


expõe sobre o ato crítico:

“Há seriedade, anti-improvisação, preocupação científica, entre os jovens crí-


ticos. Embora não se aceite o historicismo, o determinismo, o biografismo,
respeita-se a história, a influência do meio, o papel do autor e do público, da
língua. Mas o essencial no ato crítico é o estudo da obra, em que pesa a
variedade de abordagens”
Extraído de: http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol22/TRvol22e.pdf.

O trabalho da crítica envolve a leitura não somente de um livro, um poema, uma


biografia, mas um continuum dialético: comparações, intervenções, análises estrutu-
rais, investigações temáticas e diálogos interculturais.
De uma forma podemos apontar que a crítica se dedica aos estudos da(s):
a) Estrutura da obra;
b) Formas linguísticas utilizadas na obra;
c) Relações históricas, sociológicas e psicológicas entre as obras e as biogra-
fias;
d) Comparações temáticas e intertextualidades.
P á g i n a | 183

Confiram também:
<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/critica.htm>.
<https://blog.saraiva.com.br/dez-criticos-literarios-brasileiros-que-fizeram-historia/>.
<http://www.academia.org.br/eventos/critica-literaria-no-brasil-hoje>.

Assistam também:
<https://www.youtube.com/watch?v=Z0M9A7Bzebc>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 O que é a crítica literária;


 Estruturas da crítica literária.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 13

1) Gregório de Matos tanto exprimiu os sentimentos e a


ideologia da Contrarreforma, em poemas contritos e moralistas,
vazados no estilo barroco, como denunciou a sociedade seiscen-
tista da “cidade da Bahia”, dominada pelas negociatas e falca-
truas no comércio do açúcar. Sua perspectiva crítica, a um tempo rancorosa, enérgica
e desbocada, deu vazão à série de poemas satíricos, cujos alvos eram os clérigos
viciosos, os “mulatos desavergonhados”, os conselheiros corruptos, os falsos “fidalgos
caramurus”. Mas há quem veja em sua atitude muito mais o despeito de um aristocrata
deslocado do que a indignação de fundo social. O que ninguém contesta é seu talento
de poeta.
GOMES, Raimundo Piva. Inédito

O estilo e o tema dos poemas barrocos religiosos contritos e moralistas de Gre-


gório de Matos estão presentes nos versos:
a)
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente.

b)
Jaime Ovalle, poeta, homem triste,
Faz treze anos que tu partiste
Para Londres imensa e triste.

c)
Minha terra tem palmares
Onde não canta o mar.
P á g i n a | 187

d)
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
e)
Mostra o patife da nobreza o mapa;
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa.

2) Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros, sonharam com a pan-Eu-


ropa que, com a inclusão de mais dez países, se tornou uma realidade irreversível.
Os antecedentes da União Europeia são assim, alguns mais respeitáveis do que ou-
tros. Durante muito tempo depois da tentativa de Carlos Magno de substituir o império
romano pelo seu, uma identidade europeia se definia mais pelo que não era do que
pelo que era: cristã e não muçulmana, civilizada em vez de bárbara (e, portanto, com
o direito de subjugar e europeizar os bárbaros − isto é, o resto do mundo).
Luis Fernando Verissimo. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008

Num processo de colonização, o colonizador vê o nativo como um elemento a


ser não apenas fisicamente dominado, mas também como alguém a quem deve impor
ideias e convicções. Exemplo disso ocorreu, entre nós, com
a) a utilização didática do teatro, pelo Padre Anchieta, com a finalidade de con-
versão do gentio.
b) o empenho com que o poeta Gregório de Matos satirizava os costumes po-
pulares da cidade da Bahia.
c) a influência exercida pelos poetas clássicos sobre os nossos escritores ar-
cádicos.
d) os romances de José de Alencar, inteiramente tributários da tradição literária
portuguesa.
e) a poesia de Castro Alves, cujo vigor se deveu aos modelos literários dos
iluministas franceses.

3) Sobre literatura, gênero e estilo literários, pode-se dizer que:


( ) tanto no verso quanto na prosa pode haver poesia.
P á g i n a | 188

( ) todo momento histórico apresenta um conjunto de normas que caracteriza


suas manifestações culturais, constituindo o estilo da época.
( ) o texto literário é aquele em que predominam a repetição da realidade, a
linguagem linear, a unicidade de sentido.
( ) no gênero lírico os elementos do mundo exterior predominam sobre os do
mundo interior do eu poético.

4) O Modernismo apresenta três momentos diversos, exemplificados nos textos


A, B e C.
Texto A -
"Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçon de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa."

Texto B -
"O inventor das máquinas que mudam a vida da terra
trabalha na bruta sala de cimento armado.
Tantos dínamos, êmbolos, cilindros mexem naquela cabeça
que ele não escuta o barulho macio
das almas penadas
esbarrando nos móveis."

Texto C -
"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
P á g i n a | 189

começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."

Há correspondência entre as características apresentadas e o texto indicado,


em:
(01) Cosmovisão e universalismo; Linguagem conotativa sensorial. - Texto A
(02) Atitude crítica frente ao capitalismo; Atenção para os paradoxos do mundo.
- Texto B
(04) Preocupação com o destino do homem; Apuro formal. - Texto C
(08) Antiacademicismo; lrreverência. - Texto A
(16) Valorização do cotidiano; Uso da descrição detalhada. - Texto B
(32) Ironia; Valorização do eu lírico. - Texto C

Soma ( )
Aula 14
Crítica Literária: século XIX

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos as principais obras da crítica literária e os seus


respectivos teóricos do século XIX.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar o que é a crítica literária na cultura brasileira.


P á g i n a | 191

14 PARA COMEÇAR

Falaremos nesta aula de José Veríssimo e Sílvio Romero, dois


dos principais críticos da cultura literária brasileira no século XIX. Ve-
jamos as biografias desses teóricos:
Sílvio Romero (Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero), crítico, ensa-
ísta, folclorista, polemista, professor e historiador da literatura brasileira, nas-
ceu em Lagarto, SE, em 21 de abril de 1851, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ,
em 18 de julho de 1914. Convidado a comparecer à sessão de instalação da
Academia Brasileira de Letras, em 28 de janeiro de 1897, fundou a cadeira nº
17, escolhendo como patrono Hipólito da Costa.
Foram seus pais o comerciante português André Ramos Romero e Maria Jo-
aquina Vasconcelos da Silveira. Na cidade natal iniciou os estudos primários,
cursando a escola mista do professor Badu. Em 1863, partiu para a corte, a
fim de fazer os preparatórios no Ateneu Fluminense. Em 1868, regressou ao
Norte e matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife. Formou, ao lado de
Tobias Barreto (que cursava o 4º. ano quando Sílvio se matriculou no pri-
meiro) e junto com outros moços de então, a Escola do Recife, em que se
buscava uma renovação da mentalidade brasileira. Sílvio Romero foi, no iní-
cio, positivista. Distinguiu-se, porém, dos que formavam o grupo do Rio, onde
Miguel Lemos levava o Comtismo para o terreno religioso. Espírito mais crí-
tico, Sílvio Romero se afastaria das idéias de Comte para se aproximar da
filosofia evolucionista de Herbert Spencer, na busca de métodos objetivos de
análise crítica e apreciação do texto literário.
Estava no 2º. ano de Direito quando começou a sua atuação jornalística na
imprensa pernambucana, publicando a monografia “A poesia contemporânea
e a sua intuição naturalista”. Desde então, manteve a colaboração, ora como
ensaísta e crítico, ora como poeta, nas folhas recifenses, entre elas A Crença,
que ele próprio dirigia juntamente com Celso de Magalhães, o Americano, o
Correio de Pernambucano, o Diário de Pernambuco, o Movimento, o Jornal
do Recife, A República e O Liberal.
Assim que se formou, exerceu a promotoria em Estância. Atraído pela polí-
tica, elegeu-se deputado à Assembleia provincial de Sergipe, em 1874, mas
renunciou, logo depois, à cadeira. Regressou ao Recife para tentar fazer-se
professor de Filosofia no Colégio das Artes. Realizou-se o concurso no ano
seguinte e ele foi classificado em primeiro lugar, mas a Congregação resolveu
anular o concurso. A seguir, defendeu tese para conquistar o grau de doutor.
Nesse concurso Sílvio Romero se ergueu contra a Congregação da Facul-
dade de Direito do Recife, afirmando que “a metafísica estava morta” e dis-
cutindo, com grande vantagem, com professores como Tavares Belfort e Co-
elho Rodrigues. Abandonou a sala da Faculdade; foi então submetido a pro-
cesso pela Congregação, atraindo para si a atenção dos intelectuais da
época.
Em fins de 1875, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Foi para Paraty, como
juiz municipal, e ali demorou-se dois anos e meio. Em 1878, publicou o livro
de versos Cantos do fim do século, mal recebido pela crítica da Corte. Depois
de publicar Últimos harpejos, em 1883, abandonou as tentativas poéticas. Já
fixado no Rio de Janeiro, começou a colaborar em O Repórter, de Lopes Tro-
vão. Ali publicou a sua famosa série de perfis políticos. Em 1880 prestou con-
curso para a cadeira de Filosofia no Colégio Pedro II, conseguindo-a com a
tese “Interpretação filosófica dos fatos históricos”. Jubilou-se como professor
do Internato em 2 de junho de 1910. Fez parte também do corpo docente da
Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do
Rio de Janeiro.
No governo de Campos Sales, foi deputado provincial e depois federal pelo
Estado de Sergipe. Nesse último mandato, foi escolhido relator da Comissão
dos 21 do Código Civil e defendeu, então, muitas de suas ideias filosóficas.
P á g i n a | 192

Na imprensa do Rio de Janeiro Sílvio Romero tornou-se literariamente pode-


roso. Admirador incondicional de Tobias Barreto, nunca deixou de colocá-lo
acima de Castro Alves; além disso, manteve, durante algum tempo, uma
grande má-vontade para com a obra de Machado de Assis, contra o qual
chegou a produzir ataques de impressionante baixeza. Sua crítica injusta mo-
tivou Lafayette Rodrigues Pereira a escrever a defesa de Machado de Assis,
sob o título Vindiciae. Como polemista deve-se mencionar ainda a sua per-
manente luta com José Veríssimo, de quem o separavam fortes divergências
de doutrina, método, temperamento, e com quem discutiu violentamente.
Nesse âmbito, reuniu as suas polêmicas na obra Zeverissimações ineptas da
crítica (1909).
Sílvio Romero foi um pesquisador bibliográfico sério e minucioso. Preocupou-
se, sobretudo, com o levantamento sociológico em torno de autor e obra. Sua
força estava nas ideias de âmbito geral e no profundo sentido de brasilidade
que imprimia em tudo que escrevia. A sua contribuição à historiografia literária
brasileira é uma das mais importantes de seu tempo. Inepto para a apreensão
estética da arte literária, limitou-a a seus aspectos sociológicos, no que, a
bem da verdade, fez escola no Brasil. Era membro do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, sócio correspondente da Academia das Ciências de
Lisboa e de diversas outras associações literárias.
Recebeu o acadêmico Euclides da Cunha.
Extraído de: http://www.academia.org.br/academicos/silvio-ro-
mero/biografia.

José Veríssimo (José Veríssimo Dias de Matos), jornalista, professor, educa-


dor, crítico e historiador literário, nasceu em Óbidos, PA, em 8 de abril de
1857, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 2 de fevereiro de 1916. Compare-
ceu a todas as reuniões preparatórias da instalação da Academia Brasileira
de Letras. Escolheu por patrono João Francisco Lisboa, e é o fundador da
cadeira nº 18.
Filho de José Veríssimo de Matos e de Ana Flora Dias de Matos. Fez os pri-
meiros estudos em Manaus (AM) e Belém (PA). Em 1869, transferiu-se para
o Rio de Janeiro. Matriculou-se na Escola Central, hoje Escola Politécnica,
mas interrompeu o curso por motivo de saúde, em 1876, e regressou ao Pará,
onde se dedicou ao magistério e ao jornalismo, a princípio como colaborador
do Liberal do Pará e, posteriormente, como fundador e dirigente da Revista
Amazônica (1883-84) e do Colégio Americano.
Em 1880, viajou pela Europa. Em Lisboa, tomando parte de um Congresso
Literário Internacional, defendeu brilhantemente os escritores brasileiros, que
vinham sendo severamente censurados, vítimas de injúrias feitas pelos inte-
ressados na permanência do livro brasileiro na retaguarda da literatura no
Brasil. Voltou à Europa em 1889, indo tomar parte, em Paris, no X Congresso
de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, quando fez uma comunicação
sobre o homem de Marajó e a antiga história da civilização amazônica. Sobre
a rica Amazônia são também os ensaios sociológicos que escreveu nessa
época, Cenas da vida amazônica (1886) e A Amazônia (1892).
De volta ao Pará, foi nomeado diretor da Instrução Pública (1880-91). Em
1891, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde retornou ao magistério, tendo
sido professor na Escola Normal (atual Instituto da Educação) e no Ginásio
Nacional (atual Colégio Pedro II), dos quais foi também diretor. Interrompera
os seus trabalhos de sociologia e de história, ainda no Pará, para fixar-se na
crítica e na história literária, atividade a que ele se dedicou mais intensamente
no Rio de Janeiro.
Criada a pasta da educação pública, logo após a proclamação da República,
o seu primeiro ministro, Benjamin Constant, procedeu a reforma do sistema
geral de ensino público. José Veríssimo discutiu, no Jornal do Brasil do pri-
meiro semestre de 1892, as reformas introduzidas, delas fazendo uma crítica
magistral, que depois ele acresceu como Introdução da 2ª edição (1906) de
seu livro A educação nacional. Não se deteve apenas nas enormes insufici-
ências da educação escolar como ele a conheceu e sentiu no seu Estado;
P á g i n a | 193

repassou, com límpida visão de sociólogo, muito da realidade de uma vida


doméstica e social do Brasil daquele tempo, com os vícios que a corrompiam,
e que o secular regime da escravidão havia arraigado profundamente nos
nossos costumes.
Referido sempre como o fundador da Revista Brasileira, José Veríssimo, na
verdade, dirigiu a sua terceira fase (a primeira foi de Cândido Batista de Oli-
veira, de 1857 a 1860; a segunda, de Nicolau Midosi, durou de 1879 a 1881).
A terceira Revista Brasileira começa em 1895 e vai até 1899, completando
vinte volumes em cinco anos. Veríssimo teve o dom de agremiar toda a lite-
ratura nacional na Revista. Na sala da redação, na Travessa do Ouvidor, nº
31, congregavam-se os grandes valores brasileiros da época, e é de lá que
saiu a Academia Brasileira, prestigiada pelos mais eminentes amigos de José
Veríssimo: Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Visconde de Taunay, Lúcio
de Mendonça, entre outros.
Em 1912, tendo a Academia aceitado a candidatura de Lauro Müller, ministro
das Relações Exteriores, político e não homem de letras, e que foi eleito por
22 votos para a vaga do Barão do Rio Branco, derrotando o Conde de Ramiz
Galvão, Veríssimo sentiu desfazer-se a ilusão com que sonhara ao fundar-se
uma instituição em que se recebessem exclusivamente expoentes da litera-
tura e, desgostoso, afastou-se da Academia. Nunca mais manteve qualquer
relação com a casa que ajudara a fundar.
Como escritor, a sua obra é das mais notáveis, destacando-se os vários es-
tudos sociológicos, históricos e econômicos sobre a Amazônia e as suas sé-
ries de história e crítica literárias. Na Introdução à sua História da literatura
brasileiratem-se uma primeira revelação de todas as vicissitudes por que ha-
via de passar uma literatura que se nutriu por muito tempo da tradição, do
espírito e de fórmulas de outras literaturas, principalmente do que lhe vinha
de Portugal e da França.
José Veríssimo constitui com Araripe Júnior e Sílvio Romero a trindade crítica
da era naturalista, influenciada pelo evolucionismo e pela doutrina determi-
nista de Taine; mas seus pontos de vista e processos eram diferentes. Araripe
Júnior, mais independente intelectualmente, com mais sensibilidade artística
e mais estilo, mostrou até onde ia sua ligação com Taine, de cuja doutrina
aceitava mais o fator meio, diferentemente de Sílvio Romero, que enfatizou a
raça e foi um metodizador e um inovador, ao aplicar as suas doutrinas cientí-
ficas a muitos dos fatos da nossa literatura, coordenando-os sobre uma base
de doutrina social e demonstrando o que existia de mais ou menos organica-
mente ativo no desenvolvimento da nossa história literária. A crítica de José
Veríssimo, por sua vez, é penetrada de um constante espírito de equilíbrio e
de ordem, a que ele juntava, não raro, um pensamento filosófico e moral para
enriquecê-la de uma autoridade maior, reforçando o crítico no educador.
Fazia do racionalismo lógico a sua força capital, achando que “criticar é com-
preender”, e não se enredar no cientificismo que tanto empolgou os outros
críticos do seu tempo. Para ele, na crítica literária vê-se um pouco como na
história: o livro, o “fato literário” em si, não é tudo para o crítico, e não basta
realçar dele apenas o mais visível dos seus meios de expressão; é preciso
alcançá-lo nas suas implicações menos aparentes de ordem filosófica, esté-
tica ou social, para bem situá-lo como razão de ser da literatura.
Acima de tudo ressalta da sua obra o cunho nacionalista, que ele procurou
rastrear desde o início da literatura brasileira, na obra de poetas e ficcionistas
nos quais soube detectar o sentimento de brasilidade. Foi ele que, ao seu
tempo, chegou à mais íntima comunicação com o espírito e a obra de Ma-
chado de Assis, notando o quanto ele trazia, pelo romance, pelo conto, pela
própria poesia, de original e único para a literatura brasileira.
Recebeu o acadêmico João Ribeiro.
Extraído de: http://www.academia.org.br/academicos/jose-verissimo/biogra-
fia.
P á g i n a | 194

A crítica literária no Brasil nasce sob o signo das muitas faces do condiciona-
mento e das transformações de nossa história, perpassando pela nossa colonização,
pelas transformações sociais, pelas relações culturais e pelos condicionantes biográ-
ficos dos autores. Por vezes, a conduta pessoal dos escritores de literatura era tam-
bém objeto de apreciação por parte de muitos críticos. No século XIX, a crítica conju-
gava vida e obra dos autores, numa busca da IDENTIDADE da cultura nacional.
Machado de Assis também produzira crítica, dentre elas, uma se destaca: INS-
TINTO DE NACIONALIDADE, na qual analisa a condição da arte na virada do século
XIX para o XX.

<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/355080/mod_resource/content/1/ma-
chado.%20instinto%20de%20nacionalidade.pdf>.

Confiram também:
<https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestletras/DISSERTACOES_2/argu-
mentos.pdf>.
<http://e-revista.unioeste.br/index.php/temasematizes/article/view/540/451>.

Assistam também:
<https://www.youtube.com/watch?v=U0HJm-VwkeE>.
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 A crítica literária no século XIX;


 As principais abordagens teóricas da crítica no século XIX.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 14

Releia o texto Instinto de Nacionalidade, de Machado de


Assis.

Qual o valor da arte literária para Machado? Qual o dever


da arte e do artista?
Gabarito
AULA 14

Resposta depende da análise - PESSOAL


Aula 15
Crítica Literária: século XX – Forma-
lismo Russo

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos os respectivos teóricos do século XX, iniciando


pelo FORMALISMO RUSSO.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar o que é a crítica literária na cultura ocidental.


 Apresentar os principais críticos do Formalismo Russo.
P á g i n a | 200

15 PARA COMEÇAR

O Formalismo Russo foi literalmente uma escola de leitura das


possibilidades semântico-linguísticas da obra literária. O exercício de
pesquisa, a análise das formas linguísticas e o desvelamento dos fa-
tores que fazem, de um texto, um texto literário. Essa condição era o
que os membros dos Círculos Linguísticos denominavam de literaturnust, a literarie-
dade. Mas o que era a literariedade? Vamos a alguns fatores:
a) Fatores linguísticos: pensemos numa leitura da palavra, da sua forma e sig-
nificado, em busca do labor artístico, para além das estruturas do texto não literário
(envolvia, então, uma observação cuidadosa das formas linguísticas e do jogo da sig-
nificação).
b) semânticos: onde há a forma, há o símbolo e o simbólico, e desta emergem
a significação e a sua pluralidade. Os formalistas tentaram delimitar o processo do uso
da palavra, interconectando os sentidos possíveis, no tempo e espaço.
c) sociológicos: para interligar forma e sentido (semântica), a leitura vem com
o tempo em que se lê, por isso estudos de gramática surgem (inclusive reformas lin-
guísticas, resultado da arbitrariedade e convenção), análises das narrativas clássicas,
distanciando-se epistemologicamente da crítica biobibliográfica do século XIX (lem-
bremos da crítica de José Veríssimo e Sílvio Romero) e adotando uma leitura da lite-
rariedade).

Qual a história dessa teoria literária? Leiam abaixo os seguintes nomes:


a) Roman Jakobson;
b) Vitor Chklovski;
c) Vladimir Propp
d) Yuri Tynianov;
e) Boris Eichenbaum;
f) Grigory Vinokur.
P á g i n a | 201

Sobre cada autor, LEIAM E ASSISTAM:


<http://www.usp.br/cje/depaula/wp-content/uploads/2017/03/Ivan_Cult_Forma-
lismo-Russo-ilovepdf-compressed.pdf>.
<https://www.youtube.com/watch?v=eHedVqcsZhE>.

No vídeo de Paul Fry, catedrático estadunidense, vemos algumas orientações


básicas da crítica formalista e até mesmo os seus limites como o de não possibilitar
as comparações com as articulações do texto literário e outras estruturas da interpre-
tação da mensagem. Entender e possibilitar uma leitura somente pelas coligações da
palavra com o sentido e um tempo de criação retira o que é de fundamental da Grande
Arte, a saber, o jogo das suas estruturas múltiplas de significação e de sua abertura
para sentidos e valores diferentes.
Vamos fecharmos nossa discussão, faremos uma breve análise formalista de
um texto.
A CATEDRAL

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.


O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.


Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
P á g i n a | 202

Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce


A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.


Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Extraído de: https://www.escritas.org/pt/t/11470/a-catedral.

Observem a estrutura do texto: de que forma se visualiza a obra, em prosa ou


verso? O que caracteriza um texto que se utiliza desse recurso? Obviamente, visuali-
zamos como um texto característico da estrutura poética (versos e estrofes estão pre-
sentes), tanto pela forma verbal quanto pelo ritmo e rimas que se apresentam com a
declamação do poema. Além disso, notemos: há uma sequência que se repete? Como
a denominamos? O refrão ou estribilho é uma característica da palavra lírica: seria
esse poema uma canção ou outra coisa? Vemo-nos então diante de um poema: ver-
sos, estrofes, ritmo, rima, refrãos, plasticidade sonora que caracteriza o arbitrário, isto
é, dá a forma ao conceito.
E as palavras? O primeiro fator diríamos é a escolha das palavras, propria-
mente, que não estão no vocabulário cotidiano – o que, para os formalistas, distanci-
ava a arte de certas influências exteriores, situação louvável aos críticos russos.
P á g i n a | 203

Em seguida, podemos falar ainda da utilização interna, num jogo formal, que
determina os valores e a temática. Observem novamente:
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

Obviamente vemos nesta estrofe as palavras que determinam a ideia do ama-


nhecer (bruma, aurora, orvalho, arrebol, céu risonho, sol). A mesma coisa se aplica
às estrofes 3, 5 e 7, que simbolizam e representam a tarde, o crepúsculo e a noite,
respectivamente. Vemos também variações nas estrofes de estribilhos.
Observem as palavras em destaque:
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

E o sino clama em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

E o sino chora em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

E o sino geme em lúgubres responsos


“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Uma sequência lógica se desdobra para criar uma significação. Vejamos no


corpo do poema de forma ex integra: temos uma provável descrição da jornada de um
dia: amanhecer, entardecer e anoitecer geram as imagens da luz que incide na cate-
dral.
Mas o que significariam as variações nos estribilhos, que conexão essas formas
têm com a estrutura semântica e temática? Essa pergunta abre para a riqueza que
os formalistas buscavam: a literariedade que provém da relação linguística, semântica
e sociológica. Se falamos de fator sociológico, vamos à simbologia da significação das
P á g i n a | 204

palavras e coisas na sociedade: o que canta, clama, chora e geme? Que sentidos têm
das partes de um dia? Vemos aí a possibilidade do que está no texto literário: a plu-
rissignificação, o salto para fora do óbvio das palavras. Por detrás desse poema, ve-
mos a simbologia da passagem da própria vida humana.

Entenderam? Quaisquer dúvidas entrem em contato, mas antes


assistam à minha videoaula!
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 A crítica literária no século XX;


 Como analisar sob a perspectiva crítica do formalismo russo um texto
literário.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo QUELHA de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 15

Leia os textos abaixo:

A um Poeta – Olavo Bilac


Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No
aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre,
e sua! Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se cons-
trua De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo
grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito
agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Ver-
dade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade.

Via-Láctea – XIII – Olavo Bilac


“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E con-
versamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis
agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

1) Quais os temas dos sonetos acima?


2) O que caracteriza os textos como literários?
Gabarito
AULA 15

1) O primeiro é um soneto metalinguístico, pois faz referência à própria arte


poética. Olavo Bilac retrata um escritor no turbilhão da criatividade. Já no segundo
soneto, encontramos uma metáfora maior que é o diálogo com as estrelas, levando
ao sentido lírico: amar é potente que leva ao entendimento de coisas ininteligíveis.

2) O trabalho formal, o ritmo, a rima


Aula 16
Crítica Literária: século XX –
Estruturalismo Francês

APRESENTAÇÃO DA AULA

Nesta aula, apresentaremos os respectivos teóricos da literatura do século XX,


focando, nesse momento, no Estruturalismo Francês e seus principais pensadores.

OBJETIVOS DA AULA

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Abordar o que é a crítica literária na cultura ocidental.


 Apresentar os principais críticos do Estruturalismo Francês.
 Discutir sobre o valor da crítica estruturalista nos estudos das Ciências
Humanas.
P á g i n a | 210

16 PARA COMEÇAR

Todo texto está inserido tanto no tempo, na história de uma cul-


tura, quanto no espaço de sua criação, seu lugar de origem. Isso
posto, comecemos então a pensar nas obras em seu relacionamento
com circuitos de produtividade.
O Estruturalismo Francês foi uma corrente crítica literária que possibilitou a lei-
tura das obras literárias num processo comparativo. Os processos de análise compa-
rativos tinham o objetivo de proporcionar o entendimento da criação cultural, por isso,
o estruturalismo não era somente uma corrente da teoria literária, mas também da
psicologia, da antropologia, da história e da etnografia.

Vamos saber um pouco mais sobre a história dessa corrente:


<https://www.youtube.com/watch?v=JCZHz9n8JBU>.
<https://www.youtube.com/watch?v=cirsi3UdnT8>.

O Estruturalismo surge sob a ciência da semiologia: o estudo das formas, sím-


bolos, signos sociais que se jogam no momento da criatividade dentro de uma socie-
dade. Para Ferdinand de Saussure, pai do estruturalismo francês, essa seria uma ci-
ência completa que teria os sistemas de signos enquanto seu OBJETO de análise
(incluindo os ritos sociais e costumes culturais), inseridos nos sistemas de comunica-
ção das sociedades. Os elementos que coordenam esses processos de comparação
foram denominados de DICOTOMIAS.
Vamos a alguns conceitos fundamentais dessa teoria:
“DIACRONIA x SINCRONIA: A diacronia estuda a língua ao longo do tempo
todas as suas transformações até a atualidade. Valoriza o processo de evoluções his-
tóricas da língua. Já a sincronia é o estudo da língua em um determinado período e
não se influencia à passagem de suas mudanças. Toda língua passa por um processo
de transformação histórica, evolui e possui um estado atual (os dois lados da mesma
moeda) e jamais se separam em sua caracterização. Desta forma, são complementa-
res e interdependentes.
P á g i n a | 211

LÍNGUA x FALA (Langue/Parole): A língua é coletiva, a fala individual. Saus-


sure prioriza o estudo da linguística moderna através da língua, pois o indivíduo, so-
zinho, não muda a língua que é um acordo em coletividade numa determinada comu-
nidade linguística. Considera-se dicotomia em virtude da relação entre a língua e fala,
esta impulsiona o processo de evolução daquela. A linguagem coloquial pode ser o
padrão amanhã.
SIGNIFICADO x SIGNIFICANTE: Na perspectiva estruturalista a língua é um
sistema de signos. Ao estabelecer esta dicotomia, Saussure utiliza da Semiologia (es-
tudo da formação dos signos linguísticos). Os signos são elementos de representação,
compostos de significantes e significados. O significante é como uma memória. Uma
imagem acústica, impressão psíquica de um signo. O significado é o conceito, uma
forma de facilitar o entendimento. O signo “casa”, quando ouvido, cria uma impressão
psíquica do som (casa) representando graficamente uma casa. Definindo o signifi-
cante. Casa = moradia, construída com blocos e massa de concreto. Possui paredes,
chão e teto para proteger seus donos do sol, frio, chuva e etc.… definindo o signifi-
cado. Falar em uma cadeira não relaciona com o objeto. Não é necessário tocá-lo
para que o ouvinte saiba o que está sendo referido. Porém, signos são convencionais
e a relação entre sentido/sequência sonora é arbitrária. Um objeto cuja carga possui
uma tinta que rabisca ao encostar no papel, não precisa se chamar caneta. No inglês,
por exemplo o mesmo significado tem o signo: pencil. Existem signos motivados, os
que acrescentando sufixos às radicais formam outras palavras. (Ex.: laranja/laranjeira)
Não existe signo linguístico sem significado e significante.
SINTAGMA x PARADIGMA: O sintagma se relaciona por meio das relações
paradigmáticas. É uma sequência de signos com caráter linear, possibilitando que as
palavras combinem, mesmo obedecendo uma estrutura, pois, impede que dois signos
linguísticos sejam utilizados no mesmo tempo. Já o paradigma, diferente do sintagma,
não só dá possibilidade de combinação de palavras ou orações, pois não obedece a
uma ordem de sucessão. O eixo paradigmático objetiva na harmonia sonora das pa-
lavras e semelhança nos significados. ”
Extraído de: http://nalinguistica.blogspot.com/2013/09/estruturalismo-linguistico-diacronia-
e.html.

Dessa forma, vimos a grande colaboração da corrente francesa para os estu-


dos antropológicos e linguísticos, porque encontramos a palavra em seu circuito,
P á g i n a | 212

sendo analisada em quadros comparativos que elucidam sua significação e explicam


a arbitrariedade de seu signo. Agora, qual seria a contribuição da forma de interpreta-
ção estruturalista para a arte literária? Como funciona a crítica estruturalista na leitura
de textos literários? Como analisar textos literários sob essa perspectiva?
Vamos a alguns textos para entendermos melhor esse processo:

TEXTO I
“Cântico Negro – José Régio

Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces


Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:


Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde


Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi


Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós


Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,


Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!


P á g i n a | 213

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;


Mas eu, que nunca princípio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,


Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí! ”
Confiram também: https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=335.

TEXTO II
“Ultimatum – Fernando Pessoa (adaptação de Maria Bethânia)
Mandato de despejo aos mandarins do mundo

Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!

Monte de tijolos com pretensões a casa


Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular


Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas

Fechem-me tudo isso a chave


E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
P á g i n a | 214

Nenhuma idéia grande


Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova

O mundo tem sede de que se crie


Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada

Eu da raça dos navegadores


Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo

Proclamo isso bem alto


Braços erguidos
Fitando o Atlântico

E saudando abstratamente o infinito. ”


Álvaro de Campos – 1917
Extraído de: https://maisde140caracteres.wordpress.com/2011/02/05/ultima-
tum-a-poesia-critica-de-alvaro-de-campos/.

Vamos entender os textos desses autores, no passo a passo estruturalista:


a) Aspectos diacrônicos e sincrônicos: os textos acima foram produzidos
num mesmo período e numa mesma sociedade – Portugal, começo do século XX,
período de muitas turbulências econômicas, transformações culturais e políticas; tex-
tos escritos no período estético modernista português, sendo que dialogam com as
questões político-sociais da época. No eixo sincrônico, temos a similaridade temática
(a superação, a liberdade como expressão do ser); no eixo diacrônico temos a dialé-
tica entre resistência e ruptura, pois os escritores modernistas questionavam as esté-
ticas padronizadas do século XIX e redimensionaram o conceito de arte literária no
século XX.
b) Língua e Fala (Langue x Parole): vemos nesses textos uma aproximação
e trabalho formal da linguagem; claro que há o distanciamento das formas padrões de
poesia (vemos versos livres em ambos e um afastamento da métrica clássica).
c) Significado e Significante: vemos em ambos os textos um trabalho de sig-
nificação por meio do jogo das palavras. No texto I, Cântico Negro, observemos as
sequências de significantes que determinam, por exemplo, a crítica presente nos se-
guintes versos: “Ide! Tendes estradas, / Tendes jardins, tendes canteiros, / Tendes
pátria, tendes tetos, / E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.../ Eu tenho a
P á g i n a | 215

minha Loucura! / Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, / E sinto espuma,
e sangue, e cânticos nos lábios...”; já no texto II, Fernando Pessoa joga com os ele-
mentos da história da cultura portuguesa para determinar sua crítica às variações po-
líticas.
d) Eixo paradigmático e sintagmático: sob a ótica desses eixos, podemos ler
os textos sob uma mesma estruturação paradigmática, em que se harmonizam e se
aproximam as temáticas, criando as possibilidades de interpretação dentro de um
campo semântico.

Entenderam? Quaisquer dúvidas entrem em contato, mas antes


assistam à minha videoaula!
Resumo

Nesta aula conversamos sobre:

 A crítica literária no século XX;


 Como analisar sob a perspectiva crítica do estruturalismo um texto lite-
rário.
Referências Bibliográficas

Básica:
ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

ASSIS, M. Um Apólogo. Disponível em:


de: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf. Acesso em: 10
jan. 2018.

GOLDSTEIN, Norma Seltzer, Versos, sons, ritmos / Norma Seltzer Goldstein.


-14.ed.rev.e atualizada – São Paulo : Ática, 2006.112p.

GOTLIB, Nádia Batella Gotlib, 1946-Teoria do conto / Nádia Batella Gotlib. -


11. ed. – São Paulo : Ática, 2006.95p.

SOARES, Angélica, Gêneros literários / Angélica Soares. - 7.ed. – São Paulo


: Ática, 2007.85p.

SOUZA, Roberto Acizelo Quelha de, 1949 -Teoria da Literatura / Roberto Aci-
zelo Quelha de Souza. -10. ed. – São Paulo : Ática, 2007.88p.

Teoria da Literatura II / Pedro Paulo da Silva, organizador. - São Paulo : Pe-


arson Education do Brasil, 2014. – (Série Bibliografia Universitária Pearson)

Complementar:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Rio de Janeiro). Biografia. Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia. Acesso
em: 01 jan. 2018.

DOMÍNIO PÚBLICO. Machado de Assis. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 01
jan. 2018.

PENSADOR. 7graus. Eduardo Galeano: O mundo Um homem da aldeia de


Neguá, no.... Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzA1Njk0. Acesso em:
01 jan. 2018.
Exercícios
AULA 16

Leia os textos abaixo:

“Pronominais – Oswald de Andrade


Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro”

“Canto de regresso à pátria – Oswald de Andrade


Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo


P á g i n a | 219

Sem que veja a Rua 115

E o progresso de São Paulo”

“Amor – Oswald de Andrade


Humor”
“Vou-me Embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo


P á g i n a | 220

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada. ”

“Os Sapos – Manuel Bandeira


Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

— “Meu pai foi à guerra! ”

— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi! ”.

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: — “Meu cancioneiro

É bem martelado.

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo


P á g i n a | 221

Os termos cognatos.

O meu verso é bom

Frumento sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A fôrmas a forma.

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas…”

“Poética – Manuel Bandeira


Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja

fora de si mesmo
P á g i n a | 222

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante

exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes

maneiras de agradar às mulheres, etc

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. ”

“Moça Linda Bem Tratada – Mário de Andrade

Moça linda bem tratada,

Três séculos de família,

Burra como uma porta:

Um amor.

Grã-fino do despudor,

Esporte, ignorância e sexo,

Burro como uma porta:

Um coió.

Mulher gordaça, filó,

De ouro por todos os poros

Burra como uma porta:

Paciência…

Plutocrata sem consciência,

Nada porta, terremoto

Que a porta de pobre arromba:

Uma bomba”

“Ode ao Burguês – Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!


P á g i n a | 223

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!

Que vivem dentro de muros sem pulos,

e gemem sangue de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará Sol? Choverá? Arlequinal!

Mas à chuva dos rosais

o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!

Morte ao burguês-mensal!

Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!

Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!

“— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?

— Um colar… — Conto e quinhentos!!!

Más nós morremos de fome! ”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!

Oh! purée de batatas morais!

Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!

Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!

Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados


P á g i n a | 224

Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!


Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês! …”

Após a leitura dos poemas acima, empreenda uma análise estruturalista de to-
dos, num texto em no máximo 03 páginas, nas quais sejam compreendidas as obser-
vações das dicotomias abaixo:

Aspectos diacrônicos e sincrônicos


Língua e Fala (Langue x Parole)
Significado e Significante
Eixo paradigmático e sintagmático
Gabarito
AULA 1

1) O TEXTO I apresenta valor conotativo, pela plurissigni-


ficação das palavras presentes; o TEXTO II é denotativo, pois
apresenta um valor semântico dicionarizado da palavra MUNDO.

2) Sim, porque quando lemos podemos interpretar pelo jogo dos sentidos pre-
sentes na narrativa sobre a história da viagem de um homem que sobe aos céus e
depois, ao voltar, relata o que viu.
Gabarito
AULA 2

a) Apolíneo, porque retrata um valor racional da humani-


dade, que é a mudança afim de cada ser humano. Poema mais
racional, objetivo e direcionado.

b) Estilo de época é o classicismo; estilo individual é o soneto camoniano.


Gabarito
AULA 4

1) Letra d

2) Letra c

3) Letra e

4) Letra b

5) Letra d
Gabarito
AULA 5

1) Letra e

2) a) A oposição entre amor e querer.


> Como o eu lírico se preocupa em deixar claro que aquilo que sente é querer
e não amor, pode-se imaginar que o seu interlocutor seja a mulher que desperta esse
querer. Isso fica claro na declaração inicial: "Não te amo, quero-te".

b) O amor é apresentado como um sentimento que vem da alma e, em seguida,


como sendo sinônimo de vida.
> Segundo o eu lírico, o amor vem da alma e, como na sua alma ele tem a
"calma do jazigo" (ou seja, não há qualquer sentimento que agite a sua alma, ela se
encontra tão calma como um túmulo), não pode estar vivendo um amor. Na segunda
estrofe, quando associa o amor à vida, o eu lírico reafirma a impossibilidade de estar
amando, já que a vida "nem sentida! A trago eu já comigo".

c) O querer é apresentado como um sentimento bruto e fero, como algo que


devora o sangue, como uma estrela de mau agouro que brilha no momento da perdi-
ção, como um furor, como algo que desperta medo e terror.
> Todas as imagens associadas ao querer têm conotação negativa. A mais
forte delas o apresenta como uma estrela de mau agouro que brilha no momento da
perdição do indivíduo. O querer, quando toma conta de um indivíduo, portanto, é ca-
paz de determinar um destino negativo, de tristeza e destruição.

d) O drama individual é vivido pelo eu lírico, que se confessa vítima de um que-


rer incontrolável. Apesar de apresentar vários argumentos que identificam o querer
como um sentimento negativo, não parece conseguir livrar-se desse fogo que lhe de-
vora o sangue e faz com que sinta "medo e terror" da mulher capaz de aprisioná-lo de
modo tão violento. A luta interna entre o sentimento desejado - o amor - e o indesejado
- o querer - é um dos temas muito explorados pelos poetas românticos.
P á g i n a | 229

> O poema explora a ideia romântica de que o amor é um sentimento nobre,


algo que traz vida, calma e promove uma certa purificação do indivíduo. O querer, por
outro lado, nasce dos desejos carnais, provoca descontrole, faz com que o indivíduo
se veja "prisioneiro" do objeto de seu desejo. O poema de Garrett pode ser visto,
nesse sentido, como um manifesto contra o desejo, já que o eu lírico passa todo o
tempo lutando contra o querer que o aprisiona.

3) Letra a
Gabarito
AULA 6

1) Letra b

2) Letra b

3) Letra e

4) Letra c

5) Letra d
Gabarito
AULA 7

1) Letra c

2) Letra d

3) Letra a

4) Letra b
Gabarito
AULA 8

1) Letra b

2) Letra c

3) Personagens, Tempo, Enredo, Ambiente, Foco Narrativo


Gabarito
AULA 9

1) TEXTO I: A necessidade de resistir e de ter sentimen-


tos, mesmo quando o tempo e a realidade dizem que é para se
calar; TEXTO II: expressa, partindo de uma pergunta, um des-
contentamento sociológico; TEXTO III: cooperação, cordialidade; TEXTO IV: crítica
social focada numa digressão ontológica (de onde veio o objeto, sua origem, no caso
o açúcar.

2) Resposta individual desde que se apresente uma organização pautada na


comparação dos sentidos apolíneos (que se aproximam de uma estética racional) e
dionisíacos (aproximando-se de uma estética emotiva).
Gabarito
AULA 10

1) Luísa, com essa pergunta, de resposta óbvia, queria


exprimir para si mesma que não valia mais a pena fazer sacrifí-
cios para manter suas relações com Basílio, pois ele já não se
revelava o mesmo amante dos primeiros dias.

2) Do ponto de vista do narrador, o que ficamos sabendo é que o interesse de


Basílio era temporário, e durava o tempo exato de sua curiosidade sexual. Existe aí a
pintura de um caráter. Porém, do ponto de vista da personagem feminina, nós apenas
sabemos que ela se sente humilhada pelo desinteresse progressivo do amante.

3) Luísa esperava de Basílio um tratamento mais enamorado, mais romântico.


O pentezinho indicava que não apenas Basílio estava envolvido com suas próprias
futilidades, mas, sobretudo que estava com pressa, como que incomodado e ansioso
por sair. Isto a ofendia.

4) São elementos que configuram a oposição entre as expectativas inegavel-


mente românticas de Luísa e a ironização de tudo isso, representada nas atitudes
descorteses e até grosseiras do amante.

5) Nenhuma das afirmações é correta. Primeiro porque a lembrança de Jorge


foi mais uma atitude de autodefesa e autoestima, necessária naquele momento. De-
pois, porque o arrependimento é apenas parcial e derivado também da situação de se
ver humilhada.

6) Letra d

7) Letra c
Gabarito
AULA 11

1) Letra a

2) Letra d

3) Letra c

4) Letra c
Gabarito
AULA 12

1) Letra a

2) Letra b

3) Letra c

4) Letra a

5) Letra b

6) Letra e
Gabarito
AULA 13

1) Letra d

2) Letra a

3) V V F F

4) 2+8=10
Gabarito
AULA 16

PRODUÇÃO TEXTUAL – Crítica literária que será obser-


vada individualmente.

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